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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL

FACULDADE DE ARTES, LETRAS E COMUNICAÇÃO


CURSO DE JORNALISMO

A NARRATIVA FICCIONAL DE 1984 DE GEORGE ORWELL E A


COBERTURA JORNALÍSTICA DOS DISCURSOS DO PRESIDENTE
JAIR BOLSONARO

Campo Grande
MAIO - 2021

FACULDADE DE ARTES, LETRAS E COMUNICAÇÃO


Cidade Universitária, s/nº - Bairro Universitário
79070-900 - Campo Grande (MS)
Fone: (0xx67) 3345-7607 http://www.ufms.br
http:// www.jornalismo.ufms.br / jorn.faalc@ufms.br
DANIEL ROCKENBACH

A NARRATIVA FICCIONAL DE 1984 DE GEORGE ORWELL E A


COBERTURA JORNALÍSTICA DOS DISCURSOS DO PRESIDENTE
JAIR BOLSONARO
Como as narrativas jornalística e ficcional caracterizam o discurso
das notícias falsas

Projeto de Pesquisa apresentado à disciplina Projeto


Experimental I, como requisito parcial para
elaboração da monografia ou de projeto experimental
de conclusão do curso de graduação em Jornalismo
da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.

Campo Grande
MAIO - 2021

FACULDADE DE ARTES, LETRAS E COMUNICAÇÃO


Cidade Universitária, s/nº - Bairro Universitário
79070-900 - Campo Grande (MS)
Fone: (0xx67) 3345-7607 http://www.ufms.br
http:// www.jornalismo.ufms.br / jorn.faalc@ufms.br
SUMÁRIO

1. Introdução 3

2. Objetivos 5

3. Justificativa 6

4. Revisão Teórica 9

5. Metodologia 14

6. Cronograma 16

7. Referências 17
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1- INTRODUÇÃO

A ficção científica tem na distopia uma de suas representantes mais


populares. Romances distópicos como “1984” de George Orwell ou “Admirável mundo
novo” de Aldous Huxley encabeçam as listas de livros mais vendidos e costumam a ser
associados a obras como “Fahrenheit 451” de Ray Bradbury, “O conto da aia” de
Margareth Atwood, “Nós” de Yevgeny Zamyatin e outros tantos. A distopias trazem um
futuro nebuloso para a humanidade, quase sempre controlada por governos totalitários
que visam o poder, ou pela intimidação e o medo, ou por alienação coletiva.
O romance “1984” de George Orwell surge quando o autor percebe na
Inglaterra do pós-guerra sementes de um discurso totalitário não muito distante do
adotado por Stalin na União Soviética. Orwell se declarava socialista democrático e sua
visão de mundo não admitia qualquer tipo de totalitarismo. Como soldado, combateu as
tropas do general Franco na Espanha onde aprendeu sobre os perigos do fascismo.
Como jornalista percebeu os extremos da pobreza e o descaso de governos cada vez
mais distantes da população (BASTOS, 2019).
O onipresente Grande Irmão em seu romance pode ser uma invenção do
partido, bem como Goldstein e a resistência. Talvez nem a guerra contra a Eurásia seja
real. Toda a propaganda do partido pode ser vista como parte de uma grande estratégia
de se reescrever os fatos, a história e até mesmo a linguagem com as constantes
reedições do Dicionário da Novilíngua. O medo é a única certeza do protagonista
Winston e de todos ao seu redor. A alienação em “1984” vem do constante medo dos
personagens, da guerra, da polícia do pensamento e da possibilidade de serem
completamente apagados da história.
Os paralelos com os discursos da extrema direita da época do pós-guerra e
os atuais são inúmeros. O medo da pandemia da covid-19, a paranoia com o inimigo
estrangeiro, a necessidade desesperada de se salvar a economia no lugar das
pessoas, todas as afirmações deslocadas de lideranças negacionistas e que buscam
manter o controle das populações pelo medo podem ser vistas como paralelos ao
discurso do Grande Irmão da obra de Orwell. A ideia de se relacionar a narrativa
jornalística em cima do medo com a ficção de Orwell traz uma nova visão sobre a
ascensão de governantes de extrema direita mundo afora.
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Para se entender tais paralelos devemos entender como a cobertura


jornalística percebe as falas de mandatários como o presidente brasileiro Jair Bolsonaro
dentro de um contexto histórico. As narrativas estabelecidas pela imprensa servem
como material para reflexão em cima de trechos da distopia de Orwell e o totalitarismo
do partido, trazendo com tal reflexão, uma nova luz sobre o momento histórico vivido
pelos brasileiros em tempos da pandemia da covid-19 e sua relação com o discurso
totalitário.
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2- OBJETIVOS
2.1 Objetivo Geral
O objetivo geral do trabalho é relacionar comparativamente a cobertura das
falas do presidente Jair Bolsonaro sobre a pandemia da covid-19 e trechos da ficção
distópica “1984” de George Orwell.

2.2 Objetivos específicos


 Estabelecer a trajetória que levou o jornalista Eric Arthur Blair a se tornar o
romancista George Orwell, contextualizando a fase jornalística até a fase
satírica de sua obra;
 Destacar as falas do presidente Jair Bolsonaro nos seis primeiros meses da
pandemia da covid-19 no levantamento realizado por Ribeiro e Cunha (2020)
no site aosfatos.org;
 Levantar trechos da obra “1984” de George Orwell que evidenciem o discurso
do medo do Grande Irmão e do partido;
 A partir dos levantamentos, analisar comparativamente as narrativas
jornalística e ficcional estabelecendo os paralelos entre os discursos.
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3- JUSTIFICATIVA

Este projeto pretende estabelecer os paralelos entre a narrativa ficcional de


George Orwell em “1984” e a cobertura jornalística dos discursos do presidente Jair
Bolsonaro nos primeiros seis meses de pandemia da covid-19. Para tanto, devemos
entender as origens da literatura de George Orwell, situar o contexto histórico da
criação do romance que é objeto deste estudo e, a partir de então, levantar os paralelos
entre as falas do mandatário brasileiro a partir da imprensa e comparar com trechos da
ficção do autor inglês. A partir da ficção de Orwell podemos traçar paralelos entre a
distopia do autor e a realidade dos discursos de extrema direita - comparação que pode
ser estendida em outros romances distópicos como “Admirável mundo novo” de Aldous
Huxley, “Fahrenheit 451” de Ray Bradbury ou “O conto da aia” de Margareth Atwood.
Para estabelecer a literatura de Eric Arthur Blair, mais conhecido por seu
pseudônimo George Orwell, devemos entender suas origens como jornalista. Sua
literatura passa pela fase documental, onde o autor registra os acontecimentos que
viveu enquanto serviu o exército inglês na Birmânia, hoje Mianmar, quando viveu em
Paris e Londres no período da grande depressão econômica ou quando lutou na guerra
civil espanhola ao lado dos republicanos contra os fascistas.
O período em que George Orwell viveu atuando no jornalismo e resenhando
livros compreende a jornalística de sua literatura e, portanto, um caminho para a fase
satírica onde escreveu suas ficções mais reconhecidas. “Assim como o teatro de
Bernard Shaw não pode ser compreendido sem que se compreenda seu jornalismo, a
ficção de Orwell é profundamente interligada com seus ensaios e reportagens” (PIZA,
2005, p.10).
George Orwell se definia socialista democrático e contrário a todo tipo de
governo autoritário, fosse de esquerda ou direita. Em uma época em que pouco era
conhecido sobre o regime soviético fora da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
(URSS), George Orwell lançou duas de suas obras mais reconhecidas “A Revolução
dos Bichos” e “1984” naquela que é considerada sua fase satírica.
Até então apenas os trotskistas sabiam o que acontecia na União Soviética.
George Orwell era grande opositor da burocracia soviética e da forma com que Stalin
conduzia o país. “Ao contrário de outros escritores que misturaram ficção e política,
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como Sartre ou Malraux, jamais elogiou Stalin ou Mao. Ao contrário: satirizou o


totalitarismo socialista como poucos, com a grande vantagem de jamais aderir à retórica
conservadora ou reacionária” (PIZA, 2005, p.10).
George Orwell justifica sua escrita no ensaio “Por que escrevo” em quatro
aspectos: puro egoísmo, entusiasmo estético, impulso histórico e propósito político.
Focando nos dois últimos aspectos, de acordo com Orwell, o impulso histórico é
definido como “o desejo de ver as coisas como elas são, de encontrar fatos verídicos e
guardá-los para o uso da posteridade” (ORWELL, 1946, p.25).
O propósito político é definido como:

O desejo de lançar o mundo em determinada direção, de mudar as


ideias das pessoas sobre o tipo de sociedade que deveriam se esforçar
para alcançar. Também neste caso ninguém está verdadeiramente
isento de tendências políticas. A opinião de que arte não deveria ter a
ver com política é em si mesma uma atitude política (ORWELL, 1946,
P.26).

A partir da perspectiva histórica e do entendimento de George Orwell sobre


seu tempo e sua literatura, este projeto visa estabelecer paralelos entre as narrativas da
extrema direita de ontem e hoje, e as sátiras distópicas do autor. Ficção e fato se
misturam na análise de discursos de governantes como o presidente brasileiro Jair
Bolsonaro e o ministério da verdade em “1984”. O começo da pandemia da covid-19 no
Brasil constitui um momento histórico em que muito se trabalhou a narrativa do medo e
da desinformação.
De acordo com levantamento feito por Ribeiro e Cunha (2020) no site
aosfatos.org, o presidente Jair Bolsonaro emitiu 653 declarações falsas sobre a
pandemia da covid-19 entre 11 de março a 11 de setembro de 2020. Foram ao todo
1417 frases que direta ou indiretamente abordavam temas como imunidade de
rebanho, defesa da cloroquina, críticas à Organização Mundial da Saúde (OMS) e
economia. Assim como o governo totalitário descrito por George Orwell em “1984”, o
presidente força uma narrativa distorcida para manter a população num estado
catártico, com medo e incapaz de ouvir a ciência ou os fatos. As fake news têm nas
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releituras dos fatos do ministério da verdade descrito em “1984” uma metáfora capaz de
descrever o estilo de narrativa utilizado por governos de extrema direita hoje em dia:

Tal procedimento funciona como uma metáfora poderosa, de um estado


capaz de infiltrar-se em todas as esferas da sociedade, disseminar
mentiras e manipular informações no verdadeiro conceito de “orwelliano”
a partir da distorção política da linguagem. Frequentemente nos
deparamos com situações orwellianas: o aumento das fake news, as
distorções de informações feitas por líderes totalitários. Alterar fatos é
uma maneira de se posicionar politicamente, que ocorre no patamar da
linguagem (TAVARES, 2021, p. 421).

Assim como ocorreu com Franz Kafka e sua literatura com a criação da
expressão kafkiana para toda situação estranha, o termo orwelliano passa a
representar uma nova forma de definir os discursos extremistas e autoritários
contemporâneos. A distorção da verdade e dos fatos, a atmosfera de medo e
impotência impressa na população na ficção de Orwell apresenta inúmeros paralelos
com a fala de mandatários de extrema direita.
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4- REVISÃO TEÓRICA

4.1 - O jornalismo de George Orwell


A literatura de George Orwell pode ser entendida a partir do desenvolvimento
do autor enquanto jornalista, época em que ainda assinava os textos como Eric Arthur
Blair. Dos primeiros dias servindo na Birmânia ao período em que Orwell participa da
Guerra Civil Espanhola saem os primeiros relatos sobre suas experiências e geram
obras como “Dias na Birmânia” e “Homenagem a Catalunha”.
As experiências deram ao autor uma convivência com diferentes realidades,
de outras classes sociais e contextos:

Jack London e George Orwell [...] no início do séc. XX, se reinventam


como personagens da classe pobre para viver entre sem-tetos e
desafortunados, transformando suas experiências em reportagem e
relato autobiográfico, respectivamente” (FONTANA, 20--, p.326).

Além dos primeiros livros, Orwell passa a produzir textos críticos sobre a
política inglesa e o governo de Stalin na União Soviética:

Orwell publica um grande número de artigos, resenhas, críticas e


ensaios, em sua maioria de cunho político, defendendo de forma simples
e honesta seu ponto de vista. Mesmo com a fama de escritor, Orwell é
também reconhecido por sua ética como jornalista (BASTOS, 2019, p.3).

O convívio com as camadas mais pobres da sociedade parisiense foi


amplamente documentado no livro “Na pior em Paris e Londres”, especificamente do
hotel frequentado por Orwell:

“É difícil, então, separar o que de fato aconteceu ao escritor e o que foi


inventado para dar mais fluência à narrativa, mas uma coisa certa é o
seu empenho para viver o mais próximo possível da realidade das
pessoas com quem convivia” (BASTOS, 2019, p.7).
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A fase satírica de George Orwell se inicia no lançamento de “A Revolução


dos Bichos” em 1946, obra que levou o autor ao grande público e o tornou conhecido
no meio literário:
O livro lançado no recente clima do pós-guerra foi um grande sucesso, o
primeiro na carreira de Orwell, e o tornou conhecido no meio literário.
Mesmo concentrado no trabalho, publicando artigos de forma
intermitente para os jornais “Observer”, “Tribune” e “Manchester Evening
News”, Orwell alugou uma quinta na ilha de Jura, onde se isolou da
correria de Londres, junto com seu filho e irmã, para escrever seu
próximo romance, “1984” (BASTOS, 2019, p. 13-14).

4.2 - A importância histórica de “1984”


A crítica ao Stalinismo é evidenciada na fase satírica de George Orwell:

Seus dois últimos livros de ficção, escritos nessa nova fase, são
altamente críticos, o primeiro (“A Revolução dos Bichos”) do Stalinismo e
seu líder, enquanto o segundo (“1984”) do totalitarismo. O Orwell que
chega a Inglaterra em 1927 com o sonho de publicar contos e romances
se transformou em um jornalista literário respeitado por inúmeros
intelectuais da esquerda (BASTOS, 2019, p.17).

A sátira distópica “1984” tem raízes profundas nas experiências vividas por
George Orwell na fase documental:

1984 é a única contribuição inglesa à literatura do século XX sobre o


totalitarismo [...]. É uma síntese do que Orwell aprendeu sobre terror e
conformismo na Espanha, do que aprendeu sobre subserviência e
sadismo na escola e na polícia birmanesa, do que descobriu sobre
miséria e degradação em O Caminha para Wigan Pier, do que aprendeu
sobre propaganda e falsidade em décadas de batalhas polêmicas. Não
contém absolutamente nenhum gracejo. É a primeira e única vez em
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que seus esforços como romancista ascendem ao nível de seus ensaios


(HITCHENS, 2010, p. 184).

Crítico do totalitarismo, George Orwell destaca em “1984” seu receio de que


liberdade e igualdade não fossem objetivos conciliáveis. “Há nos escritos de Orwell,
com razoável grau de certeza, uma percepção dividida de que as duas coisas que ele
mais prezava, isto é, a liberdade e a igualdade, não eram aliadas naturais” (HITCHENS,
2010, p.85). A vigilância do partido e a paranoia com a guerra são metáforas que
demonstram as preocupações de Orwell com o controle da população pelo governo.
Ainda sobre o Stalinismo, Orwell não acreditava em revolução por meio da
burocracia e autoritarismo. “O socialismo, do ponto de vista de Orwell, continha
tendências burocráticas e autoritárias com as quais não concordava. Para ele, o desejo
de um verdadeiro socialista deveria ser ver a tirania ser removida do poder” (BASTOS,
2019, p.35).

4.3 - A narrativa jornalística na cobertura das declarações do presidente


Jair Bolsonaro
A eleição do presidente Jair Bolsonaro foi impulsionada por um clima de
extrema radicalização da mídia. Enquanto opositores sinalizavam as inconsistências de
seu discurso, seus seguidores eram alimentandos com suas falas extremistas, por
muitas vezes baseadas em notícias equivocadas, muitas vezes distorcidas ou
colocadas foras de contexto, ou, como define Christofoletti (2018):

Fake news não são apenas notícias falsas, mas também plantadas,
cultivadas e hipertrofiadas para que desorientem, confundam, enganem.
Elas viralizam nas redes sociais, espalhadas por indivíduos desavisados
ou interessados e por sistemas automatizados, como bots e algoritmos
(CHRISTOFOLETTI, 2018, p. 62).

A narrativa jornalística pode ser construída através de um discurso pensado


em comunicar determinada intenção. As fake news podem ser vistas como uma forma
de comunicar os interesses do interlocutor com o público.
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Os discursos narrativos midiáticos se constroem através de estratégias


comunicativas (atitudes organizadoras do discurso) e recorrem à
operações e opções (modos) lingüísticos e extralingüísticos para realizar
certas intenções e objetivos. A organização narrativa do discurso
midiático, ainda que espontânea e intuitiva, não é aleatória, portanto.
Realiza-se em contextos pragmáticos e políticos e produzem certos
efeitos (consciente ou inconscientemente desejados). Quando o
narrador configura um discurso na sua forma narrativa, ele introduz
necessariamente uma força ilocutiva responsável pelos efeitos que vai
gerar no seu destinatário (MOTTA, 2005, p. 2).

O presidente Jair Bolsonaro e suas declarações falsas sobre a pandemia da


covid-19 caracterizam um discurso que pretende manter uma atmosfera de medo e
desorientação. O destaque que se dá para cada fala equivocada do presidente
potencializa ainda mais a situação polarizando opiniões e dificultando na construção de
soluções para o problema enfrentado criando antagonismos e ressaltando
desconfianças sem base alguma.

No jornalismo as personagens costumam ser fortemente


individualizadas e transformar-se no eixo das histórias. Os designantes
das personagens, tais como nomes, identificadores e co-referências
devem ser particularmente observados. Porém, é importante lembrar
que mesmo na narrativa realista do jornalismo as personagens são
figuras de papel, ainda que tenham correspondentes na realidade
histórica. Lembrar que estamos analisando uma narrativa jornalística,
como as notícias constroem personagens, conflitos, combates, heróis,
vilões, mocinhos, bandidos, punições, recompensas. Não estamos
fazendo uma análise da realidade histórica em si mesma. Nosso objeto
é a versão, não a história (MOTTA, 2005, p. 7).
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4.4 – Paralelos narrativos


O discurso do medo presente tanto em “1984” quanto nas declarações do
presidente Jair Bolsonaro evidencia o caráter totalitário em ambas as narrativas. Ficção
e realidade se confundem na construção de uma narrativa baseada no medo da
população.

O interesse crescente de alguns cientistas sociais no papel da narrativa


na construção da realidade social e a quebra do dualismo entre sujeito e
estrutura, semelhante ao que ocorre entre ficção e realidade, evidencia
também um crescente reconhecimento do papel essencial das “ficções”
tanto no cotidiano como na política, no jornalismo ou nas manifestações
culturais, enquanto mecanismos na produção e reprodução da realidade
social e no gerenciamento da mudança social numa época de
transformações rápidas e de ansiedade geral (FONTANA, 20--, p. 326).

A obra fictícia tem como inspiração o que a realidade da época traz para o
autor que reflete em seu trabalho sua visão de mundo. A narrativa jornalística retrata o
que se espera que seja a realidade mas que pode, eventualmente, se configurar como
ficção uma vez que pode ser distorcida.

É preciso ter a capacidade de discernir, naquilo que percebemos como


ficção, o núcleo duro do real que só temos condições de suportar se o
transformarmos em ficção. [...] É necessário ter a capacidade de
distinguir qual parte da realidade é “transfuncionalizada” pela fantasia de
forma que, apesar de ser parte da realidade, seja percebida num modo
ficcional. Muito mais difícil do que denunciar ou desmascarar como
ficção (o que parece ser) a realidade é reconhecer a parte da ficção na
realidade “real” (ZIZEK apud FONTANA, 20--, p. 330).
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5- METODOLOGIA

Para conduzir uma reflexão sobre as proximidades entre ficção e realidade a


partir de narrativas na ficção em “1984” de George Orwell e na cobertura das falas do
presidente Jair Bolsonaro, o trabalho será estruturado em três etapas: o levantamento
bibliográfico sobre a vida de George Orwell enquanto jornalista, contextualizando como
o romance “1984” foi concebido; o levantamento de falas do presidente Jair Bolsonaro
nos primeiros seis meses de pandemia da covid-19 realizado por Ribeiro e Cunha
(2020) no site aosfatos.org; análise comparativa da narrativa jornalística em
contraponto com a ficção de Orwell.
A pesquisa bibliográfica levantará os ensaios de George Orwell com suas
reflexões políticas, sua orientação ideológica e os colocará em contraste com as obras
da fase jornalística do autor, enquanto este ainda assinava Eric Arthur Blair: “Na pior em
Paris e Londres” e “Homenagem à Catalunha”. Tais textos contextualizam toda
formação política do autor e embasam pelas experiências a criação de suas maiores
ficções, na fase satírica, “A Revolução dos Bichos” e “1984”. A ficção distópica de
“1984” com seu Grande Irmão e a forma como o partido reescreve as notícias no
ministério da verdade são o foco do estudo nesta etapa.
O levantamento das falas do presidente Jair Bolsonaro no período entre 11
de março e 11 de setembro de 2020 será pautado pelo levantamento feito pelo site
aosfatos.org sobre as 653 declarações falsas sobre a pandemia da covid-19 no
período. Serão objetos da pesquisa as falas do mandatário da nação que direta ou
indiretamente abordaram temas como imunidade de rebanho, defesa da cloroquina,
críticas à Organização Mundial da Saúde (OMS) e economia.
Para a análise comparativa da narrativa jornalística será considerada a
metodologia adotada por Luiz Gonzaga Motta (2005) no artigo “A análise pragmática da
narrativa jornalística” e se estabelecerá um paralelo com a análise do discurso narrativo
de Orwell presente no livro “A vitória de Orwell” de Cristopher Hitchens (2010).
As falas do presidente Jair Bolsonaro serão colocadas em paralelo com as
notícias do ministério da verdade editadas pelo protagonista do romance “1984” e a
propaganda do partido que administra a Oceania.
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6- CRONOGRAMA

MES/ETAPAS Mês 1 Mês 2 Mês 3 Mês 4 Mês 5 Mês 6 Mês 7 Mês 8 Mês 9 Mês10 Mês 11
Escolha do X
tema
Levantamento X X X
bibliográfico
Elaboração do X X
anteprojeto
Apresentação X
do projeto
Coleta de X X X X
dados
Análise dos X X X
dados
Organização do X
roteiro/partes
Redação do X X
trabalho
Revisão e X
redação final
Entrega da X
monografia
Defesa da X
monografia
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7- REFERÊNCIAS

BASTOS, Carolina Costa. O Jornalismo de George Orwell. Rio de Janeiro, 2019.

CHRISTOFOLETTI, Rogério. Padrões de manipulação no jornalismo brasileiro:


fake news e a crítica de Perseu Abramo 30 anos depois. Rumores, n.23, volume 12.
2018.

FONTANA, Mônica. Os limites entre fato e ficção: Jornalismo literário em


perspectiva. 20--.

HITCHENS, Christopher. A Vitória de Orwell. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

MOTTA, Luiz Gonzaga. A Análise Pragmática da Narrativa Jornalística. Intercom.


2005.

ORWELL, George. Por que escrevo. In: Dentro da baleia e outros ensaios.
Organização de Daniel Piza. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

ORWELL, George. 1984. Rio de Janeiro: Antofágica, 2021.

ORWELL, George. Homenagem à Catalunha. São Paulo: Companhia das Letras,


2021.

ORWELL, George. Na pior em Paris e Londres. São Paulo: Companhia das Letras,
2006.

PIZA, Daniel. Fora da utopia. In: Dentro da baleia e outros ensaios. Organização de
Daniel Piza. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

RIBEIRO, Amanda. CUNHA, Ana Rita. Bolsonaro deu 653 declarações falsas ou
distorcidas sobre covid-19 em seis meses de pandemia. No site aosfatos.org, 2020.
Disponível em: https://www.aosfatos.org/noticias/bolsonaro-deu-656-declaracoes-falsas-
ou-distorcidas-sobre-covid-19-em-seis-meses-de-pandemia/. Acesso em: 18 mai. 2021.

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