Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ISSN: 2358-8411
Nº 5, volume 3, article nº 6, October/December 2016
D.O.I: http://dx.doi.org/10.17115/2358-8411/v3n5a6
ANAIS VI SEMINÁRIO E II CONGRESSO DIREITO E
MEDICINA – MISTANÁSIA: MORTE MISERÁVEL
Abstract: The article thematises man's choice on himself through the valoration
process. The purpose of this article is to understand the influence of society and
culture in the process of choosing and constitution of the personality of a man. Thus,
the work questions: how can a person make a choice about herself and define who
she is/wants to be, considering the influence of the sociocultural context on the
constitution of her personality? To answer this question, the process of valuation, the
authentic and inauthentic way of being, the intentionality of consciousness and the
participation of society/culture in the choice of being about oneself are studied. Thus,
through a bibliographical research, based on the work of authors such as Sartre
(2013) and Tillich (2001), it was concluded that social relations and cultural
influences expressively participate in the constitution of personality, however, culture
and society do not need to determine the man.
1
ISECENSA, Psicologia, Campos dos Goytacazes, Brasil, e-mail: neveslaur@gmail.com
2
Uenf, Centro de Ciências do Homem, Programa de Pós-graduação em Cognição e Linguagem,
Campos dos Goytacazes, Brasil, e-mail: iedatboechat@hotmail.com
INTRODUÇÃO
O presente artigo toma por tema o devir humano, a escolha do ser sobre si
mesmo, que é feita a partir do processo de valoração. Seu objetivo é compreender a
influência dos aspectos socioculturais no modo de o ser humano se colocar no
mundo, na perspectiva existencial, que considera que o homem se constitui através
de suas escolhas que formam seu eu, sua personalidade, que tem uma estrutura
ontológica, portanto, não rígida nem cabalmente definida.
Eis, então, a questão a que este trabalho pretende responder: de que modo
uma pessoa pode fazer a escolha sobre si mesma e definir quem ela é/quer ser
apesar da influência das relações sociais e vivências culturais sobre a constituição
de sua personalidade? Para respondê-la, serão discutidas, ainda, temáticas que
fazem menção ao processo de valoração, à autenticidade e inautenticidade, à
intencionalidade da consciência e à participação da sociedade/cultura na escolha do
ser sobre si mesmo.
Desde o nascimento, o ser humano está exposto às vivências diversas e às
novas experiências, vivendo em uma sociedade em que é a todo momento
bombardeado de informações e de novidades. A pessoa pode estar, então, sempre
se questionando sobre o que é realmente importante não só para si e para a
sociedade, mas nem sempre isso acontece. A relevância deste estudo está em
trazer à reflexão a possibilidade que a pessoa humana tem de, numa postura ativa,
dotada de uma consciência reflexiva, assumir seu modo de ser-no-mundo de forma
autêntica e responsável, ou agir passivamente, ao escolher não atuar sobre e a
partir do que a influencia e permanecer irreflexivamente na inautenticidade.
A metodologia utilizada para estudo é a pesquisa bibliográfica, apoiada na obra
de autores como Paul Tillich (2001) e Jean-Paul Sartre (2013).
Paul Tillich (1976) diz que é preciso coragem para ser, afinal, ser é
assumir-se existente, é assumir-se estar lançado às possibilidades que
se apresentam em que se faz necessário escolher a todo momento, e a
cada escolha feita assumir, ainda, a responsabilidade diante das
consequências daquela decisão baseada numa valoração, ou seja, na
Sendo possível escolher como viver e quem se deseja ser por meio da
valoração, importa discutir as formas possíveis pelas quais o ser humano pode vir a
se constituir e se fazer essência ao longo de sua existência. Isto refere-se ao modo
como as escolhas são feitas durante toda a vida: vive-se autenticamente ou
inautenticamente. Admite-se ou esconde-se de sua verdadeira essência: sua
possibilidade de vir-a-ser.
Numa vida autêntica, o homem compreende e age de acordo com as
características e potencialidades que são intrínsecas a ele, e com as possibilidades
que pode criar, para si e para o outro. Se é existindo que o homem se faz essência,
entende-se que é através de sua liberdade diante de valores pré-estabelecidos e de
oportunidades apresentadas a ele que se torna viável escolher de forma mais
satisfatória possível aquilo que lhe convém, incluindo a constituição de sua
personalidade. É vivendo na autenticidade que o homem assume sua liberdade de
escolher-se, julgando e valorando aquilo que chega até ele em seu cotidiano nas
relações que estabelece consigo mesmo, com os outros e com o mundo.
Segundo Boss (apud FORGHIERI, 2009, p. 28), “[...] as coisas não podem ser
sem o homem e o homem não pode ser sem as coisas que encontra [...]”. Em suas
vivências, após conhecer e apreender determinadas situações, o homem dá
significado a cada uma delas, e não apenas às situações, mas também aos outros
homens com quem convive e se relaciona. Através do significado que dá às
experiências vividas, o homem pode se aprofundar em seu conhecimento e julgar
tais vivências, a fim de valorá-las e tomá-las como próprias a si.
Vivendo em sociedade, estabelecendo relações, existindo em um meio no qual
se recebe novas informações a todo momento, o homem que está a todo instante se
construindo e formando seu self, vê-se sofrendo sempre influências culturais e
sociais do meio de que participa. Esse ser relacional é capaz de usar todos seus
“métodos” e conhecimentos sobre si mesmo, assim como optar por um estilo de vida
crítico para julgar as situações, por meio de sua consciência intencional, escolhendo
deixar-se determinar ou não pelas vivências experienciadas no contexto
sociocultural, decidindo se vai torná-las parte de seu self, de sua vida.
O homem apropria-se de valores que lhe são impostos, que lhe são
“entregues” prontos, sem julgá-los de acordo com suas crenças, com suas
necessidades e suas vontades, se ele assim o quiser. A força do contexto pode ser
expressiva e requer do homem coragem para perceber as imposições, solicitações e
sugestões de um padrão de vida que todos seguem, para refletir sobre isso e para
se posicionar autenticamente. “A coragem de ser é o ato ético no qual o homem
afirma seu próprio ser a despeito daqueles elementos de sua existência que entram
em conflito com sua autoafirmação essencial” (TILLICH, 1976, p. 3).
Para a construção de sua identidade, de sua personalidade, de seu self, o
homem precisa ter coragem. Coragem de ser e, se necessário for, de se impor, ao
invés de deixar que os outros o guiem acriticamente. Coragem para fazer valer sua
vontade, suas necessidades, seus desejos, seus julgamentos diante daquilo que
vivencia. É preciso coragem para assumir-se. Para assumir seu ser, para viver uma
vida autêntica, para refletir e apreender experiências que, de fato, correspondam
àquilo que ele pretende ser.
A coragem de ser é a coragem de se autoafirmar e de ser capaz de abandonar
o que não lhe convém, que não é importante em sua existência, enfim, tudo o que
implica viver na inautenticidade, escondendo-se, escondendo seu verdadeiro eu. É
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
TILLICH, P. (2001) A coragem de ser. 6ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 2001.