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Colaboradores - - - -- - -- - -- -
Adriana Maurano - Alessandra Mara Cornazzani Sales - Alexandre Sanson - A/varo
Iheodor Herman Salem Caggiano - Ana Flávia Messa - Ana Paula Fuliaro - Bruno César
Lorencini - Carlos Eduardo Herm·an Salem Caggiano - Claudio Lembo - Cristina Godoy
Bernardo de Oliveira - Daniel Gustavo Falcão Pimentel dos Reis - Edmir Netto de Araujo -
Elza Antonia Pereira Cunha Boiteux - Fernanda Dias Menezes de Almeida - Fernando Dias
Menezes de Almeida - Fernando Fabiani Capano - Gislene Donizetti Gerônimo - Giuliano
Savioli Deliberador - Hélcio de Abreu Dallari Júnior - José Levi Mello do Amaral júnior -
Karin Pfannemüller Gomes - Manoel Gonçalves Ferreira Filho - Marcelo Mazotti - Maria
Augusta Castanho - Marilia Alves Barbour - Nina Beatriz Stocco Ranieri - Renato Jaqueta
Benine - Rubens Beçak - Tatiana Penharrubia Fagundes - Vicente Bagnoli -
Vivian de Almeida Gregori Torres
Copyright @ 2014 E ditora IELD
Organização
Vivian de Almeida Gregori Torres
Alvaro Theodor H erman Salem Caggiano
Normalização Técnica
Marli de Moraes - CRB / SP 4414
Capa e Projeto Gráfico
Marcos Roberto NicoliJundurian
Vários autores.
Bibliografia
14-01934 CD U-342
Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida, por qualquer processo, sem a
permissão expressa dos editores
Impresso no Brasil
Printt>c1 in Rr~ z il
Organizadores
' Vivian de Almeida Gregori Torres
Alvaro Theodor Herman Salem Caggiano
Colaboradores
Adriana Maurano
Alessandra Mara Cornazzani Sales
Alexandre Sanson
Alvaro Theodor Herman Salem Caggiano
Ana Flávia Messa
Ana Paula Fuliaro
Bruno César Lorencini
Carlos Eduardo Herman Salem Caggiano
Claudio Lembo
Cristina Godoy Bernardo de Oliveira
Daniel Gustavo Falcão Pimentel dos Reis
Edmir Netto de Araujo
Elza Antonia Pereira Cunha Boiteux
Fernanda Dias Menezes de Almeida
Fernando Dias Menezes de Almeida
Fernando Fabiani Capano
Gislene Donizetti Gerônimo
Giuliano Savioli Deliberador
Hélcio de Abreu Dallari Júnior
José Levi Mello do Amaral Júnior
Karin Pfannemüller Gomes
Manoel Gonçalves Ferreira Filho
Marcelo Mazotti
Maria Augusta Castanho
Marilia Alves Barbour
Nina Beatriz Stocco Ranieri
Renato Jaqueta Benine
Rubens Beçak
Tatiana Penharrubia Fagundes
Vicente Bagnoli
Vivian de Almeida Gregori Torres
1. Introdução
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Nina Beatriz Stocco Ranieri
DAHL, Robert A. Polyarchy: participation and opposition. New Haven: Yale Univer-
sitv Press. 1971.
A QUALIDADE DA DEMO C RACIA . CONSIDERAÇÕES TEÓ RI CAS
3 BLACK'S Law dictionary. 6'h ed. The Publishers Editorial Staff. St. Paul, Minn.: West
PublishingCo., 1991. p. 1312.
4 DAHL, Robert. op. cit., p. 3.
5 De acordo com esses elementos, Dahl elabora a sua classificação dos regimes políticos
contemporâneos, comparando 114 Estados de acordo com as variáveis competição e
participação políticas no ano de 1969. Os diferentes níveis de oportunidade para opo-
sição variam numa escala que vai do maior (1) ao menos (31) , considerado poliarquias
os regimes que se incluam entre 1 e 8. Nos níveis mais elevados (1 a 8), incluem-se,
sucessivamente, Suíça, Bélgica, a Dinamarca, a Finlândia, Luxemburgo, Holanda, No-
rueirn. Sué ci~ . í.hilP. T.ornnni~ PT TA Tcrool Tol A.,rl:o ri.' - · " ,., ,,_ TI --- -" -' '
A QUA LIDADE DA D EMOCRACIA . CONSIDERAÇÕES TEÓRIC AS
cana, Reino Unido, Austrália, Áustria, Canadá, Alemanha Ocidental, Japão, Nova Ze-
lândia, Filipinas, Uruguai, França, Turquia, Líbano, Índia, Jamaica, Trinidad e Tobago,
Costa Rica e Malásia. Nos piores níveis (30 a 31), encontram-se Cuba, Nigéria, Arábia
Saudita, Togo e Yemen. O Brasil, àquela altura, foi classificado no nível 19, juntamente
com Ruanda.
6 Afirma Dahl: "Considerando um regime no qual os opositores do Governo não po-
dem, aberta e legalmente, organizarem-se em partidos políticos de forma a se con-
trapor ao Governo em eleições livres e justas, quais as condições que favorecem ou
dificultam a transformação desse regime em outro no qual eles possam? Essa é a ques-
tão com a qual esse livro se preocupa''. No original: "Given a regime in which the op-
ponents of the government cannot openly and legally organize into political parties
in order to oppose the government in free and fair elections, what conditions favor
or impede a transformation into a regime in which they can? That is the question this
1 • ,......,._, _ __ ~ .
cientí.ficas. 7 Essa solução, como empreendimento cumulativo, alia-se a ou-
tras proposições de teóricos da democracia, como Sartori e Bobbio por
exemplo.
Sartori concebe simultaneamente a democracia como princípio de
legitimidade, sistema político e ideal, para, por fim, defini-la, paradoxal-
mente, como uma instituição política insaciável. Por ser princípio de legi-
timidade democrática, impede as auto-investiduras e o emprego da força
como fonte do poder; como regime político, vincula-se aos problemas
qualitativos e quantitativos relativos ao autogoverno, ao passo que, como
ideal, a democracia inevitavelmente se depara com o dilema do progres-
sivo aumento da igualdade, isto é, o dilema de como converter o que deve
ser em ser, que jamais será suficientemente resolvido. 8
Em face do paradoxo da insaciedade democrática, Sartori conclui
que somente a democracia representativa é viável nas complexas socieda-
des contemporâneas, porque não exige a separação entre a titularidade do
poder e o seu exercício. Daí a importância de se aliar a proposta de Sartori
à definição mínima de democracia de Bobbio, de caráter procedimental,
expressa nos seguintes termos:
7 KUHN, Thomas. A estrutura das revoluções científicas. 4. ed. São Paulo: Perspectiva,
1996. p. 18.
8 SARTORI, Giovani. A teoria da democracia revisitada. São Paulo: Ática, 1994.
9 BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992. p. 12.
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porque seria impensável uma definição de democracia que fosse operativa
em todo e qualquer contexto social - mas sim a necessidade de procedi-
mentos e instituições, o que dá destaque às "regras do jogo" tão caras a
Bobbio. Sob esse prisma, Dahl revela a importância do direito e das ins-
tituições políticas na configuração do regime democrático, para o fim de
facilitar a mais ampla participação na formação das decisões coletivas.
Não menos importante na teoria de Dahl é o fato de que democracia
e poliarquia foram conceituadas e definidas poucos anos antes da emer-
gência da já citada "terceira onda de democratização", o que demonstra
sua atualidade e aplicabilidade práticas.
2. A qualidade da democracia
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pensáveis, não garantem a democratização nem asseguram a qualidade da
democracia, mas apenas demonstram que a escolha de representantes esta
submetida à soberania popular. 11 Nesses casos, não há responsiveness, e
muito menos accountability por parte dos governos, malgrado a existência
da democracia formal. Como já afirmamos no início deste artigo, o que
está em jogo é a qualidade da democracia, ainda que não existam sinais de
preferência por regimes antidemocráticos.
A discussão a respeito da qualidade da democracia remete a um es-
tágio avançado do debate teórico, no qual a pesquisa empírica assume
importância capital, como demonstrou Dahl. As instituições e os meca-
nismos de representação democrática são o objeto principal das análises
acerca da qualidade da democracia, tendo em vista seu aprimoramento.
Larry Diamond e Leonardo Morlino em Assessing the quality of de-
mocracy (2005), por exemplo, dentre tantos outros, empregam metodolo-
gias pragmáticas assemelhadas para avaliar a qualidade das democracias
contemporâneas, com fundamento em quatro condições: grau de liber-
dade e igualdade políticas, controles populares sobre políticas públicas e
policy makers realizados por meio de instituições legítimãs,-estáveis e sob
regulamentação legal.
Morlino usa uma definição mínima de democracia - que supõe, neces-
sariamente, sufrágio adulto universal e eleições livres, justas, competitivas e
periódicas, além da existência de mais de um partido e mais de uma fonte
de informação - para propor um teste empírico de qualidade, fundado em
três diferentes critérios de análise: procedimento, conteúdo e resultado. A
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"boa'' democracia, ou a democracia de qualidade, é a que se apresenta "como
uma estrutura estável, que promove a liberdade e a igualdade dos cidadãos
por meio do correto funcionamento de suas instituições e mecanismos''. 12
Na base dessa definiçfio encontram-se, pelo menos, supremacia do direito
(Rule oflaw) e accountability (procedimento), responsiveness (resultado), di-
reitos civis e políticos e a progressiva implementação dos direitos econômi-
cos, sociais e culturais, em benefício da eqüidade (conteúdo) .
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siveness), isto é, a representação in action, relaciona-se diretamente com a
accountability: depende da adequação das políticas públicas ao interesse
público; do bom funcionamento dos serviços públicos e da extensão dos
bens simbólicos que criam, reforçam ou reproduzem sentimentos de leal-
dade e apoio da população em relação ao governo. 14
Os direitos civis e políticos, assim como os econômicos, sociais e
culturais, são elementos de conteúdo que não têm aplicabilidade ou efe-
tividade sem os elementos procedimentais, ainda que sejam mais impor-
tantes que estes para o sucesso da democracia. O problema de sua efetiva-
ção, porém, reside mais nos custos que os direitos sociais, em particular,
impõem à comunidade, do que na existência daquelas condições; além
disso, o ideal da equidade nem sempre é compartilhado pelos defensores
da democracia, alerta Morlino.
As democracias, nessa metodologia, variam de acordo com a maior
ou menor realização das condições apontadas e das combinações que se
estabelecem entre elas. Democracias sem qualidade, por outro lado, são
as que realizam parcialmente, ou de forma reduzida, ineficiente, irrespon-
sável, desigual ou ilegítima, aquelas condições. Segundo o autor, a maioria
das democracias neste início de século pode ser incluída na última cate-
goria, ainda que em diferentes situações.
Ao compararmos os objetivos das pesquisas de Dahl e Morlino - a
identificação das causas que levam à democratização de regimes hegemô-
nicos e a identificação dos requisitos e condições que conferem qualida-
de aos regimes democráticos, respectivamente - podemos perceber quão
problemáticos e dificultosos são ambos processos. Quando agregamos a
esses processos as atuais desilusão e a insatisfação públicas com os regimes
democráticos, devido a perda de confiança nas instituições democráticas,
a crescente alienação política dos cidadãos e a generalizada percepção
de que governos democráticos e políticos são corruptos e irresponsáveis,
mais complexos se tornam. Nessa contextura, muitos autores falam em
crise da democracia. 15
308
Não podemos perder de vista, contudo, que deles emergem a com-
petição e a participação políticas como instrumentos fundamentais tanto
para a transição democrática quanto para a busca contínua da qualidade
da democracia. Podemos dizer, portanto, que se as discussões sobre a re-
presentação caracterizaram a democracia nos séculos XIX e XX, no final
deste e no início do século XXI a participação política do cidadão ativo
assume especial relevância.
A igualdade social, nesta concepção, adquire nova dimensão, que
congrega a igualdade formal à material. A questão não é teórica. Desde
Aristóteles sabe-se que iniqüidades extremas promovem regimes hege-
mônicos (se bem que países com economias avançadas também possam
fazê-lo, como ocorreu na Alemanha Oriental e na ex-URSS). Segundo
Dahl, as iniqüidades, mesmo em ambiente de isonomia, afetam as chances
do pluralismo social em virtude da distribuição de recursos e de instru-
mentos políticos ou do desenvolvimento de sentimentos de ressentimento
e frustração. 16
Não por outros motivos, saúde, educação, previdência, informação,
emprego, alocação de riquezas, status etc. constituem recursos sociais pe-
los quais os diferentes atores políticos podem influenciar o comportamen-
to de outros, dependendo do quanto deles dispõem, pelo menos em algu-
mas circunstâncias. Recursos sociais assim empregados são recursos po-
líticos; logo, a desigualdade de sua distribuição implica, necessariamente,
a desigualdade política. É o que vem demonstrado a experiência recente:
países nos quais os recursos políticos são distribuídos desigualmente ten-
dem a reproduzir as mesmas iniquidades no exercício do poder político,
como comprovou Dahl.
Na teoria democrática de Dahl, a relação entre a contestação pública
e o nível das condições socioeconômicas é central, posto que uma econo-
mia desenvolvida, além de proporcionar educação e informação, facilita
a afirmação de uma ordem social plural e, por consequência, favorece a
participação. Um sistema econômico desenvolvido, ademais de descon-
centrar recursos e instrumental político (capacidade organizativa etc.),
propicia uma ordem pluralista e tende a diminuir desigualdades, o que
equilibra a disputa entre grupos.
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É evidente a importância do direito à educação nesse contexto, e o
próprio Dahl faz menção expressa a ela: o baixo grau de oposição e com-
petitividade política em determinados países pode ser creditado ao anal-
fabetismo e à baixa escolaridade, quantitativa e qualitativamente conside-
rados. A premissa inversa, todavia, não se mostrou verdadeira, dado que
países essencialmente rurais e não- industrializados, com baixos níveis de
escolaridade, podem apresentar condições mínimas para o exercício da
poliarquia, devido a outras variáveis tais como a liberdade de associação
e de comunicação, além da imprensa livre (o que já fora percebido por
Tocqueville). 17
Podemos concluir, portanto, que o grau de oposição, participação e
competitividade políticas exige um conjunto mínimo de recurso sociais,
que possibilitem o que Francisco Weffort chamou de "fenômeno da indi-
viduação", ou seja, "a formação social do indivíduo na sociedade moder-
na", para capacitação do cidadão ativo, o que é condição sine qua non para
o pluralismo. 18
Qualidade da democracia e educação, portanto, são problemas po-
líticos da mesma natureza; problemas que dizem respeito à tomada de
decisões coletivas, à legitimação e ao exercício do poder nas sociedades
contemporâneas.
3. Conclusão
As democracias são difíceis e devem ser continuamente promovidas
e acreditadas. Da democracia antiga à poliarquia, o espectro da participa-
ção política variou de acordo com o grau "de cidadania conferido à popu-
lação ativa, que foi paulatinamente ampliado à medida que os privilégios
individuais foram abandonados e se afirmava a natureza fundamental dos
direitos civis, políticos, sociais, econômicos e culturais - ,o que não ocor-
reu simultaneamente.
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N ina Beatriz Stocco Ranieri