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Eletricidade Atmosférica Terrestre e Formação de Raios

Ailton Graciano de Souza Correia∗


Paulo Fernando Kazuo de Almeida Miki†
Tomás Kolbe Pachón Bonatti‡
Rafaela Medeiros Dionízio§
Dauane Rezende Sá¶
Gilberto Ribeiro Pinto Júnior‖

Departamento de Ciências Básicas e Ambientais,


Escola de Engenharia de Lorena – Universidade de São Paulo
Estrada Municipal do Campinho S/N CEP: 12602-810, Brasil

Neste arigo é apresentado uma breve introdução histórica sobre o conhecimento do homem em relação à atmosfera
terrestre; uma simples visão interplanetária para o campo elétrico da Terra e como isso afeta sua atmosfera;
uma sucinta explanação da formação dos raios e os tipos de relâmpagos existentes; como funcionam os para-
raios e as aplicações provindas da Gaiola de Faraday para a manutenção da segurança do homem frente ao poder
destrutivo dos raios; e por fim a apresentação de outros fenômenos interessantes que ocorrem na atmosfera
terrestre como as Sprites, os Elves e os Trolls.

1 Introdução de cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espa-


ciais (INPE), em São José dos Campos, São Paulo. De
No passado os fenômenos atmosféricos e a formação acordo com os números divulgados, dos 3,15 bilhões de
dos raios sem explicações científicas eram justificados raios que atingem a Terra e seus habitantes durante um
como castigo dos Deuses e as pessoas viam essas mu- ano, 100 milhões deles vêm em terras brasileiras. Além
danças atmosféricas com grande temor. disso, a pesquisa feita pelo INPE observou que as des-
Já no decorrer do tempo e do florescimento das ciên- cargas elétricas brasileiras são diferentes das que caem
cias, mais especificamente no século XVIII, começou-se em outros lugares uma vez que “Sessenta por cento dos
a desenvolver pesquisas para a obtenção de uma expli- que atingem a Região Sudeste, em alguns dias do ve-
cação científica para tais fenômenos naturais como os rão, têm carga positiva”, diz Iara Cardoso de Almeida
raios. Um dos primeiros cientistas a fazer experimentos Pinto, geofísica espacial o que assusta nesses dados é o
para provar que as descargas energéticas eram manifes- fato que 90% dos raios do mundo têm cargas negativas.
tações elétricas na atmosfera e não castigos divinos foi Acredita-se que os raios têm um largo efeito sobre
Benjamin Franklin1 que realizou o famoso experimento nosso meio ambiente e provavelmente estavam presen-
da pipa. Franklin empinou uma pipa com um objeto tes durante o surgimento da vida na Terra através da
metálico preso no extremo da linha nas proximidades geração das moléculas que deram origem à vida. Isso
de nuvens de tempestade, a outra ponta da linha ligava- pode ser confirmado através de pesquisas que indicam
se a uma garrafa de Leyden, dispositivo que armazena que o aminoácido, substância que formou a crosta ter-
eletricidade. Através desse experimento ele conseguiu restre, tem origem nas descargas elétricas dos gases
provar que nuvens carregadas produzem os relâmpa- existentes na atmosfera. Além disso, os raios são res-
gos, além disso as garrafas de Leyden deram origem ponsáveis por mudanças nas características da atmos-
aos pára-raios que se tornaram peça fundamental na fera ao redor das regiões onde ocorrem e agentes natu-
proteção contra os relâmpagos. rais para a manutenção do equilíbrio da quantidade de
O Brasil é o país com maior índice de raios do mundo árvores e plantas.
segundo O número, divulgado em 2016 por uma equipe Os fenômenos atmosféricos podem ser caracterizados
como aqueles que ocorrem naturalmente sem interfe-
∗ ailton.correia@usp.br
† paulo.miki@usp.br
rência humana, no entanto eles podem ser intensifica-
‡ tomas.bonatti@usp.br dos pela ação antrópica. São exemplos: formação de
§ rafaela.dionizio@usp.br nuvens; temperatura; ventos; precipitações; ciclones;
¶ dauane.sa@usp.br tornados; inversão térmica; El Niño e La Niña, que
‖ gilberto.ribeiro@usp.br
são amplamente estudados e de grande relevância no
1 Benjamin Franklin (1706-1790) uma das pessoas repre-
estudo do metereologia.
sentantes do iluminismo, realizou descobertas no campo
da eletricidade,identificou-se cargas positivas e negativas Já os raios consistem em descargas elétricas muito
comprovou-se a natureza elétrica dos raios. intensas que ocorrem na atmosfera, entre regiões ele-

1
2

tricamente carregadas, e podem ocorrer tanto no in- radiação de Van Allen. Ao atingir a alta atmosfera
terior de uma nuvem (intra-nuvem), como entre nu- produzem os fenômenos de auroras polares e as tem-
vens (inter-nuvens),entre uma nuvem e a terra (nuvem- pestades magnéticas.
solo)ou ainda do solo para a nuvem(solo-nuvem). A Uma segunda região e talvez a mais conhecida são
principal causa da formação de raios é a existência de as nuvens Cúmulos-Nimbus. Nosso planeta exibe dis-
cargas opostas, que causam uma atração muito forte tribuições de cargas elétricas não uniformes em caráter
capaz de romper o isolamento do ar.[8] temporário. Cargas elétricas de sinais opostos se acu-
Popularmente, é comum utilizar-se trovões, relâmpa- mulam em nuvens desse tipo, entretanto tais durações
gos como se fossem sinônimos, no entanto são conceitos das distribuições e acúmulos dessas cargas são deter-
bem distintos dos conceitos fisicos, a saber: minados pelo tempo de duração de tempestades.
O trovão é uma onda sonora provocada pelo aqueci- O fato é que as cargas se distribuem de forma não
mento do canal principal durante a subida da Descarga uniforme durante o processo de formação de tempesta-
de Retorno ele pode atingir temperaturas entre 20 e 30 des, esses acúmulos e dispersões são temporários, pois,
mil graus Celsius em apenas 10 microssegundos. O ar através dos raios boa parte desta carga é escada para
aquecido se expande e gera duas ondas: a primeira é o solo.
uma violenta onda de choque supersônica, cuja velo-
cidade é várias vezes maior que a velocidade do som
no ar e nas proximidades do local da queda é um som 2.1 Estrutura Elétrica da Atmosfera
inaudível para o ouvido humano; a segunda é uma onda
sonora de grande intensidade a distâncias maiores. A análise da atmosfera do ponto de vista elétrico pro-
Já o relâmpago é uma corrente elétrica muito in- move subdivisões com base em diferentes parâmetros.
tensa que ocorre na atmosfera com típica duração bem Com relação à temperatura, a atmosfera é dividida em
efêmera e típica trajetória com comprimento de 5 a troposfera, estratosfera, mesosfera e termosfera.
10 km, isso se deve ao rápido movimento dos elétrons, Do ponto de vista dos íons e da condutividade, a at-
esse movimento rápido faz com que o ar ao seu redor se mosfera pode ser dividida em: atmosfera inferior (cor-
ilumine, resultando em um clarão e no som estrondoso respondente à troposfera), média atmosfera (estratos-
característico de um trovão. fera e mesosfera) e atmosfera superior (acima de 85 km
de distância, termosfera).
A atmosfera inferior e a média atmosfera são fra-
2 As Cargas Atmosféricas camente condutoras por ter pequena concentração de
íons. Nessas regiões, os íons são criados pela ionização
Pode-se classificar, de modo geral e amplo, que as de moléculas neutras do ar, geralmente moléculas de
cargas presentes na atmosfera permeiam duas regiões nitrogênio e oxigênio, por raios cósmicos primários e
da Terra. A primeira a ser citada são as cargas perten- secundários e por partículas e radiação produzida pelo
centes a região do entorno da Terra, conhecidas como decaimento radioativo de substâncias no solo, como
Cinturão de Van Allen, ou Anéis de Van Allen mos- urânio e tório, e no ar, como gás radônio. Como re-
trado na Figura 1. Sua origem baseia-se nas partículas sultado da ionização das moléculas, elétrons livres e
provenientes do Sol que são capturadas e armazena- íons positivos são criados. Os elétrons são rapidamente
das nessas regiões que possuem a forma de um toróide. ligados a outras moléculas neutras produzindo íons ne-
O responsável pela captura dessas cargas é o campo gativos. A produção de íons por raios cósmicos varia
magnético terrestre. com a altitude e a latitude.
Diferentemente da atmosfera inferior e da média at-
mosfera, na atmosfera superior existem além dos íons
negativos e positivos uma considerável quantidade de
elétrons livres produzidos pela absorção da radiação so-
lar por átomos e moléculas. Este processo é chamado
de fotoionização. Os elétrons podem então se unir às
moléculas neutras criando íons negativos. Os elétrons
e íons criados por este processo tornam a atmosfera
um razoável condutor, formando uma região chamada
ionosfera.
Iniciando-se na parte superior da ionosfera e
estendendo-se para cima, está localizada a magnetos-
fera, região onde a dinâmica das partículas é governada
Figura 1: Cinturão de Van Allen. pelo campo magnético da Terra. Os íons, prótons e
elétrons nesta região são originários da ionosfera e do
A aplicação mais usual e o efeito mais perceptível vento solar, um fluxo de partículas carregadas prove-
dessas cargas presas nessa região ocorre durante os pe- nientes do Sol que atinge a atmosfera da Terra. Na
ríodos de intensa atividade solar. Grande parte das parte interna da magnetosfera, partículas carregadas
partículas eletricamente carregadas vindas do Sol con- são aprisionadas pelo campo magnético formando cin-
seguem romper a barreira formada pelos cinturões de turões de radiação ao redor da Terra.[5]
3

2.2 Circuito Atmosférico Terrestre Dentre as teorias que usam deste conceito, podemos
citar:
O campo elétrico de tempo bom é consequência da
existência de uma carga na superfície da Terra e da con- • Arrasto viscoso do plasma da magnetosfera pelo
dutividade, que é imperceptível aos seres vivos. Como vento solar. Isso cria um fluxo de plasma na cauda
a carga é negativa, o campo elétrico é voltado para da magnetosfera, que origina um campo elétrico;
baixo. Nos continentes, o campo elétrico médio é de • O processo de reconexão magnetosférica (fusão do
cerca de 120 V/m. Este valor corresponde a uma carga campo geomagnético com o campo magnético in-
superficial de −1, 2 · 10−9 C/m2 . Integrada sobre a su- terplanetário) permite a influência do campo elé-
perfície da Terra, este valor resulta em uma carga total trico interplanetário no interior da magnetosfera.
de 600 kC. Há na atmosfera uma carga positiva seme- Isso origina o movimento convectivo do plasma
lhante. magnetosférico[7], tendo em vista a Equação (1).
Enquanto há um aumento exponencial da conduti-
vidade com a altitude, o campo elétrico diminui ex- ~ i = −V
E ~s × B
~i (1)
ponencialmente com a altitude. Em uma altitude de
30 km, o campo elétrico é de 300 mV/m. Integrando o
campo elétrico da superfície da Terra até a ionosfera,
3 Formação do Raio
ocorre uma diferença de potencial de cerca de 200 kV. A formação de um raio envolve várias etapas. Desde
Perto do solo o campo elétrico apresenta largas vari- a eletrização da nuvem até a descarga, uma série de
ações causadas por movimentos turbulentos de cargas fenômenos eletrostáticos ocorrem. Do início, tudo co-
em associação com as condições meteorológicas.[4] meça com a eletrização da nuvem resultante dos cho-
ques entre pequenas gotas de água formadas e pedras
de gelo dentro gerados nela devido às baixas tempera-
turas nessas regiões da atmosfera. As pedras menores
colidem com as gotas de água adquirindo carga positiva
e deixando o gelo carregado negativamente. Como re-
sultado de fatores como gravidade, densidade e pressão,
o gelo se acumulula na base da nuvem mais próxima
ao solo e as gotas menores ficam no topo.
A partir desse momento a nuvem já está eletrizada
e agora se assemelha a um capacitor, e não diferente
de um, ele deve descarregar. Agora que as cargas es-
tão bem definidas na nuvem um campo elétrico sur-
girá, resultado do acúmulo de cargas, e então o granizo
eletricamente negativo polarizarizará o solo, para um
Figura 2: Circuito Atmosférico Terrestre. raio nuvem-solo, ou uma nuvem próxima, para um raio
nuvem-nuvem. Em poucos instantes o solo ficará muito
positivo alcançando uma ddp de até 1 GV[3], e então,
sobre a intensificação do campo elétrico ocorre a rup-
2.3 Visão Interplanetária para o
tura dielétrica do ar.
Campo Elétrico Esse fenômeno se dá da seguinte forma: o ar atmos-
Conceitualmente a eletricidade atmosférica surge férico é um isolante, ou seja, não permite a condução
do esforço de estudar a componente eletrostática do de corrente elétrica. Ao ser exposto a um campo de
campo eletromagnético da terra. alta intensidade, 10 kV/m[3] é o suficiente, as molé-
Alguns experimentos em balões indicavam a exis- culas presentes no ar são ionizadas, algumas perdendo
tência de um "capacitor atmosférico", constituído por elétrons e outras ganhando, uma a uma. Um caminho
uma eletrosfera (70 - 150 km de altitude), a superfície ionizado é formado e então o ar deixa de ser um meio
condutora da Terra, e o ar entre essas "superfícies". isolante e torna-se um condutor, contudo esse processo
Atualmente, procura-se um sistema mais complexo, nãpo ocorre repentinamente. Diferente do senso co-
constituído de campos elétricos planetários. Como a mum, o raio não “cai” de uma só vez, ele se inicia com
atmosfera é eletricamente condutora, um campo elé- o movimento da carga líder.
trico, para ser mantido, deve ser provido por forças A carga líder consiste de uma parcela das cargas
não-elétricas. Os mecanismos básicos são: da nuvem que foram capazes de iniciar o movimento.
Ela apresenta um comportamento bem característico,
• Interação do vento solar com a magnetosfera; se movimentando por etapas, resultado de uma cons-
tante quebra da rigidez dielétrica do ar. A primeiro
• Interação dos ventos de maré com o plasma ionos- momento, ela ioniza o ar na base da nuvem permitindo
férico na região do dínamo ionosférico; o início do movimento da carga líder. Após se deslo-
car, ela para pois o ar ainda não está completamente
• Tempestades elétricas na parte inferior da atmos- ionizado, ou seja, permanece como um isolante. De-
fera. vido a carga líder, mais uma parcela do ar é ionizada e
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então ela passa por mais uma etapa. Tal processo se re- Relâmpagos em nuvens: Os relâmpagos em nuvens
pete e a carga guia gera um caminho condutor com um originam-se dentro das nuvens Cumulonimbus e,
formato característico de vários segmentos de reta não por isso, recebem esse nome. Esse relâmpago pode
colineares, como é visto em um raio. Por esse motivo a se propagar dentro da nuvem ou de uma nuvem
carga líder também é chamada de líder escalonado.[11] para outra, e gerar descargas que recebem o nome
Na Figura 3 é esquematizado o processo de formação de relâmpago intra nuvem e relâmpago nuvem-
do raio. nuvem, respectivamente, ilustrados na Figura 4.
Também podem ocorrer da descarga se propagar
fora da nuvem em uma direção qualquer, rece-
bendo o nome de descarga para o ar. Os relâm-
pagos intranuvem representam aproximadamente
70% do total de relâmpagos, sendo que esse per-
centual pode variar com a latitude geográfica.[10]
Isso ocorre, devido ao fato de que a capacidade
isolante do ar é reduzida com a altura em função
da densidade do ar, além da maior proximidade
das cargas opostas.[8] Entretanto, por não ofere-
cerem grandes riscos, são menos conhecidos que os
relâmpagos no solo.

Figura 3: Etapas de formação do raio nuvem-solo.[2]

Outro fenômeno comum é a formação de líderes co- Figura 4: Relâmpagos intranuvem e nuvem-nuvem.[10]
nectantes, que são cargas semelhantes às cargas guia
porém de sinais opostos. Quando a carga guia está Relâmpagos entre nuvens e solo: Relâmpagos en-
muito próxima do solo o campo elétrico se intensifica tre nuvens e solo podem se originar dentro da nu-
ao ponto de arrancar cargas positivas do chão e criar vem e ir em direção ao solo, ou o contrário. De-
um líder conectante. Ao ocorrer o encontro dos líderes pendendo do sentido de movimento da carga que
há a descarga elétrica, a qual é o raio propriamente o origina, o relâmpago pode receber o nome de
dito, alcançando até 200 kA.[3] Há também a possibi- nuvem-solo ou solo-nuvem. Os relâmpagos nuvem-
lidade de não acontecer a descarga completa da nuvem solo podem ser classificados como negativos ou po-
em um único raio, se esse for o caso ocorrerá uma situ- sitivos, de acordo com o sinal da carga líder que
ação em que o raio “cairá” mais de uma vez no mesmo inicia a descarga, representados nas Figuras 5 e 6.
lugar, porém dessa vez não há ruptura dielétrica do ar Os raios negativos representam cerca de 90% dos
pois ele já se encontra polarizado, ou seja, o caminho raios e através deles ocorre a transferência de car-
para a corrente já está formado. gas negativas de uma região da nuvem carregada
Esse fenômeno acontece tão rápido que temos a sen- negativamente para o solo. A minoria dos raios são
sação que apenas ocorreu uma descarga. Como o pri- positivos, cerca de 10%, e neles a carga negativa é
meiro raio propriamente dito emite tantos fótons em transportada do solo para a nuvem.[8] Raios solo-
tão pouco tempo, o olho humano fica excitado com nuvem são mais raros, apresentam maior caráter
tanto estímulo de uma vez só que, até ele se recuperar destrutivo e ocorrem mais comumente em locais
todos os outros raios já se descarregaram. Isso não di- de elevada altitude.
ferente de quando ligamos e desligamos uma lanterna
contra o nosso olho e o ambiente que antes era claro
agora está escuro e se clareia aos poucos.[11]. Atu-
almente a maior quantidade de raios consecutivos re-
gistrados foram 42, enquanto é comum que ocorra em
torno de 25 descargas.

4 Tipos de Relâmpagos Figura 5: Relâmpago nuvem-solo negativo.[10]


Dentre os variados tipos de raios, destacam-se os se-
guintes: Relâmpagos esféricos: Os relâmpagos esféricos são
5

Figura 7: Condutor não esférico.[12]


Figura 6: Relâmpago nuvem-solo positivo.[10]
Sabe-se que a área da esfera é 4πR2 , logo sua carga
mais raros que os demais e ainda não existem mui- está relacionada pela expressão Q = 4πR2 σ. Substi-
tas descobertas a seu respeito. Sabe-se que eles tuindo esta expressão na Equação (2), tem-se
possuem forma próxima de uma esfera, um diâme-
tro que varia de 10 a 40 centímetros e emitem luzes 1 4πR2 σ Rσ
V = = (3)
de diferentes cores, entre as já analisadas, verme- 4π0 R 0
lho, branco, amarelo e azul. Até o momento, tendo
em vista o que foi registrado, sabe-se que esse tipo Explicitando-se σ, otém-se
de raio pode se mover ou não, pode ou não pro- 0 V
duzir ruídos e é comum serem vistos próximos do σ= (4)
R
solo. Seu tempo de duração pode variar de alguns
segundos até minutos.[9] Como as duas esferas estão sob o mesmo potencial, a
De acordo com as pesquisas já realizadas por pes- esfera com menor raio possuirá a amior densidade su-
quisadores da Universidade de Canterbury, Nova perficial de carga, logo possuirá o campo elétrico má-
Zelândia, acredita-se que o calor proveniente do ximo em suas proximidades pois E = σ/0 .
raio produz nanopartículas de Silício e outros com- Assim, para um condutor de forma abritária, como
postos no solo. Essas partículas se aglomeram um para-raios, o potencial suficiente para ocorrer uma
formando uma rede de filamentos que armazenam ruptura dielétrica depende do menor raio de curvatura
energia. Ao fim da descarga elétrica esses filamen- de qualquer uma de suas partes. Caso o condutor pos-
tos se vaporizam, passando a ter a forma de uma sua pontos agudos com raios de curvaturas muito pe-
esfera e a energia antes armazenada é liberada na quenos, a ruptura dielétrica ocorrerá a potenciais rela-
forma de luz e calor.[9] tivamente pequenos.
Deste modo, os para-raios no topo das altas edifica-
ções são capazes de atrair as cargas elétricas presen-
5 Para-raios tes nas proximidades das nuvens antes que o potencial
atinja altos valores e produza descargas elétricas de ca-
Para-raios são equipamentos com a finalidade de evi- ráter destrutivo.[12]
tar que raios, arco elétrico de grande escala e alto poder
destrutivos, causem danos tanto de natureza material
quanto à saúde do do homem. O para-raios consiste 6 Aplicação da Gaiola de Fara-
em uma haste de metal com uma extremidade pontia-
guda, onde se acumulam as cargas elétricas, conforme
day
o princípio do “poder das pontas”. Faraday propôs a construção de uma gaiola metálica
Tal princípio é explicado da seguinte forma: Quando para demonstrar que condutores carregados eletrizam-
uma carga é colocada em um condutor de forma não- se apenas em sua superfície externa, ficando sua parte
esférica, como representado na Figura 7, sua superfície interna intacta sem sofrer qualquer interferência, o pró-
torna-se uma superfície equipotencial, contudo a den- prio Faraday entrou na gaiola e fez com que seus assis-
sidade superficial de carga e o campo elétrico na su- tentes a eletrizassem. Da gaiola, mantida sobre supor-
perfície externa do material condutor variarão a cada tes isolantes, chegaram a saltar faíscas, mas o cientista
ponto. Quando próximo a um ponto da superfície onde em seu interior não sofreu nenhum efeito elétrica, com-
o raio de curvatura é pequeno, como em A na figura, o provando sua teoria. A Gaiola de Faraday é composta
campo elétrico e a densidade superficial de carga serão por uma tela metálica no formato cilíndrico e a base
grandes, já quando próximo a um ponto onde o raio de isolada através de um apoio de acrílico. Presa à tela
curvatura é grande, como em B, observa-se o contrário. (tanto na parte exterior quanto interior) por um fio
Pode-se compreender este fenômeno qualitativa- de nylon encontram-se algumas pequenas bolinhas de
mente considerando as esferas do condutor, no caso isopor, conforme mostra a Figura 8.
o para-raios, como sendo esferas de raios distintos. As-
Quando conectamos a Gaiola de Faraday à Máquina
sumindo σ a densidade superficial de carga, tem-se que
de Winshurt (que fornece uma ddp de aproximada-
o potencial de uma esfera de raios R é
mente 30.000 volts), a gaiola fica então eletrizada e as
1 Q bolinhas presas do lado de fora são repelidas, enquanto
V = (2) que as bolinhas presas à parte interna permanecem em
4π0 R
6

naquelas que apresentam uma substancial região


de precipitação estratiforme. Já os ralos de sprites
antecedem a presença dos Sprites, apresentando
um brilho difuso na forma de disco e propagam-se
a baixas altitudes em torno de 70 km a 85 km,
emergindo da porção inferior.[6]

Elves: Esse fenômeno pode ser definido como como


estruturas quase-toroidais em expansão caracteri-
zadas por um alargamento horizontal e também
uma expansão para baixo. Além disso, os El-
ves apresentam uma curta duração de menos de
500 ms e são extremamente brilhantes, como os
Figura 8: Exemplo da Gaiola de Faraday Sprites, esse fenômeno também segue relâmpagos
nuvem-solo de polaridade positiva. Cientistas ex-
plicam o mecanismo do Elves através de pulsos
repouso. Mostrando assim o efeito da blindagem ele- eletromagnéticos dos relâmpagos que induzem um
trostática. brilho transiente na ionosfera entre as altitudes de
A blindagem eletrostática é muito utilizada para a 80 e 100 km.[1]
proteção de aparelhos elétricos e eletrônicos contra efei-
tos perturbadores externos. Os aparelhos de medi-
das sensíveis estão acondicionados em caixas metálicas, Jatos azuis e Trolls: Os jatos azuis são jatos de luz
para que as medidas não sofram influências externas. que emergem do topo de tempestades eletrica-
As estruturas metálicas de um avião, de um automóvel, mente ativas. Propagam para cima com veloci-
e de um prédio constituem blindagens eletrostáticas. dades superiores a 100 km/s, atingindo altitudes
Devido a essa aplicação do modelo de Faraday terminais acima de 40 km. Seu brilho estimado é
que durante as tempestades recomenda-se permanecer da ordem de 1000 kR. Esses jatos não estão as-
longe de superfícies pontiagudas, pois estas atraem os sociados a relâmpagos nuvem-solo, no entanto, a
raios, e um dos locais mais seguros é no interior dos au- atividade elétrica é muito rápida e parece cessar
tomóveis, embora a crença popular mais comum seja por alguns segundos após a ocorrência desse fenô-
justificada pela presença da borracha dos pneus, que meno atmosférico. Examina-se a associação com
fisicamente não consiste em uma boa explicação o que tempestades que produzem granizo.
de fato justifica essa hipótese é a mesma ideia que nor-
Enquanto que os Trolls, apesar de serem semelhan-
teia o experimento de Faraday, de que o carro com
tes aos jatos azuis, embora com coloração verme-
sua superfície metálica funciona como uma superfície
lha, ocorrem após um sprite intenso cujas rami-
condutora permanecendo seu interior sem qualquer in-
ficações estenderam-se para baixo até o topo das
terferência, assim as pessoas no interior do carro per-
nuvens. Os trolls exibem uma luminosa “cabeça”
manecem em segurança.
à frente de uma “cauda” de luminosidade fraca e
movem-se em movimento ascendente inicialmente
a velocidades próximas a 150 km/s, desacelerando-
7 Outros fenômenos que ocorrem se gradualmente, e desaparecendo em torno de
na atmosfera 50 km.

Além dos relâmpagos explanados anteriormente, ou-


tros fenômenos luminosos intrigantes também ocorrem Surtos de Raios Gama: Os Surtos de Raios Gama
na atmosfera. Frente à análise das tempestades elé- têm sido percebidos de dois tipos de eventos: o
tricas e estudos recentes que as abrangem seguem al- mais significativo mostra um lento aumento de
guns exemplos desses eventos luminosos ilustrados na radiação, com fótons de energias até 3 MeV, e
Figura 9: dura por uma hora ou mais antes de decair len-
tamente. Isso ocorre devido a presença de ae-
Sprites: Ou red sprites são fenômenos luminosos que rossóis radiativos nas partículas precipitantes na
têm sua extensão variando de 95 Km até 30 Km de chuva que superposto a essa radiação gradual há
altitude, sendo que os sprites se expandem para to- um surto impulsivo de fótons de mais alta energia
das as direções. Esse fenômeno pode atingir uma (até 10 MeV), que perdura por uns poucos minu-
velocidade de 107 m/s e tem uma duração muito tos. Esses raios gama são provenientes de radiação
pequena que consiste em dezenas de milissegun- de frenagem de elétrons de maior energia colidindo
dos. Além disso esse fenômeno é caracterizado por com os átomos da atmosfera. O mecanismo desse
seguir relâmpagos nuvem-solo de polaridade posi- fenômeno é explicado pela aceleração de elétrons
tiva. Os Sprites ocorrem tipicamente associados pelos fortes campos elétricos estabelecidos durante
com amplas tempestades elétricas, especialmente as tempestades elétricas.
7

eletricidade-na-atmosfera.php>. Acesso em: 11


jun. 2017.

[4] Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Cir-


cuito Elétrico Atmosférico Global. Disponível em:
<http://www.inpe.br/webelat/homepage/menu
/relamp/eletricidade.atmosferica/circuito
.eletrico.atmosferico.global.php>. Acesso em:
14 jun. 2017.

[5] Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Es-


trutura Elétrica da Atmosfera. Disponível em:
<http://www.inpe.br/webelat/homepage/menu
/relamp/eletricidade.atmosferica/estrutura
.eletrica.da.atmosfera.php>. Acesso em: 14 jun.
2017.

[6] J.A. Chalmer.s, Atmospheric Electricity, Pergamon,


Oxford, London, 1967.

Figura 9: Representação dos fenômenos: Sprites, El- [7] MENDES JUNIOR, Odim; DOMINGUES, Margarete
ves, Jatos azuis, Trolls e Surtos de Raios Gama. Oliveira. Introdução à Eletrodinâmica Atmosférica.

[8] PINTO JUNIOR, Osmar. A Arte da Guerra contra os


8 Discussão e Conclusões Raios. São Paulo: Oficina de Textos, 2005. 80 p.

[9] ROGÉRIO SOUSA (Pará). Ti-


À partir do que foi discutido neste artigo, nota-se
pos de Raios. 2002. Disponível em:
que devido à posição geográfica do Brasil e aos demais
<http://fisica.icen.ufpa.br/aplicada
fatores que o tornam um país com grande ocorrência /classif.htm>. Acesso em: 17 jun. 2017.
de descargas elétricas, a busca por descobertas a res-
peito desse assunto tem crescido bastante. Cabe des- [10] SÃO JOSÉ DOS CAMPOS. INSTITUTO
tacar a importância do estudo do eletromagnetismo, NACIONAL DE PESQUISAS NACIONAIS.
o qual apresenta conceitos que regem esses fenômenos (Org.). Tipos de Relâmpagos. Disponível em:
e muitos outros na atmosfera terrestre. Ainda existe <http://www.inpe.br/webelat/homepage
/menu/relamp/relampagos/tipos.php>. Acesso em:
muito a ser descoberto a respeito das descargas elétri-
12 jun. 2017.
cas e os fenômenos atmosféricos, e muitas teorias ainda
não foram confirmadas. Porém, ao longo do artigo foi [11] SOUZA, Rogério. Raios, Relâmpagos e Trovões.:
deixado claro o que ainda é teoria e o que já foi com- Formação de um raio. 2002. Disponível em:
provado através de pesquisas e observações de vários <http://fisica.icen.ufpa.br/aplicada/formac.htm>.
centros de pesquisas brasileiros e extrangeiros. Acesso em: 13 jun. 2017.

[12] TIPLER, P. A.; MOSCA, G. Física para cientistas e


Agradecimentos engenheiros - Eletricidade e Magnetismo, Ótica. 5.ed.
LTC, 2006.
Agradecemos a docente doutora Bertha Melgar Qua-
dros por proporcionar e incentivar uma expansão dos
conceitos além da sala de aula, permitindo assim am-
pliar o aprendizado da disciplina de Física e também
pela associação com o que se encontra presente na rea-
lidade e pode ser explicado baseado nas ciências exatas.

Referências
[1] D.R. MacGorman and W.D. Rust, The electrical na-
ture of storms, Oxford University Press, New York,
1998.

[2] ELAT - GRUPO DE ELETRICI-


DADE ATMOSFÉRICA (Org.). Cor-
rente Elétrica do Raio. Disponível em:
<http://www.inpe.br/webelat/homepage/menu/
relamp/relampagos/caracteristicas.da.corrente
.eletrica.php>. Acesso em: 15 jun. 2017.

[3] Eletricidade na atmosfera da Terra. Disponível em:


<http://www.fisica.net/eletricidade/

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