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O parto prematuro induzido pela covid-19: uma revisão da literatura

Públicado em: Brazilian Journal of Health Review 01/03/2021


Natália Bianca Vales Bhering Graduanda em Medicina pela Pontifícia Universidade Católica de
Minas Gerais (PUC MG) Endereço: Rua do Rosário, 1081, Angola, Betim - MG, Brasil E-mail:
natália.bhering@yahoo.com.br

Carolina Gama Arndt Graduanda em Medicina pela Pontifícia Universidade Católica de Minas
Gerais (PUC MG) Endereço: Rua do Rosário, 1081, Angola, Betim - MG, Brasil E-mail:
carndt@sga.pucminas.br

Danilo Alvin de Paiva Gonçalves Filho Graduando em Medicina pela Universidade Federal de
Jataí (UFJ) Endereço: Câmpus Jatobá, BR 364, Km 195, Número 3800 E-mail: paiva-
danilo@hotmail.com

Davi Teixeira Poncio Vita Médico Generalista no Pronto Socorro Municipal de Mutum
Endereço: Rua Luís Paschoal Borges, 285 - Centro, Mutum - MG E-mail: davivita7@gmail.com

Fernando Rafael da Cunha Chagas Graduando em Medicina pela Faculdade de Medicina de


Olinda (FMO) Endereço: Rua Doutor Manoel de Almeida Belo, 1333, Bairro Novo, Olinda - PE E-
mail: fernandocunhafernando2014@hotmail.com

Gabriela Aparecida Schiefler Gazzoni Graduanda em Medicina pela Universidade do Vale do


Itajaí (UNIVALI) Endereço: Rua Uruguai, 458, Centro - Itajaí, Santa Catarina E-mail:
gabrielagazzoni1@outlook.com

Isabela de Pádua Pereira Bessa Graduanda em Medicina pela Universidade de Itaúna (UIT)
Endereço: Rodovia MG 431 - Km 45 (Trevo Itaúna/ Pará de Minas) Itaúna, MG E-mail:
isabelappbessa@gmail.com

Jéssica Ribeiro Salgado Costa Graduanda em Medicina pela Universidade Federal Fluminense
(UFF) Endereço: R. Marquês de Paraná, 303 - Centro, Niterói - RJ E-mail:
ribeirojessica@id.uff.br

Em março de 2020, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou uma


pandemia devido à propagação global e ao estado de calamidade provocado
pelo vírus. Desde o início da pandemia até o dia 22 janeiro de 2021, o total de
casos confirmados de Covid-19 no mundo correspondem a 97.831.595, com
um total de 2.120.877 mortes (OMS, 2021). Em relação ao Brasil, segundo a
OMS (2021), há 8.816.254 casos confirmados com 216.445 óbitos.
No Brasil, a vigilância epidemiológica tem descrito diversos casos de óbitos
maternos devido a complicações cardiopulmonares ou falência múltipla dos
órgãos relacionadas à infecção por COVID-19, além da observação do
aumento de casos de gestantes infectadas que resultaram no desfecho de
parto prematuro e parto cesárea (BRASIL, 2020). O parto prematuro, também
denominado de pré-termo, corresponde ao parto que acontece antes das 37
semanas de gestação e após ultrapassar 20 ou 22 semanas Brazilian Journal
of Health Review ISSN: 2595-6825 4404 Brazilian Journal of Health Review,
Curitiba, v.4, n.2, p. 4401-4415 mar./apr. 2021 de gestação. É considerado um
importante problema obstétrico, tendo em vista que as complicações
relacionadas à prematuridade são consideradas responsáveis por mais de 75%
da mortalidade e morbidade entre recém-nascidos (FEBRASGO, 2019).
O estudo trata-se de uma revisão narrativa de literatura, através de pesquisa
na base de dados Pubmed utilizando os descritores: nascimento prematuro,
trabalho de parto prematuro, coronavírus, infecção por coronavírus, gravidez.
Foram encontrados 121 artigos, entre os quais 17 foram selecionados, sendo
todos publicados em 2020 e consistem em estudos de coorte prospectivos e
retrospectivos, revisões sistemáticas e metanálises.
Pesquisas que avaliaram mulheres grávidas infectadas apontam um índice
superior de prematuridade entre os recém-nascidos de mães com COVID-19,
em comparação com a população geral. A invasão viral poderia desencadear
trabalho de parto prematuro via receptor toll-like TLR-3 ativando a via comum.
Os partos prematuros ocorrem com frequência em mulheres com doença
grave, sendo predominantemente cesáreas.
Em relação aos estudos analisados, o perfil de medicamentos utilizados no
tratamento das gestantes não difere muito daquele instituído na população em
geral, visto que o perfil mais comum foi de uso de antibióticos, seguido do uso
de antivirais e ainda suporte ventilatório com oxigênio suplementar (DUBEY P,
et al., 2020). Os corticosteróides também foram listados como tratamento na
gestação em alguns estudos (DI MASCIO D, et al., 2020).
No que diz respeito à infecção por COVID-19 em mulheres grávidas, as
evidências iniciais não indicaram uma diferença significativa entre a gravidade
da doença em mulheres grávidas e não grávidas. No entanto, com o progresso
dos estudos científicos acerca da doença, constata-se que gestantes possuem
um risco maior de agravamento da doença, além de desenvolver complicações
na gravidez. A infecção causada pelo vírus SARS-CoV-2 em gestantes foi
associada a maiores índices de parto prematuro e de partos cesáreos quando
comparados à população normal. Além disso, a gestação, devido a suas
alterações fisiológicas, predispõe a um risco aumentado de complicações e
piores condições clínicas maternofetais, como restrição de crescimento
intrauterino, aborto espontâneo e morte perinatal, além do parto prematuro.
Respostas imunes maternas e resultados obstétricos de mulheres
grávidas com COVID-19 e possíveis riscos para a saúde da prole
Públicado em: https://www.sciencedirect.com/science/journal/01650378
Marcelo Borges Cavalcante a bCandice Torres de Melo Bezerra Cavalcante cManoel Sarno d eRicardo Barini fJoanne Kwak-Kim g

A pandemia da doença coronavírus 2019 (COVID-19) se espalhou


rapidamente pelo mundo. A grande maioria dos pacientes com COVID-
19 manifesta sintomas leves a moderados, mas pode progredir para
casos graves ou mesmo mortalidades. Os adultos jovens em idade
reprodutiva são a população mais afetada pela infecção por SARS-CoV-
2.
Embora, em uma pequena série de mulheres grávidas com COVID-19
grave, uma síndrome semelhante à PE, uma manifestação clínica
variante da PE, tenha sido relatada (Mendoza et al., 2020 ). Durante a
gravidez, várias infecções virais aumentam o risco de malformações
fetais, PTB e restrição de crescimento intrauterino (RCIU), sem um
impacto significativo a longo prazo na saúde da prole ( Racicot e Mor,
2017 ). Modelos experimentais recentes em animais e estudos
epidemiológicos em humanos, no entanto, mostraram que os filhos
expostos à infecção viral materna no útero ou nascidos com BPN estão
em alto risco para doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) e
transtornos psiquiátricos ( Smith et al. , 2007 ; Choi et al., 2016 ; He et
al., 2017 ; Al Salmi e Hannawi, 2020) 
O objetivo do artigo é revisar as respostas imunes maternas e os
resultados obstétricos em mulheres grávidas com COVID-19 e discutir
o impacto potencial na saúde da prole, particularmente nas questões de
saúde a longo prazo, com base nos dados atuais da literatura.
 infecção por SARS-CoV-2 é conhecida por induzir uma diminuição
nos níveis de células T CD4 + e CD8 + e células assassinas naturais (NK),
mais evidentemente em pacientes criticamente enfermos. Apesar da
diminuição das células T, a resposta imune de COVID-19 é
caracterizada pelo aumento da resposta Th17, com uma redução
simultânea das razões regulatórias das células T (Treg) / Th17. Estudos
sugeriram que a liberação descontrolada de citocinas pró-inflamatórias
em casos de COVID-19 é devido à resposta Th17 exagerada ( Muyayalo
et al., 2020 ; Xu et al., 2020) No entanto, os mecanismos imunológicos
da síndrome de tempestade de citocinas (CSS) em COVID-19 não são
totalmente compreendidos. Curiosamente, também foi descrito em
várias síndromes respiratórias agudas graves, como síndrome
respiratória do Oriente Médio (MERS), síndrome respiratória aguda
grave (SARS) e influenza sazonal (H5N1 e H1N1). Os perfis de citocinas
descritos no CSS de cada síndrome respiratória foram semelhantes,
sugerindo fisiopatologia comum;
No entanto, ainda não há consenso se a gravidez contribui para a
gravidade da COVID-19. Estudos iniciais com mulheres grávidas
descobriram que COVID-19 aumenta significativamente o risco de
parto prematuro, restrição de crescimento intrauterino e baixo peso ao
nascer, que foram associados a doenças não transmissíveis na
prole. Além disso, infecções virais maternas com ou sem transmissão
vertical têm sido aliadas a distúrbios neurológicos e comportamentais
da prole. 
Atualmente, a pandemia de COVID-19 já atinge números alarmantes
de casos e mortes, sem precedentes na história médica recente. Dado o
estado de pandemia e a história de sequelas em filhos de mulheres
grávidas afetadas por outros surtos virais recentes, é necessário avaliar
o impacto do COVID-19 nos resultados obstétricos e NCD de curto e
longo prazo em filhos que tiveram exposição intra-utero à infecção por
SARS-CoV-2. Os estudos iniciais demonstram uma possível associação
entre COVID-19 e PTB, IUGR e BPN, que foram relatados para
aumentar os riscos de NCD de longo prazo na idade adulta. Além disso,
estudos observacionais sobre surtos de outras SARS alertam para o
possível risco de doenças comportamentais e neurológicas em filhos de
mulheres infectadas durante a gravidez. Contudo, a associação entre
COVID-19 e sequelas de longo prazo é incerta e hipotética neste
momento. Portanto, o estabelecimento de um plano de
acompanhamento de longo prazo para os filhos de mulheres grávidas
afetadas por COVID-19 deve ser cuidadosamente estabelecido.

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