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– Nada muda isso – ele prossegue, convicto. – E, de agora em diante, cada eleição vai
ser mais cara que a anterior.
Voltando-se ao âmbito federal, seu Antônio diverge da assertiva midiática, que aponta o
grande líder político da esquerda nacional como vencedor incontestável da próxima
eleição presidencial. Ele argumenta que o que aconteceu em sua região, e em outras
tantas conhecidas, não foi a abolição da pobreza, mas o oferecimento de valores
simbólicos, ofertados através de programas, que servem apenas para mantimento de
certa imagem imaculada, a qual se desfigura frente à realidade inocultável. Em outras
palavras, o surgimento de determinados programas sociais do governo federal não
serviu para extinção da pobreza, mas para sua manutenção. E complementa:
– Antigamente, o povo vivia do trabalho, porque o trabalho é que dava sustento. Mas,
desses tempos pra cá, o que se vê é gente sem interesse em trabalho ou estudo. Os
trabalhadores vivem hoje da aposentadoria dos pais, e usam o dinheiro deles pra
conseguir droga e bebida. Com os estudantes não é muito diferente. Se vão pra escola,
não é com interesse de ser alguém na vida, mas de manter os benefícios do governo e
desistir antes de começar a trabalhar, indo viver do dinheiro dos pais, dos avós, dos tios.
Seu Antônio reforça o que diz com o argumento de que alguns pais perderam a vida
naqueles arrabaldes por se recusarem a dar dinheiro “de mão beijada” aos filhos, muitos
dos quais usuários de drogas, ladrões ou prostitutas. E conclui sua reflexão alegando
que não acha errado auxílio do governo, mas que, como moeda de troca, deveria haver
incentivo à agricultura, prática cada vez mais escassa devido ao fato de, mais do que
nunca, a juventude migrar para as capitais.
– Por causa da falta de incentivo – continua ele – a gente decente, que aqui ainda tem e
muita, está indo toda pra capital. Pra eles, não compensa mais viver de agricultura, pois
a vontade de pegar no pesado não existe mais pelas facilidades sem cobranças; aí o
povo fica mal costumado, sabe? Consegue as coisas muito fácil, e depois não dá valor.
A tendência, então, é produzir povo sem disposição, sem coragem de enfrentar a vida, e
cada vez mais exigente em coisas fáceis.
– Se chega um homem bom pra governar, que nem esse, o povo da televisão cai em
cima... É certo que o “cabra” às vezes se coloca mal, mas não desconfio da verdade do
que ele fala. É um homem decente, que, apesar de não ser nordestino, é como se fosse,
pela firmeza do que diz, e, acima de tudo, pela fé dele em Deus... Sim, é dessa fé que o
nosso país precisa, diante de tanta safadeza, diante de tanto roubo.
E perguntado de novo acerca do político que, segundo muitos, é ídolo maior do povo
daquela região, seu Antônio discorre, com um risinho irônico:
– Aquele dali já era... Deus nos livre dele presidente de novo... Um homem que assaltou
o Brasil, deu nosso dinheiro pra outros países, que foi condenado por não sei quantos
juízes, agora vem pousar de santo... Você viu como o filho dele enricou, não foi?...
Santo?! Santo, mesmo, só Nosso Senhor Jesus Cristo... Esse, sim!