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A MÃO.

CONTO MACABRO
De Otrebor Ozodrac

Era o primeiro dia de aula na universidade.


Ele chegou à sala, era alto e magro, um começo de
calva, barba raspada, ar circunspecto. Suas
maneiras eram frias, modestas e corteses; a
fisionomia um pouco triste. Um observador atento
podia adivinhar que por trás daquela impassividade
aparente ou contraída havia um ser enigmático.
Os alunos se aglomeravam na sala. Tirou o paletó
e o colocou sobre a classe. Retirou a pasta que
carregava a tira colo, e a colocou sobre o casaco,
que havia colocado sobre a mesa. Saiu e foi ao bar
tomar um refrigerante, pois ainda era cedo e o
mestre não havia chegado. Ao retornar a sala de
aula, viu que a pasta, não mais estava sobre a mesa.
Pegou o casaco e o vestiu. Olhou para o lado e viu
dois alunos e uma aluna, que cochichavam e
olhavam para ele.
O que estava no centro da classe, um homem
aparentando seus vinte e poucos anos, nariz longo,
fino e agressivo, dois olhos castanhos e brilhantes,
muito aproximados, sob espessas sobrancelhas, boca de
lábios finos, faces exibindo uma barbicha rala de cor de

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fogo com fios de mais de dois centímetros, tudo nele
indica um caráter agressivo e de poucos escrúpulos.
Abaixou-se e com os pés movimentou alguma
coisa, ou cutucou o colega do lado. A aluna que
estava à direita da classe olhou para ele e sorriu,
exibindo um grande Pirssen no lado direito do lábio
inferior.
O que estava à direita, um mulato claro, de olhos
negros com a noite sem luar, levantou e quando ia
saindo foi impedido pelo dono da pasta
desaparecida, que lhe disse:
- Espere, você tem de saber de uma coisa muito
importante, alias vocês três, devem prestar a
atenção no que vou falar, pois o farei uma única
vez. A pasta que coloquei sobre esta mesa e que
desapareceu, pertence a Mohamed Alaikan, vizir de
um clã iraniano. Se ele não recebê-la até amanhã
às nove horas, serei obrigado a dizer-lhe que a
pasta foi roubada e que vocês sabem informar
quem a roubou, uma vez que estavam aqui quando
ela desapareceu.
O Barbicha que ocupava a parte central da classe,
disse:
- E o que é que eu tenho com isso?
- Talvez nada- disse o homem da pasta – apenas
para ladrões, o vizir manda cortar a mão esquerda.
É um processo simples, a mão do ladrão é
colocada sobre uma pedra e com um golpe de facão
é decepada.
Eles dobraram a risada, o Barbicha, chegou a
esfregar a barriga de tanto rir.
Nisso o mestre adentrou na sala, colocou seus
pertences sobre a mesa e disse:

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- Hoje falaremos sobre...
Após a aula o homem da pasta saiu, sem nada
dizer. Os três suspeitos o seguiram até que ele
pegou um taxi e sumiu.
O Barbicha, o líder do pequeno grupo, disse:
- De onde saiu esse cara, nunca o vi antes, será que
é um novo aluno?
- O afro descendente disse:
- Vamos abrir a pasta e ver o que ela contém.
Esperem aqui que vou pega-la no banheiro.
Logo o afro descendente voltou trazendo a pasta.
- Vamos ao bar ali na esquina e lá abriremos a
pasta, aposto que está cheia de dólares- disse o
homem de Barbicha.
A mulher, referindo-se a pasta disse:
- Devemos estabelecer como será a divisão de tudo
o que estiver dentro dela.
Acho que devemos repartir em três partes iguais, o
que acham?
- Não concordo - disse o Barbicha - eu tive a idéia
de roubá-la e esconde-la no banheiro, portanto devo
receber no mínimo a metade do seu conteúdo.
- Eu fiz o trabalho braçal de levá-la esconde-la e
depois buscá-la, eu tenho de receber a metade de
seu conteúdo- disse o afro descendente.
- Sem haver um consenso não podemos abrir a
pasta – disse a mulher. Eu acho que devemos
repartir em três partes iguais.
- Eu não abro mão da metade do seu conteúdo-
disse o Barbicha.
- Eu também não abro mão da metade de tudo o
que tiver dentro dela- disse o afro descendente.

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Os dois começam uma discussão que termina em
agressões físicas, até que o Barbicha pega a pasta e
a levanta para atingir o afro descendente, este
escapa e a pasta bate violentamente na mesa de
pedra e se abre. Em seu interior havia uma mão
seca que fora cortada com um facão.

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