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Isaque Conceição
Sabendo disso, o Drone deu uma esticadinha nas hélices e foi conhecer mais uma dessas
super iniciativas dos nossos agentes locais. Trata-se do projeto Teatro do Oprimido e
Palhaçaria – Conversas e Convergências.
Jaqueline Iepsen, em um dos textos de apresentação nas redes sociais do projeto, define
a Palhaçaria de forma bastante interessante:
Os povos antigos já sabiam que rir é importante e desde que as pessoas começaram a se
agrupar, havia entre eles, um “fazedor de riso”, que não tinha necessariamente o nome de
palhaça (o), mas tinha a função de fazer rir, brincar, surpreender, emocionar, subverter as
regras, quebrar os bloqueios, suspirar, respirar...
São tantos os tipos de palhaças (os): as habilidades, os figurinos, os que falam, os que
nada falam, os da rua, da praça, os que vão aos hospitais, às escolas, tem do circo, no
teatro, no cinema, com ou sem o nariz vermelho.
Para o artista que escolhe a palhaçaria como OFÍCIO, é uma arte que chama para
autoavaliação antes mesmo de chamar para o treinamento de técnicas e habilidades. SER
palhaça (o) trata-se da ordem íntima, pessoal, pois cada artista/pessoa tem a sua, o seu. A
maquiagem (ou a ausência dela), o figurino e seus detalhes, a história a ser contada, a
forma de andar e de reagir, TUDO vem de dentro para fora, baseado na sua forma de
enxergar a vida. Se a pessoa vai mudando, se transformando, a palhaça (o) também vai...
Para quem escolhe ser o ESPECTADOR, ri...ou chora, ou as duas coisas. E rindo ou
chorando, se emociona, se transforma, porque se reconhece naquela criatura que é a (o)
palhaça (o), que ama o mundo, que tem uma lógica própria, que cai, levanta-se, cai de
novo, mas não desiste... erra, acerta e depois erra de novo... como é a vida. Só que uma
vida mais mágica, mais florida, mais viva, mais corajosa.
A palhaçaria presenteia o público quando o faz sair do peso da vida real, sem anestesiar,
mas atingindo e mexendo com o coração, a imaginação e o pensamento. E é claro,
provocando a gargalhada!
Uma palhaça (o) antes de tudo quer construir relações e identificação com o público, e
para isso se mostra como é, de verdade, na sua total humanidade. E só depois disso, ou
junto com isso, treina e demonstra suas habilidades e técnicas, sejam elas quais forem.
Pode ser, por exemplo, a habilidade de colocar uma linha na agulha ou se equilibrar em
cima de dezenove cadeiras, não importa, cada uma tem as suas, tudo isso para presentear
o Respeitável Público.
Uma palhaça (o) pode dizer: Minha matéria prima sou eu! E o prazer de ser sua própria
matéria prima é um ‘mergulho’ sem volta.
Conhecido como TO, o Teatro do Oprimido é um método teatral criado pelo dramaturgo
brasileiro Augusto Boal (1931-2009), no início da década de 70. Iniciou no Brasil, e foi
se alastrando para países da América Latina até ser conhecido em quase todo o mundo.
Nasceu como resposta a uma situação política da época no Brasil, em que pelas
circunstâncias não era permitido fazer teatro diretamente para o povo.
Neste método, Boal sistematizou várias técnicas teatrais, todas elas tendo como base e
fundamento a luta social e política. Sendo elas aplicáveis na psicoterapia, na pedagogia,
na cidade ou no campo, no trato com problemas pontuais ou globais.
Segundo Boal “todo teatro é necessariamente político, o teatro é uma arma muito
eficiente”.
Em seu livro “Teatro do Oprimido e outras poéticas políticas”, Boal cita Marx:
O projeto tem como principal objetivo investigar as possíveis convergências entre as duas
linguagens, Palhaçaria e Teatro do Oprimido, e entender como as práticas do Teatro do
Oprimido podem interferir de forma positiva nos processos criativos da Palhaçaria.
O palhaço é prenhe (grávido) de mundos, mesmo quando ele fala dele mesmo, por
exemplo numa ação simples de colocar o leite pra ferver, ele tá falando de TODO
MUNDO, da tentativa da gente ser eficiente e de tentar conciliar tudo... e aqui uma
convergência com o Teatro do Oprimido de Boal é que isso se traduz em MICRO E
MACRO POLÍTICA...
O ator e palhaço Alexandre Penha também passou pelo crivo curioso dos membros do
projeto.
Particularmente pra mim, Boal é um dos maiores mestres de didática de ensino de arte do
mundo, de todos os tempos...e eu enquanto formador de palhaços, basicamente cinquenta
por cento da minha concepção didática, ou seja, a arte de ensinar, é baseada em
Boal...embora o teatro tenha suas habilidades e técnicas específicas, e os palhaços tenham
as suas...a didática do TO conseguiu fazer uma reflexão sobre a arte de ensinar
Teatro...traduzir aspectos técnicos e habilidades complexas para algo alcançável por
todos...esse é o ponto que minha didática se espelha no TO.
Passaram também pela sala virtual de pesquisas a atriz Tânia Farias, da Tribo de
Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz; o palhaço e escritor do livro O Palhaço e o Psicanalista,
Claudio Thebas; o multiplicador das técnicas de Augusto Boal na Alemanha,
Celso Willusa; além de Patricia Sacchet e Guilherme Comelli, da dupla de palhaços
Ondina & Tufoni.
E a saga de entrevistas dessa instigante investigação ainda vai mais longe. Nessa semana
o coletivo de pesquisadores vai se reunir de forma virtual com o grupo
francês Caravane Threatre. Criado e sediado na cidade de Toulouse, no sul da França, o
grupo, que visitou o Brasil no início dos anos 2000, tem como principal linha de pesquisa
as técnicas do Teatro do Oprimido e deve dividir um pouco de sua experiência sob a ótica
da prática em território europeu.
O resultado desse projeto poderá ser conferido por meio do material gerado a partir do
andamento da pesquisa. Além das informações difundidas pelas redes sociais, o coletivo
pretende divulgar conteúdos no formato de artigos que poderão compor um E-book com
as impressões colhidas ao longo do processo.
Aprofundar-se naquilo que já foi criado por alguém, encontrar as justificativas para a
aplicação deste ou daquele método de ensino ou treinamento, nos habilita a propagar esta
prática e mais ainda: encontrar novos e possíveis caminhos para praticá-la.
Nosso grupo de pesquisa é formado pelas áreas das Artes Cênicas, linguagem do teatro
Lambe-Lambe, Teatro de Animação, Palhaçaria, Pedagogia, Ilustração e Comunicação.
Tenho certeza de que nossa capacitação, nossas descobertas irão beneficiar o público de
cada uma destas linguagens...afinal de contas, nosso público merece qualidade!