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I. COMANDO
A Atenção Primária à Saúde funciona como a porta de entrada do
usuário aos serviços do SUS, sendo a assistência organizada no modelo
tradicional ou na Estratégia Saúde da Família. De acordo com a leitura
do material disponibilizado e com a sua vivência no PISEC, qual modelo
você̂ consideraria mais efetivo na prestação do cuidado qualificado ao
usuário? Justifique sua resposta.
A Estratégia de Saúde da Família (ESF) é um modelo comunitário,
visto como o mais efetivo na prestação do cuidado qualificado ao usuário. É a
“porta de entrada” ao sistema de Atenção Primária a Saúde (APS),
obedecendo sua política com os princípios de equidade, integralidade e
universalidade.
Por esse viés, é notório o objetivo de promover o acesso à saúde a
toda população, especialmente sua parcela mais vulnerável, atentando-se
tanto ao individual, quanto ao coletivo. À vista disso, tem-se o acolhimento do
paciente, o assistencialismo e a resolução de queixas de mal-estar,
acrescentando, também, um propósito de prevenção e promoção da saúde, a
fim de minimizar danos e incômodos dentro da comunidade (UNA-SUS,
2015). Nesse cenário, a observação do paciente ultrapassa a enfermidade,
agregando uma esfera histórica, cultural e comunitária ao atendimento
(STARFIELD, 1998).
Vale ressaltar que a ESF possui uma equipe composta por médico,
enfermeiro, auxiliar ou técnico de enfermagem, Agente Comunitário de Saúde
(ACS) e, possivelmente, por profissionais da saúde bucal, respeitando a
interprofissionalidade e as funções individuais, buscando harmonia entre os
colaboradores. Salienta-se que o diferencial do modelo em questão encontra-
se no ACS, o qual vive o cotidiano da comunidade e viabiliza seu vínculo com
a equipe. Destarte, os territórios de risco ou vulnerabilidade são divididos, a
fim de amparar os moradores cadastrados; uma unidade de ESF pode conter
até 12 ACS, cada qual atendendo no máximo 750 habitantes através de
visitas domiciliares e ações educativas (UNA-SUS, 2015).

II. PERGUNTAS NORTEADORAS


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A. Sr. João, paciente diabético em acompanhamento com o médico


da equipe da USF há um ano, com várias tentativas de adesão ao
tratamento medicamentoso e nutricional, manteve um quadro de
descompensação da glicemia. O médico, então, encaminhou Sr.
João ao endocrinologista para avaliação especializada do caso,
que solicitou exames e realizou um ajuste de sua prescrição
medicamentosa. Através do sistema de contra referência, Sr. João
retornou ao acompanhamento médico na sua USF. O retorno ao
endocrinologista acontecerá anualmente, enquanto o
acompanhamento se manterá́ pelo médico da equipe na USF.
Quais os atributos da APS, você visualiza neste caso?

A Atenção Primária à Saúde tem como proposta o acesso


universal ao atendimento médico por meio de ações integradas
adaptadas às necessidades locais, realizadas por equipes
multiprofissionais com foco na saúde individual e coletiva (STARFIELD,
1998). Os atributos ou características da APS presentes no caso do Sr.
João são o primeiro contato, a integralidade e longitudinalidade
(UNASUS, 2016). O primeiro contato consiste no acesso do cidadão
aos serviços de saúde. No cenário apresentado, o médico da Unidade
de Saúde da Família e sua equipe representam a porta de entrada no
Sistema Único de Saúde (SUS). Assim, quando é identificada a queixa
do paciente, além do início do tratamento, tomam-se posturas de
prevenção e instrução ao paciente, como o grupo HiperDia, e visitas
frequentes na residência dos usuários pelos agentes de saúde. No
entanto, visando atender melhor às necessidades do paciente, o
médico da USF optou pelo encaminhamento do enfermo ao
especialista, atitude que consiste na integralidade da APS, uma vez
que busca a promoção a saúde de forma plena, tanto no contexto
saúde-doença quanto nos serviços múltiplos que estão disponíveis ao
usuário. Além disso, vale ressaltar que o acompanhamento contínuo
do Sr. João se caracteriza como longitudinalidade, atributo que permite
o fortalecimento do elo médico-paciente, bem como permite ao
profissional da saúde um olhar macroscópico sobre o paciente, de
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modo a identificar os determinantes da saúde que estão entravando o


tratamento desse usuário.

B. Imagine que você̂ está no PISEC na sua USF e é abordado pela


Sra. Josefina, que questiona que na unidade não tem pediatra
para atender a sua filha e que ela não aceita ser atendida por um
médico generalista. Neste momento, você̂ precisa explicar a Sra.
Josefina, sobre as diferenças entre os modelos tradicional e ESF,
focando nas vantagens de uma USF e as desvantagens de uma
unidade no modelo tradicional.

Seria explicado para Sra. Josefina que no modelo tradicional as


unidades básicas de saúde contam com algumas especialidades focais
em suas equipes, dentre elas, clínicos, ginecologistas, pediatras, entre
outros que se baseiam em uma lógica de atendimento passiva, na qual
pessoas buscam atendimento quando precisam resolver algum
problema de saúde, visando o tratamento da patologia. Esse modelo
tradicional foi muito eficiente na década de 70 a 80, principalmente
porque focava nas enfermidades que existiam no Brasil naquela época,
ou seja, mortalidade materna-infantil e doenças infecciosas agudas,
porém hodiernamente, as disfunções crônicas e pessoas com diversos
problemas de saúde necessitariam de cuidados que envolvem vários
especialistas de diversas áreas. Nesse caso, seria inviável a um
indivíduo que pode estar vivendo em situação de vulnerabilidade ter
que fazer consultas com vários médicos de especialidades diferentes,
podendo ser esse atendimento em locais distintos. Desse modo, para
que o atendimento da saúde no contexto atual seja eficiente, é
necessária uma equipe que tenha atenção integradora e que cuide da
pessoa de uma forma holística, independente da quantidade de
problemas que ela tem. Por esse viés, as Unidades de Saúde da
Família (USF) são coerentes ao paradigma em questão, já que no
ponto de partida estão os médicos de família, enfermeiros e dentistas,
sendo importante dizer que esses são profissionais totalmente
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qualificados, que fazem de dois a três anos de especialização em


Saúde da Família e Comunidade depois do curso normal da faculdade.
Ademais, as USF atuam atendendo certa parcela da população
específica de um local e assim, são registradas as principais
necessidades e doenças de saúde acometidas, procurando sempre
manter uma relação médico-paciente intensa e integral. Dessa forma,
fica evidente que a ESF é altamente indicada, já́ que melhorou o
acesso e utilização de serviços de saúde para a população brasileira, a
partir da implantação desse modelo se teve melhores resultados de
saúde, incluindo reduções importantes da mortalidade infantil e
mortalidade adulta, além da expansão de acesso a tratamentos, como,
por exemplo, os odontológicos, e ampliação no controle de algumas
doenças infecciosas. (ARANTES LJ, et al., 2016)

C. Sabendo que a busca pelo especialista é cultural e ainda


fortemente presente na sociedade atual, que estratégias vocês
sugerem para incentivar a população a buscar o medico da equipe
de saúde, entendendo ser este o profissional que poderá́ atender
de maneira integral e longitudinal às necessidades dos usuários e
suas famílias?

O conceito de saúde, segundo a Organização Mundial da Saúde, é o


completo bem-estar físico, mental e social (OMS, 1947). No entanto,
na prática, esse modelo não faz parte da cultura brasileira, que tende a
buscar o médico especialista sempre que tem algo errado causando
incômodo. Busca-se a cura para o problema e/ou dor específico,
ignorando o corpo como um todo e focando só no problema aparente;
se, ou quando este for resolvido, tudo volta à normalidade até surgir
outro incômodo e assim sucessivamente. Nesse sentido, evidencia-se
que modelo de saúde predominante é o curativo e não preventivo.

Com o intuito de modificar tal realidade, a estratégia da família está


presente em mais de 90% dos municípios brasileiros, com cobertura
para cerca da metade da população (CUNHA, 2009). Esse modelo
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possibilita, por meio principalmente do agente comunitário de saúde


(ACS) acompanhar de perto um determinado número de famílias, por
meio de visitas domiciliares regulares que têm como objetivo a coleta e
atualização de informações sobre as condições socioeconômicas e de
saúde, e o monitoramento de situações de risco constitui a principal
finalidade. O agente deve instruir o paciente quando ir à USF consultar
o médico generalista e também enfatizar a importância de manter o
acompanhamento preventivo e longitudinal, uma vez que este é
essencial para o diagnóstico e tratamento mais preciso, assim como
maior satisfação do paciente.

D.

Este estudo foi conduzido por pesquisadores do Centro de


Políticas de Atenção Básica Johns Hopkins, conduzido pela
Bárbara Starfield, e examinou o “grau de preocupação” que vários
países desenvolvidos colocam na atenção primaria, usando um
questionário para pontuar a atenção primária de 0 a 2 (0
representa mau desempenho da atenção primária e 2
representaram um bom desempenho da atenção primária). De
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acordo com o gráfico, quais seriam as vantagens e desvantagens


entre os Sistemas de saúde nacionais que têm um enfoque em
APS e sistemas de saúde que tem enfoque em especialidade e
hospitalocêntrico?

O gráfico evidencia, sobretudo, uma relação inversamente


proporcional entre o “grau de preocupação” e as despesas com saúde
per capita em diversos países da Europa, Ásia e América do Norte
(HUNG ET AL., 2012). Esse contraste pode ser observado ao
comparar, no diagrama, o Reino Unido (UK), que possui alta
preocupação em relação a oferta de Atenção Primária a Saúde (APS),
aproximando-se do grau 2, com investimento per capita entre $1000 e
$1500, e os Estados Unidos (US), o qual apresenta uma escala menor
do que 0,5 graus de preocupação, e um dispêndio entre $3000 e
$4000 per capita. Isto posto, conclui-se que uma vantagem notória da
Atenção Primária está relacionada a economia, reduzindo custos
exacerbados referentes a especialidades e ao modelo
hospitalocêntrico.

Outrossim, inúmeras vantagens podem ser observadas no


contexto da APS, as quais transcendem o gráfico. É possível constatar
um forte objetivo de promover a igualdade na gênese e
desenvolvimento desse sistema de saúde, que busca atender toda a
população, sem discriminações socioeconômicas. Nesse contexto, a
assistência não é singular à enfermidade, mas abrange a história, a
cultura e as mazelas da comunidade no geral, construindo vínculos
entre profissional e paciente e estendendo-se a, além do tratamento,
prevenção, proteção e propagação de bem-estar; Por outro lado,
priorizar as especialidades e o modelo hospitalocêntrico para
quaisquer situações de mal-estar é financeiramente oneroso, com
atendimentos breves, isolados, e tratamento exclusivo às queixas
apresentadas, desconsiderando a questão filosófica e histórica
observada na APS (STARFIELD, 1998).
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REFERÊNCIAS

ARANTES, Luciano José; SHIMIZU, Helena Eri; MERCHÁN-HAMANN, Edgar.


Contribuições e desafios da Estratégia Saúde da Família na Atenção Primária à
Saúde no Brasil: revisão da literatura. Ciência & Saúde Coletiva, v. 21, p. 1499-
1510, 2016.

CUNHA, Elenice Machado da. Vínculo Longitudinal na Atenção Primária:


avaliando os modelos assistenciais do SUS. 2009. Tese (Doutorado em Ciências na
área de Saúde Pública) - Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, ENSP,
Rio de Janeiro, 2009.

HUNG, Li-Mei et al. Advancing primary care to promote equitable health:


implications for China. International journal for equity in health, v. 11, n. 1, p. 2, 2012.

STARFIELD, B. Primary care: balancing health needs, services and technology. UK:
Oxford University Press, 1998.

UNA-SUS. Especialização em Saúde da Família. Unidades de Conteúdo -


Universidade Federal de São Paulo, 2015-2016.

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