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Neste arigo é apresentado uma breve introdução histórica sobre o conhecimento do homem em relação à atmosfera
terrestre; uma simples visão interplanetária para o campo elétrico da Terra e como isso afeta sua atmosfera;
uma sucinta explanação da formação dos raios e os tipos de relâmpagos existentes; como funcionam os para-
raios e as aplicações provindas da Gaiola de Faraday para a manutenção da segurança do homem frente ao poder
destrutivo dos raios; e por fim a apresentação de outros fenômenos interessantes que ocorrem na atmosfera
terrestre como as Sprites, os Elves e os Trolls.
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tricamente carregadas, e podem ocorrer tanto no in- radiação de Van Allen. Ao atingir a alta atmosfera
terior de uma nuvem (intra-nuvem), como entre nu- produzem os fenômenos de auroras polares e as tem-
vens (inter-nuvens),entre uma nuvem e a terra (nuvem- pestades magnéticas.
solo)ou ainda do solo para a nuvem(solo-nuvem). A Uma segunda região e talvez a mais conhecida são
principal causa da formação de raios é a existência de as nuvens Cúmulos-Nimbus. Nosso planeta exibe dis-
cargas opostas, que causam uma atração muito forte tribuições de cargas elétricas não uniformes em caráter
capaz de romper o isolamento do ar.[8] temporário. Cargas elétricas de sinais opostos se acu-
Popularmente, é comum utilizar-se trovões, relâmpa- mulam em nuvens desse tipo, entretanto tais durações
gos como se fossem sinônimos, no entanto são conceitos das distribuições e acúmulos dessas cargas são deter-
bem distintos dos conceitos fisicos, a saber: minados pelo tempo de duração de tempestades.
O trovão é uma onda sonora provocada pelo aqueci- O fato é que as cargas se distribuem de forma não
mento do canal principal durante a subida da Descarga uniforme durante o processo de formação de tempesta-
de Retorno ele pode atingir temperaturas entre 20 e 30 des, esses acúmulos e dispersões são temporários, pois,
mil graus Celsius em apenas 10 microssegundos. O ar através dos raios boa parte desta carga é escada para
aquecido se expande e gera duas ondas: a primeira é o solo.
uma violenta onda de choque supersônica, cuja velo-
cidade é várias vezes maior que a velocidade do som
no ar e nas proximidades do local da queda é um som 2.1 Estrutura Elétrica da Atmosfera
inaudível para o ouvido humano; a segunda é uma onda
sonora de grande intensidade a distâncias maiores. A análise da atmosfera do ponto de vista elétrico pro-
Já o relâmpago é uma corrente elétrica muito in- move subdivisões com base em diferentes parâmetros.
tensa que ocorre na atmosfera com típica duração bem Com relação à temperatura, a atmosfera é dividida em
efêmera e típica trajetória com comprimento de 5 a troposfera, estratosfera, mesosfera e termosfera.
10 km, isso se deve ao rápido movimento dos elétrons, Do ponto de vista dos íons e da condutividade, a at-
esse movimento rápido faz com que o ar ao seu redor se mosfera pode ser dividida em: atmosfera inferior (cor-
ilumine, resultando em um clarão e no som estrondoso respondente à troposfera), média atmosfera (estratos-
característico de um trovão. fera e mesosfera) e atmosfera superior (acima de 85 km
de distância, termosfera).
A atmosfera inferior e a média atmosfera são fra-
2 As Cargas Atmosféricas camente condutoras por ter pequena concentração de
íons. Nessas regiões, os íons são criados pela ionização
Pode-se classificar, de modo geral e amplo, que as de moléculas neutras do ar, geralmente moléculas de
cargas presentes na atmosfera permeiam duas regiões nitrogênio e oxigênio, por raios cósmicos primários e
da Terra. A primeira a ser citada são as cargas perten- secundários e por partículas e radiação produzida pelo
centes a região do entorno da Terra, conhecidas como decaimento radioativo de substâncias no solo, como
Cinturão de Van Allen, ou Anéis de Van Allen mos- urânio e tório, e no ar, como gás radônio. Como re-
trado na Figura 1. Sua origem baseia-se nas partículas sultado da ionização das moléculas, elétrons livres e
provenientes do Sol que são capturadas e armazena- íons positivos são criados. Os elétrons são rapidamente
das nessas regiões que possuem a forma de um toróide. ligados a outras moléculas neutras produzindo íons ne-
O responsável pela captura dessas cargas é o campo gativos. A produção de íons por raios cósmicos varia
magnético terrestre. com a altitude e a latitude.
Diferentemente da atmosfera inferior e da média at-
mosfera, na atmosfera superior existem além dos íons
negativos e positivos uma considerável quantidade de
elétrons livres produzidos pela absorção da radiação so-
lar por átomos e moléculas. Este processo é chamado
de fotoionização. Os elétrons podem então se unir às
moléculas neutras criando íons negativos. Os elétrons
e íons criados por este processo tornam a atmosfera
um razoável condutor, formando uma região chamada
ionosfera.
Iniciando-se na parte superior da ionosfera e
estendendo-se para cima, está localizada a magnetos-
fera, região onde a dinâmica das partículas é governada
Figura 1: Cinturão de Van Allen. pelo campo magnético da Terra. Os íons, prótons e
elétrons nesta região são originários da ionosfera e do
A aplicação mais usual e o efeito mais perceptível vento solar, um fluxo de partículas carregadas prove-
dessas cargas presas nessa região ocorre durante os pe- nientes do Sol que atinge a atmosfera da Terra. Na
ríodos de intensa atividade solar. Grande parte das parte interna da magnetosfera, partículas carregadas
partículas eletricamente carregadas vindas do Sol con- são aprisionadas pelo campo magnético formando cin-
seguem romper a barreira formada pelos cinturões de turões de radiação ao redor da Terra.[5]
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2.2 Circuito Atmosférico Terrestre Dentre as teorias que usam deste conceito, podemos
citar:
O campo elétrico de tempo bom é consequência da
existência de uma carga na superfície da Terra e da con- • Arrasto viscoso do plasma da magnetosfera pelo
dutividade, que é imperceptível aos seres vivos. Como vento solar. Isso cria um fluxo de plasma na cauda
a carga é negativa, o campo elétrico é voltado para da magnetosfera, que origina um campo elétrico;
baixo. Nos continentes, o campo elétrico médio é de • O processo de reconexão magnetosférica (fusão do
cerca de 120 V/m. Este valor corresponde a uma carga campo geomagnético com o campo magnético in-
superficial de −1, 2 · 10−9 C/m2 . Integrada sobre a su- terplanetário) permite a influência do campo elé-
perfície da Terra, este valor resulta em uma carga total trico interplanetário no interior da magnetosfera.
de 600 kC. Há na atmosfera uma carga positiva seme- Isso origina o movimento convectivo do plasma
lhante. magnetosférico[7], tendo em vista a Equação (1).
Enquanto há um aumento exponencial da conduti-
vidade com a altitude, o campo elétrico diminui ex- ~ i = −V
E ~s × B
~i (1)
ponencialmente com a altitude. Em uma altitude de
30 km, o campo elétrico é de 300 mV/m. Integrando o
campo elétrico da superfície da Terra até a ionosfera,
3 Formação do Raio
ocorre uma diferença de potencial de cerca de 200 kV. A formação de um raio envolve várias etapas. Desde
Perto do solo o campo elétrico apresenta largas vari- a eletrização da nuvem até a descarga, uma série de
ações causadas por movimentos turbulentos de cargas fenômenos eletrostáticos ocorrem. Do início, tudo co-
em associação com as condições meteorológicas.[4] meça com a eletrização da nuvem resultante dos cho-
ques entre pequenas gotas de água formadas e pedras
de gelo dentro gerados nela devido às baixas tempera-
turas nessas regiões da atmosfera. As pedras menores
colidem com as gotas de água adquirindo carga positiva
e deixando o gelo carregado negativamente. Como re-
sultado de fatores como gravidade, densidade e pressão,
o gelo se acumulula na base da nuvem mais próxima
ao solo e as gotas menores ficam no topo.
A partir desse momento a nuvem já está eletrizada
e agora se assemelha a um capacitor, e não diferente
de um, ele deve descarregar. Agora que as cargas es-
tão bem definidas na nuvem um campo elétrico sur-
girá, resultado do acúmulo de cargas, e então o granizo
eletricamente negativo polarizarizará o solo, para um
Figura 2: Circuito Atmosférico Terrestre. raio nuvem-solo, ou uma nuvem próxima, para um raio
nuvem-nuvem. Em poucos instantes o solo ficará muito
positivo alcançando uma ddp de até 1 GV[3], e então,
sobre a intensificação do campo elétrico ocorre a rup-
2.3 Visão Interplanetária para o
tura dielétrica do ar.
Campo Elétrico Esse fenômeno se dá da seguinte forma: o ar atmos-
Conceitualmente a eletricidade atmosférica surge férico é um isolante, ou seja, não permite a condução
do esforço de estudar a componente eletrostática do de corrente elétrica. Ao ser exposto a um campo de
campo eletromagnético da terra. alta intensidade, 10 kV/m[3] é o suficiente, as molé-
Alguns experimentos em balões indicavam a exis- culas presentes no ar são ionizadas, algumas perdendo
tência de um "capacitor atmosférico", constituído por elétrons e outras ganhando, uma a uma. Um caminho
uma eletrosfera (70 - 150 km de altitude), a superfície ionizado é formado e então o ar deixa de ser um meio
condutora da Terra, e o ar entre essas "superfícies". isolante e torna-se um condutor, contudo esse processo
Atualmente, procura-se um sistema mais complexo, nãpo ocorre repentinamente. Diferente do senso co-
constituído de campos elétricos planetários. Como a mum, o raio não “cai” de uma só vez, ele se inicia com
atmosfera é eletricamente condutora, um campo elé- o movimento da carga líder.
trico, para ser mantido, deve ser provido por forças A carga líder consiste de uma parcela das cargas
não-elétricas. Os mecanismos básicos são: da nuvem que foram capazes de iniciar o movimento.
Ela apresenta um comportamento bem característico,
• Interação do vento solar com a magnetosfera; se movimentando por etapas, resultado de uma cons-
tante quebra da rigidez dielétrica do ar. A primeiro
• Interação dos ventos de maré com o plasma ionos- momento, ela ioniza o ar na base da nuvem permitindo
férico na região do dínamo ionosférico; o início do movimento da carga líder. Após se deslo-
car, ela para pois o ar ainda não está completamente
• Tempestades elétricas na parte inferior da atmos- ionizado, ou seja, permanece como um isolante. De-
fera. vido a carga líder, mais uma parcela do ar é ionizada e
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então ela passa por mais uma etapa. Tal processo se re- Relâmpagos em nuvens: Os relâmpagos em nuvens
pete e a carga guia gera um caminho condutor com um originam-se dentro das nuvens Cumulonimbus e,
formato característico de vários segmentos de reta não por isso, recebem esse nome. Esse relâmpago pode
colineares, como é visto em um raio. Por esse motivo a se propagar dentro da nuvem ou de uma nuvem
carga líder também é chamada de líder escalonado.[11] para outra, e gerar descargas que recebem o nome
Na Figura 3 é esquematizado o processo de formação de relâmpago intra nuvem e relâmpago nuvem-
do raio. nuvem, respectivamente, ilustrados na Figura 4.
Também podem ocorrer da descarga se propagar
fora da nuvem em uma direção qualquer, rece-
bendo o nome de descarga para o ar. Os relâm-
pagos intranuvem representam aproximadamente
70% do total de relâmpagos, sendo que esse per-
centual pode variar com a latitude geográfica.[10]
Isso ocorre, devido ao fato de que a capacidade
isolante do ar é reduzida com a altura em função
da densidade do ar, além da maior proximidade
das cargas opostas.[8] Entretanto, por não ofere-
cerem grandes riscos, são menos conhecidos que os
relâmpagos no solo.
Outro fenômeno comum é a formação de líderes co- Figura 4: Relâmpagos intranuvem e nuvem-nuvem.[10]
nectantes, que são cargas semelhantes às cargas guia
porém de sinais opostos. Quando a carga guia está Relâmpagos entre nuvens e solo: Relâmpagos en-
muito próxima do solo o campo elétrico se intensifica tre nuvens e solo podem se originar dentro da nu-
ao ponto de arrancar cargas positivas do chão e criar vem e ir em direção ao solo, ou o contrário. De-
um líder conectante. Ao ocorrer o encontro dos líderes pendendo do sentido de movimento da carga que
há a descarga elétrica, a qual é o raio propriamente o origina, o relâmpago pode receber o nome de
dito, alcançando até 200 kA.[3] Há também a possibi- nuvem-solo ou solo-nuvem. Os relâmpagos nuvem-
lidade de não acontecer a descarga completa da nuvem solo podem ser classificados como negativos ou po-
em um único raio, se esse for o caso ocorrerá uma situ- sitivos, de acordo com o sinal da carga líder que
ação em que o raio “cairá” mais de uma vez no mesmo inicia a descarga, representados nas Figuras 5 e 6.
lugar, porém dessa vez não há ruptura dielétrica do ar Os raios negativos representam cerca de 90% dos
pois ele já se encontra polarizado, ou seja, o caminho raios e através deles ocorre a transferência de car-
para a corrente já está formado. gas negativas de uma região da nuvem carregada
Esse fenômeno acontece tão rápido que temos a sen- negativamente para o solo. A minoria dos raios são
sação que apenas ocorreu uma descarga. Como o pri- positivos, cerca de 10%, e neles a carga negativa é
meiro raio propriamente dito emite tantos fótons em transportada do solo para a nuvem.[8] Raios solo-
tão pouco tempo, o olho humano fica excitado com nuvem são mais raros, apresentam maior caráter
tanto estímulo de uma vez só que, até ele se recuperar destrutivo e ocorrem mais comumente em locais
todos os outros raios já se descarregaram. Isso não di- de elevada altitude.
ferente de quando ligamos e desligamos uma lanterna
contra o nosso olho e o ambiente que antes era claro
agora está escuro e se clareia aos poucos.[11]. Atu-
almente a maior quantidade de raios consecutivos re-
gistrados foram 42, enquanto é comum que ocorra em
torno de 25 descargas.
Figura 9: Representação dos fenômenos: Sprites, El- [7] MENDES JUNIOR, Odim; DOMINGUES, Margarete
ves, Jatos azuis, Trolls e Surtos de Raios Gama. Oliveira. Introdução à Eletrodinâmica Atmosférica.
Referências
[1] D.R. MacGorman and W.D. Rust, The electrical na-
ture of storms, Oxford University Press, New York,
1998.