Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
O primeiro 5 de Julho
A gota d'água ocorreu logo no início de julho, quando o marechal Hermes da Fonseca,
após criticar duramente a intervenção do governo federal em Pernambuco, teve sua
prisão decretada. Na ocasião, o presidente Epitácio Pessoa determinou também o
fechamento do Clube Militar. Na madrugada do dia 5, a crise atingiu seu auge, com a
eclosão no Rio de Janeiro de uma série de levantes militares comandados por
tenentes. Além do forte de Copacabana, rebelaram-se guarnições da Vila Militar, o
forte do Vigia, a Escola Militar do Realengo e o 1º Batalhão de Engenharia. A eles se
juntaram também militares do Exército e da Marinha de Niterói, e a 1ª Circunscrição
Militar, sediada em Mato Grosso.
1
forte. Nesse momento, ocorreu a cena que ficou registrada em fotos e foi simbolizada
no monumento que hoje se encontra na avenida Atlântica: um grupo de militares, que
contou com a adesão do civil Otávio Correia, saiu marchando ao encontro das tropas
legalistas, com as quais trocou tiros. Embora haja divergência entre a imprensa e os
sobreviventes quanto ao número de participantes da marcha, a historiografia
consagrou o episódio com o nome de 18 do Forte. Alguns morreram e dentre os que
sobreviveram com graves ferimentos estavam os tenentes Siqueira Campos e Eduardo
Gomes.
O movimento, que chegou a ser condenado por alguns líderes da Reação Republicana,
se mostrou sem base política e desarticulado. A população civil, embora curiosa, se
manteve à parte. No entanto, foi importante para a eclosão das revoltas que se
seguiram, e que cristalizaram o tenentismo.
A derrota dos rebeldes de 1922 marcou o início de um longo período em que o país foi
governado debaixo de estado de sítio: o primeiro decreto foi ainda assinado por
Epitácio Pessoa, mas a medida estendeu-se por todo o governo Bernardes, que não
conseguiu amenizar o clima de tensão política. Durante os quatro anos de seu
mandato, foi freqüente a censura à imprensa, ao mesmo tempo que vários
oposicionistas – civis e militares – foram presos e desterrados para os campos de
internamento que existiam na Região Norte do país.
O julgamento dos envolvidos nos levantes de 1922, marcado para dezembro de 1923,
serviu apenas para acentuar as divergências entre o governo federal e os militares. A
tensão levou à eclosão de novo movimento, dessa vez em São Paulo, em 5 de julho de
1924, dois anos após o levante dos 18 do Forte. Articulada pelo general reformado
Isidoro Dias Lopes, pelo major Miguel Costa – comandante da Força Pública do estado
–, e pelo tenente Joaquim Távora, a revolta contou ainda com a participação dos
tenentes Eduardo Gomes, Juarez Távora, João Cabanas e Newton Estillac Leal.
A partir do dia 16, houve algumas tentativas de armistício, que esbarraram sempre na
negativa do presidente Bernardes em aceitar as exigências do general Isidoro: a
entrega do poder a um governo provisório e a convocação de uma constituinte. Os
revoltosos acabaram condicionando sua rendição apenas à concessão de uma anistia
ampla, que beneficiasse a todos os envolvidos nos episódios de 1922 e 1924. Nova
negativa de Artur Bernardes, acompanhada da intensificação dos ataques das forças
legalistas, levou os rebeldes a optar pelo abandono da cidade como forma de dar
continuidade a luta.
Foi o que fizeram na madrugada do dia 28, quando rumaram para o interior. Àquela
altura, embora os revoltosos não soubessem disso, o levante de São Paulo já havia
2
recebido apoio em diversas partes do país, que se traduziu em rebeliões militares no
Amazonas, Sergipe e Mato Grosso. A mais significativa, no entanto, só ocorreu em
outubro de 1924, quando tropas sediadas no Rio Grande do Sul – como as de Santo
Ângelo, São Luís, São Borja e Uruguaiana –, associadas a políticos da oposição no
estado, pegaram em armas. Os revoltosos gaúchos contaram com a colaboração de
líderes tenentistas como João Alberto Lins de Barros e Juarez Távora, decididos a
transformar o Rio Grande em mais uma frente de combate ao governo federal.
[...]
Fonte
MOREIRA, Regina da Luz. As revoltas de julho. In:______ Fatos e Imagens [on-line].
Rio de Janeiro: CPDOC, 2004. Disponível em:
<http://www.cpdoc.fgv.br/nav_fatos_imagens/htm/fatos/RevoltasJulho.asp>. Acesso
em: 25 nov. 2004.