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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO..................................................................................... 4

2 PLANEJAMENTO ................................................................................ 5

3 A ESTRUTURA DE UM SETOR DE PLANEJAMENTO TÉCNICO ..... 6

3.1 Setor de planejamento e setor de arquitetura ............................... 6

3.2 Setor de planejamento e setor financeiro ...................................... 7

3.3 O setor de planejamento e o setor contábil ................................... 8

3.4 O setor de planejamento e o setor de processamento de dados .. 8

3.5 O setor de planejamento e o setor de tesouraria .......................... 9

3.6 O setor de planejamento e o setor de compras .......................... 10

3.7 O setor de planejamento e o setor de engenharia-obras ............ 11

3.8 O Setor De Planejamento Técnico Na Empresa De Construção 12

3.9 Fluxograma Do Sistema .............................................................. 13

4 1ª FASE – VIABILIDADE DA CONSTRUÇÃO................................... 15

4.1 Setor de Promoção e Comercialização ....................................... 15

4.2 Setor Financeiro .......................................................................... 16

4.3 Setor Arquitetônico ...................................................................... 16

5 OBRAS DE GRANDE PORTE........................................................... 29

6 A CONSTRUÇÃO CIVIL .................................................................... 30

7 CONTEXTUALIZAÇÃO DOS RCC NO BRASIL ................................ 40

8 O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E A CONTRUÇÃO CIVIL 42

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8.1 O desenvolvimento sustentável .................................................. 42

8.2 A Construção Civil ....................................................................... 46

9 CANTEIRO DE OBRA ....................................................................... 50

9.1 Tipos de canteiros de obras e seus componentes ...................... 51

9.2 Projetos constituintes da obra ..................................................... 57

9.3 Administração de materiais e de equipamentos em canteiros de


obras.............. .................................................................................................... 64

10 REFERÊNCIAs .............................................................................. 71

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1 INTRODUÇÃO

Prezado aluno!

O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é


semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase
improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor
e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado.
O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos
ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar,
as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão
respondidas em tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da
nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à
execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da
semana e a hora que lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!

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2 PLANEJAMENTO

O processo de produção converte insumos em produtos, mas o resultado


final nem sempre é o mesmo que o esperado. Isso ocorre porque, em cada processo
produtivo, são necessárias uma série de condições para atingir as características
especificadas, as quais podem alterar desde temperaturas, umidade,
especificações de matérias-primas, tempo de processamento, tipo de equipamento,
qualidade da mão-de-obra, entre outras, até o fornecimento em tempo hábil destas
condições (FILHO et al., 2004).
Planejar a produção pode ser compreendido como a antecipação de todos
os fatores que competem à transformação intencional de insumos em produtos,
assim como das consequências deste processo (FILHO et al., 2004).
O processo de produção na construção civil transforma insumos como mão-
de-obra, cimento, areia, cal, brita, aço, tijolos, asfalto, tintas, madeira, telhas,
equipamentos, ferramentas e máquinas, entre outros tantos, em apartamentos,
casas, prédios industriais, estradas, pontes, escolas, etc (FILHO et al., 2004).
Em um processo construtivo, envolvendo inúmeros fatores que precisam
ser administrados do mesmo modo que qualquer outro tipo de produção, usando o
planejamento e controle da produção para que os objetivos da empresa sejam
alcançados. No entanto, em muitos casos, as ferramentas do PCP são mal
utilizadas ou ineficientes, desperdiçando o potencial produtivo das empresas
(FILHO et al., 2004).
Para Marchesan (2001) apud Filho et. al. (2004), o processo de produção
na construção civil acaba sendo dirigido por planos informais, preparados pelos
executores da obra que, muitas vezes, são distintos dos planos formais.
Analisa-se que há um descompasso entre os encarregados pelo
planejamento e os responsáveis pela execução da obra; então os planos podem
apresentar incompatibilidades com a situação real da execução; outro fato é que
quando os planos ficam fora de controle, terminam como entulho no escritório da

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obra. Mesmo que as apreensões principais das empresas da construção civil sejam
a realização de prazos e orçamentos, se não houver um planejamento e controle da
produção hábil, torna-se muito difícil cumprir tais contratos, porque certamente as
condições previstas não ocorrerão (FILHO et al., 2004).
Todo resultado proveniente do sistema de planejamento e controle da
produção se transforma em conhecimento, quando é avaliado corretamente; de
outro modo, não proporciona o diagnóstico da verdadeira condição da produção
(FILHO et al., 2004).

3 A ESTRUTURA DE UM SETOR DE PLANEJAMENTO TÉCNICO

Atualmente, o planejamento é um dos fundamentais fatores para o sucesso


de qualquer negócio. Referente à construção predial, faz-se necessário um sistema
que possa canalizar informações e saberes dos mais diferentes setores e,
posteriormente, direcioná-los de que todas essas informações e saberes sejam
usados para a construção. O setor de planejamento técnico aparece justamente
desta necessidade de organização, deste complexo que á um empreendimento de
construção predial. Com relação às empresas de construção, o setor de
planejamento técnico interliga-se com quase todos os outros setores da empresa.
Para que se conheça como esta engrenagem funciona, descrevemos a seguir o
relacionamento do planejamento com os outros setores (GOLDMAN, 2004).

3.1 Setor de planejamento e setor de arquitetura

A primeira influência cumprida pelo setor de planejamento no setor de


arquitetura é em relação à escolha de especificações a serem adotadas nas obras.

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Isto porque as facilidades ou dificuldades encontradas pela obra no
cumprimento de determinados materiais, como, por exemplo, se os materiais são
de boa qualidade ou mais baratos que os similares, são informações e imputações
do setor de planejamento técnico. A perfeita coordenação do projeto arquitetônico
com outros projetos (cálculo estrutural, instalações, outros) também é pertinente do
planejamento. A responsabilidade na busca de novos materiais e serviços ligados
à economia nos custos são atribuições que o planejamento deve dividir com o setor
de arquitetura (GOLDMAN, 2004).

https://portogente.com.br

3.2 Setor de planejamento e setor financeiro

No setor financeiro, o planejamento na maior parte das vezes fornece


informações quanto à viabilidade econômica do empreendimento em relação ao
custo de construção adquirido pelo orçamento detalhado da obra, pelo cronograma
físico-financeiro e pelo custo de construção de cada unidade do empreendimento

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obtido da execução da NBR 12721, antiga NB 140. Além disso, o planejamento
também fornece as previsões de gastos da construção em períodos de interesse e
as documentações técnicas necessárias ao pedido de financiamento (GOLDMAN,
2004).

3.3 O setor de planejamento e o setor contábil

É no âmbito contábil que o planejamento recebe os dados relativos aos


custos reais de construção, para que possa avaliar, planejar e controlar os custos
das obras. Também apropria todas as despesas de construção num sistema de
codificações por item de serviços e o emite mensalmente ao setor de planejamento.

O setor de planejamento também pode fornecer dados ao setor referentes


às construções, sempre que preciso, como no auxílio de dados de fiscalização
contábil (GOLDMAN, 2004).

3.4 O setor de planejamento e o setor de processamento de dados

Os computadores eletrônicos são de grande valia para o departamento de


planejamento, principalmente na execução de serviços, tais como:

• Orçamentos
• Cronogramas físico-financeiros
• NBR12721
• Controle cie materiais e serviços
• Controle de despesas de construção

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• Concorrências
• Previsões financeiras
• Projetos
• Gestão de contratos
• Relatórios gerenciais físico-financeiros (GOLDMAN, 2004).

Estes serviços são praticamente todos elaborados por microcomputadores,


até mesmo nas empresas de pequeno porte (GOLDMAN, 2004).
A elaboração dos projetos de arquitetura, cálculo estrutural e projetos de
instalações com o uso informática estão em processo de crescimento no Brasil
(GOLDMAN, 2004).
Esperamos que este processo seja em ritmo acelerado e as universidades
têm um papel importante de difundir junto aos universitários, principalmente de
engenharia e arquitetura, o hábito e a prática destas aplicações (CAD e softwares
correlatos) (GOLDMAN, 2004).

3.5 O setor de planejamento e o setor de tesouraria

É função do setor de planejamento encaminhar previsões de custos ao setor


de tesouraria, para o bom cumprimento das obrigações financeiras cia empresa.
Em alguns casos, as previsões financeiras são de grande relevância, pois as
empresas em geral colocam à disposição tão-somente os valores previstos pelo
planejamento para o bom andamento do empreendimento. Caso as previsões
exibam grandes deformações, poderão trazer sérios danos tanto para o
empreendimento quanto para a empresa (GOLDMAN, 2004).

O setor de planejamento e o setor jurídico

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O planejamento é responsável pelo envio da documentação técnica, que
será vinculada ao dossiê entregue nas repartições competentes para que o
empreendimento seja concretizado. Entre outros, temos:

• Orçamento
• Cronograma físico-financeiro
• NBR 12721
• Especificações
• Cronograma detalhado (GOLDMAN, 2004).

3.6 O setor de planejamento e o setor de compras

O setor de planejamento é em relação ao departamento de compras o seu


braço direito. Tanto serve de fornecedor como de controlador e age da seguinte
maneira em relação a compras:
-Todas as propostas são analisadas pelo planejamento, antes de fechadas,
para serem comparadas com os respectivos valores orçamentários, provendo as
devidas observações que serão enviadas ao setor de compras juntamente com a
proposta em questão (GOLDMAN, 2004).
- É com o auxílio do planejamento que o departamento de compras adota
o sistema de concorrência para determinados serviços ou materiais, pois se o
planejamento tem um sistema de cadastro de materiais e conhece fatores como
qualidade dos materiais, das empreiteiras, dificuldades de aplicação dos materiais
e outros aspectos, possibilita que as concorrências tenham grande chance de ser
bem-feitas e consequentemente os serviços sejam bem fechados (GOLDMAN,
2004).

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- O setor de planejamento deve montar um sistema interligado do tipo
Planejamento-Obra-Compra, de forma que os pedidos de materiais, feitos pelas
obras, sejam sempre conferidos pelo setor de planejamento, no sentido de serem
estritamente necessários para a execução, não admitindo assim perdas
desnecessárias que quase sempre afetam consideravelmente os custos das obras
(GOLDMAN, 2004).

3.7 O setor de planejamento e o setor de engenharia-obras

https://unig.br/facet/engenharia-civil/

O planejamento afeta diretamente o fim último do empreendimento, ou seja,


o cumprimento da obra. Quase tudo que foi dito até o momento em relação aos
outros departamentos, de uma forma ou de outra, obriga a um relacionamento muito
grande entre a obra e o planejamento (GOLDMAN, 2004).
Têm empresas que procuram criar um setor de planejamento nas próprias
obras, o que é válido no caso em que o porte destas não comporte ainda um setor
nos seus escritórios. Porém, quando a empresa começa a se ampliar, torna-se

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complexo o mecanismo de planejamento e controle isolado, precisando de um
centralizador de todas as informações e dados das obras (GOLDMAN, 2004).

Segundo Goldman (2004) Vários são os dados das obras que devem ser
enviados ao planejamento, entre os quais:

- Informações mensais de entrada de materiais, assim como seus gastos,


locais de utilização e quantidade em estoque, com os quais montamos os
sistemas de controle de materiais e apropriação de serviços.
- Previsão de despesas, como programa de execução, para que não haja
discrepância com o cronograma físico-financeiro.
- Preenchimento de planilhas criadas pelo planejamento, com o objetivo
de obter as produções efetuadas em obra. Estes dados, combinados com
outros do planejamento, servirão de termômetro de custos, ou seja,
fornecerão condições ao profissional do setor de planejamento para julgar
o andamento físico-financeiro de qualquer obra.
- Históricos técnicos de materiais e serviços, para que o setor de
planejamento possa julgar a necessidade de manter ou alterar serviços,
produtividade, empreiteiras, materiais, equipamentos e outros.

É junto à obra que o planejamento deve:

-Testar novos materiais, assim como novas técnicas de execução.


- Apropriar serviços, otimizando-os ao máximo.
- Identificar as dificuldades da obra, para estudar e encontrar suas soluções.
Em seguida, exibimos um quadro em que se mostram as várias fases de
um empreendimento e como o setor de planejamento participa e opera (GOLDMAN,
2004).

3.8 O Setor De Planejamento Técnico Na Empresa De Construção

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- Responsável pelo estudo de viabilidade técnico-econômica do
empreendimento
- Responsável pelo planejamento técnico-econômico das obras
- Responsável pelo controle técnico-econômico das obras em andamento
- Responsável pela obtenção e análise dos resultados técnico-econômicos
do empreendimento (GOLDMAN, 2004).

3.9 Fluxograma Do Sistema

Se avaliarmos o percurso deste fluxograrna, concluímos:

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- Que ao iniciar os estudos dos empreendimentos novos, primeiro
necessitamos fazer a sua viabilidade técnico-econômica. Se a resposta a essa
viabilidade for não, trataremos de procurar novos empreendimentos. Caso contrário,
seguiremos para a etapa seguinte (GOLDMAN, 2004).
- Uma vez caracterizada a viabilidade técnico-econômica do
empreendimento, parte-se para o planejamento propriamente dito. É nesta fase que
toda a programação físico-financeira do empreendimento deve ser produzida e não
deve considerar esta fase como perda de tempo. Ao contrário, em geral um
empreendimento bem esquematizado leva menos tempo de execução do que
quando não o é. Além disso, nesta fase se verificam de maneira mais detalhada as
informações financeiras elaboradas na fase de viabilidade. É bom recordar que
nunca é tarde para avaliar um mal que pode ser impedido, ou seja, caso as
informações inviabilizem uma análise feita anteriormente, ainda existe tempo de
impedir que um empreendimento seja malsucedido (GOLDMAN, 2004).
Em geral, o planejamento deve ser todo aprontado antes de a obra ser
estreada, o que ainda não ocorre na prática das construções de hoje.
- A fase de controle de empreendimento dá-se no momento da sua
execução. A qualidade deste controle está inteiramente ligada à qualidade do
planejamento antecipadamente preparado e à qualidade do acompanhamento
físico-financeiro do empreendimento. Quanto melhor a organização da empresa e
da obra, maior a probabilidade de as informações estarem certas, possibilitando um
bom controle. Nesta fase da obra não se faz apenas controle. O controle é feito para
propiciar, neste mesmo período, um planejamento de curto prazo para alcance de
resultados, para que, nos casos de correções, estas possam ser realizadas ainda
durante os serviços em andamento e não pura e simplesmente para constatar uma
deficiência já ocorrida (GOLDMAN, 2004).
- Os resultados são obtidos por meio de comparação e avaliação das
previsões e estudos do planejamento com as informações adquiridas do controle do
empreendimento. Estes resultados são obtidos tanto durante a execução da obra
como após o seu término. Destes resultados, voltaremos às outras fases de novos

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empreendimentos, para atualizar e aperfeiçoar os níveis do trabalho delas,
formando assim a retroalimentação do sistema (GOLDMAN, 2004).

4 1ª FASE – VIABILIDADE DA CONSTRUÇÃO

Dados
- Projeto arquitetônico
- Especificações técnicas e de acabamento da obra
- Prazo da obra (GOLDMAN, 2004).

Obter
-Viabilidade do empreendimento (GOLDMAN, 2004).

Setores Envolvidos
- Vendas: Valor do terreno Valor de venda dos imóveis Despesas com
promoções
- Financeiro: Despesas financeiras (financiamento ou recurso próprio) –
- Arquitetura: Estudos preliminares (GOLDMAN, 2004).

A 1ª fase - Viabilidade de construção - vê-se envolvida,


principalmente, com três setores:

4.1 Setor de Promoção e Comercialização

As empresas de construção ou têm no seu quadro de funcionários


profissionais altamente especializados no ramo de promoção e vendas, ou
trabalham com empresas especializadas. Em função de vários fatores, tais como
localização do terreno, padrão social da região, características do projeto, situação

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do mercado comprador e vendedor, entre outros aspectos, este setor proverá para
a viabilidade:
-Valor de terreno - Pode ser obtido diretamente com proprietários que
tenham interesse na venda, através de um custo médio por m 2 de terreno
(valores estimativos) e empresas imobiliárias especializadas.
-Valor de venda dos imóveis - Pode ser obtido através de vendas de
imóveis semelhantes, em regiões próximas ao local em estudo, através de
anúncios publicados nos meios de comunicação, por estimativas do
custo/m2 de área útil da unidade, entre outros.
- Despesas com promoções - Em função da política promocional da
empresa ou através de percentual do volume geral de vendas, cobrado
pelas empresas especializadas (GOLDMAN, 2004).

4.2 Setor Financeiro

Na aquisição da viabilidade econômica, outro setor de principal relevância


é o financeiro. Isto porque, em função da política da empresa empreendedora, pode-
com recursos próprios empreender um projeto, ou através de recursos de terceiros;
entre eles, o mais comum é o financiamento. Tanto no uso de recursos próprios
como na utilização de recursos de terceiros, a empresa incorre em despesas
financeiras que devem ser computadas na viabilidade do empreendimento
(GOLDMAN, 2004).

4.3 Setor Arquitetônico

É o setor arquitetônico que proverá os subsídios básicos para a avaliação


e para o próprio empreendimento, ou seja, o projeto arquitetônico e as
especificações de acabamento de obra. Na fase do empreendimento, ou seja, a
fase de viabilidade, em geral as empresas ainda não têm o projeto arquitetônico
detalhado. Em muitos casos nem o projeto básico, mas simplesmente um estudo
preliminar do empreendimento. O importante é que, mesmo nesta fase, já se tenha

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o projeto arquitetônico delineado. Sucede que por questões de negociações nem
sempre é possível aguardar que o projeto esteja finalizado, e por isso mesmo a
viabilidade é feita de maneira "estimativa" (GOLDMAN, 2004).
Um componente que hoje é também essencial a uma adequada viabilidade
e que não se pode deixar de levar em conta é o prazo da obra. Considerando que
o prazo é um pouco limitado pelo prazo da execução técnica, não é prejudicial
lembrar que suas alterações implicam alterações diretas e indiretas nos custos de
construção e despesas financeiras. (GOLDMAN, 2004).
A sua importância aumenta eleva mais, com acréscimo real dos gastos da
mão-de-obra e seus respectivos encargos sociais.

Exemplo simplificado de uma viabilidade econômica:

https://br.pinterest.com

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Seja uma edificação multifamiliar, composta por dez apartamentos com
sala, três quartos, resultando uma área equivalente de construção de 1.600 m². O
padrão de acabamento do empreendimento é normal, tendo um custo/m2 de área
equivalente de construção da ordem de RS 900,00/m2 em setembro de 2003
(GOLDMAN, 2004).
A área do terreno tem 400,00 m 2 e o valor por metro quadrado do terreno
é de R$ 600,00/m² (GOLDMAN, 2004).
As despesas financeiras, considerando o prazo da construção, são de 8%.
O valor da vencia de cada apartamento corresponde a R$ 270.000,00 (GOLDMAN,
2004).
Os custos com promoção de vendas correspondem a 5% do valor geral de
vendas.
Pede-se:
1 - Calcular o lucro do empreendimento
2 - Calcular em porcentagem o lucro do empreendimento em relação às
despesas da mesma
3 - Calcular o índice que representa o lucro em relação ao valor do terreno
4 - Calcular em porcentagem o lucro do empreendimento em relação à
receita da mesma (GOLDMAN, 2004).

Solução:
A - Receitas:
- Quantidade: dez apartamentos
-Valor venal: R$ 270.000,00 por apartamento
- Receita total: 10 x R$ 270.000,00 = R$ 2.700.000,00 (GOLDMAN, 2004).

B - Despesas:
B.1 - Terreno:
- Área do terreno: 400 m2

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-Valor do terreno por metro quadrado de sua área: R$ 600,00/m²
Valor do terreno: R$ 600/m2 x 400 m2 = R$ 240.000,00 (GOLDMAN, 2004).

B.2 - Construção:
- Área total equivalente de construção: 1.600 m²
- Custo por metro quadrado de área equivalente de construção: R$ 900,00/m²
- Custo da construção: 1.600 m2 x R$ 900,00/m2 = R$ 1.440.000,00 (GOLDMAN,
2004).

B.3 - Despesas financeiras:

-Valor do custo da construção: R$ 1.440.000,00


- Percentual de despesas financeiras: 8%
- Despesas financeiras: 0,08 x R$ 1.440.000,00 = R$ 115.200,00
(GOLDMAN, 2004).

B.4 - Despesas com vendas:

-Valor Geral de Vendas (V.G.V.): R$ 2.700.000,00 - Percentual de


despesas com vendas: 5%
- Despesas com vendas: 0,05 x R$ 2.700.000,00 = R$ 135.000,00
Total das despesas: B.1 + B.2+ B.3 + B.4 = R$ 1.930.200,00 (GOLDMAN,
2004).

RESPOSTAS AOS QUESITOS:

1- Lucro do Empreendimento: Receitas - Despesas = R$ 2.700.000,00 -


1.930.200,00 = R$ 769.800,00
2 - Percentagem do lucro em relação às despesas: (Lucro/Despesas) x 100
= (769.800,00/1.930.200,00) x 100 = 39,88%

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3 - índice do lucro em relação ao valor do terreno: (Lucro/terreno) x 100 =
(769.800,00/240.000,00) x 100 = 320,75%
4 - Percentagem do lucro em relação à receita total: (Lucro/Receita) x 100
= (769.800,00/2.700.000,00) x 100 = 28,51 % (GOLDMAN, 2004).

Nota:

Apesar de ser apresentado um exemplo de forma simplista, usou-se nos


quesitos cálculos muito usuais pelos incorporadores da construção civil. Podendo
alterar consideravelmente pelo tipo de investimento, pela forma de aquisição dos
recursos financeiros para empreender o projeto, pela expectativa de vendas (antes,
durante e depois da construção), entre outros (GOLDMAN, 2004).

2ª FASE - PLANEJAMENTO TÉCNICO-ECONÔMICO DA CONSTRUÇÃO

http://www.compactoengenharia.com.br

Dados
- Projeto arquitetônico completo

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- Projeto de cálculo estrutural completo (inclusive fundações especiais)
- Projeto de instalações completas (inclusive os especiais)
- Especificações técnicas e de acabamentos da obra (GOLDMAN, 2004).

Obter
- Quadros de áreas para fins de registro de imóveis (NBR 12721) e rateio
das frações ideais
- Orçamento detalhado da obra
- Cronograma físico-financeiro da obra
- Cronograma detalhado da obra
- Relatórios para acompanhamento físico-financeiro (GOLDMAN, 2004).

Setores Envolvidos

- Arquitetura e Projetos
- Engenharia de Produção
- Jurídico
- Compras
- Contabilidade
- Financeiro (GOLDMAN, 2004).

A 2ª fase - Planejamento técnico-econômico da construção - envolve


praticamente todos os setores da empresa:

a) Setor de Arquitetura e Projetos


Para uma boa preparação do planejamento é imprescindível todos os
projetos envolvidos, assim como as especificações de acabamentos. Em relação
aos projetos, pode-se citar entre os mais relevantes:
- Projeto arquitetônico básico e detalhado
- Projeto de cálculo estrutural (inclusive fundação)

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- Projeto de instalações
- Projetos especial (GOLDMAN, 2004).

b) Setor de Engenharia de Produção

É o setor que juntamente ao planejamento preparará as especificações


técnicas do empreendimento, tais como: equipes de trabalho, equipamentos e
ferramentas a serem usados, o projeto de canteiro da obra, sistemas de execução
de serviços, previsões de entrega de materiais, além de uma programação
delineada do andamento físico da obra, cujo prazo técnico por conseguinte será
caracterizado (GOLDMAN, 2004).

c) Setor Jurídico
O departamento de planejamento, nesta fase, providencia os subsídios e
materiais técnicos necessários ao processamento jurídico do empreendimento, tais
como a NBR 12721 (antiga NB 140), quando da elaboração do memorial de
incorporação, o valor do custo da construção e o prazo da obra, entre outros
(GOLDMAN, 2004).

d) Setor de Compras
Nesta etapa de planejamento do empreendimento, o departamento de
compras aprovisiona o seu cadastro de preços atualizados, assim como o histórico
das propostas fechadas para subsídios ao planejamento na preparação do
orçamento detalhado da obra. Além disso, pode alertar contra alguma especificação
de material, sistema de serviço ou subempreitada aplicados anteriormente,
insatisfatório em termos de compra (GOLDMAN, 2004).

e) Setor Contábil

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Nesta fase, o setor de planejamento prepara o setor contábil para que na
fase posterior, que é a de controle, este tenha um bom desempenho quanto às
informações contábeis (GOLDMAN, 2004).

f) Setor Financeiro
É um departamento muito relevante do ponto de vista gerencial, que várias
vezes não recebe o devido valor por parte dos técnicos. A sua relevância é devida
à política cia empresa, já que o empresário, normalmente, procura preservar apenas
o capital necessário ao bom cumprimento de seus compromissos financeiros.
Reservar mais que o necessário é perder dinheiro, assim como poupar menos
compromete a concretização dos compromissos, podendo levar a graves
consequências. Com isso, podemos ter a noção da relevância e da
responsabilidade da preparação de um orçamento do custo da construção e,
consequentemente, de uma previsão financeira realista à política financeira da
empresa (GOLDMAN, 2004).

Conclusão:
Esta fase de planejamento procura canalizar o máximo de informações dos
mais variados setores da empresa, a fim de que o planejamento da obra leve em
conta todos as minúcias pertinentes. Podemos citar como relatórios mais
importantes nesta fase:

- NBR 12721 - Avaliação de despesas unitárias e preparo de orçamento de


construção para incorporação de edifício em condomínio.
- Orçamento detalhado da obra, com o objetivo de acompanhamento e
controle físico-financeiro.
- Cronograma físico-financeiro da obra.
- Fluxo de desembolso de despesas por insumos, para a aprovação da
diretoria.

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- Relatórios de acompanhamento físico-financeiro.
- Documentação técnica para obtenção de financiamento (GOLDMAN,
2004).

3- FASE - CONTROLE FÍSICO-FINANCEIRO DA CONSTRUÇÃO

Nesta etapa, os principais departamentos envolvidos são praticamente os


mesmos da fase de planejamento, apesar de se inter-relacionarem de modo um
pouco diferente (GOLDMAN, 2004).

https://constructapp.io

O inter-relacionamento com o setor de arquitetura e projetos se dá ao longo


de todo o curso da obra. Considerando que todos os projetos, assim como as
especificações de acabamento, foram bem delineados, mesmo assim sucedem
inúmeras alterações e modificações no andamento da obra. Isto deve-se ao
incremento de novas técnicas de execução de serviço, à criação de novos materiais
principais ou auxiliares ou até mesmo pela inexistência no mercado de alguns
materiais explicitados na fase cie planejamento. Outro aspecto que deve

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considerado são as possíveis alterações motivadas, seja pela necessidade de
diminuição de gastos, seja pela melhoria do padrão da obra para facilitar a venda
do empreendimento (GOLDMAN, 2004).
O departamento financeiro precisará ser alimentado das informações de
previsão, periodicamente, a fim de não consentir distorções grandes em previsões
de médio e longo prazo. Às vezes ocorre o contrário, ou seja, por questões de ordem
financeira, a obra poderá diminuir o seu ritmo ou até mesmo aumentá-lo, caso seja
de interesse da política da empresa naquele determinado momento. As previsões
financeiras, em geral, são divididas em duas partes:

1 - A previsão de compromissos já assumidos (contas a pagar).

2a- A previsão de compromissos a assumir, em geral, preparada pelo


departamento de planejamento em conjunto com o setor de produção (GOLDMAN,
2004).
As previsões financeiras são realizadas em parcelas semanais, sendo de
curto, médio e longo prazos. Muitas empresas preparam um previsão financeira
completa na fase de planejamento e, no decorrer da obra, previsões mensais
(previsão bem delineada) e de períodos em períodos (exemplo: três em três meses)
uma previsão financeira de médio prazo. Com isso, o setor financeiro pode modificar
as previsões conforme os resultados alcançados, a fim de não permitir um grande
desvio entre o previsto e o gasto (GOLDMAN, 2004).
O departamento de contabilidade, nesta fase, tem um papel preponderante
para o setor de planejamento. Será a contabilidade informada, mensalmente, a
ferramenta fundamental para a avaliação dos resultados entre os gastos reais da
obra e os custos preestabelecidos em orçamento. Importante frisar a
responsabilidade das informações oferecidas, assim como a perfeita alocação dos
gastos da construção segundo as suas contas correspondentes. Assim será
necessário que a empresa tenha um plano de serviços que seja o mesmo para todos
os departamentos da empresa, para que todos usem uma mesma linguagem.
Chamamos a este plano de serviços "plano de contas de construção''. Este plano

25
de contas permitirá que tanto a contabilidade quanto o planejamento chequem
valores de um mesmo insumo ou serviço (GOLDMAN, 2004).
Ao departamento de compras, o setor de planejamento interage nesta fase
de maneira dinâmica. Praticamente todas as compras e contratos devem
anteriormente ter o apoio do departamento de planejamento, a fim de não permitir
deformações de ordem quantitativa e financeira (GOLDMAN, 2004).
Uma vez realizadas as compras e contratos, o planejamento necessitará
emitir seu parecer em nível de relatório gerencial, avaliando a performance
(vantagens e desvantagens) dos contratos fechados. Assim sendo, cabe ao setor
de planejamento cumprir o papel de assessor técnico e de controlador com a
finalidade de não permitir grandes deformações em relação às previsões
(GOLDMAN, 2004).
Características parecidos ao inter-relacionamento com o departamento de
compras sucedem com o setor de produção. Ao mesmo tempo em que o
departamento de planejamento assessora, ele controla. É por parte da obra que o
planejamento ganhará quase todas as informações de ordem quantitativa dos
insumos (materiais, mão de-obra e equipamentos). Isto se acontecerá através de
planilhas de apropriação preenchidas na obra, através de supervisão e orientação
de profissionais do planejamento. É importante alertar para o perfeito
preenchimento das informações, a fim de que as avaliações sejam precisas e
confiáveis. Mais uma vez entra em cena o plano de contas de construção para
permitir informações bem definidas, tornando possível a mesma linguagem à
empresa. Assim, o planejamento deve, sempre que possível, devolver as análises
em curto prazo para que, nos casos de deformações indesejáveis, estas possam
ser sanadas em tempo, propiciando o mínimo de prejuízo (GOLDMAN, 2004).

Exemplo 1:
Setor de Planejamento - Setor de produção

26
Tabela 1: Análise de execução de Alvenaria de barro 1/2 vez
(GOLDMAN, 2004).

Obra Planejamento

Unid índice índice


Descrição ade Quantidade Quant./m2 Quantidade Quant./m2

Produção m² 100,00 - 130,00 -

Produtividade

Pedreiro hs 160,00 1,60 195,00 1,50


Servente hs 90,00 0,90 130,0 1,00
Consumos

Cimento saco 19,00 0,19 26,00 0,20


Areia m³ 3,00 0,03 2,60 0,02
Saibro m³ 2,00 0,02 3,90 0,03
Tijolo 10x20x30 unid. 1.590,00 15,90 1.950,00 15,00
Tijolo 10x20x20 unid. 370,00 3,70 650,00 5,00
Perda dos tijolos % 10,20 - 10,00 -

Exemplo 2:
Setor de planejamento - Setor de compras

Seja a análise da contratação dos serviços de pintura para uma edificação


composta por 20 apartamentos de sala/dois quartos. Com base em contratos
anteriormente fechados, em edificações com características muito parecidos à que
está em questão, temos:

27
Previsão: 20 apartamentos x RS 5.000,00/apartamento = RS 100.000,00
Melhor proposta: RS 90.000,00, correspondente a R$ 4.500,00 por apartamento
(GOLDMAN, 2004).

4ª FASE - RESULTADOS FíSlCO-FlNANCElROS DA


CONSTRUÇÃO
Gastos
Consumos Produtividades
Contratos Estoques

Relatórios gerenciais

4ª fase – Resultados

É a fase em que, mesmo durante o andamento da obra ou quando do seu


fim, podemos entender se a sua performance foi boa ou não. As principais
informações nesta fase são dos setores de contabilidade, compras e produção.
Podemos destacar:

Principais Informações Setor

1 - Contratos e compras compras


2 - Consumos produção
3 - Gastos financeiros contabilidade
4 – Produtividade produção
5 - Estoques produção

28
Com todas estas informações, comparadas e analisadas com as
preestabelecidas na fase de planejamento, podemos emitir pareceres que sairão
sob a forma de "relatórios gerenciais". Estes relatórios são de grande valor para os
setores técnicos e, sobretudo, para a diretoria, já que em linhas gerais eles traçam
um retrato físicofinanceiro da obra (GOLDMAN, 2004).
Quando os relatórios forem preparados somente para serviços específicos,
eles podem ser feitos em curtíssimo prazo (ex.: semana). Quando avaliados todos
os serviços da obra, são elaborados mensalmente ou em períodos maiores de
tempo (GOLDMAN, 2004).

Comentário sobre os setores das empresas:


Com a tendência de terceirização, um número significativo de empresas
está reformulando sua estrutura organizacional, diminuindo ou extinguindo alguns
departamentos, procurando como alternativa a contratação de empresas que
emanem a substituir parcialmente ou totalmente alguns setores, tais como de
arquitetura, de contabilidade e o setor jurídico (GOLDMAN, 2004).

5 OBRAS DE GRANDE PORTE

As obras de grande porte ou construções pesadas são assim classificadas


em razão de grandes quantidades de insumos envolvidos para a execução dos
serviços, sejam eles materiais, equipamentos ou mão de obra. Estas obras são
realizadas por grandes empresas, definidas como empresas que empregam mais
de 250 pessoas e cujo volume de negócios excede 100 milhões de reais (DCCE,
2003 apud MARTINS, 2012).
De acordo uma empresa de porte médio é avaliada como aquela que
gerencia de cinco a dez projetos respectivamente, cada um representando um total
de 200 mil a 1 milhão de homem-hora. Logo, podemos definir uma empresa de
grande porte como aquela que gerencia mais de dez projetos concomitantemente,

29
sendo cada projeto com um número superior a 1 milhão de homem-hora (LAUFER;
TENAH,1985 apud MARTINS, 2012).
Nas atividades da construção pesada, de acordo com o Estudo Setorial da
Construção Civil, efetivado pelo SENAI (1995) apud Martins (2012), estão
abarcadas as construções de infraestrutura, urbanas e industriais; obras estruturais
e de saneamento básico; barragens e usinas geradoras de energia, dentre outras.
Segundo a Pesquisa Anual da Indústria da Construção de 2008, obras de
infraestrutura são qualificadas pela presença de médias e grandes empresas. As
construções pesadas são qualificadas por vários tipos de construção, os quais
abrangem as obras de infraestrutura – autoestradas, vias urbanas, pontes, túneis,
ferrovias, metrôs, pistas de aeroportos, portos e projetos de abastecimento de
água, sistemas de irrigação, sistemas de esgoto, instalações industriais, redes de
transporte por dutos (gasodutos, minerodutos, oleodutos) e linhas de eletricidade,
instalações esportivas –, além das construções de estruturas pré-fabricadas in loco
para fins múltiplos, de natureza permanente ou temporária, exceto edifícios (IBGE,
2008 apud MARTINS, 2012).
No domínio geral, cada obra de construção civil pode ser decidida como um
projeto, por tratar-se de um esforço temporário empreendido para criar um produto,
serviço ou resultado exclusivo (PMI, 2008), e seu gerenciamento pode ser
conseguido com base na aplicação e integração de cinco grupos de processos,
sendo eles: iniciação; planejamento; execução; monitoramento e controle; e
encerramento, no qual existem definições e escolhas significativas para o
gerenciamento da obra (MARTINS, 2012).

6 A CONSTRUÇÃO CIVIL

O setor da construção civil engloba as edificações, obras viárias e a


construção pesada, sendo esta última considerada como obra de grande porte. O
seu macrossetor é definido como o setor da construção civil, sucedido dos

30
segmentos fornecedores de matérias-primas e equipamentos para a construção e
dos setores de serviços e distribuição ligados à construção. Por meio deste conceito
é aceitável avaliar os efeitos multiplicadores setoriais da indústria de construção
sobre o processo de produção, sua grande capacidade de realização de
investimentos, o seu potencial de criação de empregos (diretos e indiretos), além
de seus efeitos benéficos sobre a balança comercial e sobre o nível de inflação
(CBIC, 1998 apud MARTINS, 2012).
Ainda que o macrossetor da construção civil componha-se por vários
segmentos, a construção em si possui maior relevância na cadeia produtiva, se
considerada sua representatividade de 65% na composição da cadeia produtiva e
o fato dela ser a principal consumidora dos demais materiais e serviços
componentes desta cadeia, conforme pode ser observado no Gráfico 1 do banco
de dados do (CBIC, 2010 apud MARTINS, 2012).

Gráfico 1 – Composição da cadeia produtiva da construção civil –


2009

Composição da Cadeia Produtiva da Construção Civil


-
2010
Indústria de
materiais Comércio de
16 % materiais de
Construção Construção
65 % 7%

Serviços
6%

Máquinas e
equipamentos
para a Construção
2%
Outros
fornecedores
4%

Fonte: CBIC (2010).

31
A relevância desse macrossetor pode ser retratada em números, e sua
participação no Produto Interno Bruto da economia pode ser analisada na Tabela
2.
Tabela 2 – Participação (%) do PIB da construção civil no PIB total do Brasil
– 2000-2010

Ano

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010
Fonte: IBGE (2010).

A construção civil foi um dos fundamentais motores do setor industrial no


segundo trimestre de 2010. Em relação ao segundo trimestre de 2009, o segmento
aumentou 16,4%. Com isso, as atividades de construção civil exibiram variação
recorde na série iniciada em 1996. Dessa forma, pela ótica da produção, foi o
principal setor que estimulou o PIB no segundo trimestre de 2010 (IBGE, 2010 apud
MARTINS, 2012).
A força da impulsão do negócio da cadeia da construção, também conhecido
como construbusiness, representa uma participação expressiva nos investimentos
globais do país. Além disso, o construbusiness suscita extraordinários efeitos

32
multiplicadores sobre os demais setores de atividade, em que o índice de
encadeamento da construção ocupa o 4º lugar no ranking da economia nacional e
o setor construtor move cerca de R$ 48 bilhões no seu encadeamento para frente
(CBIC, 1998 apud MARTINS, 2012).
Em 2009, os custos com produtos da construção somaram R$ 244 bilhões.
Isso significa que o total de investimentos alcançados no país em estradas,
aeroportos, redes de esgoto, por fim, em toda a infraestrutura, avaliadas como
obras de grande porte, e mais em escolas, hospitais, casas e edifícios residenciais
e comerciais, indústrias, obras de manutenção e reformas, atingiu 46,4% do total
do investimento realizado no país, ou 9,2% do PIB brasileiro no ano de 2009
(CADERNO, 2010 apud MARTINS, 2012).
O PIB, mede toda riqueza gerada por uma economia em um período. Assim,
o aumento do valor do PIB é interpretada como crescimento econômico. Porém, tal
crescimento não garante desenvolvimento. Desenvolvimento econômico é um
conceito maior, que além do crescimento do produto interno, está conexo ao nível
de desigualdade e de bem-estar da população, como o Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH) (OLIVEIRA; MATA; CUNHA, 2011 apud MARTINS, 2012).
O conceito de Desenvolvimento Humano, que é a embasamento do conceito
do IDH, parte do pressuposto de que para aferir o progresso na qualidade de vida
de uma população é necessário ir além do viés puramente econômico e considerar
três dimensões básicas do desenvolvimento humano: renda, saúde e educação
(PNUD, 2012 apud MARTINS, 2012).
A renda, saúde e educação são os três pilares que constituem o IDH, e, hoje
em dia, são mensurados da seguinte forma: o padrão de vida (renda) é medido pela
Renda Nacional Bruta (RNB) per capita, uma vida longa e saudável (saúde) é
medida pela expectativa de vida e o acesso a educação é medido pela média de
anos de educação de adultos, que é o número médio de anos de educação
recebidos durante a vida por pessoas a partir de 25 anos; e pela expectativa de
anos de escolaridade para crianças na idade de começar a vida escolar, que é o

33
número total de anos de escolaridade que um criança na idade de começar a vida
escolar pode esperar receber se os padrões prevalecentes de taxas de matrículas
específicas por idade permanecerem os mesmos durante a vida da criança (PNUD,
2012 apud MARTINS, 2012).
A meta da criação do IDH foi o de proprocionar um contraponto a outro
indicador muito usado, o Produto Interno Bruto (PIB) per capita, que avalia somente
a extensão econômica do desenvolvimento. Ele aspira ser uma medida geral,
sintética, do desenvolvimento humano. Apesar de expandir a perspectiva sobre o
desenvolvimento humano, o IDH não amplia todos os aspectos de desenvolvimento
e não é uma representação da "felicidade" das pessoas, nem sugere "o melhor
lugar no mundo para se viver" (PNUD, 2012 apud MARTINS, 2012).
Na Ciência Econômica, o PIB é tido como um indicador de desempenho
econômico. É válido refletir a relevância dada ao PIB para a mensuração do
crescimento de um país ou localidade. Diante do crescimento do PIB, diz-se que a
economia está aquecida. As implicações diretas são o aumento dos postos de
trabalho com diminuição da taxa de desemprego e ascensão do poder de compra.
Por outro lado, nota-se também a tendência de aumento da taxa de inflação. No
final das contas, o crescimento do PIB é interpretado como algo positivo e
altamente desejável (OLIVEIRA; MATA; CUNHA, 2011 apud MARTINS, 2012).
Com todos os investimentos realizados no país, a despesa em produtos da
construção por habitante chegou a R$ 1.276,06. Por sua vez, as remunerações do
trabalho alcançaram R$ 93,9 bilhões, ou 42% da renda criada na cadeia da
construção civil. O excedente operacional bruto, que é um valor residual da renda
que contabiliza a remuneração do capital (juros, lucros e aluguéis), foi, em 2009,
de R$ 128,2 bilhões (CADERNO, 2010 apud MARTINS, 2012).
Vale destacar a potência do setor da construção na geração de empregos na
economia. No que se refere ao emprego, chegou-se a um número histórico, uma
vez que as atividades da cadeia da construção ocuparam 10 milhões de pessoas
em todo o país. (CADERNO, 2010 apud MARTINS, 2012).

34
A grande parcela da renda da cadeia da construção – 61%, ou R$ 137, 378
bilhões, em 2009 – foi causada no setor da construção, formado pelos segmentos
de autogestão e autoconstrução e pelas construtoras que executam obras ou fases
das obras de engenharia. É esse segmento que gera o ritmo de atividade dos
demais elos da cadeia. Por ser muito intenso em mão de obra, o departamento da
construção respondeu pela maior parcela de ocupados na cadeia, 69%, ou 6,9
milhões, como mostra o Gráfico 2 (CADERNO, 2010 apud MARTINS, 2012).

Gráfico 2 – Pessoal ocupado na cadeia de construção, participação


(%) no total, 2009

Outros
fornecedores; 11%
Serviços; 5%

Comércio de
materiais; 8%

Indústria de
materiais; 7%

Construção; 69%

Fonte: IBGE (2010).

De acordo com a Pesquisa Anual da Indústria da Construção em 2009, o


universo de empresas da indústria da construção abrangeu em torno de 64 mil
empresas ativas, que empregaram cerca de 2 milhões de pessoas. O gasto total
com mão de obra correspondeu a 30,3% do total dos custos e despesas das
empresas de construção, resultado superior à participação em 2008 (29,2%), e
atingiu o valor de R$ 48,3 bilhões, dos quais R$ 31,8 bilhões foram em salários,
retiradas e outras remunerações. O salário médio mensal avançou 9,2%, passando
de R$ 1.095,00 em 2008, para R$ 1.196 em 2009, entretanto, em relação aos
salários mínimos, houve ligeira queda, de 2,7 para 2,6 salários mínimos mensais,

35
que não deve ser compreendida como perda de poder aquisitivo, mas sim como
decorrência do reajuste de 12,6% do valor do salário mínimo, que obteve ganho
real de 7,9% entre esses dois anos (IBGE, 2009 apud MARTINS, 2012).
Conforme pode ser observado na Tabela 3, as empresas de construção
concretizaram incorporações, obras e serviços no valor de R$ 199,5 bilhões,
registrando ampliação na comparação com o ano anterior. Excluindo-se as
incorporações, o valor das obras e serviços da construção atingiu R$ 193,7 bilhões,
sendo, deste montante, R$ 85,5 bilhões vindos das obras contratadas por entidades
públicas, que representaram 44,1% do total das construções, participação
ligeiramente maior do que a verificada em 2008 (43,2%), e a receita operacional
líquida progrediu entre 2008, com R$ 154,6 bilhões, e 2009, R$ 189,0 bilhões
(IBGE, 2009 apud MARTINS, 2012).

Tabela 3 – Dados gerais da indústria da construção – Brasil – 2008-


2009

Dados gerais da indústria da construção

Salários, Valor das Construções


Número de Total dos Valos das Receita
Pessoal retiradas e Gastos com incorporações, para
Ano empresas custos e obras e/ou operacional
ocupado outras pessoal obras e entidades
ativas despesas serviços líquida
remunerações serviçoes públicas
1.000 1.000.000 R$

2008
57 1.806 25.718 38.725 132.830 163.109 158.693 68.607 154.597
2009
64 2.048 31.847 48.288 159.171 199.547 193.747 85.490 189.031
Fonte: IBGE (2009).

A indústria de materiais é o segundo setor que mais acrescentou valor dentro


da cadeia: foram R$ 40,4 bilhões, ou 18% do PIB da cadeia gerados por 616 mil
pessoas. Depois da construção civil, a comercialização de materiais de construção
– representada pelo comércio atacadista e varejista – possui o maior número de
ocupados, 811,6 mil pessoas, que em 2009 causaram um valor adicionado de R$

36
20,503 bilhões, ou 9,1% do total gerado na cadeia (CADERNO, 2010 apud
MARTINS, 2012).
As atividades de prestação de serviços, que abrangem a incorporação, a
compra e a venda de imóveis, o aluguel de máquinas e equipamentos e os serviços
técnicos profissionais, como os de projetos de engenharia e arquitetura, produziram
R$ 17,4 bilhões, ou 7,7% do PIB da cadeia, e foram responsáveis por 5% dos
ocupados, ou 505 mil pessoas. Esses dados podem ser analisados na Tabela 4
(CADERNO, 2010 apud MARTINS, 2012).

Tabela 4 – Produção, renda e ocupação na cadeia da construção,


2009, em R$ milhões

Elos de produção
Indústria
Outros elos Construção Total da Cadeia
(A) de máquinas e de materiais Civil (D) (A+B+C+D)
equipamentos (B) (C)
Valos adicionado, PIB 41.667 4.859 40.393 137.378 224.297
Remunerações 24.371 2.290 15.253 51.967 93.881
Excedente operacional bruto e rendimento misto bruto 16.314 2.508 24.434 84.901 128.157
Outros impostos sobre a produção e subsídios 982 61 706 510 2.259
Consumo intermediário 59.463 7.670 53.812 106.987 227.932
Valor da produção 101.131 12.529 94.204 244.365 452.229
Fator trabalho (ocupações) 2.413.789 46.355 615.715 6.942.644 10.018.503
Fonte: IBGE (2010).

A receita tributária oriunda das atividades da cadeia da construção civil


somou R$ 45,9 bilhões em 2009, o que representou 20,5% do seu PIB. Somente o
setor da construção respondeu por 56,6% da carga total, ou R$ 25,9 bilhões
(CADERNO, 2010 apud MARTINS, 2012).
Outra característica relevante da construção é o seu encurtado coeficiente
de importação, que atinge menos que 2% de sua demanda total. Dessa forma, o
crescimento do setor não pressiona a balança comercial e o balanço de
pagamentos do país. Em princípio, a construção é uma indústria que não depende
de financiamentos externos, e os incrementos dos custos da construção são

37
perfeitamente compatíveis com a taxa média da inflação brasileira (CBIC, 1998
apud MARTINS, 2012).
A atividade empresarial da construção foi influenciada de forma positiva um
conjunto de fatores diretamente relacionados com a dinâmica do setor, tais como:
crescimento da renda familiar e do emprego; acréscimo no consumo das famílias;
aumento do crédito; maior oferta de crédito imobiliário; crescimento nos
desembolsos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES); expansão das obras realizadas pelo Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC), que estimularam sobretudo as obras de infraestrutura; e a
redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de vários materiais de
construção (IBGE, 2009 apud MARTINS, 2012).
Os números de 2009 são decorrências de um ciclo de crescimento
principiado em 2005 e que conseguiu seu auge em 2008. A crise financeira
internacional teve, em 2009, reflexos significativos no desempenho de toda a
cadeia, mas não mudou a trajetória de longo prazo. Entre 2005 e 2009, os
investimentos em construção passaram de R$ 167,7 bilhões para R$ 244,4 bilhões,
um crescimento acumulado de 46% (10,3% ao ano), o que representou um
aumento de 5,2% acima do Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-
DI). O PIB da cadeia produtiva, por sua vez, cresceu 48,5% nesse período, e as
atividades da construção cresceram ainda mais: 52,3%, ou 18,2% acima do índice
Nacional de Custo da Construção (INCC) (CADERNO, 2010 apud MARTINS,
2012).
O crescimento expressivo da cadeia traduziu-se em mais postos de trabalho:
entre 2005 e 2009, foi gerado 1,46 milhão de novos empregos. O setor da
construção, por ser um dos mais intensivos em mão de obra, respondeu por 73%
desse total. É importante analisar que o crescimento da ocupação se deu com um
forte movimento de formalização das atividades, o que se refletiu no avanço
expressivo do número de empregados com carteira de trabalho. De dezembro de
2005 a dezembro de 2009, o emprego com carteira no setor da construção registrou
crescimento de 45%, ou 10% ao ano (CADERNO, 2010 apud MARTINS, 2012).

38
A crise financeira internacional, que teve seu momento mais crítico em
setembro de 2008, não mudou o sentido do movimento estreado em 2005, gerando
apenas uma redução no ritmo de crescimento. Nesse momento, a cadeia participou
ativamente na política anticíclica criada para recuperar a rota do crescimento de
toda a economia. Assim, a criação do Programa Minha Casa Minha Vida, que veio
a se somar ao Programa de Aceleração do Crescimento, e a desoneração de uma
cesta de materiais de construção colaboraram efetivamente para a geração de
renda e emprego na economia (CADERNO, 2010 apud MARTINS, 2012).
Em 2009, as atividades da construção foram responsáveis pela criação de
154 mil postos de trabalho formais. Enquanto o PIB da economia permaneceu
estagnado, praticamente no mesmo patamar de 2008, o setor da construção
apresentou crescimento de 3,8 pontos percentuais acima do INCC. Mesmo assim
alguns elos da cadeia, como a indústria e o comércio, registraram forte retração no
ano. Enquanto no comércio varejista houve declínio de 3,43% nas vendas, na
indústria o faturamento real ofereceu queda de 12% (CADERNO, 2010 apud
MARTINS, 2012).
Assim sendo, concluímos que a indústria da construção nacional estimula a
grande maioria dos segmentos produtivos e funciona como força motriz para o
desenvolvimento sustentado do país (MARTINS, 2012)
Contudo, o construbusiness apresenta relevantes choques ambientais em
todas as fases do seu processo: extração de matérias-primas, produção de
materiais, construção, uso e demolição. Esses grandes impactos provêm de
distintos fatores, entre os quais o enorme peso do macrossetor da construção civil
na economia, conforme citado anteriormente. Ele é um dos maiores consumidores
de matérias-primas naturais e de enormes quantidades de materiais com
expressivo conteúdo energético, que precisam ser transportados a grandes
distâncias (CARNEIRO et al, 2001 apud MARTINS, 2012).
As atividades de produção de matérias-primas, de canteiro e até mesmo de
manutenção e demolição produzem impactos ambientais como resíduos, ruído,

39
poeira, além dos poluentes industriais. De acordo com a história, a atividade
construtora sempre se distinguiu como grande causadora de resíduos e também
como potencial consumidora dos resíduos produzidos por ela mesma ou por outras
atividades humanas de transformação. As características dos resíduos removidos
de obras ou recebidos de pequenos coletores mostram uma grande predominância
da fração mineral, viabilizadora da introdução de processos sustentáveis, como a
reciclagem (CARNEIRO et al, 2001 apud MARTINS, 2012).
O macrossetor da indústria da construção civil é o fundamental causador de
resíduos da economia. De forma geral, estima-se que ele seja responsável por
cerca de 40% dos resíduos provocados na economia. Segundo Carneiro et al
(2001) Martins (2012), a redução do impacto ambiental da construção civil é tarefa
complexa, tornando-se imprescindível agir em várias frentes de maneira combinada
e simultânea:
a) Minimizar o consumo de recursos (conservar);
b) Maximizar a reutilização de recursos (reutilizar materiais e componentes);
c) Usar recursos renováveis ou recicláveis (renovar / reciclar);
d) Proteger o meio ambiente (proteção da natureza);
e) Criar um ambiente saudável e não tóxico (utilizar não tóxicos);
f) Buscar a qualidade na criação do ambiente construído (aumentar a
qualidade).

7 CONTEXTUALIZAÇÃO DOS RCC NO BRASIL

A construção civil é um relevante segmento da indústria brasileira, vista com


um indicativo de crescimento econômico e social. Contudo, também se constitui em
uma atividade causadora de impactos ambientais (PINTO, 2005 apud KARPINSK
et al, 2009).
Além do intenso consumo de recursos naturais, os grandes
empreendimentos de construção acarretam a alteração da paisagem e, como todas
as demais atividades da sociedade, produzem resíduos (FERNANDEZ, 2012).

40
Os RCC (Resíduos da Construção Civil) mostram um grave problema em
muitas cidades brasileiras. Por um lado, a disposição irregular destes resíduos
pode determinar problemas de ordem estética, ambiental e de saúde pública. Por
outro lado, eles representam um problema que sobrecarrega os sistemas de
limpeza pública municipais, visto que, no Brasil, os RCC podem representar de
50% a 70% da massa dos resíduos sólidos urbanos – RSUs (BRASIL, 2005b apud
FERNANDEZ, 2012).
De forma geral, os RCC são vistos como resíduos de baixa periculosidade,
sendo o impacto causado, especialmente, pelo grande volume gerado. Entretanto,
nestes resíduos também são descobertos materiais orgânicos, produtos perigosos
e embalagens diversas que podem acumular água e favorecer a proliferação de
insetos e de outros vetores de doenças (Karpinsk et al., 2009 apud FERNANDEZ,
2012).
Segundo Pucci (2006), historicamente o manejo dos RCC esteve a cargo
do poder público, que encarava o problema de limpeza e recolhimento dos RCC
depositados em locais inapropriados, como áreas públicas, canteiros, ruas, praças
e margens de rios (PUCCI, 2006 apud FERNANDEZ, 2012).
Em 2002, a Resolução no 307 do Conselho Nacional do Meio Ambiente -
Conama (Brasil, 2002), modificada pela Resolução no 348 de 2004 (Brasil, 2004),
decidiu que o gerador seria o responsável pelo gerenciamento desses resíduos.
Esta determinação representou um avanço legal e técnico, colocando
responsabilidades aos geradores, tais como a segregação dos resíduos em
distintas classes e o seu encaminhamento para reciclagem e disposição final
adequada (FERNANDEZ, 2012).
Ao mesmo tempo, a resolução estabeleceu que as áreas destinadas para
essas finalidades devem passar pelo processo de licenciamento ambiental e ser
fiscalizadas pelos órgãos ambientais competentes (FERNANDEZ, 2012).

41
8 O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E A CONTRUÇÃO CIVIL

8.1 O desenvolvimento sustentável

Sustentabilidade pode ser definida como “[...] a situação desejável que


consente a continuidade da existência do ser humano e de nossa sociedade [...]”.
“Ela procura unificar aspectos econômicos, sociais, culturais e ambientais da
sociedade humana com a preocupação principal de conservar, para que os limites
do planeta e a habilidade e a capacidade das gerações futuras não sejam
comprometidos”. Sustentabilidade “[...] é o objetivo máximo do processo de
desenvolvimento sustentável [...]” (CÂMARA DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO,
2008).
O termo desenvolvimento sustentável foi usado pela primeira vez em 1980,
no documento World Conservation Strategy (Estratégia de Conservação Mundial),
produzido por International Union for Conservation of Nature and Natural Resources
(União Internacional para a Conservação da Natureza). Este documento diz que o
desenvolvimento sustentável é adquirido por meio da conservação dos recursos
vivos (IUCN, 1980). O documento foi criticado pela estratégia ser “[...] restrita aos
recursos vivos, focada nas necessidades de manter a diversidade genética, os
habitats e os processos ecológicos [...]”, sendo “[...] impossibilitado de tratar das
questões controversas relacionadas com a ordem internacional política e
econômica, as guerras, os problemas de armamentos, população e urbanização
[...]” (BARONI, 1992).
O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), com o
alvo de popularizar o conceito usado em IUCN (1980), expõe seus princípios e
conteúdo como sendo (BARONI, 1992):

42
▪ ajuda para os muito pobres, porque eles não têm alternativa a não ser
destruir o meio ambiente;
▪ a ideia do desenvolvimento auto-sustentado, dentro dos limites dos
recursos naturais;
▪ a ideia do desenvolvimento com custo real, usando critérios
econômicos não tradicionais;
▪ a noção de necessidades de ações centradas nas pessoas.

Na Conferência de Otawa, em 1986, fica constituído que o


desenvolvimento sustentável deve responder a cinco requisitos (BARONI, 1992):

a) Integração da conservação e do desenvolvimento;

b) Satisfação das necessidades básicas humanas;

c) Alcance da equidade e justiça social;

d) Provisão da autodeterminação social e da diversidade cultural;

e) Manutenção da integração ecológica.

A Conferência culminou com a definição de desenvolvimento sustentável


exibida no Relatório Brundtland (item 1.1), como sendo aquele que atende
as necessidades do presente sem comprometer as habilidades das futuras
gerações de satisfazerem suas próprias necessidades.
Para a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
(WCED), os objetivos oriundos do conceito de desenvolvimento sustentável são
(BARONI, 1992):

43
▪ Crescimento renovável;

▪ Mudança de qualidade do crescimento;

▪ Satisfação das necessidades essenciais por emprego, comida, energia,


água e saneamento básico;

▪ Garantia de um nível sustentável de população;

▪ Conservação e proteção da base de recursos;

▪ Reorientação da tecnologia e gerenciamento do risco;

▪ Reorientação das relações econômicas internacionais.

As definições acima expostas são importantes por serem adotadas por


organismos e entidades internacionais, como PNUMA, UICN, WWF, Banco
Mundial, etc., orientando diagnósticos, análises e propostas, além de
representarem uma posição dominante no debate mundial sobre o tema, servindo
como marco referencial para outras entidades e órgãos (BARONI, 1992).

Meio ambiente

Define-se meio ambiente como a “circunvizinhança em que uma


organização opera, incluindo-se ar, água, solo, recursos naturais, flora, fauna, seres
humanos e suas inter-relações” (ABNT NBR ISO 14001, 2004).
Dessa forma, o meio ambiente no qual o canteiro de obras de uma
empresa construtora opera envolve os meios físico (água, solo e ar), biótico (flora
e fauna) e antrópico (trabalhadores, vizinhança e sociedade) do local onde a obra
está implantada.

44
Aspectos e impactos ambientais

O aspecto ambiental é o “elemento das atividades ou produtos e serviços


de uma organização que pode interagir com o meio ambiente”, cujo valor é dado
pelo seu poder de gerar um impacto ambiental significativo, em intensidade ou
frequência (ABNT NBR ISO 14001, 2004).
Impacto ambiental pode ser definido como “qualquer mudança do meio
ambiente, adversa ou benéfica, resultando, no todo ou em parte, dos aspectos
ambientais da organização” (ABNT NBR ISO 14001, 2004).

De acordo com a Resolução CONAMA n° 001, de 23 de janeiro de 1986,


impacto ambiental é:

Qualquer alteração das propriedades


físicas, químicas e biológicas do meio ambiente,
causada por qualquer forma de matéria ou
energia resultante das atividades humanas que,
direta ou indiretamente, afetam:
I - a saúde, a segurança, e o bem-estar da
população;
II - as atividades sociais e econômicas;
III - a biota;
IV - as condições estéticas e sanitárias do meio
ambiente;
V - a qualidade dos recursos ambientais.

Assim, as atividades de construção civil produzem aspectos ambientais,


que por sua vez geram impactos ambientais, que atingem o meio ambiente
(meios físico, biótico e antrópico) alterando suas propriedades naturais (Figura
2.1).

45
Atividades Meio Físico
realizadas Aspectos Impactos
Meio Biótico
nos canteiros ambientais ambientais
de obras Meio Antrópico

Figura 1- Representação esquemática do estudo dos aspectos e impactos


ambientais.

8.2 A Construção Civil

Panorama do setor da construção civil

A Cadeia Produtiva da Construção Civil engloba a indústria da


construção, indústria de materiais, serviços, comércio de materiais de
construção, outros fornecedores e máquinas e equipamentos para construção. O
conceito de Cadeia Produtiva está ligado aos “[...] estágios percorridos pelas
matérias-primas, nos quais elas vão sendo transformadas e montadas [...]”
(ABRAMAT; FGV, 2008).
Segundo ABRAMAT (2008), a participação da cadeia produtiva da
construção civil no PIB brasileiro foi de 8,5% em 2007. Dessa parcela do PIB,
60,7% refere-se à indústria da construção, ou seja, 5,2% do PIB brasileiro. As
participações dos outros agentes da cadeia estão apresentadas na Figura 2 e o
Gráfico 3

46
Cadeia Produtiva da Construção Civil - 8,5%

Máquinas e
Indústria
equipamentos Indústria da Serviços e
de Outros
para Construção outros
Materiais fornecedores
construção
5,2% 1,17%
0,2% 1,57% 0,4%

Figura 2 - Representação dos agentes da cadeia produtiva da construção civil.


Fonte: dados extraídos de ABRAMAT (2008).

A geração de empregos na cadeia produtiva também é um elemento


importante. Entre 2005 e 2007, o emprego formal da construção incluiu 8% na
média da cadeia. A indústria da construção, por sua vez, é responsável por 68,4%
dos empregos da cadeia (ABRAMAT, 2008). As participações dos outros
agentes da cadeia estão apresentadas no Gráfico 5

Outros Máquinas e
fornecedores; equipamentos
Serviços4e,70% ; 2 ,30% Indústria da Construção
outros;
13 ,80%
Indústria de materiais

Serviços e outros
Indústria de
materiais; Indústria da
Construção; Outros fornecedores
18 ,50%
60 ,70%
Máquinas e
equipamentos

Gráfico 3- Participação dos agentes na formação do PIB da cadeia produtiva da


construção civil. Fonte: ABRAMAT (2008)

47
Outros Máquinas e
fornecedores; equipamentos; Indústria da Construção
10 ,50% 0 ,50%

Serviços e Indústria de materiais


outros;
14 ,30%
Serviços e outros

Indústria da
Construção; Outros fornecedores
68 ,40%
Indústria de
materiais; Máquinas e
6,30% equipamentos

Gráfico 4 - Participação dos agentes da cadeia produtiva da construção civil na


geração de empregos. Fonte: ABRAMAT (2008)

É importante salientar a questão da informalidade na construção civil. O


segmento formal da construção gerou 60% do PIB da construção, sendo
responsável por apenas 27,4% do emprego. Porém, os “trabalhadores das
empresas formais de construção têm produtividade 76% superior à da média da
economia brasileira, os informais têm produtividade 56% abaixo da mesma
média” (ABRAMAT, 2008).
A Tabela 5 apresenta um resumo comparativo entre os agentes da
Cadeia Produtiva da Construção Civil, considerando a participação no PIB e a
geração de empregos.

48
Tabela 5 - Tabela resumo comparativa entre os agentes da Cadeia Produtiva da
Construção
Civil. Fonte: ABRAMAT (2008).

(%) no PIB Pessoal ocupados


Agentes da Cadeia produtiva R$ bilhão (%) no emprego
da Cadeia (milhares)
Indústria da Construção 113,6 60,7 6.343,0 68,4
Indústria de materiais 34,65 18,5 583,5 6,3
Serviços e outros 25,66 13,8 1.325,7 14,3
Outros fornecedores 8,86 4,7 974,9 10,5
Máquinas e equipamentos
4,34 2,3 44,7 0,5
para a construção
TOTAL 187,11 100 9.272,4 100

Por fim, é mostrado o avanço do setor nos últimos anos. O Gráfico 5 exibe
a variação anual PIB da economia brasileira e da Cadeia Produtiva da Construção
Civil, sugerindo um crescimento da última em 21,7% entre 2004 e 2007, com
índices acima da economia brasileira nos anos de 2004, 2006 e 2007.
Ressaltando que os dados de 2007 são apenas projeções, e não os índices reais.
Já, o Gráfico 6 exibe a variação do número de empregos formais na Cadeia
Produtiva da Construção Civil, com crescimento de 37% ente 2004 e 2007.

49
10,00%
7,90%
8,00%
6,60%
6,00%
4,60%
4,00% Economia
2,00% Construção
1,20%

0,00%
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
‐2,00%
‐2,10% ‐2,20%
‐4,00% ‐3,30%

Gráfico 5 - Variação anual do PIB da economia brasileira e da Cadeia produtiva


da Construção Civil. Fonte: ABRAMAT (2008).

Gráfico 6 - Variação do número de empregos formais na Cadeia Produtiva da


Construção Civil. Fonte: ABRAMAT (2008).

9 CANTEIRO DE OBRA

Quando você imagina um canteiro de obras, no que você pensa? Um


canteiro de obras é tipicamente imaginado como algo desorganizado e bagunçado,

50
mas ele deve ser encarado como o cartão de visitas de uma construção. Imagine a
impressão do seu cliente ou do seu chefe em ver o canteiro de obras, do qual você
é responsável, ajeitado e bem estruturado. Isso trará uma ótima primeira impressão
sobre a obra e melhorará seu relacionamento com eles. Além disso, um canteiro de
obras limpo e organizado facilita muito a execução da obra, deixando- -a mais
dinâmica e em harmonia com o meio ambiente local. Acima de tudo, sua
organização é primordial no aumento da eficiência e da produtividade da obra,
diminuindo, consequentemente, o número de acidentes de trabalho.
Neste capítulo, você vai aprender pontos essenciais para uma boa gestão
de canteiro de obra. Primeiramente, você vai saber o que é um canteiro de obras e
identificar os tipos de canteiros existentes e suas características. Em seguida, você
vai ver que existem muitos projetos dentro da mesma obra e que é essencial
conhecê-los e compatibilizá-los. Você conhecerá também uma maneira simples e
muito útil de observar os projetos que serão executados na sua obra, a estrutura
analítica do projeto (EAP). Por último, você vai entender as principais medidas de
administração e organização dos materiais e equipamentos em um canteiro de
obras. Vai aprender as localizações mais indicadas para cada tipo de material e
equipamento, a melhor maneira de estocá-lo, as medidas de segurança para evitar
acidentes e a importância do planejamento do layout de um canteiro obras.

9.1 Tipos de canteiros de obras e seus componentes

Antes de começar a entender os tipos de canteiro de obras existentes, você


já se perguntou o que é um canteiro de obras? A norma da Associação Brasileira
de Normas Técnicas NBR 12284 – Áreas de Vivência em Canteiros de Obra define
canteiro de obras como áreas destinadas à execução e ao apoio dos trabalhos da

51
indústria da construção, dividindo-se em áreas operacionais e áreas de vivência
(ASSOCIAÇÃO..., 1991). Você pode entender o canteiro de obra como o local que
gera uma determinada construção. Ele nada mais é do que uma fábrica,
trabalhando para construir seu produto final: a obra.
Segundo Illingworth (2000), os canteiros de obra podem ser classificados
em três diferentes tipos, descritos a seguir.
Restritos: é quando a construção ocupa todo o terreno, ou boa parte dele,
e a obra tem acessos restritos. Exemplos desse tipo de canteiros são obras em
áreas centrais de grandes cidades, ampliações e reformas.
Amplos: é quando a construção ocupa uma parcela relativamente pequena
do terreno da obra. Nos canteiros amplos, há disponibilidade de acesso de veículos
e há espaço para o armazenamento de materiais e o alojamento de pessoas. Alguns
exemplos desse tipo de canteiro são construções de conjuntos habitacionais
horizontais, de plantas industriais, de barragens, de usinas hidrelétricas e outras
construções de grande porte.
Longos e estreitos: são canteiros restringidos por uma de suas
dimensões, com o acesso limitado a poucos pontos do terreno. Exemplos de
canteiros longos e estreitos são rodovias, estradas de ferro, redes de gás e petróleo
e algumas construções de prédios em terrenos estreitos.
Veja a seguir duas dicas para o planejamento de canteiros restritos
fornecidas por Illingworth (2000).
▪ Começar pela fronteira mais difícil: executar os serviços das divisas
mais problemáticas antes do resto da obra evita que se tenha que acessar essa
divisa nas fases posteriores de execução da obra, em que outros fatores podem
dificultar o acesso.
▪ Criar espaços utilizáveis no térreo o quanto antes: em obras com nível
subterrâneo ocupando quase todo terreno da obra, o ideal é concluir o nível térreo
o mais cedo possível para poder montar seu canteiro de obras permanente.

52
A NBR 12284 ainda define duas áreas principais do canteiro de obras: as
áreas operacionais e as áreas de vivência (ASSOCIAÇÃO..., 1991). Os
componentes das duas áreas e a especificação de cada uma delas serão descritos
a seguir.
▪ Áreas operacionais: são aquelas em que se desenvolvem as atividades de
trabalho ligadas diretamente à produção.
▪ Áreas de vivência: são aquelas destinadas a suprir as necessidades básicas
humanas de alimentação, higiene pessoal, descanso, lazer, convivência e
procedimentos ambulatoriais, devendo ficar fisicamente separadas das áreas
operacionais.

Componentes de áreas da operação:

a) Escritórios:
■ Gerente do contrato
■ Administração contractual
■ Custos e orçamentos (novos serviços)
■ Planejamento

■Produção
■ Qualidade
■ Segurança do trabalho
■ Meio ambiente

b) Áreas de apoio à produção


■ Mestre de obras
■ Almoxarifado (obra, escritório, EPI)
■ Laboratório de qualidade

53
■ Central de armação Gestão preliminar do canteiro de obras 3
■ Área de carga e descarga

c) Áreas de apoio à produção especial


■ Central de solda
■ Área de carga e descarga / armazenagem de pré-moldado

■ Central de concreto
■ Pátio de manutenção de equipamentos
■ Balança
■ Central de andaimes
■ Central de esquadrias

Componentes das áreas de vivência:

a) Áreas comuns:
■ Instalações sanitárias
■ Vestiários
■ Refeitório/cozinha

■ Alojamento (em alguns casos)


■ Ambulatório
■ Lavanderia
■ Área de treinamento

b) Geral
■ Guarita
■ Estacionamento

54
■ Vias de acesso
■ Coleta seletiva (classes A, B, C e D)

A organização do canteiro de obras deve estar de acordo com as normas


vigentes, em que se destaca a Norma Regulamentadora 18 (NR-18) — Condições
e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção. Essa norma torna
obrigatória a elaboração do Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho
na Indústria da Construção (PCMAT) para estabelecimentos com mais de 20
trabalhadores, exigindo o cumprimento da NR-18 e de outros dispositivos de
segurança. São detalhadas a seguir algumas das exigências da NR-18 sobre as
áreas de vivência do canteiro de obras. A NR-18 destaca que os canteiros devem
dispor dos seguintes itens (BRASIL, 2015):
Instalações sanitárias: deve conter lavatório, vaso sanitário e mictório, na
proporção de 1 para cada grupo de 20 trabalhadores, e chuveiro na proporção de 1
para cada 10 trabalhadores. 4 Gestão preliminar do canteiro de obras
▪ Vestiário: todo canteiro de obra deve ter vestiário para a troca de
roupa dos trabalhadores que não residem no local. A localização do vestiário deve
ser próxima aos alojamentos ou à entrada da obra e não ter acesso direto com o
local de refeições.
▪ Alojamento: devem ter camas com lençol, travesseiro, fronha e
cobertor quando necessário. É proibido o uso de três ou mais camas na mesma
vertical. A cama superior do beliche deve ter proteção lateral e escada. Devem ter
armários duplos individuais. É proibido cozinhar ou aquecer comida dentro dos
alojamentos. É obrigatório o fornecimento de água potável, filtrada e fresca, por
meio de bebedouros de jato inclinado ou similar, na proporção de 1 para 25
trabalhadores.
▪ Local de refeições: é obrigatório nos canteiros de obras,
independentemente do número de trabalhadores. Deve ter um local exclusivo para
o aquecimento de refeições, dotado de equipamento adequado. É proibido preparar

55
▪ ou aquecer refeições fora do local de refeições. É obrigatório, nesse
local, o fornecimento de água potável, filtrada e fresca, por meio de bebedouros de
jato inclinado ou similar, sendo proibida a utilização de copos coletivos.
▪ Cozinha: é obrigatória quando houver preparo de refeições na obra.
É obrigatório ter pia para lavar alimentos e utensílios, ter ventilação, dispor de
recipiente para coleta de lixo com tampa, ter equipamento de refrigeração e ficar
adjacente ao local de refeições. É obrigatório o uso de aventais e gorros para as
pessoas que trabalham na cozinha.
▪ Lavanderia: deve ter tanques individuais ou coletivos em número
adequado. A empresa pode contratar serviço terceirizado para atender a este item.
▪ Área de lazer: devem ser previstos lugares para a recreação dos
trabalhadores alojados, podendo ser utilizado o local de refeições para este fim.
▪ Ambulatório: obrigatório quando houver mais de 50 trabalhadores.
A NR-18 destaca que a presença de alojamento, lavanderia e área de lazer
é obrigatória para obras em que houver trabalhadores alojados. As áreas de
vivência devem ser mantidas em perfeito estado de conservação, higiene e limpeza.
A necessidade de um canteiro de obras limpo e organizado vai além das
recomendações da NR-18. O canteiro deve apresentar um layout e uma logística
funcional, que estejam de acordo com as normas, com as necessidades de
armazenamento e estoque de materiais e com a necessidade de movimentação
vertical e horizontal de pessoas, materiais e equipamentos.
O layout e a logística do canteiro de obras definem a disposição de pessoas,
equipamentos e materiais no terreno, buscando um arranjo eficiente que reduza o
máximo possível as movimentações na obra. As atividades principais da logística
dizem respeito ao transporte, ao processamento de pedidos e ao gerenciamento de
estoque, enquanto as atividades secundárias envolvem manuseio de materiais,
armazenagem, compras e sistema de informação. O layout deve ser pensado em
todas as fases da obra de maneira estratégica e levando em conta as atividades da
logística. Com isso, o tempo de trabalho das pessoas é melhor aproveitado, o

56
manuseio desnecessário dos equipamentos diminui, evitando acidentes de
trabalho, e a produtividade da obra aumenta.
Um elemento facilitador muito utilizado em obras é o barracão de obra. O
barracão pode ser utilizado para diversas funções, como para banheiros, vestiários,
escritório e estoque de materiais e equipamentos, por exemplo. O barracão pode
ser construído na própria obra ou, de maneira prática, alugado na forma de
containers.
A compreensão das partes constituintes e das normas que regem a
montagem do canteiro de obras é essencial para desenvolver um bom planejamento
para a obra. O bom planejamento do canteiro de obras possibilita que o espaço
físico da obra seja melhor utilizado, de maneira eficiente e segura, minimizando
movimentações e facilitando tarefas. Ter um canteiro de obra otimizado, limpo e
organizado significa que o trabalho do gestor será facilitado e os problemas serão
reduzidos.

9.2 Projetos constituintes da obra

Seria ótimo se existisse somente um projeto para a obra inteira. Você já se


perguntou quantos projetos diferentes existem em uma mesma obra? Como gestor,
quais projetos você deverá contratar para que sua obra seja bem executada?
Quanto mais completos forem os projetos da obra, menos improvisos e imprevistos

ocorrerão, facilitando muito seu sucesso. Por outro lado, projetos excessivamente
detalhados podem ser um desperdício de tempo e dinheiro. Então, quais são os
projetos mais importantes para uma obra?
Claro que o conjunto de projetos vai depender do tipo de obra. De modo
geral, para a construção de prédios e casas, destacam-se os seguintes projetos.
▪ Projeto de aprovação legal de construção: é o projeto que será
carimbado pela prefeitura da cidade, dando o alvará de construção ou a permissão

57
▪ para a execução da obra. Esse documento é necessário tanto para
obras particulares como para obras públicas e é necessário, muitas vezes, para
buscar financiamento em bancos. Cada cidade tem seu próprio Plano Diretor, que
estabelece algumas regras para as construções com o objetivo de urbanizar a
cidade de forma organizada. Por exemplo, algumas áreas da cidade são destinadas
a casas, não podendo ter prédios, indústrias ou comércios. O Plano Diretor
estabelece também quanto da área do terreno poderá ser ocupada pela construção,
▪ a distância lateral entre as edificações, quanto do terreno deverá
permanecer permeável, índices de iluminação e de ventilação, entre outros fatores.
Algumas aprovações de projetos estipulam prazos de validade para o documento e
outras simplesmente aprovam o início da obra, aspecto que varia de cidade para
cidade.
▪ Projeto arquitetônico: é o projeto de criação estética da obra, em que
se poderá ver qual o produto final da obra. O projeto deve estar de acordo com o
Plano Diretor da cidade. Esse projeto apresentará os desenhos de fachada da
construção e divisões de espaços interiores, mas um bom projeto irá muito além
disso. Um bom projeto arquitetônico tem detalhes sobre os materiais utilizados no
interior da construção, como pisos, pedras, cerâmicas, rodapés, pontos de
iluminação, assim como suas especificações e marcas aconselhadas. Ele deve
andar junto com o projeto estrutural, para que a estrutura desejada possa ser
dimensionada pelo engenheiro estrutural e não cause um aumento excessivo de
gastos. O projeto também deve ser compatibilizado com o projeto elétrico, hidráulico
e outros possíveis projetos existentes na obra. Nesse projeto, pode-se ainda

▪ encontrar o projeto de jardins, iluminação externa, irrigação, design


interno da obra, entre outros elementos estéticos da obra, conforme solicitado e
contratado.
▪ Projeto estrutural: projeto que dimensionará e detalhará a estrutura
para que ela resista aos esforços a que será submetida e atenda às condições
mínimas de conforto. Ele dependerá do método construtivo utilizado, tipicamente de

58
concreto armado, estrutura metálica, alvenaria ou madeira. Ele levará em
consideração fatores como clima, ação do vento e cargas permanentes e acidentais.
Nele constarão as dimensões e a localização de vigas, pilares, paredes, lajes e
outros elementos estruturais da obra. Além disso, o projeto estrutural detalha as
especificações de resistência mínima dos elementos estruturais, como do concreto,
das armaduras ou da madeira.
▪ Projeto geotécnico e de fundações: projeto em que você encontrará
as especificações para a construção das fundações que sustentarão todas as
cargas da estrutura da obra, que serão transferidas para o solo. Um problema neste
▪ projeto pode colocar em risco toda a estrutura construída acima dele.
É importante que o projeto das fundações da obra seja baseado em sondagens
geotécnicas do solo onde a obra está sendo construída. Ele especificará o tipo de
fundação utilizada, se será superficial ou profunda, as suas dimensões, o nível de
assentamento, o tipo de material utilizado e o detalhamento. O projeto ainda pode
ter especificações de técnicas de melhoramento ou reforço de solos.
▪ Projeto hidráulico: também chamado de projeto hidrossanitário, este
projeto especifica a passagem das tubulações de água, a posições e os diâmetros
dos canos, os registros e a posição da caixa d’água. Deve levar em consideração a
pressão mínima para correto funcionamento de registros e chuveiros. O projeto
pode ter especificação sobre coleta, reservação e distribuição de água. Geralmente
o projeto hidráulico contempla sistemas de água fria e quente, esgoto, drenagem de
águas pluviais, assim como sua ligação com o sistema público.
▪ Projeto elétrico: projeto que determina como são os circuitos elétricos
e seus componentes em uma obra, como tomadas, interruptores, luminárias, ar-
condicionado, entre outros. O projeto também especifica o quadro de distribuição
de energia, seus disjuntores, os dispositivos de proteção, a ligação com a rede
pública de energia e o sistema de proteção contra descargas elétricas naturais

59
(como para-raios). Deve-se ressaltar que as ligações provisórias utilizadas durante
a execução da obra também devem ser dimensionadas adequadamente, levando
em conta a segurança dos trabalhadores que irão utilizá-las.
▪ Projeto de prevenção contra incêndio (PPCI): é uma exigência legal
para instalações comerciais, industriais, de diversões públicas e edifícios
residenciais multifamiliares. As residências familiares únicas não necessitam de
PPCI. O projeto visa a amenizar os danos causados por incêndios e proteger a
integridade física das pessoas e deve ser submetido e aprovado pelo Corpo de
Bombeiros.
De acordo com a complexidade e o tipo da obra, outros projetos podem ser
necessários. Alguns exemplos são projeto de terraplanagem, pavimentação,
acústica, instalações de gás, estacionamento, sinalização, alarme, fôrmas,
drenagem, ar-condicionado, entre muitos outros. Veja no Quadro 1 os projetos
básicos para a construção de estradas, pontes e barragens. Devem ser incluídas
análises de sismicidade quando a obra estiver suscetível a sismos. Além disso, a
necessidade de análise dos impactos ambientais e o projeto de medidas
mitigadoras também devem ser avaliados para cada obra.

60
Quadro 1. Estudos e projetos necessários para construção de estradas, pontes e barragens

Estrada Ponte Barragem


Estudos geotécnicos e Estudos geotécnicos e Estudos geotécnicos e
geológicos geológicos geológicos Estudos
Estudos hidrológicos e Estudos hidrológicos e hidrológicos e hidráulicos
hidráulicos hidráulicos Estudos topográficos Estudos
Estudos topográficos Estudos Estudos topográficos de agregados (barragem de
de tráfego Estudos de traçado Estudos de tráfego terra) Projeto geotécnico da
Projeto geométrico e de Estudos de traçado barragem (barragem de terra)
terraplanagem Projeto geométrico e de Projeto estrutural (barragem
Projeto de pavimentação terraplanagem de concreto) Projeto do
Projeto elétrico Projeto arquitetônico reservatório Projeto do
Projeto de drenagem Projeto Projeto estrutural vertedouro Projeto de
de desapropriação Projeto de fundações acessibilidade Projeto das
Projeto de interseções, Projeto elétrico áreas de operação Projeto
retornos e acessos Projeto de Projeto de elementos de elétrico
sinalização Projeto de segurança
elementos de segurança Projeto de drenagem
Projeto de pavimentação
Projeto de sinalização

É importante garantir a compatibilização entre os projetos. As tubulações


do projeto hidráulico podem passar no mesmo lugar de circuitos elétricos, ou de
uma parte importante da estrutura e das armaduras. Verificar se um projeto está
interferindo no outro evita imprevistos durante a execução da obra. Por isso, é muito
importante que os projetistas das diferentes áreas se comuniquem entresi,
sincronizando seus trabalhos e evitando alterações e retrabalhos futuros. O ideal é
que os projetos cheguem ao encarregado da obra sem interferências, mas a
complexidade e a diversidade de projetos de uma obra fazem com que alguns
pontos passem despercebidos até para projetistas muito experientes. A
compatibilização de projetos compromete desde o projetista até o trabalhador da
obra, pois pode gerar retrabalho para todas as partes, e por isso deve ser encarado
como responsabilidade de todos.
Mesmo buscando uma boa compatibilização de projetos, é comum durante
a fase de projeto e de construção de uma obra que os projetos originais sofram

61
alterações. Isso faz com que as plantas sejam revistas e os projetos tenham
diversas versões, buscando sempre manter a planta atualizada. Durante a fase de
projeto é muito importante que as versões finais dos projetos sejam aprovadas,
assinadas e carimbadas pelos seus responsáveis técnicos. A confusão das diversas
versões dos projetos, sem oficialização da versão final, pode acarretar grandes
prejuízos na execução da obra. Por isso, o executor da obra deve ter certeza de
que está com a versão final dos projetos em mãos. Cabe ressaltar que essa
validação da versão final do projeto é inclusive utilizada, muitas vezes, como fator
obrigatório para concorrer a licitações para execução de obras públicas. Isso
garante que o executor trabalhará com a versão final do projeto durante a obra.
A atualização e a organização das versões do projeto também são
essenciais durante a execução obra. A revisão final, que representa como a obra
foi realmente construída, é chamada de As Built, em português “Como Construído”.
O As Built não deve mais sofrer alterações e é a versão do projeto que deve ser
averbada no órgão de registro da cidade, devidamente acompanhada da
documentação técnica do responsável pelo projeto. Assim, na hora de fazer uma
nova obra do terreno, o responsável da obra poderá consultar o As Built e verificar
quais tipos de interferência poderá encontrar no projeto.
Entretanto, como organizar conjuntamente todos os projetos de uma obra?
Para facilitar a identificação das atividades que constituem a obra, Mattos (2010)
aconselha a elaboração da EAP. Trata-se da estrutura hierárquica das atividades
da obra, que são decompostas progressivamente em atividades menores e mais
fáceis de manejar. A EAP pode ser feita em três formas, conforme se vê na Figura
3.

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Pode-se dizer que o sistema de árvore é o mais fácil de se entender, pois o
processo de decomposição em etapas se assemelha muito ao de uma árvore
genealógica familiar, com os mais velhos em blocos nos níveis superiores e seus
filhos nos níveis inferiores. A estrutura analítica é a mais utilizada pelos softwares
de planejamento. A estrutura de mapa mental é similar à estrutura de árvore, porém
sem blocos e distribuída radialmente com uma ideia central.
A EAP deve ser feita com especial atenção, pois se alguma atividade for
esquecida, todo o planejamento da obra deverá ser reformulado e isso poderá
atrasar a obra, levando à elaboração de projetos de última hora. Mattos (2010)
ressalta que o desmembramento das atividades da obra não é uma tarefa fácil e

63
deve ter a colaboração de todas as pessoas envolvidas no projeto. A elaboração da
EAP exige um entendimento aprofundado da metodologia utilizada no projeto para
possibilitar a transformação de tarefas maiores em pacotes de tarefas menores e
de fácil compreensão.

Até onde você deve decompor sua EAP? Detalhar demais as atividades
pode ser desperdício de tempo e de dinheiro, além de poder deixar sua EAP
confusa. Por exemplo, não é preciso detalhar o posicionamento de cada tijolo de
uma parede. Para ajudar, Mattos (2010) destaca o tempo mínimo de um dia e o
tempo máximo de 10 dias. Ou seja, se a atividade durar menos de um dia, ela é
pequena demais para constar em sua EAP, e se a atividade durar mais de 10
dias, ela deve ser decomposta em atividades menores.

9.3 Administração de materiais e de equipamentos em canteiros de obras

Durante uma obra, muitos materiais e equipamentos passam pelo canteiro.


Você já se perguntou qual é a melhor forma de organizá-los para facilitar o
andamento da obra, mantê-la limpa e diminuir desperdícios? Isso está diretamente
ligado ao planejamento do layout da obra e sua logística, que definirá estratégias
para a movimentação e o armazenamento por meio da elaboração de um arranjo
físico para o canteiro.
Para começar, deve-se selecionar e classificar os materiais quanto ao seu
tempo de aplicabilidade na obra, conforme a necessidade de cada. Um exemplo é
dividi-los em três tipos: tipo 1, que serão adquiridos somente uma vez durante a
obra, como elevador, betoneira, louças, caixa d’água, entre outros; o tipo 2, de
materiais recebidos em um determinado período diversas vezes, como tijolos,
concreto, armaduras, entre outros; e tipo 3, para materiais adquiridos toda a

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semana. Os materiais podem mudar de categoria dependendo das necessidades
de cada obra. Deve-se elaborar o planejamento de entrada e saída dos
equipamentos da obra, evitando custos desnecessários e desocupando espaços no
canteiro de obras.
Para melhor administrar a movimentação e o armazenamento de materiais
e equipamentos na obra, Saurin e Formoso (2006) definem algumas diretrizes que
estão divididas em nove grupos. Essas diretrizes serão analisadas posteriormente.
São elas:

Dimensionamento das instalações


▪ Definição do layout das áreas de armazenamento.
▪ Posto de produção de argamassa e concreto.
▪ Vias de circulação.
▪ Disposição do entulho.
▪ Armazenamento de cimento e agregados.
▪ Armazenamento de blocos e tijolos.
▪ Armazenamento de aço e armaduras.
▪ Armazenamento de tubos de PVC.

O dimensionamento de instalações de movimentação e armazenamento


usualmente adotadas para canteiros de obras de prédios, conforme Saurin e
Formoso (2006), é apresentado no Quadro 2. Esse quadro destaca algumas das
instalações mais importantes dos canteiros de obra.

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Quadro 2. Dimensões usuais de instalações em canteiros de obra
Instalação Dimensões usuais
Elevador de carga 1,80 m × 2,30 m
Baias de agregados Largura: igual ou maior à caçamba do caminhão
Altura e comprimento: suficientes para o
estoque Usualmente: 3,00 m × 3,00 m × 0,80 m
Estoques de cimento Estimadas com base no planejamento Saco de
cimento: 0,70 m × 0,45 m × 0,11 m Altura
máxima da pilha: 10 sacos
Estoque de blocos Estimadas com base no planejamento Saco de
cimento: 0,70 m × 0,45 m × 0,11 m Altura
máxima da pilha: 10 sacos
Caçamba tele-entulho 1,60 m × 2,65 m
Bancada de fôrmas Um pouco maiores do que a maior viga ou pilar
a ser executado
Portão de veículos Altura e largura que permitam a passagem do
maior veículo que entrará na obra Usualmente:
4,00 m × 4,50 m (largura x altura)
Fonte: Adaptado de Saurin e Formoso (2006).

Para a definição do layout das áreas de armazenamento, aconselha-se


tentar armazenar todos os materiais possíveis no subsolo. Essa medida libera o
pavimento térreo para instalações provisórias, favorece a limpeza das áreas de
vivência, protege os materiais armazenados de intempéries e facilita a circulação
de materiais e trabalhadores, já que o subsolo é geralmente uma área desobstruída.
O descarregamento de material pode ser feito por meio de uma abertura na laje do
subsolo ou na parede do subsolo, com utilização opcional de rampas. Em razão da
forma e do volume de alguns materiais, como telas de aço e blocos de alvenaria,
aconselha-se o planejamento de entregas do material conforme a obra for
executada, com entrega diretamente no local de uso por meio de pallets, para
reduzir a necessidade de estoque desses materiais. Quando as áreas de
armazenamento não podem ser no subsolo, aconselha-se que ela seja próxima ao
descarregamento do material pelos caminhões, para minimizar movimentações, e
em área coberta.

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O posto de produção de argamassa e concreto define a localização da
betoneira e dos materiais utilizados para fazer o concreto. Aconselha-se que o posto
se situe próximo do elevador de carga, cuidando para evitar o cruzamento de fluxos.
O posto deve estar em um local coberto, podendo ser sob a própria construção ou
sob um telhado construído para esse fim.

Uma dica para manter o canteiro de obras limpo e organizado é envolver toda a equipe por
meio de treinamento, recompensas e conscientização. Para a implantação de um programa
de qualidade existe o programa 5S, que incentiva a prática de cinco sensos nas pessoas.

▪ Descarte (seiri): identificar objetos e materiais desnecessários e descartá-los,


liberando espaços no canteiro.
▪ Ordem (seiton): estabelecer o lugar certo para os objetos ou materiais, por meio de
sinalizações, diminuindo o tempo de busca.
▪ Limpeza (seiso): a limpeza deixa o ambiente mais agradável para se trabalhar e
melhora a imagem da empresa.
▪ Asseio (seiketsu): busca conscientizar a equipe quanto à necessidade de higiene
individual e de condições de trabalho satisfatórias quanto a ruído, temperatura e
iluminação, por exemplo.
▪ Disciplina (shitsuke): incentivar responsabilidade e iniciativa nos trabalhadores, por
exemplo, com o incentivo da utilização dos equipamentos de proteção individual
(EPI).

As vias de circulação de pessoas e equipamentos deve constar no layout


do canteiro de obras. Deve-se executar o contrapiso antes de alocar qualquer
estoque, com objetivo de facilitar a circulação e evitar perdas de materiais, redução
de produtividade e acidentes de trabalho. O trajeto de caminhões deve ser em solo
estável, se necessário, com uma camada de brita. A drenagem das vias de pessoas
e veículos deve ser adequada. Deve-se verificar se a interferência de escoramentos
e sacadas na circulação de pessoas e veículos, para evitar soluções improvisadas
de alteração de layout durante a obra.
O entulho, apesar de indesejado, existe em todas obras. A disposição de
entulho deve ser feita em local específico para esse fim, com caçamba ou baia de
armazenamento. A descarga pode ser feita por meio de tubos coletores, evitando,
assim, o desperdício de material e mão de obra. A caçamba ou baia de
armazenamento de entulho deve estar localizada próximo ao local de descarte de

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material ou abaixo do tubo coletor e deve ser um lugar acessível ao caminhão de
coleta. É desejável separar os depósitos de entulho para materiais e lixo orgânico,
possibilitando também a separação de entulho reaproveitável. A Figura 4 apresenta
um uso comum de caçamba e tubo coletor para descarga de entulho.

Algumas recomendações sobre o armazenamento de cimento e agregados


em canteiros de obra são descritas por Bonin et al. (1993). Um resumo é
apresentado no Quadro 3, para cimento e agregados separadamente.

Quadro 3. Recomendações para armazenamento de cimento e agregados


Cimento Agregados
Manter estoques em locais abrigados ou cobri-los com lona impermeável
Pilhas de sacos distanciadas 0,30 m de paredes Baias com no mínimo três lados e cerca de 1,20
e 0,50 m do teto, para evitar contato com m de altura
umidade e permitir a circulação de ar
Pilhas de no máximo 10 sacos Pilhas de no máximo 1,50 m de altura
Obras com grandes estoques: utilizar sacos Largura das baias de no mínimo 3 m
mais velhos antes dos novos
Localizar sobre um estrado para evitar a Estocar sobre lajes ou piso cimentado (ou
ascensão de umidade do piso desprezar últimos 15 cm de estoque)
Regiões muito quentes: empilhar no máximo Providenciar boa drenagem para a baia de
cinco sacos, evitar lonas de cor preta e afastar estoque
as pilhas em 0,50 m
Fonte: Adaptado de Bonin et al. (1993).

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Para o armazenamento de blocos e tijolos, destaca-se os seguintes
aspectos: local de estoque deve estar nivelado e limpo; separar blocos e tijolos por
tipos; altura máxima de 1,40 m, para evitar que os trabalhadores ergam os braços
demasiadamente; estoque localizado em zona coberta ou cobri-lo com lona
impermeável; aconselha-se marcar no solo a zona delimitada para o estoque; o
descarregamento desses materiais deve ser feito o mais próximo possível da zona
de uso ou do equipamento de transporte vertical de materiais; utilizar pallets para
sua movimentação ou carrinhos porta-blocos.
O armazenamento de aço e armaduras depende da agressividade do meio
em que a obra se encontra, conforme destaca Bonin et al. (1993). Em meios
fortemente agressivos, por exemplo, em regiões perto do mar ou industriais, deve-
se armazenar o aço e as armaduras pelo menor tempo possível, manter os estoques
cobertos e abrigados em galpões. Para meios medianamente e fracamente
agressivos, como em regiões com umidade do ar alta e média, recomenda-se cobrir
o estoque com lonas plásticas. Os seguintes cuidados são recomendados para
todos os meios: barras separadas e identificadas por diâmetro; deve-se ter mais
atenção com aços já cortados ou dobrados, em razão do rompimento da película
protetora das barras; em obras com pouco espaço, pode-se estocar as barras em
ganchos nas paredes; proteger as pontas horizontais e verticais de vergalhões para
evitar acidentes de trabalho.
Para o armazenamento de tubos de PVC, algumas dicas são: armazenar
preferencialmente no almoxarifado, ou então em lugares sem exposição direta ao
sol ou cobertos com lona; separar e identificar por bitolas; e, para obras com pouco
espaço, podem ser armazenados em ganchos na parede.
Lembre-se que a utilização de barracões de obra pode ser muito útil para a
estocagem de materiais. O barracão é um ambiente protegido de intempéries,
coberto e com piso. Além dessa dica, é sempre bom lembrar que q limpeza do
canteiro de obras é essencial para o aumento da eficiência da obra e para que o
ambiente de trabalho seja mais agradável.

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Fique Atento!

A NR-18 destaca, nos itens 18.14 — Movimentação e Transporte de Materiais e Pessoas e 18.24
— Armazenagem e Estocagem de Materiais, alguns aspectos essenciais que devem ser
cumpridos para garantir a segurança das pessoas e o correto armazenamento e transporte de
materiais no canteiro de obras

Como você pode perceber, a criação de um layout adequado para todos os


materiais que passarão na obra não é fácil, porém existem muitas dicas e
recomendações que facilitam a tarefa. É sempre desejável que vários membros da
equipe opinem sobre o layout do canteiro de obras, em especial os próprios
trabalhadores da obra. Deve-se buscar a minimização de deslocamentos e evitar o
desperdício de materiais, sempre priorizando a segurança dos trabalhadores. Mas,
lembre-se: o layout de um canteiro está sempre se modificando em função das suas
necessidades e do desenvolvimento da obra

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10 REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12284:1991. Áreas


de vivência em canteiros de obras – Procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 1991.

BONIN, L.C. et al. Manual de referência técnica para estruturas de concreto


armado convencionais. Porto Alegre: Sinduscon/RS, 1993.

BRASIL. Ministério do Trabalho. Norma Regulamentadora NR 18. Condições e


Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção. Brasília, DF, 2015.
Disponível em: Acesso em: 22 out. 2018.

FERNANDEZ, J.A.B. Diagnóstico dos Resíduos Sólidos da Construção Civil –


Relatório de Pesquisa. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – Ipea, p. 10. 11
Brasília, 2012.

FILHO, J.I.P; ROCHA, R. A; SILVA, L. M. Planejamento e controle da produção


na Construção Civil para gerenciamento de custos. XXIV Encontro Nac. de Eng.
de Produção - Florianópolis, SC, Brasil, p. 643-644; 03 a 05 de nov de 2004.

GOLDMAN, P. Introdução ao Planejamento e Controle de Custos na


Construção Civil. 4. ed. atual. -- São Paulo : Pini, 2004.

ILLINGWORTH,J. R. Construction: Methods and Planning. 2. ed. London: CRC


Press, 2000

MARTINS F. G. Gestão E Gerenciamento De Resíduos Da Construção Civil Em


Obras De Grande Porte – Estudos De Caso, São Carlos, 2012.

MATTOS, A. D. Planejamento e controle de obras. São Paulo: Pini, 2010.

OLIVEIRA, C. F. Canteiro de obra: componentes. 20 abr. 2016.

SAURIN, T. A.; FORMOSO, C. T. Planejamento de canteiros de obra e gestão


de processos. Porto Alegre: ANTAC, 2006. (Recomendações técnicas HABITARE,
3).

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