Você está na página 1de 4

 “No sentido estrito e estreito do termo, o medo (individual) é uma emoção-choque,

frequentemente precedida de surpresa, provocada pela tomada de consciência de um


perigo presente e urgente que ameaça, cremos nós, nossa conservação” (DELUMEAU,
2002, p.23).

 Com relação à justificativa da violência mostrada nos filmes percebemos que o cinema
é um lugar onde “tudo é possível”, onde todas as inibições morais e sociais ficam
suspensas. Um lugar onde podem transitar obscenidades, maldades e violência e onde
nada disso causa extremo horror. (CEBALLOS, 2011, p. 11).

 Quando o individuo se depara com aquilo que não é a conduta humana considerada
"normal", isso pode ser perturbador, e pode revelar, instantaneamente, uma rejeição.
Na literatura, nos quadrinhos e no cinema, esses heróis com seus duplos e suas
máscaras expressam as faces complementares do ser humano, alegorizam a essência
através de uma segunda aparência e viabilizam a busca da realização dos ideais.
(GUIMARÃES, 2011, p. 84).

 Ninguém está imune de ser acometido por medos, taras, vícios, comportamentos
considerados “estranhos”. A observação dessas contingências comportamentais que
denunciam nossa fragilidade é chave para a compreensão dessa fragilidade no outro.
(SILVA, 2011, p. 109).

 Os filmes “fazem parte da realidade” e, o que sustenta nossa própria realidade


cotidiana (política, cultura, social, ideológica) é a fantasia. Assim, os filmes não são
usados para “explicar” ou “ilustrar” a teoria: eles são a tela da fantasia. (CEBALLOS,
2011, p. 3).
 Os gêneros cinematográficos, assim como no teatro, dividem-se em tragédia e
comédia. É na tragédia que se subdividem os gêneros drama, aventura, romance,
terror, etc. Dentro do gênero de terror convencionou-se dividi-lo em entre terror e
horror. Como as próprias palavras já fazem deduzir, terror é tudo aquilo que
aterroriza, aquilo que dá medo, nesse caso, filmes que tratem sobre atos terroristas,
assaltos, ou qualquer outro tipo de violência pode ser considerado de terror. Já o
horror está no que horroriza, ou seja, que, ao mesmo tempo que dá medo, causa nojo,
repulsa ou ojeriza. E é no horror que se encontram subgêneros como Exploitation,
filmes que tratam de violência gratuita ou apelativa; trash, narrativas fílmicas de
baixíssimo orçamento, muitas vezes caseiros e propositalmente improvisados; gore ou
splater, que chamam a atenção pelo uso excessivo de cenas de escatologia, sangue e
violência gráficas; e o slasher movie, filmes de serial killers, sobrenaturais ou não, que
ao longo da trama promovem uma matança descontrolada. Alguns dos filmes de
horror slasher mais famosos foram Helloween, Sexta-feira 13, Colheita Maldita,
Hellraiser e Pânico.
 “O Gótico tem sido e permanece necessário à cultura ocidental moderna, porque ele
nos permite, no fantasmagórico de uma ficcionalidade descaradamente falsa,
confrontar as raízes de nossos seres em contraditórias multiplicidades (da vida se
transformando em morte aos gêneros se confundindo até o medo se transformando
em prazer e muito mais) e a definir nossos seres em oposição a essas assombrosas
contradições, ao mesmo tempo que nos sentimos atraídos por elas, tudo isso em um
tipo de atividade cultural que, enquanto o tempo passa, pode continuar
inventivamente a mudar seus fantasmas de mentira para que abordem anseios e
medos culturais e psicológicos mutáveis”. (Jerrold e. Hogle)

 O MAL INTERIOR: na narrativa gótica o mal interior se apresenta como degeneração


física e moral da alma e do corpo, sendo muitas vezes representado por imagens
tomadas das doenças nervosas como descritas na medicina da época. Um dos casos
mais conhecidos disso se apresenta em “A Queda da Casa de Usher”, de Poe, que
seguiu o modelo gótico que vinha do século XVIII. A questão da ameaça ou processo
de enlouquecimento nos Romances Góticos é outro imaginário recorrente que
influencia aspectos tanto de personagens quanto cenários.
 A imagem da natureza também pode divergir muito no Goticismo e no Romantismo.
No Romantismo a natureza tende a representar algo bom, um espelho da alma
imaculada do herói. Já no romance gótico a alma do herói é conturbada e ambígua, e
seu conflito, interior. Então a natureza e a noite vão aparecer como os lugares do
mistério e guardando ameaças potenciais.
 -ANTICLERICALISMO: seja contra religiões orientais, como em Vathek, ou religiões e
crenças ocidentais, a narrativa gótica estará de alguma forma desafiando a
religiosidade e morais estabelecidas, mesmo que essa “religião” seja a Ciência.
Manfred (Otranto) persegue a noiva do filho morto, Vathek desafia todos os deuses, O
Monge desafia tanto Deus com sua soberba como com seus pecados, Frankestein
desafia inúmeros valores morais ao tentar criar vida a partir da morte.
 Este aspecto se une a questão Prometeica, e Melmoth vagueia séculos com sua
maldição. O personagem vampiro é mais um caso de maldição Prometeica ou
Luciferiana. De uma forma ou outra, por desafiarem algum sagrado, todos são punidos
eternamente ou por um tempo que parece eterno.

Na percepção da insuficiência da razão e da religião, os autores góticos não oferecem uma


solução, apenas apresentam os elementos contraditórios e paradoxais.

Assim a moral dúbia e ambígua dos personagens e do texto gótico tem essa base. Ao contrário,
os autores românticos buscam através da imaginação e beleza criar uma forma de
reconciliação que a razão e a religião não podem oferecer. Para o romântico, o belo e o
sublime vão desempenhar essa função.

O caráter prometeico (ou luciferiano ou fáustico) do Romance Gótico não ajudou na sua
popularidade entre as autoridades e críticos também devido a outra característica recorrente:
o desafio a religião ou moral, seja ela qual for. Com muitos personagens locados na Europa
Latina e Católica Medieval, as críticas ao Catolicismo são evidentes, mas este aspecto atinge
outras religiões cristãs ou mesmo o Islamismo e crenças exóticas, como vemos em Vathek, que
consegue desafiar diversas crenças na mesma obra. Pelo contrário, em romances Românticos,
vemos muitas vezes um reforço das crenças religiosas, com uma solução por vezes espiritual.

-O SUBLIME: No Terror Gótico se busca pelo sublime no terror da antecipação, e não no susto
ou violência. A vertente do Horror Gótico, por sua vez, expõe o protagonista a situações
extremas morais e físicas que ameaçam sua sanidade.

Uma teoria do sublime de influenciou a narrativa e os efeitos buscados pelos primeiros autores
góticos, entre 1760 e 1800 e posteriormente. Burke publicou em 1754 “Uma Investigação
Filosófica Sobre a Origem de Nossas Ideias do Sublime e do Belo”, que se tornou um clássico já
em sua época.

A teoria é complexa e sua consequência é que os autores góticos procuravam despertar o


efeito de sublime nos seus leitores explorando recursos de suspense, terror, vastidão,
obscuridade. Era buscado um efeito de “expansão do espírito”, como quando entramos em
uma grande caverna ou catedral. Algo bem diferente do que vemos em filmes “de susto”
modernos. De fato, boa parte dos romances góticos, apesar de insinuar ou relatar grandes
horrores, mostra pouco.

NÃO APENAS UM CENÁRIO

Assim, é importante notar que a estética gótica não se resume a um sistema de cenários
(castelos em ruínas, cemitérios, noites enfumaçadas etc) e alguns personagens padrão
(zumbis, múmias e vampiros, entre outros). Isso tudo faz parte da tradição gótica, mas estes
elementos de cenário e personagens podem e são muitas vezes usados em obras que não são
góticas.

Estes cenários fazem sentido em uma obra gótica, porque são uma expressão na forma da
estética do conteúdo mais estrutural.

Muitos livros, filmes, estilos de roupa, séries, quadrinhos e jogos foram desenvolvidos a partir
da estética gótica e isso é algo que faz parte da cultura universal e domínio público de
qualquer pessoa, gótica ou não. O que nos interessa aqui é ver o que a subcultura gótica fez
com esses elementos da cultura universal, pois sem entendermos esses elementos da cultura
universal não temos como entender o que foi feito deles na subcultura gótica.

A personagem monstruosa é um elemento fundamental não apenas da estrutura narrativa,


mas desempenha também um papel determinante para os sentidos miméticos do Gótico. Isso
porque monstruosidades ficcionais podem ser entendidas como constructos, nos quais se
corporificam, metaforicamente, os medos, os desejos, as ansiedades e as fantasias de uma
época e de um lugar. Não raramente, o monstro tornase a diferença encarnada: são os
atributos do “Outro” – ou seja, diferenças culturais, políticas, raciais, econômicas, sexuais que
são figuradas na constituição do ser monstruoso (cf. COHEN, 1996).

COHEN, Jeffrey Jerome, (Org.) (1996). Monster theory. Reading culture. Minneapolis:
University of Minnesota Press.
A efetiva ameaça representada pelos monstros ficcionais para o leitor não é, obviamente,
física, mas cognitiva. Os monstros são seres híbridos, intersticiais, muito comumente
apresentados como indescritíveis ou inconcebíveis, pois não podem ser identificados ao que se
entende por natural ou normal em uma cultura. Eles podem mesmo criar tensões e instalar
crises em nossas categorias de entendimento do mundo (cf. CARROLL, 1999).

Você também pode gostar