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Jurupari (mitologia)

Jurupari
Pai Sol
Mãe Ceuci

Jurupari é um personagem mitológico


dos povos indígenas da América do Sul.
O povo Mawé retrata Yurupari não
apenas como um demônio, mas o
próprio Mal, aquele que deu origem à
outros demônios (como os Ahiag̃ ou os
Mapinguary).[1]
Na época da chegada dos primeiros
europeus ao continente (século XVI),
Jurupari era o culto mais difundido.
Visando a combatê-lo, os missionários
católicos passaram a associar Jurupari
ao diabo cristão.[2][3]

Etimologia
Várias teorias procuram explicar o
significado do termo "Jurupari":

Segundo o tupinólogo Eduardo


Navarro, viria do tupi antigo Îurupari,
que significa "boca torta" (îuru, "boca"
+ apar, "torta").[4]
Segundo o folclorista Luís da Câmara
Cascudo, a palavra "jurupari" parece
corruptela de "jurupoari", descrita por
Couto de Magalhães no curso sobre
nheengatu (língua geral) "O selvagem".
Na obra, "Jurupari" literalmente é
traduzido por "boca, mão sobre; tirar
da boca"; che jurupoari - "tirou-me a
palavra da boca", ou de iuru (boca) e
pari (armadilha de talas para peixes,
com que se fecha os igarapés), além
de referir aos diversos significados
míticos, entre os quais o que
corresponde à expressão "ser que vem
à nossa rede" (lugar onde dormimos),
e "gerado da fruta".[2]
Segundo o padre Constant Tastevin
(1880-1958), apud Faulhaber,[5] o nome
"Jurupari" pode corresponder ao nome
próprio de um antigo legislador índio,
de quem conservam ainda os usos,
leis e tradições lembradas nas danças
mascaradas de Jurupari. O nome,
segundo esse autor, parece significar
"máscara", pari, "da boca" ou "do rosto":
iu-ru-pari: "meter um pari no próprio
rosto".

O dicionário Aurélio[6] reforça a


etimologia tupi e o significado de
"demônio", estendendo o seu significado
a:

um peixe de rio, ciclídeo (jeropari,


Geophagus daemon);
ao macaco-de-cheiro;
e à planta da família das leguminosas
(Eperua grandiflora), que podem ou não
ter relações com esse signo mítico, o
que é evidente no nome do peixe
(Geophagus daemon ou Satanoperca
jurupari).

Jurupari também é o nome do peixe da família


cichlidae

O Legislador
A primeira versão conta a história de
uma índia chamada Ceuci que, tal qual a
Virgem Maria, teve uma concepção
miraculosa. Conta a lenda que Ceuci
estava repousando abaixo de uma árvore
e, acometida de fome, comeu seu fruto, o
mapati (uacu, em algumas variantes),
cuja ingestão era proibida às moças no
dia em que estivessem em período fértil.
O sumo da fruta teria então escorrido
pelo seu corpo nu e alcançado o meio de
suas coxas, fecundando-a. A notícia
chegou à aldeia, e o conselho de
anciãos, diante da revolta do povo,
resolveu punir Ceuci com o exílio, onde
teve seu filho.

Esta criança, chamada Jurupari, era na


verdade o enviado do Sol (Guaraci), pelo
qual foi ordenado reformar os costumes
dos homens e encontrar uma esposa
para ele. Com sete dias de vida, já
aparentava ter 10 anos, e sua sabedoria
atraiu a atenção de todos, que passaram
a ouvir suas palavras e o ensinamento
dos novos costumes que o Sol dizia que
deveriam seguir. É chamado legislador
porque alterou as leis (leia-se costumes)
do mundo, transformando-o de
matriarcal para patriarcal.

Demônio dos Sonhos


Na mais conhecida das duas lendas,
Jurupari seria, na verdade, o deus da
escuridão e do mal, que visitaria os
índios em sonhos, assustando-os com
pesadelos e presságios de perigos
horríveis, impedindo, entretanto, que
suas vítimas gritassem - o que, por
vezes, causava asfixia. Esta é a mais
"provável", já que o significado da palavra
Jurupari seja algo como "aquele que
cala", "que tapa a boca", ou ainda "aquele
que visita nossa rede". Os jesuítas
estimularam esta versão da lenda,
alguns mesmo dizendo que foram eles
que a criaram, sendo imediatamente
aceita pelos indígenas, ávidos por uma
explicação sobre o porquê de terem
pesadelos. Para Câmara Cascudo, essa
concepção de criatura dos "pesadelos" é
um amálgama de lendas europeias e
africanas, inventadas pelas amas de leite
para o controle do comportamento das
crianças.

Aparência
Por vezes, é visto como um caboclo
medonho que está sempre rindo, aleijão
de boca torta, sendo muito cruel e
vingativo. Em algumas culturas
indígenas, é descrito como uma cobra
com braços; em outras, como um índio
comum dotado de grande sabedoria e
poderes divinos. Já foi descrito como um
bebê invisível, ou simplesmente como
uma "presença" (espírito).
Em alguns dos mitos que envolvem o
jurupari, esse herói morre queimado, e,
das suas cinzas, nasce a palmeira de
paxiúba (Socratea exorrhiza), uma árvore
de cuja madeira são feitos os
instrumentos juruparis tocados nesse
ritual. Entre os índios tucanos, a flauta
(simiômi’i-põrero) é feita da madeira do
uacu (Monopteryx angustifolia). Segundo
Piedade,[7] é um instrumento sagrado
que tem som de trovão, tendo sido
utilizado pelos homens para recuperar os
instrumentos juruparis que as mulheres
haviam roubado.

Ritual do Jurupari
Além de o nome Jurupari corresponder a
uma lenda tupi e a um conjunto de
animais e árvores que o mito relaciona
entre si, ainda existem diversas variantes
desse mito em outras etnias.
Corresponde também a um ritual com
flautas em que só os homens podem
participar, entre os índios do noroeste da
Amazônia (Rios Negro e Uaupés), como
os tucanos e os tarianas, descrito por
Ermanno Stradelli (1852-1926).[8] Outros
ritos e mitos também são conhecidos
pelo nome de Jurupari, a exemplo dos
encontrados nas tribos:

Tuiucas / (Tucanos)
Macus / (Línguas macus)
Wauja[9] e outras do Parque do
Xingu

Segundo descrição de Carvalho[10] do


que denomina a "religião de jurupari", na
região amazônica alto do Rio Negro, esta
compreende um culto secreto masculino,
revelado aos iniciados principalmente na
segunda iniciação: seus ritos incluem
flagelações, uso do tabaco e coca,
ilusógenos como o yagé (caapi), e, mais
no extremo oeste, também o paricá.

Referências
1. Yamã, Yaguarê (2004). O caçador de
histórias. São Paulo: Martins Fontes.
76 páginas
2. CASCUDO, Luís da Câmara.
Dicionário do Folclore Brasileiro. RJ,
Ediouro, 1972
3. CASCUDO, L. C. Geografia dos mitos
brasileiros. 3ª edição. São Paulo.
Global. 2002. p. 58.
4. NAVARRO, E. A. Dicionário de tupi
antigo: a língua indígena clássica do
Brasil. São Paulo. Global. 2013. p.
201.
5. FAULHABER, Priscila. Nos
varadouros das representações:
Redes etnográficas na Amazônia do
início do século XX. Revista de
Antropologia, SP, USP, 1997, V. 40
nº2. Projeto Tradução Cultural Dez.
2011
. FERREIRA. Aurélio Buarque de
Holanda. Novo Dicionário Aurélio da
Língua Portuguesa (edição
eletrônica). SP, Editora Positivo
Informática LTDA, 2004
7. PIEDADE, Acácio Tadeu de C. 1997.
Música Ye’pâ-masa: Por uma
Antropologia da Música no Alto Rio
Negro, dissertação de mestrado em
antropologia social, UFSC PDF Dez.
2011
. COSTA, Mônica R.; OLIVEIRA, Paula
M.; COSTA, Paulo Pedro P. R. A
história do filho do sol. in: COSTA,
Mônica Rodrigues. (org.) Arco-íris de
letras. SP, Publifolha, 2002. e Costa,
Mônica R.; Costa, Paulo Pedro P. R.
Histórias e lendas indígenas
brasileiras sobre sapos Dez. 2011
9. PIEDADE, Acácio T. C. O canto do
kawoká: música, cosmologia e
filosofia entre os Wauja do Alto
Xingu. Tese de doutorado
apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Antropologia Social
da Universidade Federal de Santa
Catarina, SC, PPGAS , UFSC, 2004
PDF Dez. 2011
10. CARVALHO, Sílvia Maria S. Jurupari:
Estudos de mitologia brasileira. SP,
Ática, 1979

Ligações Externas
"Jurupari criou a chuva" Banco de
Dados Folha Dez. 2011
Ermanno Stradelli. "A Lenda dos Taria".
(Tradução de Oswaldo M.
RAVAGNANI) Dez. 2011
"Iandé. Jurupari" Boletim de Histórias -
número 11 Dez. 2011

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