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CARREIRAS POLICIAIS

Direito
Administrativo
Capítulos 1 ao 16
CARREIRAS POLICIAIS

Direito Administrativo
Capítulo 1
Olá, aluno!

Bem-vindo ao estudo para os concursos de Carreiras Policiais. Preparamos todo esse material
para você não só com muito carinho, mas também com muita métrica e especificidade,
garantindo que você terá em mãos um conteúdo direcionado e distribuído de forma
inteligente.

Para isso, estamos constantemente analisando o histórico de provas anteriores com fins de
entender como cada Banca e cada Carreira costuma cobrar os assuntos do edital. Afinal,
queremos que sua atenção esteja focada nos assuntos que lhe trarão maior aproveitamento,
pois o tempo é escasso e o cronograma é extenso. Conte conosco para otimizar seu estudo
sempre!

Ademais, estamos constantemente perseguindo melhorias para trazer um conteúdo completo


que facilite a sua vida e potencialize seu aprendizado. Com isso em mente, a estrutura do
PDF Ad Verum foi feita em capítulos, de modo que você possa consultar especificamente os
assuntos que estiver estudando no dia ou na semana. Ao final de cada capítulo você tem a
oportunidade de revisar, praticar, identificar erros e aprofundar o assunto com a leitura de
jurisprudência selecionada.

E mesmo você gostando muito de tudo isso, acreditamos que o PDF sempre pode ser
aperfeiçoado! Portanto pedimos gentilmente que, caso tenha quaisquer sugestões ou
comentários, entre em contato através do email pdf@cers.com.br. Sua opinião vale ouro para
a gente!

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de uma obsessão. Sem mais delongas, partiremos agora para o estudo da disciplina.

Faça bom uso do seu PDF Ad Verum!

Bons estudos

1
Recorrência da Disciplina

Caro concurseiro,

Para elaborar este material com o maior direcionamento e precisão possível, fizemos
uma análise minuciosa dos últimos editais das carreiras de Agente, Escrivão e Investigador de
Polícia, e pudemos verificar que a disciplina de Direito Administrativo possui forte incidência
nas provas. Ela representa uma boa fatia do seu edital, por isso nos aprofundaremos bastante,
o que você poderá verificar a seguir na quantidade de capítulos e títulos estudados. Através
destes dados, alcançamos a seguinte porcentagem de cobrança dos temas, verificados no
gráfico abaixo:

Controle da Direito
Licitação
Administração Administrativo
8% Princípios
Pública 5%
Responsabilidade 10%
7% Poderes
civil do Estado
administrativos
9%
9%
Serviços públicos
5% Organização
administrativa
15%
Agentes públicos
24%
Atos Administrativos
8%

Direito Administrativo Princípios


Poderes administrativos Organização administrativa
Atos Administrativos Agentes públicos
Serviços públicos Responsabilidade civil do Estado
Controle da Administração Pública Licitação

2
Abordaremos os assuntos da disciplina de Direito Administrativo da seguinte forma:

CAPÍTULOS

Capítulo 1 – Introdução ao Direito Administrativo: Formação, conceito, fontes e sistemas.

Capítulo 2 – Regime Jurídico Administrativo.

Capítulo 3 – Organização Administrativa.

Capítulo 4 – Entidades Paraestatais e Terceiro Setor.

Capítulo 5 – Poderes Administrativos.

Capítulo 6 – Atos Administrativos.

Capítulo 7 – Serviços Públicos.

Capítulo 8 – Licitação.

Capítulo 9 – Contratos Administrativos.

Capítulo 10 – Processo Administrativo.

Capítulo 11 – Agentes Públicos.

Capítulo 12 – Responsabilidade Civil do Estado.

Capítulo 13 – Bens Públicos.

Capítulo 14 – Controle da Administração Pública.

Capítulo 15 – Improbidade Administrativa.

Capítulo 16 - Intervenção do Estado na Propriedade.

3
Sumário
DIREITO ADMINISTRATIVO, Capítulo 1.................................................................................................................... 6

1. Introdução ao Direito Administrativo: Formação, conceitos, sentidos, fontes e sistemas. ....... 6

1.1 Formação do Direito Administrativo ............................................................................................................ 6

1.1.1 Contribuição do Direito Francês..................................................................................................................... 8

1.1.2 Direito Administrativo Alemão ........................................................................................................................ 9

1.1.3 Direito Administrativo Italiano......................................................................................................................... 9

1.1.4 Direito Administrativo Brasileiro .................................................................................................................. 10

1.2 Conceito ................................................................................................................................................................. 11

1.2.1 Critério das Relações Jurídicas ..................................................................................................................... 12

1.2.2 Critério Teleológico ou Finalístico .............................................................................................................. 12

1.2.3 Critério do Poder Executivo........................................................................................................................... 12

1.2.4 Critério Negativo ou Residual ...................................................................................................................... 12

1.2.5 Critério Legalista ................................................................................................................................................. 12

1.2.6 Critério do Serviço Público ............................................................................................................................ 13

1.2.7 Escola da Puissance Publique ....................................................................................................................... 13

1.3 Sentidos .................................................................................................................................................................. 13

1.3.1 Sentido Subjetivo ............................................................................................................................................... 14

1.3.2 Sentido Objetivo ................................................................................................................................................. 14

1.4 Fontes ...................................................................................................................................................................... 15

1.4.1 Constituição .......................................................................................................................................................... 16

1.4.2 Lei.............................................................................................................................................................................. 16

4
1.4.3 Jurisprudência ...................................................................................................................................................... 17

1.4.4 Doutrina ................................................................................................................................................................. 17

1.4.5 Costume ................................................................................................................................................................. 17

1.4.6 Princípios Gerais do Direito ........................................................................................................................... 18

1.5 Sistemas ................................................................................................................................................................. 18

1.5.1 Sistema Francês .................................................................................................................................................. 19

1.5.2 Sistema Inglês ...................................................................................................................................................... 19

QUADRO SINÓTICO ...................................................................................................................................................... 21

QUESTÕES COMENTADAS ........................................................................................................................................ 24

GABARITO ........................................................................................................................................................................... 34

LEGISLAÇÃO COMPILADA............................................................................................................................................ 38

JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................................................................. 39

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................................. 40

5
DIREITO ADMINISTRATIVO

Capítulo 1

1. Introdução ao Direito Administrativo: Formação,


conceitos, sentidos, fontes e sistemas.

1.1 Formação do Direito Administrativo

Estima-se que como ramo autônomo o Direito Administrativo nasceu em fins do


século XVIII e início do século XIX. Porém, não significa que anteriormente não existissem
normas administrativas. Em síntese, o que havia eram normas dispersas relativas sobretudo ao
funcionamento da Administração Pública, sem que, contudo, fossem baseadas em princípios
informativos próprios.

Cabe ressaltar que na Idade Média não houve desenvolvimento do Direito


Administrativo, eis que era a época das monarquias absolutas, em que a vontade do rei se
confundia com a lei. Inclusive, com base nisso é que surgiu a teoria da irresponsabilidade do
Estado, que, em alguns países, continuou a ter aplicação mesmo após as conquistas do Estado
Moderno.

Apontam-se, entretanto, algumas obras de glosadores da Idade Média, nas quais se considera
como os pontos iniciais dos atuais direitos constitucional, administrativo e fiscal, como a obra
de Andrea Bonello, o texto de Liber Constitutioni e a obra de Bartolo de Sassoferrato.

6
Aponta-se que a formação do Direito Administrativo, como ramo autônomo, a partir
do momento em que começou a debater-se sobre o conceito de Estado de Direito, o que
ocorreu no Estado Moderno, estruturado sobre o princípio da legalidade e sobre o princípio
da separação de poderes – princípios que aprofundaremos no segundo Capítulo.

Destaca-se, ainda, que com a publicação da obra Espírito das Leis, em que se
definiu a teoria da tripartição dos poderes, desenvolvida por Charles de Montesquieu, no
ano de 1748, foi decisiva para nascimento da ideia desse ramo do Direito.

Montesquieu não foi o primeiro a idealizar a tripartição de poderes. Na obra “A República”,


de Aristóteles e o Tratado sobre Governos Civis (1689), de John Locke, já aparecem tal ideia.
Porém, a aceitação da tripartição dos poderes estatais se deu com a obra de Montesquieu.

Há estudiosos que indicam que o Direito Administrativo só exista nos sistemas


europeus formados com base nos princípios revolucionários do século XVIII, mas a doutrina
majoritária não concorda com tal posicionamento, afirmando que nem todos os países
tiveram a mesma história nem estruturaram pela mesma forma o seu poder e por essa razão,
o Direito Administrativo teve origem diversa e desenvolvimento menor em alguns deles.

Em verdade, o conteúdo do Direito Administrativo varia no tempo e no espaço,


conforme o tipo de Estado adotado.

7
1.1.1 Contribuição do Direito Francês

A contribuição do direito francês para a autonomia do Direito Administrativo é


bastante relevante e merece atenção.

Na França o Direito Administrativo surgiu após a Revolução Francesa, que rompeu


inteiramente com o sistema anterior. Mas destaca-se que foi a Lei de 28 pluvioso do Ano VIII
(1800) que teve o papel fundamental de organizar a Administração Pública na França.

Outro ponto que merece destaque foi o enaltecimento do princípio da separação


de poderes que serviu de fundamento para a criação do sistema de dualidade de jurisdição:
com a jurisdição administrativa, e a jurisdição comum.

De início, era a própria Administração quem decidia os seus conflitos com os


particulares, já que o Judiciário não podia fazê-lo. Mas, foi com a criação do Conselho de
Estado que começou o exercício da verdadeira jurisdição administrativa.

Ainda com base na contribuição francesa para a autonomia do Direito


Administrativo, não se pode deixar de comentar do famoso caso Blanco, ocorrido por volta
de 1873: Agnés Blanco, uma menina de apenas 5 anos de idade ao atravessar uma rua da
cidade de Bordeaux, foi atropelada por um vagão da Companhia Nacional de Manufatura de
Tabaco, empresa pública. O vagão era empurrado por quatro funcionários e, em virtude do
atropelamento, uma das pernas de Agnés deve que ser amputada.

Diante de tal fato, o Conselheiro Davi concluiu que o Conselho de Estado era
competente para decidir a controvérsia, como também deveria fazê-lo em termos publicísticos,
já que o Estado era parte na relação jurídica. Com isso, houve o afastamento do instituto da
responsabilidade do campo do direito civil, reconhecendo o carácter especial das regras
aplicáveis aos serviços públicos.

Após apreciação do caso por parte do Conselho do Estado, este decide conceder
uma pensão vitalícia à vítima. São assim lançadas as bases da Teoria do Risco

8
Administrativo que estabelece a responsabilidade objetiva do Estado por danos causados
pelos seus agentes.

1.1.2 Direito Administrativo Alemão


Na Alemanha, o Direito Administrativo foi produto de uma longa evolução, ou
seja, não resultou de revoluções, nem quebras com sistemas anteriores.

Cumpre ressaltar que no Estado Moderno, o direito público passou a reger as


relações entre o Estado e os administrados e o Direito Civil teve aplicação apenas
subsidiária.

Na formação do Direito Administrativo alemão predominou a elaboração


sistemática, mais abstrata, a cargo dos doutrinadores.

Acrescenta-se que foi o direito alemão que iniciou a valorização dos direitos
fundamentais e da constitucionalização dos princípios e valores que devem orientar a
atividade da Administração Pública, da teoria dos conceitos jurídicos indeterminados, do
princípio da dignidade da pessoa humana como fundante do Estado de Direito, do princípio
da proporcionalidade, do princípio da proteção à confiança.

1.1.3 Direito Administrativo Italiano


A origem do Direito Administrativo italiano encontra-se no ordenamento
administrativo piemontês que, por estar sob a dominação da França, foi profundamente
influenciado por este direito.

Costuma-se dividir a formação do Direito Administrativo italiano em três fases: A


primeira fase (dominação francesa), foi profundamente influenciada pelo direito francês
elaborado a partir da época de Napoleão e seguia os ditames do direito privado. Na segunda
fase (de 1865 até a Primeira Guerra Mundial), abandonou-se aos poucos os métodos de
direito privado e à escola exegética, foi assumindo caráter científico, com sistematização
própria. A terceira fase (1922 a 1943), iniciada após a Primeira Guerra Mundial, foi marcada
pelo aparecimento do fascismo, com adoção de princípios autoritários e abolição de
postulados democráticos na organização dos órgãos. Só com a queda do fascismo, voltam
os princípios democráticos.
9
1.1.4 Direito Administrativo Brasileiro

O Direito Administrativo brasileiro sofreu grande influência, sobretudo, do direito


francês, italiano e alemão.

Do direito francês, pode-se pontuar algumas heranças, tais como: o conceito de


serviço público, a teoria dos atos administrativos com o atributo da executoriedade, a
evolução das teorias sobre responsabilidade civil do Estado e o princípio da legalidade.

Já do direito italiano, recebeu o conceito de mérito, o de autarquia e entidade


paraestatal, a noção de interesse público e o próprio método de elaboração e estudo do
Direito Administrativo.

No direito alemão e também no direito espanhol e português, encontrou


inspiração o tema dos conceitos jurídicos indeterminados e do princípio da razoabilidade. Foi
no direito alemão que se buscou também inspiração para aplicação do princípio da segurança
jurídica1, especialmente sob o aspecto subjetivo da proteção à confiança.

Numa conjuntura atual, destaca-se que o Direito administrativo, assim como o


direito pátrio em geral, tem passado por profundas mudanças e seguido determinadas
tendências, quais sejam:

 Constitucionalização e o Princípio da Juridicidade: com a consequente


normatividade primária dos princípios constitucionais (juridicidade) e a centralidade
dos direitos fundamentais.
 Publicização do Direito Civil e privatização do Direito Administrativo: tendência
de transferir atividades do setor público para o setor privado.
 Relativização de formalidades e ênfase nos resultados: a efetivação de direitos
fundamentais tem relativizado formalidades desproporcionais.

1
Vide questão 9
10
Em relação a relativização de formalidades é importante saber que a Lei nº 13.726,
de 8 de outubro de 2018, instituiu o Selo de Desburocratização e Simplificação, além de
mecanismos para diminuir a burocracia e formalismo em órgãos públicos de todos os entes
da Federação.

Em suma, a lei 13.726/2018 estabelece:

1.2 Conceito

Inicialmente, destaca-se que o direito é dividido em dois ramos: o do direito público


e o do direito privado. O Direito Administrativo é um direito do ramo do Direito Público,
uma vez que se pauta na organização e no exercício de atividades do Estado, além de visar o
interesse da coletividade.

Muito se questiona sobre a real definição do Direito Administrativo, mas esclarece-


se que esta não é unânime na doutrina e, inclusive, enseja algumas divergências entre os
estudiosos. Porém, instituíram-se critérios para delimitação do objeto e das finalidades,
bem como definição da área de atuação deste ramo do direito. Vejamos:

11
1.2.1 Critério das Relações Jurídicas

Busca definir o Direito Administrativo como o ramo do direito responsável pelas


relações da Administração com os seus administrados.

1.2.2 Critério Teleológico ou Finalístico

Considera que o Direito Administrativo é um sistema de princípios jurídicos que


regula as atividades do Estado para o cumprimento de seus fins. Apesar de ser uma
concepção correta, não consegue abranger integralmente a matéria, e por essa razão é
considerada incompleta.

1.2.3 Critério do Poder Executivo

Para esse critério o Direito Administrativo estaria resumido na atuação desse poder.
Percebe-se, portanto, que tal critério ignora que a função administrativa pode ser exercida fora
do âmbito do Poder Executivo, e por isso não vigorou.2

1.2.4 Critério Negativo ou Residual

Busca definir o Direito Administrativo como sendo tudo aquilo que não seja
atividade legislativa ou atividade jurídica. Surgiu diante da dificuldade em identificar o objeto
próprio do Direito Administrativo.

1.2.5 Critério Legalista

É também chamado de escola exegética. Para essa escola, o Direito Administrativo


se resume no conjunto da legislação administrativa existente no país.

2
Vide questão 4
12
1.2.6 Critério do Serviço Público

O Direito Administrativo tem por objeto a disciplina jurídica dos serviços públicos,
ou seja, os serviços prestados pelo Estado a toda a coletividade.

1.2.7 Escola da Puissance Publique

A Escola da puissance publique foi desenvolvida no século XIX por Maurice Hauriou.
Essa teoria parte da distinção entre atividades de autoridade e atividades de gestão.

Nas atividades de autoridade, o Estado atua com autoridade sobre os particulares,


tomando decisões unilaterais, regidas por um direito exorbitante do direito comum, enquanto
nas atividades de gestão atua em posição de igualdade com os cidadãos, regendo-se pelo
direito privado.

Esse critério não prosperou por deixar de lado uma série de atos praticados sem
prerrogativas públicas e que também são regidos pelo direito público.

Nenhum desses critérios foi satisfatório para conceituar o Direito Administrativo. A


doutrina majoritária tem utilizado o critério funcional, como o mais eficiente na definição
da matéria. Segundo ele, o Direito Administrativo estuda e analisa a disciplina normativa da
função administrativa, esteja ela sendo exercida pelo Poder Executivo, Legislativo, Judiciário
ou, até mesmo, por particulares mediante delegação estatal.

1.3 Sentidos

Há um consenso entre os autores no sentido de que a expressão “administração


pública” tem duas acepções. Uma das razões para este fato é a extensa quantidade de
13
atividades que compõem o objetivo do Estado. Outra é o próprio número de órgãos e
agentes públicos incumbidos de sua execução.

1.3.1 Sentido Subjetivo

O sentido subjetivo, também conhecido como sentido orgânico ou ainda sentido


formal leva em consideração o sujeito da função administrativa, ou seja, os órgãos e as
entidades que formam a estrutura do estado para exercer a função administrativa.

Apesar de ser matéria apenas do Capítulo 3, é importante destacar que entidade é a


pessoa jurídica pública ou privada. Compreende tanto as entidades políticas, que possuem
autonomia política, ou seja, são capazes de legislar e de se auto organizar (União, estados, DF
e Municípios), como as entidades administrativas que detêm autonomia administrativa, isto é,
capacidade de gerir os próprios negócios. E o órgão é o elemento despersonalizado,
incumbido da realização das atividades da entidade a que pertence.

1.3.2 Sentido Objetivo

Já o sentido objetivo, material ou também funcional é a própria função


administrativa exercida pelo Estado.

Existem quatro atividades precípuas dessa função: o serviço público, a polícia


administrativa, o fomento e a intervenção3.

O fomento abrange a atividade administrativa de incentivo à iniciativa privada de


utilidade pública. Muitas vezes o fomento abrange o repasse de verbas orçamentárias, a
cessão de servidores públicos, a permissão para utilização de bens públicos, entre outras
modalidades.

3
Vide questão 10
14
A polícia administrativa compreende as restrições impostas por lei ao exercício de
direitos individuais em benefício do interesse coletivo. Compreende medidas de polícia, como
ordens, notificações, licenças, autorizações, fiscalização e sanções.

O Serviço público é toda atividade que a Administração Pública executa, direta ou


indiretamente, com ou sem exclusividade, para satisfazer à necessidade coletiva, sob regime
jurídico predominantemente público.

A intervenção compreende a regulamentação e fiscalização da atividade econômica


de natureza privada - intervenção indireta -, bem como a atuação direta do Estado no
domínio econômico - intervenção direta.

O macete para fixar o sentido subjetivo é: FOS é OAB. FOS são todas as inicias de como o
sentido subjetivo pode ser chamado: Formal, Orgânico e Subjetivo. OAB são os Órgão

1.4 Fontes

Mesmo a matéria pertinente às fontes do direito constituir objeto de estudo da


teoria geral do direito, é importante a análise do assunto na área do Direito Administrativo,
pelas peculiaridades de algumas de suas fontes.

Pode-se dividir as fontes em:

 Fontes formais: são as fontes que constituem propriamente o direito


aplicável, abrangendo a Constituição, a lei, o regulamento e outros atos

15
normativos da Administração Pública, bem como, parcialmente, a
jurisprudência;4 e
 Fontes materiais: são as que promovem ou dão origem ao direito aplicável.

1.4.1 Constituição

As Constituições (federais, estaduais, bem como as leis orgânicas dos Municípios)


constituem a fonte principal do Direito Administrativo.

É de notar-se que grande parte dos institutos do Direito Administrativo brasileiro


tem fundamento constitucional, como a desapropriação, o tombamento, o servidor público, os
princípios da Administração Pública, a licitação etc.

É a concretização da chamada constitucionalização do Direito Administrativo5,


acentuada na Constituição de 1988 e ainda mais fortalecida por meio de Emendas
constitucionais, cresceu de importância a Constituição como principal fonte do Direito
Administrativo. Fala-se em substituição da legalidade por constitucionalidade.

1.4.2 Lei

É fonte primária e direta, eis que a Constituição de 1988 prevê a legalidade como
um dos princípios a que se submete a Administração Pública direta e indireta.

Nesse aspecto, a lei deve ser considerada em sentido amplo, abrangendo normas
constitucionais, legislação infraconstitucional, os regulamentos administrativos e os tratados
internacionais. Esse conceito está relacionado à ideia de juridicidade, ou seja, o administrador
deve respeitar a lei e o direito como um todo, conforme a distribuição de competências
prevista na Constituição Federal.

4
Vide questão 8
5
Vide questão 6
16
1.4.3 Jurisprudência

É fonte secundária do Direito Administrativo, de grande influência na construção e


na consolidação desse ramo do Direito, inclusive, diante da ausência de codificação legal. São,
em verdade, as decisões reiteradas dos tribunais. Tem importância se levarmos em conta a
judicialização do direito e nova tendência de vinculação dos precedentes.

No direito brasileiro, a jurisprudência, como fonte do Direito Administrativo, não


apresenta o mesmo significado que no direito francês ou no sistema do common law. No
entanto, não há como negar que a jurisprudência tem se tornado muito importante para o
Direito Administrativo.

1.4.4 Doutrina

Tem natureza de fonte material, eis ela não integra o direito aplicável propriamente
dito, mas serve de fundamentação e de orientação para as decisões administrativas e judiciais,
como também serve de inspiração para o legislador. Sendo assim, pode ser considerada fonte
secundária.

1.4.5 Costume

São fontes secundárias e indiretas. Trata-se da repetição de condutas com


convicção de sua obrigatoriedade. Os costumes, assim com a praxe administrativa (fonte
secundária) são consideradas fontes inorganizadas, ou seja, não escritas.

Destaca-se que no sistema do common law, a exemplo do que ocorre no direito


inglês principalmente, o costume constitui importante fonte do direito em geral.6

6
Vide questão 5
17
A praxe administrativa também é considerada uma fonte desse direito, mas não se confunde
com os costumes. Os costumes carregam caráter de obrigatoriedade e na praxe inexiste essa
percepção.

1.4.6 Princípios Gerais do Direito

Na formação do Direito Administrativo, os princípios gerais de direito foram muito


importantes, sobretudo por tratar-se de ramo não codificado.

Os princípios desempenham papel relevante na interpretação das leis e na busca do


equilíbrio entre as prerrogativas do poder público e os direitos do cidadão.

1.5 Sistemas

Toda atividade exercida pelo Estado deve ser controlada pela sociedade, por meio
de seus representantes, afinal, o administrador público não é titular do interesse coletivo
(princípio da indisponibilidade do interesse público).

Por essa razão, surgiram alguns sistemas administrativos ou mecanismos de controle


que são: o sistema inglês ou sistema de jurisdição única e o sistema francês ou sistema do
contencioso administrativo.

18
1.5.1 Sistema Francês

O sistema francês ou sistema do contencioso administrativo, também chamado


de sistema da dualidade de jurisdição é aquele em que não se admite o controle judicial dos
atos da Administração Pública. Os atos praticados pela Administração Pública ficam sujeitos à
jurisdição especial do contencioso administrativo, formada por tribunais de natureza
administrativa.

Nesse sistema as decisões proferidas pelos tribunais de natureza administrativa


possuem caráter de definitividade, fazendo coisa julgada material, sendo impossível a
revisão pelo Judiciário.

1.5.2 Sistema Inglês

O sistema inglês também designado de sistema da unicidade de jurisdição, é


aquele no qual todos os litígios, sejam eles administrativos ou privados, podem ser levados ao
conhecimento do Poder Judiciário.

Apenas o Judiciário tem o condão de dizer o direito de forma definitiva e com força
de coisa julgada material.

É importante observar que a adoção do sistema de jurisdição única não implica a


vedação à existência de solução de litígios na esfera administrativa. Ocorre que a decisão
administrativa não impede que a matéria seja levada à apreciação do Poder Judiciário.

Neste sentido, frisa-se que a coisa julgada administrativa, nada mais é senão a
impossibilidade de discussão de determinada matéria no âmbito de processos administrativos.

O ordenamento jurídico brasileiro adotou o sistema inglês, conforme


expressamente previsto no texto constitucional em seu art. 5°, XXXV, o princípio da
inafastabilidade da jurisdição. Portanto, no sistema nacional, o particular pode optar em

19
resolver seus conflitos com a administração pública instaurando processos administrativos ou
poderá recorrer ao judiciário.

Ressalte-se ainda que a possibilidade de recorrer ao judiciário não depende, via de


regra, do esgotamento das instâncias administrativas. Dessa forma, o particular pode propor
ação judicial para solução dos seus conflitos, mesmo sem ter sido proferida uma decisão
definitiva na esfera administrativa. Essa regra comporta poucas exceções:

 Justiça desportiva: dispõe seu art. 217, §1° da CFRB/88 que "o Poder
judiciário só admitirá ações relativas à disciplina e às competições desportivas
após esgotarem-se as instâncias da justiça desportiva, regulada em lei”;
 Habeas data: o interesse de agir configura-se pela recusa da entidade
administrativa em atender o pedido do impetrante;
 Ato ou omissão administrativa que contrarie súmula vinculante para sua
submissão ao STF por meio da reclamação (art. 7º, § 1º, da Lei Federal nº
11.417/2006)
 Mandado de Segurança não é cabível quando caiba recurso administrativo
com efeito suspensivo;

20
QUADRO SINÓTICO

FORMAÇÃO DO DIREITO ADMINISTRATIVO

Enaltecimento do princípio da separação de poderes que serviu de


Direito Francês fundamento para a criação do sistema de dualidade de jurisdição. E lançou
as bases da Teoria do Risco Administrativo com o Caso Blanco.

Iniciou a valorização dos direitos fundamentais e da constitucionalização dos


princípios e valores que orientam a atividade da Administração Pública, da
Direito Alemão teoria dos conceitos jurídicos indeterminados, do princípio da dignidade da
pessoa humana como fundante do Estado de Direito, do princípio da
proporcionalidade, do princípio da proteção à confiança.

Abandonou os métodos de direito privado para assumir um caráter científico


Direito Italiano
e com sistematização própria.

Sofreu muita influência de outros direitos. Mas atualmente, tem passado por
profundas mudanças e seguido determinadas tendências:
Constitucionalização e o Princípio da Juridicidade: com a consequente
normatividade primária dos princípios constitucionais (juridicidade) e a
Direito centralidade dos direitos fundamentais.
Brasileiro Publicização do Direito Civil e privatização do Direito Administrativo:
tendência de transferir atividades do setor público para o setor privado.
Relativização de formalidades e ênfase nos resultados: a efetivação de
direitos fundamentais tem relativizado formalidades desproporcionais.

CONCEITO

21
A definição do que é o Direito Administrativo não é unânime na doutrina.

Critério das
O Direito Administrativo é o ramo do direito responsável pelas relações da
Relações
Administração com os administrados (particular).
Jurídicas

Critério
Considera que o Direito Administrativo é o ramo do direito responsável por
Teleológico ou
regular a atividade do Estado na busca de seus fins.
Finalístico

Critério do Identifica o Direito Administrativo como a atuação apenas do Poder


Poder Executivo Executivo.

Critério
O Direito Administrativo é tudo que não seja atividade política, jurídica ou
Negativo ou
legislativa.
Residual

Corrente
O Direito Administrativo é o conjunto da legislação administrativa existente
Legalista/Escola
no país, desconsiderando o papel da doutrina e da jurisprudência.
Exegética

Critério do Conforme esse critério, o Direito Administrativo tem por objeto a disciplina
Serviço Público jurídica dos serviços públicos.

Escola de
Conceitua o direito administrativo partindo da distinção entre atividade de
Puissance
autoridade (império) e atividades de gestão.
Publique

SENTIDOS

O sentido subjetivo, também conhecido como sentido orgânico ou ainda


sentido formal leva em consideração o sujeito da função administrativa, ou
Subjetivo
seja, os órgãos e as entidades que formam a estrutura do estado para
exercer a função administrativa.

Já o sentido objetivo, material ou também funcional é a própria função


Objetivo
administrativa exercida pelo Estado. Existem quatro atividades precípuas

22
dessa função: o serviço público (atividade executada para satisfazer as
necessidades coletivas); a polícia administrativa (atividades que implicam
restrição dos direitos individuais); o fomento (incentivo à iniciativa privada);
e a intervenção (regula a fiscalização da atividade econômica).

FONTES

Com a constitucionalização do Direito Administrativo, a Constituição firmou-


Constituição
se como principal fonte do Direito Administrativo.

É fonte primária e direta, eis que a Constituição de 1988 prevê a legalidade


Lei como um dos princípios obrigatórios a ser seguido pela Administração
Pública direta e indireta.

É fonte secundária do Direito Administrativo, de grande influência na


Jurisprudência construção e na consolidação desse ramo do Direito, inclusive, diante da
ausência de codificação legal.

Doutrina É fonte secundária capaz de influenciar a elaboração de novas regras.

É caracterizado como prática reiteradamente observada pelos agentes


Costume administrativos diante de determinada situação concreta. Não com
confunde com a praxe administrativa.

Princípios Os princípios desempenham papel relevante na interpretação das leis e na


Gerais do busca do equilíbrio entre as prerrogativas do poder público e os direitos
Direito do cidadão.

SISTEMAS

O sistema francês ou sistema do contencioso administrativo, também


Francês chamado de sistema da dualidade de jurisdição é aquele em que não se
admite o controle judicial dos atos da Administração Pública.
O sistema inglês também designado de sistema da unicidade de
Inglês jurisdição, é aquele no qual todos os litígios, sejam eles administrativos ou
privados, podem ser levados ao conhecimento do Poder Judiciário.

23
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

(ACAFE – 2010 – PC-SP – Escrivão de Polícia) Em relação ao Direito Administrativo é correto

afirmar, exceto:

A) A jurisprudência não pode ser fonte do Direito Administrativo.

B) Pode-se conceituar Direito Administrativo como o conjunto de normas e princípios

jurídicos que regem as relações entre as pessoas e órgãos do Estado e entre este e

a coletividade, sempre com vistas ao interesse público.

C) O Direito Administrativo possui estreita ligação com o Direito Constitucional,

podendo- se dizer que aquele é o lado dinâmico deste.

D) A interpretação do Direito Administrativo deve considerar a desigualdade jurídica

entre a Administração e os administrados, a presunção de legitimidade dos atos da

Administração e a necessidade da prática de atos discricionários para a

Administração atender ao interesse público.

Comentário:

Gabarito: Letra “A”.

Vejamos, inicialmente, que a questão pede a alternativa incorreta.

24
A única alternativa incorreta é a letra “A” pois, como estudamos neste capítulo, são fontes do
Direito Administrativo a lei, a doutrina, a jurisprudência e os costumes.

Questão 2

(CESPE – PC-PE – 2016 – Agente de Polícia) Considerando as fontes do direito administrativo


como sendo aquelas regras ou aqueles comportamentos que provocam o surgimento de uma
norma posta, assinale a opção correta.

A) A lei é uma fonte primária e deve ser considerada em seu sentido amplo para abranger
inclusive os regulamentos administrativos.
B) O acordo é uma importante fonte do direito administrativo por ser forma de
regulamentar a convivência mediante a harmonização de pensamentos.
C) Os costumes, pela falta de norma escrita, não podem ser considerados como fonte do
direito administrativo.
D) A jurisprudência é compreendida como sendo aquela emanada por estudiosos ao
publicarem suas pesquisas acerca de determinada questão jurídica.
E) Uma doutrina se consolida com reiteradas decisões judiciais sobre o mesmo tema.

Comentário:

Gabarito: Letra “A”.

A) Correta. A lei, além de ser fonte primária, é a fonte principal do Direito


Administrativo, e por isso deve ser considerada em sentido amplo, englobando também os
regulamentos administrativos.

25
B) Incorreta. Isso porque, o acordo não é fonte do Direito Administrativo (apenas
leis, doutrina, jurisprudência e costumes).

C) Incorreta. Os costumes são sim considerados como fonte do Direito


Administrativo, porém são fontes secundárias.

D) Incorreta. Aqui a banca confundiu a doutrina com a jurisprudência.

E) Incorreta. Novamente, a banca confundiu doutrina com jurisprudência.

Questão 3

(CESPE – 2016 – PC-PE – Escrivão de Polícia) Acerca de conceitos inerentes ao direito


administrativo e à administração pública, assinale a opção correta.

A) O objeto do direito administrativo são as relações de natureza eminentemente privada.


B) A divisão de poderes no Estado, segundo a clássica teoria de Montesquieu, é adotada
pelo ordenamento jurídico brasileiro, com divisão absoluta de funções.
C) Segundo o delineamento constitucional, os poderes do Estado são independentes e
harmônicos entre si e suas funções são reciprocamente indelegáveis.
D) A jurisprudência e os costumes não são fontes do direito administrativo.
E) Pelo critério legalista, o direito administrativo compreende os direitos respectivos e as
obrigações mútuas da administração e dos administrados.

Comentário:

Gabarito: Letra “C”.

Apesar de essa questão trazer em seu bojo temas ainda não tratados neste capítulo, ela fala
um pouco sobre as fontes do Direito Administrativo, por isso iremos analisá-la.

26
A) Incorreta. Ao contrário do que traz o item “A”, o objeto do Direito Administrativo
são as relações jurídicas calcadas preponderantemente em normas de direito público.

B) Incorreta. Não existe divisão absoluta de funções, mas sim a preponderância do


exercício de cada uma delas. Como veremos nos próximos capítulos, os poderes exercem
atipicamente a função administrativa.

C) Correta, pelos seus próprios termos.

D) Incorreta. Lembra que estudamos sobre isso neste capítulo? Tanto a doutrina
quanto a jurisprudência são fontes do Direito Administrativo.

E) Incorreta. Na verdade, pelo critério legalista, o Direito Administrativo tem por


objeto apenas a interpretação das leis administrativas e atos complementares.

27
Dada a escassez de questões das matérias tratadas no capítulo 01 em concursos de carreiras policiais, a
partir deste momento iremos analisar questões de carreiras jurídicas em geral, para aprofundar o seu
estudo. Vamos nessa?

Questão 4

(CESPE - 2019 - PGE-PE - Analista Judiciário de Procuradoria) Com relação à origem e às


fontes do direito administrativo, aos sistemas administrativos e à administração pública em
geral, julgue o item que segue.
De acordo com o critério teleológico, o direito administrativo é um conjunto de normas que
regem as relações entre a administração e os administrados.
Certo
Errado

Comentário:

O critério Teleológico, também chamado de finalista, aponta que o Direito


Administrativo é um conjunto harmônico de princípios que disciplinam a atividade do Estado
para o alcance de seus fins.

Já o critério das Relações jurídicas afirma que o Direito Administrativo é responsável


pelo relacionamento da Administração Pública com os administrados, bem como disciplinar as
relações entre as diversas pessoas e órgãos do próprio Estado.

28
Questão 5

(CESPE - 2019 - PGE-PE - Analista Judiciário de Procuradoria) Com relação à origem e às


fontes do direito administrativo, aos sistemas administrativos e à administração pública em
geral, julgue o item que segue.
No Brasil, assim como no sistema de common law, o costume é uma das fontes principais do
direito administrativo.
Certo
Errado

Comentário:

No sistema do common law, a exemplo do que ocorre no direito inglês


principalmente, o costume constitui importante fonte do direito em geral. Não é o que ocorre
no Direito Administrativo brasileiro. Talvez por isso mesmo, nem todos os autores incluam o
costume entre as fontes do direito e, muito menos, do Direito Administrativo.

Questão 6

(CESPE - 2019 - PGE-PE - Analista Judiciário de Procuradoria) Com relação à origem e às


fontes do direito administrativo, aos sistemas administrativos e à administração pública em
geral, julgue o item que segue.
Um dos aspectos da constitucionalização do direito administrativo se refere à elevação, ao
nível constitucional, de matérias antes tratadas por legislação infraconstitucional.
Certo
Errado

Comentário:

29
A Constitucionalização do Direito Administrativo pode ser entendida em dois
sentidos: (a) elevação, ao nível constitucional, de matérias antes tratadas por legislação
infraconstitucional; (b) irradiação dos efeitos das normas constitucionais por todo o sistema
jurídico (cf. Virgílio Afonso da Silva, 2007:48-49).

No primeiro sentido, a constitucionalização teve início já com a Constituição de


1934, fortaleceu-se consideravelmente com a Constituição de 1988 e foi reforçada por meio
de suas Emendas. [...]

O segundo sentido de constitucionalização do Direito Administrativo produziu


reflexos intensos sobre o princípio da legalidade (que resultou consideravelmente ampliado) e
a discricionariedade (que resultou consideravelmente reduzida). A constitucionalização de
princípios e valores passou a orientar a atuação dos três Poderes do Estado. [...]"

Questão 7

(INSTITUTO AOCP - 2019 - PC-ES - Assistente Social) Assinale a alternativa correta acerca de
conceito e fontes do Direito Administrativo.
A) O sistema de direito administrativo anglo-americano teve origem na França e é focado,
essencialmente, em reger as relações entre cidadãos e Administração, fixando prerrogativas e
deveres à Administração.
B) O sistema de direito administrativo europeu continental deixa para o âmbito do direito
privado as relações entre Estado e cidadãos. A jurisdição é una, exercida exclusivamente pelo
Poder Judiciário.
C) Os costumes não constituem fonte do direito administrativo.
D) O Direito Administrativo, dentre outros conceitos, pode ser definido como o ramo do
direito Público que tem por objeto os órgãos, agentes e pessoas jurídicas administrativas que
integram a Administração Pública, a atividade jurídica não contenciosa que exerce e os bens
de que se utiliza para a consecução de seus fins, de natureza pública.

30
E) O direito administrativo visa à regulação das relações jurídicas entre servidores e entre estes
e os órgãos da administração, ao passo que o direito privado regula a relação entre os órgãos
e a sociedade.

Comentário:

Maria Sylvia Zanella Di Pietro afirma que: Direito Administrativo é “o ramo do direito público
que tem por objeto os órgãos, agentes e pessoas jurídicas administrativas que integram a
Administração Pública, a atividade jurídica não contenciosa que exerce e os bens de que se
utiliza para a consecução de seus fins, de natureza pública.” (Direito Administrativo, 19º ed,
São Paulo: Editora Atlas, 2006, p. 66).

Questão 8

(CESPE - 2018 - SEFAZ-RS - Técnico Tributário da Receita Estadual - Prova 2) O direito


administrativo é formado por muitos conceitos, princípios, elementos, fontes e poderes. As
principais fontes formais do direito administrativo, segundo a doutrina majoritária, são
A) os princípios gerais de direito, a jurisprudência, a lei e os atos normativos da administração.
B) os costumes, a lei e os atos normativos da administração.
C) a Constituição, a lei e os costumes.
D) a doutrina, a jurisprudência e a Constituição.
E) a Constituição, a lei e os atos normativos da administração pública.

Comentário:

A fonte formal tem relação com a produção do Direito Administrativo. São:

a) Constituição;

b) Lei;

c) Jurisprudência (Efeito Vinculante)

31
Já a fonte material tem relação com a formação do direito:

a) Jurisprudência – Quando não há efeito vinculante;

b) Doutrina;

c) Costumes; e

d) Princípios gerais do direito.

Questão 9

(CESPE - 2018 - SEFAZ-RS - Técnico Tributário da Receita Estadual - Prova 2) Uma vez que
o direito administrativo brasileiro foi influenciado pelo direito estrangeiro, é correto afirmar
que exprime a força do direito alemão no direito administrativo pátrio
A) a submissão da administração pública ao controle jurisdicional.
B) o conceito nacional de serviço público.
C) o conceito nacional de autarquia e de entidade paraestatal.
D) a forma de aplicação do princípio da segurança jurídica.
E) o mandado de segurança.

Comentário:

No direito alemão e também no direito espanhol e português, encontrou inspiração


o tema dos conceitos jurídicos indeterminados e do princípio da razoabilidade (relacionados
com a matéria de interpretação e discricionariedade administrativa). Foi no direito alemão que
se buscou também inspiração para aplicação do princípio da segurança jurídica, especialmente
sob o aspecto subjetivo da proteção à confiança. Ainda os temas da constitucionalização dos
princípios e da centralidade da pessoa humana (a serem analisados no item subsequente)
tiveram inspiração na Lei Fundamental de Bonn, de 1949, produzindo reflexos importantes
sobre o princípio da legalidade, sobre a discricionariedade administrativa e sobre o controle
judicial.

32
Questão 10

(CESPE - 2018 - TCE-MG - Analista de Controle Externo - Direito) As tarefas precípuas da


administração pública incluem
A) a prestação de serviços públicos e a fiscalização contábil.
B) a realização de atividades de fomento e a prestação de serviços públicos.
C) a rejeição normativa e a aprovação orçamentária.
D) o incentivo setorial e a solução de conflitos normativos.
E) o exercício do poder jurisdicional e do poder de polícia.

Comentário:

As tarefas precípuas da Administração Pública:

• Fomento;

• Serviços Públicos;

• Polícia Administrativa;

• Intervenção Administrativa.

33
GABARITO

Questão 1 - A

Questão 2 - A

Questão 3 - C

Questão 4 - Errado

Questão 5 - Errado

Questão 6 - Certo

Questão 7 - D

Questão 8 - E

Questão 9 - D

Questão 10 - B

34
QUESTÃO DESAFIO

Qual o sistema de jurisdição adotado no Brasil? A decisão em


processo administrativo (PA) faz coisa julgada material?

Máximo de 5 linhas

35
GABARITO DA QUESTÃO DESAFIO

O Brasil adota o sistema de jurisdição una ou sistema inglês. Significa que as pessoas
sempre podem se socorrer no Juridicário para eventual solução de conflitos. Coexistem a
jurisdição administrativa e a judicial, mas a primeira não faz coisa julgada material. O
Judiciário pode rever o PA se acionado.

Você deve ter abordado necessariamente os seguintes itens em sua resposta:

 Brasil adota jurisdição una ou sistema inglês

A existência do processo administrativo decorre diretamente do princípio constitucional do


devido processo legal:

"Art. 5.º, LIV, CF/1988 – ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido
processo legal.

Então, para que se evite a prática de atos arbitrários e tomados por sentimentos pessoais, faz-
se necessária a instauração de um procedimento prévio que sirva de base e fundamento para
as decisões administrativas. Dessa imposição surge o processo administrativo.

Segundo ensinamentos de Ana Cláudia Campos "[...] devemos lembrar que o Brasil adotou o
sistema de jurisdição una (sistema inglês), o qual prevê que todos os conflitos, sejam eles
decorrentes de atos do Poder Público ou não, possam ser julgados pelo Poder Judiciário."
CAMPOS, Ana Cláudia Direito Administrativo Facilitado / Ana Cláudia Campos. São Paulo:
Método; Rio de Janeiro: Forense, 2019. p.1039.

 decisão em PA não faz coisa julgada material

Considerando a informação do critério anterior e conforme a professora Ana Cláudia, "[...] o


julgamento administrativo não faz coisa julgada material, ou seja, ainda que se percorram
todas as instâncias, a decisão não será definitiva, pois sempre poderá o interessado rediscutir
a matéria no âmbito judicial."

36
Não cansa lembrar que temos um dispositivo constitucional garantindo a inafastabalidade da
tutela judicial, vejamos:

"Art. 5.º, XXXV, CF/1988 – a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça
a direito [princípio da inafastabilidade da jurisdição"

Assim, a decisão prolatada em PA não faz coisa julgada material (definitiva), podendo levar a
parte insatisfeita a se socorrer no Poder Judiciário para uma possível alteração da stuação.

Na esfera federal, o processo administrativo é disciplinado pela Lei 9.784/1999, a qual será
aplicada aos três Poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário), quando estes estiverem
desempenhando a função administrativa.

Vejamos:

"Art. 1.º Esta Lei estabelece normas básicas sobre o processo administrativo no âmbito da
Administração Federal direta e indireta, visando, em especial, à proteção dos direitos dos
administrados e ao melhor cumprimento dos fins da Administração. § 1.º Os preceitos desta
Lei também se aplicam aos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário da União, quando no
desempenho de função administrativa." CAMPOS, Ana Cláudia Direito Administrativo Facilitado
/ Ana Cláudia Campos. São Paulo: Método; Rio de Janeiro: Forense, 2019.p.1049.

37
LEGISLAÇÃO COMPILADA

Princípio da Inafastabilidade de Jurisdição:


 CRFBF/88: art. 5º, inciso XXXV.

Esgotamento das Instâncias Administrativas:


 CRFBF/88: art. 217, §1°

38
JURISPRUDÊNCIA

Necessidade de esgotamento das instâncias:

Via de regra, para que se possa levar o litígio ao judiciário, não é necessário o do
esgotamento das instâncias administrativas. Contudo essa regra possui algumas exceções: (i)
Justiça desportiva: o judiciário só admite ações desportivas pós se esgotarem as instancias na
Justiça Desportiva – que apesar de ter o nome “justiça” esta n âmbito administrativo; (ii)
Habeas data: par caracterizar o interesse de agir no Habeas Datas é necessária a
comprovação da negativa ou omissão da Administração; (iii) Ato ou omissão administrativa
que contrarie súmula vinculante só pode ser objeto de reclamação depois de esgotadas as
vias administrativas e (iv) Mandado de Segurança não é cabível quando caiba recurso
administrativo com efeito suspensivo;

 PROCESSUAL CIVIL. EXTINÇÃO DO FEITO SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO POR FALTA DE


INTERESSE DE AGIR. NECESSIDADE DE PRÉVIO REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO.
INCIDÊNCIA DAS REGRAS DE TRANSIÇÃO DO RE 631240/MG. AUSÊNCIA DA
INTIMAÇÃO DA PARTE AUTORA PARA DAR ENTRADA ADMINISTRATIVAMENTE JUNTO
AO INSS. POSTULADO E INDEFERIDO O BENEFÍCIO NA VIA ADMINISTRATIVA,
ENQUANTO SE PROCESSAVA A APELAÇÃO, MESMO SEM A INTIMAÇÃO. RESTA
CARACTERIZADO O INTERESSE DE AGIR. NULIDADE DA SENTENÇA. APELAÇÃO
PROVIDA. (TRF5 - Acórdão Ac - Apelação Civel 00012859520184059999, Relator(a): Des.
Bruno Leonardo Câmara Carrá, data de julgamento: 22/01/2019, data de publicação:
25/01/2019, 4ª Turma)

39
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARVALHO FILHO, José dos Santos. MANUAL DE DIREITO ADMINSITRAVO. 32 Ed. São
Paulo: Atlas, 2018.

CARVALHO, Matheus. MANUAL DE DIREITO ADMINSITRAVO. 3 ed. Salvador: JusPODIVM,


2016.

OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende. CURSO DE DIREITO ADMINISTRATIVO. 5 ed. Rio de


Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2017.

PIETRO, Maria Sylvia Zanella Di. DIREITO ADMINISTRATIVO. 32. ed. rev. atual e ampl. – Rio
de Janeiro: Forense, 2019.

40
CARREIRAS POLICIAIS

Direito Administrativo
Capítulo 2
SUMÁRIO
DIREITO ADMINISTRATIVO, Capítulo 2.................................................................................................................... 3

2. Regime Jurídico Administrativo .......................................................................................................................... 3

2.1 Definição ................................................................................................................................................................... 3

2.2 Princípios e Regras ............................................................................................................................................... 4

2.3 Regime Jurídico Administrativo ...................................................................................................................... 5

2.4 Princípios de Direito Administrativo ............................................................................................................. 7

2.4.1 Princípio da Legalidade ...................................................................................................................................... 7

2.4.2 Princípio da Impessoalidade ............................................................................................................................ 9

2.4.3 Princípio da Moralidade .................................................................................................................................. 11

2.4.4 Princípio da Publicidade.................................................................................................................................. 11

2.4.5 Princípio da Eficiência ...................................................................................................................................... 12

2.4.6 Princípio do Contraditório e Ampla Defesa ........................................................................................... 14

2.4.7 Princípio da Intranscedência ......................................................................................................................... 15

2.4.8 Princípio da Autotutela .................................................................................................................................... 15

2.4.9 Princípio da Continuidade dos Serviços Públicos ................................................................................ 16

2.4.10 Princípio da Segurança Jurídica ................................................................................................................... 17

2.4.11 Princípio da Proteção à Confiança ............................................................................................................. 18

2.4.12 Princípio da Razoabilidade e Proporcionalidade ................................................................................. 18

2.5 Reflexos da LINDB sobre o Direito Administrativo ............................................................................. 19

QUADRO SINÓTICO ...................................................................................................................................................... 21

QUESTÕES COMENTADAS ........................................................................................................................................ 25

GABARITO ........................................................................................................................................................................... 34
1
LEGISLAÇÃO COMPILADA............................................................................................................................................ 38

JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................................................................. 40

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................................. 49

2
DIREITO ADMINISTRATIVO

Capítulo 2

2. Regime Jurídico Administrativo

2.1 Definição

Incialmente, cumpre esclarecer que existe o regime jurídico da Administração


Pública e o regime jurídico administrativo. Apesar de parecerem semelhantes, as expressões
guardam diferenças que precisam ser expostas.

A expressão regime jurídico da Administração Pública é utilizada para designar, em


sentido amplo, os regimes de direito público e de direito privado a que pode submeter-se a
Administração Pública. Já a expressão regime jurídico administrativo é utilizada para abarcar a
Administração Pública quando esta encontra-se em uma posição de superioridade na relação
com o particular.

Conceitua-se o regime jurídico administrativo como o conjunto de regras e


princípios aplicáveis aos órgãos e entidades que compõe a Administração Pública e à
atuação dos agentes administrativos em geral. Destaca-se, ainda, que o regime jurídico
administrativo confere à toda Administração Pública diversas prerrogativas, mas ao mesmo
tempo impõe limites à atuação do Poder Público. Ele busca, assim, garantir um equilíbrio
entre a liberdade do indivíduo e a autoridade da Administração.

3
Regime Jurídico
Administrativo

Prerrogativas Limitações

2.2 Princípios e Regras

Há uma diferença entre os princípios norteadores do Direito e as regras que


determinam condutas específicas de atuação nos casos concretos e individuais. Entender a
diferença entre os institutos é de fundamental relevância para se compreender o regime
jurídico administrativo.

Os princípios devem ser encarados como normas gerais coercitivas que orientam
a atuação do indivíduo, definindo valores a serem observados nas condutas por ele praticadas.
Ademais, possuem elevado grau de abstração e possuem variados graus de concretização.

Já as regras se caracterizam por disposições que definem a atuação do indivíduo


diante de determinada situação concreta e caracterizam-se por seu baixo grau de abstração.
A regra não pode ser cumprida em parte: ou é cumprida ou é descumprida.

Em razão dessa distinção, os conflitos entre os princípios e entre as regras têm


consequências diversas: o conflito entre regras resulta em antinomia jurídica própria, pois
gera uma situação em que há a necessidade de retirada de uma das regras do ordenamento
jurídico, haja vista a incompatibilidade entre ambas, desde que pertençam ao mesmo
ordenamento e tenham o mesmo âmbito de validade, eis que não se admite a coexistência
válida de duas regras jurídicas contraditórias.

Ressalte-se, ainda, que não se admite o conflito entre as regras e os princípios,


uma vez que estes servem como orientação geral para a formação daquelas.

4
Porém, em se tratando de conflito de princípios, é possível que o aplicador do
direito opte por escolher um diante do caso concreto. Esse tipo de conflito não resulta em
antinomia.

Os conflitos entre princípios são solucionados à luz do critério da ponderação de valores e


interesses no caso concreto, de forma a definir qual a melhor solução a ser adotada em cada
situação. Já os conflitos entre as regras devem ser resolvidos no plano da validade das
normas (antinomia jurídica), ou seja, se uma regra é válida, deve-se fazer o que ela exige,
excluindo qualquer outra que disponha em contrário.

2.3 Regime Jurídico Administrativo

A doutrina aponta que o regime jurídico administrativo tem como pilares dois
princípios: a supremacia do interesse público sobre o privado e a indisponibilidade do
interesse público.

SUPREMACIA
INDISPONIBILI
DO INTERESSE
DADE DO
PÚBLICO
INTERESSE
SOBRE O
PÚBLICO
PRIVADO

ADMINISTRA
ÇÃO PÚBLICA

5
O princípio da supremacia do interesse público sobre o privado1 indica que o
interesse público se sobrepõe ao particular. Caso haja colisão entre os interesses, o privado
deve ceder ao interesse público. Na teoria, a atuação do administrador não visa ao interesse
do indivíduo, mas do grupo social em sua totalidade e, se assim não ocorrer, a conduta estatal
sofrerá de desvio de finalidade, o que não está amparado pelo direito.

Esse princípio, fundamenta a existência das prerrogativas ou dos poderes especiais da


administração pública, dos quais decorre a denominada verticalidade nas relações
administração-particular.

Já o princípio da indisponibilidade do interesse público se constitui como uma


limitação à atuação estatal. Isso porque impõe ao administrador a necessidade de tomar as
providências cabíveis e necessárias ao atingimento do interesse público, não cabendo
transação a respeito, com vistas a impedir privilégios e arbitrariedades.

A indisponibilidade do interesse público significa que ao administrador não pertencem


os bens da administração, ou seja, ele não o é titular do interesse público - portanto, não tem
livre atuação, fazendo-o, em verdade, em nome de terceiros e em prol do interesse público.

Diante disso, constata-se que o Direito Administrativo se desenvolveu baseado em


duas ideias opostas: limitações e prerrogativas. Para assegurar-se a autoridade da
Administração Pública, necessária à consecução de seus fins, são-lhe outorgados prerrogativas
e privilégios que lhe permitem assegurar a supremacia do interesse público sobre o particular.

Ao mesmo tempo em que as prerrogativas colocam a Administração em posição


de supremacia perante o particular, sempre com o objetivo de atingir o benefício da
coletividade, as restrições a que está sujeita limitam a sua atividade a determinados fins e
princípios que, se não observados, implicam desvio de poder e consequente nulidade dos atos
da Administração.

1
Vide questão 10 ao final do capítulo.
6
A importância de tais princípios para a seara administrativa é tão destacada que
Celso Antônio Bandeira de Mello intitula os referidos princípios de “pedras de toque” do
Direito Administrativo.

2.4 Princípios de Direito Administrativo

Da supremacia do interesse público sobre o privado e da indisponibilidade do


interesse público, anteriormente referidos, decorrem todos os demais princípios que orientam
o Direito Administrativo.
No artigo 37, “caput”, da Constituição da República de 1988, estão expressos cinco
princípios, quais sejam: Legalidade, Impessoalidade, Moralidade, Publicidade, Eficiência.
Atenção, pois o denominado “LIMPE” é muito cobrado nas provas do seu concurso.

Além destes, alguns outros princípios decorrem expressamente da Carta Magna,


como a isonomia, o contraditório e a ampla defesa; além do que outros se encontram
implícitos nas normas constitucionais ou expressos em disposições infraconstitucionais.

Quem ainda não ouviu falar do famoso LIMPE? Trata-se de processo mnemônico para facilitar
o aprendizado dos princípios explícitos na CRFB/88 que regem a Administração Pública:
Legalidade, Impessoalidade, Moralidade, Publicidade e Eficiência.

2.4.1 Princípio da Legalidade

Esse princípio assegura que o Estado deve obediência ao ordenamento jurídico.


Trata-se de freio à atuação estatal arbitrária e irresponsável.
7
Significa que toda e qualquer atividade administrativa deve ser autorizada por
lei. Dessa forma, caso não haja previsão legal, está proibida a atuação do agente público e
qualquer conduta praticada ao arrepio do texto legal será considerada ilegítima.

O princípio da legalidade tem duas acepções. Para os particulares vige a autonomia


privada, não sendo exigida a previsão legal como requisito para atuação dos cidadãos, ou seja,
aos particulares, tudo que não está proibido, está juridicamente permitido. É o chamado
princípio da não contradição à lei. Já no âmbito público, conforme já mencionado, os
agentes públicos só podem atuar diante de autorização legal. É o chamado princípio da
subordinação à lei.

Faz-se necessário lembrar que a Legalidade não exclui a atuação discricionária do


agente público, tendo essa que ser levada em consideração, quando faz análise da
conveniência e da oportunidade em prol do interesse público. Como a Administração não
pode prever todos os casos onde atuará, deverá valer-se da discricionariedade para acender a
finalidade legal, devendo, todavia, a escolha se pautar em critérios que respeitem os princípios
constitucionais como a proporcionalidade e razoabilidade.

A prática de atos discricionários é completamente o oposto de atos arbitrários, os


quais representam um abuso, haja vista serem praticados fora dos limites da lei. Portanto, só é
legítima a atividade do administrador, se estiver condizente com o dispositivo legal.

Outrossim, não se confunde a legalidade com o princípio da Reserva Legal que


determina a aplicação de determinada espécie normativa a uma atuação definida no texto
constitucional. Assim sendo, algumas matérias devem ser tratadas por meio de lei
complementar, por expressa determinação da Constituição da República que não exige
somente o respeito à lei, mas sim à espécie normativa definida em seus termos.

8
Não obstante a exigência de lei ser a regra, em determinadas situações, o texto
constitucional excepcionaliza este princípio:

 Edição de medidas provisórias;


 Estado de sítio; e
 Estado de defesa.

Nesses casos, o Poder Executivo pode impor restrições aos direitos individuais a fim
de enfrentar questões excepcionais, urgentes e relevantes.

Também não se deve confundir a legalidade com a legitimidade e a juridicidade.


Enquanto a legalidade significa agir conforme o texto da lei, a legitimidade denota obedecer
não só a lei, mas também os demais princípios. Já a Juridicidade passa a exigir que a atuação
da Administração Pública além de baseada em lei esteja voltada para os anseios da
coletividade e sempre atendendo à moral.

2.4.2 Princípio da Impessoalidade

A impessoalidade serve para garantir que a atuação da administração pública vise


tão somente a satisfação do interesse público. Assim, o administrador não pode atuar
buscando atingir interesses próprios, tampouco pode atuar visando prejudicar alguém, ou seja,
para o Estado, é irrelevante conhecer quem será atingido pelo ato, pois sua atuação é
impessoal. O agente fica proibido de priorizar qualquer inclinação ou interesse seu, ou de
outrem.

Tal princípio deve ser analisado sob quatro perspectivas:

 Dever de isonomia2: estabelece que os atos administrativos devem ser


praticados ao interesse público, impedindo que a Administração se beneficie
ou prejudique pessoa específica;

2
Vide questão 05 ao final do capítulo.
9
 Dever de conformidade aos interesses públicos: se confunde com o
princípio da finalidade, o qual impõe que o fim a ser buscado pelo
administrador deve ser aquele prescrito pela lei;
 Vedação à promoção pessoal do agente: as realizações governamentais não
devem ser atribuídas ao agente ou à autoridade que os pratica, estes são
apenas meio de manifestação da vontade estatal; e
 Imputabilidade: a doutrina moderna acrescenta ainda ao entendimento
tradicional uma nova perspectiva do princípio da impessoalidade. Com efeito,
a impessoalidade deve ser enxergada também sob a ótica do agente. Nesse
sentido, deve-se considerar que ato não deve ser atribuído à pessoa do
servidor público e sim à Administração, sendo o agente mero executor.
Corresponde a teoria do órgão ou teoria da imputação volitiva.

É importante destacar que, para prestigiar a impessoalidade, a indisponibilidade do


interesse público e a moralidade, a nomeação de parentes ou cônjuge da autoridade
pública é condita que vai de encontro a todos estes princípios e não encontra qualquer
respaldo no ordenamento constitucional vigente.

Trata-se de garantia, portanto, da vedação do nepotismo. A matéria já era objeto


de regulamentação legal na lei 8112/90, em seu art. 117, VIII. Porém, a matéria continuou
sendo alvo de discussão doutrinária e a vedação ao nepotismo foi inserida em resoluções do
Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério Público, as quais vedam a
prática nas carreiras sujeitas a sua regulamentação.

Apenas em 2008, o Supremo Tribunal Federal expediu a Súmula Vinculante nº 13


que dispõe que "A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou
por afinidade, até investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício
de cargo em comissão ou de confiança, ou, ainda, de função gratificada na Administração
Pública direta e indireta, em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas, viola a Constituição
Federal".
10
O Supremo Tribunal Federal já se manifestou no sentido da inaplicabilidade da vedação ao
nepotismo quando se tratar de nomeação de agentes para o exercício de cargos políticos,
como é o caso de secretário ou de ministro de estado, situação na qual a nomeação do
munus público a ele transferido por meio da nomeação.

2.4.3 Princípio da Moralidade3

Traduz a ideia de que nem tudo que é legal é honesto, impondo a necessidade de
atuação ética dos agentes públicos.

Além de agir dentro da legalidade, o administrador público tem que agir com
honestidade, com lealdade, de acordo com a ética e a moral. Reitera-se que a moralidade é
um requisito de validade do ato administrativo, o qual, se eivado de imoralidade, poderá ser
invalidado tanto pela própria Administração, quanto pelo Poder Judiciário.

Acrescenta-se, ainda, que quanto à necessidade de preservar os padrões de


moralidade no serviço público, destaca-se a vedação da prática do nepotismo, sem dúvida
uma das revoltantes formas de improbidade na Administração.

2.4.4 Princípio da Publicidade

Exprime a ideia de que a atuação da administração pública deve alcançar o máximo


de transparência possível. Via de regra, todos os atos administrativos devem ser públicos.

3
Vide questões 01 e 07 ao final do capítulo.
11
Porém, esse princípio não é absoluto e poderá ser restringido nas hipóteses de
segurança da sociedade e do Estado e quando a intimidade ou o interesse social o exigirem.
Mas atenção, somente a lei – em sentido formal – pode instituir regras de sigilo desse
princípio.

Ressalta-se que a publicidade é uma forma controle da Administração pelos


cidadãos. A sociedade só poderá controlar os atos administrativos se estes forem publicados.

Ademais, a doutrina também analisa a publicidade como requisito de eficácia – e


não de formação - dos atos administrativos, definindo que mesmo depois de expedidos
regularmente, estas condutas não produzem efeitos em relação à sociedade antes de
garantida sua publicidade.

A Publicação é diferente da Publicidade. A publicação se refere, em regra, à divulgação em


órgãos oficiais e imprensa escrita, sendo apenas uma das formas possíveis de dar
publicidade aos atos administrativos.

4
2.4.5 Princípio da Eficiência

Esse princípio ficou consagrado no texto constitucional por meio da EC 19, de 1988.
A referida emenda constitucional realizou a famosa Reforma Administrativa, que tentou fazer
com que o Estado abandonasse sua atuação calcada na burocracia, objetivando uma atuação
com mais resultados, eficiência e eficácia.

4
Vide questão 09 ao final do capítulo.
12
O princípio da eficiência exige que a atividade administrativa seja exercida com
maior produtividade e redução dos desperdícios de dinheiro público. Também pode ser
chamado de princípio da qualidade dos servidores públicos.

Na Constituição da República de 1988 encontram-se vários exemplos de


desdobramento desse princípio, como por exemplo:

 Exigência de avaliação especial de desempenho;


 Exigência de participação em cursos de aperfeiçoamento;
 Possibilidade de ampliar a autonomia gerencial, orçamentária e financeira
mediante contrato de gestão

Esse princípio não alcança apenas o modo de atuação dos agentes públicos, a
Administração também deve observá-lo em relação ao modo de se organizar, se estruturar e
disciplinar os seus agentes.

Também é importante destacar que a eficiência se distingue da eficácia e da


efetividade. Enquanto a eficiência é a relação custo/benefício, a eficácia diz respeito ao
alcance da meta prevista e a efetividade compreende os resultados alcançados.

EFICIÊNCIA
EFICÁCIA

EFETIVIDADE

13
Com isso, terminamos o estudo dos princípios administrativos previstos
expressamente no artigo 37 do texto constitucional e passaremos ao estudo de outros
princípios também aplicáveis à seara administrativa. Alguns são apenas previstos
implicitamente no texto constitucional, mas são considerados de igual importância para a
atuação dos agentes públicos.

2.4.6 Princípio do Contraditório e Ampla Defesa

Tratam-se de princípios expressos no texto constitucional de 1988, em seu artigo


5°, LV, e são decorrência lógica do princípio do devido processo legal.

Apesar de serem princípios bem amplos, o texto constitucional determina


explicitamente a aplicação destes em sede de processos administrativos e o desrespeito a
essas garantias enseja a nulidade do processo e de todos os atos administrativos dele
decorrentes.

O princípio do contraditório é, em síntese, o direito conferido ao particular de


saber o que acontece no processo administrativo ou judicial de seu interesse. Já a ampla
defesa é o direito de se manifestar na relação processual.

Sendo assim, não se afigura suficiente dar ao particular apenas o conhecimento do


feito, é preciso garantir a sua real participação.

No contexto administrativo, a ampla defesa merece destaque em alguns aspectos.


Vejamos:

 Defesa Técnica: no que tange a essa garantia, a súmula 343 do Superior


Tribunal de Justiça define que é indispensável a presença de advogado em
todas as fases do processo administrativo disciplinar. Porém, a súmula
vinculante nº 5 do STF determina que “a falta de defesa técnica por
advogado no processo administrativo disciplinar não ofende a Constituição. ”
Assim, afasta-se a aplicabilidade da súmula 343 do Superior Tribunal de

14
Justiça, restando aos particulares acusados em processos administrativos
disciplinares a faculdade de se fazerem representar por advogado;
 Defesa Prévia: via de regra, é necessário que o particular possa se manifestar
antes de ser proferida decisão administrativa. Todavia, em situações
emergenciais, nas quais o interesse público esteja em perigo, admite-se que a
atuação administrativa anteceda a manifestação do particular. Tais situações
são denominadas de contraditório diferido e admitidas em decorrência da
supremacia do interesse público sobre o privado.

2.4.7 Princípio da Intranscedência

O princípio da intranscendência foi consagrado pelo STF em suas jurisprudências e


inibe a aplicação de sanções às entidades federativas por ato de gestão anterior, desde que
se demonstre que o novo administrador está tomando todas as providências necessárias a
sanar os prejuízos.

2.4.8 Princípio da Autotutela5

Permite que a administração reveja seus atos, seja para anulá-los quando eivados
de vício ou para revogá-los por motivo de conveniência e oportunidade.

Não se trata de uma faculdade, é em verdade um dever, pois que não se pode
admitir que, diante de situações irregulares, a Administração permaneça inerte. Esse poder da
Administração está consagrado em duas súmulas do STF: Súmulas 346 e 473.

Porém, tal princípio não é absoluto, eis que em alguns casos deve-se prestigiar a
segurança jurídica e a boa-fé. Por isso mesmo, a Lei nº 9.784/99, que regula o processo
administrativo federal, em seu artigo 54, indicou que o direito da Administração de anular atos
administrativos que resultam em efeitos favoráveis ao destinatário tem prazo decadencial de
cinco anos, salvo comprovada má-fé.

5
Vide questões 02, 03 e 04 ao final do capítulo.
15
O princípio da autotutela não se confunde com a tutela administrativa. Autotutela é o
controle que a Administração, seja direta, seja indireta, exerce sobre seus próprios atos. Tutela
é o controle finalístico que a administração direta exerce sobre a administração indireta, eis
que não há hierarquia entre elas.

2.4.9 Princípio da Continuidade dos Serviços Públicos

Baseia-se na ideia de que a prestação da atividade administrativa deve ser


ininterrupta, eis que muitas necessidades da sociedade são inadiáveis.

Tal princípio está expresso no art. 6°, § 1°, da Lei 8987/95, como necessário para
que o serviço público seja considerado adequado. Vale ressaltar que o princípio da
Continuidade está intimamente ligado ao princípio da Eficiência, haja vista tratar-se de
garantia de busca por resultados positivos.

Deste princípio decorrem questionamentos relevantes para provas de concurso. São


eles:

 É possível que o servidor público entre em greve? O questionamento surge a partir


da ideia de que a greve do servidor poderia interromper a execução dos serviços
públicos contrariando o princípio da continuidade. Inicialmente, cumpre apontar que os
servidores militares não têm direito de greve, por expressa vedação constitucional. Já
os servidores civis têm direito à greve. Porém, ao tratar dos servidores públicos civis,
em seu art. 37, VII, a CRFB/88 definiu o direito de greve a estes agentes nos termos e

16
condições estabelecidos em lei específica. Sobre o tema, o Supremo Tribunal Federal já
pacificou o entendimento de que o direito de greve é norma de eficácia limitada e
diante da ausência de lei específica a tratar da matéria será utilizada a lei geral de greve
(Lei 7.783/89);
 É possível interromper a prestação de um serviço por inadimplemento do usuário? A
Lei 8.987/95, em seu art. 6, §3°, estabelece que não se caracteriza como
descontinuidade do serviço a sua interrupção em situação de emergência ou após
prévio aviso, quando for motivada por razões de ordem técnica ou de segurança
das instalações ou por inadimplemento do usuário, considerado o interesse da
coletividade. Apesar de a interrupção por inadimplemento do usuário ser matéria
divergente na doutrina nacional, é majoritário o posicionamento de que será ilegal a
paralisação de determinado serviço público por inadimplemento do usuário, caso
enseje a interrupção de um serviço essencial à coletividade.
 O instituto da exceção de contrato não cumprido pode ser aplicada em contratos
administrativos? Exceptio rum adimpleti contractus é o direito de suspender a
execução do contrato em face do inadimplemento da outra parte. Conforme disposição
do art. 78, XV, da Lei 8.666/93, o particular tem direito de invocar a exceção do contrato
não cumprido, desde que a administração seja inadimplente por mais de 90 (noventa)
dias em relação aos seus pagamentos.

2.4.10 Princípio da Segurança Jurídica

Trata-se de princípio considerado um dos pilares do Estado Democrático de


Direito: ele visa inibir comportamentos contraditórios por parte da administração. O referido
princípio está consagrado no art. 2º, caput, da Lei nº 9.784/99, a qual regula o processo
administrativo.

A grosso modo, pode-se afirmar que, se houver mudança de interpretação por


parte da administração, das normas legais, tais mudanças não podem ser aplicadas
retroativamente, pois isso afrontaria o princípio da segurança jurídica. Por exemplo, se o ente
público chegar à conclusão de que determinado servidor público não tem direito a certa

17
quantia que já vinha recebendo, de boa-fé, a algum tempo, a Administração não pode exigir
que o servidor devolva esse valor.

Ademais, conforme já mencionado, existe um prazo decadencial a ser respeitado


pela Administração para que esta possa anular seus atos que geram efeitos favoráveis aos
seus destinatários: trata-se do prazo decadencial de 5 anos, previsto no art. 54, da Lei nº
9.784/99.

2.4.11 Princípio da Proteção à Confiança

O princípio da proteção à confiança tem sido entendido como um desdobramento


do princípio da segurança jurídica, correspondendo ao aspecto subjetivo da segurança jurídica.

Em linhas gerais, defende-se por meio desse princípio que atos considerados
ilegais possam ser mantidos em nome da uma legítima expectativa criada por parte do
administrado. O referido princípio leva em conta a boa-fé do cidadão, que acredita e espera
que os atos praticados pelo Poder Público sejam lícitos e respeitados pela própria
administração.

2.4.12 Princípio da Razoabilidade e Proporcionalidade

A razoabilidade se destina a aferir a compatibilidade entre os meios empregados e


os fins visados. Já a proporcionalidade se destina a conter o excesso de poder, espera-se, com
isso, uma atuação proporcional do agente público, ou seja, um equilíbrio entre os motivos que
deram ensejo à prática do ato e a consequência jurídica da conduta.
Para que a conduta estatal observe o princípio da proporcionalidade deve
apresentar três fundamentos:

 Adequação: o meio empregado na atuação deve ser compatível com a


finalidade;
 Necessidade: a conduta deve ser necessária, não havendo outro meio que
cause menos prejuízo para alcançar a finalidade;

18
 Proporcionalidade em sentido estrito: as vantagens a serem obtidas devem
superar as desvantagens.

2.5 Reflexos da LINDB sobre o Direito Administrativo

A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, também conhecida como


LINDB (Decreto lei nº 4.657/42), foi alterada pela Lei nº 13.655/18. Na oportunidade, inseriu-se
dispositivos que muito interessam ao direito administrativo.

As alterações trouxeram algumas inovações, mas na maior parte serviram para


reforçar exigência de determinados princípios já previstos no ordenamento jurídico pátrio,
em especial os da:

 Segurança Jurídica;
 Motivação;
 Proporcionalidade;
 Interesse Público.

A preocupação com a segurança jurídica retratada na LINDB está nos artigos 23 e


24. Tal princípio é protegido aspectos: objetivo - diz respeito à estabilidade das relações
jurídicas- e subjetivo - que protege a confiança legítima dos administrados.

O princípio da motivação é reforçado pelos artigos 20, 21 de 22 a LINDB. Os dois


primeiros artigos indicam a necessidade de as decisões nas esferas administrativas,
controladoras e judiciais, mencionarem, expressamente, as consequências jurídicas e
administrativas dela decorrentes. O artigo 22 exige a motivação adequada que demonstre que,
na interpretação das normas sobre gestão pública, foram consideradas as dificuldades reais do
gestor e as exigências de políticas públicas a seu cargo, sem prejuízo dos direitos dos
administrados.

19
O princípio da proporcionalidade é contemplado em vários artigos, no sentido de
que seja demonstrada a necessidade e a adequação da medida imposta ou da invalidação
decretada, inclusive em função de possíveis alternativas e também em relação à aplicação de
sanções.

No art. 20, § único da LINBD há a combinação dos princípios da motivação e da adequação,


pois se existir mais se uma alternativa aplicável ao caso concreto, deve-se, motivadamente,
demonstrar que a medida adotada era necessária e, além disso, a mais adequada.

Merece, também, destaque a norma sobre a responsabilização dos agentes


públicos pelas decisões e/ou opiniões técnicas que emitirem. Segundo o artigo 28 da LINDB o
agente só poderá ser pessoalmente responsabilizado se emitir a decisão com dolo ou erro
grosseiro.

A alteração legislativa favoreceu também um ponto importante: a participação do


particular no controle social da Administração Pública. O artigo 29 da LINDB estabelece que
a edição de atos normativos, salvo os de mera organização interna, poderá ser precedida de
consulta pública para manifestação de interessados, preferencialmente por meio eletrônico, a
qual será considerada na decisão.

20
QUADRO SINÓTICO

REGIME JURÍDICO ADMINISTRATIVO

É o conjunto de regras e princípios aplicáveis à atuação dos agentes


públicos. Confere prerrogativas e impõe limites à atuação do Poder
Definição
Público. Tem como pilares dois princípios: a supremacia do interesse
público sobre o privado e a indisponibilidade do interesse público.

Supremacia do
Indica que o interesse público se sobrepõe ao particular.
Interesse Público

Indisponibilidade
O administrador não é o titular dos bem públicos, por isso deve sempre
do Interesse
atuar buscar o interesse coletivo.
Público

PRINCÍPIOS E REGRAS

São normas gerais coercitivas que orientam a atuação do indivíduo e


Princípios
possuem elevado grau de abstração.
São disposições que definem a atuação do indivíduo diante de
determinada situação concreta e caracterizam-se por seu baixo grau de
Regras
abstração. A regra não pode ser cumprida em parte: ou é cumprida ou é
descumprida.
Conflito entre São solucionados pela ponderação de valores de forma a definir qual a
Princípios melhor solução a ser adotada no caso concreto.

Devem ser resolvidos no plano da validade das normas, ou seja, se uma


Conflito entre
regra é válida, deve-se fazer o que ela exige e excluir do ordenamento a
Regras
que disponha em contrário.

21
PRINCÍPIOS DO DIREITO ADMINISTRATIVO

Da supremacia do interesse público sobre o privado e da indisponibilidade do interesse


público, anteriormente referidos, decorrem todos os demais princípios que orientam o Direito
Administrativo. No artigo 37, “caput”, da CRFB/88, estão expressos cinco princípios que influem
diretamente na atuação da Administração Pública. São eles: Legalidade, Impessoalidade,
Moralidade, Publicidade, Eficiência.

Toda atividade administrativa deve ser autorizada por lei. Dessa forma,
caso não haja previsão legal, está proibida a atuação do agente público
Princípio da
Legalidade Apesar da exigência de lei ser a regra, em determinadas situações, há
exceções: (i) edição de medidas provisórias; (ii) estado de sítio; e (iii)
estado de defesa.

A impessoalidade serve para garantir que a atuação da administração


pública vise tão somente a satisfação do interesse público.

Deve ser analisada sob quatro perspectivas:


Dever de isonomia: impede que a Administração se beneficie ou
Princípio da prejudique pessoa específica;
Impessoalidade Dever de conformidade aos interesses públicos: se confunde com o
princípio da finalidade;
Vedação à promoção pessoal do agente: as realizações governamentais
não devem ser atribuídas ao agente ou à autoridade que os pratica;
Imputabilidade: o ato não deve ser atribuído à pessoa do servidor
público e sim à Administração, sendo o agente mero executor.
Princípio da Além de agir dentro da legalidade, o administrador público tem que agir
Moralidade com honestidade, com lealdade, de acordo com a ética e a moral.

Exprime a ideia de que a atuação da administração pública deve alcançar


Princípio da o máximo de transparência possível.
Publicidade
Não é absoluto, ou seja, pode ser restringido nas hipóteses de
segurança da sociedade e do Estado e quando a intimidade ou o interesse

22
social o exigirem.

PUBLICAÇÃO é diferente de PUBLICIDADE: a publicação, em regra, se


refere à divulgação em órgãos oficiais e imprensa escrita, sendo assim,
apenas uma das formas possíveis de dar publicidade aos atos
administrativos.
Princípio da Exige que a atividade administrativa seja exercida com maior
Eficiência produtividade e redução dos gastos públicos.

Princípio do O princípio do contraditório é o direito conferido ao particular de saber


Contraditório e da o que acontece no processo administrativo ou judicial de seu interesse.
Ampla Defesa Já a ampla defesa é o direito de se manifestar na relação processual.

Inibe a punição do novo gestor por atos referentes à gestão anterior,


Princípio da
desde que se demonstre que o novo administrador está tomando
Intranscendência
todas as providências com vistas a sanar os prejuízos.

Permite que a Administração reveja seus atos, seja para anulá-los quando
Princípio da
eivados de vício ou para revogá-los por motivo de conveniência e
Autotutela
oportunidade.

É a exigência de que a atividade do Estado seja contínua, não podendo


parar a prestação dos serviços, como é o exemplo dos serviços de
fornecimento de água e energia elétrica à população em geral.

Questionamentos decorrentes do princípio da continuidade:

Princípio da Greve dos servidores: os servidores militares não têm direito de greve,
por expressa vedação constitucional, mas servidores civis têm direito à
Continuidade dos
greve.
Serviços Públicos
Interrupção da prestação de um serviço por inadimplemento do
usuário: não se caracteriza como descontinuidade do serviço a sua
interrupção em situação de emergência ou após prévio aviso, quando for
motivada por razões de ordem técnica ou de segurança das instalações ou
por inadimplemento do usuário, considerado o interesse da coletividade.
A doutrina é unanime ao considerar que é ilegal a paralisação de

23
determinado serviço público por inadimplemento do usuário, caso
enseje a interrupção de um serviço essencial à coletividade.
Exceção de contrato não cumprido nos contratos administrativos: o
particular tem direito de invocar a exceção do contrato não cumprido,
desde que a administração seja inadimplente por mais de 90 (noventa)
dias em relação aos seus pagamentos.

Princípio da
Visa coibir que mudanças de interpretações por parte da administração,
Segurança
sejam aplicadas retroativamente.
Jurídica

Princípio da
Defende-se que os atos considerados ilegais possam ser mantidos em
Proteção à
nome da uma legítima expectativa criada pelo administrado.
Confiança

Princípio da A razoabilidade se destina a aferir a compatibilidade entre os meios


Razoabilidade e empregados e os fins visados. Já a proporcionalidade se destina a conter
Proporcionalidade o excesso de poder.

REFLEXOS DA LINDB SOBRE O DIREITO ADMINISTRATIVO

A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, também conhecida como LINDB foi
alterada pela Lei nº 13.655/18. As alterações trouxeram algumas inovações, mas na maior parte
serviram para reforçar exigência de determinados princípios já previstos no ordenamento
jurídico pátrio, em especial os da:
• Segurança Jurídica;
• Motivação;
• Proporcionalidade;
• Interesse Público.

24
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

(Instituto AOCP – 2019 – PC-ES - Investigador) Tanto os agentes públicos quanto a


Administração Pública devem agir conforme os preceitos éticos, já que tal violação implicará
em uma transgressão do próprio Direito, o que caracterizará um ato ilícito de modo a gerar a
conduta viciada em uma conduta invalidada. O enunciado refere-se ao Princípio da

A) Legalidade

B) Impessoalidade

C) Moralidade

D) Supremacia do interesse público

E) Eficiência

Comentário:

Gabarito: Letra “C”.

O enunciado traz exatamente o conceito do princípio da moralidade administrativa,


que exige a atuação do agente público conforme os padrões éticos de probidade, decoro e
boa-fé.

25
Questão 2

(Instituto AOCP – 2019 – PC-ES - Investigador) O princípio pelo qual a Administração


Pública exerce controle sobre seus próprios atos, tendo a possibilidade de anular os ilegais e
de revogar os inoportunos, denomina-se

A) Princípio da legalidade

B) Princípio da Autotutela

C) Princípio da Motivação dos Atos Administrativos

D) Princípio da Continuidade Administrativa

E) Princípio da Moralidade Administrativa

Comentário:

Gabarito: Letra “B”.

O princípio descrito no enunciado é o princípio da Autotutela, o qual dispõe a


Administração Pública de corrigir os próprios atos (Súmula 473 do STF).

26
Questão 3

(CESPE – 2018 – PF – Agente de Polícia) A administração pública, além de estar sujeita ao

controle dos Poderes Legislativo e Judiciário, exerce controle sobre seus próprios atos. Tendo
como referência inicial essas informações, julgue o item a seguir, acerca do controle da
administração pública.

O poder de autotutela tem fundamento, preponderantemente, nos princípios da legalidade e


da preponderância do interesse público e pode ser exercido de ofício quando a autoridade
competente verificar ilegalidade em ato da própria administração.

( ) Certo

( ) Errado

Comentário:

Gabarito: Certo.

Vejamos o conteúdo do artigo 53 da Lei 9.874/99:


Art. 53. A Administração deve anular seus próprios atos, quando eivados de vício de
legalidade, e pode revogá-los por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados
os direitos adquiridos.

É exatamente nesse sentido também a súmula 473 do STF.

27
Questão 4

(CESPE – 2018 – PF – Escrivão de Polícia) Um servidor público federal determinou a


nomeação de seu irmão para ocupar cargo de confiança no órgão público onde trabalha.
Questionado por outros servidores, o departamento jurídico do órgão emitiu parecer
indicando que o ato de nomeação é ilegal.

Considerando essa situação hipotética, julgue o item a seguir.

O princípio da autotutela permite que o Poder Judiciário intervenha para apreciar atos
administrativos que sejam supostamente eivados de ilegalidades.

( ) Certo

( ) Errado.

Comentário:

Gabarito: Errado.

Na verdade, o princípio da autotutela é aquele que dispõe que a Administração


Pública poderá rever os seus próprios atos. Ele diz respeito à “fiscalização” interna dos atos
pela própria Administração, e não externa pelo Judiciário.

28
Questão 5

(VUNESP – 2018 – PC-SP – Escrivão de Polícia) A razoável duração do processo e o emprego


de meios que assegurem a celeridade na sua tramitação são assegurados, a todos, no âmbito
administrativo e revelam direito fundamental que tem por conteúdo os princípios da

A) Moralidade e reserva legal

B) Nova gestão pública e razoabilidade

C) Isonomia e eficiência

D) Legalidade e publicidade

E) Impessoalidade e indisponibilidade do interesse público

Comentário:

Gabarito: Letra “C”.

Atentemo-nos a duas passagens muito importantes deste enunciado:

“A razoável duração do processo (...)” e “(...) são assegurados, a todos (...).

Portanto, temos que se fala em eficiência (razoável duração do processo) e isonomia


(para todos).

Assim, a letra “C” é a correta.

29
Questão 6

(VUNESP – 2018 – PC-SP – Investigador de Polícia) Lei estadual que vede a realização de
processo seletivo para o recrutamento de estagiários pelos órgãos e pelas entidades do poder
público estadual fere o princípio da

A) Eficiência
B) Legalidade
C) Impessoalidade
D) Segurança jurídica
E) Continuidade do serviço público.

Comentário:

Gabarito: Letra “C”.

O processo seletivo para recrutamento de estagiários é utilizado com o fim de


garantir a isonomia no certame, evitando nomeações pessoais.

Assim, lei estadual que vede a realização de processo seletivo para o recrutamento
fere o princípio da impessoalidade, que obriga a Administração a tratar todos sem
discriminações.

30
Questão 7

(NUCEPE – 2018 – PC- PI – Agente de Polícia Civil) Marcos, prefeito de uma cidade do
Estado do Piauí, no mês anterior ao encerramento do seu mandato, congela o Imposto Predial
e Territorial Urbano-IPTU. Segundo foi repassado pela assessoria de imprensa, o objetivo do
congelamento foi o grande interesse social. Entretanto, todos sabem que o referido
congelamento foi para inviabilizar a nova administração, e assim reduzir as receitas. Diante
desta situação, pode-se dizer que Marcos feriu, precipuamente, o princípio administrativo:

A) Da legalidade
B) Da publicidade
C) Da eficiência
D) Da moralidade
E) Da continuidade.

Comentário:

Gabarito: Letra “D”.


Uma vez que o objetivo do congelamento do IPTU não era, de fato, interesse social,
mas um interesse em cima do qual o prefeito não poderia se debruçar por ser totalmente
imoral, houve desvio da finalidade pública e, assim, ferido o princípio da moralidade.

31
Questão 8

( VUNESP – 2018 – PC-BA – Investigador de Polícia) Um Estado que tributasse


desmesuradamente os administrados enriqueceria o Erário, com maior volume de recursos, o
que, por outro lado, tornaria a sociedade mais pobre. Tal conduta de exação excessiva viola o
princípio pelo qual deve prevalecer
A) O interesse público secundário
B) O interesse público primário
C) A supremacia do interesse público
D) O interesse público como direito subjetivo
E) O direito subjetivo individual.

Comentário:

Gabarito: Letra “B”.

Essa conduta violaria o interesse público primário. Ele tem por foco o efetivo
atendimento das atividades coletivas, o interesse do próprio conjunto social. É a dimensão
pública dos interesses individuais. Assim, a tributação excessiva do Estado viola o princípio
pelo qual deve prevalecer o interesse público primário.

Questão 9

(CESPE – 2018 – PC-MA – Escrivão de Polícia) A conduta do agente público que busca o
melhor desempenho possível, com a finalidade de obter o melhor resultado, atende ao
princípio da

A) Eficiência

B) Legalidade

C) Impessoalidade

32
D) Moralidade

E) Publicidade.

Comentário:
Gabarito: Letra “A”.
O princípio da eficiência dispõe que o administrador público tem o dever
constitucional de fazer uma boa gestão, uma boa administração. Ademais, ela deve ser feita
com a maior eficácia possível, motivo pelo qual o enunciado corresponde à questão “A”.

Questão 10

(CESPE – 2012 – PC-AL – Agente de Polícia) A supremacia do interesse público sobre o


privado e a indisponibilidade do interesse público se constituem em supraprincípios, que
refletem a dualidade existente no exercício da função administrativa.

( ) Certo

( ) Errado

Comentário:

Gabarito: Certo

Essa afirmativa se fundamenta no fato de que os princípios mencionados são


fundamentais no âmbito do estudo do Direito Administrativo. Eles são os pilares de
sustentação do regime jurídico-administrativo. Isso porque de um lado a Administração
Pública possui uma série de prerrogativas conferidas pela Constituição, e de outro há uma
série de restrições que derivam do princípio da indisponibilidade do interesse público: são os
deveres administrativos. Portanto, a assertiva está correta.

33
GABARITO

Questão 1 - C

Questão 2 - B

Questão 3 - Certo

Questão 4 - Errado

Questão 5 - C

Questão 6 - C

Questão 7 - D

Questão 8 - B

Questão 9 - A

Questão 10 - Certo

34
QUESTÃO DESAFIO

Caracteriza improbidade administrativa e violação à Súmula


Vinculante 13 a nomeação, pelo Governador, de sua esposa como

chefe do gabinete? Aponte a regra e possíveis exceções.

Máximo de 5 linhas

35
GABARITO DA QUESTÃO DESAFIO

Não caracteriza improbidade, pois os cargos mencionados são todos políticos e, portanto,
de confiança. Também não viola a Súmula Vinculante 13, desde que haja razoabilidade
entre qualificação técnica exigida para o cargo, bem como idoneidade do parente
nomeado.

Você deve ter abordado necessariamente os seguintes itens em sua resposta:

 cargos políticos afastam SV 13 e improbidade

Segundo leciona Matheus Carvalho, o Supremo Tribunal Federal já se manifestou no sentido


da inaplicabilidade da vedação ao nepotismo quando se tratar de nomeação de agentes para
o exercício de cargos políticos, como é o caso de secretário ou de ministro de estado,
situação na qual a nomeação do parente não encontra óbice, desde que o sujeito tenha
condições técnicas de exercer o munus público a ele transferido. (Carvalho, Matheus. Manual
de direlto administrativo/ Matheus Carvalho - 4. ed. rev. ampl. e atual. - Salvador: JusPODIVM,
2017. PG 822.)

Além disso, o professor Daniel Amorim afirma: "Registre-se que o STJ já decidiu que a
contratação de parentes, sem concurso público, para cargos em comissão, realizada em data
anterior à lei ou ao ato administrativo do respectivo ente federado que proibisse tal conduta,
bem como antes da vigência da Súmula Vinculante 13 do STF, não configura ato de
improbidade, pois ausente o dolo ou a má-fé do agente político" (Improbidade administrativa:
direito material e processual – 8. ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2020. pg 141).

 precisa ter qualificação técnica e idoneidade

Em regra, a proibição da SV 13 não se aplica para cargos públicos de natureza política, como,
por exemplo, Secretário Municipal. Assim, a jurisprudência do STF, em regra, tem
excepcionado a regra sumulada e garantido a permanência de parentes de autoridades
públicas em cargos políticos, sob o fundamento de que tal prática não configura
nepotismo. Exceção: poderá ficar caracterizado o nepotismo mesmo em se tratando de cargo
36
político caso fique demonstrada a inequívoca falta de razoabilidade na nomeação por
manifesta ausência de qualificação técnica ou inidoneidade moral do nomeado. (STF. 1ª
Turma. Rcl 28024 AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 29/05/2018)

Vale ressaltar que a simples dissonância entre a área de formação e a área fim do cargo não é
suficiente, por si só, para se afirmar a inequívoca ausência de razoabilidade da nomeação. Em
outras palavras, o simples fato de a pessoa nomeada não ser daquela área não é motivo, por
si só, para se considerar que tenha havido nepotismo.

(CAVALCANTE, Márcio André Lopes. A nomeação da esposa do prefeito como Secretária


Municipal não configura, por si só, nepotismo e ato de improbidade administrativa. Buscador
Dizer o Direito, Manaus. Disponível
em <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/3cba81c5c6cac4ce7715
7631fc2dc277>. Acesso em: 29/06/2020.)

37
LEGISLAÇÃO COMPILADA

Princípios administrativos:

 CRFBF/88: art. 37, caput.

Vedação ao Nepotismo:
 STF: Súmula Vinculante nº 13
 Lei 8.112/90: art. 177, VIII

Princípio da Eficiência:

 CRFBF/88: art. 41, §4º; art. 93, IV; art. 37, §8º

Princípio do Contraditório e da Ampla Defesa

 CRFBF/88: art. 5º, LV


 STF: Súmula Vinculante nº 3, Súmula Vinculante nº 5

Princípio da Autotutela

 STF: Súmulas 346 e 473


 Lei 9.784/99: art. 54

38
Princípio da Continuação dos serviços Públicos:

 CRFBF/88: art. 37, VII


 Lei 8.987/95: art. 6,§3º
 Lei 8.666/93: art. 78, XV

Princípio da Segurança Jurídica:

 Lei 9.784/99: art. 2 e art. 54

LINDB:

 LINDB: art. 20 art. 21, art. 22, art.28 e art. 29

39
JURISPRUDÊNCIA

Vedação ao Nepotismo:

 EMENTA: DIREITO ADMINISTRATIVO. AGRAVO INTERNO EM RECURSO


EXTRAORDINÁRIO. SERVIDOR PÚBLICO. NEPOTISMO. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA
VINCULANTE 13.
1. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE 579.951-RG, firmou o
entendimento no sentido de que a proibição ao nepotismo decorre diretamente dos
princípios contidos no art. 37, caput, da Constituição, independentemente da edição
de lei formal a respeito. 2. O caso atrai a incidência da Súmula Vinculante 13. 3.
Agravo interno a que se nega provimento. (STF - Acórdão Re 601746 Agr / Am -
Amazonas, Relator(a): Min. Roberto Barroso, data de julgamento: 26/10/2018, data de
publicação: 12/11/2018, 1ª Turma)

 EMENTA: DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL.


RECLAMAÇÃO. NEPOTISMO. NOMEAÇÃO DE CÔNJUGE PARA CARGO POLÍTICO.
ALEGADA CONTRARIEDADE À SÚMULA VINCULANTE 13. INOCORRÊNCIA.
AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. (STF - Acórdão Rcl 28681
Agr / Go - Goiás, Relator(a): Min. Alexandre de Moraes, data de julgamento:
18/12/2017, data de publicação: 07/02/2018, 1ª Turma)

 EMENTA: RECLAMAÇÃO – NEPOTISMO – ALEGADA TRANSGRESSÃO AO


ENUNCIADO CONSTANTE DA SÚMULA VINCULANTE Nº 13/STF – SERVIDORES
MUNICIPAIS QUE, À ÉPOCA DO AJUIZAMENTO DA PRESENTE AÇÃO
RECLAMATÓRIA, JÁ NÃO OCUPAVAM MAIS OS CARGOS PÚBLICOS PARA OS QUAIS

40
FORAM NOMEADOS EM DESACORDO COM O PARADIGMA DE CONFRONTO ORA
INVOCADO – AUSÊNCIA DE INTERESSE DE AGIR – EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM
RESOLUÇÃO DE MÉRITO – INTERPOSIÇÃO DE RECURSO DE AGRAVO – PARECER DA
PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA PELO NÃO PROVIMENTO DO AGRAVO –
RECURSO DE AGRAVO IMPROVIDO. (STF - Acórdão Rcl 17219 Agr / Sc - Santa
Catarina, Relator(a): Min. Celso de Mello, data de julgamento: 21/11/2017, data de
publicação: 05/12/2017, 2ª Turma)

 Ementa: DIREITO ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL EM RECLAMAÇÃO.


NEPOTISMO. SÚMULA VINCULANTE 13.
1. A análise da ocorrência ou não de nepotismo é objetiva, sendo desnecessária a
comprovação de efetiva influência familiar na nomeação de ocupante de cargo ou
função pública em comissão.
2. Está conforme a Súmula Vinculante 13 Portaria que exonera de função de
confiança empregado público concursado em Prefeitura, em razão da existência de
parentesco entre ele e ocupante de cargo em comissão no mesmo Município.
3. Agravo regimental ao qual se nega provimento. (STF - Acórdão Rcl 19911 Agr /
Es - Espírito Santo, Relator(a): Min. Roberto Barroso, data de julgamento:
19/05/2015, data de publicação: 02/06/2015, 1ª Turma)

 EMENTA: Agravo regimental na reclamação constitucional. Súmula Vinculante nº


13. Relação de parentesco entre pessoa designada para cargo de direção na
Assembleia Legislativa e membro da Mesa Diretora. Subordinação, ainda que
eventual. Configuração objetiva do nepotismo. Agravo regimental não provido.
1. A Súmula Vinculante nº 13 erigiu critérios para a configuração objetiva do
nepotismo, a saber, em síntese, i) a relação de parentesco entre a pessoa nomeada
e a autoridade nomeante ou o ocupante de cargo de direção, chefia ou
assessoramento a quem estiver subordinada e ii) a relação de parentesco entre a
pessoa nomeada e a autoridade que exerce ascendência hierárquica sobre a
autoridade nomeante.

41
2. Há subordinação, ainda que eventual – seja em razão de falta ou impedimento
do Presidente, seja por ato de delegação da Mesa (art. 9º, §§ 1º e 4º, do Regimento
Interno da Assembleia Legislativa do Estado de Goiás) – ao Vice-Presidente da Casa
Legislativa, apontado como autoridade de referência para a configuração objetiva
do nepotismo.
3. Agravo regimental não provido (STF - Acórdão Rcl 14223 Agr / Go - Goiás,
Relator(a): Min. Dias Toffoli, data de julgamento: 16/12/2014, data de publicação:
13/02/2015, 1ª Turma)

Princípio da Eficiência:

 EMENTA: ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS.


ESTÁGIO PROBATÓRIO. RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO. FALTA DE ASSIDUIDADE NO
SERVIÇO CONSTATAÇÃO. EXONERAÇÃO. ART. 30 DO DECRETO ESTADUAL
43.764/2004.
1. A avaliação especial de desempenho, em estágio probatório, é pressuposto
constitucional para que o servidor que ocupe cargo de provimento efetivo obtenha
a estabilidade, razão pela qual, ao realizá-la, a Administração age em estrito
cumprimento e observância do dever legal.
2. Este Tribunal possui o entendimento de que a exoneração de servidores
concursados e nomeados para cargo efetivo, ainda que em estágio probatório, deve
ser efetuada com observância do devido processo legal e do princípio da ampla
defesa.
3. No âmbito do Estado de Minas Gerais, a avaliação de desempenho é
regulamentada pelo Decreto 43.764/2004, o qual estabelece, em seu art. 13, que
será considerado infreqüente o servidor que não obtiver o mínimo de noventa e
cinco por cento de frequência em qualquer das etapas de Avaliação Especial de
Desempenho; a infrequência enseja a exoneração do servidor, nos termos
estabelecidos na norma do artigo 30 do referido Decreto.
42
4. In casu, o recorrente, ex-servidor público estadual, foi exonerado de seu cargo de
Agente de Segurança Penitenciário, quando ainda encontrava-se em estágio
probatório, após a sua Avaliação Especial de Desempenho ter concluído que era
"infrequente", devido à falta de assiduidade no serviço.
5. Inexiste nulidade no acórdão que aprecia a questão à luz da legislação aplicável,
dos fatos e das provas produzidas nos autos. Verifica-se, ainda, que foram
respeitadas no processo sub examine as garantias do contraditório e da ampla
defesa, não tendo sido
demonstrada nenhuma ofensa concreta e relevante aos direitos de defesa do
recorrente.
6. Não havendo direito líquido e certo a amparar a pretensão recursal, deve ser
mantido o aresto proferido na origem.
7. Agravo Regimental não provido. (STJ - Acórdão Agrg no Rms 39116 / Mg,
Relator(a): Min. Herman Benja, data de julgamento: 28/04/2015, data de publicação:
01/07/2015, 2ª Turma)

 EMENTA: DIREITO ADMINISTRATIVO. EXONERAÇÃO DE SERVIDOR PÚBLICO EM


ESTÁGIO PROBATÓRIO. REPROVAÇÃO NA AVALIAÇÃO ESPECIAL DE DESEMPENHO.
Ação cognitiva ajuizada por servidora, reprovada durante o estágio probatório, em
face do ente estatal a objetivar que o réu promova os atos necessários para a sua
reintegração no cargo de Técnico Administrativo do Ministério Público Sentença de
improcedência. Apelo.
1. O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, em 15.4.10, editou a Resolução
GPGJ n° 1576, dispondo sobre a avaliação especial de desempenho dos servidores
em estágio probatório.
2. Inexistência de elemento probatório que demonstre ilegalidade ou
inobservância dos princípios que informam a sindicabilidade do ato administrativo
combatido.
3. Acolhimento do parecer da d. Procuradoria de Justiça.

43
4. Desprovimento do recurso. (TJRJ - Acórdão Apelação 0382400-44.2010.8.19.0001,
Relator(a): Des. Fernando Foch de Lemos Arigony da Silva, data de julgamento:
13/07/2017, data de publicação: 13/07/2017, 3ª Câmara Cível)

Princípio da Autotutela:

 EMENTA: PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL NO


AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. DECADÊNCIA
ADMINISTRATIVA. PODER DE AUTOTUTELA DA ADMINISTRAÇÃO. SEGURANÇA
JURÍDICA. PRAZO QUINQUENAL. AGRAVO REGIMENTAL DO ESTADO DE SANTA
CATARINA A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
1. É firme a orientação desta Corte de que a autotutela administrativa
dos atos - anuláveis ou nulos - de que decorram efeitos favoráveis para os
destinatários está sujeita ao prazo de decadência quinquenal. Após o
transcurso do referido prazo decadencial quinquenal sem que ocorra o
desfazimento do ato, prevalece a segurança jurídica em detrimento da
legalidade da atuação administrativa.
2. Assim, inviável acolher a pretensão do Estado de que tal relação tenha caráter de
trato sucessivo, o que renovaria o prazo de revisão da Administração mês a mês.
3. Agravo Regimental do ESTADO DE SANTA CATARINA a que se nega
provimento. (STJ - Acórdão Agrg no Agrg no Aresp 676880 / Sc, Relator(a): Min.
Napoleão Nunes Maia Filho, data de julgamento: 06/12/2018, data de publicação:
19/12/2018, 1ª Turma)

 EMENTA: DIREITO ADMINISTRATIVO. AGRAVO INTERNO EM RECURSO


EXTRAORDINÁRIO. PODER DE AUTOTUTELA DA ADMINISTRAÇÃO. SERVIDOR
PÚBLICO. CANCELAMENTO DE APOSENTADORIA. NECESSIDADE DE OBSERVÂNCIA
DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO, ASSEGURADOS O CONTRADITÓRIO E
A AMPLA DEFESA.

44
1. O Plenário do Supremo Tribunal Federal entendeu ser necessária a prévia
instauração de procedimento administrativo, assegurados o contraditório e a ampla
defesa, sempre que a Administração, exercendo seu poder de autotutela, anula atos
administrativos que repercutem na esfera de interesse do administrado (RE 594.296-
RG, Rel. Min. Dias Toffoli).
2. Inaplicável o art. 85, § 11, do CPC/2015, uma vez que não é cabível condenação
em honorários advocatícios (art. 25 da Lei nº 12.016/2009 e Súmula 512/STF).
3. Agravo interno a que se nega provimento, com aplicação da multa prevista no
art. 1.021, § 4º, do CPC/2015. (STF - Acórdão Re 946481 Agr / Pr - Paraná,
Relator(a): Min. Roberto Barroso, data de julgamento: 18/11/2016, data de
publicação: 02/12/2016, 1ª Turma).

Princípio da Impessoalidade6:

 Embargos de declaração em recurso extraordinário. 2. Embargos de declaração


recebidos como agravo regimental. Princípio da fungibilidade recursal. 3. Ação
Popular. Uso de propaganda oficial para promoção pessoal por Secretário de
Estado. 4. Ofensa aos princípios da impessoalidade e da moralidade. Art. 37, § 1º, da
Constituição Federal 5. Ausência de argumentos suficientes a infirmar a decisão
recorrida. 6. Agravo regimental a que se nega provimento. (STF - Acórdão Are
921282 Ed / Sc - Santa Catarina, Relator(a): Min. Gilmar Mendes, data de
julgamento: 15/12/2015, data de publicação: 11/02/2016, 2ª Turma)

 EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. DIREITO


CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. ARTIGO 61-B DA CONSTITUIÇÃO DO
ESTADO DE RORAIMA. AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA. NÃO
CONHECIMENTO DA AÇÃO QUANTO AO PONTO. ARTIGO 61-A DA CONSTITUIÇÃO
DO

6
Vide questão 06 ao final do capítulo.
45
ESTADO DE RORAIMA. INSTITUIÇÃO DE SUBSÍDIO MENSAL E VITALÍCIO PARA EX-
GOVERNADORES E SUAS VIÚVAS. INCONSTITUCIONALIDADE. VIOLAÇÃO DOS
PRINCÍPIOS FEDERATIVO, REPUBLICANO, DA IMPESSOALIDADE E DA MORALIDADE
ADMINISTRATIVA. PRECEDENTES. AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE PARCIALMENTE CONHECIDA E, NESSA PARTE, JULGADO
PROCEDENTE O PEDIDO.
1. O “subsídio mensal” previsto no artigo 61-A da Constituição do Estado de
Roraima constitui pagamento singular, estabelecido pela Assembleia Legislativa do
Estado de Roraima como benesse a quem tenha exercido a completude do
mandato de Governador
de Estado.
2. O pagamento de prestação pecuniária mensal e vitalícia a ex-governadores e
suas viúvas extrapola o poder constituinte derivado, violando o princípio federativo,
além de não se compatibilizar com os princípios da impessoalidade e da moralidade
administrativa.
3. O princípio republicano apresenta conteúdo contrário à prática do
patrimonialismo na relação entre os agentes do Estado e a coisa pública, o que se
verifica no caso sub examine.
4. O princípio da igualdade veda a instituição de tratamento privilegiado sem
motivo razoável, tal qual o estabelecido em proveito de quem não mais exerce
função pública ou presta qualquer serviço à Administração Pública. Precedentes: ADI
4.552-MC,
Rel. Min. Cármen Lúcia, Plenário, DJe de 9/6/2015; ADI 3853, Rel. Min. Cármen Lúcia,
Plenário, DJe de 26/10/2007; e ADI 3.418, Rel. Min. Dias Toffoli, Plenário, julgamento
em 20/09/2018.
5. A ausência de impugnação específica do artigo 61-B da Constituição do
Estado de Roraima impossibilita o conhecimento da ação quanto ao ponto (artigo
3º da Lei federal 9.868/1999).

46
6. Ação direta parcialmente conhecida, para, nessa parte, julgar procedente o
pedido, para declarar a inconstitucionalidade do artigo 61-A da Constituição do
Estado de Roraima, incluído pela Emenda Constitucional estadual 18/2007. (STF -
Acórdão Adi 4169 / Rr - Roraima, Relator(a): Min. Luiz Fux, data de julgamento:
25/10/2018, data de publicação: 07/11/2018, Tribunal Pleno)

Princípio da Moralidade:

 Agravo regimental em recurso extraordinário com agravo. 2. Direito


Administrativo. 3. Ação Popular. Ofensa ao princípio da moralidade. Ausência de
vereador para viagens e missões, custeadas com dinheiro público sem controle de
frequência ou
relatórios de visitas para demonstrar a efetiva participação. Possibilidade. 4. Matéria
infraconstitucional. Necessidade de reexame do acervo probatório. 5. Violação do
pacto federativo. Não ocorrência. 6. Ausência de argumentos capazes de infirmar a
decisão agravada. 7. Negativa de provimento ao agravo regimental. (STF - Acórdão
Are 1127733 Agr / Rj - Rio de Janeiro, Relator(a): Min. Gilmar Mendes, data de
julgamento: 24/08/2018, data de publicação: 06/09/2018, 2ª Turma)

Princípio da Continuidade dos Serviços Públicos:

 EMENTA: ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. DESEMBARAÇO


ADUANEIRO. GREVE DOS SERVIDORES. PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE DOS
SERVIÇOS PÚBLICOS. REMESSA NECESSÁRIA DESPROVIDA. 1. Embora seja garantido
aos servidores públicos o exercício do direito de greve (art. 37, VII, da CF), cabe à
Administração Pública, ao menos, manter em atividade um contingente de
funcionários capaz de preservar a continuidade do serviço público, evitando-se,
assim, o prejuízo aos cidadãos em geral. 2. O contribuinte não pode sofrer prejuízo
em virtude da paralisação de um serviço essencial, como o de liberação de
mercadorias importadas, notadamente as perecíveis, competindo ao órgão

47
responsável por este serviço manter a continuidade do mesmo. Precedentes. 3.
Ponderação entre a coerência entre o exercício do direito de greve pelo servidor
público e as condições necessárias à coesão e interdependência social, que a
prestação continuada dos serviços públicos assegura, como decorre claramente do
âmago da Constituição Federal d e 1988. 4. O Impetrante não tem direito à
exportação incondicional das mercadorias relacionadas, mas sim direito líquido e
certo de ter a análise e processamento do pedido em tempo r azoável. 5 . Remessa
Necessária desprovida. (TRF2 - Acórdão 0123269-82.2015.4.02.5101 (trf2
2015.51.01.123269-0), Relator(a): Des. Guilherme Diefenthaeler, data de julgamento:
02/04/2018, data de publicação: 05/04/2018, 8ª Turma Especializada)

 EMENTA: Apelação Cível. Obrigação de fazer com indenizatória. Restabelecimento


do fornecimento de água Ausência de prestação do serviço em razão do corte no
fornecimento. Sentença de improcedência. Alegação de falta de aviso prévio do
corte do fornecimento. Autora que assume inadimplência por mais de 10 anos.
Inadimplência atual. Faturas que indicavam aviso de débito e possibilidade de corte
do fornecimento. Cumprida a exigência do art. 6°, §3°, II da Lei 8987/95.
Precedentes. Sentença mantida. RECURSO A QUE SE NEGA PROVIMENTO, nos
termos do art. 932, IV do CPC/2015. (TJRJ - Acórdão Apelação 0006776-
12.2017.8.19.0003, Relator(a): Des. Pedro Saraiva de Andrade Lemos, data de
julgamento: 11/04/2018, data de publicação: 11/04/2018, 10ª Câmara Cível)

48
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARVALHO FILHO, José dos Santos. MANUAL DE DIREITO ADMINSITRAVO. 30 Ed. São
Paulo: Atlas, 2016.

CARVALHO, Matheus. MANUAL DE DIREITO ADMINSITRAVO. 3 ed. Salvador: JusPODIVM,


2016.

MAZZA, Alexandre. MANUAL DE DIREITO ADMINSITRAVO – 9. ed. – São Paulo: Saraiva


Educação, 2019.

OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende. CURSO DE DIREITO ADMINISTRATIVO. 5 ed. Rio de


Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2017.

PIETRO, Maria Sylvia Zanella Di. DIREITO ADMINISTRATIVO. 32. ed. rev. atual e ampl. – Rio
de Janeiro: Forense, 2019.

49
CARREIRAS POLICIAIS

Direito Administrativo
Capítulo 3
SUMÁRIO
DIREITO ADMINISTRATIVO, Capítulo 3.................................................................................................................... 3

3. Organização Administrativa .................................................................................................................................. 3

3.1 Introdução ................................................................................................................................................................ 3

3.2 Princípios inerentes à organização administrativa ................................................................................. 4

3.3 Centralização, Desconcentração e Descentralização ............................................................................. 5

3.3.1 Centralização ........................................................................................................................................................... 5

3.3.2 Descentralização .................................................................................................................................................... 6

3.3.3 Desconcentração ................................................................................................................................................... 7

3.4 Administração Direta ........................................................................................................................................... 8

3.4.1 Composição ............................................................................................................................................................. 9

3.4.2 Criação e extinção ................................................................................................................................................ 9

3.4.3 Capacidade Processual ....................................................................................................................................... 9

3.4.4 Classificação.......................................................................................................................................................... 10

3.5 Administração Indireta ..................................................................................................................................... 11

3.5.1 Características Gerais ........................................................................................................................................ 13

3.5.2 Autarquia ............................................................................................................................................................... 13

3.5.3 Fundação Pública ............................................................................................................................................... 19

3.5.4 Empresas Estatais ............................................................................................................................................... 22

QUADRO SINÓTICO ...................................................................................................................................................... 28

QUESTÕES COMENTADAS ........................................................................................................................................ 36

GABARITO ........................................................................................................................................................................... 45

LEGISLAÇÃO COMPILADA............................................................................................................................................ 50
1
JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................................................................. 51

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................................. 55

2
DIREITO ADMINISTRATIVO

Capítulo 3

3. Organização Administrativa

3.1 Introdução

A Organização Administrativa é a estruturação do Estado. Seu estudo é o


conhecimento acerca das pessoas, entidades e órgãos que irão desempenhar a função
administrativa.

Entidade: é a pessoa jurídica pública ou privada. Compreende tanto as entidades


políticas, que possuem autonomia política, ou seja, são capazes de legislar e de se auto
organizar (União, estados, DF e Municípios), como as entidades administrativas que detêm
autonomia administrativa, isto é, capacidade de gerir os próprios negócios.

Órgão: é o elemento despersonalizado, incumbido da realização das atividades da


entidade a que pertence.

Neste contexto, a expressão administração pública está sendo analisada em sentido


material ou objetivo, ou seja, referindo-se à função de administrar exercida pelo ente público
na busca do interesse da coletividade.

A organização é feita, primordialmente, mediante leis ou por meio de decretos e


outros atos normativos. O Decreto-Lei nº 200/67, recepcionado pela Constituição Federal
como lei ordinária, visa a esclarecer as normas aplicáveis à estruturação da Administração
Pública, dividindo-a em Administração Direta e Indireta.

3
O Decreto lei 200/67 define as regras aplicáveis à União e estabelece normas gerais a serem
respeitadas pelos outros entes federativos, podendo ser alterado somente mediante lei
federal.

Cumpre ressaltar que para o melhor funcionamento estatal, alguns serviços são
prestados diretamente pelos entes federativos, sem que seja transferida a execução a outrem,
mas, em determinadas situações, as pessoas políticas transferem a prestação dos serviços a
outros entes, que é a prestação indireta.

3.2 Princípios inerentes à organização administrativa

O Decreto lei 200/67, em seu artigo 6°, elencou alguns princípios fundamentais que
devem servir de base para as atividades da Administração Pública, quais sejam:

PLANEJAMENTO COORDENAÇÃO

DELEGAÇÃO DE
CONTROLE
COMPETÊNCIAS

DESCENTRALIZA
ÇÃO

4
 Princípio do planejamento: O planejamento deve promover o desenvolvimento
econômico-social do País e a segurança nacional;
 Princípio da coordenação: o decreto dispõe que a coordenação será exercida em
todos os níveis da administração, mediante a atuação das chefias individuais, a
realização sistemática de reuniões com a participação das chefias subordinadas e a
instituição e funcionamento de comissões de coordenação em cada nível
administrativo;
 Princípio da descentralização administrativa: pauta-se no prestígio da eficiência
administrativa, eis que, por meio de da descentralização transfere-se a execução da
atividade a uma pessoa especializada;
 Princípio da delegação de competência: uma autoridade permite que certa
atividade que havia sido atribuída a si, por lei, seja exercida por outro agente;
 Princípio do controle: o controle das atividades da Administração Pública será
exercido em todos os níveis e em todos os órgãos de governo.

3.3 Centralização, Desconcentração e Descentralização

A prestação de serviços públicos pode ser feita diretamente pelos entes federativos
ou, em determinadas situações, indiretamente com a transferência das atividades a
particulares ou entidades especializadas criadas no âmbito da própria Administração Pública.

3.3.1 Centralização

A centralização é o desempenho direto das atividades públicas pelo Estado, ou


seja, por uma de suas pessoas políticas. Essa execução centralizada ocorre mediante atuação
da Administração Direta.

5
3.3.2 Descentralização1

Já a descentralização ocorre quando o Estado distribui algumas de suas atribuições


para outras pessoas, físicas ou jurídicas. Sendo, portanto, o desempenho indireto das
atividades públicas. Pressupõe-se a existência de, pelo menos, duas pessoas: o Estado e a
pessoa física ou jurídica que executará o serviço. A descentralização pode ser de dois tipos:
 Descentralização Política: ocorre na criação de entidades políticas para o
exercício de competências próprias. É a criação, por exemplo, de Estados e Municípios, que
possuem competências definidas pela própria Constituição.
 Descentralização Administrativa: Ocorre quando as atribuições são exercidas por
entidades descentralizadas, ou seja, tais atribuições não decorrem da Constituição e sim de
leis infraconstitucionais. Subdivide-se em três modalidades:
1) Descentralização por serviços ou por outorga: quando uma entidade política,
mediante lei, cria uma pessoa jurídica e a ela atribui a titularidade e a execução de
determinado serviço. A criação de entidades só pode ser feita por lei em sentido
formal, que pode efetivamente criar a entidade ou apenas autorizar a criação. O
controle efetuado pelo ente instituidor sobre as entidades é de caráter finalístico,
denominado de tutela, e tem por objetivo garantir que a entidade não desvie dos
fins pretendidos, não havendo relação de subordinação.
2) Descentralização por colaboração ou delegação: o Estado transfere a execução
do serviço a uma pessoa jurídica de direito privado, previamente existente,
conservando o Poder Público a titularidade. Pode ocorrer por meio de contrato
(concessão ou permissão) ou por meio de ato unilateral (autorização). A
descentralização realizada por contrato é efetivada sempre por tempo determinado.
Já a realizada por ato unilateral, como regra, não há prazo certo em razão da
precariedade típica da autorização, ou seja, é passível de revogação a qualquer
tempo.

1
Vide questão 03 ao final do capítulo.
6
3) Descentralização territorial ou geográfica: verifica-se quando uma entidade local,
geograficamente determinada, dotada de personalidade jurídica de direito público,
possui capacidade administrativa genérica. Essa descentralização permite o exercício
da capacidade legislativa, porém sem autonomia. Conforme Di Pietro (2019:937) “foi
o modelo adotado para os territórios federais pelo artigo 33 da Constituição Federal
de 1988, que se mantém, embora, atualmente, não existam territórios com essa
configuração. O artigo 18, § 3º, permite a sua criação como integrantes da União.
Nesse caso, seriam incluídos na modalidade de descentralização territorial, sem
integrarem a federação. Teriam personalidade jurídica de direito público, sendo
geograficamente delimitados e possuindo capacidade genérica, que abrange
serviços de segurança, saúde, justiça etc.”.

3.3.3 Desconcentração2

Ocorre quando a entidade se desmembra em órgãos para melhorar sua


organização estrutural. Trata-se, em verdade, de uma distribuição interna de competências, eis
que ocorre dentro de uma mesma pessoa jurídica.

O resultado da desconcentração é a criação de diferentes órgãos, constituindo,


assim, uma técnica de aprimoramento do desempenho.

Pode ocorrer tano dentro de uma pessoa política, como dentro de uma entidade
administrativa, ou seja, tanto no âmbito da Administração Direta quando da Administração
Indireta.

2
Vide questão 01 ao final do capítulo.
7
A desconcentração faz surgir uma relação de hierarquia, uma vez eu na relação só há um
ente com personalidade jurídica.

3.4 Administração Direta3

A Administração Direta, também chamada de Administração centralizada, pode ser


definida como sendo o conjunto de órgãos que integram a pessoa política do Estado.

Os órgãos são centros de competências, sem personalidade jurídica própria,


instituídos para o desempenho da função estatal. A teoria que explica as relações do Estado
com seus agentes é a teoria do órgão, pela qual se presume que a pessoa jurídica manifesta
sua vontade por meio dos órgãos que a compõem, sendo estes compostos por agentes, ou
seja, pressupõe-se que quando os agentes agem é como se o próprio Estado o fizesse.

Não é qualquer ato que será imputado ao Estado. É necessário que o agente que pratica o
ato esteja agindo conforme a lei ou que, pelo menos, o ato revista-se de aparência de ato
jurídico legítimo e seja praticado por alguém que pareça ser um agente público – funcionário
de fato.

3
Vide questões 02 e 05 ao final do capítulo.
8
3.4.1 Composição

Na esfera federal do Executivo, a Administração Direta é composta pela Presidência


e pelos Ministérios. O Legislativo e o Judiciário adotam a estrutura definida em seus
respectivos atos de organização.

Nas esferas estadual e municipal a composição é semelhante, exceto na municipal


em que não há Judiciário.

3.4.2 Criação e extinção

Os órgãos do Poder Executivo necessitam de lei em sentido formal, de iniciativa do


chefe do Poder. A organização e o funcionamento podem se dar por meio de decretos
autônomos desde que não impliquem em aumento de despesa e nem na criação ou
extinção de órgãos, conforme artigo 84, IV da CRFB/88.

Nos órgãos do Judiciário, a iniciativa de lei compete ao Supremo Tribunal Federal,


aos Tribunais Superiores e aos Tribunais de Justiça. O mesmo ocorre com o Ministério Público
e o Tribunal de Contas que possuem competência para dar início ao processo legislativo
referente apropria organização administrativa.

3.4.3 Capacidade Processual

Em regra, o órgão não possui capacidade processual, eis que não tem
personalidade jurídica. A capacidade é da própria pessoa política.

Porém, há exceções: atualmente reconhece-se a capacidade de alguns órgãos


públicos para impetração, por exemplo, de Mandado de Segurança na defesa de suas
prerrogativas e competências.

9
A capacidade processual apenas é reconhecida em relação aos chamados órgãos autônomos
e independentes.

3.4.4 Classificação

Os órgãos públicos podem ser classificados quanto à:

1) Estrutura:
 Simples ou Unitário: não possuem subdivisões em sua estrutura interna.
Podem ser compostos por mais de um agente.
 Compostos: reúnem em sua estrutura interna diversos órgãos menores.

2) Atuação funcional:
 Singulares ou Unipessoais: as decisões dependem da atuação isolada de
um único agente. Podem ser compostos por vários agentes, mas as decisões
são tomadas apenas pelo chefe. Exemplo: Presidência da República
 Colegiados ou Pluripessoais: as decisões são tomadas pela manifestação
conjunta dos membros. Exemplo: Congresso Nacional, STF.

3) Esfera de atuação:
 Centrais: exercem atribuição em toda a área da pessoa jurídica que
integram. Exemplo: Ministérios e Secretarias
 Locais: atuam apenas em parte do território. Exemplo: Delegacias

10
4) Posição estatal:
 Independentes: previstos diretamente na Constituição, representam os três
poderes e não são subordinados hierarquicamente a nenhum outro órgão. Ex:
Presidência da República, Câmara dos Deputados, Senado Federal, STF, STJ e
demais tribunais.
 Autônomos: estão logo abaixo dos órgãos independentes, auxiliando-os
diretamente. Possuem ampla autonomia administrativa, financeira e técnica,
mas não independência. Ex: Ministérios, Secretarias, AGU.
 Superiores: possuem atribuições de direção, controle e decisão, mas estão
sempre sujeitos ao controle hierárquico. Não têm nenhuma autonomia. Ex:
coordenadorias, gabinetes.
 Subalternos: exercem atribuições de mera execução com reduzido poder
decisório.

3.5 Administração Indireta4

É o conjunto de pessoas jurídicas que, vinculadas à Administração Direta, têm


competência para o exercício de atividades típicas de Estado.

A Administração Pública Indireta decorre da descentralização administrativa que está


diretamente ligada à busca pela eficiência.

Conforme já explanado anteriormente, a descentralização consiste na criação - ou


autorização de criação-, por meio de lei, de uma pessoa jurídica de direito público ou de
direito privado à qual se atribui a titularidade e execução de determinado serviço público,
consoante dispõe o art. 4° do Decreto-lei n. 200/67.

A nova pessoa criada é dotada de autonomia administrativa é dotada de autonomia


administrativa, gerencial e financeira.

4
Vide questão 08 ao final do capítulo.
11
A administração indireta é composta das seguintes pessoas:

AUTARQUIAS E
FUNDAÇÕES
ASSOCIAÇÕES
PÚBLICAS
PÚBLICAS

EMPRESAS SOCIEDADES DE
ECONOMIA MISTA
PÚBLICAS

Esclarece-se que as associações públicas decorrem da edição da lei 11.107/05


estabelece que a nova entidade criada: os consórcios públicos. A lei dispõe sobre normas
gerais para que os entes políticos contratarem consórcios públicos para a realização de
objetivos de interesse comum.

O consórcio público pode constituir associação pública ou pessoa jurídica de


direito privado. Conforme as disposições constitucionais, não se admite a criação de uma
nova pessoa da Administração Indireta, diversa das entidades já elencadas no art. 37, XIX da
Constituição Federal e, por esse, motivo, a associação pública terá natureza jurídica de
entidade autárquica.

Dessa forma, quando o consórcio público for formalizado com personalidade


jurídica de direito público, será parte integrante da administração indireta de cada um dos
entes federativos consorciados e terá qualificação jurídica de autarquia.

12
3.5.1 Características Gerais

As pessoas jurídicas que integram a Administração indireta apresentam algumas


características em comum: 1) necessidade de lei específica para serem criadas; 2)
personalidade jurídica própria; 3) patrimônio próprio; e 4) Controle exercido pelo ente da
Administração Direta, no que tange ao cumprimento de suas finalidades essenciais.

O controle exercido pela entre a administração direta sob a administração indireta


caracteriza a supervisão ministerial, também denominada tutela administrativa. Essa supervisão
se distribui em quatro aspectos:

(i) controle político: os dirigentes das entidades da administração indireta são


escolhidos e nomeados pela autoridade competente;
(ii) controle institucional: obriga a entidade a não desviar dos fins para os quais
foi criada;
(iii) controle administrativo: permite a fiscalização dos agentes; e
(iv) controle financeiro: fiscaliza os setores financeiros e contábil.

Entretanto, essas entidades se diferenciam em vários aspectos como veremos no


estudo individualizado de cada uma delas a seguir:

3.5.2 Autarquia5

Segundo disposição do artigo 5º, I do Decreto Lei 200/67 a Autarquia é o serviço


autônomo, criado por lei, com personalidade jurídica, patrimônio e receita próprios, para
executar atividades típicas da Administração Pública, que requeiram, para seu melhor
funcionamento, gestão administrativa e financeira descentralizada.

 Regime Jurídico:
As Autarquias têm personalidade jurídica de direito público, possuindo
prerrogativas e sujeições típicas do regime jurídico administrativo, quis sejam:

5
Vide questão 04 ao final do capítulo.
13
1) Prazos processuais em dobro;
2) Prescrição quinquenal prevista no Decreto 20.910/32;
3) Pagamento por precatório;
4) Execução fiscal e inscrição dos créditos em dívida ativa;
5) Impenhorabilidade, inalienabilidade, imprescritibilidade de seus bens;
6) Imunidade tributária: vedação de instituir impostos sobre patrimônio ou serviços
vinculados a finalidades essenciais das autarquias ou dela decorrentes;
7) Não sujeição à falência;
8) Submetem-se, via de regra, à responsabilidade civil objetiva;
9) Os contratos firmados são administrativos e precisam respeitar as normas da lei
8666/93 e da lei 10.520/02.

As Autarquias podem ser federais, municipais, estaduais ou distritais. Não são admissíveis
autarquias interestaduais ou intermunicipais. Cada Autarquia deve se vincular apenas ao ente
federativo responsável. A gestão associada de serviços públicos deve ser promovida por
convênios ou consórcio.

 Criação e extinção:
A criação e extinção das autarquias depende de lei especifica - sem necessidade
de registrar os atos para constituir personalidade jurídica. Isso não significa dizer que é
necessário que a lei seja limitada sobre tal assunto, é possível que a lei de criação ou extinção
disponha sobre assuntos variados e em seu bojo veicule a criação ou extinção.
Porém, a lei deve ser de iniciativa privativa do chefe do Poder ao qual esteja
vinculada.
 Atividades desenvolvidas:

14
Desenvolvem atividades próprias e típicas de estado. Em razão do princípio da
especialidade, a lei que cria a Autarquia deve delimitar as competências a ela atribuídas

 Patrimônio:
A natureza dos bens das autarquias é a de bens públicos, sendo por isso,
impenhoráveis, imprescritíveis e em regra inalienáveis.

 Regime de Pessoal:
O regime jurídico único indica que as Autarquias devem adotar o mesmo regime
estabelecido para os servidores da Administração Direta à qual estão vinculadas.
No caso da União, a legislação impõe a adoção do regime estatutário.

 Foro Judicial:
Em regra, as casas que envolvem Autarquias federais são processadas e julgadas
pela Justiça Federal. No caso das Autarquias estaduais e municipais, o foro competente será
a Justiça Estadual.
Caso a lide envolva servidores estatutários segue a regra geral: Justiça Federal se a
Autarquia for federal e Justiça estadual se a Autarquia for estadual ou municipal.
Porém, se os servidores envolvidos forem empregados públicos a competência será
da Justiça do Trabalho.

 Espécies:

1) Autarquias profissionais

As autarquias profissionais são incumbidas de inscrever certos profissionais e


fiscalizar sua atividade. O Supremo Tribunal Federal declarou que os conselhos reguladores de
profissão têm natureza jurídica de autarquia, eis que possuem poder de polícia e que tal
poder é indelegável a particulares.

15
Após isso, os Conselhos profissionais passaram a ter natureza jurídica de entidades
autárquicas, gozando de todos os privilégios e se submetendo a todas as restrições impostas
a estas entidades.

Com relação à OAB, o Supremo Tribunal Federal, na ADI 3.026-4/DF, ao apreciar a


constitucionalidade do artigo 79, § 1º, da Lei nº 8.906, de 4-7- 94 (Estatuto da OAB), entendeu
que “não procede a alegação de que a OAB se sujeita aos ditames impostos à Administração
Pública Direta e Indireta da União. A Ordem não é uma entidade da Administração Indireta da
União. A Ordem é um serviço público independente, categoria ímpar no elenco das
personalidades jurídicas existentes no direito brasileiro. A OAB não está incluída na categoria
na qual se inserem essas que se tem referido como ‘autarquias especiais’ para pretender-se
afirmar equivocada independência das hoje chamadas ‘agências’. Por não consubstanciar uma
entidade da Administração Indireta, a OAB não está sujeita a controle da Administração, nem
a qualquer das suas partes está vinculada. Essa não vinculação é formal e materialmente
necessária” (Relator: Ministro Eros Grau; julgamento: 8-6- 06, pelo Tribunal Pleno, DJ 29-09-
06).

2) Agências Executivas:

Agências Executivas podem ser tanto autarquias quanto fundações públicas que por
estarem ineficientes, celebram contrato de gestão com o Ministério supervisor. Ao celebrar o
contrato de gestão, a autarquia comum ganha status de agência executiva – a qualificação

16
será feita em ato do Presidente da República -, adquirindo mais independência e mais
orçamento.

Porém, deve se comprometer a cumprir um plano de reestruturação definido no


próprio contrato de gestão para se tornar, mais eficiente, o que envolve reduzir custos e
aperfeiçoar seus serviços. Extinto o contrato de gestão, volta a ser autarquia comum.

Ressalta-se que tal qualificação visa somente a garantir que esta entidade consiga
alcançar maior eficiência na operacionalização de suas atividades.

3) Autarquias em Regime Especial


As Autarquias em regime especial, por terem regime legal diferenciado, gozam de
mais liberdade em face dos entes da administração direta do que as autarquias comuns. São
elas:
 Autarquias Culturais- Universidades públicas:

Por ser uma Autarquia especial, o reitor, além de ser indicado por seus próprios
membros, cumpre mandato certo, não podendo ser exonerado ad nutum. Essa é uma
garantia de uma maior independência e autonomia em relação aos entes da Administração
Direta.

Ressalte-se que esta autarquia, não só escolhe seus dirigentes, como também tem
poder de escolha quanto à pedagogia a ser adotada no exercício da atividade educacional.

 Agências Reguladoras:

Com o Programa Nacional de Desestatização de 1995 – programa que transferiu a


prestação de serviços públicos para particulares, criaram-se as Agências Reguladoras com o
escopo de fiscalizar, regular, normatizar a prestação dos serviços que agora seriam prestados
por particulares, evitando a busca desenfreada pelo lucro dentro do serviço público.

17
O poder normativo concedido às Agências Reguladoras para execução não poderá extrapolar
os limites da lei, devendo ater-se a aspectos técnicos
Ademais, não se deve confundir tal poder com o poder de legislar.

A maior liberdade dessas Autarquias decorre sobretudo pela forma de escolha dos
dirigentes.

Os seus dirigentes são nomeados pelo Presidente da República, após aprovação


prévia pelo Senado Federal, a famosa “sabatina” (art. 52, III, "f", CRFB/88), para cumprir um
mandato certo, ao contrário das demais autarquias em que os dirigentes são comissionados e,
portanto, exoneráveis ad nutum.

Ademais, o dirigente, ao deixar a agência reguladora, deve cumprir um período de


quarentena. Durante este período precisa respeitar a proibição de exercer atividade na
iniciativa privada dentro do setor ao qual estava vinculado.

A Lei nº 13.848, de 2019 alterou a Lei das Agências Reguladoras (Lei 9.986/2000) e alterou o
período da “quarentena”. Sendo assim, ao deixar a agência reguladora, o dirigente ficará
impedido de exercer atividade ou de prestar qualquer serviço no setor regulado pela

18
respectiva agência, por período de 6 (seis) meses, contados da exoneração ou do término de
seu mandato, assegurada a remuneração compensatória.
Antes da alteração legislativa, o período de quarentena era de 4 (quatro) meses. Porém, o
período vigente é de 6 (seis) meses!

3.5.3 Fundação Pública


No ordenamento jurídico brasileiro existem dois tipos de fundação: as fundações
privadas - que são aquelas formadas pela destinação de um patrimônio privado para a
criação de uma pessoa jurídica, conforme o Código Civil de 2002 - e as fundações públicas.

O Decreto lei 200/67, alterado pela Lei n. 7.596/87, conceitua, em seu art. 5°, IV,
fundação pública como a "entidade dotada de personalidade jurídica de direito privado, sem
fins lucrativos, criada em virtude de autorização legislativa, para o desenvolvimento de
atividades que não exijam execução por órgãos ou entidades de direito público, com
autonomia administrativa, patrimônio próprio gerido pelos respectivos órgãos de direção, e
funcionamento custeado por recursos da União e de outras fontes".

Ressalta-se, ainda, que conforme definido no Decreto Lei 200/67, as fundações públicas
poderão ser instituídas com personalidade jurídica de direito privado, para execução de
atividades de interesse social. Mas estas não se confundem com as fundações privadas, haja
vista serem formadas pela destinação de patrimônio público, indicados para sua formação.

19
 Natureza Jurídica:
Apesar da grande divergência doutrinária, o entendimento majoritário, partilhado,
inclusive pelo Supremo Tribunal Federal, é de que é possível que o Estado institua
fundações públicas com personalidade jurídica de direito público ou de direito privado.

As fundações públicas de direito público são consideradas uma modalidade de


autarquia, sendo denominadas de autarquias fundacionais ou fundações autárquicas.

A diferença entre autarquia e fundação autárquica é meramente conceitual: enquanto a


autarquia é definida como um serviço público personificado, a fundação é um patrimônio
personificado destinado a uma finalidade específica.

 Criação e extinção
As fundações públicas de direito público são efetivamente criadas por lei
específica, como as autarquias. Já a criação das fundações públicas de direito privado é
apenas autorizada pela lei, necessitando de registro do ato constitutivo para adquirir
personalidade jurídica.
Pelo princípio da simetria, as fundações de direito público são extintas por lei,
enquanto que a extinção das de direito privado se dá por autorização legal.

 Regime Jurídico:

As fundações públicas de direito público fazem jus às mesmas prerrogativas e sujeitam-


se as mesmas restrições que compõem o regime jurídico administrativo das autarquias. Por
isso, tudo que foi estudado em relação às autarquias, no tópico anterior, se aplica às
fundações públicas de direito público. Com todas as prerrogativas e sujeições que lhes são

20
próprias ao seu regime, podem celebrar contrato de gestão e se tornarem agência executiva,
gozam de imunidade tributária, celebram contratos administrativos mediante licitação etc.

Já o regime jurídico aplicável às fundações públicas de direito privado tem caráter


híbrido.

 Atividades desenvolvidas:

As fundações púbicas são constituídas para a execução de objetos sociais que


produzam benefícios à coletividade, sendo característica essencial a ausência de fins lucrativos.

 Patrimônio:
Os bens das fundações públicas de direito público são bens públicos. Já os bens das
fundações públicas de direito privado são bens privados.

Entretanto, é possível que alguns dos bens das fundações de direito público se
sujeitem a regras de direito público, como a impenhorabilidade. Isso ocorre com os bens
empregados diretamente na prestação de serviços públicos, em decorrência do princípio da
continuidade dos serviços públicos.

 Regime de Pessoal:

As fundações de direito público se sujeitam ao regime jurídico único, devendo


adotar o mesmo regime da Administração Direta.

As fundações públicas de direito privado, fundações governamentais, estão


prioritariamente, submetidas ao direito civil e, dessa forma, seus empregados são regidos
pela Consolidação das Leis do Trabalho, seus contratos são civis, sem a existência de cláusulas
exorbitantes e todo o regramento de suas relações é definido no direito privado.

21
 Controle do Ministério Público:
Segundo o Código Civil de 2002, o Ministério Público do Estado onde estiver
situada velará pela fundação. Tal dispositivo refere-se ao controle sobre as fundações
privadas instituídas por particulares.
No caso das fundações públicas (de direito público ou de direito privado)
dispensa-se a fiscalização pelo Ministério Público uma vez que há realização do controle
finalístico pela Administração Direta.

 Foro Judicial:

Tratando-se de fundação pública de direito público federal, os litígios serão


dirimidos na Justiça Federal. Sendo de direito público estadual/municipal, o foro é a Justiça
Estadual.

Caso se trate de fundação pública de direito privado, a doutrina entende que


independente da esfera o foro é a Justiça Estadual. Porém, a jurisprudência entende que as
federais têm foro na Justiça Federal.

3.5.4 Empresas Estatais

As empresas estatais podem ser de dois tipos: 1) Empresa Pública e 2) Sociedade


de Economia Mista6.

As Empresas Públicas7 são pessoas jurídicas de direito privado, integrantes da


Administração Indireta, criadas por autorização legal, sob qualquer forma jurídica, para que
o governo exerça atividades gerais de caráter econômico ou execute a prestação de serviços
públicos.

6
Vide questão 09 ao final do capítulo.
7
Vide questões 06 e 07 ao final do capítulo.
22
As Sociedades de Economia Mista são pessoas jurídicas de direito privado,
integrantes da Administração Indireta, criadas por autorização legal, sob a forma de
Sociedade Anônima, cujo controle acionário pertença ao Poder Público, tendo por objetivo,
como regra, a exploração de atividade econômica e, às vezes, a prestação de serviços públicos.

 Criação e extinção:

As empresas estatais (empresas públicas e sociedades de economia mista) têm a


sua criação autorizada por lei, dependendo de registro do ato constitutivo para adquirir
personalidade jurídica.
Além da autorização, a lei deve conter a forma societária em que foi constituída, o
prazo e o modo de composição de capital.
Da mesma forma, a extinção requer a edição de lei autorizadora.

 Subsidiárias:
As subsidiárias são empresas controladas pelas empresas estatais. A Empresa
Pública que detém o controle da subsidiária é chamada de empresa ou sociedade de 1º grau,
enquanto a subsidiária seria a empresa ou sociedade de 2º grau.
A subsidiária tem personalidade jurídica própria, sendo, portanto, uma pessoa
jurídica diferente da pessoa controladora. A criação delas depende também de autorização
legislativa, sendo legítimo que a lei que autorizou a criação da entidade primária, autorize,
desde logo, a criação – ainda que venha a ocorrer posteriormente – da subsidiária.

 Atividades desenvolvidas:

As Empresas Públicas desempenham atividades de natureza econômica que pode


ser feito com dois objetivos: (i) intervenção no domínio econômico; ou (ii) prestação de
serviços públicos.

23
Quanto à intervenção no domínio econômico, a CRFB/88 impõe que a exploração
direta da atividade econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos
imperativos da segurança nacional, ou a relevante interesse coletivo.
O Estado também pode atuar diretamente para explorar atividade sujeita a regime
constitucional de monopólio.
Em relação à segunda hipótese, menos frequente, trata-se de serviços públicos
passíveis de exploração segundo os princípios da atividade empresarial com o intuito de lucro.

Não são todos os serviços públicos que poderão ser exercidos por sociedades de economia
mista e empresas públicas, mas só aqueles que poderiam ser prestados pela iniciativa privada.
Ademais, as empresas públicas e as sociedades de economia mista não poderão gozar de
privilégios fiscais não extensivos às do setor privado.

 Regime Jurídico:
As empresas públicas e as sociedades de economia mista exploradoras de atividade
econômica se submetem, predominantemente, ao direito privado. Já as prestadoras de
serviços públicos se submetem, prioritariamente, ao direito público.

Por isso, diz que o regime jurídico das empresas estatais é híbrido.

 Forma Jurídica:
Todas as Sociedades de Economia Mista são Sociedades Anônimas (S/A), ou seja,
seu capital é dividido em ações.

Já as Empresas Públicas podem assumir qualquer forma em direito admitida.

24
 Composição do Capital

Nas Sociedades de Economia Mista, o capital é formado pelo conjunto de recurso


de pessoas de direito público e de recursos da iniciativa privada. O Poder Público deve
deter a maioria do capital votante, o que lhe garante o poder de decisão sobres os destinos
da companhia.
No tocante às Empresas Públicas, o capital é formado exclusivamente por
recursos públicos, não sendo admitida a participação direta de recursos particulares. A
exigência é que o capital seja 100% público e não necessariamente oriundo da mesma pessoa
política.

Uma Sociedade de Economia Mista, cujo capital é parcialmente privado pode


participar da formação de capital de Empresa Pública, eis que também é uma instituição da
Administração Direta.

 Licitação:

As empresas estatais que sejam prestadoras de serviço público submetem-se ao


regime de licitação, já para as exploradoras de atividades econômicas existem duas
situações: (i) Comercialização/execução de serviços ou bens para a ATIVIDADE FIM: NÃO
LICITA; e (ii) Comercialização/execução de serviços ou bens para a ATIVIDADE MEIO: LICITA.

25
 Estatuto:
A Constituição Federal de 1988 prevê a edição de um estatuto para disciplinar os
seguintes pontos:
1) Função social e formas de fiscalização;
2) Sujeição ao regime próprio das empresas privadas;
3) Licitação e contratos;
4) Mandatos, avaliações e desempenho e responsabilidade dos administradores;
5) Constituição e funcionamento dos conselhos.

 Patrimônio:
Os bens das empresas estatais são bens privados. Porém, se prestadoras de
serviços públicos, o regime de bens será diferenciado, ou seja, os bens afetados diretamente à
prestação dos serviços contarão com a proteção própria dos bens públicos.
 Regime de Pessoal

O pessoal se submete ao regime trabalhista comum, isto é, são empregados


públicos. Não obstante, o ingresso deve ser precedido de concurso público.

Os empregados públicos não gozam de estabilidade, mas podem exigir motivação e


direito de defesa em eventual demissão.

Os dirigentes não podem ser classificados como empregados públicos e nem


como cargos em comissão. São uma espécie de representantes da pessoa jurídica que foram
nomeados mas podem ser afastados a qualquer tempo.

 Falência:
As empresas estatais não se submetem ao processo de falimentar independente
da atividade que desempenham.

26
 Foro Judicial:
O foro judicial das empresas públicas federais será sempre a Justiça Federal. Se
forem estaduais ou municipais, a competência será da Justiça Estadual.
Em relação ao foro das sociedades de economia mista deve-se prestar atenção, pois
ainda que a Sociedade de Economia Mista seja federal, a regra é que a competência seja
da Justiça Estadual (Súmula 556, STF), exceto se a União atuar na lide, caso em que o foro
é deslocado para a Justiça Federal (Súmula 517, STF)

27
QUADRO SINÓTICO

ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

INTRODUÇÃO

A Organização Administrativa é a estruturação do Estado. A organização é feita,


primordialmente, mediante leis ou por meio de decretos e outros atos normativos. Seu estudo
é o conhecimento acerca das pessoas, entidades e órgãos que irão desempenhar a função
administrativa.

PRINCÍPIOS INERENTES À ORGANIZAÇÃO ADMINSTRATIVA

Princípio do O planejamento deve promover o desenvolvimento econômico-social do


planejamento: País e a segurança nacional;

As atividades da Administração Federal e, especialmente, a execução dos


Princípio da
planos e programas de governo, serão objeto de permanente
coordenação:
coordenação;

Princípio da
A execução das atividades da Administração Federal deverá ser
descentralização
amplamente descentralizada, prestigiando-se a eficiência;
administrativa:

Princípio da
A delegação tem o objetivo de assegurar maior rapidez e objetividade às
delegação de
decisões;
competência:

Princípio do O controle das atividades da Administração Pública será exercido em todos


controle: os níveis e em todos os órgãos de governo.

CENTRALIZAÇÃO

28
A centralização é o desempenho direto das atividades públicas pelo Estado
DESCENTRALIZAÇÃO

A descentralização ocorre quando o Estado distribui algumas de suas atribuições para outras
pessoas, físicas ou jurídicas.

Ocorre na criação de entidades políticas para o exercício de competências


Descentralização
próprias;
Política:

Ocorre quando as atribuições são exercidas por entidades


descentralizadas.

Descentralização por serviços ou por outorga:


quando uma entidade política, mediante lei, cria
uma pessoa jurídica e a ela atribui a titularidade
e a execução de determinado serviço. Não há,
na hipótese, relação de subordinação.
Descentralização
Descentralização por colaboração ou
Administrativa:
delegação: o Estado transfere a execução do
Pode se dar de
serviço a uma pessoa jurídica de direito privado,
3 (três) formas:
previamente existente, conservando o Poder
Público a titularidade.

Descentralização territorial ou geográfica:


verifica-se quando uma entidade local,
geograficamente determinada, dotada de
personalidade jurídica de direito público, possui
capacidade administrativa genérica.

DESCONCENTRAÇÃO

Ocorre quando a entidade se desmembra em órgãos para melhorar sua organização

29
estrutural, constituindo, assim, uma técnica de aprimoramento do desempenho.

ADMINISTRAÇÃO DIRETA

Na esfera federal do Executivo, a Administração Direta é composta pela


Presidência e pelos Ministérios. O Legislativo e o Judiciário adotam a
Composição
estrutura definida em seus respectivos atos de organização.
Nas esferas estadual e municipal a composição é semelhante, exceto na
municipal em que não há Judiciário.

Os órgãos do Poder Executivo necessitam de lei em sentido formal, de


Criação e iniciativa do chefe do Poder. A organização e o funcionamento podem se
extinção dar por meio de decretos autônomos desde que não impliquem em
aumento de despesa e nem na criação ou extinção de órgãos.

Em regra, o órgão não possui capacidade processual. Porém, tal


Capacidade
capacidade é reconhecida em relação aos chamados órgãos autônomos e
Processual
independentes.

Os órgãos públicos podem ser classificados quanto à:

Simples ou Unitário: não possuem subdivisões em


sua estrutura interna. Podem ser compostos por mais

Estrutura: de um agente.
Classificação
Compostos: reúnem em sua estrutura interna diversos
órgãos menores.

Singulares ou Unipessoais: Podem ser compostos por


Atuação
vários agentes, mas as decisões são tomadas apenas
funcional:
por uma gente.

30
Colegiados ou Pluripessoais: as decisões são tomadas
pela manifestação conjunta dos membros.

Centrais: exercem atribuição em toda a área da


Esfera de
pessoa jurídica que integram.
atuação:

Locais: atuam apenas em parte do território. Exemplo:


Delegacias.

Independentes: representam os três poderes e não


são subordinados hierarquicamente a nenhum outro
órgão.

Autônomos: possuem ampla autonomia


administrativa, financeira e técnica, mas não
Posição estatal: independência.

Superiores: possuem atribuições de direção, controle


e decisão, mas estão sempre sujeitos ao controle
hierárquico. Não têm nenhuma autonomia.

Subalternos: exercem atribuições de mera execução


com reduzido poder decisório.

ADMINISTRAÇÃO INDIRETA

AUTARQUIA

É o serviço autônomo, criado por lei, com personalidade jurídica de direito público, patrimônio
e receita próprios, para executar atividades típicas da Administração Pública.

Regime Jurídico: Possui prerrogativas e sujeições típicas do regime jurídico administrativo.

31
Criação e A criação e extinção das autarquias depende de lei especifica de iniciativa
extinção privativa do chefe do Poder.

Atividades
Desenvolvem atividades próprias e típicas de estado.
desenvolvidas

Patrimônio: A natureza dos bens das autarquias é a de bens públicos.

Regime de O regime jurídico único indica que as Autarquias devem adotar o mesmo
Pessoal: regime estabelecido para os servidores da Administração Direta à qual
estão vinculadas.

Autarquias federais: Justiça Federal


Foro Judicial:
Autarquias estaduais e municipais: Justiça Estadual.

Conselhos profissionais passaram a ter natureza


jurídica de entidades autárquicas, gozando de
todos os privilégios e se submetendo a todas as
Autarquias
restrições impostas a estas entidades.
profissionais:
Decidiu o STF que: a OAB não está incluída na
categoria na qual se inserem essas que se tem
referido como ‘autarquias especiais’, eis que é
Espécies
um serviço público independente

Agências Executivas: Por estarem ineficientes, celebram contrato de


gestão com o Ministério supervisor.

Autarquias Culturais- Universidades públicas:


Reitor é indicado por seus próprios membros
Autarquias em Regime
para mandato certo e possui autonomia para
Especial
escolher quanto à pedagogia a ser adotada no
exercício da atividade educacional.

32
Agências Reguladoras: criadas com o objetivo
de fiscalizar, regular, normatizar a prestação
dos serviços prestados por particulares,
evitando a busca desenfreada pelo lucro. Os
seus dirigentes são nomeados pelo Presidente
da República, após aprovação prévia pelo
Senado Federal.

FUNDAÇÃO PÚBLICA

No ordenamento jurídico brasileiro existem dois tipos de fundação: fundações privadas,


reguladas pelo Código Civil de 2002, e fundações públicas, no âmbito administrativo.

O Estado pode instituir fundações públicas com personalidade jurídica de


direito público ou de direito privado. As fundações públicas de direito
público são consideradas uma modalidade de autarquia, sendo
Natureza Jurídica
denominadas de autarquias fundacionais ou fundações autárquicas
As fundações públicas com personalidade jurídica de direito privado
não se confundem com as fundações privadas.

As fundações públicas de direito público são efetivamente criadas e


Criação e extintas por lei específica. Já a criação e extinção das fundações públicas
extinção de direito privado é apenas autorizada pela lei, necessitando de registro
do ato constitutivo para adquirir personalidade jurídica.
As fundações públicas de direito público fazem jus às mesmas
prerrogativas e sujeitam-se as mesmas restrições que compõem o regime
Regime Jurídico
jurídico administrativo das autarquias. Já as fundações públicas de direito
privado têm regime jurídico híbrido.
As fundações púbicas são constituídas para a execução de objetos sociais
Atividades
que produzam benefícios à coletividade, sendo característica essencial a
desenvolvidas
ausência de fins lucrativos.
Os bens das fundações públicas de direito público são bens públicos. Já
Patrimônio os bens das fundações públicas de direito privado são bens privados,
mas os empregados na prestação do serviço público são imprescritíveis.

33
As fundações de direito público se sujeitam ao regime jurídico único,
Regime de devendo adotar o mesmo regime da Administração Direta. Nas fundações
Pessoal públicas de direito privado seus empregados são regidos pela
Consolidação das Leis do Trabalho.
Controle pelo
No caso das fundações públicas dispensa-se a fiscalização pelo Ministério
Ministério
Público uma vez que há realização do controle finalístico.
Público

EMPRESAS ESTATAIS
As Empresas Públicas são pessoas jurídicas As Sociedades de Economia Mista são pessoas
de direito privado, integrantes da jurídicas de direito privado, integrantes da
Administração Indireta, criadas por Administração Indireta, criadas por autorização
autorização legal, sob qualquer forma legal, sob a forma de Sociedade Anônima, cujo
jurídica, para que o governo exerça controle acionário pertença ao Poder Público,
atividades gerais de caráter econômico ou tendo por objetivo, como regra, a exploração de
execute a prestação de serviços públicos. atividade econômica e, às vezes, a prestação de
serviços públicos.

As empresas estatais têm a sua criação e extinção autorizada por lei,


Criação e
dependendo de registro do ato constitutivo para adquirir personalidade
extinção:
jurídica.

As subsidiárias são empresas controladas pelas empresas estatais.


Subsidiárias:
Possuem personalidade jurídica própria.

Desempenham atividades de natureza econômica que pode ser feito com


Atividades
dois objetivos: (i) intervenção no domínio econômico; ou (ii) prestação
desenvolvidas:
de serviços públicos.

As empresas públicas e as sociedades de economia mista exploradoras de


atividade econômica se submetem, predominantemente, ao direito
Regime Jurídico:
privado. Já as prestadoras de serviços públicos se submetem,
prioritariamente, ao direito público.

34
Empresas Públicas podem assumir qualquer forma em direito admitida.
Forma Jurídica: Sociedades de Economia Mista só podem ser Sociedades Anônimas
(S/A).
Empresas Públicas: o capital é formado exclusivamente por recursos
públicos, não sendo admitida a participação direta de recursos particulares.
Composição do
capital Sociedades de Economia Mista: o capital é formado pelo conjunto de
recurso de pessoas de direito público e de recursos da iniciativa privada.

Patrimônio Os bens das empresas estatais são bens privados.

Regime de O pessoal se submete ao regime trabalhista comum, isto é, são


Pessoal empregados públicos.

Falência Não se submetem ao processo de falimentar

O foro judicial das empresas públicas federais será sempre a Justiça


Federal. Se forem estaduais ou municipais, a competência será da Justiça
Estadual.

Foro competente Em relação ao foro das sociedades de economia mista deve-se prestar
atenção, pois ainda que a Sociedade de Economia Mista seja federal, a
regra é que a competência seja da Justiça Estadual (Súmula 556, STF),
exceto se a União atuar na lide, caso em que o foro é deslocado para a
Justiça Federal (Súmula 517, STF)

35
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

(CESPE – 2018 – PF – Agente de Polícia ) Acerca da organização da administração pública

brasileira, julgue o item subsequente.

Ao outorgar determinada atribuição a pessoa não integrante de sua administração direta, o


Estado serve-se da denominada desconcentração administrativa.

( ) Certo

( ) Errado

Comentário:
Gabarito: errado.

Na verdade, a desconcentração administrativa constitui uma técnica de organização


da Administração Pública através da redistribuição interna e não externa de competências.
Quando há a outorga da competência a outra pessoa, há a descentralização.

36
Questão 2

(CESPE – 2018 – PF – Agente de Polícia) Acerca da administração direta e indireta, julgue o


item que segue.

A administração direta é constituída de órgãos, ao passo que a administração indireta é


composta por entidades dotadas de personalidade jurídica própria, como as autarquias, que
são destinadas a executar serviços públicos de natureza social e atividades administrativas.

( ) Certo

( )Errado

Comentário:

Gabarito: Certo.

A administração direta é composta por órgãos públicos que são integrantes de sua
estrutura, sem personalidade jurídica própria. Por outro lado, a administração indireta é
composta por autarquias, fundações públicas, empresas públicas e sociedades de economia
mista.

37
Questão 3

(CESPE – 2013 – PC-DF – Escrivão de Polícia) Com relação à organização político-


administrativa, julgue os itens que seguem.

Haverá descentralização administrativa quando, por lei, competências de um órgão central


forem destacadas e transferidas a outras pessoas jurídicas estruturadas sob o regime do
direito público ou sob a forma do direito privado.

( ) Certo

( ) Errado

Comentário:

Gabarito: Certo
O enunciado está correto, por seus próprios termos, que caracterizam exatamente a
chamada descentralização.

Questão 4

(CESPE – 2013 – PC-DF – Escrivão de Polícia) Com relação à organização político-


administrativa, julgue o item que segue.

Uma autarquia é uma pessoa jurídica de direito público criada somente mediante lei
específica, que, embora não tenha subordinação hierárquica com a entidade que a criar,
submeter-se-á, na órbita federal, a supervisão ministerial.

( ) Certo

( ) Errado

38
Comentário:

Gabarito: Certo.

Com efeito, as autarquias são pessoas jurídicas de direito público cuja instituição
ocorre mediante lei específica. Ademais, temos que inexiste, de fato, hierarquia e subordinação
entre pessoas jurídicas distintas.

Nos termos do artigo 19 do Decreto-Lei 200/67 temos, ainda, que as autarquias


submetem-se à supervisão ministerial.

Questão 5

(Instituto AOCP – 2019 – PC-ES - Investigador) Assinale a alternativa que corresponde a um


órgão/entidade que pertença à Administração Pública Direta.

A) Agência Reguladora.

B) Agência Executiva

C) Departamento de Estradas e Rodagens – DER

D) Secretaria do tesouro Nacional

E) Fundação Oswaldo Cruz - FIOCRUZ

Comentário:

Gabarito: Letra “D”.

A) Incorreta. Isso porque, no caso, a agência reguladora é uma autarquia em regime


especial, e por isso pertence à Administração indireta.

39
B) Incorreta. A Agência Executiva está relacionado com a Administração Indireta e
não Direta.

C) Incorreta. O DER é uma autarquia, pertencendo à Administração Indireta.

D) Correta. A Secretaria do Tesouro Nacional está vinculada ao Ministério da


Fazenda, integrando a Administração Direta.

E) Incorreta. A Fundação Oswaldo Crus – FIOCRUZ possui personalidade jurídica de


direito público, pertencendo à Administração Indireta.

Questão 6

(Instituto AOCP – 2019 – PC-ES - Investigador) A seguinte definição: “Pessoa jurídica de


direito privado administrada exclusivamente pelo poder público, instituída por um ente estatal,
com a finalidade prevista em lei e sendo de propriedade única do Estado” se refere

A) A entes do sistemas “S”.


B) À Fundação Pública
C) À Sociedade de Economia Mista
D) À Empresa Pública
E) À Agência Reguladora.

Comentário:

Gabarito: Letra “D”

40
Essa é, com efeito, a definição de empresa pública – dotada de personalidade jurídica de
direito privado, com a sua criação autorizada por lei e com patrimônio próprio, cujo capital
social é integralmente pertencente à União, aos Estados, ao Distrito Federal ou aos Municípios.

Questão 7

(VUNESP – 2018 – PC-BA – Escrivão de Polícia) Pessoas jurídicas de direito privado cuja
criação é autorizada por lei para prestação de serviço público ou para exploração de atividade
econômica são

A) Fundações ou autarquias fundacionais


B) Consórcios públicos
C) Serviços sociais autônomos
D) Empresas públicas e sociedades de economia mista
E) Agências executivas.

Comentário:

Gabarito: Letra “D”.


A empresa pública é a pessoa jurídica criada por força de autorização legal como
instrumento de ação do Estado, dotada de personalidade jurídica de Direito Privado, mas
submetida a certas regras especiais decorrentes da finalidade pública que persegue.
Por outro lado, a sociedade de economia mista é a pessoa jurídica cuja criação é
autorizada por lei. Possui personalidade jurídica de direito privado e submetida a regras
especiais decorrentes de sua finalidade pública.

41
Questão 8

(VUNESP – 2018 – PC-SP – Escrivão de Polícia Civil) A Administração Indireta compreende as


seguintes entidades, dotadas de personalidade jurídica própria

A) Autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista


B) Agências executivas, fundações de apoio e serviços sociais autônomos.
C) Autarquias, fundações, organizações sociais e empresas públicas.
D) Agências reguladoras, empresas públicas e Polícias Civil e Militar.
E) Autarquias, fundações e organizações sociais.

Comentário:

Gabarito: Letra “A”.


Essa resposta está no artigo 4o do Decreto-Lei 200/67:

"Art. 4° A Administração Federal compreende:

(...)

II - A Administração Indireta, que compreende as seguintes categorias de entidades,


dotadas de personalidade jurídica própria:

a) Autarquias;

b) Empresas Públicas;

c) Sociedades de Economia Mista.

d) fundações públicas."

42
Questão 9

(FEPESE – 2017 – PC-SC – Agente de Polícia Civil) Não constitui característica das sociedades
de economia mista:

A) São criadas por autorização de lei

B) Adotam a forma de sociedade anônima

C) São pessoas jurídicas de direito público

D) Controle acionário pertencente ao Poder Público

E) Têm como objetivo a exploração de atividades econômicas ou a prestação de serviços.

Comentário:

Gabarito: “C”.
De todas as afirmações trazidas, a única que não é uma característica da sociedade
de economia mista é a letra “C”.
Elas são pessoas jurídicas de direito privado.

43
Questão 10

(CESPE – 2014 – PF – Agente de Polícia Federal) No que se refere à organização

administrativa e a agentes públicos, julgue o item a seguir.

O Cargo de dirigente de empresa pública e de sociedade de economia mista é regido pela

Consolidação das Leis do Trabalho (CLT)

( ) Certo

( ) Errado.

Comentário:

Gabarito: Errado.

Os dirigentes das empresas públicas e das sociedades de economia mista são de


livre nomeação pelos Chefes do Poder Executivo. Assim, exercem cargos em comissão, não se
submetendo às regras da CLT.

44
GABARITO

Questão 1 - Errado

Questão 2 - Certo

Questão 3 - Certo

Questão 4 - Certo

Questão 5 – D

Questão 6 - D

Questão 7 - D

Questão 8 - A

Questão 9 - C

Questão 10 - Errado

45
QUESTÃO DESAFIO

Sobre os Serviços Sociais Autônomos (SSA), qual tipo de serviço


público desempenham? Qual sua forma de remuneração? Precisam

realizar concurso?

Máximo de 5 linhas

46
GABARITO DA QUESTÃO DESAFIO

Trata-se de pessoa jurídica de direito privado, criada por lei e voltado para assistência e
ensino a certas categorias sociais ou grupos profissionais. São mantidas por dotações
orçamentárias ou por contribuições parafiscais e não realizam concurso público.

Você deve ter abordado necessariamente os seguintes itens em sua resposta:

 pessoa jurídica de direito privado. saúde e ensino

Está dentro do grupo de chamado de "entes em colaboração".

Hely Lopes Meirelles define que: “São todos aqueles instituídos por lei, com personalidade de
direito privado, para ministrar assistência e ensino a certas categorias sociais ou grupos
profissionais, sem fins lucrativos, sendo mantidos por dotações orçamentárias ou por
contribuições parafiscais".

Esta definição está também evidente no art. 1º da lei n. 8.246/91, vejamos:

"Art. 1º : É o Poder Executivo autorizado a instituir o Serviço Social Autônomo Associação das
Pioneiras Sociais, pessoa jurídica de direito privado sem fins lucrativos, de interesse coletivo e
de utilidade pública, com o objetivo de prestar assistência médica qualificada e gratuita a
todos os níveis da população e de desenvolver atividades educacionais e de pesquisa no
campo da saúde, em cooperação com o Poder Público."

Fonte: MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro, 35. ed., São Paulo: Malheiros,
2010, p. 216.

 CONTRIBUIÇÕES PARAFISCAIS + RECURSOS PÚBLICOS

Segundo Lincínia Rossi, os serviços sociais autônomos não prestam serviço público delegado
pelo Estado, apenas realizam atividade privada de interesse público que o Estado resolveu
incentivar e subvencionar. Exercem serviços não exclusivos do Estado, e são incentivados pelo
Poder Público por meio de CONTRIBUIÇÕES PARAFISCAIS.

47
É o que se depreende da leitura de alguns dispositvos da lei 8.246/91, vejamos:

"Art. 3º Competirá ao Ministério da Saúde supervisionar a gestão do Serviço Autônomo


Associação Sociais, observadas as seguintes normas:

III - observado o disposto nesta lei, o Ministério da Saúde e a Secretaria da Administração


Federal definirão os termos do contrato de gestão, que estipulará objetivamente prazos e
responsabilidades para sua execução e especificará, com base em padrões internacionalmente
aceitos, os critérios para avaliação do retorno obtido com a aplicação dos recursos repassados
ao Serviço Social Autônomo Associação das Pioneiras Sociais, atendendo ao quadro
nosológico brasileiro e respeitando a especificidade da entidade;

IV - o orçamento-programa do Serviço Social Autônomo Associação das Pioneiras Sociais para


a execução das atividades previstas no contrato de gestão será submetido anualmente ao
Ministério da Saúde;

V - a execução do contrato de gestão será supervisionada pelo Ministério e fiscalizada pelo


Tribunal de Contas da União, que verificará, especialmente, a legalidade, legitimidade,
operacionalidade e a economicidade no desenvolvimento das respectivas atividades e na
conseqüente aplicação dos recursos repassados ao Serviço Social Autônomo Associação das
Pioneiras Sociais, que será avaliada com base nos critérios referidos no inciso III deste artigo;"

Assim, segundo Alexandrino, os SSa's "São mantidos por recursos oriundos de contribuições
sociais de natureza tributária, recolhidas compulsoriamente pelos contribuintes definidos em
lei, bem como mediante dotações orçamentárias do poder público.".

Ou seja, a contribuição das pessoas que utilizam os serviços, por ter natureza tributária, tem
que ter previsão em lei para ser cobrada. Ademais, o professor ressalta o fato de que, por
receber recursos públicos, esses entes do terceiro setor sofrem fiscalização do TCU.

Fonte:

48
ALEXANDRINO, Marcelo - Direito Administrativo Descomplicado. 19ª. Ed.- São Paulo: Método,
2017. p. 152.

ROSSI, Licínia. Manual de direito administrativo / Licinia Rossi. – 6. ed. – São Paulo : Saraiva
Educação, 2020. p.485.

49
LEGISLAÇÃO COMPILADA

Organização Administrativa:

 Decreto-Lei nº 200/67: íntegra

Administração Direta:

 CRFB/88: art. 84, IV

Agências Executivas:

 Lei 9649/98: íntegra

Agências Reguladoras:

 Lei 9986/00: íntegra

Consócios Públicos:

 Lei 11.107/05

Empresas Estatais
 CFRB/88: art. 173
 Lei 13.303/2016
 Súmulas STF: 556 e 517

50
JURISPRUDÊNCIA

Agências Reguladoras:

 EMENTA: ADMINISTRATIVO. EXECUÇÃO FISCAL. AGÊNCIA NACIONAL DE


TRANSPORTES TERRESTRES. ANTT. MULTA.

1. Consoante precedentes do STJ, as agências reguladoras foram criadas no


intuito de regular, em sentido amplo, os serviços públicos, havendo previsão
na legislação ordinária delegando à agência reguladora competência para a
edição de normas e regulamentos no seu âmbito de atuação. Dessarte, não há
ilegalidade configurada na espécie na aplicação da penalidade pela ANTT, que
agiu no exercício do seu poder regulamentar/disciplinar, amparado na Lei
10.233/2001. 2. Com respeito ao art. 489, § 1º, IV, do CPC/2015, a irresignação não
merece prosperar, uma vez que o Tribunal de origem não emitiu juízo de valor
sobre o dispositivo legal cuja ofensa se aduz. Incidência, por analogia, da Súmula
282/STF. 3. Recurso Especial não provido. (STJ - Acórdão Resp 1635889 / Rs,
Relator(a): Min. Herman Benja, data de julgamento: 06/12/2016, data de publicação:
19/12/2016, 2ª Turma)

Empresas Estatais

 EMENTA: ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL.


SERVIDOR PÚBLICO. REGIME CELETISTA. EMPRESA PÚBLICA E SOCIEDADE DE
ECONOMIA MISTA. EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS-ECT.

51
CONTAGEM DE TEMPO DE SERVIÇO PARA TODOS OS EFEITOS. ANUÊNIOS.
IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 83/STJ.
1. É cediço o entendimento do Superior Tribunal de Justiça de que o tempo de
serviço prestado às empresas públicas e sociedades de economia mistas,
integrantes da Administração Pública Indireta, somente pode ser computado para
efeitos de aposentadoria e disponibilidade. Precedentes do STJ. 2. Inviável o
Recurso Especial se o acórdão recorrido se alinha com o posicionamento
sedimentado na jurisprudência do STJ, nos termos da Súmula 83/STJ. 3. Recurso
Especial não provido. (STJ - Acórdão Resp 1717194 / Sp, Relator(a): Min. Herman
Benja, data de julgamento: 24/04/2018, data de publicação: 21/11/2018, 2ª Turma)

 EMENTA: AGRAVO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA.


DESERÇÃO DE RECURSO. EMPRESA PÚBLICA PRESTADORA DE SERVIÇOS DE SAÚDE.
PRERROGATIVAS DA FAZENDA PÚBLICA. NÃO EXTENSÃO. Conforme já registrado
por esta Relatora na decisão agravada, esta Corte Superior entende que as
empresas públicas e sociedades de economia mista integrantes da administração
pública indireta, caso da reclamada Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares -
EBSERH, não são contempladas pelas prerrogativas típicas da Fazenda Pública, não
havendo que se falar em isenção das despesas processuais, permanecendo
submetidas ao regime jurídico próprio de empresas privadas, na forma do art. 173, §
1º, II, da Constituição Federal. Óbice da Súmula 333 do TST e do art. 896, § 7º, da
CLT. Agravo não provido. (TST - Acórdão Ag-airr - 413-83.2016.5.19.0006, Relator(a):
Min. Maria Helena Mallmann, data de julgamento: 21/08/2018, data de publicação:
24/08/2018, 2ª Turma)

Fundação Pública

 EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO PELO


RECLAMANTE. RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DA LEI Nº

52
13.015/2014. FUNDAÇÃO PARA O REMÉDIO POPULAR - FURP. NATUREZA JURÍDICA.
FUNDAÇÃO PÚBLICA. FUNDAÇÃO DE DIREITO PRIVADO QUE EXERCE ATIVIDADE DE
INTERESSE PÚBLICO. APLICAÇÃO DOS PRIVILÉGIOS CONTIDOS NO DECRETO-LEI Nº
779/1969 E NO ARTIGO 790-A DA CLT.
O Regional consignou que a Fundação para o Remédio Popular - Furp é uma
fundação pública criada por lei estadual. Ressalta-se, ainda, que não há registros de
que a reclamada explora atividade econômica, a tornar inaplicável o disposto no
artigo 173 da Constituição Federal. Verifica-se, nesse contexto, que os elementos
caracterizadores da fundação pública estão presentes. A par disso, esta Corte tem
reiteradamente reconhecido a natureza pública da Fundação reclamada. Dessa
forma, segundo entendimento firmado nesta Corte, a fundação para o Remédio
Popular - FURP, criada e mantida pelo Poder Público, sem finalidade lucrativa,
detém os privilégios contidos nos artigos 1º do Decreto-Lei nº 779/69 e 790-A da
CLT, sendo inexigíveis o depósito recursal e as custas como pressuposto de
recorribilidade (precedentes).
Agravo de instrumento desprovido.
AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO PELA
RECLAMADA, FUNDAÇÃO PARA O REMÉDIO POPULAR - FURP
RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.015/2014.
PARCELA DENOMINADA "SEXTA PARTE". CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE SÃO
PAULO. SERVIDORES PÚBLICOS CELETISTAS.
A decisão regional foi proferida em consonância com a jurisprudência sedimentada
nesta Corte, consubstanciada na Orientação Jurisprudencial Transitória nº 75 da
SbDI-1, que dispõe: "PARCELA ' SEXTA PARTE' . ART. 129 DA CONSTITUIÇÃO DO
ESTADO DE SÃO PAULO. EXTENSÃO AOS EMPREGADOS DE SOCIEDADE DE
ECONOMIA MISTA E EMPRESA PÚBLICA. INDEVIDA. (DEJT divulgado em 02, 03 e
04.08.2010). A parcela denominada - sexta parte -, instituída pelo art. 129 da
Constituição do Estado de São Paulo, é devida apenas aos servidores estaduais,
celetistas e estatutários da Administração Pública direta, das fundações e das
autarquias, conforme disposição contida no art. 124 da Constituição Estadual, não se
estendendo aos empregados de sociedade de economia mista e de empresa

53
pública, integrantes da Administração Pública indireta, submetidas ao regime
jurídico próprio das empresas privadas, nos termos do art. 173, § 1º, II, da
Constituição Federal". O art. 129 da Constituição do Estado de São Paulo, ao
mencionar servidores públicos estaduais, não traçou nenhuma distinção do regime
de admissão, se estatutário ou celetista, para efeito de seu alcance. No caso, a
reclamada é fundação pública de direito público que contratou o autor sob o
regime celetista, portanto se estende ao reclamante a parcela denominada "sexta
parte", prevista na Constituição estadual.
Agravo de instrumento desprovido. (TST - Acórdão Airr - 1001863-
45.2013.5.02.0322, Relator(a): Min. José Roberto Freire Pimenta, data de julgamento:
07/06/2017, data de publicação: 09/06/2017, 2ª Turma)

54
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARVALHO FILHO, José dos Santos. MANUAL DE DIREITO ADMINSITRAVO. 30 Ed. São
Paulo: Atlas, 2016.

CARVALHO, Matheus. MANUAL DE DIREITO ADMINSITRAVO. 3 ed. Salvador: JusPODIVM,


2016.

MAZZA, Alexandre. MANUAL DE DIREITO ADMINSITRAVO – 9. ed. – São Paulo: Saraiva


Educação, 2019.

OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende. CURSO DE DIREITO ADMINISTRATIVO. 5 ed. Rio de


Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2017.

PIETRO, Maria Sylvia Zanella Di. DIREITO ADMINISTRATIVO. 32. ed. rev. atual e ampl. – Rio
de Janeiro: Forense, 2019.

55
CARREIRAS POLICIAIS

Direito Administrativo
Capítulo 4
SUMÁRIO
DIREITO ADMINISTRATIVO ........................................................................................................................................... 2

1. Entidades Paraestatais e Terceiro Setor .......................................................................................................... 2

1.1 Introdução ................................................................................................................................................................ 2

1.2 Serviço Social Autônomo................................................................................................................................... 4

1.3 Entidades de apoio .............................................................................................................................................. 6

1.4 Organizações Sociais (OS) ................................................................................................................................. 9

1.5 Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) ...................................................... 12

1.6 Organização da Sociedade Civil (OSC) ..................................................................................................... 17

QUADRO SINÓTICO ...................................................................................................................................................... 23

QUESTÕES COMENTADAS ........................................................................................................................................ 29

GABARITO ........................................................................................................................................................................... 39

LEGISLAÇÃO COMPILADA............................................................................................................................................ 44

JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................................................................. 45

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................................. 54

1
DIREITO ADMINISTRATIVO

Capítulo 4

1. Entidades Paraestatais e Terceiro Setor

1.1 Introdução

Caro leitor, você verá que esse capítulo é um pouco menos extenso que os demais.
Tudo isso por uma razão: não é um tema muito cobrado para Carreiras Policiais. Porém, por
estar previsto nos editais para agente, escrivão e investigador de polícia, faremos a abordagem
do tema de forma precisa, mas com muita didática. Ao final, você encontrará questões dos
últimos dez anos para praticar. Dada a sua escassez, complementamos com outras provas de
carreiras jurídicas em geral, totalizando 10 (dez) questões totalmente voltadas para o seu
estudo. Vamos nessa?

As entidades do terceiro setor, também chamadas de entidades paraestatais são


particulares em colaboração com o Poder Público, sem fins lucrativos, na prestação de
serviços públicos não exclusivos, mas de cunho social. Por essa razão recebem incentivos do
Poder Público.

As entidades paraestatais são:

2
SERVIÇO
SOCIAL
AUTÔNOMO

ORGANIZAÇÃO
ORGANIZAÇÃO DA
OSCIP
SOCIEDADE
SOCIAL (OS)
CIVIL (OSC)

ENTIDADES
DE APOIO

As entidades do terceiro setor não integram a estrutura administrativa como entes da


Administração Direta ou Indireta.

Antes de iniciarmos o estudo dos entes que compõem o terceiro setor, é


importante destacar os setores da economia.

O primeiro setor é composto pelos entes da Administração Pública Direta e


Indireta, que prestam os serviços sem qualquer espécie de finalidade lucrativa, praticando
todos os seus atos, visando a garantir o bem-estar de toda a coletividade;
O segundo setor é destinado para a atuação dos particulares na obtenção de lucro.
Ainda que se trate de setor da economia em que predomina o princípio da livre iniciativa na

3
busca do lucro, a atividade privada na economia se sujeita à regulamentação e fiscalização do
ente estatal, como forma de evitar prejuízos à sociedade.

No terceiro setor da economia, que é o nosso objetivo de estudo nessa parte do


capítulo, estão presentes as entidades privadas que atuam, sem finalidade lucrativa, visando
garantir o interesse da sociedade, executando atividades de interesse social.

E finalmente o quarto setor que é representado pela economia informal. Trata-se


de uma tentativa da iniciativa privada de se eximir do pagamento de tributos e encargos
legais.

Agora que você já tem conhecimento dos conceitos iniciais, vamos iniciar o estudo
individualizado das entidades paraestatais.

1.2 Serviço Social Autônomo


O serviço social autônomo compreende as entidades particulares criadas por
autorização legal para execução de atividades de interesse do Estado, admitindo-se que
sejam constituídas sob a forma de associação ou fundação, ou, ainda, por meio de
estruturas não previstas no Direito Civil e reguladas pela lei específica da entidade.

É o chamado sistema "s" e inclui entidades como: o SESI (Serviço Social da


Indústria), SESC (Serviço Social do Comércio), SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem
Industrial), SENAC (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial), entre outras criadas por
meio de autorização legislativa.

Essas entidades não prestam serviço público delegado pelo Estado, mas atividade
de interesse público (serviços não exclusivos do Estado). É por esse motivo que são

4
incentivadas pelo Poder Público. A atuação estatal, no caso, é de fomento e não de prestação
de serviço público.

Vale lembrar que o fomento1 abrange a atividade administrativa de incentivo à


iniciativa privada de utilidade pública. Muitas vezes o fomento abrange o repasse de verbas
orçamentárias, a cessão de servidores públicos, a permissão para utilização de bens públicos,
entre outras modalidades.

Para auxiliar a execução de suas atividades, o poder público lhes transfere a capacidade
tributária. Com efeito, os entes do serviço social autônomo gozam de parafiscalidade, que é
a transferência do poder de cobrar tributos, chamada capacidade tributária.

A competência tributária que é a competência para criar tributos é intransferível e indelegável.


Só sendo possível a transferência do poder de se cobrar tributos, designada como capacidade
tributária.

Essas entidades se mantém de contribuições parafiscais ou diretamente por recursos


públicos. As contribuições parafiscais são espécie de tributo instituídos exclusivamente para o
custeio de entidades privadas que prestam serviços de relevante interesse social.

Por trata-se de entidades privada, não gozam de privilégios administrativos, sejam


eles fiscais, processuais ou contratuais.

Ademais, tais entidades do sistema "S” devem seguir regramento próprio para
contratações2, respeitando os princípios de licitações da Lei 8.666/93.

1
Vide Capítulo 1
2
Vide questão 7
5
Ponto importante que merece destaque é sobre o foro competente para as causas
que envolvem as entidades do serviço social autônomo: tais causas devem tramitar na justiça
estadual. Neste sentido, a súmula 516, do Supremo Tribunal Federal estabelece que "O
Serviço Social da Indústria (SESI) está sujeito a jurisdição da justiça estadual".

No que tange ao regime de pessoal, os empregados destas entidades são regidos


pela Consolidação das Leis do Trabalho e não dependem de concurso público de provas
ou de provas e títulos para ingresso em suas atividades.

Apesar de não serem considerados servidores públicos e nem dependerem de concurso


público para contratação, os empregados destas entidades são considerados agentes
públicos, amplamente considerados, inclusive para fins penais e para fins de aplicação da lei
de improbidade administrativa (lei 8.429/92).

1.3 Entidades de apoio

As entidades de apoio são particulares que atuam ao lado de hospitais e


Universidades Públicas, auxiliando no exercício da atividade destas entidades, por meio da
realização de programas de pesquisa e extensão em atividades não exclusivas de estado e
sem finalidade lucrativa e podem ser constituídas sob a forma de fundações, associações e
cooperativas.

As ações propostas em face destas entidades devem tramitar na justiça estadual,


ainda que estejam atuando junto a uma entidade pública federal, por se tratarem de
particulares, não integrantes da Administração Pública.

6
A criação destas entidades é feita por particulares, e não mediante lei, muitas vezes pelos
próprios servidores do órgão ou entidade pública, com recursos privados para executarem
atividades de interesse social daquele ente estatal. Por isso, não se sujeitam à realização de
procedimento licitatório, nem a concurso público para contratação de pessoal.

O vínculo com o Poder Público é formalizado através de convênio que inclui a


destinação de valores públicos, a cessão de bens públicos e a cessão de servidores.

Cumpre mencionar que quanto às entidades que atuam ao lado de Instituições


Federais de Ensino Superior (IFES) e de Instituição de Ciência e Tecnologia (ICT) federais, a
regulamentação se dá por meio da Lei 8.958/94 e suas alterações. Já quanto às entidades de
apoio junto aos hospitais públicos não há previsão legal.

Alguns aspectos importantes regulamentados pela Lei 8.958/94 merecem destaque.


São eles:

 Vedação ao enquadramento no conceito de desenvolvimento


institucional, quando financiadas com recursos repassados pelas IFES e
demais ICTs às fundações de apoio, de atividades como manutenção predial
ou infraestrutural, conservação, limpeza, vigilância, reparos, copeiragem,
recepção, secretariado, serviços administrativos na área de informática,
gráficos, reprográficos e de telefonia e demais atividades administrativas de
rotina, bem como as respectivas expansões vegetativas, inclusive por meio
do aumento no número total de pessoal e outras tarefas que não estejam

7
objetivamente definidas no Plano de Desenvolvimento Institucional da
instituição apoiada;
 Vedação a subcontratação total do objeto dos ajustes realizados pelas IFES
e demais ICTs com as fundações de apoio, bem como a subcontratação
parcial que delegue a terceiros a execução do núcleo do objeto
contratado;
 Contratação de fundações de apoio, pelas IFES e ICTs, com dispensa de
licitação fundamentada no artigo 24, XIII, da Lei nº 8.666/93, para dar
apoio a projetos de ensino, pesquisa e extensão e de desenvolvimento
institucional, científico e tecnológico, inclusive na gestão administrativa e
financeira estritamente necessária à execução desses projetos;
 As IFES e ICTs podem autorizar a participação de seus servidores nas
atividades realizadas pelas fundações, referidas no artigo 1º, sem a criação
de vínculo de emprego, sendo vedado aos servidores públicos federais a
referida participação durante a jornada de trabalho a que estão sujeitos,
excetuada a colaboração esporádica, remunerada ou não, em assuntos de
sua especialidade, de acordo com as normas aprovadas pelo órgão de
direção superior competente; também é vedada essa contratação para
atender a necessidades de caráter permanente das IFES e ICTs;
 Exigência de divulgação, pela Rede Mundial de Computadores, dos
instrumentos contratuais, dos relatórios semestrais de execução dos
contratos, da relação dos pagamentos efetuados a servidores ou agentes
públicos com base nos contratos;
 Possibilidade de concessão de bolsas de ensino, pesquisa e extensão e de
estímulo à inovação, pelas fundações de apoio aos alunos de graduação e
pós-graduação e aos servidores vinculados a projetos institucionais das IFES
e ICTs);
 Vedação do pagamento, pelas IFES e ICTs, de débitos contraídos pelas
fundações de apoio e a assunção de responsabilidade a qualquer título,
em relação ao pessoal por estas contratados;

8
 Possibilidade de as fundações de apoio utilizarem bens e serviços das IFES
e ICTs, pelo prazo estritamente necessário à elaboração e execução do
projeto.

1.4 Organizações Sociais3 (OS)

As organizações sociais são particulares, sem fins lucrativos, regulamentadas pela


Lei 9.637/98, para prestação de serviços públicos não exclusivos de Estado, tais como
ensino, pesquisa científica, desenvolvimento tecnológico, proteção e preservação do meio
ambiente, entre outros definidos na própria lei4.

Assim como as demais entidades paraestatais, não integram a estrutura da


Administração Pública direta ou indireta, não dependendo de lei para a sua criação.

Não obstante não sejam delegatárias de serviços públicos e atuarem em nome


próprio sob o regime de direito privado, pelo fato de executarem atividades de interesse
social, sem escopo de lucro, estas organizações recebem auxílio do ente estatal de diversas
formas e, consequentemente, se sujeitam a algumas restrições impostas à fazenda pública. Em
relação à contratação com terceiros, o Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ADI
1923/DF, apontou que é válida a contratação sem a realização de procedimento licitatório,
desde que conduzidas de forma pública, objetiva e impessoal, com observância dos princípios
do art. 37, caput da Constituição Federal, e nos termos do regulamento próprio a ser editado
por cada entidade.

O fomento pelo Poder Público poderá abranger as seguintes medidas:

 Destinação de recursos orçamentários e bens necessários ao cumprimento do


contrato de gestão, mediante permissão de uso, com dispensa de licitação;
 Cessão especial de servidores públicos, com ônus para a origem;

3
Vide questão 02
4
Vide questão 8
9
 Dispensa de licitação nos contratos de prestação de serviços celebrados entre
a Administração Pública e a organização social.

Em verdade, Organização Social é a qualificação jurídica dada a pessoa jurídica de


direito privado, sem fins lucrativos, instituída por iniciativa de particulares, e que recebe
delegação do Poder Público, mediante contrato de gestão, para desempenhar serviço público
de natureza social.

Nenhuma entidade nasce com o nome de organização social; a entidade é criada pela
iniciativa privada como associação ou fundação e, habilitando-se perante o Poder Público,
recebe a qualificação; trata-se de título jurídico outorgado e cancelado pelo Poder Público.

Sobre o contrato de gestão pontua-se que é o instrumento firmado entre o Poder


Público e a entidade qualificada como organização social, com vistas à formação de parceria
entre as partes para fomento e execução de atividades relativas às áreas de ensino, pesquisa
científica, desenvolvimento tecnológico, proteção e preservação do meio ambiente, cultura e
saúde e deve especificar o programa de trabalho proposto pela organização social, estipular
as metas a serem atingidas, os respectivos prazos de execução, bem como os critérios
objetivos de avaliação de desempenho, inclusive mediante indicadores de qualidade e
produtividade.

A execução do contrato de gestão será supervisionada pelo órgão ou entidade


supervisora da área de atuação correspondente à atividade fomentada; o controle que sobre
ela se exerce é de resultado, sendo feito mediante análise por comissão de avaliação indicada
pela autoridade supervisora, de relatório apresentado periodicamente pela entidade, contendo

10
comparativo específico das metas propostas com os resultados alcançados, acompanhado da
prestação de contas correspondente ao exercício financeiro.

Ressalta-se que a entidade poderá ser desqualificada como organização social,


pela perda do título, quando descumprir as normas do contrato de gestão.

A lei estabelece alguns requisitos para que esta entidade privada sem fins lucrativos
possa se qualificar como organização social, mediante a celebração do contrato de gestão,
sendo pressuposto básico a aprovação, baseado na conveniência e na oportunidade – sendo
por isso, um ato discricionário – da qualificação como organização social, do Ministro ou
titular de órgão supervisor ou regulador da área de atividade correspondente ao seu objeto
social e do Ministro de Estado da Administração Federal e Reforma do Estado.

Ainda, é indispensável a comprovação do registro de seu ato constitutivo, sendo


que este registro deve dispor sobre:

 Natureza social de seus objetivos relativos à respectiva área de atuação,


permitida em lei;
 Finalidade não-lucrativa, com a obrigatoriedade de investimento de seus
excedentes financeiros no desenvolvimento das próprias atividades, não
podendo haver distribuição de lucro entre seus dirigentes;
 Previsão expressa de a entidade ter, como órgãos de deliberação superior e
de direção, um conselho de administração e uma diretoria definidos nos
termos do estatuto, asseguradas àquele composição e atribuições normativas e
de controle básicas previstas na legislação;
 Previsão de participação, no órgão colegiado de deliberação superior, de
representantes do Poder Público, bem como de membros da comunidade, de
notória capacidade profissional e idoneidade moral;
 Composição da diretoria e atribuições dos seus membros;
 Obrigatoriedade de publicação anual, no Diário Oficial da União, dos
relatórios financeiros e do relatório de execução do contrato de gestão;

11
 No caso de associação civil, a forma e critério de aceitação de novos
associados, na forma do estatuto;
 Proibição de distribuição de bens ou de parcela do patrimônio líquido em
qualquer hipótese, inclusive em razão de desligamento, retirada ou falecimento
de associado ou membro da entidade, sob pena de se caracterizar divisão de
lucro;
 Previsão de incorporação integral do patrimônio, dos legados ou das doações
que lhe foram destinados, bem como dos excedentes financeiros decorrentes
de suas atividades, em caso de extinção ou desqualificação, ao patrimônio de
outra organização social qualificada no âmbito da União, da mesma área de
atuação, ou ao patrimônio da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos
Municípios, na proporção dos recursos e bens por estes alocados.

Acerca do controle exercido sobre essas entidades, cabe mencionar que além do
controle executado pelos órgãos da Administração Direta, o controle financeiro e contábil
deverá ser realizado pelo Tribunal de Contas.

1.5 Organização da Sociedade Civil de Interesse Público


(OSCIP)

As Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público, também conhecidas como


OSCIPs, são particulares, sem finalidade lucrativa, tenham sido constituídas e se encontrem
em funcionamento regular há, no mínimo, 3 (três) anos, criadas para prestação de serviços
públicos não exclusivos de Estados, nas áreas definidas legalmente, como por exemplo: de
promoção da assistência social, promoção da cultura, defesa e conservação do patrimônio
histórico e artístico, promoção gratuita da educação e da saúde, promoção da segurança
alimentar e nutricional, defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do
desenvolvimento sustentável, entre outras.

12
Assim como a OS, a OSCIP é uma qualificação e esta poderá ser perdida
qualificação a pedido ou mediante decisão proferida em processo administrativo, no qual será
assegurada a ampla defesa e o contraditório.

É vedada a qualificação de uma mesma entidade como OS e OSCIP simultaneamente.

O vínculo entre as OSCIPs e o Poder Público é obtido por meio da celebração de


termo de parceria5, destinado à formação de vínculo de cooperação entre as partes, para o
fomento e a execução das atividades de interesse público. Esse termo discriminará direitos,
responsabilidades e obrigações das partes signatárias.

A celebração do Termo de Parceria será precedida de consulta aos Conselhos de Políticas


Públicas das áreas correspondentes de atuação existentes, nos respectivos níveis de governo.

A Lei nº 9.790/99 - lei que regulamenta essas entidades - veda, expressamente, a


celebração de termo de parceria com algumas entidades privadas, ainda que estas não
tenham finalidade lucrativa. São elas:

 As sociedades comerciais;

5
Vide questão 9
13
 Os sindicatos, as associações de classe ou de representação de categoria
profissional6;
 As instituições religiosas ou voltadas para a disseminação de credos, cultos,
práticas e visões devocionais e confessionais;
 As organizações partidárias e assemelhadas, inclusive suas fundações;
 As entidades de benefício mútuo destinadas a proporcionar bens ou serviços a
um círculo restrito de associados ou sócios;
 As entidades e empresas que comercializam planos de saúde e assemelhados;
 As instituições hospitalares privadas não gratuitas e suas mantenedoras;
 As escolas privadas dedicadas ao ensino formal não gratuito e suas
mantenedoras;
 As organizações sociais;
 As cooperativas;
 As fundações públicas;
 As fundações, sociedades civis ou associações de direito privado criadas por
órgão público ou por fundações públicas;
 As organizações creditícias que tenham quaisquer tipo de vinculação com o
sistema financeiro nacional.

Ainda sobre o termo de parceria, deve-se mencionar que este deve respeito a
algumas cláusulas obrigatórias:

 O objeto, que conterá a especificação do programa de trabalho proposto pela


Organização da Sociedade Civil de Interesse Público;
 A definição de metas e dos resultados a serem atingidos e os respectivos
prazos de execução ou cronograma;
 Os critérios objetivos de avaliação de desempenho da entidade vinculada, a
serem utilizados, mediante indicadores de resultado;

6
Vide questão 6
14
 A previsão de receitas e despesas a serem realizadas em seu cumprimento,
estipulando item por item as categorias contábeis usadas pela organização e o
detalhamento das remunerações e benefícios de pessoal a serem pagos, com
recursos oriundos ou vinculados ao Termo de Parceria, a seus diretores,
empregados e consultores;
 As obrigações da Sociedade Civil de Interesse Público, entre as quais a de
apresentar ao Poder Público, ao término de cada exercício, relatório sobre a
execução do objeto do Termo de Parceria, contendo comparativo específico
das metas propostas com os resultados alcançados, acompanhado de
prestação de contas dos gastos e receitas efetivamente realizados;
 A obrigatoriedade de publicação, na imprensa oficial do Município, do Estado
ou da União, conforme o alcance das atividades celebradas entre o órgão
parceiro e a Organização da Sociedade Civil de Interesse Público, de extrato do
Termo de Parceria e de demonstrativo da sua execução física e financeira,
conforme modelo simplificado estabelecido em regulamento.

O termo permite a destinação de valores públicos, mediante dotação orçamentária,


com liberação destes recursos em conta bancária específica, não havendo a previsão de
cessão de servidores e bens públicos. Também não há dispensa de licitação expressa em
lei, o que justifica a necessidade de licitar para as contratações celebradas com terceiros para
execução de suas atividades.

É importante destacar que para a celebração do termo de parceria, não há


necessidade de realização de procedimento licitatório, eis que o vínculo tem natureza jurídica
de convênio.

15
O termo de parceria é ato vinculado do poder público. Por essa razão, caso a entidade
cumpra os requisitos da legais para a qualificação como OSCIP, a Administração não pode
negar o vínculo.

Cumpre destacar que quando houver mais de um interessado na celebração do


termo de parceria, a Administração Pública deverá realizar um procedimento simplificado
para a escolha da entidade, o chamado concurso de projetos regulamentado pelo Decreto
3.100/99.

As OSCIPs ficam sujeitas ao controle financeiro e orçamentário exercido pelo


Tribunal de Contas, além do acompanhamento e fiscalização do termo de parceria por órgão
do Poder Público da área de atuação correspondente à atividade, e pelos Conselhos de
Políticas Públicas das áreas correspondentes de atuação existentes, em cada nível de governo.

As organizações da sociedade civil de interesse público devem constituir conselho


fiscal, dotado de competência para opinar sobre os relatórios de desempenho financeiro e
contábil, e sobre as operações patrimoniais realizadas, emitindo pareceres para os organismos
superiores da entidade.

A composição desse conselho não exige a presença de representantes do poder


público, sendo somente permitida a participação de servidores públicos na sua composição,
vedada a percepção de remuneração ou subsídio, a qualquer título.

16
1.6 Organização da Sociedade Civil (OSC)

A Organização da Sociedade Civil, conhecida também como OSC, é uma pessoa


jurídica de direito privado, sem fins lucrativos que não distribui, entre os seus sócios ou
associados, eventuais resultados auferidos mediante o exercício de suas atividades e
celebram com o Poder Público termos de colaboração, termo de fomento, ou acordo de
cooperação, regulamentada pela Lei nº 13.019/20147.

O termo de colaboração deve ser adotado pela administração pública em caso de


transferências voluntárias de recursos para consecução de planos de trabalho propostos pela
administração pública, em regime de mútua cooperação com organizações da sociedade civil.
Já o termo de fomento é celebrado para consecução de planos de trabalho propostos pelas
organizações da sociedade civil. Ambos os acordos envolvem transferência de recursos
financeiros do poder público ao particular.

O acordo de cooperação é o instrumento por meio do qual são formalizadas as parcerias


estabelecidas pela administração pública com organizações da sociedade civil para a
consecução de finalidades de interesse público e recíproco que não envolvam a transferência
de recursos financeiros.

Saliente-se que o termo de fomento e o termo de colaboração somente


produzirão efeitos jurídicos após a publicação dos respectivos extratos no meio oficial de
publicidade da administração pública.

7
Vide questão 10
17
O plano de trabalho, que constará como anexo do termo de colaboração, do termo
de fomento ou do acordo de cooperação como parte integrante e indissociável, deve
constar, por imposição legal:

 Descrição da realidade que será objeto da parceria, devendo ser demonstrado


o nexo entre essa realidade e as atividades ou projetos e metas a serem
atingidas;
 Descrição de metas a serem atingidas e de atividades ou projetos a serem
executados;
 Revisão de receitas e de despesas a serem realizadas na execução das
atividades ou dos projetos abrangidos pela parceria;
 Forma de execução das atividades ou dos projetos e de cumprimento das
metas a eles atreladas;
 Definição dos parâmetros a serem utilizados para a aferição do cumprimento
das metas.

A celebração dos termos de colaboração ou de fomento será precedida de


procedimento simplificado de escolha, o chamamento público, como forma de com de
garantir a impessoalidade e a isonomia na escolha da entidade privada.

O procedimento de chamamento público seguirá as seguintes etapas:

PUBLICAÇÃO
DO EDITAL NO
SITE DO ÓRGÃO

CLASSIFICAÇÃO
DA PROPOSTA
PELA COMISSÃO

HABILITAÇÃO
DA ENTIDADE

ENCERRAMENTO

18
 Publicação do Edital:

O edital do chamamento público deve ser divulgado em página do site oficial do


órgão ou entidade, com antecedência mínima de trinta dias e deve conter como requisitos
mínimos: a programação orçamentária que autoriza e viabiliza a celebração da parceria; o
objeto da parceria; as datas, os prazos, as condições, o local e a forma de apresentação das
propostas; as datas e os critérios de seleção e julgamento das propostas, inclusive no que se
refere à metodologia de pontuação e ao peso atribuído a cada um dos critérios estabelecidos,
se for o caso; o valor previsto para a realização do objeto; as condições para interposição de
recurso administrativo; de acordo com as características do objeto da parceria, medidas de
acessibilidade para pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida e idosos.

 Classificação das propostas:

As propostas serão julgadas por uma comissão de seleção composta por agentes
públicos, designados por ato publicado em meio oficial de comunicação, sendo, pelo menos,
2/3 (dois terços) de seus membros servidores ocupantes de cargos permanentes do
quadro de pessoal da administração pública realizadora do certame, ou constituída pelo
respectivo conselho gestor, se o projeto for financiado com recursos de fundos específicos.

Fica impedida de participar da comissão pessoa que, nos últimos 5 (cinco) anos, tenha
mantido relação jurídica com, ao menos, uma das entidades em disputa.

19
O critério de julgamento a ser utilizado será o grau de adequação da proposta
aos objetivos específicos do programa ou ação em que se insere o tipo de parceria e ao valor
de referência constante do chamamento.
 Habilitação:

Para a celebração do termo de colaboração ou do termo de fomento, a entidade


interessada, sem fins lucrativos, deverá comprovar, no mínimo, um, dois ou três anos de
existência, com cadastro ativo, comprovados por meio de documentação emitida pela
Secretaria da Receita Federal do Brasil, com base no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica-
CNPJ, admitida a redução desses prazos por ato específico de cada ente na hipótese de
nenhuma organização atingi-los.

Deverá comprovar também a experiência prévia na realização do objeto da


parceria ou de natureza semelhante e a capacidade técnica operacional para o
desenvolvimento das atividades previstas e o cumprimento das metas estabelecidas.

No caso de acordo de cooperação, basta a comprovação da entidade de que


possui objetivos voltados à promoção de atividades e finalidades de relevância pública e
social.

 Encerramento:

Finalizada a seleção, o certame é encaminhado para a autoridade responsável para


homologação. A administração pública homologará e divulgará o resultado do julgamento em
página do sítio oficial da administração pública na internet ou sítio eletrônico oficial
equivalente.

20
A homologação não gera o direito de celebração da parceria.

Há que se mencionar que em algumas situações, a lei prevê a possibilidade de


dispensa ou inexigibilidade da seleção.

A inexigibilidade decorre de situação em que demonstre a inviabilidade de


competição. Nesse sentido a lei indica que será o chamamento inexigível em razão da
natureza singular do objeto da parceria ou se as metas somente puderem ser atingidas por
uma entidade específica, especialmente quando: (i) o objeto da parceria constituir
incumbência prevista em acordo, ato ou compromisso internacional, no qual sejam indicadas
as instituições que utilizarão os recursos; e (ii) a parceria decorrer de transferência para
organização da sociedade civil que esteja autorizada em lei na qual seja identificada
expressamente a entidade beneficiária, inclusive quando se tratar da subvenção prevista
no inciso I do § 3º do art. 12 da Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964, observado o disposto
no art. 26 da Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000.

Não se trata de um rol taxativo, eis que sempre que houver inviabilidade de
competição haverá a inexigibilidade do certame.

Já a dispensa ocorre em casos nos quais a competição é viável, mas é preferível


realizar firmar o acordo diretamente. Por isso, a lei define um rol exaustivo de hipóteses de
dispensa.

É dispensável o chamamento público, nos seguintes casos:

21
 Urgência decorrente de paralisação ou iminência de paralisação de atividades
de relevante interesse público, pelo prazo de até cento e oitenta dias;
 Guerra, calamidade pública, grave perturbação da ordem pública ou ameaça à
paz social;
 Quando se tratar da realização de programa de proteção a pessoas
ameaçadas ou em situação que possa comprometer a sua segurança; e
 Atividades voltadas ou vinculadas a serviços de educação, saúde e assistência
social, desde que executadas por organizações da sociedade civil previamente
credenciadas pelo órgão gestor da respectiva política.

Em casos de dispensa ou inexigibilidade, deverá ser instaurado um processo


administrativo no qual o ente público apresente uma justificativa dos motivos que ensejaram a
celebração direta do termo, sendo que o extrato da justificativa deve ser publicado, pelo
menos, 5 (cinco) dias antes da formalização da parceria, no site oficial da administração
pública e, eventualmente, a critério do administrador público no Diário oficial.

Frisa-se que é possível a impugnação à justificativa de dispensa ou inexigibilidade,


devendo ser formulada em até 5 (cinco) dias a contar de sua publicação.

22
QUADRO SINÓTICO

ENTIDADES PARAESTATAIS E TERCEIRO SETOR

INTRODUÇÃO

As entidades do terceiro setor ou ainda entidades paraestatais são particulares em


colaboração com o Poder Público, sem fins lucrativos, na prestação de serviços públicos não
exclusivos e não integram a estrutura administrativa.

Primeiro setor: composto pelos entes da Administração Pública Direta e


Indireta, que prestam os serviços sem qualquer espécie de finalidade
lucrativa.
Segundo setor: destinado para a atuação dos particulares na obtenção de
Setores da
lucro.
Economia
Terceiro setor: estão presentes as entidades privadas que atuam, sem
finalidade lucrativa, visando garantir o interesse da sociedade, executando
atividades de interesse social.
Quarto setor: é representado pela economia informal.

ENTIDADES EM ESPÉCIE

SERVIÇO SOCIAL AUTÔNOMO (SISTEMA “S)

São entidades particulares criadas por autorização legal para execução de


atividades de interesse do Estado, admitindo-se que sejam constituídas
Conceito
sob a forma de associação ou fundação, ou, ainda, por meio de estruturas
não previstas no Direito Civil e reguladas pela lei específica da entidade.

23
é a transferência do poder de cobrar tributos, chamada
capacidade tributária. Essas entidades se mantém de
Parafiscalidade:
contribuições parafiscais ou diretamente por recursos
públicos.

Devem seguir regramento próprio para contratações,


Contração respeitando os princípios de licitações da Lei 8.666/93.

Foro de As causas que envolvem tais entidades devem tramitar na


competência justiça estadual.

Características
São regidos pela CLT e não dependem de concurso
público de provas ou de provas e títulos para ingresso em
suas atividades.

Regime de Apesar de não serem considerados servidores públicos


Pessoal são considerados agentes públicos, amplamente
considerados, inclusive para fins penais e para fins de
aplicação da lei de improbidade administrativa (lei
8.429/92).

ENTIDADES DE POIO

São entidades particulares - a criação destas entidades é feita por


particulares e não mediante lei, muitas vezes pelos próprios servidores -
Conceito que atuam ao lado de hospitais e Universidades Públicas, sem finalidade
lucrativa e podem ser constituídas sob a forma de fundações, associações e
cooperativas.

Através de convênio que inclui a destinação de valores


Vínculo com o
Características públicos, a cessão de bens públicos e a cessão de
Poder Público
servidores.

24
As ações propostas em face destas entidades devem
Foro tramitar na justiça estadual, ainda que estejam atuando
Competente junto a uma entidade pública federal, por se tratarem de
particulares, não integrantes da Administração Pública.

Contratação Não se sujeitam à realização de procedimento licitatório

Regime de A contratação de pessoal não precisa de concurso


Pessoal público

ORGANIZAÇÃO SOCIAIS (OS)

É uma qualificação jurídica, ato discricionário, dada a pessoa jurídica de


direito privado, sem fins lucrativos, instituída por iniciativa de particulares,
regulamentadas pela lei 9.637/98, para prestação de serviços públicos não
Conceito
exclusivos de Estado, tais como ensino, pesquisa científica, desenvolvimento
tecnológico, proteção e preservação do meio ambiente, entre outros
definidos na própria lei.

Contrato de gestão: que é um instrumento firmado com


vistas à formação de parceria entre as partes para fomento
e execução de atividades relativas às áreas de ensino,
pesquisa científica, desenvolvimento tecnológico, proteção
e preservação do meio ambiente, cultura e saúde.
Características Vínculo com o
A execução do contrato de gestão será supervisionada
Poder Público pelo órgão ou entidade supervisora da área de atuação
correspondente à atividade fomentada; o controle que
sobre ela se exerce é de resultado
A entidade poderá ser desqualificada como organização
social, pela perda do título, quando descumprir as
normas do contrato de gestão.

25
Destinação de recursos orçamentários e bens
necessários ao cumprimento do contrato de gestão,
mediante permissão de uso, com dispensa de licitação;
Cessão especial de servidores públicos, com ônus para a
Fomento
origem;
Dispensa de licitação nos contratos de prestação de
serviços celebrados entre a Administração Pública e a
organização social.

ORGANIZAÇÃO DA SOCIEDADE CIVIL DE INTERESSE PÚBLICO (OSCIP)

É uma qualificação dada a particulares, ato vinculado, sem finalidade


Conceito lucrativa, criadas para prestação de serviços públicos não exclusivos de
Estados, nas áreas definidas pela Lei nº 9.790/99.
Permite a destinação de valores
públicos, não havendo a previsão de
cessão de servidores e bens públicos.
A lei veda a celebração de termo de
parceria com algumas entidades
privadas.
Para a celebração do termo de parceria,
Vínculo com o Termo de
não há necessidade de realização de
Poder Público Parceria
Características procedimento licitatório, eis que o
vínculo tem natureza jurídica de convênio.
Quando houver mais de um interessado
na celebração do termo de parceria, a
Administração Pública deverá realizar um
procedimento simplificado: o chamado
concurso de projetos.
Ficam sujeitas ao controle financeiro e orçamentário
Controle
exercido pelo Tribunal de Contas.

26
Devem constituir conselho fiscal dotado de competência
para opinar sobre os relatórios de desempenho
financeiro e contábil, e sobre as operações patrimoniais
realizadas, emitindo pareceres para os organismos
superiores da entidade.
Conselho Fiscal
A composição desse conselho não exige a presença de
representantes do poder público, sendo somente
permitida a participação de servidores públicos na sua
composição, vedada a percepção de remuneração ou
subsídio, a qualquer título.

ORGANIZAÇÃO DA SOCIEDADE CIVIL (OSC)

É uma pessoa jurídica de direito privado, sem fins lucrativos que não
distribui, entre os seus sócios ou associados, eventuais resultados
Conceito
auferidos mediante o exercício de suas atividades, regulamentada pela Lei
nº 13.019/2014.
Adotado em caso de transferências
Termo de voluntárias de recursos para consecução
colaboração de planos de trabalho propostos pela
administração pública.
Vínculo com o Termo de Para a consecução de planos de trabalho
Poder Público Fomento propostos pelas OSC.
Para a consecução de finalidades de
Acordo de interesse público e recíproco que não
Características
Cooperação envolvam a transferência de recursos
financeiros.
Constará como anexo do termo de colaboração, do termo
de fomento ou do acordo de cooperação como parte
Plano de integrante e indissociável, deve possuir, por imposição
Trabalho legal:
 Descrição da realidade que será objeto da
parceria;

27
 Descrição de metas a serem atingidas e de
atividades ou projetos a serem executados;
 Revisão de receitas e de despesas;
 Forma de execução das atividades ou dos
projetos e de cumprimento das metas;
 Definição dos parâmetros a serem utilizados para
a aferição do cumprimento das metas.
A celebração dos termos de colaboração ou de fomento
será precedida de procedimento simplificado de escolha, o
chamamento público.
Publicação do Edital
Classificação das propostas
Fases
Habilitação
Encerramento
Quando
houver
Inexigibilidade inviabilidade
de
Chamamento competição.
Público
Ocorre em
casos nos
quais a
Contratação
competição é
Direta
viável, mas é
preferível
Dispensa
realizar firmar
o acordo
diretamente.
Por isso, a lei
define um rol
exaustivo.

28
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

(VUNESP – 2018 – PC-BA – Investigador de Polícia) Assinale a alternativa que corretamente


discorre sobre a Organização Administrativa.

A) Os serviços sociais autônomos não prestam serviço público delegado pelo Estado, mas
atividade privada de interesse público e, exatamente por isso, são incentivados pelo
poder público, sendo que, neste caso, a atuação estatal é de fomento e não de
prestação de serviço público. Não se trata de atividade que incumbisse ao Estado, como
serviço público, e que ele transferisse para outra pessoa jurídica, por meio do
instrumento da descentralização. Trata-se, isto sim, de atividade privada de interesse
público que o Estado resolveu incentivar e subvencionar.
B) Em relação às entidades paraestatais, fica muito clara a intenção de fugir ao seu
enquadramento entre as entidades da Administração Indireta e, em consequência, ao
regime jurídico imposto a elas como licitação, concurso público e controle. No entanto,
considerando que tais entidades administram, em regra, bens do patrimônio público,
inclusive dinheiro público, não é possível que fiquem inteiramente à margem de
determinados preceitos publicísticos, sob pena de burla aos preceitos constitucionais
que regem a Administração Pública.
C) Entidades de apoio são pessoas privadas que colaboram com o Estado desempenhando
atividade não lucrativa e às quais o Poder Público dispensa especial proteção,
colocando a serviço delas manifestações de seu poder de império, como o tributário,
por exemplo; não abrangem as entidades da Administração Indireta; trata-se de pessoas
privadas que exercem função típica (embora não exclusiva do Estado), como as de
amparo aos hipossuficientes, de assistência social, de formação profissional.
D) Por Organizações Sociais, pode-se entender as pessoas jurídicas de direito privado, sem
fins lucrativos, instituídas por servidores públicos, porém em nome próprio, sob a forma

29
de fundação, associação ou cooperativa, para a prestação, em caráter privado, de
serviços sociais não exclusivos do Estado, mantendo vínculo jurídico com entidades da
administração direta ou indireta, em regra por meio de convênio.
E) Organizações Sociais de Interesse Público são pessoas jurídicas de direito privado, sem
fins lucrativos, instituídas por iniciativa de particulares, para desempenhar serviços
sociais não exclusivos do Estado, com incentivo e fiscalização pelo Poder Público,
mediante vínculo jurídico instituído por meio de contrato de gestão.

Comentário:

Gabarito: Letra “A”.

Com efeito, é a única alternativa que discorre corretamente sobre os serviços sociais
autônomos. Vejamos o erro das demais assertivas:

B) Errada. Aqui, trata-se das organizações sociais em especial.

C) Incorreto, pois traz o conceito de entidades paraestatais de forma ampla, e não


para as entidades de apoio especificamente.

D) Incorreto. Essa é a definição das entidades de apoio.

E) Errado. O erro, nesse caso, está no fato de que o instrumento jurídico que serve
de qualificação para as OSCIPs é o termo de parceria e não o contrato de gestão.

30
Questão 2

(ACAFE – 2008 – PC-SC – Escrivão de Polícia Civil) Correlacione as colunas a seguir.

( 1 ) Autarquia
( 2 ) Empresa pública
( 3 ) União, Estados e Municípios
( 4 ) Órgãos públicos
( 5 ) Organizações sociais

( ) Unidades de atuação que englobam um conjunto de pessoas e meios materiais para


realizar uma atribuição predeterminada.

( ) Pessoas jurídicas de Direito Público interno, são entes políticos, dotados de estrutura
administrativa própria.

( ) Pessoas jurídicas de Direito Privado, sem fins lucrativos.

( ) Pessoa jurídica administrativa de Direito Público, com personalidade jurídica própria.

( ) Pessoa jurídica de Direito Privado.

A sequência correta, de cima para baixo, é:

A) 4 - 3 - 5 - 1 - 2

B) 2 - 1 - 4 - 5 - 3

C) 3 - 4 - 5 - 2 – 1

D) 5 - 1 - 3 - 2 - 4

31
Comentário:

Gabarito: Letra “A”. Essa é a ordem correta, que relaciona uma coluna com a outra
consoante requerido no enunciado.

Questão 3

(MPE-SC - 2019 - MPE-SC - Promotor de Justiça - Matutina) Podem qualificar-se como


Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público as pessoas jurídicas de direito privado
sem fins lucrativos que tenham sido constituídas e se encontrem em funcionamento regular
há, no mínimo, 3 (três) anos, desde que os respectivos objetivos sociais e normas estatutárias
atendam aos requisitos instituídos pela Lei n. 9.790/1999. Referida lei dispõe que é permitida a
participação de servidores públicos na composição de conselho ou diretoria de Organização
da Sociedade Civil de Interesse Público.

Certo

Errado

Comentário:

A questão está totalmente de acordo com o disposto na Lei 9.790/99, vejamos:

"Art. 1 Podem qualificar-se como Organizações da Sociedade Civil de Interesse


Público as pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrativos que tenham sido
constituídas e se encontrem em funcionamento regular há, no mínimo, 3 (três) anos, desde
que os respectivos objetivos sociais e normas estatutárias atendam aos requisitos instituídos
por esta Lei."

32
"Art. 4º. Parágrafo único. É permitida a participação de servidores públicos na
composição de conselho ou diretoria de Organização da Sociedade Civil de Interesse Público".

Questão 4

(CESPE – 2013 – PC-DF – Agente de Polícia) Membros da direção de entidades privadas que
prestem serviços sociais autônomos, a exemplo do Serviço Social da Indústria (SESI), estão
sujeitos a prestar contas ao Tribunal de Contas da União (TCU), haja vista receberem recursos
públicos provenientes de contribuições parafiscais.

( ) Certo

( ) Errado

Comentário:

Gabarito: Certo.

Com efeito, os integrantes do chamado “Sistema S” são entidades privadas, não


abarcadas pela Administração Pública, mas que são destinatárias de recursos públicos, e por
isso sujeitas ao controle pelo TCU (artigo 71, II, CF/88).

Questão 5

(Quadrix - 2019 - CRESS-GO - Agente Financeiro) Firmado o termo de parceria, as OSCIPs


deverão prestar contas ao tribunal ou conselho de contas da respectiva jurisdição dos recursos
e bens recebidos do Poder Público.

Certo
Errado

33
Comentário:

As OSCIPs ficam sujeitas ao controle financeiro e orçamentário exercido pelo


Tribunal de Contas, além do acompanhamento e fiscalização do termo de parceria por órgão
do Poder Público da área de atuação correspondente à atividade, e pelos Conselhos de
Políticas Públicas das áreas correspondentes de atuação existentes, em cada nível de governo.

Questão 6

(Quadrix - 2019 - CRESS-GO - Agente Financeiro) Os conselhos de fiscalização do exercício


profissional podem qualificar‐se como organizações da sociedade civil de interesse público
(OSCIPs), pois não se enquadram como associações de classe ou de representação de
categoria profissional.

Certo
Errado

Comentário:

A Lei nº 9.790/99 - lei que regulamenta essas entidades - veda, expressamente, a


celebração de termo de parceria com algumas entidades privadas, ainda que estas não
tenham finalidade lucrativa. Dentre elas estão os sindicatos, as associações de classe ou de
representação de categoria profissional.

34
Questão 7

(VUNESP - 2019 - Prefeitura de Guarulhos - SP - Inspetor Fiscal de Rendas -


Conhecimentos Gerais) Sobre as entidades que integram os Serviços Sociais Autônomos
(Sistema S), assinale a alternativa que está de acordo com o entendimento do Supremo
Tribunal Federal.
A) As entidades do “Sistema S” integram a Administração Direta, não possuindo autonomia
administrativa.
B) As entidades do “Sistema S” estão submetidas à exigência de concurso público para a
contratação de pessoal.
C) As entidades do “Sistema S” ostentam natureza de pessoa jurídica de direito público e
integram a Administração Pública.
D) As contratações feitas pelas entidades integrantes do “Sistema S” se submetem ao processo
licitatório disciplinado pela Lei nº 8.666/93.
E) As entidades do Sistema “S” têm natureza privada e possuem autonomia administrativa,
motivo pelo qual não se submetem ao processo licitatório disciplinado pela Lei nº 8.666/93.

Comentário:
As entidades do Sistema S são particulares e não integram a estrutura
Administrativa do Estado. Tais entidades não se submetem ao procedimento licitatório da Lei
8.666/93. Ressalte-se que, conforme mencionado no comentário da alternativa anterior, as
entidades do Sistema S devem observar os princípios básicos do procedimento licitatório para
suas contratações.

35
Questão 8

(FGV - 2019 - Prefeitura de Salvador - BA - Fiscal de Serviços Municipais) No terceiro setor


da economia estão presentes as entidades privadas, chamadas pela doutrina de paraestatais,
que atuam ao lado da Administração Pública, sem finalidade lucrativa e executam atividades
de interesse social.

Dentre elas, destacam-se as qualificadas como Organizações Sociais (OS`s) que, como disposto
na Lei nº 9.637/98,
A) possuem autonomia em seu órgão colegiado de deliberação superior, vedada a
participação de representantes do Poder Público e de membros da comunidade.
B) prestam serviços públicos não exclusivos do Estado, como ensino, pesquisa científica,
desenvolvimento tecnológico, proteção e preservação do meio ambiente, cultura e saúde.
C) dependem de prévia lei específica para serem criadas e promovem obrigatoriamente a
distribuição de bens e de parcela do patrimônio líquido a seus acionistas.
D) integram a Administração Indireta e possuem em seu estatuto objeto social relacionado
com as atividades que desempenharão após a celebração do convênio.
E) têm personalidade jurídica de direito público e estão habilitadas, estatutariamente, a prestar
serviços públicos essenciais compatíveis com o termo de parceria.

Comentário:

As organizações sociais são particulares, sem fins lucrativos, regulamentadas pela


Lei 9.637/98, para prestação de serviços públicos não exclusivos de Estado, tais como
ensino, pesquisa científica, desenvolvimento tecnológico, proteção e preservação do meio
ambiente, entre outros definidos na própria lei.

36
Questão 9

(VUNESP - 2019 - Câmara de Serrana - SP - Procurador Jurídico) A Lei nº 9.790/99, que


dispõe sobre a qualificação de pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, como
Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público, instituiu uma das principais inovações
no Terceiro Setor.

É correto afirmar que o enunciado se refere a um novo instrumento jurídico, denominado

A) protocolo de intenções.

B) acordo de leniência.

C) termo de parceria.

D) desapropriação indireta.

E) contrato de consórcio.

Comentário:

O vínculo entre as OSCIPs e o Poder Público é obtido por meio da celebração de


termo de parceria, destinado à formação de vínculo de cooperação entre as partes, para o
fomento e a execução das atividades de interesse público. Esse termo discriminará direitos,
responsabilidades e obrigações das partes signatárias.

37
Questão 10

(VUNESP - 2019 - Prefeitura de Arujá - SP - Advogado) Considere a seguinte hipótese: um


Advogado é instado a se manifestar sobre a possibilidade de uma parceria entre a
Administração Pública e um serviço social autônomo, alicerçada na Lei Federal n° 13.019/14.

O Advogado estará correto ao afirmar que

A) é possível a parceira com os serviços sociais autônomos, porém não é um caso de termo
de parceria, pois a legislação exige a elaboração de termo de colaboração.

B) a parceria com os serviços sociais autônomos poderá ser formalizada por meio de termo de
parceria que, de acordo com a legislação, deverá conter o relatório anual de execução de
atividades.

C) é possível a parceira com os serviços sociais autônomos, porém não é um caso de termo
de parceria, pois a legislação exige a elaboração de termo de fomento.

D) a parceria com os serviços sociais autônomos poderá ser formalizada por meio de termo
de parceria que, de acordo com a legislação, deverá conter o extrato da execução física e
financeira.

E) não se aplicam as exigências desta legislação às parcerias entre a Administração Pública e


os serviços sociais autônomos.

Comentário:

Lei 13.019/14 dispõe sobre o regime jurídico das parcerias entre a administração
pública e as organizações da sociedade civil. Sobre a hipótese mencionada no enunciado da
questão, o art. 3º, X, da referida lei estabelece que:

“Art. 3º Não se aplicam as exigências desta Lei: (...)

X - às parcerias entre a administração pública e os serviços sociais autônomos.”

38
GABARITO

Questão 1 - A

Questão 2 - A

Questão 3 - Certo

Questão 4 - Certo

Questão 5 - Certo

Questão 6 - Errado

Questão 7 - E

Questão 8 - B

Questão 9 - C

Questão 10 - E

39
QUESTÃO DESAFIO

Quais são os desdobramentos do princípio da proteção ao


trabalhador (ou princípio protetor)?

Máximo de 5 linhas

40
GABARITO DA QUESTÃO DESAFIO

São PJ's de direito privado sob a forma de fundação, associação ou cooperativa, despidas
de finalidade lucrativa, que exercem serviços não exclusivos relacionados à ciência,
pesquisa, saúde e educação. Realizam convênios com a Administração, tem dispensa de
licitação e contrata seu pessoal pela CLT.

Você deve ter abordado necessariamente os seguintes itens em sua resposta:

 fundações

As entidades de apoio, também pertencem ao terceiro setor e também são pessoas jurídicas
de direito privado, despidas de finalidade lucrativa, que exercem serviços não exclusivos
relacionados à ciência, pesquisa, saúde e educação.

Segundo Di Pietro, elas são "instituídas por servidores públicos, porém em nome próprio, sob
a forma de fundação, associação ou cooperativa", para a prestação de serviços não exclusivos,
mantendo vínculo jurídico com a Administração Pública (Direta ou Indireta) através de
convênios.

Relembre: As entidades de apoio prestam um SERVIÇO SOCIAL não exclusivo do Estado.


Prestam o mesmo serviço que uma entidade pública, mas não como serviço público delegada
pela Administração Pública: a atividade é prestada em CARÁTER PRIVADO.

Alexandrino aponta que elas não têm legislação específica, mas têm como legislação de apoio
a Lei 8.958/1994 preceitua que as fundações de apoio nela disciplinadas devem ser
constituídas sob a forma de fundações de direito privado (entidades não integrantes da
administração pública formal), sem fins lucrativos, regidas pelo Código Civil e por estatutos
cujas normas expressamente disponham sobre a observância dos princípios da legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade, economicidade e eficiência.

Então, vejamos o que preceitua o art. 1o desta lei:

41
"Art. 1o As Instituições Federais de Ensino Superior - IFES e as demais Instituições Científicas
e Tecnológicas - ICTs, de que trata a Lei nº 10.973, de 2 de dezembro de 2004, poderão
celebrar convênios e contratos, nos termos do inciso XIII do caput do art. 24 da Lei no 8.666,
de 21 de junho de 1993, por prazo determinado, com fundações instituídas com a finalidade
de apoiar projetos de ensino, pesquisa, extensão, desenvolvimento institucional, científico e
tecnológico e estímulo à inovação, inclusive na gestão administrativa e financeira necessária à
execução desses projetos. "

Fonte:

DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 23ª. Ed. – São Paulo: Atlas, 2010.

ALEXANDRINO, Marcelo - Direito Administrativo Descomplicado. 19ª. Ed.- São Paulo: Método,
2011. p.173.

 Têm dispensa de licitar e contratam CLT

Alexandrino resume que "Essas fundações de apoio são obrigadas a prévio registro e
credenciamento no Ministério da Educação e do Desporto e no Ministério da Ciência e
Tecnologia, renovável bienalmente. Estão sujeitas a fiscalização pelo Ministério Público, nos
termos do Código Civil e do Código de Processo Civil, e o seu pessoal é regido pela legislação
trabalhista, sem necessidade de concurso, mas observando todos os princípios da
administração (art. 37 da CF).

"Art. 2o As fundações a que se refere o art. 1o deverão estar constituídas na forma de


fundações de direito privado, sem fins lucrativos, regidas pela Lei no 10.406, de 10 de janeiro
de 2002 - Código Civil, e por estatutos cujas normas expressamente disponham sobre a
observância dos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade,
economicidade e eficiência, e sujeitas, em especial: II - à legislação trabalhista;"

Segundo a Lei 8.958/1994, essas instituições podem celebrar convênios e contratos, nos
termos do inciso XIII do art. 24 da Lei 8.666/1993, por prazo determinado, com as fundações
ora em tela. O mencionado dispositivo da Lei 8.666/1993 caracteriza como hipótese de

42
licitação dispensável a contratação de instituição brasileira incumbida regimental ou
estatutariamente da pesquisa, do ensino ou do desenvolvimento institucional.

Assim, é hipótese de dispensa de licitação a contratação dessas fundações de pesquisa.

Fonte:

ALEXANDRINO, Marcelo - Direito Administrativo Descomplicado. 19ª. Ed.- São Paulo: Método,
2011. p. 173.

43
LEGISLAÇÃO COMPILADA

Serviço Social Autônomo:

 STF: súmula 516

Entidades de Apoio:
 Lei 8.958/94: íntegra

Organizações Sociais:
 Lei 9.637/98: íntegra

Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público:

 Lei nº 9.790/99: íntegra

Concurso de Projetos:
 Decreto 3.100/99: íntegra

Organizações da Sociedade Civil:


 Lei 13.019/2014: íntegra

44
JURISPRUDÊNCIA

Serviço Social Autônomo:

 RECURSO DE REVISTA. ENTE DE COOPERAÇÃO. SERVIÇO SOCIAL AUTÔNOMO -


SISTEMA "S". SENAC. INEXIGÊNCIA PRÉVIA APROVAÇÃO EM CONCURSO PÚBLICO
PARA CONTRATAÇÃO DE PESSOAL. 1. Ao julgamento do Recurso Extraordinário (RE)
RE-789874, em 17.09.2014, a matéria, que teve repercussão geral reconhecida, foi
dirimida pelo Supremo Tribunal Federal no sentido de que "as entidades que compõem
os serviços sociais autônomos, por possuírem natureza jurídica de direito privado e não
integrarem a administração indireta, não estão sujeitas à exigência constitucional do
concurso público, ainda que desempenhem atividades de interesse público em
cooperação com o Estado". Precedentes de todas as Turmas e da SBDI-II do TST. 2.
Incidência do art. 896, §7º (§4º vigente à época) da CLT e a Súmula 333 do TST,
restando ilesos o art. 37, II, e parágrafo 2º, da CF/88, bem como superados os arestos
trazidos a cotejo. Recurso de revista não conhecido. (TST - Acórdão Rr - 105700-
52.2008.5.03.0138, Relator(a): Min. Hugo Carlos Scheuermann, data de julgamento:
28/10/2015, data de publicação: 03/11/2015, 1ª Turma)

 AGRAVO EM RECURSO DE REVISTA COM AGRAVO. 1. SERVIÇOS SOCIAIS AUTÔNOMOS.


INTEGRANTES DO SISTEMA "S". DISPENSA IMOTIVADA. IMPOSSIBILIDADE. MOTIVAÇÃO
EXIGIDA EM NORMA INTERNA. DEFICIÊNCIA DE APARELHAMENTO. 2. MULTA PELA
OPOSIÇÃO DE EMBARGOS DE DECLARAÇÃO PROTELATÓRIOS. DEFICIÊNCIA DE
APARELHAMENTO. Impõe-se confirmar a decisão agravada, uma vez que as razões
expendidas pela agravante não se mostram suficientes a demonstrar o apontado
equívoco em relação à conclusão nela esposada.

45
 Agravo conhecido e não provido. (TST - Acórdão Ag-arr - 433-47.2016.5.08.0017,
Relator(a): Min. Hugo Carlos Scheuermann, data de julgamento: 08/08/2018, data de
publicação: 10/08/2018, 1ª Turma)

 AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA.


SERVIÇOS SOCIAIS AUTÔNOMOS. INTEGRANTES DO SISTEMA "S". DISPENSA
IMOTIVADA. IMPOSSIBILIDADE. ARGUMENTOS INOVATÓRIOS. Impõe-se confirmar a
decisão agravada, mediante a qual denegado seguimento ao agravo de instrumento,
uma vez que as alegações expendidas pelo agravante não se mostram suficientes a
demonstrar o apontado equívoco em relação a tal conclusão.
Agravo regimental conhecido e não provido. (TST - Acórdão Agr-airr - 5798-
03.2010.5.06.0000, Relator(a): Min. Hugo Carlos Scheuermann, data de julgamento:
03/05/2017, data de publicação: 05/05/2017, 1ª Turma)

 RECURSO DE REVISTA. APELO INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DA LEI N.º 13.015/2014.


SERVIÇOS SOCIAIS AUTÔNOMOS. SISTEMA "S". PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO
PRIVADO. ENTES NÃO INTEGRANTES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.
RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA. DESNECESSIDADE DE COMPROVAR CULPA IN
VIGILANDO. Os Serviços Sociais Autônomos são pessoas jurídicas de direito privado e
não integram a Administração Pública, conforme decidido pelo STF no RE 789.874-DF,
com repercussão geral. Logo, não é necessário demonstração de culpa in vigilando
para imputar a eles reponsabilidade subsidiária em caso terceirização de serviços. Incide,
regularmente, o item IV da Súmula n.º 331 do TST. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.
AUSÊNCIA DE ASSISTÊNCIA DO SINDICATO. No processo do trabalho, a ausência da
assistência do sindicato impede o deferimento dos honorários advocatícios, conforme
entendimento pacificado pelas Súmulas n.os 219 e 329 e, ainda, pela OJ n.º 305 da
SBDI-1 do TST. Recurso de Revista parcialmente conhecido e provido. (TST - Acórdão Rr
- 255-13.2014.5.04.0104, Relator(a): Min. Maria de Assis Calsing, data de julgamento:
13/04/2016, data de publicação: 15/04/2016, 4ª Turma)

46
Entidades de Apoio:

 ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CONVÊNIO ENTRE ESTADO DA FEDERAÇÃO E


ENTIDADE DE APOIO. EXECUÇÃO DE PROJETO DE CAPACITAÇÃO COMUNITÁRIA EM
VÁRIOS MUNICÍPIOS DO ESTADO. RECURSOS ADVINDOS DO MINISTÉRIO DA
PREVIDÊNCIA SOCIAL. ATOS DE IMPROBIDADE. INOCORRÊNCIA. NÃO COMPROVAÇÃO
DE DANOS AO ERÁRIO. MERAS IRREGULARIDADES FORMAIS NA CONTRATAÇÃO DE
SERVIÇOS. IMPROCEDÊNCIA DA AÇÃO.
1 - Não obstante constasse de cláusula contratual que caberia ao Coordenador do
Projeto Alvorada o controle e a fiscalização do mencionado convênio, é de ser afastada
a imputação da prática de ato de improbidade que lhe é feita, haja vista que não existiu
qualquer negligência de sua parte no exercício do seu mister.
2 - Se houve ilegalidade na escolha da Entidade de Apoio para a execução do convênio,
à míngua da prévia pesquisa de mercado ou a realização de qualquer outro critério de
seleção previsto em lei, a responsabilização pela prática de tal ilegalidade administrativa
deve ser atribuída ao agente público que celebrou o questionado convênio, ou seja, o
próprio Secretário do Trabalho e Ação Social do Estado da Paraíba (SETRAS), que, por
não integrar a presente lide, não pode ter a sua conduta examinada nestes autos.
3 - Conquanto a IN/STN 01/97 previsse que a entidade convenente deveria adotar
medidas análogas àquelas contidas na Lei nº 8.666/93, não se pode falar que
mencionada entidade privada, ao contratar serviços e bens para o cumprimento do
objeto do respectivo convênio, deixou de observar os ditames da Lei nº 8.666/93, pois,
à época do ajuste, não havia determinação expressa sobre as medidas análogas
referidas no parágrafo único do art. 27 da mencionada Instrução Normativa, de modo a
definir a correta conduta a ser adotada pela entidade ré.
4 - A exigência da incidência da Lei nº 8.666/93, quando a contratação envolvesse a
aplicação de recursos públicos, ainda que geridos por particular, tornou-se taxativa
somente após o Acórdão nº 1070/2003 do TCU, que determinou ao Secretário da
Secretaria do Tesouro Nacional/STN que adequasse a redação do art. 27 da
mencionada IN/STN ao disposto no art.37, inciso XXI, da Constituição Federal.

47
5 - Reveste-se de razoabilidade, portanto,a alegação de que a Entidade de Apoio ré,
através de seu representante legal,não agiu de má-fé quando da contratação daqueles
serviços necessários à execução do objeto conveniado, motivo pelo qual não deve ser
acolhida a imputação de prática de ato de improbidade feita à mencionada entidade
privada e ao seu representante legal.
6 - O fato de as notas fiscais e os recibos emitidos não detalharem claramente os
beneficiários e/ou objetivos do convênio configuram mera irregularidade formal, e não
ato de improbidade administrativa, pois em momento algum se pôs em dúvida a
prestação efetiva dos serviços descritos naqueles documentos ou se alegou que os
valores nele constantes tenham sido desviados.
7 - Não constitui ato de improbidade a não juntada de documentos originais na
prestação de contas, uma vez que o art. 30 da IN/STN n° 01/97 não obsta que dita
prestação de contas seja efetuada através de cópias autenticadas. Como, in casu, o
Relatório da Auditoria esclareceu se os documentos não originais correspondem a
cópias não autenticadas, nem tampouco o MPF fez juntar a estes autos a prestação de
contas alusiva ao convênio em questão, não se pode averiguar se as questionadas
cópias estavam ou não em desconformidade com o referido dispositivo legal,
afastando-se, portanto, qualquer imputação aos réus da prática de ato de improbidade.
8 - O pagamento referente aos serviços de cópias/encadernações, sem constar de
forma clara o teor da matéria reproduzida, configura mera irregularidade formal, haja
vista que os auditores estaduais não glosaram o valor pago à gráfica contratada (R$
8.241,00), diante do que se conclui que não houve desvio de recursos ou prejuízo para
o erário, destacando-se, ainda, que a prova testemunhal confirmou a distribuição de
apostilas nos cursos ministrados.
9 - As exigências feitas pelas autoridades administrativas à entidade ré, consistentes na
apresentação de um relatório detalhado e minucioso de todas as atividades
desenvolvidas em função do objeto do convênio, por meio da utilização dos veículos,
constituem rigor demasiado, em razão da impossibilidade de verificar-se em que
condições e lugares se deu cada quilômetro rodado pelos veículos, até porque tal
registro não se tratou de uma exigência prévia do convênio, nem tampouco se encontra
prevista na IN/STN 01/97. Ademais, restou comprovado nos autos que alunos,

48
participantes daquele Programa, freqüentaram os cursos em municípios diversos
daqueles em que residiam, tendo, inclusive, confirmado que foram transportados para o
local onde o curso foi ministrado através de carros locados pela entidade ré.
10 - A terceirização do objeto pactuado no mencionado Convênio por parte da
entidade ré não configurou ato de improbidade,na medida em que não existiu, no
mencionado instrumento, vedação expressa à subcontratação, como também inexiste
proibição legal neste sentido, a teor do disposto no art.72, da Lei nº 8.666/93.
11 - A exigência de documentação que comprove a otimização dos recursos na
consecução dos resultados conquistados revela-se genérica, não sendo possível
identificar que tipo de documento serviria a tal fim, nem tampouco os auditores
indicaram em que norma tal exigência estariaprevista.
- Apelações desprovidas. (TRF5 - Acórdão Ac - Apelação Civel 200782000051905,
Relator(a): Des. Lazaro Guimarães, data de julgamento: 22/10/2013, data de publicação:
25/10/2013, 4ª Turma)

Organizações Sociais (OS):

 AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. FUNCIONÁRIO PÚBLICO POR


EQUIPARAÇÃO. DIRIGENTE DE ORGANIZAÇÃO SOCIAL. CRIME CONTRA A
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. 1. Associação civil qualificada como Organização Social é
considerada entidade paraestatal para os fins do disposto no § 1º do artigo 327 do
Código Penal, o que torna legítima a qualificação de seus dirigentes, para efeitos
penais, como funcionários públicos por equiparação. 2. O Instituto Candango de
Solidariedade - ICS, enquanto ostentou a condição de Organização Social, constituiu
entidade paraestatal, enquadrando-se no disposto no § 1º do artigo 327 do Código
Penal. 3. Os ocupantes de cargo, emprego ou função no Instituto em referência
respondem pela prática de crimes contra a Administração Pública. 4. Agravo
regimental conhecido e não provido. (STF - Acórdão Hc 131672 Agr / Df - Distrito

49
Federal, Relator(a): Min. Rosa Weber, data de julgamento: 05/10/2018, data de
publicação: 16/10/2018, 1ª Turma)
 RECURSO DE REVISTA. ACÓRDÃO PUBLICADO ANTES DA VIGÊNCIA DA LEI Nº
13.015/2014. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. SAÚDE PÚBLICA. TERCEIRIZAÇÃO LÍCITA DE
SERVIÇOS. CONTRATO DE GESTÃO. ORGANIZAÇÃO SOCIAL PARA GERENCIAR
HOSPITAL PÚBLICO. LEI Nº 9.637/98. LEGALIDADE. Cinge-se a controvérsia acerca da
legalidade de órgão público conceder à pessoa jurídica qualificada como organização
social, por meio de contrato de gestão, o poder de contratar e gerenciar trabalhadores
não concursados, para exercerem atividade em hospital sediado em terreno público,
que utiliza a estrutura pública, inclusive bens, para prestação dos serviços. A
jurisprudência desta Corte, seguindo a orientação dada pela Suprema Corte, já se
manifestou sobre a legalidade dos convênios firmados com entidades privadas para a
prestação de serviços inerentes à saúde. Incidem, portanto, a Súmula nº 333 desta Corte
e o art. 896, § 7º, da CLT como óbices ao prosseguimento da revista, a pretexto da
alegada ofensa aos dispositivos apontados, bem como da divergência jurisprudencial
transcrita. Recurso de revista não conhecido. (TST - Acórdão Rr - 1928-
26.2010.5.02.0043, Relator(a): Min. Breno Medeiros, data de julgamento: 16/05/2018,
data de publicação: 25/05/2018, 5ª Turma)

 AGRAVO DE INSTRUMENTO. MUNICÍPIO DE AMERICANA/SP. CONTRATO DE GESTÃO


COM ORGANIZAÇÃO SOCIAL (OS). ÁREA DA SAÚDE PÚBLICA. RESPONSABILIDADE
SOLIDÁRIA. DESCUMPRIMENTO DO ART. 896, "A", DA CLT. O processamento do
recurso de revista está adstrito à demonstração de divergência jurisprudencial (art. 896,
alíneas a e b, da CLT) ou violação direta e literal de dispositivo da Constituição da
República ou de lei federal (art. 896, c, da CLT). Não demonstrada nenhuma das
hipóteses do art. 896 da CLT, não há como reformar o r. despacho agravado. Agravo de
Instrumento de que se conhece e a que se nega provimento. (TST - Acórdão Airr -
10532-63.2015.5.15.0099, Relator(a): Min. Cilene Ferreira Amaro Santos, data de
julgamento: 20/06/2018, data de publicação: 22/06/2018, 6ª Turma)

50
 PROCESSUAL CIVIL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. ENUNCIADO ADMINISTRATIVO
3/STJ. AÇÃO ORDINÁRIA. POLO PASSIVO. ESTADO-MEMBRO E ASSOCIAÇÃO CIVIL
DE DIREITO PRIVADO. QUALIFICAÇÃO COMO ORGANIZAÇÃO SOCIAL.
IRRELEVÂNCIA PARA A DEFINIÇÃO DA COMPETÊNCIA. DESENQUADRAMENTO DA
PARTE NO ROL DO ART. 109, INCISO I, DA CF. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA COMUM
ESTADUAL. 1. A teor do art. 109, inciso I, da Constituição da República, compete à
justiça federal processar e julgar causas em que a União, entidade autárquica ou
empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes
ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à
Justiça

Eleitoral e à Justiça do Trabalho. 2. A mera qualificação de pessoa jurídica de direito


privado, sem fins lucrativos, como organização social, na forma do art. 1.º da Lei
9.637/1998, não ocasiona a transformação da personalidade jurídica nem a
caracteriza como ente público de mesma índole daqueles com os quais celebra o
contrato de gestão. 3. Compete à justiça comum estadual processar e julgar a
ação ordinária proposta em face do Estado de Santa Catarina e do Centro Brasileiro
de Pesquisa em Avaliação e Seleção e de Promoção de Eventos (Cebraspe), que
tem natureza de associação civil de direito privado, em razão da condição de
organizadoras e de executoras de concurso público para o provimento de cargos
públicos estaduais. 4. Conflito conhecido para julgar competente o suscitado, Juízo de
Direito da 3.ª Vara da Fazenda Pública de Florianópolis. (STJ - Acórdão Cc 149985 / Sc,
Relator(a): Min. Mauro Campbell Marques, data de julgamento: 14/12/2016, data de
publicação: 19/12/2016, 1ª Seção)

Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP):

 AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO SOB A ÉGIDE DA LEI 13.015/14. ENTE PÚBLICO.


SÚMULA 331, V, DO TST. TERMO DE PARCERIA. OSCIP. Extrai-se do acórdão regional
que a empregadora da reclamante é pessoa jurídica de direto privado, a qual realizou
termo de parceria com o Poder Público, caracterizando-se, portanto, como OSCIP, nos

51
termos da Lei 9.790/99. Não é possível atribuir ao ente público, que firma parceria com
OSCIP, imunidade trabalhista com base na Lei 8.666/1993, que sequer guarda estreita
pertinência com o caso de parceria estatal com organizações sociais. O que se deve
aferir em tais circunstâncias é se foram observados os princípios consagrados no art. 4º,
I, da Lei 9.790/99, que são os mesmos insertos no caput do art. 37 da Constituição
Federal. O reconhecimento, em abstrato, de impossibilidade da condenação da
Administração Pública a título subsidiário contraria o ditado por esta Corte em sua
jurisprudência pacífica, consubstanciada no item V da Súmula 331. Identificadas as
premissas fáticas para a aplicação da responsabilidade subsidiária não cabe seu
afastamento apenas ao fundamento de ser vedada a responsabilização da entidade
pública com amparo na Lei 8.666/1993, a qual, reitere-se, não disciplina o termo de
parceria firmado com OSCIP. Agravo de instrumento não provido. (TST - Acórdão Airr -
1343-93.2016.5.10.0801, Relator(a): Min. Augusto César Leite de Carvalho, data de
julgamento: 14/03/2018, data de publicação: 16/03/2018, 6ª Turma)

 AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. RECURSO DE REVISTA


INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.015/2014 E REGIDO PELO CPC/2015 E PELA
INSTRUÇÃO NORMATIVA N° 39/2016 DO TST. RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA DO
ENTE PÚBLICO PELAS OBRIGAÇÕES TRABALHISTAS DO EMPREGADOR CONTRATADO.
TERMO DE PARCERIA. OSCIP (ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL DE INTERESSE
PÚBLICO). LEI Nº 9.790/99. A controvérsia dos autos envolve termo de parceria firmado
entre o Município e a OSCIP para a prestação de serviços na área de esportes, nos
termos da Lei nº 9.790/99. A citada lei permite que pessoas jurídicas de direito privado,
sem fins lucrativos, sejam enquadradas como Organizações da Sociedade Civil de
Interesse Público (OSCIP) pelo Poder Público e, assim, sejam contratadas, por meio de
convênio/parceria. Observa-se que a celebração de termo de parceria não se confunde
com a hipótese de incidência da Lei nº 8.666/93, uma vez que não há licitação para a
contratação de empresas prestadoras de serviços. Ocorre que a contratação de uma
OSCIP, por meio de celebração de termo de parceria/convênio, não basta para excluir a
responsabilidade do ente público pelas verbas rescisórias devidas ao empregado
contratado diretamente pela OSCIP. O dever de fiscalização do ente público, em razão

52
do contrato firmado com uma OSCIP, está previsto na própria Lei nº 9.790/99. A citada
lei não exime a Administração Pública de fiscalizar a parceria firmada; pelo contrário,
traz previsão expressa quanto à necessidade e à forma de fiscalização, além das
medidas a serem adotadas nas situações em que se detectar desvio de recursos ou
bens públicos. Nesse contexto, conclui-se que a negligência do ente público na
fiscalização do cumprimento do termo de parceria, no que se refere aos direitos
trabalhistas dos empregados contratados pela organização parceira, acarreta a sua
responsabilidade pelas obrigações trabalhistas devidas. Na hipótese dos autos, verifica-
se que o Tribunal de origem, com base no conjunto probatório, concluiu ter havido
culpa do ente público porque não cumprido o dever de fiscalização, nos termos da lei.
Considerou, ainda, que, no caso dos autos, não remanesceu o objetivo principal do
convênio que é a cooperação. Tais premissas fáticas são suficientes para a manutenção
da decisão em que se condenou o Município reclamado a responder, de forma
subsidiária, pela satisfação das verbas e demais direitos objeto da condenação. Desse
modo, diante do quadro fático delineado pelo Regional, uma vez caracterizada a culpa
in vigilando do ente público, não há como afastar a condenação subsidiária que lhe foi
imposta. Agravo de instrumento desprovido. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL.
AUSÊNCIA DE PAGAMENTO DE SALÁRIOS. DESNECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO DE
PREJUÍZO. DANO IN RE IPSA. No caso, o Regional consignou que "a primeira reclamada
deixou de pagar os salários de outubro, novembro e saldo salarial de dezembro, de
2012". O empregado oferece sua força de trabalho, em troca de pagamento
correspondente para a sua sobrevivência. Se não recebe seus salários na época
aprazada, fica impedido de arcar com os custos de sua subsistência e de sua família.
Frisa-se que o salário possui natureza alimentar e é extremamente fácil inferir o abalo
psicológico ou constrangimento sofrido por aquele que não possui condições de saldar
seus compromissos na data estipulada, porque não recebeu seus salários em dia.
Nessas circunstâncias, é presumível que o empregado se sentia inseguro e apreensivo,
pois não sabia se receberia seu salário no prazo legal. Portanto, o reiterado ato ilícito
praticado pela reclamada acarreta dano moral in re ipsa, que dispensa comprovação da
existência e da extensão, sendo presumível em razão do fato danoso - não recebimento
dos salários na época certa. Dessa forma, não se cogita da necessidade de o reclamante

53
comprovar que o não pagamento dos seus salários teria acarretado prejuízo psicológico
e íntimo ou afetado sua imagem e honra. Decisão regional que não merece reparos.
Agravo de instrumento desprovido. (TST - Acórdão Airr - 1321-86.2012.5.15.0073,
Relator(a): Min. José Roberto Freire Pimenta, data de julgamento: 29/08/2018, data de
publicação: 31/08/2018, 2ª Turma)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARVALHO FILHO, José dos Santos. MANUAL DE DIREITO ADMINSITRAVO. 30 Ed. São
Paulo: Atlas, 2016.

CARVALHO, Matheus. MANUAL DE DIREITO ADMINSITRAVO. 3 ed. Salvador: JusPODIVM,


2016.

MAZZA, Alexandre. MANUAL DE DIREITO ADMINSITRAVO – 9. ed. – São Paulo: Saraiva


Educação, 2019.

OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende. CURSO DE DIREITO ADMINISTRATIVO. 5 ed. Rio de


Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2017.

PIETRO, Maria Sylvia Zanella Di. DIREITO ADMINISTRATIVO. 32. ed. rev. atual e ampl. –
Rio de Janeiro: Forense, 2019.

54
CARREIRAS POLICIAIS

Direito Administrativo
Capítulo 5
SUMÁRIO
DIREITO ADMINISTRATIVO ........................................................................................................................................... 3

1. Poderes e Deveres Administrativos ................................................................................................................... 3

1.1 Introdução ................................................................................................................................................................ 3

1.2 Abuso de poder ..................................................................................................................................................... 5

1.2.1 Excesso de Poder .................................................................................................................................................. 6

1.2.2 Desvio de Poder .................................................................................................................................................... 6

1.3 Poderes em espécie ............................................................................................................................................. 7

1.3.1 Poder Vinculado .................................................................................................................................................... 7

1.3.2 Poder Discricionário ............................................................................................................................................. 7

1.3.3 Poder Hierárquico ................................................................................................................................................. 8

1.3.4 Poder Disciplinar................................................................................................................................................. 10

1.3.5 Poder Normativo e Poder Regulamentar ................................................................................................ 11

1.3.6 Poder de Polícia .................................................................................................................................................. 14

1.4 Deveres ................................................................................................................................................................... 20

1.4.1 Poder-dever de agir .......................................................................................................................................... 20

1.4.2 Dever de Eficiência ............................................................................................................................................ 21

1.4.3 Dever de Probidade .......................................................................................................................................... 21

1.4.4 Dever de Prestar Contas ................................................................................................................................. 21

QUADRO SINÓTICO ...................................................................................................................................................... 22

QUESTÕES COMENTADAS ........................................................................................................................................ 27

GABARITO ........................................................................................................................................................................... 35

LEGISLAÇÃO COMPILADA............................................................................................................................................ 40

1
JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................................................................. 41

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................................. 49

2
DIREITO ADMINISTRATIVO

Capítulo 5

1. Poderes e Deveres Administrativos

1.1 Introdução

O exercício da função administrativa, pelo Estado, exige a necessidade de algumas


prerrogativas e poderes para viabilizá-la. Esse, inclusive, é um viés do regime jurídico
administrativo resultado da supremacia do interesse público.

Ocorre que, para que a Administração Pública alcance o interesse coletivo, é


indispensável que o ente público tenha algumas facilidades, em detrimento do particular, no
exercício de sua atividade.

Estes poderes são instrumentais, ou seja, não são poderes em si mesmos, mas sim
instrumentos por meio dos quais os órgãos e entidades administrativas executam suas tarefas
e cumprem suas funções, buscando sempre o fim coletivo.

Não se pode confundir os Poderes da Administração com os Poderes do Estado. Este último
se divide em Executivo, Legislativo e Judiciário, distinto daqueles que são os instrumentos e
mecanismos para satisfação do bem comum. Os Poderes do Estado não são instrumentais,
são poderes estruturais que realizam a atividade pública.

3
Ressalta-se que são irrenunciáveis, por isso, o administrador não pode deles
dispor conforme a sua vontade.

Todos eles encerram prerrogativas de autoridade, as quais, por isso mesmo, só


podem ser exercidas nos limites da lei.

Dentre eles, serão aqui analisados o poder normativo, o disciplinar e os decorrentes


da hierarquia; o poder de polícia constituirá objeto de capítulo específico.

Conforme a doutrina, a melhor compreensão do “Poder Administrativo” deve ser no sentido


de um “poder-dever” e não simplesmente de um poder, tendo em vista que a atuação do
Poder público quando uma determinada situação está configurada é uma obrigação, e não
propriamente uma faculdade.

Neste Capítulo iremos abordar os seis poderes, dentre eles o discricionário e o


vinculado, eis que outros autores de renome os consideram como poderes autônomos. São
eles:

4
DISCRICIONÁRIO VINCULADO

HIERÁRQUICO DISCIPLINAR

PODER DE
NORMATIVO
POLÍCIA

Cumpre mencionar que segundo Maria Sylvia Zanella Di Pietro, os chamados


poderes discricionário e vinculado, não existem como poderes autônomos; a discricionariedade
e a vinculação são atributos de outros poderes ou competências da Administração.

1.2 Abuso de poder

O exercício dessas prerrogativas conferidas à Administração Pública para que


alcance o fim público fora dos limites legais ou contrário à finalidade precípua, configura
abuso de poder.

O abuso de poder é gênero que se desdobra em duas espécies:


ABUSO DE PODER

EXCESSO DE PODER

DESVIO DE PODER

5
Seja em decorrência de excesso de poder ou do desvio de finalidade1, o abuso de
poder enseja a nulidade do ato administrativo a ser discutida na esfera administrativa, por
meio de impugnação administrativa do ato ou mediante provocação do judiciário, em
virtude do poder que lhe é conferido de controlar a legalidade da atuação administrativa.

O abuso de poder, seja ele na espécie excesso de poder ou desvio de poder, pode ocorrer
tanto de forma comissiva - quando o ato administrativo é praticado fora dos limites
legalmente postos - quanto omissiva - situações nas quais o agente público deixa de exercer
uma atividade imposta a ele por lei.

Vejamos agora cada uma dessas espécies:

1.2.1 Excesso de Poder


Ocorre quando o agente atua fora dos limites das suas competências, ou seja,
exorbita ou extrapola a competência que lhe foi atribuída. Configura, portanto, um vício de
competência.

1.2.2 Desvio de Poder

O desvio de poder ocorre quando o agente estatal pratica ato contrário à finalidade.
Pode ocorrer em duas acepções: (i) de forma ampla: quando ofende genericamente o
interesse público, ou seja, pratica o ato visando interesses individuais; ou (ii) de forma
específica: quando desatende o objetivo imediato previsto em lei.

1
Vide questão 04 ao final do capítulo.
6
1.3 Poderes em espécie2

1.3.1 Poder Vinculado

O Poder Vinculado relaciona-se com a prática de atos vinculados - atos cuja forma
de execução está inteiramente definida na lei, não permitindo juízo de conveniência e
nem de oportunidade.

É importante destacar que toda atuação do ente estatal está vinculada à lei, ou seja,
a submissão total à lei não está presente exclusivamente nos atos vinculados.

É a lei que, ao definir a atuação do Poder Público, determina se a atuação


administrativa será vinculada ou discricionária, eis que é a lei que vai ceder, ou não, margem
de escolha na atuação do agente.

1.3.2 Poder Discricionário

O Poder Discricionário3 confere prerrogativa para a prática de atos discricionários,


isto é, atos cuja execução admite certa margem de flexibilidade – juízo de conveniência e
oportunidade, o chamado mérito administrativo - por parte dos agentes estatais, mas
sempre dentro dos limites legais, atendendo aos interesses coletivos.

Esse poder fundamente não só a prática, mas também a revogação de atos


discricionários.

Além dos limites impostos por lei, esse poder também encontra obstáculo nos
princípios administrativos da razoabilidade e da proporcionalidade.

2
Vide questão 03 ao final do capítulo.
3
Vide questão 06 ao final do capítulo.
7
Além do poder discricionário, o poder vinculado também fundamenta a prática de atos
discricionários especificamente no que tange aos aspectos vinculados do ato, ou seja, a prática
de um ato discricionário tem respaldo tanto no poder discricionário quanto no poder
vinculado. Já o ato vinculado tem respaldo somente no poder vinculado.

1.3.3 Poder Hierárquico4

Inicialmente, cabe destacar que uma relação de hierarquia se caracteriza pela


existência de níveis de subordinação entre órgãos e agentes, sempre no âmbito da mesma
pessoa jurídica.

Não há hierarquia: entre diferentes pessoas jurídicas; no exercício das funções típicas do
Judiciário e do Legislativo; e entre a Administração Pública e os administrados.

Tal poder não depende de lei, sendo inerente à organização administrativa,


possuindo caráter permanente e automático. Diferente da tutela administrativa que só pode
ser exercida nos termos e limites legais.

4
Vide questões 05 e 09 ao final do capítulo.
8
O poder hierárquico trata-se de atribuição concedida ao administrador para
organizar, distribuir e principalmente escalonar as funções de seus órgãos.

É o poder que permite ao superior exercer determinadas prerrogativas,


especialmente:

 Dar ordens: para assegurar o adequado funcionamento dos serviços.


Também conhecia como poder comando. Além de ordens diretas, verbais ou
escritas, também pode e exercido mediante a edição de atos administrativos
ordinários;
 Fiscalizar: permite ao superior acompanhar, de modo permanente, a atuação
de seus agentes subordinados. Como decorrência do poder de fiscalizar,
existe o poder de controle que permite tomar medidas concentras face às
constatações;
 Aplicação de sanções: aos servidores públicos que comentam infrações
funcionais;
 Revisão: tal poder permite a revisão de ofício dos atos dos subordinados;
 Delegação de competências: a delegação de competências é o ato pela qual
o superior confere o exercício temporário de alguma atribuição sua a um
subordinado. É um ato discricionário e, por isso, revogável a qualquer tempo.
A delegação transfere o mero exercício, permanecendo a titularidade com o
superior hierárquico. Não podem ser objeto de delegação: (i) edição de atos
de caráter normativo; (ii) decisão de recurso administrativo; e (iii) matérias de
competência exclusiva. Já a avocação de competência é quando o superior
toma para si o exercício, também temporário, de determinada atividade
exercida por um subordinado. É ato discricionário e de caráter excepcional.

9
1.3.4 Poder Disciplinar5

É a possibilidade de a Administração Pública aplicar sanções àqueles que


submetidos à sua ordem administrativa interna, comentem infrações.

No exercício do poder disciplinar a Administração Pública pode:

 Punir internamente as infrações funcionais dos servidores; e


 Punir infrações administrativas cometidas por particulares a ela ligados
mediante algum vínculo específico (contrato, convênio, etc.)

O poder disciplinar é correlato ao poder hierárquico, mas com ele não se confunde.
No uso no poder disciplinar, a Administração Pública controla o desempenho dessas funções e
a conduta interna de seus servidores, responsabilizando-os pelas faltas cometidas. Já no uso
do poder hierárquico, a Administração Pública distribui e escalona as suas funções.

Porém, quando a Administração resolve punir as infrações funcionais de seus


servidores, faz uso tanto do poder disciplinar quanto do poder hierárquico. E quando pune
apenas os particulares com vinculo específico só incide o poder disciplinar.

Esse poder também não se confunde com o poder punitivo do Estado, o qual é exercido
pelo Poder Judiciário para reprimir crimes, contravenções e infrações civis.

5
Vide questões 07 e 08 ao final do capítulo.
10
É imperioso mencionar que o poder disciplinar comporta certo grau de
discricionariedade no que tange à gradação das penalidades ou, em alguns casos, da escolha
dela. Por exemplo: há margem de escolha no caso da aplicação da pena de suspensão, eis
que a lei autoriza sua aplicação por até 90 dias. Porém, não há discricionariedade no dever
de punir.

1.3.5 Poder Normativo e Poder Regulamentar6

O Poder Normativo é o poder, conferido à Administração Pública, de expedir atos


administrativos gerais e abstratos com efeitos erga omnes. Não se trata de poder que
permite a edição de leis, mas apenas permite a edição de normas que facilitam a
compreensão e execução das leis.

No que tange aos atos administrativos que estipulam regras gerais e abstratas
existe a possibilidade de expedição de diversos atos normativos, como por exemplo podemos
citar as deliberações e as instruções normativas.

Já o Poder Regulamentar é inerente e privativo do chefe do Poder Executivo e


se materializa na edição de (i) regulamentos executivos e decretos; e (ii) decretos autônomos.
Modernamente a doutrina considera o poder regulamentar uma espécie do poder normativo.

Diversos órgãos e autoridades administrativas, e mesmo entidades da administração indireta


editam atos administrativos normativos. Contudo, os atos produzidos por esses órgãos e

6
Vide questão 01 ao final do capítulo.
11
autoridades denominados regulamentos autorizados não decorrem do poder regulamentar,
eis que este é exclusivo do chefe do Poder Executivo. A doutrina costuma dizer que esses
outros atos normativos têm fundamento no poder normativo que seria um poder mais
amplo que o regulamentar.

Neste capítulo vamos tratar especificamente dos Regulamentos produtos do Poder


Regulamentar.

Inicialmente, cumpre esclarecer que o Regulamento e o Decreto constituem o


mesmo ato normativo. Isso porque o Regulamento é o ato normativo privativo do chefe do
Poder Executivo, seja federal, estadual ou municipal, e Decreto é a sua forma. Em suma, o
Regulamento é expedido por meio de Decreto.

Os regulamentos podem ser:

 Regulamentos executivos: são regras editadas pelo chefe do Poder


Executivo para possibilitar a fiel execução das leis. Não criam novos direitos
e obrigações, apenas estabelecem como serão os procedimentos para que as
leis sejam cumpridas. A competência para expedição desses regulamentos
não é passível de delegação. São considerados atos normativos
secundários, eis que necessitam de uma lei prévia. Em regra, são atos de
caráter geral e abstrato, ou seja, não possuem destinatários determinados
e incidem sobre todos os fatos que se enquadrem nas hipóteses nele
previstas. As leis podem ou não prever de forma expressa a necessidade de
regulamentação. Caso não tragam essa previsão, produzem efeitos desde a
entrada em vigor, sendo auto executáveis, mas mesmo assim podem ser
regulamentadas se o Executivo entender necessário. Já as leis que trazem a
necessidade de regulamentação, não produzirão efeitos antes da expedição
do decreto. Exceção ocorre quando a própria lei define prazo para a
regulamentação e o decreto não é editado.
12
O chefe do Poder Executivo só pode regulamentar leis administrativas, ou seja, leis de que
algum modo necessite da atuação da Administração.

 Decretos Autônomos: são atos normativos primários, derivados da


Constituição Federal e não se destinam a regulamentar alguma lei, sendo sua
principal finalidade a de normatizar. No Brasil, a edição desses decretos só
pode ser feita para dispor sobre: (i) organização e funcionamento da
administração federal, quando não implicar aumento de despesas nem
criação ou extinção de órgãos; e (ii) extinção de funções ou cargos
públicos quando vagos.

A edição de decretos autônomos pode ser delegada a outras autoridades administrativas. Na


esfera federal, o Presidente pode delegá-la aos Ministros, ao Procurador Geral da República e
ao Advogado Geral da União.

 Regulamentos autorizados: são aqueles que o Executivo, por expressa


autorização legal, completa as disposições dela, especialmente de natureza
técnica. É ato secundário e não se confunde com a lei delegada. Por poder
13
ser editado por órgãos e entidades de natureza técnica, constituem
manifestação do poder normativo, que é o poder mais amplo e não
exclusivo do Poder Executivo. Exemplo desses regulamentos são as normas
editadas pelas agências reguladoras.

É importante ressaltar que os atos regulamentares podem sofrer controle. Caso o


Executivo extrapole os limites da lei no exercício do poder regulamentar, o Congresso
Nacional poderá sustar tais atos normativos. Ademais, o Poder Judiciário e a própria
Administração Pública podem exercer controle de legalidade sobre atos normativos, anulando
aqueles considerados ilegais ou ilegítimos. Caso o ato esteja em conflito com a lei que ele
regulamenta, por extrapolar seus limites ou por contrariá-la, trata-se de caso típico de
ilegalidade, passível, portanto, de controle de legalidade. Já se o ato ofender diretamente
Constituição da República, poderá sofrer controle de constitucionalidade pela via direta (ADI).

1.3.6 Poder de Polícia7

É a atividade da Administração Pública que condiciona ou restringi o uso de bens,


o exercício de direitos e a prática de atividade privadas, com vistas a proteger os interesses
gerais da coletividade.

O artigo 78 do Código Tributário Nacional define o poder de polícia como sendo a


“atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou
liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público
concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do
mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do
Poder Público, à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais
ou coletivos”.

7
Vide questão 10 ao final do capítulo.
14
Esse poder pode ser entendido em sentido amplo ou estrito. A definição acima
corresponde ao sentido estrito. Em sentido amplo, além da atividade administrativa, o poder
de polícia também abrange a atividade do Poder Legislativo de editar leis que tenham o
objetivo de condicionar ou limitar a liberdade e a propriedade.

Qualquer medida restritiva adotada com base no poder de polícia deve observar o devido
processo legal, assegurado ao administrado o direito à ampla defesa, bem como deve se
pautar na razoabilidade e na proporcionalidade.

 Competência:

A competência é da pessoa federativa à qual a Constituição Republicana de 1988


conferiu o poder de regular a matéria. Quando for conveniente, os entes federativos podem
exercer esse poder em sistema de cooperação, firmando convênios ou consórcios.

 Atributos:

Apesar de não ser um ponto pacífico na doutrina, a doutrina majoritária entende


que os atributos do poder de polícia são 3 (três):

(i) Discricionariedade: a Administração Pública, em regra, possui certa liberdade de


atuação. Contudo, nada impede que a lei vincule a prática de determinados atos de
polícia administrativa, como ocorre com a concessão de licenças;
(ii) Autoexecutoriedade: é a possibilidade de certos atos serem executados de forma
imediata e direta, independente de ordem judicial. Tal atributo apenas existe quando

15
há lei permitindo ou situações urgentes e emergenciais. Em tais situações, a doutrina
admite, inclusive, a figura do contraditório diferido; e
(iii) Coercibilidade: possibilidade de as medidas adotadas pela Administração serem
impostas ao administrado, inclusive mediante emprego de força, nos casos
necessários.

Nem todos os atos de polícia ostentam os atributos da autoexecutoriedade e


coercibilidade. Os atos preventivos e alguns repressivos, como por exemplo a cobrança de
multa não paga espontaneamente pelo particular não goza desses atributos.

 Modalidades de exercícios:

O poder de polícia pode ser exercido de forma preventiva ou repressiva. O poder


de polícia preventivo ocorre nos casos em que o particular necessita obter anuência prévia
da Administração Pública para usar determinados bens ou para exercer determinadas
atividades.

Tal anuência é formalizada nos denominados atos de consentimento, os quais


podem ser:

(i) Licença: ato administrativo vinculado e definitivo pelo qual a Administração


Pública reconhece que o particular preenche as condições para usufruir de
determinado direito. Por exemplo: licença para construir, licença para
exercício da profissão; e

16
(ii) Autorização: ato administrativo precário e discricionário pelo qual a
Administração Pública autoriza o particular a exercer determinada atividade
do seu interesse.

O instrumento formal que geralmente formaliza as licenças e as autorizações é o alvará, mas


outros documentos também podem fazer tal papel, como: carteiras, declarações e certificados.

Já o poder de polícia repressivo, refere-se à aplicação de sanções administrativas a


particulares pelo descumprimento de normas de ordem pública, como: aplicação de multa
administrativas, interdição de estabelecimento comerciais, demolição de construções
irregulares.

Em decorrência do poder de polícia cobra-se taxa. A taxa de polícia deve decorrer


do efetivo exercício desse poder. Vale salientar que Supremo Tribunal Federal entende que a
incidência da taxa dispensa a fiscalização presencial, ou seja, o exercício do poder de polícia
pode ocorrer a partir de local remoto, no chamado poder de polícia presumido.

A atividade de polícia também pode ser fiscalizadora que ocorre quando visa
prevenir eventuais lesões, como, por exemplo, vistoria de veículos, fiscalização de pesos e
medidas entre outros.

 Ciclos de polícia:

A atividade de polícia possui 4 fases:

(i) Legislação ou Ordem de Polícia: é a fase inicial. Institui os limites e


condicionamentos ao exercício de atividades privadas e ao uso de bens. A

17
ordem primária deve sempre estar contida em uma lei, obedecendo ao
princípio da legalidade;
(ii) Consentimento de polícia: é a anuência prévia da Administração Pública que
ocorre mediante a concessão de licenças e autorizações. O consentimento
deve ocorrer apenas quando houver a necessidade de licença ou autorização
para uso de bens ou a prática de certas atividades privadas. Pode ser
delegada;
(iii) Fiscalização de polícia: é a atividade pela qual a Administração Pública verifica
se o particular está cumprindo adequadamente a legislação. Também é uma
fase que pode ser delegada;
(iv) Sanção de polícia: nessa fase a Administração verifica alguma infração à
ordem de polícia ou aos requisitos do consentimento e polícia e aplica ao
particular, sem vinculação específica, uma sanção.

As únicas fases que sempre estarão presentes em todo e qualquer ato de polícia são as
fases da legislação e a fiscalização.

 Delegação do poder de polícia:

O Poder de Polícia é considerado atividade típica de Estado e, portanto, somente


pode ser exercido pelas pessoas jurídicas de direitos público componentes da
Administração Direta.

Contudo, parte da doutrina admite delegação em situações especiais. Desta forma,


certos atos materiais podem ser praticados por particulares, por delegação ou simples

18
contrato de prestação de serviços. Nesses casos, não seriam delegados os atos de polícia
em si, mas tão somente atividades materiais de execução.

 Prescrição:

O prazo prescricional das ações punitivas decorrentes do exercício do poder de


polícia é de 5 (cinco) anos. O mesmo vale para a Administração Pública impetrar ação judicial
de cobranças de multas administrativas não pagas espontaneamente pelo particular.

Por outro lado, esse prazo não se aplica quando o objeto da ação constituir crime,
eis que aplicar-se-ão os prazos da lei penal.

A prescrição também incide no procedimento administrativo paralisado por mais de


3 (três) anos, pendente de julgamento ou despacho. É a chamada prescrição intercorrente.

 Polícia Administrativa X Polícia Judiciária:

O Poder de Polícia não se confunde com a polícia judiciária. Esta última visa a
prevenção e a repressão à prática de ilícitos criminais.

Ademais, a polícia judiciária incide sobre pessoas, de forma ostensiva ou


investigativa, evitando e punindo infrações às normas penais.

Já, a polícia administrativa incide sobre bens (uso da propriedade) e direitos


(exercício de liberdades), condicionando esses bens e direitos à busca pelo interesse da
coletividade.

19
1.4 Deveres

Para a consecução da finalidade pública, além das prerrogativas, confere-se a


Administração Pública alguns deveres. Elas são espécies de limitações ao Poder Público,
caracterizando a indisponibilidade do interesse público.

Ocorre que a Administração Pública deve cumprir os deveres para atingir o fim
pretendido alcançando o maior número de pessoas, não podendo atuar por liberalidade
própria.

1.4.1 Poder-dever de agir

O agente estatal tem o dever de agir diante de situações que exigem sua
atuação. O titular do interesse público é a coletividade e por essa razão, o agente não pode
se omitir para satisfazer interesses próprios.

A omissão do agente diante dessas situações em que há a necessidade de atuação


caracteriza abuso de poder que pode gerar responsabilidade civil.

Nem toda omissão é fonte de ilegalidade. José dos Santos Carvalho Filho faz menção à
reserva do possível para sustentar que nem todas as metas podem ser alcançadas,
especialmente pela escassez de recursos financeiros.

20
1.4.2 Dever de Eficiência

O dever de eficiência traduz a ideia de boa administração, ou seja, de que o agente


estatal, além de agir com celeridade, deve atuar com perfeição técnica e deter bom
rendimento funcional na persecução do fim público, com o menor gasto possível.

1.4.3 Dever de Probidade

O dever de probidade exige que os atos dos agentes do Estado sejam legítimos,
honestos, éticos e de boa-fé, não sendo suficiente o atendimento à lei formal, mas
também à moralidade administrativa e à finalidade pública.

Os atos ímprobos põem ser invalidados pela própria Administração (Princípio da


Autotutela), como também pelo Poder Judiciário, se provocado. Esses atos podem acarretar a
suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e a
obrigação de ressarcir o erário, na forma e gradação previstas em lei.

1.4.4 Dever de Prestar Contas


A prestação de contas pode ser realizada internamente, através de órgãos escalonados
em graus hierárquicos, ou externamente, feito pelo Poder Legislativo com auxílio do Tribunal
de Contas.

Esse dever alcança não só os agentes estatais como também os particulares que sejam
responsáveis pela aplicação de recursos púbicos.

21
QUADRO SINÓTICO

PODERES ADMINISTRATIVOS

O exercício da função administrativa, pelo Estado, exige a necessidade de algumas


prerrogativas e poderes para viabilizá-la. Todos eles encerram prerrogativas de autoridade e
por isso, só podem ser exercidas nos limites da lei.

Estes poderes não são poderes em si mesmos, mas sim instrumentos que auxiliam os órgãos
e entidades administrativas para a execução das atividades.

São irrenunciáveis, por isso, o administrador não pode deles dispor conforme a sua vontade.

ABUSO DE PODER

O exercício das prerrogativas conferidas à Administração Pública para que alcance o fim
público fora dos limites legais ou contrário à finalidade precípua, configura abuso de
poder.

É um vício de
competência que
O abuso de ocorre quando o
poder é gênero agente, exorbita
EXCESSO DE PODER
que se desdobra ou extrapola a
em duas competência que
espécies: lhe foi atribuída.

O desvio de
DESVIO DE PODER

22
poder ocorre
quando o agente
estatal pratica ato
contrário à
finalidade.

PODERES EM ESPÉCIE

PODER VINCULADO

Relaciona-se com a prática de atos vinculado, ou seja, atos cuja forma de execução está
inteiramente definida na lei, não permitindo juízo de conveniência e nem de oportunidade.

PODER DISCRICIONÁRIO

Confere prerrogativa para a prática de atos discricionários, isto é, atos cuja execução admite
certa margem de flexibilidade, mas sempre dentro dos limites legais, atendendo aos interesses
coletivos.

O poder vinculado também fundamenta a prática de atos discricionários especificamente no


que tange aos aspectos vinculados do ato.

PODER HIERÁRQUICO

Trata-se de atribuição concedida ao administrador para organizar, distribuir e principalmente


escalonar as funções de seus órgãos.
ATENÇÃO! Não há hierarquia entre diferentes pessoas jurídicas.

Permite o Dar ordens

exercício de Fiscalizar

determinadas Aplicar sanções aos servidores


prerrogativas: Delegar competências
ATENÇÃO! Revisar de ofício os atos dos servidores

PODER DISCIPLINAR

É a possibilidade de a Administração Pública aplicar sanções àqueles que submetidos à sua


ordem administrativa interna, comentem infrações.

23
Quando a Administração resolve punir as infrações funcionais de seus
servidores, faz uso tanto do poder disciplinar quanto do poder hierárquico.
ATENÇÃO!
E quando pune apenas os particulares com vinculo específico só incide o
poder disciplinar.

PODER NORMATIVO

É o poder, conferido à Administração Pública, de expedir atos administrativos gerais e


abstratos com efeitos erga omnes. Não se trata de poder que permite a edição de leis, mas
apenas permite a edição de normas que facilitam a compreensão e execução das leis.

É mais amplo que o poder Regulamentar.

PODER REGULAMENTAR

É considerado uma espécie do poder normativo, mas o poder regulamentar, especificamente, é


inerente e privativo do chefe do Poder Executivo.

Regulamentos executivos: são regras editadas pelo chefe do Poder


Executivo para possibilitar a fiel execução das leis. Não criam novos
direitos e obrigações.
Se materializa na
Decretos Autônomos: são atos normativos primários que podem dispor
edição de:
sobre: (i) organização e funcionamento da administração federal, quando
não implicar aumento de despesas nem criação ou extinção de órgãos; e (ii)
extinção de funções ou cargos públicos quando vagos.

PODER DE POLÍCIA

É a atividade da Administração Pública que condiciona ou restringi o uso


Conceito de bens, o exercício de direitos e a prática de atividade privadas, com vistas
a proteger os interesses gerais da coletividade.
É da pessoa federativa à qual a Constituição Republicana de 1988 conferiu o
Competência
poder de regular a matéria
Ocorre nos casos em que o particular necessita obter
Modalidades Preventivo anuência prévia da Administração Pública para usar
determinados bens ou para exercer determinadas

24
atividades;
Refere-se à aplicação de sanções administrativas a
Repressivo particulares pelo descumprimento de normas de
ordem pública;
Fiscalizadora Visa prevenir eventuais lesões.
Na execução dos atos de polícia, a Administração
Discricionariedade
Pública, em regra, possui certa liberdade de atuação.
É a possibilidade de executar os atos de forma
imediata e direta, independente de ordem judicial.
Autoexecutoriedade
Atributos Tal atributo apenas existe quando há lei permitindo
ou situações urgentes.
É a possibilidade de as medidas adotadas pela
Coercibilidade Administração serem impostas ao administrado,
inclusive mediante emprego de força.
Nem todos os atos de polícia ostentam os atributos da autoexecutoriedade e
coercibilidade.
Polícia Judiciária: incide sobre bens (uso da
Polícia Administrativa: visa a prevenção e a
propriedade) e direitos (exercício de
repressão à prática de ilícitos criminais, sendo
liberdades), condicionando esses bens e
assim, incide sobre pessoas.
direitos à busca pelo interesse da coletividade.
Legislação ou Institui os limites e condicionamentos ao exercício de
Ordem de Polícia: atividades privadas e ao uso de bens;
É a anuência prévia da Administração Pública que
Consentimento de
ocorre mediante a concessão de licenças e
polícia:
autorizações;
Ciclos
É a atividade pela qual a Administração Pública
Fiscalização de
verifica se o particular está cumprindo
polícia:
adequadamente a legislação;
A Administração verifica alguma infração e aplica ao
Sanção de polícia:
particular uma sanção.
Delegação O Poder de Polícia só pode ser exercido pelas pessoas jurídicas de direitos

25
público.
Porém, algumas atividades materiais de execução podem ser praticados
por particulares, por delegação ou simples contrato de prestação de
serviços.

O prazo prescricional das ações punitivas decorrentes do exercício do poder


Prescrição
de polícia é de 5 (cinco) anos.

DEVERES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Para a consecução da finalidade pública, além das prerrogativas, confere-se a Administração


Pública alguns deveres. Elas são espécies de limitações ao Poder Público.
O agente estatal tem o dever de agir diante de situações que exigem sua
Poder-dever de
atuação.
agir
Nem toda omissão é fonte de ilegalidade.
Dever de O agente estatal deve atuar com perfeição técnica e deter bom rendimento
Eficiência funcional na persecução do fim público, com o menor gasto possível.

Dever de Exige que os atos dos agentes do Estado sejam legítimos, honestos, éticos e
Probidade de boa-fé, não sendo suficiente o atendimento à lei formal.

Pode ser realizada internamente, através de órgãos escalonados em graus


Dever de Prestar
hierárquicos, ou externamente, feito pelo Poder Legislativo com auxílio do
Contas
Tribunal de Contas.

26
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

(Instituto AOCP – 2019 – PC-ES - Investigador) O poder dos Chefes de Executivo de explicar,
de detalhar a lei para sua correta execução, ou de expedir decretos autônomos sobre matéria
de sua competência ainda não disciplinada por lei denomina-se
A) Poder de Polícia
B) Poder Regulamentar
C) Poder Disciplinar
D) Poder Hierárquico
E) Poder Discricionário

Comentário:

Gabarito: Letra “B”.

O enunciado se refere ao chamado poder regulamentar, que é a prerrogativa


conferida à Administração Pública de editar atos gerais para complementar as leis e permitir a
sua efetiva aplicação.

27
Questão 2

(Instituto AOCP – 2019 – PC-ES - Investigador) O desdobramento do Poder Hierárquico pelo


qual o agente superior detém a prerrogativa para o exercício de competência de atribuições
originárias de seus subalternos denomina-se
A) Poder disciplinar
B) Avocação
C) Delegação
D) Subordinação
E) Poder Regulamentar.

Comentário:

Gabarito: Letra “B”.


Com efeito, a avocação ocorre quando o superior hierárquico pode restituir-se ao
subalterno, chamando para si as questões afetas a este.

Questão 3

(Instituto AOCP – 2019 – PC-ES – Escrivão de Polícia) Poderes administrativos são elementos
indispensáveis para persecução do interesse público. São Poderes da Administração Pública,
EXCETO

A) Poder de Polícia
B) Poder Regulamentar
C) Poder Hierárquico
D) Poder Judicial
E) Poder Disciplinar.

28
Comentário:

Gabarito: Letra “D”.

Isso porque o poder judicial é típico do Poder Judiciário, mas não é uma das
prerrogativas da Administração Pública. Assim, a letra “D” é a única incorreta.

Questão 4

(VUNESP – 2018 – PC-BA – Escrivão de Polícia) A respeito do uso do poder pelo agente
público, é correto afirmar que

A) No exercício de sua função, poderá, motivadamente, renunciar ao uso de poderes


outorgados por lei.
B) É imune a controle externo porque sua intensidade decorre de competência
discricionária.
C) Ato praticado com excesso de poder não pode ser convalidado porque o vício é, no
caso, insanável.
D) O desvio de finalidade constitui uma forma de abuso de poder.
E) A prática de ato por autoridade incompetente caracteriza abuso de poder e desvio de
finalidade, acarretando nulidade absoluta de ato administrativo.

Comentário:

Gabarito: Letra “D”.

Com efeito, o abuso de poder é o gênero, do qual extraímos suas duas espécies:
excesso de poder e desvio de poder.

29
O excesso de poder ocorre quando há vício de competência ou de
proporcionalidade.

Já o desvio de poder ocorre quando há o vício de finalidade – desvio de finalidade.

Questão 5

(VUNESP – 2018 – PC-BA – Escrivão de Polícia) Constitui exercício de poder hierárquico da


Administração Pública

A) delegar e avocar atribuições não privativas do superior ou do subordinado.


B) criar obrigações para os particulares independentemente de sua vontade.
C) apreender bens em comércio com prazo de validade vencido.
D) aplicar multa ao prestador de serviço terceirizado pelo descumprimento de cláusula de
contrato administrativo.
E) fiscalizar as atividades de pessoas jurídicas exploradoras de atividade econômica de
risco para a sociedade.

Comentário:

Gabarito: Letra “A”.

Com efeito, o poder hierárquico permite fiscalizar (vigiar permanentemente os atos


praticados pelos subordinados com o fito de mantê-los dentro dos padrões legais
regulamentares), dar ordens, delegar atribuições que originariamente competiam ao delegante
e avocar (chamar para si as funções originariamente atribuídas a um subordinado).

30
Questão 6

(COPS – UEL - 2018 – PC-PR – Escrivão de Polícia) Assinale a alternativa que apresenta,
corretamente, o Poder que é prerrogativa da administração pública de optar por duas ou mais
soluções que, segundo critérios de conveniência e oportunidade, melhor atenda ao interesse
público no caso concreto.

A) Hierárquico

B) Normativo

C) De polícia

D) Disciplinar

E) Discricionário

Comentário:

Gabarito: Letra “E”. O poder discricionário é o poder que concede à Administração


Pública a prática de ato administrativo com liberdade de escolha sobre o conteúdo, dispondo
acerca de sua conveniência e oportunidade.

31
Questão 7

(VUNESP – PC-SP - 2018 – Investigador de Polícia) Advertência verbal aplicada por diretor
de escola estadual a aluno que não cumpriu seus deveres, cometendo falta dentro do
estabelecimento de ensino, é expressão do poder

A) Disciplinar
B) De polícia
C) Hierárquico
D) Regulamentar
E) Discricionário.

Comentário:

Gabarito: Letra “A”.


De fato, a advertência verbal caracteriza uma sanção da autoridade pública ao
servidor ou ao particular. Nesse caso temos uma clara demonstração de poder disciplinar,
onde é permitida a apuração de infrações administrativas e a cominação da respectiva sanção.

Questão 8

(CESPE – 2014 – PF – Agente de Polícia) Acerca dos poderes administrativos e da


responsabilidade civil do Estado, julgue o item que se segue.

A aplicação de sanção administrativa contra concessionária de serviço público decorre do


exercício do poder disciplinar.

( ) Certo

32
( ) Errado.

Comentário:

Gabarito: Certo.
Com efeito, consoante já estudamos, o poder disciplinar é uma prerrogativa
atribuída à Administração Pública para impor sanções a seus servidores e a particulares que
com ela mantenham vínculo jurídico específico. Assim, temos que se enquadra nesse caso as
concessionárias de serviços públicos, uma vez que o vínculo se materializa com a celebração
do contrato de concessão.

Questão 9

(CESPE – 2013 – PC-DF – Agente de Polícia) O poder hierárquico, na administração pública,


confere à administração capacidade para se auto-organizar, distribuindo as funções dos seus
órgãos. No entanto, não se reconhece a existência de hierarquia entre os servidores admitidos
por concurso público, pois tal situação representaria uma afronta ao princípio da isonomia.

( ) Certo

( ) Errado

Comentário:

Gabarito: Errado. Na verdade, não existe óbice à hierarquia e subordinação entre os


servidores concursados.

33
Questão 10

(CESPE – 2013 – PC-DF – Agente de Polícia) O poder de polícia administrativa, que se


manifesta, preventiva ou repressivamente, a fim de evitar que o interesse individual se
sobreponha aos interesses da coletividade, difere do poder de polícia judiciaria, atividade
estatal de caráter repressivo e ostensivo que tem a função de reprimir ilícitos penais mediante
a instrução policial criminal.

( ) Certo

( ) Errado.

Comentário:

Gabarito: Certo, pelos seus próprios fundamentos.

34
GABARITO

Questão 1 - B

Questão 2 - B

Questão 3 - D

Questão 4 - D

Questão 5 - A

Questão 6 - E

Questão 7 - A

Questão 8 - CERTO

Questão 9 - Errado

Questão 10 - CERTO

35
QUESTÃO DESAFIO

O que é o "ciclo de polícia"? É possível a delegação do poder de


polícia ao particular e às sociedades de economia mista (SEM's)?

Cite a regra e as possíveis exceções.

Máximo de 5 linhas

36
GABARITO DA QUESTÃO DESAFIO

O poder de polícia consiste em consentimento, fiscalização, punição e legislação de


polícia. A regra geral é pela vedação da delegação ao particular, salvo atos materiais, de
mera execução, nunca do ciclo de polícia. As SEM's podem exercer consentimento e
fiscalização, segundo a jurisprudência do STJ.

Você deve ter abordado necessariamente os seguintes itens em sua resposta:

 consentimento, fiscalização, punição e legislação

Rafael Rezende explica que o exercício do poder de polícia compreende quatro fases distintas
que se inserem no denominado ciclo de polícia, a saber: consentimento (engloba licença e
autorização), fiscalização, punição e legislação de polícia.

Sobre esse ciclo STJ definiu que as sociedade de economia mista (pessoa jurídica de direito
privado pertencente à administração indireta) pode receber delegação dos poderes de
consentimento e fiscalização, apenas.

Administrativo. Poder de polícia. Trânsito. Sanção pecuniária aplicada por sociedade


de economia mista. Impossibilidade. 1. Antes de adentrar o mérito da controvérsia, convém
afastar a preliminar de conhecimento levantada pela parte recorrida. Embora o fundamento da
origem tenha sido a lei local, não há dúvidas que a tese sustentada pelo recorrente em sede
de especial (delegação de poder de polícia) é retirada, quando o assunto é trânsito, dos
dispositivos do Código de Trânsito Brasileiro arrolados pelo recorrente (arts. 21 e 24), na
medida em que estes artigos tratam da competência dos órgãos de trânsito. O enfrentamento
da tese pela instância ordinária também tem por consequência o cumprimento do requisito
do prequestionamento. 2. No que tange ao mérito, convém assinalar que, em sentido amplo,
poder de polícia pode ser conceituado como o dever estatal de limitar-se o exercício da
propriedade e da liberdade em favor do interesse público. A controvérsia em debate é a
possibilidade de exercício do poder de polícia por particulares (no caso, aplicação de multas
de trânsito por sociedade de economia mista). 3. As atividades que envolvem a consecução do

37
poder de polícia podem ser sumariamente divididas em quatro grupos, a saber: (i) legislação,
(ii) consentimento, (iii) fiscalização e (iv) sanção. 4. No âmbito da limitação do exercício
da propriedade e da liberdade no trânsito, esses grupos ficam bem definidos: o CTB
estabelece normas genéricas e abstratas para a obtenção da Carteira Nacional de Habilitação
(legislação); a emissão da carteira corporifica a vontade o Poder Público (consentimento); a
Administração instala equipamentos eletrônicos para verificar se há respeito à velocidade
estabelecida em lei (fiscalização); e também a Administração sanciona aquele que não guarda
observância ao CTB (sanção). 5. Somente os atos relativos ao consentimento e à fiscalização
são delegáveis, pois aqueles referentes à legislação e à sanção derivam do poder de coerção
do Poder Público. 6. No que tange aos atos de sanção, o bom desenvolvimento por
particulares estaria, inclusive, comprometido pela busca do lucro – aplicação de multas para
aumentar a arrecadação. 7. Recurso especial provido (STJ, 2.ª Turma, REsp 817.534/MG,
10.12.2009).

Fonte: Oliveira, Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo / Rafael Carvalho
Rezende Oliveira. – 8. ed. – Rio de Janeiro: Método, 2020.p.444.

 mera execução podem ser delegados ao particular

Sabe-se que não é possível a outorga a pessoas da iniciativa privada do exercício do poder de
polícia, uma vez que carecedoras do "ius imperii" necessário ao exercício desse poder, como
afirma Licínia Rossi.

Admite-se, entretanto, a delegação de atos materiais de polícia. Esses atos são atividades de
mera execução de determinações anteriormente emanadas da própria Administração Pública.
Assim, segundo Licínia Rossi "[...] é possível que uma empresa privada realize o serviço de
demolição de uma obra clandestina. Porém, o decidir demolir a obra clandestina deve ter sido
ato anterior e necessariamente emanado da autoridade administrativa."

Ainda, o STJ decidiu que “o registro fotográfico da infração serve como base para a lavratura
do auto de infração, cuja competência é exclusiva da autoridade de trânsito”. (REsp 880.549-
DF, rel. Min. Eliana Calmon, j. 21-10-2008).

38
Fonte: Rossi, Licínia Manual de direito administrativo / Licinia Rossi. – 6. ed. – São Paulo :
Saraiva Educação, 2020. p. 230.

39
LEGISLAÇÃO COMPILADA

Poder Hierárquico – Delegação e avocação de competências:


 Lei 9.784/99: artigos 11, 12, 13, 14 e 15.

Poder de Polícia:
 CTN: art. 78

Poder Regulamentar:
 CRFB/88: art. 84, VI

40
JURISPRUDÊNCIA

Poder Hierárquico:

 Ementa: DIREITO ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL EM MANDADO DE


SEGURANÇA. PRETENSÃO DE SUPERAÇÃO DE INTEMPESTIVIDADE DE RECURSO
ADMINISTRATIVO COM FUNDAMENTO NO PODER HIERÁRQUICO. IMPOSIÇÃO DE
MULTA. 1. A tempestividade é pressuposto objetivo de admissibilidade do recurso
administrativo. 2. O poder hierárquico não autoriza, em regra, a assunção por órgão
superior de atribuição legalmente conferida a órgão inferior. A avocação é medida de
caráter excepcional, admitida apenas temporariamente e por motivos relevantes
devidamente justificados (art. 15 da Lei nº 9.784/1999). 3. Agravo regimental a que
se nega provimento por manifesta improcedência, aplicando-se multa de 5% (cinco por
cento) do valor corrigido da causa, ficando a interposição de qualquer outro recurso
condicionada ao depósito do respectivo valor. (STF - Acórdão Ms 30304 Agr / Df -
Distrito Federal, Relator(a): Min. Roberto Barroso, data de julgamento: 07/10/2016, data
de publicação: 17/11/2016, Tribunal Pleno).

Poder disciplinar:

 ADMINISTRATIVO. RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA. SERVIDOR PÚBLICO.


POLICIAL CIVIL. PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. DEMISSÃO. SANÇÕES
DISCIPLINARES DA LEI ESTADUAL REGULADORA DA CARREIRA. APLICAÇÃO.
INDEPENDÊNCIA EM RELAÇÃO ÀS PENALIDADES DA LEI DE IMPROBIDADE. TRÂNSITO
EM JULGADO DA AÇÃO DE IMPROBIDADE. DESNECESSIDADE. SEPARAÇÃO DE

41
PODERES. PODER DISCIPLINAR. INDEPENDÊNCIA ENTRE INSTÂNCIAS ADMINISTRATIVA
E JUDICIAL. RECURSO DESPROVIDO.
1. Os fundamentos apresentados pela parte recorrente, em verdade, resumem-se à
questão dos limites do Poder Administrativo Disciplinar e à Separação dos Poderes.
Sustenta o recorrente que a Administração Pública não poderia demiti-lo com base em
ato que configure improbidade administrativa, seja por não ter competência para julgar
fatos definidos como crime e atos de improbidade, simultaneamente, pois tal compete
ao Poder Judiciário; seja porque a perda da função pública em matéria de improbidade
só pode ocorrer com a existência de sentença judicial condenatória pela prática dos
atos (Lei 8.429/92); seja porque o art. 220 do 3º grau, IV e do 4º grau, IV, da LCE n.
407/2010, no qual foi capitulado o recorrente, está eivado de inconstitucionalidade.
2. Como é cediço, "o poder disciplinar tem origem e razão de ser no interesse e na
necessidade de aperfeiçoamento progressivo do serviço público, assegurando a ordem
interna, a conduta de seus agentes e o regime hierárquico" (HEUSELER, Elbert da Cruz.
(In)comunicabilidade da sentença penal no Processo Administrativo Disciplinar. Revista
Brasileira de Direito Público - RBDP, Belo Horizonte, ano 5, n. 19, p. 129-145, out./dez.
2007). Verifica-se, pois, que se conferiu à Administração Pública a prerrogativa de avaliar
a conduta dos seus agentes, com vistas ao atendimento do interesse público primário
da
boa prestação da atividade administrativa.
3. Uma das decorrências do princípio da separação de poderes (art. 2º, CF/88) é
exatamente o estabelecimento do poder administrativo disciplinar e a fixação da
independência entre as instâncias administrativa e judicial. A escolha das condutas que
configuram infração administrativa e sua respectiva sanção disciplinar, por norma que
disciplina determinada carreira, em princípio não configura inconstitucionalidade,
ressalvados os casos de avaliação da desproporcionalidade entre conduta e sanção.
4. Não há impedimento, portanto, a que uma mesma conduta se caracterize como
ilícito civil, penal e administrativo, com fixação da sanção conforme previsão legal de
cada esfera.
42
5. Orienta-se esta Corte no sentido de que as sanções disciplinares previstas nas
diversas leis reguladoras das carreiras públicas são independentes em relação às
penalidades previstas na Lei de Improbidade Administrativa, não havendo necessidade
de se aguardar o trânsito em julgado da ação de improbidade administrativa para
aplicação das penas de demissão ou de cassação de aposentadoria.
6. Recurso ordinário a que se nega provimento. (STJ - Acórdão Rms 48361 / Mt,
Relator(a): Min. Og Fernandes, data de julgamento: 25/08/2015, data de publicação:
11/09/2015, 2ª Turma)

Poder Normativo e Regulamentar:

 TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL. ENUNCIADO ADMINISTRATIVO N. 3/STJ.


INSTRUÇÕES NORMATIVAS EXARADAS PELA RECEITA FEDERAL DO BRASIL.
HABILITAÇÃO DE EMPRESA NO SISCOMEX. CONTROLE DE LEGALIDADE FRENTE AO
DECRETO N.º 70.235/1972. EXERCÍCIO DO PODER REGULAMENTAR. RECURSO
ESPECIAL NÃO PROVIDO. I. A Instrução Normativa RFB n.º 1.288/2012, posteriormente
revogada

pela Instrução Normativa nº 1.603/2015, regulam os procedimentos administrativos


e fiscais de habilitação de importadores, exportadores e internadores da Zona
Franca de Manaus para operação no Sistema Integrado de Comércio Exterior
(Siscomex) e de credenciamento de seus representantes para a prática de atividades
relacionadas ao despacho aduaneiro. II. Circunscritos ao poder regulamentar da
Administração Tributária tais instruções normativas visam dar fiel cumprimento às
disposições do artigo 16 da Lei nº 9.779/1999, e, dos artigos 2º e 3º da Portaria
MF nº 350/2002, dispondo especificamente sobre normas de controle do Comércio
Exterior e das relações tributárias acessórias decorrentes, nos termos do artigo 96
c/c 100, I, do Código Tributário Nacional. IV. Assim, no que tange à disciplina
destes temas, as instruções normativas sobreditas, exaradas pela Receita Federal do
Brasil, não extrapolam ou invadem a competência normativa do Decreto n.º

43
70.235/1972, pois diferentemente daquelas normas, esta, dispõem especificamente
sobre normas gerais de Processo Administrativo Fiscal, sem qualquer
correspondência aos atos de Comércio Exterior e seus regramentos tributários
acessórios. IV. Recurso especial não provido. (STJ - Acórdão Resp 1637516 / Rj,
Relator(a): Min. Mauro Campbell Marques, data de julgamento: 04/12/2018, data de
publicação: 11/12/2018, 2ª Turma)

 Ementa: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO.


TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. INCONSTITUCIONALIDADE.
COMPENSAÇÃO. RETIFICAÇÃO DA GFIP PELO CONTRIBUINTE. CRIAÇÃO DE OBRIGAÇÃO
TRIBUTÁRIA ACESSÓRIA. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTO

LEGAL. EXCESSO DE PODER REGULAMENTAR. ANÁLISE DE NORMA


INFRACONSTITUCIONAL. OFENSA REFLEXA. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE.
INTERPRETAÇÃO DE NORMA INFRACONSTITUCIONAL. SÚMULA Nº 636 DO STF.
AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. (STF - Acórdão Are 940271 Agr / Mg - Minas
Gerais, Relator(a): Min. Luiz Fux, data de julgamento: 29/03/2016, data de publicação:
27/04/2016, 1ª Turma)

 Agravo regimental em mandado de segurança. Presidente da República. Suposto ato


omissivo. Poder normativo. Iniciativa discricionária do chefe do Poder Executivo.
Ausência de omissão. Questão incidental atinente à recepção de normas pré-
constitucionais. Pedido autônomo. Agravo interno do qual se conhece e ao qual se
nega provimento. 1. De acordo com entendimento jurisprudencial do STF, não cabe
ao Poder Judiciário compelir o chefe do Poder Executivo a exercer seu poder
normativo, dada a iniciativa eminentemente discricionária que ele detém. Precedentes.
2. Questão incidental que alcance o fenômeno da recepção de ordenamento jurídico
anterior à atual Constituição Federal de 1988 deve ser ventilada como causa de pedir,
e não exposta como pedido autônomo. Precedentes. 3. A inexistência de
44
argumentação apta a infirmar o julgamento monocrático conduz à manutenção da
decisão recorrida. 4. Agravo regimental do qual se conhece e ao qual se nega
provimento. (STF - Acórdão Ms 34781 Agr / Df - Distrito Federal, Relator(a): Min. Dias
Toffoli, data de julgamento: 09/04/2018, data de publicação: 09/05/2018, 2ª Turma)

Poder de polícia

 ADMINISTRATIVO. PODER POLÍCIA. FISCALIZAÇÃO. MULTA. DECADÊNCIA.


INOCORRÊNCIA. COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS. ERRO DE MEDIÇÃO. NÃO COMPROVAÇÃO.
DEVOLUÇÃO. CABIMENTO.

1. Tendo a multa se originado do descumprimento de determinação exarada em


Termo de Notificação lavrado em 30.04.2007, não se operou a decadência alegada,
uma vez que o Auto de Infração foi lavrado em 02.12.2010, antes do decurso do prazo
decadencial de 05 anos.

2. Porque não provada a alegação de que o déficit de estoque de combustível


apurado pela ANEEL teria decorrido da utilização de parâmetros diferentes de
auferição, é forçosa a sua devolução de combustível.

3. Apelação improvida. (TRF5 - Acórdão Ac - Apelação Civel 00166377720124058100,


Relator(a): Des. André Luis Maia Tobias Granja, data de julgamento: 14/12/2017, data
de publicação: 02/02/2018, 1ª Turma)

 Ementa: DIREITO TRIBUTÁRIO. AGRAVO INTERNO EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO


COM AGRAVO. TAXA DE FISCALIZAÇÃO DE LOCALIZAÇÃO, INSTALAÇÃO E
FUNCIONAMENTO. BASE DE CÁLCULO. REGULAR EXERCÍCIO DO PODER DE POLÍCIA. LEI
MUNICIPAL Nº 13.477/2002. BASE DE CÁLCULO.

PROPORCIONALIDADE COM O CUSTO DA ATIVIDADE ESTATAL DE FISCALIZAÇÃO.


CONSTITUCIONALIDADE. PRECEDENTES. 1. É constitucional a Lei municipal nº

45
13.477/2002. Não merece prosperar o argumento de inconstitucionalidade da base
cálculo utilizada, determinada pela lei, pois esta fixa parâmetros objetivos e guarda
correspondência com os custos do exercício do poder de polícia. 2. O Tribunal de
origem solucionou a controvérsia com fundamento na jurisprudência firmada por esta
Corte. Precedentes. 3. Agravo interno a que se nega provimento. (STF - Acórdão
Are 906203 Agr / Sp - São Paulo, Relator(a): Min. Roberto Barroso, data de julgamento:
25/08/2017, data de publicação: 08/09/2017, 1ª Turma)

 Ementa: SEGUNDO AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO.


TRIBUTÁRIO. TAXA DE VERIFICAÇÃO DO CUMPRIMENTO DE POSTURAS E NORMAS
URBANÍSTICAS E TAXA DE LICENÇA DE LOCALIZAÇÃO. EFETIVO EXERCÍCIO DO PODER
DE POLÍCIA. REEXAME DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO DOS AUTOS. SÚMULA
279/STF. TAXA DE SEGURANÇA OSTENSIVA CONTRA DELITOS E TAXA DE SEGURANÇA
CONTRA INCÊNDIOS – TSI. COMPETÊNCIA PARA INSTITUIÇÃO. SÚMULA 280/STF.
ATIVIDADE DE SEGURANÇA PÚBLICA. CUSTEIO EXCLUSIVO A PARTIR DE RECEITA DE

IMPOSTOS. SUBSISTÊNCIA DA DECISÃO AGRAVADA. AGRAVO A QUE SE NEGA


PROVIMENTO. I – As razões do agravo regimental são inaptas para desconstituir os
fundamentos da decisão agravada, que, por isso, se mantêm hígidos. II – O efetivo
exercício do poder de polícia, que legitima a cobrança das taxas em questão (Taxa de
Verificação do Cumprimento de Posturas e Normas Urbanísticas e Taxa de Licença de
Localização), foi afastado com base nas provas. Assim, para se chegar à conclusão
contrária à adotada pelo Tribunal a quo, necessário seria o reexame do conjunto
fático-probatório constante dos autos, o que atrai a incidência da Súmula 279/STF.
Inviável, portanto, o recurso extraordinário. Precedentes. III – A discussão sobre a
competência municipal para instituir as taxas de segurança ostensiva contra delitos e
de segurança contra incêndios necessita análise de normas infraconstitucionais locais.
Súmula 280/STF. IV – Agravo regimental a que se nega provimento. (STF - Acórdão

46
Ai 676768 Agr-segundo / Sc - Santa Catarina, Relator(a): Min. Ricardo Lewandowski,
data de julgamento: 25/05/2018, data de publicação: 06/06/2018, 2ª Turma)

 Agravo regimental no agravo de instrumento. Tributário. Taxa de Localização e


Fiscalização. Efetivo exercício do poder de polícia. Obrigatoriedade. Verificação.
Revolvimento de fatos e provas. Vedação. Súmula 279/STF. 1. Na jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal a efetividade do exercício do poder de polícia é
imprescindível para a cobrança de taxas de localização e fiscalização. 2. O Tribunal
de origem, a partir do contexto fático e probatório dos autos, notadamente diante do
fato de que a empresa “ficou inativa durante todo o ano calendário de 1998”,
entendeu pela inversão do ônus da prova, “cabendo agora à Fazenda Pública
demonstrar que a empresa estava, de fato, em atividade, desconstituindo a
mencionada presunção”. A partir de tal premissa concluiu que o poder de polícia,
supostamente exercido, não foi efetivo. 3. Para ultrapassar o entendimento do
Tribunal de origem e acolher a pretensão do agravante acerca da alegada legitimidade
da cobrança da Taxa de Fiscalização de Localização e Funcionamento (TFLF), seria
necessário reexaminar o conjunto fático-probatório dos autos, o que não é cabível em
sede de recurso extraordinário. Incidência do enunciado da Súmula nº 279 da Corte.
Precedentes. Nego provimento ao agravo regimental. (STF - Acórdão Ai 861701 Agr
/ Mg - Minas Gerais, Relator(a): Min. Dias Toffoli, data de julgamento: 02/12/2016, data
de publicação: 15/02/2017, 2ª Turma)

 ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO


ESPECIAL. AGENTE DE TRÂNSITO. FUNÇÃO DE FISCALIZAÇÃO. PODER
DECISÓRIO SOBRE INTERESSES DE TERCEIROS. ATIVIDADE INERENTE AO PODER DE
POLÍCIA. ATIVIDADE INCOMPATÍVEL COM O EXERCÍCIO DA ADVOCACIA. 1. A
atividade exercida por ocupante do cargo de assistente de trânsito, por envolver
fiscalização e poder decisório sobre interesses de terceiro, inerentes ao
poder de polícia, é
47
incompatível com o exercício da advocacia, nos termos do art. 28, V, da Lei n. 8.906/94.
2. Agravo interno desprovido. (STJ - Acórdão Agint no Agint no Resp 1631637 / Pe,
Relator(a): Min. Sérgio Kukina, data de julgamento: 30/11/2017, data de publicação:
07/12/2017, 1ª Turma)

 Ementa: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO.


ADMINISTRATIVO. PODER DE POLÍCIA. ALVARÁ DE CONSTRUÇÃO DE ESTAÇÃO
RADIOBASE. NECESSIDADE DE ANÁLISE DA LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL LOCAL.
INCIDÊNCIA DA SÚMULA 280 DO STF. FUNDAMENTO NÃO

IMPUGNADO. SÚMULA 283/STF. INCIDÊNCIA. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. (STF


- Acórdão Re 860938 Agr / Df - Distrito Federal, Relator(a): Min. Luiz Fux, data de
julgamento: 28/06/2016, data de publicação: 09/08/2016, 1ª Turma)

48
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARVALHO FILHO, José dos Santos. MANUAL DE DIREITO ADMINSITRAVO. 30 Ed. São
Paulo: Atlas, 2016.

CARVALHO, Matheus. MANUAL DE DIREITO ADMINSITRAVO. 3 ed. Salvador: JusPODIVM,


2016.

MAZZA, Alexandre. MANUAL DE DIREITO ADMINSITRAVO – 9. ed. – São Paulo: Saraiva


Educação, 2019.

OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende. CURSO DE DIREITO ADMINISTRATIVO. 5 ed. Rio de


Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2017.

PIETRO, Maria Sylvia Zanella Di. DIREITO ADMINISTRATIVO. 32. ed. rev. atual e ampl. –
Rio de Janeiro: Forense, 2019.

49
CARREIRAS POLICIAIS

Direito Administrativo
Capítulo 6
SUMÁRIO
DIREITO ADMINISTRATIVO ........................................................................................................................................... 3

1. Atos Administrativos ................................................................................................................................................ 3

1.1 Fato Administrativo ................................................................................................................................................................ 3

1.2 Ato Administrativo x Ato da Administração ............................................................................................................... 4

1.3 Atributos dos Atos Administrativos ................................................................................................................................ 6

1.3.1 Presunção de Legitimidade e Veracidade.................................................................................................................... 7

1.3.2 Imperatividade .......................................................................................................................................................................... 7

1.3.3 Autoexecutoriedade ............................................................................................................................................................... 8

1.3.4 Tipicidade.................................................................................................................................................................................... 9

1.4 Elementos dos Atos Administrativos ............................................................................................................................10

1.4.1 Competência............................................................................................................................................................................11

1.4.2 Forma ..........................................................................................................................................................................................13

1.4.3 Finalidade ..................................................................................................................................................................................14

1.4.4 Motivo ........................................................................................................................................................................................14

1.4.5 Objeto.........................................................................................................................................................................................16

1.5 Vícios nos elementos de formação:..............................................................................................................................17

1.5.1 Vícios de Competência .......................................................................................................................................................17

1.5.2 Vícios de Finalidade .............................................................................................................................................................18

1.5.3 Vício de Forma .......................................................................................................................................................................19

1.5.4 Vício de Motivo:.....................................................................................................................................................................19

1.5.5 Vício de Objeto ......................................................................................................................................................................20

1.6 Discricionariedade e Vinculação .....................................................................................................................................20

1.7 Classificação dos atos administrativos: .......................................................................................................................21

1.7.1 Quanto ao grau de liberdade em sua prática: ........................................................................................................21


1
1.7.2 Quanto aos destinatários ..................................................................................................................................................21

1.7.3 Quanto ao alcance................................................................................................................................................................22

1.7.4 Quanto à formação de vontade .....................................................................................................................................22

1.7.5 Quanto às prerrogativas: ...................................................................................................................................................23

1.7.6 Quanto aos efeitos ...............................................................................................................................................................23

1.7.7 Quanto aos requisitos de validade ...............................................................................................................................24

1.7.8 Quanto à exequibilidade....................................................................................................................................................24

1.8 Espécies de atos administrativos: ..................................................................................................................................25

1.8.1 Atos normativos .....................................................................................................................................................................25

1.8.2 Atos Ordinatórios ..................................................................................................................................................................25

1.8.3 Atos Negociais........................................................................................................................................................................25

1.8.4 Atos Enunciativos ..................................................................................................................................................................27

1.8.5 Atos Punitivos: ........................................................................................................................................................................28

1.9 Extinção dos atos administrativos .................................................................................................................................28

1.10 Convalidação, Ratificação, Confirmação, Reforma e Conversão ......................................................................30

QUADRO SINÓTICO ...................................................................................................................................................... 32

QUESTÕES COMENTADAS ........................................................................................................................................ 40

GABARITO ........................................................................................................................................................................... 49

LEGISLAÇÃO COMPILADA............................................................................................................................................ 50

JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................................................................. 55

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................................. 58

2
DIREITO ADMINISTRATIVO

Capítulo 6

1. Atos Administrativos

1.1 Fato Administrativo

Inicialmente, antes de adentrar no conteúdo propriamente dito, é importante fazer a


distinção entre fato jurídico e ato jurídico.

Os fatos são produzidos independente de qualquer manifestação de vontade,


ainda que provoquem efeitos no mundo jurídico e no âmbito da administração. Como
exemplo podemos citar o falecimento de um servidor público, que apesar de gerar inúmeros
efeitos jurídicos para a administração não decorre da manifestação de vontade, sendo,
portanto, fato administrativo.

Parte da doutrina considera fato administrativo as omissões da Administração que produzam


efeitos jurídicos. Sendo assim, o silêncio administrativo não é considerado ato administrativo,
ainda que possa gerar efeitos jurídicos.

3
Importante ressaltar, ainda, que os fatos administrativos não estão sujeitos à teoria
geral dos atos administrativos, não possuindo atributos e requisitos, não podendo ser
anulados nem revogados.

Em resumo o ato é imputável ao homem e o fato decorre de acontecimentos


naturais, que independem do homem ou que dele dependem apenas indiretamente.

1.2 Ato Administrativo x Ato da Administração

Quando a manifestação da vontade humana produz efeitos jurídicos diz-se que um


ato jurídico fora formado. Se este ato resulta de manifestações da Administração tem-se um
ato administrativo.

Os poderes Judiciário e Legislativo só editam atos administrativos quando estiverem


no exercício da função administrativa, ou seja, função atípica desses poderes.

Diante disso, pode-se conceituar ato administrativo como sendo a manifestação


unilateral do Estado - ou de quem o represente - que produz efeitos jurídicos imediatos,
com observância da lei, sob o regime jurídico de direito público e sujeita ao controle
jurisdicional.

Após apresentar esse conceito, faz-se necessário tecer alguns comentários


importantes sobre ele:

 Ao utilizar a palavra “declaração”, deixa-se claro que deve haver uma


exteriorização de pensamento para que exista um ato administrativo. Como já
falado anteriormente: o silêncio e a omissão da Administração Pública não
podem ser considerados atos administrativos.
 O conceito apresentado é restrito ao ato administrativo unilateral que é o
ato administrativo típico. Os atos bilaterais são os contratos.

4
 O ato administrativo também pode ser ´praticados pelos particulares que
estejam investidos de prerrogativas estatais.

Já quanto os atos da administração, cabe, primeiramente, mencionar que essa


expressão tem sentido mais amplo do que a expressão “ato administrativo”, que abrange
apenas determinada categoria de atos praticados no exercício da função administrativa, ou
seja, todo ato praticado no exercício da função administrativa é ato da Administração, mas
nem todo ato da Administração é ato administrativo.

Dentre os atos da administração estão:

1) Atos de direito privado: são os atos praticados pela Administração Pública em


igualdade de condições com o particular;
2) Atos materiais da Administração: são os atos que envolvem apenas execução
material, de ordem prática e em regra ocorrem como consequência de um ato
administrativo;
3) Atos de conhecimento, opinião, juízo e valor: são atos que não produzem
efeitos jurídicos imediatos. Exemplo: atestados e certidões
4) Atos políticos: são os atos praticados pelos agentes de cúpula da Administração
em obediência direta à Constituição da República;
5) Contratos administrativos e convênios: são os atos em que vontade é
manifestada de forma bilateral;
6) Atos normativos: são os atos dotados de generalidade e abstração. São só
formalmente atos administrativos;
7) Atos administrativos propriamente ditos: manifestação de vontade cujo fim
imediato seja a produção de efeitos jurídicos, regidos pelo direito público.

5
1.3 Atributos dos Atos Administrativos

Os atributos do ato administrativo são características que permitem afirmar que tais
atos se submetem a um regime jurídico de direito público, distinguindo-os dos atos de
direito privado.

Os atributos do ato administrativo são:

PRESUNÇÃO DE PRESUNÇÃO DE
LEGITIMIDADE VERACIDADE

IMPERATIVIDADE AUTOEXECUTORIEDADE

TIPICIDADE

Um macete para fixar os atributos do ato administrativo é gravar as iniciais: PATI

P (presunções); A (autoexecutoriedade); T (tipicidade); I (Imperatividade)

Estudaremos cada um especificamente a seguir:

6
1.3.1 Presunção de Legitimidade e Veracidade

A presunção de legitimidade diz respeito à conformidade do ato com a lei,


presume-se até prova em contrário – presunção relativa ou ainda presunção juris tantum –
que os atos administrativos foram admitidos com observância da lei.

Já a presunção de veracidade diz respeito aos fatos. Em decorrência desse atributo


presumem-se verdadeiros os fatos alegados pela Administração Pública, até prova em
contrário.

Um dos efeitos dessas presunções é o de permitir que o ato opere efeitos


imediatos, ainda que eivados de vícios ou defeitos. Há uma única situação em que esse
efeito da imediatidade é afastada: trata-se da ordem manifestamente ilegal dada a servidor
por seu superior hierárquico.

Outro efeito é a inversão do ônus da prova, ou seja, quem deve demonstrar a


existência de vício no ato é o administrado e não a Administração.

Essa inversão do ônus da prova não exime a Administração de, caso requisitada
pelo Judiciário, apresentar informações e documentos que comprovem a correspondência do
ato à realidade e à veracidade dos fatos.

1.3.2 Imperatividade

É o atributo pelo qual os atos administrativos se impõem a terceiros independente


da sua concordância, criando obrigações ou impondo restrições.

7
Decorre do princípio da supremacia do interesse público e também do chamado
“poder extroverso” que é a prerrogativa dada ao Poder Público de impor, de modo
unilateral, obrigações a terceiros, inclusive aos sujeitos que estão fora do âmbito interno da
Administração.

Esse atributo não existe em todos os atos administrativos, mas apenas nos que impõem
obrigações e restrições. Não estando, assim, presente nos atos enunciativos e nem no que
conferem direitos.

1.3.3 Autoexecutoriedade

É a prerrogativa de que certos atos administrativos sejam executados imediata e


diretamente pela própria Administração Pública, inclusive mediante o uso da força,
independente de ordem ou autorização judicial.

Assim como a imperatividade, o atributo da autoexecutoriedade não existe e todos


os atos, sendo possível apenas:

 Quando expressamente prevista em lei;


 Quando tratar-se de medida urgente.

Um dos limites a esse atributo é o patrimônio do particular. Para satisfazer os


créditos decorrentes de multa ou prejuízos causados ao erário, a Administração Pública não
pode invadir o patrimônio os particulares. Um exemplo de ato sem executoriedade é a
cobrança de multas administrativas não pagas espontaneamente pelo particular. Neste

8
caso, se os devedores não pagarem de forma voluntaria, haverá a necessidade de execução
pelo judiciário.

A doutrina desdobra a autoexecutoriedade em dois atributos, são eles:

(i) Exigibilidade: a Administração pode usar meios indiretos de coação, como


aplicação de multas ou de outras penalidades; e
(ii) Executoriedade: é a possibilidade da própria Administração praticar o ato ou
compelir, direta e materialmente, o administrado a praticá-lo. Emprega meios
diretos, como: demolição de obra irregular e dissipação de passeata.

Pode-se afirmar que o ato de aplicação de sanções disciplinares (da advertência à demissão) é
autoexecutório.

1.3.4 Tipicidade

É o atributo pelo qual o ato administrativo deve corresponder a figuras previamente


definidas em lei. Decorre diretamente do princípio da legalidade, impedindo que a
Administração Pública pratique atos inominados. Impede, também, a prática de totalmente
discricionários.

9
Maria Silvia Zanella Di Pietro ensina que a tipicidade só existe com relação aos atos unilaterais,
isso porque nos contratos (atos bilaterais) não há imposição de vontade da Administração
Pública.

1.4 Elementos dos Atos Administrativos

São as partes que compõem o ato, sendo por isso, considerados requisitos de
validade dos atos. Também podem ser chamados de requisitos ou pressupostos.

Podem ser divididos em:

1) Essenciais: são os elementos sem os quais o ato não existe;


2) Acidentais: podem ou não estar presente nos atos, são eles: o termo, a
condição e o modo ou encargo. Segundo Maria Silvia Zanella Di Pietro, esses elementos
referem-se o objeto do ato e só podem existir nos atos discricionários.

Os elementos essenciais são 5 (cinco):

COMPETÊNCIA FORMA FINALIDADE

MOTIVO OBJETO

10
Para fixar os elementos do ato é só decorar o Mnemônico: COFOFIMO

CO (competência), FO (forma), FI (finalidade), M (motivo), O (objeto)

1.4.1 Competência

É o poder atribuído ao agente para a prática do ato. Originariamente, as


competências são atribuídas aos entes políticos e a partir deles são distribuídas entre os
órgãos e dentro destes, entre seus agentes.

Deve ocorrer de forma expressa, ou seja, não há presunção de competência. Mas


cumpre anotar que a lei não é fonte exclusiva da competência administrativa, determinados
agentes retiram sua competência diretamente da Constituição da República ou de normas
administrativas infralegais (atos de organização). Assim, a competência pode ser: primária:
quando prevista diretamente da CRFB; e secundária: quando emanada de normas infralegais.

A competência possui alguns critérios definidores que são:

1) Matéria: a competência é definida segundo a especificidade da função a ser


exercida;
2) Hierarquia: as competências são escalonadas de acordo com seu nível de
complexidade e responsabilidade;
3) Lugar: a competência é distribuída entre órgãos localizados em pontos
territoriais distintos;
4) Tempo: a competência é conferida por determinado período de tempo;

11
5) Fracionamento: a competência é distribuída por diversos órgãos ou agentes,
cuja manifestação é imprescindível para a completa formação do ato.

Já dentre as características da competência pode-se destacar que:

1) É de exercício obrigatório: sendo um poder-dever do agente;


2) É irrenunciável: o administrador atua em nome e interesse da coletividade,
não podendo renunciar àquilo que não lhe pertence. Essa característica não
impede que a Administração delegue o exercício da competência;
3) É inderrogável/intransferível: não se admite transação de competência. Uma
vez fixada em norma, deve ser rigidamente observada por todos. Mesmo
quando se permite a delegação é preciso um ato formal;
4) É imodificável por mera vontade do agente: só quem pode modificar
competência primária é a lei ou a CRFB;
5) É imprescritível: mesmo quando não utilizada;
6) É improrrogável: o fato de um órgão ou agente incompetente praticar um ato
não faz com que ele passe a ser competente.

Em relação à competência é importante destacar sobre dois institutos: a delegação


de competência e a avocação de competência.

A delegação consiste na transferência de funções de um agente a outro,


geralmente de plano hierarquicamente inferior ou de mesma hierarquia, mas também é
possível nos casos em que não exista subordinação hierárquica. O ato de delegação
especificará as matérias e os poderes transferidos, os limites de atuação, a duração e os
objetivos, podendo conter ressalva de exercício da atribuição delegada. A delegação deve ser
apenas de parte da competência e não de todas as atribuições.

Deve-se mencionar que o ato de delegação é discricionário, revogável a qualquer


tempo e apenas transfere o exercício, eis que a titularidade permanece com quem delegou.

12
Não podem ser objeto de delegação: (i) edição de atos de caráter normativo; (ii)
decisão de recursos administrativos; e (iii) as matérias de competência exclusiva.

Já a avocação é o ato pelo qual a autoridade hierarquicamente superior chama


para si o exercício das funções que a norma originalmente atribuiu a um subordinado.

É medida de caráter excepcional, devendo ser feita apenas temporariamente e por


motivos relevantes devidamente justificados. Também não é possível quando se tratar de
competência exclusiva do subordinado.

1.4.2 Forma1

É o modo como o ato se exterioriza. De regra, os atos administrativos devem ter a


forma escrita. Vale o princípio da solenidade das formas, pelo qual o ato deve ser escrito,
registrado e publicado. É elemento vinculado.

Entretanto, existem atos administrativos praticados de forma não escrita, a exemplo


de ordens verbais, gestos, apitos, sinais luminosos entre outros. Esses são meios excepcionais
de exteriorização do ato, que atendem a situações especiais.

A doutrina tem moldado as exigências quanto às formalidades. Devem ser exigidas


tão somente as formalidades estritamente essenciais, desprezando-se procedimentos
meramente protelatórios. É o chamado formalismo moderado.

1
Vide questões 06 e 10 ao final do capítulo.
13
1.4.3 Finalidade

Decorre do princípio da impessoalidade, pelo qual o fim a ser buscado pelo agente
público deve ser apenas o prescrito em lei. É sempre um elemento vinculado.

Distingue-se do motivo pois este antecede a prática do ato, correspondendo aos


fatos que levam a Administração a praticar o ato. Já a finalidade sucede a prática do ato, eis
que corresponde a algo que a Administração quer alcançar.

Também não se confunde com o objeto, pois este é o efeito jurídico imediato que
o ato produz, enquanto a finalidade é o efeito geral ou mediato.

Todos os atos devem obedecer a uma finalidade genérica – satisfação do interesse


público – e a uma finalidade específica – que seria o objeto do ato, ou seja, o resultado
específico que cada ato deve produzir, conforme definido em lei.

1.4.4 Motivo2

É o pressuposto de fato e de direito que justificam a prática do ato. Pressuposto


de fato é o conjunto de situações ocorridas no mundo real que leva a Administração Pública a
praticar o ato. Pressuposto de direito é o dispositivo legal em que se baseia o ato.

Todo ato administrativo deve ter um motivo lícito, ou seja, baseado na lei.

2
Vide questões 03 e 07 ao final do capítulo.
14
O motivo pode ser discricionário ou vinculado. Será discricionário quando: (i) a lei
não o definir, deixando-o ao inteiro critério da Administração Pública; ou (ii) a lei definir o
motivo utilizando noções vagas, os chamados conceitos jurídicos indeterminados. Nos casos
em que a lei utiliza conceitos técnicos, a discricionariedade poderá ser afastada.

O motivo não pode ser confundido com a motivação. A motivação é a exposição


dos motivos. Em regra, deve ser prévia ou concomitante à expedição do ato. É possível
distinguir duas formas de motivação:

1) Contextual: a motivação é expressa no próprio ato;


2) “Aliunde”: é a motivação que se baseia em processo administrativo ou pareceres
prévios
Como regra, todos os atos devem ser motivados, sejam eles vinculados ou
discricionários, para dar transparência à atuação administrativa.

Também deve-se diferenciar o motivo do móvel. O motivo é a realidade objetiva e


externa ao agente, servindo de suporte à expedição do ato. Móvel é a representação
subjetiva, psicológica, interna do agente – intenção do agente.

A vontade do agente só é relevante nos atos administrativos discricionários. Nestes


casos se o móvel do agente for viciado por sentimentos de favoritismo ou perseguição o ato
será inválido.

TEORIA DOS MOTIVOS DETERMINANTES: a validade o ato administrativo está


adstrita aos motivos indicados como seu fundamento, de maneira que, se os motivos forem
inexistentes ou falsos, o ato será nulo.

15
Se o ato prescinde de motivação, mas a Administração o faz indicando um motivo
falso, o ato será nulo por vício no elemento motivo. Porém, se é imprescindível a
motivação e a Administração não o faz, o ato será nulo no elemento forma.

1.4.5 Objeto

É o elemento imediato que o ato produz. Em outras palavras, compreende os


direitos nascidos, transformados ou extintos em decorrência do ato.

O objeto do ato identifica-se com o seu conteúdo. Para encontrar esse elemento,
basta verificar o que o ato enuncia, prescreve, dispõe indagando: “para que serve o ato?”

Além disso, o objeto deve ser lícito – conforme a lei, possível, certo e moral.

 Objeto Natural x Acidental:

O objeto natural é o efeito jurídico que o ato produz, sem necessidade de expressa
menção. O acidental é o efeito jurídico que o ato produz em decorrência de cláusulas
acessórias, compreendendo o encargo/modo, o termo e a condição (elementos acidentais):

1) Encargo ou modo: é o ônus imposto ao destinatário do ato;


2) Termo: é a cláusula que indica o dia de início ou de término da eficácia do ato.
3) Condição: é a cláusula que subordina o efeito do ato a evento futuro e incerto.
Pode ser: (i) suspensiva: suspende o início da eficácia do ato, se a condição
suspensiva não ocorrer, o ato nem começa a produzir efeitos; e (ii) resolutiva:
prevê que se determinada situação ocorrer, a produção de efeitos jurídicos do
ato será cessada.

16
 Objeto Vinculado x Discricionário:

Assim como o motivo, o objeto é um dos elementos que podem ser vinculados ou
discricionários.

1.5 Vícios nos elementos de formação:

1.5.1 Vícios de Competência

Em relação ao elemento competência, os vícios podem ser decorrentes de


incompetência ou de incapacidade.
A incompetência fica caracterizada quando o ato não se inclui nas atribuições
legais do agente que o praticou e também quando o sujeito pratica exorbitando de suas
atribuições. Decorre de:
(i) Usurpação de função pública: ocorre quando alguém se apodera das
atribuições dos agentes públicos, sem que, no entanto, tenha sido investido
no cargo, emprego ou função. Nessa hipótese, os atos praticados pelo
usurpador são considerados inexistentes;
(ii) Excesso de poder: o agente público excede os limites de sua competência. É
uma das modalidades de abuso de poder. O excesso de poder nem sempre
acarreta a nulidade do ato: em regra, o vício admite convalidação, ou seja, a
autoridade competente pode ratificar o ato praticado, desde que não se trate
de competência em razão da matéria ou de competência exclusiva;
(iii) Função de fato: ocorre quando a pessoa que pratica o ato está
irregularmente investida no cargo, emprego ou função, mas a sua situação
tem aparência de legalidade. Os atos praticados pelos funcionários de fato
são considerados válidos e eficazes perante terceiros de boa-fé.

17
Função de fato e usurpação de função não se confundem: nesta, a pessoa não foi investida
no cargo; naquela, a pessoa foi investida, mas existe alguma ilegalidade ou impedimento legal
em sua investidura.

Além dos vícios de incompetência, ainda existem os de incapacidade, que conforme


a Lei 9.784/99 são dois:

(i) Impedimento: situações objetivas, facilmente constatáveis que geram presunção


absolta de incapacidade; e
(ii) Suspeição: refere-se a situações subjetivas gerando presunção relativa de
incapacidade, razão pela qual o vício inexiste se não for arguido pelo interessado
(o agente não é obrigado a se declarar suspeito).

1.5.2 Vícios de Finalidade3

Trata-se de desvio de poder ou desvio de finalidade que ocorre quando o agente


pratica ato com inobservância do interesse público – finalidade genérica – ou com objetivo
diverso daquele previsto na lei para o tipo de ato praticado – finalidade específica.

3
Vide questão 05 ao final do capítulo.
18
O vício de finalidade configura vício insanável, ou seja, não pode ser convalidado,
devendo ser sempre anulado.

1.5.3 Vício de Forma

Consiste na omissão ou na observância incompleta de formalidades indispensáveis


ao ato.

Quando a forma é essencial, o vício de forma é insanável, sendo obrigatória a


anulação. Nos demais casos, o vício é passível de convalidação.

1.5.4 Vício de Motivo:

Pode ocorrer vício de motivo quando: (i) a matéria de fato ou de direito em que se
baseia o ato é inexistente (motivo inexistente); (ii) o motivo é falso; ou (iii) há incongruência
entre o fato e a norma, ou seja, quando o motivo é ilegítimo.

Em qualquer caso, o vício de motivo acarreta invalidade, sendo obrigatória sua


anulação. Portanto, insanável.

19
1.5.5 Vício de Objeto

Ocorrerá este vício quando o objeto for: proibido pela lei; com conteúdo diverso do
previsto em lei para aquela situação; impossível; imoral e incerto em relação aos destinatários,
às coisas, ao tempo e ao lugar.

Também é insanável, sendo obrigatória a anulação.

1.6 Discricionariedade e Vinculação4

Apesar de ter sido tópico debatido no capítulo que trata dos poderes
administrativos, cabe aqui, ressaltar que nos atos vinculados, todos os elementos são
vinculados, não restando nenhuma liberdade ao agente público.

Já nos atos discricionários, só serão vinculados: a competência, a finalidade e a


forma. O motivo e o objeto serão discricionários e juntos, constituem o que chamamos de
mérito administrativo.

O mérito administrativo reside na possibilidade estabelecida em lei para valoração


do motivo e escolha do objeto, segundo critérios de conveniência e oportunidade.

O controle de mérito é sempre controle de oportunidade e conveniência, só podendo ser,


portanto, realizado pela própria Administração que resulta na revogação ou não do ato, e
nunca em sua anulação.

4
Vide questão 04 ao final do capítulo.
20
O Judiciário, em sua função típica, não revoga atos, apenas os anula se houver ilegalidade ou
ilegitimidade.

1.7 Classificação dos atos administrativos:

1.7.1 Quanto ao grau de liberdade em sua prática:

1) Vinculados: são os atos em que a lei cria fixa os requisitos e condições de sua
realização, não deixando liberdade de ação para a Administração Pública;
2) Discricionários: são aqueles em que a Administração tem liberdade de ação
dentro de determinados parâmetros previamente definidos em lei. Além da lei,
os princípios da razoabilidade, proporcionalidade e da moralidade são
considerados limitadores.

1.7.2 Quanto aos destinatários

1) Gerais: são aqueles expedidos sem destinatários determinados, dotados de


“generalidade e abstração”, com finalidade normativa, alcançando todos os
sujeitos que se encontrem na mesma situação. Também são chamados de atos
abstratos, impróprios ou normativos. O conteúdo desses atos é discricionário.
Exemplos: regulamentos, instruções normativas, portarias, resoluções e
circulares.
2) Individuais: são os atos que produzem efeitos jurídicos no caso concreto.
Regulam situações concretas e tem destinatários certos. Também são
chamados de atos concretos ou próprios. Pode ter um único destinatário (ato
singular) ou vários destinatários (ato plúrimo). Podem ser vinculados ou
discricionários e ao contrário dos atos gerais, admitem impugnação direta por

21
meio de recursos administrativos, bem como ações judiciais comuns ou
especiais. Exemplos: nomeação, exoneração, tombamento, autorização, licença.

1.7.3 Quanto ao alcance

1) Internos: produzem efeitos apenas no âmbito da Administração, atingindo


apenas órgãos e agentes públicos. Exemplo: portaria de remoção de servidor.
2) Externos: os efeitos desse ato alcançam os administrados em geral, os
contratantes e, em certos casos, os próprios servidores. Exemplos: nomeação
de provados em concurso público, editais de licitação.

1.7.4 Quanto à formação de vontade

1) Simples: produzidos pela manifestação de um único órgão, que pode ser


singular ou colegiado. Exemplos: despacho de chefe de secretaria; decisão de
Tribunais.
2) Complexos: Conjugação de vontades autônomas de órgãos independentes
para a formação de um único ato. Só se aperfeiçoa com a manifestação de
todos os órgãos que devem contribuir para a sua formação. Exemplos:
nomeações a cargo do Presidente da República que dependem de aprovação
do Senado; Concessão de aposentadoria do servidor pela Administração que
depende de apreciação do Tribunal de Contas.
3) Compostos: manifestação de dois ou mais órgãos em que a vontade de um é
instrumental em relação a do outro. Praticam-se dois atos: um principal e
outro acessório. Quando o ato acessório é prévio, sua função é autorizar a
prática do ato principal; quando é posterior, tem a função de conferir eficácia.

22
Antes da formação dos atos complexos ou compostos, pode surgir o chamado efeito
prodrômico. É um efeito atípico e um exemplo de sua ocorrência é quando o servidor recebe
os proventos de aposentadoria quando esta é concedida pela Administração, mas ainda não
foi apreciada pela Corte de Contas.

1.7.5 Quanto às prerrogativas:

1) Atos de império: são aqueles que a Administração pratica usando de sua


supremacia sobre os administrados, criando obrigações e restrições de forma
unilateral. Exemplos: desapropriação, interdição de estabelecimento.
2) Atos de gestão: a Administração pratica na qualidade de gestora de seus bens
e serviços sem usar de sua supremacia, assemelhando-se aos atos praticados
pelas pessoas privadas. Exemplo: aluguel de um imóvel pertencente a
particular.
3) Atos de expediente: Visam dar andamento aos processos e papéis da
Administração. São atos de rotina interna e sua principal característica é
ausência de conteúdo decisório. Exemplo: protocolo.

1.7.6 Quanto aos efeitos

1) Constitutivos: cria uma nova situação jurídica, que pode ser um novo direito
ou uma nova obrigação. Exemplos: licenças, autorizações, nomeações.

23
2) Extintivos: extinguem direitos e obrigações. Exemplos: demissão, cassação de
autorização.
3) Declaratórios: afirmam a existência de um fato ou de uma situação jurídica
anterior. Exemplo: atestados e certidões.

1.7.7 Quanto aos requisitos de validade

1) Válido: é aquele praticado em conformidade com a lei, sem nenhum vício;


2) Nulo: é aquele com vício insanável. São ilegais ou ilegítimos e, por isso, não
podem ser convalidados;
3) Anulável: apresenta defeito sanável, ou seja, passível de convalidação. São
sanáveis os vícios de competência (exceto em razão da matéria ou de
competência exclusiva) e o vício de forma;
4) Inexistente: possui apenas aparência de ato administrativo, mas possui algum
defeito que o impedem de produzir efeitos.

A anulação do ato nulo possui eficácia ex tunc, admitindo-se a preservação dos efeitos
perante os terceiros de boa-fé. Em relação aos atos inexistentes, nenhum efeito pode ser
validamente mantido, nem mesmo perante os terceiros de boa-fé.

1.7.8 Quanto à exequibilidade

1) Perfeitos: é aquele que já foi produzido, que já existe no mundo jurídico.


2) Eficaz: é aquele que já está apto para produzir efeitos.

24
3) Pendente: é aquele que depende de algum evento futuro para que comece a
produzir efeitos.
4) Consumado/Exaurido: é o que já produziu todos os efeitos.

1.8 Espécies de atos administrativos:

1.8.1 Atos normativos

Os atos normativos têm efeito geral e abstrato, não possuindo destinatários


certos, são os chamados atos gerais. São atos administrativos apenas em sentido formal, eis
que materialmente são verdadeiras normas jurídicas. Porém, não podem inovar no
ordenamento.

Exemplos: (i) decretos: manifestação de vontade dos chefes do Executivo; (ii)


regulamentos: detalham os mandamentos da lei; (iii) instruções normativas: expedidos pelos
Ministros de Estado.

1.8.2 Atos Ordinatórios

São atos com efeitos internos - endereçados aos servidores- que visam disciplinar o
funcionamento da Administração e a conduta funcional dos agentes. Possuem fundamento no
poder hierárquico e não atingem os particulares em geral.

Exemplos: (i) portarias: trazem determinação geral ou especial aos que a ela se
submetem; (ii) circulares internas: para transmitir ordens internas a fim de uniformizar o
tratamento de determinando assunto; (iii) ordens de serviço; (iv) avisos e outros.

1.8.3 Atos Negociais

São aqueles em que a vontade da Administração coincide com o interesse do


administrado. Embora se caracterizem pelo interesse recíproco, não são atos bilaterais. Ao
contrário, são manifestações unilaterais da Administração Pública

25
Esses atos estabelecem efeitos jurídicos entre Administração Pública e particular,
impondo a ambos observância de seu conteúdo e respeito às condições.

Não cabe falar em imperatividade nem autoexecutoriedade nos atos negociais, eis que não é
um ato imposto ao particular.

Possuem efeitos concretos e individuais. Podem ser:

a) Vinculados: a lei estabelece os requisitos e uma vez atendidos pelo particular,


geram para ele direito subjetivo a obtenção do ato. Exemplo: licença para
exercício da profissão, licença para construir;
b) Discricionários: podem ou não ser editados, conforme juízo de conveniência e
oportunidade da Administração Pública. Exemplos: autorização para prestação
de serviços e permissão de uso de bens públicos;
c) Precário: Não gera direito adquirido, podendo ser revogado a qualquer tempo.
Atende predominantemente ao interesse do particular;
d) Definitivos: são ato vinculados e admitem apenas cassação (ilegalidade gerada
pelo particular na execução) e anulação (ilegalidade na sua origem).

As principais espécies de atos negociais são: (i) licença: ato vinculado e definitivo;
(ii) autorização: ato discricionário e precário pelo qual a Administração possibilita o exercício
de alguma atividade predominantemente do particular; (iii) permissão: ato discricionário e

26
precário pelo qual a Administração faculta ao particular uso de bem público no interesse
público; (iv) admissão: ato vinculado; (v) aprovação: ato discricionário; (vi) homologação: ato
vinculado.

1.8.4 Atos Enunciativos

São aqueles que atestam ou certificam uma situação preexistente. São considerados
atos administrativos apenas em sentido formal.
Exemplos: (i) certidão: é a cópia de informação registradas em algum banco de
dados da Administração; (ii) atestado: é uma declaração referente a uma situação; (iii)
parecer: é uma manifestação técnica de caráter opinativo emitida por órgão especializado; (iv)
apostila: ato aditivo usado para corrigir, atualizar ou complementar dados.

O parecer pode ser: a) obrigatório: a autoridade é obrigada a solicitar opinião técnica,


podendo acolhe-la ou não. A obrigatoriedade reside apenas na solicitação do ato; e b)
facultativo: quando a autoridade pode solicitar ou não o parecer.

Via de regra, o parecer não vincula a autoridade, mas em alguns casos pode ter efeito
vinculante.

27
1.8.5 Atos Punitivos:

São aqueles que impõem sanções aos que descumprem normas legais ou
administrativas. Podem ser: (i) internos: têm como destinatários os servidores públicos; (ii)
externos: têm como destinatários os particulares.

1.9 Extinção dos atos administrativos

Os casos de extinção são situações nas quais o ato deixa de produzir efeitos, sendo
retirado do mundo jurídico.

Pode se dar das seguintes formas:

1) Extinção natural: quando o ato já cumpriu os seus efeitos ou pelo advento do


termo final ou prazo, nos atos sujeitos a termo;
2) Extinção subjetiva: quando o sujeito ao qual o ato se destina desaparece;
3) Extinção Objetiva: quando o objeto do ato desaparece;
4) Renúncia: ocorre quando o próprio particular abre mão do benefício
concedido pelo ato. Vale ressaltar que se aplica somente para atos ampliativos,
que geram direitos a particulares;
5) Retirada: É forma de extinção precoce do ato administrativo e abrange:
5.1) Revogação;
5.2) Anulação;
5.3) Cassação;
5.4) Caducidade;
5.5) Contraposição/Derrubada:

A anulação também chamada de invalidação, é o desfazimento do ato por questões


de ilegalidade ou de ilegitimidade. A Administração deve anular os atos que possuam vícios
insanáveis.

28
Deve ser precedida de procedimento administrativo, respeitando o direito de defesa.
Produz efeitos ex tunc, ou seja, retroativo, não gerando direito adquirido. Porém, deve-se
proteger os efeitos em relação aos terceiros de boa-fé.

A anulação pode ser feita pela própria Administração – autotutela – de ofício ou


mediante provocação, ou pelo Poder Judiciário, apenas mediante provocação.

A Lei 9.784/99 estabelece o prazo de 5 anos para anular os atos administrativos


ilegais, salvo comprovada má-fé.

A revogação é a retirada de um ato válido do mundo jurídico por razões de


conveniência e oportunidade. Apenas se aplica aos atos discricionários e produz efeitos ex
nunc.

Além disso é ato privativo da Administração Pública. Convém destacar que não são
passíveis de revogação os atos: exauridos ou consumado; vinculados; que geraram direito
adquirido; atos integrantes de procedimento administrativo; atos enunciativos, atos
declaratórios e atos complexos.

A cassação é a ilegalidade superveniente decorrente de culpa do beneficiário. Já a


caducidade é decorrente de alteração legislativa.

Não se pode confundir a caducidade do ato administrativo com a caducidade nos contratos
administrativos de concessão de serviços públicos, regulamentados pela lei 8.987/95. A
caducidade do contrato de concessão é a rescisão unilateral da avença por motivo de
inadimplemento da empresa concessionária.

29
A contraposição ou derrubada ocorre quando há edição posterior de ato cujos
efeitos se contrapõem ao emitido anteriormente.

1.10 Convalidação, Ratificação, Confirmação, Reforma e


Conversão

Não se pode confundir os institutos da convalidação, ratificação, confirmação e


conversão.

Durante o capítulo muito se falou sobre a convalidação, sendo assim é interessante


aprofundar o instituto. Inicialmente, cumpre anotar que a doutrina majoritária é adepta da
teoria dualista que defende a existência de dois tipos de vício: os sanáveis e os insanáveis.

Quando o vício for sanável, caracteriza-se a hipótese de nulidade relativa, podendo


ser convalidado. Já se for insanável, a nulidade é absoluta.

Os sanáveis são aqueles presentes nos elementos competência (exceto competência


exclusiva e competência quanto à matéria) e forma (exceto forma essencial à validade do ato).

A convalidação produz efeitos ex tunc e pode incidir em atos vinculados e


discricionários, sendo considerada controle de legalidade. Além disso, não pode prejudicar
terceiros nem causar lesão ao interesse público.

A decisão de convalidar ou não é ato discricionário da Administração, porém se


decidir não convalidar, o ato deve ser anulado, eis que possui vício.

Há quem aponte uma hipótese se convalidação tácita, ou ainda estabilização de


consolidação, quando os atos ilegais favoráveis ao administrado não forem anulados dentro
do prazo decadencial legal de cinco anos.

30
A ratificação e a confirmação podem ser consideradas espécies da convalidação.
Porém, se a autoridade que convalida o ato é a mesma que o praticou tem-se a ratificação.
Se a convalidação for feita por autoridade superior, ocorrerá a confirmação.

A reforma incide sobre atos válidos que são aperfeiçoados por razões de
conveniência e oportunidade, para melhor atender os interesses públicos.

Já a conversão atinge ato inválido, mudando-o para outra categoria para que os
efeitos já produzidos sejam aproveitados, por exemplo: permissão de prestação de serviços
públicos sem licitação convertida em autorização, para qual não se exige licitação.

31
QUADRO SINÓTICO

ATOS ADMINISTRATIVOS

Os fatos são produzidos independente de qualquer manifestação de


vontade, ainda que provoquem efeitos no mundo jurídico e no âmbito
FATOS
da administração.
ADMINISTRATIVOS
Parte da doutrina considera como sendo fato administrativo, e não ato,
as omissões da Administração que produzam efeitos jurídicos.

A manifestação unilateral do Estado - ou de quem o represente - que


ATO
produz efeitos jurídicos imediatos, com observância da lei, sob o
ADMINISTRATIVO
regime jurídico de direito público e sujeita ao controle jurisdicional.

Tem sentido mais amplo do que a expressão “ato administrativo”, que


abrange apenas determinada categoria de atos praticados no exercício
ATO DA
da função administrativa, ou seja, todo ato praticado no exercício da
ADMINISTRAÇÃO
função administrativa é ato da Administração, mas nem todo ato da
Administração é ato administrativo
ATRIBUTOS DO ATO ADMINISTRATIVO

A presunção de legitimidade diz respeito à conformidade do ato com a


lei, presume-se até prova em contrário – presunção relativa ou ainda
PRESUNÇÃO DE presunção juris tantum – que os atos administrativos foram admitidos
LEGITIMIDADE E DE com observância da lei. Já a presunção de veracidade diz respeito aos
VERACIDADE
fatos. Em decorrência desse atributo presumem-se verdadeiros os fatos
alegados pela Administração Pública, até prova em contrário.

IMPERATIVIDADE É o atributo pelo qual os atos administrativos se impõem a terceiros

32
independente da sua concordância, criando obrigações ou impondo
restrições.

Não existe em todos os atos administrativos.

É a prerrogativa de que certos atos administrativos sejam executados


imediata e diretamente pela própria Administração Pública, inclusive
mediante o uso da força, independente de ordem ou autorização
judicial.

Não existe em todos os Existindo quando expressamente prevista


atos administrativos. em lei; ou

AUTOEXECUTORIEDA Quando tratar-se de medida urgente.

DE Uso de meios
indiretos de
Exigibilidade:
coação.
DESDOBRA-SE EM DOIS
ATRIBUTOS: É o emprego
meios diretos.
Executoriedade:

É o atributo pelo qual o ato administrativo deve corresponder a figuras


TIPICIDADE
previamente definidas em lei.

ELEMENTOS DOS ATOS ADMINISTRATIVOS

COMPETÊNCIA É o poder atribuído ao agente para a prática do ato.

É o modo como o ato se exterioriza.


FORMA
É elemento vinculado

O fim a ser buscado pelo agente público deve ser apenas o prescrito
FINALIDADE
em lei.

33
É sempre um elemento vinculado.

É o pressuposto de fato e de direito que justificam a prática do ato.

A motivação é a exposição dos motivos. Em


Não se confunde com a
regra, deve ser prévia ou concomitante à
motivação
expedição do ato.

Também deve-se Móvel é a representação subjetiva,


MOTIVO diferenciar o motivo do psicológica, interna do agente – intenção do
móvel. agente.

TEORIA DOS MOTIVOS DETERMINANTES: a validade o ato


administrativo está adstrita aos motivos indicados como seu
fundamento, de maneira que, se os motivos forem inexistentes ou
falsos, o ato será nulo.

É o elemento imediato que o ato produz.

Deve ser lícito – conforme a lei, possível, certo e moral.


Efeito jurídico que
o ato produz, sem
Natural:
necessidade de
OBJETO expressa menção.

CLASSIFICAÇÃO: Efeito jurídico que


o ato produz em

Acidental: decorrência de
cláusulas
acessórias.

.VÍCIOS NOS ELEMENTOS DE FORMAÇÃO DO ATO

Incompetência: quando
Usurpação de função
VÍCIO DE o ato não se inclui nas
COMPETÊNCIA atribuições legais do
Excesso de poder
agente que o praticou e

34
também quando o
sujeito pratica
exorbitando de suas Função de fato
atribuições. Divide-se
em:

Impedimento
Incapacidade:
Suspeição

Trata-se de desvio de poder ou desvio de finalidade que ocorre


quando o agente pratica ato com inobservância do interesse público –
VÍCIO DE
finalidade genérica – ou com objetivo diverso daquele previsto na lei.
FINALIDADE
Vício insanável, ou seja, não pode ser convalidado, devendo ser
sempre anulado.

Omissão ou na observância incompleta de formalidades indispensáveis

VÍCIO DE FORMA ao ato.

É passível de convalidação.

Motivo é inexistente;

Ocorre quando: Motivo é falso;


VÍCIO DE MOTIVO
Motivo é ilegítimo.

É insanável

For proibido pela lei;

Tiver conteúdo diverso do previsto em lei;


Ocorre quando o
VÍCIO DE OBJETO For impossível;
objeto:
For imoral;

For incerto.

CLASSIFICAÇÃO DOS ATOS ADMINISTRATIVOS

Vinculados: a lei cria fixa os requisitos e condições de sua


GRAU DE LIBERDADE
realização, não deixando liberdade de ação para a

35
Administração Pública;
Discricionários: são aqueles em que a Administração tem
liberdade de ação dentro de determinados parâmetros
previamente definidos em lei.

Gerais: não possuem destinatários certos;

DESTINATÁRIOS Individuais: regulam situações concretas e tem


destinatários certos.

Internos: produzem efeitos apenas no âmbito da

ALCANCE Administração;

Externos: os efeitos alcançam os administrados em geral.

Simples: manifestação de um único órgão;

Complexos: conjugação de vontades autônomas de órgãos


FORMAÇÃO DE VONTADE independentes para a formação de um único ato;

Compostos: manifestação de dois ou mais órgãos em que


a vontade de um é instrumental em relação a do outro.

Império: Administração pratica usando de sua supremacia


sobre os administrados;

Gestão: Administração pratica na qualidade de gestora de


PRERROGATIVAS
seus bens e serviços sem usar de sua supremacia;

Expediente: são atos de rotina interna e sua principal


característica é ausência de conteúdo decisório.

Constitutivo: cria uma nova situação jurídica;


Extintivo: extinguem direitos e obrigações;
EFEITOS
Declaratório: afirmam a existência de um fato ou de uma
situação jurídica.

Válido: aquele praticado em conformidade com a lei;


REQUISITOS DE VALIDADE
Nulo: é aquele com vício insanável;

36
Anulável: apresenta defeito sanável, ou seja, passível de
convalidação

Inexistente: possui apenas aparência de ato administrativo,


mas possui algum defeito que o impedem de produzir
efeitos.

Perfeito: é aquele que já foi produzido, que já existe no


mundo jurídico.

Eficaz: é aquele que já está apto para produzir efeitos

EXEQUIBILIDADE Pendente: é aquele que depende de algum evento futuro


para que comece a produzir efeitos.

Consumado/Exaurido: é o que já produziu todos os


efeitos.

ESPÉCIES DE ATOS

Os atos normativos têm efeito geral e abstrato, não


NORMATIVOS possuindo destinatários certos, são os chamados atos
gerais.

São atos com efeitos internos - endereçados aos


ORDINATÓRIOS servidores- que visam disciplinar o funcionamento da
Administração e a conduta funcional dos agentes

São aqueles em que a vontade da Administração coincide


NEGOCIAIS
com o interesse do administrado.

São aqueles que atestam ou certificam uma situação


ENUNCIATIVOS
preexistente.

São aqueles que impõem sanções aos que descumprem


PUNITIVOS
normas legais ou administrativas.

EXTINÇÃO DOS ATOS

EXTINÇÃO NATURAL: O ato já cumpriu os seus efeitos ou pelo advento do termo

37
final ou prazo

EXTINÇÃO SUBJETIVA: Quando o sujeito ao qual o ato se destina desaparece

EXTINÇÃO OBJETIVA: Quando o objeto do ato desaparece

Quando o próprio particular abre mão do benefício


RENÚNCIA:
concedido pelo ato.
Retirada de um
ato válido do
mundo jurídico
Revogação
por razões de

conveniência e
oportunidade

Desfazimento
do ato por

questões de
Anulação
ilegalidade ou
de

ilegitimidade.

Ilegalidade
Extinção precoce do ato
RETIRADA: superveniente
administrativo e abrange:
Cassação decorrente de

culpa do
beneficiário

Ilegalidade

superveniente

Caducidade decorrente de
alteração
legislativa.

ocorre quando
há edição
Contraposiçã
posterior de ato
o/Derrubada
cujos efeitos se
contrapõem ao

38
emitido

anteriormente.

CONVALIDAÇÃO

A convalidação produz efeitos ex tunc e pode incidir em atos vinculados e discricionários.

Se a autoridade que convalida o ato é a


mesma que o praticou tem-se a ratificação.
A ratificação e a confirmação podem ser
consideradas espécies da convalidação. Porém,
Se a convalidação for feita por autoridade
superior, ocorrerá a confirmação.

REFORMA

Incide sobre atos válidos que são aperfeiçoados por razões de conveniência e oportunidade,
para melhor atender os interesses públicos.

CONVERSÃO

Atinge ato inválido, mudando-o para outra categoria para que os efeitos já produzidos sejam
aproveitados, por exemplo: permissão de prestação de serviços públicos sem licitação
convertida em autorização, para qual não se exige licitação.

39
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

(Instituto AOCP – 2019 – PC-ES - Investigador) A autorização de serviço público pode ser
considerada um

A) Contrato administrativo por prazo determinado, sendo dispensada prévia licitação.

B) Ato administrativo unilateral, vinculado e precário.

C) Contrato administrativo por prazo indeterminado, precedido de licitação.

D) Ato administrativo unilateral, discricionário e precário.

E) Contrato administrativo precário por prazo indeterminado, sendo dispensada prévia


licitação.

Comentário:

Gabarito: Letra “D”.

Nesse caso, temos que se trata de um ato administrativo unilateral, discricionário e


precário, onde a Administração Pública tem o poder de analisar os critérios de oportunidade e
conveniência para a sua prática, dentro dos limites da lei. O seu desfazimento, a qualquer
tempo, não enseja o direito à indenização.

40
Questão 2

(Instituto AOCP- 2019 – PC-ES - Investigador) A aptidão do ato administrativo em produzir


efeitos denomina-se

A) Objetividade

B) Tipicidade

C) Motivação

D) Validade

E) Eficácia

Comentário:

Gabarito: Letra “E”.

Com efeito, a eficácia é a aptidão para a produção de efeitos do ato administrativo.

Questão 3

( Instituto AOCP – PC-ES - Investigador) De acordo com a Teoria dos Atos Administrativos, o
requisito de validade do ato, discricionário e que consiste na “situação fática ou jurídica cuja
ocorrência autoriza ou determina a prática do ato” denomina-se:

A) Competência
B) Finalidade
C) Objeto
D) Forma
E) Motivo
41
Comentário:

Gabarito: Letra “E”.

Vamos revisar?

O sujeito é aquele a quem a lei atribui competência para a prática do ato.

A competência decorre da lei.

O objeto é o efeito jurídico imediato que o ato produz.

A forma é a modalidade de exteriorização do ato.

A finalidade é o resultado que a Administração Pública deseja alcançar.

Já o motivo é o pressuposto de fato e de direito que serve como fundamento para


o ato.

Questão 4

(Instituto AOCP – 2019 - PC-ES – Escrivão de Polícia) Os atos administrativos, quanto ao


grau de liberdade da Administração Pública para decidir, podem ser

A) Internos ou externos.
B) Individuais ou gerais
C) Vinculados ou discricionários.
D) Concretos ou abstratos
E) Simples ou complexos.

42
Comentário:

Gabarito: Letra “C”.

Quanto ao grau de liberdade da Administração Pública para decidir, os atos


administrativos podem ser vinculados ou discricionários.

No caso dos atos vinculados, o agente não possui margem para atuação, pois todos
os elementos do ato já estão previamente previstos em lei.

Já no que toca aos discricionários, temos que a lei autoriza o agente a proceder
uma determinada avaliação de conduta.

Questão 5

(VUNESP – 2018 – PC-SP – Escrivão de Polícia) A Administração Pública, ao constatar que


um de seus atos foi praticado com desvio de finalidade deverá

A) Provocar o Poder Judiciário para que aquele poder revogue o ato viciado.

B) Provocar o Tribunal de Contas para que aquele órgão declare nulo o ato viciado.

C) Convalidá-lo, mediante provocação.

D) Declará-lo nulo, de ofício.

E) Revogá-lo, de ofício ou mediante provocação.

Comentário:

Gabarito: Letra “D”.

Vejamos o que dispõe o artigo 53 da Lei 9.784/99:

43
"Art. 53. A Administração deve anular seus próprios atos, quando eivados de vício de
legalidade, e pode revogá-los por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os
direitos adquiridos."

O vício em tela é insanável. Assim, a convalidação não é viável na espécie. Também não
há que se falar em revogação, que é a extinção de ato administrativo que recai sobre atos
válidos (o que não é o caso).

Aqui, temos um evidente exercício do poder de autotutela administrativo.

Questão 6

(VUNESP – 2018 – PC-SP – Investigador de Polícia) Ao negar pedido de um cidadão para ter
acesso aos dados estatísticos sobre os crimes violentos cometidos no âmbito estadual no
último ano, a autoridade administrativa não indicou qualquer fato ou fundamento jurídico
para embasar sua decisão, embora a lei exigisse que essa indicação fosse expressa. Nesse
caso, considerando que apesar da ausência de indicação os fatos e os fundamentos jurídicos
para a denegação do pedido existiam e eram válidos, é correto afirmar que o ato
administrativo em questão possui vício de

A) Forma
B) Finalidade
C) Motivo
D) Objeto
E) Competência.

Comentário:

Gabarito: Letra “A”.

44
Muitos candidatos irão marcar a letra “C”.

Mas não confunda.

O vício seria de motivo, por exemplo, se a autoridade tivesse dado um motivo falso
para o ato.

No entanto, tendo um motivo verdadeiro, mas não o expondo, não há motivação,


portanto o vício estará na forma do ato.

Questão 7

(VUNESP – 2018 – PC-BA – Investigador de Polícia) Um dos requisitos do ato administrativo


é

A) A competência, pela qual é vedado que um agente público transfira a outro funções que
originariamente lhe são atribuídas.

B) O objeto, elemento pelo qual todo ato administrativo deve estar dirigido ao atendimento
de um interesse público.

C) A finalidade, que se expressa no conteúdo, na alteração no mundo jurídico que o ato


administrativo se propõe a processar.

D) A forma, vigorando no âmbito administrativo o princípio da liberdade das formas,


diversamente do que ocorre no campo do direito privado.

E) O motivo, que consiste na situação de fato ou de direito que gera a vontade do agente
público, quando este pratica o ato administrativo.

Comentário:

Gabarito: Letra “E”.

45
A) Incorreta. A competência, ao contrário do que traz a assertiva, é o conjunto de
atribuições das pessoas jurídicas, órgãos e agentes (definição de Maria Sylvia Zanella Di Pietro)
B) Incorreta. Essa definição, na verdade, é a finalidade e não o objeto do ato
administrativo.
C) Incorreta. Novamente a banca confunde, trazendo a definição do objeto.
D) Incorreta. Em regra, o princípio da liberdade das formas é aplicável em sede do
direito privado (artigo 107, CC).
E) Correta, pelos seus próprios fundamentos.

Questão 8

(CESPE – 2018 – PC-MA – Investigador de Polícia) Caracteriza-se como unilateral e


vinculado o ato da administração denominado

A) Permissão
B) Aprovação
C) Parecer
D) Autorização
E) Licença

Comentário:

Gabarito: Letra “E”.

O único ato unilateral e vinculado, dentre os apresentados, é a licença, classificada como ato
negocial, onde a Administração concede ao particular – desde atendidas as respectivas
exigências – a faculdade de exercer determinada atividade.

46
Questão 9

( CESPE – 2013 – PC-DF – Escrivão de Polícia) No que se refere à anulação e revogação dos
atos administrativos, julgue o item a seguir.

Tanto os atos administrativos discricionários como os atos administrativos vinculados podem


ser anulados ou revogados.

( ) Certo

( ) Errado

Comentário:
Gabarito: Errado.
Vejamos: a anulação pode ocorrer em face do ato discricionário e do ato vinculado.
Ocorre que a revogação, ao contrário do descrito no enunciado, aplica-se somente
aos atos discricionários, o que torna a afirmação incorreta.

Questão 10

(CESPE – 2013 – PC-DF – Escrivão de Polícia) No que se refere à anulação e revogação dos
atos administrativos, julgue o item a seguir.

O vício de forma do ato administrativo que não cause lesão ao interesse público nem prejuízo
a terceiros, em regra, poderá ser convalidado pela administração pública.

( ) Certo

( ) Errado

47
Comentário:

Gabarito: Correto.

Com efeito, a inexistência de lesão ao interesse público e de prejuízo a terceiros constituem


requisitos básicos que legitimam a convalidação dos atos administrativos (artigo 55, Lei
9784/99).

48
GABARITO

Questão 1 - D

Questão 2 - E

Questão 3 - E

Questão 4 - C

Questão 5 - D

Questão 6 - A

Questão 7 -E

Questão 8 - E

Questão 9 – Errado

Questão 10 - Certo

49
LEGISLAÇÃO COMPILADA

Atos Complexos

 Súmulas STF: Súmula Vinculante nº 3, Súmula nº 6

Revogação e Anulação dos Atos

 Súmulas STJ: Súmula 346 e Súmula 473


 Lei 9.784/99: artigos 53 e 54

Convalidação:

 Lei 9.784/99: artigo 55

Motivação dos atos

 Lei 9.784/99: artigo 50

50
QUESTÃO DESAFIO

A tredestinação lícita pode ser tida como uma exceção à Teoria


dos Motivos Determinantes? Justifique.

Máximo de 5 linhas

51
GABARITO DA QUESTÃO DESAFIO

Sim, porque apesar de não haver correlação entre os motivos expostos pelo
administrador e a prática do ato (teoria dos motivos determinantes), na tredestinação
lícita a finalidade pública é preservada, havendo apenas uma destinação diferente
daquela dada incialmente ao bem, e, portanto, é lícita.

Você deve ter abordado necessariamente os seguintes itens em sua resposta:

 Não há correlação. Motivo exposto. prática do ato

De acordo com a Teoria dos Motivos Determinantes, a Administração Pública passa a ficar
vinculada aos motivos que determinaram a prática do ato. Assim, caso seja realizado um
ato em dissonância com o motivo apresentado, o ato estará viciado. Afinal, a validade do
ato administrativo depende da correspondência entre os motivos nele expostos e a
existência concreta dos fatos que ensejaram a sua edição.

Assim, mesmo naquelas situações excepcionais em que a lei não exige a motivação
(exteriorização dos motivos), caso o agente exponha os motivos do ato, a validade da
medida dependerá da citada correspondência com a realidade.

Segundo Alexandrino “caso seja comprovada a não ocorrência da situação declarada, ou a


inadequação entre a situação ocorrida (pressuposto de fato) e o motivo descrito na lei
(pressuposto de direito), o ato será nulo. A teoria dos motivos determinantes aplica-se
tanto a atos vinculados quanto a atos discricionários em que, embora não fosse
obrigatória, tenha havido a motivação.”

Jurisprudência correlata:

Processual civil e administrativo. Violação do art. 535 do CPC não


caracterizada. Retrocessão. Não caracterização. Tredestinação lícita. 1. Não ocorre ofensa ao
art. 535, II, do CPC, se o Tribunal de origem decide, fundamentadamente, as questões
essenciais ao julgamento da lide. 2. O desvio de finalidade que leva à retrocessão não é o

52
simples descumprimento dos objetivos que justificaram a desapropriação. Para que
o expropriado tenha direito à devolução do imóvel, ou seja indenizado, é necessário que o
Poder Público dê ao bem destinação que não atenda ao interesse público (tredestinação
ilícita). Precedentes do STJ. 3. Recurso especial não provido (STJ, 2.ª Turma,
REsp 1025801/SP, 20.08.2009).

Fonte: ALEXANDRINO, Vicente. Direito Administrativo Descomplicado. 26. Ed: Rio de


Janeiro: Método, 2018. p. 567.

 Destinação diferente do imóvel. Tredestinação lícita

A tredestinação é o fenômeno que ocorre quando a Administração Pública desapropria um


imóvel, sob a justificativa de necessidade ou utilidade pública, mas não o utiliza para a
finalidade que apresentou como justificativa para a desapropriação. Tal situação ocorre, por
exemplo, quando a Administração Pública desapropria sob a justificativa de construir um
hospital, mas acaba por construir uma escola pública.

Aqui, surgem duas possibilidades:

a) Tredestinação Ilícita: Ocorre quando a Administração dá uma destinação diferente ao imóvel


desapropriado, sem a observância do interesse público. Nesse caso, preceitua a doutrina de
Alexandrino, que caracterizada a tredestinação ilícita, a desapropriação é nula, devendo-se
proceder à devolução do bem ao ex-proprietário.

b) Tredestinação Lícita: Ocorre quando a Administração dá uma destinação diferente ao imóvel


desapropriado, mas, apesar disso, mantém a finalidade pública.

A previsão legal correlata seria o art. 519 do CC, vejamos:

"Art. 519. Se a coisa expropriada para fins de necessidade ou utilidade pública, ou por
interesse social, não tiver o destino para que se desapropriou, ou não for utilizada em obras
ou serviços públicos, caberá ao expropriado direito de preferência, pelo preço atual da coisa."

53
Fonte: ALEXANDRINO, Vicente. Direito Administrativo Descomplicado. 26. Ed: Rio de Janeiro:
Método, 2018. p. 1181.

 Exceção à teoria dos motivos determinantes

Apesar de a Teoria dos Motivos Determinantes vincular a validade de um ato administrativo à


necessária correlação entre a sua prática e os motivos apresentados pelo Administrador, pode-
se afirmar que a tredestinação lícita configura exceção à teoria em comento. Nessa situação, a
doutrina passou a entender que, apesar de não haver uma exata correspondência entre o
motivo apresentado e a realização do ato, não se estaria diante de uma ilegalidade, uma vez
que o interesse público foi preservado. Desse modo, passou-se a admitir a tredestinação lícita
como exceção à Teoria dos Motivos Determinantes.

Assim, essa finalidade nova, porém de interesse público, não viola a teroia dos motivos
determinantes pois os motivos, ainda que não sejam os mesmos, ficam restritos à supremacia
do interesse público. Como ensina Carvalho Filho, o "aspecto específico" dentro desse
interesse público é diferente. Logo, não se vislumbra ilicitude porque o fim especial foi
diferente, porém, o motivo que deu ensejo à expropriação (interesse público) permanece.

No mesmo sentido é o entendimento do STJ (REsp 968.414/SP) que sustenta não haver desvio
de finalidade quando ao bem for dada destinação que atenda ao interesse público. Daí
porque toda essa construção da doutrina que consolidou o entendimento de que a teoria dos
motivos determinantes tem por exceção a tredestinação lícita da desapropriação.

Fonte: CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 12. ed. rev. ampl.
atual. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005

54
JURISPRUDÊNCIA

Mérito Administrativo

 Ementa: AGRAVO INTERNO EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO. DIREITO


ECONÔMICO E ADMINISTRATIVO. CONCORRÊNCIA. PRÁTICA LESIVA TENDENTE A
ELIMINAR POTENCIALIDADE CONCORRENCIAL DE NOVO VAREJISTA. ANÁLISE DO
MÉRITO DO ATO ADMINISTRATIVO. IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES.
INCURSIONAMENTO NO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO DOS AUTOS.
INCIDÊNCIA DA SÚMULA 279 DO STF. AGRAVO INTERNO DESPROVIDO. 1. A
capacidade institucional na seara regulatória, a qual atrai controvérsias de
natureza acentuadamente complexa, que demandam tratamento especializado e
qualificado, revela a reduzida expertise do Judiciário para o controle jurisdicional
das escolhas políticas e técnicas subjacentes à regulação econômica, bem como
de seus efeitos sistêmicos. 2. O dever de deferência do Judiciário às decisões
técnicas adotadas por entidades reguladoras repousa na (i) falta de expertise e
capacidade institucional de tribunais para decidir sobre intervenções regulatórias,
que envolvem questões policêntricas e prognósticos especializados e (ii)
possibilidade de a revisão judicial ensejar efeitos sistêmicos nocivos à coerência e
dinâmica regulatória administrativa. 3. A natureza prospectiva e multipolar das
questões regulatórias se diferencia das demandas comumente enfrentadas pelo
Judiciário, mercê da própria lógica inerente ao processo judicial. 4. A
Administração Pública ostenta maior capacidade para avaliar elementos fáticos e
econômicos ínsitos à regulação. Consoante o escólio doutrinário de Adrian
Vermeule, o Judiciário não é a autoridade mais apta para decidir questões
policêntricas de efeitos acentuadamente complexos (VERMEULE, Adrian. Judging

55
under uncertainty: An institutional theory of legal interpretation. Cambridge:
Harvard University Press, 2006, p. 248–251). 5. A intervenção judicial
desproporcional no âmbito regulatório pode ensejar consequências negativas às
iniciativas da Administração Pública. Em perspectiva pragmática, a invasão judicial
ao mérito administrativo pode comprometer a unidade e coerência da política
regulatória, desaguando em uma paralisia de efeitos sistêmicos acentuadamente
negativos. 6. A expertise técnica e a capacidade institucional do CADE em
questões de regulação econômica demanda uma postura deferente do Poder
Judiciário ao mérito das decisões proferidas pela Autarquia. O controle
jurisdicional deve cingir-se ao exame da legalidade ou abusividade dos atos
administrativos, consoante a firme jurisprudência desta Suprema Corte.
Precedentes: ARE 779.212-AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, Primeira Turma, DJe de
21/8/2014; RE 636.686-AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, DJe de
16/8/2013; RMS 27.934 AgR, Rel. Min. Teori Zavascki, Segunda Turma, DJe de
3/8/2015; ARE 968.607 AgR, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, DJe de 15/9/2016;
RMS 24.256, Rel. Min. Ilmar Galvão, DJ de 18/10/2002; RMS 33.911, Rel. Min.
Cármen Lúcia, Segunda Turma, DJe de 20/6/2016. 7. Os controles regulatórios, à
luz do consequencialismo, são comumente dinâmicos e imprevisíveis. Consoante
ressaltado por Cass Sustein, “as normas regulatórias podem interagir de maneira
surpreendente com o mercado, com outras normas e com outros problemas.
Consequências imprevistas são comuns. Por exemplo, a regulação de novos riscos
pode exacerbar riscos antigos (...). As agências reguladoras estão muito melhor
situadas do que os tribunais para entender e combater esses efeitos” (SUSTEIN,
Cass R., "Law and Administration after Chevron”. Columbia Law Review, v. 90, n. 8,
p. 2.071-2.120, 1990, p. 2.090). 8. A atividade regulatória difere substancialmente
da prática jurisdicional, porquanto: “a regulação tende a usar meios de controle ex
ante (preventivos), enquanto processos judiciais realizam o controle ex post
(dissuasivos); (...) a regulação tende a utilizar especialistas (...) para projetar e
implementar regras, enquanto os litígios judiciais são dominados por generalistas”
(POSNER, Richard A. "Regulation (Agencies) versus Litigation (Courts): an analytical
framework". In: KESSLER, Daniel P. (Org.), Regulation versus litigation: perspectives

56
from economics and law, Chicago: The University of Chicago Press, 2011, p. 13). 9.
In casu, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica – CADE, após ampla
análise do conjunto fático e probatório dos autos do processo administrativo,
examinou circunstâncias fáticas e econômicas complexas, incluindo a
materialidade das condutas, a definição do mercado relevante e o exame das
consequências das condutas das agravantes no mercado analisado. No processo,
a Autarquia concluiu que a conduta perpetrada pelas agravantes se enquadrava
nas infrações à ordem econômica previstas nos artigos 20, I, II e IV, e 21, II, IV, V e
X, da Lei 8.884/1994 (Lei Antitruste). 10. O Conselho Administrativo de Defesa
Econômica – CADE detém competência legalmente outorgada para verificar se a
conduta de agentes econômicos gera efetivo prejuízo à livre concorrência, em
materialização das infrações previstas na Lei 8.884/1994 (Lei Antitruste). 11. As
sanções antitruste, aplicadas pelo CADE por força de ilicitude da conduta
empresarial, dependem das consequências ou repercussões negativas no mercado
analisado, sendo certo que a identificação de tais efeitos anticompetitivos reclama
expertise, o que, na doutrina, significa que “é possível que o controle da
“correção” de uma avaliação antitruste ignore estas decisões preliminares da
autoridade administrativa, gerando uma incoerência regulatória. Sob o pretexto de
“aplicação da legislação”, os tribunais podem simplesmente desconsiderar estas
complexidades que lhes são subjacentes e impor suas próprias opções” (JORDÃO,
Eduardo. Controle judicial de uma administração pública complexa: a experiência
estrangeira na adaptação da intensidade do controle. São Paulo: Malheiros –
SBDP, 2016, p. 152-155). 12. O Tribunal a quo reconheceu a regularidade do
procedimento administrativo que impusera às recorrentes condenação por
práticas previstas na Lei 8.884/1994 (Lei Antitruste), razão pela qual divergir do
entendimento firmado no acórdão recorrido demandaria o reexame dos fatos e
provas, o que não se revela cognoscível em sede de recurso extraordinário, face
ao óbice erigido pela Súmula 279 do STF. 13. Agravo regimental a que se NEGA
PROVIMENTO. (RE 1083955 AgR, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Primeira Turma,
julgado em 28/05/2019, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-122 DIVULG 06-06-2019
PUBLIC 07-06-2019)

57
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARVALHO FILHO, José dos Santos. MANUAL DE DIREITO ADMINSITRAVO. 30 Ed. São
Paulo: Atlas, 2016.

CARVALHO, Matheus. MANUAL DE DIREITO ADMINSITRAVO. 3 ed. Salvador: JusPODIVM,


2016.

MAZZA, Alexandre. MANUAL DE DIREITO ADMINSITRAVO – 9. ed. – São Paulo: Saraiva


Educação, 2019.

OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende. CURSO DE DIREITO ADMINISTRATIVO. 5 ed. Rio de


Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2017.

PIETRO, Maria Sylvia Zanella Di. DIREITO ADMINISTRATIVO. 32. ed. rev. atual e ampl. – Rio
de Janeiro: Forense, 2019.

58
CARREIRAS POLICIAIS

Direito Administrativo
Capítulo 7
SUMÁRIO
DIREITO ADMINISTRATIVO ........................................................................................................................................... 3

1. Serviços Públicos........................................................................................................................................................ 3
1.1 Conceito ................................................................................................................................................................ 3
1.2 Princípios ............................................................................................................................................................... 5
1.2.1 Dever de prestação do Estado .............................................................................................................................. 5
1.2.2 Princípio da Universalidade/Generalidade ........................................................................................................... 6
1.2.3 Princípio da Modicidade ....................................................................................................................................... 6
1.2.4 Princípio da Atualidade ......................................................................................................................................... 7
1.2.5 Princípio da Cortesia ............................................................................................................................................. 8
1.2.6 Princípio da Isonomia:........................................................................................................................................... 8
1.2.7 Princípio da Submissão a controle ........................................................................................................................ 8
1.2.8 Princípio da Continuidade dos serviços públicos .................................................................................................. 9
1.3 Classificação ........................................................................................................................................................ 11
1.3.1 Quanto à forma de fruição dos serviços: ............................................................................................................ 11
1.3.2 Compulsórios e Facultativos ............................................................................................................................... 12
1.4 Formas de prestação do serviço Público............................................................................................................. 13
1.5 Concessão de Serviços Públicos .......................................................................................................................... 14
1.5.1 Poder concedente ............................................................................................................................................... 14
1.5.2 Concessionária .................................................................................................................................................... 15
1.5.3 Licitação .............................................................................................................................................................. 16
1.5.4 Contrato de Concessão ....................................................................................................................................... 17
1.5.5 Fiscalização.......................................................................................................................................................... 18
1.5.6 Extinção do contrato de concessão .................................................................................................................... 19
1.6 Parceria Público-Privadas.................................................................................................................................... 21
1.6.1 Características ..................................................................................................................................................... 21
1.6.2 Licitação .............................................................................................................................................................. 24
1.6.3 Sociedade de propósito específico ..................................................................................................................... 25
1.7 Permissão de Serviços Públicos .......................................................................................................................... 26
1.8 Autorização de Serviços Públicos ........................................................................................................................ 27
1.9 Consórcios Públicos............................................................................................................................................. 28

1
GABARITO ........................................................................................................................................................................... 50

LEGISLAÇÃO COMPILADA............................................................................................................................................ 54

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................................. 69

2
DIREITO ADMINISTRATIVO

Capítulo 7

1. Serviços Públicos

1.1 Conceito

Não é unanime na doutrina a conceituação dos serviços públicos. Segundo José dos
Santos Carvalho Filho, a expressão “serviços públicos” admite mais de um sentido e mais de
um conceito eis que, ao longo dos anos, variou muito em decorrência da evolução do tema
relativo às funções do Estado. E por essa razão apresenta vários aspectos diferentes entre os
elementos que o compõem.

As primeiras noções de serviço público surgiram na França, com a chamada Escola


de Serviço Público e sob essa influência, a doutrina tradicional costumada dizer que o serviço
público era toda a atuação do Estado que buscava alcançar o interesse público.

Porém, em verdade, nem toda a atividade do Estado pode ser considerada como
atividade de serviço público. E por essa razão, a doutrina moderna vem considerando
fundamental restringir tal conceito, pontuando as distinções entre serviços públicos,
exploração de atividade econômica pelo Estado, execução de obras públicas e exercício do
poder de polícia

Diante disso, convencionou-se que conceituação de atividade como serviço público


depende da conjunção de três elementos:

SUBSTRATO SUBSTRATO ELEMENTO


MATERIAL FORMAL SUBJETIVO

3
 Substrato Material: considera-se que o serviço público é uma comodidade ou
utilidade fruível prestada a coletividade, de forma contínua.

 Substrato Formal: essa atividade deve ser prestada sob o regime de direito
público, ainda que parcialmente público. Ressalta-se que quando particulares
atuam no serviço público eles atuam sob o regime de direito público.

 Elemento Subjetivo: para ser serviço público, a atividade precisa ser,


necessariamente, prestada pelo Estado seja de forma direta ou indireta, ou
seja, o Estado deve ser o responsável por promover o serviço. A Constituição
da República de 1988, em seu artigo 175, regulamenta que o serviço público
deve ser prestado pelo Estado direta ou indiretamente mediante contrato de
concessão ou permissão.

Diante da análise dos elementos, tem-se que:

 O Serviço Público não se confunde com obra pública, eis que esta não é
contínua – tem início, meio e fim. A obra pública é necessária a prestação do
serviço público, mas com ele não se confunde;
 O Serviço Público não se confunde com o Poder de Polícia, porque este
não estabelece restrições ou limitações ao direito do particular e não uma
comodidade.
 O Serviço Público não se confunde com a exploração de atividade
econômica, porque quando o Estado explora tal atividade o faz sob o
regime de direito privado.

É importante destacar alguns conceitos formulados por renomados doutrinadores:

Segundo José dos Santos Carvalho Filho: “ o conceito deve conter os diversos
critérios relativos à atividade pública. De forma simples e objetiva, conceituamos serviço

4
público como toda atividade prestada pelo Estado ou por seus delegados, basicamente sob
regime de direito público, com vistas à satisfação de necessidades essenciais e secundárias da
coletividade. ”

Para Maria Silvia Zanella Di Pietro, serviço público é “toda atividade material que a
lei atribui ao Estado para que a exerça diretamente ou por meio de seus delegados, com o
objetivo de satisfazer concretamente às necessidades coletivas, sob regime jurídico total ou
parcialmente público.”

1.2 Princípios

A prestação do Serviço Público, como já visto acima, está submetida ao regime de


direito público, o que significa dizer que as atividades enquadradas como serviços públicos
devem obediência aos princípios Administrativos já explanados no Capítulo 2.

Sendo assim, o Estado deve respeitar os princípios da legalidade, impessoalidade,


moralidade, publicidade e eficiência, razoabilidade e proporcionalidade, entre outros.

Todavia, alguns princípios são definidos pela doutrina e até mesmo pela Lei nº
8.987/95 – que regulamenta a prestação dos serviços públicos.

Conforme a legislação, um serviço público adequado é o que satisfaz as condições


de regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia na sua
prestação e modicidade das tarifas.

Neste capítulo iremos detalhar os princípios doutrinários e os previstos na Lei


8.987/95 que devem ser respeitados na prestação dos serviços públicos:

1.2.1 Dever de prestação do Estado1

O dever de prestação do Estado é um princípio consagrado pela doutrina, com


base na CRFB/88.

1
Vide questão 01 ao final do capítulo.
5
Por este princípio, o Estado tem o dever – não pode se escusar – de efetivar a
prestação do serviço público, fazendo-o de forma direta ou até mesmo indireta mediante
delegação aos particulares por meio de contrato de concessão ou de permissão.

Infere-se que a execução dos serviços públicos é de responsabilidade do Estado e


a sua omissão configura abuso de poder ensejando, inclusive, responsabilidade civil.

1.2.2 Princípio da Universalidade/Generalidade

Conforme tal princípio, o Serviço Público deve ser prestado à coletividade em geral
ou, pelo menos, a maior quantidade de pessoas possível.

Não se admite, portanto, que a prestação dos serviços seja dirigida a determinada
camada da sociedade ou pessoa específica, por exemplo.

1.2.3 Princípio da Modicidade

Pelo princípio da modicidade2 as tarifas cobradas aos usuários pela prestação dos
serviços públicos devem ser as mais baixas – módicas – possíveis afim de atingir a maior
quantidade de pessoas.

Por isso, diz-se que tal princípio está intimamente ligado ao princípio da
universalidade.

2
Vide questões 02 e 05 ao final do capítulo.
6
A taxa não pode ser confundida com tarifa, já que essa segunda ocorre por meio de
contrato. O regime jurídico da taxa é definido pelo Direito Público, ao passo que o regime da
tarifa corresponde ao do Direito Privado. Nas tarifas pode-se dizer que há a liberdade de
contratá-las ou não, mas o mesmo não ocorre com as taxas, já que é compulsória a
submissão aos efeitos tributários. Neste sentido, a súmula 545, do Supremo Tribunal Federal.

Para atingir as tarifas mais baixas, a legislação vigente autoriza, desde que previsto
expressamente em edital de licitação, que o prestador de serviços busque fontes alternativas
de receitas, como exemplo podemos citar os “outbus”.

1.2.4 Princípio da Atualidade

O princípio da atualidade também pode ser chamado de princípio da


adaptabilidade ou da atualização. Este princípio estabelece que a prestação do serviço público
deve utilizar técnicas mais modernas.

O art. 6°, §2° da Lei nº 8.987/95, ao tratar deste preceito, define que "atualidade
compreende a modernidade das técnicas, do equipamento e das instalações e sua
conservação, bem como a melhoria e expansão do serviço.

Trata-se de princípio diretamente ligado ao dever de eficiência.

7
1.2.5 Princípio da Cortesia

O princípio da cortesia reforça o dever do prestador de serviços públicos de tratar o


usuário com urbanidade, de forma sempre cortês.

É regulamentado pelo art. 6°, §1° da Lei 8.987/95, que estabelece que, para se
considerar adequada a atividade estatal, deve-se privilegiar o bom trato com os particulares
que usufruirão dos serviços executados.

1.2.6 Princípio da Isonomia:

A prestação dos serviços não pode criar diferenciação indevida entre os usuários.
Porém, consagrou-se na doutrina que a isonomia deve ser observada sob dois aspectos: a
isonomia formal – na lei - e a isonomia material – perante a lei.

A isonomia material permite que haja tratamento desigual na prestação de serviços


públicos, ou seja, permite que se trate igualmente os iguais e desigualmente os desiguais na
medida de suas desigualdades.

É esse conceito que justifica as ações afirmativa, como sistema de cotas nas
Universidades Públicas e nos concursos.

1.2.7 Princípio da Submissão a controle

O dever de prestar contas é um dever inerente da Administração Pública e com os


serviços públicos não poderia ser diferente.

Os serviços públicos devem ser controlados tanto pela sociedade quanto pela
própria Administração Pública.

Admite-se também o controle efetivado pelos demais poderes, desde que nos
limites definidos pelo texto constitucional. Dessa forma, o Poder Judiciário pode, mediante

8
provocação, analisar a legalidade na prestação das atividades estatais, bem como o Poder
Legislativo realiza o controle financeiro, com auxílio da Corte de Contas.

Os serviços públicos devem ser controlados pela sociedade, assim como pela
própria Administração Pública, como forma de garantia dos demais princípios, se admitindo,
inclusive, o controle efetivado pelos demais poderes, desde que nos limites definidos pelo
texto constitucional. Dessa forma, o Poder Judiciário pode, quando provocado, analisar a
legalidade na prestação das atividades estatais, bem como o Poder Legislativo realiza o
controle financeiro.

1.2.8 Princípio da Continuidade dos serviços públicos

Baseia-se na ideia de que a prestação da atividade administrativa deve ser


ininterrupta, eis que muitas necessidades da sociedade são inadiáveis.

Tal princípio está expresso no art. 6°, § 1°, da Lei 8.2987/95, como necessário para
que o serviço público seja considerado adequado.

Vale ressaltar que o princípio da Continuidade está intimamente ligado ao


princípio da eficiência, haja vista tratar-se de garantia de busca por resultados positivos.

Deste princípio decorrem questionamentos relevantes, são eles:

 É possível que o servidor público entre em greve? O questionamento surge


a partir da ideia de que a greve do servidor poderia interromper a execução
dos serviços públicos contrariando o princípio da continuidade. Inicialmente,
cumpre apontar que os servidores militares não têm direito de greve, por
expressa vedação constitucional. Já os servidores civis têm direito à greve.
Porém, ao tratar dos servidores públicos civis, em seu art. 37, VII, a CRFB/88
definiu o direito de greve a estes agentes nos termos e condições
estabelecidos em lei específica. Sobre o tema, o Supremo Tribunal Federal já
pacificou o entendimento de que o direito de greve é norma de eficácia

9
limitada e diante da ausência de lei específica a tratar da matéria será utilizada
a lei geral de greve (Lei 7.783/89);
 É possível interromper a prestação de um serviço por inadimplemento do
usuário? A Lei 8.987/95, em seu art. 6, §3°, estabelece que não se caracteriza
como descontinuidade do serviço a sua interrupção em situação de
emergência ou após prévio aviso, quando for motivada por razões de
ordem técnica ou de segurança das instalações ou por inadimplemento do
usuário, considerado o interesse da coletividade. Apesar de a interrupção
por inadimplemento do usuário ser matéria divergente na doutrina nacional, é
majoritário o posicionamento de que será ilegal a paralisação de
determinado serviço público por inadimplemento do usuário, caso enseje a
interrupção de um serviço essencial à coletividade.
 O instituto da exceção de contrato não cumprido pode ser aplicada em
contratos administrativos? Exceptio rum adimpleti contractus é o direito de
suspender a execução do contrato em face do inadimplemento da outra parte.
Conforme disposição do art. 78, XV, da Lei 8.666/93, o particular tem direito de
invocar a exceção do contrato não cumprido, desde que a administração seja
inadimplente por mais de 90 (noventa) dias em relação aos seus
pagamentos.

Ainda em relação ao princípio da continuidade dos serviços públicos, é imperioso


destacar que alguns dispositivos legais garantem a não interrupção da atividade. Vejamos:

O art. 58, V da Lei nº 8.666/93 – Lei de licitações e contratos - define que a


Administração Pública poderá, nos casos de serviços essenciais, efetivar a ocupação provisória
de bens móveis, imóveis, pessoal e serviços vinculados ao objeto do contrato, na hipótese da
necessidade apuração de faltas contratuais cometidas pelo contratado, bem como na hipótese
de rescisão do contrato administrativo.

Trata-se de cláusula exorbitante dos contratos administrativos que visa a evitar uma
paralisação da atividade pública.

10
Ademais, nos contratos de concessão de serviços públicos, admite-se a
transferência de propriedade, ao final do contrato, dos bens da concessionária que estejam
atrelados à prestação do serviço público.

É a chamada reversão de bens. Sobre a reversão, a Lei nº 8.987/95, em seu art. 36,
indica que a reversão no advento do termo contratual far-se-á mediante indenização das
parcelas dos investimentos vinculados a bens reversíveis, ainda não amortizados ou
depreciados, que tenham sido realizados com o objetivo de garantir a continuidade e
atualidade do serviço concedido.

1.3 Classificação

1.3.1 Quanto à forma de fruição dos serviços:

1) Serviços Gerais / Uti Universi3: esses serviços são prestados a todos e por
essa razão o Estado não tem como medir a utilização individual de cada
pessoa. São custeados pela receita geral decorrente da cobrança de
impostos. Configuram-se serviços indivisíveis, não sendo possível dividir o
ônus da prestação em proporção igual à utilização. Exemplos: segurança,
limpeza pública e iluminação pública;
2) Serviço Singulares/ Uti Singuli: nesses serviços a Administração tem como
mensurar a utilização individual, ou seja, o quanto cada pessoa utiliza o
serviço. São cobrados individualmente, mediante a cobrança de taxas ou
tarifa/preços públicos proporcional à utilização do sujeito. Podem ser
designados como serviços divisíveis, haja vista a possibilidade de se dividir
a utilização entre os usuários, distribuindo o ônus da prestação de forma
proporcional à utilização individual. Exemplo desses serviços são: energia
elétrica, água, saneamento.

3
Vide questão 04 ao final do capítulo.
11
É inconstitucional uma taxa que tenha como finalidade arcar com os custos de um serviço
indivisível. Assim, a base de cálculo para cobrança de taxas deve ser um serviço uti singuli,
sob pena de inconstitucionalidade da exação. Inclusive, acerca do tema, o Supremo Tribunal
Federal editou a súmula 670, dispondo que “o serviço de iluminação pública não pode ser
remunerado mediante taxa.”

1.3.2 Compulsórios e Facultativos

No que tange aos serviços públicos divisíveis, ou serviços uti singuli, eles podem
ser classificados em compulsórios e facultativos.

1) Compulsórios: são os serviços essenciais à coletividade. A cobrança desses


serviços deve ser efetivada mediante taxa e se admite a cobrança da
chamada "taxa mínima" pelo simples fato de estar o serviço à disposição do
usuário;
2) Facultativos: são prestados visando aos interesses da coletividade,
podendo ou não ser utilizados pelos usuários. E, por isso, somente será
possível a cobrança pelo serviço efetivamente prestado, sendo que a
contraprestação deve ser feita mediante tarifas ou preços públicos, não
ostentando natureza tributária.

12
1.4 Formas de prestação do serviço Público

Conforme a Constituição Republicana de 1988, a prestação do serviço público deve


ser feita pelo Estado que, no entanto, pode efetivar esta execução de forma direta ou
indireta.

A prestação direta é a efetivada pelos próprios entes federativos: União, estados,


municípios e Distrito Federal, de forma centralizada. Já a prestação indireta, se dá pela
descentralização.

A prestação descentraliza ocorre quando o Poder Público, visando a especialização e


uma maior eficiência, transfere a prestação do serviço à outra pessoa jurídica, seja da
administração indireta ou algum particular – mediante contrato administrativo de concessão e
permissão.

A descentralização pode se dar das seguintes formas:

1) Por outorga/ Descentralização por serviços: a descentralização por outorga


ou por serviços ocorre quando o Estado transfere, mediante lei, a outra
pessoa a titularidade e a prestação do serviço. Majoritariamente, a doutrina
entende que só é possível outorga a pessoa jurídica de direito público.
Exceção: ECT – serviço postal, que é empresa pública e por isso pessoa
jurídica de direito privado. Ocorre que a ECT tem regime de fazenda.

2) Por delegação4/ Descentralização por colaboração: na descentralização por


delegação ou por colaboração o Estado se mantém na titularidade e transfere
somente a prestação do serviço. A delegação deve ser feita a pessoas com
personalidade jurídica de direito privado, sejam particulares ou entidades da
Administração Indireta. Se a delegação for feita para a Administração Indireta,
será mediante lei, mas aos particulares, a delegação deverá ser feita através

4
Vide questão 09 ao final do capítulo.
13
de contratos de concessão ou permissão, que estudaremos detalhadamente
no próximo tópico.

1.5 Concessão de Serviços Públicos

A concessão comum é regulamentada pela Lei nº 8.987/95 e pode ser dividida em


duas espécies: a concessão simples e a concessão precedida de obra.

Segundo a lei, a concessão simples é a delegação da prestação, feita pelo poder


concedente, mediante licitação, na modalidade de concorrência, à pessoa jurídica ou
consórcio de empresas que demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta e
risco e por prazo determinado.

E a concessão precedida de execução de obra pública é a construção, total ou


parcial, conservação, reforma, ampliação ou melhoramento de quaisquer obras de interesse
público, delegada pelo poder concedente, mediante licitação, na modalidade de
concorrência, à pessoa jurídica ou consórcio de empresas que demonstre capacidade para a
sua realização, por sua conta e risco, de forma que o investimento da concessionária seja
remunerado e amortizado mediante a exploração do serviço ou da obra por prazo
determinado.

Ressalta-se que na concessão não há transferência da titularidade do serviço,


havendo somente a delegação da prestação da atividade para o particular.

Ademais, nos contratos de concessão de serviço público simples ou precedida de


obra pública, a empresa concessionária será remunerada pelas tarifas que cobrará dos
usuários, não lhe sendo devida qualquer contraprestação pelo ente estatal.

1.5.1 Poder concedente

Poder concedente é quem delegam a particulares a execução de determinados


serviços públicos. Segundo o artigo 2°, da Lei nº 8.987/95 é considerado poder concedente "a

14
União, o Estado, o Distrito Federal ou o Município, em cuja competência se encontre o serviço
público, precedido ou não da execução de obra pública, objeto de concessão ou permissão".

Sendo assim, o Poder Concedente são os entes da Administração Direta (União,


Estado, Município, DF). Tais entes, ao delegarem a prestação do serviço, devem respeitar as
competências constitucionais, ou seja, a União é responsável pela delegação de serviços de
interesse nacional, os estados ficam responsáveis pela delegação dos serviços de interesse
regional, e os municípios pela delegação dos serviços de interesse local.

Por ser titular dos serviços delegados, o ente público tem direitos e obrigações no
contrato de concessão de serviços públicos, sendo, inclusive, responsável subsidiariamente
por todos os danos causados na execução do serviço público.

1.5.2 Concessionária

De um lado está o poder concedente que delega e o serviço e do outro a


concessionário do serviço público, pessoa a quem se delega à atividade.

A concessionária do serviço é o particular que celebra o contrato administrativo. O


contrato de concessão de serviços públicos somente pode ser celebrado com pessoas
jurídicas ou consórcios de empresas, não se admitindo a assinatura da avença com pessoa
física.

Caso as empresas pretendam participar da licitação como consórcio, mas não tenham o
formado ainda, elas podem participar desde de que tenha a comprovação de compromisso,

15
público ou particular, de constituição de consórcio, subscrito pelas consorciadas, caso vençam
a licitação. Neste caso, deveram formar o consórcio antes da celebração do contrato.

Às concessionárias, no que tange à responsabilidade civil, aplica-se a


responsabilidade primária e objetiva, baseada na teoria do risco administrativo disposta no
art. 37, §6°, da Constituição Republicana de 1988.

1.5.3 Licitação

Por exigência constitucional contida no artigo 175 a concessão de serviços


públicos deverá ser sempre precedida de procedimento licitatório na modalidade
concorrência, independentemente do valor.

Se o serviço a ser delegado for previsto no PND – Programa Nacional de Desestatização –


admite-se o leilão como modalidade licitatória.

A Lei 8.987/95 prevê que, no edital da concorrência, para contratos de concessão de


serviços públicos, é possível se estabelecer a inversão de fases da habilitação e classificação.

Além disso, os critérios os de julgamento para selecionar a proposta vencedora não


seguem as normas da lei 8666/93, sendo os seguintes:

 Menor valor da tarifa do serviço público a ser prestado;


 Maior oferta - somente nos casos em que haja pagamento ao poder
concedente pela outorga da concessão;

16
 Combinação, dois a dois, dos critérios de menor valor da tarifa do serviço
público a ser prestado, de maior oferta, nos casos em que haja pagamento
ao poder concedente pela outorga da concessão e de melhor oferta de
pagamento pela outorga, após qualificação de propostas técnicas;
 Melhor proposta técnica, com preço fixado no edital;
 Melhor proposta em razão da combinação dos critérios de menor valor da
tarifa do serviço público a ser prestado com o de melhor técnica;
 Melhor proposta em razão da combinação dos critérios de maior oferta
pela outorga da concessão com o de melhor técnica;
 Melhor oferta de pagamento pela outorga após qualificação de propostas
técnicas.

No tocante aos critérios de desempate da licitação, não serão observadas as


disposições da lei 8.666/93, eis que o único critério definido em lei, para desempatar o
procedimento licitatório de concessão é a nacionalidade da empresa participante do
certame.

1.5.4 Contrato de Concessão

A concessão de serviço público é um contrato administrativo e por isso se submete


ao regime geral dos contratos da Lei nº 8.666/93 com todas as suas obrigações e garantias,
cláusulas exorbitantes, penalidades e etc.

Porém, os contratos de concessão por não serem remunerados pela Administração


Pública, não respeitam a regra de duração contida no artigo 57 da Lei nº 8.666/93, ou seja,
não respeitam a duração de 1 (um) ano, vinculado ao orçamento público.

Pelo contrário, os contratos são firmados por prazos mais longos, inclusive para que
o particular consiga amortizar os investimentos e comece a aferir lucros.

17
Apesar de, normalmente, ser firmado por prazo mais longo que 1 (um) ano, os contratos de
concessão não podem ter prazo indeterminado.

Ainda no tópico sobre os contratos, é imperioso destacar que a subcontratação tem


regramento diferente da Lei geral de licitações e contratos.

Incialmente, na concessão de serviço público a subcontratação recebe o nome de


subconcessão e além da autorização específica pelo poder concedente, deverá ser precedida
de procedimento licitatório na modalidade concorrência.

1.5.5 Fiscalização

O poder de fiscalização é tão amplo que a lei estabelece que se houver indícios
irregularidade o Estado pode declarar a intervenção na concessionária.

Instaura-se um processo administrativo para apurar a existências das supostas


irregularidades e, por meio de decreto, afasta-se o gestor e nomeia-se um interventor,
agente público, que irá gerir a empresa durante a intervenção. O afastamento do gestor
ocorre porque imagina-se que se o gestor continuar na empresa, ele poderá atrapalhar a
colheita de provas.

Depois de nomeado o interventor, a Administração Pública tem um prazo máximo


de 30 (trinta) dias para instaurar o processo administrativo e terá mais 180 dias para que
esse processo termine.

Ao fim da intervenção, pode-se concluir que não houve irregularidade ou que


houve o cometimento de irregularidade: se não for verificada nenhuma irregularidade, o
serviço voltará a ser prestado normalmente pela empresa concessionária. Caso seja descoberta
18
alguma irregularidade que configurem inadimplemento contratual, será decretada a
caducidade do contrato.

1.5.6 Extinção do contrato de concessão

Nos casos de extinção da concessão do serviço público retornam ao poder


concedente todos os bens reversíveis, direitos e privilégios transferidos ao concessionário,
conforme previsto no edital e estabelecido no contrato.

E em razão do princípio da continuidade, haverá a imediata assunção do serviço


pelo poder concedente, procedendo-se aos levantamentos, avaliações e liquidações
necessários.

As hipóteses de extinção do contrato de concessão são definidas na lei e são as


seguintes:

1) Advento do termo contratual;


2) Encampação5: ocorre quando não há mais interesse público na
manutenção do contrato. Deverá ser expedido decreto pelo chefe do
Executivo para declarar a encampação. Neste caso, deve-se indenizar o
particular por todos os prejuízos decorrentes desta extinção precoce do
contrato.
3) Caducidade: é a extinção do contrato ocasionada por
inadimplemento do particular. A caducidade também se dá por meio da
edição de um decreto, pelo chefe do Poder Executivo, no qual se instaura
um processo administrativo, em respeito ao contraditório e ampla defesa;

5
Vide questão 06 ao final do capítulo.
19
Declarada a caducidade, não resultará para o poder concedente qualquer espécie de
responsabilidade em relação aos encargos, ônus, obrigações ou compromissos com terceiros
ou com empregados da concessionária.

4) Rescisão: a rescisão pode ser consensual, ou bilateral, decorrente


de acordo firmado entre as partes ou pode ser judicial. A rescisão judicial
será requerida pela concessionária, diante do inadimplemento contratual do
poder público e decorre do fato de que a entidade privada não tem poder
de rescindir o contrato unilateralmente;
5) Anulação: é a extinção do contrato administrativo em virtude de
ilegalidade originária;
6) Falência ou extinção da empresa concessionária e falecimento ou
incapacidade do titular, no caso de empresa individual: os contratos
administrativos, em geral, são celebrados intuito personae, e por isso com a
ausência do contratado deve-se extinguir o contrato firmado.

As concessões de serviço público outorgadas anteriormente a legislação vigente consideram-


se válidas pelo prazo fixado no contrato ou no ato de outorga, salvo se foram firmadas sem

20
licitação, na vigência da Constituição Federal de 1988, casos em que deve ser declarada sua
nulidade originária, por desrespeito ao princípio da isonomia.

1.6 Parceria Público-Privadas

As Parcerias Público-Privadas, regulamentadas pela Lei nº 11.079/2004, também


conhecidas apenas como “PPPs”, são espécies de concessão de serviços públicos e podem ser
constituídas de duas formas:

1) Concessão Patrocinada: é a espécie de contrato de concessão de serviços


públicos, podendo ser precedida ou não de obra pública, em que além da
tarifa paga pelos usuários, a Administração Pública complementa a
remuneração da empresa privada para que se mantenha o padrão da
prestação do serviço sem que haja aumento das tarifas, prestigiando-se o
princípio da modicidade. Porém, tal contraprestação do Poder Público não
pode ultrapassar 70% da remuneração, salvo se estabelecida por lei
específica, sob pena de desnaturar o caráter de concessão de serviço
público.

2) Concessão Administrativa: é a espécie de concessão de serviço público na


qual a própria Administração Pública é a responsável pela remuneração da
empresa, pagando 100% das tarifas, eis que é a usuária direta ou indireta.
Pode envolver a execução de obra ou o fornecimento de bens.

1.6.1 Características

 Prazo: o prazo de vigência do contrato, compatível com a amortização dos


investimentos realizados, não deve ser inferior a 5 (cinco) anos e nem
superior a 35 (trinta e cinco) anos, incluindo eventual prorrogação;

21
 Valor: é vedada a celebração de contrato de parceria público-privada cujo
valor do contrato seja inferior a R$ 10.000.000,00 (dez milhões de reais);

 Objeto: o objeto deve ser prestação de um serviço público, sendo vedada a


celebração de contrato de parceria público-privada que tenha como objeto
único o fornecimento de mão-de-obra, o fornecimento e instalação de
equipamentos ou a execução de obra pública;

 Forma de pagamento: A contraprestação da Administração Pública nos


contratos de parceria público-privada poderá ser feita por: I – ordem
bancária; II – cessão de créditos não tributários; III – outorga de direitos em
face da Administração Pública; IV – outorga de direitos sobre bens públicos
dominicais; e V – outros meios admitidos em lei.

 Garantia: As obrigações pecuniárias contraídas pela Administração Pública


em contrato de parceria público-privada poderão ser garantidas mediante: I
– vinculação de receitas; II – instituição ou utilização de fundos especiais
previstos em lei; III – contratação de seguro-garantia com as companhias
seguradoras que não sejam controladas pelo Poder Público; IV – garantia
prestada por organismos internacionais ou instituições financeiras que não
sejam controladas pelo Poder Público; V – garantias prestadas por fundo
garantidor ou empresa estatal criada para essa finalidade; e VI – outros
mecanismos admitidos em lei.

22
O parceiro público pode exigir garantia do parceiro privado, mas o parceiro privado também
pode exigir garantia do poder público, pois os riscos são compartilhados.

 Responsabilidade: Nas parcerias público-privadas a Responsabilidade do


Estado é solidária. Há, na espécie o compartilhamento de riscos, ainda que
decorrentes de caso fortuito ou força maior.

 Compartilhamento dos ganhos decorrentes da redução de riscos: serão


compartilhados os ganhos decorrentes da redução do risco de créditos de
financiamento firmado pelo parceiro privado. Tendo em vista que a
administração participa como responsável solidária, os custos da prestação do
serviço caem em relação à concessão de empréstimos com financeiras;

 Diretrizes: Na contratação de parceria público-privada serão observadas as


seguintes diretrizes: I – eficiência no cumprimento das missões de Estado e
no emprego dos recursos da sociedade; II – respeito aos interesses e
direitos dos destinatários dos serviços e dos entes privados incumbidos da
sua execução; III – indelegabilidade das funções de regulação, jurisdicional,
do exercício do poder de polícia e de outras atividades exclusivas do Estado;
IV – responsabilidade fiscal na celebração e execução das parcerias; V –
transparência dos procedimentos e das decisões; VI – repartição objetiva de
riscos entre as partes; e VII – sustentabilidade financeira e vantagens
socioeconômicas dos projetos de parceria.

 Arbitragem: A lei das parcerias público-privadas prevê que as controvérsias


decorrentes dos contratos de “PPPs” podem ser resolvidas por meio da
arbitragem. Em verdade, posteriormente a esta lei, foi permitida a assinatura
23
da cláusula compromissória e do compromisso arbitral, inclusive em
contratos de concessão de serviços públicos regidos pela lei 8.987/95,
desde que realizada no Brasil e em língua portuguesa.

1.6.2 Licitação

As parcerias público-privadas, bem como as concessões simples, também devem ser


precedidas de licitação na modalidade concorrência. Porém, para as PPPs há algumas
peculiaridades que merecem atenção.

Assim como ocorre nos contratos de concessão simples, nas concessões especiais o
edital poderá prever a inversão da ordem das fases de habilitação e julgamento.

Por determinação legal, a abertura do procedimento licitatório se dá com uma


autorização da autoridade competente, baseada em estudo técnico, demonstrando que, para
o caso, é melhor optar pela parceria público-privada a qualquer outra forma de concessão.

Ademais, a autoridade pública deve comprovar que as despesas não afetarão as


metas previstas na Lei de Responsabilidade Fiscal. Além disso, deve ser elaborada uma
estimativa do impacto orçamentário-financeiro nos exercícios em que deva vigorar o
contrato de parceria público-privada, eis que é uma obrigação continuada.

Ressalta-se que a minuta de edital e de contrato deveram ser submetidas à


consulta pública, mediante publicação na imprensa oficial, em jornais de grande circulação e
por meio eletrônico.

Por fim, não será possível dar início ao procedimento licitatório sem que haja prévia
licença ambiental ou expedição das diretrizes para o licenciamento ambiental do
empreendimento, na forma do regulamento, sempre que o objeto do contrato exigir, em
razão do impacto que poderá causar ao meio ambiente.

É importante destacar, também, os critérios de julgamento estabelecidos em lei:

24
1) Menor valor da tarifa do serviço público a ser prestado;
2) Melhor proposta em razão da combinação dos critérios de menor valor da tarifa
do serviço público a ser prestado e de melhor técnica;
3) Menor valor da contraprestação a ser paga pela Administração Pública; e
4) Melhor proposta em razão da combinação do menor valor da contraprestação a
ser paga pelo poder público com o de melhor técnica, de acordo com os pesos
estabelecidos no edital.

É possível ainda, que o edital de licitação preveja a etapa de lances verbais, sendo,
via de regra, vedado limitar a quantidade de lances. Porém, o edital poderá restringir a
apresentação de lances em viva voz aos licitantes cuja proposta escrita for no máximo 200%
maior que o valor da melhor proposta.

1.6.3 Sociedade de propósito específico

A sociedade de propósito específico deve ser criada pelo ente público e pelo
parceiro privado, com o intuito de gerir a contratação e implantar a parceria.

Essa sociedade deve ser deverá ser instituída depois de realizada a licitação e antes
da celebração do contrato.

Conforme determinação legal, o Poder Público não pode deter a maior parte do
capital social votante desta entidade específica; caso contrário, ficaria comprometida a sua
imparcialidade, salvo em casos de aquisição da maior parte do capital em questão por
instituição financeira controlada pelo Poder Público, quando houver inadimplemento de
contratos de financiamento.

Ressalte-se, ainda, que os contratos de PPP poderão prever os requisitos e


condições em que o parceiro público autorizará a transferência do controle ou a administração
temporária da sociedade de propósito específico aos seus financiadores e garantidores com
quem não mantenha vínculo societário direto, com o objetivo de promover a sua
reestruturação financeira e assegurar a continuidade da prestação dos serviços.

25
1.7 Permissão de Serviços Públicos

A permissão de serviços públicos também foi prevista pelo artigo 175 da CRFB/88 e
é regulamentada pela Lei nº 8.987/95.

Tal legislação conceitua a permissão como sendo a delegação, a título precário,


mediante licitação, da prestação de serviços públicos, feita pelo poder concedente à pessoa
física ou jurídica que demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta e risco.

Em relação à precariedade da permissão dos serviços público, o Supremo Tribunal


Federal já se manifestou acerca da matéria, ao definir, no julgamento de medida cautelar, na
ADI 1.491, que não há qualquer distinção entre concessão e permissão de serviço público, no
que tange à sua natureza, podendo ambos serem considerados contratos administrativos.

Destaca-se que a permissão e a concessão possuem três diferenças básicas. São elas:

26
CONCESSÃO PERMISSÃO

Precedida de licitação, mas não


Precedida de licitação na
tem modalidade obirgatória.
modalidade concorrencia
Deve-se analisar o valor.

Celebrada apenas com


Celebrada com pessoas
pessoas jurídicas ou com
jurídica ou pessoa física.
consórcios de empresas

Depende de autorização Dispensa lei específica, salvo


legislativa expressa para sua lgumas permissões de
celebração natureza especial

1.8 Autorização de Serviços Públicos

A autorização de serviços públicos não tem previsão constitucional, sendo toda


sua base a doutrina pátria.

A autorização é conceituada como sendo ato administrativo unilateral,


discricionário e precário. A precariedade consiste na ideia de que a critério da Administração,
o ato pode ser desfeito a qualquer tempo, e esse desfazimento, a qualquer tempo, não enseja
direito à indenização pelo beneficiado.
27
Matheus Carvalho indica que, para parte da doutrina, apenas são admitidas duas
hipóteses de autorização: (i) a autorização de uso de bem público, sempre que um particular
tiver interesse em utilizar um determinado bem público de forma especial; e (ii) a autorização
de polícia, praticada para permitir a particulares o exercício de atividades materiais que
dependem de fiscalização estatal.

1.9 Consórcios Públicos

Os consórcios públicos foram criados por meio da edição da Lei nº 11.107/05, para
regulamentar o artigo 241 da CRFB/88.

É uma forma de gestão associada de entes federativos para prestação de serviços


públicos de interesse comum, visando garantir maior eficiência a prestação do serviço, sem
que haja delegação.

O consórcio público NÃO é tem natureza de contrato administrativo, na verdade, tem


natureza jurídica de convênio, eis que as vontades são convergentes.

No momento que os entes federativos se associam nasce uma nova pessoa


jurídica, ou seja, o consórcio tem personalidade jurídica própria diferente os entes
formadores do consórcio, que pode ser personalidade jurídica de direito privado ou público.

Em sendo criada como pessoa de direito privado, será chamada de consórcio


público e será regida pelo direito civil e não integrará a Administração Pública, porém, será

28
formada com verba estatal, ficando, portanto, sujeita ao controle efetivado pelo Tribunal de
Contas, além de respeitar as normas de impessoalidade e isonomia de suas contratações.

Já se for criada com personalidade jurídica de direito público, irá seguir regime de
direito público e receberá o nome de associação pública – espécie de Autarquia - e fará
parte da Administração Indireta de cada um dos entes consorciados.

Os consórcios podem ser formados por entes federativos de esferas de governo diferentes,
não havendo a previsão de formação somente com entidades de mesma esfera de poder.
Porém, a lei dispõe que a União somente participará de consórcios públicos em que
também façam parte todos os Estados em cujos territórios estejam situados os Municípios
consorciados.

Como as autarquias são entidades criadas por lei específica, não seria possível a criação
de associações públicas por meio de acordo (consórcio). Dessa forma, quando os entes
federativos se juntam, eles celebram o protocolo de intenções. Posteriormente, este
protocolo será enviado ao Poder Legislativo de cada um dos entes consorciados, como
projeto de lei, e, da ratificação do protocolo de intenções, é formalizado o consórcio.

Para definir a parcela de contribuição de cada um dos entes federativos na


formação e manutenção do consórcio, deverá ser firmado contrato de rateio que será
formalizado em cada exercício financeiro.

Consoante dito anteriormente, os consórcios são firmados com o objetivo de


prestar serviços de interesse de todos os entes consorciados e, para atender essas metas,

29
poderá atuar com algumas prerrogativas de interesse público. Por isso, os consórcios públicos
poderão firmar convênios, contratos, acordos de qualquer natureza, receber auxílios,
contribuições e subvenções sociais ou econômicas de outras entidades e órgãos do governo.
Além disso, é garantido ao consórcio público a possibilidade de promover desapropriações e
instituir servidões.

O ente federativo é competente para declarar o interesse público no bem, competindo ao


consórcio apenas a possibilidade de executar a desapropriação.

Há, ainda, a garantia de contratar com a administração direta ou indireta dos entes
da Federação consorciados, dispensada a licitação. Trata-se do contrato de programa, ou
seja, conforme o artigo 24, XXVI da Lei nº 8.666/93, haverá dispensa de licitações quando o
consórcio público estiver contratando com os entes formadores do consórcio, sejam os entes
da administração direta ou suas autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de
economia mista. Estas contratações celebradas ente os consórcios públicos e os entes
consorciados são designadas pela lei, como contratos de programa e são realizadas sem
necessidade de procedimento licitatório.

Porém, fora desses casos, o consórcio público (seja ele de direito público ou
privado) deve realizar, via de regra, licitação.

A exceção fica à cargo das contratações de pequeno valor, eis que o artigo 24,
§1º da Lei nº 8666/93, estabelece que o consórcio público é dispensado de licitação para

30
contratações de valores que não ultrapassem 20% do valor máximo permitido para a licitação
na modalidade convite.

Convém mencionar, também que os valores para definição da modalidade licitatória


também não seguem a regra geral. Isso porque a lei de licitações define que, para licitações
realizadas por consórcios públicos formados por até 3 (três) entes federativos, os valores
serão duplicados e, em caso de consórcios formados por mais de 3 (três) entes, os valores
serão triplicados.

Para a alteração ou retirada de algum ente federativo do consórcio, deve ser


realizada a edição de ato formal de seu representante na assembleia geral. Nestes casos, os
bens destinados ao consórcio público pelo consorciado que se retira somente serão
revertidos ou retrocedidos no caso de expressa previsão no contrato de consórcio público
ou no instrumento de transferência ou de alienação.

Ressalte-se, ainda, que a retirada ou a extinção do consórcio público não


prejudicará as obrigações já constituídas, inclusive os contratos de programa, cuja extinção
dependerá do prévio pagamento das indenizações eventualmente devidas.

31
QUADRO SINÓTICO

SERVIÇOS PÚBLICOS

Substrato Material: considera-se que o serviço


público é uma comodidade ou utilidade fruível
prestada a coletividade, de forma contínua.

Substrato Formal: essa atividade deve ser prestada


A conceituação de atividade como
sob o regime de direito público, ainda que
serviço público depende da conjunção
parcialmente público.
de três elementos:

Elemento Subjetivo: a atividade precisa ser,


necessariamente, prestada pelo Estado seja de forma
direta ou indireta, ou seja, o Estado deve ser o
responsável por promover o serviço.

PRINCÍPIOS

O Estado tem o dever – não pode se escusar – de efetivar a


Dever de prestação
prestação do serviço público, fazendo-o de forma direta ou até
do Estado
mesmo indireta

Princípio da O Serviço Público deve ser prestado à coletividade em geral ou, pelo
Universalidade menos, a maior quantidade de pessoas possível.

As tarifas cobradas aos usuários pela prestação dos serviços públicos


Princípio da
devem ser as mais baixas – módicas – possíveis afim de atingir a
Modicidade
maior quantidade de pessoas.

32
Princípio da Este princípio estabelece que a prestação do serviço público deve
Atualidade utilizar técnicas mais modernas.

Reforça o dever do prestador de serviços públicos de tratar o usuário


Princípio da Cortesia
com urbanidade, de forma sempre cortês.

A prestação dos serviços não pode criar diferenciação indevida entre os


usuários. Porém, consagrou-se na doutrina que a isonomia deve ser

Princípio da observada sob dois aspectos: a isonomia formal – na lei - e a isonomia

Isonomia material – perante a lei.

Justifica as ações afirmativa, como sistema de cotas nas Universidades


Públicas e nos concursos.

Princípio da Os serviços públicos devem ser controlados tanto pela sociedade


submissão a controle quanto pela própria Administração Pública.

Baseia-se na ideia de que a prestação da atividade administrativa


deve ser ininterrupta, eis que muitas necessidades da sociedade são
inadiáveis.

Questionamentos decorrentes do princípio da continuidade:


Greve dos servidores: os servidores militares não têm direito de greve,
por expressa vedação constitucional, mas servidores civis têm direito à
Princípio da
greve.
Continuidade
Interrupção da prestação de um serviço por inadimplemento do
usuário: não se caracteriza como descontinuidade do serviço a sua
interrupção em situação de emergência ou após prévio aviso, quando
for motivada por razões de ordem técnica ou de segurança das
instalações ou por inadimplemento do usuário, considerado o interesse
da coletividade. A doutrina é unanime ao considerar que é ilegal a
paralisação de determinado serviço público por inadimplemento do

33
usuário, caso enseje a interrupção de um serviço essencial à
coletividade.
Exceção de contrato não cumprido nos contratos administrativos: o
particular tem direito de invocar a exceção do contrato não cumprido,
desde que a administração seja inadimplente por mais de 90 (noventa)
dias em relação aos seus pagamentos.

CLASSIFICAÇÃO

Serviços Gerais/Uti Universi: esses serviços são


prestados a todos e por essa razão o Estado não tem
como medir a utilização individual de cada pessoa.
São custeados pela receita geral decorrente da
cobrança de impostos. Configuram-se serviços
indivisíveis.
Quanto à forma de fruição dos
serviços: Serviço Singulares/Uti Singuli: nesses serviços a
Administração tem como mensurar a utilização
individual, ou seja, o quanto cada pessoa utiliza o
serviço. São cobrados individualmente, mediante a
cobrança de taxas ou tarifa/preços públicos
proporcional à utilização do sujeito. Podem ser
designados como serviços divisíveis.

No que tange Compulsórios: são os serviços essenciais à

aos serviços coletividade. A cobrança desses serviços deve ser


Compulsórios e públicos efetivada mediante taxa e se admite a cobrança da

Facultativos divisíveis, ou chamada "taxa mínima" pelo simples fato de estar o


serviços uti serviço à disposição do usuário.
singuli:
Facultativos: são prestados visando aos interesses da

34
coletividade, podendo ou não ser utilizados pelos
usuários. E, por isso, somente será possível a cobrança
pelo serviço efetivamente prestado, sendo que a
contraprestação deve ser feita mediante tarifas ou
preços públicos, não ostentando natureza tributária.

FORMAS DE PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS

A prestação direta é a efetivada pelos próprios entes federativos: União, estados, municípios e
Distrito Federal, de forma centralizada.

Por outorga/por serviços: ocorre quando o Estado


transfere, mediante lei, a outra pessoa a titularidade e
a prestação do serviço.

Por delegação/por colaboração: o Estado se mantém

A prestação descentraliza transfere a na titularidade e transfere somente a prestação do

prestação do serviço à outra pessoa serviço. A deleg6ação deve ser feita a pessoas com
jurídica, seja da administração indireta personalidade jurídica de direito privado, sejam
ou algum particular particulares ou entidades da Administração Indireta. Se
a delegação for feita para a Administração Indireta,
será mediante lei, mas aos particulares, a delegação
deverá ser feita através de contratos de concessão ou
permissão.

CONCESSÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS

Concessão simples é a delegação, mediante licitação na


A concessão comum
modalidade de concorrência, à pessoa jurídica ou consórcio de
pode ser dividida em
duas espécies: empresas.

6
Vide questão 03 ao final do capítulo.
35
Concessão precedida de execução de obra pública: é a construção,
conservação, reforma, ampliação ou melhoramento de quaisquer
obras de interesse público, delegada mediante licitação, na
modalidade de concorrência, à pessoa jurídica ou consórcio de
empresas

Poder concedente São os entes da Administração Direta

É o particular que celebra o contrato administrativo. O contrato de


concessão de serviços públicos somente pode ser celebrado com
Concessionária
pessoas jurídicas ou consórcios de empresas, não se admitindo a
assinatura da avença com pessoa física.

Deverá ser sempre precedida de procedimento licitatório na


Licitação
modalidade concorrência, independentemente do valor.

Por não serem remunerados pela Administração Pública, não


Contrato de concessão respeitam a duração de 1 (um) ano, vinculado ao orçamento
público.

O poder de fiscalização é tão amplo que a lei estabelece que se


Fiscalização houver indícios irregularidade o Estado pode declarar a intervenção
na concessionária.

Advento do termo contratual

Encampação: ocorre quando não


há mais interesse público na

Extinção São formas de extinção: manutenção do contrato.

Caducidade: é a extinção do
contrato ocasionada por
inadimplemento do particular.

36
Rescisão: a rescisão pode ser
consensual ou judicial.

Anulação: é a extinção do
contrato administrativo em
virtude de ilegalidade originária.

Falência ou extinção da
empresa concessionária e
falecimento ou incapacidade do
titular, no caso de empresa
individual.

PARCERIA PÚBLICO PRIVADA

Concessão Patrocinada: é a espécie de contrato de concessão de


serviços públicos em que além da tarifa paga pelos usuários, a
São espécies de Administração Pública complementa a remuneração da empresa
concessão de serviços
privada.
públicos e podem ser
Concessão Administrativa: é a espécie de concessão de serviço
constituídas de duas
público na qual a própria Administração Pública é a responsável pela
formas:
remuneração da empresa, pagando 100% das tarifas, eis que é a
usuária direta ou indireta.

CARACTERÍSTICAS

Não deve ser inferior a 5 (cinco) anos e nem superior a 35 (trinta


PRAZO
e cinco) anos, incluindo eventual prorrogação.

É vedada a celebração de contrato de parceria público-privada cujo


VALOR
valor do contrato seja inferior a R$ 10.000.000,00.

Deve ser prestação de um serviço público, sendo vedada a


OBJETO
celebração de contrato de parceria público-privada que tenha como

37
objeto único o fornecimento de mão-de-obra, o fornecimento e
instalação de equipamentos ou a execução de obra pública

A Responsabilidade do Estado é solidária. Há, na espécie o


RESPONSABILIDADE
compartilhamento de riscos

Ordem bancária;

Cessão de créditos não tributários;


FORMA DE
Outorga de direitos em face da Administração Pública;
PAGAMENTO
Outorga de direitos sobre bens públicos dominicais; e

Outros meios admitidos em lei.

Vinculação de receitas;

Instituição ou utilização de fundos especiais previstos em lei;

Contratação de seguro-garantia com as companhias seguradoras


que não sejam controladas pelo Poder Público;
GARANTIA Garantia prestada por organismos internacionais ou instituições
financeiras que não sejam controladas pelo Poder Público;

Garantias prestadas por fundo garantidor ou empresa estatal criada


para essa finalidade;

Outros mecanismos admitidos em lei.

Eficiência no cumprimento das missões de Estado e no emprego dos


recursos da sociedade;

Respeito aos interesses e direitos dos destinatários dos serviços e


dos entes privados incumbidos da sua execução;
DIRETRIZES
Indelegabilidade das funções de regulação, jurisdicional, do exercício
do poder de polícia e de outras atividades exclusivas do Estado;

Responsabilidade fiscal na celebração e execução das parcerias;

Transparência dos procedimentos e das decisões;

38
Repartição objetiva de riscos entre as partes; e

Sustentabilidade financeira e vantagens socioeconômicas dos


projetos de parceria.

As controvérsias decorrentes dos contratos de “PPPs” podem ser


ARBITRAGEM
resolvidas por meio da arbitragem.

PERMISSÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS


É a delegação, a título precário, mediante licitação, da prestação de serviços públicos, feita
pelo poder concedente à pessoa física ou jurídica que demonstre capacidade para seu
desempenho, por sua conta e risco.
AUTORIZAÇÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS
A autorização é conceituada como sendo ato administrativo unilateral, discricionário e precário.

A precariedade consiste na ideia de que a critério da Administração, o ato pode ser


desfeito a qualquer tempo, e esse desfazimento, a qualquer tempo, não enseja direito à
indenização pelo beneficiado.

CONSÓRCIOS

Forma de gestão associada de entes federativos para prestação de serviços públicos de


interesse comum, visando garantir maior eficiência

Pessoa de direito privado: será chamada de


consórcio público e será regida pelo direito
civil e não integrará a Administração Pública,
Tem personalidade jurídica própria diferente
porém, será formada com verba estatal.
os entes formadores do consórcio, que pode
Pessoa jurídica de direito público: irá seguir
ser personalidade jurídica de direito privado
regime de direito público e receberá o nome
ou público
de associação pública – espécie de Autarquia -
e fará parte da Administração Indireta de cada
um dos entes consorciados.

Quando entes federativos se juntam, eles celebram o protocolo de intenções que será enviado
ao Poder Legislativo de cada um dos entes consorciados, como projeto de lei, e, da ratificação

39
do protocolo de intenções, é formalizado o consórcio.

Para definir a parcela de contribuição de cada um dos entes federativos na formação e


manutenção do consórcio, deverá ser firmado contrato de rateio.

Haverá dispensa de licitações quando o consórcio público estiver contratando com os entes
formadores do consórcio, sejam os entes da administração direta ou suas autarquias,
fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista. Estas contratações celebradas
ente os consórcios públicos e os entes consorciados são designadas pela lei, como contratos
de programa.

40
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

(Instituto AOCP – 2019 – PC-ES – Escrivão de Polícia) Os serviços públicos podem ser
classificados

A) Quanto à obrigatoriedade da utilização, em compulsórios e facultativos.


B) Quanto aos usuários, em federais, estaduais, distritais e municipais.
C) Quanto à essencialidade, em serviços de execução direta ou de execução indireta.
D) Quanto à entidade quem foram atribuídos, em gerais ou específicos.
E) Quanto à forma de execução, em essenciais ou não essenciais.

Comentário:

Gabarito: Letra “A”.

Quanto ao critério da obrigatoriedade de execução, temos que os serviços públicos podem ser
divididos em facultativos e obrigatórios.

Quanto aos usuários, eles podem ser gerais ou individuais.

Quanto à essencialidade, eles podem ser essenciais e não essenciais.

Quando à entidade a quem foram atribuídos podem ser federais, estaduais e municipais.

Quanto à forma de execução dos serviços podem ser centralizados ou descentralizados.

41
Questão 2

(VUNESP – 2018 – PC-SP – Investigador de Polícia) O desenvolvimento dos serviços públicos


obedece a princípios próprios, dentre os quais se pode apontar o da

A) Estabilidade

B) Delegação da sua prestação.

C) Exceção do contrato não cumprido

D) Vedação de equiparações.

E) Modicidade tarifaria.

Comentário:

Gabarito: Letra “E”.

De todas as alternativas trazidas, apenas a letra “E” apresenta um princípio aplicável aos
serviços públicos. A modicidade tarifaria é um direito subjetivo do usuário, a fim de que ele
possa ter acesso ao serviço.

Questão 3

(VUNESP – 2018 – PC-BA – Investigador de Polícia) Os serviços públicos que, por sua
natureza ou pelo fato de assim dispor o ordenamento jurídico, comportam ser executados
pelo Estado ou por particulares colaboradores, são classificados como

A) Coletivos

B) Singulares

42
C) Delegáveis

D) Indelegáveis

E) Sociais.

Comentário:

Gabarito: Letra “C”.

Os serviços públicos são delegáveis quando admitem execução através de terceiros, por meio
das denominadas concessões, autorizações ou permissões. Portanto, correta a assertiva “C”.

Questão 4

(CESPE – 2018 – PC-MA – Escrivão de Polícia) A segurança pública é uma forma de serviço
público de natureza

A) Geral
B) Administrativa
C) Descentralizada
D) Não exclusiva
E) Individual.

Comentário:

Gabarito: Letra “A”.

De fato, a segurança pública é um serviço denominado uti universi, ou seja, um serviço


público coletivo que é prestado de forma geral e não a uma determinada pessoa.

43
Os serviços administrativos são aqueles prestados para atender as necessidades internas da
Administração.

Descentralizada é a maneira de prestação de serviços: pela administração indireta ou por


particulares.

Não exclusivos são os serviços executados tanto pelo Estado quanto pelo particular.

Por fim, serviços individuais são aqueles prestados a usuários determinados.

Questão 5

(FEPESE – 2017 – PC-SC – Agente de Polícia Civil) Assinale a alternativa que indica
corretamente o princípio geral que disciplina a prestação de serviços públicos, orientando que
os mesmos devem ser remunerados a preços moderados, de modo que o Poder Público avalie
o poder aquisitivo dos usuários para que, por dificuldades financeiras, não sejam alijados do
universo de beneficiários do serviço:

A) Da eficácia

B) Da modicidade

C) Da universalidade

D) Da impessoalidade

E) Da compulsoriedade.

Comentário:

Gabarito: Letra “B”.

44
Como explanado na resolução da questão 02, o princípio da modicidade dispõe que as tarifas
devem ter preços razoáveis, a fim de se viabilizar o acesso ao serviço.

Questão 6

(FUNCAB – 2014 – PC-RO – Escrivão de Polícia Civil) Sobre a concessão de serviço público,
assinale a opção correta.

A) Nos contratos de concessão e de permissão de serviço público, a remuneração de


concessionário/permissionário é paga diretamente pelo poder público concedente,
mediante tarifa.
B) Encampação é o ato administrativo unilateral pelo qual a Administração pode, no
prazo da concessão, mesmo sem culpa do particular, extinguir o contrato.
C) Mutabilidade significa que em qualquer contrato de concessão não é possível ao
poder concedente alterar unilateralmente regras contraídas.
D) Caducidade é a rescisão do contrato de concessão por inadimplência do poder
público concedente.
E) A outorga de concessão ou permissão, em nosso ordenamento, terá caráter de
exclusividade.

Comentário:

Gabarito: Letra “B”.

A) Incorreta. Nesse caso, a tarifa é paga pelos usuários.

B) Correta. A encampação é uma retomada coercitiva do serviço pelo poder concedente, que
ocorre durante o prazo da concessão e por motivo de interesse público.

C) Incorreta. Ao contrário, mutabilidade significa que é possível que haja a alteração no regime
de execução dos serviços.

45
D) Incorreta. A caducidade é a extinção da concessão por inadimplência da concessionária.

E) Incorreta. Nesse caso, ela não terá caráter de exclusividade (artigo 16 da Lei 8987).

Questão 7

(UEG – 2013 – PC-GO – Escrivão de Polícia Civil) A delegação do serviço público por meio
da concessão pressupõe processo de licitação na modalidade

A) Registro de preços

B) Convite

C) Pregão

D) Concorrência

Comentário:

Gabarito: Letra “D”.

Nos termos do artigo 2o da Lei 8987/95:

II - concessão de serviço público: a delegação de sua prestação, feita pelo poder


concedente, mediante licitação, na modalidade de CONCORRÊNCIA, à pessoa jurídica ou
consórcio de empresas que demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta e
risco e por prazo determinado.

46
Questão 8

(CESPE – 2013 – PC-DF – Escrivão de Polícia) Julgue o item subsequente, acerca de


princípios e serviços públicos.

O regime dos serviços públicos depende do titular de seu exercício, ou seja, se é oferecido
pelo próprio Estado, diretamente, submete-se, necessariamente, ao regime de direito público;
se é prestado do modo indireto, quando a população é atendida por entes privados, seu
regime é o do direito privado, em face da vedação constitucional de interferência estatal no
domínio econômico.

( ) Certo

( ) Errado

Comentário:

Gabarito: Errado.

Isso porque, por ser um serviço genuinamente público, o regime será predominantemente o
de direito público, seja ele prestado diretamente pelo Estado ou seja ele delegado a
particulares. Assim, a assertiva está incorreta.

47
Questão 9

(CESPE – 2013 – PC-DF – Escrivão de Polícia) Julgue o item subsequente, acerca de


princípios e serviços públicos.

A Administração pública poderá delegar aos particulares a execução de determinado serviço


público, mediante concessão, que constitui ato administrativo unilateral, discricionário e
precário.

( ) Certo

( ) Errado.

Comentário:

Gabarito: Errado.

Na realidade, a concessão de serviço público é uma modalidade de delegação de caráter


contratual (artigo 4o, Lei 8987/95).

Assim, por não se tratar de ato administrativo – mas sim de contrato -, a assertiva está
incorreta.

Questão 10

(CESPE – 2013 – PC-BA – Investigador de Polícia) Julgue o item a seguir,

Caracterizam-se como serviços públicos sociais apenas os serviços de necessidade pública, de


iniciativa e implemento exclusivo do Estado.

( ) Certo

48
( ) Errado.

Comentário:

Gabarito: Errado.

Isso porque os serviços públicos sociais são prestados pelo Estado em paralelo com a
iniciativa privada. Isso ocorre, por exemplo, com os serviços de educação, saúde e previdência
social.

49
GABARITO

Questão 1 - A

Questão 2 - E

Questão 3 - C

Questão 4 - A

Questão 5 - B

Questão 6 - B

Questão 7 - D

Questão 8 - ERRADO

Questão 9 - ERRADO

Questão 10 - ERRADO

50
QUESTÃO DESAFIO

O que é uma PPP? Quais os tipos existentes? Qual seu prazo de


duração e qual o valor mínimo do contrato?

Máximo de 5 linhas

51
GABARITO DA QUESTÃO DESAFIO

Se trata de contrato especial de concessão do SP. Pode ser patrocinada (quando o


Poder Público financia parte da tarifa) ou administrativa (só usuário financia a taxa).
Pode durar de 5 a 35 anos e o contrato tem como valor mínimo R$ 10.000.000,00.

Você deve ter abordado necessariamente os seguintes itens em sua resposta:

 PPP adm: usuário paga/PPP patrocinada

As parcerias público-privadas nada mais são do que contratos especiais de concessão de


serviços públicos. Licínia Rossi explica muito bem o tema, vejamos:

"A ideia das PPP é a busca de financiamento no setor privado: a empresa privada
“empresta” ao Estado o dinheiro, e, assim, o Estado consegue cumprir suas obrigações. O
Estado não tem dinheiro sobrando para cumprir suas obrigações, especialmente no que diz
respeito aos grandes investimentos: aeroportos, presídios, metrô etc."

A Lei 11.079/2004 instituiu duas formas de PPP. Vejamos:

"Art. 2.º Parceria público-privada é o contrato administrativo de concessão, na modalidade


patrocinada ou administrativa.

§ 1.º Concessão patrocinada é a concessão de serviços públicos ou de obras públicas de


que trata a Lei n.º 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, quando envolver, adicionalmente à
tarifa cobrada dos usuários contraprestação pecuniária do parceiro público ao parceiro
privado.

§ 2.º Concessão administrativa é o contrato de prestação de serviços de que


a Administração Pública seja a usuária direta ou indireta, ainda que envolva execução de
obra ou fornecimento e instalação de bens."

Fonte: ROSSI, Licínia Manual de direito administrativo / Licinia Rossi. – 6. ed. – São Paulo :
Saraiva Educação, 2020. p.662.

52
 de 5 a 35 anos, contrato de no mínimo 10 milhões

Ana Cláudia Campos ensina que além das características gerais instituídas pela lei geral de
licitação e contratos (Lei 8.666/1993) e das previsões da lei referente às concessões comuns
(Lei 8.987/1995), algumas cláusulas específicas se impõem nos contratos de PPP. Entre elas
está o prazo e o valor mínimo desses contratos que são um pouco diferentes na lei das PPP's
(lei n. 11.079/04), vejamos:

"Art. 2.º, § 4.º É vedada a celebração de contrato de parceria público-privada:

I – cujo valor do contrato seja inferior a R$ 10.000.000,00 (dez milhões de reais);

II – cujo período de prestação do serviço seja inferior a 5 (cinco) anos; ou

III – que tenha como objeto único o fornecimento de mão de obra, o fornecimento
e instalação de equipamentos ou a execução de obra pública."

Em outras palavras, podemos dizer que o contrato de parceria público privada (PPP) possui as
seguintes limitações:

Valor: no mínimo, o contrato terá o valor de 10 milhões de reais. (Observar que este valor se
trata de alteração recente, pois antes era 20 milhões e a lei n. 13.529/2017 alterou a 11.079/04
para baixar o valor mínimo dos contratos de PPP);

Prazo: o contrato terá como prazo mínimo o período de 5 anos e, no máximo, 35 anos.

Serviço público necessariamente um contrato de parceria público privada deve envolver a


prestação de um serviço público, não podendo ser pactuado com a única finalidade de
realizar obra, fornecer mão de obra e instalar equipamentos. CUIDADO: O contrato de PPP
poderá realizar, por exemplo, a execução de uma obra, entretanto, não poderá ser firmado
apenas com essa finalidade, pois, com a realização da obra, deve vir necessariamente a
prestação de um serviço público.

Fonte: Campos, Ana Cláudia Direito Administrativo Facilitado / Ana Cláudia Campos. São
Paulo: Método; Rio de Janeiro: Forense, 2019.p. 375.
53
LEGISLAÇÃO COMPILADA

Concessão simples:

 Lei nº 8.987/95: íntegra


 CRFB/88: artigo 37, §6º, artigo 175

Parcerias Público-Privadas
 Lei nº 11.079/2004

Consórcios Públicos

 Lei nº 11.107/05
 CFRB/88: artigo 241

Súmulas STF:

 Súmula 545
 Súmula 670
 Súmula Vinculante nº 2
 Súmula Vinculante nº 12
 Súmula Vinculante nº 19

54
JURISPRUDÊNCIA

Continuidade do serviço público:

 ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO REPRESENTATIVO DE


CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO CPC/1973 (ATUAL 1.036 DO CPC/2015) E RESOLUÇÃO
STJ 8/2008. SERVIÇOS PÚBLICOS. FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA. FRAUDE NO
MEDIDOR DE CONSUMO. CORTE ADMINISTRATIVO DO SERVIÇO. DÉBITOS DO
CONSUMIDOR. CRITÉRIOS. ANÁLISE DA CONTROVÉRSIA SUBMETIDA AO RITO DO ART.
543-C DO CPC/1973 (ATUAL 1.036 DO CPC/2015) 1. A concessionária sustenta que
qualquer débito, atual ou antigo, dá ensejo ao corte administrativo do fornecimento de
energia elétrica, o que inclui, além das hipóteses de mora do consumidor, débitos
pretéritos relativos à recuperação de consumo por fraude do medidor. In casu, pretende
cobrar débito oriundo de fraude em medidor, fazendo-o retroagir aos cinco anos
antecedentes.
TESE CONTROVERTIDA ADMITIDA 2. Sob o rito do art. 543-C do CPC/1973 (atualmente
1036 e seguintes do CPC/2015), admitiu-se a seguinte tese controvertida: "a
possibilidade de o prestador de serviços públicos suspender o fornecimento de energia
elétrica em razão de débito pretérito do destinatário final do serviço".
PANORAMA GERAL DA JURISPRUDÊNCIA DO STJ SOBRE CORTE DE ENERGIA POR
FALTA DE PAGAMENTO 3. São três os principais cenários de corte administrativo do
serviço em decorrência de débitos de consumo de energia elétrica por inadimplemento:
a) consumo regular (simples mora do consumidor); b) recuperação de consumo por
responsabilidade atribuível à concessionária; e c) recuperação de consumo por
responsabilidade atribuível ao consumidor (normalmente, fraude do medidor).
4. O caso tratado no presente recurso representativo da controvérsia é o do item "c"
acima, já que a apuração de débitos pretéritos decorreu de fato atribuível ao

55
consumidor: fraude no medidor de consumo.
5. Não obstante a delimitação supra, é indispensável à resolução da controvérsia fazer
um apanhado da jurisprudência do STJ sobre a possibilidade de corte administrativo do
serviço de energia elétrica. 6. Com relação a débitos de consumo regular de energia
elétrica, em que ocorre simples mora do consumidor, a jurisprudência do STJ está
sedimentada no sentido de que é lícito o corte administrativo do serviço, se houver
aviso prévio da suspensão. A propósito: REsp 363.943/MG, Rel. Ministro Humberto
Gomes de Barros, Primeira Seção, DJ 1º.3.2004, p. 119; EREsp 302.620/SP, Rel.
Ministro José Delgado, Rel. p/ Acórdão Ministro Franciulli Netto, Primeira Seção, DJ
3.4.2006, p. 207; REsp 772.486/RS, Rel. Ministro Francisco Falcão, Primeira Turma, DJ
6.3.2006, p. 225; AgRg no Ag 1.320.867/RJ, Rel. Ministra Regina Helena Costa, Primeira
Turma, DJe 19.6.2017; e AgRg no AREsp 817.879/SP, Rel. Ministro Humberto Martins,
Segunda Turma, DJe 12.2.2016.
7. Quanto a débitos pretéritos, sem discussão específica ou vinculação exclusiva à
responsabilidade atribuível ao consumidor pela recuperação de consumo (fraude no
medidor), há diversos precedentes no STJ que estipulam a tese genérica de
impossibilidade de corte do serviço: EREsp 1.069.215/RS, Rel. Ministro Herman Benjamin,
Primeira Seção, DJe 1º.2.2011; EAg 1.050.470/SP, Rel.
Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Seção, DJe 14.9.2010; REsp 772.486/RS, Rel.
Ministro Francisco Falcão, Primeira Turma, DJ 6.3.2006, p. 225; AgRg nos EDcl no AREsp
107.900/RS, Rel. Ministro Ari Pargendler, Primeira Turma, DJe 18.3.2013; AgRg no REsp
1.381.468/RN, Rel. Ministro Arnaldo Esteves Lima, Primeira Turma, DJe 14.8.2013; AgRg
no REsp 1.536.047/GO, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 15.9.2015;
AgRg no AREsp 273.005/ES, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe
26.3.2013; AgRg no AREsp 257.749/PE, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma,
DJe 8.2.2013; AgRg no AREsp 462.325/RJ, Rel. Ministro Og Fernandes, Segunda Turma,
DJe 15.4.2014; AgRg no AREsp 569.843/PE, Rel.
Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Turma, DJe 11.11.2015;
AgRg no AREsp 484.166/RS, Rel. Ministro Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira
Turma, DJe 8.5.2014; EDcl no AgRg no AREsp 58.249/PE, Rel. Ministro Napoleão Nunes
Maia Filho, Primeira Turma, DJe 25.4.2013; AgRg no AREsp 360.286/RS, Rel. Ministro

56
Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 11.9.2013; AgRg no AREsp 360.181/PE,
Rel. Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma, DJe 26.9.2013; AgRg no AREsp
331.472/PE, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma, DJe 13.9.2013; AgRg no
AREsp 300.270/MG, Rel. Ministro Sérgio Kukina, Primeira Turma, DJe 24.9.2015; AgRg no
REsp 1.261.303/RS, Rel. Ministro Sérgio Kukina, Primeira Turma, DJe 19.8.2013; EDcl no
REsp 1.339.514/MG, Rel. Ministro Sérgio Kukina, Primeira Turma, DJe 5.3.2013; AgRg no
AREsp 344.523/PE, Rel.
Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma, DJe 14.10.2013; AgRg no AREsp 470/RS, Rel.
Ministro Teori Albino Zavascki, Primeira Turma, DJe 4.10.2011; e AgRg no Ag
962.237/RS, Rel. Ministro Castro Meira, Segunda Turma, DJe 27.3.2008.
CORTE ADMINISTRATIVO POR FRAUDE NO MEDIDOR 8. Relativamente aos casos de
fraude do medidor pelo consumidor, a jurisprudência do STJ veda o corte quando o
ilícito for aferido unilateralmente pela concessionária. A contrario sensu, é possível a
suspensão do serviço se o débito pretérito por fraude do medidor cometida pelo
consumidor for apurado de forma a proporcionar o contraditório e a ampla defesa.
Nesse sentido: AgRg no AREsp 412.849/RJ, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda
Turma, DJe 10.12.2013; AgRg no AREsp 370.548/PE, Rel. Ministro Humberto Martins,
Segunda Turma, DJe 4.10.2013; AgRg no REsp 1.465.076/SP, Rel. Ministro Napoleão
Nunes Maia Filho, Primeira Turma, DJe 9.3.2016; REsp 1.310.260/RS, Rel.
Ministro Og Fernandes, Segunda Turma, DJe 28.9.2017; AgRg no AREsp 187.037/PE, Rel.
Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 8.10.2012; AgRg no AREsp
332.891/PE, Relator Min. Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 13.8.2013;
AgRg no AREsp 357.553/PE, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma, DJe
26.11.2014;
AgRg no AREsp 551.645/SP, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma, DJe
3.10.2014; AgInt no AREsp 967.813/PR, Rel. Ministra Assusete Magalhães, Segunda
Turma, DJe 8.3.2017; AgInt no REsp 1.473.448/RS, Rel. Ministra Assusete Magalhães,
Segunda Turma, DJe 1º.2.2017; AgRg no AREsp 345.130/PE, Rel. Ministro Sérgio Kukina,
Primeira Turma, DJe 10.10.2014; AgRg no AREsp 346.561/PE, Rel.
Ministro Sérgio Kukina, Primeira Turma, DJe 1º.4.2014; AgRg no AREsp 448.913/PE, Rel.
Ministra Regina Helena Costa, Primeira Turma, DJe 3.9.2015; AgRg no AREsp 258.350/PE,

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Rel. Ministro Gurgel de Faria, Primeira Turma, DJe 8.6.2016; AgRg no REsp 1.478.948/RS,
Rel.
Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe 20.3.2015; AgRg no AREsp 159.109/SP,
Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma, DJe 18.4.2013; AgRg no AREsp 295.444/RS,
Rel. Ministra Marga Tessler (Desembargadora Federal Convocada do TRF/4ª Região),
Primeira Turma, DJe de 17.4.2015; AgRg no AREsp 322.763/PE, Rel. Ministra Diva Malerbi
(Desembargadora Federal Convocada do TRF/3ª Região), Segunda Turma, DJe 23.8.2016;
e AgRg AREsp 243.389/PE, Rel. Ministro Arnaldo Esteves Lima, Primeira Turma, DJe
4.2.2013.
RESOLUÇÃO DA CONTROVÉRSIA 9. Como demonstrado acima, em relação a débitos
pretéritos mensurados por fraude do medidor de consumo causada pelo consumidor, a
jurisprudência do STJ orienta-se no sentido do seu cabimento, desde que verificada
com observância dos princípios do contraditório e da ampla defesa. 10. O não
pagamento dos débitos por recuperação de efetivo consumo por fraude ao medidor
enseja o corte do serviço, assim como acontece para o consumidor regular que deixa
de pagar a conta mensal (mora), sem deixar de ser observada a natureza pessoal (não
propter rem) da obrigação, conforme pacífica jurisprudência do STJ.
11. Todavia, incumbe à concessionária do serviço público observar rigorosamente os
direitos ao contraditório e à ampla defesa do consumidor na apuração do débito, já
que o entendimento do STJ repele a averiguação unilateral da dívida.
12. Além disso, o reconhecimento da possibilidade de corte de energia elétrica deve ter
limite temporal de apuração retroativa, pois incumbe às concessionárias o dever não só
de fornecer o serviço, mas também de fiscalizar adequada e periodicamente o sistema
de controle de consumo. 13. Por conseguinte e à luz do princípio da razoabilidade, a
suspensão administrativa do fornecimento do serviço - como instrumento de coação
extrajudicial ao pagamento de parcelas pretéritas relativas à recuperação de consumo
por fraude do medidor atribuível ao consumidor - deve ser possibilitada quando não
forem pagos débitos relativos aos últimos 90 (noventa) dias da apuração da fraude, sem
prejuízo do uso das vias judiciais ordinárias de cobrança. 14. Da mesma forma, deve ser
fixado prazo razoável de, no máximo, 90 (noventa) dias, após o vencimento da fatura de
recuperação de consumo, para que a concessionária possa suspender o serviço.

58
TESE REPETITIVA 15. Para fins dos arts. 1.036 e seguintes do CPC/2015, fica assim
resolvida a controvérsia repetitiva: Na hipótese de débito estrito de recuperação de
consumo efetivo por fraude no aparelho medidor atribuída ao consumidor, desde que
apurado em observância aos princípios do contraditório e da ampla defesa, é possível o
corte administrativo do fornecimento do serviço de energia elétrica, mediante prévio
aviso ao consumidor, pelo inadimplemento do consumo recuperado correspondente ao
período de 90 (noventa) dias anterior à constatação da fraude, contanto que executado
o corte em até 90 (noventa) dias após o vencimento do débito, sem prejuízo do direito
de a concessionária utilizar os meios judiciais ordinários de cobrança da dívida, inclusive
antecedente aos mencionados 90 (noventa) dias de retroação.
RESOLUÇÃO DO CASO CONCRETO 16. Na hipótese dos autos, o Tribunal Estadual
declarou a ilegalidade do corte de energia por se lastrear em débitos não relacionados
ao último mês de consumo.
17. Os débitos em litígio são concernentes à recuperação de consumo do valor de R$
9.418,94 (nove mil, quatrocentos e dezoito reais e noventa e quatro centavos) por
fraude constatada no aparelho medidor no período de cinco anos (15.12.2000 a
15.12.2005) anteriores à constatação, não sendo lícita a imposição de corte
administrativo do serviço pela inadimplência de todo esse período, conforme os
parâmetros estipulados no presente julgamento.
18. O pleito recursal relativo ao cálculo da recuperação de consumo não merece
conhecimento por aplicação do óbice da Súmula 7/STJ.
19. Recurso Especial não provido. Acórdão submetido ao regime dos arts. 1.036 e
seguintes do CPC/2015.
(REsp 1412433/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em
25/04/2018, DJe 28/09/2018)

 ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO REPRESENTATIVO DE


CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO CPC/1973 (ATUAL 1.036 DO CPC/2015) E RESOLUÇÃO
STJ 8/2008. SERVIÇOS PÚBLICOS. FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA. FRAUDE NO
MEDIDOR DE CONSUMO. CORTE ADMINISTRATIVO DO SERVIÇO. DÉBITOS DO

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CONSUMIDOR. CRITÉRIOS. ANÁLISE DA CONTROVÉRSIA SUBMETIDA AO RITO DO ART.
543-C DO CPC/1973 (ATUAL 1.036 DO CPC/2015) 1. A concessionária sustenta que
qualquer débito, atual ou antigo, dá ensejo ao corte administrativo do fornecimento de
energia elétrica, o que inclui, além das hipóteses de mora do consumidor, débitos
pretéritos relativos à recuperação de consumo por fraude do medidor. In casu, pretende
cobrar débito oriundo de fraude em medidor, fazendo-o retroagir aos cinco anos
antecedentes.
TESE CONTROVERTIDA ADMITIDA 2. Sob o rito do art. 543-C do CPC/1973 (atualmente
1036 e seguintes do CPC/2015), admitiu-se a seguinte tese controvertida: "a
possibilidade de o prestador de serviços públicos suspender o fornecimento de energia
elétrica em razão de débito pretérito do destinatário final do serviço".
PANORAMA GERAL DA JURISPRUDÊNCIA DO STJ SOBRE CORTE DE ENERGIA POR
FALTA DE PAGAMENTO 3. São três os principais cenários de corte administrativo do
serviço em decorrência de débitos de consumo de energia elétrica por inadimplemento:
a) consumo regular (simples mora do consumidor); b) recuperação de consumo por
responsabilidade atribuível à concessionária; e c) recuperação de consumo por
responsabilidade atribuível ao consumidor (normalmente, fraude do medidor).
4. O caso tratado no presente recurso representativo da controvérsia é o do item "c"
acima, já que a apuração de débitos pretéritos decorreu de fato atribuível ao
consumidor: fraude no medidor de consumo.
5. Não obstante a delimitação supra, é indispensável à resolução da controvérsia fazer
um apanhado da jurisprudência do STJ sobre a possibilidade de corte administrativo do
serviço de energia elétrica. 6. Com relação a débitos de consumo regular de energia
elétrica, em que ocorre simples mora do consumidor, a jurisprudência do STJ está
sedimentada no sentido de que é lícito o corte administrativo do serviço, se houver
aviso prévio da suspensão. A propósito: REsp 363.943/MG, Rel. Ministro Humberto
Gomes de Barros, Primeira Seção, DJ 1º.3.2004, p. 119; EREsp 302.620/SP, Rel.
Ministro José Delgado, Rel. p/ Acórdão Ministro Franciulli Netto, Primeira Seção, DJ
3.4.2006, p. 207; REsp 772.486/RS, Rel. Ministro Francisco Falcão, Primeira Turma, DJ
6.3.2006, p. 225; AgRg no Ag 1.320.867/RJ, Rel. Ministra Regina Helena Costa, Primeira
Turma, DJe 19.6.2017; e AgRg no AREsp 817.879/SP, Rel. Ministro Humberto Martins,

60
Segunda Turma, DJe 12.2.2016.
7. Quanto a débitos pretéritos, sem discussão específica ou vinculação exclusiva à
responsabilidade atribuível ao consumidor pela recuperação de consumo (fraude no
medidor), há diversos precedentes no STJ que estipulam a tese genérica de
impossibilidade de corte do serviço: EREsp 1.069.215/RS, Rel. Ministro Herman Benjamin,
Primeira Seção, DJe 1º.2.2011; EAg 1.050.470/SP, Rel.
Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Seção, DJe 14.9.2010; REsp 772.486/RS, Rel.
Ministro Francisco Falcão, Primeira Turma, DJ 6.3.2006, p. 225; AgRg nos EDcl no AREsp
107.900/RS, Rel. Ministro Ari Pargendler, Primeira Turma, DJe 18.3.2013; AgRg no REsp
1.381.468/RN, Rel. Ministro Arnaldo Esteves Lima, Primeira Turma, DJe 14.8.2013; AgRg
no REsp 1.536.047/GO, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 15.9.2015;
AgRg no AREsp 273.005/ES, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe
26.3.2013; AgRg no AREsp 257.749/PE, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma,
DJe 8.2.2013; AgRg no AREsp 462.325/RJ, Rel. Ministro Og Fernandes, Segunda Turma,
DJe 15.4.2014; AgRg no AREsp 569.843/PE, Rel.
Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Turma, DJe 11.11.2015;
AgRg no AREsp 484.166/RS, Rel. Ministro Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira
Turma, DJe 8.5.2014; EDcl no AgRg no AREsp 58.249/PE, Rel. Ministro Napoleão Nunes
Maia Filho, Primeira Turma, DJe 25.4.2013; AgRg no AREsp 360.286/RS, Rel. Ministro
Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 11.9.2013; AgRg no AREsp 360.181/PE,
Rel. Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma, DJe 26.9.2013; AgRg no AREsp
331.472/PE, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma, DJe 13.9.2013; AgRg no
AREsp 300.270/MG, Rel. Ministro Sérgio Kukina, Primeira Turma, DJe 24.9.2015; AgRg no
REsp 1.261.303/RS, Rel. Ministro Sérgio Kukina, Primeira Turma, DJe 19.8.2013; EDcl no
REsp 1.339.514/MG, Rel. Ministro Sérgio Kukina, Primeira Turma, DJe 5.3.2013; AgRg no
AREsp 344.523/PE, Rel.
Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma, DJe 14.10.2013; AgRg no AREsp 470/RS, Rel.
Ministro Teori Albino Zavascki, Primeira Turma, DJe 4.10.2011; e AgRg no Ag
962.237/RS, Rel. Ministro Castro Meira, Segunda Turma, DJe 27.3.2008.
CORTE ADMINISTRATIVO POR FRAUDE NO MEDIDOR 8. Relativamente aos casos de
fraude do medidor pelo consumidor, a jurisprudência do STJ veda o corte quando o

61
ilícito for aferido unilateralmente pela concessionária. A contrario sensu, é possível a
suspensão do serviço se o débito pretérito por fraude do medidor cometida pelo
consumidor for apurado de forma a proporcionar o contraditório e a ampla defesa.
Nesse sentido: AgRg no AREsp 412.849/RJ, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda
Turma, DJe 10.12.2013; AgRg no AREsp 370.548/PE, Rel. Ministro Humberto Martins,
Segunda Turma, DJe 4.10.2013; AgRg no REsp 1.465.076/SP, Rel. Ministro Napoleão
Nunes Maia Filho, Primeira Turma, DJe 9.3.2016; REsp 1.310.260/RS, Rel.
Ministro Og Fernandes, Segunda Turma, DJe 28.9.2017; AgRg no AREsp 187.037/PE, Rel.
Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 8.10.2012; AgRg no AREsp
332.891/PE, Relator Min. Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 13.8.2013;
AgRg no AREsp 357.553/PE, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma, DJe
26.11.2014;
AgRg no AREsp 551.645/SP, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma, DJe
3.10.2014; AgInt no AREsp 967.813/PR, Rel. Ministra Assusete Magalhães, Segunda
Turma, DJe 8.3.2017; AgInt no REsp 1.473.448/RS, Rel. Ministra Assusete Magalhães,
Segunda Turma, DJe 1º.2.2017; AgRg no AREsp 345.130/PE, Rel. Ministro Sérgio Kukina,
Primeira Turma, DJe 10.10.2014; AgRg no AREsp 346.561/PE, Rel.
Ministro Sérgio Kukina, Primeira Turma, DJe 1º.4.2014; AgRg no AREsp 448.913/PE, Rel.
Ministra Regina Helena Costa, Primeira Turma, DJe 3.9.2015; AgRg no AREsp 258.350/PE,
Rel. Ministro Gurgel de Faria, Primeira Turma, DJe 8.6.2016; AgRg no REsp 1.478.948/RS,
Rel.
Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe 20.3.2015; AgRg no AREsp 159.109/SP,
Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma, DJe 18.4.2013; AgRg no AREsp 295.444/RS,
Rel. Ministra Marga Tessler (Desembargadora Federal Convocada do TRF/4ª Região),
Primeira Turma, DJe de 17.4.2015; AgRg no AREsp 322.763/PE, Rel. Ministra Diva Malerbi
(Desembargadora Federal Convocada do TRF/3ª Região), Segunda Turma, DJe 23.8.2016;
e AgRg AREsp 243.389/PE, Rel. Ministro Arnaldo Esteves Lima, Primeira Turma, DJe
4.2.2013.
RESOLUÇÃO DA CONTROVÉRSIA 9. Como demonstrado acima, em relação a débitos
pretéritos mensurados por fraude do medidor de consumo causada pelo consumidor, a
jurisprudência do STJ orienta-se no sentido do seu cabimento, desde que verificada

62
com observância dos princípios do contraditório e da ampla defesa. 10. O não
pagamento dos débitos por recuperação de efetivo consumo por fraude ao medidor
enseja o corte do serviço, assim como acontece para o consumidor regular que deixa
de pagar a conta mensal (mora), sem deixar de ser observada a natureza pessoal (não
propter rem) da obrigação, conforme pacífica jurisprudência do STJ.
11. Todavia, incumbe à concessionária do serviço público observar rigorosamente os
direitos ao contraditório e à ampla defesa do consumidor na apuração do débito, já
que o entendimento do STJ repele a averiguação unilateral da dívida.
12. Além disso, o reconhecimento da possibilidade de corte de energia elétrica deve ter
limite temporal de apuração retroativa, pois incumbe às concessionárias o dever não só
de fornecer o serviço, mas também de fiscalizar adequada e periodicamente o sistema
de controle de consumo. 13. Por conseguinte e à luz do princípio da razoabilidade, a
suspensão administrativa do fornecimento do serviço - como instrumento de coação
extrajudicial ao pagamento de parcelas pretéritas relativas à recuperação de consumo
por fraude do medidor atribuível ao consumidor - deve ser possibilitada quando não
forem pagos débitos relativos aos últimos 90 (noventa) dias da apuração da fraude, sem
prejuízo do uso das vias judiciais ordinárias de cobrança. 14. Da mesma forma, deve ser
fixado prazo razoável de, no máximo, 90 (noventa) dias, após o vencimento da fatura de
recuperação de consumo, para que a concessionária possa suspender o serviço.
TESE REPETITIVA 15. Para fins dos arts. 1.036 e seguintes do CPC/2015, fica assim
resolvida a controvérsia repetitiva: Na hipótese de débito estrito de recuperação de
consumo efetivo por fraude no aparelho medidor atribuída ao consumidor, desde que
apurado em observância aos princípios do contraditório e da ampla defesa, é possível o
corte administrativo do fornecimento do serviço de energia elétrica, mediante prévio
aviso ao consumidor, pelo inadimplemento do consumo recuperado correspondente ao
período de 90 (noventa) dias anterior à constatação da fraude, contanto que executado
o corte em até 90 (noventa) dias após o vencimento do débito, sem prejuízo do direito
de a concessionária utilizar os meios judiciais ordinários de cobrança da dívida, inclusive
antecedente aos mencionados 90 (noventa) dias de retroação.
RESOLUÇÃO DO CASO CONCRETO 16. Na hipótese dos autos, o Tribunal Estadual
declarou a ilegalidade do corte de energia por se lastrear em débitos não relacionados

63
ao último mês de consumo.
17. Os débitos em litígio são concernentes à recuperação de consumo do valor de R$
9.418,94 (nove mil, quatrocentos e dezoito reais e noventa e quatro centavos) por
fraude constatada no aparelho medidor no período de cinco anos (15.12.2000 a
15.12.2005) anteriores à constatação, não sendo lícita a imposição de corte
administrativo do serviço pela inadimplência de todo esse período, conforme os
parâmetros estipulados no presente julgamento.
18. O pleito recursal relativo ao cálculo da recuperação de consumo não merece
conhecimento por aplicação do óbice da Súmula 7/STJ.
19. Recurso Especial não provido. Acórdão submetido ao regime dos arts. 1.036 e
seguintes do CPC/2015.
(REsp 1412433/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em
25/04/2018, DJe 28/09/2018)

Concessão

 EMENTA Recurso ordinário em mandado de segurança. Contrato de concessão de usina


hidrelétrica. Prorrogação contratual. Cláusula de natureza discricionária. Ausência de
direito líquido e certo. Denegação da segurança pelo STJ. Manutenção da decisão
recorrida. Recurso ordinário não provido. 1. O contrato administrativo se encerra no
prazo nele definido, salvo a realização de ajuste, ao final do termo, pela prorrogação
contratual, se atendidas as exigências legais para tanto e se presente o interesse público
na permanência do contrato. Nesse passo, é incongruente com a natureza da
prorrogação contratual a ideia de sua formalização em momento antecedente ao
término do contrato, como também é incongruente com sua natureza a garantia
indissolúvel de sua realização já no instrumento contratual. 2. A discricionariedade da
prorrogação é uma das marcas mais acentuadas do contrato administrativo e, assim,
está, inclusive, prevista nas sucessivas legislações relativas às concessões de energia
elétrica (leis nº 9.074/95 e nº 12.783/13) e também no termo cujas cláusulas se
questiona nos autos. 3. Recurso Ordinário não provido.

64
(RMS 34203, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Segunda Turma, julgado em 21/11/2017,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-053 DIVULG 19-03-2018 PUBLIC 20-03-2018)

Serviços públicos:

 AGRAVO INTERNO NA SUSPENSÃO DE LIMINAR E DE SENTENÇA. I) DISCUSSÃO DE


QUESTÕES REFERENTES AO MÉRITO DA CAUSA PRINCIPAL.
IMPOSSIBILIDADE. VIA SUSPENSIVA VOCACIONADA A TUTELAR APENAS A ORDEM, A
ECONOMIA, A SEGURANÇA E A SAÚDE PÚBLICAS. II) GRAVE LESÃO À ORDEM PÚBLICA
CONFIGURADA. PRESUNÇÃO DE LEGITIMIDADE DO ATO ADMINISTRATIVO PRATICADO
PELO PODER PÚBLICO QUE PREVALECE ATÉ PROVA DEFINITIVA EM CONTRÁRIO.
DETERMINAÇÃO GOVERNAMENTAL QUE DEVE SER PRESTIGIADA TAMBÉM PARA
MITIGAR A PROBLEMÁTICA DO DÉFICIT DEMOCRÁTICO DO PODER JUDICIÁRIO.
CONSIDERAÇÕES SOBRE A DOUTRINA CHENERY. DIFICULDADE DE O JUDICIÁRIO
CONCLUIR SE UMA ESCOLHA CUJA MOTIVAÇÃO É ALEGADAMENTE POLÍTICA SERIA
CONCRETIZADA CASO A ADMINISTRAÇÃO EMPREGASSE SOMENTE METODOLOGIA
TÉCNICA.
IMPOSSIBILIDADE DE AS ESCOLHAS POLÍTICAS DOS ÓRGÃOS GOVERNAMENTAIS
SEREM INVALIDADAS PELO JUDICIÁRIO, CASO NÃO SEJAM REVESTIDAS DE
RECONHECIDA ILEGALIDADE. VEDAÇÃO ÀS PRESIDÊNCIAS DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL E DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA QUANTO À APRECIAÇÃO DE PEDIDO
DE CONTRACAUTELA À LUZ DE DIREITO LOCAL. III) MANIFESTA VIOLAÇÃO DA ORDEM
ECONÔMICA RECONHECIDA. AUSÊNCIA DE PRÉVIA DOTAÇÃO ORÇAMENTÁRIA PARA
QUE O ESTADO DE SÃO PAULO CUSTEIE AS VULTOSAS DESPESAS DECORRENTES DA
MANUTENÇÃO DA HARMONIA ECONÔMICO-FINANCEIRA DOS ACORDOS
ADMINISTRATIVOS FIRMADOS PELO PODER PÚBLICO COM AS CONCESSIONÁRIAS DE
TRANSPORTE PÚBLICO. AGRAVO INTERNO DESPROVIDO.
1. Hipótese em que o Juiz de primeiro grau deferiu o pedido de antecipação de tutela
formulado na ação popular originária para suspender o aumento das tarifas cobradas
de usuários da integração entre metrô, trens e ônibus municipais em terminais

65
metropolitanos da Grande São Paulo, a partir de 8 de janeiro de 2017, baseado
essencialmente em dois fundamentos: a) injustiça no fato de que a tarifa de metrô foi
mantida em R$ 3,80, por tratar-se de medida "mais benéfica para quem reside em
locais mais centrais" e utiliza unicamente aquele modal, enquanto é "gravosa a quem
reside em locais mais distantes e se utiliza do trem e do metrô, cuja tarifa integrada foi
aumentada acima da inflação" (fl. 264); e b) suposta motivação política na adoção da
novel política tarifária.
2. Na via suspensiva, por vezes, para que se verifique a violação de um dos bens
tutelados na legislação de regência (Leis n.os 8.437/92, 9.494/97, 12.016/09), faz-se
necessário proceder a um "juízo mínimo de delibação sobre a matéria de fundo da
contracautela" (STF, SS n.º 5.049/BA-AgR-ED, Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI -
Presidente -, Tribunal Pleno, julgado em 20/4/2016, DJe de 13/5/2016). Todavia, em
análise de controvérsia sobre estipulação de remuneração pelo uso de transporte
coletivo, o Supremo Tribunal Federal consignou que "o reajuste de tarifas do serviço
público é manifestação de uma política tarifária, solução, em cada caso, de um
complexo problema de ponderação entre a exigência de ajustar o preço do serviço às
situações econômicas concretas do seguimento social dos respectivos usuários ao
imperativo de manter a viabilidade econômico-financeiro do empreendimento do
concessionário" (RE n.º 191.532/SP, Rel. Min.
SEPÚLVEDA PERTENCE, Primeira Turma, julgado em 27/5/1997, DJ de 29/8/1997).
3. Cármen Lúcia Antunes Rocha leciona que a discriminação tarifária torna possível,
"nessa distinção de usuários em condições econômicas e sociais desiguais, a efetivação
da igualdade jurídica e da concreta justiça social" (Estudo sobre Concessão e Permissão
de Serviço Público no Direito Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 1996, p.
101). Na mesma obra, contudo, ressalta a dificuldade de se fixar tarifa pública com
fundamento no princípio da isonomia. 4. Assim, a evidente sofisticação da demanda
ventilada na causa principal impede que a Presidência do Superior Tribunal de Justiça
julgue questões relativas ao mérito do reajuste determinado pelo Poder Público -
notadamente para concluir sobre discriminação ou injustiça na fixação de preço para
uso de transporte público. O incidente suspensivo, por sua estreiteza, é vocacionado a
tutelar tão somente a ordem, a economia, a segurança e a saúde públicas, não

66
podendo ser analisado como se fosse sucedâneo recursal, para que se examinem
questões relativas ao fundo da causa principal.
5. A interferência judicial para invalidar a estipulação das tarifas de transporte público
urbano viola gravemente a ordem pública. A legalidade estrita orienta que, até prova
definitiva em contrário, prevalece a presunção de legitimidade do ato administrativo
praticado pelo Poder Público (STF, RE n.º 75.567/SP, Rel. Min. DJACI FALCÃO, Primeira
Turma, julgado em 20/11/1973, DJ de 19/4/1974, v.g.) - mormente em hipóteses como
a presente, em que houve o esclarecimento da Fazenda estadual de que a metodologia
adotada para fixação dos preços era técnica.
6. A cautela impediria a decisão de sustar a recomposição tarifária estipulada pelo
Poder Público para a devida manutenção da estabilidade econômico-financeira dos
contratos de concessão de serviço público. Postura tão drástica deveria ocorrer somente
após a constatação, estreme de dúvidas, de ilegalidade - desfecho que, em regra, se
mostra possível somente após a devida instrução, com o decurso da tramitação
completa do processo judicial originário.
7. Não compete às Presidências do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de
Justiça julgar pedido suspensivo à luz de direito local (precedentes). Dessa forma, não
há como analisar eventual ofensa à legislação estadual, qual seja, a Lei do Estado de
São Paulo n.º 9.166/95.
8. O Magistrado Singular concluiu que os reajustes tarifários seriam discriminatórios, por
deixar de atingir parte dos usuários e incidir sobre outros. Estimou que estava a adotar,
assim, a medida que reputou mais justa. Não se pode esquecer, entretanto, que o
exercício da ponderação exige critérios, entre os quais, a adoção de solução que reduza
"a tensão gerada pela falta de legitimidade representativo-democrática do juiz para
realizar opções normativo-axiológicas", conforme leciona Paulo Gustavo Gonet Branco
(Juízo de ponderação na jurisdição constitucional. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 305).
Dessa forma, o ato administrativo editado pelo Estado de São Paulo deve ser
prestigiado também para mitigar a problemática do déficit democrático do Poder
Judiciário.
9. Eventual intento político da medida não poderia ensejar a invalidação dos critérios
tarifários adotados, tout court. Conforme leciona Richard A. Posner, o Poder Judiciário

67
esbarra na dificuldade de concluir se um ato administrativo cuja motivação
alegadamente política seria concretizado, ou não, caso o órgão público tivesse se valido
tão somente de metodologia técnica. De qualquer forma, essa discussão seria inócua,
pois, segundo a doutrina Chenery - a qual reconheceu o caráter político da atuação da
Administração Pública dos Estados Unidos da América -, as cortes judiciais estão
impedidas de adotarem fundamentos diversos daqueles que o Poder Executivo
abraçaria, notadamente nas questões técnicas e complexas, em que os tribunais não
têm a expertise para concluir se os critérios adotados pela Administração são corretos
(Economic Analysis of Law. Fifth Edition. New York: Aspen Law and Business, 1996, p.
671). Portanto, as escolhas políticas dos órgãos governamentais, desde que não sejam
revestidas de reconhecida ilegalidade, não podem ser invalidadas pelo Poder Judiciário.
10. Impedir judicialmente o reajuste das tarifas a serem pagas pelos usuários também
configura grave violação da ordem econômica, por não haver prévia dotação
orçamentária para que o Estado de São Paulo custeie as vultosas despesas para a
manutenção do equilíbrio econômico-financeiro dos acordos administrativos firmados
pelo Poder Público com as concessionárias de transporte público.
11. Agravo interno desprovido.
(AgInt no AgInt na SLS 2.240/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, CORTE ESPECIAL, julgado
em 07/06/2017, DJe 20/06/2017)

68
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARVALHO FILHO, José dos Santos. MANUAL DE DIREITO ADMINSITRAVO. 30 Ed. São
Paulo: Atlas, 2016.

CARVALHO, Matheus. MANUAL DE DIREITO ADMINSITRAVO. 3 ed. Salvador: JusPODIVM,


2016.

MAZZA, Alexandre. MANUAL DE DIREITO ADMINSITRAVO – 9. ed. – São Paulo: Saraiva


Educação, 2019.

OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende. CURSO DE DIREITO ADMINISTRATIVO. 5 ed. Rio de


Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2017.

PIETRO, Maria Sylvia Zanella Di. DIREITO ADMINISTRATIVO. 32. ed. rev. atual e ampl. – Rio
de Janeiro: Forense, 2019.

69
CARREIRAS POLICIAIS

Direito Administrativo
Capítulo 8
SUMÁRIO
DIREITO ADMINISTRATIVO, Capítulo 8.................................................................................................................... 3

1. Licitação ......................................................................................................................................................................... 3

1.1 Conceito .................................................................................................................................................................... 3

1.2 Competência para legislar................................................................................................................................. 4

1.3 Finalidades................................................................................................................................................................ 5

1.4 Princípios................................................................................................................................................................... 7

1.4.1 Isonomia.................................................................................................................................................................... 7

1.4.2 Competitividade..................................................................................................................................................... 8

1.4.3 Vinculação ao instrumento convocatório ................................................................................................... 9

1.4.4 Julgamento objetivo ............................................................................................................................................ 9

1.4.5 Sigilos das propostas .......................................................................................................................................... 9

1.4.6 Adjudicação compulsória................................................................................................................................... 9

1.4.7 Procedimento formal ........................................................................................................................................ 10

1.5 Modalidades de licitação ................................................................................................................................ 10

1.5.1 Concorrência ........................................................................................................................................................ 12

1.5.2 Tomada de preços ............................................................................................................................................. 13

1.5.3 Convite .................................................................................................................................................................... 13

1.5.4 Concurso ................................................................................................................................................................ 15

1.5.5 Leilão ....................................................................................................................................................................... 15

1.5.6 Pregão ..................................................................................................................................................................... 16

1.6 Tipos de licitação ............................................................................................................................................... 20

1.6.1 Menor preço......................................................................................................................................................... 20

1
1.6.2 Maior lance ou oferta ...................................................................................................................................... 20

1.6.3 Melhor técnica ..................................................................................................................................................... 21

1.6.4 Técnica e preço ................................................................................................................................................... 21

1.7 Critérios de desempate ................................................................................................................................... 22

1.8 Fases da licitação ............................................................................................................................................... 23

1.8.1 Fase interna .......................................................................................................................................................... 23

1.8.2 Fase externa.......................................................................................................................................................... 24

1.9 Instrumento convocatório .............................................................................................................................. 29

1.10 Comissão de licitação....................................................................................................................................... 30

1.11 Contratação direta ............................................................................................................................................. 31

1.12 Alienação de bens ............................................................................................................................................. 33

1.13 Parcelamento de obras, serviços e compras .......................................................................................... 34

1.14 Recursos administrativos ................................................................................................................................ 34

1.15 Revogação e Anulação .................................................................................................................................... 35

1.16 Licitação para Registro de Preços............................................................................................................... 36

1.17 Licitação “Carona” .............................................................................................................................................. 36

QUADRO SINÓTICO ...................................................................................................................................................... 38

QUESTÕES COMENTADAS ........................................................................................................................................ 50

GABARITO ........................................................................................................................................................................... 62

LEGISLAÇÃO COMPILADA............................................................................................................................................ 66

JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................................................................. 67

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................................. 74

2
DIREITO ADMINISTRATIVO

Capítulo 8

1. Licitação

Caro leitor. Antes de adentrarmos no capítulo 08, cabe ressaltar que poucos editais
para investigador, agente e escrivão cobram o tema de licitações. Por ser uma matéria muito
densa, ela costuma cair com bastante frequência para o cargo de Delegado de Polícia Civil e
Federal, que não são nossos focos neste PDF. Portanto, sugerimos que você sempre analise o
seu edital.

Caso essa matéria esteja prevista para a prova do cargo dos seus sonhos, você já
pode passar para o primeiro item. Vamos ver qual o conceito de licitação?

1.1 Conceito

A licitação1 – regulamentada pela Lei nº 8.666/93 - é uma série de atos, ou seja, um


procedimento, que antecede a celebração do contrato administrativo.

O art. 37, XXI, da CRFB/88 determina que os contratos administrativos sejam


precedidos de licitação pública. Há exceções a essa regra, que serão estudadas em tópico
específico.

Subordinam-se ao regime da Lei de Licitação, além dos órgãos da administração


direta, os fundos especiais, as autarquias, as fundações públicas, as empresas públicas, as

1
Vide questão 09 ao final do capítulo.
3
sociedades de economia mista e demais entidades controladas direta ou indiretamente pela
União, Estados, Distrito Federal e Municípios.

O objeto da licitação poderá ser obras, serviços, inclusive de publicidade, compras,


alienações, concessões, permissões e locações da Administração Pública.

Segundo José dos Santos Carvalho Filho, a licitação é “o procedimento


administrativo vinculado por meio do qual os entes da Administração Pública e aqueles por
ela controlados selecionam a melhor proposta entre as oferecidas pelos vários interessados,
com dois objetivos – a celebração de contrato, ou a obtenção do melhor trabalho técnico,
artístico ou científico.”

Cumpre apontar também o conceito de Maria Sylvia Zanella Di Pietro que diz
“aproveitando, parcialmente, conceito de José Roberto Dromi (1975:92), pode-se definir a
licitação como o procedimento administrativo pelo qual um ente público, no exercício da
função administrativa, abre a todos os interessados, que se sujeitem às condições fixadas no
instrumento convocatório, a possibilidade de formularem propostas dentre as quais
selecionará e aceitará a mais conveniente para a celebração de contrato.”

1.2 Competência para legislar

Considerando a previsão do art. 22, XXVII, da CRFB/88, a competência para legislar


sobre licitações e contratos administrativos é privativa da União.

Porém, a União se restringe a editar normais gerais, sendo possível que os estados,
o DF e os municípios legislem sobre questões específicas.

Ressalte-se que, em determinadas situações, a União expede normas específicas que


se aplicarão somente no âmbito dos procedimentos licitatórios deste ente, não podendo
atingir os Estados, Municípios e Distrito Federal. Em todos os casos, se o ente federado não

4
houver expedido qualquer norma específica em seu âmbito, a legislação federal lhe será
aplicável integralmente.

Por ser uma lei nacional, subordinam-se ao regime da Lei 8.666/93, além dos
órgãos da administração direta, os fundos especiais, as autarquias, as fundações públicas, as
empresas públicas, as sociedades de economia mista e demais entidades controladas direta ou
indiretamente pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios.

A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal – na ADI n. 927 - reconheceu que alguns


dispositivos da Lei de licitações e contratos, especificamente a norma que trata acerca de
permuta de bens imóveis, editada pela União como normas gerais, extrapolam esse caráter e
definem regras específicas de licitação. Nesses casos, os dispositivos serão aplicáveis somente
às licitações realizadas no âmbito federal. Na oportunidade, a Suprema Corte determinou
que seja feita uma interpretação conforme esses dispositivos, excluindo a sua aplicação dos
demais entes federados.

1.3 Finalidades

Segundo o artigo 3º, da Lei nº 8.666/93, são 3 (três) as finalidades: a licitação


destina-se a garantir a observância do princípio constitucional da isonomia, a seleção da
proposta mais vantajosa para a administração e a promoção do desenvolvimento nacional
sustentável.

5
Selecionar a proposta mais vantajosa para a administração;

Garantir a isonomia nos contratos do Estado;

Promover o desenvolvimento nacional sustentável.

Nos processos de licitação, com o propósito de garantir o desenvolvimento


nacional, a lei autoriza o estabelecimento de margem de preferência para produtos
manufaturados e para serviços nacionais que atendam a normas técnicas brasileiras.

Para o emprego das margens de preferência, alguns requisitos devem ser


observados:

1) As margens de preferencias serão definidas pelo Executivo Federal, por


meio de decreto e serão definidas por produto e serviços e não para uma
licitação específica;
2) Os produtos manufaturados e os serviços nacionais resultantes de
desenvolvimento e inovação tecnológica realizados no país poderão ter uma
margem de preferência adicional;
3) A soma das margens de preferência (normal e adicional) não pode
ultrapassar o montante de 25%;
4) A margem de preferência poderá ser estendida, total ou parcialmente, aos
bens e serviços originários dos Estados do MERCOSUL;
5) A aplicação da margem de preferência deve estar fundamentada em estudos
revistos periodicamente, em prazo não superior a 5 (cinco) anos que
considerem: (i) geração de emprego e renda; (ii) efeito a arrecadação de
tributos; (iii) desenvolvimento e inovação tecnológica realizados no país; (iv)
custo adicional dos produtos e serviços; e (v) em suas revisões, análise
retrospectiva de resultados.

6
6) Não podem ser utilizadas margens de preferência para produtos e serviços
cuja capacidade de produção ou prestação no País cuja capacidade de
produção ou prestação no país seja inferior à quantidade a ser adquirida ou
inferior ao quantitativo mínimo para preservar a economia de escala.

Poderá, ainda, ser estabelecida margem de preferência para bens e serviços


produzidos ou prestados por empresas que reservem cargos para pessoas com deficiência
ou reabilitados da Previdência Social e que atendam às regras de acessibilidade durante
todo o período de contrato.

Adicionalmente aos critérios de preferência, o princípio do desenvolvimento


nacional sustentável permite à Administração Pública, em detrimento de critérios
exclusivamente econômico-financeiros, restringir a licitação a empresas que possuam práticas
ambientalmente corretas, nas chamadas licitações sustentáveis.

É previsto, ainda, que os editais de licitação, mediante prévia justificativa da


autoridade competente, exijam que o contratado promova, em favor de órgão ou entidade da
Administração ou daqueles por ela indicados, medidas de compensação comercial, industrial,
tecnológica ou acesso à condições vantajosas de financiamento, cumulativamente ou não,
como por exemplo: treinamento de RH e transferência de tecnologias.

1.4 Princípios

1.4.1 Isonomia

O princípio da isonomia2 impõe um tratamento igualitário entre os licitantes no


procedimento, não se admitindo tratamento que vise beneficiar ou prejudicar qualquer
participante.

2
Vide questão 01 ao final do capítulo.
7
Além disso, deve ser dada oportunidade de participação nas licitações a quaisquer
interessados, só sendo aceitas exigências de qualificação indispensáveis à garantia do
cumprimento da obrigação.

Porém, consagrou-se na doutrina que a isonomia deve ser observada sob dois
aspectos: a isonomia formal – na lei - e a isonomia material – perante a lei.

A isonomia material permite que se trate igualmente os iguais e desigualmente os


desiguais na medida de suas desigualdades. É esse conceito que justifica tratamento
diferenciado dispensado a microempresas e empresas de pequeno porte pela Lei
Complementar 123/06, bem como a possibilidade de criação de preferências para aquisição
de produtos manufaturados ou serviços nacionais.

1.4.2 Competitividade

A lei veda aos agentes diminuir o caráter competitivo das licitações por meio de
estabelecimento de regras que o frustrem.

Neste sentido é vedada a imposição de marcas, salvo para fins de padronização,


nos casos em que for tecnicamente justificável.

Nas contratações destinadas à implantação, à manutenção e ao aperfeiçoamento dos sistemas


de tecnologia da informação e comunicação consideradas estratégicas, a licitação poderá ser
restrita a bens e serviços com tecnologia desenvolvidas no país.

8
1.4.3 Vinculação ao instrumento convocatório

Inicialmente, cumpre mencionar que o instrumento convocatório da licitação é, em


regra, o edital, salvo na modalidade convite, em que a lei prevê a convocação por carta-
convite.

O edital é a lei interna da licitação que vincula tanto a Administração quanto os


licitantes e qualquer modificação no edital exige divulgação pela mesma forma que se deu o
texto original, reabrindo-se o prazo inicialmente estabelecido, SALVO quando não afetar a
formulação das propostas.

1.4.4 Julgamento objetivo

O edital deve conter critérios objetivos de julgamento, determinando qual será o


critério utilizado na seleção da proposta vencedora.

Por essa razão, os administradores não podem julgar as propostas com critérios
deferentes dos previamente delimitados no edital.

1.4.5 Sigilos das propostas

O conteúdo das propostas apresentadas pelos licitantes deve ser secreto até a data
designada para abertura. Ressalta-se que a violação do sigilo da proposta representa
Improbidade Administrativa e crime definido na própria Lei de Licitações.

Já a licitação e os atos praticados no bojo do procedimento não serão sigilosos.

1.4.6 Adjudicação compulsória

O princípio da adjudicação compulsória impede que a Administração assine o


contrato com o segundo colocado ou com terceiros estranhos ao procedimento licitatório.

9
A adjudicação deve ser feita com o vencedor, salvo se este desistir ou não
firmar o contrato no prazo. Esse princípio veda também a abertura de nova licitação
enquanto válida a adjudicação anterior.

Esclarece-se que a Administração Pública não está obrigada a celebrar o contrato


administrativo, mas caso necessite realizar a contratação, só pode fazê-lo com o vencedor da
licitação.

O licitante vencedor será liberado da proposta apresentada caso a assinatura do


contrato não ocorra em até 60 dias da abertura dos envelopes.

Porém, caso o vencedor seja convocado para assinar o contrato dentro do prazo, e
sem justo motivo, recusar, seu direito de contratação irá decair e ele ficará sujeito a sanções
administrativas. Quando isso ocorrer, a Administração poderá convocar os licitantes
remanescentes, na ordem de classificação, para fazê-lo e igual prazo e nas mesmas
condições propostas pelo licitante vencedor.

1.4.7 Procedimento formal

O procedimento licitatório deve atender a todas as formalidades previstas em lei.

Porém, cumpre ressaltar que, em matéria de processos administrativos, vige o


formalismo necessário, que resulta na máxima de que não há nulidade sem prejuízo para os
interessados.

1.5 Modalidades3 de licitação


As modalidades de licitação são: a concorrência, a tomada de preços, o convite, o
concurso, e o leilão (Lei nº 8.666/93); o pregão (Lei nº 11.520/02) e a consulta – aplicável às
agências reguladoras.

3
Vide questão 05 ao final do capítulo.
10
A concorrência, tomada de preços e convite são utilizadas, em regra, conforme o
valor da contratação. O leilão e o concurso em situações específicas e o pregão para a
finalidade e a aquisição de bens e serviços comuns.

Esquema:

OBRAS E SERVIÇOS DE COMPRAS DE BENS


MODALIDADE
ENGENHARIA

CONCORRÊNCIA superior a R$ 3.300.000,00 superior a R$ 1.430.000,00

TOMADA DE PREÇOS até R$ 3.300.000,00 até R$ 1.430.000,00

CONVITE até R$ 330.000,00 até R$ 176.000,00

DISPENSA até 33.000,00 até 17.600,00

No caso de consórcios públicos formados por até 3 entes da federação, aplicar-se-á


o dobro desses valores. Se formados por mais de 3 entes da federação, aplicar-se-á o triplo
dos valores.

É proibida a criação de novas modalidades de licitação, bem como a combinação de


modalidades.

11
1.5.1 Concorrência

A concorrência é a modalidade voltada para licitações de grande valor, em que se


admite a participação de quaisquer interessados, cadastrados ou não, que na fase inicial de
habilitação preliminar, comprovem possuir os requisitos mínimos de qualificação exigidos no
edital para execução de seu objeto.

A concorrência pode ser exigida em razão de dois critérios: valor e natureza do


objeto

Em relação ao valor, é modalidade obrigatória para contratações de obras e


serviços de engenharia acima de três milhões e trezentos mil reais (R$ 3.300.000,00) e para a
aquisição de bens e serviços, que não de engenharia, acima de um milhão quatrocentos e
trinta mil reais (R$ 1.430.000,00).

Há casos em que a concorrência será obrigatória, independentemente do valor, por


conta da natureza do objeto. São eles:

1) Compra ou alienação de bens imóveis, exceto na alienação de imóveis cuja


aquisição por parte da Administração tenha sido derivada de procedimento
judicial ou dação em pagamento, casos em que se admite também o leilão;
2) Concessão de direito real de uso;
3) Concessão de serviços públicos;
4) Contratos de PPP;
5) Licitações internacionais, admitindo-se a tomada de preços quando o valor
estiver no limite dessa modalidade e quando o órgão/entidade dispuser de
cadastro internacional de fornecedores ou convite, quando não houver
fornecedor do bem ou serviço no país;
6) Registro de preços, podendo também ser utilizado o pregão;
7) Contratos de obra celebrados por meio de empreitada integral.

12
1.5.2 Tomada de preços

A tomada de preços é possível para contratos de valores médios, sendo, por isso,
uma mais simples que a concorrência.

É possível sua realização para contratações de obras e serviços de engenharia até


três milhões e trezentos mil reais (R$ 3.300.000,00) e para a aquisição de bens e serviços,
que não de engenharia, até um milhão quatrocentos e trinta mil reais (R$ 1.430.000,00).

Ademais, a tomada de preço é a modalidade realizada entre os interessados


previamente cadastrados ou que atenderem as condições exigidas para o cadastramento até
o 3º dia anterior à data marcada para o recebimento das propostas.

O cadastro prévio é, me verdade, um conjunto de documentos arquivados no órgão público


que demonstram a idoneidade financeira da empresa. Após realizado o cadastro, será emitido
ao interessado um certificado, que substitui os documentos de habilitação, de com validade
de 1 ano, podendo ser renovado.

1.5.3 Convite

A lei aponta que o convite é a modalidade de licitação entre interessados do ramo


pertinente ao seu objeto, cadastrados ou não, escolhidos e convidados em número mínimo de
3 (três) pela unidade administrativa.

13
Além disso, é utilizada para as contratações de pequeno valor, ou seja, serve
contratações de obras e serviços de engenharia até trezentos e trinta mil reais (R$
330.000,00) e para a aquisição de bens e serviços, que não de engenharia, até cento e
setenta e seis mil reais (R$ 176.000,00).

O instrumento convocatório é a carta-convite, que deve ser enviada para, pelo


menos 3 (três) interessados do ramo pertinente ao objeto, cadastrados ou não.

A carta-convite não precisa ser publicada, basta que a Administração afixe em local
apropriado, a fim de que os demais cadastrados, não originalmente convidados, possam
participar, desde que manifestem seu interesse com antecedência de até 24 horas da
apresentação das propostas.

A carta-convite prescinde de publicação, mas não de publicidade!

Quando, por limitação do mercado ou manifesto desinteresse dos convidados, for


impossível a obtenção do número mínimo de 3 licitantes, essas circunstâncias deverão ser
devidamente justificadas, hipótese em que a licitação poderá ocorrer com menos de três
propostas.

Na hipótese de existirem mais de três possíveis interessados, a cada novo convite,


realizado para objeto idêntico ou semelhante, é obrigatório o envio do convite a no mínimo
mais de um interessado, enquanto existirem cadastrados não convidados.

Excepcionalmente, nas pequenas unidades administrativas em que haja exíguo


número de servidores, a comissão poderá ser substituída por um único servidor.

14
1.5.4 Concurso

Objetiva escolher um trabalho técnico, artístico ou cientifico, não importando o


valor. Deve ser precedido de regulamento próprio que deve indicar:

1) A qualificação exigida dos participantes;


2) As diretrizes e a forma de apresentação do trabalho; e
3) As condições de realização do concurso e os prêmios.

O vencedor do concurso não é definido pelos critérios de “menor preço”, “melhor técnica”,
“técnica e preço”, ou seja, não se prende ao princípio do julgamento objetivo.

Em se tratando de projeto, o vencedor deverá autorizar a Administração a executá-


lo quando julgar conveniente. O julgamento será feito por uma Comissão Especial integrada
por pessoas de reputação ilibada e reconhecido conhecimento da matéria em exame,
servidores ou não.

Os contratos para a prestação de serviços técnicos profissionais especializados


deverão, preferencialmente, ser celebrados mediante a realização de concurso, ressalvados
os casos de inexigibilidade.

1.5.5 Leilão

O leilão serve para alienação de:

1) Bens móveis inservíveis (limitados até o valor de até R$ 1,43 milhões);

15
2) Produtos legalmente apreendidos ou penhorados; e
3) Bens imóveis recebidos em procedimentos judiciais ou por dação em
pagamento

Quaisquer interessados podem participar do leilão. Além disso, é sempre julgado


pelo critério de “melhor lance ou oferta” que deverá ser maior ou igual à avaliação do bem.

Será conduzido por leiloeiro oficial (leilão comum) ou por servidor designado (leilão
administrativo).

Os bens arrematados serão pagos à vista ou no percentual estabelecido no edital,


não inferior a 5%. Após a assinatura da ata, lavrada no local do leilão, os bens serão
imediatamente entregues ao arrematante, o qual estará obrigado ao pagamento do saldo
devedor no prazo estipulado no edital, sob pena de perder o valor já recolhido em favor da
Administração.

Nos leilões internacionais, o pagamento à vista poderá ser feito em até 24 horas.

1.5.6 Pregão
É a modalidade licitatória – regida pela Lei nº 10.520/02 – que serve para aquisição
de bens e serviços comuns, ou seja, aqueles cujos padrões de desempenho e qualidade
possam ser objetivamente definidos pelo edital, por meio de especificações usuais no
mercado.

É realizado por meio de propostas e lances sucessivos, em sessão pública, sempre


do tipo menor preço e divide-se em duas fases:

1) Preparatória:

Nessa fase, a autoridade competente justificará a necessidade de contratação e


definirá o objeto, as exigências de habilitação, os critérios de aceitação da proposta, as
sanções e as cláusulas do contrato, inclusive com fixação dos prazos para o fornecimento
do bem.

16
Além disso, designará o pregoeiro e a respectiva equipe de apoio. A lei não
restringe a qualificação do pregoeiro, por isso, a função poderá ser ocupada por qualquer
servidor.

Quanto à equipe de apoio, destaca-se que essa não tem competência decisória,
nem poder para conduzir a sessão. Sua função é prestar o necessário apoio ao pregoeiro.
Deve ser integrada, em sua maioria, por servidores de cargo efetivo ou emprego,
preferencialmente, pertencentes ao quadro permanente.

No pregão é obrigatória a realização do termo de referência, que deve dispor, de forma


precisa, suficiente e clara sobre as características do objeto. É elaborado na fase preparatória
pelo setor requisitante em conjunto com a área de compras e aprovado por quem autorizou o
pregão. Serve de base para elaboração do edital.

2) Externa:

Inicia-se com a convocação dos interessados por meio da publicação ou aviso em


Diário Oficial ou não existindo, em jornal de grande circulação local com antecedência
mínima de 8 dias úteis.

Facultativamente, poderá ser divulgado por meios eletrônicos e em jornal de grande


circulação. No dia, hora e local designados será realizada a sessão para recebimento das
propostas.

Após a abertura dos envelopes, o licitante que oferecer o menor preço e os que
oferecerem proposta até 10% superiores ao menor valor poderão fazer lances verbais e
17
sucessivos, descrente, até a proclamação do vencedor. Se não houver pelo menos 3 ofertas
que atendam aos requisitos para apresentar os lances verbais, serão chamados os autores das
melhores propostas – quaisquer que sejam os preços – até atingir o número máximo de 3
licitantes.

O pregoeiro poderá negociar diretamente com o apresentador do menor lance


para obter uma redução no preço.

Após, será aberto o envelope com os documentos de habilitação do licitante que


apresentou a melhor proposta. Verificado o atendimento das exigências de habilitação, o
licitante será declarado vencedor.

Porém, se a oferta não for aceitável ou se não forem obedecidas as exigências de


habilitação, o pregoeiro verificará os documentos dos demais, na ordem de classificação dos
preços. Esses licitantes não precisarão apresentar a mesma proposta do anteriormente
considerado vencedor, mas o pregoeiro poderá negociar o preço.

Declarado o vencedor, os licitantes que quiserem recorrer deverão manifestar a


intenção imediatamente, sob pena de decadência do direito de recurso e adjudicação do
objeto ao vencedor. Terão prazo de 3 dias para apresentar as razões de recurso.

Decididos os recursos, a autoridade competente fará a adjudicação e em seguida


a homologação. Percebe-se que no pregão há inversão das fases.

Se não forem interpostos recursos, o próprio pregoeiro é quem irá adjudicar o


procedimento.

18
No pregão são vedadas as exigências de: (i) garantia de proposta; (ii) aquisição
de edital como condição para participação; (iii) pagamento de taxas e emolumentos, salvo
referentes ao custo de fornecimento do edital que não serão superiores ao custo de sua
reprodução gráfica e aos custos de utilização de recursos de TI.

Ressalta-se, ainda, que o licitante que cometer alguma das infrações elencadas na
Lei nº 10.520/02 ficará impedido de licitar e contratar com a União, os Estados, o DF ou os
Municípios e será descredenciado no Sicaf, ou nos sistemas de cadastramento semelhantes,
pelo prazo de até 5 anos, sem prejuízo das multas previstas em edital e no contrato e das
demais cominações legais.

 Pregão Eletrônico:

Na esfera federal é obrigatório o uso do pregão para aquisição de bens e serviços


comuns, sendo preferencialmente o uso do pregão eletrônico (Decreto 5.450/2005).

Os licitantes apresentam as propostas e disputam os lances à distância, por meio de


sistema que promova a comunicação pela internet. O edital será divulgado no endereço
eletrônico.

Todos os participantes, incluindo o pregoeiro, equipe de apoio e autoridade


competente, serão previamente credenciados perante o provedor do sistema. Tal
credenciamento dependerá de registro no Sicaf.

Na fase de lances, os licitantes poderão encaminhá-los, exclusivamente, pelo sistema


eletrônico e serão informados, em tempo real, do valor do menor lance registrado, mas não o
seu autor.

19
De acordo com o decreto nº 5.420/2005, o prazo para apresentar a impugnação ao
edital é de até 2 dias úteis antes da data fixada para abertura de sessão pública e caberá ao
pregoeiro, auxiliado pelo setor responsável pela elaboração do edital, decidir sobre a
impugnação no prazo de até 24 horas.

1.6 Tipos de licitação

É o critério básico de julgamento das propostas que deverá ser sempre objetivo. A
única modalidade que foge ao princípio do julgamento objetivo das propostas é o concurso.

É vedada a utilização de outros tipos de licitação além dos indicados na lei, que
são:

1.6.1 Menor preço

É quando o critério de seleção da proposta mais vantajosa para a Administração


determinar que será vencedor o licitante que ofertar o menor preço. É utilizado quando o
produto pretendido pela Administração não tiver nenhuma característica especial.

O pregão utiliza, obrigatoriamente, apenas esse tipo de licitação.

1.6.2 Maior lance ou oferta

Nesse tipo de licitação, o vencedor é quem apresenta o maior lance que deve ser
igual ou superior ao valor da avaliação feita pelo ente público.

20
Esse tipo de licitação é utilizado para alienação de bens ou concessão de direito real
de uso.

O leilão usa, obrigatoriamente, esse tipo de licitação.

1.6.3 Melhor técnica

Neste tipo de licitação, os licitantes deverão apresentar, na sessão pública, 3


envelopes: um contento a proposta de preço, outro com a documentação de habilitação e
outro com a proposta técnica para execução. Após a classificação das propostas técnicas, na
qual são atribuídas notas, serão abertos os envelopes de preços.

Depois, será feita uma negociação direta de preços com o proponente que obtive
a melhor técnica (melhor nota), tendo como referência o menor valor apresentado.

No caso de impasse, procedimento idêntico será adotado, sucessivamente, com os


demais proponentes pela ordem de classificação.

Além disso, o edital fixará o preço máximo que a Administração se propõe a pagar.

1.6.4 Técnica e preço

Os licitantes deverão apresentar, na sessão pública, 3 envelopes: um contento a


proposta de preço, outro com a documentação de habilitação e outro com a proposta técnica
para execução. Após a classificação das propostas técnicas, na qual são atribuídas notas, serão
abertos os envelopes de preços.

Neste tipo, não há negociação direta de preços. O edital fixa critérios objetivos de
atribuição de notas a cada proposta de preços. Atribuídas as notas para os preços, será,
então, obtida uma média (fórmula previamente definida em edital) das notas de técnica e das
notas de preço, sendo vencedor o de melhor média.

21
Os tipos melhor técnica e melhor técnica e preço são utilizados exclusivamente
para serviços de natureza predominantemente intelectual. A lei autoriza a utilização desses
tipos, de forma excepcional, para contratações relativas a fornecimento de bens e execução
de obras ou serviços, desde que exista autorização expressa e justificada da autoridade e o
objeto seja de grande vulto e dependente de tecnóloga sofisticada.
Além disso, são utilizados para contratação de bens e serviços de informática.
Porém, para bens e serviços de informática considerados comuns usa-se o pregão.

1.7 Critérios de desempate

Quando em igualdade de condições, há empate na licitação, a lei prevê critérios de


desempate, para que seja assegurada preferência, sucessivamente, aos bens e serviços:

1) Produzidos no país;
2) Produzidos ou prestados por empresas brasileiras;
3) Produzidos ou prestados por empresas que invistam em pesquisa e no
desenvolvimento de tecnologia do país;
4) Produzidos ou prestados por empresas que comprovem o cumprimento de
reserva de cargo prevista e lei para deficientes ou para reabilitados da
Previdência Social e que atendam às regras de acessibilidade.

A lei, ainda, menciona que se nenhum dos critérios de desempate acima elencados
alcançar o propósito, deve ser feito o desempate por meio de sorteio.

Frise-se que os critérios de desempate são sucessivos e não alternativos.

22
É importante frisar que, como já mencionado anteriormente, a LC 123/06 prevê
tratamento diferenciado para as Microempresas e Empresas de Pequeno Porte.

A Lei Complementar dispõe que em igualdade de condições, caso a ME ou a EPP


apresente uma proposta igual ou até 10% superior à proposta vencedora, considera-se ter
havido empate na licitação.

Neste caso, antes de fazer a análise dos critérios de desempate, a ME ou a EPP


poderá reduzir o valor de sua proposta e vencer a licitação.

No entanto, nas licitações de modalidade pregão, o benefício concedido às ME e às


EPP limita-se ao percentual de 5%, ou seja, será considerado empatada as propostas igual ou
até 5% superiores à vencedora.

1.8 Fases da licitação

É aplicável às modalidades ditas comuns, ou seja, concorrência, tomada de preços e


convite.

1.8.1 Fase interna

Ocorre dentro do órgão ou entidade e vai até a elaboração do edital ou carta-


convite.

ELABORAÇÃO DESIGNAÇÃO
ABERTURA ORÇAMENTO
DO EDITAL DA COMISSÃO

O procedimento da licitação se inicia com a abertura do processo administrativo, o


qual deve conter a autorização respectiva, a indicação do objeto dos recursos orçamentários.

Na fase interna, o órgão ou a entidade adotará as medidas preparatórias exigidas


por lei, como por exemplo: orçamento detalhado em planilhas com todos os custos, elaborar
edital, realizar audiência pública para licitações de imenso vulto e designar comissões.

23
Valores iguais a 100 vezes o valor da concorrência para obras e serviços de
engenharia (R$ 330 milhões) são consideradas licitações de imenso vulto.
Já as audiências de grande vulto são as que possuem 25 vezes o valor da
concorrência para obras e serviços de engenharia (R$ 82,5 milhões).

Não há necessidade de os recursos que serão gastos com a contratação já estarem


de pronto liberados ou empenhados. É suficiente a existência de previsão de créditos na Lei
Orçamentária.

1.8.2 Fase externa

PUBLICAÇÃO ABERTURA DOS HOMOLOGAÇ ADJUDICAÇÃ


HABILITAÇÃO JULGAMENTO
DO EDITAL ENVELOPES ÃO O

É necessário ressaltar que essas fases podem ser inverter, conforme a modalidade
de licitação a ser adotada, como ocorre no pregão, na concorrência – nos casos de concessão
de serviços públicos- e também pode ocorrer a supressão de alguma das fases, como ocorre
no convite.

Analisaremos a seguir as etapas da fase externa.

 Publicidade:

A divulgação do instrumento convocatório é o início da fase externa.

24
A publicação deve ocorrer, no mínimo, uma vez no Diário Oficial da União, se a
licitação for feita pela Administração Federal ou com recursos federais, ou no Diário Oficial do
Estado, quando a licitação for feita pela Administração Estadual ou Municipal e em jornal de
grande circulação.

No caso da carta-convite não há necessidade de publicação, pois, conforma já


apontado, ela prescinde de publicação. Mas não prescinde de publicidade, eis que deve ser
afixada em local visível.

Em verdade, publica-se um aviso contendo o resumo do edital. Esse aviso conterá a


indicação do local em que os interessados poderão ler e obter o texto integral do edital.

A lei impõe um intervalo mínimo de observância obrigatória entre e a publicação


do instrumento convocatório e a data da abertura dos envelopes de documentação e de
propostas:

1) Concorrência: a) prazo mínimo de 45 dias para licitação do tipo melhor


técnica e melhor técnica e preço ou quando for regime de empreitada
integral; e b) prazo mínimo de 30 dias nos demais casos;
2) Tomada de preços: a) prazo mínimo de 30 dias nas licitações do tipo
melhor técnica e melhor técnica e preço; e b) prazo mínimo de 15 dias nos
demais casos;
3) Convite: prazo mínimo de 5 dias úteis;
4) Leilão: prazo mínimo de 15 dias
5) Pregão: prazo mínimo de 8 dias úteis.

25
Se o valor estimado para a licitação ou para o conjunto de licitações simultâneas ou
sucessivas for superior a 100x o valor da concorrência para obras e serviços de
engenharia, a Administração deverá, obrigatoriamente, realizar uma audiência pública,
com antecedência mínima de 15 dias úteis da publicação do edital. Essa audiência deve
ser divulgada, no mínimo, 10 dias úteis antes da sua realização.

DATA DA
AUDIÊNCIA
• 10 dias úteis antes
da data fixada
• 15 dias úteis
para realização da
antes da
audiência
publicação do
DIVULGAÇÃO edital PUBLICAÇÃO
DA AUDIÊNCIA DO EDITAL

 Recebimento e Julgamento das propostas:

O processamento das propostas se inicia com a habilitação. Nessa fase a


Administração verifica se o licitante preenche ou não os requisitos necessários previstos no
edital. Para a habilitação exigir-se-á, exclusivamente, documentação relativa à:

1) Habilitação jurídica;
2) Regularidade fiscal e trabalhista;
3) Qualificação Técnica: são vedadas exigências de quantidades mínimas ou
prazos máximos, assim como a exigência de comprovação de atividade ou de
aptidão com limitações de tempo ou época ou anda em locais específicos;
4) Qualificação econômico-financeira: serve para verificar a boa situação
financeira da empresa. Poderá ser exigida: demonstrações contábeis,
certidão negativa de falência ou concordata, exigência de garantia de até 1%
do valor estimado para contratação (garantia de proposta), exigência de
capital mínimo ou patrimônio líquido mínio no valor de até 10% da

26
estimativa contratual. São vedadas: as exigências de valores mínios de
faturamento anterior, índices de rentabilidade ou lucratividade, bem como
a exigência de índices e valores não usualmente adotados;
5) Cumprimento do artigo 7º, XXXIII da CRFB/88: esse artigo proíbe o
trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de 18 anos e qualquer
trabalho a menores de 16 anos, salvo na condição de aprendiz, a partir dos
14.

Essa documentação poderá ser dispensada, no todo ou em parte, nos casos de convite,
concurso, leilão e fornecimento de bens para pronta entrega.

Nas concorrências, é possível uma fase de pré-qualificação, que se restingue ao


aspecto técnico, sempre que objeto da licitação recomende análise mais detalhada da
qualificação técnica. Não se confunde com a habilitação, eis que essa ainda assim será
realizada.

Após a habilitação, proceder-se-á a abertura dos envelopes com as propostas de


preço. Os licitantes inabilitados não poderão participar das etapas subsequentes – o
envelope de preço dos licitantes inabilitados será devolvido lacrado.

Aberta as propostas não cabe mais desclassificação por motivos relacionamos à


habilitação, salvo em razão de fatos supervenientes ou só conhecidos após o julgamento.

No julgamento das propostas, a comissão as classificará ou desclassificará levado


em consideração os critérios objetivos definidos no edital, em conformidade com o tipo de
licitação.

27
Não será admitida proposta de preço baseada nas ofertas dos demais licitantes nem
propostas com preços simbólicos, irrisórios ou de valor zero, incompatíveis com os preços de
mercado, exceto quando se referiram a materiais e instalações de propriedade do próprio
licitante, para os quais ele renuncie a parcela ou a totalidade da remuneração.

Serão desclassificadas as propostas com valor global superior ao limite estabelecido


ou com preços manifestamente inexequíveis.

Nas licitações do tipo menor preço, para obras e serviços de engenharia, serão
consideradas propostas manifestamente inexequíveis as que apresentem preços inferiores a
70% dos seguintes valores: a) média aritmética dos valores das propostas superiores a 50% do
valor orçado pela Administração; ou b) valor orçado pela administração.

Quando todos os licitantes forem inabilitados ou todas as propostas forem desclassificadas –


licitação fracassada -, a Administração poderá fixar aos licitantes o prazo de 8 dias úteis para
apresentação de nova documentação ou novas propostas, facultada, no caso de convite a
redução para 3 dias úteis.

 Homologação:

Encerrada a participação da comissão - ocorre após ela proceder ao julgamento das


propostas –, o processo licitatório será submetido para a autoridade competente.

A homologação consiste no reconhecimento da perfeição e licitude de todo o


procedimento, configurando um ato típico de controle.

28
 Adjudicação:

É o ato pelo qual a autoridade competente “entrega” o objeto da licitação ao


vencedor. É ato final do procedimento licitatório e gera apenas expectativa do direito de
contratação.

Ressalte-se que a assinatura do contrato não faz parte da licitação, sendo apenas
uma consequência dela.

1.9 Instrumento convocatório

O instrumento convocatório na maioria das modalidades de licitação é o edital. No


convite, será a carta-convite.

O edital deve conter algumas informações obrigatórias, conforme o artigo 40 da Lei


nº 8.666/93. Além disso, a minuta do contrato deve constituir anexo4 do edital.

Importa ressaltar que as minutas dos editais, dos contratos, dos acordos, dos
convênios ou de qualquer ajuste realizado pela Administração devem ser previamente
examinadas e aprovadas por assessoria jurídica da própria Administração.

Qualquer cidadão é parte legítima para impugnar edital de licitação até 5 (cinco)
dias úteis antes da data fixada para abertura dos envelopes de habilitação, devendo a
Administração Pública julgar em até 3 (três) dias úteis.

Já o prazo de impugnação pelo licitante é de até 2 (dois) dias úteis antes da


abertura dos envelopes, sob pena de decadência do direito. Esclarece-se que essa impugnação
não impede o licitante de participar da licitação até a decisão final.

4
Vide questão 02 ao final do capítulo.
29
Além da impugnação do edital, qualquer licitante, contratado ou pessoa física ou
jurídica poderá representar ao Tribunal de Contas ou aos órgãos integrantes do sistema de
controle interno contra irregularidades existentes.

1.10 Comissão de licitação

A função da comissão é a de receber, examinar e julgar todos os documentos e


procedimentos relativos à licitação e ao cadastramento de licitantes.

Pode ser: (i) permanente: para o julgamento de todas as licitações do


órgão/entidade; ou (ii) especial: designada para cada licitação específica.

A investidura dos membros da comissão permanente não excederá 1 ano, vedada a


recondução da totalidade de seus membros para a mesma comissão no período
subsequente.

As comissões, via de regra, são compostas de 3 (três) membro, sendo pelo menos
dois deles servidores qualificados pertencentes ao quanto permanente do órgão. Exceto: a)
convite: em pequenas unidades onde há exiguidade de pessoal a comissão pode ser
substituída por apenas 1 servidor; e b) Pregão: não há comissão. É conduzido por um
pregoeiro, auxiliado por uma equipe de apoio.

30
Os membros responderão solidariamente por todos os atos praticados pela
comissão, salvo se registrar em ata a sua divergência, devidamente, fundamentada. Hipótese
em que ficará afastada a sua responsabilidade solidária pelo ato.

1.11 Contratação direta

Apesar de ser regra para as contratações públicas, a lei admite que em alguns
casos, essas contratações ocorram sem o procedimento prévio de licitação, ocorrendo uma
contratação direta. As hipóteses de contratação direta são duas: inexigibilidade5 e dispensa.

A inexigibilidade de licitação ocorre quando há uma inviabilidade de competição,


ou seja, resta impossível licitar. Alguns casos estão exemplificados, ou seja, não se trata de
um rol taxativo, no artigo 25 na Lei nº 8.666/93.

O mencionado artigo define que se considera inviável a competição em casos de


aquisição de materiais, equipamentos ou gêneros que só possam ser fornecidos por produtor,
empresa ou representante comercial exclusivo, não sendo admitida a escolha de marca pela
Administração Pública, devendo a comprovação de exclusividade ser feita através de atestado
fornecido pelo órgão de registro do comércio do local em que se realizaria a licitação ou a
obra ou o serviço, pelo Sindicato, Federação ou Confederação Patronal, ou, ainda, pelas
entidades equivalentes.

Também não se considera viável competir para a contratação de serviços técnicos


especializados enumerados no art. 13 da própria Lei 8.666/93, de natureza singular, com
profissionais ou empresas de notória especialização e para contratação de profissional de
qualquer setor artístico, seja a contratação feita diretamente ou através de empresário
exclusivo, desde que consagrado pela crítica especializada ou pela opinião pública.

5
Vide questões 03 e 08 ao final do capítulo.
31
É vedada a inexigibilidade de licitação para serviços de divulgação e serviços de
publicidade.

As hipóteses de dispensa6 de licitação estampadas nos artigos da Lei 8.666/1993


são taxativas ou exaustivas. Na dispensa de licitação há viabilidade de competição, mas a
lei dispensa ou autoriza a dispensa do certame.

Ainda assim, costuma- se estabelecer hipóteses em que a licitação é: (i)


dispensável (art. 24): o administrador poderá licitar, sendo um ato discricionário; e (ii)
dispensada (art. 17): o administrador não poderá licitar, sendo ato vinculado.

É de extrema importância a leitura atenta dos artigos 17 e 24 da Lei nº 8.666/93

Nos casos em que caiba a contratação direta, a Administração, deve,


obrigatoriamente, realizar um processo administrativo para justificar a dispensa, bem como a
razão da escolha do fornecedor e o preço contratado.

6
Vide questão 10 ao final do capítulo.
32
1.12 Alienação de bens

A inalienabilidade é, via de regra, a característica básica de bens públicos. Porém,


tal regra se aplica aos bens de uso especial e os de uso comum que são os bens afetados, ou
seja, possuem uma destinação pública.

Se os bens públicos forem desafetados, eles passam a ser alienáveis, desde que
cumpram determinados requisitos. Sendo assim, os artigos 17 a 19 da lei 8666/93 estabelecem
os requisitos para alienação de bens públicos desafetados, ou seja, desvinculados de
qualquer utilização de interesse público.

Para alienação de bens imóveis deverá haver:

1) Interesse público justificado;


2) Avaliação prévia;
3) Licitação;
4) Autorização legislativa.

Já para a alienação de bens móveis:

1) Interesse público justificado;


2) Avaliação prévia; e
3) Licitação.

A modalidade utilizada para alienação de bens móveis, em regra, é o leilão. Porém,


se o valor for superior a R$ 1,43 milhões deverá ser utilizada a concorrência. Para a alienação
de bens imóveis, a regra é a concorrência. Mas, se o bem tiver sido adquirido em razão de
procedimento judicial ou dação em pagamento pode-se, também, usar o leilão.

33
1.13 Parcelamento de obras, serviços e compras

As obras, serviços e compras efetuadas pela Administração deverão ser parceladas


em várias licitações sempre que tal parcelamento se mostrar mais vantajoso.

A modalidade a ser adotada em cada uma das parcelas deve ser aquela que seria
utilizada caso houvesse uma contratação única.

Frise-se que o fracionamento do objeto com vistas a utilizar modalidade de licitação


mais simples do que se o objeto fosse licitado em sua totalidade é vedado.

1.14 Recursos administrativos

Podem ser impetrados contra os atos da licitação e do contrato: (i) recurso em


sentido estrito; (ii) representação; e (iii) pedido de reconsideração.

O recurso em sentido estrito é cabível no prazo de 5 dias úteis - ou 2 dias úteis


no caso de convite. Os recursos relativos à habilitação ou inabilitação e ao julgamento das
propostas possuem necessariamente efeito suspensivo e será dirigido a autoridade superior
por intermédio da autoridade que praticou o ato. Esta poderá reconsiderar a decisão, antes de
encaminhar para a autoridade superior, no prazo de 5 dias úteis. Caso não haja
reconsideração da decisão terá esse mesmo prazo para encaminhar o recurso. E a autoridade
superior terá o mesmo prazo para decidir.

A representação é possível quando não couber recurso hierárquico tendo prazo de


5 dias úteis ou 2 dias úteis em caso de convite.

Já o pedido de reconsideração é cabível no prazo de 10 dias úteis – inclusive para


o convite - para o contratado se defender da punição de declaração de idoneidade para licitar
ou contratar com a Administração. A autoridade competente para apreciar o pedido de

34
reconsideração é a mesma que aplicou a sanção: Ministro de Estado, Secretário Estadual ou
Municipal.

1.15 Revogação e Anulação

A revogação é feita pela própria Administração baseada em juízo de conveniência e


oportunidade. Na licitação, somente pode ocorrer em duas hipóteses:

1) Por razões de interesse público decorrente de fato superveniente


devidamente comprovado;
2) Quando o adjudicatário convocado não assinar o termo de contrato ou não
aceitar o instrumento equivalente no prazo e condições estabelecidas.

A anulação ocorre por motivo de ilegalidade, podendo ser feita de ofício ou por
provocação, mediante parecer escrito fundamentado. Também pode ser decretada pelo
Judiciário, quando provocado. Pode ocorrer, inclusive, durante a execução contratual, caso em
que induz também a anulação do contrato.

Frise-se que a revogação não pode ocorrer após a assinatura do contrato, apenas
a anulação.

Ademais, a anulação pode ser total ou parcial. A parcial, contudo, implica nulidade
de todas as etapas posteriores que sejam dependentes ou consequentes do ato anulado.
Diversamente, a revogação deve ser sempre total.

Em regra, nas duas ficam assegurados o contraditório e a ampla defesa. Todavia, a


jurisprudência dos Tribunais Superiores tem sido no sentido de que a revogação nem sempre
o contraditório se faz necessário, ou seja, se realizada antes da homologação e da adjudicação
não enseja o contraditório e nem a ampla defesa.

A anulação não gera para a Administração a obrigação de indenizar, exceto pelo


que a empresa contratada já tiver executado – quando ocorre após a contratação – e por
35
outros prejuízos regularmente comprovados, desde que a anulação não tenha ocorrido por
culpa da empresa.

1.16 Licitação para Registro de Preços

Há situações em que a Administração Pública licita apenas para registrar os


preços, para o caso de eventual contratação posterior, quando um bem ou serviço é
adquirido com frequência.

É a chama licitação para registro de preços. Tal instituto é previsto no art. 15 da


Lei nº 8.666/93 e foi regulamentado pelo Decreto 7.892/13, alterado pelo Decreto 8.250/14.

Os licitantes apresentam o valor unitário dos produtos, uma vez que não há
quantitativo exato a ser adquirido pelo Estado. Porém, a Administração Pública deve
informar a quantidade máxima que poderá adquirir por meio da ata decorrente do certame.

Os preços obtidos na licitação são registrados em uma ata de registro de preços.


Esta ata, decorrente do registro, terá validade de 1 ano. Durante esse prazo, a proposta fica à
disposição da Administração Pública, que poderá adquirir o bem selecionado quantas vezes
precisar, desde que não ultrapasse o quantitativo máximo informado.

Após o prazo de 1 ano, a ata perde a validade e a Administração deve realizar um


novo procedimento licitatório caso queira adquirir o produto.

Cumpre esclarecer que essa licitação não obriga a Administração a contratar com
o vencedor.

1.17 Licitação “Carona”

Conforme dito anteriormente, durante o período de vigência da ata de registro de


preços, a proposta selecionada fica à disposição da Administração Pública.

36
Acontece que, em algumas situações, um órgão ou entidade pública que não
participou da licitação de registro de preços pode querer contratar com o licitante vencedor,
em uma espécie de adesão à ata de registro de preços, mediante anuência do órgão
gerenciador que poderá aceitar ou não. É a chamada licitação "carona".

Além da anuência do órgão gerenciador, o fornecedor deverá optar pela realização


da contratação ou não, ou seja, o fornecedor não está obrigado a celebrar o contrato com o
licitante carona.

É importante destacar que, conforme disposição do decreto, a soma das aquisições


efetivadas pelos licitantes que estão aderindo à ata de registro de preços poderá ultrapassar o
quantitativo da ata, porém, não podem ultrapassar o quíntuplo da quantidade total da
licitação.

Além disso, é vedada aos órgãos e entidades da Administração Pública federal a


adesão à ata de registro de preços de órgão/entidade municipal, distrital ou estadual, mas os
órgãos/entidades municipais, distritais ou estaduais podem aderir à ata de registro de preços
da Administração Pública Federal.

37
QUADRO SINÓTICO

LICITAÇÃO

É uma série de atos, ou seja, um procedimento, que antecede a celebração do contrato


administrativo.

Além dos órgãos da administração direta, os fundos especiais, as


autarquias, as fundações públicas, as empresas públicas, as sociedades de
Quem deve licitar
economia mista e demais entidades controladas direta ou indiretamente
pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios.

A competência é privativa da União. Porém, a União se restringe a editar


Competência para
normais gerais, sendo possível que os estados, o DF e os municípios
legislar
legislem sobre questões específicas.

Garantir a observância do princípio constitucional da isonomia;

Seleção da proposta mais vantajosa para a administração;

Para garantir o desenvolvimento nacional, a lei


Finalidades autoriza o estabelecimento de margem de
Promoção do
desenvolvimento preferência para produtos manufaturados e
nacional sustentável para serviços nacionais que atendam a
normas técnicas brasileiras.

PRINCÍPIOS

Princípio da
Impõe um tratamento igualitário entre os licitantes no procedimento,
Isonomia
não se admitindo tratamento que vise beneficiar ou prejudicar qualquer

38
participante.

A isonomia material justifica tratamento diferenciado dispensado a


microempresas e empresas de pequeno porte pela LC 123/06, bem como
a possibilidade de criação de preferências para aquisição de produtos
manufaturados ou serviços nacionais.

A lei veda aos agentes diminuir o caráter competitivo das licitações por

Princípio da meio de estabelecimento de regras que o frustrem.

Competitividade É vedada a imposição de marcas, salvo para fins de padronização, nos


casos em que for tecnicamente justificável.

Princípio
Vinculação ao O edital é a lei interna da licitação que vincula tanto a Administração
instrumento quanto os licitantes.
convocatório

Princípio do
O edital deve conter critérios objetivos de julgamento, determinando
Julgamento
qual será o critério utilizado na seleção da proposta vencedora.
objetivo

Princípio do sigilo O conteúdo das propostas apresentadas pelos licitantes deve ser secreto
das propostas até a data designada para abertura.

Princípio do
O procedimento licitatório deve atender a todas as formalidades previstas
procedimento
em lei.
formal

Impede que a Administração assine o contrato com o segundo colocado

Princípio da ou com terceiros estranhos ao procedimento licitatório.

Adjudicação A Administração Pública não está obrigada a celebrar o contrato


compulsória administrativo, mas caso necessite realizar a contratação, só pode fazê-lo
com o vencedor da licitação.

MODALIDADES DE LICITAÇÃO

39
Modalidade voltada para licitações de grande valor, em que se admite a
participação de quaisquer interessados, cadastrados ou não, que na fase
inicial de habilitação preliminar, comprovem possuir os requisitos mínimos
de qualificação exigidos no edital para execução de seu objeto.

Obras e serviços de Acima de R$


engenharia 3.300.000,00
Em razão do valor
Acima de R$
Aquisição de bens e serviços
1.430.000,00

Se o imóvel
for oriundo
de processo
CONCORRÊNCIA
Compra ou alienação de bens judicial ou
imóveis dação em
pagamento,
cabe também
Em razão do objeto leilão

Concessão de direito real de uso

Concessão de serviços públicos

Contratos de PPP

Licitações internacionais

Registro de preços

Empreitada Integral

Modalidade realizada entre os interessados previamente cadastrados ou


que atenderem as condições exigidas para o cadastramento até o 3º dia
TOMADA DE anterior à data marcada para o recebimento das propostas.
PREÇOS
Obras e serviços de Até de R$
Em razão do valor
engenharia 3.300.000,00

40
Aquisição de bens e Até de R$
serviços 1.430.000,00

Modalidade de licitação entre interessados do ramo pertinente ao seu


objeto, cadastrados ou não, escolhidos e convidados em número mínimo
de 3 pela Administração.

CONVITE Obras e serviços de Até R$


engenharia 330.000,00
Em razão do valor
Aquisição de bens e Até R$
serviços 176.000,00

Modalidade para escolha de trabalho técnico, artístico ou cientifico, não


CONCURSO
importando o valor.

Bens móveis inservíveis (limitados


até o valor de até R$ 1,43
milhões);

Produtos legalmente apreendidos


Modalidade para alienação de:
ou penhorados;
LEILÃO
Bens imóveis recebidos em
procedimentos judiciais ou por
dação em pagamento.

Sempre é do tipo maior lance ou oferta – que deve ser maior ou igual à
avaliação prévia

Modalidade que serve para aquisição de bens e serviços comuns, ou seja,


aqueles cujos padrões de desempenho e qualidade possam ser
objetivamente definidos pelo edital, por meio de especificações usuais no
PREGÃO
mercado.

Sempre no tipo menor preço

É realizado por meio de propostas O licitante que oferecer o menor

41
e lances sucessivos, em sessão preço e os que oferecerem
pública proposta até 10% superiores ao
menor valor poderão fazer lances
verbais

Na esfera federal é obrigatório o


uso do pregão para aquisição de
bens e serviços comuns, sendo
preferencialmente o uso do pregão
eletrônico.
PREGÃO ELETRÔNICO Os licitantes apresentam as
propostas e disputam os lances à
distância, por meio de sistema que
promova a comunicação pela
internet. O edital será divulgado no
endereço eletrônico.
TIPOS DE LICITAÇÃO

É quando o critério de seleção da proposta mais vantajosa para a


MENOR PREÇO Administração determinar que será vencedor o licitante que ofertar
o menor preço.

MAIOR LANCE OU O vencedor é quem apresenta o maior lance que deve ser igual ou
OFERTA superior ao valor da avaliação feita pelo ente público.

Os licitantes deverão apresentar, na sessão pública, 3 envelopes:


um contento a proposta de preço, outro com a documentação de
MELHOR TÉCNICA habilitação e outro com a proposta técnica para execução. Após a
classificação das propostas técnicas, na qual são atribuídas notas,
serão abertos os envelopes de preços.

O edital fixa critérios objetivos de atribuição de notas a cada


MELHOR TÉCNICA E
proposta de preços. Atribuídas as notas para os preços, será,
PREÇO
então, obtida uma média (fórmula previamente definida em edital)

42
das notas de técnica e das notas de preço, sendo vencedor o de
melhor média.

CRITÉRIOS DE DESEMPATE

Produzidos no país;

A lei prevê critérios de Produzidos ou prestados por empresas brasileiras;

desempate, para que seja Produzidos ou prestados por empresas que invistam em
assegurada preferência, pesquisa e no desenvolvimento de tecnologia do país
sucessivamente, aos Produzidos ou prestados por empresas que comprovem o
bens e serviços: cumprimento de reserva de cargo prevista e lei para deficientes
ou para reabilitados da Previdência Social e que atendam às
regras de acessibilidade.

Se nenhum dos critérios de desempate acima elencados alcançar o propósito, deve ser feito o
desempate por meio de sorteio.

A LC 123/06 dispõe que em


igualdade de condições, caso a ME Na modalidade
MICROEMPRESAS E pregão, o benefício
ou a EPP apresente uma proposta
EMPRESAS DE PEQUENO concedido às ME e
igual ou até 10% superior à
PORTE às EPP limita-se ao
proposta vencedora, considera-se ter
percentual de 5%
havido empate na licitação.

FASES DA LICITAÇÃO

Inicia-se com a abertura do processo administrativo, depois

FASE INTERNA passa para indicação do orçamento, segue com a elaboração


do edital e finaliza com a designação da comissão.

Deve ocorrer, no mínimo,


FASE EXTERNA Publicidade
uma vez no Diário Oficial da
União, se a licitação for feita

43
pela Administração Federal ou
com recursos federais, ou no
Diário Oficial do Estado,
quando a licitação for feita
pela Administração Estadual
ou Municipal e em jornal de
grande circulação.

Na habilitação a
Administração verifica se o
Recebimento e julgamento
licitante preenche ou não os
das propostas
requisitos necessários
previstos no edital

É o reconhecimento da
Homologação perfeição e licitude de todo o
procedimento

É ato final do procedimento


licitatório e gera apenas
Adjudicação
expectativa do direito de
contratação.

INTERVALO MÍNIMO
Concorrência: a) prazo mínimo de 45 dias
para licitação do tipo melhor técnica e melhor
A lei impõe um intervalo mínimo de técnica e preço ou quando for regime de
observância obrigatória entre e a publicação empreitada integral; e b) prazo mínimo de 30
do instrumento convocatório e a data da dias nos demais casos
abertura dos envelopes de documentação e Tomada de preços: a) prazo mínimo de 30
de propostas: dias nas licitações do tipo melhor técnica e
melhor técnica e preço; e b) prazo mínimo de
15 dias nos demais casos

44
Convite: prazo mínimo de 5 dias úteis;
Leilão: prazo mínimo de 15 dias;

Pregão: prazo mínimo de 8 dias úteis.

INSTRUMENTO CONVOCATÓRIO

O instrumento convocatório na maioria das modalidades de licitação é o edital. No convite,


será a carta-convite.

Qualquer cidadão é parte legítima para impugnar edital de licitação até 5 (cinco) dias úteis
antes da data fixada para abertura dos envelopes de habilitação, devendo a Administração
Pública julgar em até 3 (três) dias úteis.

O prazo de impugnação pelo licitante é de até 2 (dois) dias úteis antes da abertura dos
envelopes, sob pena de decadência do direito.

COMISSÃO DE LICITAÇÃO
As comissões, via de regra, são compostas de 3 (três) membro, sendo pelo menos dois deles
servidores qualificados pertencentes ao quanto permanente do órgão. Exceto: a) convite: em
pequenas unidades onde há exiguidade de pessoal a comissão pode ser substituída por
apenas 1 servidor; e b) Pregão: não há comissão. É conduzido por um pregoeiro, auxiliado
por uma equipe de apoio.
Os membros responderão solidariamente por todos os atos praticados pela comissão, salvo se
registrar em ata a sua divergência, devidamente, fundamentada. Hipótese em que ficará
afastada a sua responsabilidade solidária pelo ato.
CONTRATAÇÃO DIRETA
Ocorre quando há uma inviabilidade de

INEXIGIBILIDADE competição, ou seja, resta impossível licitar. A


lei prevê um rol exemplificativo

Dispensável (art. 24): o administrador poderá


licitar, sendo um ato discricionário;
DISPENSA
Dispensada (art. 17): o administrador não
poderá licitar, sendo ato vinculado.

45
ALIENAÇÃO DE BENS

A inalienabilidade é, via de regra, a característica básica de bens públicos. Porém, se os bens


públicos forem desafetados, eles passam a ser alienáveis, desde que cumpram determinados
requisitos.

Interesse público justificado;

Avaliação prévia;
ALIENAÇÃO DE BENS
IMÓVEIS Licitação; e

Autorização legislativa.

Interesse público justificado;

ALINEAÇÃO DE BENS Avaliação prévia; e


MÓVEIS
Licitação;

PARCELAMENTO DE OBRAS/SERVIÇOS/COMPRAS

As obras, serviços e compras efetuadas pela Administração deverão ser parceladas em várias
licitações sempre que tal parcelamento se mostrar mais vantajoso.
A modalidade a ser adotada em cada uma das parcelas deve ser aquela que seria utilizada caso
houvesse uma contratação única.
É vedado o fracionamento do objeto com vistas a utilizar modalidade de licitação mais simples
do que se o objeto fosse licitado em sua totalidade.
RECURSOS ADMINISTRATIVOS NA LICITAÇÃO

Cabível no prazo de 5 dias úteis - ou 2 dias


úteis no caso de convite. Os recursos relativos
à habilitação ou inabilitação e ao julgamento
RECURSO EM SENTIDO ESTRITO
das propostas possuem necessariamente
efeito suspensivo. A autoridade superior,
competente para julgar, poderá reconsiderar a

46
decisão, antes de encaminhar para a
autoridade superior, no prazo de 5 dias úteis.

Possível quando não couber recurso


REPRESENTAÇÃO hierárquico tendo prazo de 5 dias úteis ou 2
dias úteis em caso de convite.

Cabível no prazo de 10 dias úteis – inclusive


para o convite - para o contratado se
PEDIDO DE RECONSIDERAÇÃO defender da punição de declaração de
idoneidade para licitar ou contratar com a
Administração.

REVOGAÇÃO E ANULAÇÃO DO PROCEDIMENTO

Por razões de
interesse público
decorrente de fato
A revogação é feita
superveniente
pela própria
devidamente
Administração
comprovado;
baseada em juízo de
Quando o
conveniência e
REVOGAÇÃO
adjudicatário
oportunidade.
convocado não
Na licitação, somente
assinar o termo de
pode ocorrer em duas
contrato ou não
hipóteses:
aceitar o instrumento
equivalente no prazo
e condições
estabelecidas

47
Não pode ocorrer após a assinatura do
contrato.

Ocorre por motivo de ilegalidade, podendo


ser feita de ofício ou por provocação,
mediante parecer escrito fundamentado.

ANULAÇÃO Também pode ser decretada pelo Judiciário,


quando provocado. Pode ocorrer, inclusive,
durante a execução contratual, caso em que
induz também a anulação do contrato.

LICITAÇÃO PARA REGISTRO DE PREÇOS

É quando a Administração Pública licita apenas para registrar os preços, para o caso de
eventual contratação posterior, quando um bem ou serviço é adquirido com frequência.

Os licitantes apresentam o valor unitário dos produtos, uma vez que não há quantitativo
exato a ser adquirido pelo Estado. Porém, a Administração Pública deve informar a
quantidade máxima que poderá adquirir.

Os preços obtidos na licitação são registrados em uma ata de registro de preços. Esta ata,
decorrente do registro, terá validade de 1 ano.

Não obriga a Administração a contratar com o vencedor.

LICITAÇÃO “CARONA”

Quando um órgão ou entidade pública que não participou da licitação de registro de preços
quer contratar com o licitante vencedor, em uma espécie de adesão à ata de registro de
preços.

Além da anuência do órgão gerenciador, o fornecedor deverá optar pela realização da


contratação ou não.

A soma das aquisições efetivadas pelos licitantes que estão aderindo à ata de registro de

48
preços poderá ultrapassar o quantitativo da ata, porém, não podem ultrapassar o quíntuplo
da quantidade total da licitação.

É vedada aos órgãos e entidades da Administração Pública federal a adesão à ata de registro
de preços de órgão/entidade municipal, distrital ou estadual, mas os órgãos/entidades
municipais, distritais ou estaduais podem aderir à ata de registro de preços da Administração
Pública Federal.

49
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

(FUNDATEC – 2018 – PC-RS – Escrivão e Inspetor de Polícia) Na Lei nº 8.666/1993, pode ser
encontrada a seguinte definição:

A) A licitação destina-se a garantir a observância do princípio constitucional da isonomia, a


seleção da proposta mais vantajosa para a administração e a promoção do
desenvolvimento nacional sustentável e será processada e julgada em estrita
conformidade com os princípios básicos da legalidade, da impessoalidade, da
moralidade, da igualdade, da publicidade, da probidade administrativa, da vinculação ao
instrumento convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhes são correlatos.
B) A compra caracteriza-se pela aquisição remunerada de bens para fornecimento de uma
só vez, não sendo permitido o fornecimento parcelado.
C) Não há impeditivo a servidor ou dirigente de órgão ou entidade contratante ou
responsável pela licitação, de participar, direta ou indiretamente, da licitação ou da
execução de obra ou serviço e do fornecimento de bens a eles necessários.
D) Uma das hipóteses em que é dispensável a licitação ocorre quando não houver a
participação de interessados na licitação anterior e esta, justificadamente, não puder ser
repetida sem prejuízo para a Administração, autorizando-se, para tanto, alteração das
condições preestabelecidas.
E) É facultativa a submissão das minutas de editais de licitação, bem como as dos
contratos, acordos, convênios ou ajustes, a exame e aprovação prévios, pela assessoria
jurídica da Administração.

50
Comentário:

Gabarito: Letra “A”.

A) Correta, pois reproduz exatamente o contido no artigo 3o da Lei 8666/93.


B) Incorreta. Na verdade, a compra é toda aquisição remunerada de bens para
fornecimento de uma só vez ou parceladamente.
C) Incorreta. Isso porque, é vedada a participação de servidor ou dirigente de órgão
ou entidade contratante ou responsável pela licitação.
D) Incorreta. Caso ela seja frustrada por falta de interessados, todas as condições
devem ser mantidas.
E) Incorreta. Nesse caso, não há uma faculdade da Administração Pública em
examinar e aprovar previamente as minutas dos editais de licitação e dos
contratos, acordos, convênios e ajustes. A análise é obrigatória.

Questão 2

(FEPESE – 2017 – PC-SC – Escrivão de Polícia Civil) Não constitui anexo obrigatório do edital
de licitação:

A) O projeto básico e/ou executivo, com todas as suas partes, desenhos, especificações e
outros elementos.

B) Orçamento estimado em planilhas de quantitativos e preços unitários.

C) A minuta do contrato a ser firmado entre a Administração e o licitante vencedor.

D) As especificações complementares e as normas de execução pertinentes à licitação.

E) As instruções e normas para os recursos administrativos.

51
Comentário:

Gabarito: Letra “E”.


Aqui, a Banca está requerendo tão somente o conhecimento da letra fria da lei.
Vejamos que a resposta está no artigo 40 da Lei 8666/93:

Art. 40. O edital conterá no preâmbulo o número de ordem em série anual, o nome
da repartição interessada e de seu setor, a modalidade, o regime de execução e o
tipo da licitação, a menção de que será regida por esta Lei, o local, dia e hora para
recebimento da documentação e proposta, bem como para início da abertura dos
envelopes, e indicará, obrigatoriamente, o seguinte:

§ 2o Constituem anexos do edital, dele fazendo parte integrante

I - o projeto básico e/ou executivo, com todas as suas partes, desenhos,


especificações e outros complementos; [LETRA A]

II - orçamento estimado em planilhas de quantitativos e preços unitários; [LETRA


B]

III - a minuta do contrato a ser firmado entre a Administração e o licitante


vencedor; [LETRA C]

IV - as especificações complementares e as normas de execução pertinentes à


licitação. [LETRA D]

52
Questão 3

(FEPESE – 2017 – PC-SC – Agente de Polícia Civil) De acordo com a legislação, é inexigível a
licitação para:

A) a construção, a ampliação, a reforma e o aprimoramento de estabelecimentos penais,


desde que configurada situação de grave e iminente risco à segurança pública.
B) a celebração de contratos de prestação de serviços com as organizações sociais,
qualificadas no âmbito das respectivas esferas de governo, para atividades
contempladas no contrato de gestão.
C) a aquisição ou restauração de obras de arte e objetos históricos, de autenticidade
certificada, desde que compatíveis ou inerentes às finalidades do órgão ou entidade.
D) a compra ou locação de imóvel destinado ao atendimento das finalidades precípuas da
administração, cujas necessidades de instalação e localização condicionem a sua
escolha, desde que o preço seja compatível com o valor de mercado, segundo
avaliação prévia.
E) contratação de profissional de qualquer setor artístico, diretamente ou através de
empresário exclusivo, desde que consagrado pela crítica especializada ou pela opinião
pública.

Comentário:

Gabarito: Letra “E”.

Essa resposta também está na lei. Veja o artigo 25 da Lei 8666/93:


Art. 25. É inexigível a licitação quando houver inviabilidade de competição, em especial:
III - para contratação de profissional de qualquer setor artístico, diretamente ou
através de empresário exclusivo, desde que consagrado pela crítica especializada ou
pela opinião pública.

53
Questão 4

(CESPE – 2016 – PC-PE – Escrivão de Polícia Civil) Assinale a opção correta relativamente a
licitação e contratos públicos.

A) Constitui atentado ao princípio da igualdade entre os licitantes o estabelecimento de


requisitos mínimos de participação no edital da licitação.
B) O contrato administrativo é sempre consensual e, em regra, formal, oneroso, comutativo
e realizado intuitu personae.
C) A exceção de contrato não cumprido se aplica aos contratos administrativos, quando a
falta é da administração.
D) O controle do contrato administrativo por parte da administração exige cláusula
expressa.
E) As empresas estatais exploradoras de atividade econômica de produção ou
comercialização de bens ou de prestação de serviços estão dispensadas de observar os
princípios da licitação.

Comentário:

Gabarito: Letra “B”.

É firme na doutrina que uma das principais características dos contratos


administrativos é que eles são sempre consensuais e, em regra, são formais, onerosos,
cumulativos e celebrados intuitu personae, ou seja, devem em princípio ser executados pelo
contratado.

A) Incorreta. Nada impede que sejam estabelecidos requisitos mínimos no edital de


licitação.

54
C) Incorreta, nos termos do artigo 78, XV da Lei 8666/93.

D) Incorreta. O controle do contrato administrativo por parte da Administração


decorre diretamente de lei, portanto independe de cláusula expressa.

E) Incorreta, nos termos do artigo 1o, parágrafo único da Lei 8666/93.

Questão 5

(ACAFE – 2014 – PC-SC – Agente de Polícia) Considerando as modalidades de licitação, faça


a correspondência entre as colunas a seguir.

{1 ) Convite
(2 ) Tomada de preços
(3 ) Concurso
( 4 ) Leilão
( 5 ) Pregão

( ) É a modalidade de licitação entre cadastra dos ou outros interessados que atenderem a


todas as condições exigidas para cadastramento até o terceiro dia anterior à data fixa da para
o recebimento das propostas.
( ) É a modalidade de licitação entre interessa dos do ramo pertinente ao seu objeto, ca
dastrados ou não, escolhidos e convidados em número minimo de três.
( ) É a modalidade de licitação para escolha de trabalho técnico, científico ou artístico, entre
quaisquer interessados, por meio da instituição de prêmios ou remuneração aos vencedores,
conforme critérios constantes de edital.
( ) É a modalidade de licitação para aquisição de bens e serviços comuns, independente mente
do valor estimado da contratação, em que a disputa pelo fornecimento é feita por meio de

55
propostas e lances. Pode ser realizado na forma presencial, com o comparecimento dos
licitantes na sessão pública, ou na forma eletrônica, que envolve a utilização de recursos de
tecnologia da informação.
( ) É a modalidade de licitação entre quaisquer interessados para a venda de bens móveis
inservíveis para a administração ou de produtos legalmente apreendidos ou penhorados, ou
para alienação de bens imóveis cuja aquisição haja derivado de procedimentos judiciais ou de
dação em pagamento, a quem oferecer o maior lance, igual ou superior ao valor da avaliação.

A sequência correta, de cima para baixo, é:

A) 1-2-5-4-3
B) 2-1-3 - 5-4
C) 4-5-1-2-3
D) 3-5-4-1-2
E) 1-2-4-3-5

Comentário:

Gabarito: Letra “B”.


2 - Tomada de preços: Art. 22, §2º.
1 - Convite: Art. 22, §3º.
3 - Concurso: Art; 22, §4º.
5 - Pregão: Art. 1º da Lei 10.520/2002.
4 - Leilão: Art. 22, §5º.

56
Questão 6

(FDRH – 2013 – PC-RS – Escrivão de Polícia) Considere as afirmações abaixo sobre os


princípios da Administração Pública.

I - Segundo o princípio da legalidade, o administrador público está autorizado a fazer tudo


aquilo que a lei não proíbe.

II - O desvio de finalidade do ato administrativo configura ofensa ao princípio da


impessoalidade.

III - As chamadas cláusulas exorbitantes previstas nos contratos administrativos regidos pela
Lei Federal n° 8.666/93 são manifestações concretas do princípio da supremacia do interesse
público sobre o privado.

IV- O princípio da razoabilidade, por não constar de forma expressa na Constituição Federal
de 1988, não tem qualquer relevância para o Direito Administrativo.

Quais estão corretas?

A) Apenas a I.
B) Apenas a I e a II.
C) Apenas a II e a III.
D) Apenas a III e a IV.
E) Apenas a II, a III e a IV.

Comentário:

Gabarito: Letra “C”.

Analisemos item a item.

I – Incorreto. De acordo com o princípio da legalidade, ao administrador é


permitido fazer apenas o que a lei permitir.

57
II – Correta.

III- Correta.

IV – Incorreta. O princípio da razoabilidade não é expresso, entretanto conduz toda


ação advinda do Poder Público, que deve agir de modo prudente e razoável.

Questão 7

(CESPE – 2013 – PC-DF – Escrivão de Polícia) As empresas públicas e as sociedades de


economia mista, integrantes da administração indireta, não estão sujeitas aos procedimentos
licitatórios, uma vez que são entidades exploradoras de atividade econômica e dotadas de
personalidade jurídica de direito privado.

( ) Certo

( ) Errado.

Comentário:

Errado. Dispõe o artigo 1o, parágrafo único da Lei 8666/93 que se subordinam ao
regime da lei, além dos órgãos da administração direta, também os fundos especiais, as
autarquias, as fundações públicas, as empresas públicas, as sociedades de economia mista e
demais entidades controladas direta ou indiretamente pela União, Estados, DF e Municípios.

58
Questão 8

(CESPE – 2012 – PF – Agente de Polícia) No que se refere às licitações, julgue os itens que se
seguem.

Configura-se a inexigibilidade de licitação quando a União é obrigada a intervir no domínio


econômico para regular preço ou normalizar o abastecimento.

( ) Certo

( ) Errado.

Comentário:

Gabarito: Errado

Ao contrário do aduzido no enunciado, a inexigibilidade de licitação ocorre quando


a própria competição se mostrar inviável, e não quando a União for obrigada a intervir no
domínio econômico. Essa, na verdade, é uma hipótese de dispensa (artigo 24, VI, Lei Geral de
Licitações).

Questão 9

(ACAFE – 2010 – PC-SC – Agente de Polícia) Sobre licitação, é correto afirmar:

A) Pelo princípio da vinculação ao instrumento convocatório, deve haver isonomia de


tratamento para todos os licitantes.
B) O agente público pode incluir cláusula no ato de convocação que estabeleça
preferência em razão do domicílio do licitante.
C) O princípio da probidade administrativa traduz-se em direito de acesso aos elementos
do processo licitatório e divulgação de editais e de decisões.

59
D) As obras, serviços, compras e alienações realizadas pelos órgãos dos Poderes Legislativo
e Judiciário regem-se pelos preceitos da Lei nº 8.666/93.

Comentário:

Gabarito: Letra “D”.


Novamente, estamos diante de um questão que requer o conhecimento do
candidato acerca da Lei 8666/93, mais especificamente do artigo 1o:

Art. 1º Esta Lei estabelece normas gerais sobre licitações e contratos


administrativos pertinentes a obras, serviços, inclusive de publicidade, compras,
alienações e locações no âmbito dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal
e dos Municípios.

Questão 10

(ACAFE – 2010 – PC-SC – Escrivão de Polícia Civil) Sobre licitação, é correto afirmar:

A) Grave perturbação da ordem é exemplo de situação que admite a dispensa da licitação


para os contratos relacionados com o evento.
B) O princípio do procedimento formal impõe a vinculação da licitação às prescrições que
a regem em seus atos e fases, as quais devem estar previstas exclusivamente em lei
ordinária.
C) O princípio da publicidade dos atos da licitação abrange todas as suas fases, desde o
aviso de abertura até seu julgamento, que deverá ser sempre realizado em ato público,
na presença dos interessados.
D) O objeto da licitação pode ser definido posteriormente à publicação do edital.

Comentário:

60
Gabarito: Letra “A”.

A) Correta. Essa assertiva está em total consonância com o artigo 24, III da Lei 8666/93.
B) Incorreta. As prescrições, ao contrário do aduzido no irem, podem estar previstas no
regulamento, no caderno de obrigações e no edital/convite, não só na lei ordinária.
C) Incorreta. É perfeitamente possível que o julgamento não seja público (lei 8666/93).
D) Incorreta, pois nos termos do artigo 40 o objeto deve constar no edital.

61
GABARITO

Questão 1 - A

Questão 2 - E

Questão 3 - E

Questão 4 - B

Questão 5 - B

Questão 6 - C

Questão 7 - ERRADO

Questão 8 - ERRADO

Questão 9 - D

Questão 10 - A

62
QUESTÃO DESAFIO

No que consiste a contratação integrada do Regime Diferenciado


de Contratação (RDC) e qual é peculiaridade desse instituto?

Máximo de 5 linhas

63
GABARITO DA QUESTÃO DESAFIO

É a elaboração e o desenvolvimento dos projetos básico e executivo, a execução de


obras e serviços de engenharia, a montagem, a realização de testes, a pré-operação,
ou seja, TUDO feito pelo vencedor da licitação do RDC. Nas outras licitações, os
projetos básico e executivo são separados.

Você deve ter abordado necessariamente os seguintes itens em sua resposta:

 procedimento básico deve ser contratado previamente

A regra é que lei proíbe que participem, direta ou indiretamente, das licitações por ela
regidas as pessoas físicas ou jurídicas que hajam elaborado ou que tenham relação com os
elaboradores do projeto básico ou executivo correspondente. Consoante disposto no art.
9°, § 2°, da lei 8.666/93, é admitido que o ente estatal adquira somente o projeto básico,
deixando a elaboração do projeto executivo a cargo do vencedor da licitação para
execução da obra, desde que isso esteja previamente estipulado no instrumento
convocatório da licitação.

Sendo assim, em todas as hipóteses, o procedimento básico deve ser contratado


previamente, mediante procedimento licitatório próprio, como requisito indispensável à
regularidade da contratação de obra.

Alexandrino, Marcelo Direito administrativo descomplicado I Marcelo Alexandrino, Vicente


Paulo. - 25. ed. rev. e atual. - Rio de Janeiro : Forense; São Paulo : MÉTODO, 2017. P. 782.

 O vencedor responsável por tudo da obra

Nos termos do § 1 do art. 9.o da Lei 12.462/2011, "a contratação­ integrada compreende a
elaboração e o desenvolvimento dos projetos básico e executivo, a execução de obras e
serviços de engenharia, a montagem, a realização de testes, a pré-operação e todas as demais
operações necessárias e suficientes para a entrega final do objeto".

64
Cabe enfatizar, segundo diz Alexandrino, que na contratação integrada é
o próprio contratado que deve elaborar o projeto básico e o executivo. O edital respectivo tão
somente "deverá conter anteprojeto de engenharia que contemple os documentos técnicos
destinados a possibilitar a caracterização da obra ou serviço" (apenas sendo vedada
a participação direta ou indireta, na correspondente licitação, da pessoa física ou juridica que
tenha elaborado o anteprojeto de engenharia).

Ou seja, nota-se que esta é uma diferença considerável se comprada com as outras
modalidades licitatórias que não preveem está possibilidade.

Alexandrino, Marcelo Direito administrativo descomplicado I Marcelo Alexandrino, Vicente


Paulo. - 25. ed. rev. e atual. - Rio de Janeiro : Forense; São Paulo : MÉTODO, 2017. P. 782.

65
LEGISLAÇÃO COMPILADA

Licitação:
 Lei nº 8.666/93: íntegra
 Decreto 9.412/2018
 CRFB/88: 37, XXI
 Súmula 333 do STJ

Pregão
 Lei nº 11.520/02: íntegra
 Decreto 5.450/2005: íntegra

Registro de Preços:
 Lei nº 8.666/93: artigo 15
 Decreto 7.892/13: íntegra
 Decreto 8.250/14: íntegra

Licitação Carona:
 Decreto 7.892/13

66
JURISPRUDÊNCIA

Contratação direta:

 MS 34939 AgR, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em


19/03/2019, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-069 DIVULG 04-04-2019 PUBLIC 05-04-2019

Agravo regimental em mandado de segurança. 2. Tribunal de Contas da União. 3. Empresa


Brasileira de Correios e Telégrafos. Peculiaridades dos serviços prestados seja em regime de
privilégio seja em concorrência com particulares. Regime especial. Precedentes do STF. 4.
Contratação direta pela Administração Pública para prestação de serviços de logística.
Dispensa de licitação. Preenchimento dos requisitos previstos no art. 24, VIII, da Lei
8.666/1993. Possibilidade. 5. Ausência de argumentos capazes de infirmar a decisão agravada.
6. Agravo regimental desprovido.

 REsp 1356260/SC, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado


em 07/02/2013, DJe 19/02/2013

ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. CONTRATAÇÃO DIRETA DE EMPRESA


ORGANIZADORA DE CONCURSO PÚBLICO, COM FUNDAMENTO NO ART. 24, II, DA LEI DE
LICITAÇÕES. VALOR DO CONTRATO ADMINISTRATIVO INFERIOR A R$ 8.000,00 (OITO MIL
REAIS). RECEBIMENTO PELA EMPRESA CONTRATADA DAS TAXAS DE INSCRIÇÃO DO
CONCURSO, EM MONTANTE SUPERIOR AO PERMISSIVO DA LEI DE LICITAÇÕES. NECESSIDADE
DE PRÉVIO PROCEDIMENTO LICITATÓRIO.
1. Discute-se nos autos a possibilidade de dispensa de licitação para contratação de

67
organizadoras de concursos públicos, quando o valor do contrato administrativo for inferior ao
limite estabelecido no art. 24, II, da Lei n. 8.666/93, qual seja, R$ 8.000,00 (oito mil reais) e
ocorre o pagamento de taxas de inscrição pelos candidatos à instituição organizadora,
totalizando um valor global superior ao limite supracitado.
2. A Constituição da República estabelece como regra a obrigatoriedade da licitação, que é
dispensável nas excepcionais hipóteses previstas em lei, não cabendo ao intérprete criar novos
casos de dispensa. Isso porque a licitação destina-se a garantir a observância do princípio
constitucional da isonomia e a seleção da proposta mais vantajosa para a administração (art.
3º da Lei n. 8.666/93).
3. É imprescindível ponderar, também, a distinção entre interesse público primário e
secundário. Este é meramente o interesse patrimonial da administração pública, que deve ser
tutelado, mas não sobrepujando o interesse público primário, que é a razão de ser do Estado
e sintetiza-se na promoção do bem-estar social. Nos dizeres de Celso Antônio Bandeira de
Mello: "O Estado, concebido que é para a realização de interesses públicos (situação, pois,
inteiramente diversa da dos particulares), só poderá defender seus próprios interesses privados
quando, sobre não se chocarem com os interesses públicos propriamente ditos, coincidam
com a realização deles." (MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo.
19ª edição. Editora Malheiros. São Paulo, 2005, pág. 66.) 4. Portanto, ainda que os valores
recolhidos como taxa de inscrição não sejam públicos, a adequada destinação desses valores é
de interesse público primário. Mesmo que a contratação direta de banca realizadora de
concurso sem licitação não afete o interesse público secundário (direitos patrimoniais da
administração pública), é contrária ao interesse público primário, pois a destinação de elevado
montante de recursos a empresa privada ocorrerá sem o processo competitivo, violando,
dessa maneira, o princípio da isonomia, positivado na Constituição Federal e no art. 3º da Lei
n. 8.666/93. Recurso especial provido.

68
Competência para legislar

 RE 423560, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA, Segunda Turma, julgado em


29/05/2012, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-119 DIVULG 18-06-2012 PUBLIC 19-06-2012 RT
v. 101, n. 923, 2012, p. 678-683

Ementa: DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. LICITAÇÃO E CONTRATAÇÃO PELA


ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA MUNICIPAL. LEI ORGÂNICA DO MUNICÍPIO DE BRUMADINHO-MG.
VEDAÇÃO DE CONTRATAÇÃO COM O MUNICÍPIO DE PARENTES DO PREFEITO, VICE-
PREFEITO, VEREADORES E OCUPANTES DE CARGOS EM COMISSÃO. CONSTITUCIONALIDADE.
COMPETÊNCIA SUPLEMENTAR DOS MUNICÍPIOS. RECURSO EXTRAORDINÁRIO PROVIDO. A
Constituição Federal outorga à União a competência para editar normas gerais sobre licitação
(art. 22, XXVII) e permite, portanto, que Estados e Municípios legislem para complementar as
normas gerais e adaptá-las às suas realidades. O Supremo Tribunal Federal firmou orientação
no sentido de que as normas locais sobre licitação devem observar o art. 37, XXI da
Constituição, assegurando “a igualdade de condições de todos os concorrentes”. Precedentes.
Dentro da permissão constitucional para legislar sobre normas específicas em matéria de
licitação, é de se louvar a iniciativa do Município de Brumadinho-MG de tratar, em sua Lei
Orgânica, de tema dos mais relevantes em nossa pólis, que é a moralidade administrativa,
princípio-guia de toda a atividade estatal, nos termos do art. 37, caput da Constituição
Federal. A proibição de contratação com o Município dos parentes, afins ou consanguíneos,
do prefeito, do vice-prefeito, dos vereadores e dos ocupantes de cargo em comissão ou
função de confiança, bem como dos servidores e empregados públicos municipais, até seis
meses após o fim do exercício das respectivas funções, é norma que evidentemente
homenageia os princípios da impessoalidade e da moralidade administrativa, prevenindo
eventuais lesões ao interesse público e ao patrimônio do Município, sem restringir a
competição entre os licitantes. Inexistência de ofensa ao princípio da legalidade ou de invasão
da competência da União para legislar sobre normas gerais de licitação. Recurso extraordinário

69
provido.

Recurso na licitação:

 REsp 1348472/RS, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado


em 21/05/2013, DJe 28/05/2013

ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. LICITAÇÕES. RECURSO ADMINISTRATIVO.


HOMOLOGAÇÃO PELA AUTORIDADE SUPERIOR. INTERPRETAÇÃO DE CLÁUSULAS DO EDITAL.
IMPOSSIBILIDADE. SÚMULAS 5 E 7/STJ.
1. Discute-se nos autos a nulidade de procedimento licitatório em decorrência de julgamento
de recurso administrativo por autoridade incompetente.
2. Apesar de o recurso administrativo interposto contra ato que desclassificou a empresa ora
recorrente não ter sido julgado pela autoridade hierarquicamente superior, tal irregularidade
foi saneada com a posterior homologação do procedimento licitatório pela autoridade
competente para analisar o recurso.
3. O ato de homologação supõe prévia e detalhada análise de todo o procedimento licitário
no que concerne a sua regularidade. Homologar é confirmar a validade de todos os atos
praticados no curso da licitação.
4. Constatada a existência de vício em algum dos atos praticados no procedimento licitatório,
cabe à autoridade superior, no momento da homologação, a sua convalidação ou anulação.
Tratando-se de vício sanável é perfeitamente cabível a sua convalidação.
5. O vício na competência poderá ser convalidado desde que não se trate de competência
exclusiva, o que não é o caso dos autos. Logo, não há falar em nulidade do procedimento
licitatório ante o saneamento do vício com a homologação.
6. Não cabe ao STJ, em recurso especial, a interpretação de cláusula de edital de licitação.
Incidência das Súmulas 5 e 7 do STJ.
Recurso especial conhecido em parte e improvido.

70
Pregão:

 MS 20.784/DF, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA, Rel. p/ Acórdão Ministro ARNALDO


ESTEVES LIMA, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 09/04/2014, DJe 07/05/2015

ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. LICITAÇÃO. PROIBIÇÃO DE CONTRATAR COM


O PODER PÚBLICO PELO PRAZO DE UM ANO. PENALIDADE IMPOSTA COM BASE NO ART. 7º
DA LEI 10.520/02. DETRAÇÃO. TERMO INICIAL. PUBLICAÇÃO NO DIÁRIO OFICIAL OU
REGISTRO NO SICAF.
SUFICIÊNCIA DA DIVULGAÇÃO DOS ATOS NO ÓRGÃO OFICIAL DE IMPRENSA PARA
PRODUÇÃO DE EFEITOS. SEGURANÇA CONCEDIDA.
1. Cinge-se a controvérsia em fixar o termo inicial para efeito de detração da penalidade
prevista no art. 7º da Lei 10.520/02: se ele coincide com a publicação da decisão
administrativa na imprensa oficial, ou com o registro das suas conclusões no banco de dados
do Sistema de Cadastramento Unificado de Fornecedores - SICAF.
2. Embora preveja a sanção, a lei ordinária silencia quanto o início do fluxo do prazo para a
contagem da detração. Coube ao Decreto 5.450/05, ao regulamentá-la, prever, em seus arts.
3º, § 2º, 25, § 1º, e 28, parágrafo único, que o credenciamento do licitante condiciona-se ao
registro atualizado da sua situação cadastral no banco de dados do SICAF.
3. Com efeito, se a União impõe uma penalidade por um órgão da sua própria estrutura, a
presunção é a de que o próprio ente federado esteja ciente de que, a partir daquela
publicação, foi aplicada à determinada empresa uma sanção administrativa.
4. Por conseguinte, se a publicação se deu em órgão da imprensa oficial, nos termos do que
prevê o art. 37, caput, da Constituição Federal, seria contraditório e artificial se supor que, a
partir dali, não haveria ciência do ente federal, e, consequentemente, não seria capaz de dar
início ao cômputo da detração.
5. A própria Lei 8.666/93, em seu art. 6º, XIII, estabelece, como linha de princípio, que os atos
relativos aos procedimentos licitatórios federais serão divulgados no Diário Oficial da União.
6. A conclusão de que o marco inicial da detração coincidiria com a inscrição no SICAF é
extraída de leitura sistemática do decreto regulamentador. A lei, todavia, ato normativo

71
primário, nada explicitou sobre essa questão, o que se traduz, se não em violação, em
vulneração ao princípio da legalidade estrita.
7. Reconhecimento de tempo total suficiente para declarar cumprida a penalidade imposta à
impetrante.
8. Segurança concedida. Agravo regimental prejudicado.

Documento para habilitação

 ADI 3735, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, Tribunal Pleno, julgado em 08/09/2016,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-168 DIVULG 31-07-2017 PUBLIC 01-08-2017

Ementa: CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. LEI 3.041/05, DO ESTADO DO MATO GROSSO


DO SUL. LICITAÇÕES E CONTRATAÇÕES COM O PODER PÚBLICO. DOCUMENTOS EXIGIDOS
PARA HABILITAÇÃO. CERTIDÃO NEGATIVA DE VIOLAÇÃO A DIREITOS DO CONSUMIDOR.
DISPOSIÇÃO COM SENTIDO AMPLO, NÃO VINCULADA A QUALQUER ESPECIFICIDADE.
INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL, POR INVASÃO DA COMPETÊNCIA PRIVATIVA DA UNIÃO
PARA LEGISLAR SOBRE A MATÉRIA (ART. 22, INCISO XXVII, DA CF). 1. A igualdade de
condições dos concorrentes em licitações, embora seja enaltecida pela Constituição (art. 37,
XXI), pode ser relativizada por duas vias: (a) pela lei, mediante o estabelecimento de condições
de diferenciação exigíveis em abstrato; e (b) pela autoridade responsável pela condução do
processo licitatório, que poderá estabelecer elementos de distinção circunstanciais, de
qualificação técnica e econômica, sempre vinculados à garantia de cumprimento de
obrigações específicas. 2. Somente a lei federal poderá, em âmbito geral, estabelecer
desequiparações entre os concorrentes e assim restringir o direito de participar de licitações
em condições de igualdade. Ao direito estadual (ou municipal) somente será legítimo inovar
neste particular se tiver como objetivo estabelecer condições específicas, nomeadamente
quando relacionadas a uma classe de objetos a serem contratados ou a peculiares
circunstâncias de interesse local. 3. Ao inserir a Certidão de Violação aos Direitos do
Consumidor no rol de documentos exigidos para a habilitação, o legislador estadual se
arvorou na condição de intérprete primeiro do direito constitucional de acesso a licitações e
72
criou uma presunção legal, de sentido e alcance amplíssimos, segundo a qual a existência de
registros desabonadores nos cadastros públicos de proteção do consumidor é motivo
suficiente para justificar o impedimento de contratar com a Administração local. 4. Ao dispor
nesse sentido, a Lei Estadual 3.041/05 se dissociou dos termos gerais do ordenamento
nacional de licitações e contratos, e, com isso, usurpou a competência privativa da União de
dispor sobre normas gerais na matéria (art. 22, XXVII, da CF). 5. Ação direta de
inconstitucionalidade julgada procedente.

73
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARVALHO FILHO, José dos Santos. MANUAL DE DIREITO ADMINSITRAVO. 30 Ed. São
Paulo: Atlas, 2016.

CARVALHO, Matheus. MANUAL DE DIREITO ADMINSITRAVO. 3 ed. Salvador: JusPODIVM,


2016.

MAZZA, Alexandre. MANUAL DE DIREITO ADMINSITRAVO – 9. ed. – São Paulo: Saraiva


Educação, 2019.

OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende. CURSO DE DIREITO ADMINISTRATIVO. 5 ed. Rio de


Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2017.

PIETRO, Maria Sylvia Zanella Di. DIREITO ADMINISTRATIVO. 32. ed. rev. atual e ampl. – Rio
de Janeiro: Forense, 2019.

74
CARREIRAS POLICIAIS

Direito Administrativo
Capítulo 9
SUMÁRIO
DIREITO ADMINISTRATIVO ........................................................................................................................................... 2

1. Contratos Administrativos...................................................................................................................................... 2

1.1 Introdução ................................................................................................................................................................ 2

1.2 Conceito .................................................................................................................................................................... 2

1.3 Características ......................................................................................................................................................... 3

1.4 Garantia ..................................................................................................................................................................... 5

1.5 Cláusulas Exorbitantes......................................................................................................................................... 6

1.5.1 Alteração Unilateral do Contrato ................................................................................................................... 6

1.5.2 Rescisão unilateral ................................................................................................................................................ 7

1.5.3 Exceção do contrato não cumprido.............................................................................................................. 8

1.5.4 Fiscalização da execução do contrato ......................................................................................................... 8

1.5.5 Ocupação temporária .......................................................................................................................................... 9

1.5.6 Aplicação de penalidades .................................................................................................................................. 9

1.6 Equilíbrio Econômico-financeiro .................................................................................................................. 10

1.7 Teoria da Imprevisão ........................................................................................................................................ 11

1.8 Duração dos contratos .................................................................................................................................... 12

1.9 Responsabilidades contratuais ..................................................................................................................... 13

1.10 Recebimento do objeto do contrato ........................................................................................................ 15

1.11 Extinção do contrato ........................................................................................................................................ 16

GABARITO ........................................................................................................................................................................... 39

LEGISLAÇÃO COMPILADA............................................................................................................................................ 40

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................................. 51

1
DIREITO ADMINISTRATIVO

Capítulo 9

1. Contratos Administrativos

1.1 Introdução

Inicialmente, cumpre mencionar que a Administração Pública pode celebrar


contratos regidos predominantemente pelo Direito Público – Contratos Administrativos - e
contratos regidos pelo Direito Privado – Contratos da Administração.

Vale ressaltar que os contratos da Administração é gênero do qual os contratos


administrativos são espécie.

Mesmo nos contratos administrativos, aplica-se de forma subsidiária o direito


privado e as diretrizes da teoria geral dos contratos do Código Civil de 2002.

Ademais, os contratos celebrados pela Administração Pública, sejam pelo regime de


direito público quanto pelo regime de direito privado, estão sujeitos ao controle do Tribunal
de Contas, além de dependerem da realização de procedimento licitatório e obediência a
todas as restrições impostas à Administração, como o prazo determinado e a previsão
orçamentária.

1.2 Conceito

Para Matheus Carvalho, “os contratos administrativos são as manifestações de


vontade entre duas ou mais pessoas visando à celebração de negócio jurídico, havendo a

2
participação do Poder Público, atuando com todas as prerrogativas decorrentes da supremacia
do interesse público, visando sempre à persecução de um fim coletivo. Este contrato é regido
pelo direito público, sendo inerentes a ele todas as prerrogativas e limitações de Estado. ”

Para Maria Sylvia Zanella Di Pietro “contrato administrativo é reservada para


designar tão somente os ajustes que a Administração, nessa qualidade, celebra com pessoas
físicas ou jurídicas, públicas ou privadas, para a consecução de fins públicos, segundo regime
jurídico de direito público. ”

Já para José dos Santos Carvalho Filho “o contrato administrativo1 como o ajuste
firmado entre a Administração Pública e um particular, regulado basicamente pelo direito
público, e tendo por objeto uma atividade que, de alguma forma, traduza interesse público. ”

1.3 Características

A principal característica dos contratos administrativos é a busca pelo interesse


público. Porém outras características merecem destaque:

 Comutativo: o contrato comutativo é aquele que gera direitos e deveres,


previamente estabelecidos, para ambas as partes. Os contratos públicos não
contêm indefinição de obrigações para uma das partes do acordo.
 Consensual: no contrato consensual2 o simples consenso das partes já
formaliza o contrato, sem que haja necessidade de transferência de bem.
Cumpre ressaltar que o consenso do particular manifestar-se-á no momento
da abertura dos envelopes de documentação. Por sua vez, o consenso da
Administração depende da celebração do contrato.
 De adesão: os contratos de adesão não admitem a discussão de cláusulas
contratuais, sendo estas impostas por uma parte – no caso do contrato
administrativo é o Poder Público – à outra.

1
Vide questão 03 ao final do capítulo.
2
Vide questões 05 e 08 ao final do capítulo.
3
 Sinalagmático: os contratos sinalagmáticos impõe o dever mútuo de
cumprimento das obrigações decorrentes do contrato, ou seja, as
obrigações das partes são recíprocas.
 Formal: todo contrato administrativo tem uma forma definida na lei,
indispensável à sua regularidade, sendo nulo e de nenhum efeito o contrato
verbal celebrado com a Administração, exceto o de pequenas compras de
pronto pagamento, assim entendidas aquelas de valor não superior a 5% do
valor do convite.

No caso de compra com entrega imediata – até 30 dias – e integral dos bens adquiridos, dos
quais não resulte quaisquer obrigações futuras, independentemente do valor do contrato, é
dispensável o contrato, podendo a Administração substituí-lo.
Para contratos de valores mais baixos, não é preciso seguir a forma estabelecida, podendo ser
mais simples: não precisa do instrumento de contrato propriamente dito. Em tais casos, a lei
permite substituir o termo de contrato por: a) Carta contrato; b) Nota de empenho da
despesa;
e) Ordem de serviço; e d) Autorização de compra.

 Oneroso: como regra, não são admitidos contratos gratuitos firmados com o
poder público, devendo o particular ser remunerado;
 Personalíssimo: os contratos administrativos têm natureza intuito personae,
razão pela qual os contratos administrativos devem ser celebrados com o

4
vencedor do procedimento licitatório, não podendo ser transferido a terceiro.
Cumpre mencionar que a subcontratação é admitida desde que prevista no
edital e no contrato, porém é vedada a subcontratação integral do objeto e
também nos casos em que a qualificação técnica for fator preponderante
para a contratação.

1.4 Garantia

A Lei nº 8.666/93 prevê a garantia como uma espécie de caução para assegurar a
execução do contrato.

O valor dessa garantia é definido pela Administração, de forma discricionária, no


contrato, mas a lei estabelece o limite máximo de 5% do valor do contrato. Porém, nos
contratos de grande vulto, essa garantia pode chegar a 10% do valor inicial do contrato.

A garantia poderá ser prestada sob uma das seguintes formas:

1) Dinheiro;
2) Títulos da dívida pública, desde que este título tenha sido emitido sob a
forma escritura, mediante registro em sistema de liquidação e custódia, com
autorização do Banco Central do Brasil e avaliado nos parâmetros definidos
pelo Ministério da Fazenda;
3) Seguro garantia; e
4) Fiança bancária, não se admitindo qualquer outra espécie de fiador, que
não a instituição financeira.

Apesar do percentual ser escolhido pela administração, a forma de prestação da


garantia é de escolha do particular dentre as opções legalmente possíveis.

Se, ao final, houver o cumprimento total do contrato, a garantia deverá ser


devolvida e, se foi prestada em dinheiro, deve haver a correção monetária do valor. Já no caso
de descumprimento contratual, a garantia pode ser utilizada pelo Estado valor indenizatório.

5
Mas se a o prejuízo ultrapassar o valor dado em garantia, pode a Administração cobrar um
valor a mais de indenização.

1.5 Cláusulas Exorbitantes

As cláusulas exorbitantes colocam o Poder Público em posição superior ao particular


e se justificam por conta do princípio da supremacia do interesse público sob o privado.

Estas cláusulas não precisam estar expressas no contrato, pois decorrem


diretamente da Lei. Logo, não são cláusulas necessárias.

1.5.1 Alteração Unilateral do Contrato

A alteração unilateral do contrato pode ocorrer sempre que houver modificação do


projeto ou das especificações – alteração qualitativa – para melhor adequação técnica aos
seus objetivos, ou quando necessária a modificação do valor em decorrência de acréscimos
ou supressões quantitativas, nos limites permitidos pela lei – alteração quantitativa.

Porém, tais alterações unilaterais devem ser sempre justificadas e ser decorrentes
de motivo de interesse público superveniente.

O contratado é obrigado a aceitar, nas mesmas condições contratuais, os


acréscimos ou supressões que se fizessem nas obras, serviços ou compras até 25% do
valor inicial atualizado do contrato e nas reformas até 50% apenas para os acréscimos.3

Nenhum acréscimo ou supressão poderá exceder os limites legais, salvo as


supressões resultantes de acordo.

3
Vide questão 10
6
Administração não pode alterar o objeto do contrato.

Ressalta-se que independentemente do motivo da alteração, esta tem que manter o


equilíbrio econômico-financeiro do contrato.

1.5.2 Rescisão unilateral

A rescisão unilateral4 é prerrogativa dada ao ente público contratante


independentemente de consentimento do particular e sem depender de decisão judicial.

Pode se dar em razão do: (i) inadimplemento do particular; e (ii) interesse público
devidamente justificado.

A rescisão unilateral será sempre motivada conferindo-se ao particular direito ao


contraditório a à ampla defesa.

Nas hipóteses em que houver culpa do contratado, ocorrerá a assunção imediata do


objeto do contrato, a ocupação e a utilização do local pela Administração de forma a dar
continuidade à execução da atividade, execução da garantia contratual – caso o contratado
deva multas e indenizações -, retenção dos créditos até o limite dos prejuízos e aplicação das
sanções administrativas cabíveis.

Caso não haja culpa do, as mesmas consequências são verificadas, porém gera o
direito de indenização pelos prejuízos – danos emergentes -, devolução da garantia e de
receber o pagamento pelo que executo até o momento.

4
Vide questão 06 ao final do capítulo.
7
1.5.3 Exceção do contrato não cumprido

A rescisão unilateral por ser considerada cláusula exorbitante não se aplica ao


particular, sendo assim, caso o particular queira rescindir o contrato com o Poder Público
deverá ingressar com pedido judicial.

Porém, ao particular é dado o direito de suspender a execução da atividade


(exceção de contrato não cumprido ou exceptio non adimplenti contractus) contra a
Administração, conforme disposição do art. 78, XV da Lei 8666/93, desde que haja atraso
superior a 90 dias no pagamento.

Em caso de calamidade pública, grave perturbação da ordem interna ou guerra não cabe essa
exceção de contrato não cumprido.

1.5.4 Fiscalização da execução do contrato5

A fiscalização é um poder-dever da Administração e para isso deve designar um


agente público que ficará responsável pela fiscalização na execução contratual. Tal agente
fiscalizador poderá aplicar penalidades e exigir o cumprimento das obrigações.

O contratado deverá manter um preposto - aceito pela Administração - no local


do serviço, para representá-lo na execução do contrato.

5
Vide questão 02 ao final do capítulo.
8
Destaca-se que a fiscalização contratual não exclui e nem reduz a
responsabilidade do particular pelos danos causados diretamente à Administração ou a
terceiros.

1.5.5 Ocupação temporária

O art. 58, V da Lei nº 8.666/93 – Lei de licitações e contratos - define que a


Administração Pública poderá, nos casos de serviços essenciais, efetivar a ocupação provisória
de bens móveis, imóveis, pessoal e serviços vinculados ao objeto do contrato, na hipótese da
necessidade apuração de faltas contratuais cometidas pelo contratado, bem como na hipótese
de rescisão do contrato administrativo.6

Tal medida visa prestigiar, sobretudo, o princípio da continuidade dos serviços


públicos.

A ocupação temporária deve ser precedida de processo administrativo em que


seja assegurado os princípios do contraditório e da ampla defesa, bem como o direito à
indenização por eventuais prejuízos causados.

1.5.6 Aplicação de penalidades

A aplicação das sanções deve ser, obrigatoriamente, precedida de processo


administrativo em que se garantam ao particular o contraditório e a ampla defesa.

O particular terá prazo de 5 dias úteis para apresentação de defesa, salvo nas
hipóteses de aplicação de declaração de inidoneidade, cujo prazo será de 10 dias.

São previstos quatro tipos de penalidade:

 Advertência: essa penalidade deve ser aplicada sempre por escrito e serve
para sancionar infrações mais leves;

6
Vide questão 10
9
 Multa: pode ser aplicada pelo atraso na execução – multa de mora – ou em
razão da inexecução parcial ou total. Pode ser descontada diretamente da
garantia prestada. Se a multa for de valor superior ao valor da garantia,
além da perda desta, responderá o contratado pela diferença a qual será
descontada de eventuais pagamentos – autoexecutoriedade – ou cobrada
judicialmente.
 Suspensão temporária de participação em licitação e impedimento de
contratar com a Administração: a empresa fica impedida de participar de
licitação ou de contratar com a Administração no âmbito do órgão que
aplicou a pena, por até 2 anos;
 Declaração de idoneidade: é pena mais grave que a suspensão temporária.
Ocorre quando verificada a prática de fraude, crime ou fato grave por parte
da empresa contratada ou da interessada em contratar com a
Administração. Vale para todo e qualquer órgão de qualquer esfera. Pode
ser fixada por até 5 anos – o período pode ser maior se perdurarem os
motivos. O prazo mínimo é de 2 anos. Só pode ser aplicada por Ministros
de Estado ou autoridade equivalente no âmbito estadual ou municipal. Essa
declaração é ex nunc, mas a Administração pode promover a rescisão de
contratos anteriores.

1.6 Equilíbrio Econômico-financeiro

Ao particular é garantido o equilíbrio econômico-financeiro, ou seja, a manutenção


da margem de lucro inicialmente pactuada.

Para manutenção deste equilíbrio, é possível a revisão de preços pactuados e de


prazos previamente estabelecidos.

Outros mecanismos que asseguram a manutenção desse equilíbrio, são:

10
 Correção monetária: atualização da margem de lucro inicialmente acordada,
mantendo o valor real do contrato, em virtude da natural desvalorização do
dinheiro;
 Reajustamento dos preços: deve ocorrer em face do aumento dos custos
dos insumos necessários ao cumprimento do acordo;
 Recomposição de preços ou revisão de preços: quando ocorre uma situação
excepcional - não prevista no contrato -, a Administração Pública precisa
fazer a recomposição de preços.

1.7 Teoria da Imprevisão

A teoria da imprevisão decorre de uma situação fática não prevista no contrato, e


altera o equilíbrio econômico-financeiro do contrato. Em virtude dessas situações, conforme
dito anteriormente, é necessária a recomposição dos preços.

As hipóteses de teria da imprevisão são:

 Caso fortuito e força maior: são situações inevitáveis que decorrem de fatos
humanos - que não sejam partes do contrato - ou podem ser causados por
fatos da natureza;
 Interferências imprevistas: são situações preexistentes à celebração do
contrato, mas que só ficam conhecidas pelas partes no momento da
execução.
 Fato da administração: o desequilíbrio contratual é causado por uma atuação
da Administração – como parte do contrato - que impede a execução;
 Fato do príncipe: há uma atuação extracontratual (geral e abstrata) da
Administração que atinge diretamente a relação contratual.

11
Ressalta-se que em algumas situações da teoria da imprevisão fica impossível
manter o contrato, mesmo com a recomposição dos preços. Nesses casos, deve-se proceder
com a rescisão contratual.

1.8 Duração dos contratos

Inicialmente, cumpre destacar que são vedados contratos administrativos por


prazo indeterminado. Como regra, a duração dos contratos regidos pela Lei nº 8.666/93 fica
adstrita à vigência dos créditos definidos na Lei Orçamentária Anual – LOA, ou seja, duração
máxima de um ano.
O artigo 57 da lei de licitações e contratos define algumas exceções a esse prazo,
ou seja, indica hipóteses em que se admite a contratação além do prazo de um ano. Vejamos:

 Projetos contemplados na lei do Plano Plurianual: os projetos previstos nas


metas estabelecidas no Plano Plurianual podem ter vigência superior a um
exercício e poderão ser prorrogados desde que haja interesse da
Administração e desde que isso tenha sido previsto no ato convocatório.
 Prestação de serviços a serem executados de forma contínua: para
contratação de serviços de caráter continuado, a lei prevê a possibilidade de
prorrogação contratual por iguais e sucessivos períodos com de 60 meses.
Adicionalmente, pode-se prorrogar por mais 12 meses.
 Aluguel de equipamentos e utilização de programas de informática:
nesses casos, a duração do contrato pode se estender pelo prazo de até 48
meses.
 Contratações previstas nos incisos IX, XIX, XXVIII e XXXI do art. 24, da lei
8.666193: nessas hipóteses, os contratos poderão ter vigência por até cento
e vinte meses, caso haja interesse da administração. Iremos detalhar cada
situação:
 IX: contratação de remanescente de obra, serviço ou
fornecimento, em consequência de rescisão contratual, desde que
atendida a ordem de classificação da licitação anterior e aceitas as

12
mesmas condições oferecidas pelo licitante vencedor, inclusive
quanto ao preço, devidamente corrigido;
 XIX: para as compras de material de uso pelas Forças Armadas,
com exceção de materiais de uso pessoal e administrativo,
quando houver necessidade de manter a padronização requerida
pela estrutura de apoio logístico dos meios navais, aéreos e
terrestres, mediante parecer de comissão instituída por decreto;
 XXVIII: para o fornecimento de bens e serviços, produzidos ou
prestados no País, que envolvam, cumulativamente, alta
complexidade tecnológica e defesa nacional, mediante parecer de
comissão especialmente designada pela autoridade máxima do
órgão.
 XXXI: nas contratações visando ao cumprimento do disposto nos
arts. 3º, 4º, 5º e 20 da Lei nº 10.973, de 2 de dezembro de 2004,
observados os princípios gerais de contratação dela constantes

 Alguns contratos administrativos não ensejam gastos ao poder público.


Por não gerarem despesas à Administração Pública não precisam estar
previstos na lei orçamentária, e nem precisam respeitar o prazo de 1 ano.

Cumpre mencionar que é possível a prorrogação dos contratos administrativos


desde que tal previsão esteja no edital e no contrato e que o mesmo ainda esteja vigente.
Não há como prorroga-lo se já esgotou o prazo de duração. Além disso, deverá ser justificada
por escrito e previamente autorizada pela autoridade competente, não havendo, portanto,
possibilidade de prorrogação tácita.

1.9 Responsabilidades contratuais

Ao formalizar o contrato, o Poder Público e o particular têm obrigações recíprocas,


sendo, por isso, cada um responsável por seu descumprimento.

13
O particular contratado responde diretamente pelo serviço prestado, bem entregue
ou pela obra executada. Deve, ainda, arcar com todos os encargos trabalhistas, previdenciários,
fiscais e comerciais resultantes da execução do contrato.

Em relação aos demais encargos, há muita controvérsia ente os juízos. Explica-se:

O artigo 71, §1°, da lei 8.666/93 dispõe que:

“Art. 71. O contratado é responsável pelos encargos trabalhistas, previdenciários, fiscais


e comerciais resultantes da execução do contrato. § 1º A inadimplência do contratado, com

referência aos encargos trabalhistas, fiscais e comerciais não transfere à Administração Pública a
responsabilidade por seu pagamento, nem poderá onerar o objeto do contrato ou restringir a
regularização e o uso das obras e edificações, inclusive perante o Registro de Imóveis.”

Por expressão previsão legal a Administração Pública responde solidariamente


apenas pelos encargos previdenciários.

Ocorre que a Justiça do Trabalho, aplicava a Súmula 331 do TST que, determinava a
responsabilidade subsidiária do Estado pelos débitos trabalhistas das empresas contratadas.

Porém, o STF, por meio da Ação Direta de Constitucionalidade nº 16/2010 declarou


a constitucionalidade do Art. 71, §1° da Lei n. 8.6661/93.

Após, o pleno do Tribunal Superior do Trabalho definiu nova redação para a Súmula
331 do TST. Com essa nova redação a intenção foi responsabilizar o Poder Público por
omissão em razão da não fiscalização do contrato e consequentemente por inadimplemento
das obrigações, eis que é dever fiscalizar.

Conforme Matheus Carvalho: “trata-se de manobra escancarada com a intenção de


manter a responsabilidade do Estado pelos débitos da empresa contratada e contrariar, desta
vez, não só a lei, como também a decisão vinculante do Supremo Tribunal Federal”.

Ressalta-se, contudo, que para fins de prova a redação da súmula 331 é cabível.

14
1.10 Recebimento do objeto do contrato

Quando o objeto do contrato firmado for a entrega de obras e de serviços, o


recebimento do objeto será primeiramente feito de forma provisória em até 15 dias da
comunicação escrita do particular, a ser realizada pelo responsável por seu acompanhamento
e fiscalização, mediante termo circunstanciado, assinado por ambas as partes.

Para receber o objeto de forma definitiva, o servidor ou a comissão irá no prazo de


observação – prazo não pode ser superior a 90 dias, exceto se ocorrer situação excepcional –
ou mediante vistoria atestar a adequação do objeto. Tal recebimento será feito por termo
circunstanciado e deverá ser assinado pelas duas partes.

O recebimento definitivo não exclui a responsabilidade do particular contratado por qualquer


dano que decorra na execução do serviço ou na obra.

Quando se tratar de recebimento de bens ou de locação de equipamentos deverá


ser realizado o recebimento provisório. Nesses casos a Administração irá verificar a qualidade
e a quantidade do material e só após isso será feito o recebimento definitivo. Nos casos de
aquisição de equipamentos de grande vulto, o recebimento far-se-á mediante termo
circunstanciado e, nos demais, mediante recibo.

15
Nos casos de gêneros perecíveis e alimentação preparada, assim como para
contratação de serviços profissionais, poderá ser dispensado o recebimento provisório,
sendo o recebimento feito mediante recibo assinado pela autoridade competente.

Destaca-se que caso o objeto do contrato tenha sido entregue em desacordo com
o contrato, a Administração Pública rejeitará, no todo ou em parte.

1.11 Extinção do contrato

O contrato pode ser extinto das seguintes formas:

 Extinção Natural: se dá pela conclusão do objeto ou advento do termo do


contrato;
 Desaparecimento da pessoa: uma das características do contrato
administrativo é ser intuitu personae, por isso a falência da empresa
contratada ou o falecimento da pessoa física ou firma individual acarreta a
extinção;
 Anulação: em casos em que haja ilegalidade na licitação ou no contrato;
 Rescisão unilateral: ocorre por razões de interesse público ou por
inadimplemento total ou parcial do contrato pelo particular, ou ainda pela
subcontratação fora do permitido na lei e no contrato;
 Rescisão Judicial: se dá por provocação do particular, quando o ente
público é inadimplente, haja vista o contratado não poder se utilizar da
rescisão unilateral.
 Rescisão Bilateral ou Distrato: trata-se de rescisão amigável, realizada por
ambas as partes, ou seja, no interesse público e com o consentimento do
particular contratado.
 Rescisão de pleno direito: por situações alheias à vontade das partes, em
casos excepcionais que impedem a manutenção do contrato e nas quais não
seja possível a revisão de preços.

16
QUADRO SINÓTICO

CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

Os contratos da Administração é gênero do qual os contratos administrativos são espécie.

Aos contratos administrativos aplica-se, ainda que de forma subsidiária, o direito privado e as
diretrizes da teoria geral dos contratos do CC/02.

Esses contratos estão sujeitos ao controle do Tribunal de Contas, além de dependerem da


realização de procedimento licitatório e obediência a todas as restrições impostas à
Administração, como o prazo determinado e a previsão orçamentária.

CARACTERÍSTICAS

Gera direitos e deveres, previamente estabelecidos, para ambas as


COMUTATIVO partes. Os contratos públicos não contêm indefinição de
obrigações para uma das partes do acordo.

O simples consenso das partes já formaliza o contrato, sem que


haja necessidade de transferência de bem. Cumpre ressaltar que o
CONSENSUAL consenso do particular manifestar-se-á no momento da abertura
dos envelopes de documentação. Por sua vez, o consenso da
Administração depende da celebração do contrato.

Não admitem a discussão de cláusulas contratuais, sendo estas


DE ADESÃO impostas por uma parte – no caso do contrato administrativo é o
Poder Público – à outra.

Impõe o dever mútuo de cumprimento das obrigações decorrentes


SINALAGMÁTICO
do contrato.

17
O contrato Administrativo deve ser, em regra escrito, sendo nulo e
de nenhum efeito o contrato verbal celebrado com a
FORMAL Administração, exceto o de pequenas compras de pronto
pagamento, assim entendidas aquelas de valor não superior a 5%
do valor do convite.

GARANTIA

O valor da Administração, de forma discricionária, no contrato, limitado a 5% do valor do


contrato. Nos contratos de grande vulto, essa garantia pode chegar a 10% do valor inicial do
contrato.

A forma de prestação da garantia é de escolha do particular dentre as opções legalmente


possíveis.

Dinheiro

Títulos da dívida pública

Deve ser emitido sob a forma


escritura, mediante registro em
sistema de liquidação e custódia,
Seguro garantia com autorização do Banco Central
FORMAS DE GARANTIA
do Brasil e avaliado nos parâmetros
definidos pelo Ministério da
Fazenda.

Não se admite qualquer outra


Fiança bancária espécie de fiador, que não a
instituição financeira.

A garantia deverá ser devolvida e,


DEVOLUÇÃO DA se foi prestada em dinheiro, deve
Cumprimento contratual
GARANTIA haver a correção monetária do
valor.

18
A garantia pode ser utilizada pelo
Estado valor indenizatório. Mas se a
o prejuízo ultrapassar o valor dado
Descumprimento contratual
em garantia, pode a Administração
cobrar um valor a mais de
indenização.

CLÁUSULAS EXORBITANTES

Para modificar o projeto ou das


especificações – alteração
qualitativa – para melhor
adequação técnica aos seus
A administração não pode
objetivos, ou quando necessária
alterar o objeto, sob pena de
a modificação do valor em
burla à licitação.
ALTERAÇÃO decorrência de acréscimos ou

UNILATERAL supressões quantitativas, nos


limites permitidos pela lei –
alteração quantitativa.

O contratado é obrigado a aceitar, nas mesmas condições


contratuais, os acréscimos ou supressões que se fizessem nas
obras, serviços ou compras até 25% do valor inicial atualizado do
contrato e nas reformas até 50% apenas para os acréscimos.

Prerrogativa conferida à Administração para extinguir o contrato


independentemente de consentimento do particular e sem
depender de decisão judicial.
RESCISÃO UNILATERAL
Inadimplemento do particular

Pode se dar em razão do: Interesse público devidamente


justificado.

EXCEÇÃO DO Direito dado ao particular para suspender a execução da atividade

19
CONTRATO NÃO contra a Administração desde que haja atraso superior a 90 dias no
CUMPRIDO pagamento.

Poder-dever da Administração. Para exercer tal atividade deverá


designa um agente público com competência para aplicar
FISCALIZAÇÃO DA
penalidades e exigir o cumprimento das obrigações.
EXECUÇÃO
Não exclui e nem reduz a responsabilidade do particular pelos
danos causados diretamente à Administração ou a terceiros.

A Administração irá efetivar a ocupação provisória de bens móveis,


imóveis, pessoal e serviços vinculados ao objeto do contrato, na
OCUPAÇÃO
hipótese da necessidade apuração de faltas contratuais cometidas
TEMPORÁRIA
pelo contratado, bem como na hipótese de rescisão do contrato
administrativo, garantindo a continuidade dos serviços públicos.
Deve ser precedida de processo administrativo em que se
garantam ao particular o contraditório e a ampla defesa.
O particular terá prazo de 5 dias úteis para apresentação de defesa,
salvo nas hipóteses de aplicação de declaração de inidoneidade,
cujo prazo será de 10 dias.

APLICAÇÃO DE
PENALIDADES
Advertência: essa penalidade
Tipos de penalidade: deve ser aplicada sempre por
escrito e serve para sancionar
infrações mais leves;

20
Multa: pode ser aplicada pelo
atraso na execução – multa de
mora – ou em razão da
inexecução parcial ou total.

Suspensão temporária de
participação em licitação e
impedimento de contratar com
a Administração: ocorre no
âmbito do órgão que aplicou a
pena, por até 2 anos.

Declaração de idoneidade:
ocorre quando verificada a
prática de fraude, crime ou fato
grave por parte da empresa
contratada ou da interessada em
contratar com a Administração.
Pode ser fixada por até 5 anos –
o período pode ser maior se
perdurarem os motivos. O prazo
mínimo é de 2 anos. Só pode
ser aplicada por Ministros de

21
Estado ou autoridade
equivalente no âmbito estadual
ou municipal.
EQUILÍBIO ECONÔMICO-FINANCEIRO

É a manutenção da margem de lucro inicialmente pactuada. Para manutenção deste equilíbrio,


é possível a revisão de preços pactuados e de prazos previamente estabelecidos.

Correção monetária: atualização da margem


de lucro inicialmente acordada, mantendo o
valor real do contrato, em virtude da natural
desvalorização do dinheiro;

Reajustamento dos preços: deve ocorrer em


Outros mecanismos que asseguram a
face do aumento dos custos dos insumos
manutenção desse equilíbrio, são:
necessários ao cumprimento do acordo;

Recomposição de preços ou revisão de


preços: deve ser feita quando ocorre uma
situação excepcional - não prevista no
contrato.

TEORIA DA IMPREVISÃO

Decorre de uma situação fática não prevista no contrato, e altera o equilíbrio econômico-
financeiro do contrato, sendo necessária a recomposição dos preços.

Caso fortuito e força maior: são situações


inevitáveis que decorrem de fatos humanos -
que não sejam partes do contrato - ou por
fatos da natureza;
HIPÓTESES Interferências imprevistas: são situações
preexistentes à celebração do contrato, mas
que só ficam conhecidas pelas partes no
momento da execução.

22
Fato da administração: o desequilíbrio é
causado por uma atuação da Administração –
como parte do contrato - que impede a
execução;

Fato do príncipe: há uma atuação


extracontratual (geral e abstrata) da
Administração que atinge diretamente a
relação contratual.

DURAÇÃO DOS CONTRATOS


Como regra, a duração dos contratos regidos pela Lei nº 8.666/93 fica adstrita à vigência dos
créditos definidos na Lei Orçamentária Anual – LOA, ou seja, duração máxima de um ano.
Projetos contemplados na lei do Plano
Plurianual: os projetos previstos nas metas
estabelecidas no Plano Plurianual podem ter
vigência superior a um exercício e poderão ser
prorrogados desde que haja interesse da
Administração e desde que isso tenha sido
previsto no ato convocatório.
Prestação de serviços a serem executados de
forma contínua: para contratação de serviços
de caráter continuado, a lei prevê a
EXCEÇÕES AO PRAZO DE 1 ANO:
possibilidade de prorrogação contratual por
iguais e sucessivos períodos com de 60 meses.
Adicionalmente, pode-se prorrogar por mais
12 meses.

Aluguel de equipamentos e utilização de


programas de informática: nesses casos, a
duração do contrato pode se estender pelo
prazo de até 48 meses.

23
Contratações previstas nos incisos IX, XIX,
XXVIII e XXXI do art. 24, da lei 8.666193:
nessas hipóteses, os contratos poderão ter
vigência por até cento e vinte meses, caso
haja interesse da administração.

Contratos que não ensejam gastos ao poder


público.

Previsão em edital e no contrato;

Contrato vigente;
REQUISITOS PARA PRORROGAÇÃO
CONTRATUAL: Justificada por escrito, não havendo,
portanto, possibilidade de prorrogação
tácita;
Autorizada pela autoridade competente.

RESPOSABILIDADES CONTRATUAIS

O particular contratado responde diretamente pelo serviço prestado, bem entregue ou pela
obra executada. Deve, ainda, arcar com todos os encargos trabalhistas, previdenciários, fiscais e
comerciais resultantes da execução do contrato

Por expressão previsão legal a Administração Pública responde solidariamente apenas pelos
encargos previdenciários.

RECEBIMENTO DO OBJETO CONTRATADO


Será feito em até 15
dias da comunicação
escrita do particular, a
Recebimento ser realizada pelo
Quando o objeto do contrato firmado for a
provisório: responsável por seu
entrega de obras e de serviços:
acompanhamento e
fiscalização, mediante
termo circunstanciado,

24
assinado por ambas
as partes.

No prazo de
observação – máximo
de 90 dias – ou
mediante vistoria irá
Recebimento ser atestada a
definitivo: adequação do objeto.
Mediante termo
circunstanciado e
deverá ser assinado
pelas duas partes.
Deverá ser realizado o recebimento provisório.
Quando o objeto do contrato firmado for
Nesses casos a Administração irá verificar a
recebimento de bens ou locação de
qualidade e a quantidade do material e só
equipamentos:
após isso será feito o recebimento definitivo.
Poderá ser dispensado o recebimento
Quando o objeto do contrato firmado for provisório, sendo o recebimento feito
gêneros perecíveis e alimentação preparada mediante recibo assinado pela autoridade
competente
Caso o objeto do contrato tenha sido entregue em desacordo com o contrato, a
Administração Pública rejeitará, no todo ou em parte.

EXTINÇÃO CONTRATUAL
Extinção Natural: se dá pela conclusão do
objeto ou advento do termo do contrato;
Desaparecimento da pessoa: uma das
características do contrato administrativo é ser
FORMAS DE EXTINÇÃO:
intuitu personae, por isso a falência da
empresa contratada ou o falecimento da
pessoa física ou firma individual acarreta a
extinção;

25
Anulação: em casos em que haja ilegalidade
na licitação ou no contrato;
Rescisão unilateral: ocorre por razões de
interesse público ou por inadimplemento total
ou parcial do contrato pelo particular, ou
ainda pela subcontratação fora do permitido
na lei e no contrato;
Rescisão Judicial: se dá por provocação do
particular, quando o ente público é
inadimplente;
Rescisão Bilateral ou Distrato: trata-se de
rescisão amigável, realizada por ambas as
partes;
Rescisão de pleno direito: por situações
alheias à vontade das partes, em casos
excepcionais que impedem a manutenção do
contrato e nas quais não seja possível a
revisão de preços.

26
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

(FUNDATEC – 2018 – PC-RS – Escrivão e Inspetor de Polícia) Sobre Direito Administrativo,


analise as assertivas abaixo e assinale F, se falsas, ou V, se verdadeiras.
( ) O contratado fica obrigado a aceitar, nas mesmas condições contratuais, os acréscimos ou
supressões que se fizerem nas obras, serviços ou compras, até 25% (vinte e cinco por cento)
do valor inicial atualizado do contrato, e, no caso particular de reforma de edifício ou de
equipamento, até o limite de 50% (cinquenta por cento) para os seus acréscimos. ( ) A
competência para a prática do ato administrativo decorre de previsão legal, contudo, admite-
se a delegação e avocação nos casos em que não haja exclusividade por força de lei. ( ) A
atividade estatal de polícia judiciária permite à Administração Pública agir de maneira
repressiva, a fim de impedir que o comportamento individual cause prejuízos à coletividade. ( )
A sindicância é processo sumário de elucidações de irregularidades no serviço público,
praticadas por servidores. ( ) O processo administrativo pode ser caracterizado como formal
quanto à documentação de todo o seu desenvolvimento e informal por não estar sujeito a
normas rígidas, por um menor formalismo que o processo judicial.
A ordem correta do preenchimento dos parênteses, de cima para baixo é:

A) F – F – V – V – F.
B) F – V – F – F – V.
C) V – F – F – V – F.
D) F – V – V – F – F.
E) V – V – V – V – V.

27
Comentário:

Gabarito: Letra “E”.

Vamos analisar item por item.

1. Correta, uma vez que corresponde ao artigo 65, parágrafo primeiro da Lei 8666/93.
2. Correta, pois corresponde ao artigo 11 da Lei 9784/99.
3. Correta.
4. Correta. A sindicância, quando instaurada, tem realmente a finalidade de revelar
ocorrências anômalas no âmbito da Administração Pública.
5. Correta, nos termos do artigo 22 da Lei 9784/99.

Questão 2

(FUNDATEC – 2018 – PC-RS – Escrivão e Inspetor de Polícia) Conforme o que preceitua a


Lei nº 8.666/1993 a respeito dos contratos administrativos, assinale a alternativa correta.

A) Nos contratos celebrados pela Administração Pública com pessoas físicas ou jurídicas,
em nenhuma circunstância, poderá haver cláusula que declare competente foro diverso
do da sede da Administração, para dirimir qualquer questão contratual.
B) É conferida à Administração a prerrogativa de fiscalizar a execução dos contratos.
C) É admissível a prorrogação de contratos de prestação de serviços de natureza contínua,
dispensadas, nas prorrogações de prazo, justificativa ou autorização pela autoridade
competente para celebrar o contrato.
D) Em casos de compra com entrega imediata e integral dos bens adquiridos, em qualquer
hipótese é dispensável o "termo de contrato".
E) A referida Lei veda a admissão de subcontratação de partes de obra, serviço ou
fornecimento, por parte da Administração.

28
Comentário:

Gabarito: Letra “B”.

A) Incorreta. Na verdade, a regra contida no artigo 55, parágrafo 2o da Lei 8666/93 não
é absoluta, mas relativa.
B) Correta, nos termos do artigo 58, III da Lei 8666/93.
C) Incorreta, pois toda prorrogação deve ser justificada por escrito e previamente
autorizada pela autoridade contratante.
D) Incorreta, pois o termo do contrato não é dispensável em qualquer hipótese.
E) Incorreta, já que é permitida a subcontratação até o limite admitido pela
Administração Pública (artigo 72, Lei 8666/93).

Questão 3

(FEPESE – 2017 – PC-SC – Escrivão de Polícia Civil) Sobre a rescisão dos contratos
administrativos, analise as afirmativas abaixo:

1. É inadmissível a rescisão contratual amigável, por acordo entre as partes.

2. A rescisão do contrato administrativo poderá ser judicial, nos termos da legislação.

3. No caso de rescisão administrativa, deverá ser precedida de autorização escrita e


fundamentada da autoridade competente.

4. Em caso de cumprimento irregular de cláusulas contratuais, especificações, projetos e


prazos, a rescisão poderá ser determinada por ato unilateral e escrito da Administração.

29
Assinale a alternativa que indica todas as afirmativas corretas.

A) São corretas apenas as afirmativas 1 e 4.


B) São corretas apenas as afirmativas 2 e 3.
C) São corretas apenas as afirmativas 1, 2 e 3.
D) São corretas apenas as afirmativas 2, 3 e 4.
E) São corretas as afirmativas 1, 2, 3 e 4.

Comentário:

Gabarito: Letra “D”.

1. Incorreta. O artigo 79 da Lei 8666/93 prevê a possibilidade de

2. Correta, nos termos do artigo 79, III, da Lei 8666/93.

3. Correta, nos termos do artigo 79, parágrafo primeiro da Lei 8666/93.

4. Correta, nos termos do artigo 78, II da Lei 8666/93.

30
Questão 4

(FEPESE – 2017 – PC-SC – Agente de Polícia Civil) A rescisão dos contratos administrativos
poderá ser determinada por ato unilateral e escrito da Administração, nos seguintes casos:
1. o não cumprimento de cláusulas contratuais, especificações, projetos ou prazos. 2. a não
liberação, por parte da Administração, de área, local ou objeto para execução de obra, serviço
ou fornecimento, nos prazos contratuais, bem como das fontes de materiais naturais
especificadas no projeto. 3. a dissolução da sociedade ou o falecimento do contratado. 4. o
atraso injustificado no início da obra, serviço ou fornecimento.
Assinale a alternativa que indica todas as afirmativas corretas.

A) São corretas apenas as afirmativas 1 e 4.


B) São corretas apenas as afirmativas 2 e 3.
C) São corretas apenas as afirmativas 1, 2 e 3.
D) São corretas apenas as afirmativas 1, 3 e 4.
E) São corretas apenas as afirmativas 2, 3 e 4.

Comentário:

Gabarito: Letra “D”.

Apenas o item 2 está incorreto pois este não é um fator de rescisão unilateral por parte da
Administração.

31
Questão 5

(CESPE – 2016 – PC-PE – Escrivão de Polícia Civil) Assinale a opção correta relativamente a
licitação e contratos públicos.

A) Constitui atentado ao princípio da igualdade entre os licitantes o estabelecimento de


requisitos mínimos de participação no edital da licitação.
B) O contrato administrativo é sempre consensual e, em regra, formal, oneroso, comutativo
e realizado intuitu personae.
C) A exceção de contrato não cumprido se aplica aos contratos administrativos, quando a
falta é da administração.
D) O controle do contrato administrativo por parte da administração exige cláusula
expressa.
E) As empresas estatais exploradoras de atividade econômica de produção ou
comercialização de bens ou de prestação de serviços estão dispensadas de observar os
princípios da licitação.

Comentário:
Gabarito: Letra “B”.
A doutrina é uníssona nesse sentido. Dispõem, sobre o tema, Marcelo Alexandrino e
Vicente Paulo: “A doutrina administrativista costuma apontar como principais características
dos contratos administrativos serem eles sempre consensuais (embora se trate de contrato de
adesão) e, em regra, formais, onerosos, comutativos e celebrados intuitu personae (devem, em
princípio, ser executados pelo contratado, não se admitindo a livre contratação)”.

32
Questão 6

(ACAFE – 2014 – PC-SC 0 Agente de Polícia) Sobre contrato administrativo é correto


afirmar, exceto:

A) É nulo e de nenhum efeito o contrato verbal com a Administração, salvo o de pequenas


compras de pronto pagamento,
B) Contrato administrativo é o ajuste que a Administração Pública, agindo nessa qualidade,
firma com particular ou outra entidade administrativa para a consecução de objetivos
de interesse público, nas condições estabelecidas pela própria Administração.
C) A suspensão da execução contratual, por ordem escrita da Administração, por prazo
superior a 120 dias, não é considerada como hipótese de rescisão administrativa
unilateral do contrato administrativo.
D) É condição indispensável para a eficácia legal do contrato a publicação resumida de seu
termo e de aditamentos, na forma de extratos, na imprensa oficial.
E) A rescisão unilateral do contrato administrativo por parte da Administração Pública
pode ocorrer nos casos previstos em lei, sem gerar o dever de indenizar.

Comentário:

Gabarito: Letra “E”.


Primeiramente convém ressaltar que o enunciado pede a assertiva incorreta,
portanto, muito cuidado.
Dentre os cinco itens trazidos, apenas a letra “E” está incorreta. Isso porque de
acordo com o artigo 79, parágrafo segundo da Lei 8666/93, é possível que haja indenização
por parte da Administração desde que não haja culpa do contratado, nos casos de rescisão
contratual por razões de interesse público, de alta relevância e amplo conhecimento da
Administração e devido a ocorrência de caso fortuito ou de força maior, regularmente
comprovada que impeça a execução do contrato.
33
Questão 7

(ACAFE – 2010 – PC-SC – Agente de Polícia) Em relação a contrato administrativo, assinale a


alternativa correta.

A) As cláusulas exorbitantes devem ser sempre explícitas.


B) Apenas a Administração direta pode firmar contratos com peculiaridades administrativas
que os sujeitem aos preceitos do Direito Público.
C) Os contratos administrativos de colaboração são firmados no interesse precípuo do
particular, desde que não contrariem o interesse público.
D) Os contratos de consórcios públicos não se enquadram nos conceitos e peculiaridades
do contrato administrativo.

Comentário:

Gabarito: Letra “D”. Isso porque, os consórcios administrativos não são considerados
contratos administrativos. Eles são acordos realizados pela Administração Pública.

A) Incorreta. As cláusulas exorbitantes podem ser explícitas ou implícitas.


B) Incorreta. A administração pública indireta também pode firmar contratos com
peculiaridades administrativas.
C) Incorreta. Na verdade, trata-se de contrato de atribuição e não de colaboração.

34
Questão 8

(ACAFE – 2008 – PC-SC – Escrivão de Polícia Civil) Analise as alternativas a seguir referentes
aos contratos administrativos. Todas estão corretas, exceto a:

A) A cláusula exorbitante desiguala as partes na execução do avençado e, desde que


decorrente da lei ou dos princípios norteadores da Administração Pública, é lícita.
B) O contrato administrativo pode ser decorrente de um ato unilateral e impositivo da
Administração.
C) Contrato administrativo é o ajuste que a Administração Pública firma com o particular
ou com outra entidade administrativa para a consecução de objetivos de interesse
público, nas condições estabelecidas pela Administração.
D) O contrato administrativo de serviço abrange o labor intelectual do artista.

Comentário:

Gabarito: Letra “B”.

Vejamos que a banca requer a alternativa incorreta.

Dentre elas, apenas a letra “B” está incorreta, uma vez que o contrato administrativo
é bilateral e não unilateral.

35
Como esse tema teve pouca incidência nas provas do seu concurso dos últimos dez anos, a partir de
agora veremos duas questões de concursos públicos recentes e totalmente em consonância com o
nosso estudo:

Questão 9

(Quadrix - 2019 - CORECON - PE - Assessor Jurídico) O regime jurídico dos contratos


administrativos regidos pela Lei n.º 8.666/1993 confere à Administração Pública, em relação a
eles, a prerrogativa de

A) modificá‐los, unilateralmente, para melhor adequação às finalidades de interesse público,


prescindindo dos direitos do contratado.

B) alterar cláusulas econômico‐financeiras e monetárias dos contratos administrativos sem


concordância do contratado.

C) se exonerar, no caso de anulação do contrato, do dever de indenizar o contratado pelo que


este houver executado até a data em que ela for declarada.

D) ocupar provisoriamente, nos casos de serviços essenciais, bens móveis, imóveis, pessoal e
serviços vinculados ao objeto do contrato caso haja a rescisão deste.

E) aplicar sanções imotivadas pela inexecução total ou parcial do ajuste.

Comentário:

O art. 58, V da Lei nº 8.666/93 – Lei de licitações e contratos - define que a


Administração Pública poderá, nos casos de serviços essenciais, efetivar a ocupação provisória
de bens móveis, imóveis, pessoal e serviços vinculados ao objeto do contrato, na hipótese da
necessidade apuração de faltas contratuais cometidas pelo contratado, bem como na hipótese
de rescisão do contrato administrativo.

36
Questão 10

(CESPE - 2019 - TCE-RO - Auditor de Controle Externo - Engenharia Civil) Uma empresa
executou a obra de construção da sede de um órgão público pelo valor de R$ 1 milhão.
Foram formalizados R$ 300 mil em termos aditivos de acréscimo e R$ 100 mil em termos
aditivos de supressão.

Nessa situação hipotética, a empresa obedeceu à legislação no que diz respeito aos

A) aditivos de acréscimo em obras, cujo limite previsto é de 50% do valor do contrato.

B) aditivos de supressão em obras, cujo limite previsto é de 50% do valor do contrato.

C) aditivos de acréscimo e de supressão em obras, porque o saldo dos aditivos corresponde a


menos de 25% do valor do contrato.

D) aditivos de acréscimo em obras, cujo limite previsto é de 25% do valor do contrato.

E) aditivos de supressão em obras, cujo limite previsto é de 25% do valor do contrato.

Comentário:

A Lei de Licitações e Contratos (Lei federal nº. 8.666/1993) prevê no seu art. 65
hipóteses nas quais se pode fazer o aditamento contratual, bem como os percentuais limites
para tais prorrogações. Neste sentido o parágrafo primeiro do artigo supracitado assim
preceitua:

“§ 1º O contratado fica obrigado a aceitar, nas mesmas condições contratuais, os


acréscimos ou supressões que se fizerem nas obras, serviços ou compras, até 25% (vinte e
cinco por cento) do valor inicial atualizado do contrato, e, no caso particular de reforma de
edifício ou de equipamento, até o limite de 50% (cinquenta por cento) para os seus
acréscimos.”

Resumo:

37
 Serviços e compras: acréscimos ou supressões de até 25%
 Reforma de edifício ou de equipamento: acréscimos ou supressões de até
50%

38
GABARITO

Questão 1 - E

Questão 2 - D

Questão 3 - A

Questão 4 - E

Questão 5 - B

Questão 6 - E

Questão 7 - B

Questão 8 - B

Questão 9 – D

Questão 10 - E

39
LEGISLAÇÃO COMPILADA

Contratos:
 Lei nº 8.666/93: íntegra
 CRFB/88: 37, XXI

Responsabilidades contratuais:
 Súmula 331, TST

40
QUESTÃO DESAFIO

É possível a subcontratação dos contratos administrativos? Caso


seja, cite os requisitos.

Máximo de 5 linhas

41
GABARITO DA QUESTÃO DESAFIO

É possível a subcontratação, desde que parcialmente e nos limites previsto pela


Administração. Ademais, só será possível caso haja previsão no edital de licitação e no
contrato. A lei define que subcontratar em desrespeito às normas legais pode
caracterizar inadimplemento sujeito a sanção.

Você deve ter abordado necessariamente os seguintes itens em sua resposta:

 art. 72, Possibilidade de subcontratar parcialmente

A lei 8.666/93 trata da possibilidade de subcontratação parcial do objeto do contrato,


desde que cumpridos alguns requisitos definidos na legislação, restando clara a
impossibilidade de subcontratar integralmente o objeto acordado, inclusive em
observância à impessoalidade e isonomia, princípios arraigados no conceito da licitação,
enquanto procedimento administrativo.

"Art. 72. O contratado, na execução do contrato, sem prejuízo das responsabilidades


contratuais e legais, poderá subcontratar PARTES da obra, serviço ou fornecimento, até o
limite admitido, em cada caso, pela Administração

Fonte: Carvalho, Matheus. Manual de direlto administrativo/ Matheus Carvalho - 4. ed. rev.
ampl. e atual. - Salvador: JusPODIVM, 2017.P.560..

 subcontratação ilegal leva a sanção no contrato

No mesmo sentido, a lei define que a subcontratação, em desrespeito às normas legais,


poderá ser considerada inadimplemento contratual, sujeito às sanções previstas em lei, além
da possibilidade de rescisão contratual. Ou seja, a subcontratação ilegal leva a sanção no
contrato. Vejamos.

"Art. 78. Constituem motivo para rescisão do contrato: ( ... ) VI - a subcontratação total ou
parcial do seu objeto, a associação do contratado com outrem, a cessão ou transferência, total

42
ou parcial, bem como a fusão, cisão ou incorporação, NAO ADMITIDAS NO EDITAL E NO
CONTRATO;"

Matheus Carvalho arremata o tema resumindo que: "[...] pode-se concluir que, para que a
subcontratação seja lícita, deve haver previsão no edital e no contrato administrativo
celebrado e, além disso, a subcontratação deve-se restringir a partes do contrato, não sendo,
a princípio, lícito transferir todo o objeto do contrato a terceiro que não foi vencedor no
procedimento licitatório.

43
JURISPRUDÊNCIA

Responsabilidade Contratual:

 RE 760931, Relator(a): Min. ROSA WEBER, Relator(a) p/ Acórdão: Min. LUIZ FUX,
Tribunal Pleno, julgado em 26/04/2017, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-206 DIVULG 11-09-2017
PUBLIC 12-09-2017

Ementa: RECURSO EXTRAORDINÁRIO REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA COM


REPERCUSSÃO GERAL. DIREITO CONSTITUCIONAL. DIREITO DO TRABALHO. TERCEIRIZAÇÃO
NO ÂMBITO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. SÚMULA 331, IV E V, DO TST.
CONSTITUCIONALIDADE DO ART. 71, § 1º, DA LEI Nº 8.666/93. TERCEIRIZAÇÃO COMO
MECANISMO ESSENCIAL PARA A PRESERVAÇÃO DE POSTOS DE TRABALHO E ATENDIMENTO
DAS DEMANDAS DOS CIDADÃOS. HISTÓRICO CIENTÍFICO. LITERATURA: ECONOMIA E
ADMINISTRAÇÃO. INEXISTÊNCIA DE PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO HUMANO. RESPEITO ÀS
ESCOLHAS LEGÍTIMAS DO LEGISLADOR. PRECEDENTE: ADC 16. EFEITOS VINCULANTES.
RECURSO PARCIALMENTE CONHECIDO E PROVIDO. FIXAÇÃO DE TESE PARA APLICAÇÃO EM
CASOS SEMELHANTES. 1. A dicotomia entre “atividade-fim” e “atividade-meio” é imprecisa,
artificial e ignora a dinâmica da economia moderna, caracterizada pela especialização e divisão
de tarefas com vistas à maior eficiência possível, de modo que frequentemente o produto ou
serviço final comercializado por uma entidade comercial é fabricado ou prestado por agente
distinto, sendo também comum a mutação constante do objeto social das empresas para
atender a necessidades da sociedade, como revelam as mais valiosas empresas do mundo. É
que a doutrina no campo econômico é uníssona no sentido de que as “Firmas mudaram o
44
escopo de suas atividades, tipicamente reconcentrando em seus negócios principais e
terceirizando muitas das atividades que previamente consideravam como centrais” (ROBERTS,
John. The Modern Firm: Organizational Design for Performance and Growth. Oxford: Oxford
University Press, 2007). 2. A cisão de atividades entre pessoas jurídicas distintas não revela
qualquer intuito fraudulento, consubstanciando estratégia, garantida pelos artigos 1º, IV, e 170
da Constituição brasileira, de configuração das empresas, incorporada à Administração Pública
por imperativo de eficiência (art. 37, caput, CRFB), para fazer frente às exigências dos
consumidores e cidadãos em geral, justamente porque a perda de eficiência representa
ameaça à sobrevivência da empresa e ao emprego dos trabalhadores. 3. Histórico científico:
Ronald H. Coase, “The Nature of The Firm”, Economica (new series), Vol. 4, Issue 16, p. 386-
405, 1937. O objetivo de uma organização empresarial é o de reproduzir a distribuição de
fatores sob competição atomística dentro da firma, apenas fazendo sentido a produção de um
bem ou serviço internamente em sua estrutura quando os custos disso não ultrapassarem os
custos de obtenção perante terceiros no mercado, estes denominados “custos de transação”,
método segundo o qual firma e sociedade desfrutam de maior produção e menor desperdício.
4. A Teoria da Administração qualifica a terceirização (outsourcing) como modelo
organizacional de desintegração vertical, destinado ao alcance de ganhos de performance por
meio da transferência para outros do fornecimento de bens e serviços anteriormente providos
pela própria firma, a fim de que esta se concentre somente naquelas atividades em que pode
gerar o maior valor, adotando a função de “arquiteto vertical” ou “organizador da cadeia de
valor”. 5. A terceirização apresenta os seguintes benefícios: (i) aprimoramento de tarefas pelo
aprendizado especializado; (ii) economias de escala e de escopo; (iii) redução da complexidade
organizacional; (iv) redução de problemas de cálculo e atribuição, facilitando a provisão de
incentivos mais fortes a empregados; (v) precificação mais precisa de custos e maior
transparência; (vi) estímulo à competição de fornecedores externos; (vii) maior facilidade de
adaptação a necessidades de modificações estruturais; (viii) eliminação de problemas de
possíveis excessos de produção; (ix) maior eficiência pelo fim de subsídios cruzados entre
departamentos com desempenhos diferentes; (x) redução dos custos iniciais de entrada no
mercado, facilitando o surgimento de novos concorrentes; (xi) superação de eventuais
45
limitações de acesso a tecnologias ou matérias-primas; (xii) menor alavancagem operacional,
diminuindo a exposição da companhia a riscos e oscilações de balanço, pela redução de seus
custos fixos; (xiii) maior flexibilidade para adaptação ao mercado; (xiii) não comprometimento
de recursos que poderiam ser utilizados em setores estratégicos; (xiv) diminuição da
possibilidade de falhas de um setor se comunicarem a outros; e (xv) melhor adaptação a
diferentes requerimentos de administração, know-how e estrutura, para setores e atividades
distintas. 6. A Administração Pública, pautada pelo dever de eficiência (art. 37, caput, da
Constituição), deve empregar as soluções de mercado adequadas à prestação de serviços de
excelência à população com os recursos disponíveis, mormente quando demonstrado, pela
teoria e pela prática internacional, que a terceirização não importa precarização às condições
dos trabalhadores. 7. O art. 71, § 1º, da Lei nº 8.666/93, ao definir que a inadimplência do
contratado, com referência aos encargos trabalhistas, não transfere à Administração Pública a
responsabilidade por seu pagamento, representa legítima escolha do legislador, máxime
porque a Lei nº 9.032/95 incluiu no dispositivo exceção à regra de não responsabilização com
referência a encargos trabalhistas. 8. Constitucionalidade do art. 71, § 1º, da Lei nº 8.666/93 já
reconhecida por esta Corte em caráter erga omnes e vinculante: ADC 16, Relator(a): Min.
CEZAR PELUSO, Tribunal Pleno, julgado em 24/11/2010. 9. Recurso Extraordinário parcialmente
conhecido e, na parte admitida, julgado procedente para fixar a seguinte tese para casos
semelhantes: “O inadimplemento dos encargos trabalhistas dos empregados do contratado
não transfere automaticamente ao Poder Público contratante a responsabilidade pelo seu
pagamento, seja em caráter solidário ou subsidiário, nos termos do art. 71, § 1º, da Lei nº
8.666/93”.

Equilíbrio Econômico-financeiro

 REsp 1352497/DF, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEGUNDA TURMA, julgado em


04/02/2014, DJe 14/02/2014

46
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. PERMISSIONÁRIAS DE SERVIÇO PÚBLICO -
TRANSPORTE COLETIVO. REAJUSTE DE TARIFAS. EQUILÍBRIO ECONÔMICO-FINANCEIRO.
INDENIZAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. FALTA DE LICITAÇÃO. ACÓRDÃO COM FUNDAMENTAÇÃO
NA LEGISLAÇÃO LOCAL. SÚMULA 280/STF. NECESSIDADE DE EXAME DE CLÁUSULAS
CONTRATUAIS. SÚMULAS 5 E 7/STJ. RECURSO ESPECIAL ADESIVO PREJUDICADO.
1. Não ocorre contrariedade ao art. 535, inc. II, do Código de Processo Civil, quando o Tribunal
de origem decide fundamentadamente todas as questões postas ao seu exame, assim como
não há que se confundir entre decisão contrária aos interesses da parte e inexistência de
prestação jurisdicional.
2. A questão relativa à suposta quebra do equilíbrio econômico-financeiro dos contratos de
permissão de serviço de público foi expressamente tratada na decisão do juízo singular.
Sendo assim, o Tribunal de origem, ao agregar outros fundamentos para manter a
improcedência do pedido de indenização, não violou o disposto no art. 515 do CPC.
3. Isso porque o magistrado não está vinculado ao fundamento legal invocado pelas partes ou
mesmo adotado pela instância a quo, podendo qualificar juridicamente os fatos trazidos ao
seu conhecimento, conforme o brocardo jurídico mihi factum, dabo tibi jus ("dá-me o fato,
que te darei o direito) e o princípio jura novit curia ("o Juiz conhece o Direito").
4. De igual modo, não prospera a arguição de ofensa aos demais dispositivos do CPC, quais
sejam, os arts. 125, 425 e 435, ao argumento de que o processo foi sentenciado sem que
fosse concluída a fase probatória, bem como os arts. 131, 436 e 458, II, porque não teria sido
acolhido o laudo técnico judicial.
5. Na linha da iterativa jurisprudência desta Casa de Justiça, o magistrado não está obrigado a
realizar todas as perícias requeridas pelas partes. Ao revés, dentro do livre convencimento
motivado, pode dispensar exames que repute desnecessários ou protelatórios. Na hipótese, se
não foi deferida a diligência complementar - esclarecimentos adicionais ao perito -, é porque
o juiz do processo a entendeu irrelevante.
6. Ademais, por ser o juiz o destinatário das provas, a ele incumbe a valoração do conjunto
probatório carreado aos autos, portanto não está o magistrado adstrito ao laudo pericial
realizado, eis que pode formar sua convicção com outros elementos ou fatos existentes nos
47
autos, o que ocorreu na espécie.
7. Quanto ao mérito, com base no exame das cláusulas contratuais, das planilhas elaboras
pelo DFTRANS, do Decreto Distrital n.
2.456/88 e da Lei n. 242/92, o Tribunal de origem concluiu que não teria sido comprovado o
prejuízo supostamente sofrido pelas recorrentes nem o descumprimento das condições da
permissão do serviço de transporte coletivo, razão pela qual seria incabível qualquer
indenização.
8. Nesse contexto, eventual ofensa aos arts. 58, §§ 1º e 2º da Lei n. 8.666/93; e 9º, § 2º, 10 e
40, parágrafo único, da Lei n.
8.987/95 seria reflexa, e não direta, porque o deslinde da controvérsia exigiria a interpretação
de cláusulas contratuais e de legislação local, além do reexame de matéria fática, o que é
inviável em sede de recurso especial, a teor do enunciado das Súmulas 5 e 7 do STJ e 280 do
Excelso Pretório.
9. De notar que esses fundamentos de natureza probatória, autônomos e suficientes à
manutenção do aresto recorrido, não foram impugnados nas razões do recurso especial,
mormente por ser defeso o seu reexame na via eleita (Súmula 7/STJ), permanecendo,
portanto, incólumes.
10. De qualquer forma, o segundo fundamento adotado pelo Tribunal de origem e
impugnado no especial encontra-se em harmonia com a jurisprudência desta Corte, no
sentido de ser necessário o prévio procedimento licitatório para a garantia da manutenção do
equilíbrio econômico-financeiro do contrato de permissão de serviço de transporte público.
11. Sendo assim, torna-se prejudicado o exame do recurso especial adesivo, no qual se aponta
ofensa ao art. 206, § 3º, inciso V, do Código Civil, por não ter sido reconhecia a prescrição
trienal.
12. Recurso especial principal das permissionárias a que se nega provimento e recurso especial
adesivo do Distrito Federal e DFTRANS prejudicado.

Regularidade fiscal durante o contrato:

48
 AgRg no REsp 1313659/RR, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA
TURMA, julgado em 23/10/2012, DJe 06/11/2012

ADMINISTRATIVO. CONTRATO ADMINISTRATIVO. PAGAMENTO DE FATURAS. ILEGALIDADE DA


PORTARIA 227/95, QUE CONDICIONA O PAGAMENTO À COMPROVAÇÃO DA REGULARIDADE
FISCAL DA EMPRESA CONTRATADA. MATÉRIA PACIFICADA.
1. Discute-se nos presentes autos a legalidade da Portaria n. 227/95, que prevê a retenção de
pagamento de valores referentes a parcela executada de contrato administrativo, na hipótese
em que não comprovada a regularidade fiscal da contratada.
2. A pretensão recursal destoa da jurisprudência dominante nesta Corte no sentido da
ilegalidade da retenção ao pagamento devido a fornecedor em situação de irregularidade
perante o Fisco, por extrapolar as normas previstas nos arts. 55 e 87 da Lei 8.666/93.
Precedentes: REsp 633432 / MG, rel. Ministro Luiz Fux, DJ 20/6/2005; AgRg no REsp 1048984 /
DF, rel. Ministro Castro Meira, Segunda Turma,DJe 10/9/2009; RMS 24953 / CE, rel. Ministro
Castro Meira, Segunda Turma, DJe 17/03/2008.
3. Agravo regimental não provido.

 RMS 24.953/CE, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado em


04/03/2008, DJe 17/03/2008

ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. CONTRATO. RESCISÃO. IRREGULARIDADE


FISCAL. RETENÇÃO DE PAGAMENTO.
1. É necessária a comprovação de regularidade fiscal do licitante como requisito para sua
habilitação, conforme preconizam os arts. 27 e 29 da Lei nº 8.666/93, exigência que encontra
respaldo no art. 195, § 3º, da CF.
2. A exigência de regularidade fiscal deve permanecer durante toda a execução do contrato, a
49
teor do art. 55, XIII, da Lei nº 8.666/93, que dispõe ser "obrigação do contratado de manter,
durante toda a execução do contrato, em compatibilidade com as obrigações por ele
assumidas, todas as condições de habilitação e qualificação exigidas na licitação".
3. Desde que haja justa causa e oportunidade de defesa, pode a Administração rescindir
contrato firmado, ante o descumprimento de cláusula contratual.
4. Não se verifica nenhuma ilegalidade no ato impugnado, por ser legítima a exigência de que
a contratada apresente certidões comprobatórias de regularidade fiscal.
5. Pode a Administração rescindir o contrato em razão de descumprimento de uma de suas
cláusulas e ainda imputar penalidade ao contratado descumpridor. Todavia a retenção do
pagamento devido, por não constar do rol do art. 87 da Lei nº 8.666/93, ofende o princípio da
legalidade, insculpido na Carta Magna.
6. Recurso ordinário em mandado de segurança provido em parte.

50
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARVALHO FILHO, José dos Santos. MANUAL DE DIREITO ADMINSITRAVO. 30 Ed. São
Paulo: Atlas, 2016.

CARVALHO, Matheus. MANUAL DE DIREITO ADMINSITRAVO. 3 ed. Salvador: JusPODIVM,


2016.

MAZZA, Alexandre. MANUAL DE DIREITO ADMINSITRAVO – 9. ed. – São Paulo: Saraiva


Educação, 2019.

OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende. CURSO DE DIREITO ADMINISTRATIVO. 5 ed. Rio de


Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2017.

PIETRO, Maria Sylvia Zanella Di. DIREITO ADMINISTRATIVO. 32. ed. rev. atual e ampl. – Rio
de Janeiro: Forense, 2019.

51
CARREIRAS POLICIAIS

Direito Administrativo
Capítulo 10
SUMÁRIO
DIREITO ADMINISTRATIVO ........................................................................................................................................... 3

1. Processo Administrativo ......................................................................................................................................... 3

1.1 Introdução ................................................................................................................................................................ 3

1.2 Princípios................................................................................................................................................................... 4

1.2.1 Oficialidade/Impulso Oficial.............................................................................................................................. 4

1.2.2 Contraditório e Ampla Defesa ......................................................................................................................... 4

1.2.3 Informalismo/Formalismo necessário ........................................................................................................... 5

1.2.4 Verdade Real ........................................................................................................................................................... 6

1.2.5 Gratuidade................................................................................................................................................................ 6

1.2.6 Motivação ................................................................................................................................................................. 6

1.2.7 Duração razoável do processo ........................................................................................................................ 7

1.3 Atos processuais .................................................................................................................................................... 7

1.4 Delegação e Avocação de competências ................................................................................................ 10

1.5 Suspeição e Impedido ..................................................................................................................................... 12

1.6 Fases do processo ............................................................................................................................................. 13

1.6.1 Instauração ............................................................................................................................................................ 13

1.6.2 Inquérito Administrativo ................................................................................................................................. 13

1.6.3 Julgamento............................................................................................................................................................ 16

1.7 Meios de impugnação da decisão ............................................................................................................. 16

1.7.1 Recurso Administrativo .................................................................................................................................... 16

1.7.2 Revisão .................................................................................................................................................................... 18

1.8 Anulação, Revogação e Convalidação ...................................................................................................... 18

1
1.9 Processo Administrativo Eletrônico ............................................................................................................ 20

1.10 Extinção do processo ....................................................................................................................................... 21

QUADRO SINÓTICO ...................................................................................................................................................... 22

QUESTÕES COMENTADAS ........................................................................................................................................ 31

GABARITO ........................................................................................................................................................................... 42

LEGISLAÇÃO COMPILADA............................................................................................................................................ 46

JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................................................................. 47

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................................. 55

2
DIREITO ADMINISTRATIVO

Capítulo 10

1. Processo Administrativo

1.1 Introdução

Antes de adentramos especificamente no conteúdo deste capítulo, cumpre


mencionar a diferença entre processo e procedimento. Vejamos:

 Processo administrativo: é a série concatenada de atos administrativos,


com uma finalidade específica, ensejando a prática de um ato final;
 Procedimento administrativo: é forma pela qual os atos do processo se
desenvolvem. Em outras palavras, pode-se dizer que é o rito respeitado pela
Administração para se alcançar a finalidade do processo.

A lei que regula o processo administrativo no âmbito federal é a Lei nº 9.784/99.


Todos os entes federativos possuem a competência para legislar sobre processo
administrativo.

Destaca-se que o Brasil adotou o sistema de jurisdição única - sistema inglês -, no


qual o processo administrativo faz coisa julgada material, ou seja, não exaure a matéria com
caráter de definitividade. Frise-se que a “coisa julgada administrativa”, significa que aquela
situação não mais poderá ser discutida em âmbito administrativo, mas nada impede que a
mesma seja discutida na esfera judicial.

O artigo 5°, XXXV da Constituição Federal de 1988 prevê o princípio da


inafastabilidade de jurisdição, ao impedir que lesão ou ameaça de lesão seja afastada do
Poder Judiciário. Em decorrência desse dispositivo legal, entende-se que mesmo depois de
3
esgotadas as discussões em sede administrativa, há a possibilidade de recorrer ao Poder
Judiciário.

A Lei nº 9.784/99 é uma lei subsidiária, ou seja, nos processos administrativos que tenham lei
específica tal legislação será aplicada apenas subsidiariamente. Se o processo não tiver
previsão em lei, aí aplica-se integralmente.

1.2 Princípios1

1.2.1 Oficialidade/Impulso Oficial

Os processos administrativos – diferentemente dos processos judiciais - podem ser


instaurados sem a necessidade de provocação e ainda tenha se iniciado por iniciativa do
particular, o impulso também ocorrerá de ofício.

Em decorrência deste princípio, os agentes públicos poderão conduzir todas as


fases do processo, inclusive a produção de provas, independentemente de provocação.

1.2.2 Contraditório2 e Ampla Defesa

São princípios e expressos no artigo 5º, LV da Constituição da República de 1988,


em que garante ao particular o direito de saber o que está acontecendo no processo e o
direito de se manifestar.

1
Vide questões 08 e 09 ao final do capítulo.
2
Vide questão 01 ao final do capítulo.
4
Acerca desses princípios, alguns pontos merecem destaque:

 Defesa técnica: a Súmula Vinculante nº 5 do Supremo Tribunal Federal


estabelece que a falta de defesa técnica por advogado no processo
administrativo disciplinar não ofende a Constituição. Neste sentido, aos
acusados em processos administrativos disciplinares é facultada a
representação por advogado.
 Defesa prévia: para que os princípios sejam garantidos, é necessário que o
particular possa se manifestar antes de ser proferida decisão administrativa.
Ocorre que, nas situações emergenciais, admite-se o contraditório diferido.
 Direito de recorrer: é a possibilidade de reanálise dos atos praticados pela
Administração. Como forma de garantir esse direito do particular, a Súmula
Vinculante nº 21 pelo Supremo Tribunal Federal dispõe que é inconstitucional
a exigência de depósito ou arrolamento prévios de dinheiro ou bens para
admissibilidade de recurso administrativo. No mesmo sentido está o STJ, com
a Súmula 373 que aponta que "é inconstitucional a exigência de depósito ou
arrolamento prévio de dinheiro ou bens para admissibilidade de recurso
administrativo".

1.2.3 Informalismo/Formalismo necessário

O processo Administrativo só vai exigir as formalidades necessárias às garantias do


direito do cidadão, e, por este motivo, o processo se torna formal para a Administração
Pública.

Entende-se que para o o particular, o procedimento não depende de formalidades,


mas para a Administração o processo administrativo é formal.

5
1.2.4 Verdade Real

O princípio da verdade real reflete à busca pelo que efetivamente aconteceu. Por
isso, no processo administrativo as provas, desde que lícitas, pode ser apresentadas em
qualquer fase do processo, mesmo após o encerramento da instrução.

Ademais, a própria Administração Pública pode produzir, de ofício, a produção de


provas.

Em decorrência desse princípio, é possível a reformatio in pejus em sede de


recursos administrativos.

1.2.5 Gratuidade

A lei determinar que, via de regra, é vedada a cobrança de despesas processuais


pela Administração Pública.

Sendo assim, os processos administrativos são gratuitos, não havendo cobrança


de custas, emolumentos ou ônus sucumbenciais aos interessados.

1.2.6 Motivação

A motivação é a exposição dos pressupostos de fato e de direito – dos motivos


- que determinou a prática do ato administrativo.

No âmbito do processo administrativo, a Lei nº 9.784/99 determina o dever de


motivar os atos administrativos que:

 Neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;


 Imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções;
 Decidam processos administrativos de concurso ou seleção pública;
 Dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo licitatório;

6
 Decidam recursos administrativos;
 Decorram de reexame de ofício3;
 Deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a questão ou discrepem de
pareceres, laudos, propostas e relatórios oficiais ou importem anulação,
revogação, suspensão ou convalidação de ato administrativo.

A legislação vigente também determina que a motivação “deve ser explicita, clara e
congruente, podendo consistir em declaração de concordância com fundamentos de
anteriores pareceres, informações, decisões ou propostas, que, neste caso, sendo parte
integrante do ato."

É a chamada motivação aliunde, ou seja, é a motivação que se baseia em processo


administrativo ou pareceres prévios.

1.2.7 Duração razoável do processo

Entre as alterações promovidas na Constituição Federal, através da Emenda


Constitucional nº 45, encontra-se a introdução do inciso LXXVIII, ao art. 5º, estabelecendo que
"a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do
processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação".

1.3 Atos processuais

Sobre os atos processuais é imperioso destacar algumas características:

 Forma: os atos do processo administrativo não dependem de forma


determinada, salvo disposição legal em contrário. Porém, por expressa
disposição legal, que todas as páginas dos processos serão numeradas

3
Vide questão 02 ao final do capítulo.
7
sequencialmente e rubricadas e que os atos do processo devem ser
produzidos por escrito, em vernáculo, com a data e o local de sua
realização e a assinatura da autoridade responsável.
 Tempo: os atos, via de regra, serão realizados em dias úteis, no horário
normal de funcionamento da repartição. Porém, serão concluídos depois
do horário normal os atos já iniciados, cujo adiamento prejudique o curso
regular do procedimento ou cause danos ao interessado ou à Administração.
 Lugar: os atos administrativos devem realizar-se, preferencialmente, na sede
do órgão, cientificando-se o interessado se outro for o local de realização.
 Prazo: inexistindo disposição específica, os atos do órgão ou autoridade
responsável pelo processo e dos administrados que dele participem devem
ser praticados no prazo de cinco dias, salvo motivo de força maior. Além
disso, os prazos começam a correr a partir da data da ciência, excluindo o
dia de início e incluindo o dia do vencimento. Caso o último dia do prazo
caia em dia em que não houver expediente ou este for encerrado antes da
hora normal, prorroga-se o prazo até o primeiro dia útil seguinte.

O Projeto de Lei 2823/19 visa alterar a Lei do Processo Administrativo Federal para
determinar que os prazos passem a ser contados em dias úteis. A última ação legislativa
ocorreu em 27/08/2019: Mesa Diretora da Câmara dos Deputados (MESA)
Retirado o PL 2823/2019, em face do deferimento do Requerimento n. 2168/2019, nos termos
dos arts. 104, caput, e 114, VII, do RICD.

8
 Comunicação: Devem, necessariamente, ser objeto de intimação todos os
atos do processo que resultem para o interessado a imposição de deveres,
ônus, sanções ou restrição ao exercício de direitos e atividades e os atos de
outra natureza, desde que sejam de seu interesse.
A intimação do interessado conter alguns requisitos: (i) identificação do
intimado e nome do órgão ou entidade administrativa; (ii) finalidade da
intimação; (iii) data, hora e local em que deve comparecer; (iv) se o intimado
deve comparecer pessoalmente, ou fazer-se representar; (v) informação da
continuidade do processo independentemente do seu comparecimento; e (vi)
indicação dos fatos e fundamentos legais pertinentes.
Se for necessário o comparecimento do interessado, a intimação deve dada
com antecedência mínima de 3 dias úteis. Podendo ser efetivada mediante
ciência no procedimento administrativo, por telegrama, por via postal com
aviso de recebimento, por qualquer outro meio que assegure a certeza da
ciência do particular ou por edital – caso os interessados forem
indeterminados, desconhecidos ou com domicílio indefinido.

A nulidade da intimação pode ser sanada com o comparecimento do interessado.

9
1.4 Delegação e Avocação de competências4

A competência é o poder atribuído ao agente – por lei ou ato administrativo -


para a prática de ato. Originariamente, as competências são atribuídas aos entes políticos e a
partir deles são distribuídas entre os órgãos e dentro destes, entre seus agentes.

Deve ocorrer de forma expressa, ou seja, não há presunção de competência. Mas


cumpre anotar que a lei não é fonte exclusiva da competência administrativa, determinados
agentes retiram sua competência diretamente da Constituição da República ou de normas
administrativas infralegais (atos de organização).

Assim, a competência pode ser: (i) primária: quando prevista diretamente da CRFB;
ou (ii) secundária: quando emanada de normas infralegais.

A competência possui alguns critérios definidores que são:

1) Matéria: a competência é definida segundo a especificidade da função a ser


exercida;
2) Hierarquia: as competências são escalonadas de acordo com seu nível de
complexidade e responsabilidade;
3) Lugar: a competência é distribuída entre órgãos localizados em pontos
territoriais distintos;
4) Tempo: a competência é conferida por determinado período de tempo;
5) Fracionamento: a competência é distribuída por diversos órgãos ou
agentes, cuja manifestação é imprescindível para a completa formação do
ato.

Já dentre as características da competência pode-se destacar que:

1) É de exercício obrigatório: sendo um poder-dever do agente;

4
Vide questões 04 e 06 ao final do capítulo.
10
2) É irrenunciável: o administrador atua em nome e interesse da coletividade,
não podendo renunciar àquilo que não lhe pertence. Essa característica não
impede que a Administração delegue ou avoque o exercício da
competência;
3) É inderrogável/intransferível: não se admite transação de competência.
Uma vez fixada em norma, deve ser rigidamente observada por todos.
Mesmo quando se permite a delegação é preciso um ato formal;
4) É imodificável por mera vontade do agente: só quem pode modificar
competência primária é a lei ou a CRFB;
5) É imprescritível: mesmo quando não utilizada;
6) É improrrogável: o fato de um órgão ou agente incompetente praticar um
ato não faz com que ele passe a ser competente.

Em relação à competência é importante destacar sobre dois institutos: a delegação


de competência e a avocação de competência.

A delegação consiste na transferência de funções de um agente a outro,


geralmente de plano hierarquicamente inferior ou de mesma hierarquia, mas também é
possível nos casos em que não exista subordinação hierárquica. O ato de delegação
especificará as matérias e os poderes transferidos, os limites de atuação, a duração e os
objetivos, podendo conter ressalva de exercício da atribuição delegada. A delegação deve ser
apenas de parte da competência e não de todas as atribuições.

Deve-se mencionar que o ato de delegação é discricionário, revogável a qualquer


tempo e apenas transfere o exercício, eis que a titularidade permanece com quem delegou.

Não podem ser objeto de delegação: (i) edição de atos de caráter normativo; (ii)
decisão de recursos administrativos; e (iii) as matérias de competência exclusiva.

Já a avocação é o ato pelo qual a autoridade hierarquicamente superior chama para


si o exercício das funções que a norma originalmente atribuiu a um subordinado.

11
É medida de caráter excepcional, devendo ser feita apenas temporariamente e por
motivos relevantes devidamente justificados. Também não é possível quando se tratar de
competência exclusiva do subordinado.

1.5 Suspeição e Impedido

A suspeição e o impedimento são hipóteses de afastamento da competência


originária, com o propósito de garantir a imparcialidade das decisões.

 Suspeição: baseia-se em critérios subjetivos e conforme a legislação, pode


ser arguida a suspeição de autoridade ou servidor que tenha amizade íntima
ou inimizade notória com algum dos interessados ou com os respectivos
cônjuges, companheiros, parentes e afins até o terceiro grau;
 Impedimento: baseia-se em critérios objetivos. Considera-se que é impedido
de atuar em processo administrativo o servidor ou autoridade que: I -
tenha interesse direto ou indireto na matéria; II - tenha participado ou venha
a participar como perito, testemunha ou representante, ou se tais situações
ocorrem quanto ao cônjuge, companheiro ou parente e afins até o terceiro
grau; III - esteja litigando judicial ou administrativamente com o interessado
ou respectivo cônjuge ou companheiro.

A autoridade ou servidor que incorrer em impedimento deve comunicar à autoridade


competente, pois a omissão dessa comunicação constitui falta grave.

12
1.6 Fases do processo

1.6.1 Instauração

O processo administrativo se inicia pela sua instauração através de uma portaria que
irá designar uma comissão processante. Esta portaria pode se dar por provocação do
interessado ou ex officio, por interesse da Administração Pública.

Quando decorrer de iniciativa do particular, a provocação deverá ser feita por


escrito – apenas em situações excepcionais poderá ser feita verbalmente - e deve conter
alguns dados obrigatórios elencados no art. 6º da Lei 9.784/99: (i) indicação do órgão ou
autoridade administrativa a que se dirige; (ii) a identificação do interessado ou de quem o
represente; (iii) o domicílio do requerente ou local para recebimento de comunicações; (iv) a
formulação do pedido, com exposição dos fatos e de seus fundamentos; e (v) a data e
assinatura do requerente ou de seu representante.

Admite-se, inclusive, que mais de um interessado formule pedidos idênticos, em um


único documento formal.

1.6.2 Inquérito Administrativo

A fase do inquérito administrativo divide-se em: fase instrutória, defesa e relatório.


Explicaremos cada uma delas abaixo:

 Instrução:

A fase instrutória é a fase de produção de provas. É facultado ao interessado, na


fase instrutória e antes de proferida a decisão do processo – em razão da busca pela verdade

13
real-, juntar documentos e pareceres, requerer diligências e perícias, bem como aduzir
alegações referentes à matéria objeto do processo.

É importante lembrar que a Administração Pública pode proceder com a busca de


provas, mesmo sem provocação do interessado.

Cumpre mencionar que o ônus da prova é distribuído entre as partes. Cabendo a


prova da alegação a quem a fez, salvo no caso de o interessado alegar um fato e as provas
deste se encontrarem em poder da administração pública.

Em alguns casos é possível a realização de consulta pública, para manifestação de


terceiros, quando a matéria do processo for de interesse geral, desde que não acarrete
prejuízos à parte interessada. Também é possível, a realização de audiência pública, mas
apenas se houver relevância na questão a ser debatida.

O mero comparecimento à consulta pública não confere, por si, a condição de interessado
do processo.

 Defesa:

Encerrada a fase instrutória com a produção de todas as provas necessárias, os


interessados terão o prazo máximo de 10 dias, para manifestações, salvo se outro prazo for
fixado por disposição legal específica.

No processo administrativo vige o princípio do contraditório e da ampla defesa, e


por isso deve-se oportunizar ao interessado a apresentação de sua defesa

14
 Relatório:

Segundo a legislação, o órgão de instrução que não for competente para emitir a
decisão final elaborará relatório indicando o pedido inicial, o conteúdo das fases do
procedimento e formulará proposta de decisão, objetivamente justificada, encaminhando o
processo à autoridade competente.

Ressalta-se que as provas devem ser levadas em consideração na elaboração do


relatório.

Há que se mencionar, ainda, que antes do julgamento pode apresentado parecer,


no prazo de 15 dias, por órgãos consultivos. O parecer pode ser obrigatório – quando a lei
exige que a consultoria jurídica elabora - ou facultativo – quando o particular ou poder
público requer um parecer.

Se o parecer for obrigatório, ele se divide em (i) vinculante: a lei dispõe os casos
em que o parecer será vinculante e nesses casos a autoridade deve seguir o mesmo
entendimento do documento elaborado; ou (ii) não vinculante: mesmo tendo que ser
elaborado o parecer, a autoridade não precisa seguir o que foi concluso no mesmo.

Não sendo emitido o parecer, dentro do prazo legal, situações podem ocorrer,
dependendo da natureza deste:

 Sendo obrigatório e vinculante: o processo será paralisado


até a apresentação do mesmo, sem prejuízo da responsabilização civil, penal
e administrativa do agente público que deu causa ao atraso;
 Sendo obrigatório e não vinculante: o processo poderá
prosseguir sem a emissão do parecer, inclusive com a decisão final, sem
prejuízo da responsabilização penal, civil e administrativa do agente que deu
causa à não emissão do parecer devido, no prazo fixado por lei.

15
 Sendo facultativo: o processo segue normalmente para
julgamento.

1.6.3 Julgamento

Encerrada a fase de inquérito, a autoridade competente terá o prazo – impróprio -


de 30 dias, prorrogáveis, desde que justificadamente, por igual período, para proferir a
decisão final no processo que deve ser fundamentada.

1.7 Meios de impugnação da decisão

1.7.1 Recurso Administrativo5

O direito ao duplo grau de jurisdição no âmbito administrativo é evidenciado


pela Súmula Vinculante nº 21 do STF, que considera inconstitucional qualquer lei que exija
depósito prévio ou caução para interposição de recursos administrativos.

O prazo para interposição de recursos administrativos, salvo disposição de lei


específica, é de 10 dias. O recurso será encaminhado para a autoridade que proferiu a decisão
como pedido de reconsideração. Essa autoridade terá o prazo de 5 dias para reconsiderar ou
não, caso não haja reconsideração, o recurso deverá ser encaminhado a autoridade
competente para julgar.

5
Vide questões 05 e 07 ao final do capítulo.
16
O não conhecimento do recurso não impede a Administração de rever de ofício o ato ilegal,
desde que não ocorrida preclusão administrativa.

Importa mencionar os legitimados para interposição do recurso:

 os titulares de direitos e interesses que forem parte no processo;


 aqueles cujos direitos ou interesses forem indiretamente afetados pela
decisão recorrida;
 as organizações e associações representativas, no tocante a direitos e
interesses coletivos;
 todos os cidadãos ou associações, quanto a direitos ou interesses difusos.

Recebido o recurso, a outra parte será intimada para apresentação de contrarrazões,


em um prazo de 5 dias.

A autoridade julgadora deverá julgá-lo no prazo – impróprio - de 30 dias,


prorrogáveis por igual período, mediante ato devidamente justificado.

Via de regra, os recursos administrativos não têm efeito suspensivo. Porém, a


autoridade poderá, percebendo que poderá haver justo receio de prejuízo de difícil ou incerta
reparação decorrente da execução, de ofício ou a pedido, conceder efeito suspensivo ao
recurso.

17
Cumpre apontar que nos recursos administrativos, não há vedação da reformatio
in pejus – como ocorre nos processos judiciais – ou seja, uma decisão de recurso
administrativo poderá piorar a situação do recorrente, em razão do princípio da verdade real.

O limite de tramitação de um processo na esfera administrativa é de 3 instâncias, se houver


estrutura hierárquica para tanto. Após a tramitação do processo administrativo nas 3
instâncias, ocorre a chamada coisa julgada administrativa.

1.7.2 Revisão

A revisão é apresentada perante a própria autoridade que proferiu a decisão. Não


é considerada um recurso e pode ser apresentada a qualquer tempo, desde que o pedido se
baseie em fatos novos.

Em verdade, abre-se um novo processo, o chamado processo administrativo de


revisão para verificar os novos fatos e apresentar novo julgamento.

Em sede de revisão é vedada a reformatio in pejus.

1.8 Anulação, Revogação e Convalidação

A lei 9784/99 regulamenta as hipóteses de retirada dos atos administrativas por


motivo de vícios de ilegalidade (anulação) e por motivo de interesse público superveniente
(revogação).

18
A anulação também chamada de invalidação, é o desfazimento do ato por questões
de ilegalidade ou de ilegitimidade. A Administração deve anular os atos que possuam vícios
insanáveis.

Deve ser precedida de procedimento administrativo, respeitando o direito de defesa.


Produz efeitos ex tunc, ou seja, retroativo, não gerando direito adquirido. Porém, deve-se
proteger os efeitos em relação aos terceiros de boa-fé.

A anulação pode ser feita pela própria Administração – autotutela – de ofício ou


mediante provocação, ou pelo Poder Judiciário, apenas mediante provocação.

A Lei 9.784/99 estabelece o prazo de 5 anos para anular os atos administrativos


ilegais, salvo comprovada má-fé.

A revogação é a retirada de um ato válido do mundo jurídico por razões de


conveniência e oportunidade. Apenas se aplica aos atos discricionários e produz efeitos ex
nunc.

Além disso é ato privativo da Administração Pública. Convém destacar que não são
passíveis de revogação os atos: exauridos ou consumado; vinculados; que geraram direito
adquirido; atos integrantes de procedimento administrativo; atos enunciativos, atos
declaratórios e atos complexos.

É prevista, ainda, a possibilidade de conserto dos vícios sanáveis, pela convalidação


dos atos. Os sanáveis são aqueles presentes nos elementos competência (exceto competência
exclusiva e competência quanto à matéria) e forma (exceto forma essencial à validade do ato).

A convalidação produz efeitos ex tunc e pode incidir em atos vinculados e


discricionários, sendo considerada controle de legalidade. Além disso, não pode prejudicar
terceiros nem causar lesão ao interesse público.

A decisão de convalidar ou não é ato discricionário da Administração, porém se


decidir não convalidar, o ato deve ser anulado, eis que possui vício.

19
Há quem aponte uma hipótese se convalidação tácita, ou ainda estabilização de
consolidação, quando os atos ilegais favoráveis ao administrado não forem anulados dentro
do prazo decadencial legal de cinco anos.

1.9 Processo Administrativo Eletrônico

Através do Decreto nº 8.539/15, foram estabelecidas normas sobre o processo


administrativo eletrônico no âmbito dos órgãos e das entidades da administração pública
federal direta, autárquica e fundacional. Os Estados e os Municípios que queiram adotar o
modelo devem baixar as suas próprias normas.

Cumpre mencionar que a adoção do processo eletrônico é obrigatória, mas os atos


processuais podem ser praticados segundo as normas aplicáveis aos processos em papel,
desde que posteriormente o documento-base correspondente seja digitalizado.

No caso de prazo para a prática do ato, este se considera tempestivamente


praticado se for protocolado até as vinte e três horas e cinquenta e nove minutos do
último dia do prazo, no horário oficial de Brasília. Em caso de indisponibilidade do sistema
por motivo técnico, o prazo se considera prorrogado até as vinte e três horas e cinquenta e
nove minutos do primeiro dia útil seguinte ao da resolução do problema.

No que tange à publicidade, a classificação da informação quanto ao grau de sigilo


e a possibilidade de limitação do acesso aos servidores autorizados e aos interessados no
processo devem observar as normas da lei de acesso à informação - Lei nº 12.527/11.

20
1.10 Extinção do processo

O órgão da Administração Pública competente poderá declarar extinto o processo


quando exaurida sua finalidade ou o objeto da decisão se tornar impossível, inútil ou
prejudicado por fato superveniente, ou seja, a extinção ocorrer de ofício.

A manifestação de desistência do processo pelo interessado não gera,


necessariamente, extinção do feito, podendo a administração pública dar continuidade ao
processo, uma vez que este visa o interesse público.

21
QUADRO SINÓTICO

PROCESSO ADMINISTRATIVO

PROCESSO Série concatenada de atos administrativos, com uma finalidade


ADMISITRATIVO específica, ensejando a prática de um ato final.

Forma pela qual os atos do processo se desenvolvem. Em outras


PROCEDIMENTO
palavras, pode-se dizer que é o rito respeitado pela
ADMINISTRATIVO
Administração para se alcançar a finalidade do processo.

Todos os entes federativos possuem a competência para legislar sobre processo


administrativo.

O Brasil adotou o sistema de jurisdição única ou sistema inglês, no qual o processo


administrativo faz coisa julgada material, ou seja, não exaure a matéria com caráter de
definitividade. Entende-se que mesmo depois de esgotadas as discussões em sede
administrativa, há a possibilidade de recorrer ao Poder Judiciário, em razão do princípio da
inafastabilidade de jurisdição

PRINCÍPIOS

Os processos administrativos podem ser instaurados por


Oficialidade/Impulso
provocação do particular interessado ou de oficio pela
Oficial
Administração.

Princípios que garantem ao Defesa técnica: a falta de


particular o direito de saber o defesa técnica por advogado no
Contraditório e Ampla
que está acontecendo no processo administrativo
Defesa
processo e o direito de se disciplinar não ofende a
manifestar. Deles derivam: Constituição.

22
Defesa prévia: via de regra,
deve-se permitir que o
particular possa se manifestar
antes de ser proferida decisão
administrativa.

Direito de recorrer: é a
possibilidade de reanálise dos
atos praticados pela
Administração.

Informalismo/Formalismo
O processo Administrativo só vai exigir as formalidades
Necessário necessárias às garantias do direito do cidadão.

Reflete à busca pelo que efetivamente aconteceu. No processo


Verdade Real administrativo as provas podem ser apresentadas em qualquer
fase do processo, mesmo após o encerramento da instrução.

É vedada a cobrança de despesas processuais pela


Gratuidade
Administração Pública.

É a exposição dos pressupostos de fato e de direito que


determinou a prática do ato administrativo.
Motivação
No ordenamento jurídico pátrio permite-se a motivação aliunde
que é a motivação que se baseia em processo administrativo ou
pareceres prévios.

A todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a


Duração Razoável razoável duração do processo e os meios que garantam a
celeridade de sua tramitação.

ATOS PROCESSUAIS

Forma Os atos do processo administrativo não dependem de forma

23
determinada, salvo disposição legal em contrário.

Por expressa disposição legal, que todas as páginas dos


processos serão numeradas sequencialmente e rubricadas e
que os atos do processo devem ser produzidos por escrito, em
vernáculo, com a data e o local de sua realização e a
assinatura da autoridade responsável.

Como regra serão realizados em dias úteis, no horário normal


de funcionamento da repartição. Porém, serão concluídos
Tempo depois do horário normal os atos já iniciados, cujo adiamento
prejudique o curso regular do procedimento ou cause danos ao
interessado ou à Administração.

Devem realizar-se, preferencialmente, na sede do órgão,


Lugar
cientificando-se o interessado se outro for o local de realização.

Inexistindo disposição específica, os atos devem ser praticados


no prazo de cinco dias, salvo motivo de força maior.

Começam a correr a partir da data da ciência, excluindo o dia


Prazo de início e incluindo o dia do vencimento.

O Projeto de Lei 2823/19 visa alterar a Lei do Processo


Administrativo Federal para determinar que os prazos passem
a ser contados em dias úteis.

Devem ser objeto de intimação todos os atos do processo que


resultem para o interessado a imposição de deveres, ônus,
Comunicação sanções ou restrição ao exercício de direitos e atividades.

Se for necessário o comparecimento do interessado, a


intimação deve dada com antecedência mínima de 3 dias úteis.

24
Pode ser realizada por: ciência no procedimento administrativo;
por telegrama; por via postal com aviso de recebimento; por
qualquer outro meio que assegure a certeza da ciência do
particular; ou por edital – caso os interessados forem
indeterminados, desconhecidos ou com domicílio indefinido.

A nulidade da intimação pode ser sanada com o


comparecimento do interessado.

DELEGAÇÃO E AVOCAÇÃO

A competência é o poder atribuído ao agente – por lei ou ato administrativo - para a prática
de ato.

Apesar de ser irrenunciável e intrasferível, permite-se a delegação e a avocação de


competências.

É a transferência de funções de um agente a outro, geralmente


de plano hierarquicamente inferior ou de mesma hierarquia, mas
também é possível nos casos em que não exista subordinação
hierárquica.

O ato de delegação é discricionário, revogável a qualquer


tempo e apenas transfere o exercício, eis que a titularidade
DELEGAÇÃO
permanece com quem delegou.

Edição de atos de caráter


normativo

Não podem ser objeto de Decisão de recursos


delegação: administrativos

Matérias de competência
exclusiva.

AVOCAÇÃO É ato pelo qual a autoridade hierarquicamente superior chama


25
para si o exercício das funções que a norma originalmente
atribuiu a um subordinado.

É medida de caráter excepcional, devendo ser feita apenas


temporariamente e por motivos relevantes devidamente
justificados. Também não é possível quando se tratar de
competência exclusiva do subordinado.

FASES DO PROCESSO

Se dá através de uma portaria que irá designar uma comissão


processante. Esta portaria pode se dar por provocação do
interessado ou ex officio, por interesse da Administração
Pública.

Quando decorrer de iniciativa do particular, a provocação deverá


ser feita por escrito – apenas em situações excepcionais poderá
ser feita verbalmente - e deve conter alguns dados obrigatórios
elencados no art. 6º da Lei 9.784/99: (i) indicação do órgão ou

INSTAURAÇÃO autoridade administrativa a que se dirige; (ii) a identificação do


interessado ou de quem o represente; (iii) o domicílio do
requerente ou local para recebimento de comunicações; (iv) a
formulação do pedido, com exposição dos fatos e de seus
fundamentos; e (v) a data e assinatura do requerente ou de seu
representante.

Admite-se que mais de um interessado formule pedidos


idênticos, em um único documento formal.

É a fase de produção de
provas
INQUÉRITO INSTRUÇÃO
A Administração Pública pode
proceder com a busca de

26
provas, mesmo sem
provocação do interessado.

O ônus da prova é distribuído


entre as partes. Cabendo a
prova da alegação a quem a
fez, salvo no caso de o
interessado alegar um fato e
as provas deste se
encontrarem em poder da
administração pública.

Os interessados terão o prazo

DEFESA máximo de 10 dias, para


manifestações

O órgão de instrução que não


for competente para emitir a
decisão final elaborará relatório
indicando o pedido inicial, o
conteúdo das fases do
RELATÓRIO
procedimento e formulará
proposta de decisão,
objetivamente justificada,
encaminhando o processo à
autoridade competente.

Antes do julgamento pode apresentado parecer, no prazo de 15 dias, por órgãos consultivos.
O parecer pode ser obrigatório – quando a lei exige que a consultoria jurídica elabora - ou
facultativo – quando o particular ou poder público requer um parecer.

27
Se o parecer for obrigatório, ele se divide em (i) vinculante: a lei dispõe os casos em que o
parecer será vinculante e nesses casos a autoridade deve seguir o mesmo entendimento do
documento elaborado; ou (ii) não vinculante: mesmo tendo que ser elaborado o parecer, a
autoridade não precisa seguir o que foi concluso no mesmo.

Sendo obrigatório e não vinculante: o processo poderá


prosseguir sem a emissão do parecer, inclusive com a decisão
final, sem prejuízo da responsabilização penal, civil e
Não sendo emitido o administrativa do agente que deu causa à não emissão do
parecer, dentro do prazo parecer devido, no prazo fixado por lei.
legal, situações podem
Sendo obrigatório e vinculante: o processo será paralisado até
ocorrer, dependendo da
a apresentação do mesmo, sem prejuízo da responsabilização
natureza deste:
civil, penal e administrativa do agente público que deu causa ao
atraso;

Sendo facultativo: o processo segue normalmente para


julgamento.

A autoridade competente terá o prazo – impróprio - de 30


dias, prorrogáveis, desde que justificadamente, por igual
JULGAMENTO
período, para proferir a decisão final no processo que deve ser
fundamentada.
MEIOS DE IMPUGNAÇÃO DA DECISÃO

O prazo para interposição de recursos administrativos, salvo


disposição de lei específica, é de 10 dias.

O recurso será encaminhado para a autoridade que proferiu a


RECURSO decisão como pedido de reconsideração6. Essa autoridade terá
o prazo de 5 dias para reconsiderar ou não, caso não haja
reconsideração, o recurso deverá ser encaminhado a autoridade

6
Vide questão 4
28
competente para julgar.

O não conhecimento do recurso não impede a Administração


de rever de ofício o ato ilegal, desde que não ocorrida
preclusão administrativa.

Não há vedação da reformatio in pejus

O limite de tramitação de um processo na esfera administrativa


é de 3 instâncias, se houver estrutura hierárquica para tanto.

É apresentada perante a própria autoridade que proferiu a


decisão. Não é considerada um recurso e pode ser apresentada

REVISÃO a qualquer tempo, desde que o pedido se baseie em fatos


novos.

Em sede de revisão é vedada a reformatio in pejus.

ANULAÇÃO, REVOGAÇÃO E CONVALIDAÇÃO


É o desfazimento do ato por questões de ilegalidade ou de
ilegitimidade.

Produz efeitos ex tunc.

Pode ser feita pela própria Administração – autotutela – de


ANULAÇÃO
ofício ou mediante provocação, ou pelo Poder Judiciário, apenas
mediante provocação.

Prazo de 5 anos para anular os atos administrativos ilegais, salvo


comprovada má-fé.

É a retirada de um ato válido do mundo jurídico por razões de


conveniência e oportunidade.

REVOGAÇÃO Produz efeitos ex nunc

Apenas se aplica aos atos discricionários

É ato privativo da Administração Pública

CONVALIDAÇÃO Conserto dos vícios sanáveis, pela convalidação dos atos. Os

29
sanáveis são aqueles presentes nos elementos competência
(exceto competência exclusiva e competência quanto à matéria)
e forma (exceto forma essencial à validade do ato).

Produz efeitos ex tunc

A decisão de convalidar ou não é ato discricionário da


Administração, porém se decidir não convalidar, o ato deve ser
anulado, eis que possui vício.

A convalidação e pode incidir em atos vinculados e


discricionários, sendo considerada controle de legalidade. Além
disso, não pode prejudicar terceiros nem causar lesão ao
interesse público.

PROCESSO ADMINISTRATIVO ELETRÔNICO

Através do Decreto nº 8.539/15, foram estabelecidas normas sobre o processo administrativo


eletrônico no âmbito dos órgãos e das entidades da administração pública federal direta,
autárquica e fundacional. Os Estados e os Municípios que queiram adotar o modelo devem
baixar as suas próprias normas.

A adoção do processo eletrônico é obrigatória, mas os atos processuais podem ser praticados
segundo as normas aplicáveis aos processos em papel, desde que posteriormente o
documento-base correspondente seja digitalizado.

EXTINÇÃO DO PROCESSO
O órgão da Administração Pública competente poderá declarar extinto o processo quando
exaurida sua finalidade ou o objeto da decisão se tornar impossível, inútil ou prejudicado por
fato superveniente, ou seja, a extinção ocorrer de ofício.
A manifestação de desistência do processo pelo interessado não gera, necessariamente,
extinção do feito, podendo a administração pública dar continuidade ao processo, uma vez
que este visa o interesse público.

30
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

(VUNESP – 2018 – PC-BA – Investigador de Polícia) Assinale a alternativa que corretamente


discorre sobre o processo administrativo.

A) No Direito brasileiro, há uma sistematização uniforme para o processo administrativo,


tal qual como existe para o processo judicial. Nela são fixadas regras sobre aspectos
gerais do processo administrativo, como competência, prazos, requisitos, entre outros.
B) A relação jurídica formada entre os agentes administrativos e as empresas para seleção
com vistas a futuro contrato administrativo materializa o processo administrativo de
licitação; a sequência dos atos e das fases previstas na lei constitui o procedimento
administrativo concernente àquele processo.
C) Os processos administrativos litigiosos são os de maior número e por meio deles se
concretiza o desempenho da função administrativa nos seus mais variados aspectos,
desde os mais simplórios até os mais complexos; neles não incide o princípio da ampla
defesa e do contraditório, diferentemente do processo judicial.
D) O princípio da inércia, que rege o processo judicial, é aplicado ao processo
administrativo: a relação processual administrativa é deflagrada por iniciativa da parte, a
Administração não atua de ofício, havendo tutela administrativa somente se o
interessado tomar providências para instaurar o processo.
E) Pelo princípio da verdade formal, o próprio administrador pode buscar as provas para
chegar à sua conclusão e para que o processo administrativo sirva realmente para
alcançar a verdade incontestável, e não apenas a que ressai de um procedimento
meramente material.

31
Comentário:

Gabarito: Letra “B”.

A) Incorreta. Ao contrário do que foi trazido no enunciado, não há uma sistematização


uniforme de regras e princípios no bojo do processo administrativo.
B) Correta.
C) Incorreta. Isso porque o direito ao contraditório e à ampla defesa estão garantidos
constitucionalmente do artigo 5o da CRFB.
D) Incorreta. Em regra, há o impulso oficial dos processos. Apenas excepcionalmente temos
a inércia administrativa.
E) Incorreta. Na verdade, o princípio é o da verdade material e não formal.

Questão 2

(CESPE – 2018 – PC-MA – Escrivão de Polícia Civil) A revisão, de ofício, pela administração
pública, de decisões sancionatórias aplicadas a servidor público por meio de regular processo
administrativo é

A) vedada, em razão da necessidade de provocação do servidor público.


B) permitida, ainda que tenha ocorrido a preclusão administrativa, em razão do princípio
da autotutela.
C) permitida, em decorrência do princípio da oficialidade.
D) permitida apenas se as alegações da revisão coincidirem com as suscitadas pela parte
no decorrer do processo.
E) vedada, em obediência ao princípio da economia processual.

Comentário:

32
Gabarito: Letra “C”.

É exatamente nesse sentido o artigo 174 da Lei 8112/90:

O processo disciplinar poderá ser revisto, a qualquer tempo, a pedido ou de ofício,


quando se aduzirem fatos novos ou circunstâncias suscetíveis de justificar a
inocência do punido ou a inadequação da penalidade aplicada.

Questão 3

(IBADE – 2017 – PC-AC – Escrivão de Polícia ) Quanto ao conceito de Direito Administrativo,


às responsabilidades dos servidores públicos civis, aos atos administrativos, ao controle da
Administração Pública e ao processo administrativo regido pela Lei n° 9.784/1999, é correto o
que se afirma em:

A) O Poder Judiciário não pode praticar atos administrativos , mas apenas atos da
administração.
B) O Direito Administrativo é um conjunto de regras e princípios que confere poderes
desfrutáveis pelo Estado para a consecução do bem comum e da finalidade pública.
Esta concepção, portanto, não compreende deveres da Administração em favor dos
administrados que, para este ramo do direito, são objetos da relação jurídico-
administrativa.
C) O administrado tem o direito de ser tratado com respeito pelas autoridades e
servidores. Contudo, este direito não implica na possibilidade de exigência da
Administração, pelo administrado, de um dever de facilitação do exercício de seus
direitos.
D) Os servidores públicos civis podem, como regra, ser responsabilizados, de modo
concomitante, nas esferas civil, criminal e administrativa.
E) O controle da Administração Pública no Brasil é realizado por meio do sistema do
contencioso administrativo.

33
Comentário:

Gabarito: Letra “D”.

A) Incorreta. Não obstante os atos administrativos sejam os atos típicos do Poder


Executivo, não podemos olvidar que o Judiciário e o Legislativo também
editam atos administrativos.
B) Incorreta. O Direito Administrativo compreende sim os deveres da
Administração para com os administrados.
C) Incorreta. Isso porque o administrado tem o direito de exigir da Administração
a facilitação do exercício de seus direitos.
D) Correta, nos termos do artigo 121 da Lei 8112/90.
E) Incorreta, pois o controle administrativo é realizado por meio do sistema
inglês.

Questão 4

(IBADE – 2017 – PC-AC – Escrivão de Polícia Civil) Relativamente ao tema da competência


administrativa no contexto da Lei n° 9.784/1999, há afirmativa correta em:

A) É permitida a avocação temporária de competência atribuída a órgão hierarquicamente


inferior. Para tanto, basta que a autoridade edite o ato administrativo avocatório no
Diário Oficial, pois a dispensa da fundamentação, quanto aos motivos, decorre do
próprio dever-poder hierárquico.
B) A delegação de competência é vedada quando tem por razão circunstâncias de índole
econômica ou jurídica.

34
C) É vedada, como regra, a delegação de competência dos órgãos colegiados aos
respectivos presidentes, pois seria um caso de violação do princípio da colegialidade.
D) Não podem ser objeto de delegação de competência a edição de atos de caráter
normativo, a decisão de recursos administrativos e as matérias de competência exclusiva
de órgão ou autoridade.
E) As decisões adotadas por delegação devem mencionar explicitamente esta qualidade e
considerar-se-ão editadas pela autoridade delegante.

Comentário:

Gabarito: Letra “D”.

Com efeito, a letra “D” possui total respaldo no artigo 13 da Lei 9784/99, motivo
pelo qual deve ser considerada como correta.

Questão 5

(IBADE) Sobre o processo administrativo e as disposições constantes da Lei n° 9.784/1999, é


correto afirmar:

A) O recurso administrativo apenas tem cabimento em face de questões de legalidade. As


questões de mérito devem ser discutidas judicialmente.
B) Salvo disposição legal em contrário, o recurso administrativo tem efeito suspensivo.
C) Salvo disposição legal em sentido contrário, o recurso administrativo tramitará no
máximo por duas instâncias administrativas.

35
D) Uma das diferenças do instituto da revisão do processo administrativo para o instituto
do recurso administrativo, é que na revisão do processo não poderá resultar
agravamento da sanção anteriormente imposta, enquanto o recurso administrativo
poderá resultar em agravamento da situação do recorrente.
E) Um dos critérios a ser observado nos processos administrativos é o da interpretação da
norma administrativa da forma que melhor garanta o atendimento do fim público a que
se dirige, permitindo-se, inclusive, aplicação retroativa de nova interpretação.

Comentário:

Gabarito: Letra “D”.

Com efeito, o agravamento da situação do recorrente não é permitido no âmbito da


revisão do processo administrativo. Entretanto, quando houver um simples recurso
administrativo será possível sim a piora do cenário para o recorrente (artigo 64 da Lei
9784/99).

Questão 6

(IBADE – 2017 – PC-AC – Agente de Polícia Civil) Relativamente ao tema da competência


administrativa no contexto da Lei n° 9.784/1999, há afirmativa correta em:

A) As decisões adotadas por delegação devem mencionar explicitamente esta qualidade e


considerar-se-ão editadas pela autoridade delegante.
B) E vedada, como regra, a delegação de competência dos órgãos colegiados aos
respectivos presidentes, pois seria um caso de violação do princípio da colegialidade.
C) Não podem ser objeto de delegação de competência a edição de atos de caráter
normativo, a decisão de recursos administrativos e as matérias de competência exclusiva
de órgão ou autoridade.
D) A delegação de competência é vedada quando tem por razão circunstâncias de índole
econômica ou jurídica.

36
E) É permitida a avocação temporária de competência atribuída a órgão hierarquicamente
inferior. Para tanto, basta que a autoridade edite o ato administrativo avocatório no
Diário Oficial, pois a dispensa da fundamentação, quanto aos motivos, decorre do
próprio dever-poder hierárquico.

Comentário:

Gabarito: Letra “C”.

A) Incorreta. Nesse caso as decisões se reputam prolatadas pela autoridade


delegada e não pela autoridade delegante.

B) Incorreta. Na verdade, a regra geral é de que é possível a delegação de


competência pelos órgãos colegiados aos seus respectivos presidentes.

C) Correta, nos termos do artigo 13 da Lei 9784/99.

D) Incorreta. Isso porque a delegação de competências é autorizada em razão de


circunstâncias de índole técnica, social, econômica, jurídica ou territorial.

E) Incorreta. Nesse caso, é necessário que o ato seja devidamente justificado.

37
Questão 7

(IBADE – 2019 – PC-AC – Agente de Polícia Civil) Sobre o processo administrativo e as

disposições constantes da Lei n° 9.784/1999, é correto afirmar:

A) Salvo disposição legal em contrário, o recurso administrativo tem efeito suspensivo.


B) Um dos critérios a ser observado nos processos administrativos é o da interpretação da
norma administrativa da forma que melhor garanta o atendimento do fim público a que
se dirige, permitindo-se, inclusive, aplicação retroativa de nova interpretação.
C) Uma das diferenças do instituto da revisão do processo administrativo para o instituto
do recurso administrativo, é que na revisão do processo não poderá resultar
agravamento da sanção anteriormente imposta, enquanto o recurso administrativo
poderá resultar em agravamento da situação do recorrente.
D) Salvo disposição legal em sentido contrário, o recurso administrativo tramitará no
máximo por duas instâncias administrativas.
E) O recurso administrativo apenas tem cabimento em face de questões de legalidade. As
questões de mérito devem ser discutidas judicialmente.

Comentário:

Gabarito: Letra “C”.

A) Incorreto. De acordo com a Lei 9784/99, como regra geral os recursos


administrativos não possuem efeito suspensivo.
B) Incorreto. Isso porque não é possível a aplicação retroativa de novas
interpretações, por questões de segurança jurídica.
C) Correta.
D) Incorreta, pois o recurso administrativo deve tramitar por no máximo três
instâncias, e não duas.

38
E) Incorreto. O artigo 56 da Lei 9784/99 estabelece o cabimento dos recursos
administrativos por legalidade ou mérito.

Questão 8

(CESPE – 2013 – PC-DF – Escrivão de Polícia) Julgue o item subsequente, acerca de


princípios e serviços públicos.

Os princípios constitucionais que norteiam a administração pública podem ser ampliados por
outros dispositivos normativos, a exemplo da Lei n.º 9.784/1999, que explicitou os seguintes
princípios como norteadores da administração pública: legalidade, finalidade, motivação,
razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica,
interesse público e eficiência.

( ) Certo

( ) Errado.

Comentário:

Gabarito: Certo.

A questão está em perfeita consonância com o artigo 2o da Lei 9784/99, senão


vejamos.

"Art. 2o A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade,


finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa,

contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência."

39
Questão 9

(CESPE – 2011- PC-ES – Escrivão de Polícia) Os princípios que informam o processo


administrativo são os mesmos que informam o processo judicial, aplicando-se, com a mesma
intensidade, em um e em outro processo.

( ) Certo

( ) Errado.

Comentário:

Gabarito: Errado.

Na verdade, o processo administrativo não se confunde com o processo judicial.


Por exemplo: enquanto no processo administrativo há o a oficialidade, no judicial há a inércia;
enquanto no processo administrativo há a informalidade, no judicial há a formalidade, etc.

Questão 10

(CESPE – 2011 – PC-ES – Escrivão de Polícia) Terão prioridade na tramitação do processo


administrativo, em qualquer órgão ou instância, em que figurem como partes ou interessados,
pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, pessoas portadoras de deficiência, física ou
mental, e portadores de doenças graves.

( ) Certo

( ) Errado

Comentário:

40
Gabarito: Certo

LEI 9.784

Art. 69. Os processos administrativos específicos continuarão a reger-se por lei própria,
aplicando-se-lhes apenas subsidiariamente os preceitos desta Lei.

Art. 69-A. Terão prioridade na tramitação, em qualquer órgão ou instância, os procedimentos


administrativos em que figure como parte ou interessado:

I - pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos;

II - pessoa portadora de deficiência, física ou mental;

III –

IV - pessoa portadora de tuberculose ativa, esclerose múltipla, neoplasia maligna, hanseníase,


paralisia irreversível e incapacitante, cardiopatia grave, doença de Parkinson, espondiloartrose
anquilosante, nefropatia grave, hepatopatia grave, estados avançados da doença de Paget
(osteíte deformante), contaminação por radiação, síndrome de imunodeficiência adquirida, ou
outra doença grave, com base em conclusão da medicina especializada, mesmo que a doença
tenha sido contraída após o início do processo.

41
GABARITO

Questão 1 - B

Questão 2 - C

Questão 3 - D

Questão 4 - D

Questão 5 - D

Questão 6 - C

Questão 7 - C

Questão 8 - CERTO

Questão 9 – ERRADO

Questão 10 - CERTO

42
QUESTÃO DESAFIO

Os estados e municípios podem legislar sobre processo


administratvio (PA)? A lei 9784/99 se aplica aos outros entes,

inclusive para anular seus próprios atos nulos? Qual o prazo


prescricional caso o estado ou município não tenha uma lei de
PA?

Máximo de 5 linhas

43
GABARITO DA QUESTÃO DESAFIO

Sim, os estados e municípios têm competência para criar suas próprias leis de processo
administrativo. Segundo a jurisprudência, caso não o façam, é possível a aplicação, por
analogia, da lei federal 9784. Inclusive, aplica-se o mesmo prazo prescricional para
anulação dos atos eivados de vícios.

Você deve ter abordado necessariamente os seguintes itens em sua resposta:

 Estado e municípios podem legislar sobre PA

Segundo Ana Cláudia, poderão os Estados e Municípios da federação instituir seu próprio
regramento. E se o Estado “X” não possui sua própria lei de processo administrativo.

Segundo a jurisprudência do STJ, deve-se, nesse caso, fazer o uso, por analogia, da lei
federal. Segue o julgado:

Administrativo. Servidor público. Lei n.º 9.784/1999. Aplicação subsidiária no


âmbito estadual. Possibilidade. 1. A jurisprudência pacífica do Superior Tribunal de
Justiça orienta-se no sentido de ser possível a aplicação subsidiária da Lei n.º
9.784/1999 no âmbito estadual (STJ, 6.ª Turma, AgRg no Ag 935624/RJ, 21.02.2008).

Rafael Rezende acrescenta que "A competência para legislar sobre processo administrativo
é reconhecida a todos os Entes federados. Trata-se de competência legislativa autônoma,
inexistindo competência da União para elaboração de normas gerais sobre a matéria."

Fontes:

OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo / Rafael Carvalho


Rezende Oliveira. – 8. ed. – Rio de Janeiro: Método, 2020.p.554.

CAMPOS, Ana Cláudia Direito Administrativo Facilitado / Ana Cláudia Campos. São Paulo:
Método; Rio de Janeiro: Forense, 2019.p.1040.

44
 Aplica-se prazo prescricional de 5 anos

Como dito, hoje é pacífico que os estado e municípios que não tiverem lei própria de
regramento do processo administrativo poderão utilizar a lei 9784.

A supramencionada lei tem um artigo muito importante que trata do prazo prescricional que a
Administarção tem para anular atos que impliquem efeitos favoráveis aos particulares, quando
eivados de vício insanável, vejamos:

"Art. 54. O direito da Administração de anular os atos administrativos de que decorram efeitos
favoráveis para os destinatários decai em cinco anos, contados da data em que foram
praticados, salvo comprovada má-fé."

O que ocorre se o ente federativo não tiver lei própria? O STJ sumulou verbete para pôr fim a
qualquer dúvida:

Súmula 633-STJ: A Lei nº 9.784/99, especialmente no que diz respeito ao prazo decadencial
para a revisão de atos administrativos no âmbito da Administração Pública federal, pode ser
aplicada, de forma subsidiária, aos estados e municípios, se inexistente norma local e
específica que regule a matéria. STJ. 1ª Seção. Aprovada em 12/06/2019, DJe 17/06/2019.

Ou seja, "caso a não exista lei no estado ou município, será aplicável o prazo de 5 anos para
anular esses atos."

Fonte: OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo / Rafael Carvalho
Rezende Oliveira. – 8. ed. – Rio de Janeiro: Método, 2020.p.554.

45
LEGISLAÇÃO COMPILADA

Processo Administrativo:

 Lei nº 9.784/99: íntegra

Inafastabilidade de jurisdição:

 CRFB/88: artigo 5°, XXXV

Contraditório e Ampla defesa:


 CRFB/88: artigo 5º, LV
 STF: súmulas vinculantes nº 5 e 21
 STJ: sumula 373

Duração razoável do processo:

 CRFB/88: artigo 5º, LXXVIII

Processo Administrativo Eletrônico

 Decreto nº 8.539/15: íntegra

46
JURISPRUDÊNCIA

Processo Administrativo:

 RE 1083955 AgR, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em


28/05/2019, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-122 DIVULG 06-06-2019 PUBLIC 07-06-2019

AGRAVO INTERNO EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO. DIREITO ECONÔMICO E


ADMINISTRATIVO. CONCORRÊNCIA. PRÁTICA LESIVA TENDENTE A ELIMINAR
POTENCIALIDADE CONCORRENCIAL DE NOVO VAREJISTA. ANÁLISE DO MÉRITO DO ATO
ADMINISTRATIVO. IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES. INCURSIONAMENTO NO CONJUNTO
FÁTICO-PROBATÓRIO DOS AUTOS. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 279 DO STF. AGRAVO INTERNO
DESPROVIDO. 1. A capacidade institucional na seara regulatória, a qual atrai controvérsias de
natureza acentuadamente complexa, que demandam tratamento especializado e qualificado,
revela a reduzida expertise do Judiciário para o controle jurisdicional das escolhas políticas e
técnicas subjacentes à regulação econômica, bem como de seus efeitos sistêmicos. 2. O dever
de deferência do Judiciário às decisões técnicas adotadas por entidades reguladoras repousa
na (i) falta de expertise e capacidade institucional de tribunais para decidir sobre intervenções
regulatórias, que envolvem questões policêntricas e prognósticos especializados e (ii)
possibilidade de a revisão judicial ensejar efeitos sistêmicos nocivos à coerência e dinâmica
regulatória administrativa. 3. A natureza prospectiva e multipolar das questões regulatórias se
diferencia das demandas comumente enfrentadas pelo Judiciário, mercê da própria lógica

47
inerente ao processo judicial. 4. A Administração Pública ostenta maior capacidade para avaliar
elementos fáticos e econômicos ínsitos à regulação. Consoante o escólio doutrinário de Adrian
Vermeule, o Judiciário não é a autoridade mais apta para decidir questões policêntricas de
efeitos acentuadamente complexos (VERMEULE, Adrian. Judging under uncertainty: An
institutional theory of legal interpretation. Cambridge: Harvard University Press, 2006, p. 248–
251). 5. A intervenção judicial desproporcional no âmbito regulatório pode ensejar
consequências negativas às iniciativas da Administração Pública. Em perspectiva pragmática, a
invasão judicial ao mérito administrativo pode comprometer a unidade e coerência da política
regulatória, desaguando em uma paralisia de efeitos sistêmicos acentuadamente negativos. 6.
A expertise técnica e a capacidade institucional do CADE em questões de regulação
econômica demanda uma postura deferente do Poder Judiciário ao mérito das decisões
proferidas pela Autarquia. O controle jurisdicional deve cingir-se ao exame da legalidade ou
abusividade dos atos administrativos, consoante a firme jurisprudência desta Suprema Corte.
Precedentes: ARE 779.212-AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, Primeira Turma, DJe de 21/8/2014;
RE 636.686-AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, DJe de 16/8/2013; RMS 27.934
AgR, Rel. Min. Teori Zavascki, Segunda Turma, DJe de 3/8/2015; ARE 968.607 AgR, Rel. Min.
Luiz Fux, Primeira Turma, DJe de 15/9/2016; RMS 24.256, Rel. Min. Ilmar Galvão, DJ de
18/10/2002; RMS 33.911, Rel. Min. Cármen Lúcia, Segunda Turma, DJe de 20/6/2016. 7. Os
controles regulatórios, à luz do consequencialismo, são comumente dinâmicos e imprevisíveis.
Consoante ressaltado por Cass Sustein, “as normas regulatórias podem interagir de maneira
surpreendente com o mercado, com outras normas e com outros problemas. Consequências
imprevistas são comuns. Por exemplo, a regulação de novos riscos pode exacerbar riscos
antigos (...). As agências reguladoras estão muito melhor situadas do que os tribunais para
entender e combater esses efeitos” (SUSTEIN, Cass R., "Law and Administration after Chevron”.
Columbia Law Review, v. 90, n. 8, p. 2.071-2.120, 1990, p. 2.090). 8. A atividade regulatória
difere substancialmente da prática jurisdicional, porquanto: “a regulação tende a usar meios de
controle ex ante (preventivos), enquanto processos judiciais realizam o controle ex post
(dissuasivos); (...) a regulação tende a utilizar especialistas (...) para projetar e implementar
regras, enquanto os litígios judiciais são dominados por generalistas” (POSNER, Richard A.
48
"Regulation (Agencies) versus Litigation (Courts): an analytical framework". In: KESSLER, Daniel
P. (Org.), Regulation versus litigation: perspectives from economics and law, Chicago: The
University of Chicago Press, 2011, p. 13). 9. In casu, o Conselho Administrativo de Defesa
Econômica – CADE, após ampla análise do conjunto fático e probatório dos autos do processo
administrativo, examinou circunstâncias fáticas e econômicas complexas, incluindo a
materialidade das condutas, a definição do mercado relevante e o exame das consequências
das condutas das agravantes no mercado analisado. No processo, a Autarquia concluiu que a
conduta perpetrada pelas agravantes se enquadrava nas infrações à ordem econômica
previstas nos artigos 20, I, II e IV, e 21, II, IV, V e X, da Lei 8.884/1994 (Lei Antitruste). 10. O
Conselho Administrativo de Defesa Econômica – CADE detém competência legalmente
outorgada para verificar se a conduta de agentes econômicos gera efetivo prejuízo à livre
concorrência, em materialização das infrações previstas na Lei 8.884/1994 (Lei Antitruste). 11.
As sanções antitruste, aplicadas pelo CADE por força de ilicitude da conduta empresarial,
dependem das consequências ou repercussões negativas no mercado analisado, sendo certo
que a identificação de tais efeitos anticompetitivos reclama expertise, o que, na doutrina,
significa que “é possível que o controle da “correção” de uma avaliação antitruste ignore estas
decisões preliminares da autoridade administrativa, gerando uma incoerência regulatória. Sob
o pretexto de “aplicação da legislação”, os tribunais podem simplesmente desconsiderar estas
complexidades que lhes são subjacentes e impor suas próprias opções” (JORDÃO, Eduardo.
Controle judicial de uma administração pública complexa: a experiência estrangeira na
adaptação da intensidade do controle. São Paulo: Malheiros – SBDP, 2016, p. 152-155). 12. O
Tribunal a quo reconheceu a regularidade do procedimento administrativo que impusera às
recorrentes condenação por práticas previstas na Lei 8.884/1994 (Lei Antitruste), razão pela
qual divergir do entendimento firmado no acórdão recorrido demandaria o reexame dos fatos
e provas, o que não se revela cognoscível em sede de recurso extraordinário, face ao óbice
erigido pela Súmula 279 do STF. 13. Agravo regimental a que se NEGA PROVIMENTO.

49
 Órgão Julgador: STJ SEGUNDA TURMA, Data do Julgamento; 22/09/201S. Data da
Publicação/Fonte: DJe 05/10/2015

CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE


SEGURANÇA, SERVIDOR PÚBLICO. PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR.
INDEPENDÊNCIA ENTRE AS INSTÂNCIAS PENAL E ADMINISTRATIVA. RECURSO NÃO PROVIDO.
1. Trata-se de recurso ordinário em mandado de segurança interposto contra acórdão
proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado do Mato Grosso do Sul. 2. O Processo
Administrativo Disciplinar a que se submeteu o recorrente visou apurar a ocorrência de ilícito
Administrativo no desempenho de suas atividades, de tal modo que independe o resultado da
prova colhida no feito criminal e seu resultado, ante a independência de instância e a
existência de falta residual 3. Ainda que se alegue que houve utilização de prova criminal
emprestada para embasar a decisão administrativa, posteriormente anulada no âmbito
criminal, merece atenção o fato de que a apuração não se resumiu às referidas provas,
conforme ficou assentado no acórdão recorrido. 4. É firme a jurisprudência desta Corte quanto
à independência e autonomia das instâncias penal, civil e administrativa, razão pela qual o
reconhecimento de transgressão disciplinar e a aplicação da punição respectiva não
dependem do julgamento no âmbito criminal, nem obriga a Administração a aguardar o
desfecho dos demais processos. Somente haverá repercussão, no processo administrativo,
quando a instância penal manifestar-se pela inexistência material do fato ou pela negativa de
sua autoria, não sendo o caso dos autos. Precedentes. 5. Recurso a que se nega provimento.
STJ, RMS 451B2/MS. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA 2014/0058138-5.
Relatoria: Ministro OG FERNANDES {1139}.

 RE 1083955 AgR, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em


28/05/2019, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-122 DIVULG 06-06-2019 PUBLIC 07-06-2019

50
AGRAVO INTERNO EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO. DIREITO ECONÔMICO E
ADMINISTRATIVO. CONCORRÊNCIA. PRÁTICA LESIVA TENDENTE A ELIMINAR
POTENCIALIDADE CONCORRENCIAL DE NOVO VAREJISTA. ANÁLISE DO MÉRITO DO ATO
ADMINISTRATIVO. IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES. INCURSIONAMENTO NO CONJUNTO
FÁTICO-PROBATÓRIO DOS AUTOS. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 279 DO STF. AGRAVO INTERNO
DESPROVIDO. 1. A capacidade institucional na seara regulatória, a qual atrai controvérsias de
natureza acentuadamente complexa, que demandam tratamento especializado e qualificado,
revela a reduzida expertise do Judiciário para o controle jurisdicional das escolhas políticas e
técnicas subjacentes à regulação econômica, bem como de seus efeitos sistêmicos. 2. O dever
de deferência do Judiciário às decisões técnicas adotadas por entidades reguladoras repousa
na (i) falta de expertise e capacidade institucional de tribunais para decidir sobre intervenções
regulatórias, que envolvem questões policêntricas e prognósticos especializados e (ii)
possibilidade de a revisão judicial ensejar efeitos sistêmicos nocivos à coerência e dinâmica
regulatória administrativa. 3. A natureza prospectiva e multipolar das questões regulatórias se
diferencia das demandas comumente enfrentadas pelo Judiciário, mercê da própria lógica
inerente ao processo judicial. 4. A Administração Pública ostenta maior capacidade para avaliar
elementos fáticos e econômicos ínsitos à regulação. Consoante o escólio doutrinário de Adrian
Vermeule, o Judiciário não é a autoridade mais apta para decidir questões policêntricas de
efeitos acentuadamente complexos (VERMEULE, Adrian. Judging under uncertainty: An
institutional theory of legal interpretation. Cambridge: Harvard University Press, 2006, p. 248–
251). 5. A intervenção judicial desproporcional no âmbito regulatório pode ensejar
consequências negativas às iniciativas da Administração Pública. Em perspectiva pragmática, a
invasão judicial ao mérito administrativo pode comprometer a unidade e coerência da política
regulatória, desaguando em uma paralisia de efeitos sistêmicos acentuadamente negativos. 6.
A expertise técnica e a capacidade institucional do CADE em questões de regulação
econômica demanda uma postura deferente do Poder Judiciário ao mérito das decisões
proferidas pela Autarquia. O controle jurisdicional deve cingir-se ao exame da legalidade ou
abusividade dos atos administrativos, consoante a firme jurisprudência desta Suprema Corte.
Precedentes: ARE 779.212-AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, Primeira Turma, DJe de 21/8/2014;
51
RE 636.686-AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, DJe de 16/8/2013; RMS 27.934
AgR, Rel. Min. Teori Zavascki, Segunda Turma, DJe de 3/8/2015; ARE 968.607 AgR, Rel. Min.
Luiz Fux, Primeira Turma, DJe de 15/9/2016; RMS 24.256, Rel. Min. Ilmar Galvão, DJ de
18/10/2002; RMS 33.911, Rel. Min. Cármen Lúcia, Segunda Turma, DJe de 20/6/2016. 7. Os
controles regulatórios, à luz do consequencialismo, são comumente dinâmicos e imprevisíveis.
Consoante ressaltado por Cass Sustein, “as normas regulatórias podem interagir de maneira
surpreendente com o mercado, com outras normas e com outros problemas. Consequências
imprevistas são comuns. Por exemplo, a regulação de novos riscos pode exacerbar riscos
antigos (...). As agências reguladoras estão muito melhor situadas do que os tribunais para
entender e combater esses efeitos” (SUSTEIN, Cass R., "Law and Administration after Chevron”.
Columbia Law Review, v. 90, n. 8, p. 2.071-2.120, 1990, p. 2.090). 8. A atividade regulatória
difere substancialmente da prática jurisdicional, porquanto: “a regulação tende a usar meios de
controle ex ante (preventivos), enquanto processos judiciais realizam o controle ex post
(dissuasivos); (...) a regulação tende a utilizar especialistas (...) para projetar e implementar
regras, enquanto os litígios judiciais são dominados por generalistas” (POSNER, Richard A.
"Regulation (Agencies) versus Litigation (Courts): an analytical framework". In: KESSLER, Daniel
P. (Org.), Regulation versus litigation: perspectives from economics and law, Chicago: The
University of Chicago Press, 2011, p. 13). 9. In casu, o Conselho Administrativo de Defesa
Econômica – CADE, após ampla análise do conjunto fático e probatório dos autos do processo
administrativo, examinou circunstâncias fáticas e econômicas complexas, incluindo a
materialidade das condutas, a definição do mercado relevante e o exame das consequências
das condutas das agravantes no mercado analisado. No processo, a Autarquia concluiu que a
conduta perpetrada pelas agravantes se enquadrava nas infrações à ordem econômica
previstas nos artigos 20, I, II e IV, e 21, II, IV, V e X, da Lei 8.884/1994 (Lei Antitruste). 10. O
Conselho Administrativo de Defesa Econômica – CADE detém competência legalmente
outorgada para verificar se a conduta de agentes econômicos gera efetivo prejuízo à livre
concorrência, em materialização das infrações previstas na Lei 8.884/1994 (Lei Antitruste). 11.
As sanções antitruste, aplicadas pelo CADE por força de ilicitude da conduta empresarial,
dependem das consequências ou repercussões negativas no mercado analisado, sendo certo
52
que a identificação de tais efeitos anticompetitivos reclama expertise, o que, na doutrina,
significa que “é possível que o controle da “correção” de uma avaliação antitruste ignore estas
decisões preliminares da autoridade administrativa, gerando uma incoerência regulatória. Sob
o pretexto de “aplicação da legislação”, os tribunais podem simplesmente desconsiderar estas
complexidades que lhes são subjacentes e impor suas próprias opções” (JORDÃO, Eduardo.
Controle judicial de uma administração pública complexa: a experiência estrangeira na
adaptação da intensidade do controle. São Paulo: Malheiros – SBDP, 2016, p. 152-155). 12. O
Tribunal a quo reconheceu a regularidade do procedimento administrativo que impusera às
recorrentes condenação por práticas previstas na Lei 8.884/1994 (Lei Antitruste), razão pela
qual divergir do entendimento firmado no acórdão recorrido demandaria o reexame dos fatos
e provas, o que não se revela cognoscível em sede de recurso extraordinário, face ao óbice
erigido pela Súmula 279 do STF. 13. Agravo regimental a que se NEGA PROVIMENTO.

 STJ, RMS 451B2/MS. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA


2014/0058138-5. Relatoria: Ministro OG FERNANDES {1139}. Órgão Julgador: STJ
SEGUNDA TURMA, Data do Julgamento; 22/09/201S. Data da Publicação/Fonte: DJe
05/10/2015

CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE


SEGURANÇA, SERVIDOR PÚBLICO. PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR.
INDEPENDÊNCIA ENTRE AS INSTÂNCIAS PENAL E ADMINISTRATIVA. RECURSO NÃO PROVIDO.
1. Trata-se de recurso ordinário em mandado de segurança interposto contra acórdão
proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado do Mato Grosso do Sul. 2. O Processo
Administrativo Disciplinar a que se submeteu o recorrente visou apurar a ocorrência de ilícito
Administrativo no desempenho de suas atividades, de tal modo que independe o resultado da
prova colhida no feito criminal e seu resultado, ante a independência de instância e a
existência de falta residual 3. Ainda que se alegue que houve utilização de prova criminal

53
emprestada para embasar a decisão administrativa, posteriormente anulada no âmbito
criminal, merece atenção o fato de que a apuração não se resumiu às referidas provas,
conforme ficou assentado no acórdão recorrido. 4. É firme a jurisprudência desta Corte quanto
à independência e autonomia das instâncias penal, civil e administrativa, razão pela qual o
reconhecimento de transgressão disciplinar e a aplicação da punição respectiva não
dependem do julgamento no âmbito criminal, nem obriga a Administração a aguardar o
desfecho dos demais processos. Somente haverá repercussão, no processo administrativo,
quando a instância penal manifestar-se pela inexistência material do fato ou pela negativa de
sua autoria, não sendo o caso dos autos. Precedentes. 5. Recurso a que se nega provimento.

54
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARVALHO FILHO, José dos Santos. MANUAL DE DIREITO ADMINSITRAVO. 30 Ed. São
Paulo: Atlas, 2016.

CARVALHO, Matheus. MANUAL DE DIREITO ADMINSITRAVO. 3 ed. Salvador: JusPODIVM,


2016.

MAZZA, Alexandre. MANUAL DE DIREITO ADMINSITRAVO – 9. ed. – São Paulo: Saraiva


Educação, 2019.

OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende. CURSO DE DIREITO ADMINISTRATIVO. 5 ed. Rio de


Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2017.

PIETRO, Maria Sylvia Zanella Di. DIREITO ADMINISTRATIVO. 32. ed. rev. atual e ampl. – Rio
de Janeiro: Forense, 2019.

55
CARREIRAS POLICIAIS

Direito Administrativo
Capítulo 11
SUMÁRIO
DIREITO ADMINISTRATIVO ........................................................................................................................................... 4

1. Agentes Públicos ....................................................................................................................................................... 4

1.1 Classificação de Agentes.................................................................................................................................... 4

1.1.1 Agentes Políticos ................................................................................................................................................... 4

1.1.2 Particulares em colaboração ............................................................................................................................ 5

1.1.3 Servidores estatais ................................................................................................................................................ 6

1.2 Emprego público, Cargo Público e Função pública............................................................................... 7

1.2.1 Emprego Público ................................................................................................................................................... 7

1.2.2 Cargo Público ......................................................................................................................................................... 7

1.2.3 Função Pública ....................................................................................................................................................... 9

1.3 Ingresso no serviço Público .............................................................................................................................. 9

1.3.1 Aprovação em concurso público de provas ou provas e títulos ..................................................... 9

1.3.2 Nacionalidade brasileira .................................................................................................................................. 12

1.3.3 Gozo dos direitos políticos ............................................................................................................................ 12

1.3.4 Quitação eleitoral e militar ............................................................................................................................ 12

1.3.5 Nível de escolaridade exigido para o cargo .......................................................................................... 13

1.3.6 Idade mínima de 18 anos .............................................................................................................................. 13

1.3.7 Aptidão física e mental para exercício do cargo ................................................................................. 13

1.3.8 Comprovação de atividade jurídica ........................................................................................................... 13

1.4 Estabilidade ........................................................................................................................................................... 14

1.5 Estágio Probatório ............................................................................................................................................. 15

1.6 Vitaliciedade: ........................................................................................................................................................ 16

1
1.7 Provimento ............................................................................................................................................................ 16

1.7.1 Provimento Originário...................................................................................................................................... 16

1.7.2 Provimento Derivado ........................................................................................................................................ 17

1.8 Vacância ................................................................................................................................................................. 20

1.9 Acumulação de cargos .................................................................................................................................... 21

1.10 Deslocamento ...................................................................................................................................................... 22

1.10.1 Remoção ................................................................................................................................................................ 22

1.10.2 Redistribuição ...................................................................................................................................................... 23

1.11 Remuneração ....................................................................................................................................................... 23

1.12 Teto Remuneratório .......................................................................................................................................... 26

1.13 Subsídio .................................................................................................................................................................. 27

1.14 Vantagens .............................................................................................................................................................. 28

1.14.1 Indenizações ......................................................................................................................................................... 28

1.14.2 Gratificações ......................................................................................................................................................... 30

1.14.3 Adicionais .............................................................................................................................................................. 31

1.15 Ausências do servidor ...................................................................................................................................... 32

1.15.1 Férias........................................................................................................................................................................ 32

1.15.2 Licenças .................................................................................................................................................................. 33

1.16 Afastamento ......................................................................................................................................................... 36

1.16.1 Serviço em outro órgão .................................................................................................................................. 36

1.16.2 Mandato Eletivo .................................................................................................................................................. 36

1.16.3 Estudo ou missão de interesse público no exterior ........................................................................... 37

1.16.4 Pós-Graduação strictu senso no país ........................................................................................................ 38

1.17 Concessões............................................................................................................................................................ 38

2
1.18 Regime Disciplinar ............................................................................................................................................. 39

1.18.1 Advertência: .......................................................................................................................................................... 40

1.18.2 Suspensão: ............................................................................................................................................................ 40

1.18.3 Destituição de cargo em comissão ou função de confiança: ........................................................ 41

1.18.4 Demissão................................................................................................................................................................ 42

1.18.5 Cassação de aposentadoria e disponibilidade: ..................................................................................... 42

1.19 Processo Administrativo Disciplinar ........................................................................................................... 42

QUADRO SINÓTICO ...................................................................................................................................................... 45

QUESTÕES COMENTADAS ........................................................................................................................................ 61

GABARITO ........................................................................................................................................................................... 71

LEGISLAÇÃO COMPILADA............................................................................................................................................ 76

JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................................................................. 77

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................................. 86

3
DIREITO ADMINISTRATIVO

Capítulo 11

1. Agentes Públicos

Pelo sumário, você, caro leitor, já deve ter percebido que esse é um tema muito profundo.
E com efeito, é muito importante para as provas do seu concurso. A partir da nossa análise
minuciosa, pudemos fazer um levantamento de dezenas de questões sobre este tema nas
provas de agente, escrivão e investigador de polícia nos últimos anos. Portanto, não se
esqueça: leia com muita atenção, grife e, ao final, resolva todas as questões.

Vamos juntos!

1.1 Classificação de Agentes

A expressão agente público é bastante ampla e abarca qualquer pessoa que age
em nome do Estado, independentemente de vínculo jurídico. Os agentes públicos dividem-se
em:

1.1.1 Agentes Políticos

Atuam no exercício da função política do Estado, ou seja, têm vínculo político. São
agentes políticos: (i) os detentores de mandato eletivo; (ii) os Secretários e Ministros de
Estado; (iii) os membros da magistratura; e (iv) os membros do Ministério Público.

Em relação aos membros da magistratura e do Ministério Público, a doutrina


divergia se os mesmos enquadravam-se nos agentes políticos, mas o STF se manifestou no
sentido que eles são agentes políticos.

4
Já em relação aos Membros do Tribunal de Contas, o Supremo Tribunal Federal já
se pronunciou acerca do tema, dispondo que eles se enquadram na categoria de agentes
administrativos.

A súmula Vinculante nº 13 – nepotismo – não se aplica aos cargos políticos.

1.1.2 Particulares em colaboração

Os particulares em colaboração com o Estado são aqueles que, sem perderem a


qualidade de particulares, atuam, em situações excepcionais, em nome do Estado, mesmo em
caráter temporário ou ocasional.

Dividem-se em:
1) Designados: também chamados de agentes honoríficos, são aqueles
convocados pelo Poder Público para exercer atividade administrativa. Exercem
múnus público, têm a obrigação de participar quando requisitados sob
pena de sanção. Exemplos: Mesários e Jurados
2) Voluntários: também são chamados de agentes necessários. São aqueles
que atuam voluntariamente em repartições, escolas, hospitais públicos ou
situações de calamidade, sempre que o ente estatal realiza programa de
voluntariado;
3) Delegados1: são os agentes que atuam por delegação de serviços públicos.
Os titulares de serventias de cartório também atuam por delegação, apesar
de prestar concurso;

1
Vide questão 01 ao final do capítulo.
5
4) Credenciados: atuam em razão de convênios firmados com o Poder Público.
Exemplo: médicos privados que atuam em convênio com o SUS;

1.1.3 Servidores estatais

Os servidores estatais são chamados de Agentes Administrativos e são aqueles que


têm vínculo de dependência com o Poder Público, exercendo função administrativa e sua
natureza de trabalho é não eventual. Dividem-se em:

1) Servidores Temporários: são os contratados com base no artigo 37, IX da


CRFB/88 para prestação de serviço temporário de interesse público e em
caráter excepcional. Têm vínculo de natureza especial e não dependem de
concurso público, podendo ser feito um procedimento simplificado.
Dependem de 3 requisitos: (i) deve haver o serviço temporário
regulamentado em lei específica; (ii) deve haver interesse público; e (iii) a
contratação deve ser de caráter excepcional.
2) Servidores Celetistas / Empregados Públicos: exercem atividade
permanente no órgão, não sendo atividade temporária. Precisam ser
aprovados em concurso público, mas possuem vínculo contratual com a
Administração Pública, eis que são regidos pela CLT.
3) Servidores Estatutários: exercem atividade permanente no órgão. Precisam
ser aprovados em concurso público2 e possuem vínculo legal ou estatutário.

2
Vide questão 06 ao final do capítulo.
6
1.2 Emprego público, Cargo Público3 e Função pública

1.2.1 Emprego Público

É vínculo profissional entre a Administração Pública e os seus agentes regidos pela


Consolidação das Leis do Trabalho, mediante celebração de contrato.

Ressalta-se que para que seja celebrado esse contrato com o Poder Público, há a
necessidade de aprovação em concurso público.

Com a restauração do Regime Jurídico único – na ADI 2135 - o regime de emprego


público foi abolido da Administração Direta, autárquica e fundacional da União Federal, só
podendo ser efetivado nas empresas públicas, sociedades de economia mista e fundações
públicas regidas pelo direito privado.

Por expressa disposição do artigo 61, §1°, II, "a" da CRFB/88, a criação de empregos
públicos deve ser feita mediante lei. A extinção desses cargos também depende de lei.

1.2.2 Cargo Público

Os doutrinadores apontam que o cargo público pode ser definido como sendo uma
unidade de competência que deve ser criado mediante lei, com vínculo estatutário, de
natureza profissional e permanente, para execução das atividades a ele inerentes.

Denota-se do conceito acima que a criação de cargos públicos deve ser feita
mediante lei. E de fato, o artigo 48, X da CCRFB/88 prevê que a criação, transformação e
extinção dos cargos, depende de lei.

3
Vide questão 09 ao final do capítulo.
7
Porém, o próprio texto da Constituição estabeleceu uma exceção: em seu art. 84, VI,
permite que Presidente da República, mediante decreto autônomo, extinga cargos e funções
públicas, quando vagos.

Os cargos públicos se dividem em:

 Cargo em comissão: esses cargos podem ser ocupados por pessoas


integrantes ou não dos quadros da Administração, sem a necessidade de
concurso público para exercer atividade de direção, chefia ou
assessoramento. Por se tratar de relação de confiança, a exoneração do
servidor ocupante deste cargo é de livre iniciativa de sua chefia, sem a
necessidade de qualquer motivação ou garantia de contraditório, na
chamada exoneração ad nutum.
 Cargos efetivos: por sua vez, são preenchidos por agentes aprovados em
concurso público de provas ou de provas e títulos, como forma de garantia
de impessoalidade, o que enseja uma maior segurança na execução de suas
atividades, para atribuição de atividades permanentes do órgão, mediante
vínculo estatutário. Depois de cumpridos os requisitos estampados no art.
41 da Carta Magna, quais sejam o prazo de três anos de efetivo exercício
somado à aprovação em avaliação especial de desempenho, estes agentes
passam a gozar de estabilidade, somente sendo possível a perda de seu
vínculo nos moldes estipulados pela própria Constituição Federal, a saber,
mediante processo administrativo, em que se assegure ampla defesa,
avaliação periódica de desempenho em que se verificou sua ineficiência,
sentença judicial transitada em julgado, ou ainda, mediante procedimento
específico para contenção de gastos, consoante disposição do art. 169 da
Constituição da República.

8
1.2.3 Função Pública

A função pública é o conjunto de atividades atribuídas a um cargo ou emprego


público. Por tratar-se de atividade pública, as funções, devem ser criadas e extintas mediante
a edição de lei.

Apesar de inexistir cargo ou emprego público sem funções, o contrário não é verdade.
Pode-se criar funções de confiança, para exercício de atividades de direção, chefia ou
assessoramento. Nestes casos, a função de confiança não é atribuída a nenhum cargo público,
sendo atribuída a um servidor que já detenha cargo público efetivo.

Cabe destacar que as funções de confiança se limitam às atividades de direção,


chefia ou assessoramento e somente serão preenchidas por servidores de carreira, seno
essa a característica que diferencia a função de confiança dos cargos comissionados.

1.3 Ingresso no serviço Público

Para ingressar o concurso público é necessária a observância de alguns requisitos


legalmente determinados. São eles:

1.3.1 Aprovação em concurso público de provas ou provas e


títulos

O ingresso no serviço público deve se pautar nos princípios administrativos,


sobretudo os da impessoalidade, da moralidade e o da isonomia.
9
Para que tais princípios sejam garantidos, o acesso aos cargos públicos, via de
regra, devem ser efetivados mediante a realização de concurso público, de provas ou de
provas e títulos, uma vez que os critérios de seleção são objetivos, baseando-se na
meritocracia.

Acerca do concurso público, é imperioso destacar algumas características:

 Prazo de validade: o prazo de validade do concurso público é de até dois


anos, admitindo-se uma única prorrogação por mesmo período.
 Edital: o edital é ato administrativo discricionário expedido pela
Administração Pública para definir as regras básicas de ingresso. O edital
não pode estipular regras e requisitos que extrapolem as reais necessidades
daquele cargo ou emprego.
 Alteração de disposições editalícias: vige na Administração o princípio da
vinculação ao instrumento convocatório, ou seja, publicado o edital, seus
termos vinculam, não só a Administração, como todos aqueles que
pretendem participar do certame. Sendo assim, a alteração das regras,
configura, via de regra, afronta direta ao princípio da isonomia e da
segurança jurídica, não sendo admitida, salvo em situações excepcionais,
devidamente justificadas em alterações legislativas que modificam o regime
de cargos e empregos na carreira a ser preenchida pelo procedimento.
 Nulidade: no caso de o concurso público sofrer de alguma irregularidade, a
sua invalidação induz à invalidação da nomeação efetivada ou da
contratação feita.
 Realização de novo concurso na vigência do certame anterior: É vedada a
abertura de novo concurso público enquanto houver candidato aprovado
em concurso anterior com prazo de validade não expirado, para provimento
dos mesmos cargos.
 Direito subjetivo à nomeação: o candidato que for aprovado, em concurso
público, dentro do número de vagas previamente definido no edital, terá
direito subjetivo à nomeação. Ademais, a Súmula nº 15 do Supremo

10
Tribunal Federal, dispõe que "Dentro do prazo de validade do concurso, o
candidato aprovado tem o direito à nomeação, quando o cargo for
preenchido sem observada da classificação".
 Cláusula de barreira: ocorre quando o edital limita a quantidade de
classificados. Apesar de muita divergência, em 2014, o Supremo Tribunal
Federal declarou constitucional a previsão dessa cláusula nos editais.
 Reserva de vagas para pessoas com deficiência: a Lei nº 8.112/90
determina que deve ser reservada até 20% das vagas do concurso público
aos portadores de deficiência, desde que essa deficiência não impeça o
exercício da função do cargo a ser assumido.
 Reserva de vagas para negros e pardos: a Lei nº 12.990/14 determina que
seja reservada 20% das vagas, no âmbito da Administração Direta e
Indireta da União, para os candidatos negros e pardos, desde que o número
de vagas no edital seja igual ou superior a três. Tal regra não se aplica para
concursos no âmbito estadual, distrital e municipal, os quais dependem
da publicação de leis específicas, publicadas no bojo dessas entidades.
 Limite etário: muito se fala da definição de idade máxima para participação
em concursos públicos. Sobre este tema, o Supremo Tribunal Federal editou
a súmula 683 que dispõe que “o limite de idade para a inscrição em
concurso público só se legitima em face do art. 7°, XXX, da Constituição,
quando ser justificado pela natureza das atribuições do cargo a ser
preenchido. ”
Ademais, tal limitação deve ser compatível com as atribuições do cargo, e se
restringe a situações excepcionais. Porém, mesmo diante de situações que
justifiquem as restrições de ingresso, estas regras devem ser estipuladas
por meio de lei, não sendo suficiente a disposição no edital.
O entendimento sumulado deve ser ampliado, não somente para restrição
referente a idade, mas também em relação ao gênero e altura mínima.
 Exame Psicotécnico: conforme a súmula 686 do STF "Só por lei se pode
sujeitar a exame psicotécnico a habilitação de candidato a cargo público".
Destaca-se que Decreto 6.944/09 regulamenta a realização de exames

11
psicotécnicos em concursos públicos realizados pelo Poder Executivo da
União.

1.3.2 Nacionalidade brasileira

A nacionalidade brasileira é requisito básico para ingresso em cargos, empregos


ou funções públicas, não havendo distinção entre brasileiros natos e naturalizados.

Porém, a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 37, inciso I prevê que as
universidades públicas e instituições de pesquisa científica e tecnológica federais poderão
prover seus cargos com professores, técnicos e cientistas estrangeiros, configurando, assim,
exceção à regra.

1.3.3 Gozo dos direitos políticos

As pessoas que não estiverem em pleno gozo dos direitos políticos não poderão
ingressar na carreira pública federal.

A Constituição Federal elenca algumas hipóteses de perda ou suspensão dos


direitos políticos, sendo vedada a cassação.

As hipóteses constitucionais são: I - cancelamento da naturalização por sentença


transitada em julgado; II - incapacidade civil absoluta; III - condenação criminal transitada em
julgado, enquanto durarem seus efeitos; IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou
prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII; e V - improbidade administrativa, nos termos
do art. 37, § 4º.

1.3.4 Quitação eleitoral e militar

A quitação eleitoral e militar – exigida apenas para os candidatos do sexo


masculinos- deve ser demonstrada por meio de certidões.

12
1.3.5 Nível de escolaridade exigido para o cargo

A exigência de escolaridade deve ser determinada por meio de lei e deve ser
compatível com as funções a serem atribuídas aos servidores dos cargos a serem providos.

1.3.6 Idade mínima de 18 anos

O artigo 5°, V da lei 8.112/90 determina a idade mínima de 18 anos para ingresso
em cargos públicos federais.

1.3.7 Aptidão física e mental para exercício do cargo

O requerimento de aptidão física e mental deve ser requerida em relação às


atribuições que serão exercidas pelo cargo ou emprego público, sendo vedado impor
critérios que limitem a participação dos candidatos.

1.3.8 Comprovação de atividade jurídica

Para o preenchimento de alguns cargos exige-se a comprovação de prazo de 3


anos de atividade na área jurídica, como forma de se verificar a experiência.

Importante ressaltar que a Administração Pública pode exigir o requisito de


comprovação da atividade jurídica na data de inscrição definitiva do concurso e não somente
no momento da posse para exercício no cargo.

Conforme o artigo 59, §1° da Resolução nº 75 do CNJ, é vedada, para efeito de


comprovação de atividade jurídica, a contagem do estágio acadêmico ou qualquer outra
ativida.de anterior à obtenção do grau de bacharel em Direito.

13
1.4 Estabilidade

Segundo Matheus Carvalho, a estabilidade pode ser conceituada como “uma


prerrogativa constitucional atribuída aos servidores públicos, detentores de cargos de
provimento efetivo, após aprovação em concurso público de provas ou de provas e títulos,
de permanência no serviço público desde que não advenha alguma das situações
regulamentadas pelo próprio texto da carta Magna.”

Sendo assim, destaca-se que a estabilidade não poderá ser adquirida pelos
agentes detentores de empregos públicos.

Para a aquisição da estabilidade são necessários dois requisitos: (i) 3 anos de


efetivo exercício em cargo efetivo; e (ii) aprovação em avaliação especial de desempenho.

Os agentes que ingressaram no serviço público pelo menos cinco anos antes da promulgação
da CRFB de 1988, ainda que sem aprovação em concurso, adquiriram a estabilidade. Trata-se
de regra de "estabilização" prevista no Aro das Disposições Constitucionais Transitórias –
ADCT.

Ocorre que mesmo após adquirida a estabilidade, os servidores estáveis poderão


perder o cargo em razão de:

1) Sentença judicial transitada em julgado;


2) Processo administrativo em que se assegure o contraditório
e a ampla defesa;

14
3) Avaliação periódica de desempenho: o servidor apesar de já
ter adquirido a estabilidade, continuará sendo avaliado continuará sendo
avaliado. Ressalta-se que é diferente da avaliação especial, necessária para
aquisição da estabilidade;
4) Corte de gastos: primeiramente haverá redução de pelo
menos 20% das despesas com cargos comissionados e funções de confiança.
Se mesmo após isso o problema não seja sanado serão exonerados os
servidores públicos não estáveis. Se ainda assim a Administração não atingir
o limite legal de gastos, serão exonerados os servidores estáveis.

Nos casos de exoneração de servidor estável para corte de gastos, a Administração precisa
respeitar um prazo de quarentena para criar cargos iguais ou semelhantes, ou seja, fica
vedada a criação de cargo, emprego ou função com atribuições iguais ou assemelhadas pelo
prazo de quatro anos e, além disso, o servidor estável exonerado perceberá uma
indenização que corresponde a um mês de remuneração para cada ano de serviço público
prestado.

1.5 Estágio Probatório

O estágio probatório é o período de avaliação do servidor na qual o servidor


público está sendo avaliado na execução de sua atividade, sendo o prazo necessário para
aquisição de estabilidade.

15
Em razão da alteração constitucional do prazo de estabilidade de 2 para 3 anos,
começou uma divergência doutrinária, eis que o estágio probatório continuou sendo de 24
meses.

Porém, os Tribunais Superiores definiram que o prazo necessário à aquisição da


estabilidade é o mesmo prazo do estágio probatório. Sendo assim, se o prazo para que o
servidor se torne estável é de três anos, o tempo de duração do estágio probatório será o
mesmo.

1.6 Vitaliciedade:

A vitaliciedade é uma garantia destinada aos membros da magistratura, do


Ministério Público e do Tribunal de Contas.

Por meio dessa garantia, os agentes públicos só perdem o cargo em razão de


sentença judicial transitada em julgado.

Aos que ingressam mediante concurso público só adquirem a vitaliciedade após 2


anos de efetivo exercício, mas se o ingresso se der mediante nomeação direta, como
acontece nas nomeações do quinto constitucional, a vitaliciedade é adquirida no momento da
posse.

1.7 Provimento

O provimento4 é a forma de ocupação do cargo público. Divide-se em:

1.7.1 Provimento Originário

É o primeiro provimento na carreira, ou seja, é o ingresso pela primeira vez na


carreira. A nomeação é a única forma de provimento originário.

4
Vide questão 03 ao final do capítulo.
16
Depois de nomeado, o servidor tem até 30 dias para tomar posse. A posse garante
a investidura no cargo, ou seja, só com a posse é conferida a qualidade de servidor público.
Por essa razão, se no prazo de 30 dias não tiver tomado a posse, o ato de nomeação fica
sem efeito.

Após a posse, o servidor tem até 15 dias para entrar em exercício, se não o fizer
no prazo será exonerado.

A posse pode ser efetivada mediante procuração com poderes específicos.

1.7.2 Provimento Derivado

Decorre da existência de um provimento originário anterior, ou seja, o servidor já


ingressou em uma carreira anteriormente e irá prover outro cargo da mesma carreira. Não
existe provimento derivado entre carreiras diferentes. O Supremo Tribunal Federal sumulou
entendimento no sentido de que é inconstitucional toda modalidade de provimento que
propicie ao servidor investir-se, sem prévia aprovação em concurso público destinado ao
seu provimento, em cargo que não integra a carreira na qual anteriormente investido
(Súmula Vinculante nº 43).

São formas de provimento derivado:

17
PROMOÇÃO READAPTAÇÃO

REVERSÃO REINTEGRAÇÃO

APROVEITA
RECONDUÇÃO
MENTO

 Promoção: É tipo de provimento derivado vertical, ou seja, o servidor sobe


na carreira. Promoção é feita por antiguidade e merecimento de forma
alternada. Necessariamente tem que ter um cargo vago para que seja
efetivada a promoção. No caso da promoção por merecimento, o texto
constitucional prevê a realização de cursos pelos órgãos da Administração
Pública como requisito para tal.

A promoção não se confunde com a progressão funcional, eis que esta é um aumento do
padrão remuneratório sem mudança de cargo. Na promoção há a mudança de cargo, para um
mais elevado.

18
 Readaptação: É tipo de provimento derivado horizontal, eis que o servidor
não sobe na carreira. A readaptação é o aproveitamento do servidor em um
novo cargo em razão de ter ocorrido limitação em sua capacidade física
e/ou mental. Esse novo cargo será compatível com a limitação, porém
enseja a garantia de equivalência de vencimentos, ou seja, em razão da
readaptação o servidor não pode sofrer nenhuma mudança remuneratória.
Não depende da existência previa de cargo vago, eis que ainda que não
haja cargo vago, o servidor irá exercer as funções como excedente até que
surja um. Mas é imperioso destacar que em não havendo nenhum cargo na
carreira, com funções compatíveis, o servidor será aposentado por
invalidez.

 Reingresso: Ocorre quando o servidor deixou de exercer as funções, mas em


momento posterior retorna. Tal provimento pode ocorrer de 4 maneiras:

1) Reversão5: é o retorno do servidor que estava aposentado. A lei prevê


dois motivos para a reversão: (i) aposentadoria por invalidez: quando,
por laudo médico, atesta-se que os motivos que ensejaram a
aposentadoria não existem mais; e (ii) aposentadoria voluntária: neste
caso a lei impõe alguns requisitos, quais sejam: que haja interesse da
Administração Pública; que o servidor tenha solicitado a reversão; que
a aposentadoria tenha sido voluntária; que o servidor já fosse estável;
que a aposentadoria tenha ocorrido nos cinco anos anteriores à
solicitação; e que haja cargo vago. Porém, o STF considera
inconstitucional a reversão da aposentadoria voluntária, eis que essa
extingue o vínculo com a Administração. Em qualquer hipótese, após
os 75 anos de idade, não será possível a reversão, por tratar-se da

5
Vide questão 10 ao final do capítulo.
19
idade limite para a aposentadoria compulsória, nos moldes do art. 2°,
da Lei complementar 152/2015.
2) Recondução: É a volta do servidor estável ao cargo anterior sem
direito a indenização. Acontece em duas hipóteses: (i) quando há
reintegração do anterior ocupante do cargo; e (ii) se o servidor é
considerado inapto em estágio probatório de outra carreira, podendo
ser reconduzido para o cargo de origem em que era estável.
3) Reintegração: A reintegração ocorre quando o servidor estável estiver
diante de uma anulação do ato de demissão. A anulação pode ser
feita pela própria Administração ou pelo Judiciário e produz efeitos ex
tunc. O servidor será indenizado por tudo que deixou de ganhar.
Atente-se que o servidor reintegrado irá voltar para o cargo que
ocupava anteriormente. Caso este cargo esteja ocupado, o servidor
ocupante será reconduzido para o cargo anterior. Estando esse
ocupado, ele irá para um cargo vago compatível. Se não tiver cargo
compatível, ficará em disponibilidade.
4) Aproveitamento: É a volta do servidor estável que se encontrava em
disponibilidade.

1.8 Vacância

A vacância elenca as hipóteses de desocupação do cargo público, ou seja, quando o


cargo passa a ser vago. A lei prevê sete situações, são elas:

1) Exoneração: é o fim do vínculo com a Administração Pública, sem caráter


de penalidade. A exoneração pode se dar: a) a pedido do servidor; b)
quando não satisfeitas as condições do estágio probatório; c) quando, tendo
tomado posse, o servidor não entrar em exercício no prazo legal; d)
considerado insatisfatório na avaliação periódica de desempenho; e)

20
necessidade de corte de gastos com pessoal, conforme já explicitado
anteriormente; f) em casos de cargos em comissão.
2) Demissão: tem caráter punitivo e é cabível sempre que o servidor comete
infração funcional que é prevista em lei e punível com a perda do cargo
público. Ressalta-se que a aplicação da penalidade deve ser precedida de
processo administrativo disciplinar em que sejam observados o contraditório
e a ampla defesa.
3) Readaptação: a readaptação enseja o provimento de um cargo e a vacância
de outro, em um único ato.
4) Promoção: a assunção do novo cargo causa a vacância do cargo
anteriormente
ocupado;
5) Aposentadoria;
6) Morte;
7) Posse e cargo inacumulável: é, via de regra, vedada a acumulação6 de
cargos e empregos públicos. Sendo assim, o servidor que ocupa dois cargos
inacumuláveis deverá optar por apenas um. A Administração concede um
prazo de 10 dias (considera-se boa-fé) para que o servidor faça sua escolha.
Caso não a faça no prazo, será instaurado processo administrativo sumário.
Durante esse processo e até o último prazo da defesa, poderá o servidor
optar por um dos cargos sem que incorra em pena de demissão.

1.9 Acumulação de cargos

A constituição da República de 1988 veda a acumulação de cargos e empregos


públicos, sejam eles da Administração Direta ou Indireta da União, dos estados, municípios e
DF.

6
Vide questões 04 e 07 ao final do capítulo.
21
Porém, o próprio texto constitucional elenca algumas exceções, ou seja, casos em
que a acumulação e cargos é permitida. São elas:

1) Dois cargos de professor;


2) Dois cargos de profissionais da saúde com profissão regulamentada;
3) Um cargo técnico ou científico com um de professor;
4) Cargo efetivo com o de vereador.

Ressalta-se que para que essas acumulações sejam válidas é necessário demonstrar
que há compatibilidade de horários. Ademais, a acumulação deve respeitar o teto
remuneratório do art. 37, XI da CF/98, qual seja o subsídio dos Ministros do Supremo
Tribunal Federal.

Também é vedada a acumulação de proventos de aposentadoria do regime próprio


de previdência com a remuneração dos cargos públicos, salvo:

1) Aposentadoria + cargo de comissão;


2) Aposentadoria + remuneração de cargo acumulável;
3) Aposentadoria + cargo eletivo.

1.10 Deslocamento

A Lei nº 8112/90 estabelece duas hipóteses de deslocamento:

1.10.1 Remoção

A remoção ocorre com o deslocamento do servidor dentro do mesmo quadro de


pessoal que ele ocupava antes, ou seja, o servidor sai de um lugar para outro sem mudar de
carreira.

Pode ocorrer de ofício - no interesse da Administração – ou a pedido – no


interesse do particular, mas a critério da Administração.
22
Em regra, é ato discricionário, mas a lei elenca 3 hipóteses em que a remoção a
pedido será vinculada, ou seja, mesmo que não haja vaga e nem interesse da Administração, o
servidor será removido: (i) por motivo de deslocamento do cônjuge ou companheiro – nesse
caso é necessário demonstrar que os dois são servidores públicos, coabitam que um dos dois
foi deslocado de ofício. Além disso o servidor que pede tem que ser servidor federal; (ii) por
motivos de saúde do próprio servidor, do cônjuge ou do companheiro ou do dependente
econômico desde que provado por laudo médico; e (iii) concursos de remoção, feito por
antiguidade.

1.10.2 Redistribuição

A redistribuição ocorre com o deslocamento do cargo, nesta hipótese não é o


servidor que está sendo deslocado. Pode ser feita entre órgãos diferentes, entidades
diferentes, desde que feito no âmbito do mesmo poder.

É sempre feita de ofício, no interesse da administração.

1.11 Remuneração

A remuneração, ou também chamada de vencimento, é composta pelo vencimento


básico do servidor público, acrescido de todas as vantagens pecuniárias permanentes do
cargo.

VENCIMENTO
BÁSICO DO
CARGO

REMUNERAÇÃO/
VENCIMENTOS

VANTAGENS
PECUNIÁRIAS
PERMANENTES

23
Para a fixação de remunerações e vencimentos deve-se levar em consideração
alguns fatores:

 A natureza;
 O grau de responsabilidade e a complexidade dos cargos; e
 Os requisitos para a investidura e as peculiaridades dos cargos.

A remuneração do servidor público deve ser definida mediante a edição de lei


específica. Porém, por determinação constitucional – constituindo exceção à regra - é possível
a fixação de alguns vencimentos, por meio de decreto legislativo, quais sejam: do Presidente
da República e do Vice-Presidente, dos Ministros de Estado e dos senadores e deputados
federais.

Ademais, a remuneração do servidor público, conforme disposto no art. 37, XV da


Constituição da República, é irredutível. Impõe destacar que tal irredutibilidade é nominal, ou
seja, deve ser preservada a simples manutenção do valor. Por essa razão, o art. 37, X da
CFRB/88, estabelece o direito à revisão geral anual dos vencimentos pagos aos servidores
estatais, como forma de evitar que a inflação e o decurso de tempo corroam o valor real do
pagamento.

Ressalta-se que a revisão deverá ser feita sempre na mesma data e sem distinção
de índices.

24
A jurisprudência pacificou o entendimento de que a garantia de irredutibilidade não impede a
alteração da forma de cálculo.

É importante destacar que a remuneração do servidor público não pode ser inferior
ao salário mínimo, conforme o art. 39, §3°, combinado com o art. 7°, IV da Constituição.

Porém, entende-se que o vencimento básico pode ser inferior ao mínimo legal,
desde que a remuneração total não o seja, consoante disposto no art. 41, §5° da lei 8.112/90 e
na súmula vinculante nº 16.

Ainda sobre os vencimentos, vale destacar que o artigo 37, XII, da CRFB/88, dispõe
que "os vencimentos dos cargos do Poder Legislativo e do Poder judiciário não poderão ser
superiores aos pagos pelo Poder Executivo".

Além disso, não se admite a equiparação ou vinculação de espécies remuneratórias,


entre carreiras no serviço público, por expressa vedação constitucional contida no art. 37, XIII
da Constituição da República de 1988.

Em regra, não há descontos nas remunerações e subsídios. Mas pode haver os descontos de
imposição legal, como Imposto de Renda e Previdência Social; por decisão judicial;
consignação em folha.

25
1.12 Teto Remuneratório

A Constituição da República de 1988 prevê que o teto remuneratório é o Subsídio


do Ministro do Supremo Tribunal Federal, sendo assim, nenhum servidor poderá ganhar mais
que os Ministros do STF.

No teto serão consideradas todas as espécies de vantagens pessoais ou de qualquer


outra natureza, percebidas cumulativamente ou não, salvo: (i) verbas de natureza
indenizatória; (ii) abono de premência; (iii) direitos sociais; e (iv) remuneração da atividade
de magistério.

Adicionalmente ao teto, a Constituição prevê ainda subtetos para os servidores dos


Estados e Municípios:

 Subteto Estadual:

O subteto estadual tem parâmetro nos três poderes, sendo: para o Poder Executivo
o subsídio do governador; para o Poder Legislativo, o subsídio dos deputados estaduais e
distritais. E para o Poder Judiciário, o subsídio dos desembargadores do Tribunal de Justiça
que deve corresponder a 90,25% do subsídio do ministro do STF. Os membros do Ministério
Público, defensoria pública e procuradorias estaduais se submetem ao subteto do Poder
Judiciário.

Matheus Carvalho, em sua obra, aponta que o subteto de remuneração do Poder


Judiciário foi alvo de discussão jurisprudencial, eis que se entende que os membros da
magistratura não podem ter tratamento diferenciado, pelo fato de serem juízes estaduais ou
federais, uma vez que atuam no exercício de funções similares e se submetem a mesma Lei
Orgânica da Magistratura Nacional - LOMAN (LC nº 35/79).

Por essa razão, o Supremo Tribunal Federal se pronunciou no sentido de que os


juízes

26
estaduais não se submetem à regra do subteto, mas sim ao teto de remuneração, qual seja o
subsídio do Ministro do STF.

Após isso, o art. 37, §12° da Carta Magna passou a definir que fica facultado aos
Estados e ao Distrito Federal fixar, em seu âmbito, mediante emenda às respectivas
Constituições e Lei Orgânica, como limite único, o subsídio mensal dos Desembargadores do
respectivo Tribunal de Justiça, limitado a 90,25% do subsídio mensal dos Ministros do
Supremo Tribunal Federal, não se aplicando o disposto neste parágrafo aos subsídios dos
Deputados Estaduais e Distritais e dos Vereadores.

 Subteto Municipal:

O subteto municipal é o subsidio do Prefeito.

1.13 Subsídio

Além da remuneração, a Constituição Federal, criou outra forma de pagamento aos


servidores públicos, chamada de subsídio.

O subsídio é o pagamento feito em parcela única, não aceitando nenhum


acréscimo patrimonial.

A lei de cada carreira irá determinar se o servidor receberá por subsídio ou não,
mas há carreiras que o pagamento por meio de subsídio é obrigatório:

 Agentes políticos;
 Membros da Defensoria Pública;
 Advocacia Pública;
 Polícia; e
 Tribunal de Contas.

27
1.14 Vantagens

As vantagens são parcelas pecuniárias acrescidas ao vencimento dos servidores,


quando estes preenchem as condições legais para tal recebimento.

As vantagens são:

INDENIZAÇÕES

GRATIFICAÇÕES

ADICIONAIS

Iremos estudar cada uma a seguir:

1.14.1 Indenizações

As indenizações não incorporam a remuneração do servidor e não são


consideradas como acréscimos patrimoniais, eis que está se devolvendo algo que o servidor
perdeu.

Ademais, não incide Imposto de Renda sobre as indenizações.

São consideradas indenizações:

 Diárias: pagas em razão do afastamento transitório e para os gastos no


local (hospedagem, alimentação, transporte interno). Apesar da passagem
não ser considerada diária, também é paga pela Administração.
A diária, via de regra, é paga antes da viagem. Caso o servidor não de
desloque ou na hipótese de ficar menos tempo que o previsto, o valor – ou
o excedente – deverá ser devolvido no prazo de 5 dias. Ademais, se o
28
servidor não fizer pernoite, ou quando a União custear, por meio diverso, as
despesas extraordinárias cobertas por diárias, só receberá meia diária.

Nas situações em que o deslocamento da sede seja atribuição permanente do cargo, o


servidor não faz jus à percepção de diárias. Também não fará jus, o servidor que se deslocar
dentro da mesma região metropolitana, aglomeração urbana, ou microrregião, constituídas
por municípios limítrofes e regularmente instituídas, ou em áreas de controle integrado
mantidas com países limítrofes, nos quais há extensão de jurisdição e competência dos
órgãos, entidades e servidores brasileiros, salvo se houver pernoite fora da sede.

 Ajuda de custo: paga em razão do deslocamento – de ofício – permanente


do servidor, ou seja, quando há mudança de domicílio. O valor dessa ajuda
pode ser de até 3x o valor da remuneração do servidor. Além de pagar a
ajuda de custo – indenização -, a Administração custeia a mudança do
servidor e de sua família. Se o servidor, em até 30 dias, não comparecer na
nova sede, terá os mesmos 30 dias para devolver o valor pago. Destaca-se
que se o servidor falecer na nova sede e a família quiser voltar para a
localidade de origem, terá o prazo de 1 ano, contado do óbito, para
requerer o retorno custeado pela Administração.
 Transporte: é o pagamento feito ao servidor que utiliza meio próprio de
locomoção para prestar o serviço. Não deve ser confundido com o
transporte de ir e voltar do trabalho.
 Auxílio-moradia: valor pago para custear gastos com a moradia do servidor
que for deslocado para nova sede para exercer cargo em comissão do DAS

29
4, 5 e 6. O valor pago terá como base o valor aluguel ou pagamento de
hotel, limitado a 25% do valor do cargo em comissão. Há requisitos,
cumulativos, para o recebimento de tal indenização: (i) não exista imóvel
funcional disponível para uso pelo servidor; (ii) o cônjuge ou companheiro
do servidor não ocupe imóvel funcional; (iii) o servidor ou seu cônjuge ou
companheiro não seja ou tenha sido proprietário, promitente comprador,
cessionário ou promitente cessionário de imóvel no Município aonde for
exercer o cargo; (iv) nenhuma outra pessoa que resida com o servidor
receba auxílio-moradia; (v) o Município no qual assuma o cargo em
comissão ou função de confiança não se enquadre dentro da mesma região
metropolitana, aglomeração urbana ou microrregião; (vi) servidor não-tenha
sido domiciliado ou tenha residido no Município, nos últimos doze meses,
aonde for exercer o cargo em comissão ou função de confiança; (vii) o
deslocamento não tenha sido por força de alteração de lotação ou
nomeação para cargo efetivo; e (viii) o deslocamento tenha ocorrido após
30 de junho de 2006.

1.14.2 Gratificações

As gratificações podem incorporar a remuneração do servidor, desde que seja


prevista na lei da carreira. São gratificações:

 De função: Todo cargo público tem função, e para cada função a lei atribui
um valor;
 Natalina: é o famoso “13º salário”. Pode ser dividia em duas parcelas, mas
deve ser paga integralmente até o dia 20 de dezembro de cada ano. Essa
gratificação corresponde a 1/12 da remuneração de dezembro por mês de
serviço público prestado. Ressalta-se que a partir de 15 dias trabalhados,

30
considera-se que o mês todo foi trabalhado para fins de pagamento dessa
gratificação. Se o servidor for exonerado ou demitido, tomar-se-á como
base o mês da exoneração ou demissão.
 Encargo de concurso ou curso: gratificação paga para o servidor que atua
na aplicação de prova de concurso, na coordenação de prova de concurso,
que atua como examinador em banca, ou como instrutor em curso de
formação. O máximo de horas trabalhadas deverá ser a de 120 horas de
trabalho anuais, ressalvada situação de excepcionalidade, devidamente
justificada e previamente aprovada pela autoridade máxima do órgão ou
entidade, que poderá autorizar o acréscimo de até 120 horas de trabalho
anuais. O valor pago por hora corresponderá aos seguintes percentuais,
incidentes sobre o maior vencimento básico da administração pública
federal: (i) 2,2°% nas atividades de instrutor em curso de formação ou
examinador de bancas de concurso público realizado pelo órgão estatal; e
(ii) 1,2% na atividade de aplicação, fiscalização de provas de concurso ou a
coordenação e planejamento destas atividades, incluindo a organização da
estrutura logística.

1.14.3 Adicionais

Os adicionais, também, podem incorporar a remuneração do servidor, desde que


seja prevista na lei da carreira. Trata-se de rol exemplificativo:

 Exercício de atividades insalubres, perigosas ou penosas: adicional pago


aos servidores públicos que exercem atividades prejudiciais à saúde,
como aqueles que têm contato com substâncias tóxicas ou radioativas
(insalubres), com risco de vida (perigosas) ou que exijam esforço demasiado
(penosas). A lei determina que os dois primeiros adicionais são
inacumuláveis, portanto, se a atividade do servidor for, ao mesmo tempo,

31
insalubre e perigosa, ele deve optar por um deles. Ressalta-se que os
servidores que operam máquinas de Raio-X devem receber adicional de
insalubridade e serem submetidos a exames médicos a cada 6 meses.
 Hora extra: tem caráter excepcional, não podendo ultrapassar 2 horas por
dia e será remunerada com um adicional de 50% a mais em relação à hora
normal.
 Serviço noturno: adicional pago, no valor de 25% da remuneração da hora
normal, ao servidor que exerce atividade noturna. Considera-se serviço
noturno, o prestado em horário compreendido entre 22 (vinte e duas)
horas de um dia e 5 (cinco) horas do dia seguinte. Frisa-se que a hora
noturna tem duração de cinquenta e dois minutos e trinta segundos.
Ademais, se o serviço extraordinário adentrar ao período noturno, paga-se
cumulativamente os dois adicionais. Primeiro acrescenta-se a hora extra e
depois o percentual de serviço noturno.
 Terço de férias: É o adicional pago ao servidor público, por ocasião das
suas férias, correspondente a 1/3 de sua remuneração. Deve ser pago dois
dias antes do gozo das férias e não pode ser parcelado.

1.15 Ausências do servidor

1.15.1 Férias

O servidor público tem 30 dias de férias por anos. Para gozar o primeiro período de
férias o período aquisitivo será o de 12 meses de trabalho.

32
Apenas para o primeiro período é que se exige o período aquisitivo de 12 meses.

As férias podem ser parceladas em até 3x, desde que requeridos pelo servidor e
autorizado pela Administração. Lembrando que nenhum período pode ser inferior a 10 dias.

As férias podem ser acumuladas em até 2 períodos – no interesse da Administração


– o que não gera direito à indenização. Além disso, as férias podem ser interrompidas por
calamidade pública ou comoção interna; convocação para júri, para serviço militar ou eleitoral;
ou por necessidade do serviço, desde que demonstrada pela autoridade máxima do órgão.

Aos servidores que operam Raio-X concede-se o direito de 20 dias de férias a


cada 6 meses de trabalho e não se admite a acumulação.

1.15.2 Licenças

Como regra, as licenças não remuneradas pela Administração Pública não contam
como tempo de serviço, mas contam para fins de aposentadoria, eis que o servidor poderá
continuar contribuindo para a Previdência.

É importante destacar que as licenças são temporárias e se do término de uma até


o início de outra da mesma natureza não decorrer mais de 60 dias, essa segunda licença será
considerada como uma prorrogação da primeira.

As licenças são:

 Por motivo de doença familiar: tal licença pode ser concedida no estágio
probatório, mas suspende a sua contagem. Durante essa licença é vedado

33
o exercício de atividade remunerada. Para que o servidor tenha direito a
essa licença por até 60 dias com remuneração precisa comprovar 3
requisitos: 1) demonstrar – por laudo médico – que a pessoa da família está
doente; 2) que a pessoa doente dependa e assistência direta do servidor; e
3) que o servidor não possa conciliar a prestação da assistência com a
prestação do serviço. Passados os 60 dias, é possível prorrogar por até 90
dias, sem remuneração. Nova licença pelo mesmo motivo só poderá ser
requerida após 12 meses de prestação de serviços.
 Por motivo de afastamento do cônjuge: tal licença pode ser concedida
no estágio probatório, mas suspende a sua contagem. É possível desde
que o cônjuge – ainda que não seja servidor – tenha sido afastado a
trabalho para qualquer lugar do território nacional ou exterior. A licença
não tem prazo e não tem remuneração. No deslocamento de servidor cujo
cônjuge ou companheiro também seja servidor público, civil ou militar, de
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, poderá haver exercício provisório em órgão ou entidade da
Administração Federal direta, autárquica ou fundacional, desde que para o
exercício de atividade compatível com o seu cargo. O STJ entende que não
se trata de uma licença discricionária, e sim vinculada.
 Por motivo de Serviço Militar: tal licença pode ser concedida no estágio
probatório e não suspende a sua contagem. É remunerada e possui prazo
que coincide com o tempo de serviço militar. Terminada a licença, o servidor
terá até 30 dias, sem remuneração, para voltar ao serviço.
 Por motivo de Atividade Política: tal licença pode ser concedida no
estágio probatório, mas suspende a sua contagem. Essa licença é para
que pretende se candidatar. No momento em que o servidor é escolhido na
convenção do partido até a véspera do registro da candidatura tem direito à
licença sem remuneração. Após o registro e até 10 dias após as eleições tem

34
direito à licença com remuneração, entretanto, a remuneração só poderá
durar 3 meses.
 Por motivo de capacitação: não pode ser concedida no estágio
probatório. A cada 5 anos de efetivo exercício no serviço público, o servidor
tem direito de até 3 meses de licença para fazer curso de capacitação
profissional no interesse da Administração. É licença remunerada e
discricionária. Não pode ser acumulada, ou seja, não se admite que não
sendo admitido que, após 10 (dez) anos de exercício, a licença chegue a seis
meses.
 Por interesse particular: não pode ser concedida no estágio probatório.
Não depende de motivação especifica, podendo o servidor requerer tal
licença para qualquer atividade no interesse dele. É discricionária e
precária, podendo a Administração revogá-la por necessidade do serviço.
Não é remunerada e pode ser concedida por até 3 anos improrrogáveis.
Para que possa ser requerida nova licença de mesma natureza tem que
passar mais de 60 dias.
 Para Mandado Classista: não pode ser concedida no estágio probatório.
Somente serão licenciados os servidores eleitos para os cargos de direção

ou representação em entidades de classe dos servidores, assim considerado


o desempenho de mandato em confederação, federação, associação de
classe de âmbito nacional, sindicato representativo da categoria ou entidade
fiscalizadora da profissão ou, ainda, para participar de gerência ou
administração em sociedade cooperativa constituída por servidores públicos
para prestar serviços a seus membros A licença não é remunerada e dura o
tempo do mandato classista, sendo que a lei permite prorrogação se houver
reeleição (uma única vez). Esta licença, embora não seja remunerada, é
computada como tempo de serviço para todos os efeitos, menos para fins
de promoção por merecimento.

35
1.16 Afastamento

São hipóteses em que o servidor se afasta do exercício do serviço público para


execução de outras atividades de interesse da coletividade ou de cunho social.

1.16.1 Serviço em outro órgão

O servidor público poderá ser cedido para ter exercício em outro órgão ou entidade
dos Poderes da União, dos Estados, ou do Distrito Federal e dos Municípios ou em serviço
social autônomo instituído pela União que exerça atividades de cooperação com a
administração pública federal, para exercício de cargo em comissão ou função de confiança,
ou de direção ou gerência no caso dos serviços sociais autônomos, além de situações
previstas em lei específica.

O ônus de pagar ao servidor pode ser definido no ato de cessão, mas se o ato
não mencionar nada, tem-se que: se o servidor for cedido para outro órgão ou entidade da
União quem pagará será o cedente; já se o servidor for cedido para órgão ou entidade dos
estados, DF, ou municípios o pagamento ficará a cargo do cessionário.

Acrescenta-se que o servidor, em estágio probatório, somente poderá ser cedido a


outro órgão público para o exercício de cargos em comissão de DAS 4, 5 ou 6 ou, ainda,
cargos de natureza especial.

1.16.2 Mandato Eletivo

Não se confunde com a licença para exercício de atividade política, eis que esta é
concedia aos servidores que querem se eleger. Já este afastamento é para o servidor exercer
o mandato popular.

Se o servidor for eleito para cargo no âmbito da União estado ou DF será


afastado sem remuneração do cargo efetivo. Se for eleito no âmbito do município para

36
Prefeito, será afastado mas poderá optar pela remuneração. Se eleito vereador e tiver
compatibilidade de horários, poderá acumular os cargos e as remunerações. Se não houver
compatibilidade de horários, será afastado e poderá optar pela remuneração.

Esse afastamento cota como tempo de serviço para todos os efeitos, exceto para
promoção por merecimento.

1.16.3 Estudo ou missão de interesse público no exterior

Esse afastamento é remunerado e pode ser concedido por até 4 anos. Quando o
servido volta ao exercício da atividade fica impedido de ser exonerado – a pedido – pelo
menos prazo que passou afastado. Também não poderá ser concedida licença para interesse
particular, salvo se fizer o reembolso à Administração.

Pode ser concedida no estágio probatório e o tempo de afastamento não


suspenderá a contagem deste.

Se o afastamento for para servir em organismo internacional que o Brasil participa ou coopera
será sem remuneração, eis que será remunerado pelo organismo e o período de afastamento
irá suspender a contagem do estágio probatório.

37
1.16.4 Pós-Graduação strictu senso no país

Terá que ser demonstrada a impossibilidade de conciliar a prestação do servido


com a pós-graduação, eis que se for possível conciliar não haverá necessidade do
afastamento.

O servidor que queira fazer mestrado tem que ter 3 anos de exercício na função;
para os casos de doutorado e pós-doutorado exige-se 4 anos. Para a pós-graduação latu
sensu não se pode pedir tal afastamento.

Ainda para o afastamento em caso de mestrado e doutorado é necessário


comprovar que nos últimos 2 anos não foi concedida licença para interesse particular,
licença para capacitação e nem afastamento para pós-graduação.

Depois que o servidor voltar, não poderá sair da função pelo mesmo prazo que
ficou afastado, salvo se reembolsar a Administração.

Se o servidor voltar sem o título terá que ressarcir o erário.

1.17 Concessões

São situações na qual o servidor pode se ausentar e o tempo de ausência será


contado efetivamente para todos os casos e não ocorrera prejuízo da remuneração. Divide-se
em:

38
 Gerais: concedidos a quaisquer servidores, esteja em estágio probatório ou
não:

a) 1 dia para doação de sangue – será o dia em que ele irá fazer a
doação;

b) Até 2 dias para fins de alistamento eleitoral, realistamento e


mudança de domicilio eleitoral;
c) 8 dias para casamento – licença gala – e para luto – licença nojo

 Especiais:
a) Estudantes: tem direito à horário especial para conciliar o serviço
com os estudos, com compensação de horários;
b) Pessoas com deficiência: o servidor tem direito à horário especial
sem necessidade de compensação de horários;
c) Familiar com deficiência ou doença: o servidor tem direito à
horário especial com compensação de horários.

1.18 Regime Disciplinar

É o regime que estabelece as sanções administrativas. A responsabilidade do


servidor tem a possibilidade de ser transmitida em várias instancias, podendo sofrer até 3
sanções por uma única infração, podendo ser punido nas esferas administrativa, civil e penal.

Via de regra, essas instancias são independentes entre si e não se comunicam,


exceto se for absolvido na esfera penal por inexistência de fato ou por negativa de
autoria. Nesses casos, ele não poderá ser responsabilizado em nenhuma outra esfera.

É o regime que estabelece as sanções administrativas. As penalidades legalmente


previstas são:

39
1.18.1 Advertência:

É aplicada em hipóteses de infrações mais leves, especificamente nos casos do


artigo 17, incisos I a VII e XIX da Lei 8.112/90.

A competência para aplicar tal penalidade é do próprio chefe da repartição. O prazo


de prescrição é de 180 dias, contado da data em que a Administração tomou conhecimento
do fato. Depois de aplicada, essa penalidade é registrada no assentamento pessoal do servidor
e será cancelado o registro após 3 anos, desde que o servidor não comenta nenhuma outra
infração punível com advertência.

1.18.2 Suspensão:

Regra geral, o prazo máximo da suspensão e de até 90 dias. Há situações em que


o administrador não poderá abrir mão da prestação do serviço, nesses casos a penalidade de
suspensão poderá ser substituída por uma multa de 50% do valor da remuneração.

O prazo de prescrição é de 2 anos contados da data em que a Administração


tomou conhecimento do fato.

A competência varia de acordo com o prazo da penalidade. Se a suspensão for de


até 30 dias, o próprio chefe da repartição poderá aplica-la; se for mais de 30 dias, quem aplica
é a autoridade imediatamente inferior àquela competente para aplicar a pena de demissão.

O prazo de cancelamento de registro da penalidade de suspensão é de 3 anos.

A lei estabelece quatro hipóteses para aplicação da suspensão:

1) Quando o servidor cometer a outro servidor atribuições estranhas ao cargo


que ocupa, exceto em situações de emergência e transitórias;
2) Quando o servidor exercer quaisquer atividades que sejam incompatíveis
com o exercício do cargo ou função e com o horário de trabalho;

40
3) Reincidência em infração punível com advertência: se o agente cometer
infrações puníveis com advertência em menos de 3 anos de diferença –
prazo em que o registro do servidor que foi punível com advertência é
limpo – será considerado reincidente.
4) Recusa de inspeção médica quando solicitado: nesse caso a suspensão não
pode ultrapassar 15 dias. Porém, se o servidor se submeter a inspeção, a
pena de suspensão será cessada automaticamente.

Para aplicação de advertência e suspensão por até 30 dias, a lei permite que seja instaurada
apenas uma sindicância, sem necessidade do PAD propriamente dito. A sindicância é um
procedimento administrativo simplificado que deve durar no máximo 30 dias – prorrogável
por igual período. Da sindicância pode ocorrer 3 resultados: (i) arquivamento: se não houver
infração ou se não foi aquele servidor o autor da infração; (ii) sanção de advertência ou
suspensão por até 30 dias: nos casos em que for confirmada o cometimento; e (iii) verificação
de infração mais grave: nesse caso da sindicância vai decorrer a instauração do PAD. É
importante destacar que a instauração do PAD, em regra, não depende de prévia sindicância.

1.18.3 Destituição de cargo em comissão ou função de confiança:

Se o servidor ocupante de cargo em comissão ou função de confiança cometer


qualquer infração que enseja demissão ou suspensão, será destituído.

41
A exoneração é livre e não precisa de processo administrativo para tal, mas a
destituição é penalidade e só pode ser aplicada mediante processo administrativo.

A prescrição é de 5 anos contados da data em que a Administração tomou


conhecimento do fato. E a competência é da autoridade que nomeou.

1.18.4 Demissão

Enseja a perda do cargo em caráter punitivo, nas hipóteses do artigo 132 da Lei
8.112/90. A competência para aplicação dessa penalidade é do chefe máximo do Poder ao
qual o servidor está vinculado, porém tal competência é delegável.

A prescrição é em 5 anos contados da data em que a Administração tomou


conhecimento do fato.

1.18.5 Cassação de aposentadoria e disponibilidade:

As hipóteses, competência e prescrição são igual as hipóteses da demissão, o


que muda é a situação funcional do servidor. Se ele estiver em exercício será demitido, se
tiver aposentado será cassada sua aposentadoria e se for caso de disponibilidade esta será
cassada.

Para aplicação desta penalidade, o servidor deve ter executado as hipóteses de


demissão durante a atividade.

Porém, é possível a cassação da disponibilidade fora das hipóteses de demissão, no


caso de o servidor em disponibilidade requisitado para aproveitamento, não comparecer.

1.19 Processo Administrativo Disciplinar


O processo administrativo disciplinar – PAD - serve para aplicar sanções aos
servidores que comentem infrações no serviço público, deve durar 60 dias, mas pode ser
prorrogado por igual período.

42
Quem está respondendo processo administrativo disciplinar não pode ser
exonerado a pedido e nem aposentado voluntariamente. Primeiro responde ao PAD, cumpre a
pena se for o caso e só após isso poderá ser concedida a exoneração ou aposentadoria.

A instauração do PAD interrompe o prazo de prescrição para aplicação da pena.


Com a instauração é possível conceder medida cautelar administrativa, ou seja, o afastamento
preventivo do servidor sem prejuízo da remuneração, por no máximo 60 dias prorrogáveis por
igual período. Esse prazo não é impróprio e sim peremptório. Para aplicação de tal medida, o
administrador deve provar que a manutenção do servidor no cargo poderá atrapalhar o
andamento regular do processo, ou dificultar a instrução probatória.

O PAD é instaurado por uma portaria que também designa uma comissão
processante composta de 3 servidores estáveis. Os servidores – tanto o acusado quanto os
da comissão – não podem ser parentes até o 3º grau, ne cônjuge/companheiro. Além disso, o
presidente da comissão deve ter cargo ou nível de escolaridade igual ou superior ao do
acusado.

Após a instauração, inicia-se o inquérito que se divide em 3 subfases:

 Instrução: necessária para a produção ampla de provas – busca pela


verdade real.
 Defesa: após a instrução, abre-se o prazo de 10 dias para a defesa. Se o
servidor não for encontrado para intimação será intimado por edital e nesse
caso o prazo de defesa será 15 dias. Se tiver mais de um acusado no
mesmo processo, o prazo será de 20 dias. Se o servidor for revel será
designado um defensor dativo que irá apresentar defesa no lugar do
acusado. Esse defensor dativo deve ter nível de escolaridade e igual ou
superior ao acusado e não precisa ser advogado.
 Relatório da comissão processante: após apresentação de defesa, o
processo volta para a comissão que irá elaborar um relatório. O relatório
tem natureza jurídica de parecer, eis que irá opinar, ou seja, será um
relatório conclusivo. O julgador do PAD deverá seguir a conclusão

43
apresentada no relatório, salvo se ela for manifestamente contrária à prova
dos autos.

Após o inquérito, a autoridade competente deve proferir o julgamento em, no máximo,


20 dias, devendo ser motivado.

Sendo assim, entende-se que o PAD pode durar no máximo 140 dias (60 + 60 + 20 do
julgamento), podendo inclusive, ocorrer prescrição intercorrente se não acabar nesse prazo.

O servidor pode insurgir-se contra a decisão proferida por meio de 3 formas:

 Pedido de reconsideração: tem prazo de 30 dias. É interposto perante a


própria autoridade que proferiu a decisão.
 Recurso: também tem prazo de 30 dias. É interposto perante a autoridade
superior e é cabível a reformatio in pejus.
 Revisão: o pedido de revisão pode ser feito a qualquer tempo desde tenha
fatos novos. É, em verdade, um novo processo. Veda-se a reformatio in
pejus.

É possível um processo diferenciado no caso de abandono de cargo e inassiduidade habitual,


a lei prevê um processo sumário de no máximo 30 dias prorrogáveis por mais 15 dias. A
comissão será formada por apenas 2 servidores estáveis. O prazo de defesa é de 5 dias. Esse
mesmo processo é o aplicado na acumulação ilegal de cargos.

44
QUADRO SINÓTICO

AGENTES PÚBLICOS

É considerado agente público qualquer pessoa que age em nome do Estado,


independentemente de vínculo jurídico, ainda que atue sem remuneração e transitoriamente.

Atuam no exercício da função política do Estado, ou seja, têm


AGENTES POLÍTICOS
vínculo político. São agentes políticos.

Designados

São aqueles que, sem perderem a qualidade


Voluntários
de particulares, atuam, em situações
PARTICULARES EM
excepcionais, em nome do Estado, mesmo
COLABORAÇÃO
em caráter temporário ou ocasional. Dividem-
Delegados
se em:

Credenciados

Servidores Temporários: são os


Aqueles que têm vínculo de contratados com base no artigo
dependência com o Poder 37, IX da CRFB/88 para prestação
SERVIDORES Público, exercendo função de serviço temporário de
ESTATAIS administrativa e sua natureza de interesse público e em caráter
trabalho é não eventual. excepcional. Têm vínculo de
Dividem-se em: natureza especial e não
dependem de concurso público,

45
podendo ser feito um
procedimento simplificado.
Dependem de 3 requisitos: (i)
deve haver o serviço temporário
regulamentado em lei específica;
(ii) deve haver interesse público; e
(iii) a contratação deve ser de
caráter excepcional.

Servidores Celetistas /
Empregados Públicos: exercem
atividade permanente no órgão,
não sendo atividade temporária.
Precisam ser aprovados em
concurso público, mas possuem
vínculo contratual com a
Administração Pública, eis que
são regidos pela CLT.

Servidores Estatutários: exercem


atividade permanente no órgão.
Precisam ser aprovados em
concurso público e possuem
vínculo legal ou estatutário.

EMPREGO PÚBLICO, CARGO PÚBLICO E FUNÇÃO PÚBLICA:

É vínculo profissional entre a Administração Pública e os seus agentes


regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho, mediante
EMPREGO PÚBLICO
celebração de contrato

Unidade de competência que deve ser criado mediante lei, com


CARGO PÚBLICO
vínculo estatutário, de natureza profissional e permanente, para

46
execução das atividades a ele inerentes.

A função pública é o conjunto de atividades atribuídas a um cargo ou


FUNÇÃO PÚBLICA emprego público. Por tratar-se de atividade pública, as funções,
devem ser criadas e extintas mediante a edição de lei.

INGRESSO NO SERVIÇO PÚBLICO

O acesso aos cargos públicos, via de regra, devem ser efetivados


APROVAÇÃO EM mediante a realização de concurso público, de provas ou de provas e
CONCURSO PÚBLICO títulos, uma vez que os critérios de seleção são objetivos, baseando-
se na meritocracia

A nacionalidade brasileira é requisito básico para ingresso em cargos,


empregos ou funções públicas, não havendo distinção entre
brasileiros natos e naturalizados.
NACIONALIDADE
As universidades públicas e instituições de pesquisa científica e
BRASILEIRA
tecnológica federais poderão prover seus cargos com professores,
técnicos e cientistas estrangeiros, configurando, assim, exceção à
regra.

GOZO DOS DIREITO As pessoas que não estiverem em pleno gozo dos direitos políticos
POLÍTICOS não poderão ingressar na carreira pública federal.

QUITAÇÃO ELEITORAL A quitação eleitoral e militar – exigida apenas para os candidatos do


E MILITAR sexo masculinos- deve ser demonstrada por meio de certidões.

NÍVEL DE
A exigência de escolaridade deve ser determinada por meio de lei e
ESCOLARIDADE
deve ser compatível com as funções a serem atribuídas aos servidores
EXIGIDO PARA O
dos cargos a serem providos.
CARGO

IDADE MÍNIMA DE 18 O artigo 5°, V da lei 8.112/90 determina a idade mínima de 18 anos
ANOS para ingresso em cargos públicos federais.

APTIDÃO FÍSICA E O requerimento de aptidão física e mental deve ser requerida em

47
MENTAL relação às atribuições que serão exercidas pelo cargo ou emprego
público, sendo vedado impor critérios que limitem a participação dos
candidatos.

Para o preenchimento de alguns cargos exige-se a comprovação de


COMPROVAÇÃO DE
prazo de 3 anos de atividade na área jurídica, como forma de se
ATIVIDADE JURÍDICA
verificar a experiência.

ESTABILIDADE:

É uma prerrogativa constitucional atribuída aos servidores públicos, detentores de cargos de


provimento efetivo, após aprovação em concurso público de provas ou de provas e títulos, de
permanência no serviço público desde que não advenha alguma das situações regulamentadas
pelo próprio texto da carta Magna.

Não poderá ser adquirida pelos agentes detentores de empregos públicos.

Para a aquisição da 3 anos de efetivo exercício em cargo efetivo


estabilidade são
necessários dois
requisitos: Aprovação em avaliação especial de desempenho

ESTÁGIO PROBATÓRIO

O estágio probatório é o período de avaliação do servidor na qual o servidor público está


sendo avaliado na execução de sua atividade, sendo o prazo necessário para aquisição de
estabilidade.

Os Tribunais Superiores definiram que o prazo necessário à aquisição da estabilidade é o


mesmo prazo do estágio probatório. Sendo assim, se o prazo para que o servidor se torne
estável é de três anos, o tempo de duração do estágio probatório será o mesmo.

VITALICIEDADE
A vitaliciedade é uma garantia destinada aos membros da magistratura, do Ministério Público e
do Tribunal de Contas.

48
Aos que ingressam mediante concurso público só adquirem a vitaliciedade após 2 anos de
efetivo exercício, mas se o ingresso se der mediante nomeação direta, como acontece nas
nomeações do quinto constitucional, a vitaliciedade é adquirida no momento da posse.

PROVIMENTO

Depois de nomeado, o servidor


É o primeiro provimento tem até 30 dias para tomar posse.
na carreira, ou seja, é o A posse garante a investidura no
ingresso pela primeira cargo, ou seja, só com a posse é

ORIGINÁRIO vez na carreira. A conferida a qualidade de servidor


nomeação é a única público. Por essa razão, se no
forma de provimento prazo de 30 dias não tiver tomado
originário. a posse, o ato de nomeação fica
sem efeito.

Decorre da existência de um provimento originário anterior,


ou seja, o servidor já ingressou em uma carreira anteriormente
e irá prover outro cargo da mesma carreira. Não existe
provimento derivado entre carreiras diferentes.

O Supremo Tribunal Federal sumulou entendimento no


sentido de que é inconstitucional toda modalidade de
provimento que propicie ao servidor investir-se, sem prévia
DERIVADO aprovação em concurso público destinado ao seu provimento,
em cargo que não integra a carreira na qual anteriormente
investido (Súmula Vinculante nº 43).

Promoção
Readaptação
Espécies: Reversão
Reintegração
Recondução

49
Aproveitamento

VACÂNCIA

A vacância elenca as hipóteses de desocupação do cargo público, ou seja, quando o cargo


passa a ser vago.

Promoção;

Aposentadoria;

Morte;
Espécies
Posse e cargo inacumulável;
Readaptação;
Demissão;
Exoneração

ACUMULAÇÃO DE CARGOS

A constituição da República de 1988 veda a acumulação de cargos e empregos públicos, sejam


eles da Administração Direta ou Indireta da União, dos estados, municípios e DF.

Dois cargos de professor;


Porém, o próprio texto
constitucional elenca algumas Dois cargos de profissionais da saúde com profissão
exceções, ou seja, casos em regulamentada;
que a acumulação e cargos é Um cargo técnico ou científico com um de professor;
permitida. São elas:
Cargo efetivo com o de vereador.

Ressalta-se que para que essas acumulações sejam válidas é necessário demonstrar que há
compatibilidade de horários. Ademais, a acumulação deve respeitar o teto remuneratório.

Também é vedada a acumulação de proventos de aposentadoria do regime próprio de


previdência com a remuneração dos cargos públicos, salvo:
1) Aposentadoria + cargo de comissão;
2) Aposentadoria + remuneração de cargo acumulável;
3) Aposentadoria + cargo eletivo.

50
DESLOCAMENTO

A remoção ocorre com o deslocamento do servidor dentro do


mesmo quadro de pessoal que ele ocupava antes, ou seja, o
servidor sai de um lugar para outro sem mudar de carreira.

REMOÇÃO Pode ocorrer de ofício - no interesse da Administração – ou a


pedido – no interesse do particular, mas a critério da
Administração.

Em regra, é ato discricionário.

A redistribuição ocorre com o deslocamento do cargo, nesta


hipótese não é o servidor que está sendo deslocado. Pode ser

REDISTRIBUIÇÃO feita entre órgãos diferentes, entidades diferentes, desde que


feito no âmbito do mesmo poder.

É sempre feita de ofício, no interesse da administração.

REMUNERAÇÃO

A remuneração, ou também chamada de vencimento, é composta pelo vencimento básico do


servidor público, acrescido de todas as vantagens pecuniárias permanentes do cargo.

Para a fixação de A natureza;

remunerações e vencimentos
deve-se levar em O grau de responsabilidade e a complexidade dos cargos;

consideração alguns fatores:


Os requisitos para a investidura e as peculiaridades dos
cargos.

A remuneração do servidor público deve ser definida mediante a edição de lei específica.

A remuneração do servidor público, conforme disposto no art. 37, XV da Constituição da


República, é irredutível. Impõe destacar que tal irredutibilidade é nominal.

TETO REMUNERTÓRIO

51
A Constituição da República de 1988 prevê que o teto remuneratório é o Subsídio do Ministro
do Supremo Tribunal Federal, sendo assim, nenhum servidor poderá ganhar mais que os
Ministros do STF.

No teto serão consideradas todas as espécies de vantagens pessoais ou de qualquer outra


natureza, percebidas cumulativamente ou não, salvo: (i) verbas de natureza indenizatória; (ii)
abono de premência; (iii) direitos sociais; e (iv) remuneração da atividade de magistério.

Subteto Estadual: O subteto estadual tem parâmetro nos três


poderes, sendo: para o Poder Executivo o subsídio do
governador; para o Poder Legislativo, o subsídio dos
deputados estaduais e distritais. E para o Poder Judiciário, o
Adicionalmente ao teto, a
subsídio dos desembargadores do Tribunal de Justiça que
Constituição prevê ainda
deve corresponder a 90,25% do subsídio do ministro do STF.
subtetos para os servidores
Os membros do Ministério Público, defensoria pública e
dos Estados e Municípios: procuradorias estaduais se submetem ao subteto do Poder
Judiciário.

Subteto Municipal: O subteto municipal é o subsidio do


Prefeito.

O subteto de remuneração do Poder Judiciário foi alvo de discussão jurisprudencial, eis


que se entende que os membros da magistratura não podem ter tratamento diferenciado,
pelo fato de serem juízes estaduais ou federais, uma vez que atuam no exercício de
funções similares e se submetem a mesma Lei Orgânica da Magistratura Nacional -
LOMAN (LC nº 35/79). Por essa razão, o Supremo Tribunal Federal se pronunciou no
sentido de que os juízes estaduais não se submetem à regra do subteto, mas sim ao teto
de remuneração, qual seja o subsídio do Ministro do STF. Após isso, o art. 37, §12° da
Carta Magna passou a definir que fica facultado aos Estados e ao Distrito Federal fixar, em
seu âmbito, mediante emenda às respectivas Constituições e Lei Orgânica, como limite
único, o subsídio mensal dos Desembargadores do respectivo Tribunal de Justiça, limitado
a 90,25% do subsídio mensal dos Ministros do Supremo Tribunal Federal.

SUBSÍDIO

52
O subsídio é o pagamento feito em parcela única, não aceitando nenhum acréscimo
patrimonial.

Advocacia Pública
A lei de cada carreira irá
determinar se o servidor Agentes políticos;
receberá por subsídio ou não,
mas há carreiras que o Membros da Defensoria Pública;
pagamento por meio de
subsídio é obrigatório: Polícia;

Tribunal de Contas.

VANTAGENS

As indenizações não incorporam a remuneração do servidor e


não são consideradas como acréscimos patrimoniais, eis que
está se devolvendo algo que o servidor perdeu.
INDENIZAÇÃO Diárias
Transporte
ESPÉCIES:
Auxílio-moradia
Ajuda de custo
As gratificações podem incorporar a remuneração do
servidor, desde que seja prevista na lei da carreira.

De função
GRATIFICAÇÃO
Natalina
ESPÉCIES:
Encargo de curso ou
concurso
Os adicionais, também, podem incorporar a remuneração do
servidor, desde que seja prevista na lei da carreira.
ADICIONAL
Exercício de atividades
ESPÉCIES:
insalubres, perigosas ou

53
penosas

Hora extra

Serviço noturno

Terço de férias

AUSÊNCIAS DO SERVIDOR

O servidor público tem 30 dias de férias por anos. Para gozar


o primeiro período de férias o período aquisitivo será o de 12
meses de trabalho.

As férias podem ser parceladas em até 3x, desde que


FÉRIAS
requeridos pelo servidor e autorizado pela Administração.
Lembrando que nenhum período pode ser inferior a 10
dias.

As férias podem ser acumuladas em até 2 períodos

São temporárias e se do término de uma até o início de outra


da mesma natureza não decorrer mais de 60 dias, essa
segunda licença será considerada como uma prorrogação da
primeira.

Por motivo de doença


familiar

Por motivo de afastamento


LICENÇAS:
do cônjuge

Por motivo de Serviço


ESPÉCIES:
Militar

Por motivo de Atividade


Política:

Por motivo de capacitação

Por interesse particular

54
Para Mandado Classista

AFASTAMENTO

São hipóteses em que o servidor se afasta do exercício do serviço público para execução de
outras atividades de interesse da coletividade ou de cunho social.

Serviço em outro órgão/entidade

Mandado eletivo
ESPÉCIES: Estudo ou missão de interesse público no exterior

Pós-Graduação strictu senso no país

CONCESSÕES

São situações na qual o servidor pode se ausentar e o tempo de ausência será contado
efetivamente para todos os casos e não ocorrera prejuízo da remuneração.

1 dia para doação de


sangue

Até 2 dias para fins


Gerais eleitorais

8 dias para casamento


e para luto

Estudantes: tem
Podem ser:
direito à horário
especial para conciliar
o serviço com os

Especiais estudos, com


compensação de
horários;

Pessoas com
deficiência: o servidor

55
tem direito à horário
especial sem
necessidade de
compensação de
horários;

Familiar com
deficiência ou
doença: o servidor
tem direito à horário
especial com
compensação de
horários.

REGIME DISCIPLINAR

É o regime que estabelece as sanções administrativas. A responsabilidade do servidor tem a


possibilidade de ser transmitida em várias instancias, podendo sofrer até 3 sanções por uma
única infração, podendo ser punido nas esferas administrativa, civil e penal.

Via de regra, essas instancias são independentes entre si e não se comunicam, exceto se for
absolvido na esfera penal por inexistência de fato ou por negativa de autoria.

É aplicada em hipóteses de infrações mais leves.

A competência para aplicar tal penalidade é do próprio chefe


da repartição.

O prazo de prescrição é de 180 dias, contado da data em que

ADVERTÊNCIA a Administração tomou conhecimento do fato.

Depois de aplicada, essa penalidade é registrada no


assentamento pessoal do servidor e será cancelado o registro
após 3 anos, desde que o servidor não comenta nenhuma
outra infração punível com advertência.

56
Regra geral, o prazo máximo da suspensão e de até 90 dias.
A competência varia de acordo com o prazo da penalidade.

Há situações em que o administrador não poderá abrir mão da


prestação do serviço, nesses casos a penalidade de suspensão
poderá ser substituída por uma multa de 50% do valor da
remuneração.

SUSPENSÃO O prazo de prescrição é de 2 anos contados da data em que a


Administração tomou conhecimento do fato.

Se a suspensão for de até 30 dias, o próprio chefe da


repartição poderá aplica-la; se for mais de 30 dias, quem aplica
é a autoridade imediatamente inferior àquela competente para
aplicar a pena de demissão.

O prazo de cancelamento de registro da penalidade de


suspensão é de 3 anos.

Se o servidor ocupante de cargo em comissão ou função de


confiança cometer qualquer infração que enseja demissão ou

DESTITUIÇÃO DE CARGO suspensão, será destituído.

EM COMISSÃO OU FUNÇÃO
A prescrição é de 5 anos contados da data em que a
DE CONFIANÇA
Administração tomou conhecimento do fato.

E a competência é da autoridade que nomeou.

Enseja a perda do cargo em caráter punitivo.

DEMISSÃO A competência para aplicação dessa penalidade é do chefe


máximo do Poder ao qual o servidor está vinculado, porém tal

57
competência é delegável.

A prescrição é em 5 anos contados da data em que a


Administração tomou conhecimento do fato.

As hipóteses, competência e prescrição são igual as


hipóteses da demissão, o que muda é a situação funcional
do servidor. Se ele estiver em exercício será demitido, se tiver
aposentado será cassada sua aposentadoria e se for caso de
CASSAÇÃO DE disponibilidade esta será cassada.
APOSENTADORIA OU
Para aplicação desta penalidade, o servidor deve ter executado
DISPONIBILIDADE
as hipóteses de demissão durante a atividade.

É possível a cassação da disponibilidade fora das hipóteses de


demissão, no caso de o servidor em disponibilidade requisitado
para aproveitamento, não comparecer.

PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR

O processo administrativo disciplinar – PAD - serve para aplicar sanções aos servidores que
comentem infrações no serviço público, deve durar 60 dias, mas pode ser prorrogado por
igual período.

O PAD é instaurado por uma portaria que também designa uma comissão processante
composta de 3 servidores estáveis

Após a instauração, inicia-se o inquérito que


se divide em 3 subfases: Instrução: necessária para a produção ampla
de provas – busca pela verdade real.

58
Defesa: após a instrução, abre-se o prazo de
10 dias para a defesa. Se o servidor não for
encontrado para intimação será intimado por
edital e nesse caso o prazo de defesa será 15
dias. Se tiver mais de um acusado no mesmo
processo, o prazo será de 20 dias. Se o
servidor for revel será designado um defensor
dativo que irá apresentar defesa no lugar do
acusado. Esse defensor dativo deve ter nível
de escolaridade e igual ou superior ao
acusado e não precisa ser advogado.

Relatório da comissão processante: após


apresentação de defesa, o processo volta para
a comissão que irá elaborar um relatório. O
julgador do PAD deverá seguir a conclusão
apresentada no relatório, salvo se ela for
manifestamente contrária à prova dos autos.

Após o inquérito, a autoridade competente deve proferir o julgamento em, no máximo, 20 dias,
devendo ser motivado.

Pedido de reconsideração: tem prazo de 30


dias. É interposto perante a própria autoridade
que proferiu a decisão.
O servidor pode insurgir-se contra a decisão
proferida por meio de 3 formas:
Recurso: também tem prazo de 30 dias. É
interposto perante a autoridade superior e é
cabível a reformatio in pejus.

59
Revisão: o pedido de revisão pode ser feito a
qualquer tempo desde tenha fatos novos. É,
em verdade, um novo processo. Veda-se a
reformatio in pejus.
É possível um processo diferenciado no caso de abandono de cargo e inassiduidade
habitual, a lei prevê um processo sumário de no máximo 30 dias prorrogáveis por mais 15
dias. A comissão será formada por apenas 2 servidores estáveis. O prazo de defesa é de 5
dias. Esse mesmo processo é o aplicado na acumulação ilegal de cargos.

60
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

(Instituto AOCP – 2019- PC-ES - Investigador) Dentro da classificação dos agentes públicos,
os concessionários públicos e os mesários eleitorais são considerados, respectivamente:

A) Agentes delegados e agentes políticos.

B) Agentes administrativos e agentes políticos.

C) Agentes credenciados e agentes honoríficos.

D) Agentes delegados e agentes honoríficos.

E) Agentes honoríficos e agentes credenciados.

Comentário:

Conforme expressa menção constitucional:

Gabarito: Letra “D”.

Vamos relembrar?

Os agentes delegados são aqueles que atuam na prestação do serviço público por
meio de delegação.

Já os agentes honoríficos são aqueles que atuam mediante convocação efetivada


pelo Poder Público.

61
Questão 2

(instituto AOCP – 2019 – PC – ES – Escrivão de Polícia) A respeito dos deveres dos agentes
públicos, é correto afirmar que

A) a prática intempestiva, por omissão, pelo Agente Público, de atos de sua competência
não viola o seu dever de agir.
B) o dever de eficiência sujeita apenas os Agentes Públicos vinculados à Administração
Pública Direta.
C) o dever de probidade do Agente Público exige que ele realize os atos de sua
competência sempre buscando o melhor para a Administração Pública e, por
consequência, para o interesse público.
D) o Congresso Nacional não tem participação no julgamento das contas do Presidente da
República, tal ato é de competência exclusiva do Tribunal de Contas da União.
E) o dever de prestar contas está relacionado unicamente com a gestão de dinheiro
público.

Comentário:

Gabarito: Letra “C”.

Com efeito, o dever de probidade impõe ao agente público a necessidade de que


ele se paute pelos princípios de honestidade e moralidade em face dos administrados e da
própria Administração Pública. Assim, podemos afirmar que o dever de probidade tem como
fim, em último grau, a satisfação do interesse público. Assim, correta a letra “C”.

62
Questão 3

( VUNESP – 2018 – PC-BA – Investigador de Polícia) Considere o seguinte caso hipotético:

X é aprovado em concurso público da Secretaria Municipal de Educação, para o cargo de


agente educador. Devidamente empossado e em efetivo exercício, X termina o curso superior
de medicina que estava cursando. Logo em seguida, a Prefeitura Municipal decide aproveitar
os servidores que porventura possuam ensino superior e estejam em funções de ensino
médio, para tarefas mais complexas e condizentes com o potencial de cada um. Assim
promove um processo seletivo interno, destinado a ser preenchido por servidores da
Municipalidade que se enquadram nas condições supra. X participa da seleção e é aprovado
para o cargo de médico, o qual assume e passa a exercer.

A conduta da hipotética Prefeitura Municipal está

A) incorreta, pois, embora a seleção interna seja instrumento válido, sua amplitude deve
abranger somente os servidores vinculados a um determinado órgão ou ente da
Administração, não podendo, portanto, alcançar indistintamente todos os servidores
municipais.
B) correta, pois a Constituição Federal exige a realização de concursos de provas, ou
provas e títulos, mas não determina que o concurso deva ser, em todas as hipóteses, de
ampla concorrência. Então, a seleção realizada pela Municipalidade, ainda que restrita
aos já integrantes da Administração Municipal, equivale a um concurso público.
C) incorreta, pois é inconstitucional toda modalidade de provimento que propicie ao
servidor investir-se, sem prévia aprovação em concurso público destinado ao seu
provimento, em cargo que não integra a carreira na qual tenha sido anteriormente
investido.
D) correta, pois a Constituição Federal prevê, como forma de investidura em cargo público,
a realização de concurso público juntamente com as seleções internas, buscando que o
aperfeiçoamento dos servidores públicos seja incentivado.

63
E) incorreta, pois basta o ingresso na seleção interna efetuada pela Prefeitura Municipal
para que X incorra em acumulação indevida de cargos, já que a Constituição Federal
estabelece, como regra geral, que é vedada a acumulação remunerada de cargos
públicos.

Comentário:

Gabarito: Letra “C”.

Isso porque a conduta da Prefeitura está juridicamente incorreta, uma vez que, com
efeito, é inconstitucional toda modalidade de provimento que propicie ao servidor se investir,
sem prévia aprovação em concurso público. Vejamos o que dispõe o artigo 37, II da CF:

“Art. 37 (...).

II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em


concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a
complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações
para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração; “

Questão 4

(FUNCAB – 2014 – PC-RO – Escrivão de Polícia Civil) o que se refere à acumulação remunerada

de cargos públicos, assinale a opção correta.

A) Somente o cargo para cujo provimento se exija grau superior de escolaridade se inclui
no conceito de cargo de natureza técnica.
B) As regras de acumulação alcançam, também, as sociedades controladas direta ou
indiretamente pelo Poder Público.

64
C) O texto constitucional não permite regra concernente à possibilidade da percepção
simultânea de remuneração com proventos de aposentadoria.
D) Desde que haja compatibilidade de horários, admite-se, apenas, a acumulação de dois
cargos ou empregos públicos privativos de profissionais da saúde.
E) Não é lícita a acumulação de remuneração, ou de proventos por regime próprio, com
proventos de aposentadoria pelo Regime Geral da Previdência Social.

Comentário:

Gabarito: Letra “B”.

A) Incorreta. Não é necessário ensino superior para tanto, desde que haja
qualificação técnica.
B) Correta. Com efeito, a Lei 8112/90 dispõe sobre a proibição de acumular, que se
estende a cargos, empregos e funções em autarquias, fundações públicas,
empresas públicas, sociedades de economia mista da União, do Distrito Federal,
dos Estados, dos Territórios e dos Municípios.
C) Incorreta, pois contrária ao texto constitucional.
D) Incorreta. É possível a acumulação de dois de profissionais da saúde, de dois de
professor ou de um de professor com um técnico ou científico.
E) Incorreta. Ressalvadas as aposentadorias decorrentes dos cargos acumuláveis na
forma da CRFB, é vedada a percepção de mais de uma aposentadoria pelo
Regime Geral da Previdência Social.

Questão 5

(FUNCAB – 2014 – PC-RO – Escrivão de Polícia Civil) Acerca do Estatuto dos Servidores
Públicos Civis da União, assinale a opção correta.

A) O servidor eleito Deputado Estadual tem direito a optar pela remuneração do cargo
efetivo.

65
B) Se a investidura ocorrer no mandato de Prefeito, o servidor será afastado do cargo
efetivo, mas, nesse caso, terá direito a optar entre a remuneração até então percebida e
o subsídio relativo ao mandato.
C) O servidor fará jus à licença para atividade política com remuneração durante seis
meses, a partir do registro de sua candidatura, até o décimo dia após as eleições.
D) Ocorrendo a investidura no mandato de Vereador, havendo incompatibilidade de
horário, o servidor deverá afastar-se do cargo efetivo, não podendo optar entre a
remuneração e o subsídio.
E) Em caso de afastamento do cargo por investidura em mandato eletivo, o servidor não
contribuirá obrigatoriamente para a seguridade social como se no exercício do cargo
estivesse.

Comentário:

Gabarito: Letra “B”, nos termos do artigo 38, II da CRFB:

Art. 38. Ao servidor público da administração direta, autárquica e fundacional, no exercício


de mandato eletivo, aplicam-se as seguintes disposições:

I - tratando-se de mandato eletivo federal, estadual ou distrital, ficará afastado de seu


cargo, emprego ou função;

II - investido no mandato de Prefeito, será afastado do cargo, emprego ou função, sendo-


lhe facultado optar pela sua remuneração;

66
Questão 6

(CESPE – 2014 – PF – Agente de Polícia) No que se refere à organização administrativa e


agentes públicos, julgue o item a seguir.

Conforme entendimento do Supremo Tribunal Federal, se determinado concurso público


destinar-se ao provimento de duas vagas, não será possível que uma dessas vagas seja
destinada exclusivamente a pessoa portadora de necessidades especiais.

( ) Certo

( ) Errado.

Comentário:

Gabarito: Certo. De fato, temos que o limite máximo legal para o resguardo de
vagas em concursos públicos para pessoas com necessidades especiais é de 20%, e não de
50%.

Questão 7

(NUCEPE – 2014 – PC-PI – Escrivão de Polícia Civil) É CORRETO afirmar que

A) o prazo de validade do concurso público será de até 3 anos, prorrogável uma vez, por
igual período.
B) a acumulação remuneratória de qualquer cargo público, EXCETO quando houver
compatibilidade de horários, é vedada.
C) os vencimentos dos cargos do Poder Legislativo podem ser superiores aos pagos pelo
Executivo, em virtude da importância dos cargos.

67
D) é vedada a acumulação remuneratória de cargos públicos, salvo quando houver
compatibilidade de horários, no caso de um cargo de professor e outro de técnico ou
científico.
E) é obrigatória a equiparação remuneratória dos cargos públicos do Poder Legislativo,
Judiciário e Executivo em razão da harmonia e dependência entre os poderes.

Comentário:

Gabarito: Letra “D”. Veja o que dispõe a Constituição Federal:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:

XVI - é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos, exceto, quando houver


compatibilidade de horários, observado em qualquer caso o disposto no inciso XI:

a) a de dois cargos de professor

b) a de um cargo de professor com outro técnico ou científico

c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde, com profissões


regulamentadas.

Questão 8

(Aroeira -2014 – PC-TO – Agente de Polícia) O Policial Civil classifica-se como

A) Agente político.

B) Empregado público.

68
C) Agente honorífico.

D) Servidor público.

Comentário:
Gabarito: Letra “D”.

Questão 9

(UEF – 2013 – PC-GO – Escrivão de Polícia Civil) Em relação aos servidores públicos, tem-se
que

A) Os servidores estatutários são ocupantes de cargos públicos.

B) Os contratados sob o regime celetista são ocupantes de cargos públicos.

C) Os servidores estatutários são ocupantes de emprego público.

D) Os contratados temporariamente são ocupantes de emprego público.

Comentário:

Gabarito: Letra “A”.

Com efeito, os cargos públicos são ocupados por servidores públicos, sob o regime
estatutário, nas pessoas jurídicas de Direito Público.

69
Questão 10

(CESPE – 2013 – PC-DF – Agente de Polícia) Se um agente de polícia aposentado reingressar


no serviço público, por serem insubsistentes os motivos de sua aposentadoria, pode-se afirmar
que ocorreu a sua reversão.

( ) Certo

( ) Errado.

Comentário:

Gabarito: Certo.

Com efeito, a reversão é o retorno à atividade do servidor aposentados. Vejamos o


que dispõe a Lei 8112/90:

Art. 25 A reversão é o retorno à atividade de servidor aposentado:


I - por invalidez, quando junta médica oficial declarar insubsistentes os motivos da

aposentadoria; ou
II - no interesse da administração, desde que:
a) tenha solicitado a reversão;
b) a aposentadoria tenha sido voluntária;
c) estável quando na atividade;
d) a aposentadoria tenha ocorrido nos cincos anos anteriores à solicitação;
e) haja cargo vago.

70
GABARITO

Questão 1 - D

Questão 2 - C

Questão 3 - C

Questão 4 - B

Questão 5 - B

Questão 6 - CERTO

Questão 7 - D

Questão 8 - D

Questão 9 – A

Questão 10 - CERTO

71
QUESTÃO DESAFIO

Sobre as contratações temporárias, quais os seus requisitos?


Precisa realizar uma prova tipo concurso? E mais, o servidor

aposentado pode ser contratado temporariamente e receber o


salário cumulado com seus proventos de aposentadoria do
regime próprio? Observe a jurisprudência.

Máximo de 5 linhas

72
GABARITO DA QUESTÃO DESAFIO

A contratação temporária prevista na CF/88 tem como requisitos que deve ser
transitória e que seja para atender excepcional interesse público. Deve haver lei no
ente disciplinando as contratações e servidores aposentados podem ser contratados.
Não precisa ter prova, mas procedimento simplificado.

Você deve ter abordado necessariamente os seguintes itens em sua resposta:

 necessidade temporária do excepcional interesse

Permite-se a contratação de pessoal, por tempo determinado, para atender a necessidade


temporária do excepcional interesse público, definida em lei. Segundo Licínia Rossi, essa
admissão "[...] quebra a regra geral da necessidade de concurso público, mas se justifica
pela emergência da situação, apenas se exigindo um processo seletivo simplificado."

O art. 37, IX da CF/88 prevê o seguinte:

"IX — a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo determinado para atender a
necessidade temporária de excepcional interesse público;"

Assim, o ente federativo precisa respeitar esses critérios constitucionais e, caso não o faça,
poderá ter decretada inconstitucional sua lei, vejamos o que diz o STF:

"São inconstitucionais, por violarem o art. 37, IX, da CF/88, a autorização legislativa
genérica para contratação temporária e a permissão de prorrogação indefinida do prazo de
contratações temporárias." STF. Plenário. ADI 3662/MT, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em
23/3/2017 (Info 858).

Assim, precisa que a lei especifique o prazo desses contratos e a excepcional necessidade
deles e que não prorrogue indefinidamente.

Fontes:

73
ROSSI, Licínia Manual de direito administrativo / Licinia Rossi. – 6. ed. – São Paulo : Saraiva
Educação, 2020. p. 782.

CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Requisitos para que a contratação seja legítima.
Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/be3159ad04564bfb90db
9e32851ebf9c>. Acesso em: 24/07/2020

CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Lei de contratação temporária não pode prever
hipóteses genéricas nem a prorrogação indefinida dos contratos. Buscador Dizer o Direito,
Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/79cc30c73507cfc25d20f
e7f7bcfd91b>. Acesso em: 24/07/2020.

 processo simplificado, servidor aposentado pode

Segundo Ana Cláudia Campos, o que os interessados realizam é um processo simplificado de


seleção, muito menos rigoroso e formal se comparado ao concurso público, podendo ainda,
em situações de calamidade pública e emergência ambiental, existir a contratação direta,
dispensando-se essa seleção. Veja o que diz a lei federal de contratação temporária (Lei
8.745/1993):

"Art. 3.º O recrutamento do pessoal a ser contratado, nos termos desta Lei, será feito
mediante processo seletivo simplificado sujeito a ampla divulgação, inclusive através do Diário
Oficial da União, prescindindo de concurso público. § 1.º A contratação para atender às
necessidades decorrentes de calamidade pública, de emergência ambiental e de emergências
em saúde pública prescindirá de processo seletivo."

A respeito da cumulação de proventos do servidor aposentado com a remuneração de um


contrato temporário, a lei 8.112 é expressa no sentido de que a vedação é de novo vinculo
como EFETIVO, vejamos:

74
"Art. 118. Ressalvados os casos previstos na Constituição, é vedada a acumulação remunerada
de cargos públicos.

§ 3º Considera-se acumulação proibida a percepção de vencimento de cargo ou emprego


público efetivo com proventos da inatividade, salvo quando os cargos de que decorram essas
remunerações forem acumuláveis na atividade."

No mesmo sentido decidiu o STJ, vejamos:

"Não existe expressa vedação legal que impeça a acumulação de proventos de aposentadoria
no RGPS, ainda que em emprego público, com remuneração de função pública por
contratação temporária do art. 37, IX, da CF/88." STJ. 2ª Turma. REsp 1.298.503-DF, Rel. Min.
Humberto Martins, julgado em 7/4/2015 (Info 559).

Fontes:

CAMPOS, Ana Cláudia Direito Administrativo Facilitado / Ana Cláudia Campos. São Paulo:
Método; Rio de Janeiro: Forense, 2019. p.646.

CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Acumulação de aposentadoria de emprego público com


remuneração de “cargo” temporário. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/5c04925674920eb58467fb5
2ce4ef728>. Acesso em: 24/07/2020.

75
LEGISLAÇÃO COMPILADA

Legislação:
 Lei nº 8.112/90: íntegra
 CFRB/88: artigos 37 ao 40

Súmulas:
 STF: súmulas vinculantes nº 3, 4, 5, 16, 13, 21, 34, 37 e súmulas nº 11, 15, 16, 17, 19,
20, 21, 22, 679, 681, 682, 683, 684, 685, 686 e 726
 STJ: súmulas nº 137, 173, 218, 266, 377 e 378

76
JURISPRUDÊNCIA

Acumulação de cargo:

 RE 1176440 AgR, Relator(a): Min. ALEXANDRE DE MORAES, Primeira Turma, julgado


em 09/04/2019, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-098 DIVULG 10-05-2019 PUBLIC 13-05-2019

Ementa: AGRAVO INTERNO. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. DECISÃO AGRAVADA EM


CONSONÂNCIA COM A JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. 1. Nestes autos,
o Superior Tribunal de Justiça aplicou entendimento de sua 1ª Seção no sentido da (a)
“impossibilidade de cumulação de cargos de profissionais da área de saúde quando a jornada
de trabalho for superior a 60 horas semanais” e (b) validade do “limite de 60 (sessenta) horas
semanais estabelecido no Parecer GQ-145/98 da AGU nas hipóteses de acumulação de cargos
públicos, não havendo o esvaziamento da garantia prevista no art. 37, XVI, da Constituição
Federal”. 2. O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL tem entendimento consolidado no sentido de
que, havendo compatibilidade de horários, verificada no caso concreto, a existência de norma
infraconstitucional limitadora de jornada semanal de trabalho não constitui óbice ao
reconhecimento da cumulação de cargos. 3. Precedentes desta CORTE em casos idênticos ao
presente, no qual se discute a validade do Parecer GQ 145/1998/AGU: RE 1061845 AgR-
segundo, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, DJe 25-02-2019; ARE 1144845, Relator(a):
Min. ROSA WEBER, DJe 02/10/2018; RMS 34257 AgR, Relator(a): Min. RICARDO
LEWANDOWSKI, Segunda Turma, DJe 06-08-2018; RE 1023290 AgR-segundo, Relator(a): Min.
CELSO DE MELLO, Segunda Turma, DJe 06-11-2017; ARE 859484 AgR, Relator(a): Min. DIAS
TOFFOLI, Segunda Turma, DJe 19-06-2015. 4. Agravo Interno a que se nega provimento.

77
 RMS 34257 AgR, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma,
julgado em 29/06/2018, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-157 DIVULG 03-08-2018 PUBLIC 06-
08-2018

Ementa: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA.


PARECER GQ 145/1998/AGU. LIMITE MÁXIMO DE 60 HORAS SEMANAIS EM CASOS DE
ACUMULAÇÃO DE CARGOS OU EMPREGOS PÚBLICOS. IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES.
COMPATIBILIDADE DAS JORNADAS DE TRABALHO DA IMPETRANTE. COMPROVAÇÃO.
AGRAVO A QUE SE NEGA PROVIMENTO, COM APLICAÇÃO DE MULTA. I – A existência de
norma infraconstitucional que estipula limitação de jornada semanal não constitui óbice ao
reconhecimento do direito à acumulação prevista no art. 37, XVI, c, da Constituição, desde que
haja compatibilidade de horários para o exercício dos cargos a serem acumulados.
Precedentes. II - Agravo regimental a que se nega provimento, com aplicação da multa
prevista no art. 1.021, § 4°, do CPC.

Teto remuneratório:

 RE 663696, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado em 28/02/2019,


PROCESSO ELETRÔNICO DJe-183 DIVULG 21-08-2019 PUBLIC 22-08-2019

Ementa: DIREITO ADMINISTRATIVO. REPERCUSSÃO GERAL. CONTROVÉRSIA DE ÍNDOLE


CONSTITUCIONAL ACERCA DO TETO APLICÁVEL AOS PROCURADORES DO MUNICÍPIO.
SUBSÍDIO DO DESEMBARGADOR DE TRIBUNAL DE JUSTIÇA, E NÃO DO PREFEITO. FUNÇÕES
ESSENCIAIS À JUSTIÇA. RECURSO EXTRAORDINÁRIO PROVIDO. 1. Os procuradores municipais
integram a categoria da Advocacia Pública inserida pela Constituição da República dentre as

78
cognominadas funções essenciais à Justiça, na medida em que também atuam para a
preservação dos direitos fundamentais e do Estado de Direito. 2. O teto de remuneração
fixado no texto constitucional teve como escopo, no que se refere ao thema decidendum,
preservar as funções essenciais à Justiça de qualquer contingência política a que o Chefe do
Poder Executivo está sujeito, razão que orientou a aproximação dessas carreiras do teto de
remuneração previsto para o Poder Judiciário. 3. Os Procuradores do Município,
consectariamente, devem se submeter, no que concerne ao teto remuneratório, ao subsídio
dos desembargadores dos Tribunais de Justiça estaduais, como impõe a parte final do art. 37,
XI, da Constituição da República. 4. A hermenêutica que exclua da categoria “Procuradores” -
prevista no art. 37, XI, parte final, da CRFB/88 – os defensores dos Municípios é
inconstitucional, haja vista que ubi lex non distinguit, nec interpres distinguere debet. 5. O
termo “Procuradores”, na axiologia desta Corte, compreende os procuradores autárquicos,
além dos procuradores da Administração Direta, o que conduz que a mesma ratio legitima,
por seu turno, a compreensão de que os procuradores municipais, também, estão abrangidos
pela referida locução. Precedentes de ambas as Turmas desta Corte: RE 562.238 AgR, Rel. Min.
Teori Zavascki, Segunda Turma, DJe 17.04.2013; RE 558.258, Rel. Min. Ricardo Lewandowski,
Primeira Turma, DJe 18.03.2011. 6. O texto constitucional não compele os Prefeitos a
assegurarem aos Procuradores municipais vencimentos que superem o seu subsídio,
porquanto a lei de subsídio dos procuradores é de iniciativa privativa do chefe do Poder
Executivo municipal, ex vi do art. 61, §1º, II, “c”, da Carta Magna. 7. O Prefeito é a autoridade
com atribuição para avaliar politicamente, diante do cenário orçamentário e da sua gestão de
recursos humanos, a conveniência de permitir que um Procurador do Município receba
efetivamente mais do que o Chefe do Executivo municipal. 8. As premissas da presente
conclusão não impõem que os procuradores municipais recebam o mesmo que um
Desembargador estadual, e, nem mesmo, que tenham, necessariamente, subsídios superiores
aos do Prefeito. 9. O Chefe do Executivo municipal está, apenas, autorizado a implementar, no
seu respectivo âmbito, a mesma política remuneratória já adotada na esfera estadual, em que
os vencimentos dos Procuradores dos Estados têm, como regra, superado o subsídio dos
governadores. 10. In casu, (a) o Tribunal de Justiça de Minas Gerais reformou a sentença
79
favorável à associação autora para julgar improcedentes os pedidos, considerando que o art.
37, XI, da Constituição da República, na redação conferida pela Emenda Constitucional 41/03,
fixaria a impossibilidade de superação do subsídio do Prefeito no âmbito do Município; (b)
adaptando-se o acórdão recorrido integralmente à tese fixada neste Recurso Extraordinário,
resta inequívoco o direito da Recorrente de ver confirmada a garantia de seus associados de
terem, como teto remuneratório, noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por cento do
subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal. 11. Recurso
extraordinário PROVIDO. Tese da Repercussão Geral: A expressão ‘Procuradores’, contida na
parte final do inciso XI do art. 37 da Constituição da República, compreende os Procuradores
Municipais, uma vez que estes se inserem nas funções essenciais à Justiça, estando, portanto,
submetidos ao teto de noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por cento do subsídio
mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal.

Reintegração:

 AgInt no AREsp 1285218/CE, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA


TURMA, julgado em 11/09/2018, DJe 18/09/2018

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO


ESPECIAL. ENUNCIADO ADMINISTRATIVO 3/STJ. SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL.
REINTEGRAÇÃO. DIREITO AO RESSARCIMENTO DE TODAS AS VANTAGENS. AGRAVO INTERNO
NÃO PROVIDO.
1. O entendimento perfilhado pelo Tribunal estadual está em consonância com a
jurisprudência desta Corte Superior, firme no sentido de que "o servidor reintegrado deve ser
ressarcido dos vencimentos a que faria jus desde o desligamento indevido, a fim de
restabelecer a situação injustamente desconstituída" (AgRg no AREsp 165.575/RJ, Rel. Ministro
BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado em 21/11/2013, DJe 29/11/2013).
2. Agravo interno não provido.

80
Reajuste:

 EREsp 1577881/DF, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado


em 27/06/2018, DJe 09/08/2018

ADMINISTRATIVO. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL.


POLICIAIS RODOVIÁRIOS FEDERAIS. REAJUSTE DE 28,86%. LIMITAÇÃO TEMPORAL DO
REAJUSTE. LEI 9.654/98. 1. Hipótese em que o Superior Tribunal de Justiça mantinha o
entendimento de que a Lei 9.654/98 serve como termo final dos pagamentos das diferenças
de 28,86%, por haverem sido absorvidas integralmente por referida Lei. 2. O acórdão
embargado, não obstante, seguiu a orientação adotada quando da superação de tal
entendimento no âmbito da Segunda Turma, o que se deu com o julgamento dos EDcl no
AgRg no REsp 1.415.895/DF, oportunidade em que a Segunda Turma, por maioria de votos,
negou provimento ao recurso da União, com base na tese de que a Lei 9.654/98 não
reestruturou a carreira dos Policiais Rodoviários Federais, apenas estipulou o pagamento de
novas gratificações, razão pela qual não teria aptidão para absorver índice de reajuste geral.
3. O direito ao recebimento das diferenças de 28,86% foi judicialmente reconhecido como
devido aos Policiais Rodoviários Federais em decorrência de ser-lhes extensivo o reajuste
concedido pelas Leis 8.622/93 e 8.627/93 aos servidores militares, aplicando-se o preceito
constitucional que assegura aos servidores públicos "revisão geral", "na mesma data" e "sem
distinção de índices" (37, X, da Constituição).
4. A Lei 9.654/98 manteve a estrutura dos cargos integrantes da categoria e manteve no
mesmo valor o vencimento básico dos Patrulheiros/Policiais Rodoviários federais, apenas
alterando o tratamento jurídico de gratificações percebidas pelos integrantes da categoria.
5. Não havendo a Lei 9.654/98 operado reestrutuação da carreira dos Policiais Rodoviários
Federais nem aumentado o vencimento básico do servidor, não há como se concluir que o
reajuste no percentual de 28,86% tenha sido incorporado pelas alterações na sistemática de
remuneração dos Policiais Rodoviários Federais promovidas pela Lei 9.654/98.
6. Embargos de divergência a que se nega provimento.

81
Equiparação de remuneração:

 ADI 145, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 20/06/2018,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-162 DIVULG 09-08-2018 PUBLIC 10-08-2018

EMENTA Ação direta de inconstitucionalidade. Artigos e expressões da Constituição do Estado


do Ceará, promulgada em 5 de outubro de 1989, e de suas Disposições Constitucionais
Transitórias. Parcial prejudicialidade. Alteração substancial. Eficácia exaurida. Mérito. Autonomia
financeira do Ministério Público. Vedação de equiparação e vinculação remuneratória. Artigo
37, VIII, e art. 39, § 1º, da CF. Vedação de criação de procuradorias autárquicas. Artigo 132 da
CF. Vício formal. Prerrogativa de propositura legislativa dos Poderes Executivo e Judiciário.
Procedência parcial do pedido. 1. Revogação expressa dos arts. 145; 168, § 5º; e 335,
parágrafo único, da Carta estadual. Alteração substancial de conteúdo dos arts. 140, parágrafo
único; 141, III; 152, caput, I, III, IV; 176, § 10; arts. 183, parágrafo único; 187, § 2º; e 189, § 2º,
todos da Carta cearense, de forma a descaracterizar o substrato normativo antes confrontado
com a Constituição Federal. Exaurimento dos efeitos da regra de anistia tributária prevista no
art. 37 do ADCT, na medida em que o termo a quo de aplicabilidade do benefício fiscal foi
atingido no final de 1989. Perda parcial de objeto da ação direta de inconstitucionalidade.
Precedentes. 2. Tendo em vista que a presente ação foi ajuizada em 1989, algumas
disposições constitucionais apontadas como parâmetro constitucional de controle foram
alteradas durante o transcurso do processamento da ação. Afasta-se, no entanto, a alegação
de prejuízo da ação em virtude dessas alterações, na esteira da jurisprudência mais recente da
Corte (ADI nº 2.158/PR e nº 2.189/PR, de minha relatoria, DJe de 16/12/10; ADI nº 94/RO,
Relator o Ministro Gilmar Mendes, DJ de 16/12/11; ADI nº 239/RJ, de minha relatoria, DJe
30/10/14). 3. A falta da expressão “autonomia financeira” no art. 127, § 2º, da Constituição
Federal não invalida a construção interpretativa de sua efetiva existência como garantia do
livre exercício das funções institucionais do Ministério Público. Mesmo antes da Emenda
Constitucional nº 19/98, o STF já consagrava a competência do Ministério Público para a
fixação da política remuneratória de seus membros e dos serviços auxiliares. Precedentes.
Constitucionalidade dos arts. 135, caput e I, e 136 da Constituição do Estado do Ceará. 4. É

82
inconstitucional o art. 147, § 1º, da Carta estadual, o qual prevê a aplicação aos defensores
públicos do regime de garantias, vencimentos, vantagens e impedimentos do Ministério
Público e da Procuradoria-Geral do Estado. Os estatutos jurídicos das carreiras do Ministério
Público e da Defensoria Pública foram tratados de forma diversa pelo texto constitucional
originário. A equivalência remuneratória entre as carreiras encontra óbice no art. 37, inciso XIII,
da Constituição Federal, que veda a equiparação ou a vinculação remuneratória. A previsão
original do art. 39, § 1º, da Constituição Federal, que assegurava a isonomia remuneratória
entre os servidores de atribuições iguais ou assemelhadas, não poderia ser invocada a favor
dos defensores públicos, tendo por paradigma os membros do Ministério Público, em razão
da autonomia financeira de que goza a entidade, da qual, à época, ainda não dispunham as
defensorias públicas estaduais, o que somente foi assegurado com o advento da Emenda
Constitucional nº 45/04 (art. 134, § 2º, da Constituição Federal). 5. O art. 152, parágrafo único,
da Constituição do Estado do Ceará, ao estabelecer que o Governador do Estado deve
encaminhar à Assembleia Legislativa projeto de lei dispondo sobre a organização e o
funcionamento da Procuradoria-Geral do Estado e das procuradorias autárquicas, admite, de
forma geral e para o futuro, a existência de órgãos jurídicos, no âmbito das autarquias e
fundações, distintos da Procuradoria-Geral do Estado, em clara afronta ao modelo
constitucional do art. 132 da Carta Federal. A Constituição Federal estabeleceu um modelo de
exercício exclusivo, pelos procuradores do estado e do Distrito Federal, de toda a atividade
jurídica das unidades federadas estaduais e distrital – o que inclui as autarquias e as
fundações -, seja ela consultiva ou contenciosa. A previsão constitucional, também conhecida
como princípio da unicidade da representação judicial e da consultoria jurídica dos estados e
do Distrito Federal, estabelece competência funcional exclusiva da procuradoria-geral do
estado. A exceção prevista no art. 69 do ADCT deixou evidente que, após a Constituição de
1988, não é mais possível a criação de órgãos jurídicos distintos da procuradoria-geral do
estado, sendo admitida apenas a manutenção daquelas consultorias jurídicas já existentes
quando da promulgação da Carta. Trata-se de exceção direcionada a situações concretas e do
passado, que, por essa razão, deve ser interpretada restritivamente, inclusive com atenção à
diferenciação entre os termos “consultoria jurídica” e “procuradoria jurídica”, uma vez que essa
83
última pode englobar as atividades de consultoria e representação judicial. 6. A equiparação
remuneratória entre servidores, a teor da redação originária do art. 39, § 1º, da Carta Federal,
restringiu-se aos servidores da administração direta, não se mencionando os entes da
administração indireta. Precedentes. Por essa razão, é inconstitucional a expressão “das
autarquias e das fundações” contida no § 1º do art. 166 da Carta cearense. Além disso, o
dispositivo em apreço não foi recepcionado, em sua integralidade, pela redação atual do art.
39 da Constituição Federal, conferida pela Emenda Constitucional nº 19/98, incidindo, ainda, a
vedação de vinculação ou equiparação de quaisquer espécies remuneratórias para efeito de
remuneração de pessoal do serviço público, prevista no art. 37, XIII, da Constituição Federal. 7.
Os parágrafos do art. 184 da Constituição do Ceará, ao estabelecerem equiparação
remuneratória entre a carreira dos delegados de polícia e a de promotores de justiça, além de
isonomia e vinculação de remuneração entre os servidores das diferentes carreiras da polícia
civil, afrontam o art. 37, XIII, da Constituição Cidadã. 8. É constitucional a previsão contida no
art. 215, IV, da Constituição do Ceará quando assegura a isonomia salarial para docentes em
exercício com titulação idêntica, respeitando-se o grau de ensino em que atuam e a carga
horária do respectivo regime. Não há, no caso, equiparação salarial de carreiras distintas, pois
se trata especificamente da carreira de magistério público e de docentes com titulação
idêntica, devendo, no entanto, ser respeitados os respectivos regime e carga horária. 9.
Inconstitucionalidade dos arts. 154, § 2º; 167, XII, XIII, §§ 1º e 2º; e 174 da Constituição do
Estado do Ceará, e dos arts. 27 e 28 do ADCT. Os dispositivos questionados tratam de
remuneração e direitos de servidores públicos, os quais, não encontrando similares na
Constituição Federal, somente poderiam ser veiculados por lei de iniciativa do chefe do Poder
Executivo. São previsões específicas que não tratam da organização ou da estruturação do
estado-membro ou de seus órgãos, mas que versam sobre o regime jurídico de servidores
públicos, expressamente submetido a tal prerrogativa. Do mesmo modo, a fixação de teto de
vencimento para os escrivães de entrância especial, de modo que não exceda oitenta por
cento dos vencimentos dos juízes de entrância inferior, prevista no art. 174 da Constituição do
Estado, além de incidir em vinculação de vencimentos de carreiras distintas, afronta a iniciativa
legislativa do Poder Judiciário, em atendimento ao disposto no art. 96, inciso II, alínea b, da
84
Constituição Federal. 10. O art. 167, inciso XIII e § 2º, da Constituição estadual estabelece a
aposentadoria em montante remuneratório maior do que aquele previsto para o cargo
desempenhado em atividade, remetendo o valor dos proventos aos cargos imediatamente
superiores do quadro funcional ou com acréscimo de gratificação, o que não encontra
paradigma na Constituição Federal. Essa previsão não era considerada materialmente
inconstitucional à época da edição da Carta, uma vez que a superação da remuneração em
atividade era tolerada na redação original da Carta da República. Porém, toda a parte
previdenciária contida no art. 167 da Constituição estadual não foi agasalhada pela Lei
Fundamental a partir da Emenda Constitucional nº 20/98. A superação do patamar
remuneratório da atividade e a impossibilidade de incorporação da remuneração do cargo em
comissão para fins de aposentadoria foram estabelecidas expressamente pelo art. 40, §§ 2º e
3º, da Constituição Federal. 11. Ação direta da qual se conheceu em parte, relativamente à
qual a ação é julgada parcialmente procedente.

85
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARVALHO FILHO, José dos Santos. MANUAL DE DIREITO ADMINSITRAVO. 30 Ed. São
Paulo: Atlas, 2016.

CARVALHO, Matheus. MANUAL DE DIREITO ADMINSITRAVO. 3 ed. Salvador: JusPODIVM,


2016.

MAZZA, Alexandre. MANUAL DE DIREITO ADMINSITRAVO – 9. ed. – São Paulo: Saraiva


Educação, 2019.

OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende. CURSO DE DIREITO ADMINISTRATIVO. 5 ed. Rio de


Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2017.

PIETRO, Maria Sylvia Zanella Di. DIREITO ADMINISTRATIVO. 32. ed. rev. atual e ampl. – Rio
de Janeiro: Forense, 2019.

86
CARREIRAS POLICIAIS

Direito Administrativo
Capítulo 12
SUMÁRIO
DIREITO ADMINISTRATIVO ........................................................................................................................................... 2

1. Responsabilidade Civil do Estado ...................................................................................................................... 2

1.1 Evolução histórica ................................................................................................................................................. 2

1.2 Teorias ........................................................................................................................................................................ 4

1.2.1 Teoria do Risco Administrativo ....................................................................................................................... 4

1.2.2 Teoria da Culpa Anônima ou Culpa do Serviço ...................................................................................... 7

1.2.3 Teoria do Risco Criado ou do Risco Suscitado ........................................................................................ 7

1.2.4 Teoria do Risco Integral ..................................................................................................................................... 8

1.3 Responsabilidade do Agente e Ação de Regresso ................................................................................ 8

1.4 Prescrição ............................................................................................................................................................... 10

1.5 Responsabilidade por obra pública ........................................................................................................... 11

1.6 Responsabilidade por ato legislativo ........................................................................................................ 11

1.7 Responsabilidade por atos jurisdicionais................................................................................................. 12

QUADRO SINÓTICO ...................................................................................................................................................... 14

QUESTÕES COMENTADAS ........................................................................................................................................ 20

GABARITO ........................................................................................................................................................................... 29

LEGISLAÇÃO COMPILADA............................................................................................................................................ 33

JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................................................................. 34

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................................. 43

1
DIREITO ADMINISTRATIVO

Capítulo 12

1. Responsabilidade Civil1 do Estado

1.1 Evolução histórica

Antes de iniciamos o assunto de responsabilidade propriamente dito, é relevante


apontar a evolução história por qual passou tal matéria.

Inicialmente, o Estado não tinha nenhuma responsabilidade, ou seja, a teoria vigente


era a da irresponsabilidade do Estado.

Na teoria da irresponsabilidade estatal, "o rei nunca errava" (the king can do not
wrong). As monarquias absolutistas se fundavam numa ideia de soberania, e o Estado não
respondia por seus atos.

O Brasil não teve a fase da irresponsabilidade.

O primeiro caso de responsabilidade do Estado se deu na França e ficou


conhecido como caso "Blanco". Esse caso ocorreu por volta de 1873 quando Agnés Blanco,

1
Vide questões 03 e 04 ao final do capítulo.
2
uma menina de apenas 5 anos de idade, ao atravessar uma rua da cidade de Bordeaux, foi
atropelada por um vagão da Companhia Nacional de Manufatura de Tabaco, empresa pública.
O vagão era empurrado por quatro funcionários e, em virtude do atropelamento, uma das
pernas de Agnés teve que ser amputada.

Diante de tal fato, o Conselheiro Davi concluiu que o Conselho de Estado era
competente para decidir a controvérsia, como também deveria fazê-lo em termos publicísticos,
já que o Estado era parte na relação jurídica. Com isso, houve o afastamento do instituto da
responsabilidade do campo do direito civil, reconhecendo o carácter especial das regras
aplicáveis aos serviços públicos. Após apreciação do caso por parte do Conselho do Estado,
este decide conceder uma pensão vitalícia à vítima.

Sendo assim, o Estado, que, até então, agia irresponsavelmente, passou a ser
responsável, em casos pontuais, sempre que houvesse previsão legal específica para
responsabilidade. No Brasil, surgiu com a criação do Tribunal Conflitos, em 1873.

A teoria da responsabilidade do Estado evoluiu e se começou a admitir a sua


responsabilidade sem a necessidade de expressa dicção legal.

Com isso surgiu a teoria da responsabilidade subjetiva ou teoria civilista. Para a


aplicação dessa teoria era necessária a comprovação da conduta do Estado; da ocorrência do
dano; do nexo de causalidade e do elemento subjetivo, qual seja responsabilidade.

No Direito Brasileiro, a responsabilidade subjetiva (teoria civilista) tinha


embasamento no Código Civil de 1916.

Com o passar dos anos surgiu a teoria da Culpa do Serviço ou faute du servisse.
Essa teoria visava maior proteção à vítima, eis que era difícil provar a culpa do agente. Neste
caso, a vítima apenas deve comprovar que o serviço foi mal prestado ou prestado de forma
ineficiente ou ainda com atraso, sem necessariamente apontar o agente causador.

3
Enfim, evoluiu-se até a Responsabilidade Objetiva do Estado, em que não era
necessário comprovar existência de qualquer elemento subjetivo.

1.2 Teorias

1.2.1 Teoria do Risco Administrativo

A Teoria do risco administrativo2 está consagra no art. 37, §6º da CRFB/88, ao


apontar que as pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de
serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a
terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

A responsabilidade do Estado é objetiva3, ou seja, se baseia em três elementos: a


conduta, o dano causado e o nexo de causalidade. Assegura-se, todavia, o direito de regresso
nos casos de dolo o culpa do agente.

 Conduta:

A conduta deve ser de determinado agente público que atue nesta qualidade ou, ao
menos, se aproveitando da qualidade de agente para causar o dano. O agente autor da
conduta pode ser das pessoas jurídicas de Direito Público da Administração Direta, além de
autarquias e fundações públicas de Direito Público e das Empresas Públicas e Sociedades de
Economia Mista prestadoras de serviço público.

Importa mencionar que, mesmo que o agente público não esteja trabalhando, mas
se aproveite da condição de agente e nessa circunstância cause o dano, haverá a
responsabilidade do Poder Público. Tal situação é corolário da teoria da imputação - ou
teoria do órgão - que define que a conduta do agente público deve ser imputada ao ente
estatal que ele representa.

2
Vide questões 01 e 04 ao final do capítulo.
3
Vide questões 02, 06, 07 e 09 ao final do capítulo.
4
Ressalte-se, ainda, entende a melhor doutrina, que a conduta que enseja a
responsabilidade objetiva do ente público é a conduta comissiva, eis que a omissão em casos
de condutas omissivas, a responsabilidade será subjetiva.

Um mesmo ato pode ensejar um dano anormal a alguns administrados e não a outros. Tal
situação gera o dever de indenizar determinadas pessoas, mas não enseja a reparação em
relação a outras é o que a doutrina denominou de Teoria do Duplo Efeito dos atos
administrativos.

 Dano:

Outro elemento necessário para configuração da responsabilidade objetiva é a


demonstração de ocorrência de dano.

Os danos que geram responsabilidade do estado são os danos jurídicos, ou seja, o


dano a um bem tutelado pelo direito, ainda que exclusivamente moral.

Ressalta-se que os danos podem decorrer de atos lícitos, e nesse caso, a


responsabilização do ente estatal depende da comprovação de que estes danos são anormais
e específicos, uma vez que as restrições normais e legais resultam do chamado risco social,
ao qual todos os cidadãos devem suportar.

Nos atos ilícitos não tal necessidade, uma vez que a própria conduta gera o dever
de indenizar, haja vista a violação ao princípio da legalidade.

5
O dano pode ser causado a terceiro que ostente ou não a qualidade de usuário do
serviço.

 Nexo de causalidade:

Como regra, o Brasil adotou a teoria da causalidade adequada, por meio da qual o
Estado responde, desde que sua conduta tenha sido determinante para o dano causado. Se
ficar provado que o dano se deu por influências de outras condutas, interrompe-se o nexo
causal e exclui-se a responsabilidade do Estado.

As situações em que ocorre a interrupção do nexo de causalidade são chamadas de


excludentes de responsabilidade do Estado, quais sejam: Caso Fortuito, Força Maior e Culpa
Exclusiva da Vítima.

A culpa concorrente – da vítima e do Estado – apenas atenua a responsabilidade de uma


das partes, eis que os dois serão responsabilizados.

6
1.2.2 Teoria da Culpa Anônima ou Culpa do Serviço

É a responsabilidade pela omissão do Estado que é do tipo subjetiva4, mas não


nos mesmo moldes da civilista, eis que não é precisa demonstrar o dolo e nem a culpa do
agente, e sim do serviço.

Sendo assim, são elementos definidores dessa responsabilidade: o comportamento


omissivo do Estado, o dano, o nexo de causalidade e a culpa do serviço público que deve de
ato omissivo ilícito - ausência de cumprimento de seus deveres legalmente estabelecidos.

Essa teoria expressa que a má prestação do serviço, a prestação ineficiente ou a


ausência de prestação do serviço gera a responsabilidade subjetiva.

Porém, o Estado não responde por fatos da natureza e também não responde
por atos de terceiros ou atos de multidões, desde que não tenha dito a possibilidade de
evitar o dano.

1.2.3 Teoria do Risco Criado ou do Risco Suscitado

Se mesmo diante da omissão do estado, este possuía um dever legal e específico


de cuidado, quando mantém alguém sob sua custódia, a responsabilidade será objetiva.

Exemplos muito cobrado em provas são: casos de morte de detentos ou o caso de


um detento que foge da prisão e assalta, uma casa ao lado do presídio. Matheus Carvalho
aponta que nesses casos, o Estado deve ser responsabilizado, vez que assumiu o risco ao
construir o presídio naquela região residencial e não cuidou da segurança necessária. Porém,
se a fuga do detento ocorre e o delito cometido se dá bem distante do presídio ou muito
tempo após a fuga, não há nexo causal com a situação de risco, logo, não há motivo para se
mencionar responsabilidade objetiva.

4
Vide questões 08 e 10 ao final do capítulo.
7
Nas situações de presos que fogem com frequência do presídio e nenhuma
providência é adotada, entende-se que haverá a responsabilização, ainda que haja uma
situação de caso fortuito, bastando a comprovação de que este fortuito só foi possível em
virtude da custódia. É o chamado fortuito interno - ou caso fortuito.

Porém, se um preso é atingido por um raio trata-se de um fortuito externo - ou


força maior – sendo tal fato alheio e independente da situação de custódia, não gerando a
responsabilização.

1.2.4 Teoria do Risco Integral

É considerada objetiva, mas não admite nenhuma exclusão de responsabilidade.

Adota-se essa teoria no caso de dano nuclear, dano ambiental, crimes ocorridos a
bordo de navio, ataques terroristas e nos casos de DPVAT.

1.3 Responsabilidade do Agente e Ação de Regresso

O artigo 37, §6° da Constituição estabelece que a responsabilização do ente público


é objetiva, mas a responsabilidade de seus agentes é subjetiva.

O agente que ensejou o dano deve ressarcir os prejuízos que o Poder Público
pagou à vítima, por meio da ação de regresso, mas este deve provar a existência de dolo ou
culpa do agente público.

Responsabilidade do Estado Estado cobra do agente


(subjetiva) (Responsabilidade subjetiva)

8
Diante disso, muito se questiona se a vítima poderia entrar com ação diretamente
contra o agente ou ainda, se na ação proposta pela vítima contra o Estado poderia ocorrer a
denunciação à lide em face do agente público. Explica-se:

No CPC/15, está prevista a denunciação à lide, que é uma intervenção de terceiro


que acarreta a ampliação subjetiva ulterior do processo. Ou seja, proposta a denunciação, o
processo passará a ter duas demandas: a principal, envolvendo autor e réu; e a incidental,
envolvendo denunciante e denunciado. É admissível a denunciação da lide, promovida por
qualquer das partes, dentre outros casos, àquele que estiver obrigado, por lei ou pelo
contrato, a indenizar, em ação regressiva, o prejuízo de quem for vencido no processo.

Quanto à possibilidade de ação direta contra o agente, o STF já pacificou o


entendimento de que não é possível a propositura de ação, diretamente, em face do
agente público causador do dano, ao indicar que art. 37, §6° da CRFB/88 garantiu à vítima o
direito de ser indenizada pelo Estado e concedeu ao agente a garantia de só ser cobrado pelo
ente. É o que se chama de teoria da dupla garantia.

Quanto à possibilidade de denunciação da lide pelo Estado, o entendimento


doutrinário majoritário, é também pela impossibilidade. Conforme Matheus Carvalho, essa
impossibilidade decorre do fato de que a denunciação à lide geraria uma ampliação subjetiva
do mérito da ação, acarretando à vítima manifesto prejuízo à celeridade na prestação
jurisdicional.

9
O Superior Tribunal de Justiça vem admitindo a denunciação à lide do agente público, para
prestigiar a economia processual, eficiência e celeridade. Mas acrescenta que o Estado não
está obrigado a fazê-la, podendo exercer o direito de regresso também de forma autônoma.

1.4 Prescrição

Há divergência doutrinária e jurisprudencial em relação ao prazo prescricional para


propositura de ação indenizatória em face do Estado.

É que conforme o disposto no art. 1° do Decreto 20.910/32 e art. 1°-C da Lei


9494/97 a prescrição para as ações de reparação civil contra o Estado ocorre em 5 anos.
Porém, o Código Civil de 2002, no seu art. 206, §3°, V estabeleceu que a ação de reparação
civil prescreve em 3 anos.

Apesar de a questão ainda não estar pacificada, a doutrina majoritária e o STJ


apontam que o prazo prescricional de tal ação é de 5 anos e para fins de provas de
concursos deve-se seguir esse posicionamento.

Cabe ressaltar que a ação de ressarcimento ao erário por danos causados por
agentes ao patrimônio público, é imprescritível. Caso o dano tenha sido causado por um
particular, a ação de ressarcimento neste caso prescreve em 3 anos, nos moldes do Código
Civil de 2002.

10
1.5 Responsabilidade por obra pública

A responsabilidade decorrente de obras públicas pode variar de acordo com a


hipótese. Vejamos:

 Responsabilidade decorrente da má execução da obra:

Nesse caso, deve-se apontar quem estava executando a obra, para que seja
responsabilizado.

Se a obra é executada pelo próprio Estado, a responsabilidade será objetiva. Por


outro lado, se a obra mal executada foi realizada por um particular que firmou contrato
administrativo, e que o dano foi provocado por culpa exclusiva do executor, a
responsabilidade será subjetiva.

Porém, se o Estado foi omisso no dever de fiscalizar o contrato firmado, José dos
Santos Carvalho Filho indica que este deve ser responsabilizado subjetivamente.

 Responsabilidade pelo simples fato da obra:

Neste caso, o dano não decorre da má execução da obra, mas sim da existência da
obra sendo irrelevante saber quem está executando-a.

Ocorrendo o prejuízo, a responsabilidade é objetiva e do Estado. Mesmo que a


obra traga benefício para a coletividade, pelo fato de ter causado prejuízo a um administrado,
não poderá este deixar de ser indenizado.

1.6 Responsabilidade por ato legislativo

Acerca da responsabilização por atos legislativos, é necessária a diferenciação entre


leis de efeitos concretos e leis em sentido formal e material (leis gerais e abstratas).

11
 Leis de efeitos concretos:

As leis de efeito concreto são aquelas que ostentam a qualidade de lei em sentido
formal, mas são, na verdade, atos administrativos.

De tais leis decorre a responsabilidade civil do ente público que a emanou de


forma objetiva, ou seja, com base da teoria do risco administrativo.

 Leis em sentido formal e material

Já as leis em sentido formal e material, configuram-se como sendo atos legislativos


típicos, ou seja, emanado pelo Poder Legislativo.

Por se tratarem de normais gerais e abstratas, via de regra, não geram


responsabilidade civil do Estado.

Parte da doutrina entende que excepcionalmente é possível a responsabilidade por


atos legislativos desde que presentes dois requisitos: (i) decorrer dano especifico a alguém;
e (ii) o ato normativo for declarado inconstitucional.

1.7 Responsabilidade por atos jurisdicionais

O entendimento majoritário aponta a irresponsabilidade do ente público por atos


jurisdicionais típicos.

Porém, a Constituição traz uma exceção, ou seja, um caso em que haverá


responsabilização decorrente da decisão judicial. Com efeito, o art. 5°, LXXV da CF define que:

Art. 5°. LXXV: o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim
como o que ficar preso além do tempo fixado na sentença;

12
Em suma, entende-se que a prisão em sim, não é ato jurisdicional, e sim ato
administrativo exercido posteriormente à decisão judicial, em sede de cumprimento e
execução da pena.
Nessa hipótese, a ação regressiva deve ser proposta em face do magistrado,
devendo-se demonstrar dolo ou erro grosseiro, eis que o magistrado possuí a garantia de
independência ao prolatar suas decisões, além do princípio do livre convencimento motivado.

13
QUADRO SINÓTICO

RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO

EVOLUÇÃO HISTÓRICA

As monarquias absolutistas se fundavam numa ideia de soberania, e o


FASE DE
Estado não respondia por seus atos.
IRRESPONSABILIDADE
O Brasil não teve a fase da irresponsabilidade.

O Estado, que, até então, agia irresponsavelmente, passou a ser

RESPONSABILIDADE responsável, em casos pontuais, sempre que houvesse previsão legal

POR PREVISÃO LEGAL específica para responsabilidade.

No Brasil, surgiu com a criação do Tribunal Conflitos, em 1873.

Necessária a comprovação da conduta do Estado; da ocorrência do


dano; do nexo de causalidade e do elemento subjetivo, qual seja
RESPONSABILIDADE
responsabilidade.
SUBJETIVA
No Direito Brasileiro, a responsabilidade subjetiva (teoria civilista)
tinha embasamento no Código Civil de 1916.

A vítima apenas deveria comprovar que o serviço foi mal prestado ou


CULPA DO SERVIÇO prestado de forma ineficiente ou ainda com atraso, sem
necessariamente apontar o agente causador.

RESPONSABILIDADE Não é necessário comprovar existência de qualquer elemento


OBJETIVA subjetivo.

TEORIAS

RISCO

14
ADMINISTRATIVO É a responsabilidade objetiva consagrada no art. 37, §6º da CRFB/88,
ao apontar que as pessoas jurídicas de direito público e as de direito
privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos
que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros.

Assegura-se o direito de regresso em face do agente público nos


casos de dolo o culpa deste.

Admite excludentes de responsabilidade do Estado: Caso Fortuito,


Força Maior e Culpa Exclusiva da Vítima.

A culpa concorrente – da vítima e do Estado – apenas atenua a


responsabilidade de uma das partes, eis que os dois serão
responsabilizados.

Conduta: deve ser comissiva e


praticada por agente público que
atue nesta qualidade ou, ao
menos, se aproveitando da
qualidade de agente para causar
o dano.

Dano: os danos que geram


responsabilidade do estado são
Baseia-se em três elementos: os danos jurídicos, ou seja, o
dano a um bem tutelado pelo
direito, ainda que exclusivamente
moral

Nexo Causal: o Brasil adotou a


teoria da causalidade adequada,
por meio da qual o Estado
responde, desde que sua conduta
tenha sido determinante para o

15
dano causado.

É a responsabilidade pela omissão do Estado que é do tipo


subjetiva. Essa teoria expressa que a má prestação do serviço, a
prestação ineficiente ou a ausência de prestação do serviço gera a
CULPA
responsabilidade subjetiva.
ANÔNIMA/CULPA DO
São elementos definidores dessa responsabilidade: o comportamento
SERVIÇO
omissivo do Estado, o dano, o nexo de causalidade e a culpa do
serviço público que deve de ato omissivo ilícito - ausência de
cumprimento de seus deveres legalmente estabelecidos.

Se mesmo adiante da omissão do estado, este possuía um dever


legal e específico de cuidado, quando mantém alguém sob sua
custódia, a responsabilidade será objetiva.

Caso de um detento fuja da Porém, se a fuga ocorre e o


prisão e assalte, uma casa delito cometido se dá bem
próxima do presídio o Estado distante do presídio ou muito
deve ser responsabilizado, vez tempo após a fuga, não há nexo
que assumiu o risco ao construir causal com a situação de risco,

RISCO CRIADO/RISCO o presídio naquela região logo, não há motivo para se

SUSCITADO residencial e não cuidou da mencionar responsabilidade


segurança necessária. objetiva.

Situações em que basta a


comprovação de que o fortuito
FORTUITO INTERNO só foi possível em virtude da
custódia, para que haja a
responsabilidade

Situações em que o fato é alheio


FORTUITO EXTERNO
e independente da situação de

16
custódia, não gerando a
responsabilização.

É considerada objetiva, mas não admite nenhuma exclusão de


responsabilidade.

RISCO INTEGRAL Adota-se essa teoria no caso de dano nuclear, dano ambiental,
crimes ocorridos a bordo de navio, ataques terroristas e nos casos
de DPVAT.

RESPONSABILIDADE DO AGENTE PÚBLICO E AÇÃO DE REGRESSO

O artigo 37, §6° da Constituição estabelece que a responsabilização dos agentes públicos é
subjetiva.

Quanto à possibilidade de ação direta contra o agente, o STF já


É POSSÍVEL AÇÃO pacificou o entendimento de que não é possível a propositura de
DIRETA PROPOSTA ação, diretamente, em face do agente público causador do dano,
PELA VÍTIMA CONTRA ao indicar que art. 37, §6° da CRFB/88 garantiu à vítima o direito de
O AGENTE PÚBLICO? ser indenizada pelo Estado e concedeu ao agente a garantia de só ser
cobrado pelo ente, na chamada teoria da dupla garantia.

É POSSÍVEL Quanto à possibilidade de denunciação da lide pelo Estado, o


DENUNCIAR Á LIDE entendimento doutrinário majoritário, é também pela
NA AÇÃO DE impossibilidade, eis que a denunciação à lide geraria uma ampliação
RESPONSABILIDA subjetiva do mérito da ação, acarretando à vítima manifesto prejuízo
VÍTIMA X ESTADO? à celeridade na prestação jurisdicional.

PRESCRIÇÃO

Apesar de a questão ainda não estar pacificada, a doutrina majoritária aponta que o prazo
prescricional de tal ação é de 5 anos.

Cabe ressaltar que a ação de ressarcimento ao erário por danos causados por agentes ao
patrimônio público, é imprescritível. Caso o dano tenha sido causado por um particular, a ação
de ressarcimento neste caso prescreve em 3 anos, nos moldes do Código Civil de 2002.

17
RESPONSABILIDADE POR OBRA PÚBLICA

Se a obra é executada pelo próprio Estado, a responsabilidade será


objetiva. Por outro lado, se a obra mal executada foi realizada por

RESPONSABILIDADE um particular que firmou contrato administrativo, e que o dano foi

DECORRENTE DA MÁ provocado por culpa exclusiva do executor, a responsabilidade será

EXECUÇÃO DA OBRA subjetiva.

Porém, se o Estado foi omisso no dever de fiscalizar o contrato


firmado indica que este deve ser responsabilizado subjetivamente.

Ocorrendo o prejuízo, a responsabilidade é objetiva e do Estado.


RESPONSABILIDADE
Mesmo que a obra traga benefício para a coletividade, pelo fato de
PELO SIMPLES FATO
ter causado prejuízo a um administrado, não poderá este deixar de
DA OBRA:
ser indenizado.

RESPONSABILIDADE POR ATO LEGISLATIVO

As leis de efeito concreto são aquelas que ostentam a qualidade de

LEIS DE EFEITOS lei em sentido formal, mas são, na verdade, atos administrativos.

CONCRETOS: De tais leis decorre a responsabilidade civil do ente público que a


emanou de forma objetiva, ou seja, com base da teoria do risco
administrativo.

Já as leis em sentido formal e material, configuram-se como sendo


atos legislativos típicos, ou seja, emanado pelo Poder Legislativo.
Por se tratarem de normais gerais e abstratas, via de regra, não
LEIS EM SENTIDO geram responsabilidade civil do Estado.

FORMAL E MATERIAL Parte da doutrina entende que Decorrer dano especifico a


excepcionalmente é possível a alguém;
responsabilidade por atos
O ato normativo for declarado
legislativos desde que presentes
inconstitucional.
dois requisitos:

RESPONSABILIDADE POR ATOS JURÍDICOS

18
A Constituição traz uma exceção, ou seja, um

O entendimento majoritário aponta a caso em que haverá responsabilização

irresponsabilidade do ente público por atos decorrente da decisão judicial, por erro
jurisdicionais típicos. judiciário, assim como o que ficar preso além
do tempo fixado na sentença.

A prisão não é ato jurisdicional, e sim ato administrativo exercido posteriormente à decisão
judicial, em sede de cumprimento e execução da pena.
A ação regressiva deve ser proposta em face do magistrado, devendo-se demonstrar dolo ou
erro grosseiro.

19
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

(Instituto AOCP – 2019 – PC-ES - Investigador) Em relação à Responsabilidade Civil do


Estado, o art. 37, parágrafo 6o da Constituição Federal deixa claro que, no Brasil, foi adotada a

A) Teoria do Risco Administrativo

B) Teoria da Culpa Administrativa.

C) Teoria da Responsabilidade Subjetiva.

D) Teoria do Dolo Eventual

E) Teoria do Risco Integral.

Comentário:

Gabarito: Letra “A”.

A Teoria do risco administrativo – responsabilidade objetiva - está consagrada no


art. 37, §6º da CRFB/88, ao apontar que as pessoas jurídicas de direito público e as de direito
privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa
qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos
casos de dolo ou culpa.

20
Questão 2

(FEPESE – 2017 – PC-SC – Escrivão de Polícia Civil) A responsabilidade civil da administração


pública, em relação aos danos que causar a terceiros, é do tipo:

A) Objetiva, dependendo da culpa de seus agentes.

B) Objetiva, não dependendo da perquirição de culpa.

C) Subjetiva, não dependendo da perquirição de culpa.

D) Subjetiva, dependendo da culpa de seus agentes.

E) Inexistente.

Comentário:

Gabarito: Letra “B”.


Em regra, a responsabilidade civil do estado é objetiva, independendo de
demonstração de dolo ou culpa do agente. Basta existir o dano, o fato do serviço e o nexo
causal.

Questão 3

( IBADE – 2017 – PC-AC – Escrivão de Polícia Civil) Quanto à responsabilidade civil do


Estado e às espécies de agentes públicos, assinale a alternativa correta.

A) É admissível a responsabilidade civil do Estado por atos lícitos, com fundamento no


princípio da igualdade, e não há óbice jurídico ao seu reconhecimento na via
administrativa.

21
B) responsabilidade civil do Estado no Direito Administrativo Brasileiro é regida pela teoria
do risco integral. Assim, o Estado não pode alegar caso fortuito ou força maior para
eximir-se de sua responsabilidade perante os administrados.
C) As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços
públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a
terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável. Este direito de
regresso há de ser exercido em uma demanda em que a responsabilidade do agente
público é objetiva, sendo, assim, desimportante a verificação de sua culpa ou dolo.
D) O servidor público estatutário é aquele que tem seu vínculo jurídico com a
Administração Pública regido por um contrato de trabalho.
E) Um Deputado Estadual não pertence à categoria de agentes públicos denominada
“agente político”, pois apenas vota projetos de lei, sem que represente a unidade do
Poder Legislativo Estadual. Esta visão torna-se ainda mais acentuada quando há
divergência na aprovação dos projetos de lei.

Comentário:

Gabarito: Letra “A”.

Consoante já estudamos nas questões anteriores, o nosso ordenamento jurídico


adota a teoria do risco administrativo, segundo o qual a responsabilidade civil do Estado é
objetiva. Assim, mesmo diante de condutas lícitas é possível que exista o dever, por parte do
Estado, de indenizar.

Aqui, basta que se demonstre o nexo causal, a conduta (ainda que lícita) e o dano.

22
Questão 4

(FUNCAB – 2016 – PC-PA – Investigador de Polícia Civil) Com relação à responsabilidade


civil do Estado e abuso do poder, bem como ao enriquecimento ilícito, julgue os itens a
seguir, marcando apenas a opção correta.

A) A responsabilidade civil do Estado é sempre de natureza contratual, uma vez que há


entre o Estado e o cidadão um verdadeiro contrato social, pacto este implícito que deve
ser cumprido por ambas as partes.
B) A teoria do risco administrativo responsabiliza o ente público de forma objetiva pelos
danos causados por seus agentes a terceiros de forma comissiva. Esta teoria admite
causas de exclusão da responsabilidade, entre elas a culpa exclusiva da vítima.
C) A responsabilidade civil do Estado será subjetiva em casos de omissão, adotando o
ordenamento jurídico, nestes casos, a teoria civilista, restando necessário a
comprovação de dolo ou culpa do servidor que se omitiu no caso específico.
D) A teoria do risco integral foi adotada pela Constituição Federal de 1988, porém em
casos específicos, como os danos decorrentes de atividade nuclear ou danos ao meio
ambiente. Tal posição é pacífica na doutrina, havendo causas de exclusão da
responsabilidade estatal, como o caso fortuito e a força maior.
E) A teoria adotada na Constituição Federal Brasileira, notadamente no artigo 37, §6°, é a
teoria do risco suscitado ou risco criado, em que o Estado por seus atos comissivos cria
o risco de dano com suas atividades, não admitindo causa de exclusão desta
responsabilidade.

Comentário:

Gabarito: Letra “B”.

A responsabilidade civil é a obrigação de reparar os danos causados a terceiros. No


Brasil temos que vigora a responsabilidade objetiva do Estado, a teoria do risco administrativo.

23
Essa teoria, contudo, admite algumas causas de exclusão da responsabilidade civil
como o caso fortuito, a força maior e a culpa exclusiva da vítima.

Questão 5

(VUNESP – 2015 – PC-CE – Escrivão de Polícia) Considere que a viatura “X” da Polícia Civil
do Estado do Ceará, durante o serviço policial, conduzida pelo Policial Civil “Y”, ao ultrapassar
um semáforo vermelho, estando com a sirene ligada, colidiu contra o veículo particular do
cidadão “K”.

Com relação à responsabilidade civil, é correto afirmar que o cidadão “K”, ao ajuizar a ação em
relação ao Estado, para ser indenizado pelos danos que a viatura provocou em seu veículo,
deverá provar que

A) houve o dano resultante da atuação administrativa do Policial Civil “Y”,


independentemente de culpa, em razão da responsabilidade objetiva do Estado.
B) o Policial Civil “Y” ultrapassou o semáforo vermelho, em razão da responsabilidade
subjetiva do Estado.
C) houve culpa do Policial Civil “Y”, em razão da responsabilidade subjetiva do Estado.
D) houve dolo do Policial Civil “Y”, em razão da responsabilidade objetiva do Estado.
E) houve culpa do Policial Civil “Y”, em razão da responsabilidade objetiva do Estado.

Comentário:

Gabarito: Letra “A”.

Já estudamos que a responsabilidade civil do Estado é objetiva. Ademais, o artigo


37, parágrafo sexto dispõe que “As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado
prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade,

24
causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo
ou culpa”.

Assim, temos que uma vez sido provado o dano, não seria necessário provar a
culpa.

Questão 6

(Aroeira – 2014 – PC-TO – Agente de Polícia) Determinado Policial Civil, conduzindo uma
viatura oficial para a investigação de um crime, avança o sinal vermelho e atropela um
cidadão. Nesse caso, a responsabilidade do Estado é do tipo:

A) Subjetiva

B) Objetiva

C) Universal

D) Contratual.

Comentário:

Gabarito: Letra “B”.

Nesse caso, o Estado responderá objetivamente em relação ao indivíduo


prejudicado, pelos mesmos motivos já expostos anteriormente.

25
Questão 7

(CESPE – 2013 – PC-DF – Agente de Polícia) Durante rebelião em um presídio, Charles,

condenado a vinte e oito anos de prisão por diversos crimes, decidiu fugir e, para tanto,
matou o presidiário Valmir e o agente penitenciário Vicente. A fim de viabilizar sua fuga,
Charles roubou de Marcos um carro que, horas depois, abandonou em uma estrada de terra,
batido e com o motor fundido. Charles permaneceu foragido por cinco anos e, depois desse
período, foi preso em flagrante após tentativa de assalto a banco em que explodiu os caixas
eletrônicos de uma agência bancária, tendo causado a total destruição desses equipamentos e
a queima de todo o dinheiro neles armazenado.

Com referência a essa situação hipotética e à responsabilização da administração, julgue o


item a seguir.

Se as famílias de Valmir e Vicente decidirem pleitear indenização ao Estado, terão de provar,


além do nexo de causalidade, a existência de culpa da administração, pois, nesses casos, a
responsabilidade do Estado é subjetiva.

( ) Certo

( ) Errado.

Comentário:

Gabarito: Errado.

Isso porque no que toca à família de Valmir, teríamos uma responsabilidade


objetiva do Estado, o que faz com que a assertiva seja incorreta. Nesse caso, estando as
pessoas sob a custódia do Estado, este está em uma situação de garante, assumindo o dever
de impedir resultados danosos.

26
Questão 8

(CESPE – 2013 – PC-BA – Investigador de Polícia) Com relação à responsabilidade civil,


julgue o item abaixo. O corte de energia elétrica pro parte da concessionária de serviço
público presume a existência de dano moral, sendo desnecessária a comprovação dos
prejuízos sofridos à honra objetiva de empresa ou usuário afetado pela interrupção do serviço.

( ) Certo

( ) Errado

Comentário:

Gabarito: Errado.
De acordo com a jurisprudência pátria, não é possível presumirmos a existência de
dano moral em virtude de corte de energia elétrica por parte da concessionária de serviço
público. É necessário, portanto, que se comprove os prejuízos à honra subjetiva. Aqui temos
que, como o Estado deixou de prestar diretamente o serviço, a responsabilidade passa a ser
subjetiva.

Questão 9

(UEG – 2013 – PC-GO – Agente de Polícia) No tema da responsabilidade civil do Estado o


direito pátrio adota,

A) A irresponsabilidade, com fundamento no risco integral.

B) A responsabilidade objetiva, com fundamento no risco administrativo.

C) A responsabilidade subjetiva, com fundamento no risco integral.

D) A irresponsabilidade, com fundamento no risco administrativo.

27
Comentário:

Gabarito: Letra “B”.

A grande importância de resolver questões, caro concurseiro, é o que você deve


estar pensando agora: as questões se repetem. Com outras palavras, mas se repetem.
Portanto, novamente estamos diante da responsabilidade objetiva e do risco administrativo.

Questão 10

(CESPE – 2012 – PC-AL – Agente de Polícia) Considerando que o desempenho da atividade


na Administração compreende exercício de um poder conferido pelo Estado ao agente público
e, em decorrência disso, gera responsabilidade, julgue os próximos itens.

Um agente público que produza dano ao particular obriga o Estado a indenizar o particular,
desde que a vítima comprove que a omissão é a causa do prejuízo.

( ) Certo

( ) Errado.

Comentário:

Gabarito: Errado.

Quando se tratar de ato omissivo, prevalece na doutrina e na jurisprudência que a


responsabilidade do Estado será subjetiva. Assim, a princípio, o gabarito estaria correto.

Ocorre que a assertiva não indica que o agente público estava no exercício de suas
funções, motivo pelo qual, sem relação com as suas competências, o Estado não tem
responsabilidade.

28
GABARITO

Questão 1 - A

Questão 2 - B

Questão 3 - A

Questão 4 - B

Questão 5 - A

Questão 6 - B

Questão 7 - ERRADO

Questão 8 - ERRADO

Questão 9 – B

Questão 10 - ERRADO

29
QUESTÃO DESAFIO

Há responsabilidade civil do Estado por decisões judiciais?


Explique a regra e a exceção, se for o caso.

Máximo de 5 linhas

30
GABARITO DA QUESTÃO DESAFIO

Como regra, as decisões judiciais não ensejam a responsabilização do Estado, nos


moldes do art. 37, § 6.ºEntretanto, a própria Carta Maior institui exceções a essa regra,
que é quando há erro judiciário ou quando a pessoa fica presa por mais tempo do que
o fixado na sentença.

Você deve ter abordado necessariamente os seguintes itens em sua resposta:

 regra: o Estado não responde por ato judicial

Como regra, as decisões judiciais não ensejam a responsabilização do Estado, nos moldes
do art. 37, § 6.º, da Constituição Federal de 1988.

A professora Licínia explica que a sentença normalmente não pode propiciar qualquer
indenização por eventuais danos que possa acarretar às partes ou a terceiros. "Se
certa decisão causar prejuízo à parte, esta deve valer-se da via recursal. Em sendo o ato
confirmado em outras instâncias, é porque é inevitável a produção de danos à parte
(corolário do sistema do duplo grau de jurisdição)."

Assim, vige a regra que de o Estado não responde por ato judicial que supostamente
causar prejuízo e a pessoa deve buscar as vias recursais quando for o caso.

Fonte: Rossi, Licínia Manual de direito administrativo / Licinia Rossi. – 6. ed. – São Paulo:
Saraiva Educação, 2020. p.544.

 Exceção: erro judiciário e prisão por mais tempo

Apesar de a regra ser a irresponsabilidade civil do Estado por atos judiciais (despachos,
sentenças e decisões interlocutórias) a própria CF/88 excepciona a regra, vejamos:

Art. 5.º, LXXV – o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o que ficar
preso além do tempo fixado na sentença.

31
A professora Ana Cláudia Campos afirma "Nesses dois casos, comprovando-se que o
magistrado atuou de forma dolosa ou cometeu um erro grosseiro, caberá a responsabilização
do Estado pela decisão judicial e a consequente lesão sofrida pelo particular."

Para entender melhor, o erro judiciário (art. 5º, LXXV, da CF) é tido quando o ato
jurisdicional resultar de CONDENAÇÕES PESSOAIS INJUSTAS, cuja absolvição é obtida em
REVISÃO CRIMINAL, aí sim poderá existir responsabilização estatal, desde que tais
condenações não sejam imputadas a ato ou falta do próprio condenado.

Neste caso, deverá o condenado em virtude de erro judiciário postular ação de indenização
contra o Estado, pleiteando o direito à reparação de seus prejuízos. José dos Santos Carvalho
Filho entende que a natureza desse erro judiciário limita-se à esfera penal.

Fontes:

Carvalho Filho, José dos Santos Manual de Direito Administrativo / José dos Santos Carvalho
Filho. – 33. ed. – São Paulo: Atlas, 2019.p.526.

Campos, Ana Cláudia Direito Administrativo Facilitado / Ana Cláudia Campos. São Paulo:
Método; Rio de Janeiro: Forense, 2019. p.825.

32
LEGISLAÇÃO COMPILADA

Responsabilidade Objetiva:
 CFRB/88: artigo 37, §6ª

Responsabilidade por atos jurisdicionais:


 CFRB/88: 5°, LXXV

Prescrição:
 Decreto 20.910/32: art. 1° e da
 Lei 9494/97: art. 1°-C
 CC/02: art. 206, §3°, V

33
JURISPRUDÊNCIA

Responsabilidade estatal:

 REsp 1492832/DF, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, PRIMEIRA TURMA, julgado em


04/09/2018, DJe 01/10/2018

ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO.


ALTERAÇÃO DE ALÍQUOTAS. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL.
DEMONSTRAÇÃO. AUSÊNCIA. INDÚSTRIA NACIONAL. IMPACTO ECONÔMICO-FINANCEIRO.
RISCO DA ATIVIDADE. DIREITO À MANUTENÇÃO DO STATUS QUO ANTE. INEXISTÊNCIA. 1. É
inviável o conhecimento do recurso especial pela alínea "c" do permissivo constitucional
quando a divergência não é demonstrada nos termos exigidos pela legislação de regência.
2. Não se verifica o dever do Estado de indenizar eventuais prejuízos financeiros do setor
privado decorrentes da alteração de política econômico-tributária, no caso de o ente público
não ter se comprometido, formal e previamente, por meio de determinado planejamento
específico.
3. Com finalidade extrafiscal, a Portaria MF n. 492, de 14 de setembro de 1994, ao diminuir
para 20% a alíquota do imposto de importação para os produtos nela relacionados, fê-lo em
conformidade com o art. 3º da Lei n. 3.244/1957 e com o DL n. 2.162/1984, razão pela qual
não há falar em quebra do princípio da confiança.
4. O impacto econômico-financeiro sobre a produção e a comercialização de mercadorias
pelas sociedades empresárias causado pela alteração da alíquota de tributos decorre do risco
da atividade próprio da álea econômica de cada ramo produtivo.
5. Inexistência de direito subjetivo da recorrente, quanto à manutenção da alíquota do
imposto de importação (status quo ante), apto a ensejar o dever de indenizar.
34
6. Recurso especial conhecido em parte e, nessa extensão, desprovido.

 RE 842846, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado em 27/02/2019,


PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-175 DIVULG 12-08-2019
PUBLIC 13-08-2019

EMENTA: DIREITO ADMINISTRATIVO. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL.


DANO MATERIAL. ATOS E OMISSÕES DANOSAS DE NOTÁRIOS E REGISTRADORES. TEMA 777.
ATIVIDADE DELEGADA. RESPONSABILIDADE CIVIL DO DELEGATÁRIO E DO ESTADO EM
DECORRÊNCIA DE DANOS CAUSADOS A TERCEIROS POR TABELIÃES E OFICIAIS DE REGISTRO
NO EXERCÍCIO DE SUAS FUNÇÕES. SERVENTIAS EXTRAJUDICIAIS. ART. 236, §1º, DA
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO ESTADO PELOS ATOS DE
TABELIÃES E REGISTRADORES OFICIAIS QUE, NO EXERCÍCIO DE SUAS FUNÇÕES, CAUSEM
DANOS A TERCEIROS, ASSEGURADO O DIREITO DE REGRESSO CONTRA O RESPONSÁVEL NOS
CASOS DE DOLO OU CULPA. POSSIBILIDADE. 1. Os serviços notariais e de registro são
exercidos em caráter privado, por delegação do Poder Público. Tabeliães e registradores
oficiais são particulares em colaboração com o poder público que exercem suas atividades in
nomine do Estado, com lastro em delegação prescrita expressamente no tecido constitucional
(art. 236, CRFB/88). 2. Os tabeliães e registradores oficiais exercem função munida de fé
pública, que destina-se a conferir autenticidade, publicidade, segurança e eficácia às
declarações de vontade. 3. O ingresso na atividade notarial e de registro depende de concurso
público e os atos de seus agentes estão sujeitos à fiscalização do Poder Judiciário, consoante
expressa determinação constitucional (art. 236, CRFB/88). Por exercerem um feixe de
competências estatais, os titulares de serventias extrajudiciais qualificam-se como agentes
públicos. 4. O Estado responde, objetivamente, pelos atos dos tabeliães e registradores oficiais
que, no exercício de suas funções, causem dano a terceiros, assentado o dever de regresso
contra o responsável, nos casos de dolo ou culpa, sob pena de improbidade administrativa.
Precedentes: RE 209.354 AgR, Rel. Min. Carlos Velloso, Segunda Turma, DJe de 16/4/1999; RE

35
518.894 AgR, Rel. Min. Ayres Britto, Segunda Turma, DJe de 22/9/2011; RE 551.156 AgR, Rel.
Min. Ellen Gracie, Segunda Turma, DJe de 10/3/2009; AI 846.317 AgR, Relª. Minª. Cármen
Lúcia, Segunda Turma, DJe de 28/11/13 e RE 788.009 AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, Primeira
Turma, julgado em 19/08/2014, DJe 13/10/2014. 5. Os serviços notariais e de registro, mercê
de exercidos em caráter privado, por delegação do Poder Público (art. 236, CF/88), não se
submetem à disciplina que rege as pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviços
públicos. É que esta alternativa interpretativa, além de inobservar a sistemática da
aplicabilidade das normas constitucionais, contraria a literalidade do texto da Carta da
República, conforme a dicção do art. 37, § 6º, que se refere a “pessoas jurídicas” prestadoras
de serviços públicos, ao passo que notários e tabeliães respondem civilmente enquanto
pessoas naturais delegatárias de serviço público, consoante disposto no art. 22 da Lei nº
8.935/94. 6. A própria constituição determina que “lei regulará as atividades, disciplinará a
responsabilidade civil e criminal dos notários, dos oficiais de registro e de seus prepostos, e
definirá a fiscalização de seus atos pelo Poder Judiciário” (art. 236, CRFB/88), não competindo
a esta Corte realizar uma interpretação analógica e extensiva, a fim de equiparar o regime
jurídico da responsabilidade civil de notários e registradores oficiais ao das pessoas jurídicas
de direito privado prestadoras de serviços públicos (art. 37, § 6º, CRFB/88). 7. A
responsabilização objetiva depende de expressa previsão normativa e não admite
interpretação extensiva ou ampliativa, posto regra excepcional, impassível de presunção. 8. A
Lei 8.935/94 regulamenta o art. 236 da Constituição Federal e fixa o estatuto dos serviços
notariais e de registro, predicando no seu art. 22 que “os notários e oficiais de registro são
civilmente responsáveis por todos os prejuízos que causarem a terceiros, por culpa ou dolo,
pessoalmente, pelos substitutos que designarem ou escreventes que autorizarem, assegurado
o direito de regresso. (Redação dada pela Lei nº 13.286, de 2016)”, o que configura inequívoca
responsabilidade civil subjetiva dos notários e oficiais de registro, legalmente assentada. 9. O
art. 28 da Lei de Registros Públicos (Lei 6.015/1973) contém comando expresso quanto à
responsabilidade subjetiva de oficiais de registro, bem como o art. 38 da Lei 9.492/97, que fixa
a responsabilidade subjetiva dos Tabeliães de Protesto de Títulos por seus próprios atos e os
de seus prepostos. 10. Deveras, a atividade dos registradores de protesto é análoga à dos
36
notários e demais registradores, inexistindo discrímen que autorize tratamento diferenciado
para somente uma determinada atividade da classe notarial. 11. Repercussão geral
constitucional que assenta a tese objetiva de que: o Estado responde, objetivamente, pelos
atos dos tabeliães e registradores oficiais que, no exercício de suas funções, causem dano a
terceiros, assentado o dever de regresso contra o responsável, nos casos de dolo ou culpa,
sob pena de improbidade administrativa. 12. In casu, tratando-se de dano causado por
registrador oficial no exercício de sua função, incide a responsabilidade objetiva do Estado de
Santa Catarina, assentado o dever de regresso contra o responsável, nos casos de dolo ou
culpa, sob pena de improbidade administrativa. 13. Recurso extraordinário CONHECIDO e
DESPROVIDO para reconhecer que o Estado responde, objetivamente, pelos atos dos tabeliães
e registradores oficiais que, no exercício de suas funções, causem dano a terceiros, assentado
o dever de regresso contra o responsável, nos casos de dolo ou culpa, sob pena de
improbidade administrativa. Tese: “O Estado responde, objetivamente, pelos atos dos tabeliães
e registradores oficiais que, no exercício de suas funções, causem dano a terceiros, assentado
o dever de regresso contra o responsável, nos casos de dolo ou culpa, sob pena de
improbidade administrativa”.

 RE 598356, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em


08/05/2018, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-153 DIVULG 31-07-2018 PUBLIC 01-08-2018

RESPONSABILIDADE CIVIL – SERVIÇO PÚBLICO – FURTO – POSTO DE PESAGEM – VEÍCULO. A


teor do disposto no artigo 37, § 6º, da Constituição Federal, há responsabilidade civil de
pessoa jurídica prestadora de serviço público em razão de dano decorrente de crime de furto
praticado em posto de pesagem, considerada a omissão no dever de vigilância e falha na
prestação e organização do serviço.

37
 REsp 1749941/PR, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em
04/12/2018, DJe 07/12/2018

RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. EMPRESA CONCESSIONÁRIA DE RODOVIA.


ROUBO E SEQUESTRO OCORRIDOS EM DEPENDÊNCIA DE SUPORTE AO USUÁRIO, MANTIDO
PELA CONCESSIONÁRIA. FORTUITO EXTERNO. EXCLUDENTE DE RESPONSABILIDADE. 1. Ação
ajuizada em 20/09/2011. Recurso especial interposto em 16/09/2016 e distribuído ao Gabinete
em 04/04/2018.
2. O propósito recursal consiste em definir se a concessionária de rodovia deve ser
responsabilizada por roubo e sequestro ocorridos nas dependências de estabelecimento por
ela mantido para a utilização de usuários (Serviço de Atendimento ao Usuário).
3. "A inequívoca presença do nexo de causalidade entre o ato administrativo e o dano
causado ao terceiro não-usuário do serviço público, é condição suficiente para estabelecer a
responsabilidade objetiva da pessoa jurídica de direito privado" (STF. RE 591874, Repercussão
Geral).
4. O fato de terceiro pode romper o nexo de causalidade, exceto nas circunstâncias que
guardar conexidade com as atividades desenvolvidas pela concessionária de serviço público. 5.
Na hipótese dos autos, é impossível afirmar que a ocorrência do dano sofrido pelos recorridos
guarda conexidade com as atividades desenvolvidas pela recorrente.
6. A ocorrência de roubo e sequestro, com emprego de arma de fogo, é evento capaz e
suficiente para romper com a existência de nexo causal, afastando-se, assim, a
responsabilidade da recorrente.
7. Recurso especial provido.

Tese da Dupla Garantia:

 RE 1027633, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em


14/08/2019, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-268 DIVULG 05-12-2019 PUBLIC 06-12-2019

38
RESPONSABILIDADE CIVIL – INDENIZAÇÃO – RÉU AGENTE PÚBLICO – ARTIGO 37, § 6º, DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL – ALCANCE – ADMISSÃO NA ORIGEM – RECURSO EXTRAORDINÁRIO
– PROVIMENTO.

Prescrição:

 REsp 1277724/PR, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, TERCEIRA TURMA,


julgado em 26/05/2015, DJe 10/06/2015

RESPONSABILIDADE CIVIL. CONCESSIONÁRIA DE SERVIÇO PÚBLICO PRESTADORA DE SERVIÇO


DE TRANSPORTE. PRAZO PRESCRICIONAL. REVISÃO DA JURISPRUDÊNCIA. ART. 1º-C DA LEI N.
9.494/97. PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE. ART. 97 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL E SÚMULA
VINCULANTE N. 10/STF. PRESCRIÇÃO QUINQUENAL.
1. O prazo de prescrição das ações indenizatórias movidas em desfavor de pessoa jurídica de
direito privado prestadora de serviços públicos de transporte é quinquenal, consoante o
disposto no art. 1º-C da Lei n. 9.494/97.
2. Entendimento consagrado a partir da aplicação da regra da especialidade do disposto no
art. 97 da Constituição Federal, que prevê a cláusula de reserva de plenário, bem como da
Súmula Vinculante n. 10 do STF, que vedam ao julgador negar a aplicação de norma que não
foi declarada inconstitucional.
3. Recurso especial provido.

 REsp 1443038/MS, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado


em 12/02/2015, DJe 19/02/2015

PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. PRESO


CUSTODIADO PELA POLÍCIA FEDERAL. TORTURA SEGUIDA DE MORTE.
AUSÊNCIA DE OMISSÃO NO ACÓRDÃO. INDENIZAÇÃO. DANOS MORAIS E MATERIAIS
CONFIGURADOS. PRESCRIÇÃO. NÃO OCORRÊNCIA. JUROS MORATÓRIOS. TERMO INICIAL.
EVENTO DANOSO. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL NÃO CONHECIDA.

39
1. Não há omissão, contradição, obscuridade ou erro material a ser sanado no acórdão
regional, que se encontra suficientemente fundamentado e em consonância com a
jurisprudência desta Corte.
2. O Tribunal de origem afastou a alegada prescrição. Primeiro, ao proceder à análise do
contexto fático- probatório dos autos e concluir pela demora do Estado na conclusão do
inquérito policial;
segundo, por decidir que, nos termos da Jurisprudência desta Corte, o termo a quo da
prescrição da ação indenizatória, nos casos em que não chegou a ser ajuizada ação penal, é a
data do arquivamento do inquérito policial.
3. O Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento no sentido de que o termo a quo da
prescrição da ação indenizatória, nos casos em que não chegou a ser ajuizada ação penal, é a
data do arquivamento do inquérito policial. Prescrição afastada na hipótese em comento.
4. Quanto aos juros de mora e à divergência jurisprudencial suscitada, não merece
conhecimento o recurso, porquanto o Tribunal a quo decidiu de acordo com jurisprudência
desta Corte, no sentido de que os juros moratórios, em caso de responsabilidade
extracontratual, devem incidir a partir da data do evento danoso, nos termos da Súmula
54/STJ.
Recurso especial improvido.

 REsp 1374376/CE, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado


em 07/05/2013, DJe 23/05/2013

ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. INDENIZAÇÃO POR DANOS


MORAIS. PRISÃO POLÍTICA. REGIME MILITAR. IMPRESCRITIBILIDADE.
INAPLICABILIDADE DO ART. 1º DO DECRETO 20.910/1932. ANISTIADO POLÍTICO. CONDIÇÃO
RECONHECIDA. DANOS MORAIS. VALOR DA INDENIZAÇÃO.
REDUÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ. ART. 1º-F DA LEI 9.494/1997. MP 2.180-35/2001.
LEI 11.960/2009. NATUREZA PROCESSUAL. APLICAÇÃO IMEDIATA. IRRETROATIVIDADE.
1. As ações indenizatórias por danos morais decorrentes de atos de tortura ocorridos durante
o Regime Militar de exceção são imprescritíveis. Inaplicabilidade do prazo prescricional do art.

40
1º do Decreto 20.910/1932. Precedentes do STJ.
2. O Tribunal de origem consignou existirem elementos nos autos que demonstram a
condição de anistiado político para fins de obtenção de reparação econômica. Inverter essa
conclusão implica reexame da matéria fático-probatória, o que é obstado ao STJ (Súmula
7/STJ).
3. A Corte a quo, ao considerar as circunstâncias do caso concreto, manteve o quantum
indenizatório arbitrado na sentença, de R$ 55.000, 00 (cinquenta e cinco mil reais), a título de
indenização por danos morais.
4. Rever tais valores somente é possível quando exorbitantes ou insignificantes, em flagrante
violação aos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, o que não ocorre in casu.
Incidência da Súmula 7/STJ.
5. O art. 1º-F da Lei 9.494/1997, incluído pela MP 2.180-35, de 24.8.2001, com a redação
alterada pelo art. 5º da Lei 11.960, de 29.6.2009, tem natureza processual, devendo ser
aplicado imediatamente aos processos em tramitação, vedada, entretanto, a retroatividade ao
período anterior à sua vigência.
6. Orientação firmada no julgamento do REsp 1.205.946/SP, na sistemática do art. 543-C do
CPC.
7. Recurso Especial parcialmente provido

 REsp 1443038/MS, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado


em 12/02/2015, DJe 19/02/2015

PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. PRESO


CUSTODIADO PELA POLÍCIA FEDERAL. TORTURA SEGUIDA DE MORTE.
AUSÊNCIA DE OMISSÃO NO ACÓRDÃO. INDENIZAÇÃO. DANOS MORAIS E MATERIAIS
CONFIGURADOS. PRESCRIÇÃO. NÃO OCORRÊNCIA. JUROS MORATÓRIOS. TERMO INICIAL.
EVENTO DANOSO. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL NÃO CONHECIDA.
1. Não há omissão, contradição, obscuridade ou erro material a ser sanado no acórdão

41
regional, que se encontra suficientemente fundamentado e em consonância com a
jurisprudência desta Corte.
2. O Tribunal de origem afastou a alegada prescrição. Primeiro, ao proceder à análise do
contexto fático- probatório dos autos e concluir pela demora do Estado na conclusão do
inquérito policial;
segundo, por decidir que, nos termos da Jurisprudência desta Corte, o termo a quo da
prescrição da ação indenizatória, nos casos em que não chegou a ser ajuizada ação penal, é a
data do arquivamento do inquérito policial.
3. O Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento no sentido de que o termo a quo da
prescrição da ação indenizatória, nos casos em que não chegou a ser ajuizada ação penal, é a
data do arquivamento do inquérito policial. Prescrição afastada na hipótese em comento.
4. Quanto aos juros de mora e à divergência jurisprudencial suscitada, não merece
conhecimento o recurso, porquanto o Tribunal a quo decidiu de acordo com jurisprudência
desta Corte, no sentido de que os juros moratórios, em caso de responsabilidade
extracontratual, devem incidir a partir da data do evento danoso, nos termos da Súmula
54/STJ.
Recurso especial improvido.

42
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARVALHO FILHO, José dos Santos. MANUAL DE DIREITO ADMINSITRAVO. 30 Ed. São
Paulo: Atlas, 2016.

CARVALHO, Matheus. MANUAL DE DIREITO ADMINSITRAVO. 3 ed. Salvador: JusPODIVM,


2016.

MAZZA, Alexandre. MANUAL DE DIREITO ADMINSITRAVO – 9. ed. – São Paulo: Saraiva


Educação, 2019.

OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende. CURSO DE DIREITO ADMINISTRATIVO. 5 ed. Rio de


Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2017.

PIETRO, Maria Sylvia Zanella Di. DIREITO ADMINISTRATIVO. 32. ed. rev. atual e ampl. – Rio
de Janeiro: Forense, 2019.

43
CARREIRAS POLICIAIS

Direito Administrativo
Capítulo 13
SUMÁRIO
DIREITO ADMINISTRATIVO ........................................................................................................................................... 3

1. Bens Públicos .............................................................................................................................................................. 3

1.1 Conceito .................................................................................................................................................................... 3

1.2 Domínio Público .................................................................................................................................................... 4

1.3 Classificação............................................................................................................................................................. 5

1.3.1 Quanto à sua titularidade ................................................................................................................................. 5

1.3.2 Quanto a sua destinação ................................................................................................................................... 6

1.4 Características ......................................................................................................................................................... 8

1.5 Uso do bem por particulares ........................................................................................................................ 10

1.6 Aquisição de bens pelo Poder Público .................................................................................................... 11

1.6.1 Aquisição originária........................................................................................................................................... 11

1.6.2 Aquisição derivada ............................................................................................................................................ 12

1.6.3 Aquisição contratual ......................................................................................................................................... 12

1.6.4 Aquisição legal ou por fenômenos da natureza .................................................................................. 12

QUADRO SINÓTICO ...................................................................................................................................................... 14

AQUISIÇÃO ORIGINÁRIA ............................................................................................................................................. 18

AQUISIÇÃO DERIVADA................................................................................................................................................. 18

AQUISIÇÃO CONTRATUAL ......................................................................................................................................... 18

AQUISIÇÃO LEGAL OU POR FENÔMENOS DA NATUREZA ......................................................................... 18

QUESTÕES COMENTADAS ........................................................................................................................................ 19

GABARITO ........................................................................................................................................................................... 31

LEGISLAÇÃO COMPILADA............................................................................................................................................ 35

1
JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................................................................. 37

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................................. 46

2
DIREITO ADMINISTRATIVO

Capítulo 13

1. Bens Públicos

Caminhando para o final, estudaremos no capítulo 13 o tema “bens públicos”. Esse


tema é pouquíssimo cobrado em provas para agente, investigador e escrivão de polícia,
estando ausente na maioria dos editais dos últimos anos. A sua incidência é, no geral, para
o cargo de delegado de polícia, que costuma aprofundar mais o tema.

De qualquer modo, sempre prezamos pela sua completa preparação. Por isso,
analisaremos os principais tópicos do tema e, ao final, traremos uma questão de prova de
agente de polícia (a única dos últimos anos) e as demais, para treino, de carreiras jurídicas
em geral. Bons estudos!

1.1 Conceito

Há de se destacar que a doutrina tradicional definia os bens públicos como sendo


os bens das pessoas jurídicas de direito público e também os bens das pessoas de direito
privado que estivessem afetados à prestação de determinado serviço público.

Matheus Carvalho aponta em sua obra que esse é o entendimento de Celso


Antônio Bandeira de Mello que estabelece que "todos os bens que estiverem sujeitos ao
mesmo regime público deverão ser havidos como bens públicos. Ora, bens particulares
quando afetados a uma atividade pública (enquanto estiverem) ficam submissos ao mesmo

3
regime dos bens de propriedade pública. Logo, tem que estar incluídos no conceito de bem
público"

Em contrapartida a esse entendimento, o Código Civil de 2002, definiu que, verbis:

“Art. 98. São públicos os bens do domínio nacional pertencentes às pessoas jurídicas de
direito público interno; todos os outros são particulares, seja qual for a pessoa a que

pertencerem.”

Corroborando com o exposto acima, está José dos Santos Carvalho Filho que define
"bens públicos como todos aqueles que, de qualquer natureza e a qualquer título, pertençam
às pessoas jurídicas de direito público, sejam elas federativas, como a União, os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios, sejam da Administração descentralizada, como as autarquias,
nestas incluindo-se as fundações de direito público e as associações públicas”

Todavia, apesar de não serem considerados bens públicos, os bens das pessoas
jurídicas de direito privado que estejam sendo utilizados na prestação de determinado
serviço público gozam das prerrogativas de direito público.1

1.2 Domínio Público

Tradicionalmente, a doutrina divide o domínio público em sentido estrito e em


sentido amplo.
O domínio público em sentido amplo, também conhecido por domínio eminente,
é o poder que o Estado exerce sobre todos os bens que se encontram em seu território,
sejam públicos ou privados.

Já o domínio público em sentido estrito é o conjunto de bens que pertencem ao


poder público, que goza de todas as faculdades atinentes ao direito de propriedade.

1
Vide questão 9
4
1.3 Classificação

1.3.1 Quanto à sua titularidade

Essa classificação leva em proprietário do bem:

 Federais:

A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 20 aponta quais são os bens que
pertencem à União. São eles:

I - os que atualmente lhe pertencem e os que lhe vierem a ser atribuídos;

II - as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e


construções militares, das vias federais de comunicação e à preservação ambiental, definidas
em lei;

III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou


que banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a
território estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais;

IV - as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países; as praias
marítimas; as ilhas oceânicas e as costeiras, excluídas, destas, as que contenham a sede de
Municípios, exceto aquelas áreas afetadas ao serviço público e a unidade ambiental
federal, e as referidas no art. 26, II;

V - os recursos naturais da plataforma continental e da zona econômica exclusiva;

VI - o mar territorial;

VII - os terrenos de marinha e seus acrescidos;

5
VIII - os potenciais de energia hidráulica;

IX - os recursos minerais, inclusive os do subsolo;

X - as cavidades naturais subterrâneas e os sítios arqueológicos e pré-históricos;

XI - as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios.

 Estaduais:

No artigo 26 da CRFB/88 estão elencados os bens pertencentes aos estados. A


enumeração dos bens estaduais também serve para indicar os bens distritais. Incluem-se
entre os bens dos Estados:

I - as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito,


ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da União;

II - as áreas, nas ilhas oceânicas e costeiras, que estiverem no seu domínio,


excluídas aquelas sob domínio da União, Municípios ou terceiros;

III - as ilhas fluviais e lacustres não pertencentes à União;

IV - as terras devolutas não compreendidas entre as da União.

 Municipais:

Em relação aos bens municipais, salienta-se que não há previsão constitucional


expressa destes.

Porém, a doutrina aponta que são bens públicos os bens de utilização local que
não pertençam à União, nem aos Estados.

1.3.2 Quanto a sua destinação

Quanto à destinação, os bens públicos dividem-se em três. Vejamos:


6
 Bens de uso comum do povo:

Os bens de uso comum são os bens uso livre pela população em geral.
Geralmente são gratuitos, sendo admissível cobrança de taxa em casa de utilização anormal
ou privativa.

Ressalta-se que a utilização ordinária desses bens não depende de consentimento


do Poder Público, mas caso algum particular queira em fazer utilização especial desses bens,
deverá haver regulamentação do ente estatal.

São exemplos de bens de uso comum do povo: ruas, praias,calçadas, praças.2

 Bens de uso especial:

Os bens de uso especial são os bens usados para a prestação de serviço público3.
Dividem-se em: (i) diretos: são os bens que fazem parte da máquina estatal, utilizados
diretamente na prestação do serviço público. Exemplo: Prédio da repartição, escola pública,
computadores, carros oficiais; (ii) indiretos: são os bens que o Estado não utiliza diretamente,
mas conserva uma finalidade pública. Exemplos: as terras tradicionalmente ocupadas pelos
índios, as terras públicas utilizadas para proteção do meio ambiente.

 Bens dominicais ou dominiais:

São bens que não têm qualquer destinação pública, sendo, portanto,
desafetados. 4Exemplos: terra devoluta5 de um determinado Estado da federação, bens móveis
apreendidos sem utilização definida.

São considerados bens públicos em razão de pertencerem à alguma pessoa jurídica


de direito público.

2
Vide questão 7
3
Vide questão 7
4
Vide questão 4
5
Vide questão 2
7
Os bens que tem uma finalidade pública são os bens afetados (bens de uso comum do povo
e bens de uso especial), já os bens que não têm destinação pública são considerados
desafetados. A afetação pode se dar por lei, por ato administrativo ou pela simples utilização
d bem no serviço público. Já a desafetação só pode ocorre por meio de lei ou por ato
administrativo, não podendo se dar pelo simples desuso.

1.4 Características

Os bens públicos e os bens privados utilizados na prestação de serviços públicos


gozam de determinadas caraterísticas decorrentes do regime jurídico de direito público. Tais
garantias derivam da supremacia do interesse público sobre o privado e podem ser divididas
em quatro:

 Impenhorabilidade: Não se admite a constrição judicial dos bens públicos.


Ressalte-se, ainda, que, mesmo os bens dominicais6, que não estão atrelados
a qualquer finalidade pública, gozam desta prerrogativa.
 Não-onerabilidade: os bens públicos não podem ser objetos de direito real
de garantia, ou seja, um determinado bem público não fica sujeito à

6
Vide questão 10
8
instituição de penhor, anticrese ou hipoteca para garantir débitos do ente
estatal.
 Imprescritibilidade: diz respeito a prescrição aquisitiva, ou seja, usucapião.
Importa mencionar que os bens públicos não podem ser usucapidos. A
posse mansa e pacífica e o decurso do tempo não ensejam a usucapião.
Ademais, o Supremo Tribunal Federal na Súmula nº 340, estabelece que
"desde a vigência do Código Civil, os bens dominicais, como os demais bens
públicos, não podem ser adquiridos por usucapião"

A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça se manifesta no sentido de que a utilização


de bens públicos não induz posse, tratando-se de mera detenção pelo particular. 7

 Inalienabilidade / Alienabilidade condicionada: à princípio os bens


públicos são inalienáveis. Porém, os artigos 17 a 19 da Lei nº 8.666/93
definem as condições para a alienação dos bens públicos. Primeiramente,
para que possam ser alienados os bens públicos – sejam móveis ou imóveis,
precisam estar desafetados8. Para alienação de bens imóveis deverá haver:
Interesse público justificado; Avaliação prévia; Licitação; e Autorização
legislativa. Já para a alienação de bens móveis: Interesse público justificado;
Avaliação prévia; e Licitação.9

7
Vide questão 3
8
Vide questão 4
9
Vide questão 5 e 6
9
1.5 Uso do bem por particulares

Conforme já dito anteriormente, para a utilização ordinária de bens públicos não é


necessário nenhum consentimento do Estado, mas para o uso especial/extraordinário, o
Estado precisará consentir.

Inicialmente o Estado irá verificar se a utilização anormal de uma pessoa, não irá
impedir o uso normal das outras.

A utilização especial ou anormal dos bens públicos ocorre quando o particular


pretende utilizar o bem para destinação diversa, como por exemplo: realizar um casamento na
praia, ou fechar o trânsito de uma rua para organizar uma festa popular. A utilização especial
se divide em duas:

 Utilização especial remunerada: quando o ente público exige o pagamento


de determinado valor para a utilização do bem pela sociedade;
 Utilização especial privativa: quando o particular precisa fazer uso do bem
sem a interferência de outras pessoas. É o caso de uma festa de casamento
realizada em uma praia, na qual as pessoas não convidadas estão impedidas
de utilizar o bem, durante todo o tempo de utilização especial.

O consentimento do Estado para a utilização do bem de forma anormal pode se


dar das seguintes formas:

1) Autorização: é ato administrativo unilateral, discricionário e precário, por


meio do qual o Estado consente na utilização anormal do bem público, sem
direito de indenização. É feita no interesse do particular quando a situação é
episódica ou de curta duração;10
2) Permissão: é ato administrativo unilateral, discricionário, dependente de
licitação, por meio do qual o Estado consente na utilização anormal do bem
público, porém é feita no interesse público;11

10
Vide questão 1
11
Vide questão 8
10
3) Concessão de uso: tem natureza de contrato e por isso não é ato precário,
além de depender de licitação. É usado para situações mais duradouras e
que dependem de maior investimento financeiro do particular. Não é
precária.
4) Concessão de uso para fins de moradia: é regulamentado pela MP nº
2.220/01 que estabelece que "Aquele que, até 30 de junho de 2001, possuiu
como seu, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, até duzentos
e cinquenta metros quadrados de imóvel público situado em área urbana,
utilizando-o para sua moradia ou de sua família, tem o direito à concessão
de uso especial para fins de moradia em relação ao bem objeto da posse,
desde que não seja proprietário ou concessionário, a qualquer título, de
outro imóvel urbano ou rural”. Ademais, a medida provisória não admite o
reconhecimento desse direito por mais de urna vez ao mesmo
concessionário;
5) Concessão de direito real de uso: é contrato administrativo – depende de
licitação na modalidade concorrência - por meio do qual o particular passa
a ser titular de um direito real de utilização de determinado bem público.
Geralmente é feito quando a Administração visa à industrialização ou
urbanização.

1.6 Aquisição de bens pelo Poder Público

São várias as formas pelas quais o ente estatal pode tornar-se proprietário de bens
com o propósito de atender às finalidades públicas e aos interesses da coletividade.

As aquisições podem ocorrer de forma originária ou derivada:

1.6.1 Aquisição originária

Se dá independentemente da vontade do transmitente e se designa de aquisição


direta de bens. Nesses casos, o bem se incorpora ao patrimônio público sem nenhuma
espécie de restrição ou ônus.

11
1.6.2 Aquisição derivada

Decorre da vontade da parte que transfere o bem ao patrimônio público, e esse


bem vem com todos os ônus que ele possuía originariamente.

1.6.3 Aquisição contratual

Os contratos de aquisição celebrados pelo Poder Público não se revestem da


natureza de contratos administrativos, eis que são celebrados sob o regime de direito privado.
A aquisição contratual pode ocorrer por meio da: a) compra e venda; b) dação em
pagamento; c) resgate da enfiteuse; d) permuta; e e) doação.

1.6.4 Aquisição legal ou por fenômenos da natureza

Em determinadas situações, a aquisição de bens pelo Poder Público decorre de


previsão legal ou constitucional e pode se dar das seguintes formas:

a) Desapropriação: está prevista no art. 5°, XXIV da CRFB/88 como sendo a


aquisição originária de bens pelo Poder Público mediante o pagamento de indenização prévia,
justa e em dinheiro, desde que presentes os requisitos de utilidade ou necessidade pública ou
de interesse social. Há algumas desapropriações especiais, nas quais a indenização não será
paga em dinheiro, conforme o caso sendo paga em títulos ou, até mesmo, sem o pagamento
de qualquer indenização, conforme previsão do art. 243 do texto constitucional.

b) Usucapião: trata-se também de forma originária de aquisição de propriedade


que se dá pelo decurso de tempo. O ente público pode usucapir bens privados apesar de não
poder ter seus bens adquiridos da mesma forma.

c) Acessão natural: o CC/02, em seus artigos 1248 a 1253, prevê as hipóteses de


acessão, quais sejam, a formação de ilhas, a avulsão, o aluvião, o abandono de álveo, além das
construções e plantações.

12
d) Testamento e herança vacante: por meio de testamento é possível transferir
bens ao Estado e também nos casos de herança vacante, que são aquelas em que não há
herdeiros sucessíveis.

e) Reversão de bens: é o instituto previsto na lei 8987/95 que define que os bens
da concessionária de serviços públicos que estejam atrelados à prestação do serviço serão
transferidos ao poder concedente, ao final do contrato de concessão, mediante o pagamento
da indenização devida.

f) Pena de perdimento de bens: é um dos efeitos da condenação penal, previsto


no art. 91, II do Código Penal. Os bens utilizados como instrumentos dos crimes praticados
ou que sejam produtos deste ou ainda que decorram dos proveitos auferidos com o crime
serão transferidos para a União Federal.

g) Perda de bens: A lei 8429/92 (Lei de Improbidade Administrativa) estabelece que


a perda dos bens acrescidos ilicitamente é uma das penalidades aplicadas aos agentes
públicos ou aos particulares que pratique ato de improbidade. A previsão está no art. 12 da
referida lei que dispõe acerca das sanções aplicáveis.

13
QUADRO SINÓTICO

BENS PÚBLICOS

São públicos os bens do domínio nacional pertencentes às pessoas jurídicas de direito público
interno; todos os outros são particulares, seja qual for a pessoa a que pertencerem.

Apesar de não serem considerados bens públicos, os bens das pessoas jurídicas de direito
privado que estejam sendo utilizados na prestação de determinado serviço público gozam das
prerrogativas de direito público.

DOMÍNIO PÚBLICO

Conhecido por domínio eminente, é o poder que o Estado exerce


DOMÍNIO PÚBLICO EM
sobre todos os bens que se encontram em seu território, sejam
SENTIDO AMPLO
públicos ou privados.

DOMÍNIO PÚBLICO EM É o conjunto de bens que pertencem ao poder público, que goza
SENTIDO ESTRITO de todas as faculdades atinentes ao direito de propriedade.

CLASSIFICAÇÃO

A Constituição Federal de 1988, em seu artigo


FEDERAIS: 20 aponta quais são os bens que pertencem à
União.

QUANTO À No artigo 26 da CRFB/88 estão elencados os


TITULARIDADE bens pertencentes aos estados. A enumeração
ESTADUAIS:
dos bens estaduais também serve para indicar
os bens distritais.

MUNICIPAIS: Em relação aos bens municipais, salienta-se que

14
não há previsão constitucional expressa destes.
Porém, a doutrina aponta que são bens
públicos os bens de utilização local que não
pertençam à União, nem aos Estados.

São os bens uso livre pela população em geral.


BENS DE USO
Geralmente são gratuitos, sendo admissível
COMUM DO
cobrança de taxa em casa de utilização anormal
POVO
ou privativa.

Os bens de uso especial são os bens usados


para a prestação de serviço público.

Diretos: são os bens


QUANTO À Indiretos: são os bens
BENS DE USO que fazem parte da
DESTINAÇÃO ESPECIAL que o Estado não
máquina estatal,
utiliza diretamente,
utilizados diretamente
mas conserva uma
na prestação do
finalidade pública.
serviço público.

BENS
São bens que não têm qualquer destinação
DOMINICAIS
pública, sendo, portanto, desafetados.
OU DOMINIAIS

CARACTERÍSTICAS

Os bens públicos e os bens privados utilizados na prestação de serviços públicos gozam de


determinadas caraterísticas decorrentes do regime jurídico de direito público. Tais garantias
derivam da supremacia do interesse público sobre o privado.

Impenhorabilidade Não se admite a constrição judicial dos bens públicos

Não-Onerabilidade Os bens públicos não podem ser objetos de direito real de garantia

Os bens públicos não podem ser usucapidos. A posse mansa e


Imprescritibilidade
pacífica e o decurso do tempo não ensejam a usucapião.

15
À princípio os bens públicos são inalienáveis. Porém, os artigos 17
a 19 da Lei nº 8.666/93 definem as condições para a alienação dos
bens públicos. Primeiramente, para que possam ser alienados os
Inalienabilidade /
bens públicos – sejam móveis ou imóveis, precisam estar
Alienabilidade
desafetados. Para alienação de bens imóveis deverá haver:
Condicionada
Interesse público justificado; Avaliação prévia; Licitação; e
Autorização legislativa. Já para a alienação de bens móveis:
Interesse público justificado; Avaliação prévia; e Licitação.

USO DO BEM POR PARTICULARES

Para a utilização ordinária de bens públicos não é necessário nenhum consentimento do


Estado, mas para o uso especial/extraordinário, o Estado precisará consentir. A utilização
especial ou anormal dos bens públicos ocorre quando o particular pretende utilizar o bem para
destinação diversa.

Utilização especial Quando o ente público exige o pagamento de determinado valor


remunerada: para a utilização do bem pela sociedade.

Utilização especial Quando o particular precisa fazer uso do bem sem a interferência
privativa de outras pessoas.
É ato administrativo unilateral, discricionário e
precário, por meio do qual o Estado consente
Autorização:
na utilização anormal do bem público. É feita
no interesse do particular.
É ato administrativo unilateral, discricionário,
Formas de
dependente de licitação, por meio do qual o
consentimento do Permissão:
Estado consente na utilização anormal do bem
Estado para o uso
público, porém é feita no interesse público
anormal:
Tem natureza de contrato e por isso não é ato
precário, além de depender de licitação. É
Concessão de
usado para situações mais duradouras e que
uso:
dependem de maior investimento financeiro
do particular

16
Aquele que, até 30 de junho de 2001, possuiu
como seu, por cinco anos, ininterruptamente e
sem oposição, até duzentos e cinquenta
metros quadrados de imóvel público situado
Concessão de em área urbana, utilizando-o para sua moradia
uso para fins de ou de sua família, tem o direito à concessão
moradia: de uso especial para fins de moradia em
relação ao bem objeto da posse, desde que
não seja proprietário ou concessionário, a
qualquer título, de outro imóvel urbano ou
rural
É contrato administrativo – depende de
licitação na modalidade concorrência - por
Concessão de meio do qual o particular passa a ser titular de
direito real de um direito real de utilização de determinado
uso: bem público. Geralmente é feito quando a
Administração visa à industrialização ou
urbanização.
AQUISIÇÃO DE BENS PELO PODER PÚBLICO

17
Se dá independentemente da vontade do
transmitente e se designa de aquisição direta
de bens. Nesses casos, o bem se incorpora ao
AQUISIÇÃO ORIGINÁRIA
patrimônio público sem nenhuma espécie de
restrição ou ônus.

Decorre da vontade da parte que transfere o


bem ao patrimônio público, e esse bem vem
AQUISIÇÃO DERIVADA
com todos os ônus que ele possuía
originariamente.

Os contratos de aquisição celebrados pelo


Poder Público não se revestem da natureza de
contratos administrativos, eis que são
celebrados sob o regime de direito privado. A
AQUISIÇÃO CONTRATUAL
aquisição contratual pode ocorrer por meio
da: a) compra e venda; b) dação em
pagamento; c) resgate da enfiteuse; d)
permuta; e e) doação.

Em determinadas situações, a aquisição de


bens pelo Poder Público decorre de previsão
legal ou constitucional e pode se dar das
AQUISIÇÃO LEGAL OU POR FENÔMENOS DA seguintes formas: a) Desapropriação; b)
NATUREZA Usucapião; c) Acessão natural; d)
Testamento e herança vacante; e) Reversão
de bens; f) Pena de perdimento de bens; g)
Perda de bens.

18
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

(CONSULPLAN - 2019 - MPE-PA - Estagiário - Direito) Bens públicos podem ser


conceituados como todos aqueles que, de qualquer natureza e a qualquer título, pertençam às
pessoas jurídicas de direito público, sejam elas federativas, como a União, os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios, sejam da Administração descentralizada, como as autarquias,
nestas incluindo-se as fundações de direito público e as associações públicas. Sobre o tema,
assinale a alternativa INCORRETA.

A) A imprescritibilidade significa que os bens públicos são insuscetíveis de aquisição por


usucapião, e isso independentemente da categoria a que pertençam.

B) Não perdem a característica de bens de uso especial aqueles que, objetivando a prestação
de serviços públicos, estejam sendo utilizados por particulares, sobretudo sob regime de
delegação.

C) Os bens patrimoniais disponíveis são os bens dominicais em geral, porque nem se destinam
ao público em geral, nem são utilizados para o desempenho normal das atividades
administrativas.

D) Autorização de uso é o ato administrativo pelo qual o Poder Público consente que
determinado indivíduo utilize bem público de modo privativo; tal autorização é ato precário,
podendo ser revogado a qualquer momento, observando sempre o dever de indenizar.

Comentário:

19
Autorização é ato administrativo unilateral, discricionário e precário, por meio do
qual o Estado consente na utilização anormal do bem público, sem direito de indenização. É
feita no interesse do particular quando a situação é episódica ou de curta duração.

Questão 2

(CESPE - 2019 - TJ-PA - Juiz de Direito Substituto.) As terras devolutas são

A) terras de propriedade da União que não têm afetação específica e que, portanto, são
consideradas disponíveis.

B) terras públicas que estão afetadas a um uso público, mas que ainda não foram arrecadadas
por ações discriminatórias.

C) terras públicas ou privadas localizadas em faixas de fronteira, reservas indígenas ou terrenos


de marinha.

D) terras públicas ou privadas consideradas indispensáveis à defesa de fronteira e à


preservação ambiental.

E) terras públicas não incorporadas a patrimônio particular e que não estejam afetadas a
qualquer uso público.

Comentário:

Os bens dominicais ou dominiais são bens que não têm qualquer destinação
pública, sendo, portanto, desafetados. Exemplos: terra devoluta de um determinado Estado da
federação, bens móveis apreendidos sem utilização definida.

São considerados bens públicos em razão de pertencerem à alguma pessoa jurídica


de direito público.

20
Questão 3

(FEPESE - 2019 - Prefeitura de Bombinhas - SC - Procurador) É correto afirmar sobre o bem


público:

A) A construção ou o exercício de atividade irregular em bem de uso comum demanda a


prova do dano à coletividade e do prejuízo em concreto.

B) Para reaver o bem doado, o doador deverá notificar o donatário acerca do descumprimento
de encargo estabelecido na lei que autorizou a doação de bem público.

C) Os bens públicos gozam de proteção integral, sendo vedada expressamente a sua oferta
em garantia, alienação e disposição.

D) A ocupação indevida de um bem público configura mera detenção de natureza precária,


sendo insuscetível de retenção ou indenização por acessões e benfeitorias.

E) O registro da propriedade de imóvel particular situado em terrenos de marinha, há mais de


quinze anos, afasta os direitos possessórios do ente público responsável pelo seu domínio.

Comentário:

A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça se manifesta no sentido de que a


utilização de bens públicos não induz posse, tratando-se de mera detenção pelo particular.

Questão 4

(VUNESP - 2019 - Prefeitura de Campinas - SP - Agente Fiscal Tributário) Suponha que o


Município é proprietário de um terreno localizado ao lado de uma escola pública. O terreno é
explorado comercialmente, sendo utilizado como estacionamento de veículos automotores por
dois munícipes, que não possuem autorização da Administração para o uso da área e a

21
execução de tal atividade econômica. Considerando a situação hipotética, assinale a alternativa
correta.

A) A escola pública deve ser classificada como bem de uso comum do povo.

B) Caso presentes os requisitos previstos na legislação, a propriedade do terreno poderá ser


adquirida pelos munícipes por usucapião.

C) Caso o terreno seja transformado em praça pública, passará a ser classificado como bem de
uso especial.

D) O terreno deve ser classificado como bem dominical, podendo a Administração realizar a
sua alienação, caso haja prévia autorização legislativa.

E) O terreno deve ser classificado como bem privado em razão do seu uso estar direcionado a
um fim comercial.

Comentário:

O terreno pode ser classificado como bem dominical, tendo em vista que não tem
qualquer destinação pública. Em virtude de ser desafetado, o terreno poderá ser alienado
desde que haja autorização legislativa (art. 17, I, da Lei 8.666/93).

Questão 5

(FCC - 2019 - TJ-AL - Juiz Substituto) Suponha que uma autarquia estadual pretenda alienar
alguns imóveis de sua propriedade, objetivando a obtenção de receitas para a aquisição de
um imóvel situado em região mais central da cidade e no qual pretende concentrar suas
atividades. Considerando o regime jurídico aplicável aos bens públicos, bem como as
disposições da Lei federal n° 8.666/1993,

22
A) as alienações e as aquisições prescindem de autorização legislativa, devendo, contudo,
haver despacho motivado do dirigente da autarquia, avaliação prévia dos imóveis e adoção de
procedimento licitatório para cada um dos negócios jurídicos, na modalidade leilão ou
concorrência.

B) a aquisição do novo imóvel depende de prévia autorização legislativa para afetação às


finalidades da autarquia, devendo ser efetuada por procedimento licitatório na modalidade
concorrência, aplicando-se as mesmas exigências em relação às alienações.

C) o caráter de inalienabilidade dos imóveis pertencentes à entidade de direito público


impede a sua venda, salvo em se tratando de aquisição por meio de desapropriação.

D) as alienações dependem de prévia autorização legislativa, admitindo-se a permuta de


imóvel(is) que se pretende alienar por outro que atenda às necessidades atuais de instalação e
localização da autarquia, com dispensa de licitação, observados os valores de mercado.

E) a autarquia poderá vender ou permutar os imóveis em questão, mediante autorização


legislativa específica para o negócio jurídico escolhido, afastando-se, em ambos os casos, a
necessidade de prévio procedimento licitatório.

Comentário:
À princípio os bens públicos são inalienáveis. Porém, os artigos 17 a 19 da Lei nº
8.666/93 definem as condições para a alienação dos bens públicos. Primeiramente, para que
possam ser alienados os bens públicos – sejam móveis ou imóveis, precisam estar
desafetados. Para alienação de bens imóveis deverá haver: Interesse público justificado;
Avaliação prévia; Licitação; e Autorização legislativa. Já para a alienação de bens móveis:
Interesse público justificado; Avaliação prévia; e Licitação.

23
Questão 6

(VUNESP - 2019 - IPREMM - SP - Procurador Jurídico) Acerca dos bens públicos, pode-se
corretamente afirmar que

A) todos bens públicos são inalienáveis.

B) somente os bens de uso comum do povo são alienáveis, observadas as exigências da lei.

C) somente os bens dominicais são alienáveis, observadas as exigências da lei.

D) somente os bens de uso especial são inalienáveis, observadas as exigências da lei.

E) todos os bens públicos são alienáveis, observadas as exigências da lei.

Comentário:

Com base no art. 101, do Código Civil de 2002. Segundo Di Pietro (2018), "os bens
dominicais, não estando afetados a finalidade pública específica, podem ser alienados por
meio de institutos do direito privado (compra e venda, doação e permuta) ou do direito
público (investidura, legitimação de posse e retrocessão).

Questão 7

(FCC - 2019 - MPE-MT - Promotor de Justiça Substituto) Mares e rios, terrenos e edifícios
destinados aos serviços da Administração pública são exemplos de bens públicos,
respectivamente,

A) de uso especial.

B) de uso comum do povo e dominicais.

C) de uso comum do povo.

24
D) dominicais.

E) de uso comum do povo e de uso especial.

Comentário:

Os bens de uso comum são os bens uso livre pela população em geral.
Geralmente são gratuitos, sendo admissível cobrança de taxa em casa de utilização anormal
ou privativa.

Ressalta-se que a utilização ordinária desses bens não depende de consentimento


do Poder Público, mas caso algum particular queira em fazer utilização especial desses bens,
deverá haver regulamentação do ente estatal.

São exemplos de bens de uso comum do povo: ruas, praias, calçadas, praças.

Já os bens de uso especial são os bens usados para a prestação de serviço público.

Questão 8

(FCC - 2019 - Prefeitura de Manaus - AM - Técnico Fazendário) A Administração pública de


um município litorâneo precisa implementar programa de vacinação para a população de
baixa renda, mais vulnerável em razão da carência de saneamento básico na região. Apurou
que o Estado federativo que o município integra é proprietário de um imóvel próximo, com
acesso adequado e boas condições estruturais para armazenamento das vacinas. A utilização
desse imóvel pode se formalizar mediante

A) permissão de uso, a ser outorgada pelo Estado em favor da Municipalidade, considerando a


finalidade pública do programa de vacinação.

B) contrato administrativo de comodato, por prazo indeterminado e para a finalidade


específica de execução do programa de vacinação.

25
C) autorização de uso, ato administrativo de natureza vinculada, o que impede a negativa da
outorga por parte do Estado.

D) concessão de uso, ato administrativo tecnicamente adequado para a celebração de parceria


entre dois entes federados.

E) convênio, cuja natureza contratual permite o estabelecimento de obrigações recíprocas


entre os partícipes, vedada apenas remuneração pelo uso.

Comentário:

A permissão de uso de bem público é ato pelo qual o Poder Público defere o uso
privativo de bem público a determinado particular em atenção a interesse público. Conforme
indicado no enunciado da questão o imóvel será utilizado para armazenamento de vacinas -
atendendo assim, a interesse predominantemente público.

Questão 9

(FCC - 2019 - Prefeitura de Manaus - AM - Auditor Fiscal de Tributos Municipais) Uma


empresa pública pretende se desfazer de bens públicos adquiridos enquanto prestava serviço
público regular e formalmente por delegação do poder concedente cuja organização
administrativa integra. Para tanto,

A) poderá demonstrar já ter havido amortização dos investimentos para aquisição do bem,
bem como que este não está mais afetado ao serviço público, sendo, assim, inservível e
passível de alienação.

B) deverá promover prévia alienação ao poder concedente e, este, por meio de decisão
discricionária, decide pela alienação onerosa ou não do bem.

26
C) pode promover alienação direta, na forma da lei, não sendo necessária prévia submissão a
certame de nenhuma natureza.

D) poderá realizar licitação, com fundamento na Lei nº 8.666/1993, cabendo a escolha da


modalidade com base no valor do bem a ser alienado.

E) caberá alienar o bem ao poder concedente, ao qual pertencem os bens afetados ao serviço
público, ainda que essa condição fática não mais proceda.

Comentário:

Os bens das pessoas jurídicas de direito privado que estejam sendo utilizados
na prestação de determinado serviço público gozam das prerrogativas de direito público.

Os bens da empresa pública não são considerados bens públicos e podem ser
alienados desde que não estejam sendo empregados na prestação de serviço público.

Questão 10

(FCC - 2019 - Prefeitura de Manaus - AM - Auditor Fiscal de Tributos Municipais) Uma


autarquia municipal desprovida de receitas próprias, porque atuante essencialmente no setor
fiscalizatório, é proprietária de dois imóveis. Em um dos imóveis funciona a sede da autarquia;
o outro está locado para um estacionamento, a fim de gerar receitas para investimento. Um
credor da autarquia pleiteou judicialmente a penhora do imóvel onde funciona o
estacionamento, sob o fundamento de que não estaria afetado a serviço público nenhum. O
pedido

A) não pode ser deferido, pois a destinação para o estacionamento configura afetação a
serviço público, ainda que em sentido amplo.

27
B) pode ser deferido, considerando que o imóvel não se presta ao atendimento do escopo
institucional da autarquia.

C) não pode ser deferido, tendo em vista que os bens públicos das autarquias são protegidos
pelo regime de bens públicos, sendo impenhoráveis, ainda que os de natureza dominical.

D) pode ser deferido, pois o imóvel penhorado não configura bem público de uso comum do
povo, sendo que os de uso especial, natureza do bem, não são protegidos pela
impenhorabilidade.

E) não deve ser deferido, por razões de isonomia em relação aos demais credores, tendo em
vista que a autarquia é proprietária de apenas um imóvel passível de garantir dívidas
assumidas.

Comentário:

Uma das garantias aplicáveis aos bens públicos é a impenhorabilidade, o que


impede que tais bens sejam penhorados em processo judicial. Ressalte-se que a
impenhorabilidade atinge todos os bens da autarquia, sejam eles de uso especial ou
dominicais.

Por oportuno, cabe destacar que além da impenhorabilidade, os bens públicos


possuem outras prerrogativas. Os bens públicos não podem ser adquiridos por usucapião
(imprescritibilidade) e possuem alienabilidade condicionada.

28
Questão 11

(FCC – 2017 – PC-AP – Agente de Polícia) A aquisição e alienação de um imóvel pela


Administração pública pode se dar por meio de

A) compra e venda, cabendo ao administrador demonstrar as razões de interesse público e


desde que seja realizada licitação, independentemente do valor de venda ou aquisição.
B) desapropriação ou venda e compra, nos casos de aquisição, garantindo-se, como regra,
prévia e justa indenização em dinheiro no primeiro caso e sendo possível dispensa de
licitação na segunda modalidade, bem como licitação para alienação de bens públicos
desafetados, observadas as hipóteses de dispensa do certame.
C) desapropriação e licitação, respectiva e obrigatoriamente, garantindo-se indenização na
primeira hipótese e, na segunda, o princípio da igualdade com a ampla competição.
D) desapropriação, sob as modalidades direta ou indireta, desde que haja prévia avaliação
e em dinheiro, em observância ao princípio da igualdade e respeito ao direito de
propriedade.
E) compra para aquisição de bens pela Administração pública, submetendo-se, nesse caso,
integralmente ao regime jurídico de direito privado, o que afasta a incidência do regime
licitatório, bem como a venda para alienação de bens públicos que, em razão da
inalienabilidade, fica restrita a outros entes integrantes da Administração pública de
qualquer esfera, permitindo que permaneça afetado ao interesse público.

Comentário:
Gabarito: Letra “B”.
A) Incorreta. O valor é importante, sobretudo para a aquisição de bens;
B) Correta.
C) Incorreta. Pois não é só mediante desapropriação que o poder público forma o
seu patrimônio. Além disso, nem toda desapropriação gera indenização (vide
desapropriação confiscatória)

29
D) Incorreta. A desapropriação é paga em títulos e não em dinheiro.
E) Incorreta. Nesse caso não se submete integralmente ao regime jurídico de
direito privado e, para além disso, integrando o patrimônio disponível da
Administração Pública, o bem se torna passível de alienação.

30
GABARITO

Questão 1 - D

Questão 2 - E

Questão 3 - D

Questão 4 - D

Questão 5 - D

Questão 6 - C

Questão 7 - E

Questão 8 - A

Questão 9 – A

Questão 10 – C

Questão 11 – B

31
QUESTÃO DESAFIO

Bem de empresa pública prestadora de serviço público é


penhorável? Trate das exceções, se for o caso.

Máximo de 5 linhas

32
GABARITO DA QUESTÃO DESAFIO

É penhorável o bem pertencente a empresa pública prestadora de serviço público com


exceção do bem que esteja diretamente ligado à prestação do serviço. O STF
excepcionou a EBCT, que não precisa verificar se o bem está diretamente ligado à
prestação de serviços públicos, será sempre impenhorável.

Você deve ter abordado necessariamente os seguintes itens em sua resposta:

 Em regra bem afetado ao serviço o não pode penhora

Segundo a professora Ana Cláudia Campos, caso a empresa pública/sociedade de


economia mista desempenhe atividade econômica, todos os seus bens seguirão as regras
do regime estritamente privado, isto é, são penhoráveis. Assim, poderão ser, por exemplo,
penhorados e onerados (submetidos à hipoteca, penhor e anticrese) e não
estarão submetidos ao sistema de precatórios. Vejamos o que consta na CF/88:

"Art. 173, § 1.º, II, CF/1988 – a sujeição ao regime jurídico próprio das empresas privadas,
inclusive quanto aos direitos e obrigações civis, comerciais, trabalhistas e tributários."

E segue "Já no caso de a estatal ser instituída para desempenhar serviços públicos, apesar
de seus bens continuarem sendo privados, poderão estes gozar de algumas prerrogativas
públicas como a impenhorabilidade e imprescritibilidade. "Assim, o que se quer dizer com
isso é que quando a empresa pública exerce atividade econômica e também serviço
público, há que se avaliar se os bens estão empregados no serviço público para que
gozem das prerrogativas como a impenhorabilidade.

FONTE:

CAMPOS, Ana Cláudia Direito Administrativo Facilitado / Ana Cláudia Campos. São Paulo:
Método; Rio de Janeiro: Forense, 2019. p. 262/263.

 STF: impenhorabilidade dos bens dos correios

33
O Informativo n° 412, do STF, noticia que os bens da Empresa Brasileira de Correios e
Telégrafos não podem ser penhorados, tendo em vista que a empresa pública em questão se
submete ao regime de precatórios e que tal entendimento seria aplicável às demais estatais
que prestam serviço público ou, ainda, que exercem atividade econômica sob o regime de
monopólio legal. Destaca-se, como precedente, o julgamento do RE 220906/RS (DJU de
14.11.2002).

A EBCT possui esse privilégio da impenhorabilidade de seus bens por ser uma prestadora
exclusiva - monopólio - de determinado serviço (não há outra empresa de correios no Brasil).
O mesmo não funciona para a CEF, já que esse serviço econômico é prestado por diversos
bancos. STF, RE 222.041 e 228.296, j. 15.9.1998. O Decreto-lei nº 509/1969 prevê
a impenhorabilidade dos bens da ECT, empresa pública. Então, no caso da EBCT não há que
se verificar se o bem está diretamente empregado no serviço pois há presunção absoluta
disso.

A professor Ana Cláudia leciona que "[...] cumpre observar o regime específico ofertado para a
Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (correios). Segundo o STF, como essa entidade
desempenha um serviço público exclusivo do Estado em regime de monopólio, gozará de
prerrogativas típicas da própria Fazenda Pública, inclusive em relação a seus bens."

Fonte:

CAMPOS, Ana Cláudia Direito Administrativo Facilitado / Ana Cláudia Campos. São Paulo:
Método; Rio de Janeiro: Forense, 2019.p. 262/263.

34
LEGISLAÇÃO COMPILADA

Bens Públicos:
 CFRB/88: artigo 20, 26
 CC/02: artigo 98

Imprescritibilidade:
 Súmula STF: 340
 CC/02: artigo 102

Impenhorabilidade:
 CFRB/02: 183, §3° e 191, parágrafo único

Alienabilidade condicionada:
 Lei nº 8.666/93: artigos 17 a 19

Concessão de uso para fins de moradia:


 MP nº 2.220/01: íntegra

Desapropriação:
 CFRB/88: art. 5°, XXIV

Acessão natural:

 CC/02: artigos 1248 a 1253

35
Perda de bens:

 Lei nº 8429/92: artigo 12

36
JURISPRUDÊNCIA

Compra e venda de imóvel:

 REsp 1590022/MA, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado


em 09/08/2016, DJe 08/09/2016

ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. IMÓVEL. PROPRIEDADE DA UNIÃO.


TRANSFERÊNCIA ENTRE PARTICULARES. OBRIGATORIEDADE DO PAGAMENTO DO LAUDÊMIO
E OBTENÇÃO DE CERTIDÃO DA SECRETARIA DO PATRIMÔNIO DA UNIÃO - SPU. ESSÊNCIA
DO ATO. NATUREZA DE DIREITO PÚBLICO E PRIVADO.
INTERESSE PÚBLICO. AUSÊNCIA DE OMISSÃO. ART. 535, II, DO CPC.
1. O recorrente sustenta que o art. 535, II, do CPC foi violado, mas deixa de apontar, de forma
clara, o vício em que teria incorrido o acórdão impugnado. Assim, é inviável o conhecimento
do Recurso Especial nesse ponto, ante o óbice da Súmula 284/STF.
2. Trata a presente demanda de pedido de anulação de contrato de compra e venda de
imóvel entabulado e registrado pelos requeridos no Cartório do Registro Geral de Imóveis da
1ª Circunscrição de São Luis/MA sem o prévio recolhimento do laudêmio, em quantia
correspondente a 5% do valor atualizado do domínio pleno e das benfeitorias.
3. O acórdão recorrido não vislumbrou prejuízo ao patrimônio público, porque a irregularidade
formal do contrato não atingiria a essencialidade do ato de compra e venda. Ademais, o valor
devido do laudêmio poderia ser cobrado posteriormente através de Ação de Execução.
4. Os bens públicos podem ser classificados como bens de uso comum do povo, bens de uso
especial e bens dominicais. A diferença principal entre eles reside no fato de que as duas

37
primeiras espécies possuem destinação pública, enquanto a terceira não a possui.
5. Os terrenos pertencentes à União são bens públicos, apesar de os bens dominicais terem
destinação precipuamente particular. Seguindo o escólio da ilustre professora Maria Sylvia
Zanella Di Pietro, que alerta, em sua obra Direito Administrativo, 5ª edição, ed. Atlas, pg. 425,
que "o regime dos bens dominicais é parcialmente público e parcialmente privado". Por isso,
devemos ter consciência de que a sua natureza não é exclusivamente patrimonial, pois a
Administração Pública não deseja apenas auferir renda, mas, também observar o interesse
coletivo representado pelo domínio direto do imóvel.
6. Conforme explicitado os bens dominicais possuem especificidades com relação à
propriedade privada, que é regulada exclusivamente pelo Código Civil. Dentre elas, existe o
direito de transferir onerosamente o domínio útil do imóvel mediante o pagamento de
laudêmio, pois se trata, como dito alhures, de uma relação de natureza híbrida. Portanto, o
contrato de compra e venda desses imóveis devem revestir formalidades sem as quais
desnaturam a sua natureza jurídica.
7. Não é somente o pagamento do laudêmio que diferencia essa espécie de transferência
onerosa entre vivos, mas, e, principalmente, a autorização da união para a realização do
negócio jurídico. Como se trata de bem público de interesse da União, ela deve acompanhar
de perto, através da Secretaria de Patrimônio da União, a realização de sua transferência, pois,
como dispõe a lei, pode ocorrer a vinculação do imóvel ao serviço público. Precedente: REsp
1.201.256/RJ, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma, DJe 22/2/2011.
8. Os Cartórios de Registro de Imóveis têm a obrigação de não lavrar nem registrar escrituras
relativas a bens imóveis de propriedade da União sem a certidão da Secretaria do Patrimônio
da União - SPU, sob pena de responsabilidade dos seus titulares.
9. Recurso Especial parcialmente conhecido e, nessa parte, provido.

38
Desapropriação:

 REsp 1300442/SC, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado


em 18/06/2013, DJe 26/06/2013

ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA. PRAZO PRESCRICIONAL.


AÇÃO DE NATUREZA REAL. USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIO.
SÚMULA 119/STJ. PRESCRIÇÃO VINTENÁRIA. CÓDIGO CIVIL DE 2002. ART. 1.238, PARÁGRAFO
ÚNICO. PRESCRIÇÃO DECENAL. REDUÇÃO DO PRAZO. ART.
2.028 DO CC/02. REGRA DE TRANSIÇÃO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. ART. 27, §§ 1º E 3º,
DO DL 3.365/1941.
1. A ação de desapropriação indireta possui natureza real e, enquanto não transcorrido o
prazo para aquisição da propriedade por usucapião, ante a impossibilidade de reivindicar a
coisa, subsiste a pretensão indenizatória em relação ao preço correspondente ao bem objeto
do apossamento administrativo.
2. Com fundamento no art. 550 do Código Civil de 1916, o STJ firmou a orientação de que "a
ação de desapropriação indireta prescreve em 20 anos" (Súmula 119/STJ).
3. O Código Civil de 2002 reduziu o prazo do usucapião extraordinário para 10 anos (art.
1.238, parágrafo único), na hipótese de realização de obras ou serviços de caráter produtivo
no imóvel, devendo-se, a partir de então, observadas as regras de transição previstas no
Codex (art. 2.028), adotá-lo nas expropriatórias indiretas.
4. Especificamente no caso dos autos, considerando que o lustro prescricional foi interrompido
em 13.5.1994, com a publicação do Decreto expropriatório, e que não decorreu mais da
metade do prazo vintenário previsto no código revogado, consoante a disposição do art.
2.028 do CC/02, incide o prazo decenal a partir da entrada em vigor do novel Código Civil
(11.1.2003).
5. Assim, levando-se em conta que a ação foi proposta em dezembro de 2008, antes do
transcurso dos 10 (dez) anos da vigência do atual Código, não se configurou a prescrição.
6. Os limites percentuais estabelecidos no art. 27, §§ 1º e 3º, do DL 3.365/1941, relativos aos
honorários advocatícios, aplicam-se às desapropriações indiretas. Precedentes do STJ.

39
7. Verba honorária minorada para 5% do valor da condenação.
8. Recurso Especial parcialmente provido, apenas para redução dos honorários advocatícios.

 AgRg no REsp 1536890/SC, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEGUNDA TURMA,


julgado em 10/11/2015, DJe 18/11/2015
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. DESAPROPRIAÇÃO
INDIRETA. PRAZO PRESCRICIONAL.
REALIZAÇÃO DE OBRAS E SERVIÇOS DE CARÁTER PRODUTIVO. PRAZO DECENAL.
1. Na hipótese de desapropriação indireta na qual a Administração realizou obras e serviços
de caráter produtivo, a jurisprudência desta Corte Superior estabelece ser de 10 (dez) anos o
prazo prescricional da pretensão indenizatória, na forma do art. 1.238, paragrafo único, do CC.
2. Descabe o exame, em sede de agravo regimental, de matéria não trazida oportunamente
nas razões do recurso especial, constituindo inovação recursal.
3. Agravo regimental a que se nega provimento.

 REsp 1296044/RN, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA,


julgado em 15/08/2013, DJe 22/08/2013

ADMINISTRATIVO. TERRENOS DE MARINHA. DESAPROPRIAÇÃO DO DOMÍNIO ÚTIL.


COBRANÇA DE LAUDÊMIO. ART. 3º DO DECRETO-LEI Nº 2.398/87 .
POSSIBILIDADE. 1. Não se discute nos presentes autos a possibilidade da desapropriação do
domínio útil do particular sobre o imóvel aforado, muito menos a desapropriação da
propriedade da União pelo Estado, o que seria juridicamente impossível. O que se discute é a
incidência ou não do laudêmio na desapropriação do domínio útil da DATANORTE -
Companhia de processamento de Dados do Rio Grande do Norte pelo Estado do Rio Grande
do Norte sobre o imóvel aforado.
2. O art. 3º do Decreto-Lei nº 2.398/87 especifica que é devido o laudêmio no caso de
transferência onerosa, entre vivos, de domínio útil de terreno aforado da União ou de direitos

40
sobre benfeitorias neles construídas, bem assim a cessão de direito a eles relativos.
3. Nas desapropriações, nas quais, embora a transferência ocorra compulsoriamente, é possível
identificar a onerosidade de que trata a lei, uma vez que há a obrigação de indenizar o preço
do imóvel desapropriado, no caso, o domínio útil do imóvel, àquele que se sujeita ao império
do interesse do Estado.
4. A transferência de imóvel edificado em terreno de marinha, para fins de desapropriação,
configura hipótese de transferência onerosa entre vivos, apta a gerar o recolhimento de
laudêmio.
5. Recurso especial provido.

Permissão:

 AgRg no AREsp 481.094/RJ, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA


TURMA, julgado em 15/05/2014, DJe 21/05/2014

AGRAVO REGIMENTAL DA LINAVE TRANSPORTES LTDA. ADMINISTRATIVO.


TRANSPORTE PÚBLICO COLETIVO. PERMISSÃO. AUSÊNCIA DE LICITAÇÃO.
NULIDADE. PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE DO SERVIÇO PÚBLICO.
INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CPC. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO À RESERVA DE
PLENÁRIO. CERCEAMENTO DE DEFESA. IMPOSSIBILIDADE DE ANÁLISE. SÚMULA 7/STJ. ART.
42, § 2º, DA LEI 8.987/95. PRORROGAÇÃO DE VIGÊNCIA CONTRATUAL. PRAZO. RESPEITO AO
ART. 37, INCISO XXI, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. HONORÁRIOS. TESE SEM
PREQUESTIONAMENTO.
1. No que se refere à decisão que conheceu do agravo para prover o recurso especial do
Detro, inconcebível que se imagine privilegiar o interesse privado da empresa recorrida, no
eventual direito de ser indenizada, mantendo a perpetuação de um contrato reconhecido
como nulo pela ausência de licitação.
2. A jurisprudência desta Corte Superior de Justiça é no sentido de que "extinto o contrato de
concessão por decurso do prazo de vigência, cabe ao Poder Público a retomada imediata da

41
prestação do serviço, até a realização de nova licitação, a fim de assegurar a plena observância
do princípio da continuidade do serviço público, não estando condicionado o termo final do
contrato ao pagamento prévio de eventual indenização, que deve ser pleiteada nas vias
ordinárias" (AgRg no REsp 1139802/SC, Rel. Ministro HAMILTON CARVALHIDO, PRIMEIRA
TURMA, julgado em 12/04/2011, DJe 25/04/2011) 3. Declarada a nulidade da permissão
outorgada sem licitação pública, não se pode condicionar o termo final do contrato ao
pagamento prévio de eventual indenização, cabendo ao Poder Público a retomada imediata
da prestação do serviço, até a realização de nova licitação.
4. Ressalta-se que a eventual paralisação na prestação do serviço de transporte público de que
trata a presente demanda, coadjuvado pela impossibilidade de o ente público assumir, de
forma direta, a prestação do referido serviço, em razão da desmobilização da infra-estrutura
estatal, anterior a conclusão do procedimento licitatório, poderá ensejar a descontinuidade dos
serviços prestados, em completa afronta ao princípio da continuidade dos serviços públicos
essenciais. Assim, visando a continuidade do serviço público de transporte e o interesse de
toda coletividade, autoriza-se a realização do procedimento licitatório no prazo de até um
ano, independentemente do trânsito em julgado, momento em que cessam os efeitos dos
contratos em questão.
5. Trata-se no presente caso de ação civil pública apresentada pelo Ministério Público do
Estado do Rio de Janeiro contra o DETRO/RJ e a Linave Transportes Ltda visando a declaração
de nulidade de todos os instrumentos delegatórios outorgados sem licitação firmados entre os
réus, bem como a condenação do primeiro a realizar a licitação das linhas de ônibus
exploradas pela segunda.
6. A ação civil pública é o instrumento processual destinado à defesa judicial de interesses
difusos e coletivos, permitindo a tutela jurisdicional do Estado com vistas à proteção de certos
bens jurídicos. Por meio desta ação, reprime-se ou previne-se a ocorrência de danos ao meio
ambiente, ao consumidor, ao patrimônio público, aos bens e direitos de valor artístico,
estético, histórico, turístico e paisagístico, dentre outros, podendo ter por objeto a condenação
em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer. Assim, não cabe neste
tipo de ação, em que se busca a tutela do bem coletivo, a condenação do Estado em
42
indenizar o "réu", no caso, a permissionária de transporte público, na indenização dos
investimentos realizados, que poderá ser pleiteado em ação autônoma.
7. O contrato firmado entre a Linave Transportes Ltda e o DETRO/RJ constitui apenas um
contrato de permissão DE CARÁTER PRECÁRIO, portanto sem qualquer licitação, submetendo-
se, o permissionário, a todos os riscos inerentes de tal repugnante prática. A jurisprudência
desta Corte Superior é no sentido de que "é indispensável a realização de prévio
procedimento licitatório para que se possa cogitar de indenização aos permissionários de
serviço público de transporte coletivo em razão de tarifas deficitárias, ainda que os Termos de
Permissão tenham sido assinados em período anterior à Constituição Federal de 1988." (REsp
886925/MG, Rel.
Min.
Castro Meira, Segunda Turma, DJ 21.11.2007). Dessa forma, conclui- se ser indispensável o
cumprimento dos ditames constitucionais e legais, com a realização de prévio procedimento
licitatório para que se possa cogitar de indenização aos permissionários de serviço público de
transporte coletivo, o que não ocorreu no presente caso.
8. Saliente-se que o artigo 42, § 2º, da Lei n. 8.987/95 aplica-se somente às concessões de
serviço público, e não às permissões.
Precedente: REsp 443.796/MG, Rel. Min. Franciulli Netto, Segunda Turma, DJ de 03.11.03.
9. Por outro lado, no que se refere à decisão que conheceu do agravo para negar seguimento
ao recurso especial da Linave, os órgãos julgadores não estão obrigados a examinar todas as
teses levantadas pelo jurisdicionado durante um processo judicial, bastando que as decisões
proferidas estejam devida e coerentemente fundamentadas, em obediência ao que determina
o art. 93, inc. IX, da Constituição da República vigente. Isto não caracteriza ofensa ao art. 535
do CPC.
10. Não há que se falar em violação ao princípio da reserva de plenário, uma vez que o
Tribunal a quo, ao julgar nulo o ato administrativo que renovou a concessão do serviço
público sem licitação, o fez, principalmente, com fundamento nos artigos 37, inciso XXI, e 175
da Constituição Federal e na Lei 8.987/95, com as alterações trazidas pela Lei 11.445/07,
mencionando, como mais um argumento, a inconstitucionalidade de dispositivo da Lei
43
Estadual 2.831/97, que violava o princípio da obrigatoriedade da licitação.
11. O Tribunal a quo concluiu pela ausência de cerceamento de defesa. Ora, infirmar tais
conclusões, com o fito de acolher a apontada violação aos artigos 130 e 330, inciso I, do CPC
e aferir se houve, ou não, cerceamento de defesa e prejuízo à parte demandaria incursão no
contexto fático-probatório dos autos, o que é defeso em recurso especial, nos termos da
Súmula 7 desta Corte de Justiça. 12. A redação contida no § 2º do art. 42 da Lei n.
8.987/95 estabelece que "as concessões em caráter precário, as que estiverem com prazo
vencido e as que estiverem em vigor por prazo indeterminado, inclusive por força de
legislação anterior, permanecerão válidas pelo prazo necessário à realização dos
levantamentos e avaliações indispensáveis à organização das licitações que precederão a
outorga das concessões que as substituirão, prazo esse que não será inferior a 24 (vinte e
quatro) meses", ou seja, fixa o prazo de 24 meses como tempo mínimo necessário que deve
ser observado pela Administração Pública para a realização de levantamentos e avaliações
indispensáveis à organização das licitações exigidas.
13. A Lei 8.666/93, que regulamenta o art. 37, inciso XXI, da Carta Magna, instituindo normas
para licitações e contratos da Administração Pública, em seu art. 2º, afirma que as obras,
serviços, inclusive de publicidade, compras, alienações, concessões, permissões e locações da
Administração Pública, quando contratadas com terceiros, serão necessariamente precedidas
de licitação, ressalvadas as hipóteses previstas nesta Lei. Assim, a exigibilidade da licitação é
proveniente da Constituição Federal, devendo a legislação infraconstitucional ser
compatibilizada com os preceitos insculpidos nos artigos 37, inciso XXI, e 175 da Carta
República, não podendo admitir-se um longo lapso temporal, com respaldo no art.
42, §2º, da Lei n. 8.987/95, uma vez que o comando constitucional deve ser plenamente
cumprido. Precedente: ADI 3521, Relator(a): Min.
EROS GRAU, Tribunal Pleno, julgado em 28/09/2006, DJ 16-03-2007.
14. A prorrogação do contrato de permissão por longo prazo, fundamentada na necessidade
de se organizar o procedimento licitatório, não pode ser acolhida para justificar a prorrogação
efetuada, visto que tratam de suposto direito econômico das empresas que não podem se
sobrepor ao preceito constitucional que obriga a licitar e visa garantir e resguardar o interesse
44
público da contratação precedida de licitação.
15. Quanto aos honorários, a ora recorrente utilizou-se do fundamento de que o DETRO/RJ
não faz jus à verba honorária que lhe foi concedida , uma vez que foi ele que deu causa à
instauração do processo, sendo ele que elaborou o contrato que o Poder Judiciário considerou
inválido. Ocorre que não há como apreciar essa tese, uma vez que não foi objeto de debate
pela instância ordinária, o que inviabiliza o conhecimento do especial no ponto por ausência
de prequestionamento.
16. Agravo regimental não provido.

45
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARVALHO FILHO, José dos Santos. MANUAL DE DIREITO ADMINSITRAVO. 30 Ed. São
Paulo: Atlas, 2016.

CARVALHO, Matheus. MANUAL DE DIREITO ADMINSITRAVO. 3 ed. Salvador: JusPODIVM,


2016.

MAZZA, Alexandre. MANUAL DE DIREITO ADMINSITRAVO – 9. ed. – São Paulo: Saraiva


Educação, 2019.

OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende. CURSO DE DIREITO ADMINISTRATIVO. 5 ed. Rio de


Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2017.

PIETRO, Maria Sylvia Zanella Di. DIREITO ADMINISTRATIVO. 32. ed. rev. atual e ampl. – Rio
de Janeiro: Forense, 2019.

46
CARREIRAS POLICIAIS

Direito Administrativo
Capítulo 14
SUMÁRIO
DIREITO ADMINISTRATIVO ........................................................................................................................................... 3

1. Controle da Administração Pública ................................................................................................................... 3

1.1 Introdução ................................................................................................................................................................ 3

1.2 Classificação............................................................................................................................................................. 4

1.2.1 Quanto à natureza do órgão controlador ................................................................................................. 4

1.2.2 Quanto à extensão do controle...................................................................................................................... 4

1.2.3 Quanto ao âmbito de atuação........................................................................................................................ 5

1.2.4 Quanto à natureza do controle ...................................................................................................................... 6

1.2.5 Quanto ao momento exercício ....................................................................................................................... 7

1.2.6 Quanto à iniciativa................................................................................................................................................ 7

1.3 Controle Administrativo ..................................................................................................................................... 7

1.3.1 Meios de controle................................................................................................................................................. 8

1.3.2 Órgãos de controle interno .............................................................................................................................. 8

1.3.3 Meios de provocação da Administração ................................................................................................. 10

1.4 Recursos Administrativos: ............................................................................................................................... 11

1.5 Controle Legislativo........................................................................................................................................... 12

1.5.1 Controle Parlamentar Direto ......................................................................................................................... 13

1.5.2 Controle com auxílio dos Tribunais de Contas ..................................................................................... 13

1.6 Controle Judicial ................................................................................................................................................. 15

QUADRO SINÓTICO ...................................................................................................................................................... 17

QUESTÕES COMENTADAS ........................................................................................................................................ 23

GABARITO ........................................................................................................................................................................... 33

1
LEGISLAÇÃO COMPILADA............................................................................................................................................ 34

JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................................................................. 39

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................................. 46

2
DIREITO ADMINISTRATIVO

Capítulo 14

1. Controle da Administração Pública1

1.1 Introdução

A Administração Pública sujeita-se a controle por parte dos Poderes Legislativo e


Judiciário, além de exercer, ela mesma, o controle sobre os seus próprios atos.

Apesar de, à princípio, o controle ser uma atribuição estatal, há também o controle
popular, uma vez que a Constituição outorga ao particular determinados instrumentos de
ação a serem utilizados com essa finalidade.

Neste sentido, o Decreto Lei nº 200/1967, em seu art. 6°, V, dispõe que as
atividades da Administração Federal obedecerão como princípio fundamental ao controle
exercido pelos cidadãos e pelos próprios órgãos internos desta entidade, abrangendo,
inclusive, aqueles que integram a estrutura dos Poderes Legislativo e Judiciário.

Ademais, a Constituição Federal autorizou a criação de dois órgãos com a atribuição


de controle da atuação do Estado, quais sejam, o Conselho Nacional de Justiça e o Conselho
Nacional do Ministério Público, em seus artigos 103-B e 130-A, respectivamente.

O controle administrativo e corolário direto da indisponibilidade da


indisponibilidade do interesse público. Deve-se ter em mete que o Estado atua como gestor
de coisa alheia, sem dela poder dispor.

1
Vide questão 06 ao final do capítulo.
3
Sendo assim, a finalidade do controle é a de assegurar que a Administração atue
em consonância com os princípios que lhe são impostos pelo ordenamento jurídico, para que
atenda aos interesses e necessidades da coletividade.

Por fim, Matheus Carvalho conceitua o controle como sendo o conjunto de


instrumentos que o ordenamento jurídico estabelece a fim de que o poder de fiscalizar e
revisar a atuação da administração pública seja efetuado pelos Poderes, pelo povo e pela
própria administração pública.

1.2 Classificação

1.2.1 Quanto à natureza do órgão controlador

1) Controle Administrativo: a Administração pode exercer controle sobre seus atos,


é o chamado poder de autotutela que pode ocorrer mediante provocação ou, ainda, de ofício.

2) Controle Legislativo: é executado pelo Poder Legislativo diretamente –também


chamado de controle parlamentar direto - ou mediante auxílio do Tribunal de Contas2.

3) Controle Judicial: é realizado pelo Poder Judiciário, mediante provocação de


qualquer interessado. Esse tipo de controle somente atua nos aspectos de legalidade dos atos
administrativos.

1.2.2 Quanto à extensão do controle

1) Controle Interno: é exercido dentro de um mesmo Poder. O controle


administrativo interno, exercido por determinada entidade administrativa sobre seus próprios
órgãos, é denominado autotutela.

2
Vide questão 02 ao final do capítulo.
4
2) Controle Externo: é exercido por um poder em relação aos atos administrativos
praticados por outro poder do estado. O controle popular é considerado controle externo.
Neste último, os administrados podem, diretamente ou por meio de órgãos específicos,
verificar a regularidade de atuação da administração pública e impedir a prática de atos
ilegítimos.

Em razão do princípio da tripartição de poderes, o controle externo só exercido nos moldes


permitidos pela Constituição.

1.2.3 Quanto ao âmbito de atuação

1) Controle por subordinação: é aquele realizado por autoridade hierarquicamente


superior a quem praticou o ato, ou seja, é necessária a existência de hierarquia entre as partes
envolvidas. Por isso, só pode ocorrer no âmbito da mesma pessoa jurídica. É sempre um
controle interno e decorre da hierarquia existente entre os órgãos integrantes da entidade
pública.

2) Controle por vinculação: decorre do poder exercido pela administração direta


sobre as entidades descentralizadas. Não se confunde com a subordinação, eis que entre
pessoas diferentes não há hierárquica. Conforme destaca Matheus Carvalho, “o controle
finalístico, uma vez que fundamentado em uma relação de vinculação entre pessoas, é um
controle limitado e teleológico, restringindo-se à verificação do enquadramento do ente
descentralizado às disposições definidas na lei específica responsável pela sua criação, de

5
forma a analisar se o ente cumpre suas finalidades estatutárias. ” Ademais, acrescenta-se que
o controle finalístico é tratado pelo Decreto lei 200/1967 com o designativo de supervisão
ministerial.

1.2.4 Quanto à natureza do controle

1) Controle de Legalidade: tem o intuito de analisar se o ato administrativo foi


praticado em conformidade com o ordenamento jurídico. Ressalte-se que esse controle não
verifica apenas a adequação entre o ato e a literalidade da norma legal, mas também todos os
princípios a que está submetida a Administração. Pode ser exercido pela própria
Administração Pública, de ofício ou mediante provocação, no exercício do poder de autotutela,
bem como pelo Poder Judiciário, desde que provocado, ou mesmo pelo Poder Legislativo, em
alguns casos previstos na CRFB/88. O resultado do controle de legalidade é a anulação.

2) Controle de Mérito: serve para verificar a oportunidade e a conveniência do ato.


Neste sentido, trata-se de controle administrativo que deve ser exercido pelo próprio Poder
que expediu o ato. Excepcionalmente, nos casos previstos na Constituição Federal, o Poder
Legislativo tem competência para exercer o controle de mérito sobre atos praticados pela
Administração. Não cabe ao Judiciário - no exercício da função jurisdicional - o controle de
mérito3 sobre os atos praticados no exercício de função administrativa. O resultado do
controle de mérito é a revogação do ato válido.

Ainda que não possa efetivar o mérito do ato administrativo, o Poder Judiciário tem o poder
de analisar se a conduta foi praticada dentro dos limites da discricionariedade, o que é feito

3
Vide questões 03, 05 e 08 ao final do capítulo.
6
com base na análise de princípios como razoabilidade e proporcionalidade. Trata-se, aqui, de
análise de legalidade.

1.2.5 Quanto ao momento exercício

1) Controle Prévio: é aquele realizado antes da formação do ato controlado.

2) Controle Concomitante: é exercido durante a execução da atividade controlada.

3) Controle Posterior: é aquele realizado após a prática do ato administrativo.

1.2.6 Quanto à iniciativa

1) Controle de Ofício: é aquele realizado sem a provocação da parte interessada.

2) Controle Provocado: é aquele que depende da iniciativa da parte interessada.

1.3 Controle Administrativo

É o controle realizado pela própria administração pública sobre seus próprios atos.
A título de exemplo pode-se citar a verificação, pela administração pública, da legitimidade ou
mérito de um ato administrativo. Assim, destaca-se que esse poder decorre do poder de
autotutela exercido pelos órgãos administrativos do Poder Executivo, bem como pelos Poderes
Legislativo e Judiciário.

A doutrina administrativista entende que o controle da administração é um controle


de mérito e legalidade e decorre do poder de autotutela da administração conforme se
depreende da Súmula 473 do STF: a Administração pode anular seus próprios atos, quando

7
eivados de vícios que os tornem ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los,
por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos e ressalvada,
em todos os casos, a apreciação judicial.

Nesse aspecto, vale destacar que o STF consolidou o entendimento no sentido de


que quando ocorrer desfazimento de ato administrativo, atingindo diretos do particular, deve-
se oportunizar o contraditório.

1.3.1 Meios de controle

Os meios de controle administrativo são: (i) supervisão ministerial; e (ii) controle


hierárquico.

O controle hierárquico é exercido no âmbito de uma mesma pessoa jurídica


administrativa, com o intuito de ordenar e coordenar atividades, além de atuar na orientação e
revisão de atos administrativos viciados ou inoportunos e inconvenientes ao interesse público.

Já a supervisão ministerial se manifesta entre pessoas jurídicas diferentes, sendo


também designado como controle finalístico, ou tutela administrativa. Esse controle depende
de norma legal que imponha os limites e a forma de exercício.

1.3.2 Órgãos de controle interno

 Controladoria Geral:

É o órgão de controle dos entes federativos e atuam com ampla prerrogativa de


investigação com a finalidade de garantir maior transparência e moralidade na prestação de
contas públicas.

 Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e Conselho Nacional do Ministério


Público (CNMP)

8
A Emenda Constitucional n. 45/2004 criou os dois órgãos para realizar o controle
administrativo e financeiro do Judiciário e do Ministério Público, além de verificar a atuação
funcional dos seus membros.

Ambos possuem poder normativo, podendo editar resoluções que estabeleçam


regras à serem obedecidas pelos agentes integrantes das carreiras sujeitas ao seu controle.

O Conselho Nacional de Justiça é órgão do Poder Judiciário, composto por


quinze membros com mandato de dois anos, admitida uma recondução, sendo presidido pelo
presidente do Supremo Tribunal Federal. Os demais membros serão nomeados pelo
Presidente da República mediante aprovação do Senado Federal.

Já o Conselho Nacional do Ministério Público é órgão é composto por quatorze


membros nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a escolha pela maioria
absoluta do Senado Federal, para um mandato de dois anos, admitida uma recondução, sendo
que o Procurador Geral da República será o presidente.

 Corregedorias e Ouvidorias:

Conforme o artigo 74 da CRFB/88, os três poderes devem criar órgãos de controle


interno para execução de suas atividades.

Nesse sentido, os tribunais e casas do Poder Legislativo devem, por meio de lei,
criar as corregedorias e ouvidorias, com a função de realizar o controle interno da entidade,
assim como a análise da atuação de seus membros.

9
A Resolução nº 86 do CNJ impõe a criação de órgãos internos de controle em todos os
tribunais para auxiliar na fiscalização, analisando a eficiência da atividade, assim como o
cumprimento das metas definidas em orçamento.

1.3.3 Meios de provocação da Administração

O controle administrativo pode ser exercido por iniciativa direta do órgão


controlador, sem a necessidade de provocação de qualquer interessado ou por provocação da
Administração.

A possibilidade de provocação da Administração Pública para efetivação do controle


decorre do direito de petição, previsto no o art. 5°, XXXIV da Carta Magna.

A provocação pode se dar por meio de:

 Representação: é o ato por meio do qual o particular requer a anulação de


ato lesivo ao interesse público. O peticionante não é necessariamente
prejudicado pelo ato, mas haja representado o interesse coletivo;

 Reclamação: o particular prejudicado visa anular o ato administrativo que


causou prejuízos diretamente;

10
 Pedido de reconsideração: o particular peticiona requerendo a retratação da
autoridade que proferiu o ato;

 Recursos: para combater uma decisão por motivo de ilegalidade, seja por
motivo de mérito. Os recursos merecem atenção especial.

1.4 Recursos Administrativos:

O direito ao duplo grau de julgamento na esfera administrativa é garantido


sobretudo pela Súmula Vinculante nº 21 do STF que considera inconstitucional qualquer lei
que exija depósito prévio ou caução para interposição de recursos administrativos.

Tal direito também é previsto no artigo 56 da lei 9784/99 garante o direito à


interposição de recursos administrativos, seja para combater uma decisão por motivo de
ilegalidade, seja por motivo de mérito.

A legislação ainda indica os legitimados à interposição de recursos que são: (i) os


titulares de direitos e interesses que forem parte no processo; (ii) aqueles cujos direitos ou
interesses forem indiretamente afetados pela decisão recorrida; (iii) as organizações e
associações representativas, no tocante a direitos e interesses coletivos; e (iv) todos os
cidadãos ou associações, quanto a direitos ou interesses difusos.

Os recursos podem dividir-se em:

 Recurso hierárquico próprio: é endereçado à autoridade hierárquica


superior à que praticou o ato recorrido, dentro da estrutura orgânica de uma
mesma pessoa jurídica.
 Recurso hierárquico impróprio é dirigido à autoridade que não possui
posição de superioridade hierárquica em relação a quem praticou o ato
recorrido, mas tão somente a possibilidade de controle em decorrência de

11
vinculação. Trata-se, neste caso, de recurso que decorre do poder de
supervisão ministerial.

Cumpre destacar que, na seara administrativa, não há vedação da reformatio in


pejus, em razão do princípio da verdade material.

Após a tramitação do processo em todas as instâncias, legalmente permitidas, estará


formada a coisa julgada administrativa. A expressão coisa julgada administrativa designa tão
somente situação que não poderá ser objeto de discussão na esfera administrativa, não
impedindo a discussão da matéria em sede judicial, eis que o Brasil adotou o sistema inglês
de jurisdição, em que apenas o judiciário resolve as lides em caráter definitivo.

1.5 Controle Legislativo

O controle legislativo, também denominado de controle parlamentar, é o controle


realizado pelos órgãos do legislativo ou por comissões parlamentares sobre os atos do
Poder Executivo.

Esse controle se pauta em dois critérios: a) Controle político que analisará as


decisões sob o aspecto da discricionariedade, oportunidade e conveniência do interesse
público e, b) Controle financeiro que é exercido pelo Tribunal de Contas.

Assim, o controle político somente pode ser exercido quando houver previsão
constitucional expressa, sob pena de violar o princípio das separações de poderes.

No que se refere ao controle financeiro verifica-se que ele abrange tanto o


controle externo4 efetuado pelo Congresso Nacional com auxílio do Tribunal de Contas, como
também o controle interno realizado pelo próprio Poder Executivo

4
Vide questão 04 ao final do capítulo.
12
Tal controle pode ser: de ofício ou mediante provocação; prévio, concomitante ou
posterior; legalidade ou de mérito e divide-se em:

1.5.1 Controle Parlamentar Direto

É o controle realizado pelo Congresso Nacional, ou por uma das casas de forma
direta. Esse controle é realizado nos moles previstos pela Constituição de 1988 sob pena de
violação ao princípio da separação dos poderes.

1.5.2 Controle com auxílio dos Tribunais de Contas

O Tribunal de Contas é órgão auxiliar do Poder Legislativo no controle externo,


auxiliando a fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial da União
e das entidades da administração direta e indireta, quanto à legalidade, legitimidade,
economicidade, aplicação das subvenções e renúncia de receitas.

O TCU é integrado por nove Ministros, tem sede no Distrito Federal, quadro próprio
de pessoal e jurisdição em todo o território nacional, sendo os seus membros nomeados
dentre os brasileiros que tenham mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de
idade, idoneidade moral e reputação ilibada, notórios conhecimentos jurídicos, contábeis,
econômicos e financeiros ou de administração pública, além de possuir mais de dez anos de
exercício de função ou de efetiva atividade profissional que exija estes conhecimentos.

Conforme a Constituição Federativa, os Tribunais de Contas podem ser criados no


âmbito estadual e federal, assim como a possibilidade de criação de Tribunal de Contas dos
Municípios, órgão estadual.

A Corte de Contas tem competência para fiscalização de quaisquer entidades


públicas, incluindo as do Ministério Público, do Legislativo e do Judiciário, além de controlar
as entidades privadas que utilizem dinheiro público para execução de suas atividades. Vejamos
as competências do TCU, previstas na CRFB/88:

13
 Apreciar as contas prestadas anualmente pelo Presidente5 da República,
mediante parecer prévio que deverá ser elaborado em sessenta dias a contar
de seu recebimento;
 Julgar as contas dos administradores e demais responsáveis por dinheiros,
bens e valores públicos da administração direta e indireta, incluídas as
fundações e sociedades instituídas e mantidas pelo Poder Público Federal, e as
contas daqueles que derem causa a perda, extravio ou outra irregularidade de
que resulte prejuízo ao erário público;
 Apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos de admissão de pessoal, a
qualquer título, na administração direta e indireta, incluídas as fundações
instituídas e mantidas pelo Poder Público, excetuadas as nomeações para
cargo de provimento em comissão, bem como a das concessões de
aposentadorias, reformas e pensões, ressalvadas as melhorias posteriores
que não alterem o fundamento legal do ato concessório;
 Realizar, por iniciativa própria, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal,
de Comissão técnica ou de inquérito, inspeções e auditorias de natureza
contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial, nas unidades
administrativas dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, e demais
entidades privadas que atuem na prestação de serviços por meio da
transferência de verbas públicas;
 Fiscalizar as contas nacionais das empresas supranacionais de cujo capital
social a União participe, de forma direta ou indireta, nos termos do tratado
constitutivo;
 Fiscalizar a aplicação de quaisquer recursos repassados pela União mediante
convênio, acordo, ajuste ou outros instrumentos congêneres, a Estado, ao
Distrito Federal ou a Município;
 Prestar as informações solicitadas pelo Congresso Nacional, por qualquer de
suas Casas, ou por qualquer das respectivas Comissões, sobre a fiscalização
contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial e sobre resultados

5
Vide questão 09 ao final do capítulo.
14
de auditorias e inspeções realizadas, auxiliando a atividade do controle
parlamentar direto;
 Aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de despesa ou irregularidade
de contas, as sanções previstas em lei, que estabelecerá, entre outras
cominações, multa proporcional ao dano causado ao erário;
 Assinar prazo para que o órgão ou entidade adote as providências necessárias
ao exato cumprimento da lei, se verificada ilegalidade;
 Sustar, se não atendido, a execução do ato impugnado, comunicando a
decisão à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal;
 Representar ao Poder competente sobre irregularidades ou abusos apurados;
 Efetuar o cálculo das quotas referentes aos fundos de participação dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios, bem como fiscalizar a entrega dos
recursos.

1.6 Controle Judicial

Inicialmente, cumpre mais uma vez apontar que o Brasil adotou o sistema inglês ou
sistema de jurisdição única, o qual estabelece que é competência do Poder Judiciário,
quando provocado, resolver as lides em caráter de definitividade.

Nesse sentido, o controle judicial é realizado pelos órgãos do Poder Judiciário, no


exercício da atividade jurisdicional, sobre os atos administrativos praticados pelo Poder
Executivo e também os atos administrativos praticados no exercício da função administrativa
dos Poderes Legislativo e Judiciário.

As ações mais importantes decorrentes do controle judicial são: a) habeas corpus; b)


mandado de segurança individual e coletivo; c) habeas data; d) mandado de6 injunção; e) ação
civil pública; e f) ação direta de inconstitucionalidade.

6
Vide questão 01 ao final do capítulo.
15
Vale, ainda, ressaltar que esse controle é, em regra, posterior e tem como escopo a
fiscalização da legalidad7e ou legitimidade dos atos administrativos. Destaca-se que a
conveniência e oportunidade não são analisadas no controle judicial.

Na efetivação do controle judicial dos atos administrativo nunca será decretada a revogação,
mas apenas sua anulação.

É importante destacar que o STF tem entendimento consolidado no sentido de que


não viola o princípio da separação dos poderes o controle realizado pelo Poder Judiciário de
ato administrativo eivado de ilegalidade o qual tem como finalidade descobrir a efetiva
ocorrência dos pressupostos de fato e de direito, podendo o Judiciário atuar, inclusive, nas
questões atinentes à proporcionalidade e à razoabilidade (AI 800.892 AgR, STF – Primeira
Turma, Rel. Min. Dias Toffoli, julg:2.03.2013, DJe: 07.05.2013).

7
Vide questão 07 ao final do capítulo.
16
QUADRO SINÓTICO

CONTROLE DA ADMININSTRAÇÃO PÚBLICA

O controle administrativo e corolário direto da indisponibilidade da indisponibilidade do


interesse público.

A finalidade do controle é a de assegurar que a Administração atue em consonância com os


princípios que lhe são impostos pelo ordenamento jurídico, para que atenda aos interesses e
necessidades da coletividade.

CLASSIFICAÇÃO

Controle Administrativo: a Administração pode exercer controle


sobre seus atos, é o chamado poder de autotutela que pode ocorrer
mediante provocação ou, ainda, de ofício.

QUANTO À NATUREZA Controle Legislativo: é executado pelo Poder Legislativo diretamente


DO ÓRGÃO – também chamado de controle parlamentar direto - ou mediante
CONTROLADOR auxílio do Tribunal de Contas.

Controle Judicial: é realizado pelo Poder Judiciário, mediante


provocação de qualquer interessado. Esse tipo de controle somente
atua nos aspectos de legalidade dos atos administrativos.

Controle Interno: é exercido dentro de um mesmo Poder. O


controle administrativo interno, exercido por determinada entidade

QUANTO À EXTENSÃO administrativa sobre seus próprios órgãos, é denominado autotutela.

DO CONTROLE Controle Externo: é exercido por um poder em relação aos atos


administrativos praticados por outro poder do estado. O controle
popular é considerado controle externo.

QUANTO AO ÂMBITO Controle por subordinação: é aquele realizado por autoridade

17
DE ATUAÇÃO hierarquicamente superior a quem praticou o ato.

Controle por vinculação: decorre do poder exercido pela


administração direta sobre as entidades descentralizadas. Não se
confunde com a subordinação, eis que entre pessoas diferentes não
há hierárquica.

Controle de Legalidade: tem o intuito de analisar se o ato


administrativo foi praticado em conformidade com o ordenamento
jurídico. Pode ser exercido pela própria Administração Pública, de
ofício ou mediante provocação, no exercício do poder de autotutela,
bem como pelo Poder Judiciário, desde que provocado, ou mesmo
pelo Poder Legislativo, em alguns casos previstos na CRFB/88. O
QUANTO À NATUREZA resultado do controle de legalidade é a anulação do ato.
DO CONTROLE Controle de Mérito: serve para verificar a oportunidade e a
conveniência do ato. Neste sentido, trata-se de controle
administrativo que deve ser exercido pelo próprio Poder que expediu
o ato. Não cabe ao Judiciário - no exercício da função
jurisdicional - o controle de mérito sobre os atos praticados no
exercício de função administrativa. O resultado do controle de mérito
é a revogação do ato válido.
Controle Prévio: é aquele realizado antes da formação do ato
controlado.

QUANTO AO Controle Concomitante: é exercido durante a execução da atividade


MOMENTO controlada.

Controle Posterior: é aquele realizado após a prática do ato


administrativo.
Controle de Ofício: é aquele realizado sem a provocação da parte
interessada.
QUANTO À INICIATIVA
Controle Provocado: é aquele que depende da iniciativa da parte
interessada.
CONTROLE ADMINISTRATIVO

18
É o controle realizado pela própria administração pública sobre seus próprios atos. Destaca-se
que esse poder decorre do poder de autotutela exercido pelos órgãos administrativos do Poder
Executivo, bem como pelos Poderes Legislativo e Judiciário.

Controle hierárquico é exercido no âmbito de uma mesma pessoa


jurídica administrativa, com o intuito de ordenar e coordenar
atividades, além de atuar na orientação e revisão de atos
administrativos viciados ou inoportunos e inconvenientes ao

MEIOS DE CONTROLE interesse público.

Supervisão ministerial se manifesta entre pessoas jurídicas


diferentes, sendo também designado como controle finalístico, ou
tutela administrativa. Esse controle depende de norma legal que
imponha os limites e a forma de exercício.

Controladoria Geral: é o órgão de controle dos entes federativos e


atuam com ampla prerrogativa de investigação com a finalidade de
garantir maior transparência e moralidade na prestação de contas
públicas.
Conselho Nacional de Justiça (CNJ): é órgão do Poder Judiciário,
composto por quinze membros com mandato de dois anos, admitida
uma recondução, sendo presidido pelo presidente do Supremo
Tribunal Federal. Os demais membros serão nomeados pelo
ÓRGÃOS DE Presidente da República mediante aprovação do Senado Federal.
CONTROLE INTERNO
Conselho Nacional do Ministério Público é órgão é composto por
quatorze membros nomeados pelo Presidente da República, depois
de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal, para
um mandato de dois anos, admitida uma recondução, sendo que o
Procurador Geral da República será o presidente.

Corregedorias e Ouvidorias: os tribunais e casas do Poder


Legislativo devem, por meio de lei, criar as corregedorias e

19
ouvidorias, com a função de realizar o controle interno da entidade,
assim como a análise da atuação de seus membros.

Representação: é o ato por meio do qual o particular requer a


anulação de ato lesivo ao interesse público. O peticionante não é
necessariamente prejudicado pelo ato, mas haja representado o
interesse coletivo.
MEIOS DE
Reclamação: o particular prejudicado visa anular o ato administrativo
PROVCAÇÃO DA
que causou prejuízos diretamente.
ADMINISTRAÇÃO
Pedido de reconsideração: o particular peticiona requerendo a
retratação da autoridade que proferiu o ato.

Recursos: para combater uma decisão por motivo de ilegalidade,


seja por motivo de mérito.

RECURSOS

O direito ao duplo grau de julgamento na esfera administrativa é garantido sobretudo pela


Súmula Vinculante nº 21 do STF que considera inconstitucional qualquer lei que exija depósito
prévio ou caução para interposição de recursos administrativos.

Os titulares de direitos e interesses que forem parte no processo

Aqueles cujos direitos ou interesses forem indiretamente afetados


pela decisão recorrida

LEGITIMADOS As organizações e associações representativas, no tocante a direitos


e interesses coletivos

Todos os cidadãos ou associações, quanto a direitos ou interesses


difusos.

Recurso hierárquico próprio: é endereçado à autoridade

DIVISÃO DOS hierárquica superior à que praticou o ato recorrido, dentro da

RECURSOS estrutura orgânica de uma mesma pessoa jurídica.

Recurso hierárquico impróprio é dirigido à autoridade que não

20
possui posição de superioridade hierárquica em relação a quem
praticou o ato recorrido, mas tão somente a possibilidade de
controle em decorrência de vinculação. Trata-se, neste caso, de
recurso que decorre do poder de supervisão ministerial.

Na seara administrativa, não há vedação da reformatio in pejus, em razão do princípio da


verdade material.

CONTROLE LEGISLATIVO

O controle legislativo, também denominado de controle parlamentar, é o controle realizado


pelos órgãos do legislativo ou por comissões parlamentares sobre os atos do Poder
Executivo.

Controle político que analisará as decisões sob o aspecto da

ESSE CONTROLE SE discricionariedade, oportunidade e conveniência do interesse público

PAUTA EM DOIS
CRITÉRIOS:
Controle financeiro que é exercido pelo Tribunal de Contas.

CONTROLE É o controle realizado pelo Congresso Nacional, ou por uma das


casas de forma direta. Esse controle é realizado nos moles previstos
PARLAMENTAR
pela Constituição de 1988 sob pena de violação ao princípio da
DIRETO
separação dos poderes.

O Tribunal de Contas é órgão auxiliar do Poder Legislativo no


CONTROLE COM
controle externo, auxiliando a fiscalização contábil, financeira,
AUXÍLIO DO TRIBUNAL orçamentária, operacional e patrimonial da União e das entidades da
DE CONTAS
administração direta e indireta, quanto à legalidade, legitimidade,
economicidade, aplicação das subvenções e renúncia de receitas.

CONTROLE JUDICIAL

O Brasil adotou o sistema inglês ou sistema de jurisdição única, o qual estabelece que é

21
competência do Poder Judiciário, quando provocado, resolver as lides em caráter de
definitividade.

O controle judicial é realizado pelos órgãos do Poder Judiciário, no exercício da atividade


jurisdicional, sobre os atos administrativos praticados pelo Poder Executivo e também os atos
administrativos praticados no exercício da função administrativa dos Poderes Legislativo e
Judiciário.

As ações mais importantes decorrentes do controle judicial são: a) habeas corpus; b) mandado
de segurança individual e coletivo; c) habeas data; d) mandado de injunção; e) ação civil
pública; e f) ação direta de inconstitucionalidade

Esse controle é, em regra, posterior e tem como escopo a fiscalização da legalidade ou


legitimidade dos atos administrativos. Destaca-se que a conveniência e oportunidade não são
analisadas no controle judicial.

22
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

(Instituto AOCP – 2019 – PC-E – Escrivão de Polícia) Assinale a alternativa que apresenta um
exemplo de instrumento de controle jurisdicional da Administração Pública.

A) Reclamação Administrativa

B) Comissão Parlamentar de Inquérito

C) Pedido de Informação

D) Recurso Administrativo

E) Mandado de Segurança

Comentário:

Gabarito: Letra “E”.

A) Incorreta. Na verdade, aqui temos uma espécie de recurso na seara


administrativa e não de controle jurisdicional.

B) Incorreta. As CPI’s são uma forma de controle externo da Administração Pública


exercida pelo Legislativo, não configurando um meio de controle jurisdicional.

C) Incorreta. Aqui estamos novamente diante de um instrumento de controle


externo, exercido pelo Poder Legislativo.

D) Incorreta. O recurso administrativo é o gênero, dentro do qual existem diversas


espécies de recurso.

23
E) Correta, nos termos do artigo 5o, LXIX e LXX da Constituição Federal e da Lei
Federal 12.016/2009.

Questão 2

(COPS – UEL – 2018 – PC-PR – Escrivão de Polícia) No âmbito da administração púbica, o


controle financeiro é relacionado com fiscalização contábil, financeira, orçamentária e
patrimonial da administração pública.

Assinale a alternativa que apresenta, corretamente, o Poder que os Tribunais de Contas


auxiliam, externamente, no exercício desse controle.

A) Poder de Polícia

B) Poder Executivo

C) Poder Federal

D) Poder Judiciário

E) Poder Legislativo.

Comentário:

Gabarito: Letra “E”.


Nos termos do artigo 71 da Constituição Federal:

Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido com o auxílio
do Tribunal de Contas da União, ao qual compete:

I - apreciar as contas prestadas anualmente pelo Presidente da República, mediante


parecer prévio que deverá ser elaborado em sessenta dias a contar de seu recebimento;

24
II - julgar as contas dos administradores e demais responsáveis por dinheiros, bens e
valores públicos da administração direta e indireta, incluídas as fundações e sociedades
instituídas e mantidas pelo Poder Público federal, e as contas daqueles que derem causa
a perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuízo ao erário público;

III - apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos de admissão de pessoal, a
qualquer título, na administração direta e indireta, incluídas as fundações instituídas e
mantidas pelo Poder Público, excetuadas as nomeações para cargo de provimento em
comissão, bem como a das concessões de aposentadorias, reformas e pensões,
ressalvadas as melhorias posteriores que não alterem o fundamento legal do ato
concessório;

IV - realizar, por iniciativa própria, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, de


Comissão técnica ou de inquérito, inspeções e auditorias de natureza contábil, financeira,
orçamentária, operacional e patrimonial, nas unidades administrativas dos Poderes
Legislativo, Executivo e Judiciário, e demais entidades referidas no inciso II;

V - fiscalizar as contas nacionais das empresas supranacionais de cujo capital social a


União participe, de forma direta ou indireta, nos termos do tratado constitutivo;

VI - fiscalizar a aplicação de quaisquer recursos repassados pela União mediante


convênio, acordo, ajuste ou outros instrumentos congêneres, a Estado, ao Distrito
Federal ou a Município;

VII - prestar as informações solicitadas pelo Congresso Nacional, por qualquer de suas
Casas, ou por qualquer das respectivas Comissões, sobre a fiscalização contábil,
financeira, orçamentária, operacional e patrimonial e sobre resultados de auditorias e
inspeções realizadas;

VIII - aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de despesa ou irregularidade de


contas, as sanções previstas em lei, que estabelecerá, entre outras cominações, multa
proporcional ao dano causado ao erário;

IX - assinar prazo para que o órgão ou entidade adote as providências necessárias ao


exato cumprimento da lei, se verificada ilegalidade;

X - sustar, se não atendido, a execução do ato impugnado, comunicando a decisão à


Câmara dos Deputados e ao Senado Federal;

XI - representar ao Poder competente sobre irregularidades ou abusos apurados.

25
§ 1º No caso de contrato, o ato de sustação será adotado diretamente pelo Congresso
Nacional, que solicitará, de imediato, ao Poder Executivo as medidas cabíveis.

§ 2º Se o Congresso Nacional ou o Poder Executivo, no prazo de noventa dias, não


efetivar as medidas previstas no parágrafo anterior, o Tribunal decidirá a respeito.

§ 3º As decisões do Tribunal de que resulte imputação de débito ou multa terão eficácia


de título executivo.

§ 4º O Tribunal encaminhará ao Congresso Nacional, trimestral e anualmente, relatório


de suas atividades.

Questão 3

(CESPE – 2018 – PF – Agente de Polícia) A administração pública, além de estar sujeita ao


controle dos Poderes Legislativo e Judiciário, exerce controle sobre seus próprios atos. Tendo
como referência inicial essas informações, julgue o item a seguir, acerca do controle da
administração pública.

O Poder Judiciário tem competência para apreciar o mérito dos atos discricionários exarados
pela administração pública, devendo, no entanto, restringir-se à análise da legalidade desses
atos.

( ) Certo

( ) Errado.

Comentário:

Gabarito: Errado. Isso porque o Poder Judiciário não tem competência para apreciar
o mérito dos atos discricionários exarados pela administração pública. Na verdade, sim, ele

26
deve se restringir à análise de legalidade dos atos. O bom dessa questão, caro leitor, é que ela
aborda também o tema dos atos discricionários que estudamos anteriormente.

Questão 4

(VUNESP – 2018 – PC-SP – Escrivão de Polícia) Sobre controle externo da Administração


Pública, é correto afirmar que

A) Não alcança os atos administrativos vinculados.

B) Inclui-se na competência do Poder Judiciário, com auxílio dos Tribunas administrativos.

C) Não alcança os atos administrativos discricionários.

D) Inclui-se na competência do Poder Legislativo, com auxílio dos Tribunais de Contas.

E) Inclui-se na competência do Poder Executivo, com auxílio da corregedoria.

Comentário:

Gabarito: Letra “D”. Essa é mais uma questão que podemos extrair do artigo 71 da
Constituição Federal:

Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido com o
auxílio do Tribunal de Contas da União, ao qual compete

27
Questão 5

(CESPE – 2016 – PC-PE – Escrivão de Polícia) A respeito do controle dos atos e contratos
administrativos, assinale a opção correta.

A) No controle externo da administração financeira e orçamentária, os tribunais de contas


devem realizar o controle prévio dos atos ou contratos da administração direta ou
indireta
B) É vedado ao Poder Judiciário realizar o controle de mérito de atos discricionários que
não contrariarem qualquer princípio administrativo.
C) O controle de legalidade ou legitimidade do ato administrativo, no sistema brasileiro,
compete privativamente ao Poder Judiciário.
D) No controle de legalidade ou de legitimidade, o ato administrativo ilegal só pode ser
revogado.
E) No controle administrativo, a administração pode anular seus próprios atos, mas não
revogá-los.

Comentário:
Gabarito: Letra “B”.

Com efeito, o controle exercido pelo Poder Judiciário perante os atos


administrativos constitui um controle de legalidade e não um controle de mérito. Isso significa
que não é permitido ao judiciário invadir o mérito do ato e fazer reavaliações acerca de
conveniência e oportunidade. Essa vedação visa, inclusive, não violar o princípio da separação
dos poderes.

28
Questão 6

(VUNESP – 2015 – PC-CE – Escrivão de Polícia) Com relação ao controle administrativo, é


correto afirmar que

A) por controle judicial entende-se o controle interno que o Poder Judiciário realiza com
seus próprios atos, não podendo incidir sobre as atividades administrativas do Estado.
B) o controle, em razão da legalidade dos atos administrativos, é exercido tanto pela
Administração como pelo Poder Judiciário.
C) o Tribunal de Contas é o órgão do Poder Judiciário encarregado do controle financeiro
da Administração Pública
D) não poderá o Poder Legislativo fiscalizar as atividades da Administração Pública.
E) somente o Ministério Público poderá fiscalizar os atos dos administradores públicos.

Comentário:

Gabarito: Letra “B”.


Com efeito, a Administração pode exercer o crivo sobre os seus próprios atos com
relação ao mérito e à legalidade, tendo em vista o seu poder de autotutela. Vejamos o que
dispõe o artigo 53 da Lei 9.784/99:
Art. 53. A Administração deve anular seus próprios atos, quando eivados de vício de
legalidade, e pode revogá-los por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados
os direitos adquiridos.

As súmulas 473 e 346 do STF também dispõem nesse sentido.

29
Questão 7

(UEG – 2013 – PC-GO – Escrivão de Polícia Civil) Acerca do controle do ato administrativo,
tem-se que

A) A anulação ocorre por decisão da Administração ou do Poder Judiciário por ofensa à


legalidade.

B) A anulação ocorre por juízo de conveniência da Administração.

C) A revogação ocorre na situação em que o ato foi praticado em ofensa à legalidade.

D) A revogação e a anulação ocorrem exclusivamente por decisão do Poder Judiciário.

Comentário:

Gabarito: Letra “A”.

Súmula 473 STF

A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os
tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de
conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em
todos os casos, a apreciação judicial.

30
Questão 8

(CESPE – 2013 – PC-DF – Agente de Polícia) Os atos administrativos estão sujeitos ao


controle judicial; no entanto, tal controle não autoriza que o juiz, em desacordo com a
vontade da administração, se substitua ao administrador, determinando a prática de atos que
entender convenientes e oportunos.

( ) Certo

( ) Errado

Comentário:
Gabarito: Certo.
O controle judicial dos atos administrativos deve se ater aos aspectos de legalidade
dos atos sob análise, o que engloba a análise da lei e também do ordenamento jurídico como
um todo.
Por outro lado, o controle judicial não pode substituir a vontade do administrador,
por isso a assertiva está correta.

Questão 9

(CESPE – 2013 – PC-DF – Escrivão de Polícia) Em relação ao controle legislativo dos atos
administrativos, julgue o item a seguir.

O Poder Legislativo exerce controle sobre os atos da administração pública, contando com
vários instrumentos para desempenhar tal atividade, como, por exemplo, o julgamento pelo
Tribunal de Contas da União das contas prestadas pelo Presidente da República.

( ) Certo

( ) Errado

31
Comentário:

Gabarito: Errado.
Na realidade, o Tribunal de Contas da União não julga as contas prestadas pelo
Presidente da República: apenas as aprecia (artigo 49, IX, e 71, I, CF).

Questão 10

(CESPE – 2013 – PC-DF – Escrivão de Polícia) Em relação ao controle legislativo dos atos
administrativos, julgue o item a seguir.

O princípio da separação dos poderes não impede o controle judicial sobre decisão do
Tribunal de Contas da União que resulte na anulação de autorização conferida ao particular do
Poder Executivo.

( ) Certo

( ) Errado

Comentário:

Gabarito: Certo.
Com efeito, vigora em nosso ordenamento jurídico o princípio da inafastabilidade
do controle jurisdicional, inserto no artigo 5o, XXXV, de acordo com o qual a lei não pode
excluir da apreciação do Judiciário nenhuma lesão ou ameaça de lesão.
Assim, considerando que a anulação de uma autorização concedida ao particular
consiste em um ato que restringe a esfera jurídica do particular, conclui-se que a decisão
tomada pelo TCU pode ser questionada perante o Judiciário.

32
GABARITO

Questão 1 - E

Questão 2 - E

Questão 3 - Errado

Questão 4 - D

Questão 5 - B

Questão 6 - B

Questão 7 - A

Questão 8 - CERTO

Questão 9 – ERRADO

Questão 10 – CERTO

33
LEGISLAÇÃO COMPILADA

Controle Administrativo:
 Decreto Lei nº 200/1967: artigo 6º, V
 CFRB/88: artigo 5º, XXXIV, artigos 103-B e 130-A
 STF: Súmula 473, SV nº 21
 Lei 9.784: artigo 56

Controle Legislativo:
 CFRB/88: artigo 52, 71

34
QUESTÃO DESAFIO

O que é o controle popular ou social? Qual sua classificação


doutrinária? Cite exemplos.

Máximo de 5 linhas

35
GABARITO DA QUESTÃO DESAFIO

O controle social ou popular é considerado forma de controle externo pois é a


população/sociedade que, enquanto interessada na preservação do interesse público,
exerce fiscalização sobre os atos administrativos. São exemplos o mandado de
segurança para frear ato ilegal, a ação popular e a reclamação.

Você deve ter abordado necessariamente os seguintes itens em sua resposta:

 É tipo de controle externo exercido pelos cidadãos

Matheus Carvalho conceitua o controle social ou popular da seguinte forma


"[...] considera-se controle externo aquele exercido diretamente pelos cidadãos,
o chamado, controle popular. Em tais casos, os administrados podem, diretamente ou
por meio de órgãos específicos, verificar a regularidade de atuação da administração
pública e impedir a prática de atos ilegítimos, em face do princípio da indisponibilidade do
interesse público."

Ademais, importa ressaltar que o Poder Público é obrigado a fornecer as informações


solicitadas pelo cidadão que exerce o controle popular, vejamos o que dia o art. 31 da
CF/88:

"Art. 31. A fiscalização do Município será exercida pelo Poder Legislativo Municipal,
mediante controle externo, e pelos sistemas de controle interno do Poder Executivo
Municipal, na forma da lei.

§ 3º As contas dos Municípios ficarão, durante sessenta dias, anualmente, à disposição de


qualquer contribuinte, para exame e apreciação, o qual poderá questionar-lhes a
legitimidade, nos termos da lei."

FONTE:

CARVALHO, Matheus. Manual de direlto administrativo/ Matheus Carvalho - 4. ed. rev.


ampl. e atual. - Salvador: JusPODIVM, 2017. P. 388.
36
 Ação popular, audiência pública, consulta pública

Nesse mesmo sentido, Rafael Rezende afirma, ainda, que a transparência pública depende da
implementação do direito fundamental à informação previsto no art. 5.º, XXXIII, da CRFB,
segundo o qual “todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu
interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob
pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da
sociedade e do Estado”

Assim, com base nesse direito ao controle sobre os atos da Administração, pautado, ainda, no
direito à informação, Ana Cláudia Campos afirma que o controle social/popular "É o controle
do Poder Público por segmentos oriundos da sociedade."

Encontramos esse controle social, previsto na CF/88, espalhado em diversos diplomas


infraconstitucionais, vejamos:

Na lei da ação popular que no art. 1º afirma:

"Qualquer cidadão será parte legítima para pleitear a anulação ou a declaração de nulidade de
atos lesivos ao patrimônio da União, do Distrito Federal, dos Estados, dos Municípios, de
entidades autárquicas, de sociedades de economia mista (Constituição, art. 141, § 38), de
sociedades mútuas de seguro nas quais a União represente os segurados ausentes, de
empresas públicas, de serviços sociais autônomos, de instituições ou fundações para cuja
criação ou custeio o tesouro público haja concorrido ou concorra com mais de cinqüenta por
cento do patrimônio ou da receita ânua, de empresas incorporadas ao patrimônio da União,
do Distrito Federal, dos Estados e dos Municípios, e de quaisquer pessoas jurídicas ou
entidades subvencionadas pelos cofres públicos."

Na Lei n. 9.784/99, ao prever ferramentas de participação popular como a consulta pública


(art. 31) e a audiência pública (art. 32), vejamos:

"Art. 31. Quando a matéria do processo envolver assunto de interesse geral, o órgão
competente poderá, mediante despacho motivado, abrir período de consulta pública para

37
manifestação de terceiros, antes da decisão do pedido, se não houver prejuízo para a parte
interessada."

"Art. 32. Antes da tomada de decisão, a juízo da autoridade, diante da relevância da questão,
poderá ser realizada audiência pública para debates sobre a matéria do processo."

Assim, em resumo, em decorrência do princípio da indisponibilidade do interesse público, a


Constituição contém diversos dispositivos que dão aos administrados a possibilidade de -
diretamente ou por intermédio de órgãos com essa função institucional - verificarem a
regularidade da atuação da administracão pública e impedirem a prática de atos ilegítimos,
lesivos ao indivíduo ou à coletividade, ou provocarem a reparação dos danos deles
decorrentes.

FONTE:

OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende Curso de direito administrativo / Rafael Carvalho Rezende
Oliveira. – 8. ed. – Rio de Janeiro: Método, 2020. p.378.

38
JURISPRUDÊNCIA

Controle Judicial:

 AgInt no REsp 1352498/DF, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA,


julgado em 05/06/2018, DJe 08/06/2018

ADMINISTRATIVO. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. AÇÃO POPULAR.


PEDIDO INCIDENTAL DE DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE.
POSSIBILIDADE. ASSUNÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO. INTIMAÇÃO PESSOAL.
ENRIQUECIMENTO ILÍCITO. TESE NÃO AMPARADA EM LEGISLAÇÃO FEDERAL.
SÚMULA 284/STF.
1. Na forma da jurisprudência do STJ, "é possível a declaração incidental de
inconstitucionalidade em Ação Popular, 'desde que a controvérsia constitucional não figure
como pedido, mas sim como causa de pedir, fundamento ou simples questão prejudicial,
indispensável à resolução do litígio principal, em torno da tutela do interesse público'. (REsp
437.277/SP, Rel. Min. Eliana Calmon, Segunda Turma, DJ 13/12/2004)" (REsp 1.559.292/ES, Rel.
Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, DJe 23/05/2016).
2. Caso concreto em que a ação popular ajuizada originalmente se volta contra ato concreto
do então Presidente da Câmara Legislativa do Distrito Federal, ora agravante, que procedeu
ilegalmente à nomeação de servidores para cargos de Encarregadoria no âmbito da
Procuradoria-Geral da Câmara. Assim, considerando que a declaração de inconstitucionalidade
da resolução que dispôs sobre a reestruturação da Procuradoria-Geral da Câmara Legislativa
(Resolução nº 183/2002) não figura como pedido principal da ação, mas apenas causa de
pedir, não prospera a tese da inadequação da via da ação popular.
39
3. O órgão do Ministério Público tem prerrogativa de ser intimado pessoalmente dos atos
praticados dentro do processo. Trata-se de privilégio que tem prevalência sobre a norma
contida no art. 9º da Lei de Ação Popular, motivo pelo qual, na hipótese vertente, o prazo
legal de 90 (noventa) dias para assunção do polo ativo da demanda deve ser contado a partir
da intimação pessoal do Parquet.
Precedente: REsp 638.011/RJ, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, DJ 18/05/2006.
4. A tese relativa à violação ao princípio do enriquecimento ilícito não teve amparo na
violação de qualquer lei federal. Assim, a ausência de indicação do dispositivo legal tido por
violado implica deficiência de fundamentação do recurso especial, atraindo a incidência da
Súmula 284/STF.
5. A alegada contrariedade ao art. 884 do Código Civil foi agitada somente no presente
agravo interno, de modo que, por se tratar de tema inédito não suscitado oportunamente sob
o enfoque ora pretendido, resta caracterizada a existência de inovação recursal, a qual não
pode ser analisada na presente fase processual.
6. Agravo interno parcialmente conhecido e, nessa parte, improvido.

 AgInt no AREsp 949.377/MG, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA,


julgado em 09/03/2017, DJe 20/04/2017

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO. AÇÃO POPULAR. COMPROVAÇÃO DE PREJUÍZO


EXCLUSIVAMENTE ECONÔMICO. DESNECESSIDADE. PROTEÇÃO AOS BENS E DIREITOS
ASSOCIADOS AO PATRIMÔNIO PÚBLICO. ALTERAÇÃO DO ENTENDIMENTO ALCANÇADO PELA
INSTÂNCIA DE ORIGEM. IMPOSSIBILIDADE.
ÓBICE DA SÚMULA 7/STJ. ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA RECONHECIDO.
ACÓRDÃO RECORRIDO EM HARMONIA COM A JURISPRUDÊNCIA DO STJ. ÓBICE DA SÚMULA
83/STJ.
1. O Superior Tribunal de Justiça possui firme orientação de que um dos pressupostos da
Ação Popular é a lesão ao patrimônio público.
Ocorre que a Lei 4.717/1965 deve ser interpretada de forma a possibilitar, por meio de Ação

40
Popular, a mais ampla proteção aos bens e direitos associados ao patrimônio público, em suas
várias dimensões (cofres públicos, meio ambiente, moralidade administrativa, patrimônio
artístico, estético, histórico e turístico).
2. Para o cabimento da Ação Popular, basta a ilegalidade do ato administrativo por ofensa a
normas específicas ou desvios dos princípios da Administração Pública, dispensando-se a
demonstração de prejuízo material.
3. Hipótese em que a Corte de origem concluiu que "o então Gestor Público Municipal
atentou contra os princípios da administração pública, com violação da legalidade,
impessoalidade, moralidade e eficiência, desviando a finalidade de sua atuação para satisfazer
sentimento pessoal alheio à ética e à moral (...)".
4. Descabe ao Superior Tribunal de Justiça iniciar juízo valorativo a fim de desconstituir a
conclusão alcançada pela instância de origem, pois, para isso, seria necessário o exame do
contexto fático-probatório dos autos, o que não se admite nesta estreita via recursal, ante o
óbice da Súmula 7/STJ.
5. No mais, cabe esclarecer, quanto ao artigo 11 da Lei 8.429/1992, que a jurisprudência do
STJ, com relação ao resultado do ato, firmou-se no sentido de que se configura ato de
improbidade a lesão a princípios administrativos, o que, em regra, independe da ocorrência de
dano ou lesão ao Erário.
6. O acórdão recorrido está em sintonia com o atual entendimento deste Tribunal Superior,
razão pela qual não merece prosperar a irresignação. Incide, in casu, o princípio estabelecido
na Súmula 83/STJ: "Não se conhece do Recurso Especial pela divergência, quando a orientação
do Tribunal se firmou no mesmo sentido da decisão recorrida".
7. Agravo Interno não provido.

 REsp 1447237/MG, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA


TURMA, julgado em 16/12/2014, DJe 09/03/2015

41
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO POPULAR. IRREGULARIDADES FORMAIS
AVERIGUADAS NO PROCEDIMENTO LICITATÓRIO, QUE NÃO ENSEJARAM, CONTUDO, DANO
AO ERÁRIO, CONFORME RECONHECIDO EM PERÍCIA JUDICIAL E PELO TCE DE MINAS GERAIS.
IMPOSSIBILIDADE DE CONDENAÇÃO DOS RECORRENTES NO RESSARCIMENTO DOS COFRES
PÚBLICOS, COM ESTEIO EM LESÃO PRESUMIDA À MUNICIPALIDADE, SOB PENA DE
ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA DO ENTE ESTATAL.
1. À luz da Súmula 418/STJ, é inadmissível o Recurso Especial interposto antes da publicação
do acórdão dos Embargos de Declaração, sem posterior ratificação, como ocorreu em relação
ao Nobre Apelo de fls. 6.492/6.514, haja vista a peça recursal ter sido protocolizada em
24.02.2011, sendo que o Acórdão que julgou os últimos Embargos interpostos foi
disponibilizado no Dje em 30.09.2011. O Recurso Especial, dest'arte, não transpõe a barreira da
admissibilidade, porquanto interposto antes do julgamento dos Embargos de Declaração, ou
seja, antes do exaurimento das instâncias ordinárias, em desconformidade com o disposto no
referido art. 105, III da Constituição Federal 2. A preliminar de nulidade do acórdão
vergastado, por suposta violação ao art. 535, II do CPC, somente tem guarida quando o
julgado se omite na apreciação de questões de fato e de direito relevantes para a causa -
alegadas pelas partes ou apreciáveis de ofício - o que não ocorreu nos presentes autos.
3. Mostra-se deficiente a fundamentação dos recursos que se limitaram a elencar os
dispositivos de lei federal (arts. 964 do CC/1916 e 131, 165, 436 e 458, II do Estatuto
Processual Civil) sem, contudo, relacioná-los de forma específica com o eventual vício de
fundamentação alegadamente existente no acórdão guerreado, incidindo, portanto, a Súmula
284 do Supremo Tribunal Federal.
4. A Ação Popular consiste em um relevante instrumento processual de participação política
do cidadão, destinado eminentemente à defesa do patrimônio público, bem como da
moralidade administrativa, do meio-ambiente e do patrimônio histórico e cultural; referido
instrumento possui pedido imediato de natureza desconstitutiva-condenatória, pois colima,
precipuamente, a insubsistência do ato ilegal e lesivo a qualquer um dos bens ou valores
enumerados no inciso LXXIII do art. 5o. da CF/88 e, consequentemente, a condenação dos
responsáveis e dos beneficiários diretos ao ressarcimento ou às perdas e danos
42
correspondentes.
5. Tem-se, dessa forma, como imprescindível a comprovação do binômio ilegalidade-
lesividade, como pressuposto elementar para a a procedência da Ação Popular e consequente
condenação dos requeridos no ressarcimento ao erário em face dos prejuízos
comprovadamente atestados ou nas perdas e danos correspondentes.
6. Eventual violação à boa-fé e aos valores éticos esperados nas práticas administrativas não
configura, por si só, elemento suficiente para ensejar a presunção de lesão ao patrimônio
público, conforme sustenta o Tribunal a quo; e assim é porque a responsabilidade dos agentes
em face de conduta praticada em detrimento do patrimônio público exige a comprovação e a
quantificação do dano, nos termos do art. 14 da Lei 4.717/65;
assevera-se, nestes termos, que entendimento contrário implicaria evidente enriquecimento
sem causa do Município, que usufruiu dos serviços de publicidade prestados pela empresa de
propaganda durante o período de vigência do contrato.
7. Não se conhece do Recurso Especial da Empresa de Propaganda e Marketing, em face de
sua manifesta intempestividade, e do Recurso Especial interposto pelo ex-Prefeito. Recursos
Especiais dos demais recorrentes providos, para afastar a condenação dos mesmos a restituir
aos cofres públicos o valor fixado no Acórdão do Tribunal de origem. Com fulcro no art. 509
do CPC, atribui-se efeito expansivo subjetivo à presente Decisão, para excluir a condenação
ressarcitória dos demais litisconsortes necessários.

Recurso Hierárquico
 MS 17.449/DF, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, PRIMEIRA SEÇÃO,
julgado em 14/08/2019, DJe 01/10/2019

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA INDIVIDUAL.


SERVIDOR PÚBLICO FEDERAL. PROCURADOR DA FAZENDA NACIONAL. PROCESSO
ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. PENA DE DEMISSÃO. DELEGAÇÃO DE COMPETÊNCIA. ART. 84,

43
PARÁGRAFO ÚNICO, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL E DECRETO N. 3.035/1999. RECURSO
HIERÁRQUICO ADMINISTRATIVO.
1. Pretende o impetrante, Procurador da Fazenda Nacional, a concessão da segurança para
anular a decisão do Exmo. Senhor Advogado-Geral da União, que indeferiu o Recurso
Administrativo interposto pelo impetrante nos autos PAD 00406.002747/2011-51, ao
fundamento de que a referida autoridade careceria de competência para julgar o recurso
administrativo interposto contra decisão da sua própria lavra, sendo competente a autoridade
imediatamente superior àquela que proferiu a decisão impugnada, in casu, a então
Excelentíssima Senhora Presidente da República.
2. O art. 141, I, da Lei n. 8.112/1990 que as penalidades disciplinares serão aplicadas "pelo
Presidente da República, pelos Presidentes das Casas do Poder Legislativo e dos Tribunais
Federais e pelo Procurador-Geral da República, quando se tratar de demissão e cassação de
aposentadoria ou disponibilidade de servidor vinculado ao respectivo Poder, órgão, ou
entidade".
3. Por força do art. 84, IV, "a" e parágrafo único, da Constituição Federal, foi editado o Decreto
n. 3.035/1999, por meio do qual o Exmo. Senhor Presidente da República delegou aos
Ministros de Estado e ao Advogado-Geral da União a atribuição de julgar Processos
Administrativos Disciplinares e aplicar penalidades aos servidores públicos a eles vinculados,
nas hipóteses de demissão e cassação de aposentadoria ou disponibilidade.
4. A 1ª Seção do STJ, no julgamento do MS 15.917/DF, de relatoria do Min. Castro Meira, julg.
em 23/5/2012, Dje 19/6/2012, reconheceu a competência do Advogado-Geral da União para
aplicar pena de demissão, no bojo de Processo Administrativo Disciplinar, contra os
integrantes da carreira da AGU, incluindo os membros da Procuradoria da Fazenda Nacional,
na forma do art. 2°, I, "b" e § 5°, da Lei Complementar n. 73/93.
5. Esta 1ª Seção reconheceu que o Decreto Presidencial n. 3.035/1999 tem fundamento de
validade diretamente na Constituição Federal (art.
84, IV e VI, e parágrafo único), não havendo que se falar em afronta à Lei Complementar n.
73/1993. (MS 15.828/DF, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, PRIMEIRA SEÇÃO,
julgado em 09/03/2016, DJe 12/04/2016). Portanto, não há ilegalidade no ato do Advogado-
44
Geral da União ao determinar a demissão do ora Impetrante, que ocupava o cargo de
Procurador da Fazenda Nacional.
6. Quanto ao cabimento de recurso hierárquico ao Exmo. Presidente da República em face de
ato delegado com base no Decreto n. 3.035/99, no caso em concreto, temos que: a pena de
demissão foi aplicada pelo Advogado-Geral da União no exercício de competência que lhe foi
delegada pelo Presidente da República por meio do Decreto Presidencial n. 3.035/1999; o
recurso administrativo, se cabível, é na modalidade própria, ou seja, tendo em vista a
estruturação orgânica da Administração Pública, é dirigido à própria autoridade delegante,
que, no caso, é o Presidente da República; e, nem a Lei Complementar n. 73/93 nem a Lei n.
8.112/90 regulam a possibilidade de interposição de recurso administrativo em face de
decisão prolatada em sede de processo administrativo disciplinar, razão pela qual são
aplicáveis as disposições da Lei n. 9.784/99; 7. Nesse contexto, após melhor reflexão, entendo
que não há impedimento para que seja interposto recurso hierárquico. Isso porque o art. 14, §
3º, da Lei n. 9.784/99 estabelece expressamente que as decisões proferidas por meio de ato
de delegação considerar-se-ão editadas pelo delegado.
8. Além disso, ao tratar da delegação, a Lei n. 9.784/99 não estabeleceu nenhuma ressalva
quanto à impossibilidade de recurso hierárquico, razão pela qual é aplicável o que dispõe o
art. 56 desse diploma legal. Ou seja, não há óbice para a interposição de recurso hierárquico à
autoridade delegante porque, embora mediante delegação, a decisão foi tomada pelo
delegado no exercício das suas competências administrativas. Além disso, o Decreto n. 3.035,
de 27 de abril de 1999, não estabeleceu nenhuma vedação à possibilidade de interposição de
recurso hierárquico, razão pela qual entendo que devem prevalecer as disposições legais que
possibilitam a interposição do recurso administrativo.
9. Concedida a segurança para anular o ato coator por vício de legalidade e, por conseguinte,
determinar que seja processado o recurso hierárquico nos termos dos arts. 56 e seguintes da
Lei n.
9.784/99.

45
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARVALHO FILHO, José dos Santos. MANUAL DE DIREITO ADMINSITRAVO. 30 Ed. São
Paulo: Atlas, 2016.

CARVALHO, Matheus. MANUAL DE DIREITO ADMINSITRAVO. 3 ed. Salvador: JusPODIVM,


2016.

MAZZA, Alexandre. MANUAL DE DIREITO ADMINSITRAVO – 9. ed. – São Paulo: Saraiva


Educação, 2019.

OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende. CURSO DE DIREITO ADMINISTRATIVO. 5 ed. Rio de


Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2017.

PIETRO, Maria Sylvia Zanella Di. DIREITO ADMINISTRATIVO. 32. ed. rev. atual e ampl. – Rio
de Janeiro: Forense, 2019.

46
CARREIRAS POLICIAIS

Direito Administrativo
Capítulo 15
SUMÁRIO
DIREITO ADMINISTRATIVO ........................................................................................................................................... 3

1. Improbidade Administrativa ................................................................................................................................. 3

1.1 Introdução ................................................................................................................................................................ 3

1.2 Sujeito Ativo ............................................................................................................................................................ 5

1.2.1 Responsabilização dos agentes políticos ................................................................................................... 7

1.3 Sujeito Passivo ........................................................................................................................................................ 8

1.4 Espécie de atos de Improbidade ................................................................................................................... 9

1.4.1 Atos que importam enriquecimento ilícito ................................................................................................ 9

1.4.2 Atos que causam prejuízo ao erário ......................................................................................................... 10

1.4.3 Atos que atentam contra os princípios da administração pública .............................................. 12

1.4.4 Atos decorrentes de concessão ou aplicação indevida de benefício financeiro ou


tributário ............................................................................................................................................................................. 13

1.5 Independência das instâncias ....................................................................................................................... 13

1.6 Declaração de bens ........................................................................................................................................... 14

1.7 Medidas Cautelares ........................................................................................................................................... 15

1.8 Processo Judicial ................................................................................................................................................. 18

1.9 Aplicação das penalidades ............................................................................................................................. 20

1.10 Prescrição ............................................................................................................................................................... 20

QUADRO SINÓTICO ...................................................................................................................................................... 23

QUESTÕES COMENTADAS ........................................................................................................................................ 30

GABARITO ........................................................................................................................................................................... 41

LEGISLAÇÃO COMPILADA............................................................................................................................................ 45

1
JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................................................................. 46

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................................. 51

2
DIREITO ADMINISTRATIVO

Capítulo 15

1. Improbidade Administrativa

1.1 Introdução

Os agentes públicos podem praticar, no exercício das funções, condutas que


ensejam à aplicação de sanções em diversas esferas. Além das repercussões civil, penal e
administrativa, é possível a responsabilização do agente público em decorrência da
aplicação da Lei de Improbidade Administrativa (LIA) – Lei n. 8.429/92.

O dever de punição dos atos de improbidade administrativa tem fundamento


constitucional no art. 37, § 4º, da CRFB/88 sendo uma imposição do princípio da moralidade,
probidade e, também, da legalidade.

Porém, destaca-se que o STJ vem sustentando que a LIA não deve ser aplicada para
punir meras irregularidades administrativas, erros toleráveis ou transgressões disciplinares
(Resp 1.245.622).

Vale ressaltar, ainda, que a apuração do ato de improbidade independe do


resultado nos processos civil, penal e administrativo. Isso porque, em regra, as diferentes
instâncias punitivas são independentes entre si, de modo que o resultado em uma
independe das demais.

Importa mencionar a Lei de Improbidade Administrativa tem natureza jurídica de lei


nacional, e aplica-se em todo âmbito federativo.

3
Segundo o STF, o fato de a LIA ter ampliado o rol de sanções mínimas originariamente
previstas na Constituição Federal não representa inconstitucionalidade (AgRg no RE 598588).

A Carta Magna estabelece dois principais mecanismos processuais para defesa do


princípio da moralidade. São eles:

 Ação popular: art. 5º, LXXIII; e


 Ação de improbidade administrativa: art. 37, § 4º

As principais diferenças entre a ação popular e a ação de improbidade estão na


legitimidade ativa e nos pedidos que podem ser formulados.

Quanto à legitimidade, a ação popular só pode ser proposta pelo cidadão – pessoa
física em pleno gozo dos direitos políticos - e a sentença promove essencialmente a anulação
do ato lesivo à moralidade, assim como a condenação do réu ao pagamento de perdas e
danos.

Já a ação de improbidade administrativa só pode ser intentada pelo Ministério


Público ou pela pessoa jurídica interessada e pode ter como possíveis resultados: (i) perda
dos bens ou valores acrescidos ilicitamente; (ii) ressarcimento integral do dano; (iii) perda da
função pública; (iv) suspensão dos direitos políticos1; (v) multa civil; (vii) proibição de
contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios.

1
Vide questão 03 ao final do capítulo.
4
No julgamento do Resp 1.129.121, o STJ entendeu que a LIA não pode ser aplicada para
punir condutas anteriores à sua vigência, ainda que ocorridas após a edição da Constituição
Federal de 1988.

1.2 Sujeito Ativo

Conforme o art. 1º da Lei nº 8.429/92, a Lei de Improbidade Administrativa é


aplicável aos atos praticados por qualquer agente público, servidor ou não, contra a
administração direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados,
do Distrito Federal, dos Municípios, de Território, de empresa incorporada ao patrimônio
público ou de entidade para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com
mais de 50% do patrimônio ou da receita anual.

A lei ainda estende as penalidades aos atos praticados contra o patrimônio de


entidade que receba subvenção, benefício ou incentivo, fiscal ou creditício, de órgão público,
bem como daquela cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com menos
de 50% do patrimônio ou da receita anual, limitando-se, nesses casos, a sanção
patrimonial à repercussão do ilícito sobre a contribuição dos cofres públicos.

O conceito de agente público, para efeitos de penalização da LIA, foi legalmente


previsto como sendo todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem
remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de
investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades mencionadas no
artigo anterior.

5
Ademais, é muito importante destacar que as disposições dessa lei são aplicáveis,
no que couber, àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra para a
prática do ato de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou indireta.
Ou seja, os particulares que se enquadrem nessas situações podem ser responsabilizados,
juntamente com o agente público, nos moldes da lei de improbidade.

Podem ser punidos também pela Lei de Improbidade os sucessores de quem


praticou a conduta. É que o artigo 8º da LIA prevê que o sucessor daquele que causar lesão
ao patrimônio público ou se enriquecer ilicitamente está sujeito às cominações desta lei até o
limite do valor da herança.

Segundo a jurisprudência consolidada do STJ, os particulares não podem responder sozinhos


a ações com base na Lei de Improbidade Administrativa (LIA), sem que também figure
como réu na ação um agente público responsável pela prática do ato considerado ímprobo.

No que tange à tentativa, o STJ considerou que é punível a tentativa de


improbidade nos casos em que as condutas não se realizam por motivos alheios à vontade do
agente, com fundamento na ocorrência de ofensa aos princípios da Administração Pública
(Resp 1.014.161).

6
1.2.1 Responsabilização dos agentes políticos

Há controvérsia sobre a possibilidade de responsabilização dos agentes políticos


baseada na Lei de Improbidade Administrativa.

O Supremo Tribunal Federal, no julgamento da Reclamação Constitucional nº 2.138,


de 13/06/2007, passou a entender que a Lei de Improbidade não se aplica aos agentes
políticos quando a mesma conduta já for punida pela Lei dos Crimes de Responsabilidade –
Lei nº 1.079/50.

A preocupação do Supremo Tribunal Federal foi evitar o bis in idem ou a dupla


punição – que é vedado no nosso ordenamento jurídico. Considerando que a lei dos crimes
de responsabilidade é uma lei especial, esta deve ser priorizada em relação à aplicação da LIA
quando a conduta estiver tipificada nas duas leis.

Porém, no entendimento do STF, para que a LIA seja afastada deve haver, de forma
simultânea, dois requisitos: (i) o agente político deve estar expressamente incluído entre os
puníveis pela Lei n. 1.079/50; e (ii) a conduta precisa estar tipificada na Lei n. 1.079/50 e na Lei
n. 8.429/92.

Os arts. 2º e 74 da Lei n. 1.079/50 esclarecem quais agentes políticos estão


sujeitos à prática de crimes de responsabilidade. São ele:

a) Presidente da República;

b) Ministro de Estado;

c) Procurador-Geral da República;

d) Ministro do Supremo Tribunal Federal;

e) Governador;

f) Secretário de Estado.

7
Porém, o Superior Tribunal de Justiça tem adotado posicionamento diferente. No
julgamento da Reclamação 2.790/09, o STJ decidiu que “excetuada a hipótese de atos de
improbidade praticados pelo Presidente da República, cujo julgamento se dá em regime
especial pelo Senado Federal, não há norma constitucional alguma que imunize os agentes
políticos, sujeitos a crime de responsabilidade, de qualquer sanção por ato de improbidade”.

Dessa forma, para o STJ os agentes políticos estão submetidos integralmente à LIA,
com exceção do Presidente da República.

1.3 Sujeito Passivo

O sujeito passivo é a entidade que sofre as consequências do ato de improbidade


administrativa. Conforme o disposto no art. 1º da Lei n. 8.429/92, as vítimas da improbidade
são:

1) Administração pública direta: composta pelas pessoas federativas, a saber,


União, Estados, Distrito Federal, Municípios e Territórios;
2) Administração pública indireta: são autarquias, fundações públicas,
associações públicas, empresas públicas, sociedades de economia mista e
fundações governamentais;
3) Empresas incorporadas ao patrimônio público ou de entidade cuja criação
ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com mais de 50% do
patrimônio ou da receita anual: com essa referência, o legislador quis
reforçar a inclusão, no rol dos sujeitos passivos dos atos de improbidade,
das chamadas empresas governamentais, ou seja, empresas públicas e
sociedades de economia mista;
4) Entidades que recebam subvenção, benefício ou incentivo, fiscal ou
creditício, provenientes de órgãos públicos: as pessoas jurídicas privadas,
não pertencentes ao Estado, também podem figurar como sujeito passivo

8
de ato de improbidade administrativa desde que recebam algum tipo de
vantagem concedida pelo Poder Público, tais como: subvenções, benefícios,
incentivos fiscais ou incentivos creditícios;
5) Entidades cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com
menos de 50% do patrimônio ou da receita anual: o ato de improbidade
também pode ser praticado contra as denominadas empresas privadas com
participação estatal, isto é, aquelas em que o Estado detenha percentual
minoritário na composição do capital votante.

O sujeito passivo do ato de improbidade será sujeito ativo da ação de Improbidade. A


legitimidade ativa para propositura da ação de improbidade administrativa é entre as
entidades acima mencionadas e o Ministério Público.

1.4 Espécie de atos de Improbidade

A Lei n. 8.429/92, em seus arts. 9º a 11, define um rol exemplificativo das condutas
que caracterizam improbidade administrativa, dividindo-as em quatro grupos distintos:

1.4.1 Atos que importam enriquecimento ilícito

Os atos de improbidade que importam enriquecimento ilícito estão previstos no art.


9º da LIA. São consideradas as condutas mais graves em que o agente público aufere

9
dolosamente uma vantagem patrimonial indevida em razão do exercício de cargo, mandato,
função, emprego ou atividade pública.

 Sanções:

Conforme dito anteriormente, as sanções previstas na LIA independem das sanções


penais, civis e administrativas previstas na legislação específica.

O sujeito ativo do ato de improbidade que importa enriquecimento ilícito está


sujeito às seguintes cominações, que podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente, de
acordo com a gravidade do fato (art. 12, I, da LIA):

a) perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio2;

b) ressarcimento integral do dano, quando houver;

c) perda da função pública;

d) suspensão dos direitos políticos de oito a dez anos;

e) pagamento de multa civil de até três vezes o valor do acréscimo patrimonial; e

f) proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos


fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da
qual seja sócio majoritário, pelo prazo de dez anos.

1.4.2 Atos que causam prejuízo ao erário

Os atos de improbidade que causam prejuízo ao erário3 estão exemplificativamente


indicados no art. 10 da LIA, e envolvem condutas de gravidade intermediária.

2
Vide questão 04 ao final do capítulo.
3
Vide questão 01 ao final do capítulo.
10
São os casos em que o agente público causa lesão ao erário por meio de ação ou
omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação,
malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades públicas mencionadas na
Lei.

Segundo o Superior Tribunal de justiça, para a caracterização desse tipo de ato de


improbidade, exige-se a comprovação efetiva de dano (Resp 1.127.143), diante da
impossibilidade de condenação ao ressarcimento por dano hipotético ou presumido (Resp
1.038.777).

 Sanções:

As sanções previstas para esta espécie estão previstas no art. 12, II, da LIA e,
também podem ser aplicadas de forma cumulativa ou isolada:

a) ressarcimento integral do dano;

b) perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer


esta circunstância;

c) perda da função pública;

d) suspensão dos direitos políticos de cinco a oito anos;

e) pagamento de multa civil de até duas vezes o valor do dano; e

f) proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos


fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da
qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos.

11
1.4.3 Atos que atentam contra os princípios da administração
pública

Os atos de improbidade que atenta contra princípios administrativos - descritos no


art. 11 da LIA - envolvem as condutas de menor gravidade. Para configuração de tal espécie
de atos, exige-se a atuação dolosa do sujeito ativo.

 Sanções:

Independentemente das sanções penais, civis e administrativas previstas na


legislação específica, está o responsável pelo ato de improbidade que atenta contra os
princípios da administração pública sujeito às seguintes cominações, que podem ser aplicadas
isolada ou cumulativamente, de acordo com a gravidade do fato (art. 12, III, da LIA):

a) ressarcimento integral do dano, se houver;

b) perda da função pública;

c) suspensão dos direitos políticos de três a cinco anos;

d) pagamento de multa civil de até cem vezes o valor da remuneração percebida


pelo agente; e

e) proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos


fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da
qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três anos.

12
1.4.4 Atos decorrentes de concessão ou aplicação indevida de
benefício financeiro ou tributário

Os atos de improbidade decorrentes de concessão ou aplicação indevida e benefício


financeiro ou tributário foi uma inovação trazida pela Lei Complementar nº 157/2016, que
tipifica qualquer ação ou omissão visando conceder, aplicar ou manter benefício financeiro ou
tributário que reduza a alíquota do Imposto sobre Serviços (ISS) para patamar inferior a 2%
(dois por cento), nos termos do art. 8º-A da Lei Complementar n. 157/2016, inclusive sobre o
serviço proveniente ou cuja prestação se tenha iniciado no exterior do País.

Importante destacar que, como o novo dispositivo não menciona a variação


culposa, apenas admite-se a modalidade dolosa.

 Sanção:

Apenas as condutas praticadas após tal data limite para os Municípios para revogar
benefícios financeiros ou fiscais que desatendam à alíquota mínima de 2% do ISS, qual seja:
01/06/2018, são puníveis nos termos do artigo 10-A da Lei n. 8.429/92, sujeitando o agente às
penas de:
a) perda da função pública;

b) suspensão dos direitos políticos de 5 a 8 anos;

c) e multa civil de até 3 vezes o valor do benefício financeiro ou tributário


concedido (art. 12, IV, da Lei n. 8.429/92).

1.5 Independência das instâncias

Atualmente, uma única conduta praticada pelo agente público pode desencadear
seis processos distintos de responsabilização, quais sejam:

1) civil;

13
2) penal;

3) administrativo disciplinar;

4) improbidade administrativa;

5) responsabilidade política (Lei n. 1.079/50);

6) processo de controle.

Como regra, o resultado em um processo não interfere nos demais em razão da


independência das instâncias.

Sabe-se, porém, que a absolvição criminal por negativa de autoria ou por


insistência do fato são as únicas capazes de interferir nas outras esferas. Sendo assim, havendo
sentença baseada em um desses fatos, não poderá o agente ser responsabilizado nas outras
esferas

1.6 Declaração de bens

Visando prestigiar a moralidade, o artigo 13 da LIA determina que a posse e o


exercício de agente público ficam condicionados à apresentação de declaração dos bens e
valores de seu patrimônio privado.

A declaração deverá indicar imóveis, móveis, semoventes, dinheiro, títulos, ações, e


qualquer outra espécie de bens e valores patrimoniais, localizado no País ou no exterior, e,
quando for o caso, abrangerá os bens e valores patrimoniais do cônjuge ou companheiro, dos
filhos e de outras pessoas que vivam sob a dependência econômica do declarante, excluídos
apenas os objetos e utensílios de uso doméstico.

14
É certo que este dispositivo legal visa a permitir uma efetiva fiscalização sobre a
evolução patrimonial do agente público, especialmente para evitar a prática de atos ímprobos
que importem em enriquecimento ilícito do agente.

O agente público que se recusar a prestar declaração dos bens, dentro do prazo
determinado, ou que a prestar falsa será punido com pena de demissão4 sem prejuízo de
outras sanções cabíveis.

Ademais, a declaração de bens será atualizada anualmente e também na data em


que o agente público deixar o exercício do mandato, cargo, emprego ou função.

1.7 Medidas Cautelares

As medidas cautelares, tratam-se em verdade, de um procedimento administrativo


que visa garantir o processo judicial, eis que a efetiva aplicação das sanções previstas na LIA é
de competência privativa do Poder Judiciário, não podendo ser realizada pela Administração
Pública.

Qualquer pessoa que tenha ciência da prática de ato de improbidade pode


representar à autoridade administrativa competente para que realize as investigações
pertinentes e apure o ocorrido.

Tal representação deverá ser feita por escrito ou, se oral, reduzida a termo e
assinada, devendo obrigatoriamente conter a qualificação do representante, as informações
sobre o fato e sua autoria e a indicação de provas.

4
Vide questão 08 ao final do capítulo.
15
Admite-se instauração do procedimento administrativo investigativo por meio de denúncia
anônima, desde que esta seja verossímil (STJ: RMS 30510).

Após a comunicação deve ser instaurada uma comissão processante e dada ciência
ao Ministério Público e ao Tribunal ou Conselho de Contas.

Em havendo fundados indícios de responsabilidade, a comissão representará ao


Ministério Público ou à procuradoria do órgão para que requeira ao juízo competente a
decretação do sequestro dos bens do sujeito ativo que tenha enriquecido ilicitamente ou
causado dano ao patrimônio público.

Ademais, o Ministério Público e a pessoa jurídica prejudicada pela improbidade


poderão, quando for o caso, formular pedido de medida cautelar preparatória ou incidental
para:
1) Indisponibilidade dos bens do indiciado: recai sobre parcela de seu
patrimônio que assegure integral ressarcimento do dano, ou sobre o
acréscimo patrimonial resultante do enriquecimento ilícito. Deve-se atentar
para o objetivo da medida: se o objetivo da medida for assegurar a
aplicação futura da sanção de ressarcimento ao erário, a indisponibilidade
pode alcançar os bens adquiridos antes ou depois da prática dos atos de
improbidade, além de levar em consideração o valor de possível multa civil
como sanção autônoma (STJ: Resp 1461892/BA). Porém, se a finalidade for
assegurar a aplicação da futura pena de perdimento de bens ou valores

16
acrescidos ilicitamente, a indisponibilidade deve atingir apenas os bens
adquiridos posteriormente ao ilícito (STJ: RMS 6197).

O pedido de indisponibilidade dispensa a prova do periculum in mora concreto (prova de


dilapidação do patrimônio público ou sua iminência), eis que esse será presumido. Mas exige-
se a demonstração do fumus boni juris (indícios da prática de improbidade) (STJ: Resp
1.190.846).

2) Sequestro, investigação, exame ou bloqueio de bens;

3) Bloqueio de contas bancárias e aplicações financeiras mantidas pelo


indiciado no exterior;

4) Afastamento cautelar do agente público: a autoridade judicial ou


administrativa poderá decretar ainda o afastamento cautelar do agente
público do exercício do cargo, emprego ou função, sem prejuízo da
remuneração, quando a medida se fizer necessária à instrução processual
por no máximo 180 dias.

17
1.8 Processo Judicial

A ação de improbidade administrativa deve ser proposta na primeira instância e


sua tramitação segue o rito ordinário, aplicando-se subsidiariamente as regras da Lei de
Ação Civil Pública - Lei nº 7.347/85.

Vale ressaltar que não há foro determinado por prerrogativa de função na ação
de improbidade (STF, ADI 2.860). Importante exceção reconhecida pela jurisprudência do STJ
a essa regra ocorre na hipótese de ato de improbidade praticado por juiz integrante de
tribunal.

Nesse caso, a competência originária pertence ao Tribunal imediatamente superior


ao qual o juiz está vinculado. No mesmo sentido, o Supremo Tribunal Federal decidiu que tem
competência para o julgamento de ação de improbidade contra um de seus membros.

Conforme anteriormente dito, a legitimidade ativa para propositura da ação é do


Ministério Público e da pessoa jurídica prejudicada. Porém, nada impede que a ação seja
proposta somente pelo Ministério Público. A ausência no feito da pessoa jurídica de direito
público cujo ato seja objeto de impugnação não gera, por si, vício processual.

Quando não for autor, o Ministério Público obrigatoriamente atuará como fiscal
da lei, sob pena de nulidade do processo.

O Ministério Público estadual possui legitimidade recursal para atuar como parte no Superior
Tribunal de Justiça nas ações de improbidade administrativa, reservando-se ao Ministério
Público Federal a atuação como fiscal da lei (AgRg no AREsp 1323236/RN).

18
Estando a inicial em termos, o juiz mandará autuá-la e ordenará a notificação do
requerido, para oferecer manifestação por escrito, a chamada defesa prévia, que poderá ser
instruída com documentos e justificações, dentro do prazo de quinze dias.

Sobre a nulidade em casos de ausência de notificação para defesa prévia, o STJ se


manifestou no sentido de que a ausência de notificação para defesa prévia só acarreta
nulidade processual se houver comprovado prejuízo (pas de nullité sans grief).”

Recebida a defesa prévia, o juiz, no prazo de trinta dias, em decisão fundamentada,


rejeitará a ação se convencido da inexistência do ato de improbidade, da improcedência da
ação ou da inadequação da via eleita. Se resolver pelo prosseguimento da ação, realizará a
citação do réu para contestar o feito.

Na ação de improbidade não se admite transação, acordo ou conciliação. Também não há


previsão de elaboração de Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), diferentemente do que
ocorre na Lei de Ação Civil Pública.

A sentença que julgar procedente ação civil de reparação de dano ou decretar a


perda dos bens havidos ilicitamente determinará o pagamento ou a reversão dos bens,
conforme o caso, em favor da pessoa jurídica prejudicada pelo ilícito.

Importante ressaltar que o STJ já afirmou que não há julgamento “ultra” ou “extra
petita” quando o juiz acrescenta à condenação sanções não pedidas na inicial da ação de
19
improbidade. Além disso, pode o juiz enquadrar o ato de improbidade em dispositivo diverso
do indicado na Inicial, sem prejuízo para a defesa, pois esta deve ater-se aos fatos e não à
capitulação legal.

1.9 Aplicação das penalidades

A condenação pela prática de ato de improbidade administrativa e a aplicação das


sanções correspondentes somente serão legítimas se houver estrita observância do rito
específico previsto na Lei n. 8.429/92.

Segundo prescreve a LIA, na fixação das penas por ato de improbidade, o juiz levará
em conta a extensão do dano causado, assim como o proveito patrimonial obtido pelo agente
O Superior Tribunal de Justiça consolidou o entendimento no sentido de que, uma vez
caracterizado o prejuízo ao erário, o ressarcimento é obrigatório visto que serve para
caucionar o rombo consumado em desfavor do erário.

Ademais, deve-se ter em mente que a efetivação da suspensão dos direitos políticos
e a perda do cargo somente ocorre com o trânsito em julgado da sentença condenatória.

1.10 Prescrição

O art. 23 da Lei n. 8.429/92 determina que as ações destinadas a levar a efeito as


sanções decorrentes de improbidade administrativa poderão ser propostas:

1) Até cinco anos após o término do exercício de mandato, de cargo em


comissão ou de função de confiança. Havendo reeleição, o prazo se inicia a
partir do encerramento do último mandato;

20
Se o agente público exercer cumulativamente cargo efetivo e cargo comissionado, ao tempo
do ato reputado ímprobo, há de prevalecer o primeiro, para fins de contagem prescricional,
pelo simples fato de o vínculo entre agente e Administração pública não cessar com a
exoneração do cargo em comissão, por ser temporário (STJ: Resp 1.060.529).

2) Dentro do prazo prescricional previsto em lei específica para faltas


disciplinares puníveis com demissão5, nos casos de exercício de cargo
efetivo ou emprego. Em regra, tal prazo também é de 5 anos. Nesse caso, o
prazo corre a partir da data em que foi praticado o ato de improbidade.

Quando um particular pratica ato de improbidade administrativa, se lhe aplicam os prazos


prescricionais incidentes aos demais demandados ocupantes de cargos públicos (STJ: Resp
1.087.855). “O termo inicial da prescrição em improbidade administrativa em relação a

5
Vide questão 02 ao final do capítulo.
21
particulares que se beneficiam de ato ímprobo é idêntico ao do agente público que praticou a
ilicitude” (STJ: AgRG no REsp 1510589/SE).

Entretanto, em relação a pena de ressarcimento – conforme o disposto no art. 37, §


5º da CRFB/88 - a ação de improbidade administrativa é imprescritível.

22
QUADRO SINÓTICO

IMPROBIDADE ADMINISRRATIVA

Os agentes públicos6 podem praticar, no exercício das funções, condutas que ensejam à
aplicação de sanções em diversas esferas. Além das repercussões civil, penal e administrativa, é
possível a responsabilização do agente público em decorrência da aplicação da Lei de
Improbidade Administrativa (LIA) – Lei n. 8.429/92.

O dever de punição dos atos de improbidade administrativa tem fundamento constitucional no


art. 37, § 4º, da CRFB/88 sendo uma imposição do princípio da moralidade, probidade e,
também, da legalidade.

O STJ vem sustentando que a LIA não deve ser aplicada para punir meras irregularidades
administrativas, erros toleráveis ou transgressões disciplinares (Resp 1.245.622).

A Lei de Improbidade Administrativa tem natureza jurídica de lei nacional, e aplica-se em todo
âmbito federativo.

SUJEITO ATIVO

É qualquer agente público, servidor ou não, que atua contra a administração direta, indireta ou
fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos
Municípios, de Território, de empresa incorporada ao patrimônio público ou de entidade para
cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com mais de 50% do patrimônio
ou da receita anual. Se concorrer com menos de 50% do patrimônio ou da receita anual, a
sanção limita-se à repercussão do ilícito sobre a contribuição dos cofres públicos.

O conceito de agente público, para efeitos de penalização da LIA, foi legalmente previsto como

6
Vide questão 07 ao final do capítulo.
23
sendo todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição,
nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo,
mandato, cargo, emprego ou função.

Sujeito ativo também é àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra para
a prática do ato de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou indireta.

Podem ser punidos também pela Lei de Improbidade os sucessores de quem praticou a
conduta. até o limite do valor da herança.

RESPONSABILIZAÇÃO DOS AGENTES POLÍTICOS

A Lei de Improbidade não se aplica aos agentes políticos quando a


mesma conduta já for punida pela Lei dos Crimes de Responsabilidade –
Lei nº 1.079/50.

STF Para que a LIA seja afastada deve haver, de forma simultânea, dois
requisitos: (i) o agente político deve estar expressamente incluído entre
os puníveis pela Lei n. 1.079/50; e (ii) a conduta precisa estar tipificada
na Lei n. 1.079/50 e na Lei n. 8.429/92.

Os agentes políticos estão submetidos integralmente à LIA, com


STJ
exceção do Presidente da República.

SUJEITO PASSIVO

Administração pública direta;

Administração pública indireta;

Empresas incorporadas ao patrimônio público ou de entidade cuja criação ou custeio o erário


haja concorrido ou concorra com mais de 50% do patrimônio ou da receita anual: com essa
referência, o legislador quis reforçar a inclusão, no rol dos sujeitos passivos dos atos de
improbidade, das chamadas empresas governamentais, ou seja, empresas públicas e sociedades
de economia mista;

Entidades que recebam subvenção, benefício ou incentivo, fiscal ou creditício, provenientes de

24
órgãos públicos: as pessoas jurídicas privadas, não pertencentes ao Estado, também podem
figurar como sujeito passivo de ato de improbidade administrativa desde que recebam algum
tipo de vantagem concedida pelo Poder Público, tais como: subvenções, benefícios, incentivos
fiscais ou incentivos creditícios;

Entidades cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com menos de 50% do
patrimônio ou da receita anual: o ato de improbidade também pode ser praticado contra as
denominadas empresas privadas com participação estatal, isto é, aquelas em que o Estado
detenha percentual minoritário na composição do capital votante.

ESPÉCIES DE ATOS DE IMPROBIDADE

São consideradas as condutas mais graves

O agente público aufere dolosamente uma vantagem patrimonial


indevida em razão do exercício de cargo, mandato, função, emprego ou
atividade pública.

Perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao


patrimônio

Ressarcimento integral do dano, quando houver


AATOS QUE
IMPORTAM Perda da função pública
ENRIQUECIMENTO Suspensão dos direitos políticos de oito a dez anos
ILÍCITO
Pagamento de multa civil de até três vezes o valor do
SANÇÕES:
acréscimo patrimonial

Proibição de contratar com o Poder Público ou


receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios,
direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de
pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo
prazo de dez anos.

ATOS QUE São os casos em que o agente público causa lesão ao erário por meio
CAUSAM PREJUÍZO de ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial,

25
AO ERÁRIO desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou
haveres das entidades públicas mencionadas na Lei.

Envolvem condutas de gravidade intermediária.


Segundo o Superior Tribunal de justiça, para a caracterização desse tipo
de ato de improbidade, exige-se a comprovação efetiva de dano.
Ressarcimento integral do dano

Perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao


patrimônio, se concorrer esta circunstância

Perda da função pública;

Suspensão dos direitos políticos de cinco a oito anos;

Pagamento de multa civil de até duas vezes o valor


SANÇÕES
do dano;

Proibição de contratar com o Poder Público ou


receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios,
direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de
pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo
prazo de cinco anos.

Os atos de improbidade que atenta contra princípios administrativos -


descritos no art. 11 da LIA - envolvem as condutas de menor gravidade.

Para configuração de tal espécie de atos, exige-se a atuação dolosa do


sujeito ativo.
ATOS QUE Ressarcimento integral do dano, se houver
ATENTAM CONTRA
Perda da função pública
PRINCÍPIOS
Suspensão dos direitos políticos de três a cinco anos
SANÇÕES
Pagamento de multa civil de até cem vezes o valor da
remuneração percebida pelo agente

Proibição de contratar com o Poder Público ou

26
receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios,
direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de
pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo
prazo de três anos.

Tipifica qualquer ação ou omissão visando conceder, aplicar ou manter


benefício financeiro ou tributário que reduza a alíquota do Imposto
sobre Serviços (ISS) para patamar inferior a 2% (dois por cento), nos
ATOS
DECORRENTES DE termos do art. 8º-A da Lei Complementar n. 157/2016, inclusive sobre o

CONCESSÃO OU serviço proveniente ou cuja prestação se tenha iniciado no exterior do


APLICAÇÃO País.
INDEVIDA DE
Admite apenas a modalidade dolosa.
BENEFÍCIO
FINANCEIRO OU Perda da função pública

TRIBUTÁRIO Suspensão dos direitos políticos de 5 a 8 anos


SANÇÕES Multa civil de até 3 vezes o valor do benefício
financeiro ou tributário concedido

INDEPENDÊNCIA DAS INSTÂNCIAS

Como regra, o resultado em um processo não interfere nos demais em razão da independência
das instâncias.

Porém, que a absolvição criminal por negativa de autoria ou por insistência do fato são as
únicas capazes de interferir nas outras esferas.

DECLARAÇÃO DE BENS

Visando prestigiar a moralidade, a lei determina que a posse e o exercício de agente público
ficam condicionados à apresentação de declaração dos bens e valores de seu patrimônio
privado.

O agente público que se recusar a prestar declaração dos bens, dentro do prazo
determinado, ou que a prestar falsa será punido com pena de demissão sem prejuízo de
outras sanções cabíveis.

27
A declaração de bens será atualizada anualmente e também na data em que o agente
público deixar o exercício do mandato, cargo, emprego ou função.

MEDIDAS CAUTELARES
Qualquer pessoa que tenha ciência da prática de ato de improbidade pode representar à
autoridade administrativa competente para que realize as investigações pertinentes e apure o
ocorrido. Tal representação deverá ser feita por escrito ou, se oral, reduzida a termo e assinada,
devendo obrigatoriamente conter a qualificação do representante, as informações sobre o fato
e sua autoria e a indicação de provas.

Em havendo fundados indícios de responsabilidade, a comissão representará ao Ministério


Público ou à procuradoria do órgão para que requeira ao juízo competente a decretação do
sequestro dos bens do sujeito ativo que tenha enriquecido ilicitamente ou causado dano ao
patrimônio público.

Indisponibilidade dos bens do indiciado;

O Ministério Público e a pessoa jurídica Sequestro, investigação, exame ou bloqueio


prejudicada pela improbidade poderão, de bens;
quando for o caso, formular pedido de Bloqueio de contas bancárias e aplicações

medida cautelar preparatória ou incidental financeiras mantidas pelo indiciado no


exterior;
para decretar:
Afastamento cautelar do agente público
pelo prazo máximo de 180 dias.
PROCESSO JUDICIAL
A ação de improbidade administrativa deve ser proposta na primeira instância e sua
tramitação segue o rito ordinário, aplicando-se subsidiariamente as regras da Lei de Ação
Civil Pública - Lei nº 7.347/85. Não, via de regra, foro determinado por prerrogativa de
função.

A legitimidade ativa para propositura da ação é do Ministério Público e da pessoa jurídica


prejudicada. Porém, nada impede que a ação seja proposta somente pelo Ministério Público. A
ausência no feito da pessoa jurídica de direito público cujo ato seja objeto de impugnação não

28
gera, por si, vício processual.
Quando não for autor, o Ministério Público obrigatoriamente atuará como fiscal da lei, sob
pena de nulidade do processo.

Estando a inicial em termos, o juiz mandará autuá-la e ordenará a notificação do requerido,


para oferecer manifestação por escrito, a chamada defesa prévia, que poderá ser instruída com
documentos e justificações, dentro do prazo de quinze dias.

Recebida a defesa prévia, o juiz, no prazo de trinta dias, em decisão fundamentada, rejeitará a
ação se convencido da inexistência do ato de improbidade, da improcedência da ação ou da
inadequação da via eleita. Se resolver pelo prosseguimento da ação, realizará a citação do réu
para contestar o feito.

APLICAÇÃO DAS PENALIDADES


A condenação pela prática de ato de improbidade administrativa e a aplicação das sanções
correspondentes somente serão legítimas se houver estrita observância do rito específico
previsto na Lei n. 8.429/92.

PRESCRIÇÃO
Até cinco anos após o término do exercício Se o agente público exercer
de mandato, de cargo em comissão ou de cumulativamente cargo efetivo e cargo
função de confiança. Havendo reeleição, o comissionado, ao tempo do ato reputado
prazo se inicia a partir do encerramento do ímprobo, há de prevalecer o primeiro, para
último mandato. fins de contagem prescricional.

Dentro do prazo prescricional previsto em lei específica para faltas disciplinares puníveis com
demissão, nos casos de exercício de cargo efetivo ou emprego. Em regra, tal prazo também é
de 5 anos. Nesse caso, o prazo corre a partir da data em que foi praticado o ato de
improbidade.

Quando um particular pratica ato de improbidade administrativa, se lhe aplicam os prazos


prescricionais incidentes aos demais demandados ocupantes de cargos públicos.

Em relação a pena de ressarcimento a ação de improbidade administrativa é imprescritível.

29
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

( VUNESP – 2018 – PC- BA – Escrivão de Polícia) Na hipótese de o Tribunal de Contas


verificar, em fiscalização, que houve transferência de recursos públicos a organização da
sociedade civil por meio de parceria com a administração Pública sem observância das
formalidades legais ou regulamentares aplicáveis a autoridade responsável pelo repasse
responderá por ato de improbidade administrativa

A) Que causa prejuízo ao erário

B) Que importa enriquecimento ilícito

C) Que atenta contra os princípios da Administração Pública.

D) Decorrente de concessão ou aplicação indevida de benefício financeiro.

E) Que atenta contra o Estado Democrático de Direito.

Comentário:

Gabarito: Letra A.
Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer
ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação,
malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º
desta lei, e notadamente:

30
XX - liberar recursos de parcerias firmadas pela administração pública com entidades
privadas sem a estrita observância das normas pertinentes ou influir de qualquer

forma para a sua aplicação irregular.

Questão 2

(VUNESP – 2018 – PC-BA – Escrivão de Polícia) Servidor público que revelar fato de que
tenha ciência em razão do cargo e que deveria manter em segredo, responderá, no âmbito
administrativo,

A) Pela prática de infração disciplinar, sujeitando-se à pena de demissão como efeito da


condenação judicial transitada em julgado.

B) Pela prática de infração disciplinar e ato de improbidade administrativa, sujeitando-se, à


pena de demissão.

C) Pela prática de infração disciplinar e ato de improbidade administrativa, sujeitando-se à


sanção administrativa de perda do cargo público.

D) Pela prática de ato de improbidade administrativa, cuja penalidade alcança as esferas


disciplinar, civil e criminal.

E) Pela prática de infração disciplinar, sujeitando-se à pena de advertência ou suspensão por


até 90 (noventa) dias.

Comentário:

Gabarito: Letra “B”.

31
Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios
da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de

honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente:

III - revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão das atribuições e que
deva permanecer em segredo;

Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e administrativas previstas na


legislação específica, está o responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintes

cominações, que podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente, de acordo com a


gravidade do fato:

III - na hipótese do art. 11, ressarcimento integral do dano, se houver, perda da função
pública, suspensão dos direitos políticos de três a cinco anos, pagamento de multa civil
de até cem vezes o valor da remuneração percebida pelo agente e proibição de
contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios,
direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio

majoritário, pelo prazo de três anos.

Questão 3

(CESPE – 2018 – PC-MA – Investigador de Polícia) À luz da CF, os atos de improbidade


administrativa poderão acarretar o(a)

A) Suspensão dos direitos políticos

B) Disponibilidade dos bens

C) Cassação de direitos políticos.

D) Suspensão da função pública.

E) Ressarcimento ao erário, o que inviabiliza a persecução penal.

32
Comentário:

Gabarito: Letra “A”.

Vejamos o que dispõe o artigo 37, parágrafo 4o da Constituição Federal:


"Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a

perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na


forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível"

Questão 4

(CESPE – 2018 – PC-MA – Escrivão de Polícia Civil) De acordo com a Lei de Improbidade –
Lei n. 8429/92 -, o servidor público que comprovadamente tiver causado lesão ao patrimônio
público estará sujeito

A) A detenção de cinco a oito anos.


B) À perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio.
C) Ao ressarcimento correspondente ao dobro do valor integral do dano.
D) Ao pagamento de multa civil em valor igual ao do acréscimo patrimonial
E) A suspensão dos direitos políticos por dez anos.

Comentário:

Gabarito: Letra “B”.

É o que se infere da leitura do artigo 12, II da Lei 8429/92:

Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e administrativas previstas na


legislação específica, está o responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintes

33
cominações, que podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente, de acordo com a
gravidade do fato: (Redação dada pela Lei nº 12.120, de 2009).

I - na hipótese do art. 9°, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao


patrimônio, ressarcimento integral do dano, quando houver, perda da função pública,
suspensão dos direitos políticos de oito a dez anos, pagamento de multa civil de até três
vezes o valor do acréscimo patrimonial e proibição de contratar com o Poder Público ou

receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que


por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de dez anos;

II - na hipótese do art. 10, ressarcimento integral do dano, perda dos bens ou valores
acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta circunstância, perda da função
pública, suspensão dos direitos políticos de cinco a oito anos, pagamento de multa civil
de até duas vezes o valor do dano e proibição de contratar com o Poder Público ou

receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que


por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco
anos;

Questão 5

(IBADE- 2017 – PC-AC – Escrivão de Polícia Civil) Relativamente às disposições da Lei n°


8.429/1992, que trata da improbidade administrativa, assinale a alternativa correta.

A) Os atos de improbidade administrativa que importem prejuízo ao erário poderão


resultar na perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio,
ressarcimento integral do dano, quando houver, perda da função pública, suspensão
dos direitos políticos de oito a dez anos, pagamento de multa civil de até três vezes o
valor do acréscimo patrimonial e proibição de contratar com o Poder Público ou
receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que
por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de dez
anos.
B) Estão sujeitos às sanções da Lei de Improbidade Administrativa os atos ímprobos
praticados contra o patrimônio de entidade que receba subvenção, benefício ou
34
incentivo, fiscal ou creditício, de órgão público bem como daquelas para cuja criação ou
custeio o erário haja concorrido ou concorra com menos de cinquenta por cento do
patrimônio ou da receita anual, limitando-se, nestes casos, a sanção patrimonial à
repercussão do ilícito sobre a contribuição dos cofres públicos.
C) Como as sanções por ato de improbidade administrativa apenas são aplicáveis a
agentes públicos, eventual particular que induza ou concorra para a prática de ato
ímprobo apenas poderá ser responsabilizado na esfera criminal.
D) O sucessor daquele que causar lesão ao patrimônio público ou se enriquecer
ilicitamente está sujeito às sanções de improbidade administrativa independentemente
de limites, como o valor da herança.
E) Determinado agente público tornou-se réu em ação de improbidade administrativa.
Segundo o Ministério Público, o aludido servidor teria causado lesão ao erário em razão
de perda patrimonial de bens móveis do Estado do Acre. Durante o curso do processo
judicial, o controle interno do órgão ao qual o servidor está lotado concluiu que o
referido ato ímprobo não causou prejuízo ao erário. A partir desta informação
superveniente do órgão de controle interno, não deverá haver aplicação das sanções
por ato de improbidade administrativa ao agente público processado.

Comentário:

Gabarito: Letra “B”.

Vejamos o que dispõe o artigo 1o, parágrafo único da Lei 8429/92:

Art. 1° Os atos de improbidade praticados por qualquer agente público, servidor ou não,
contra a administração direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da
União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, de Território, de empresa

incorporada ao patrimônio público ou de entidade para cuja criação ou custeio o erário


haja concorrido ou concorra com mais de cinquenta por cento do patrimônio ou da
receita anual, serão punidos na forma desta lei.

Parágrafo único. Estão também sujeitos às penalidades desta lei os atos de improbidade
praticados contra o patrimônio de entidade que receba subvenção, benefício ou

35
incentivo, fiscal ou creditício, de órgão público bem como daquelas para cuja criação ou
custeio o erário haja concorrido ou concorra com menos de cinquenta por cento do

patrimônio ou da receita anual, limitando-se, nestes casos, a sanção patrimonial à


repercussão do ilícito sobre a contribuição dos cofres públicos.

Questão 6

(CESPE – 2016 – PC-GO – Escrivão de Polícia) À luz da Lei de Improbidade Administrativa —


Lei n.º 8.429/1992 —, assinale a opção correta acerca de enriquecimento ilícito em exercício
de mandato, cargo, emprego ou função na administração pública direta, indireta ou
fundacional.

A) Perda da função pública e suspensão dos direitos políticos constituem sanções e


podem ser aplicadas imediatamente quando houver indício suficiente do ato de
improbidade e da autoria.
B) A aplicação da referida lei restringe-se a servidores públicos que pratiquem atos de
improbidade administrativa.
C) Caso ocorra o falecimento do agente causador da lesão ao patrimônio público, os seus
sucessores serão responsáveis pelo ressarcimento integral ao erário, mesmo que o valor
a ser ressarcido ultrapasse o valor da herança.
D) Aquele que praticar ato de improbidade administrativa que importe enriquecimento
ilícito não poderá receber qualquer incentivo fiscal ou creditício, o que se estende à
pessoa jurídica à qual pertença como sócio majoritário.
E) Os atos de improbidade administrativa classificam-se somente em duas categorias: atos
que atentam contra os princípios da administração pública; e atos que provocam
prejuízo ao erário.

Comentário:

36
Gabarito: Letra “D”.

É a única das letras que possui um conteúdo correto, nos termos da Lei 8.429/92.
Vejamos:

Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e administrativas previstas na


legislação específica, está o responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintes
cominações, que podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente, de acordo com a
gravidade do fato: (Redação dada pela Lei nº 12.120, de 2009).

I - na hipótese do art. 9°, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao


patrimônio, ressarcimento integral do dano, quando houver, perda da função pública,

suspensão dos direitos políticos de oito a dez anos, pagamento de multa civil de até três
vezes o valor do acréscimo patrimonial e proibição de contratar com o Poder Público ou
receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que
por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de dez anos;

Questão 7

(CESPE – 2013 – PC-DF – Escrivão de Polícia) Acerca do regime jurídico dos servidores
públicos, julgue o item subsecutivo.

O conceito de agente público para a aplicação da Lei de Improbidade Administrativa abrange


aqueles que exerçam, sem remuneração, função no âmbito da PCDF.

Certo

Errado

Comentário:

Gabarito: Certo.

37
Nos termos do artigo 2o, caput, da Lei 8429/92, para os fins da Lei de Improbidade
Administrativa, consideram-se como agentes públicos aqueles que exercem, mesmo que sem
remuneração, função nas entidades contidas no artigo 1o:
"Art. 2° Reputa-se agente público, para os efeitos desta lei, todo aquele que exerce, ainda que
transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou
qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas
entidades mencionadas no artigo anterior."

Questão 8

(CESPE – 2013 – PC-BA – Escrivão de Polícia) No que se refere aos princípios básicos da
administração pública federal, regulamentados pela Lei n. 8429/1992 e suas alterações, julgue
o item subsecutivo.

Agente público que, ao assumir cargo público, preste, pela segunda vez, falsa declaração de
bens deve ser punido com demissão, a bem do serviço público, sem prejuízo de outras
sanções cabíveis.

Certo

Errado

Comentário:
Gabarito: Certo.

Art. 13. A posse e o exercício de agente público ficam condicionados à apresentação de


declaração dos bens e valores que compõem o seu patrimônio privado, a fim de ser
arquivada no serviço de pessoal competente. (Regulamento)

§ 1° A declaração compreenderá imóveis, móveis, semoventes, dinheiro, títulos, ações, e


qualquer outra espécie de bens e valores patrimoniais, localizado no País ou no exterior,

38
e, quando for o caso, abrangerá os bens e valores patrimoniais do cônjuge ou
companheiro, dos filhos e de outras pessoas que vivam sob a dependência econômica
do declarante, excluídos apenas os objetos e utensílios de uso doméstico.

§ 2º A declaração de bens será anualmente atualizada e na data em que o agente


público deixar o exercício do mandato, cargo, emprego ou função.

§ 3º Será punido com a pena de demissão, a bem do serviço público, sem prejuízo de
outras sanções cabíveis, o agente público que se recusar a prestar declaração dos bens,
dentro do prazo determinado, ou que a prestar falsa.

Questão 9

(CESPE – 2013 – PF – Escrivão de Polícia) com relação ao direito administrativo, julgue os


itens a seguir.

O servidor público que revelar fato ou circunstância que tenha ciência em razão das suas
atribuições, e que deva permanecer em segredo, comete ato de improbidade administrativa.

( ) Certo

( ) Errado.

Comentário:
Gabarito: Certo.
Com efeito, constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os
princípios da administração pública revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão
das atribuições e que deva permanecer em segredo.

Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da
administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade,
imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente:

39
I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso daquele previsto,
na regra de competência;

II - retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício;

III - revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão das atribuições e que
deva permanecer em segredo;

Questão 10

(CESPE – 2013 – PC-BA – Investigador de Polícia) No que se refere aos princípios básicos da
administração pública federal, regulamentados pela Lei n. 8429/1992 e suas alterações, julgue
o item subsecutivo.

A probidade, que deve nortear a conduta dos administradores públicos, constitui fundamento
do princípio da eficiência.

Certo

Errado

Comentário:

Gabarito: Errado.

Essa é mais uma questão que envolve vários temas. Aqui, temos a improbidade e o que
chamamos de LIMPE.

Nesse caso, a probidade constitui um fundamento do princípio da moralidade e não da


eficiência.

40
GABARITO

Questão 1 - A

Questão 2 - B

Questão 3 - A

Questão 4 - B

Questão 5 - B

Questão 6 - D

Questão 7 - CERTO

Questão 8 - CERTO

Questão 9 – CERTO

Questão 10 – ERRADO

41
QUESTÃO DESAFIO

É possível o uso de prova emprestada na ação de improbidade?


Responda justificadamente.

Máximo de 5 linhas

42
GABARITO DA QUESTÃO DESAFIO

É possível a prova emprestada de outras searas criminal desde que ali tenha sido
observadas as garantias processuais do contraditório e da ampla defesa. A prova é
recebida como prova documental e esse fenômeno se dá em nome da celeridade e da
economia processual.

Você deve ter abordado necessariamente os seguintes itens em sua resposta:

  jurisprudência pacífica do STJ afirma que pode

A tese 12 da edição n.º 40 da “Jurisprudência em Teses” do STJ dispõe: “Nas ações de


improbidade administrativa é admissível a utilização da prova emprestada, colhida na
persecução penal, desde que assegurado o contraditório e a ampla defesa”.

A doutrina já entendia dessa forma a respeito do tema da prova emprestada: "[...] é


admissível a utilização de prova emprestada colhida na persecução penal, desde que
assegurados o contraditório e a ampla defesa,65 o que se coaduna com o art. 372 do CPC,
que exige o respeito ao contraditório para a admissão da prova emprestada."

Fonte: Neves, Daniel Amorim Assumpção Improbidade administrativa: direito material e


processual / Daniel Amorim Assumpção Neves, Rafael Carvalho Rezende Oliveira. – 8. ed. –
Rio de Janeiro: Forense, 2020. P. 297.

 prova documental e celeridade processual

A doutrina, explicando os motivos da aceitação da prova emprestada afirma que isso se


coaduna com o art. 372 do CPC e também que é inegável e que a grande valia da prova
emprestada reside na economia processual que proporciona, tendo em vista que se evita a
repetição desnecessária da produção de prova de idêntico conteúdo, a qual tende a ser
demasiado lenta e dispendiosa, notadamente em se tratando de provas periciais na realidade
do Poder Judiciário brasileiro.

43
Qualquer prova que tenha sido produzida judicialmente e materializada em um documento,
embora seja entendida como prova causal no processo em que foi produzida, será
documental – ao menos em sua forma – no processo que a receber como prova emprestada,
ainda que proveniente de um processo administrativo ou inquérito civil.

CAMPOS, Ana Cláudia Direito Administrativo Facilitado / Ana Cláudia Campos. São Paulo:
Método; Rio de Janeiro: Forense, 2019.

44
LEGISLAÇÃO COMPILADA

Improbidade Administrativa:

 Lei 8.429/92: íntegra

 LC 157/16: íntegra

Moralidade Administrativa:

 CFRB/88: art. 14, § 9º; art. 15, V; art. 37, § 4º, art. 85, V

Ação de improbidade Administrativa:

 Lei nº 7.347/85: íntegra

Prescrição:

 STJ: Súmula 634

45
JURISPRUDÊNCIA

Responsabilização de agente politico:

 RE 976566, Relator(a): Min. ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal Pleno, julgado em


13/09/2019, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-210 DIVULG 25-09-2019 PUBLIC 26-09-2019

Ementa: CONSTITUCIONAL. AUTONOMIA DE INSTÂNCIAS. POSSIBILIDADE DE


RESPONSABILIZAÇÃO PENAL E POLÍTICA ADMINISTRATIVA (DL 201/1967) SIMULTÂNEA À POR
ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA, DEVIDAMENTE TIPIFICADO NA LEI 8.429/92.
INEXISTÊNCIA DE BIS IN IDEM. 1. "Fazem muito mal à República os políticos corruptos, pois
não apenas se impregnam de vícios eles mesmos, mas os infundem na sociedade, e não
apenas a prejudicam por se corromperem, mas também porque a corrompem, e são mais
nocivos pelo exemplo do que pelo crime” (MARCO TÚLIO CÍCERO. Manual do candidato às
eleições. As leis, III, XIV, 32). 2. A norma constitucional prevista no § 4º do art. 37 exigiu
tratamentos sancionatórios diferenciados entre os atos ilícitos em geral (civis, penais e
político-administrativos) e os atos de improbidade administrativa, com determinação expressa
ao Congresso Nacional para edição de lei específica (Lei 8.429/1992), que não punisse a mera
ilegalidade, mas sim a conduta ilegal ou imoral do agente público voltada para a corrupção, e
a de todo aquele que o auxilie, no intuito de prevenir a corrosão da máquina burocrática do
Estado e de evitar o perigo de uma administração corrupta caracterizada pelo descrédito e
pela ineficiência. 3. A Constituição Federal inovou no campo civil para punir mais severamente
o agente público corrupto, que se utiliza do cargo ou de funções públicas para enriquecer ou
causar prejuízo ao erário, desrespeitando a legalidade e moralidade administrativas,
independentemente das já existentes responsabilidades penal e político-administrativa de
Prefeitos e Vereadores. 4. Consagração da autonomia de instâncias. Independentemente de as

46
condutas dos Prefeitos e Vereadores serem tipificadas como infração penal (artigo 1º) ou
infração político-administrativa (artigo 4º), previstas no DL 201/67, a responsabilidade civil por
ato de improbidade administrativa é autônoma e deve ser apurada em instância diversa. 5.
NEGADO PROVIMENTO ao Recurso Extraordinário. TESE DE REPERCUSÃO GERAL: “O processo
e julgamento de prefeito municipal por crime de responsabilidade (Decreto-lei 201/67) não
impede sua responsabilização por atos de improbidade administrativa previstos na Lei
8.429/1992, em virtude da autonomia das instâncias”.

Ação de ressarcimento

 RE 852475, Relator(a): Min. ALEXANDRE DE MORAES, Relator(a) p/ Acórdão: Min.


EDSON FACHIN, Tribunal Pleno, julgado em 08/08/2018, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-058
DIVULG 22-03-2019 PUBLIC 25-03-2019

DIREITO CONSTITUCIONAL. DIREITO ADMINISTRATIVO. RESSARCIMENTO AO ERÁRIO.


IMPRESCRITIBILIDADE. SENTIDO E ALCANCE DO ART. 37, § 5 º, DA CONSTITUIÇÃO.
1. A prescrição é instituto que milita em favor da estabilização das relações sociais.
2. Há, no entanto, uma série de exceções explícitas no texto constitucional, como a prática dos
crimes de racismo (art. 5º, XLII, CRFB) e da ação de grupos armados, civis ou militares, contra
a ordem constitucional e o Estado Democrático (art. 5º, XLIV, CRFB).
3. O texto constitucional é expresso (art. 37, § 5º, CRFB) ao prever que a lei estabelecerá os
prazos de prescrição para ilícitos na esfera cível ou penal, aqui entendidas em sentido amplo,
que gerem prejuízo ao erário e sejam praticados por qualquer agente.
4. A Constituição, no mesmo dispositivo (art. 37, § 5º, CRFB) decota de tal comando para o
Legislador as ações cíveis de ressarcimento ao erário, tornando-as, assim, imprescritíveis.
5. São, portanto, imprescritíveis as ações de ressarcimento ao erário fundadas na prática de
ato doloso tipificado na Lei de Improbidade Administrativa.
6. Parcial provimento do recurso extraordinário para (i) afastar a prescrição da sanção de
ressarcimento e (ii) determinar que o tribunal recorrido, superada a preliminar de mérito pela

47
imprescritibilidade das ações de ressarcimento por improbidade administrativa, aprecie o
mérito apenas quanto à pretensão de ressarcimento.

Ação de Improbidade:

 Pet 3240 AgR, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, Relator(a) p/ Acórdão: Min.
ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 10/05/2018, ACÓRDÃO ELETRÔNICO
DJe-171 DIVULG 21-08-2018 PUBLIC 22-08-2018

Ementa: Direito Constitucional. Agravo Regimental em Petição. Sujeição dos Agentes Políticos
a Duplo Regime Sancionatório em Matéria de Improbidade. Impossibilidade de Extensão do
Foro por Prerrogativa de Função à Ação de Improbidade Administrativa. 1. Os agentes
políticos, com exceção do Presidente da República, encontram-se sujeitos a um duplo regime
sancionatório, de modo que se submetem tanto à responsabilização civil pelos atos de
improbidade administrativa, quanto à responsabilização político-administrativa por crimes de
responsabilidade. Não há qualquer impedimento à concorrência de esferas de
responsabilização distintas, de modo que carece de fundamento constitucional a tentativa de
imunizar os agentes políticos das sanções da ação de improbidade administrativa, a pretexto
de que estas seriam absorvidas pelo crime de responsabilidade. A única exceção ao duplo
regime sancionatório em matéria de improbidade se refere aos atos praticados pelo
Presidente da República, conforme previsão do art. 85, V, da Constituição. 2. O foro especial
por prerrogativa de função previsto na Constituição Federal em relação às infrações penais
comuns não é extensível às ações de improbidade administrativa, de natureza civil. Em
primeiro lugar, o foro privilegiado é destinado a abarcar apenas as infrações penais. A suposta
gravidade das sanções previstas no art. 37, § 4º, da Constituição, não reveste a ação de
improbidade administrativa de natureza penal. Em segundo lugar, o foro privilegiado
submete-se a regime de direito estrito, já que representa exceção aos princípios estruturantes
da igualdade e da república. Não comporta, portanto, ampliação a hipóteses não
expressamente previstas no texto constitucional. E isso especialmente porque, na hipótese, não

48
há lacuna constitucional, mas legítima opção do poder constituinte originário em não instituir
foro privilegiado para o processo e julgamento de agentes políticos pela prática de atos de
improbidade na esfera civil. Por fim, a fixação de competência para julgar a ação de
improbidade no 1o grau de jurisdição, além de constituir fórmula mais republicana, é atenta
às capacidades institucionais dos diferentes graus de jurisdição para a realização da instrução
processual, de modo a promover maior eficiência no combate à corrupção e na proteção à
moralidade administrativa. 3. Agravo regimental a que se nega provimento.

Prescrição:

 REsp 1230550/PR, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEGUNDA TURMA, julgado em


20/02/2018, DJe 26/02/2018

RECURSO ESPECIAL. ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE. PRESCRIÇÃO. CONCURSO DE


AGENTES. PRAZO PRESCRICIONAL QUINQUENAL. TERMO INICIAL. ART. 23, I, DA LEI N.
8.429/1992. TÉRMINO DO MANDATO. CONTAGEM INDIVIDUALIZADA.
1. A jurisprudência desta Corte pacificou o entendimento de que o prazo de prescrição na
ação de improbidade é quinquenal, nos termos do que dispõe o art. 23, I, da Lei n.
8.429/1992.
2. Mencionado dispositivo é claro no sentido de que o início do prazo prescricional ocorre
com o término do exercício do mandato ou cargo em comissão, sendo tal prazo computado
individualmente, mesmo na hipótese de concurso de agentes, haja vista a própria natureza
subjetiva da pretensão sancionatória e do instituto em tela.
Precedentes.
3. Acórdão recorrido que se coaduna com a jurisprudência desta Corte de Justiça.
4. A divergência jurisprudencial apontada não foi comprovada nos moldes exigidos nos arts.
541, parágrafo único, do Código de Processo Civil e 255, § 2º, do Regimento Interno do STJ,
uma vez que o recorrente apenas transcreveu as ementas dos julgados que entendeu
favoráveis à sua tese, sem realizar o necessário cotejo analítico entre a fundamentação contida
nos precedentes invocados como paradigmas e no aresto impugnado.
49
5. Recurso especial conhecido em parte e, nessa extensão, não provido.

Indisponibilidade de bens:

 AgInt no REsp 1670672/RJ, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA,


julgado em 30/11/2017, DJe 19/12/2017

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. IMPROBIDADE


ADMINISTRATIVA. DECRETO DE INDISPONIBILIDADE. BEM DE FAMÍLIA.
POSSIBILIDADE. JURISPRUDÊNCIA DO STJ.
1. A jurisprudência desta Corte Superior de Justiça é assente em admitir a decretação de
indisponibilidade prevista na Lei de Improbidade Administrativa sobre bem de família.
Precedentes: AgInt no REsp 1633282/SC, Segunda Turma, Rel. Ministro Francisco Falcão, DJe
26/06/2017; AgRg no REsp 1483040/SC, Primeira Turma, Minha Relatoria, DJe 21/09/2015;
REsp 1461882/PA, Primeira Turma, Rel.
Ministro Sérgio Kukina, DJe 12/03/2015.
2. Agravo interno não provido.

50
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARVALHO FILHO, José dos Santos. MANUAL DE DIREITO ADMINSITRAVO. 30 Ed. São
Paulo: Atlas, 2016.

CARVALHO, Matheus. MANUAL DE DIREITO ADMINSITRAVO. 3 ed. Salvador: JusPODIVM,


2016.

MAZZA, Alexandre. MANUAL DE DIREITO ADMINSITRAVO – 9. ed. – São Paulo: Saraiva


Educação, 2019.

OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende. CURSO DE DIREITO ADMINISTRATIVO. 5 ed. Rio de


Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2017.

PIETRO, Maria Sylvia Zanella Di. DIREITO ADMINISTRATIVO. 32. ed. rev. atual e ampl. – Rio
de Janeiro: Forense, 2019.

51
CARREIRAS POLICIAIS

Direito Administrativo
Capítulo 16
SUMÁRIO
DIREITO ADMINISTRATIVO ........................................................................................................................................... 3

1. Intervenção do Estado na Propriedade ........................................................................................................... 3

1.1 Introdução ................................................................................................................................................................ 3

1.2 Função Social .......................................................................................................................................................... 4

1.3 Modalidades de intervenção ............................................................................................................................ 5

1.4 Desapropriação ...................................................................................................................................................... 6

1.4.1 Objeto da desapropriação: ............................................................................................................................... 7

1.4.2 Desapropriação Comum: ................................................................................................................................... 7

1.4.3 Desapropriação Especial Urbana: ................................................................................................................... 9

1.4.4 Desapropriação Especial Rural: .................................................................................................................... 11

1.4.5 Desapropriação Confisco: ............................................................................................................................... 13

1.4.6 Desapropriação Indireta: ................................................................................................................................. 15

1.4.7 Procedimento de desapropriação: .............................................................................................................. 15

1.4.8 Ação de desapropriação ................................................................................................................................. 18

1.4.9 Imissão provisória na posse .......................................................................................................................... 19

1.4.10 Juros moratórios X Juros compensatórios .............................................................................................. 20

1.4.11 Tredestinação e Retrocessão......................................................................................................................... 21

1.5 Limitação Administrativa ................................................................................................................................. 22

1.6 Servidão Administrativa ................................................................................................................................... 23

1.7 Tombamento ........................................................................................................................................................ 24

1.7.1 Classificação.......................................................................................................................................................... 25

1.7.2 Bens sujeitos ao Tombamento ..................................................................................................................... 26

1
1.7.3 Obrigações ............................................................................................................................................................ 28

1.7.4 Extinção .................................................................................................................................................................. 30

1.8 Requisição Administrativa .............................................................................................................................. 30

1.9 Ocupação temporária ....................................................................................................................................... 31

GABARITO ........................................................................................................................................................................... 58

LEGISLAÇÃO COMPILADA............................................................................................................................................ 64

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................................. 75

2
DIREITO ADMINISTRATIVO

Capítulo 16

1. Intervenção do Estado na Propriedade

1.1 Introdução

Caro leitor, esse é um tema com quase nenhuma incidência nos concursos públicos
para as carreiras de agente, escrivão e investigador de polícia. Nos últimos dez anos de
provas, temos apenas a incidência de uma questão sobre o tema – na prova de Escrivão para
a PC-MA, em 2012. Por isso, é válido verificar se esse tema é cobrado no seu edital antes de
iniciar os estudos.

O direito de propriedade garantido a todos pela Constituição da República – artigo


5°, XXII da CRFB/88 - assegura ao seu detentor as prerrogativas de usar, fruir, dispor e reaver
a coisa dominada, de modo absoluto, exclusivo e perpétuo.

O caráter exclusivo do direito de propriedade expressa-se na oponibilidade erga


omnes. Já o caráter absoluto repousa na possibilidade de ampla liberdade de utilização do
bem.

Há, ainda, o caráter de perpetuidade que decorre do fato de que o exercício deste
direito não se dá com prazo definido, devendo a qualidade de proprietário durar até que haja
a transferência a outrem, mortis causa ou por ato inter vivos.

Embora seja assegurado o direito de propriedade de forma absoluta, este deve se


compatibilizar com os interesses da coletividade, devendo cumprir a função social.

3
Cabe ao Estado a fiscalização do cumprimento da função social a propriedade. O
proprietário que desatende aos requisitos incide na prática de ato ilícito, podendo sujeitar-se à
imposição de instrumentos sancionatórios de intervenção na propriedade.

Entretanto, o descumprimento da função social não é sempre requisito para a


intervenção do Estado na propriedade privada. Alguns instrumentos de intervenção, como a
servidão e o tombamento, por exemplo, não têm caráter sancionatório, podendo recair sobre
propriedades cumpridoras da função social.

Cumpre mencionar que, sendo o poder de polícia como a prerrogativa estatal de


condicionar o uso da propriedade privada, é possível entender que as intervenções na
propriedade decorrem, desde que sejam somente restritivas do direito da propriedade.
Dessa forma, somente a desapropriação, na qual se retira a propriedade do particular, não tem
justificativa no exercício regular do poder de polícia do Estado.

Em qualquer hipótese, tais a intervenções do Estado no direito de propriedade


decorre do princípio supremacia do interesse público sobre o interesse privado.

1.2 Função Social

Sobre a função social, Maria Sylvia Zanella di Pietro estabelece que ''Hoje prevalece
o princípio da função social da propriedade, que autoriza não apenas a imposição de
obrigações de não fazer, como também as de deixar de fazer e, hoje, pela Constituição, a
obrigação de fazer, expressa no art. 182, §4°, consistente no adequado aproveitamento do
solo urbano”.

Para saber se determinada propriedade cumpre ou não sua função social é


necessário identificar, inicialmente, se trata-se de propriedade urbana ou rural. Considera-se
urbano o imóvel destinado predominantemente para fins de moradia, comércio, indústria
e serviços. Já o imóvel rural é aquele com predomínio de utilização agrária.

4
A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências
fundamentais expressas no plano diretor - art. 182, § 2º, da CRFB/88.

Já a propriedade rural cumpre a função social quando atende simultaneamente,


segundo critérios e graus definidos em lei, aos seguintes requisitos do art. 186 da CRFB/88:

1) aproveitamento racional e adequado;

2) utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do


meio ambiente;

3) observância da legislação trabalhista;

4) exploração que favoreça o bem-estar de proprietários e trabalhadores.

Quanto à propriedade pública, o cumprimento de sua função social, além dos requisitos gerais
exigidos para qualquer propriedade, deve atender à afetação específica no caso dos bens de
uso especial.

1.3 Modalidades de intervenção

Pode-se dividir as intervenções do estado na propriedade em duas modalidades.


São elas:

a) Intervenção Supressiva: o direito de propriedade do particular é suprimido


por razões de necessidade pública. A doutrina aponta a desapropriação como

5
a única forma de intervenção supressiva na propriedade regulamentada pelo
ordenamento jurídico brasileiro.

b) Intervenção Restritiva: nessa modalidade, o Estado impõe restrições e


condicionamentos ao uso da propriedade sem, contudo, retirar o direito de
propriedade do particular.

1.4 Desapropriação

A desapropriação, prevista no artigo 5º, XXIV, da Constituição Republicana de 1988,


é forma originária de aquisição de propriedade por meio da qual o Estado intervém na
propriedade modificando a titularidade do bem, transformando-o em bem público, mediante
o pagamento de prévia e justa indenização em dinheiro ao proprietário, salvo nos casos
expressamente previstos na Constituição.

O bem desapropriado chega ao acervo do Estado livre de quaisquer ônus de natureza real.
Desse modo, qualquer direito real que recaía sobre o bem fica sub-rogado no valor da
indenização.

Para que a desapropriação seja legítima, são necessários, vi de regra, a cumulação


dois requisitos: (i) o interesse público: que pode se manifestar por meio de demonstração de
utilidade ou necessidade pública e ainda em razão de interesse social; e (ii) o pagamento da
indenização.

6
Utilidade pública são as situações em que o ente público tem necessidade de
utilizar o bem diretamente – algumas situações são regulamentadas no Decreto-lei 3.365/41. A
necessidade pública se verifica nas mesmas hipóteses em que há uma urgência na solução de
um problema. Já as hipóteses de interesse social são justificadas pela necessidade de se
garantir a função social da propriedade. Esses casos são, em regra, regulamentados pela Lei
4.132/62.

1.4.1 Objeto da desapropriação:

A desapropriação pode recair sobre todos os bens de valor econômico. Admite-se,


ainda a desapropriação de direito de créditos e ações referentes a cota de sociedades em
pessoas jurídicas. Também é possível a desapropriação incidente sobre direitos reais

Por outro lado, veda-se a desapropriação de direitos personalíssimos e da moeda


corrente no país.

Em relação aos bens públicos, o Decreto-Lei 3.365/41 admite a desapropriação


desde que respeitada a chamada "hierarquia federativa", ou seja, a tomada do bem deve ser
feita do ente mais abrangente para o menos abrangente.

Por fim, vale mencionar o que dispõe a súmula 479 do Supremo Tribunal Federal:
“as margens dos rios navegáveis são domínio público, insuscetíveis de expropriação e, por isso
mesmo, excluídas de indenização".

1.4.2 Desapropriação Comum:

É a regulamentada no art. 5°, XXIV da Constituição da República de 1988, e


depende da existência de uma situação de utilidade ou necessidade pública, ou, ainda, da

7
demonstração de uma hipótese de interesse social. Além disso, deverá ser precedida de
pagamento indenização prévia, justa e em dinheiro.

Essa indenização prevista tem natureza contraprestacional pela perda da


propriedade, além de ter que abarca o valor de mercado do bem, os danos emergentes -
decorrentes da perda da propriedade – e os lucros cessantes.

É importante mencionar que quando a desapropriação for efetivada judicialmente, a


aos valores serão acrescidos os honorários advocatícios e, quando couber, os juros moratórios
e compensatórios.

Na indenização, serão considerados os acréscimos feitos no bem a título de acessões e


benfeitorias. Porém, apenas serão indenizadas estas melhorias feitas até a data da declaração
de utilidade pública ou interesse social, com exceção das benfeitorias úteis e necessárias,
pagas ainda que executadas após esta data.

Vale também mencionar alguns casos especiais:

1) Em casos de divergência entre a área registrada e a área real do imóvel, o


STJ firmou entendimento no sentido de que a indenização será calculada sobre
o espaço constante no registro;
2) Caso o imóvel possua área dotada de cobertura vegetal, esta deverá ser
indenizada com base em valor específico, desde que o proprietário demonstre
que explora economicamente os recursos vegetais, caso contrário, a
indenização será a mesma da “terra nua”;

8
3) Caso o proprietário do bem possua débitos com a fazenda pública, desde
que estes valores já estejam inscritos e ajuizados, permite-se a dedução do
quantum indenizatório para pagamento das dívidas.

A indenização decorrente da desapropriação não se confunde com a indenização devida por


responsabilidade civil do Estado. Mas, se, em decorrência da desapropriação, o particular
sofrer um dano extraordinário, poderão ser cumuladas, no mesmo processo, a indenização
decorrente da intervenção supressiva e aquela que decorre da responsabilidade civil do Estado
(RE-567708).

1.4.3 Desapropriação Especial Urbana:

A desapropriação especial urbana é uma espécie de desapropriação sancionatória,


eis que ocorre caso, via de regra, se o particular, após ser notificado para atribuir função social
a bem, nada fizer.

Ocorre mediante pagamento de indenização paga através de títulos da dívida


pública, com prazo de resgate de até 10 anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas,
assegurados o valor real da indenização e os juros legais.

Cumpre ressaltar, que a propriedade urbana deverá atender as exigências definidas


no Plano Diretor da Cidade, de forma a atender à sua função social.

O plano diretor - obrigatório para todas as cidades que possuam mais de vinte mil
habitantes, nas cidades que sejam integrantes de regiões metropolitanas ou aglomerações
urbanas, assim como nas áreas de especial interesse turístico e nos municípios inseridos na

9
área de influência de empreendimentos ou atividades com significativo impacto ambiental de
âmbito regional ou nacional - deverá ser aprovado por lei municipal, que deve ser revista a
cada dez anos, pelo menos.

Devem, ainda, ter – de forma obrigatória - plano diretor as cidades incluídas no


cadastro nacional de Municípios com áreas suscetíveis à ocorrência de deslizamentos de
grande impacto, inundações bruscas ou processos geológicos ou hidrológicos correlatos.

Nos casos em a propriedade não esteja cumprindo a função social prevista no


plano diretor da cidade, devem ser tomadas medidas, estabelecidas no Estatuto da Cidade, de
forma sucessivas e gradativas.

É facultado ao Poder Público municipal exigir ao proprietário do solo urbano não


edificado, subutilizado ou não utilizado, ou seja, que não estão cumprindo a função social que
promova seu adequado aproveitamento antes de efetivar a desapropriação.

As medidas adotadas de forma sucessiva são:1

1) Parcelamento ou edificação compulsórios: Inicialmente, o proprietário será


notificado para efetivar o parcelamento, a edificação ou a utilização
compulsória do terreno. Após a notificação, o proprietário terá 1 ano para
apresentar o projeto, protocolando-o no órgão competente, e, contados da
apresentação do projeto, terá 2 anos para começar as obras com o objetivo de
garantir a função social à propriedade.
2) IPTU progressivo: não sendo suficiente a medida anterior para garantir a
função social da propriedade, o poder público municipal poderá determinar a
aplicação de imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana
progressivo no tempo, mediante a majoração da alíquota, pelo prazo de cinco
anos consecutivos, limitada a 15%. Nesta situação, o IPTU se configura como
tributo de caráter extrafiscal, ou seja, sem interesse eminentemente
arrecadatório. Inclusive, é expressamente vedada a concessão de isenções ou

1
Vide questão 6
10
de anistia relativas a esta tributação progressiva. Ademais, de um ano para o
outro, o máximo que se pode acrescentar na alíquota é 100% do valor
anterior, ou seja, é possível a duplicação anual da alíquota, não mais do que
isso.
3) Desapropriação especial urbana: passado o prazo de cinco anos sem que o
particular tenha tomado qualquer providência no sentido que conferir função
social ao bem, o ente municipal poderá decretar a desapropriação especial
urbana, com pagamento de indenização mediante a entrega de títulos da
dívida pública, com prazo de resgate de até 10 anos, em parcelas anuais, iguais
e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais. Trata-se
de desapropriação com função sancionatória.

Após a incorporação do bem ao patrimônio público, o Município deverá proceder ao


adequado aproveitamento do imóvel no prazo de cinco anos, diretamente pelo Poder Público
ou por meio de alienação ou concessão a terceiros, observando-se, nesses casos, o devido
procedimento licitatório.

1.4.4 Desapropriação Especial Rural:

Estatuto da Terra – Lei nº 4.504/64, define os critérios de utilização dos bens


imóveis rurais para que atenda a função social. Dessa forma, a propriedade rural desempenha
a sua função social quando, de forma simultânea: (i) favorece o bem-estar dos proprietários
e dos trabalhadores, bem como os de suas famílias; (ii) mantém níveis satisfatórios de

11
produtividade; (iii) assegura a conservação dos recursos naturais; e (iv) observa as disposições
legais que regulam as justas relações de trabalho entre os que a possuem e a cultivem.

No mesmo sentido estão as determinações do artigo 186 da Constituição da


República de 1988, ao mencionar que:

“Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende,


simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos
em lei, aos seguintes requisitos:

I - aproveitamento racional e adequado;

II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação


do meio ambiente;

III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho;

IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos


trabalhadores.”

Caso a função social não esteja sendo cumprida, compete à União desapropriar por
interesse social, para fins de reforma agrária, o referido imóvel, mediante prévia e justa
indenização em títulos da dívida agrária, preservando o do valor real, resgatáveis no prazo
de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão.

As benfeitorias úteis e necessárias serão indenizadas em dinheiro.

12
Ressalta-se que a Lei Complementar 76/93 estabelece um procedimento de rito
especial, para o processo judicial de desapropriação especial para fins de reforma agrária.

Além disso, a desapropriação será efetivada, com destinação vinculada do bem


expropriado. Ou seja, só poderá ser efetivada com destinação à reforma agrária.

A Constituição, ainda elenca de forma expressa, em seu artigo 185, os imóveis


insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária que são: I - a pequena e
média propriedade rural, assim definida em lei, desde que seu proprietário não possua outra;
e II - a propriedade produtiva.

1.4.5 Desapropriação Confisco:

A Constituição estabelece duas situações diversas, tratando a expropriação de bens


móveis e de bens imóveis. Assim sendo, serão expropriados: (i) os bens móveis utilizados
para o tráfico de drogas; e (ii) os bens imóveis utilizados para plantação de psicotrópicos
ilícitos e para a exploração de trabalho escravo.

Nesse tipo de desapropriação, a lei não prevê o pagamento de qualquer espécie


de indenização.

Após a desapropriação, a destinação dos bens, sejam móveis ou imóveis, terão


destinação vinculada. Em se tratando de bens móveis, o poder público deverá revertê-los a
fundos especiais de natureza específica e, no caso de imóveis, serão destinados à reforma
agrária e a programas de habitação popular.

13
O Supremo Tribunal Federal vem decidindo no sentido de que todo o terreno será
desapropriado, ainda que o proprietário do bem utilize somente parte de seu imóvel para a
cultura ilegal de plantas psicotrópicas.

Por se tratar de expropriação diferenciada, seu procedimento segue um rito


especial, regulamentado pela Lei 8.257/91. Vejamos os pontos principais:

1) A ação deverá ser proposta pela União Federal;


2) Recebida a inicial, o Juiz determinará a citação dos expropriados, no prazo de
cinco dias, nomeando, neste ato, o perito que terá oito dias de prazo para
entregar o laudo em cartório;
3) O prazo para contestação e indicação de assistentes técnicos será de dez dias,
a contar da data da juntada do mandado de citação aos autos, devendo o Juiz
determinar a audiência de instrução e julgamento para data não superior a
quinze dias, a contar da data da contestação;
4) O magistrado poderá determinar a imissão da União, na posse do imóvel
expropriando, garantindo-se o contraditório posteriormente, durante a
audiência de justificação;
5) Na audiência de instrução e julgamento poderão ser indicadas até 5
testemunhas de cada parte e salvo motivo de força maior, devidamente
justificado, é vedado o adiamento da audiência. Excepcionalmente, poderá ser
postergada em virtude da impossibilidade de produção de toda a prova oral
no mesmo dia. Nestes casos, em nenhuma hipótese será ela marcada para
data posterior a três dias;
6) Encerrada a instrução, o Juiz prolatará a sentença em cinco dias, sendo a
mesma passível de apelação, no prazo de quinze dias, nos moldes do CPC;
7) Com o trânsito em julgado, o bem imóvel será incorporado ao patrimônio da
União Federal para que seja destinado para fins de reforma agrária ou inclusão
em programa de habitação popular.

14
Se após 120 dias, à terra expropriada não for dada a destinação prevista na Constituição,
ficará incorporada ao patrimônio da União, reservada, até que sobrevenham as condições
necessárias àquela utilização.

1.4.6 Desapropriação Indireta:

A desapropriação indireta ocorre nas situações em que o Estado invade o bem


privado sem respeitar os procedimentos administrativos e judiciais inerentes à desapropriação,
ou seja, o Estado comete ato ilícito. Também é conhecida pela doutrina com a designação de
apossamento administrativo.2

Nesses casos, dada a destinação pública ao bem, o proprietário não pode mais
reverter a situação, buscando o bem para si, restando pleitear o pagamento de justa
indenização através da Ação de Indenização por Desapropriação Indireta.

1.4.7 Procedimento de desapropriação:

1) Competência para desapropriar:

A competência para legislar acerca de desapropriação é privativa da União,

conforme o disposto no art. 22, inciso II, da Constituição da República de 1988. Porém, o
parágrafo único determina que a lei complementar poderá autorizar os estados a legislar
sobre questões específicas.

2
Vide questão 7
15
Já a competência declaratória, ou seja, a atribuição para declarar a utilidade ou
necessidade pública e o interesse social dos bens privados para fins de desapropriação será,
concorrente, de todos os entes federativos.

Há, ainda, a competência para executar a desapropriação que é atribuída ao ente


federativo que declarou a utilidade pública ou interesse social. Porém, admite-se a delegação
da competência executória para entes da Administração Indireta, para concessionárias de
serviços públicos, para consórcios públicos e para o particular contratado pelo Poder
Público para fins de execução de obras e serviços de engenharia sob os regimes de
empreitada por preço global, empreitada integral e contratação integrada.

Em relação à competência, algumas exceções devem ser mencionadas:

 A competência para declarar o interesse público na desapropriação especial


urbana é exclusiva do Município – que possua plano diretor, inclusive.
 A competência para declarar o interesse público na desapropriação especial
rural e na desapropriação confisco é exclusiva da União Federal.

2) Fases do procedimento:

O Decreto-lei 3.365/41 regulamenta o procedimento das desapropriações comuns e


o da desapropriação especial urbana, eis que a Lei nº 10.257/01 não estabelece normas para o
procedimento.

Já a desapropriação especial rural, para fins de Reforma Agrária tem o seu


procedimento regulamentado pela Lei Complementar 76/93.

16
A declaração não tem o poder de transferir a propriedade do bem objeto do ato.

O procedimento de desapropriação se dará na via administrativa se houver


consenso entre o poder público e o particular em relação ao valor indenizatório a ser pago
pelo bem. Caso haja divergência, a fase executória ocorrerá na via judicial.

O procedimento expropriatório se desenvolve em duas fases distintas:

 Fase Declaratória:

É através da declaração de utilidade pública que o Poder Público manifesta o seu


interesse na desapropriação. Essa declaração pode ser feita de duas formas, por meio de
Decreto (Decreto expropriatório, nos moldes definidos pelo art. 6°, do Decreto lei 3.365/41) ou
mediante a edição de lei de efeitos concretos – ato do Poder Legislativo.

Para que o decreto seja regular, deve observar alguns requisitos:

1) A identificação do bem objeto da desapropriação de forma detalhada,


informando, inclusive as benfeitorias;
2) Os recursos orçamentários que serão utilizados para satisfação do direito
do expropriado;
3) O motivo que deu ensejo à prática do ato, apontando o dispositivo legal
que justifica a realização da desapropriação;
4) A finalidade do ato de desapropriação, devendo ser informada qual será a
destinação do bem após sua incorporação ao patrimônio público;
5) A identificação do proprietário do bem móvel ou imóvel.

Apesar de não ter o poder de transferir a propriedade do bem objeto do ato, a


declaração sujeita a propriedade à força expropriatória do Estado.

Nesse sentido, o Poder Público pode ingressar no bem para fazer avaliações e
medições e fixar o estado do bem, bem como indicar as benfeitorias.

17
Em relação às benfeitorias, cabe mencionar que as úteis só serão indenizadas se
forem autorizadas pelo Estado. Em relação a estas benfeitorias, a indenização será devida,
mesmo que executadas após o ato declaratório.

Ainda sobre a indenização das benfeitorias, a Súmula 23 do Supremo Tribunal


Federal aduz que: “verificados os pressupostos legais para o licenciamento da obra, não o
impede a declaração de utilidade pública para desapropriação do imóvel, mas o valor da obra
não se incluirá na indenização, quando a desapropriação for efetivada.”

Ademais, a lei prevê um prazo de caducidade do ato declaratório.

A caducidade é contada a partir da data da expedição do decreto e o seu prazo


varia de acordo com a natureza da declaração expropriatória. Sendo a declaração de utilidade
ou necessidade pública o prazo será de 5 anos se neste tempo não forem iniciados os atos
de execução. Por sua vez, sendo a declaração de interesse social o prazo será de 2 anos,
caso não se execute o ato.

Passado o prazo, a declaração efetivada não poderá ser executada. Porém, o Estado
poderá realizar nova declaração, caso haja utilidade pública ou interesse social, após 1 ano.

 Fase executória:

Após a declaração, o Estado deve adotar as providências necessárias à sua efetivação no


prazo decadencial com a transferência do bem após pagamento do valor justo.

A execução pode ser feita na via administrativa caso acordo entre o Poder Público e o
proprietário quanto ao valor da indenização.

1.4.8 Ação de desapropriação

A execução na via judicial, se dá por meio da Ação de Desapropriação – segue rito


especial nos moldes do Decreto-Lei 3.365/41, que será proposta pelo Poder Público sempre

18
que não houver acordo em relação ao valor da indenização ou, ainda, se o ente
expropriante não souber quem ostenta a qualidade de proprietário do bem.

A ação, quando a União for autora, será proposta no Distrito Federal ou no foro da
Capital do Estado onde for domiciliado o réu; sendo outro o autor, no foro da situação dos
bens.

Após receber a inicial, o juiz designará um perito para proceder à avaliação dos bens,
sendo garantido ao autor e ao réu a indicação de assistente técnico do perito.

Posteriormente, será realizada a citação do proprietário por mandado, salvo se este não
for conhecido, ou estiver em lugar ignorado, incerto ou inacessível, ou, ainda, no estrangeiro,
quando a citação será feita por edital.

O réu terá o prazo de 15 dias para apresentação de defesa, a qual, no mérito, apenas
pode versar acerca do valor indenizatório ou vícios processuais. Se o réu quiser discutir a
ocorrência de vícios no ato de desapropriação, deverá fazê-lo em ação autônoma.

1.4.9 Imissão provisória na posse

Se a ação de Desapropriação for favorável ao particular, significa apenas que este


conseguiu indenizatório superior ao ofertado pelo Estado, eis que a transferência da
propriedade não é discutida nessa ação. Por essa razão o ente público pode se imitir na posse
do bem, antes do fim da ação, desde que cumpra os seguintes requisitos:

1) Declaração de urgência;
2) Depósito do valor incontroverso da indenização.

Declarada a urgência da imissão pelo Estado, este terá o prazo de 120 dias para
requerer ao juízo a imissão. Caso escoe esse prazo, a urgência não pode ser renovada.

19
Determinada judicialmente a imissão provisória – que deverá ser registrada no
registro de imóveis competente - o proprietário do bem tem direito de levantar 80% do
valor depositado pelo Estado.

Caso o proprietário levante o valor total do depósito, presume-se que o valor depositado foi
aceito e o juiz homologará o acordo, por sentença, não havendo mais a possibilidade de se
questionar o pagamento.

1.4.10 Juros moratórios X Juros compensatórios

Os juros de mora são devidos em razão da demora no cumprimento da decisão


judicial com o efetivo pagamento por parte do Estado.

A legislação e a Súmula vinculante n 17 do STF determinam que os juros moratórios


começam a incidir a partir de 1° de janeiro do ano seguinte àquele em que o precatório
deveria ter sido pago, não incidindo durante o prazo constitucional para pagamento de
precatórios judiciais, nos moldes da Constituição.

20
Ademais, os juros de mora incidem no percentual de 6% ao ano, de acordo com o
art. 15-B do Decreto-lei 3.365/41 e incidem sobre o valor que o proprietário do bem não
levanta no curso do processo.

Já os juros compensatórios começam a incidir a partir do momento em que o


particular perde a posse do bem, ou seja, a partir da data de imissão provisória na posse
efetivada pelo ente estatal (Súmula 164 – STF).3

O percentual de juros é de 12% ao ano, conforme súmula 618 do STF.

Muito se discutiu acerca da possibilidade de cumulação desses juros. Objetivando


resolver a controvérsia, o STJ editou a súmula 12 que definiu que “Em desapropriação, são
cumuláveis juros compensatórios e moratórias”.

Dessa forma, admitiu-se a cumulação de juros sobre juros.

Porém, posteriormente, o STJ reviu este posicionamento e apesar de admitir que


ambos podem incidir no mesmo processo, eles não têm aplicação simultânea, eis que os
juros compensatórios incidem a partir da imissão provisória na posse até a sentença; e os
juros de mora somente começarão a incidir, neste mesmo processo, depois de transcorrido o
prazo constitucional para pagamento de precatórios.

1.4.11 Tredestinação e Retrocessão

Quando, no ato de desapropriação, altera-se a destinação do bem, em claro desvio


de finalidade, diz-se que ocorreu a tredestinação.

Nas hipóteses em que há a mudança de destinação específica, somente, mantendo-


se a finalidade genérica, qual seja a busca do interesse público, a tredestinação será lícita.

3
Vide questão 9
21
Porém, se o ente estatal deixar de utilizar o bem no interesse social, não dando a
ele a finalidade específica para o qual havia sido desapropriado ocorre a tredestinação ilícita,
também designada pela doutrina como adestinação.

Cumpre mencionar que nos casos em que o ente público desapropria o bem,
transferindo a propriedade ao patrimônio público sem, contudo, garantir a sua utilização na
busca do interesse público, surge o direito à retrocessão do proprietário.4

Não há consenso acerca da natureza jurídica do direito à retrocessão. A parte da


doutrina que afirma ser tal direito um direito real, entende que o proprietário tem direito a
reaver o bem, mesmo que alienado a terceiros.

A outra parte entende que se trata de direito pessoal e por isso se o bem já tiver
sido alienado a terceiros a situação deve se resolver apenas em perdas e danos.

Maria Sylvia di Pietro defende que tal instituto tem natureza mista e por essa razão
o particular expropriado pode optar por reaver o bem ou por requerer a perdas e danos.

Já a jurisprudência dos tribunais superiores confere natureza real do direito de


retrocessão, ou seja, garantindo ao particular desapropriado a possibilidade de reaver o bem,
mesmo que este já tenha sido alienado a terceiros.

1.5 Limitação Administrativa

As limitações decorrem do exercício do poder de polícia do Estado, ensejando a


limitação do uso de bens privados, como forma de os adequarem às necessidades públicas.

Em suma, são normas gerais que incidem sobre os bens dos particulares limitando
a forma de utilização do bem.

4
Vide questão 2
22
Em virtude de seu caráter de generalidade, normalmente, a limitação administrativa
produz efeitos ex nunc, não retroagindo para atingir pessoas e propriedades que respeitavam
a situação anterior. É por essa razão, também, que, a princípio, não geram danos específicos;
logo, não ensejam o dever de indenização do proprietário do bem.

1.6 Servidão Administrativa

A servidão é um direito real público sobre propriedade alheia, restringindo seu


uso em favor do interesse público.

São exemplos comuns de servidão a colocação de placa com nome da rua na


fachada do imóvel; a passagem de fios e cabos pelo imóvel; a instalação de torres de
transmissão de energia em terreno privado.

Ao contrário da limitação administrativa, a servidão atinge bem determinado,


recaindo sobre bem imóvel. 5

Ademais, tal intervenção pode gerar direito à indenização desde que o


prejudicado comprove o dano.

A instituição de uma servidão pode dar-se de diversas formas:

 Por acordo entre o Poder Público e o proprietário, precedido da expedição de


decreto pelo Chefe do Poder Executivo;
 Por sentença judicial se o proprietário rejeitar a servidão adotando-se o mesmo
procedimento previsto no Decreto-Lei n. 3.365/41 para as ações expropriatórias;
 Por imposição legal.

5
Vide questão 1
23
Salvo as situações em que a servidão é instituída mediante lei, a instituição da servidão deve
ser feita mediante registro no Cartório de Registro de Imóveis, como forma de garantir
eficácia erga omnes.

Assim como nas servidões privadas, a servidão administrativa é caracterizada pela


perpetuidade, ou seja, a extinção se dá apenas em situações excepcionais, como o
desaparecimento do bem gravado, incorporação do bem ao domínio público ou manifesto
desinteresse do Estado em continuar utilizando parte do domínio alheio.

1.7 Tombamento

O tombamento é um instrumento de intervenção na propriedade com a finalidade


de preservação histórica, cultural, arqueológica, artística, turística ou paisagística do próprio
bem tombado.

Ressalta-se que o ato de tombamento é discricionário, eis que compete ao


administrador público a definição de qual bem possui valor histórico, artístico ou cultural,
ensejando a determinação da medida.

A competência para praticar os atos de tombamento de bens públicos ou privados


é concorrente entre os entes federativos.

24
Mesmo bem pode sofrer mais de um tombamento

A competência legislativa também é concorrente, devendo a União expedir apenas


as normas gerais.

1.7.1 Classificação

O tombamento pode ser:

 Voluntário: ocorre quando o proprietário pedir ou anuir - por escrito - à


notificação para o tombamento do bem;
 Compulsório: quando o proprietário se recusar a anuir. Nestes casos, instaura-
se um procedimento administrativo, nos moldes do Decreto-Lei 25/37;
 Geral: é expedida norma abstrata, atingindo uma quantidade indeterminada de
bens. É possível que este tombamento recaia sobre um bairro ou, até mesmo,
sobre uma cidade inteira;
 Individual: incide sobre um bem específico;
 Provisório: é medida cautelar administrativa determinada, no bojo do processo
administrativo de tombamento, como forma de garantir o resultado prático do
processo;
 Definitivo: ocorre ao final do procedimento, mediante transcrição no registro
do imóvel;
 Parcial: recai sobre parte do bem;
 Total: recai sobre o bem inteiro.

25
1.7.2 Bens sujeitos ao Tombamento

O tombamento pode recair sobre bens móveis ou imóveis. Há, contudo, discussão
acerca da possibilidade de tombamento de bens imateriais.

Vale destacar o posicionamento de Maria Sylvia Zanella Di Pietro: "o tombamento


pode atingir bens de qualquer natureza: móveis ou imóveis, materiais ou imateriais, públicos
ou privados".

Já para Matheus Carvalho: “a posição nos parece equivocada, haja vista não ser
possível aplicar as regras do tombamento aos bens imateriais. (...). É indiscutível que tais bens
devem gozar de proteção estatal sempre que forem relevantes à cultura ou história da nação,
no entanto o instituto do tombamento, como foi pensado pela legislação, não se coaduna
com as características dos bens incorpóreos. ”

É certo que para os bens imateriais, existe a previsão de registro nos órgãos de
proteção ao Património Histórico Artístico e Cultural que garantirá a proteção sem imposição
das exigências decorrentes do tombamento.

Cabe mencionar que o IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico


Nacional é uma autarquia federal vinculada ao Ministério do Turismo – que possui 27
superintendências – responsável pela preservação do Patrimônio Cultural Brasileiro. Cabe ao
Iphan proteger e promover os bens culturais do País, assegurando sua permanência e usufruto
para as gerações presentes e futuras. Também responde pela conservação, salvaguarda e
monitoramento dos bens culturais brasileiros inscritos na Lista do Patrimônio Mundial e
na Lista o Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, conforme convenções da Unesco,
respectivamente, a Convenção do Patrimônio Mundial de 1972 e a Convenção do Patrimônio
Cultural Imaterial de 2003.

26
Não podem ser objeto de tombamento: as obras de origem estrangeira que pertençam às
representações diplomáticas ou consulares acreditadas no país; que adornem quaisquer
veículos pertencentes a empresas estrangeiras, que façam carreira no país; que pertençam a
casas de comércio de objetos históricos ou artísticos; que sejam trazidas para exposições
comemorativas, educativas ou comerciais ou que sejam importadas por empresas estrangeiras
expressamente para adorno dos respectivos estabelecimentos.

Outra controvérsia que merece destaque diz respeito ao tombamento de bens


públicos.

Parte da doutrina não admite o tombamento de bens públicos e outra parte


determina que o tombamento deverá respeitar a "hierarquia federativa''.

O Decreto-Lei 25/37 determina que o tombamento dos bens pertencentes à União,


aos Estados e aos Municípios se fará de ofício, por ordem do diretor do Serviço do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional, mas deverá ser notificado à entidade a quem pertencer, ou sob
cuja guarda estiver a coisa tombada, a fim de produzir os necessários efeitos, não havendo
qualquer restrição ao tombamento destes bens. Esse é, inclusive, o posicionamento do STJ
(RMS 18952/RJ).6

6
Vide questão 4
27
1.7.3 Obrigações

O tombamento de um bem gera algumas obrigações que devem ser suportadas


pelo proprietário do bem tombado. Vejamos:

1) Obrigações de fazer:

 Dever de conservação: é responsabilidade do proprietário a realização de


todas as benfeitorias necessárias à conservação do bem. Se não tiver
condições financeiras de realizar a conservação, deverá informar ao poder
público.
 Dever de comunicação em caso de extravio: No caso de extravio ou furto
de qualquer objeto tombado, o respectivo proprietário deverá dar
conhecimento do fato ao Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional, dentro do prazo de cinco dias, sob pena de multa de dez por
cento sobre o valor da coisa.
 Registro especial: os negociantes de antiguidades, de obras de arte de
qualquer natureza, de manuscritos e livros antigos ou raros são obrigados a
um registro especial no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional,
cumprindo-lhes, outrossim, apresentar semestralmente ao órgão relações
completas das coisas históricas e artísticas que possuírem.

Caso o particular quisesse alienar o bem tombado, deveria, primeiramente, oferecer, em


preferência, ao Poder Público. Porém, o direito de preferência foi extinto pelo art. 1.072, I do
Código de Processo Civil que revoga expressamente o art. 22 do Decreto-lei 25/37. Desse
modo, não há mais direito de preferência do poder público sobre bens tombados, quando

28
se tratar de alienação extrajudicial. Mas, há ainda, a preferência em casos de alienações
judiciais.

2) Obrigações de não fazer:

 Retirada do país: não é possível tirar o bem do país, salvo, por curto
período de tempo para fim de intercâmbio cultural, a juízo do Conselho
Consultivo do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Caso haja
descumprimento dessa obrigação, o proprietário pagará uma multa de
cinquenta por cento do valor da coisa, que permanecerá sequestrada em
garantia do pagamento, e até que este se faça, sem prejuízo das sanções
penais cabíveis pelo cometimento do crime de contrabando.
 Não destruição: o proprietário do bem tombado não pode modifica,
destruir, mutilar ou demolir o bem tombado. Qualquer e depende de
autorização do Estado, sob pena de multa no valor de cinquenta por cento
do dano causado.

3) Obrigação de tolerar:
 Fiscalização: o proprietário do bem tem que tolerar a fiscalização
permanente pelo Poder Público.

O tombamento enseja uma servidão administrativa aos vizinhos do bem tombado, ou seja, o
vizinho não pode impedir a visualização e nem o acesso ao bem tombado, sob pena de multa
de cinquenta por cento do valor do mesmo objeto.

29
1.7.4 Extinção

 Revogação: ocorre quando não há mais interesse público na conservação


do bem;
 Anulação: caso o ato de tombamento possua algum vício em sua
constituição, seja no processo administrativo que deu ensejo à medida, seja
em algum dos elementos do ato;
 Desaparecimento do bem;
 Cancelamento: apesar de ser responsabilidade do proprietário conservar o
bem na forma em que ele se encontra, caso não tenha condições de fazê-lo,
deverá comunicar ao poder público que terá o dever de efetivar a
conservação deste bem. Mas se o poder público for omisso em sua
obrigação de tomar as medidas necessárias à conservação do bem admite-
se o cancelamento.

1.8 Requisição Administrativa

A requisição é intervenção restritiva na propriedade privada - prevista no art. 5°,


XXIII, da Carta Magna - que visa a solucionar situações de iminente perigo7, mediante a
utilização de bens privados pelo ente estatal, enquanto durar a situação de risco.

Segundo dispõe Matheus Carvalho, por se tratar de situação de perigo aplica-se o


art. 22, III, da Carta Magna, no que tange à competência legislativa, sendo esta atribuída à
União Federal, de forma exclusiva.

Cumpre destacar que a requisição goza do atributo da auto-executoriedade,


podendo ser determinada pelo poder público, independentemente da concordância do
particular ou de decisão judicial.

7
Vide questão 8
30
Ademais, a requisição só enseja o dever de indenização caso tenha sido
comprovada a existência de danos ao bem objeto da restrição, ou seja, a indenização será
sempre ulterior. 8

Em relação à requisição de bens consumíveis tem-se que: se o bem for fungível - ou seja,
puder ser substituído por outro da mesma qualidade - pode ser requisitado. Se infungível,
então será o caso de desapropriação.

1.9 Ocupação temporária

Ocupação provisória ou temporária é a modalidade de intervenção do Estado na


propriedade de bens particulares em apoio à realização de obras públicas ou à prestação de
serviços públicos, mediante utilização discricionária, autoexecutável, remunerada ou gratuita e
transitória. Pode ter como objeto bem móvel ou imóvel.

A instituição pode ocorrer mediante ato formal ou pela simples ocupação material
dispensando formalidade, nas situações desvinculadas de desapropriação.

Quanto ao motivo, a ocupação difere da requisição, pois dispensa a caracterização


de iminente perigo público, podendo ser realizada em qualquer situação de necessidade
vinculada à obra ou serviço público.

8
Vide questão 5
31
A respeito da indenização, quando a ocupação for vinculada à desapropriação, o art.
36 do Decreto-Lei n. 3.365/41 fala em ocupação remunerada, devendo-se considerar
obrigatória a indenização. Nas demais hipóteses, a regra é a ausência de indenização, exceto
se o proprietário demonstrar algum prejuízo especial decorrente do uso compulsório do bem.

32
QUADRO SINÓTICO

INTERVENÇÃO DO ESTADO NA PROPRIEDADE

Cabe ao Estado a fiscalização do cumprimento da função social a propriedade. O proprietário


que desatende aos requisitos incide na prática de ato ilícito, podendo sujeitar-se à imposição
de instrumentos sancionatórios de intervenção na propriedade.

O descumprimento da função social não é sempre requisito para a intervenção do Estado


na propriedade privada.

Em qualquer hipótese, tais a intervenções do Estado no direito de propriedade decorre do


princípio supremacia do interesse público sobre o interesse privado.

FUNÇÃO SOCIAL

A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais
expressas no plano diretor.

1) aproveitamento racional e adequado;


Já a propriedade rural cumpre a função social
2) utilização adequada dos recursos
quando atende simultaneamente, segundo naturais disponíveis e preservação do meio
critérios e graus definidos em lei, aos seguintes ambiente;
requisitos: 3) observância da legislação trabalhista;

4) exploração que favoreça o bem-estar de


proprietários e trabalhadores.

MODALIDADES DE INTERVENÇÃO

A desapropriação, prevista no artigo 5º, XXIV, da Constituição Republicana


DESAPROPRIAÇÃO
de 1988, é forma originária de aquisição de propriedade por meio da

33
qual o Estado intervém na propriedade modificando a titularidade do
bem, transformando-o em bem público, mediante o pagamento de prévia
e justa indenização em dinheiro ao proprietário, salvo nos casos
expressamente previstos na Constituição.

As limitações decorrem do exercício do poder de polícia do Estado,


ensejando a limitação do uso de bens privados, como forma de os
adequarem às necessidades públicas.

São normas gerais que incidem sobre os bens dos particulares limitando
LIMITAÇÃO
a forma de utilização do bem.
ADMINISTRATIVA
Em virtude de seu caráter de generalidade, normalmente, a limitação
administrativa produz efeitos ex nunc. É por essa razão, também, que, a
princípio, não geram danos específicos; logo, não ensejam o dever de
indenização do proprietário do bem.

A servidão é um direito real público sobre propriedade alheia,


restringindo seu uso em favor do interesse público.

Atinge bem determinado, recaindo sobre bem imóvel, bens móveis e


serviços

Pode gerar direito à indenização desde que o prejudicado comprove o


SERVIDÃO dano.
ADMINISTRATIVA
Desaparecimento do bem
Assim como nas servidões privadas, a
gravado;
servidão administrativa é caracterizada
pela perpetuidade. A extinção se dá
Incorporação do bem ao
apenas em situações excepcionais:
domínio público;

34
Manifesto desinteresse do
Estado em continuar utilizando
parte do domínio alheio.

O tombamento é um instrumento de intervenção na propriedade com a


finalidade de preservação histórica, cultural, arqueológica, artística,
turística ou paisagística do próprio bem tombado.
O ato de tombamento é discricionário.

A competência para praticar os atos de tombamento de bens públicos


ou privados e a competência para legislar são concorrentes entre os
entes federativos.

O tombamento pode recair sobre bens móveis ou imóveis.

Apesar da divergência doutrinária, para os bens imateriais, existe a


previsão de registro nos órgãos de proteção ao Património Histórico
Artístico e Cultural que garantirá a proteção sem imposição das
exigências decorrentes do tombamento.
TOMBAMENTO
Dever de
conservação

Dever de
Obrigações de comunicação
fazer: em caso de
Gera algumas obrigações que devem
extravio
ser suportadas pelo proprietário do
Registro
bem tombado.
especial

Retirada do
Obrigações de país
não-fazer:
Não destruição

35
Obrigação de
Fiscalização
suportar:

Revogação: ocorre quando não


há mais interesse público na
conservação do bem

Anulação: caso o ato de


tombamento possua algum vício
em sua constituição, seja no
processo administrativo que deu
ensejo à medida, seja em algum
dos elementos do ato
Desaparecimento do bem

EXTINÇÃO Cancelamento: apesar de ser


responsabilidade do proprietário
conservar o bem na forma em
que ele se encontra, caso não
tenha condições de fazê-lo,
deverá comunicar ao poder
público que terá o dever de
efetivar a conservação deste
bem. Mas se o poder público for
omisso em sua obrigação de
tomar as medidas necessárias à
conservação do bem admite-se
o cancelamento.

REQUISIÇÃO A requisição é intervenção restritiva na propriedade privada - prevista no


ADMINISTRATIVA art. 5°, XXIII, da Carta Magna - que visa a solucionar situações de
iminente perigo, mediante a utilização de bens privados pelo ente estatal,

36
enquanto durar a situação de risco.

Goza do atributo da auto-executoriedade, podendo ser determinada pelo


poder público, independentemente da concordância do particular ou de
decisão judicial.

Só enseja o dever de indenização caso tenha sido comprovada a


existência de danos ao bem objeto da restrição, ou seja, a indenização
será sempre ulterior

É a modalidade de intervenção do Estado na propriedade de bens


particulares em apoio à realização de obras públicas ou à prestação de
serviços públicos, mediante utilização discricionária, autoexecutável,
remunerada ou gratuita e transitória.
OCUPAÇÃO
TEMPORÁRIA Pode ter como objeto bem móvel ou imóvel.

A instituição pode ocorrer mediante ato formal ou pela simples ocupação


material dispensando formalidade, nas situações desvinculadas de
desapropriação.

DESAPROPRIAÇÃO
É forma originária de aquisição de propriedade por meio da qual o Estado intervém na
propriedade modificando a titularidade do bem, transformando-o em bem público, mediante o
pagamento de prévia e justa indenização em dinheiro ao proprietário.

O bem desapropriado chega ao acervo do Estado livre de quaisquer ônus de natureza real.

Pode recair sobre todos os bens de valor econômico.

É possível a desapropriação incidente sobre direitos reais.

Veda-se a desapropriação de direitos personalíssimos e da moeda


OBJETO
corrente no país.

Em relação aos bens públicos, o Decreto-Lei 3.365/41 admite a


desapropriação desde que respeitada a chamada "hierarquia

37
federativa".

É a regulamentada no art. 5°, XXIV da Constituição da República de


1988, e depende da existência de uma situação de utilidade ou
necessidade pública, ou, ainda, da demonstração de uma hipótese de
interesse social. Além disso, deverá ser precedida de pagamento
DESAPROPRIAÇÃO
indenização prévia, justa e em dinheiro.
COMUM
Essa indenização prevista tem natureza contraprestacional pela perda
da propriedade, além de ter que abarca o valor de mercado do bem, os
danos emergentes - decorrentes da perda da propriedade – e os lucros
cessantes.

A desapropriação especial urbana é uma espécie de desapropriação


sancionatória.

Ocorre mediante pagamento de indenização paga através de títulos da


dívida pública, com prazo de resgate de até 10 anos, em parcelas
anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e
os juros legais.

É facultado ao Poder Público municipal exigir ao proprietário do solo


urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, ou seja, que não

DESAPROPRIAÇÃO estão cumprindo a função social que promova seu adequado


ESPECIAL URBANA aproveitamento antes de efetivar a desapropriação.

Parcelamento ou edificação compulsórios:


Inicialmente, o proprietário será notificado para
efetivar o parcelamento, a edificação ou a

MEDIDAS utilização compulsória do terreno. Após a


SUCESSIVAS notificação, o proprietário terá 1 ano para
apresentar o projeto, protocolando-o no órgão
competente, e, contados da apresentação do
projeto, terá 2 anos para começar as obras com o

38
objetivo de garantir a função social à propriedade.

IPTU progressivo: não sendo suficiente a medida


anterior para garantir a função social da
propriedade, o poder público municipal poderá
determinar a aplicação de imposto sobre a
propriedade predial e territorial urbana progressivo
no tempo, mediante a majoração da alíquota, pelo
prazo de cinco anos consecutivos, limitada a
15%. Nesta situação, o IPTU se configura como
tributo de caráter extrafiscal, ou seja, sem
interesse eminentemente arrecadatório. Inclusive, é
expressamente vedada a concessão de isenções
ou de anistia relativas a esta tributação progressiva.
Ademais, de um ano para o outro, o máximo que
se pode acrescentar na alíquota é 100% do valor
anterior, ou seja, é possível a duplicação anual da
alíquota, não mais do que isso.
Desapropriação especial urbana: passado o
prazo de cinco anos sem que o particular tenha
tomado qualquer providência no sentido que
conferir função social ao bem, o ente municipal
poderá decretar a desapropriação especial urbana,
com pagamento de indenização mediante a
entrega de títulos da dívida pública, com prazo de
resgate de até 10 anos, em parcelas anuais, iguais
e sucessivas, assegurados o valor real da
indenização e os juros legais. Trata-se de
desapropriação com função sancionatória.
Caso a função social não esteja sendo cumprida, compete à União

DESAPROPRIAÇÃO desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o


ESPECIAL RURAL referido imóvel, mediante prévia e justa indenização em títulos da
dívida agrária, preservando o do valor real, resgatáveis no prazo de até

39
vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão.

A desapropriação será efetivada, com destinação vinculada do bem


expropriado. Ou seja, só poderá ser efetivada com destinação à reforma
agrária.

A Constituição, ainda elenca de forma expressa, em seu artigo 185, os


imóveis insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária
que são: I - a pequena e média propriedade rural, assim definida em
lei, desde que seu proprietário não possua outra; e II - a propriedade
produtiva.

A Constituição estabelece duas situações diversas, tratando a


expropriação de bens móveis e de bens imóveis. Assim sendo, serão
expropriados: (i) os bens móveis utilizados para o tráfico de drogas; e
(ii) os bens imóveis utilizados para plantação de psicotrópicos ilícitos
e para a exploração de trabalho escravo.

DESAPROPRIAÇÃO Nesse tipo de desapropriação, a lei não prevê o pagamento de


CONFISCO qualquer espécie de indenização.

Após a desapropriação, a destinação dos bens, sejam móveis ou imóveis,


terão destinação vinculada. Em se tratando de bens móveis, o poder
público deverá revertê-los a fundos especiais de natureza específica e,
no caso de imóveis, serão destinados à reforma agrária e a programas
de habitação popular.

A desapropriação indireta ocorre nas situações em que o Estado invade


DESAPROPRIAÇÃO
o bem privado sem respeitar os procedimentos administrativos e
INDIRETA
judiciais inerentes à desapropriação, ou seja, o Estado comete ato ilícito.

A competência para legislar acerca de


PROCEDIMENTO COMPETÊNCIA
DE desapropriação é privativa da União.

40
DESAPROPRIAÇÃO A competência declaratória, ou seja, a atribuição
para declarar a utilidade ou necessidade pública e o
interesse social dos bens privados para fins de
desapropriação será, concorrente, de todos os entes
federativos.

A competência para executar a desapropriação é


atribuída ao ente federativo que declarou a utilidade
pública ou interesse social. Porém, admite-se a
delegação da competência executória para entes
da Administração Indireta, para concessionárias de
serviços públicos, para consórcios públicos e para
o particular contratado pelo Poder Público.

O procedimento de desapropriação se dará na via


administrativa se houver consenso entre o poder
OCORRÊNCIA
público e o particular em relação ao valor
indenizatório a ser pago pelo bem.

É através da declaração de
utilidade pública que o Poder
Público manifesta o seu interesse
na desapropriação. Essa declaração
pode ser feita de duas formas, por
meio de Decreto ou mediante a
FASES DECLARATÓRIA edição de lei de efeitos concretos –

ato do Poder Legislativo.


A declaração sujeita a propriedade
à força expropriatória do Estado. O
Poder Público pode ingressar no
bem para fazer avaliações e
medições e fixar o estado do
41
bem, bem como indicar as
benfeitorias.
A caducidade do ato declaratório é
contada a partir da data da
expedição do decreto Se a
declaração def. utilidade ou
necessidade pública o prazo será
de 5 anos; sendo a declaração de
interesse social o prazo será de 2
anos.
Passado o prazo, o Estado poderá
realizar nova declaração, caso haja
utilidade pública ou interesse
social, após 1 ano.
Após a declaração, o Estado deve
adotar as providências necessárias

EXECUTÓRIA à sua efetivação no prazo


decadencial com a transferência do
bem após pagamento do valor
justo.
A execução na via judicial, se dá por meio da Ação de Desapropriação –
segue rito especial nos moldes do Decreto-Lei 3.365/41, que será
proposta pelo Poder Público sempre que não houver acordo em
relação ao valor da indenização ou, ainda, se o ente expropriante não
souber quem ostenta a qualidade de proprietário do bem.
AÇÃO DE
A defesa do réu, no mérito, apenas pode versar acerca do valor
DESAPROPRIAÇÃO
indenizatório ou vícios processuais. Se o réu quiser discutir a
ocorrência de vícios no ato de desapropriação, deverá fazê-lo em
ação autônoma.

42
O ente público pode se imitir na Declaração de urgência;
posse do bem, antes do fim da
ação, desde que cumpra os Depósito do valor incontroverso da

seguintes requisitos: indenização.

IMISSÃO Declarada a urgência da imissão pelo Estado, este terá o prazo de 120
PROVISÓRIA NA dias para requerer ao juízo a imissão. Caso escoe esse prazo, a urgência
POSSE
não pode ser renovada.

Determinada judicialmente a imissão provisória – que deverá ser


registrada no registro de imóveis competente - o proprietário do bem
tem direito de levantar 80% do valor depositado pelo Estado.

Os juros de mora são devidos em razão da demora no cumprimento da


decisão judicial com o efetivo pagamento por parte do Estado, no
percentual de 6% ao ano e incidem sobre o valor que o proprietário
do bem não levanta no curso do processo.

JUROS
Já os juros compensatórios começam a incidir a partir do momento em
MORATÓRIOS
que o particular perde a posse do bem, ou seja, a partir da data de
X
JUROS imissão provisória na posse efetivada pelo ente estatal, no percentual de

COMPENSATÓRIOS 12% ao ano.

O STJ entende que ambos podem incidir no


CUMULAÇÃO DE
mesmo processo, porém, eles não têm
JUROS
aplicação simultânea.

Quando, no ato de desapropriação, altera-se a destinação do bem, em

TREDESTINAÇÃO claro desvio de finalidade, diz-se que ocorreu a tredestinação.


Nas hipóteses em que há a mudança de destinação específica, somente,

43
mantendo-se a finalidade genérica, qual seja a busca do interesse
público, a tredestinação será lícita.

Porém, se o ente estatal deixar de utilizar o bem no interesse social, não


dando a ele a finalidade específica para o qual havia sido desapropriado
ocorre a tredestinação ilícita, também designada pela doutrina como
adestinação.

Nos casos em que o ente público desapropria o bem, transferindo a


propriedade ao patrimônio público sem, contudo, garantir a sua
RETROCESSÃO
utilização na busca do interesse público, surge o direito à retrocessão
do proprietário.

44
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

( FCC - 2019 - METRÔ-SP - Analista Desenvolvimento Gestão Júnior – Administração de


Empresas) Uma empresa privada venceu licitação para construir e explorar uma linha elevada
de monotrilho. Todavia, ao iniciar a execução da obra, observou que o traçado planejado
passaria sobre terrenos privados ainda não construídos, atualmente explorados para plantio de
hortaliças pelos respectivos proprietários, incentivados por programa municipal de horta
urbana, que lhes concede isenção do IPTU. Sabe-se que a operação da linha elevada não
impedirá a continuidade dessa exploração pelos proprietários, ressalvada a ocupação
temporária de parcela dos terrenos, durante a execução das obras. O instituto adequado para
promover a intervenção na propriedade, no caso em tela, é

A) o tombamento.

B) a desapropriação.

C) a requisição administrativa.

D) a servidão administrativa.

E) o arrendamento compulsório.

Comentário:

A servidão é um direito real público sobre propriedade alheia, restringindo seu


uso em favor do interesse público.

45
São exemplos comuns de servidão a colocação de placa com nome da rua na
fachada do imóvel; a passagem de fios e cabos pelo imóvel; a instalação de torres de
transmissão de energia em terreno privado.

Ao contrário da limitação administrativa, a servidão atinge bem determinado,


recaindo sobre bem imóvel, bens móveis e serviços.

Questão 2

(CESPE - 2019 - TJ-PA - Juiz de Direito Substituto.) Assinale a opção que indica a
denominação dada ao direito do expropriado de exigir de volta o imóvel objeto de
desapropriação na hipótese de o poder público não dar o destino adequado ao bem
desapropriado.

A) desapropriação indireta

B) enfiteuse

C) tredestinação

D) retrocessão

E) servidão administrativa

Comentário:

Nos casos em que o ente público desapropria o bem, transferindo a propriedade ao


patrimônio público sem, contudo, garantir a sua utilização na busca do interesse público,
surge o direito à retrocessão do proprietário.

46
Questão 3

(VUNESP - 2019 - Câmara de Mauá - SP - Procurador Legislativo) No que concerne à


desapropriação, é correto afirmar que o Supremo Tribunal Federal publicou a seguinte Súmula:

A) Os honorários de advogado em desapropriação direta são calculados sobre a diferença


entre a indenização e a oferta, sem correção monetária.

B) Nas ações de desapropriação não se incluem as parcelas relativas aos juros compensatórios
e moratórios.

C) É necessária prévia autorização do Ministro de Minas e Energia para desapropriação, pelos


Estados, de empresa de energia elétrica.

D) Pela demora no pagamento do preço da desapropriação não cabe indenização


complementar além dos juros.

E) Na indenização por desapropriação não se incluem honorários do advogado do


expropriado.

Comentário:

Pela relevância da questão, vale analisar todas as alternativas propostas pela


questão:

a) Errado:

Trata-se de assertiva que destoa da Súmula 141 do STJ, que assim enuncia:

"Os honorários de advogado em desapropriação direta são calculados sobre a


diferença entre a indenização e a oferta, corrigidas monetariamente."

b) Errado:

Desta vez, a afirmativa diverge do teor da Súmula 131 do STJ:

47
"Nas ações de desapropriação incluem-se no cálculo da verba advocatícia as
parcelas relativas aos juros compensatórios e moratórios, devidamente corrigidas."

c) Errado:

Esta opção viola o entendimento contida na Súmula 157 do STF:

"Súmula 157. É necessária prévia autorização do Presidente da República para


desapropriação, pelos Estados, de empresa de energia elétrica."

d) Certo:

A afirmativa está alinhada à Súmula 416 do STF:

"Súmula 416. Pela demora no pagamento do preço da desapropriação não cabe


indenização complementar além dos juros."

e) Errado:

A divergência, agora, relaciona-se à Súmula 378 do STF, in verbis:

"Súmula 378. Na indenização por desapropriação incluem-se honorários do


advogado do expropriado."

Questão 4

(VUNESP - 2019 - Prefeitura de São José dos Campos - SP - Procurador) A respeito da


Requisição, Servidão Administrativa e Tombamento, assinale a alternativa correta.

A) As servidões administrativas podem incidir sobre bens imóveis, móveis e direitos.

B) As requisições administrativas incidem sobre bens móveis ou serviços de particulares, não


podendo incidir sobre bens imóveis.

48
C) De acordo com o STJ, como não há dispositivo expresso proibindo a hierarquização para o
tombamento, os municípios podem tombar bens públicos estaduais.

D) O tombamento pode ser voluntário ou compulsório, mas não pode ser instituído de ofício.

E) O tombamento geral ou global depende da individualização de todos os bens no ato do


tombamento e exige a prévia notificação de cada proprietário, de acordo com o STJ.

Comentário:

Parte da doutrina não admite o tombamento de bens públicos e outra parte


determina que o tombamento deverá respeitar a "hierarquia federativa''.

O Decreto-Lei 25/37 determina que o tombamento dos bens pertencentes à União,


aos Estados e aos Municípios se fará de ofício, por ordem do diretor do Serviço do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional, mas deverá ser notificado à entidade a quem pertencer, ou sob
cuja guarda estiver a coisa tombada, a fim de produzir os necessários efeitos, não havendo
qualquer restrição ao tombamento destes bens. Esse é, inclusive, o posicionamento do STJ
(RMS 18952/RJ).

Questão 5

(FGV - 2019 - MPE-RJ - Analista do Ministério Público - Processual) O Prefeito do


Município Alfa editou decreto no qual informava que o Poder Público utilizaria, por seis
meses, os serviços e as instalações do único hospital privado da região. A decisão decorreu do
fato de o nosocômio ter informado que cessaria o atendimento dos pacientes do Sistema
Único de Saúde, o que comprometeria o serviço de saúde no Município.

À luz da sistemática legal, a situação narrada caracteriza:

49
A) requisição administrativa, que não exige autorização do Poder Judiciário e acarreta o dever
de indenização posterior;

B) ocupação temporária, que exige prévia autorização do Poder Judiciário e não demanda
indenização;

C) desapropriação, devendo ser antecedida de prévia e justa indenização;

D) servidão administrativa ao direito de propriedade, que exige autorização do Poder


Judiciário e reembolso dos gastos;

E) ilegalidade, pois é típica situação de intervenção no domínio econômico, caracterizando


desapropriação indireta.

Comentário:

Cumpre destacar que a requisição goza do atributo da auto-executoriedade,


podendo ser determinada pelo poder público, independentemente da concordância do
particular ou de decisão judicial.
Ademais, a requisição só enseja o dever de indenização caso tenha sido
comprovada a existência de danos ao bem objeto da restrição, ou seja, a indenização será
sempre ulterior.

Questão 6

(COPEVE-UFAL - 2019 - Prefeitura de Porto Calvo - AL - Procurador Jurídico) João Costa,


proprietário de imóvel urbano não edificado no Município XYZ, tomou conhecimento em
junho de 2018 que seu imóvel seria desapropriado pelo município em razão do
descumprimento da função social da propriedade, sem prévia notificação para cumprimento
dessa obrigação em anos anteriores. Nesse contexto, é correto afirmar:

50
A) agiu incorretamente o município, visto que a desapropriação, na hipótese descrita, seria de
competência privativa da União.

B) agiu incorretamente o município, visto que a desapropriação, na hipótese descrita, seria de


competência privativa do Estado.

C) agiu corretamente o município, visto que a notificação prévia somente seria exigível em
caso de imóvel subutilizado, sendo dispensável no caso descrito.

D) agiu corretamente o município, visto que a função social da propriedade é princípio


fundamental da política urbana na Constituição Federal, justificando essa medida.

E) agiu incorretamente o município, visto que a desapropriação somente seria admissível após
prévia notificação e, sucessivamente, aplicação de IPTU progressivo no tempo.

Comentário:
A propriedade urbana deve atender as exigências definidas no Plano Diretor da
Cidade, de forma a atender à sua função social. Nesse sentido, o art. 182 da Constituição
Federal estabelece que "A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público
municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno
desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus habitantes".

Por sua vez, o art. 182. § 4º, da Constituição Federal dispõe que:

§ 4º É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área


incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não
edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob
pena, sucessivamente, de:

I - parcelamento ou edificação compulsórios;

51
II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo;

III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão


previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em
parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais.

Diante do exposto, conclui-se que o município agiu incorretamente, visto que a


desapropriação somente seria admissível após prévia notificação e, sucessivamente, aplicação
de IPTU progressivo no tempo.

Questão 7

(COPEVE-UFAL - 2019 - Prefeitura de Porto Calvo - AL - Procurador Jurídico) Um


município, mediante lei, realiza o alargamento de algumas de suas vias públicas por meio de
ocupação administrativa dos recuos frontais (calçadas) de propriedades particulares situadas
ao longo dessas mesmas vias, sem indenização prévia. Essa situação configura

A) expropriação.

B) desapropriação direta.

C) desapropriação indireta.

D) desapropriação sancionatória.

E) limitação administrativa genérica.

Comentário:

A desapropriação indireta ocorre nas situações em que o Estado invade o bem


privado sem respeitar os procedimentos administrativos e judiciais inerentes à desapropriação,

52
ou seja, o Estado comete ato ilícito. Também é conhecida pela doutrina com a designação de
apossamento administrativo.

Questão 8

(Quadrix - 2019 - CREA-GO - Analista) Com relação à legislação, julgue o item.

No caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade


particular, estando assegurada ao proprietário indenização ulterior se houver prejuízo.

Certo
Errado

Comentário:

A requisição é intervenção restritiva na propriedade privada - prevista no art. 5°,


XXIII, da Carta Magna - que visa a solucionar situações de iminente perigo, mediante a
utilização de bens privados pelo ente estatal, enquanto durar a situação de risco.

Questão 9

(VUNESP - 2019 - Prefeitura de Valinhos - SP - Procurador) Com relação à desapropriação,


assinale a alternativa que contenha corretamente uma Súmula do Supremo Tribunal Federal.

A) A declaração de utilidade pública para desapropriação do imóvel impede o licenciamento


da obra e o valor desta será incluído na indenização.

B) No processo de desapropriação, são devidos juros compensatórios desde a antecipada


imissão de posse, ordenada pelo juiz, por motivo de urgência.

53
C) Pela demora no pagamento do preço da desapropriação caberá indenização complementar
além dos juros.

D) Na indenização por desapropriação não se incluem honorários do advogado do


expropriado.

E) Não será necessária a prévia autorização do Presidente da República para desapropriação,


pelos Estados, de empresa de energia elétrica.

Comentário:

A questão exige conhecimento das Súmulas do Supremo Tribunal Federal


relacionadas à desapropriação. Vamos analisar cada uma das assertivas:

Alternativa "a": Errada. Súmula 23: Verificados os pressupostos legais para o


licenciamento da obra, não o impede a declaração de utilidade pública para desapropriação
do imóvel, mas o valor da obra não se incluirá na indenização, quando a desapropriação for
efetivada.

Alternativa "b": Correta. Súmula 164: No processo de desapropriação, são devidos


juros compensatórios desde a antecipada imissão de posse, ordenada pelo juiz, por motivo de
urgência.

Alternativa "c": Errada. Súmula 416: Pela demora no pagamento do preço da


desapropriação não cabe indenização complementar além dos juros.

Alternativa "d": Errada. Súmula 378: Na indenização por desapropriação incluem-se


honorários do advogado do expropriado.

54
Alternativa "e": Errada. Súmula 157: É necessária prévia autorização do Presidente da
República para desapropriação, pelos Estados, de empresa de energia elétrica.

Questão 10

(MPE-SC - 2019 - MPE-SC - Promotor de Justiça - Vespertina) O tombamento é um dos


instrumentos previstos para a proteção de bens integrantes do patrimônio histórico, mas
somente gera os seus efeitos no final do processo administrativo, com o tombamento
definitivo do bem.

Certo

Errado

Comentário:

O tombamento pode ter caráter preventivo, gerando imediatamente os seus efeitos,


evitando que o imóvel seja demolido durante a existência do procedimento administrativo
para o seu tombamento definitivo. (APELAÇÃO CIVEL: AC 7341 MT 1999.01.00.007341-7)

55
Questão 11

(FGV – 2012 – PC-MA – Escrivão de Polícia) Com vistas a construir uma nova praça pública,
com ginásio esportivo e instalações para o lazer de crianças, o município “X" desapropria
diversos imóveis comerciais. Jackson, empresário que teve a maior parte do seu
empreendimento comercial desapropriado, exige que o Poder Público o indenize também pelo
restante do terreno, que não foi incluído na desapropriação. Jackson argumenta que a
pequena área restante é inócua, após a expropriação da maior parte da área comercial.

A respeito da situação descrita, assinale a afirmativa correta.

A) Tem-se, no caso, exemplo de desapropriação indireta, devendo o município “X" indenizar


Jackson pela área remanescente.

B) Jackson não tem direito a indenização suplementar, uma vez que o município não se
utilizará da área remanescente, podendo o empresário tentar vender o imóvel.

C) O expropriado pode exigir a aplicação do direito de extensão, isto é, que a desapropriação


inclua a área remanescente do bem, provando que sua utilização é difícil ou inócua.

D) O empresário pode exigir ser mantido em área de tamanho mínimo necessário à


exploração comercial, uma vez que o município optou por não desapropriar inteiramente o
terreno.

E) Com a declaração de utilidade pública para fins de expropriação, o Poder Público poderá,
em caso de urgência, iniciar obras na propriedade antes de proposta a ação judicial, visto que
o decreto de desapropriação é auto-executável.

Comentário:

Gabarito: Letra “C”.

56
Isso porque uma vez que o Estado desapropriou somente uma parte da propriedade de
Jackson, sobrando uma fração da área que restou inócua, o proprietário tem o direito de
exigir que a desapropriação se estenda ao que restou do bem (direito de extensão).

57
GABARITO

Questão 1 - D

Questão 2 - D

Questão 3 - D

Questão 4 - C

Questão 5 - A

Questão 6 - E

Questão 7 - C

Questão 8 - CERTO

Questão 9 – B

Questão 10 – ERRADO

Questão 11 – C

58
QUESTÃO DESAFIO

O tombamento é compulsório? Quais bens são passíveis de


tombamento? O Poder Público é obrigado a arcar com a

manutenção do bem tombado?

Máximo de 5 linhas

59
GABARITO DA QUESTÃO DESAFIO

Tombamento pode ser compulsório ou voluntário, quando o particular consente com a


intervenção. Pode recair sobre bens móveis ou imóveis. O ônus da manutenção do
bem tombado cabe ao particular proprietário da coisa, exceto se ele
comprovadamente não possuir meios, caso em que recorrerá à Administração.

Você deve ter abordado necessariamente os seguintes itens em sua resposta:

 Tombamento pode ser compulsório ou voluntário

O tombamento pode ser voluntário ou compulsório, provisório ou definitivo. Ocorre o


tombamento voluntário quando o proprietário consente no tombamento, seja por meio de
pedido que ele mesmo formula ao Poder Público, seja concordando voluntariamente com a
proposta de tombamento que lhe é dirigida pelo Poder Público. "O tombamento
compulsório ocorre quando o Poder Público realiza a inscrição do bem como tombado,
mesmo diante da resistência e do inconformismo do proprietário.", segundo Alexandrino.

Os dois tipos testão previstos nos art. 7 a 9 do decreto lei 25/37, vejamos:

"Art. 7º Proceder-se-à ao tombamento voluntário sempre que o proprietário o pedir e a


coisa se revestir dos requisitos necessários para constituir parte integrante do patrimônio
histórico e artístico nacional, a juízo do Conselho Consultivo do Serviço do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional, ou sempre que o mesmo proprietário anuir, por escrito, à
notificação, que se lhe fizer, para a inscrição da coisa em qualquer dos Livros do Tombo.

Art. 8º Proceder-se-á ao tombamento compulsório quando o proprietário se recusar a


anuir à inscrição da coisa.

Art. 9º O tombamento compulsório se fará de acôrdo com o seguinte processo:

1) o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, por seu órgão competente,


notificará o proprietário para anuir ao tombamento, dentro do prazo de quinze dias, a

60
contar do recebimento da notificação, ou para si o quisér impugnar, oferecer dentro do
mesmo prazo as razões de sua impugnação.

2) no caso de não haver impugnação dentro do prazo assinado. que é fatal, o diretor
do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional mandará por símples despacho que
se proceda à inscrição da coisa no competente Livro do Tombo.

3) se a impugnação for oferecida dentro do prazo assinado, far-se-á vista da mesma,


dentro de outros quinze dias fatais, ao órgão de que houver emanado a iniciativa do
tombamento, afim de sustentá-la. Em seguida, independentemente de custas, será o
processo remetido ao Conselho Consultivo do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional, que proferirá decisão a respeito, dentro do prazo de sessenta dias, a contar do
seu recebimento. Dessa decisão não caberá recurso."

FONTE: ALEXANDRINO, Marcelo Direito administrativo descomplicado I Marcelo


Alexandrino, Vicente Paulo. - 25. ed. rev. e atual. - Rio de Janeiro : Forense; São Paulo :
MÉTODO, 2017. p. 1172..

 bens móveis e imóveis

Segundo a professora Licínia, os bens móveis e imóveis existentes no País cuja conservação
seja de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil,
quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico, só
serão considerados parte integrante do patrimônio histórico e artístico nacional depois de
inscritos separada ou agrupadamente num dos quatro Livros do Tombo.

Este é o teor do art. 1 do DL 25/37, vejamos:

Art. 1º Constitue o patrimônio histórico e artístico nacional o conjunto dos bens móveis e
imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interesse público, quer por sua
vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor
arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico.

61
Interessante jurisprudência sobre o tema que, apesar de não ser recente, continua em
debate:

"Tombamento de bem imóvel para limitar sua destinação às atividades artístico-


culturais. Preservação a ser atendida por meio de desapropriação. Não pelo emprego da
modalidade do chamado tombamento de uso. Recurso da Municipalidade do qual não se
conhece, porquanto não configurada a alegada contrariedade, pelo acórdão recorrido, do
disposto no art. 216, § 1º, da Constituição (RE 21.9292, rel. Min. Octavio Gallotti, j. 7-12-
1999, 1ª T., DJ 23-6-2000)."

FONTE: ROSSI, Licínia Manual de direito administrativo / Licinia Rossi. – 6. ed. – São Paulo :
Saraiva Educação, 2020. p. 1269.

 proprietário deve reparar se tiver condições

Conforme art. 19 do DL n. 25/37, caberá ao particular proprietário do bem tombado a


manutenção do mesmo, vejamos:

Art. 19. O proprietário de coisa tombada, que não dispuser de recursos para proceder às
obras de conservação e reparação que a mesma requerer, levará ao conhecimento do
Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional a necessidade das mencionadas obras,
sob pena de multa correspondente ao dobro da importância em que for avaliado o dano
sofrido pela mesma coisa.

Pela leitura do art. 19 entende-se que caso não disponha de recursos é que o particular
iniciará processo solicitando ao Serviço de Patrimônio a realização das obras de reparo.

A questão já chegou ao STJ, caso de pessoas que dispõe de recursos mas não querem
dispender do seu patrimônio para reparar as obras. No entanto o referido tribunal ratificou
a literalidade do art. 19 do DL n. 25/37, vejamos:

"A responsabilidade de reparar e conservar o imóvel tombado é do proprietário, salvo


quando demonstrado que ele não dispõe de recurso para proceder à reparação." STJ. 2ª

62
Turma. AgRg no AREsp 176140-BA, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 18/10/2012 (Info
507).

CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Responsabilidade pela conservação do imóvel


tombado. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/fb7b9ffa5462084c5f4e7
e85a093e6d7>. Acesso em: 18/07/2020.

63
LEGISLAÇÃO COMPILADA

Função social:

 CRFB/88: art. 5°, XXII, 182, §2 e 4°; 186

Desapropriação:

 CFRB/88: art. 5º, XXIV, art. 22, II, art. 185, art. 186
 Decreto-lei 3.365/41
 Lei 4.132/62
 STF: súmula nº 23, nº 479, SV nº 17
 STJ: súmula nº 12
 Lei nº 4.504/64
 Lei Complementar 76/93
 Lei 8.257/91

Servidão Administrativa:

 STJ: Súmula 634

Requisição Administrativa:

 CFRB/88: art. 5°, XXIII,

Tombamento:

 Decreto-Lei 25/37
64
JURISPRUDÊNCIA

Desapropriação Indireta:

 REsp 1653169/RJ, Rel. Ministra REGINA HELENA COSTA, PRIMEIRA TURMA, julgado
em 19/11/2019, DJe 11/12/2019

PROCESSO CIVIL. CONSTITUCIONAL. AMBIENTAL. ADMINISTRATIVO. CÓDIGO DE PROCESSO


CIVIL DE 1973. APLICABILIDADE. RECURSO ESPECIAL.
INTERPOSIÇÃO PELA ALÍNEA C DO PERMISSIVO CONSTITUCIONAL. DISSÍDIO
JURISPRUDENCIAL NOTÓRIO. EXIGÊNCIAS LEGAIS E REGIMENTAIS. MITIGAÇÃO.
AÇÃO DE DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA. PRETENSÃO INDENIZATÓRIA. NATUREZA PESSOAL.
CABIMENTO. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.
I - Consoante o decidido pelo Plenário desta Corte na sessão realizada em 09.03.2016, o
regime recursal será determinado pela data da publicação do provimento jurisdicional
impugnado. In casu, aplica-se o Código de Processo Civil de 1973.
II - No que toca à admissibilidade do recurso interposto com fulcro na alínea c do permissivo
constitucional, esta Corte Superior possui orientação pacífica segundo a qual, em se tratando
de dissídio jurisprudencial notório, revela-se possível a mitigação das exigências legais e
regimentais acerca da demonstração da divergência pretoriana. Precedentes.
III - A despeito de existir orientação nesta Corte Superior, no sentido de que a ação de
desapropriação indireta, ante seu caráter real, não seria adequada para a postulação de
reparação decorrente de limitações administrativas, pretensão de natureza pessoal, busca-se
nela a satisfação de direito pessoal, cuja a gênese está em ato estatal praticado face a direito

65
real de titularidade do particular, devendo ser observados os princípios da instrumentalidade
das formas e da primazia da solução integral do mérito. Doutrina.
IV - Recurso especial provido.

 REsp 1770001/AM, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA,


julgado em 05/11/2019, DJe 07/11/2019
ADMINISTRATIVO. CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. ENUNCIADO
ADMINISTRATIVO 3/STJ. INTERVENÇÃO DO ESTADO NA PROPRIEDADE.
DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA. ESBULHO POSSESSÓRIO PRATICADO POR TERCEIROS.
INVIABILIDADE DE IMPUTAÇÃO AO ESTADO. INEXISTÊNCIA DE INCORPORAÇÃO AO
PATRIMÔNIO ESTADUAL.
1. Não se imputa ao Poder Público a responsabilidade integral por alegada desapropriação
indireta quando, em gleba cuja ocupação por terceiros apresenta situação consolidada e
irreversível, limita-se a realizar serviços públicos de infraestrutura, sem que tenha concorrido
para o esbulho ocasionado exclusivamente por particulares.
2. Assim, na medida em que o Poder Público não pratica o ato ilícito denominado
"apossamento administrativo" nem, portanto, toma a propriedade do bem para si, não deve
responder pela perda da propriedade em desfavor do particular, ainda que realize obras e
serviços públicos essenciais para a comunidade instalada no local.
3. Recurso especial provido.

 EREsp 1575846/SC, Rel. Ministro OG FERNANDES, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em


26/06/2019, DJe 30/09/2019
PROCESSO CIVIL. ADMINISTRATIVO. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL.
DESAPROPRIAÇÃO. INDIRETA. NATUREZA. AÇÃO INDENIZATÓRIA DE DIREITO REAL.
PRESCRIÇÃO. APLICAÇÃO ANALÓGICA DO PRAZO DE USUCAPIÃO.
REGRA. PRAZO DECENAL. CONSTRUÇÃO DE OBRAS OU IMPLANTAÇÃO DE SERVIÇOS DE
UTILIDADE PÚBLICA OU INTERESSE SOCIAL. PRESUNÇÃO RELATIVA.

66
POSSIBILIDADE DE PROVA EM SENTIDO CONTRÁRIO. PRAZO DE QUINZE ANOS.
EXCEÇÃO.
1. Conforme a jurisprudência, é irrelevante para o conhecimento dos embargos de divergência
o fato de não estar o acórdão paradigma transitado em julgado.
2. A divergência entre os órgãos fracionários deste Colegiado é evidente. Para a Primeira
Turma, o prazo é de 15 anos, na medida em que o parágrafo único do art. 1.238 do Código
Civil destina-se especificamente a regular os direitos do posseiro particular que ocupa o
imóvel para uso residencial ou produtivo. Para a Segunda Turma, o prazo de 10 anos de
referido dispositivo é plenamente aplicável à desapropriação indireta, por presumir-se a
implementação pelo Poder Público de obras ou serviços de utilidade pública ou interesse
social.
3. O conceito de desapropriação indireta retrata situação fática em que a Administração, sem
qualquer título legítimo, ocupa indevidamente a propriedade privada. Incorporado de forma
irreversível e plena o bem particular ao patrimônio público, resta ao esbulhado apenas a ação
indenizatória por desapropriação indireta.
4. A jurisprudência conferiu a essa ação indenizatória caráter de direito real, equiparando seu
prazo prescricional ao da ocorrência de usucapião em favor do ente público.
5. A adoção das regras de Direito Privado decorre unicamente de construção jurisprudencial.
Para aplicação ao Direito Administrativo de normas do Código Civil de 2002 destinadas a
regular relações estritamente particulares, é preciso interpretá-las de forma temperada. No
caso da desapropriação indireta, inexiste sequer norma positiva no Direito Administrativo, não
podendo se exigir da lei civil essa disposição.
6. Todo o sentido do Código Civil é pela ponderação entre os direitos de propriedade do
particular e o interesse coletivo. No equilíbrio entre eles, está a função social da propriedade.
Assim, plenamente aplicável o parágrafo único às hipóteses de desapropriação indireta, por
presunção de haver o Estado implantado obras ou serviços de caráter social ou utilidade
pública.
7. A presunção é relativa, podendo ser afastada pela demonstração efetiva de inexistência de
referidas obras ou serviços.
67
8. Em regra, portanto, o prazo prescricional das ações indenizatórias por desapropriação
indireta é decenal. Admite-se, excepcionalmente, o prazo prescricional de 15 anos, caso
concreta e devidamente afastada a presunção legal.
9. No caso dos autos, o acórdão da origem demonstra tratar-se de desapropriação indireta
pela construção de rodovia, hipótese de incidência da regra geral. A obra foi realizada em
1976. O decreto de utilidade pública editado em 1994 interrompeu a prescrição.
Aplicando-se a regra de transição do Código Civil de 2002, o prazo prescricional de 10 anos
teve início em 11/1/2003. Tendo a presente ação sido ajuizada em agosto de 2013, é forçoso
o reconhecimento da prescrição.
10. Embargos de divergência providos.

Desapropriação:
 REsp 1668058/ES, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA,
julgado em 08/06/2017, DJe 14/06/2017

PROCESSO CIVIL E TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL. ENUNCIADO ADMINISTRATIVO N. 3/STJ.


DESAPROPRIAÇÃO. AQUISIÇÃO ORIGINÁRIA DE PROPRIEDADE. EXIGIBILIDADE DE TRIBUTOS
ANTERIORES À AO ATO DESAPROPRIATÓRIO. AUSÊNCIA DE RESPONSABILIDADE DO ENTE
EXPROPRIANTE.
RECURSO ESPECIAL NÃO PROVIDO.
1. No caso em tela o recorrente exige do ente expropriante, em execução fiscal, os tributos
(IPTU e Taxa de Limpeza Pública de Coleta de Resíduos Sólidos) incidentes sobre o imóvel
desapropriado, derivados de fatos geradores ocorridos anteriormente ao ato expropriatório.
2. Considerando o período de ocorrência do fato gerador de tais tributos, e, levando-se em
consideração que a desapropriação é ato de aquisição originária de propriedade, não há a
transferência de responsabilidade tributária prevista no artigo 130 do CTN ao ente
expropriante.

68
3. Recurso especial não provido.

 REsp 1368773/MS, Rel. Ministro OG FERNANDES, Rel. p/ Acórdão Ministro HERMAN


BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 06/12/2016, DJe 02/02/2017
ADMINISTRATIVO. SENDO A DESISTÊNCIA DA DESAPROPRIAÇÃO DIREITO DO EXPROPRIANTE,
O ÔNUS DA PROVA DA EXISTÊNCIA DE FATO IMPEDITIVO DO SEU EXERCÍCIO
(IMPOSSIBILIDADE DE RESTAURAÇÃO DO IMÓVEL AO ESTADO ANTERIOR) É DO
EXPROPRIADO. ACÓRDÃO RECORRIDO QUE NÃO ESTABELECEU A EXISTÊNCIA DE PROVA DA
IMPOSSIBILIDADE DA DEVOLUÇÃO DO IMÓVEL ÀS SUAS CONDIÇÕES ORIGINAIS. NÃO
INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7/STJ.
DESISTÊNCIA QUE DEVE SER HOMOLOGADA. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.
HISTÓRICO DA DEMANDA 1. Com autorização dada pela Aneel, a Cesp ajuizou diversas ações
de desapropriação de imóveis para formação do lago de usina hidrelétrica, entre as quais
quatro relativas a imóveis da recorrida. Posteriormente, registra o acórdão recorrido, foram
formulados pedidos de desistência das desapropriações, diante do fato de que, por imposição
do Ibama, a cota de inundação foi diminuída de 259m para 257m, de sorte que os imóveis
foram excluídos da área a ser inundada pelo lago da Usina Hidrelétrica Sérgio Motta.
2. Nos autos da Ação de Desapropriação 021.00.020712-1 foi fixada indenização que hoje
monta a cerca de 970 milhões de reais pela inclusão na reparação do direito de exploração
mineral de sílex, areia industrial e cascalho.
RELAÇÃO ENTRE OS RECURSOS ESPECIAIS 3. Existem dois Recursos Especiais oriundos dessa
desapropriação.
Este REsp 1.368.773 tem origem em Agravo de Instrumento oferecido contra decisão que não
homologou pedido de desistência formulado em 1º grau, tendo o TJMS decidido que a
desistência era, em tese, possível, mas "desde que o desistente comprove que a inundação
não afetou fisicamente o imóvel expropriando nem comprometeu a sua finalidade econômica,
circunstância não ocorrida na espécie". O REsp 1.527.256, por sua vez, foi interposto nos autos
da própria ação de desapropriação, discutindo questões ligadas à indenização fixada.

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4. Provido o REsp 1.368.773, com a consequente homologação do pedido de desistência
formulado em 1º grau, o REsp 1.527.256 fica prejudicado.
É POSSÍVEL A DESISTÊNCIA DA DESAPROPRIAÇÃO A QUALQUER TEMPO, DESDE QUE NÃO
SEJA IMPOSSÍVEL O IMÓVEL SER UTILIZADO COMO ANTES 5. A jurisprudência do STJ
consolidou-se no sentido de que é possível a desistência da desapropriação, a qualquer
tempo, mesmo após o trânsito em julgado, desde que ainda não tenha havido o pagamento
integral do preço e o imóvel possa ser devolvido sem alteração substancial que impeça que
seja utilizado como antes.
Entendimento fixado a partir do REsp 38.966/SP, Rel. Min. Antônio de Pádua Ribeiro, Segunda
Turma, julgado em 21/2/1994.
A DESISTÊNCIA É DIREITO DO EXPROPRIANTE E A IMPOSSIBILIDADE É FATO IMPEDITIVO DO
SEU EXERCÍCIO - QUESTÃO JURÍDICA - NÃO INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7/STJ 6. A alegada
violação ao art. 267, VIII, do CPC/1973 é passível de conhecimento, não havendo óbice trazido
pela Súmula 7/STJ. O problema se resolve por uma questão de direito, pertinente ao ônus da
prova.
7. O acórdão recorrido imputou indevidamente à desapropriante o ônus de provar que o
imóvel de cuja expropriação pretende desistir não foi afetado fisicamente ou em sua finalidade
econômica.
8. Se a desapropriação se faz por utilidade pública ou interesse social, uma vez que o imóvel
já não se mostre indispensável para o atingimento dessas finalidades, deve ser, em regra,
possível a desistência da desapropriação, com a ressalva do direito do atingido à ação de
perdas e danos. Essa desistência só não será possível se já tiver sido pago integralmente o
preço, pois nessa hipótese já terá se consolidado a transferência da propriedade do
expropriado para o expropriante, ou se tiverem sido feitas alterações de tal monta no imóvel
que impeçam que ele possa ser utilizado como antes.
9. A regra é a possibilidade de desistência da desapropriação.
Contra essa, pode ser alegado fato impeditivo do direito de desistência, consistente na
impossibilidade de o imóvel ser devolvido como recebido ou com danos de pouca monta.
10. Por ser fato impeditivo do direito de o expropriante desistir da desapropriação, é ônus do
70
expropriado provar sua existência, por aplicação da regra que vinha consagrada no art. 333, II,
do CPC/1973, hoje repetida no art. 373 do CPC/2015.
O ACÓRDÃO RECORRIDO NÃO ESTABELECEU A IMPOSSIBILIDADE DE RESTITUIÇÃO DO
IMÓVEL AO SEU ESTADO ANTERIOR 11. O acórdão recorrido não dispôs como fato que estava
provado ser inviável restituir o imóvel como se encontrava antes. O que ele estabeleceu é que
a Cesp não tinha feito essa prova, tanto que deixou aberta a possibilidade de novo pedido de
desistência no futuro, como se vê do trecho final do voto do relator: "Ressalvo, contudo, que,
em sendo comprovado, sem sombra de dúvidas, após a conclusão da fase de instrução
processual, que realmente não foram nem serão afetados os imóveis da requerida pelas
diversas fases do represamento, obviamente que a desistência poderá ser requerida
novamente, para que o processo não se transforme em meio de enriquecimento ilícito da
exproprianda" (fls. 989-990).
EMENTA DO ACÓRDÃO RECORRIDO JÁ MOSTRA A INVERSÃO INDEVIDA DO ÔNUS DA
PROVA 12. A própria ementa do acórdão recorrido afirma que "É possível, diante do interesse
público, a desistência de ação expropriatória de área localizada em região de alagamento de
usina hidrelétrica, mesmo após a fase de contestação e reconvenção, ainda que já tenha sido
levantado o depósito indenizatório prévio, mas desde que o desistente comprove que a
inundação não afetou fisicamente o imóvel expropriando nem comprometeu a sua finalidade
econômica, circunstância não ocorrida na espécie" (fl. 991).
DAS QUATRO DESAPROPRIAÇÕES DE ÁREAS CONTÍGUAS, O TJMS HOMOLOGOU A
DESISTÊNCIA DE DUAS 13. Eram quatro as ações de desapropriação ajuizadas pela Cesp
contra a mesma empresa. Além dos processos 021.00.020712-1 e 021.00.030741-0, ainda em
curso, havia os processos 021.00.020711-3 e 021.00.000013-3, nos quais a desistência das
desapropriações foi homologada pelo Tribunal de Justiça do Mato Grosso do Sul.
14. A homologação da desistência da desapropriação 021.00.000013-3 foi feita nos autos do
Agravo 020.02.007781-0, que recebeu a ementa: "AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE
DESAPROPRIAÇÃO - INDEFERIMENTO DO PEDIDO DE DESISTÊNCIA DA AÇÃO -
DESAPROPRIAÇÃO DO IMÓVEL QUE DEIXOU DE SER ÚTIL E NECESSÁRIA - PREVALÊNCIA DO
INTERESSE PÚBLICO SOBRE O PARTICULAR - RECURSO PROVIDO. Desaparecendo o interesse
71
público em desapropriar certa área, em virtude da limitação da cota de operação e com o
não-alcance do mesmo imóvel pelas águas da represa, deve ser deferido o pedido de
desistência da ação, já que não se pode obrigar a agravante a adquirir um bem imóvel com
dinheiro público e, tampouco, condená-la a pagar indenização por algo que não precisa nem
deve integrar seu patrimônio, visto que prevalece o interesse coletivo sobre o particular".
15. E do voto consta a observação: "... é de se estranhar o presente caso, já que diverso dos
outros casos de desapropriação que chegam ao Poder Judiciário, neste o expropriado quer
seja o bem adquirido pelo expropriante. Se a agravada valoriza tanto o bem e dele retira um
quantum monetário que lhe interessa, através de exploração de minerais, deveria então estar
sendo a favor da desistência" .
OBRIGAR O PODER PÚBLICO A FICAR COM BEM DE QUE NÃO PRECISA VIOLA A
CONSTITUIÇÃO 16. A Constituição, no seu art. 5º, XXIV, estabelece que "a lei estabelecerá o
procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse
social". Obrigar o poder público a ficar com um bem de que não precisa certamente não
atende nenhuma dessas finalidades, mas apenas o interesse particular do expropriado que,
aparentemente, acredita que jamais conseguirá obter com a venda de cascalho e produtos do
gênero o valor bilionário arbitrado como indenização.
INVERTER O ÔNUS DA PROVA VIOLA O DEVIDO PROCESSO LEGAL E O PRINCÍPIO DA
PREPONDERÂNCIA DO INTERESSE PÚBLICO 17. Da mesma forma, na hipótese dos autos,
inverter o ônus da prova em detrimento do ente público viola a cláusula do devido processo
legal, estabelecida no art. 5º, LIV, da Constituição; foi o que fez o acórdão recorrido. E, no
caso, há o agravante de que é até intuitivo que, não sendo mais inundada a área, a mineração
poderá ser retomada, razão pela qual mais lógico ainda é exigir que seja a empresa a ter o
ônus de demonstrar a impossibilidade de voltar a exercer a atividade de areia industrial,
cascalho e sílex no local.
18. Em última ratio, é a coletividade que terá de pagar cerca de um bilhão de reais por
direitos minerários que, é razoável pensar, se tivessem mesmo esse valor, seriam bem
recebidos de volta por seu titular.
CONCLUSÃO 19. Como a regra é a possibilidade de desistência da desapropriação, o
72
desistente não tem de provar nada para desistir, cabendo ao expropriado requerer as perdas e
danos a que tiver direito por ação própria. Pretendendo o réu, porém, impedir a desistência,
poderá alegar que não há condição de o bem ser devolvido no estado em que recebido ou
com danos de pouca monta, mas é seu o ônus da prova.
20. No caso concreto, não cabia à Cesp fazer a prova pretendida pelo acórdão recorrido. Ela,
como expropriante, tinha o direito de desistir da desapropriação, com base no art. 267, VIII, do
CPC/1973, podendo a Aeroceânica buscar a reparação de perdas e danos em ação própria. Se
esta pretendia impedir a desistência sob o fundamento de que a sua atividade mineradora
tinha sido inviabilizada, cabia a ela provar esse fato impeditivo do direito de desistência e não
o contrário.
21. Recurso Especial parcialmente conhecido, no que tange à alegação de violação ao art. 267,
VIII, do CPC/1973, e, nessa parte, provido para homologar o pedido de desistência da
desapropriação formulado pela Cesp em 1º grau, ressalvado o direito da Aeroceânica
promover ação de perdas e danos para reparação de prejuízos que eventualmente lhe
tenham, concretamente, sido causados.

Limitação Administrativa:
 AgRg no REsp 1317806/MG, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA,
julgado em 06/11/2012, DJe 14/11/2012

ADMINISTRATIVO. CEMIG DISTRIBUIÇÃO S/A. DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA. NÃO


CONFIGURAÇÃO. NECESSIDADE DO EFETIVO DE APOSSAMENTO E DA IRREVERSIBILIDADE DA
SITUAÇÃO. NORMAS AMBIENTAIS. LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVA. ESVAZIAMENTO
ECONÔMICO DA PROPRIEDADE. AÇÃO DE DIREITO PESSOAL. PRESCRIÇÃO QUINQUENAL.
1. Não há desapropriação indireta sem que haja o efetivo apossamento da propriedade pelo
Poder Público. Desse modo, as restrições ao direito de propriedade, impostas por normas
ambientais, ainda que esvaziem o conteúdo econômico, não se constituem desapropriação
indireta.
2. O que ocorre com a edição de leis ambientais que restringem o uso da propriedade é a

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limitação administrativa, cujos prejuízos causados devem ser indenizados por meio de uma
ação de direito pessoal, e não de direito real, como é o caso da ação em face de
desapropriação indireta.
3. Assim, ainda que tenha havido danos aos agravantes, em face de eventual esvaziamento
econômico de propriedade, devem ser indenizados pelo Estado, por meio de ação de direito
pessoal, cujo prazo prescricional é de 5 anos, nos termos do art. 10, parágrafo único, do
Decreto-Lei n. 3.365/41. Agravo regimental improvido.

Tombamento:
 ACO 1208 AgR, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em
24/11/2017, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-278 DIVULG 01-12-2017 PUBLIC 04-12-2017
Agravo em ação cível originária. 2. Administrativo e Constitucional. 3. Tombamento de bem
público da União por Estado. Conflito Federativo. Competência desta Corte. 4. Hierarquia
verticalizada, prevista na Lei de Desapropriação (Decreto-Lei 3.365/41). Inaplicabilidade no
tombamento. Regramento específico. Decreto-Lei 25/1937 (arts. 2º, 5º e 11). Interpretação
histórica, teleológica, sistemática e/ou literal. Possibilidade de o Estado tombar bem da União.
Doutrina. 5. Lei do Estado de Mato Grosso do Sul 1.526/1994. Devido processo legal
observado. 6. Competências concorrentes material (art. 23, III e IV, c/c art. 216, § 1º, da CF) e
legislativa (art. 24, VII, da CF). Ausência de previsão expressa na Constituição Estadual quanto à
competência legislativa. Desnecessidade. Rol exemplificativo do art. 62 da CE. Proteção do
patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico regional. Interesse estadual. 7.
Ilegalidade. Vício de procedimento por ser implementado apenas por ato administrativo.
Rejeição. Possibilidade de lei realizar tombamento de bem. Fase provisória. Efeito meramente
declaratório. Necessidade de implementação de procedimentos ulteriores pelo Poder
Executivo. 8. Notificação prévia. Tombamento de ofício (art. 5º do Decreto-Lei 25/1937).
Cientificação do proprietário postergada para a fase definitiva. Condição de eficácia e não de
validade. Doutrina. 9. Ausência de argumentos capazes de infirmar a decisão agravada. 10.
Agravo desprovido. 11. Honorários advocatícios majorados para 20% do valor atualizado da
causa à época de decisão recorrida (§ 11 do art. 85 do CPC).

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARVALHO FILHO, José dos Santos. MANUAL DE DIREITO ADMINSITRAVO. 30 Ed. São
Paulo: Atlas, 2016.
CARVALHO, Matheus. MANUAL DE DIREITO ADMINSITRAVO. 3 ed. Salvador: JusPODIVM,
2016.
MAZZA, Alexandre. MANUAL DE DIREITO ADMINSITRAVO – 9. ed. – São Paulo: Saraiva
Educação, 2019.
OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende. CURSO DE DIREITO ADMINISTRATIVO. 5 ed. Rio de
Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2017.
PIETRO, Maria Sylvia Zanella Di. DIREITO ADMINISTRATIVO. 32. ed. rev. atual e ampl. – Rio
de Janeiro: Forense, 2019.

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