GEO 116 – Resenha Crítica

Isabelle Martins Dias – Matrícula: 201910039

Larissa

A geografia política moderna como a qual entendemos hoje, ou seja,

“um estudo geográfico da política ou como estudo de relações entre espaço e
poder” (VESENTINI) foi o principal objeto de estudo do Friedrich Ratzel. Ela
nasce com a obra Politische Geographie, em 1897, na Alemanha. Ratzel
concebe a ideia do espaço geográfico, a relação com território e as fronteiras
interferem e delimitam o poder do Estado e a política. Como descreve
FONTOURA (2001):

A geografia política, transformada em uma geografia unidimensional,

que só permite um nível de análise espacial, delimitado pelas
fronteiras, será o ponto de partida tanto no que se refere ao
aprofundamento de tal proposição quanto à crítica e elaboração de
novas proposições.

É importante lembrar que 17 anos após a publicação de Politische

Geographie no contexto da Primeira Guerra Mundial, aonde França e
Alemanha são rivais, e a Geografia Política acaba sendo vista como uma
ferramenta do nacionalismo alemão, principalmente após a derrota da
Alemanha, o revanchismo poderia ser uma das razões pela qual o nazismo se
apropriou das ferramentas e saberes da geopolítica. Esse fato ainda vai refletir
na rejeição da Geografia Política e Geopolítica pelas escolas de outros países
da Europa.

Nos textos do Vesentini e Rosière é exposto a evolução de geografia

política e a geopolítica e na institucionalização das duas como ciências, e a
confusão em distinguir o objeto e campo de estudo de cada um e a própria
definição de cada uma. Para Mello (1999, p.74):

A geopolítica é um ramo autônomo da ciência política que tem por

objeto de estudo as relações e as mútuas interações entre o Estado e
sua geografia. Esta disciplina possuiu um acervo de conhecimentos
teóricos e empíricos que pode ser utilizado no planejamento da
 política de segurança de um país no tocante a seus fatores
geográficos. (apud ARCASSA e MOURÃO, 2011, p.3)

A geografia política considera todos os fatores geográficos quando está

analisando uma ação política no Estado, e como as condições físicas e sociais
tem grande influência e podem inibir a ação do Estado, principal diferença
comparada à geopolítica.

O jurista sueco Rudolf Kjellén foi quem criou a palavra geopolítica pela
primeira vez, isso não quer dizer que essa temática nunca havia sido estudada
antes, apenas foi criado um termo para sua definição. Para entender com
clareza a criação da palavra geopolítica, é importante levar em consideração a
trajetória de Kjellén, como descreve AMUSQUIVAR e PASSOS (2018):

Em muitos de seus escritos, o autor (Kjellén) menciona a Suécia

como um país estratégico na região nórdica, uma vez que seus
atributos geográficos permitiam se proteger contra as ameaças
provenientes de outros países, especialmente a Rússia, considerada
como uma grande potência rival, seja por sua extensão territorial
considerável, seja por suas posições políticas expansionistas.

O termo nasce na Suécia, mas é popularizado pelo general Karl

Houshofer, na Alemanha, através da Revista de Geopolítica [Zeitschrift für
Geopolitik]. Especialmente pelo fato de muitas das propostas de Kjéllen serem
interiorizadas pelo movimento nazista, como as ideias de “Espaço Vital” e
“Hegemonia Mundial”, que, divulgadas por Haushofer se tornou instrumento da
geopolítica de Hitler.

Assim, a ideia de geopolítica pelas escolas de outros países é vista

como algo negativo, principalmente na França. Essa resistência em relação as
disciplinas, tanto geopolítica quanto a própria Geografia Politica só será mais
aceita através do francês Yves Lacoste, mesmo que Lacoste não tenha
reconhecido a influência de Josué de Castro e sua obra mais famosa
“Geopolítica da Fome”. É preciso lembrar que essa resistência se dá
principalmente pelo fato da oposição da escola geográfica francesa ao
imperialismo americano e ao expansionismo alemão.
 Assim no cenário mundial do começo do século XX, principalmente no
período das duas guerras mundiais, as ideias da geopolítica encontra o cenário
ideal para crescer. Ainda mais com os escritos de Kjéllen da constatação da
Alemanha sendo um país estratégico (razão pela qual suas ideias foram tão
difundidas pela Alemanha) através da divulgação de Haushofer, que era
general e a aplicabilidade do conceito de geopolítica influenciou fortemente as
estratégias de políticas dos Estados durante as Guerras Mundiais.
Com o crescimento da multipolaridade, a geopolítica pode explicar a
importância estratégica dos territórios e o controle dos espaços, como as rotas
marítimas, que significavam poder e, consequentemente, fortalecimento do
Estado.

Referências bibliográficas:

AMUSQUIVAR, Érika Laurinda; PASSOS, Rodrigo Duarte Fernandes dos. A

gênese da geopolítica e sua difusão na história mundial. A Revista Brasileira
de Estudos de Defesa, [s. l.], v. 5, ed. nº 1, p. 19-40, jan./jun. 2018.

ARCASSA, Wesley de Souza; MOURÃO, Paulo Fernando Cirino. Karl

Haushofer: A Geopolitik Alemã e o III Reich. A Revista Geografia em Atos,
Presidente Prudente, v. 1, ed. nº 11, p. 1-14., janeiro/junho 2011.

CASTRO, Iná Elias de. Geografia e Política: território, escalas de ação e

instituições. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.

FONTOURA, Ana Elisa Sparano. GEOGRAFIA POLÍTICA: IDENTIFICANDO

DIFERENÇAS E REVISITANDO CONCEITOS. Boletim Gaúcho de
Geografia, Porto Alegre, RS, Brasil, p. 71-77, Dezembro, 2001.

LA BLACHE, Paul Vidal de. A Geografia Política: a propósito dos escritos do

Sr. Friedrich Ratzel. In: HAESBAERT, Rogério et alii. (orgs.). Vidal, Vidais:
textos de Geografia Humana, Regional e Política. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, 2012a, p. 401- 420
ROSIÈRE, Stéphane. “Tendências contemporâneas da geografia política e da
geopolítica”. In: RUCKERT, A.A.; SILVA, A. C. P. da; SILVA, G. de V. (Orgs).
Geografia Política, Geopolítica e Gestão do Território: integração sul-
americana e regiões periféricas. Porto Alegre: Editora Letra1, 2018, p. 87-95.

VESENTINI, José William. O que é Geopolítica? E Geografia política?. São

Paulo: hipertexto.

Os Estados Unidos estão perdendo a hegemonia mundial?. Intérprete: Breno

Altman. YouTube: Opera Mundi, 06/12/2017. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?
v=BNANr4GkaHk&ab_channel=OperaMundi>. Acesso em: 7 out. 2020.

A HEGEMONIA dos EUA na era Trump. Intérprete: William Nozak. YouTube:

Casa do Saber, 2020. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?
v=iunmpcyWt5o>. Acesso em: 7 out. 2020.