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LEI Nº 13.

271, DE 15 DE ABRIL DE 2016.

Dispõe sobre a proibição de revista íntima de


Mensagem de veto funcionárias nos locais de trabalho e trata da
revista íntima em ambientes prisionais.

A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e


eu sanciono a seguinte Lei:

OBSERVAÇÕES DIZER O DIREITO:

OBS1: Foi publicada a Lei 13.271/16, que trata sobre a proibição de revista íntima de
funcionárias e de clientes. Apesar de a ementa falar que a Lei trata também sobre "revista
íntima em ambientes prisionais", isto não é verdade porque o único dispositivo que versava
sobre o tema (art. 3º) foi vetado pela Presidente da República. Assim, a Lei só dispõe
sobre revista íntima "funcionárias e de clientes".

Art. 1o As empresas privadas, os órgãos e entidades da administração pública, direta


e indireta, ficam proibidos de adotar qualquer prática de revista íntima de suas
funcionárias e de clientes do sexo feminino.

OBS1: Revista íntima é aquela feita mediante a toque ou exposição dos órgãos genitais
da pessoa revistada. O texto legal menciona apenas "funcionárias e de clientes do sexo
feminino". No entanto, é óbvio que esta prática é proibida também em caso de
funcionários e clientes do sexo masculino. O fato de a pessoa ser homem não significa
que ela esteja sujeita à revista íntima vexatória.

OBS2: A Lei proíbe a revista íntima não apenas nas funcionárias, mas também nas
clientes. Por mais absurdo que possa parecer, existem relatos de revistas íntimas
realizadas em clientes. Já houve casos de pessoas suspeitas de furto em lojas de
departamento que foram levadas a salas reservadas, onde foram submetidas a revistas
pessoais a fim de se constatar se havia alguma mercadoria escondida. No passado, esta
prática era comum em algumas empresas que trabalhavam com artigos valiosos, como
fábricas de joias. Os funcionários e funcionárias, antes de sair da sede da empresa, eram
submetidas a revistas íntimas. Hoje em dia devido a fiscalização dos órgãos de proteção
ao empregado, tais situações são menos frequentes, mas ainda existem.

OBS3: A revista pessoal continua sendo possível, desde que não seja "íntima". Por
exemplo, é possível a revista com o uso de equipamentos eletrônicos, detectores de
metais, aparelhos de raio X, scanner corporal etc. É o caso de um banco que utilize
detectores de metal. Nestes casos, é possível a revista porque não há violação à
dignidade da pessoa revistada.

Art. 2o  Pelo não cumprimento do art. 1o, ficam os infratores sujeitos a:

I - multa de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) ao empregador, revertidos aos órgãos de


proteção dos direitos da mulher;

II - multa em dobro do valor estipulado no inciso I, em caso de reincidência,


independentemente da indenização por danos morais e materiais e sanções de ordem
penal.

OBS1: Multa:
1) R$ 20 mil em caso de primeira vez;
2) R$ 40 mil em caso de reincidência.

OBS2: Apesar de a Lei não utilizar a expressão "até R$ 20.000,00", na opinião do site
Dizer o Direito é possível que haja uma gradação, de forma que este valor seja tido como
um "teto". Isso porque viola o princípio da proporcionalidade que uma empresa com 1
funcionária que é submetida à revista íntima receba a mesma multa que uma outra que
tenha 300 empregadas.

OBS3: A multa pode ser aplicada tanto em sede administrativa (ex: Delegacia Regional
do Trabalho) como também na esfera judicial (ex: ação civil pública proposta pelo MPT).

OBS4: Além da multa, os infratores também poderão estar sujeitos à:


 indenização por danos morais e materiais;
 responsabilização criminal por eventuais delitos praticados (ex: estupro por
conta de atos libidinosos perpetrados durante a revista íntima).

OBS5: Apesar de a indenização e a responsabilização só estarem descritas no inciso II


do art. 2º da Lei, é certo que elas também poderão ser aplicadas desde a primeira vez que
o infrator praticar a revista íntima. Em outras palavras, não é necessário que o infrator
seja reincidente (inciso II) para que possa ser condenado por danos morais e materiais ou
que possa ser processado criminalmente. Ainda que não houvesse o inciso II, o
transgressor poderia ser condenado a ressarcir e poderia responder por crime. Isso
porque tais sanções não decorrem da Lei nº 13271/16 já existindo antes mesmo de sua
edição. A única novidade da Lei 13271/16 foi ter previsto a multa.

Art. 3o  (VETADO).

OBS1: Revista íntima em presídios: É possível a revista íntima em presídios?


Sobre o tema, existem duas correntes:
1ª) Sim, é possível com base em uma ponderação de interesses já que existe uma
necessidade de que seja controlada a entrada de produtos proibidos nos presídios, em
especial drogas e armas, de forma que imperativos de segurança pública autorizariam a
medida, desde que tomadas certas cautelas, como o fato de que esta revista, se feita em
mulheres, deverá ser realizada por agentes públicos do sexo feminino.

2ª) Não. A revista íntima é vexatória e atenta contra a dignidade da pessoa humana.

OBS2: A Lei 13271/16 tratava timidamente sobre o tema no seu art. 3º, adotando o
raciocínio exposto na primeira corrente acima. Veja o que previa o dispositivo:

Art. 3º Nos casos previstos em lei, para revistas em ambientes


prisionais e sob investigação policial, a revista será unicamente
realizada por funcionários servidores femininos.

Ocorre que este art. 3º foi vetado pela Presidente da República com base na seguinte
justificativa: "A redação do dispositivo possibilitaria interpretação no sentido de ser
permitida a revista íntima nos estabelecimentos prisionais. Além disso, permitiria
interpretação de que quaisquer revistas seriam realizadas unicamente por servidores
femininos, tanto em pessoas do sexo masculino quanto do feminino."

Principal objetivo do veto: Foi o de evitar que a Lei passasse a adotar expressamente a 1ª
corrente. Isso porque se o art. 3º permanecesse estaria autorizada, por lei federal, a
revista íntima em presídios, desde que feita por servidora do sexo feminino. Com o veto,
a questão continua sem disciplina expressa na legislação federal.

OBS3: Os partidários da 1ª corrente permanecerão sustentando que é possível com base


na ponderação de interesses. Os filiados à 2ª corrente, por sua vez, afirmarão que o veto
é mais uma demonstração inequívoca de que é proibida a revista íntima nos presídios.

OBS4: Alguns Estados editaram leis estaduais proibindo as revistas íntimas. Em outros
locais, a medida é proibida por força de decisões judiciais em ações civis públicas
propostas pela Defensoria Pública ou pelo próprio Ministério Público.

OBS5: A revista íntima não é sinônimo de revista pessoal. Não há dúvidas de que a
revista pessoal é permitida, se não for íntima. É o caso, por exemplo, da utilização de
scanners corporais ou detectores de metais, que são exemplos de revista pessoal, mas
não íntima.

Art. 4o  Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília,  15  de  abril  de 2016; 195o da Independência e 128o da República.

DILMA ROUSSEFF
Eugênio José Guilherme de Aragão

Este texto não substitui o publicado no DOU de 18.4.2016

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