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Artigo Trabaho Wilson
Artigo Trabaho Wilson
num futuro melhor, mas num futuro sonhado, transformações sociais necessárias para
projetado pelas possibilidades dos homens e concreta justiça, eqüidade e paz no amanhã.
mulheres poderem ser Seres Mais. Entendendo que, para celebrarmos a sua
Em outras palavras: na sua extensa obra VIDA, devemos perenizar intencionalmente a
Paulo teve claramente a preocupação de, ao sua práxis político-pedagógica, entre outras
escrever cada uma delas, partir da realidade possibilidades, divulgando o seu trabalho,
que exigia um pensar crítico e imbricá-las nos agrupei uma coletânea de textos seus:
momentos históricos nos quais ele ia Pedagogia da indignação: cartas
refletindo para nos dar meios de reflexão e pedagógicas e outros escritos.
ação. Muitos dos temas-problema foram, Esta Pedagogia é composta de duas partes.
entretanto, sendo re-trabalhados, atualizados Na primeira estão as Cartas Pedagógicas1,
com novas abordagens, aprofundados pelas como Paulo mesmo as nomeou. Na segunda
suas novas leituras de mundo sempre que parte, os Outros Escritos, estão textos
julgava necessário fazer isso. Teve esta prática produzidos por Paulo no ano de 1996 e um de
durante todo o curso de sua vida, diante do 1992, pela importância de seu tema
crescimento da sua radicalidade de pensar e “Descobrimento da América” no ano em que o
das mudanças conjunturais ou estruturais que Brasil comemorava oficialmente o seu
foram ocorrendo na sociedade. Isso denota “descobrimento”.
sua lúcida percepção de tempo e espaço. De Participam, também, deste livro, três
como, sem perder a coerência de seu estar intelectuais brasileiros, aos quais junto agora
com mundo, ao contrário, foi elaborando o o filósofo argentino Cirigliano, todos amigos
“novo” partindo da re-elaboração do “velho”, pessoais de Paulo e identificados sobretudo
do dito e escrito por ele mesmo. Coerência que com o seu pensamento dialógico libertador.
não é, pois, prender-se ao passado com medo Destacarei, de cada um deles, o que disseram
de mudar, mas coerência que, partindo do sobre a esperança e coerência em Paulo.
passado, faz igualmente atualizadas as Um deles, outro mestre nosso, o professor
reflexões sobre os temas-problema Antonio Candido, escreveu para a “orelha” do
genuinamente humanos que não devem ser mesmo, com sua permanente e serena lucidez:
esquecidos, ao contrário, devem permanecer
nos fustigando crítica e esperançosamente De fato, é freqüente lermos e
para suas soluções. Enfim, Paulo mudou ouvirmos que o povo não deve ser
adjetivamente, mas substantivamente foi tutelado pelas elites, devendo para isso
sempre o mesmo, o pedagogo dos oprimidos, o tornar-se ele próprio agente de seu
educador para a libertação. destino. Mas como? A pedagogia
Daí a necessidade de relermos sempre seus radical de Paulo Freire aponta o
escritos para, contraditoriamente, lendo-os, caminho com extraordinária lucidez e
desde os mais “antigos”, os da década de coragem, ao fazer do ato educacional
cinqüenta, os do “passado”, porque um processo dialético no qual o
infelizmente ainda presente entre nós, nos educando constrói o conhecimento a
atualizarmos na leitura crítica deste presente partir do contexto, fundindo
e, assim, termos os elementos de esperança aprendizagem e experiência social
para sonharmos os inéditos viáveis de hoje, as numa aventura de aquisição da
1
Teriam sido de dez a 12 Cartas, como planejara Paulo, se a morte não o tivesse levado, em 02 de maio de 1997. Por isso a terceira
delas ficou incompleta.
2
Em resenha sobre a Pedagogia da indignação publicada na Argentina nos jornais El tiempo, em 2 de julho de 2000 e Gaceta de
la UNICEN, no. 62, de setembro de 2000, e, nas revistas Situacion, no. 8, 2000 e Vivencia Educativa, no. 125, julho 2000.
(tradução minha).
tirar os ensinamentos dos e das que tiveram e formação genuinamente humana. Alerta para
têm a ousadia, a coragem e a capacidade de a compreensão crítica das tecnologias, que
lutar para nossa autonomia e dignidade não devem ser repudiadas, mas que devem
enquanto povos e nação. ser passadas pelo nosso crivo político e ético.
Re-enfatiza as suas clássicas perguntas: o
DA ALFABETIZAÇÃO E MISÉRIA. quê? O para quê? O em favor de quê e de
Paulo insiste em que a realidade não é quem? O contra quê e contra quem? No
inexorável, de que de um domínio humano da exercício de pensar o tempo, a técnica e o
determinação dificilmente se poderia falar de conhecimento.
opções, de decisão, de liberdade, de ética. Que
a história é possibilidade e não determinação. DA ALFABETIZAÇÃO EM TELEVISÃO.
Nos faz entender que a ordem estabelecida Este tema, diz Paulo, nos remete à
injusta é indecente, que a “miséria é uma curiosidade humana e à leitura do mundo,
imoralidade” não, obviamente sob o ponto de anterior à leitura da palavra. Fala da
vista moral, mas ético, estético, ontológico, curiosidade ingênua que leva ao “saber de
antropológico e político. Afirma não por pura experiência feito”, o senso comum e da
teimosia mas diante da natureza ontológica curiosidade epistemológica que entende
dos humanos que “mudar é difícil mas nascer da criticização da curiosidade ingênua
possível” e que há “legitimidade da raiva pelo rigor metodológico do objeto em
contra a docilidade fatalista diante da questão. Entre uma e outra há diferença de
negação das gentes”. qualidade e não de essência, afirma. Conclui
dizendo que os educadores progressistas não
DOS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO DE ADULTOS ANTE A podem desconhecer a televisão. Que ela não é
NOVA REESTRUTURAÇÃO TECNOLÓGICA. nem “um demônio que nos espreita para nos
esmagar” nem “um instrumento que nos
Jamais pude pensar a prática salva”. Devemos usá-la, sobretudo, discuti-la.
educativa, de que a educação de
adultos e a alfabetização são DA EDUCAÇÃO E ESPERANÇA.
capítulos, intocada pela questão dos Paulo volta a afirmar que a vida se alonga
valores, portanto da ética, pela na existência e que essa eticiza o mundo. Fala
questão dos sonhos e da utopia, quer do papel da consciência humana no lugar do
dizer das opções políticas, pela “ser aí” dos outros animais “aderidos ao
questão do conhecimento e da mundo” nos dá a “responsabilidade no mover-
boniteza, isto é da gnosiologia e da me no mundo”. Da diferença entre
estética. (p.89) condicionamento e determinação. Da
“natureza esperançada da educação”, (d)a
Explicita mais cuidadosamente a sua “matriz da esperança é a mesma da
compreensão da politicidade da educação, da educabilidade do ser humano: o
impossibilidade de dicotomizar ler de inacabamento de seu ser de que se tornou
escrever e da unidade entre arte e educação. consciente”. Critica as concepções fatalistas
Enfatiza a necessidade de apreensão do da História, o poder da ideologia liberal, cuja
objeto para a experiência cognitiva ética perversa se funda nas leis do mercado.
verdadeira, entendendo que a memorização Reafirma sua crença de que “mudar é difícil
do conhecimento se constitui no ato mesmo mas é possível” e que sua luta “pelo sonho,
de sua produção. Critica a negação das pela utopia, pela esperança de uma Pedagogia
ideologias, o neoliberalismo como ‘uma crítica. “Esta não é uma luta vã” (p.116).
fatalidade do fim do século”, os
pragmatismos, o treinamento no lugar da