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Anexo 10 - Avalia+º+Úo Ambiental Integrada Da Bacia Do Rio Uruguai
Anexo 10 - Avalia+º+Úo Ambiental Integrada Da Bacia Do Rio Uruguai
O caso da hidrelétrica de Barra Grande ganhou notoriedade em nosso país, não apenas
por envolver a inundação de mais de 6.000 hectares de mata atlântica situados ao
longo de vales encaixados por onde o Rio Pelotas segue seu curso, mas também por
decisões judiciais, administrativas e políticas extremamente questionáveis.
Como tudo nesse país, o caso de Barra Grande estaria condenado a cair no
esquecimento não fosse uma situação recentemente ocorrida em nova batalha judicial,
que demonstrou a total falta de seriedade na condução da política ambiental por parte
do Governo Federal, bem como o nível de politização que contamina as decisões do
nosso Poder Judiciário.
Novamente fatores econômicos falaram mais alto. Está previsto para 16 de dezembro
de 2005, leilão para comercialização de energia nova, cujo requisito para participação é
a de que os empreendimentos habilitados possuam licença prévia.
A argumentação utilizada não poderia ser outra se não a de que, uma vez emitidas
licenças prévias para as duas novas hidrelétricas, a viabilidade ambiental de referidos
empreendimentos já terá sido atestada pelo órgão ambiental, pois este é o papel de
uma licença prévia conforme determina a legislação ambiental vigente. Uma vez
aprovada a viabilidade ambiental destas duas novas hidrelétricas, por parte do órgão
ambiental, e considerando que seus aproveitamentos energéticos serão leiloados ao
setor privado, com a garantia de viabilidade ambiental por parte do órgão competente,
nada que a Avaliação Ambiental Integrada venha a dizer posteriormente será capaz de
alterar o que se decidiu, ou seja que tais hidrelétricas são viáveis ambientalmente.
Refutando todos os argumentos de defesa dos réus, decidiu o nobre julgador haver
inequívoca verossimilhança no direito invocado pela associação autora, no sentido de
que o licenciamento ambiental prévio das duas hidrelétricas somente poderia ser
concedido a partir de uma avaliação ambiental INTEGRADA que envolvesse toda a área
de abrangência do rio Uruguai, e não apenas na forma localizada como foi feito.[5]
Entretanto, valendo-se de um recurso de cunho muito mais político do que jurídico,
chamado suspensão de liminar, muito utilizado no caso da hidrelétrica de Barra
Grande, a mesma União Federal que assumiu o compromisso de realizar a Avaliação
Ambiental Integrada quando da tragédia de Barra Grande, recorre ao Tribunal Regional
Federal da 4ª Região e obtém a suspensão da execução da referida liminar concedida
em primeira instância processual.
Decidiu o TRF4, que analisando o conflito dos bens jurídicos aqui defendidos, temos de
um lado, a necessidade de elaboração de uma avaliação ambiental integrada em
tempo hábil, em defesa do meio ambiente, cuja aplicação ao caso concreto não se
descarta; de outro, a premente necessidade de expansão do setor energético, com
leilões aprazados para dezembro do ano em curso, cujo embargo, sem dúvida,
subtrairá qualquer credibilidade em tais investimentos.[6]
Assim, com essa análise, o TRF4 considerou que as licenças prévias concedidas nada
comprometem o estudo, já em andamento, para a Avaliação Ambiental Integrada, já
que apenas (apenas???) definem que as usinas são viáveis, mas não autorizam o início
das obras, que dependem de licença de instalação. Suspendeu-se, com essa
argumentação, a liminar deferida em primeira instância.
Tal decisão, data maxima venia, é realmente política, não jurídica, pois nossa
legislação é clara e a viabilidade ambiental é que está em jogo. Será isso que a
Avaliação Ambiental Integrada dirá quando estiver concluída, ou seja, se o conjunto
dos empreendimentos planejados são viáveis ou não. Para que Avaliação Ambiental
Integrada se ainda pode-se decidir isoladamente que usinas planejadas na bacia do rio
Uruguai são viáveis ambientalmente? Essas perguntas não foram nem serão
respondidas...
A prova de que nem a União Federal acredita na Avaliação Ambiental Integrada está
nos autos do recente processo aqui referido, quando ela afirma não ser necessário a
conclusão deste estudo macro para licenciar as hidrelétricas Passo São João e São
José.
Notas:
[1] Advogado especialista em direito ambiental e assessor jurídico do Núcleo Amigos
da Terra Brasil.
[2] Décimo segundo considerando do Termo de Compromisso de Barra Grande.
[3] Cláusula oitava, inciso III do Termo de Compromisso de Barra Grande.
[4] Núcleo Amigos da Terra Brasil, entidade autora da ação número
2005.71.00.033530-9 em tramitação junto a Vara Ambiental, Agrária e Residual da
Justiça Federal de Porto Alegre.
[5] Processo 2005.71.00.033530-9 da Vara Ambiental, Agrária e Residual da Justiça
Federal de Porto Alegre.
[6] Suspensão de Execução de Liminar n° 2005.04.01.048430-7/RS.