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A pandemia e o mercado editorial

Tal como Policarpo Quaresma, o escritor brasileiro encara um triste fim: um mercado
tomado de publishers, pessoas que imprimem o que o público gosta e o que o mercado
deseja. O Brasil é um mercado que publica muito, no entanto, poucos autores
desconhecidos são apresentados. Muito do material publicado é reimpressão ou best-seller
estrangeiro.
Quem se sobressai e alcança uma editora grande infelizmente não sente tanta
diferença, apesar da exposição e do alcance que a obra passa a ter, muito pouco do preço
de capa é repassado. Dependendo do contrato, se o livro vai ter sucesso, edições em
outros idiomas, adaptações, reverter em rendimentos para o escritor é algo raro.
Com as editoras não é diferente: a margem de lucro é cada vez menor. Nem os
best-sellers escapam da crise nas vendas: das promoções cada vez mais arrasadoras da
Amazon derrubando até mesmo outras concorrentes online aos calotes das megastores, as
editoras tomam um prejuízo atrás do outro, mesmo quando optam por levar ao mercado um
produto de venda garantida.
A Caixa Econômica recentemente recusou linhas de crédito para livrarias e
pequenas editoras em plena pandemia do Coronavírus alegando que trata-se de um
mercado em extinção. O fato é que salvo a atuação da Amazon dominando o mercado
nacional, nem o sucesso de grandes editoras como a Companhia das Letras garante que as
editoras brasileiras resistirão à pandemia.
O Coronavírus veio para dificultar ainda mais a vida dos autores que agora nem
podem mais recorrer a oficinas de escrita criativa e palestras como forma de manter uma
renda fixa. Em um meio cada vez mais tomado pela Amazon e um mercado nacional cada
vez mais combalido, fica difícil ver perspectivas para quem quer viver da criação literária.
Resta procurar alternativas: Daniel Lameira, editor na Antofágica e na Aleph enxerga
na Amazon a possibilidade de estabelecer uma parceria que viabilize a publicação de
clássicos nacionais e estrangeiros, até mesmo literatura de nicho na ficção científica. Para
Lameira, da exclusividade com a amazon vem a venda garantida e a possibilidade de um
planejamento a longo prazo, sem mencionar o mercado digital, cada vez mais em expansão
em tempos de isolamento.
Editoras como a Pipoca & Nanquim e a Comix Zone ainda republicam muito material
estrangeiro com bons números em vendas pela parceria com a Amazon mas os planos
apontam a inclusão de novos autores brasileiros no catálogo, o que apontaria para um
futuro menos dependente de republicações.
A perspectiva é de um mercado cada vez mais online, com regras ditadas pelas
vendas e os números que a Amazon não costuma divulgar. Resta ao escritor e as editoras
trabalharem as expectativas e aceitarem não ser pautados não pela figura do editor mas do
mercado.

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