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DADOS DE ODINRIGHT

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STEVE PERRY

SOMBRAS DO IMPÉRIO

TRADUÇÃO
ALEXANDRE MANDARINO
Sumário

Agradecimentos

Prólogo

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Capítulo 15

Capítulo 16
Capítulo 17

Capítulo 18

Capítulo 19

Capítulo 20

Capítulo 21

Capítulo 22

Capítulo 23

Capítulo 24

Capítulo 25

Capítulo 26

Capítulo 27

Capítulo 28

Capítulo 29

Capítulo 30

Capítulo 31

Capítulo 32

Capítulo 33

Capítulo 34

Capítulo 35

Capítulo 36
Capítulo 37

Capítulo 38

Capítulo 39

Capítulo 40

Epílogo

Créditos
Para Dianne
e para Tom “Mississippi” Dupree,
que me fez entrar em campo e,
assim, deu-me a chance de rebater
Agradecimentos

Eu não poderia ter escrito um livro situado num universo


tão maravilhosamente rico e complexo como este sozinho.
Tive ajuda, muita ajuda, e devo agradecimentos a muitas
pessoas. Vocês devem saber quem são. Minhas desculpas a
qualquer um que talvez não mencione, e a costumeira
ressalva se aplica: caso eu tenha estragado a contribuição
de alguém, a culpa é minha e não dele. Se você é fã dos
livros, quadrinhos, jogos ou filmes, provavelmente vai
reconhecer alguns destes nomes.
Minha gratidão vai para: Tom Dupree; Howard Roffman,
Lucy Wilson, Sue Rostoni e Allan Kausch; Jon Knoles, Steve
Dauterman e Larry Holland; Bill Slavicsek; Bill Smith; Mike
Richardson, Ryder Windham, Kilian Plunkett e John Wagner;
Timothy Zahn, Kevin J. Anderson e Rebecca Moesta; Jean
Naggar; Dianne, Danelle e Dal Perry; e Cady Jo Ivy e
Roxanne de Bergerac. Também gostaria de agradecer aos
fãs que participam do Star Wars Forum no America Online;
tive algumas grandes ideias enquanto espreitava e ouvia
por lá. E por último, mas não menos importante, obrigado
ao homem que sonhou e depois construiu esse brinquedo
absolutamente extraordinário em primeiro lugar: George
Lucas.
Muito obrigado, gangue. De verdade.
“Admita: se o crime não compensasse,
haveria muito poucos criminosos.”
Laughton Lewis Burdock
Ele parece um cadáver ambulante, pensou Xizor. Como
um corpo mumificado, morto há mil anos. Incrível que ainda
esteja vivo, e ainda por cima seja o homem mais poderoso
da galáxia. Ele nem é tão velho; é mais como se algo o
estivesse devorando lentamente.
Xizor estava a quatro metros de distância do Imperador,
observando enquanto o homem que muito tempo antes
havia sido o Senador Palpatine movia-se para se posicionar
no campo da holocam. Imaginou que pudesse sentir o
cheiro da decomposição do corpo desgastado do Imperador.
Provavelmente era apenas um truque do ar reciclado,
processado por dezenas de filtros para garantir que não
houvesse qualquer possibilidade de algum gás venenoso ser
introduzido no recinto. Filtrava a vida, talvez, conferindo-lhe
esse cheiro de morto.
O espectador na outra extremidade do hololink veria um
close da cabeça e dos ombros do Imperador, de um rosto
devastado pela idade e envolto no capuz de seu robe escuro
de zeyd. O homem do outro lado da transmissão, a anos-luz
de distância, não veria Xizor, mas Xizor seria capaz de vê-lo.
Era uma amostra da confiança do Imperador que Xizor
tivesse permissão de estar ali enquanto a conversa
acontecia.
O homem do outro lado da transmissão – se é que ele
ainda poderia ser chamado assim...
O ar rodopiou no interior da Câmara Imperial diante do
Imperador, coalesceu e floresceu na imagem de uma figura
ajoelhada sobre uma das pernas. Um bípede humanoide de
capa, todo vestido de preto, o rosto escondido sob um
capacete e uma máscara de respiração.
Darth Vader.
Vader falou:
– Qual a sua ordem, meu mestre?
Se Xizor pudesse disparar um raio através do tempo e do
espaço para atacar e matar Vader, faria isso sem
pestanejar. Apenas fantasia: Vader era poderoso demais
para ser atacado diretamente.
– Há uma grande perturbação na Força – disse o
Imperador.
– Eu pude sentir – disse Vader.
– Temos um novo inimigo. Luke Skywalker.
Skywalker? Esse havia sido o nome de Vader, muito
tempo atrás. Quem seria essa pessoa com o mesmo nome,
alguém tão poderoso a ponto de merecer uma conversa
entre o Imperador e sua criação mais repugnante? Mais
importante, por que os agentes de Xizor não haviam
descoberto isso até agora? A ira de Xizor foi instantânea,
mas fria. Nenhum sinal de sua surpresa ou raiva se
mostraria em suas feições imperturbáveis. Os Falleen não
permitiam que suas emoções explodissem, como faziam
muitas das espécies inferiores; não, a ancestralidade Falleen
não tinha pele, mas escamas; não mamíferos, mas
reptilianos. Não selvagens, mas friamente calculistas. Isso
era muito melhor. Muito mais seguro.
– Sim, meu mestre – continuou Vader.
– Ele poderia nos destruir – disse o Imperador.
A atenção de Xizor se voltou para o Imperador e a
imagem holográfica de Vader ajoelhado no convés de uma
nave distante. Era uma notícia bem interessante. Algo que o
Imperador percebia como um perigo para si mesmo? Algo
que o Imperador temia?
– Ele é apenas um garoto – disse Vader –; Obi-Wan não
pode mais ajudá-lo.
Obi-Wan. Esse nome Xizor conhecia. Estava entre os
últimos dos Cavaleiros Jedi, um general. Mas estava morto
havia décadas, não?
Se Obi-Wan estivera ajudando alguém que ainda era um
menino, aparentemente a informação de Xizor estava
errada. Seus agentes iriam se arrepender.
Mesmo enquanto observava a imagem distante de Vader
e a proximidade do Imperador, mesmo ciente do luxo da
câmara privada e protegida do Imperador no núcleo do
palácio piramidal gigante, Xizor foi capaz de fazer uma nota
mental para si próprio: a cabeça de alguém rolaria pelo
fracasso em informá-lo de tudo aquilo. Conhecimento era
poder; falta de conhecimento era fraqueza. Isso era algo
que ele não podia permitir.
O Imperador continuou:
– A Força é intensa nele. O filho de Skywalker não deve
se tornar um Jedi.
Filho de Skywalker?
O filho de Vader! Espantoso!
– Se pudesse ser cooptado, ele se tornaria um aliado
poderoso – disse Vader.
Havia algo na voz de Vader quando ele falou isso, algo
que Xizor não conseguia identificar. Saudade? Preocupação?
Esperança?
– Sim... sim. Ele seria um grande trunfo – respondeu o
Imperador. – Pode ser feito?
Houve a mais breve das pausas.
– Ele vai se juntar a nós ou morrer, Mestre.
Xizor sentiu o sorriso em seu rosto, sem permitir que ele
se mostrasse, como não permitira que sua raiva aflorasse.
Ah. Vader queria Skywalker vivo, isso era o que estava
escondido em seu tom. Sim, ele havia dito que o menino iria
se juntar a eles ou morrer, mas esta última parte fora dita,
obviamente, apenas para aplacar o Imperador. Vader não
tinha a intenção de matar Skywalker, seu próprio filho; isso
era óbvio para alguém tão hábil na leitura de vozes como
Xizor. Ele não havia chegado a Príncipe Negro, Sublorde do
Sol Negro, a maior organização criminosa na galáxia,
somente por conta de sua formidável boa aparência. Xizor
não compreendia verdadeiramente a Força que sustentava
o Imperador e Vader e os deixava tão poderosos, apenas
sabia que ela certamente funcionava de alguma forma. Mas
também sabia que a Força era algo que os extintos Jedi
supostamente haviam dominado. E agora, aparentemente,
esse novo jogador tivera acesso a ela. Vader queria
Skywalker vivo, tinha praticamente prometido ao Imperador
que o entregaria vivo – e convertido.
Isso era muito interessante.
Muito interessante, mesmo.
O Imperador terminou sua comunicação e virou-se para
encará-lo.
– Agora, onde estávamos, príncipe Xizor?
O Príncipe Negro sorriu. Cuidaria dos assuntos presentes,
mas não esqueceria o nome de Luke Skywalker.
Chewbacca rugiu de raiva. Um stormtrooper agarrou seu
braço e ele jogou o homem longe, a armadura estalando
enquanto ele caía no poço. Mais dois guardas entraram e o
Wookiee afastou-os para o lado como se fossem nada, como
uma criança arremessando bonecos para o alto.
Em segundos um dos soldados de Vader poderia atirar
em Chewie. Ele era grande e forte, mas não conseguiria
vencer; eles o derrotariam.
Han começou a gritar com o Wookiee, acalmando-o.
Leia observava, incapaz de se mover, incapaz de
acreditar que aquilo estava acontecendo.
Han continuou falando:
– Chewie, deixe para outra vez! A princesa, você precisa
cuidar dela. Está me ouvindo? Ahn?
Estavam em uma câmara úmida nas entranhas da
Cidade das Nuvens em Bespin, onde o suposto amigo de
Han, Lando Calrissian, os havia traído para Darth Vader. A
cena era banhada por uma luz dourada amanteigada que a
fazia parecer ainda mais surreal. Chewbacca piscou para
Han, com o torso semimontado de 3PO pendendo como
uma mochila das costas do Wookiee. O traidor Calrissian
ficou parado em um canto como uma criatura selvagem.
Havia mais guardas, técnicos, caçadores de recompensa.
Vader e o fedor de carbonita líquida permeavam o ar ao
redor de todos eles, um cheiro de morgues e sepulturas.
Outros guardas chegaram, para colocar algemas em
Chewie. O Wookiee permitiu, mais calmo. Sim, ele entendeu
Han. Não gostou, mas entendeu. Deixou que os guardas o
algemassem.
Han e Leia se entreolharam. Isso não pode estar
acontecendo, pensou ela. Não agora.
A emoção os tomou; nenhum dos dois pôde resistir.
Aproximaram-se como ímãs, tocando um ao outro.
Abraçaram-se, beijaram-se, cheios de fogo e esperança;
cheios de cinzas e desespero.
Dois stormtroopers empurraram Han para longe, para
cima da plataforma que descia até a câmara de
congelamento improvisada.
As palavras irromperam de Leia, sem medidas,
incontroláveis, como um jato de lava de uma explosão
vulcânica:
– Eu amo você.
E Han, bravo, forte, acenou com a cabeça para ela.
– Eu sei.
Os técnicos Ugnaughts, quase da metade da altura de
Han, aproximaram-se, soltaram as mãos dele e voltaram a
se afastar.
Han olhou para os técnicos e então para Leia novamente.
A plataforma desceu, levando-o para o poço. Ele encarou
Leia, olhando, olhando... até que a nuvem de vapor
congelante subiu e bloqueou sua visão.
Chewie gritou; Leia não entendia sua língua, mas
entendeu sua raiva, sua dor, seu sentimento de desamparo.
Han!
Um gás acre, fedorento, foi expelido e cobriu a todos
eles, um nevoeiro gelado, uma turbulenta fumaça de gelar a
alma, através da qual Leia viu Vader assistindo a tudo
debaixo de sua máscara inescrutável. Ouviu 3PO balbuciar:
– O que... o que está acontecendo? Dê a volta!
Chewbacca, eu não posso ver!
Han!
Oh, Han!
Leia sentou-se abruptamente, o pulso acelerado. Os
lençóis estavam suados e amassados à sua volta; sua
camisola, úmida. Suspirou, desceu as pernas para a lateral
da cama e ficou sentada olhando para a parede. O
cronômetro embutido mostrava a ela que eram três horas
depois da meia-noite. O ar do quarto cheirava a mofo. Do
lado de fora, Leia sabia, a noite de Tatooine estaria fria, e
ela pensou em abrir um respiradouro para permitir que
parte desse frescor entrasse. Naquele instante, isso lhe
parecia esforço demais.
Um pesadelo, pensou. Só isso.
Mas não. Não podia fingir que tinha sido só um pesadelo.
Tinha sido mais do que isso. Era uma lembrança. Aquilo
havia acontecido. O homem que amava fora selado em um
bloco de carbonita, levado como um caixote de carga por
um caçador de recompensas. Perdido em algum lugar na
vastidão da galáxia.
Pesou bem as emoções, sentiu-as ameaçarem derramar-
se em lágrimas, mas lutou. Ela era Leia Organa, princesa da
família real de Alderaan, eleita para o Senado Imperial, uma
trabalhadora da Aliança para a Restauração da República.
Alderaan não mais existia, após ser destruído por Vader e a
Estrela da Morte; o Senado Imperial fora dissolvido; a
Aliança estava sem membros suficientes e desarmada, em
uma desvantagem de mil para um; mas ela era quem era.
Não iria chorar.
Não iria chorar.
Iria se vingar.
Três horas depois da meia-noite e metade do planeta
dormia.
Luke Skywalker estava descalço na plataforma de
concretaço sessenta metros acima da areia, olhando para o
cabo esticado. Usava calças e camisa pretas e um cinto de
couro preto. Não tinha mais um sabre de luz, embora
tivesse começado a construir outro, usando os diagramas
que encontrara em um livro velho de Ben Kenobi, com
encadernação de couro. Era um exercício tradicional para
um Jedi, havia aprendido. Aquilo lhe dera algo para fazer
enquanto sua nova mão finalizava a ligação com seu braço.
Impedira que ele pensasse demais.
As luzes no teto eram fracas; ele mal podia ver o cabo de
aço esticado. A noite tinha feito a confusão chegar ao fim;
os acrobatas, costas-de-orvalho e palhaços há muito
estavam dormindo. As multidões tinham ido para casa e ele
estava sozinho; sozinho com a corda bamba. Tudo estava
quieto, exceto pelo rangir do tecido syn da tenda que
esfriava nos braços da noite de verão de Tatooine. O dia
quente do deserto abria mão de seu calor rapidamente e
estava frio o bastante fora da tenda para que fosse
necessário um casaco. O cheiro dos costas-de-orvalho subia
até onde ele estava empoleirado e se misturava com o de
seu próprio suor.
Um guarda cuja mente havia aceitado o comando mental
de Luke para permitir que ele entrasse na tenda gigante
estava a postos na entrada, agora cego à sua presença.
Uma habilidade Jedi, esse tipo de controle – outra que ele
apenas tinha começado a aprender.
Luke respirou fundo, exalando lentamente. Não havia
rede lá embaixo e uma queda daquela altura sem dúvida
seria fatal. Não precisava fazer isso. Ninguém o obrigaria a
andar na corda.
Ninguém a não ser ele mesmo.
Acalmou a respiração, os batimentos cardíacos e, tanto
quanto possível, a mente, usando o método que aprendera.
Primeiro Ben, depois o mestre Yoda lhe haviam ensinado as
artes antigas. Os exercícios de Yoda tinham sido os mais
rigorosos e exaustivos, mas infelizmente Luke não
conseguira terminar seu aprendizado. Não tivera escolha na
época: Han e Leia estavam em perigo mortal e ele teve de
ajudá-los. Porque ele partira, eles estavam vivos, mas...
Nada havia acabado bem.
Não. Nem um pouco.
E houve o encontro com Vader...
Sentiu o rosto se contrair e os músculos da mandíbula
dançarem; lutou contra a raiva que surgia dentro de si como
uma maré hormonal negra igual às roupas que usava. Seu
pulso subitamente doeu no local onde o sabre de luz de
Vader o havia cortado. A nova mão era tão boa quanto a
antiga, talvez melhor; mas, às vezes, quando pensava em
Vader, ela latejava. Dor fantasma de membro perdido, os
médicos haviam dito. Não era real.
Eu sou seu pai.
Não! Isso não podia ser real, também! Seu pai tinha sido
Anakin Skywalker, um Jedi.
Se ao menos pudesse falar com Ben. Ou Yoda. Eles
poderiam confirmar isso. Poderiam lhe dizer a verdade.
Vader tentara manipulá-lo, tirar seu equilíbrio, só isso.
Mas... e se fosse verdade?
Não. Esqueça isso. Não adiantaria focar nisso agora. Ele
não seria capaz de fazer bem algum a ninguém se não
dominasse suas habilidades Jedi. Precisava confiar na Força
e seguir em frente. Não importava quais mentiras Vader
tivesse vomitado. Havia uma guerra em andamento, muita
coisa a ser feita, e, ainda que fosse um bom piloto, deveria
ter mais a oferecer à Aliança.
Não era fácil e não parecia estar ficando mais fácil.
Desejou ser mais seguro de si, mas o fato era que, bem, ele
não era. Sentia como se um peso andasse sobre ele, mais
do que jamais imaginara ser possível. Alguns anos antes,
era um menino de fazenda, trabalhando com o tio Owen,
não indo a lugar algum. Agora havia Han, o Império, a
Aliança, Vader.
Não. Agora não. Isso está no passado e no futuro, este
cabo é o agora. Concentre-se ou você vai cair dele.
Buscou a energia, sentiu o fluxo começar. Era brilhante,
quente e cheia de vida, e ele a chamou para perto, para que
o envolvesse como uma armadura.
A Força: uma vez mais, estava lá para ele. Sim...
No entanto havia algo mais lá, também. Em um lugar
distante, mas de alguma forma ao seu lado, sentiu o
repuxar de que lhe haviam falado. Uma frieza poderosa,
dura, o oposto do que seus professores tinham lhe
apresentado. A antítese da luz. Aquilo que Vader abraçara.
O lado sombrio.
Não! Ele o afastou. Recusou-se a olhar para ele. Respirou
fundo outra vez. Sentiu a Força permeá-lo, sentiu-a se afinar
com ele. Ou talvez fosse o contrário. Não importava.
Quando eram como um só, começou a andar.
A corda bamba de repente pareceu tão larga quanto um
passeio público. Era natural – a Força –, mas essa parte
sempre parecia magia, como se ele pudesse fazer milagres.
Tinha visto Yoda levantar o X-wing do pântano usando a
mente. Alguns feitos pareciam milagres.
Quando levantou o pé para dar mais um passo, lembrou-
se de outros acontecimentos da época em que estivera em
Dagobah.
Sob o solo úmido e macio, na caverna...
Darth Vader veio em sua direção.
Vader! Aqui! Como pode ser?
Luke sacou seu sabre de luz, ativou-o, empunhou-o à sua
frente. O reluzente branco azulado de sua lâmina encontrou
o feixe avermelhado de Vader quando se cruzaram em uma
saudação de “em guarda”. O zumbido e a crepitação da
energia ficavam cada vez mais altos.
De repente Vader se moveu, um corte poderoso no flanco
esquerdo de Luke.
Luke brandiu a lâmina para cima e para a frente, deixou-
a descer, bloqueou um golpe; bateram com tanta força, que
ele sentiu a vibração, quase soltando o cabo de seu sabre
de luz.
Sentia o cheiro de mofo ao seu redor, ouvia o zumbido de
energia dos sabres de luz, via Vader com uma clareza
cristalina. Todos os seus sentidos estavam bem vivos,
aguçados como sempre haviam sido, afiados como um
armazém cheio de vibrofacas.
Vader cortou novamente, agora na cabeça de Luke, e o
bloqueio carregado de pânico de Skywalker mal pôde pará-
lo; ele era tão forte!
Novamente Vader o atacou, um golpe que teria partido
Luke ao meio se ele não tivesse colocado sua arma no
caminho, bem na hora!
Vader era forte demais para ele, Luke sabia. Apenas sua
ira poderia salvá-lo de ser morto. Lembrou-se de Ben,
lembrou-se de Vader cortando-o.
Foi guiado por uma raiva irracional. Luke atacou com a
lâmina, usando as costas da mão, com todo o impulso do
braço, ombro e punho por trás, e...
O golpe cortou fora a cabeça de Vader.
O tempo pareceu se arrastar como uma pesada âncora.
Olhou fixamente. O corpo de Vader caiu, oh, tão
lentamente... e a cabeça decepada caiu no chão e rolou.
Rolou. Então parou. Não havia sangue.
Houve um lampejo brilhante, uma explosão súbita de luz
e fumaça roxa, e a máscara que cobria o rosto de Vader se
quebrou, se quebrou e desapareceu, revelando, revelando...
O rosto de Luke Skywalker.
Não!
A memória insurgente disparara muito mais rápido do
que os eventos tinham realmente durado. Ele havia dado
um único passo na vida real. Incrível o que a mente podia
fazer. Ainda assim, quase caiu da corda quando perdeu o
contato com a Força.
Pare com isso!, disse a si mesmo.
Respirou fundo, equilibrou-se fragilmente e imergiu na
Força outra vez.
Pronto, sob controle. Preparou-se, começou a andar, uno
com a Força mais uma vez, fluindo.
Pela metade do caminho sobre a corda, começou a
correr. Disse a si mesmo que era parte do teste. Disse a si
mesmo que a Força estava com ele e que poderia viver sem
medo, que tudo era possível para alguém treinado como um
Cavaleiro Jedi. Era o que haviam lhe ensinado. Queria
acreditar.
Não queria crer que tinha corrido por ter sentido o lado
sombrio andando sobre a corda às suas costas, com passos
leves e malignos, seguindo-o. Seguindo-o como a memória
de seu rosto na cabeça decepada de Vader, seguindo-o e...
... e alcançando-o...
Xizor recostou-se na cadeira-forma. A cadeira, com um
circuito defeituoso que ele sempre pensava em mandar
consertar, entendeu esse movimento como uma pergunta.
Seu voxchip disse:
– Qual é o seu desejo, Príncipe Sheeezor? – Arrastando
seu nome, sibilando a primeira sílaba. Ele balançou a
cabeça.
– Nada além de que você fique em silêncio – respondeu.
A vox da cadeira calou-se. As máquinas no interior do
assento de couro clonado zumbiram e ajustaram o encosto
para a nova posição de Xizor. Ele suspirou. Era mais rico do
que muitos planetas inteiros e tinha uma cadeira-forma em
mau funcionamento que não conseguia nem pronunciar seu
nome corretamente. Deixou uma nota para que a
substituíssem, agora, hoje, de imediato, assim que ele
terminasse os assuntos daquela manhã.
Olhou para a holoproj em escala de um para seis que
estava congelada à sua frente, depois para a mulher do
outro lado da mesa. Ela era tão bonita, ainda que não tão
étnica, quanto as duas guerreiras Epicanthix da holografia
entre eles. Mas sua beleza era de uma ordem diferente.
Tinha longos e sedosos cabelos loiros, olhos azuis pálidos e
claros, uma figura requintada. Machos humanos normais a
achariam atraente. Não havia falhas no rosto ou forma de
Guri, mas havia nela certa frieza, e isso era facilmente
explicado se você soubesse a razão: Guri era uma RHD,
uma réplica humana droide, e única. Poderia visualmente se
passar por uma mulher em qualquer lugar da galáxia,
comer, beber e executar todas as funções mais pessoais de
uma mulher, sem que ninguém percebesse. E era a única de
seu tipo programada para ser uma assassina. Guri era
capaz de matar sem aumentar seu batimento cardíaco
artificial, sem vestígio de escrúpulo.
Ela havia lhe custado nove milhões de créditos.
Xizor juntou os dedos e levantou uma sobrancelha para
Guri.
– As irmãs Pike – disse ela, olhando para a holo. –
Gêmeas genéticas, não clones. A da direita é Zan, a outra é
Zu. Zan tem olhos verdes, Zu tem um olho verde e um azul,
a única diferença perceptível. Elas são mestres de teräs
käsi, a arte Bunduki chamada mãos de aço. Vinte e seis
anos de idade-padrão, sem filiações políticas, sem
antecedentes criminais em qualquer um dos principais
sistemas, e, até onde fomos capazes de determinar,
completamente amorais. Podem ser contratadas por quem
der o maior lance e nunca trabalharam para o Sol Negro.
Também nunca foram derrotadas em combate aberto. Isso –
ela gesticulou de novo para a imagem holoproj imóvel – é o
que elas fazem para se divertir quando não estão
trabalhando. – A voz de Guri era, em contraste com sua
aparência, quente, convidativa, um rico contralto. Ela ativou
o holograma.
Xizor sorriu, revelando os dentes perfeitos. A holo tinha
mostrado as duas mulheres esfregando o chão com oito
stormtroopers imperiais em algum bar ninho de ratos em
um espaçoporto. Os soldados eram grandes, fortes, bem
treinados e armados. As mulheres sequer respiravam com
dificuldade quando terminaram.
– Elas vão servir – disse ele. – Pode acertar tudo.
Guri assentiu, virou-se e saiu. Tinha uma aparência tão
boa vista de trás quanto de frente.
Nove milhões, e valia cada decicred. Ele queria ter mais
uma dúzia como ela. Infelizmente, seu criador não estava
mais entre os vivos. Uma pena.
Enfim. Mais duas assassinas escolhidas a dedo sob o seu
comando. Assassinas sem vínculo com o Sol Negro; sem
vínculo até agora e, graças ao toque de especialista de Guri,
sem vínculo jamais.
Xizor olhou de relance para o teto. Ele tinha o padrão da
galáxia instalado nos eletroazulejos. Quando as luzes
estavam fracas – e geralmente estavam –, ele tinha uma
visão privilegiada da galáxia natal flutuando
holograficamente lá em cima, com mais de um milhão de
estrelas incandescentes individuais do tamanho de grãos de
poeira desenhadas à mão. O artista havia levado três meses
e a obra custara o resgate de um senhor da guerra, mas o
Príncipe das Trevas não conseguiria gastar tudo o que
possuía nem se tentasse com vontade, e uma soma
equivalente entrava a todo tempo. Créditos não eram nada;
ele tinha bilhões. Uma forma de lidar com as coisas, só isso.
Nada de importante.
Olhou de novo para a holografia. Linda e mortal, uma
combinação de que ele gostava. Ele mesmo era um dos
Falleen, uma espécie cujos ancestrais distantes haviam sido
reptilianos, e que tinha evoluído para o que geralmente era
considerada a mais bela de todas as espécies humanoides.
Ele contava mais de cem anos de idade, mas parecia ter
trinta. Era alto, usava um rabo de cavalo que se projetava
do topo de sua cabeça, careca nos outros pontos, e um
corpo rígido moldado por unidades stim. Também exalava
feromônios naturais que faziam a maioria das espécies
humanas se sentir imediatamente atraída por ele, e sua cor
de pele, normalmente um verde-escuro, mudava com o
surgimento desses feromônios, passando do espectro frio
para o quente. Sua beleza e atração eram ferramentas,
nada mais. Era o Príncipe das Trevas, o Sublorde do Sol
Negro, um dos três homens mais poderosos da galáxia.
Também era capaz de chutar uma fruta-sol do topo da
cabeça de um humanoide alto sem precisar de
aquecimento, e conseguia levantar duas vezes o próprio
peso sobre a cabeça usando apenas os músculos. Podia
alegar ter uma mente sã, ainda que reconhecidamente
tortuosa, em um corpo são.
Sua influência galáctica era superada apenas pela do
Imperador e do Lorde Sombrio dos Sith, Darth Vader.
Sorriu mais uma vez para a imagem diante dele. Terceiro,
mas prestes a se tornar o segundo, se seus planos
corressem como previsto. Fazia meses que entreouvira o
Imperador e Vader falando sobre uma ameaça que tinham
detectado; meses, e agora as preliminares estavam
concluídas. Xizor estava pronto para seguir em frente.
– Hora? – disse.
Seu computador ambiente respondeu.
Ah. Faltava só uma hora para a sua reunião. Era uma
curta jornada pelos corredores protegidos até onde estava
Vader, não muito além do ponto em que o enorme palácio
do Imperador, feito de espelho-cristal e rocha verde
cinzenta, projetava-se para a alta atmosfera. Uns poucos
quilômetros, não mais; um mero passeio o levaria até lá em
poucos minutos. Sem pressa. Não queria chegar cedo.
Um sino anunciou um visitante.
– Entre – disse Xizor. Seus guarda-costas não estavam ali,
mas não havia necessidade deles em seu santuário;
ninguém poderia penetrar suas defesas. E somente alguns
de seus subordinados tinham o direito de visitá-lo ali, todos
eles leais. Tão leais quanto o medo poderia torná-los.
Um de seus subtenentes, Mayth Duvel, entrou e fez uma
reverência.
– Meu príncipe Xizor.
– Sim?
– Tenho uma petição da Organização Nezriti. Eles
desejam uma aliança com o Sol Negro.
Xizor lançou a Duvel um sorriso calculado.
– Tenho certeza de que desejam.
Duvel apresentou um pequeno pacote.
– Eles oferecem uma amostra de sua estima.
Xizor pegou o pacote e abriu-o com a ponta dos dedos.
Dentro dele havia uma joia. Era um rubi-de-pressão
Tumaniano vermelho-sangue e de corte oval, uma pedra
muito rara, aparentemente sem falhas, e facilmente na casa
dos vários milhões de créditos. O Príncipe das Trevas
ergueu-a, virou-a em seus dedos, assentiu. Então jogou-a
sobre sua mesa. Ela quicou uma vez e deslizou até parar ao
lado de seu copo de bebida. Se tivesse caído no chão, ele
não teria se abaixado para recuperá-la; e se o droide de
limpeza viesse mais tarde e a engolisse, bem, e daí?
– Diga-lhes que vou pensar.
Duvel curvou-se e se afastou.
Quando ele saiu, Xizor ficou de pé e esticou o pescoço e
as costas. A crista reptiliana evoluída ao longo de sua
espinha elevou-se um pouco, parecendo afiada às pontas
dos seus dedos quando ele a tocou. Havia outros candidatos
à espera para vê-lo e normalmente ele se sentaria e ouviria
suas petições, mas não hoje. Agora era hora de partir e ver
Vader. Ir ao encontro dele em vez de insistir para que ele
viesse até si daria uma vantagem ao rival, colocando o
próprio Xizor na posição de suplicante. Mas não importava.
Isso fazia parte; não deveria parecer haver discórdia alguma
entre eles. Ninguém deveria suspeitar que ele sentisse nada
além de um grande respeito pelo Lorde Sombrio dos Sith, ou
seus planos não seriam bem-sucedidos. E seriam bem-
sucedidos, disso ele não duvidava.
Porque sempre eram.
Leia estava sentada à mesa de uma péssima cantina na
parte ruim de Mos Eisley.
Era realmente preciso se esforçar para merecer tais
distinções. Chamar aquele lugar de buraco era colocá-lo
quatro patamares acima de onde estava de fato. A mesa era
de metal expandido, placa de alumínio transformada em
uma bagunça barata e fácil de limpar; provavelmente
usavam uma mangueira de solvente de alta pressão para
lavar tudo, até o ralo no meio daquela parte mais afundada
no chão. Se abrissem a porta para a aridez de fora, tudo
secaria bem depressa. O copo de cerveja vil que tinha à sua
frente certamente perdia mais líquido para a evaporação do
que para os raros goles que ela dava. O sistema de
refrigeração de ar provavelmente sofrera um curto-circuito.
O lugar estava quente, o ar do deserto lá fora entrava com
a escória das sarjetas que vinha ficar por ali. Fedia como um
estábulo de banthas no verão quente, e a única coisa boa
do estabelecimento era a luz, fraca o bastante para que ela
não tivesse que enxergar muito bem os clientes; todos de
uma dúzia de espécies diferentes, nenhum deles um
exemplo particularmente saudável de sua origem.
Lando devia ter feito isto de propósito, escolhido aquele
poço para se encontrarem, só para ter uma vantagem sobre
ela. Bem. Quando ele finalmente chegasse, ela não iria lhe
dar essa satisfação. Por um tempo ela o odiara, até
entender que sua aparente traição a Han havia sido um
ardil para salvá-los de Vader. Lando abrira mão de muita
coisa para isso, e todos eles lhe deviam um pouco.
Ainda assim, aquele não era um bar para onde ela teria
ido sem uma boa razão; uma razão muito boa. E não era um
lugar ao qual ela teria ido sozinha, apesar de seus protestos
sobre não precisar de um guarda-costas. Mas, precisando ou
não, ela tinha um: Chewbacca sentava-se a seu lado,
encarando os diversos frequentadores. Chewie a deixara
com Luke após o último encontro com Vader apenas para ir
com Lando até Tatooine a fim de planejar o resgate de Han.
Desde a chegada de Leia, Chewie havia ficado bem perto
dela, quase como parte de seu guarda-roupa. Era irritante.
Lando explicara:
– Chewie deve sua vida a Han. Isso é uma grande coisa
entre os Wookiees. Han disse a ele para cuidar de você. Até
que Han diga para ele fazer outra coisa, isso é o que ele vai
fazer.
Leia tentara ser firme. Ela dissera a Chewie:
– Aprecio isso, mas você não precisa.
Não adiantava, Lando dissera a ela. Enquanto estivesse
vivo, Chewbacca ficaria a seu lado e pronto. Ela nem
mesmo falava Wookiee, exceto por um ou dois palavrões
que pensara ter reconhecido, mas Lando sorriu e disse que
era melhor que ela se acostumasse com aquilo.
Ela quase se acostumou, de certa forma. Chewie
conseguia entender certo número de línguas e, ainda que
não conseguisse falá-las, sabia fazer com que as pessoas
entendessem o que ele queria.
Leia gostava de Chewie, mas aí estava mais um motivo
para encontrar e libertar Han: que ele pudesse tirar seu
Wookiee de perto dela.
Mas, mesmo que ela nunca viesse a admitir, havia
momentos em que ter um Wookiee de dois metros de altura
por perto era útil. Tal como naquele maravilhoso lugar.
Durante a última hora, ela havia tido de olhar para vários
dos frequentadores com mais atenção do que teria
preferido. Apesar de estar usando um velho e esfarrapado
macacão de manipulador de cargas, poído e sujo de graxa,
ter prendido o cabelo em um coque apertado e pouco
atraente e não cruzar o olhar com o de mais ninguém, havia
um desfile constante de vários humanos e alienígenas por
sua mesa, tentando dar em cima dela; apesar, também, do
fato de um Wookiee muito bem crescido e armado estar
sentado à mesma mesa.
Machos. Parecia não importar de que espécie fossem
quando queriam companhia feminina. E não parecia
importar de que espécie a fêmea era, também.
Chewie deixava claro que eles não eram bem-vindos e,
levando em conta seu tamanho e coldre, ninguém tentava
discutir o assunto. Mas outros continuavam chegando.
Chewie rosnou para um Bith de cabeça bulbosa que
esbarrou na mesa. O alienígena, cuja espécie normalmente
era bem-comportada e calma, tinha obviamente bebido
demais se achava mesmo possível que ele e Leia pudessem
ter qualquer coisa em comum. O Bith olhou para os dentes
à mostra de Chewie, soluçou e saiu, cambaleando.
Leia disse:
– Olhe, eu aprecio a sua ajuda, mas posso lidar com
esses caras.
Chewie virou a cabeça para o lado e olhou para ela, um
gesto que, ela começava a perceber, significava ceticismo e
diversão misturados em partes iguais.
Leia tomou isso como um desafio.
– Ei, da próxima vez que alguém se aproximar, apenas
fique me observando. Dá para fazer isso sem ameaças,
sabe?
Não demorou muito tempo. A próxima presença no
rodízio de pragas era um Devaroniano, um humanoide com
chifres que – surpresa – queria pagar uma bebida para Leia.
– Obrigada, mas estou esperando alguém.
O Devaroniano disse:
– Bem, por que não lhe faço companhia até ele chegar?
Talvez esteja atrasado. Pode ser uma longa espera.
– Obrigada, mas eu tenho companhia. – Indicou Chewie.
O alienígena ignorou o gesto e, como o Wookiee não
disse nada nem apontou sua arma, continuou a falar.
– Sou realmente uma companhia bastante agradável de
se ter por perto, sabe? Muitas fêmeas têm pensado assim.
Muitas. – Olhou de soslaio para ela, com os dentes
pontiagudos parecendo bem brancos contra os lábios
vermelhos. Pôs a língua de fora e chupou-a de volta; era tão
longa quanto seu antebraço.
Poupe-me, pensou Leia. Desistiu da forma mais fácil.
– Não. Vá embora.
– Você não sabe o que está perdendo, pequena. – Seu
olhar tornou-se mais largo, fazendo-o parecer mais
demoníaco.
Ela olhou para Chewie, que estava prestes a começar a
rir, dava para ver. Então olhou para o Devaroniano.
– Eu vou tentar superar isso. Vá embora.
– Apenas uma bebida. E posso lhe mostrar minhas
holocartas Weranianas; elas são muito, ah... estimulantes.
Ele começou a sentar-se diante dela.
Leia puxou a pequena pistola de raios que tinha
escondido no bolso do macacão, levando-a para cima da
mesa, onde o Devaroniano pudesse vê-la. Apontou-a para o
teto e mudou o botão de ajuste de “atordoar” para “matar”.
Ele também viu isso.
Muito rapidamente, ele disse:
– Ah, bem, talvez outra vez. Eu, ah, acabei de lembrar
que, ah, deixei o conversor carregando na minha nave. Você
vai me desculpar.
E saiu correndo. Incrível o que a visão de uma pistola
debaixo do nariz de um detestável candidato a pretendente
podia fazer para melhorar suas maneiras.
Chewie ria agora. Disse alguma coisa, de cujo significado
ela teve uma boa ideia.
– Ninguém gosta de um Wookiee engraçadinho – disse
ela. Mas sorriu. Esse ponto fora para Chewie e ela era
mulher o suficiente para admitir isso.
Voltou a ativar a trava de segurança e guardou a pistola.
Brincou com o palito em sua bebida. Lando pagaria por
marcar o encontro naquele buraco. De alguma forma.
Alguém abriu a porta e um lampejo de luz quente
derramou-se pelo bar úmido. A silhueta na porta era de um
humano, que apenas por um segundo a fez lembrar-se de
Han.
Han.
Sentiu a dor começar a tomá-la de novo e balançou a
cabeça, como se isso pudesse fazer as emoções pararem de
fluir. Da última vez que havia visto Han Solo, ele estava
congelado em um bloco de carbonita. A última coisa que ele
lhe dissera foi uma resposta: “Eu sei”.
Leia suspirou. Até aquele momento ela não soubera
realmente que o amava. Ao ver Vader ordenar que ele fosse
baixado até a câmara de congelamento, e ao perceber que
havia uma chance de que ele não saísse vivo dali, ela teve
de dizê-lo. Saiu de sua boca sem controle, como se as
palavras estivessem sendo ditas por outra mulher. Fora
tão... irreal.
Mas ela não podia negar. Não naquele momento, não
agora. Ela o amava, aquele pirata desonesto. Não havia
nada a se fazer.
Esse sentimento a assustava mais do que qualquer coisa
em que pudesse pensar. Mais do que quando ela estivera
nas mãos de Vader, na Estrela da Morte; mais do que
quando metade do Exército e da Marinha Imperiais estava
atrás deles.
– Posso lhe pagar uma bebida, belezura? – disse alguém
atrás dela.
Leia virou-se. Era Lando. Ela estava com raiva dele, mas,
ao mesmo tempo, feliz em vê-lo.
– Como você entrou aqui?
– Porta dos fundos – disse Lando. Ele sorriu. Era um
homem bonito; alto, de pele escura, um bigode fino acima
dos dentes brancos e brilhantes. E sabia disso.
Atrás dele estavam os droides R2-D2 e C-3PO. A cúpula
de R2 girava enquanto o droide entrava no bar, e 3PO, o
mais ansioso droide que Leia já tinha visto, conseguia
parecer nervoso ainda que não pudesse mudar sua
expressão facial.
R2 assobiou.
– Sim, estou vendo – disse 3PO. Uma pausa curta. –
Mestre Lando, não seria melhor se nós esperássemos do
lado de fora? Acho que não gostam de droides neste lugar.
Nós somos os únicos aqui.
Lando sorriu.
– Relaxe. Ninguém vai incomodá-los. Conheço o
proprietário. Além disso, não quero vocês sozinhos lá fora.
Você pode achar difícil de acreditar, mas esta cidade é cheia
de ladrões. – Ele arregalou os olhos em espanto afetado e
gesticulou com as mãos para mostrar o bar e o porto ao seu
redor. – Você não gostaria de terminar cavando buracos na
areia em alguma fazenda de umidade, gostaria?
– Oh, e essa agora, não.
Leia sorriu, sem conseguir evitar. Que belo grupo de
personagens eles formavam. Dois droides engraçados;
Lando Calrissian, o jogador; Chewbacca, o Wookiee; Luke,
o...
O que era Luke? A meio caminho de se tornar um Jedi,
pelo menos. E muito importante, levando-se em conta como
Darth Vader parecia ficar em sua cola. Ela tinha ouvido
outros rumores, além disso, de que Vader não se importava
com como lhe entregassem Luke, vivo ou morto. Ela
adorava Han, mas sentia algo por Luke, também.
Mais uma complicação de que ela não precisava. Por que
a vida não era mais simples?
E Han...
– Acho que temos a localização da Slave I – disse Lando,
tranquilo.
Essa era a nave de Boba Fett. O caçador de recompensas
que havia levado Han da Cidade das Nuvens.
– O quê? Onde?
– Uma lua chamada Gall, circulando Zhar, um gigante de
gás em um dos distantes sistemas Rim. A informação é de
terceira mão, mas os informantes supostamente são de
confiança.
– Já ouvimos isso antes – disse Leia.
Lando deu de ombros.
– Podemos nos sentar e esperar ou podemos ir ver. O
caçador de recompensas deveria ter entregado Han a Jabba
meses atrás. Ele tem que estar em algum lugar. Eu tenho
um contato nesse sistema, um velho camarada de jogo que
às vezes trabalha como, hm, entregador de cargas
independente. Seu nome é Dash Rendar. Ele está checando
isso para nós.
Leia sorriu novamente. “Entregador de cargas
independente” era um eufemismo para “contrabandista”.
– Você confia nele?
– Bem, desde que o meu dinheiro não suma, sim.
– Bom. E quando vamos saber?
– Em alguns dias.
Leia olhou em volta.
– Qualquer coisa seria melhor do que esperar aqui.
Lando exibiu seu sorriso brilhante novamente.
– Mos Eisley é conhecido como o sovaco da galáxia.
Poderíamos estar em partes piores da anatomia.
Chewie disse algo.
Lando balançou a cabeça.
– Eu não sei por que ele estaria lá. Há um estaleiro na
lua; talvez tenha precisado de reparos. Algo grave deve tê-
lo segurado, porque Jabba só irá lhe pagar quando ele
chegar aqui.
Chewie disse outra coisa.
– Sim, temo que sim. – Lando olhou para Leia. – Gall é um
Enclave Imperial. Dois destróieres estão baseados lá, além
dos respectivos caças TIE que eles abrigam. Se a nave de
Fett está lá, não vai ser fácil chegar até ela.
– Nada tem sido fácil desde que conheci você – disse ela.
– Deixe-me perguntar uma coisa. De todos os lugares
miseráveis neste porto, por que você escolheu este?
– Bem, eu conheço o proprietário. Ele me deve por uma
aposta que fizemos uma vez. Posso comer e beber aqui de
graça sempre que estou na cidade.
– Oh, céus. Que emoção deve ser. Você já tentou comer
qualquer coisa neste lugar?
– Não estive com tanta fome assim ainda, não.
Ela balançou a cabeça. Sua vida certamente ficara
interessante depois de encontrar essas pessoas. Mas era
como Lando tinha acabado de dizer sobre Boba Fett: todo
mundo precisa estar em algum lugar.
Até que encontrassem Han, aqui seria tão bom quanto
qualquer outro local.
Leia disse:
– Talvez seja melhor avisarmos Luke.
 
Xizor deixou seus quatro guarda-costas na antecâmara e
entrou na sala de reuniões pessoal de Darth Vader. Os
guarda-costas eram treinados em meia dúzia de formas de
combate corpo a corpo, cada um armado com uma pistola
de raios e excelente atirador; ainda assim, se Vader
quisesse machucá-lo, não faria diferença que tivesse levado
quatro ou quarenta homens. A misteriosa Força deixaria
Vader bloquear um disparo de raios com seu sabre de luz ou
com as próprias mãos, e ele era capaz de matar com um
único gesto, congelando os pulmões ou parando o coração
de seu oponente, fácil assim. Esta era uma lição que muitos
tinham aprendido da maneira mais difícil: não se encara
Darth Vader de igual para igual, desafiando-o diretamente.
Felizmente, Xizor gozava da proteção do Imperador.
Enquanto assim fosse, Vader não ousaria machucá-lo.
A sala estava vazia. Uma longa mesa de madeira greel
polida e escura, várias cadeiras não reativas feitas do
mesmo tipo de madeira, um holoprato e um visor. Um leve
cheiro de algo picante pairava no ar. Não havia quadros nas
paredes, nem sinais visíveis da riqueza que Vader possuía.
Ele era quase tão rico quanto Xizor e, como o Príncipe das
Trevas, pouco se importava com a riqueza em si.
Xizor puxou uma das cadeiras para longe da mesa e
sentou-se, permitindo-se parecer completamente relaxado,
pernas esticadas à sua frente, recostado para trás. Em
algum lugar do castelo de Vader, técnicos de
monitoramento observavam cada movimento seu,
registrando tudo. Xizor sabia que os espiões de Vader o
seguiam por aonde quer que fosse, dentro ou fora do
planeta; aqui, no coração escuro do próprio ninho da
serpente, não havia dúvida de que cada pequeno gesto seu
seria visto e analisado. Se Vader desejasse, poderia
provavelmente saber quanto ar Xizor respirava, o volume,
peso e composição desse ar e a percentagem de dióxido de
carbono no resíduo.
Xizor permitiu-se abrir um sorriso apertado. Isso dava aos
técnicos algo em que pensar: Uh-oh, ele está sorrindo; o
que você acha que significa?
Claro, ele também tinha Vader sob vigilância constante,
toda vez que punha os pés fora de seu castelo. Em
Coruscant – sim, havia sido rebatizado como Centro
Imperial, mas Xizor não gostava do novo nome –,
praticamente todo mundo de alguma importância dispunha
de sua própria SpyNet rastreando todas as outras pessoas
de alguma importância. Era necessário. E a SpyNet do Sol
Negro era inigualável, melhor que a do próprio Império.
Bem, talvez a dos Bothanos fosse um pouco melhor...
A parede no extremo oposto da sala deslizou para o lado
em silêncio e Vader apareceu ali, bem dramático em sua
capa e uniforme pretos, com a respiração audível dentro do
capacete blindado e da máscara.
Xizor ficou de pé, oferecendo uma mesura militar.
– Lorde Vader.
– Príncipe Xizor – saudou Vader em troca. Sem mesura,
pois ele se inclinava apenas para o Imperador; no entanto,
Xizor não tomou conhecimento da pequena quebra de
etiqueta. Tudo estava sendo gravado. A gravação poderia
chegar até o Imperador. Na verdade, Xizor ficaria muito
surpreso se ela não fosse submetida ao escrutínio do
Imperador – o velho não era de deixar muita coisa passar
por ele. Em vez disso, Xizor pretendia ser o espírito da
graça, o epítome da polidez, o apogeu das boas maneiras.
– Você pediu para me ver, Lorde Vader. Como posso ser
útil a você?
Vader entrou na sala e a porta se fechou às suas costas.
Não fez menção de se sentar; nenhuma surpresa. Xizor
também permaneceu de pé.
Vader disse:
– Meu mestre pede que eu organize uma frota de suas
naves de carga para entregar suprimentos às nossas bases
na Fronteira.
– Mas é claro – disse Xizor. – Toda a minha operação está
à sua disposição; estou sempre feliz em ajudar o Império da
forma que puder.
As operações de transporte marítimo legítimas de Xizor
eram bastante extensas, entre as maiores da galáxia.
Grande parte do dinheiro das atividades ilícitas do Sol Negro
era canalizada para os Sistemas de Transporte Xizor, e a
STX sozinha já fazia dele um homem rico e poderoso.
Vader também estava ciente de que as holocams
estavam sobre ele. Fez um comentário para a gravação.
– No passado, parece que sua empresa foi lenta em
responder às solicitações imperiais.
– Envergonho-me de dizer que está correto, Lorde Vader.
Certos indivíduos que trabalhavam para mim foram
negligentes. No entanto, tais indivíduos não são mais
empregados pela minha empresa.
Ponto, contraponto. Vader alfinetou, com cuidado,
usando uma agulha fina, e Xizor defendeu-se. Cada
conversa que tinha com o Lorde Sombrio dos Sith era assim,
um diálogo de superfície óbvia com muita coisa escondida
nas profundezas. Tratava-se de uma espécie de fuga[1],
cujas notas da partitura cada instrumentista tentava
executar melhor, como dois irmãos que tentam superar um
ao outro aos olhos de um pai crítico.
Xizor não considerava Vader nem remotamente um
irmão, no entanto. O homem era um obstáculo a ser
removido e, embora ele não soubesse, um inimigo mortal.
Dez anos atrás, Vader engajava-se em um projeto
pessoal: uma pesquisa sobre uma arma biológica. Havia
estabelecido um laboratório de risco no planeta natal dos
Falleen de Xizor. Houve um acidente nas instalações
supostamente seguras. Uma bactéria mutante destruidora
de tecidos de alguma forma escapou da quarentena. A fim
de salvar a população do planeta de uma infecção horrível,
que apodrecia a carne, sempre fatal e para a qual não havia
cura, a cidade em torno do laboratório foi “esterilizada”.
“Esterilizada”, ou ainda: cozida, incendiada, grelhada,
reduzida a cinzas; casas, edifícios, ruas, parques... E
pessoas.
Duzentos mil Falleen foram mortos pelos lasers de
esterilização que cruzaram a condenada metrópole a partir
de uma nave em órbita. O Império considerou-se sortudo
por ter perdido apenas esse número de pessoas, já que a
bactéria necrosante poderia ter matado bilhões, e talvez até
ter escapado daquele mundo para infectar outros planetas.
Foi por um triz, mas o custo havia sido relativamente
pequeno – na opinião do Império.
Na opinião de Darth Vader.
Entre os mortos figuravam a mãe, o pai, o irmão, duas
irmãs e três tios de Xizor. Ele estava fora do planeta na
época, cimentando seu controle do Sol Negro; não fosse por
isso, ele próprio teria sido uma das vítimas.
Ele nunca falava da tragédia. Tinha, por intermédio do
Sol Negro, feito as mortes de sua família serem apagadas
dos registros imperiais. Os agentes que o fizeram também
haviam sido eliminados. Ninguém sabia que Xizor, o Príncipe
das Trevas, tinha motivos pessoais para detestar Darth
Vader. Seria natural ver os dois como rivais por conta dos
favores do Imperador, e não havia maneira de esconder
isso; no entanto, ninguém além de Xizor sequer suspeitava
da outra razão.
Xizor fora paciente. Nunca havia sido uma questão de
“se”, apenas uma questão de “quando” iria fazer Vader
pagar em espécie.
Agora, enfim, a vingança estava em formação. Logo ele a
teria. Acertaria duas enguias-fleek com o mesmo tridente:
Vader, o impedimento ao seu poderio, e Vader, o assassino
de sua família; ambos seriam... removidos.
Xizor teve vontade de sorrir, porém conteve-se, ciente de
estar sendo observado por Vader e pelas holocams
escondidas. Matar o Lorde Sombrio era possível, mas
perigoso ao extremo. Desonra e vergonha sempre eram
muito mais dolorosos naquele nível de existência. Ele
quebraria Vader, faria-o ser jogado no lixo pelo seu amado
mestre.
Sim. Isso seria justiça.
– Vamos precisar de trezentas naves – disse Vader,
cortando os pensamentos de Xizor. – Metade naves-tanque,
metade para transporte de carga seca. Contrato de entrega
imperial padrão. Há um grande projeto de... construção do
qual você tem conhecimento. Pode fornecer as
embarcações?
– Sim, meu lorde. Você só precisa me dizer onde e
quando as deseja e farei como pede. E termos imperiais são
aceitáveis.
Vader ficou em silêncio por um instante. O único som era
o chiado mecânico de sua respiração.
Ele não esperava por isso, pensou Xizor. Ele achava que
eu argumentaria ou tentaria regatear o preço. Bom.
– Muito bem. Farei com que o almirante da frota de
abastecimento entre em contato com os detalhes.
– É uma honra servi-lo – disse Xizor. Novamente fez para
Vader uma mesura militar, um pouco menor e mais lenta do
que antes.
Qualquer pessoa que assistisse à cena veria apenas
como Xizor fora cordial e ansioso por agradar.
Sem outra palavra, Vader virou-se. A parede deslizou
para trás de novo, e ele saiu da sala.
E qualquer pessoa que assistisse à cena veria quão perto
da grosseria Lorde Vader estivera.
Xizor mais uma vez se permitiu abrir um pequeno sorriso.
Tudo estava indo conforme o planejado.
Luke olhou para o pequeno forno, como se isso pudesse
apressar o processo. Em seu interior, os ingredientes para a
feitura de uma joia de sabre de luz eram cozidos em calor e
pressão incríveis; estava quente o suficiente para derreter
denscris e intenso o suficiente para fazer hiperaço virar uma
bola líquida. Ainda assim, a um metro de distância, com
exceção do diodo operacional vermelho, não se percebia
que algo estava acontecendo. Bem, talvez um leve cheiro
de algo como um raio desintegrador, uma espécie de odor
de ozônio.
O forno estava trabalhando havia horas e o pequeno
diodo amarelo ainda não tinha começado a piscar,
sinalizando a fase final do processo.
Olhou para o interior do que fora a casa de Ben Kenobi.
Era um lugar pequeno à beira do Mar das Dunas Ocidentais,
feito, como muitas das estruturas locais, de pedra-sin: rocha
local esmagada e misturada em uma pasta com
dissolventes e fundida ou pulverizada sobre molduras, para
endurecer. As construções resultantes eram resistentes e à
prova de tempestades de areia. A casa de Ben quase
parecia uma formação rochosa natural, lisa e arredondada
por séculos de clima do deserto – quente demais de dia, fria
demais à noite.
Ben. Derrubado por Vader na Estrela da Morte. A
lembrança era dividida em partes iguais de dor e raiva.
Seu professor não havia deixado muito para trás; não
para um homem que certa vez fora Obi-Wan Kenobi, um
Cavaleiro Jedi e general nas Guerras Clônicas. Talvez a coisa
mais valiosa fosse a velha arca esculpida em um tronco de
madeira-boa e seu conteúdo, que incluía um antigo livro
com encadernação de couro. Um livro que continha todo
tipo de coisas maravilhosas para um aspirante a Jedi, como
os planos para a construção de um sabre de luz. O fecho de
impressão digital do tomo havia aceitado o polegar direito
de Luke para desbloqueá-lo, e, uma vez aberto, ele viu o
explosivo de luz preparado no interior da tampa. Se alguém
tivesse tentado forçar o fecho, o livro teria explodido em
chamas.
De alguma forma, Ben sabia que Luke encontraria aquele
livro. De alguma forma, tinha-o preparado para que apenas
ele pudesse abri-lo com segurança.
Incrível.
De acordo com o livro, os melhores sabres de luz usavam
joias naturais, mas não havia muitas do tipo necessário
disponíveis em Tatooine. Ele conseguiu reunir a maior parte
das peças eletrônicas e mecânicas em Mos Eisley: células de
energia, controles, um prato refletor de alta energia.
Entretanto, tivera de criar sua própria joia focalizadora. O
ideal era que os melhores sabres de luz possuíssem três
dessas, de diferentes densidades e facetas, para uma
lâmina totalmente ajustável. Mas, para a sua primeira
tentativa de construir a arma Jedi, Luke preferiu manter
tudo o mais simples possível. Ainda assim, era mais
complicado do que o livro sugeria. Ele estava quase certo
de que havia sintonizado direito o supercondutor, de que a
amplitude para o comprimento estava certa e de que as
placas do circuito de controle estavam instaladas
corretamente. Não dava para ter certeza até que a joia
fosse concluída, e o livro não mencionava quanto tempo de
fato isso levaria. Supostamente o forno se desligaria sozinho
quando isso acontecesse.
Se tudo desse certo, ele seria capaz de cortar, polir e
instalar a joia, em seguida ajustar os foto-harmônicos, e
então precisaria apenas ligar um interruptor para ter um
sabre de luz funcionando. Havia seguido as instruções ao pé
da letra; era muito bom com ferramentas e tudo deveria dar
certo, mas preocupava-o um pouco que, quando ligasse o
sabre de luz, ele não funcionasse. Isso seria embaraçoso.
Ou pior, poderia funcionar de uma maneira imprevista. Isso
seria mais do que embaraçoso: Luke Skywalker, Cavaleiro
Jedi em andamento, um homem que tinha encarado Darth
Vader sozinho e vivido para contar a história, vaporizado
quando seu sabre de luz defeituoso explodiu. Até agora fora
muito cuidadoso ao construir a coisa, checando três vezes
cada passo, e para chegar àquele estágio havia levado
quase um mês. O livro dizia que um mestre Jedi com pressa
poderia construir um novo sabre de luz em questão de
poucos dias.
Luke suspirou. Talvez depois de construir seis ou oito
deles, pudesse acelerar mais, mas obviamente tinha um
longo, longo caminho a percorrer até chegar lá.
De repente, sentiu algo.
Era como uma mistura de ouvir, cheirar, provar e ver, e
ao mesmo tempo nenhuma dessas coisas. Algo... iminente.
Poderia ser algo vindo da Força? Ben já havia sido capaz
de perceber eventos que aconteciam a anos-luz de
distância, e Yoda falara dessas coisas, mas Luke não tinha
certeza. Suas próprias experiências em seu X-wing e na
prática eram bem limitadas.
Desejou que Ben estivesse ali para explicar a ele.
O que quer que fosse, ficou mais forte. Por um momento,
teve um lampejo de reconhecimento: Leia?
Ele foi capaz de chamá-la quando estava prestes a cair
sob a Cidade das Nuvens, após seu encontro com Vader. Ela
tinha, de alguma forma, recebido seu grito de socorro.
Seria Leia?
Afivelou sua pistola, ajustou o cinto para que pudesse
sacar a arma rapidamente, caso fosse necessário, e saiu.
Em geral, os Tuskens, o Povo da Areia, ficavam longe da
casa de Ben. Eram supersticiosos, Ben lhe contara, e graças
à Força ele havia lhes mostrado alguns truques, o suficiente
para que marcassem sua casa como assombrada. Mas Ben
se fora, e o que ele fizera poderia não funcionar para
sempre. Luke não tinha o controle de Ben; os Tuskens talvez
não ficassem tão impressionados se ele levantasse algumas
pedras com a Força. Mas não havia nada de errado com a
sua mira, e, por mais deselegante que fosse, um disparo de
raios espatifando uma pedra ao lado deles faria qualquer
um parar e pensar.
Uma vez que tivesse o sabre de luz pronto e
funcionando, esperava poder deixar a pistola de lado. Um
verdadeiro Jedi não precisa de outra arma para se proteger,
dissera Ben.
Suspirou. Tinha um longo caminho a percorrer até chegar
a esse estágio.
Um vento quente soprava a poeira do deserto,
abrasando e ressecando sua pele. A distância, viu uma
nuvem de poeira fina. Alguém se aproximava pela aridez de
Mos Eisley, provavelmente em um landspeeder. Como
ninguém sabia que ele estava ali, talvez fosse Leia, Chewie
ou Lando – se o Império o houvesse localizado, teria se
aproximado dele de cima, vindo do céu, chovendo naves e
stormtroopers. Nesse caso, teria sorte se conseguisse
chegar ao seu X-wing camuflado antes que transformassem
o lugar em uma ruína fumegante, como haviam feito com a
fazenda de tio Owen e tia Beru...
Luke sentiu os músculos da mandíbula se retesarem com
a lembrança.
O Império tinha muito pelo que responder.

Os corredores protegidos do núcleo do Centro Imperial


estavam disponíveis apenas para aqueles com a devida
identificação, e a admissão era, supostamente, bastante
limitada e protegida. Tais corredores eram largos, bem
iluminados, ornados com plantas especiais, como figueiras
cantantes e rosas de jade, e sempre patrulhados por
falcões-morcegos, que atacavam as lesmas de pedra que
por vezes infestavam as paredes de granito. Os corredores
haviam sido projetados como trilhas pelas quais os ricos e
famosos pudessem passear sem ser incomodados pela
plebe.
Mas, enquanto Xizor andava ao longo de um desses
caminhos fechados, com seus quatro guarda-costas à frente
e atrás de si, um intruso apareceu diante dele e pôs-se a
disparar contra o Príncipe das Trevas com uma pistola.
Um dos dois guarda-costas à sua frente tomou um tiro no
peito que perfurou seu colete escondido de hardweave,
tombando. Xizor viu a ferida no peito fumegar quando o
guarda gemeu e rolou pelo chão.
O segundo guarda, fosse por habilidade ou sorte,
devolveu o fogo e conseguiu acertar em cheio a pistola do
assassino, derrubando-a de sua mão. A ameaça havia
terminado.
O atacante gritou e correu para atacar os guardas
restantes e Xizor com as mãos nuas.
Intrigado, Xizor observou o homem se aproximar. O
assassino era grande, maior do que qualquer um dos
guardas e muito maior do que o próprio Xizor, com o porte
de um levantador de pesos-gravitacionais – e obviamente
louco se achava que poderia atacar três homens armados
sem uma arma.
Que interessante.
– Não atirem nele – disse Xizor.
O homem estava a cerca de vinte metros de distância e
se aproximava rapidamente.
O Príncipe das Trevas permitiu-se esboçar um de seus
sorrisos apertados.
– Deixem-no – disse. – Ele é meu.
Os três guarda-costas guardaram as pistolas e abriram
caminho. Sabiam que era melhor não questionar as ordens
de Xizor. Aqueles que o faziam podiam acabar como o
guarda ainda fumegante que jazia no chão de mármore
polido.
O assassino continuou a correr, gritando de forma
incoerente.
Xizor esperou. Quando o homem estava quase em cima
dele, o Príncipe das Trevas virou-se e bateu com a palma da
mão com força contra sua nuca enquanto ele passava. O
impulso adicional do golpe foi o bastante para desequilibrar
o homem, que tropeçou e caiu ainda gritando. Ele conseguiu
evitar a queda rolando de forma estranha sobre o ombro.
Ficou de pé, girou, encarou Xizor. Estava um pouco mais
cauteloso agora. Aproximou-se, mais lentamente, com as
mãos apertadas em punhos.
– Qual seria o problema, cidadão? – perguntou Xizor.
– Seu canalha assassino! Sua poça de lama!
O homem saltou para mais perto e desferiu um soco na
direção da cabeça de Xizor. Se tivesse acertado, teria-lhe
quebrado o osso. Xizor abaixou-se e desviou, chutando o
atacante na barriga com a ponta da bota direita.
O atacante cambaleou alguns passos para trás para
recuperar o fôlego.
– Já nos conhecemos? Tenho uma excelente memória
para rostos e não me lembro do seu. – Xizor percebeu
alguns fiapos no ombro de sua túnica. Limpou-os com a
mão.
– Você matou meu pai. Esqueceu-se de Colby Hoff?
O homem atacou de novo, agitando selvagemente os
punhos.
Xizor deu um passo para o lado e, de forma quase
indiferente, golpeou com a mão fechada como um martelo a
cabeça do homem, derrubando-o.
– Você está enganado, Hoff. Seu pai cometeu suicídio, se
bem me lembro. Pôs uma pistola na boca e explodiu a parte
de trás da cabeça, não foi? Uma sujeira.
Hoff levantou-se e sua raiva o fez atacar Xizor
novamente.
Xizor jogou o ponto de apoio sobre a perna direita e
bateu com o salto da bota esquerda contra o joelho
esquerdo de Hoff, com força. Escutou as juntas se partirem
com um estalar molhado.
Hoff caiu, com a perna esquerda incapaz de apoiá-lo.
– Você o arruinou! – Lutou para ficar de pé usando o
joelho bom.
– Nós éramos concorrentes nos negócios – disse Xizor
com naturalidade. – Ele apostou que era mais esperto do
que eu. Um erro tolo. Se você não pode se dar ao luxo de
perder, não deve jogar o jogo.
– Eu vou matar você!
– Acho que não – disse Xizor. Deu um passo para trás do
homem ferido, movendo-se muito rapidamente para alguém
do seu tamanho, e agarrou a cabeça de Hoff com as duas
mãos. – Veja você, competir com Xizor é perder. Assim como
qualquer pessoa razoável sabe que me atacar é
considerado suicídio.
Com isso, Xizor lançou um golpe forte, torcendo-lhe o
pescoço.
O som da vértebra se quebrando ressoou bem alto pelo
corredor.
– Limpem esta bagunça – ele disse aos seus guardas. – E
informem às autoridades competentes do destino deste
pobre jovem.
Olhou para o corpo. Não sentia remorso. Fora como pisar
em uma barata. Não significava nada para ele.
Em sua câmara mais privada, o Imperador estava
sentado olhando para uma gravação holográfica em
tamanho natural: príncipe Xizor quebrando o pescoço de
alguém que o havia atacado em um corredor protegido.
O Imperador sorriu e virou sua cadeira repulsora
flutuante a fim de olhar para Darth Vader.
– Bem – disse o Imperador –, parece que o príncipe Xizor
tem mantido sua prática nas artes marciais, não é?
Invisível sob sua máscara blindada, Vader franziu a testa.
– Ele é um homem perigoso, meu mestre. Não é
confiável.
O Imperador o brindou com um de seus sorrisos pouco
atraentes, cheios de dentes.
– Não se incomode com Xizor, Lorde Vader. Ele é
problema meu.
– Como quiser. – Vader fez uma reverência.
– Imagino como aquele jovem de cabeça quente tenha
conseguido entrar em um corredor protegido – disse o
Imperador. Mas não havia nenhuma imaginação na voz do
Imperador.
O rosto de Vader congelou-se. Ele sabia. Não era
possível, já que o guarda que havia admitido o pretenso
assassino no corredor não estava mais entre os vivos, e
ninguém além dele sabia quem dera a ordem para que o
acesso do jovem fosse permitido, mas de alguma forma o
Imperador sabia.
A maestria do Imperador sobre o lado sombrio era
realmente grande.
– Vou checar isso, meu mestre – disse Vader.
O Imperador acenou com uma mão manchada pela
velhice.
– Não se incomode. Não houve dano. O príncipe Xizor
mal correu algum risco no fim das contas, não? Ele parece
perfeitamente capaz de cuidar de si mesmo; mas eu odiaria
ver alguma coisa lhe acontecer enquanto for útil para nós.
Vader curvou-se novamente. Como de costume, o
Imperador realçou sua posição de uma forma sutil, mas que
não podia ser ignorada. Não deveria haver mais tentativas
de testar a capacidade de Xizor de se defender contra
ataques mortais.
Não por enquanto, pelo menos.
Ao mesmo tempo, Vader manteria uma estreita vigilância
sobre o Príncipe das Trevas. Os Falleen eram muito
tortuosos, e o que quer que fosse que sua mente distorcida
estivesse planejando só serviria ao Império enquanto
servisse ao próprio Xizor.
Xizor era, afinal, um criminoso. Sua moral era perversa,
sua ética transitória, sua lealdade inexistente. Não pararia
por nada até conseguir o que queria, e Vader estava bem
certo de que o que Xizor queria não incluía uma galáxia com
espaço para Vader ou o Imperador.
Competir com Xizor é perder?
Veremos.
Enquanto o landspeeder que os transportava
aproximava-se de seu destino, Leia viu Luke em pé ao lado
da casa, observando. Estranho que ele de alguma forma
soubesse de sua aproximação.
É claro que, ali naquele fim de mundo, com nada além de
areia, pedras e mato, ele poderia tê-los visto chegando bem
de longe. Podia não ser a Força atuando aqui, mas mera
observação.
Chewie fez o speeder parar. A poeira levantada pelos
repulsores flutuou sobre eles por um momento antes que o
vento quase constante a afastasse. Aquele clima era capaz
de ressecar totalmente uma pessoa desprotegida por muito
tempo. As dunas costumavam se deslocar e revelar vários
ossos brancos daqueles que haviam acreditado poder se
movimentar pelo deserto com impunidade.
Luke sorriu para ela e mais uma vez Leia sentiu aquela
sensação de confusão. Ela amava Han, mas aqui estava
Luke e ela certamente sentia uma conexão com ele
também. Seria possível uma mulher amar dois homens ao
mesmo tempo? Ela devolveu o sorriso. Não era o mesmo
com Luke como era com Han, mas havia algo.
– Ei, Luke – disse Lando.
Chewie acrescentou o que devia ser uma saudação.
– Mestre Luke, é tão bom vê-lo novamente – disse C-3PO.
Sua cor dourada normalmente brilhante estava um pouco
escurecida por uma camada de poeira. Parecia que o droide
protocolar de alguma forma atraía mais sujeira para si
mesmo do que os outros, mas Leia sentia-se um pouco suja
após a longa viagem desde a cidade.
Até R2 assobiou uma saudação feliz.
Todos eles gostavam de Luke. Havia algo nele que
parecia tão natural e tão atraente... Talvez fosse a Força
fluindo através dele. Talvez por parecer uma pessoa tão
agradável.
– Teríamos avisado – disse Lando –, mas não queríamos
correr o risco de ter escutas em nossa conversa. Chewie viu
dois desses novos droides quebra-códigos imperiais na
cidade; ele achou que poderiam estar monitorando as
chamadas locais. Não há motivo para correr riscos
desnecessários.
Luke assentiu.
– Fizeram bem. Vamos entrar.
Havia um leve cheiro de algo cozinhando no que havia
sido a simples casa de Obi-Wan. O aroma fez Leia lembrar-
se de uma vez em que fora acampar, quando era menina, e
todos se sentaram ao redor de uma fogueira. Ela viu um
pequeno forno sobre uma mesa. Estaria Luke fazendo algum
tipo de joia?
Disseram a Luke por que tinham vindo.
Ele ficou imediatamente animado. Estava pronto para
pular em seu X-wing e partir naquele minuto.
– Espere um segundo – disse Lando. – Primeiro temos
que ter certeza de que Fett está lá. Depois, há a pequena
questão da Marinha Imperial.
Luke desdenhou.
– Ei, a gente consegue dar voltas em torno desses caras.
Lando e Leia trocaram olhares. Uma coisa que não se
podia dizer de Luke era que ele não tinha autoconfiança em
relação à sua habilidade como piloto.
Chewie falou alguma coisa.
C-3PO traduziu:
– Ah, Chewbacca se pergunta se talvez a Aliança Rebelde
não estaria disposta a ajudar, dados os serviços de mestre
Han para eles.
Luke sorriu como uma criança vendo um novo brinquedo.
– Claro que sim. Wedge está no comando do Esquadrão
Rogue agora, e ele me disse que, se eu precisasse, viriam
correndo.
– Eles podem largar tudo o que estão fazendo, simples
assim? – perguntou Lando.
Leia assentiu.
– Não vejo por que não. A cadeia de comando da Aliança
é muito mais flexível que a do Império. Temos que ser mais
flexíveis, dados os números. Os Rogues não têm qualquer
atribuição permanente, e tenho certeza de que posso
convencer a Aliança de que vale a pena resgatar o capitão
Solo. Ele foi fundamental na destruição da Estrela da Morte.
Além disso, precisamos de todos os bons pilotos que
pudermos conseguir.
Leia olhou de relance para os outros, verificando se seu
raciocínio um tanto trêmulo encobria seus verdadeiros
sentimentos.
Luke não parecia enxergar além do que ela dissera, de
tão ansioso para voar; o sorrisinho de Lando poderia
significar qualquer coisa; os droides e Chewie eram um
mistério.
– Ótimo – disse Luke. – Vamos fazer isso!
– Não tão rápido – disse Lando. – Em primeiro lugar, que
tal esperarmos a confirmação de que Fett está mesmo em
Gall antes de decolar? É uma longa viagem para ser feita à
toa.
Leia podia ver que Luke não queria; paciência não
parecia ser sua maior virtude. Mas podia ver a sabedoria no
que Lando tinha dito.
– Ok. Mas, enquanto isso, vamos entrar em contato com
Wedge e deixar os Rogues de sobreaviso.
– Eu vou falar com a liderança – disse Leia.
Ela esperava que o informante de Lando – qual era o
nome dele? Dash alguma coisa? – obtivesse logo as
informações para eles. E que o rumor fosse verdadeiro.
Ninguém queria Han de volta mais do que ela.

Xizor estava sentado à cabeceira da longa mesa de sua


sala de reuniões particular, observando o rosto nervoso dos
seus tenentes. Guri estava atrás dele em uma espécie de
posição de descanso, com as mãos escondidas às suas
costas.
Seus tenentes tinham razão para tal nervosismo. Por
terem ascendido até aquele nível no Sol Negro, cada um
deles ganhara o título honorífico de “vigo”, a velha palavra
Tionesa para “sobrinho”. Isso gerava a ilusão de que os
gestores do topo da organização eram uma família e, assim,
fazia com que parecessem mais fortes para os forasteiros.
Infelizmente, a aparência nem sempre é a verdade.
Um deles à mesa era um espião.
Xizor não sabia para quem o espião trabalhava. Podia ser
para o Império, para a Aliança Rebelde, ou mesmo para uma
organização criminosa rival, e ele particularmente não se
importava. Todos espionavam a todos naquele negócio,
claro, mas o fato de isso ser normal não significava que se
deixaria um deles passar em branco se fosse encontrado.
Agora, no início daquela reunião, ele tinha nove tenentes
na mesa, cada um responsável por vários sistemas
estelares.
No final do encontro, teria oito tenentes.
Mas, primeiro, os negócios normais do Sol Negro
deveriam ser abordados e devidamente resolvidos.
– Ouvirei seus relatórios – disse Xizor. – Vigo Lonay?
Lonay era um Twi’lek, manhoso, inteligente e covarde.
Ele usava a cauda preênsil de sua cabeça embrulhada e
estendida sobre um ombro e havia diminuído o tom das
suas joias berrantes e cores decorativas de sempre para
aquela reunião.
– Meu príncipe, o comércio de especiarias subiu vinte e
um por cento em nosso setor, as naves-cassino
aumentaram seus negócios em oito por cento, e os
traficantes de armas estão com um negócio bem vivo: as
estimativas atuais indicam um aumento de trinta e um por
cento. Infelizmente, as receitas com escravos estão em
baixa de cinquenta e três por cento. Vários planetas caíram
sob o domínio da Aliança Rebelde e aprovaram leis locais
que proíbem a escravidão. Enquanto o Império não decidir
intervir, temo que as receitas nesta área permaneçam em
depressão.
Xizor assentiu. Lonay seria sempre covarde demais para
arriscar a morte por trair seu “tio”. Toda a sua espécie era
assim.
O Príncipe das Trevas disse:
– Vigo Sprax?
Sprax, um Nalroni cuja pele escura tinha começado a
ficar cinzenta, embora ele a tingisse para tentar parecer
mais jovem, começou a recitar suas estatísticas. Xizor o
observava, escutando com metade de sua atenção, pois já
sabia de tudo o que estava sendo relatado oficialmente.
Sprax era esperto demais para tentar enganar Xizor.
O Nalroni terminou seu relatório.
– Vigo Vekker?
Vekker, um Quarren, abriu um sorriso nervoso e começou
sua recitação.
O Chefe Squid não tinha a ambição de subir mais, e
estava contente com seu trabalho e o status quo.
Um por um, os vigos foram convocados a falar por Xizor
e, cada um ao seu tempo, todos o fizeram: Durga, o Hutt;
Kreet’ah, o Kian’thar; Clezo, o Rodiano; Wumdi, o Etti; Perit,
o Mon Calamari; e Green, o Humano.
Era difícil acreditar que algum de seus Vigos fosse tão
tolo; afinal de contas, não se podia chegar àquele status
elevado sem anos de esforço leal. Alguns deles tinham
subido pelas fileiras: contrabandistas, ladrões, empresários.
E alguns tinham sido treinados desde o nascimento e
herdado os lugares de seus pais – ou, no caso de Kreet’ah,
sua mãe biológica. Vários dentre os nove já eram vigos
antes de Xizor ter atingido esse grau e, mais tarde,
assumido a liderança do Sol Negro.
E, no entanto, era assim. A vida era cheia de traições.
Ele deixou que todos ficassem sentados, preocupados,
por alguns momentos. Então acenou para Guri. Sua guarda-
costas e empregada de maior confiança começou a andar
por trás dos vigos sentados.
Todos tinham suas próprias operações de inteligência e
todos sabiam pelo menos o que Xizor lhes permitira
descobrir sobre o traidor. Não muito além do fato de que
havia um. E de que ele não sabia quem era.
Um pouco de prevaricação calculada. Ele sabia quem
era. E agora o assunto seria... corrigido.
– Um item final na nossa agenda, meus vigos. Um do seu
grupo achou por bem usar seu cargo para nos trair. Não
contente com os milhões de créditos que ele arrecada com
a minha generosidade, os prêmios, bonificações, dividendos
e sobras não declarados que todos vocês guardam para si,
essa... pessoa desonrou o título de vigo.
Guri passeava por trás dos tenentes lentamente. Xizor os
observava. Aqueles que podiam, suavam, liberavam fluidos
ou apresentavam sinais de medo que não conseguiam
esconder.
Ela passou por Durga, Kreet’ah, Clezo, chegou ao outro
lado da mesa e deu a volta por ela.
Xizor continuou falando, devagar, de maneira uniforme,
nada revelando em seu tom.
– Há subtenentes entre suas fileiras que alegremente
acabariam com planetas inteiros para que tivessem a
oportunidade de ter o que vocês têm. Ser um vigo no Sol
Negro é desfrutar de mais poder do que todos, com exceção
de um punhado de seres na galáxia inteira.
Guri passou por Lonay, Sprax, Vekker. Parou por um
momento atrás de Durga, o Hutt.
A tensão ficou espessa na sala, quase tangível.
Xizor achou aquele um gesto inteligente. Durga não era
bobo e jamais se arriscaria como um espião; não, o Hutt
tinha ambição suficiente para dez seres: ele escolheria um
golpe. O fato de Guri ter parado atrás dele deixava-o saber
que Xizor estava de olho nele. Um aviso de que ele deveria
pensar muito bem antes de tentar subir de seu platô
elevado para o topo da montanha.
Guri seguiu em frente e a sensação de alívio que veio de
Durga era, como a tensão, algo que se poderia quase
coletar do ar e usar para segurar a porta.
O droide que poderia se passar por uma mulher passou
por Wumdi, o Etti, e por Perit, o Mon Calamari.
Parou atrás de Green, o Humano.
Xizor sorriu.
Green tentou se levantar, mas Guri era incrivelmente
rápida. Ela chicoteou seu braço em torno da garganta do
homem e, com o outro braço, começou a estrangulá-lo.
Green lutou brevemente, mas era como se estivesse
lutando com uma braçadeira de hiperaço. O sangue que
alimentava seu cérebro foi interrompido e ele perdeu a
consciência.
Guri apertou mais o braço e segurou, segurou, segurou...
Muito tempo se passou. Nenhum dos outros vigos se
mexeu.
Quando Green não estava mais entre os vivos, Guri
soltou-o e ele caiu para a frente; sua cabeça bateu com um
baque alto sobre a mesa.
– Aceitarei candidaturas para um novo vigo agora – disse
Xizor.
Ninguém falou por um instante e Xizor manteve o rosto
impassível. Uma pena ter sido Green; era um dos mais
inteligentes de todos os vigos. Mas humanos eram rápidos
em trair e dificilmente confiáveis.
Olhou para seus tenentes de novo e esperou que eles
falassem. Aquela fora uma lição de que certamente se
lembrariam.
Competir com Xizor é perder.
Nunca se esqueçam disso.
Após os vigos terem partido e o corpo ter sido removido,
Guri retornou.
– Acho que tudo correu bem – disse Xizor.
Guri assentiu uma vez, sem falar.
– Você coletou todas as informações sobre Skywalker?
– Sim, meu príncipe.
Ele olhou para o vazio. Sua organização era enorme, as
pessoas que trabalhavam para ele podiam ser contadas na
casa das dezenas de milhares, mas com algumas coisas ele
tinha que lidar pessoalmente. Especialmente algo assim
tão... sensível.
– Todo o material foi checado e rechecado?
– Como você ordenou.
– Muito bem. Deixe os caçadores de recompensa
saberem o preço pela cabeça de Skywalker. A mão do Sol
Negro deve ficar invisível. Não deve haver erros.
– Não haverá nenhum, meu príncipe.
– Ah, eu gostaria de falar com Jabba, o Hutt.
– Ele estará on-line quando você retornar do almoço,
meu príncipe.
– Não. Faça com que ele venha aqui pela nave mais
rápida; gostaria de falar com ele pessoalmente.
– Como quiser.
Guri ficou em silêncio enquanto Xizor analisava seu
plano.
Vader queria Skywalker vivo para entregar ao Imperador.
Da conversa que tivera o privilégio de ouvir alguns meses
antes, Xizor lembrava que o Imperador desejava o jovem
bem vivo e em seu controle.
O alcance do Sol Negro era longo e largo, e quaisquer
informações que estivessem de posse de Vader
encontravam-se agora no sistema de computadores
pessoais de Xizor. O Lorde Sombrio dos Sith tinha prometido
entregar Skywalker não apenas vivo, mas flexível aos
desejos do Imperador.
Se Vader falhasse em sua promessa, se parecesse que
ele nunca tivera realmente a intenção de entregar aquele
jovem aspirante a Jedi ao Imperador, se parecesse que ele
matara o menino em vez de se arriscar a enfrentá-lo...
Bem. O Imperador depositava grande confiança nas
habilidades de Vader, provavelmente confiava nele mais do
que nos outros. Mas o Imperador exigia total lealdade e
obediência. Se ele acreditasse que Vader houvesse sido
desleal ou desobediente, ou que tivesse simplesmente
falhado em sua tarefa, as coisas não correriam bem para
Vader.
O Imperador era caprichoso. Sabia-se que ele mandara
destruir cidades inteiras por causa de um oficial local que o
desafiou. Certa vez, banira uma família rica e influente dos
sistemas centrais porque um dos filhos tinha batido com
uma nave em um dos edifícios favoritos do Imperador,
danificando-o; e, não por acaso, matando o piloto
responsável.
Se o Imperador pensasse que sua mão direita de
confiança, Darth Vader, sua própria criação, fosse algum
tipo de ameaça, o Lorde Sombrio dos Sith não ficaria imune
à ira imperial.
Sim, era um bom plano. Um pouco complicado, mas
todas as possíveis consequências tinham sido examinadas,
consideradas e cobertas.
No final, ele sabia que havia encontrado a arma perfeita
para finalmente derrotar Darth Vader.
A morte de Luke Skywalker.
Darth Vader estava sentado nu dentro de sua câmara
hiperbárica médica. A iluminação interior estava desligada,
e ele estava livre da armadura que precisava usar para se
sustentar em público. A Força era poderosa; Vader achava
que o lado sombrio fosse mais ainda, mas nunca fora capaz
de usá-la para curar seu corpo gravemente queimado na
medida em que desejava. Que estivesse vivo já era uma
espécie de milagre, contudo, por algum motivo, não
conseguira dominar as energias necessárias para a
regeneração completa. Acreditava que era possível; que,
com meditação e treinamento suficientes, um dia seria
capaz de reconstruir-se e voltar a ser o homem que tinha
sido.
Fisicamente, pelo menos.
Ele nunca voltaria a ser como fora mentalmente. Fraco,
tolo, idealista. Anakin era muito parecido com o que Luke
Skywalker era agora. Mero... potencial.
Sim, a Força era intensa em Luke, talvez até mais forte
do que fora em Anakin. Mas o menino precisava abraçar o
lado sombrio, aprender onde estava o poder real, para
cumprir seu verdadeiro potencial. Se não o fizesse, o
Imperador destruiria Luke.
Vader não queria isso.
Quando houve o confronto, ele tentara derrotar o
menino, mas aquele havia sido apenas um teste. Se Vader
tivesse conseguido matar Luke facilmente, não valeriam a
pena os esforços para recrutá-lo. Entretanto, ele havia
tentado derrotar Luke, e o menino de fato provara ser capaz
de se defender. Apesar da habilidade superior de Vader,
apesar de sua experiência, Luke sobrevivera sem quaisquer
danos além de uma mão amputada facilmente reconstruída.
Aquele encontro fizera Vader sentir, o que não vinha
sendo uma experiência recorrente para ele nos últimos
tempos. Ali ele havia tido a emoção de encontrar um
inimigo à sua altura – e o orgulho de constatar que aquele
oponente tão poderoso era seu próprio filho.

Vader sorriu na escuridão que o cercava. Obi-Wan não


tinha contado a Luke que Anakin Skywalker se tornara Darth
Vader. A raiva que Luke dirigia ao homem que matara seu
professor havia sido intensa, e permitiu ao lado sombrio que
o chamasse. Se Vader não tivesse quebrado essa raiva com
medo e confusão, dizendo ao menino que era seu pai, Luke
poderia tê-lo derrotado. Um Jedi não luta com raiva; ele
mantém suas emoções sob controle e deixa que a Força se
mova através dele. Mas o lado sombrio precisava ser
alimentado com forte emoção e, quando o era,
recompensava seu usuário dez vezes mais.
Luke sentira o poder do lado sombrio. Cabia a Vader
encontrá-lo e permitir-lhe sentir isso de novo. O lado
sombrio era viciante, mais potente do que qualquer droga.
Quando Luke o aceitasse, seria mais poderoso do que
Vader, mais poderoso do que o Imperador. Juntos, poderiam
governar a galáxia.
Basta. Era a hora de outro teste.
Vader acenou com a mão sobre os controles sensíveis ao
movimento de seu quarto. A câmara esférica se abriu, e a
tampa se levantou com um silvo hidráulico e o som da fuga
do ar pressurizado. Sentou-se exposto ao ambiente que o
cercava, desprotegido pelo campo supermedicado e
oxigenado do interior da câmara.
Concentrou-se na injustiça de sua condição, em seu ódio
de Obi-Wan, que o tinha deixado assim. Com a raiva e o
ódio, o lado sombrio da Força recobriu Vader.
Por um momento, seus tecidos arruinados se alteraram,
seus pulmões cheios de cicatrizes, alvéolos mortos e
passagens constritas se suavizaram e tornaram-se sãos.
Por um momento, podia respirar como seres normais
respiravam.
Sua sensação de alívio, seu triunfo, sua alegria em poder
fazer isso afastaram dele o lado sombrio, assim como a luz
afugenta o breu. O lado sombrio consumia raiva
avidamente, mas era envenenado pela felicidade.
Abandonou-o, e, quando isso aconteceu, ele não conseguiu
mais respirar.
Vader gesticulou com a mão e a meia-cúpula baixou e
selou-o dentro da câmara mais uma vez.
Havia obtido êxito por um breve momento, como várias
outras vezes. O difícil era mantê-lo. Não podia se permitir
sentir alívio, mas apegar-se à raiva, mesmo curado.
Era difícil. Não havia totalmente purgado Anakin
Skywalker, aquele homem desonroso e frágil de quem havia
nascido. Até que o fizesse, jamais poderia entregar-se
completamente ao lado sombrio. Essa era sua maior
fraqueza, sua mais terrível falha. Um único ponto de luz em
meio à escuridão, que ele fora incapaz de erradicar ao longo
de todos aqueles anos, não importava quanto tentasse.
Vader suspirou. Teria que se esforçar mais. Não podia se
deixar sucumbir às fraquezas, dados os seus inimigos; e,
principalmente, dados os seus amigos.

Luke recolocou a joia na prensa e respirou fundo. Havia


feito as primeiras lapidações, mas agora os cortes ficavam
mais complicados. Se batesse com muita força com a
ferramenta de corte, poderia quebrar a joia, e, se o fizesse,
teria que cozinhar outra e começar de novo.
Chewie estava sentado observando-o, parecendo muito
interessado, enquanto Leia cochilava no quarto. Lando havia
deixado a todos na casa de Ben e partido com o
landspeeder para a cidade. Devia voltar em breve...
Chewie desviou o olhar, escutando alguma coisa. Falou.
C-3PO, que estava jogando uma espécie de jogo de
tradução com R2, virou-se.
– Chewbacca diz que mestre Lando voltou.
Luke assentiu, concentrado em sua tarefa. Batia no
cortador com o pequeno martelo de madeira...
Uma lasca da pedra caiu. Tudo bem! Perfeito...
Lando entrou, sorrindo.
– Por que você está tão contente? – perguntou Luke.
– Acabei de receber uma chamada em código de Dash
Rendar. É mesmo a nave de Boba Fett em Gall.
Em teoria, apenas o Império poderia usar a cara e
restrita HoloNet; na prática, qualquer pessoa com um pouco
de noção primária sobre eletrônica conseguiria acessar a
rede, usar alguns relés e fazer chamadas facilmente. E o
melhor de tudo: fazer o Império pagar por elas.
Luke deu um pulo.
– Quando partimos?
– A Millennium Falcon está pronta para zarpar. Quando
seu X-wing estará operacional?
– Assim que eu e R2 estivermos a bordo!
– Estiverem a bordo do quê? – gritou Leia, da porta.
Esfregava o sono de seus olhos.
– Parece que o encontramos – disse Lando.
– Encontro vocês em órbita – respondeu Luke. Sorriu. A
espera terminara.
Leia disse:
– Farei uma chamada em código para os Rogues.
Luke assentiu.
Estavam indo salvar Han.

Jabba esperava na câmara dos visitantes. O Príncipe das


Trevas entrou e olhou para o Hutt. Criaturas grotescas e
feias, mas não menos úteis por isso.
– <Saudações, Príncipe Xizor> – disse Jabba em Huttês.
– Fale a língua comum – disse Xizor.
– Como quiser.
– Como vão os negócios, Jabba? As coisas estão bem em
seu setor?
– Poderiam estar melhores. As receitas estão em alta, em
geral. É claro, o custo dos subornos imperiais aumentou.
Assim como o das entregas e os salários. Mas fazemos o
necessário.
– Pelo que entendi você teve que lidar com alguns altos
funcionários do Império recentemente.
Jabba pareceu não entender, até onde era possível
perceber isso em um Hutt.
– Falo de Lorde Vader.
– Ah. Não diretamente, Alteza. Há pouco tempo contratei
vários caçadores de recompensas para, ah, cobrar uma
dívida. Enquanto isso acontecia, um deles – Boba Fett,
acredito que o tenha usado uma ou duas vezes? –
conseguiu localizar a, ah, fonte da dívida em mãos
imperiais. Lorde Vader estava no comando da situação. Uma
coincidência, segundo me disseram.
– Você está falando do capitão Solo, acredito.
Não era uma pergunta, mas algo destinado a fazer Jabba
se lembrar de que Xizor tinha suas próprias fontes de
inteligência. Aquele era um jogo complicado, que deveria
ser equilibrado com precisão. Xizor precisava de
informação, mas não poderia revelar o que era e, assim,
pisava em ovos. Ele também tinha que deixar o Hutt saber
quem estava no comando, e mostrar que sabia de coisas
triviais era parte disso.
Percebeu que Jabba captara o recado.
– Um contrabandista sem importância – concedeu Jabba.
– Teve sua utilidade no passado, mas entrou para a Aliança
e me deve dinheiro.
– Alguma bebida, Jabba?
– Obrigado. Algo crocante?
Xizor acenou e um droide serviçal apareceu quase
instantaneamente, trazendo uma bandeja de insetoides e
alguns líquidos vis que os Hutts eram conhecidos por
adorar.
– Ah, obrigado, Alteza. – Ele pegou uma das coisas
tremelicantes e comeu.
Xizor inclinou-se para a frente, como se para transmitir
uma sensação de proximidade.
– Eu mesmo tive alguns negócios com Vader
recentemente. Sua presença aqui é mais importante, Jabba;
informação, mesmo os menores detalhes sobre o Lorde
Sombrio dos Sith, me será muito útil na presente situação.
Esse acordo com Boba Fett já foi finalizado?
– Ainda não, meu príncipe. Estou aguardando a entrega
do capitão Solo.
Como quem acaba de lembrar-se de um fato menor e
insignificante, Xizor perguntou:
– Hmm. Esse Solo não fez parte de uma força rebelde
que atacou a Estrela da Morte?
– Sim, Alteza. Ele e seus amigos foram fundamentais
para a sua destruição. O Wookiee Chewbacca, a princesa
Leia Organa e um jovem desconhecido com o nome de
Skywalker; todos estavam envolvidos no desastre.
– Skywalker?
Jabba riu, um estrondo profundo que ecoou de sua
enorme massa.
– Sim, ele pensa que é um Cavaleiro Jedi, pelo que
entendi – disse quando acabou de rir. – Estava até
recentemente em Tatooine.
– Onde ele está agora?
– Quem sabe? Ele partiu do planeta com seu X-wing
pouco tempo atrás.
Xizor inclinou-se para trás.
– Hmm. Provavelmente não significa nada, mas talvez
essas coisas sejam úteis para mim. Se alguma dessas
pessoas voltar a Tatooine, agradeceria muito se eu fosse
informado.
– Sem dúvida, príncipe Xizor.
Xizor assentiu. Para todos os efeitos havia terminado,
mas continuou a manter uma conversa com o Hutt, fingindo
que a opinião de Jabba valia a pena e que precisava ouvi-lo.
Deixou que corresse por mais dez minutos e fez algumas
perguntas sobre os movimentos das tropas imperiais e o
desenvolvimento naval, para que Jabba pensasse terem sido
essas as razões de ter sido convocado. Quando achou que
era o bastante, Xizor sorriu.
– Velho amigo, esta informação é muito confidencial.
Deve permanecer entre nós. Sua colaboração será
devidamente... apreciada.
O Hutt imitou o sorriso de Xizor. Às vezes, o toque de
uma palavra suave é mais poderoso que o impacto de um
cajado pesado. Jabba não era estúpido e sabia o que
acontecia com quem se indispunha com o Príncipe das
Trevas. Mas que deixasse Jabba achar que ficara a par de
dados vitais, alguma trama complicada. Que era um
confidente. Não faria mal algum à reputação do Hutt se
seus subordinados e inimigos pensassem que ele tinha a
confiança do líder do Sol Negro. Medo era bom; medo e
ganância eram melhores ainda.
Xizor assentiu e se despediu.
Seus espiões tinham descoberto que Darth Vader
entregara Solo, um pequeno contrabandista e piloto
temporário da Aliança, ao famoso caçador de recompensas
Boba Fett, em Bespin. Cedo ou tarde, Fett teria de aparecer
em Tatooine para entregar Solo e coletar seus créditos.
Contudo, os espiões de Xizor indicaram que a nave de Fett,
Slave I, não estava em Tatooine. E até agora esses espiões
não haviam conseguido localizar o caçador de recompensas.
Bem. Era uma grande galáxia e tais buscas levavam
tempo.
Mas ele seria capaz de apostar que Skywalker sabia da
recompensa por seu amigo e que tinha voltado a Tatooine
para esperar que Fett aparecesse. Sua partida do planeta
poderia indicar um monte de coisas. Talvez tivesse se
cansado de esperar, embora Xizor não achasse isso muito
provável. Ou talvez tivesse negócios prementes alheios a
Solo. Ou talvez houvesse, através da Aliança, descoberto
onde seu amigo estava. Isso era possível, uma vez que os
contatos da Aliança eram bastante extensos e incluíam a
maior parte da famosa SpyNet Bothana.
Bem. Nada a ser feito quanto a isso, se fosse o caso. Mas
ele poderia aumentar as chances de seus agentes
encontrarem Skywalker.
Chegou ao seu santuário e chamou Guri. Ela entrou em
silêncio.
– Espalhe a informação de que aqueles que procuram
reivindicar o prêmio por Skywalker são aconselhados a
localizar o caçador de recompensas Boba Fett. Cedo ou
tarde, Skywalker provavelmente fará isso, e planos
adequados podem ser feitos para essa possibilidade.
Guri assentiu, sem falar.
Xizor sorriu.

Leia estava sentada no salão da Millennium Falcon,


observando Chewie e C-3PO se divertindo na placa de
hologames. Lando, na cozinha, preparava algum jantar
muito fedorento. Luke, sentado ao lado de Leia, limpava as
lentes dos receptores de eletrofoto de R2. O X-wing de Luke
estava preso ao casco da Falcon; a viagem era possível com
o caça, mas longa demais para ser feita sem dormir, comer
ou usar o refrescador.
A Falcon zumbia pelo hiperespaço no piloto automático,
funcionando muito melhor do que qualquer um pensaria ao
olhar para ela. Quando Leia viu o cargueiro Corelliano pela
primeira vez, quase caíra na gargalhada. A nave parecia ter
sido resgatada de uma pilha de sucata. Entretanto, embora
tivesse algumas falhas, era óbvio que a embarcação fora
fortemente modificada para voar mais rápido e atirar com
mais força do que a intenção original dos designers
Corellianos. Lando fora o dono da nave antes, até perdê-la
para Han em um jogo de sabacc.
Han.
Não, não pense nele agora.
Chewie disse algo que pareceu irritado e descortês.
C-3PO disse:
– Bem, eu sinto muito, mas foi um movimento justo. Não
é minha culpa que você não o tenha visto.
Chewie disse mais alguma coisa.
– Não. Eu não vou fazê-lo recuar. E não me ameace. Se
você arrancar meu braço, não jogarei mais com você.
Chewie murmurou algo, reclinou-se em sua cadeira e
olhou para o tabuleiro.
Leia sorriu. Eram como dois filhos pequenos, o Wookiee e
aquele droide protocolar.
Ela se virou e viu Luke limpando a poeira de
micrometeoritos da carcaça de R2. Luke queria resgatar Han
tanto quanto ela – o que era interessante, uma vez que ela
sentia a competição dos dois por sua atenção. Um homem
menor do que Luke poderia tentar tirar proveito da ausência
de um rival, mas até agora ele não o fizera. Esta era a
qualidade principal de Luke: ele queria vencer, mas queria
fazê-lo de forma justa.
Lando entrou na sala carregando uma bandeja com
vários pratos fumegantes e taças.
– O jantar está servido – disse Lando. Ele sorriu. –
Ensopado Giju.
Todos relancearam para ele e em seguida voltaram ao
que estavam fazendo.
– Não precisam se apressar desse jeito – disse Lando.
Seu sorriso desapareceu.
Para Leia, a coisa na bandeja parecia um cruzamento
entre plástico de bota derretido e fertilizantes, com uma
pitada de espuma de lagoa em cima. Também fedia da
forma como ela imaginava que essa combinação federia.
– Ora, vamos, eu passei uma hora na cozinha preparando
isso. Prato cheio para todo mundo!
Chewie disse algo que não pareceu particularmente
cortês.
– Ei, camarada, se você não gosta, da próxima vez
cozinhe você.
Luke levantou os olhos de sua atividade em R2 e fez uma
cara de ugh.
– Ensopado Giju? – perguntou ele. – Parece plástico de
bota velha e fertilizante cobertos com espuma de lagoa.
Fede como isso, também.
Leia riu.
– Tá bom, tá bom! – disse Lando. Pousou a bandeja no
centro do tabuleiro de hologame. As pequenas figuras do
jogo de repente pareciam enterradas até a cintura na
gosma fumegante. – Não comam, assim vai sobrar mais
para mim.
Lando pegou um dos pratos e mergulhou nele uma
colher; em seguida levou a colher à boca.
– Estão vendo? – disse com a boca cheia de ensopado. –
Isso tem um gosto ótimo, isso... – Parou de falar. A
expressão em seu rosto passou de irritação para surpresa,
deslizou para horror e então firmou-se em desgosto.
Forçou-se a engolir. Em seguida, ficou sem fôlego e
sacudiu a a cabeça.
– Cara, eu... Talvez eu tenha usado muita pimenta-de-
Boonta – reconheceu. – Talvez seja melhor simplesmente
abrir um ou dois pacotes de feijão para o jantar.
Luke e Leia riram na mesma hora. Olharam um para o
outro.
Havia lugares piores para se estar do que com seus
amigos, concluiu Leia.
Lugares bem piores.
Quando a Millennium Falcon saiu do hiperespaço nas
imediações da gigante gasosa Zhar, Luke usou um dos
trajes de vácuo para transferir-se para seu X-wing pelo resto
da viagem. Lando e Leia teriam preferido que todos
ficassem juntos, mas, se algum problema aparecesse, duas
naves armadas seriam mais eficazes do que apenas uma,
argumentou Luke. Eles tiveram que concordar.
Depois que ele e R2 estavam no caça, Luke sentiu-se
bem melhor. Sim, Lando era um bom piloto, mas Luke
confiava mais nas próprias habilidades. Não que fosse
necessariamente um piloto melhor (embora ele tivesse
certeza de que o era), mas pelo menos em seu X-wing não
precisava ficar somente sentado, olhando. O traje de vácuo
deixou o ambiente meio apertado, no entanto.
Manteve a pequena nave perto da Falcon quando
entraram no sistema. O que Boba Fett fazia tão longe da
Orla? Sua rota não parecia levar a lugar algum.
Luke viu os blips em seu painel quase no mesmo instante
que recebeu uma ligação através do sistema de
comunicações da nave.
– Ei, Luke! Bem-vindo ao final da galáxia.
– Ei, Wedge! Como vai, amigo?
– Mais ou menos. Mais um dia, mais um crédito. Antes de
pagar as taxas, é claro.
Luke sorriu. Wedge Antilles era um dos pilotos da Aliança
que haviam sobrevivido ao ataque à Estrela da Morte. Sabia
voar e era mais corajoso do que a média dos pilotos. O bom
e velho Wedge.
Aí vinham elas. Uma dúzia de naves como a de Luke.
– É bom ver você de novo, Luke. Espero que tenha algo
interessante para nós; as coisas têm andado meio devagar.
– Bem, se quiser falar sobre maus cozinheiros, é só puxar
assunto com Lando...
– Eu ouvi isso – disse Lando pelo canal de comunicações.
Luke sorriu para a Falcon, que voava a bombordo de sua
nave.
– Só uma piada, Lando.
– Ei, Calrissian, quanto tempo. Achei que você estivesse
na cadeia a esta altura.
– Ainda não, Antilles, ainda não.
– Siga-nos, Luke – disse Wedge. – Montamos uma base
temporária em uma pequena lua chamada Kile, orbitando
um planeta ao lado de Gall. Está muito legal lá; temos ar,
gravidade, água, todos os confortos de casa.
– Mostre o caminho – disse Luke. – Vamos logo atrás de
você.
– Você chama isso de “muito legal”? – disse Leia,
enquanto olhava o interior do edifício de cast-plast pré-
fabricado que o Esquadrão Rogue estabelecera como base.
Consistia basicamente em quatro paredes e um teto, e
parecia um cruzamento entre um armazém e um hangar,
com vigas aparentes de plástico e não muito mais que isso.
Era frio e fedia a pedra queimada. – Detestaria ver um lugar
que você considerasse “não muito legal”.
Wedge sorriu.
– Bem, você conhece os Rogues. Só precisamos de uma
nave e um pedaço de solo para pousá-la.
– Bate mais com essa descrição.
Wedge levou-os a um canto do frio edifício, onde uma
mesa e uma unidade holoproj estavam montadas. Um
homem estava esparramado em uma das cadeiras de cast-
plast de uma peça, aparentemente dormindo.
Não se assemelhava em nada com Han. Tinha cabelos
ruivos e pele pálida, mas alguma coisa no jeito de ele se
sentar...
Podia estar dormindo, mas seus olhos se abriram rápido
e pareceu acordar no instante em que chegaram lá.
Era alto, magro, de olhos verdes. Usava trajes de
cargueiro, um macacão cinza e uma pistola presa ao coldre
em seu quadril. Parecia ter a idade de Han, Leia pensou, e
tinha o mesmo olhar preguiçoso e insolente. Ficou de pé e
curvou-se de maneira rápida e teatral.
– Princesa Leia – disse ele. – É um deleite que nos visite
aqui em nosso humilde castelo, Alteza. – Indicou a grande
sala vazia e sorriu.
Leia balançou a cabeça. Poderia Han ter um irmão há
muito perdido? Será que aqueles caras tinham aulas de
conversa fiada?
Lando disse:
– Este é Dash Rendar, ladrão, fraudador de cartões,
contrabandista e um piloto razoável.
O sorriso de Dash alargou-se.
– O que você quer dizer com “piloto razoável”,
Calrissian? Posso voar dando voltas em torno de você em
uma caçamba de uma asa só com um jato preso nela.
– E modesto, também – disse Leia.
Dash fez nova reverência.
– Vejo que a princesa foi dotada de um olhar aguçado,
além de sua beleza deslumbrante.
Oh, não, pensou Leia. Esse cara iria levá-los até Boba
Fett?
– Guarde o sebo, Dash – disse Lando. – Vamos falar de
negócios.
– Primeira boa ideia que você teve em anos, Lando –
disse Dash.
Lando fez as apresentações.
– Você já sabe quem é a princesa Leia e já conhece
Chewie. Este é Luke Skywalker.
Luke deu um passo adiante e os dois homens acenaram
para o outro.
– A gente se conhece? Você parece familiar.
– Você pode ter me visto em Hoth – disse Dash. – Eu
estava entregando um carregamento de alimentos quando o
escudo foi levantado. Usei um snow-speeder durante a
batalha, enquanto esperava a minha vez de partir.
Luke assentiu.
– Isso mesmo. Você tirou de combate um dos andadores
imperiais, lembro agora. Você foi muito bom.
Dash mostrou o sorriso brilhante de novo.
– Muito bom? Eu dormi durante a maior parte daquela
batalha, garoto. Eu poderia ter ficado e derrubado
andadores o dia inteiro, sem acelerar meu coração, se não
tivesse um compromisso para pegar um carregamento em
outro lugar.
Leia balançou a cabeça. Qual o problema dos homens?
Era de se espantar que não andassem corcundas,
carregando um ego tão pesado. Seria mesmo forçada a se
envolver com mais um fanfarrão esquentadinho?
Bem, sim. Se ele pudesse levá-los até onde Han estava
sendo mantido prisioneiro, poderia suportar.
Wedge disse:
– Fizemos algum reconhecimento, alguns voos rasantes.
Deixe-me mostrar o diagrama a você. – Ele foi até os
controles do holoprojetor.
Luke observou enquanto Wedge começava a lhes
mostrar mapas holográficos e imagens gravadas da lua
onde a nave de Boba Fett estaria pousada. Se pudessem
acreditar naquele Dash Rendar. Ele era muito bom em emitir
luz própria, isso era certo, e, sim, havia se saído bem
durante a luta em Hoth, mas Luke não tinha tanta certeza
sobre o cara.
Ainda assim, Lando aparentemente achava que poderiam
confiar no julgamento de Dash, desde que ele fosse bem
pago.
Luke teve quer abrir um sorriso. Quando se conheceram,
Han parecia ser nada mais do que um contrabandista
mercenário, e também era rápido em contar às pessoas
sobre suas excelentes habilidades como piloto. Só mais
tarde Luke percebeu que isso era apenas uma máscara,
uma fachada atrás da qual Han se escondia para que
ninguém soubesse quanto ele realmente se importava.
Talvez houvesse algo além das aparências em Dash Rendar
também.
Wedge dizia:
– ... lua tem algumas condições atmosféricas ruins,
grandes tempestades ciclônicas que ficam bem feias,
principalmente no hemisfério sul. Vocês não gostariam de
tentar voar em meio a uma delas.
Dash riu.
– Talvez você não fosse gostar, Antilles, mas eu como
tempestades no café da manhã.
Ou talvez não haja nada além das aparências, pensou
Luke. Talvez ele seja só maluco.
Wedge continuou o relato. O enclave imperial abrigava
dois destróieres estelares. Descobriram que a nave de carga
era apenas um boato. Mas já era o bastante. Luke sabia que
um destróier padrão carregava um grupo de caças, cada
grupo composto por seis esquadrões, o que significava 72
TIEs por destróier. Cento e quarenta e quatro deles contra
os doze do Esquadrão Rogue.
Bem, treze, contando a nave de Luke. Isso tornava as
suas chances um pouquinho menores do que doze para um.
Não era tão ruim em comparação a algumas batalhas que já
haviam enfrentado.
Luke sorriu. Essa era a medida de quão desigual a guerra
entre o Império e a Aliança era quando chances de doze
para um não pareciam tão ruins.
Enquanto Luke escutava, começou a pensar em um
plano. O mais simples, melhor.
Wedge terminou seu relato.
– É isso. O que acha, Luke?
– Moleza – disse Luke. – Sei exatamente como fazer.
Leia e Lando olharam ao mesmo tempo para Luke, como
se ele tivesse se transformado em uma grande aranha. Ele
sorriu de novo.

Em seu santuário, Xizor sorriu para as informações que


flutuavam holograficamente diante dele. Ora, ora. O jovem
equivocado que pensara poder matá-lo (como era mesmo o
nome dele? Hoff?) obtivera acesso ao corredor protegido
através de um posto de controle imperial a poucas centenas
de metros de distância. E havia uma estranha coincidência:
o guarda que estava de plantão no posto de controle
desaparecera misteriosamente. Assim, qualquer subterfúgio
que o morto tivesse usado jamais seria sabido.
Xizor apostaria metade de sua fortuna que nunca mais
se ouviria falar do guarda sumido. Alguém fizera o guarda
deixar passar o pretenso assassino, e, quem quer que fosse,
não desejava que soubessem de seu envolvimento. Xizor
tinha certeza disso.
Refletiu. Seus inimigos eram legião, eram miríade, no
mínimo, e muitos deles ficariam felizes em vê-lo morto.
Seria fácil subornar um único guarda e livrar-se dele depois;
uma centena de seus inimigos em Coruscant poderiam ter
feito isso.
Qual deles o odiava mais? Uma pergunta difícil, havendo
tantos.
Quem seria mais provável que fizesse essa tentativa? E
havia ainda outra questão: o Sol Negro era quase
invulnerável e, embora muitos fossem capazes de cortar
com alegria a cabeça de seu líder se achassem que
poderiam escapar, nem tantos teriam tanta certeza de que
seria possível fazê-lo sem ser descobertos. Era uma questão
de afunilar a lista até chegar a alguém poderoso – alguém
que, caso tudo viesse a público, conseguisse sobreviver não
só à ira do Sol Negro, mas também à eventual ira do próprio
Imperador.
Bem, isso reduzia a lista ainda mais.
Xizor recostou-se na cadeira e juntou os dedos. Aquele
era um pequeno jogo com que de vez em quando brincava
sozinho: fingia estar usando razão e lógica para chegar a
uma conclusão que, na verdade, já alcançara de forma
intuitiva. Xizor sabia quem tinha permitido o atentado,
assim como sabia que ele não fora realmente planejado
para ser bem-sucedido. Aquilo não deveria ser mais do que
um pequeno espinho posto em seu caminho, uma coisa
grudenta capaz de irritá-lo e na qual ele deveria pisar –
nada além disso.
Uma pequena chateação, imposta a ele por um homem
que não temia o Sol Negro nem o desagrado do Imperador.
E havia apenas um homem assim.
Xizor estava tentado a contratar uma dúzia de
assassinos, não contar a eles quem seria seu alvo e botá-los
atrás de Vader. Os assassinos fracassariam, é claro, sendo
esmagados como insetos por Vader com menos esforço do
que Xizor gastara com seu pretenso algoz. Vader poderia
matar com um gesto de sua mão, embora gostasse de ter a
oportunidade de usar seu sabre de luz vez ou outra.
Mas não. Fazer isso poderia estragar seus planos de
parecer ser amigo de Vader; ou, pelo menos, de não ser seu
inimigo. Se Xizor pudera descobrir quem havia tomado
parte no patético atentado contra a sua vida sem qualquer
evidência além da intuição, Vader também conseguiria
decifrar quem seria corajoso o bastante para enviar
matadores atrás dele.
Ele rapidamente classificaria o ataque como uma
retaliação pelo atentado contra Xizor.
Não. Por mais agradável que fosse importunar Vader com
um ataque, não seria prudente, levando-se em conta o
plano maior.
No entanto, era bom saber que Vader não gostava dele o
suficiente para querer vê-lo morto.

Leia riu.
– Esse é o seu plano?
Luke pareceu indignado.
– O que há de errado com ele? – Sua respiração formou
uma névoa de vapor na câmara fria.
– Você e o Esquadrão Rogue vão atacar o Enclave
Imperial, manter os tais cento e tantos caças TIE e os dois
destróieres estelares ocupados enquanto Dash mostra o
caminho para que a Millennium Falcon siga até onde está
pousada a nave de Boba Fett? Vamos simplesmente pousar,
resgatar Han e voar para longe? Ora, não há nada de errado
com esse plano. Como eu poderia ver algo errado nele? É
perfeito. – Ela balançou a cabeça.
– Ok, é um plano simples... – começou Luke.
– Simplório – disse Leia.
A mandíbula de Luke se contraiu. Uh-oh. Ela havia
insultado sua masculinidade. Ela conhecia aquele olhar.
– Se você tiver uma ideia melhor... – disse Luke, com a
voz tensa.
Leia suspirou. Este era o problema. Ela não tinha uma
ideia melhor. O plano de Luke ia direto ao ponto e, ao
mesmo tempo que era temerário o suficiente para que
todos terminassem fritos pelos turbolasers imperiais,
também era louco o bastante para funcionar. Se ela fosse o
comandante local, jamais esperaria que alguém fizesse algo
tão estúpido.
– Bem... – começou ela.
– Era o que eu pensava – disse Luke. Houve uma
pequena nota de triunfo em sua voz ao dizê-lo.
– Não que eu queira jogar água em sua fogueira ou coisa
assim – disse Dash –, mas para nos esgueirar de mansinho
precisaremos de um voo muito ousado. Coisa de
profissional, para evitar os sensores locais. Podemos ter que
cair pelos cânions do Grande Fosso. – Olhou para Lando. –
Supondo que esse pedaço de lixo Corelliano em que você
está não caia em pedaços, você acha que consegue fazer
isso?
Lando disse:
– Você voou por lá? Eu consigo voar por lá.
– Sim, bem, eu estava na Outrider quando fiz isso.
– A Millennium Falcon passou por algumas modificações
desde a época em que era minha – disse Lando.
Chewie disse algo.
– Sério? – disse Dash. – Onde você conseguiu motores
subluz tão rápidos?
Chewie disse outra coisa, gesticulando com o braço
esquerdo.
Dash sorriu.
– Sim, acho que Solo seria burro o suficiente para fazer
algo assim. – Acenou para Luke e Wedge. – Ok. Se vocês
puderem manter os caças TIE e os destróieres ocupados,
posso levar Lando até onde está a nave de Boba Fett.
Chewie disse algo. Leia percebeu que sabia o que
significava. Ele estava se oferecendo para ir junto.
– Você não precisa fazer isso, amigo – disse Lando.
Chewie falou novamente.
– Obrigado, de verdade.
– Conte comigo também – disse Leia.
– Eu não sei se isso é uma boa ideia...
Leia o interrompeu.
– Você não acha que o comandante imperial vai enviar
todos os seus TIEs para lidar com uma dúzia de X-wings,
acha? Ele é obrigado a manter alguém no planeta. Se
começarem a atirar na Falcon, você vai precisar de alguém
para atirar de volta. Se Chewie ficar na torre dorsal, quem
vai lhe dar cobertura?
Lando e Luke se entreolharam. Luke deu de ombros.
– Ela está certa. E é uma boa artilheira.
– Obrigada – disse Leia.
– Ok, acho que é isso – disse Wedge. – Os rapazes terão
prazer em voar sob seu comando para esta missão, Luke.
– Obrigado, Wedge.
Dash disse:
– Quer ver uma coisa, garoto?
Luke olhou para ele.
– Por aquela porta ali.
Luke caminhou em direção à porta. Curiosa, Leia os
seguiu.
Dash abriu a porta, que dava para outra sala enorme,
como um hangar.
– Uau – Luke exclamou.
Leia olhou pela porta aberta.
Uma nave estava pousada sobre o piso de plástico
barato. Tinha linhas suaves, pesados canhões montados no
topo e na parte de baixo, e reluzia com um brilho escuro,
como o cromo. Era quase do tamanho da Millennium Falcon
e tinha um módulo de cabine fora das linhas-padrão, mas as
semelhanças acabavam aí. Essa nave era material de
primeira linha, de última geração; Leia já vira naves
suficientes para reconhecer que aquela era especial.
Havia também um droide parado ao lado da nave, um
modelo esquelético simples com uma maleta de
ferramentas sobre um dos ombros.
– A Outrider – disse Dash. – E o meu droide, um LE-
BO2D9. Ele responde por Leebo, quando se digna a
responder. Ele se acha engraçado.
– Como você conseguiu comprar uma nave como essa? –
perguntou Luke.
– Bem, não foi com uma vida de retidão. Gosta dela?
Luke assentiu. Leia podia ver que ele estava se coçando
para inspecionar o veículo, subir a bordo e ver como ela
reagiria com ele no comando.
Como meninos com um brinquedo caro, pensou. Torceu
para que o mercenário dono da nave fosse capaz de voar
com metade da maestria que alegava ter. Aquela não
parecia ser uma viagem fácil.
Leia olhou para a Outrider. Estava prestes a arriscar sua
vida de novo, o que não era algo que você se acostumava a
fazer, mesmo quando necessário. Arriscar-se para resgatar
Han tornava tudo, de alguma forma, ainda pior. Ela estar
tão... vulnerável, desejando tanto alguma coisa (não,
alguém), era ainda mais assustador. Ela conseguia justificar
colocar a própria vida em risco pela Aliança; isso era de
importância galáctica. Mas fazer isso pelo amor de um
homem...
Ela nunca pensara que isso aconteceria. Sua dedicação à
Aliança para derrotar o Império jamais lhe permitira ter uma
vida pessoal muito agitada. Ah, é claro, havia os amigos,
alguns deles bem próximos, mas ela sempre acreditara que
levaria a vida lutando contra o Imperador e seu mal. Nunca
havia se imaginado louca de paixão, em uma relação
estável, tendo um lar e filhos. Isso provavelmente não
aconteceria de qualquer forma, considerando-se tudo o que
poderia haver no caminho, mas era uma possibilidade
agora. Presumindo que conseguissem encontrar e libertar
Han. Presumindo que escapassem e não fossem mortos no
processo.
Presumindo que Han tivesse algum interesse real nela.
Ele não havia dito as palavras. Ela acreditava que ele
sentisse a mesma coisa, mas ele não o dissera.
Grandes e várias presunções.
Bem, teria que esperar. Uma coisa de cada vez.
Uma coisa de cada vez.
Darth Vader segurava seu sabre de luz com firmeza,
punhos fechados, e observou o droide assassino dar a volta
à sua esquerda. O droide era de um modelo novo, uma das
doze unidades idênticas construídas sob suas especificações
pessoais. Como Vader, ele também usava um sabre de luz.
Era alto, esguio e parecia-se um pouco com os Asps de uso
geral encontrados em todo o Império, mas com uma série
de modificações especiais. A unidade era mais rápida do
que um homem comum, mais forte, programada com o
conhecimento de uma centena de mestres espadachins e
uma dúzia de estilos de luta diferentes. Contra uma pessoa
normal, o droide seria imbatível e mortal.
O droide agiu rapidamente e lançou um golpe na direção
da cabeça de Vader. Vader o bloqueou e o droide atacou
novamente, girando no ar a lâmina, que desceu zumbindo
na direção do flanco de Vader. Embora veloz, foi novamente
bloqueado.
O terceiro ataque do droide veio do lado oposto, com a
lâmina reluzindo em um grande semicírculo.
Vader defendeu-se e revidou, procurando fazer um corte
na cabeça do droide.
O droide bloqueou o golpe e deslizou um metro para trás,
fora do alcance de Vader, com a lâmina pairando sobre sua
cabeça, apontada para baixo.
A leve dor no ombro de Vader, onde Luke o cortara
através da armadura durante a luta que haviam tido, estava
definitivamente melhor. Quase não sentiu dor alguma ao
longo de toda aquela série.
Ele avançou, tentando golpear o droide no pescoço,
depois torceu os punhos e girou o sabre de luz para um
segundo ataque do mesmo lado; então atacou pela terceira
vez, desferindo-lhe uma estocada no meio do corpo.
O droide recuou e, com um golpe cruzado, bloqueou o
ataque final.
Vader deu um passo para o lado, elevou a lâmina sobre o
ombro esquerdo e feriu o droide, abrindo um corte em um
ângulo de quarenta e cinco graus na base do pescoço de
metal.
O bloqueio do droide foi um quarto de segundo lento
demais. Por mais forte que fosse, não o era o bastante para
compensar o poder e a intensidade do ataque de Vader. As
lâminas se encontraram, sibilaram e reluziram, mas a
espada de Vader empurrou a lâmina do droide para o lado.
Ele tentou recuar...
Tarde demais. O sabre de luz de Vader atingiu a região
entre o pescoço e a junta do ombro do droide, cortando-o
pelo exoframe até o meio do peito. Circuitos brilharam, em
curto-circuito. Faíscas e uma fumaça acre irromperam do
corpo do droide. Ele deixou cair o sabre de luz quando seus
comandos manuais morreram. Caiu de joelhos.
Vader empunhou a arma sobre o ombro direito e o
atacou mais uma vez, traçando um arco horizontal perfeito.
O sabre de luz cortou o pescoço do droide, arrancando-
lhe a cabeça. A cabeça caiu, quicou, e o corpo decapitado
do droide tombou para trás.
Vader se deteve sobre o droide abatido. Logo precisaria
pedir que produzissem mais uma dúzia deles. Esse era o
oitavo dos originais; restavam apenas quatro, e a série
seguinte teria de ser aprimorada. Estava ficando fácil
demais.
Seu ombro definitivamente estava melhor.
Desligou o sabre de luz e afastou-se do droide.
Um assistente estava na porta, parecendo impressionado
e nervoso.
– Limpe a bagunça – disse Vader.
Afastou-se. Não olhou para trás.

Dentro de seu X-wing, Luke respirou fundo.


– Você está pronto, R2?
R2 assobiou em assentimento.
– Aqui é o Líder Rogue – disse Luke. – Travem seus
ailerons em posição de ataque, acelerem a subseis e
confirmem.
– Rogue Um, confirmo – disse Wedge pelo sistema de
comunicações.
– Rogue Dois, afirmativo, travado e armado.
– Rogue Três, confirmo.
O resto do esquadrão também confirmou as ordens de
Luke. Estavam prontos; prontos para fazer o melhor que
pudessem. O destróier do lado diurno da lua jazia mais à
frente; a essa altura seus sensores de longo alcance teriam
captado os X-wings que se aproximavam e o comandante
teria começado a despachar seus caças. Os caças TIE mais
recentes eram uma ou duas unidades subluz mais rápidos
do que um X-wing não modificado, e os interceptores TIE
mais rápidos ainda, embora não pudessem atingir a
velocidade máxima de imediato, de forma que o Esquadrão
Rogue teria ação relativamente livre contra o destróier até
que os TIE estivessem despachados e em movimento. Não
que fossem capazes de fazer muita coisa com o destróier
com os canhões de laser ou torpedos de prótons típicos de
caças; os escudos e couraça do destróier eram muito
espessos. Mas um tiro de sorte poderia causar algum dano,
e obrigaria os imperiais a manter a cabeça baixa. Eles não
teriam como saber se a Aliança havia equipado seus
combatentes com alguma nova arma. Isso faria com que
suassem um pouco.
TIE eram mais rápidos, porém não mais manobráveis, e
os X-wings levavam vantagem na blindagem. TIE não
tinham blindagem alguma, exceto por alguns dos
interceptores especialmente equipados, como o de Vader.
– Lá vêm eles – disse Rogue Seis. Tratava-se de Wes
Janson, um veterano.
Um bando de caças TIE foram cuspidos pelas baias de
voo do destróier.
– Estou vendo – disse Luke. – Todo mundo alerta!
Demoraram um pouco, pensou Luke. Devem ter pensado
que era treinamento; não devem ter muita ação por aqui.
Ou ficaram gordos e preguiçosos. Bom. Bem que podia ser
verdade.
– Dobrem os escudos frontais – ordenou Luke. –
Velocidade de ataque, alvos de oportunidade.
– Iiiiirrááááá! – gritou um membro do esquadrão no
sistema de comunicações.
Luke teve de sorrir. Na verdade deveria dizer a quem
quer que fosse (pareceu ter sido Rogue Cinco, que era Dix)
que filtrasse as falas não oficiais, mas sabia exatamente
como se sentia o piloto.
Não havia nada no universo parecido com voar em
combate.
– Tomem cuidado – disse Luke.
Então estava zunindo pelo eixo do destróier, canhões de
laser cuspindo feixes de alta energia, sem tempo para falar
agora.
A batalha começou.

Na Millennium Falcon, Leia estava agachada atrás de


Chewie e Lando na cabine de controle. C-3PO estava atrás
deles, agarrado desajeitadamente ao vão da porta.
– Tenha cuidado, mestre Lando. Estamos muito perto das
copas daquelas árvores!
– Ah, sério? – disse Lando. – Eu não tinha notado.
– Bem, não há necessidade de sarcasmo.
À frente deles, a algumas centenas de metros, Dash
pilotava a Outrider, e o vento de sua passagem era o
suficiente para balançar as altas sempre-vivas mais abaixo;
era visível a ondulação pela folhagem. A nave cromo-
prateada dava rasantes de menos de cinco metros sobre as
copas das árvores.
– Um pouco mais perto e ficaremos com manchas verdes
na barriga – disse Leia.
– É verdade – concordou Lando. – Ele disse que teríamos
que voar baixo, mas não sabia que seria tão baixo. Chewie,
qual a nossa altitude?
Chewie olhou para um painel de controle e respondeu,
com um som meio de gargarejo, meio de gemido.
– Oh, meu Deus! – disse C-3PO.
– Devo saber? – disse Leia.
– Acho que não – disse Lando.
Dash falou por um canal de comunicações protegido.
– Tá nervoso aí, Calrissian?
Lando relanceou para Chewie.
– Quem, nós? Nah. Achei que você tivesse dito que
fôssemos voar baixo, Dash. Estamos praticamente na
estratosfera aqui. – Cortou o canal de comunicações.
Lando sorriu para Chewie.
– Essa foi boa, não foi?
Dash não respondeu com palavras; em vez disso, a
Outrider desceu mais quatro metros. Se um passageiro a
bordo da nave do contrabandista pudesse se esticar através
do piso, seria capaz de tocar as copas das árvores com as
pontas dos dedos.
Ele é louco, pensou Leia.
– Ele é louco – disse ela.
– Sim, mas ele sabe voar, você precisa admitir – disse
Lando. – Me dê mais pressão, Chewie.
– Mestre Lando! O que você está fazendo?
– Não posso deixá-lo pensar que nos assustou, posso?
– Certamente pode! – disse C-3PO. – Ele o fez!
– Você é mais louco do que ele – acrescentou Leia.
A Millennium Falcon perdeu quatro metros de altitude.
Chewie disse algo.
C-3PO exclamou:
– Oh, céus!
– O quê? – perguntou Leia.
C-3PO agitou os braços.
– Ele diz que mais um centímetro e vamos perder o
canhão de laser!
Leia balançou a cabeça.
– O que há com esse cara? O que ele está tentando
provar?
Lando estava concentrado no voo (o que era bom), então
não olhou para ela quando falou.
– Você nunca ouviu a história dos Rendars?
– Deveria?
Chewie gritou alguma coisa.
– Tô vendo, tô vendo – disse Lando. A nave subiu um
metro para evitar uma árvore bastante alta diretamente em
seu caminho.
Depois do desvio, Lando continuou.
– Dash esteve na Academia Imperial, mais ou menos um
ano antes de Han. Sua família era rica e de alta posição. O
irmão mais velho de Dash era um piloto de cargueiro
construindo uma carreira na empresa de transportes da
família. Houve um acidente. Um sistema de controle
estourou, não por culpa do piloto, e o cargueiro caiu durante
a decolagem do espaçoporto de Coruscant. Matou a
tripulação, destruiu a nave.
Leia assentiu.
– Terrível. E então?
Chewie começou a falar, mas Lando o interrompeu.
– Estou vendo. Você quer pilotar?
Chewie resmungou. Leia não precisava falar Wookiee
para entender aquela frase.
– Então fique quieto e me deixe fazer isso.
A Falcon fez outro pequeno salto atrás da Outrider e
voltou à sua perigosa dança com as copas das árvores.
– E então que o edifício que o cargueiro atingiu era o
museu privado do Imperador. Tinha várias de suas
lembranças. A maioria se perdeu no incêndio que se seguiu.
O Imperador não ficou feliz. Ele mandou apreender a
propriedade da família Rendar e depois a baniu de
Coruscant. Incluindo Dash. Eles o chutaram da Academia
em Carida e daquele planeta, também.
Leia rangeu os dentes. Esse tipo de coisa era uma das
razões pelas quais a Aliança combatia o Império. Ninguém
deveria ter tanto poder a ponto de arbitrariamente fazer o
que quisesse. E Leia sabia de coisas piores, muito piores. A
Estrela da Morte havia destruído seu planeta natal e matado
milhões somente para testar seu poder, para ver se
funcionava. Aquilo não tinha significado nada para o
Império; fora menos importante do que abater uma mosca.
– Entendo que ele não morra de amores pelo Império –
disse Leia. – Por que ele não está trabalhando para a
Aliança?
Lando deu de ombros.
– Ele não quer dever a ninguém e não quer que ninguém
deva a ele. Trabalha para quem paga mais. Ele é
absolutamente mágico com qualquer coisa que voe, e pode
derrubar parafusos de cima de uma mesa com uma pistola
de raios sem chamuscar o acabamento. É um bom homem
para se ter por perto quando a coisa fica feia; é claro,
enquanto durar o seu dinheiro.
Leia assentiu. O Império tinha arruinado um monte de
gente boa. Parecia que Dash Rendar era mais uma vítima.

Quatro caças TIE se aproximaram, vomitando morte.


Luke gritou para Wedge.
– Rogue Um, cuidado! A bombordo, rumo três-zero-cinco!
O X-wing de Wedge imediatamente ziguezagueou para a
esquerda e para baixo.
– Obrigado, Luke!
Luke acelerou, fez uma curva fechada e partiu direto
para o quarteto que os atacava.
Use a Força, Luke.
Luke sorriu. Da primeira vez que ouvira isso, durante o
ataque à Estrela da Morte, ele não tinha entendido. Agora
sabia o que significava.
– Sensores de mira desligados, escudos traseiros
desligados, redirecionar mais poder para as armas.
R2 não ficou satisfeito e se manifestou.
– Desculpe, amigo, mas deste jeito é melhor.
Luke sondou o espaço ao seu redor. A Força estava ali,
como em todos os lugares, e não era mais difícil acessá-la
no espaço profundo do que nos pântanos de Dagobah.
Deixou que ela o preenchesse.
Os caças TIE de repente pareciam estar se movendo
mais lentamente. As mãos de Luke voavam sobre os
controles; ele guiava o manche com movimentos bruscos e
precisos. Virou-se para estibordo e acendeu os lasers,
pressionando duas vezes o botão de fogo.
Linhas de fogo dispararam e despedaçaram um, depois
dois dos quatro caças TIE. A explosão cuspiu um jorro de
destroços na direção de Luke, que espiralou para longe.
Fragmentos dos TIE destruídos rasparam no dossel de
transparaço do X-wing, um granizo de metal e plástico.
– Belo tiro, Rogue Líder – disse Rogue Cinco.
– Obrigado, Dix.
– Mais chegando; seis blips em um-sete-cinco – disse
Rogue Quatro.
– Olhe atrás de você, Luke! – disse alguém. – Um deles o
está seguindo!
Mas Luke já havia sentido a aproximação do TIE e forçara
seu caça a fazer um retorno. Desenhou um círculo e veio
por trás do TIE.
Luke pressionou o botão de fogo uma vez e o TIE virou
uma cara sucata.
– Rogue Dois, você tem dois deles chegando em dois-
dois-quatro; mexa-se!
– Ah, afirmativo, Wes. Te devo uma.
– Depois você paga.
Os X-wings e caças TIE iam e voltavam na escuridão do
espaço, atirando lanças incandescentes de luz sólida um
contra o outro.
– Fui atingido – disse Rogue Dois. – Acertou minha
unidade R2 e fez um buraco no meu dossel. Tenho um
remendo aqui... Ok, vazamento resolvido.
– Interrompa a operação e retorne à base, Rogue Dois –
disse Luke.
– Ei, eu ainda posso disparar e tenho o controle manual.
– Negativo, Will, há muitos deles para fazer isso. Vá dar
uma volta.
R2 assobiou rapidamente.
– Não se aplica a mim – disse Luke. – Eu tenho uma
vantagem.
– Afirmativo, Rogue Líder. Rogue Dois retornando à base.
Boa sorte, pessoal! Vou colocar a chaleira no fogo para o
chá.
Mais dois TIE atacaram Luke, que escapou
instintivamente, puxou o manche e zuniu para longe dos
atacantes em um ângulo de quase noventa graus; então
espiralou no topo e caiu de volta na direção deles em um
poderoso mergulho, lasers piscando.
Um dos TIE explodiu; o motor do outro pegou fogo e
soltou-se, e o TIE ferido derivou para fora da luta, sem
energia.
– Aí vem outra onda – disse Wedge. – Doze blips em três-
zero-três e chegando bem rápido.
As chances estavam piorando, os perigos aumentando a
cada segundo, e o Esquadrão Rogue sem um membro. As
coisas não pareciam boas.
Apesar disso, Luke estava tendo um grande momento.
Podia não ser lá um grande Jedi, mas sabia voar.
Torceu para que Lando, Leia e Chewie estivessem se
saindo bem.
A aceleração puxou seu corpo quando ele forçou o X-
wing a fazer uma volta.
A batalha continuava.
O final da tarde transformava-se em noite quando Xizor
deixou a casa de sua amante, uma residência quase
palaciana que ele lhe dera como presente de despedida,
embora ela ainda não soubesse que seu caso havia
acabado. Xizor nunca passava mais do que alguns meses
com uma fêmea. Devido a sua composição hormonal, sua
capacidade de produzir feromônios esmagadoramente
poderosos, nunca tivera dificuldade para atrair novas
companheiras. No entanto, justamente por ser tão fácil, logo
se cansava delas, não importava quão bonitas e quão
inteligentes fossem. Ele jamais havia encontrado uma
companheira que pudesse considerar sua igual, e, se algum
dia encontrasse, bem, como poderia confiar em alguém tão
apta? Um enigma interessante.
Além disso, depois de uma refeição, por mais deliciosa
que fosse, preferiria provar uma iguaria diferente no jantar
seguinte...
Uma chuva morna caía sobre aquela parte da cidade, de
uma nuvem de condensação bem baixa. Tais células de
microclima eram bastante comuns naquela época do ano; a
uma curta distância os céus podiam ficar cristalinos.
Quando a escuridão estava mais espessa e onde as nuvens
não interferiam, era possível ver as auroras de descarga
coloridas e as luzes de circulação vermelhas e azuis do fluxo
constante de tráfego de naves saindo e entrando em órbita,
mesmo ali, em meio ao brilho da cidade.
Os dois guarda-costas esperando na saída
acompanharam Xizor até seu veículo de luxo blindado, no
qual mais dois guardas e o droide motorista esperavam por
ele. Xizor entrou no veículo e recostou-se no assento de
couro clonado. Sua amante receberia uma chamada de Guri
em breve, uma indenização generosa e bons desejos para
seu futuro. Ela também seria orientada a nunca mais tentar
contato com Xizor. Se o fizesse, as consequências seriam...
terríveis.
Até agora, apenas uma das suas ex-companheiras havia
tentado vê-lo após seu arranjo ser concluído. Aquela
desafortunada mulher, ele fora informado, tinha se tornado
parte de um alto complexo comercial no Enclave Sul,
cortesia de um droide de construção megagigante que, de
alguma forma, infelizmente a misturou por acidente em um
tonel de permacreto.
A vida era cheia de perigos, mesmo ali.
– Vamos jantar no Menarai – Xizor disse ao droide.
O veículo suspendeu-se e balançou suavemente para
dentro do padrão de tráfego, acompanhado à frente e atrás
por guarda-costas em suas próprias air-speeders. O trio de
veículos atingiu a altitude de cruzeiro e se dirigiu ao Parque
Monumento, onde o único pico de montanha não coberto do
planeta sobressaía da superfície de um complexo de
edifícios. Havia um restaurante que servia aos ricos e
poderosos em uma torre perto do parque, e do abrigo do
edifício podia-se ver a montanha, ou mesmo enxergar
através das paredes de transparaço do restaurante os
fanáticos religiosos que mantinham vigília sobre o pico para
evitar que turistas roubassem a rocha nua como lembrança.
Só se faziam reservas para Menarai com meses de
antecedência, apenas se seu nome constasse da lista de
aprovados. Era o restaurante mais exclusivo do planeta.
Exclusivo, mas, ainda assim, não importava quão cheio
estivesse o Menarai ou quanto poderia irritar um homem
rico ver um espaço vazio após ter esperado meses por uma
oportunidade de jantar lá, um lugar sempre era mantido
aberto para o príncipe Xizor. Quando resolvia aparecer, era
conduzido à sua cabine privada sem demora. Para a maioria
dos clientes, Xizor seria simplesmente outro magnata rico,
não mais importante do que mil outros seres ricos do Centro
Imperial. Eles se perguntavam o que levaria aquele homem
a merecer tal tratamento, uma vez que muitos dos clientes
possuíam mais créditos em suas contas do que Xizor – ao
menos sob o disfarce de empresário do setor de cargas.
Nenhum deles tinha mais dinheiro do que o Sol Negro.
Além disso, Xizor era um dos donos do lugar, ainda que
essa informação não fosse de conhecimento comum, e a
ordem fora transmitida de cima a baixo: se o príncipe Xizor
tivesse de esperar para se sentar, o gerente que permitisse
tamanha estupidez poderia procurar outro emprego antes
mesmo que conseguisse balbuciar uma desculpa. Se tivesse
sorte.
Xizor sorriu quando o veículo deu voltas em torno do
nexo central em direção à montanha. Não costumava
ostentar seu poder, mas boa comida era um dos seus
pequenos prazeres e não havia cozinha melhor do que a do
Menarai.
A chuva tinha parado e agora as sombras da noite se
condensavam e intensificavam. Logo Coruscant estaria
flamejando com sua própria luz, uma bela visão para uma
nave que se aproximasse do espaço. Nenhum outro mundo
da galáxia tinha quase toda a superfície coberta pelos
blocos artificiais da civilização. Viver ali era realmente uma
experiência, estar no centro de tudo. Coruscant era o
apogeu do Império; o chefe do Sol Negro dificilmente
poderia viver em qualquer outro lugar.
Agora... o que pediria para o jantar? A enguia-fleek era
boa. Mantida viva até o momento de ser mergulhada em
óleo de pimenta fervente, as enguias teriam nadado no Mar
Hocekureem, a anos-luz de distância, naquela mesma
manhã. O inhame recheado e o filé de plicto também eram
excelentes, assim como a lesma ithoriana gigante na
manteiga de flounut. Ou talvez o camarão terrestre de
Kashyyyk?
Tantas opções; nenhuma delas ruim. Bem, em vez de
pedir com antecedência, quem sabe ele simplesmente
esperasse até chegar ao restaurante para se decidir. Claro,
precisaria esperar que o prato fosse preparado, mas tudo
bem; a paciência era uma de suas virtudes, afinal.
Sim. Seria isso o que faria. Seria... espontâneo.
Seria revigorante.
– Fiquem ligados, rapazes, outra onda chegando – disse
Luke pelo sistema de comunicações.
– Afirmativo, Rogue Líder – veio um coro em resposta.
– Uh-oh, eu vejo um par de interceptores TIE nesse
quarteto – disse Wedge.
– Estão na mão, Wedge – disse Luke. Inclinou-se sobre o
manche e fez o X-wing desenhar uma curva acentuada a
bombordo. Interceptores eram mais rápidos e os mais novos
usavam armamento mais pesado. Ele torcia para que a
Força permanecesse a seu lado. A situação estava ficando
mais complicada a cada momento. Não podia dar-se ao luxo
de falhar; o resgate de Han dependia de ele manter os
eventos em curso; isso para não falar dos Rogues e de sua
própria vida.
Esperou que Leia e Lando estivessem se saindo bem.

Lando voou por pontas irregulares de rochas


avermelhadas que pareciam dentes gigantes. A Falcon
zunia por um túnel de três lados com o que parecia ser
pouquíssimo espaço dos lados e abaixo. O céu acima era
como a superfície de um rio, azul e sereno.
C-3PO disse:
– Eu acho que talvez um dos meus circuitos esteja
sofrendo de superaquecimento. Eu realmente deveria me
sentar e desligar-me.
Mas o droide não se mexeu. Tal como o resto deles,
parecia hipnotizado pela fuga através do cânion.
Havia uma estação sensora imperial de longo alcance à
beira do grande planalto no qual o tempo e a água tinham
esculpido aqueles profundos cânions, dissera Dash. A única
maneira de evitar ser detectado era esgueirar-se por baixo
da varredura do sensor.
Aquilo fez Leia lembrar-se da fuga desesperada de Han
pelo campo de asteroides após escaparem de Hoth, e o
esconderijo para o qual correram para evitar que fossem
capturados por Vader. Um lugar que acabara por ser algo
diferente do que parecia à primeira vista.
À sua frente voava a Outrider. Enquanto Leia observava,
a nave girou em seu longo eixo como um parafuso.
– Ah, cara – disse Lando. – Dois metros para cada lado e
viramos inseto amassado, e o Dash está fazendo rodopios.
Ele é louco.
Chewie disse algo.
– Só pode ser – disse Lando.
C-3PO traduziu para Leia:
– Chewbacca diz que mestre Dash deve ser parte
pássaro.
Leia se viu concordando. Lando tinha razão. Fosse o que
fosse, Dash Rendar sabia voar.

Luke manteve os Rogues espiralando, flutuando vários


graus para um lado, depois para o outro, a fim de evitar que
as grandes armas do destróier fossem travadas sobre eles.
Estavam indo bem até então.
– Cuidado, Dixie! – gritou Wedge.
Luke viu o perigo. Um caça TIE tinha ficado abaixo de Dix
e agora subia, disparando contra a barriga exposta do X-
wing. Dix cortou para a direita e começou a dobrar para
estibordo...
Tarde demais. Os lasers mortais rasgaram o X-wing como
garras de fogo.
A nave de Dix explodiu em uma bola de fogo que
devorou o oxigênio da nave, apagou e deixou nada além de
destroços ionizados.
Luke sentiu seu estômago entrar em turbilhão. Oh, não.
Haviam perdido Dix.
De repente, não era um jogo. Pessoas estavam
morrendo. Boas pessoas. Ele nunca poderia se esquecer
disso, nem por um momento. Só era diversão enquanto
ninguém se machucasse, e essa parte nunca durava. Guerra
era horrível. Era ruim.
E agora ficara pior. O destróier do lado noturno da lua
chegara e começava a expelir seus caças.
Sem tempo para pensar, sem tempo para se preocupar.
Luke abandonou-se à Força.

– Terminator chegando – disse Dash. – E já passamos


pela estação sensora do planalto. Prontos para subir?
– Eu estava começando a gostar disso – disse Lando. –
Mas se precisamos...
Estavam se aproximando do lado noturno da lua, e, ainda
que a escuridão não pudesse escondê-los dos sensores
imperiais, ofereceria alguma proteção contra olhares
curiosos.
– Estamos a cerca de quatro minutos do estaleiro – disse
Dash pelo sistema de comunicações. – Com alguma sorte os
patetas que operam as coisas por lá só irão reparar em nós
tarde demais. Quando estiverem com seus caças prontos, já
estaremos bem em cima deles.
– Entendido – disse Lando.
Leia sentiu seu estômago se retorcer e revirar. O voo até
agora tinha sido perigoso, mas só iria piorar.
Lando balançou a cabeça e disse:
– Isso não foi minha ideia, certo? Quero deixar registrado
que isso não foi minha ideia.
Sombras negras começavam a pintar as rochas,
alongando-se tão rápido que era possível vê-las se movendo
enquanto a Falcon mergulhava cada vez mais fundo na
noite.
– Subindo – disse Dash.
A Outrider emergiu do cânion.
– Droga! – disse Lando.
Bem na frente deles, não mais do que a algumas
centenas de metros, e se aproximando rapidamente, o
cânion terminava em uma parede de rocha escura.
Chewie rugiu.
Lando não se incomodou em responder e forçou a Falcon
em uma subida que fez o estômago de Leia ficar muito pior.
Evitaram a colisão por centímetros.
– Oh, melhor ter cuidado – disse Dash quando a Falcon
subiu para a noite. – Eu já disse que o cânion acaba daqui a
pouco?
– Espere só, Rendar – disse Lando. – Da próxima vez que
eu o vir, vou lhe dar um soco no nariz!
– É? Você e que exército?
Chewie rosnou.
Leia pôde intuir o sentido daquilo com bastante
facilidade.
Pelo sistema de comunicações, Dash Rendar riu.

A voz de Wedge parecia calma, mas havia muita emoção


sob ela.
– Luke, não seremos capazes de manter essa dança por
muito mais tempo. Quando aquele segundo destróier
configurar posição, estaremos ao alcance das grandes
armas de um e de outro.
– Eu sei – disse Luke. – R2, eles já teriam tido tempo de
chegar ao estaleiro?
R2 assobiou. Luke olhou para a tela de seu sensor e viu a
tradução dos assobios do droide. Eles poderiam ter
chegado, mas por pouco.
– Um minuto mais – disse Luke. – Então voamos por
sobre o lado diurno e caímos fora daqui.
– Afirmativo, Luke. Vocês ouviram o homem. Vamos jogar
mais algumas pedras e mantê-los saltitando.
Ao redor de Luke, caças e interceptores TIE enxameavam
como vespas sáurias em um ninho perturbado. Os Rogues
haviam derrubado um grupo deles, talvez mais, e perdido
um dos seus, além de ter outro danificado. Um bom voo,
mas, dadas as probabilidades, não poderiam manter aquele
ritmo. Teriam de torcer para que houvessem garantido
tempo suficiente.
Um caça TIE apareceu diante de Luke, vindo direto para
cima dele.
Luke apertou seu botão de fogo e as duas naves
aceleraram diretamente uma para a outra. Nenhum dos dois
pilotos piscava.
O TIE explodiu e Luke voou através da bola de fogo.
A exclamação de R2 soou como um “Iaaauu!”.
– Você está bem, R2?
O droide assobiou. Sim, ele estava bem. Mas já estivera
melhor.
Luke sorriu. A festa estava ficando chata. Era hora de
juntar as coisas e ir embora.

– Está aí, bem na frente – disse Dash. As luzes do


estaleiro brilhavam na escuridão, um farol visível por um
longo caminho.
– Vamos passar bem por cima do seu alvo em... trinta
segundos.
Leia inclinou-se para a frente. Esforçando-se para ver...
– Aí está! Aí está a nave de Fett!
– Foi divertido, pessoal – disse Dash. – Vejo vocês por aí.
Diante deles, a Outrider subiu subitamente e zarpou para
o espaço.
– Aonde você está indo? – disse Lando.
– Ei, você não me pagou para atirar, só para mostrar o
caminho. Estou fora daqui.
– Dash, maldito seja!
– Esqueça – disse Leia rapidamente. – Não precisamos
dele.
Chewie apontou para a tela do sensor e disse algo.
– Oh, céus! – disse C-3PO.
– Eu gostaria que você parasse de dizer isso – disse Leia.
– O quê?
Lando falou antes do droide.
– Companhia. Temos meia dúzia de caças TIE na nossa
pista!
– Isso é tudo? Para um piloto figurão como você, não
deveria ser um problema, certo?
Lando balançou a cabeça.
– Sim, certo. Mas, só por diversão, por que você e Chewie
não vão ver se as armas ainda funcionam?
O Wookiee ficou de pé. Leia já estava a caminho.
– Fico com a torre dorsal – disse ela.
Chewie rosnou, o que ela entendeu como um sinal de
assentimento.
Agora as coisas realmente ficariam interessantes.
– Luke...? – disse Wedge pelo sistema de comunicações.
– Ok, Wedge. Esquadrão Rogue, aqui é Rogue Líder.
Interrompam o ataque, atinjam a velocidade da luz. Repito,
interrompam e saltem para o hiper!
O salto para o hiperespaço era um truque. Não iriam
longe o bastante para precisar dele e fariam a reentrada no
espaço normal em poucos segundos. Mas era melhor que os
caças imperiais pensassem que estavam indo para longe;
talvez ninguém se desse ao trabalho de procurar por eles
em uma lua logo do outro lado do enorme planeta gasoso
bem à frente. Essa era a esperança.
O Esquadrão Rogue desfez sua formação de ataque,
desenhando um leve arco.
Os caças TIE, que obviamente haviam recebido ordens
para defender, mas não perseguir, deixaram que partissem.
A maioria.
Quando os Rogues se afastaram da batalha, Luke sentiu
uma onda repentina de algo que não conseguia identificar
caindo como uma torrente sobre ele. Como uma sensação
de perigo que não podia ser ignorada, algum tipo de aviso...
Luke!
Obi-Wan!
Ele empurrou para o lado o manche de controle
posicionado entre os joelhos, sem questionar mais.
Viu passar o feixe de um canhão de laser como um
lampejo.
Se não houvesse se movido, o raio o teria cozinhado.
Mas não havia TIE algum às suas costas! Apenas Rogue
Seis. Enquanto ele observava, o X-wing de Wes alterou o
curso para segui-lo. O que...?
– Wes! O que você está fazendo?
Wes gritou; seguiu-se uma breve explosão de palavrões,
e então:
– Luke! Algo está errado com a minha unidade R2! Tomou
o controle da minha nave! Meu manche está morto!
Sim, pensou Luke, eu estarei morto, também, se não
fizer alguma coisa!
Para complicar as coisas, um dos caças TIE que
decidiram continuar a perseguição chegava cada vez mais
perto. O TIE se fez anunciar com o estrondoso disparo de
suas armas, não atingindo a nave de Luke por muito pouco.
Luke puxou o manche para trás até tocar em sua barriga e
usou a potência máxima. O X-wing respondeu; a aceleração
prensou-o contra o banco; seu rosto alongou-se e achatou-
se, como se uma mão gigante pressionasse dedos
poderosos contra a sua pele e músculos.
– Todo mundo trate de escapar! – Luke conseguiu dizer
por entre os lábios descascados. O que estava
acontecendo? Ele quase havia sido frito por um dos seus!
No momento não podia pensar nisso; mas não podia não
pensar nisso, também.
Ele podia ter morrido. Se não fosse a Força, teria morrido.
O que quer que se tornasse, jamais iria acontecer sem a
influência dela.
Às suas costas, o X-wing de Wes imitou a manobra de
Luke, tentando acompanhá-lo.
O caça TIE continuava atirando.
Explosão!
Isso era ruim, isso era muito ruim. O que faria? Não podia
lutar, não contra um dos seus! E, se apenas fugisse, mais
cedo ou mais tarde o X-wing fora de controle o acertaria.
O mais importante primeiro. O caça TIE.
Luke desenhou um círculo no espaço, tentando deixar
Wes para trás e travar no TIE ao mesmo tempo.
Nenhuma das duas coisas funcionou muito bem. O caça
TIE escapuliu e Wes continuou atirando em Luke.
Luke sentiu o suor escorrer, encharcando seu traje. Não
estava preparado para isso; nunca passara por sua cabeça
enfrentar uma situação como aquela.
Se Wes pudesse escapar, resolveria tudo. Mas o
problema era que ele não podia ejetar; como os outros, ele
usava apenas um traje de voo leve, incapaz de proteger
contra o vácuo do espaço profundo.
Outra explosão de fogo laser partiu do X-wing que o
perseguia.
Por um triz!
O caça TIE continuava por perto. Provavelmente não
tinha a menor ideia do que estava acontecendo, mas com
certeza tiraria proveito da situação.
Luke sentiu-se tomado pelo medo, uma sensação gelada
que deixou sua transpiração fria. O que faria? Tinha que
descobrir; e tinha que descobrir rápido!
Teve uma ideia. Era arriscado, mas suas escolhas
estavam ficando bem limitadas.
Lá vai.
No ápice de sua subida, Luke cortou a aceleração e
empurrou o manche para a frente. A inércia manteve a nave
seguindo, mas sua velocidade relativa em relação ao veículo
fora de controle de Wes fez parecer que ele havia parado,
enquanto o Rogue Seis passou direto, antes que sua
unidade R2 defeituosa pudesse reagir.
O caça TIE havia feito a curva e estava na frente de Wes,
tentando rastrear Luke.
Luke ativou a aceleração total de repente e empurrou o
manche com força para bombordo, espiralando em uma
saída pela esquerda. Fez a pequena nave e a si próprio
darem tudo o que tinham.
O caça TIE correu para o fogo de Wes e fez-se em
pedaços.
Pelo menos isso, finalmente.
Luke sentiu-se melhor, mas ainda não havia acabado.
Circundou o X-wing. Wes copiou seu movimento e
disparou.
Luke não exigiu mais impulso de seu X-wing.
R2 guinchou, e Luke ignorou-o. Tinha que confiar na
Força agora; sua habilidade normal não o tiraria dessa.
Esquivou-se.
Outra explosão cozinhou o vácuo.
Luke parou e mergulhou.
A nave de Wes zuniu até ele, espirrando um tiro de
raspão nos escudos traseiros.
Ele tinha de sacudi-lo!
Venha, venha.
Sabia que a Força era poderosa, mas não tinha certeza
de seu controle sobre ela.
Um erro e um bom homem morreria.
Um erro e os dois morreriam.
Focalizou. Fez um desvio repentino para bombordo,
depois estibordo; aplicou potência máxima aos motores,
subiu e fez um círculo para baixo e para trás de Wes, quase
desmaiando com a Força-G...
Ajude-me, Obi-Wan.
Luke disparou...
O raio resvalou com precisão contra o motor principal do
X-wing, cortou o metal e desligou-o.
Os propulsores de Rogue Seis se inflamaram.
Luke estava perto o suficiente para ver a unidade R2 da
nave de Wes tentar efetuar reparos, mas certamente não
consertaria aquilo.
Rogue Seis não estava voando muito bem; contudo,
ainda podia atirar.
E atirou, rastreando-o e liberando poderosos raios. Como
um gato-do-fogo ferido, ainda era perigoso se aproximar
dele.
Luke desviou e abandonou-se à Força de novo, deixando
o X-wing tornar-se uma extensão de seu corpo. A pequena
nave dançou, pulou, desacelerou, acelerou e conseguiu
evitar ser alvejada.
Luke sentiu-se exalar um respiro de alívio.
Firme...
Luke passou novamente por perto de seu atacante.
O R2 de Wes disparou contra ele. Luke imaginou ter
sentido o calor do raio.
Talvez não fosse sua imaginação.
Venha...
– Mais daqueles TIE estão voltando, Luke – disse alguém.
– Agora, não! – Mais uma vez deixou a Força dirigir sua
mira, entregou-se a ela. Localizou os sensores de alvo no
cone do nariz da nave. Sentiu a sua retidão.
Disparou de novo...
Acertou!
Agora as armas de Wes estavam mortas e ele (ou seu
droide maluco) não poderia disparar lasers ou torpedos.
Luke suspirou novamente. Ainda bem.
O que na galáxia poderia ter causado uma avaria
dessas?
– Wedge, veja se você consegue travar uma linha
magnética em Wes e vamos sair daqui, rápido!
– Afirmativo, Luke.
Já era ruim ter inimigos atirando em você; muito pior
quando seus próprios homens o faziam.
– Ei, eu sinto muito, Luke, não sei o que aconteceu! –
disse Wes.
– Não se preocupe. Vamos resolver isso mais tarde.
Agora é melhor irmos embora antes que o Império decida
que talvez valha a pena vir atrás de nós todos.
– Entendido, Luke.
Mas, agora que o calor do incidente e o suor frio haviam
passado, o medo voltava a escorrer, com seu sabor azedo.
Ele podia ter explodido.
Se não fosse pelo aviso da Força, teria ardido, apagado
como uma eletrolâmpada sobrecarregada, sem jamais saber
o que o havia atingido. Morto, acabado, nada mais.
– Aqueles caças TIE estão voltando, Luke.
– Vamos cair fora!
Até então, uma situação como aquela nunca parecera
uma possibilidade real para ele. Luke sempre pensara que,
de alguma forma, todos os lasers errariam o alvo, todos os
mísseis passariam por ele inofensivamente, e ele viveria
para sempre. Não parecia plausível que ele realmente
pudesse deixar de existir.
Agora parecia.

Leia disparou e os tambores quádruplos da arma dorsal


da Falcon se moveram, cuspindo energia com força no caça
TIE mais à frente.
A embarcação imperial voou direto para os raios.
Explodiu.
Esse era o terceiro que ela acertava e Chewie abatera
alguns deles também, mas havia mais deles chegando.
Muitos mais.
– Não podemos pousar – disse Lando pelo sistema de
comunicações. – Se ficarmos parados na plataforma,
seremos destruídos!
– O que vamos fazer? – perguntou Leia.
– Eu não sei; não podemos continuar voando por aí... uh-
oh.
– Uh-oh o quê?
– A nave de Boba Fett... está decolando.
– Siga-o!
– Como? Há uma parede de caças imperiais entre ele e
nós!
– Passe ao redor deles!
Ela estava perto demais para perder Han agora.
– Vou tentar.
A Falcon balançou e caiu em um mergulho espiralado.
Como estavam em um poço gravitacional e precisavam de
energia para os escudos, a gravidade artificial fora
desligada. Leia sentiu-se flutuar sem peso; apenas as alças
de segurança a impediam de sair voando da poltrona. De
repente, ficou mais pesada, quando o mergulho chegou ao
fim e Lando puxou os aceleradores com força em uma curva
ascendente.
Outro caça TIE surgiu. Leia começou a trabalhar com a
arma, mas o caça passou muito rápido. Errou.
Ela sentiu a Falcon balançar quando os escudos foram
atingidos pelo fogo inimigo.
– Espero mesmo que aquele gerador de escudos pirata
que o Han instalou segure a onda – disse Lando.
Leia não respondeu; estava ocupada demais tentando
derrubar o próximo par de caças TIE que se aproximava.
Seus raios dispararam e perfuraram um dos caças, que
saiu rodopiando para longe, com as superfícies de controle
cheias de buracos.
Errou o outro.
Ouviu Chewie gritando algo e lamentou não conseguir
entendê-lo sem um contexto.
– Detesto ter de dizê-lo – disse Lando –, mas tenho um
mau pressentimento quanto a isso.

De volta à base lunar secreta do Esquadrão Rogue, Luke


e Wedge correram de seus caças para o ponto onde o X-
wing de Wes havia sido rebocado. Wes estava parado
olhando para a sua nave em ruínas.
Wedge disse:
– Você está bem?
– Sim, tudo bem. Mas com certeza gostaria de saber o
que minha unidade R2 comeu no café da manhã. O que
pode ter dado nela?
Luke esperou que sua aparência estivesse melhor do que
a forma como se sentia. Ainda estava agitado, com os
joelhos fracos. Respirou fundo, lutando para manter a voz
calma.
– Por que não vemos se podemos descobrir? – disse.
Acenou para a chefe dos mecânicos. – Coloque um
acoplador nesta unidade R2, está bem?
Enquanto a chefe chamava sua equipe para fazer isso,
Luke ouviu um assobio às suas costas.
Luke virou-se.
– Eu não sei, R2. Você já ouviu algo assim antes?
R2 apitou e assobiou.
Luke encarou o som como uma negativa.
A unidade R2 defeituosa foi levada ao chão. A chefe dos
mecânicos aproximou-se e prendeu um parafuso de
restrição nela antes que pudesse se mover.
R2 se aproximou, distendeu uma interface e plugou-se
na outra unidade. Alguém conectou uma tela de tradução
na unidade R2 danificada.
R2 assobiou freneticamente.
– Uh-oh – disse Luke, olhando para a tela de tradução.
– O quê? – disse Wedge.
– Veja. De acordo com isso, o droide não estava com
defeito. Ele foi programado para atirar em mim.
Wedge assobiou, um contraponto ao idioma astromech
de R2.
– Quem faria isso? Por quê? Como?
A chefe puxou o comlink de seu cinto, falou através dele
e escutou. Luke não podia ouvir quem estava na outra
extremidade do comunicador.
– É Rendar chegando – disse a chefe.
– E Leia e Lando?
A chefe deu de ombros.
– Ele não disse.
Ao chefe, Luke disse:
– Fique de olho neste droide. Não deixe ninguém tocá-lo.
– Então falou, voltando-se para Wedge: – Vamos.
Luke correu para o segundo hangar, onde a nave de
Rendar pousaria em breve.

– Não podemos passar! – disse Lando. – Eles vão nos


fazer em pedaços se não sairmos daqui! É melhor...
Sua voz sumiu.
– Lando? Lando!
Nenhuma resposta.
– Chewie?
Sem resposta, também.
A Falcon parecia estar voando bem, mas o sistema de
comunicações estava quebrado.
Leia gritou:
– C-3PO! Onde está você?
– B-b-bem aqui – ouviu-se a voz nervosa de 3PO de sobre
a torre de armas.
– Vá descobrir o que aconteceu com o sistema de
comunicações. E veja se Lando está bem.
– Sim, Princesa Leia.
Outro TIE passou velozmente. Leia disparou contra ele;
errou. Os malditos eram rápidos.
A Falcon fez uma curva fechada para a esquerda, depois
para a direita. Bem, alguém a estava pilotando.
C-3PO inclinou-se sobre sua torre.
– Princesa Leia, mestre Lando diz que a unidade de
comunicação foi danificada; não temos mais comunicações
internas ou externas. Mestre Lando diz que devemos partir
imediatamente ou seremos destruídos! – Havia um tom de
histeria na voz de 3PO.
– Nós não podemos! – disse Leia.
Mas eles já estavam fazendo isso. A Falcon arqueou para
longe do estaleiro e mergulhou entre duas torres
semiacabadas, espiralando para longe. Os suportes de
metal de uma torre passaram tão perto das armas de Leia
que ela pôde ler os números das peças impressos nelas.
– Não! – gritou ela.
Um dos caças TIE que os perseguiam não era tão bem
pilotado. Leia viu-o se chocar contra a torre e virar uma bola
de fogo.
A Falcon rodopiou e voou paralelamente ao chão
novamente, mas apenas por alguns segundos antes de
Lando subir quase em linha reta.
Leia olhou e percebeu que estavam levando vantagem
sobre seus perseguidores. Desafivelou-se da torre.
Apressou-se em chegar à cabine de controle. 3PO a seguiu,
tagarelando sobre algo que ela ignorava.
Lando suava quando Leia chegou.
– O que você está fazendo?
– Salvando a nossa vida – disse ele. – Usei todos os
truques do manual, além de alguns que inventei, e não
consegui passar por esses caças. Eram muitos deles. E era
apenas uma questão de tempo até que nos derrubassem.
– E Boba Fett?
– Eu o perdi de vista.
– Ele provavelmente está tentando correr para o
hiperespaço. Luke e o Esquadrão Rogue... – Ela parou assim
que notou o problema.
– Sim – disse Lando. – Nossa comunicação caiu. Não
podemos chamar Luke para pedir que persiga Boba Fett.
– Talvez possamos dar a volta – disse ela.
Ele balançou a cabeça.
– Ele já estará muito longe.
Chewie chegou e fez uma pergunta.
– Não – disse Lando. – Desculpe, amigo.
Chewie expressou raiva.
– Sim, eu também – disse Lando. – Mas não faria bem
nenhum a Han que fôssemos jogados pelos ares.
Leia sentiu um grande peso cair sobre ela. Como um
cobertor feito de chumbo macio, pressionado contra seu
corpo; mal conseguiu sentar-se sem se curvar.
Han. Eu sinto muito...
– Ouça – disse Lando. – Eu não quero jogar combustível
de foguete em um prédio em chamas, mas nós nem
sabemos com certeza se Han está naquela nave. Boba Fett
pode tê-lo escondido em algum lugar.
Leia não conseguia falar. Era muito esforço.
Chewie disse algo.
– Chewbacca está certo – disse 3PO. – Mais cedo ou mais
tarde mestre Han será entregue a Jabba. Nós podemos
voltar a Tatooine e esperar. Acho que é uma ideia muito
boa.
Ninguém falou por um momento.
3PO continuou:
– Bem, pelo menos estamos vivos.

Luke quase deu um soco em Dash; fez o máximo que


pôde para conter-se.
Wedge viu e disse:
– Calma, Luke.
Dash, se estava preocupado, não demonstrou. Ficou ali,
relaxado, e deu de ombros.
– Você simplesmente os deixou lá?
– Ei, garoto, eu fui pago para mostrar onde estava a
Slave. Mostrei. Meu trabalho estava feito. Se eles queriam
que eu fizesse qualquer outra coisa, deveriam ter me
contratado para ela de antemão.
– Se algo acontecer a eles...
– O quê, garoto? Você vai atirar em mim? Eu não os
obriguei a ir até lá. Fui contratado como guia, então guiei,
fim da história. – Ele deu as costas e foi embora.
Wedge manteve uma mão no ombro de Luke.
– Não faça isso, Luke. Isso não vai ajudá-los.
– Talvez não, mas vai fazer com que eu me sinta bem
melhor!
Mesmo enquanto sentia a raiva fluir por dentro dele,
Luke sentiu uma frieza, uma espécie de... malícia. Sabia o
que era.
Obi-Wan o tinha avisado. Não podia ceder à sua raiva. Se
o fizesse, o lado sombrio estaria lá para invocá-lo. Podia
senti-lo esperando, pronto para enchê-lo com suas energias
áridas e impuras. Podia sentir que, se permitisse sua
entrada, ganharia habilidades que não possuía, poderes que
mortais comuns não conseguiriam sustentar. Seria capaz de
pôr Dash Rendar de joelhos com um gesto...
Não. Nem pense isso. Ceder ao lado sombrio seria tornar-
se alguém como Vader, como o Imperador; tornar-se o que
ele sempre combatera.
Respirou fundo, e, ao deixar o ar sair, grande parte de
sua raiva fluiu com ele. Dash até estava certo em um ponto:
não forçara ninguém a fazer nada.
Um dos operadores dos sensores correu até onde eles
estavam.
– Uma nave está chegando – disse ele. – Sem
comunicações, mas os sinais mostram que é um cargueiro
Corelliano.
A Millennium Falcon! Eles estavam vivos!
– Estão a cerca de quinze minutos – disse o homem.
Luke sentiu um grande alívio. Leia. Ela estava bem. Ainda
que acreditasse que fosse sentir algo se alguma coisa
acontecesse com ela, era um alívio ouvir que a nave estava
inteira.
– Isso nos dá alguns minutos – disse Wedge. – O que
dizem de irmos ver o que podemos arrancar daquela
unidade R2 malandra?
– Boa ideia – disse Luke.
No entanto, quando chegaram ao local onde o droide
astromech havia sido ancorado, encontraram uma pilha de
detritos fumegantes.
Alguém tinha explodido o droide.
Luke virou-se, olhando para a chefe dos mecânicos que
deveria estar cuidando da unidade. Encontrou bem rápido a
mulher. Ela estava apontando uma pistola de raios para ele.
Luke viu Wedge alcançar sua pistola. Gritou:
– Não!
Tarde demais.
A chefe notou que Wedge tentava pegar a arma, virou-se
um pouco e disparou contra ele. O raio chiou entre Luke e
Wedge, e por centímetros não acertou Luke. Ele sentiu o
cheiro do ar ionizado e queimado quando saltou para o lado.
Wedge não tinha escolha. Seu raio a atingiu bem no meio
do corpo e jogou-a para o lado.
O cheiro de queimado ficou mais forte e mais
desagradável.
Quando Luke chegou perto dela, viu que a chefe não
responderia a mais nenhuma pergunta. Nunca mais.
– Bem. Acho que sabemos quem reprogramou o droide –
disse Luke, com a voz calma. – Eu teria gostado de saber o
porquê.
Wedge balançou a cabeça.
– Talvez possamos descobrir. Vou ver o que o computador
de operações tem sobre ela.
– Faça isso.
Apenas alguns minutos depois, a Millennium Falcon
pousou na lua. Uma vez segura e fora da vista dentro do
hangar, a escotilha se abriu e a rampa baixou. Lando e
Chewie desceram por ela, seguidos por 3PO. Onde estava...?
Lá estava ela. Tinha um aspecto terrível. Caminhou como
se tivesse mil anos de idade.
– Leia?
Seu rosto era um estudo sobre a miséria. Luke foi até ela,
abraçou-a, mas ela estava mole em seus braços.
– O que aconteceu?
– Boba Fett fugiu – disse ela.
Atrás deles, Lando disse:
– Sim, e tivemos sorte de escapar. O lugar estava cheio
de caças TIE. Sinto muito, Luke. Eu tentei.
Chewie balançou a cabeça e disse algo.
Luke assentiu. Ele se virou, um braço ainda em torno de
Leia. Segurá-la assim trazia à tona todo tipo de emoções
conflitantes. Como se já não fosse o bastante ter de lidar
com Vader, a Força e o lado sombrio, a maneira como se
sentia em relação a Leia era todo um outro universo ainda
insondável.
– Vamos – Luke disse a ela. – Pensaremos em outra coisa.
Leia estava deprimida, mas a notícia do droide avariado
rompeu o manto de desespero que a encobria. Aquilo a
assustava.
Quando Wedge e Lando voltaram, após checarem os
dados da ex-chefe dos mecânicos através do opcomm,
estavam sombrios.
– O quê? – perguntou ela.
– Bem – disse Wedge –, parece que houve uma
transferência de dez mil créditos para a conta da chefe
poucos dias atrás, logo depois de o Esquadrão Rogue ter
chegado aqui. Lando conseguiu acessar a conta, usando,
uh, um código de comando substituto emprestado.
– E...?
– O dinheiro veio de uma empresa fantasma – disse
Lando. – Eu consegui rastreá-la até mais duas empresas
falsas. Acabava em algo chamado Saber Enterprises. Pelo
que sei, Saber é uma organização de fachada para
operações secretas de contraespionagem e infiltração do
Império.
– Você acha que alguém pagou a chefe para manipular o
droide a atirar em Luke? – perguntou Leia.
– De outra forma me parece que seria muita coincidência
– disse Lando.
Leia assentiu.
– As marcas dos dedos enluvados de Vader estão por
toda a parte.
Luke balançou a cabeça.
– Isso não faz nenhum sentido.
– Por que não?
– Ele me quer vivo – disse Luke. – Ele quer que eu me
junte ao Império.
– Talvez tenha mudado de ideia – disse Lando.
Leia olhou para longe. Isso era ruim. Havia perdido Han,
talvez para sempre (não, não pense nisso), e não queria
perder Luke também. Ele era muito importante, não apenas
para a Aliança, mas para ela própria.
Ela amava Han, porém também amava Luke. Talvez não
da mesma maneira, mas não queria vê-lo ferido. Tinha um
pressentimento sobre aquilo, uma... intuição. O atentado
contra a vida de Luke era apenas a ponta de algo muito
maior, algo escondido sob uma grande profundidade de
águas escuras. Precisava descobrir o que era e impedi-lo.
– Tem outra coisa – disse Lando. – A conta da chefe tinha
um arquivo de crédito pendente, da mesma empresa
fantasma.
– O que quer dizer? – perguntou Luke.
– Que provavelmente haveria outra transferência de
fundos. Meu palpite é de que os dez mil eram apenas um
pré-pagamento. Se você tivesse se explodido lá fora, acho
que uma quantia muito maior teria acabado na conta da
chefe. É claro que isso suscita um monte de perguntas, não
é?
Lando olhou para Wedge.
– Ela ia atirar em Luke – disse Wedge. – A segunda regra
de autodefesa é atirar primeiro e perguntar depois.
Leia se virou e olhou para Lando.
– Qual é a primeira regra?
– Esteja em outro lugar quando o tiroteio começar.
Entreolharam-se. O que significaria isso tudo?

Xizor sabia que fazer exercícios era necessário, essencial


para preservar uma excelente saúde; além disso, ajudava a
manter os subalternos na linha, uma vez que soubessem
quão fisicamente poderoso ele era. Praticava artes marciais
de vez em quando, mas estava ciente de que não era o
bastante. E exercícios o aborreciam. Odiava fazê-los. Por
isso ele estava sentado na unidade myostim quando Guri
veio vê-lo. A unidade era bastante simples, um campo de
sensores acoplados a um teledifusor eletromioclônico
informatizado ajustável. Era só ligar, definir o nível e a
unidade myostim trabalhava seus músculos, forçando-os a
contrair e relaxar em sequência. Ali era possível tornar-se
mais forte deitado, e desenvolver massa poderosa sem ter
de fazer qualquer trabalho pesado. Um grande brinquedo.
Guri pareceu se materializar do nada.
Xizor ergueu uma sobrancelha enquanto suas coxas se
contraíam em duros nós, relaxavam e então se contraíam
novamente.
– O primeiro atentado contra a vida de Skywalker falhou.
A chefe dos mecânicos subornada está morta.
Xizor balançou a cabeça enquanto suas panturrilhas
endureciam e suavizavam-se sob o estímulo elétrico.
– Não é uma surpresa. Sabíamos que o menino era
extremamente sortudo.
– Ou hábil – disse Guri.
Xizor deu de ombros enquanto seus pés se apertavam e
afrouxavam.
– Tanto faz. Estive pensando no assunto. Permita que os
nossos agentes prossigam, agradando-os tanto quanto seja
necessário. Garanta que pareça que estão a serviço do
Império, ligados diretamente a Vader. Se atingirem
Skywalker, bom. Se não, tenho outra ideia que pode ser
ainda mais benéfica para nós.
– Como quiser.
Ele fez um gesto com um braço quando a onda de
estímulos começou a subir de volta das suas pernas até a
sua barriga.
– Essa não é nossa única preocupação. Temos um
negócio para tocar. – Parou por um instante e, quando falou
novamente, havia um toque aguçado em sua voz. –
Transportes Ororo.
Guri assentiu.
– Eu não acredito que o Sindicato Tenloss saiba que Ororo
está tentando assumir o controle de nossas operações de
especiarias no Setor Baji. Suponho que poderíamos deixá-
los cientes disso e permitir que lidem com a informação,
mas não combina comigo. Quero que você vá até lá e
reúna-se com Ororo. Indique nosso... descontentamento
com a sua ambição.
Guri balançou a cabeça novamente.
– Antes de sair, abra um canal de comunicações com
Darth Vader. Gostaria de vê-lo quando lhe for conveniente.
– Sim, meu príncipe.
– Isso é tudo.
Ela saiu, e Xizor observou seu estômago nu tremer sob a
contração estimulante, formando retângulos simétricos e
arredondados. Gordura alguma revestia seus músculos.
Enviar Guri para lidar com Ororo era necessário; a
ganância nunca dormia, e cabia a Xizor garantir que todo
mundo soubesse que tentar enganar o Sol Negro era
cortejar a ruína. Guri, sozinha, provavelmente seria
suficiente para colocar os líderes da empresa de transporte
na linha de novo, mas Xizor nunca dava um tapa com as
costas da mão quando um punho fechado seria mais
eficiente. Ao prejudicar um inimigo, deve-se prejudicá-lo o
suficiente para que ele não possa retaliar; essa era uma
verdade simples.
Ele tinha planos para Ororo, planos que não só o
castigariam por sua estupidez, mas também ampliariam os
objetivos de Xizor em outras frentes. Tudo na galáxia era
interligado; uma faísca aqui poderia virar uma conflagração
lá, se se soubesse como fazer os ventos soprarem
corretamente. Ele estava sempre à procura de ligações,
sempre verificando para ver como um evento daquele lado
da galáxia poderia ser usado para servir aos seus fins deste
lado. Como em um hologame tridimensional, havia
pequenos movimentos que se somavam a outros maiores;
um empurrão preciso no lugar certo e no momento exato
poderia, em teoria, derrubar uma montanha. E era sua
especialidade saber quando e onde empurrar.
Sim. Ororo pagaria por sua temeridade, e de maneiras
que nem poderia começar a imaginar.
Reclinou-se na poltrona e permitiu que as máquinas
myostim o deixassem mais forte.

Darth Vader encarava o holograma do droide humano de


Xizor, Guri.
– Muito bem – disse ele. – Avise a seu mestre que o verei.
Tenho negócios no aerogancho do Imperador. Faça com que
ele me encontre lá em três horas- -padrão.
Vader cortou a ligação. O que Xizor queria? Fosse o que
fosse, não acreditava nem por um segundo que tinha algo a
ver com servir ao Império; a menos que servisse também ao
próprio Xizor.
O Lorde Sombrio dos Sith perambulou pelas entranhas de
seu castelo até onde era mantido o seu transporte pessoal.
Poderia ter tomado o turboelevador para o aerogancho; a
maioria dos passageiros e da carga era transferida para os
gigantescos satélites em órbita através de suas conexões
com a superfície do Centro Imperial; mas ele não havia
permanecido vivo por todo aquele tempo tomando riscos
tolos. Os elevadores dos aeroganchos raramente
funcionavam mal, no entanto eram vulneráveis a ataques,
tanto de dentro como de fora. Não; melhor estar no controle
de sua própria embarcação blindada, de onde o lado
sombrio, bem como o canhão laser, poderiam ser liberados,
se necessário.
Enquanto caminhava por um de seus corredores isolados,
Vader considerou outro problema. Por enquanto, o
Imperador não queria que ele caçasse Luke Skywalker, ao
menos não pessoalmente. Embora o Imperador ainda não
houvesse falado diretamente, a construção da nova e mais
poderosa Estrela da Morte estava atrasada. Os responsáveis
apresentavam muitas desculpas: material, trabalhadores,
planos constantemente alterados. O Imperador começava a
ficar impaciente. Vader estava bastante certo de que seria
apenas uma questão de tempo até que o Imperador o
mandasse supervisionar o projeto em atraso. Era incrível
como um general que arrastava os pés quando fora da vista
do Imperador aprendia a correr assim que recebia a visita
de alguém capaz de invocar o lado sombrio. Esses oficiais
imperiais que zombavam da Força faziam-no por ignorância.
Aqueles que não temiam o poder de Darth Vader eram
também aqueles que nunca haviam ficado cara a cara com
ele.
Vader não concordava que a Estrela da Morte fosse a
arma invencível e onipotente que seus engenheiros haviam
prometido ao Imperador. Já ouvira aquela história antes, e
as mal equipadas Forças Rebeldes tinham revelado quão
falsa era aquela promessa com a primeira Estrela da Morte.
Não, isso não era totalmente verdade. Fora Luke
Skywalker quem dera o golpe mortal, provando, para a
satisfação de Vader, que a Força era mais poderosa do que
a mais sofisticada e mortal tecnologia. Mas o Imperador não
estava de acordo, e não havia nada a ser feito quanto a
isso. Também não havia nada a ser feito quanto a ter de
esperar ali. O que o Imperador desejava era lei.
Vader chegou à baia da nave auxiliar. Um guarda estava
de pé na porta.
– Minha nave está pronta para lançamento?
– Está, Lorde Vader.
– Bom.
O tratamento dispensado aos técnicos responsáveis pela
nave quando Vader desejara utilizá-la e não a encontrara
pronta havia se tornado um exemplo: fora o suficiente para
impedir que a situação se repetisse.
Vader passou direto e marchou em direção à sua nave.
Muito bem. Não podia procurar Luke em pessoa, mas
podia arranjar para que outros o fizessem. Tais engrenagens
já estavam em movimento. Uma enorme recompensa e a
gratidão de Darth Vader foram oferecidas para quem
trouxesse Skywalker vivo até ele. Isso teria que servir por
agora.

– Por que eu? – disse Luke.


Estavam ao lado da Falcon. Techs de apoio do Esquadrão
Rogue entravam e saíam da nave, reparando os danos
causados durante a tentativa fracassada com a nave de
Boba Fett. O grande prédio improvisado não ficara nem um
pouco mais quente desde que haviam chegado.
Leia disse:
– Porque é sua terra natal e é você quem a conhece
melhor. Alguém precisa estar lá para ficar de olho em Boba
Fett. Você precisa praticar suas habilidades Jedi, e precisa
de um lugar calmo para fazê-lo. Você é a escolha lógica.
Luke balançou a cabeça. Não tinha gostado. E não
achava que Leia estivesse sendo completamente franca
com ele.
– Seu negócio com a Aliança não pode esperar? –
perguntou.
– Não. Leve R2 e volte à casa de Ben. Lando, Chewie,
3PO e eu iremos encontrá-lo lá assim que eu tiver
terminado.
Luke suspirou. Ela provavelmente estava certa, mas isso
não tornava nada daquilo mais fácil.
– Está certo. Mas você deve ter cuidado.
Depois de Luke ter decolado em seu X-wing, levando
consigo R2 (era uma longa viagem e haviam embalado
alimentos e água para ele, que desejava muito tomar um
banho quando chegasse lá), Leia falou com Dash Rendar.
– Você está disponível para um trabalho? – perguntou a
ele.
– Querida, eu estou sempre disponível se o dinheiro for
bom.
– Quero que você vá para Tatooine e fique de olho em
Luke.
Dash levantou uma sobrancelha.
– Guarda-costas? Claro, posso fazer isso. O garoto não
vai gostar se descobrir.
– Então, fique fora de vista – disse Leia. – Alguém tentou
matá-lo e acho que tentarão de novo. Quanto?
Dash mencionou um número.
Lando assobiou.
– Cara, isso é um assalto, hein?
– O melhor não é barato, Lando. De antemão, Princesa.
Leia sorriu.
– Você acha tão pouco de mim, Dash? Pareço tão
estúpida? Um terço agora, dois terços quando nós
chegarmos; se ele ainda estiver vivo.
– Eu não posso garantir isso.
– Pensei que você fosse o melhor.
Dash sorriu.
– Eu sou. Metade agora, metade quando chegarem lá.
– Está bem.
Depois de pagar a Dash e ele partir, Leia virou-se para
Lando.
– Ok. Deixe-me fazer uma pergunta hipotética.
– Se não se importa com uma resposta hipotética, vá em
frente.
– Qual seria a melhor maneira de entrar em contato com
alguém do alto escalão do Sol Negro?
Lando olhou para Leia como se ela tivesse acabado de
dizer que conseguia voar sacudindo os braços. Ele balançou
a cabeça.
– A melhor maneira? Não fazer isso.
– Vamos, Lando. Isso é importante.
– Princesa, o Sol Negro é sempre péssima notícia. Você
não quer se meter com eles.
– Eu não estou pensando em me meter com eles. Só
quero investigá-los um pouco.
– O quê?
Leia disse:
– Alguém acabou de tentar matar Luke. Talvez tenha sido
Vader. Talvez não. O Sol Negro tem uma vasta SpyNet
própria, mais antiga, quem sabe até maior do que a da
Aliança. Eles podem descobrir quem é o responsável.
Chewie meio que grunhiu, meio que gemeu alguma
coisa.
– Estou com você, amigo – disse Lando. Trocou olhares
com Chewie. – Isso é um grande erro.
Leia continuou:
– Mas você tem as conexões e pode me colocar em
contato com eles, certo?
– Continua sendo péssima ideia.
– Lando...
– Sim, sim. Eu conheço algumas pessoas.
Ela sorriu.
– Bom. Onde as encontramos?
O aerogancho do Imperador era mais largo que o de
Xizor e muito mais opulento. O Príncipe das Trevas preferia
manter seus melhores tesouros na terra; achava que
estariam mais seguros lá. Não que houvesse qualquer
perigo real de um aerogancho cair do céu. Isso havia
acontecido em Coruscant, mas somente uma vez em cem
anos, e graças a uma combinação bizarra de falha de
energia, tempestade solar e colisão com uma nave-
cargueiro.
No entanto o Imperador possuía muito mais tesouros do
que qualquer outra pessoa na galáxia, e até mesmo a perda
de um aerogancho do tamanho de uma cidade seria apenas
um pequeno balde subtraído de seu vasto mar.
Xizor estava de pé em um vasto terraço elevado, com
ampla vista para o parque central do enorme hábitat
espacial. Seus guarda-costas, agora em um grupo de doze,
formavam um semicírculo a partir da beirada das varandas,
com Xizor sozinho em seu centro. Dali ele observava
grandes sempre-vivas e árvores de folhagem efêmera,
algumas com mais de trinta metros. A seção do parque
imediatamente abaixo dele fora plantada e climatizada para
simular uma selva fecunda, com uma profusão de flores
coloridas, vermelho-elétricas, azul-brilhantes e laranja-
fosforescentes em meio a tons verdes, que iam desde o
mais pálido dos verdes até uma videira de folhas largas
cujas folhas lustrosas eram quase pretas.
Xizor não ligava muito para botânica, mas sabia
reconhecer um bom trabalho quando o via. Talvez pudesse
aliciar o jardineiro do Imperador para seu próprio
aerogancho, pensou.
Sentiu a aproximação de Vader antes mesmo que o visse
ou escutasse. O homem tinha uma presença, sem dúvida.
Xizor virou-se e ofereceu uma pequena mesura.
– Lorde Vader.
– Príncipe Xizor. Você tinha algo a se discutir?
Sem conversa fiada polida, sem sutilezas sociais. Puro
Vader. Quase refrescante, dados alguns dos bajuladores que
Xizor costumava encontrar. Quase.
– Sim. A localização de uma base rebelde secreta chegou
ao meu conhecimento. Presumi que você gostaria de saber
disso.
Vader ficou em silêncio, exceto por sua respiração
mecânica, comedida, que de repente pareceu bastante alta.
Xizor quase podia ver o cérebro de Vader trabalhando,
medindo, calculando... Tentando decifrar: o que pretenderia
o chefe do Sol Negro?
Xizor manteve o rosto cuidadosamente neutro para as
holocâmeras de gravação, que ele sabia estarem por perto.
As suas, do Imperador, de Vader e de quem mais pudesse
ser bom o bastante a ponto de passar pela segurança do
Imperador para espioná-los.
– É claro – disse Vader, enfim. – Onde está essa base?
– No Setor Baji, na Orla. O Sistema Lybeya, escondido em
um dos maiores Asteroides Vergesso. É de meu
entendimento que existe um estaleiro cheio de naves
enviadas para reparos. Dezenas, talvez centenas de naves
rebeldes, que vão de caças a naves para o transporte de
tropas.
Vader não disse nada.
– A destruição de tal base, sem dúvida, prejudicaria
muito a Aliança – continuou Xizor. Uma avaliação
subestimada, apresentada da forma mais natural do mundo.
Mais uma vez, um silêncio prolongado. E então:
– Mandarei meus agentes verificarem – disse Vader. – Se
é como você diz, então o Império estará... em débito com
você.
Oh, devia ter doído dizê-lo. Xizor deu a Vader um aceno
cortês.
– Simplesmente o meu dever, Lorde Vader. Nenhum
agradecimento é necessário.
Ele quase podia sentir Vader se contorcendo. Ter de
dever a Xizor provavelmente o irritara. Mas o que poderia
fazer? Se esse relatório fosse verdade (e certamente o era),
seria uma oferta suculenta e madura. Os Rebeldes não
dispunham de tantas naves para poder se dar ao luxo de
perder algumas, muito menos um estaleiro inteiro cheio
delas. Esse realmente era um serviço ao Império.
Se o estaleiro fosse, sem que os Rebeldes ou o Império
soubessem, de propriedade da Ororo Transportes, a mesma
empresa que ousara se meter nas operações de especiarias
do Sol Negro naquele setor, bem, tanto melhor. Aqui estaria
outra forma de espetar duas enguias com uma só lança: a
Ororo seria bastante prejudicada, e, ao mesmo tempo, a
confiança do Imperador em Xizor, muito reforçada.
Realmente era um vagalhão de maldade que não
deixaria bem algum sobre a terra.
Vader virou-se e saiu, a capa preta ondulando às suas
costas. Os guarda-costas de Xizor prudentemente deram
vários passos para o lado para lhe dar passagem.
Vader teria de verificar o que fora reportado. O
Imperador enviaria forças à base. Com um pouco de sorte,
Vader seria enviado, levando em conta a disposição do
Imperador sobre tais coisas: você descobriu, você que cuide
do problema. Isso deixaria Vader fora do caminho e
permitiria que Xizor tivesse um pouco mais de liberdade
para continuar dando andamento ao seu plano.
Ele se virou e olhou para a selva em miniatura logo
abaixo. Esquemas eram como plantas, sob vários aspectos.
Você as punha onde queria, as nutria e regava, podava
quando preciso, e então cresciam como o esperado. De um
modo geral.
Gesticulou para um de seus guarda-costas.
– Meu lorde?
– Descubra quem é responsável por isso. – Indicou o
parque. – Ofereça-lhe o dobro dos créditos que ele recebe
para ir trabalhar no meu aerogancho.
– Meu lorde. – O guarda-costas curvou-se e saiu
apressado.
Xizor respirou fundo e inalou o ar rico em oxigênio e com
aroma da selva. Tinha um cheiro muito vivo, como de
cogumelos molhados, musgos, folhas e ervas frescas
misturados em um belo aroma. Muito vivo, como ele próprio
se sentia sempre que manipulava as coisas a seu contento.

Luke cobriu o X-wing com a camu-rede e deu um passo


para trás, para junto de R2.
– Pronto. Isso deve servir.
Do alto, a nave certamente era invisível, e, com todos os
seus sistemas de energia desligados e offline, uma rápida
varredura aérea não a encontraria. Não que ele estivesse
particularmente assustado após o incidente com a chefe dos
mecânicos; mas era bom senso não deixar que os
transeuntes soubessem que havia uma nave da Aliança
parada ali.
O calor se elevava do chão em ondas cintilantes e os sóis
ferviam e ofereciam ainda mais luz e calor do que o deserto
podia absorver. Os reflexos na areia eram actínicos e
brilhantes, e Luke teve de cerrar os olhos para proteger-se
contra a luz forte. Não estava muito preocupado com que
alguém passasse por ali por acaso; ninguém ia até lá sem
uma boa razão.
Voltou andando para a casa (ainda pensava nela como a
casa de Ben), com R2 rolando pelo chão acidentado atrás
dele. O pequeno droide apitava e assobiava para ele.
Parecia preocupado, e Luke achou que estivesse falando de
Leia e dos outros.
– Sim, eu sei, eu me preocupo com eles, também. Mas
ficarão bem.
Assim esperava.
Já dentro da casa, Luke tocou um controle, e um painel
de pedra-sin no teto curvado deslizou para trás, expondo os
painéis solares escondidos sob ele. A casa havia sido
mantida com a bateria em modo reduzido enquanto não
estivera lá, e não estava muito mais fresco do lado de
dentro do que do lado de fora. Com os painéis subitamente
alimentando o sistema com mais energia do que precisava,
o ar-condicionado foi ativado e uma brisa fresca de boas-
vindas soprou pela pequena casa.
Luke sentia-se sujo após o longo voo. Despiu-se e tomou
um banho demorado. Felizmente, os condensadores de
água tinham enchido os tanques subterrâneos enquanto ele
estivera fora, e havia água suficiente para ensaboar-se e
enxaguar-se duas vezes. Quando terminou, sentia-se bem
melhor. Fora um longo salto desde Gall e ele estava ansioso
para esticar-se e dormir em uma cama, para variar.
Mas, talvez, apenas desse os toques finais nas facetas da
joia do sabre de luz antes disso. Havia muito no que pensar,
e achou que não conseguiria dormir de imediato; coisas
demais zumbindo ao redor de sua cabeça. Poderia muito
bem fazer algo útil.
Vestiu um roupão e foi até a mesa de trabalho.

– Rodia? – disse Leia.


– Rodia – disse Lando.
Estavam na Falcon, movendo-se através do hiperespaço.
Chewie dormia no beliche atrás do salão (o único comprido
o bastante para comportá-lo esticado), e 3PO estava
desligado. Por isso, restavam apenas os dois na cabine.
– Por que Rodia? Fica a um longo caminho daqui e a meio
caminho de Coruscant.
– Eu sei, mas é lá que meu contato está. Seu nome é
Avaro; ele é dono de um pequeno cassino no complexo de
jogos de Equator. O complexo é administrado pelo Sol
Negro. Avaro saberá quem contatar.
– Ok.
– Mas pode ser um pouco complicado.
– E por quê?
Lando balançou a cabeça.
– Bem, antes de Vader aparecer na Cidade das Nuvens e
entregá-lo a Boba Fett, havia outros caçadores de
recompensas à procura de Han. Descobri, quando
estávamos bisbilhotando em Mos Eisley, que um bandido
Rodiano chamado Greedo havia encontrado Han em uma
das cantinas por lá. Greedo ia atirar nele pela recompensa.
Houve um tiroteio. Han foi embora dali. Greedo, não.
– E daí?
– Greedo era sobrinho de Avaro.
– Você acha que ele irá usar isso contra nós? – perguntou
Leia.
– Talvez. Talvez não. Tudo o que sei sobre os costumes
Rodianos é que eles são ótimos na caça. Se alguém atirasse
no meu sobrinho, eu ficaria bem triste com os responsáveis.
– Nós não atiramos nele; Han atirou.
Lando sorriu.
– Bem, sim, isso é verdade. Mas nós somos amigos dele.
Leia recostou-se na cadeira. Sempre mais obstáculos.
Entretanto, talvez isso não fosse realmente um problema. A
única forma de saber era indo até lá.
À sua volta fluía o hiperespaço, enquanto a Falcon os
levava para o mistério que os aguardava.

Vader estava ajoelhado sobre um dos joelhos enquanto o


Imperador olhava para os pináculos da cidade através de
sua placa de observação. De repente, ele se virou.
– Levante-se, Lorde Vader.
Vader obedeceu.
– Então nossos agentes verificaram esse relato?
– Sim, meu mestre.
– Uma centena de naves rebeldes? E, sem dúvida, seus
pilotos e oficiais?
– Provavelmente, sim.
– Aquele é o setor do grand moff Kintaro, não? Ele foi
relapso ao permitir que esse tipo de base se estabelecesse.
Vamos falar com ele.
Vader não disse nada. Grand moff Kintaro estaria
provavelmente sem trabalho em breve e também
provavelmente sem respirar, para sempre.
– Bem. Você deve integrar a frota e ir para lá agora.
Destrua a base. A perda de naves e tropas será muito
prejudicial para os rebeldes.
– Pensei em mandar o almirante Okins para comandar a
expedição.
O Imperador sorriu.
– Pensou?
Vader sentiu sua esperança evaporar-se.
– Mas, se for seu desejo, liderarei o ataque.
– É o meu desejo. Pode levar Okins se quiser, mas você
deverá garantir pessoalmente o ataque.
Vader fez uma reverência.
– Sim, meu mestre.
Quando deixou a câmara particular do Imperador, Vader
estava irritado. A base estava lá, como Xizor tinha dito.
Seria uma vitória poderosa para o Império, e relativamente
fácil: naves sob reparos não seriam capazes de levantar voo
para defender-se; seria como abater aves em seus poleiros.
Mas ele não confiava no Príncipe das Trevas, e sabia que o
homem não fazia nada de graça.
O que Xizor queria com isso? O que esperava ganhar?
Vader refletia enquanto caminhava. Pelo menos não
havia contado ao Imperador quem tinha dado a localização
da base rebelde. Fizera com que as gravações das holocams
do aerogancho fossem apagadas e trancou suas próprias
gravações. Uma pequena vitória, mas qualquer triunfo
sobre Xizor era melhor do que nenhum.
Vader foi recebido na saída do Palácio Imperial pelo
almirante Okins.
– Prepare suas naves, almirante. Levarei a bandeira em
meu destróier.
Okins curvou-se.
– Imediatamente, Lorde Vader.
Vader olhou para o céu da noite sobre o Centro Imperial.
A escuridão era mantida a distância pelos milhões de luzes
na superfície, e lá no alto, onde o brilho esmaecia, os
pequenos pontos das naves espaciais chegando e partindo
pareciam um enxame de mosquitos-do-fogo Belvarianos,
vermelhos, verdes e os brancos piscantes dos faróis de
pouso ventrais. Levaria suas naves e esmagaria o estaleiro
rebelde, acabaria com ele e voltaria correndo para cá. Xizor
estava tramando algo e seria melhor se descobrisse logo o
que era.
Luke respirou fundo. Estava do lado de fora da casa de
Ben; as primeiras estrelas da noite brilhavam e a lua ainda
estava em ascensão. O ar estava quente, mas não
espantosamente quente como antes. Ele segurava o sabre
de luz concluído em sua mão direita. Luke o havia montado
de acordo com as instruções do velho livro; tudo deveria
funcionar.
Deveria funcionar. Ainda assim, ele foi para o lado de
fora da casa para testá-lo. Dessa forma, se explodisse, pelo
menos não levaria a casa de Ben consigo.
R2 estava por perto, observando. Luke poderia fazer o
droide experimentá-lo sem qualquer risco para si mesmo,
mas que tipo de Jedi faria isso?
– Volte para dentro – disse a R2.
R2 não ficou feliz com a ordem e fez questão de dizê-lo,
concluindo com um som de ar-passando-por-lábios-de-
borracha.
– Vá. Se algo acontecer, preciso que você conte a Leia.
Sim. Conte a ela que Luke, o maior idiota da galáxia,
incinerou-se instantaneamente até virar uma bolota preta
porque não soube seguir um esquema de circuitos
elementar.
R2 partiu, assobiando seu protesto enquanto andava.
Luke deixou escapar o fôlego. Esperou até que R2
estivesse fora do alcance da vista, respirou fundo, segurou a
arma com firmeza e pressionou o botão de controle.
O sabre de luz brilhou; a lâmina distendeu-se até seu
comprimento total, de pouco menos de um metro, e
começou a zumbir com a energia. Emitia um halo verde
muito brilhante naquele início de noite.
Luke sorriu e deixou a respiração sair. Ufa.
Bem, não era como se ele realmente tivesse achado que
aquilo fosse explodir.
Moveu a lâmina no ar, experimentando. Tinha um bom
equilíbrio, talvez até melhor que o de seu primeiro. Ficou em
posição de prontidão, deslizou para a frente e começou uma
série de golpes para baixo, alternando da esquerda para a
direita e para trás.
Sim!
Havia uma torre fina de rocha que se projetava acima da
terra seca a poucos metros de distância. Caminhou até ela,
ergueu o sabre de luz e o chicoteou em um ângulo de
quarenta e cinco graus. A lâmina zumbiu e crepitou,
cortando um naco de rocha do tamanho de seu punho e
deixando um corte liso.
Ele assentiu e relaxou a posição de combate. Levou a
mão esquerda para perto da lâmina. Nenhuma sensação de
calor; isso era bom: significava que os supercondutores
estavam funcionando.
Atrás dele, R2 apitava e deslizava pelo caminho até parar
perto de Luke.
Luke cortou a energia do sabre de luz. Viu o droide e
balançou a cabeça. Tinha uma mente própria, esse R2.
– Ei, ele funciona muito bem – disse Luke. – Eu sabia que
funcionaria, você sabe.
Teria R2 assobiado algo em um tom sarcástico?
Luke riu. Bem, não importava. Ele havia construído
aquela arma elegante, e ela funcionava. Era alguma coisa.
Talvez aprendesse a ser um mestre Jedi, afinal.
Olhou para as estrelas. Esperava que Leia e os outros
estivessem bem.

Leia, Chewie e Lando estavam sentados no escritório


particular de Avaro, encarando-o do outro lado de uma
grande mesa feita de algum tipo de osso amarelado
esculpido.
A pele de Avaro era esmaecida, esverdeada; ele era
muito mais gordo do que a maioria dos Rodianos que Leia já
tinha visto e falava a língua básica com um sotaque
balbuciante.
– Eu não vezzo proublemazz – disse ele. – Gweedo não
deveria ter tentado azzertar Zzolo zzozzinho. Ele não era lá
muito ezzpeurto, meu zzobrinho. Zzolo ezztá conzzelado,
Kenobi ezztá mourto, zzeu dinheiro é tão boum quanto o de
quaizzquer outrazz pezzoazz.
Bem, ele pouco ligava para os laços familiares. Isso
tornava as coisas mais fáceis, embora ela preferisse que
Avaro falasse alguma língua na qual fosse mais proficiente.
Mas não imaginava qual, levando em conta que seu Rodiano
era rudimentar. Ah, tudo bem. Conseguia entendê-lo com
algum esforço e isso era o necessário.
– Então você vai nos colocar em contato com as pessoas
certas?
Avaro assentiu.
– Zzim. Vai levar algunzz diazz. Contatozz locaizz não vão
zzervirr de nada para vozzêzz, vozzêzz prezzizzaum de um
reprezzentaunte de fora do planeta.
– Tudo bem.
– Enquanto izzo, zzintaum-zze livrezz para dezzfrutar
nozzo cazzino. Quartozz zzerão dizzpounibilizzadozz para
vozzêzz.
Leia assentiu.
– Obrigada.
Se Mos Eisley era ruim, esse local era pior, pensou Leia,
enquanto deixavam o escritório de Avaro e caminhavam em
direção à seção do hotel. Havia dispositivos de jogos
eletrônicos, jogos de cartas, rodas da fortuna e similares,
com jogadores, carteadores e operadores ocupados;
contudo o chão era desgastado e sujo, o ar cheio de fumaça
e um fedor apimentado que indicava que alguns dos
clientes deviam ser quimicamente aprimorados. Ou
quimicamente debilitados, dependendo de como se vissem
as coisas. Grandes guardas armados passavam em
intervalos regulares, procurando, imaginou ela, alguém em
quem atirar. Tudo parecia decadente e desarrumado.
Lando relanceou ao redor com um olhar crítico.
– Gostou de alguma coisa? – disse Leia.
Um ou dois dos jogos de cartas tinham uma aparência
até honesta. Um lugar como aquele, em um complexo com
tantos outros cassinos, praticamente tinha que render
várias vitórias aos jogadores. A percentagem da casa
garantia um bom lucro, e se não existirem alguns
vencedores vez ou outra os clientes iriam para outro lugar.
Mas era melhor ficar longe das máquinas de disco de
crédito e das roletas. Essas provavelmente seriam
fraudadas.
– Não se preocupe, eu não aposto.
Lando sorriu.
– Algo engraçado?
– Princesa, você é a maior apostadora que eu já conheci.
Mas você não arrisca dinheiro, você arrisca o pescoço.
Leia também teve que sorrir um pouco com isso. Ele
tinha certa razão.
3PO esperava na entrada e não parecia feliz por estar lá.
Ficou aliviado ao vê-los voltar.
– Espero que a reunião tenha corrido bem – disse ele.
– Sim, correu – respondeu Lando. – Mas acho que vamos
levar você para traduzir para nós da próxima vez. Avaro tem
um ligeiro problema com a língua básica.
– Feliz por servi-los – disse 3PO. – Eu prefiro ficar com
vocês a ficar aqui fora sozinho. Alguns dos clientes parecem
bem pouco saudáveis.
Leia sorriu novamente. Isso era um eufemismo.
– É melhor fazermos o check-in – disse Lando. – Depois
podemos descer e ver quão honesta é esta operação.
Quase uma semana-padrão tinha se passado desde o
encontro com o Imperador, e Darth Vader agora estava na
ponte de seu destróier estelar Superclasse, prestes a deixar
o hiperespaço. Haviam entrado no Setor Baji e logo estariam
no Sistema Lybeya. Na formação com ele estavam dois
destróieres estelares classe Victory e um classe Imperial,
com poder de fogo mais do que suficiente para destruir um
único estaleiro.
Melhor muito do que pouco, dissera o Imperador.
Vader não ficava particularmente alegre com aquele tipo
de missão. Era muito impessoal. No entanto, era também
uma parte necessária da guerra. O inimigo não poderia lutar
sem equipamento, e privá-lo disso era muito melhor a longo
prazo do que encontrá-lo em batalha, fossem quais fossem
as preferências pessoais de Vader.
– Estamos reduzindo para subluz, Lorde Vader.
Virou-se e viu um oficial subalterno ali de pé. Ouvira falar
que os oficiais tiravam a sorte quando chegava a hora de
entregar mensagens a ele, e o perdedor tinha que ir. Era
bom que o temessem. O medo era uma arma melhor do que
uma pistola ou um sabre de luz.
Vader ficou em silêncio, permitindo que o homem se
preocupasse por um momento.
– Muito bem – disse, por fim. – Trace uma rota para os
Asteroides Vergesso, usando as coordenadas para o
estaleiro. Estarei em meus aposentos. Chame-me quando
chegarmos lá.
– Sim, Lorde Vader.
Depois que o assustado oficial saiu correndo, Vader ficou
ali olhando o homem se afastar. Ele preferia estar caçando
Luke Skywalker a bancar o figurão em uma missão que
qualquer oficial de carreira com metade de um cérebro
poderia comandar. É verdade, ele tinha seus agentes de
campo (alguns voluntários, alguns recrutados), muitos dos
quais eram muito hábeis; mas não era o mesmo que agir
sozinho.
Soltou um suspiro particularmente difícil. Infelizmente,
não fora lhe dada uma escolha. O Imperador não pedia
opiniões quando emitia um comando.
O melhor que Vader podia fazer era se apressar e
terminar o mais rápido possível.
Dirigiu-se aos seus aposentos.

Lando estava sentado em uma mesa com outros cinco


jogadores de cartas, envolvidos em um jogo que Leia não
reconheceu. Cada jogador recebia do droide carteador sete
finos retângulos eletrônicos, podendo descartar até quatro
deles e em seguida pedir substitutos. O jogo parecia
envolver a separação dessas cartas em cores e números, e
então a aposta de que as combinações resultantes fariam
mais pontos do que as dos outros jogadores ou chegariam
perto de alguma soma ideal. Leia não tinha certeza sobre
essa parte ainda. Aparentemente, cada jogador recebia o
mesmo número de pontos em um contador para começar, e
o vencedor seria aquele que apresentasse o maior total ao
final da sessão.
Lando parecia estar indo bem no jogo. O contador
eletrônico em frente a ele mostrava um saldo positivo
superior ao de todos os demais, com exceção de um.
– A aposta é quinze – disse o droide. – A soma é mínima e
a cor está aberta.
– Igual – disse o careca ao lado do carteador. – Em verde.
– Igual, em azul – disse uma jovem Rodiana ao lado dele.
– O dobro – disse Lando. – Em vermelho.
Os demais jogadores gemeram.
Lando sorriu.
3PO estava por perto, observando, assim como Chewie.
3PO manteve a voz calma e disse:
– Eu não entendo como ele continua ganhando. Ele não
está jogando corretamente. As chances no jogo que ele
ofereceu são de oitocentos e seis para um. Seria muito
difícil conseguir essa combinação.
– Ele está blefando – sussurrou Leia.
3PO virou-se para olhar para ela.
– Isso não parece muito sábio.
Três dos jogadores jogaram suas cartas na bandeja de
recuperação.
– Claro que é – disse Leia. – Ele está ganhando e eles se
sentem intimidados. Em vez de se arriscar a perder mais,
eles preferem cair fora.
– Mas e se um dos outros jogadores tiver uma mão
superior e não cair fora?
– Observe – sussurrou ela.
Agora apenas Lando, o careca, e a fêmea Rodiana
continuavam na rodada.
– Igual – disse o careca.
– Mais um décimo – disse a Rodiana.
– Redobro – disse Lando. – Em vermelho, contagem
máxima.
– Ele não pode conseguir isso – sussurrou 3PO.
Chewie rosnou para ele.
– Que rude. Eu estava apenas dizendo a verdade...
– Fique quieto – disse Leia. Ela estava interessada em ver
como os outros reagiriam à manobra de Lando.
O careca balançou a cabeça e ofereceu suas cartas.
– Muito alto para mim.
A Rodiana olhou para as suas cartas, protegidas de forma
que Leia não as pudesse ver, e então olhou para Lando.
Lando sorriu para ela. A expressão era ao mesmo tempo
calorosa e zombeteira. Ele parecia satisfeito consigo
mesmo, confiante, até presunçoso.
Oh, ele era bom.
A Rodiana murmurou algo que Leia não captou, mas que
presumiu ser algum tipo de xingamento. Jogou as cartas na
coletora.
– Rodada para o jogador número três – disse o droide.
Lando jogou suas cartas dentro da coletora e virou-se
para sorrir para Leia.
3PO disse:
– Eu não posso acreditar nisso.
Leia disse:
– Às vezes, a aparência de força pode ser tão eficaz
quanto a própria força. Pense na serpente Bulano, que não
tem dentes, garras ou veneno, mas que pode se inflar até
ficar com cinco vezes o seu tamanho normal, parecendo
mais feroz e mais perigosa. Não importa de verdade se você
pode abater um adversário se ele acredita que você pode.
– Suponho que você tenha razão – disse 3PO, embora
não parecesse convencido.
Leia esperava que Lando estivesse se divertindo; ela não
estava. Estavam ali já havia três dias, e, como ela não
ligava para os jogos de azar daquela arapuca, nada lhe era
interessante. Tinha praticado com um eletrodicionário
Rodiano e aprendido algumas palavras e frases; além disso,
caminhara lá fora algumas vezes (com Chewie a seu lado
como uma sombra), o que também não era muito divertido.
Como Mos Eisley naquela época do ano, estava quente. No
entanto, ao contrário daquele lugar miserável, ali havia um
oceano não muito longe do complexo de jogos, de modo
que a umidade era muito maior. Por isso era quente e
pegajoso, dificilmente uma melhoria.
Podia, supôs, ir até essa massa de água e sentar-se em
uma praia ou algo assim. Avaro dissera que muitos turistas
faziam isso, nadando ou motossurfando enquanto seus
amigos ou parentes passavam um tempo nos casinos. É
claro que ficar sentada em uma praia, aproveitando a brisa
e uma bebida fria poderia ser divertido, mas provavelmente
não seria tão divertido com um Wookiee resmungando e
reclamando da areia em seu pelo.
Além disso, se algo acontecesse, queria estar presente.
Havia uma fileira de jogos de holotabuleiro montada em
um canto do cassino, com os jogadores apostando em suas
habilidades por lá, e Chewie parecia interessado, já que
ficava olhando naquela direção.
Ela balançou a cabeça.
– Vamos lá – disse a Chewie. – Você quer jogar, jogue. Eu
vou assistir e 3PO pode ficar atrás de você dando maus
conselhos.
O Wookiee ergueu as sobrancelhas.
Os três deixaram Lando e se dirigiram aos jogos de
tabuleiro. Incrível quão rápido o caminho se abrira para
eles. Leia não sabia se era por causa de sua ligação com
Avaro, que se dignava a passar pelo salão fedido de vez em
quando, ou porque Chewie ia na frente. Havia uma política
de “proibido tiroteio do lado de dentro”, assim haviam dito,
mas quase todo mundo parecia ostentar uma arma de
algum tipo, e a balestra de Chewbacca parecia
particularmente letal.
Ela ficou surpresa por aparentemente não haver
qualquer presença imperial. Nenhum stormtrooper, oficial
fora de serviço, nada. Talvez porque o Sol Negro tivesse
algum interesse no complexo.
Suspirou. Antes de alistar-se para ajudar a Aliança, nunca
havia se imaginado em um cassino de nona categoria
infestado de insetos, esperando ser contatada por um
representante da maior organização criminosa da galáxia.
Se alguém lhe tivesse dito isso alguns meses antes, ela
teria rido e sugerido que a pessoa procurasse um médico.
Tentar adivinhar seu próprio futuro dava errado quase o
tempo todo.
A vida era estranha desse jeito.
R2 disparou um crepitante feixe de eletricidade em Luke.
O ar matinal do deserto de Tatooine chiou com as faíscas,
que formaram um arco de dois metros de comprimento.
Luke, com a ajuda da Força, já havia ligado o sabre de luz
para bloquear o pequeno relâmpago artificial. A carga fluiu
em cascatas inofensivas pela lâmina.
– Muito fácil – disse ele.
R2 assobiou.
– Eu sei, eu sei, não é culpa sua você não ser Darth
Vader.
Luke relaxou um pouco. Demoraria alguns segundos para
que o capacitador que regulava o eletroaguilhão de R2
acumulasse sobrecarga elétrica suficiente para outra
descarga. Com a Força, era fácil desviar-se do raio azul; sem
a Força, Luke tomaria um choque enorme, pois não haveria
como desviar-se do relâmpago.
Não que houvesse algum perigo. A carga eletrostática
deixaria seu cabelo em pé e provocaria um pouco de
cócegas, mas, mesmo com quase duzentos mil volts, a
amperagem era tão baixa que não poderia fazer muito mais
do que isso, a menos que ele estivesse parado sobre uma
poça d’água.
E água empoçada era algo improvável nas Devastações.
Luke ouviu um zumbido distante. Um leve ruído, que
rapidamente tornou-se mais alto. Ele se virou e olhou para a
manhã do deserto.
Bzzzhhtttt!
Luke saltou um metro, depois desceu esfregando as
costas.
– Ei, au!
R2 fez um barulho, que Luke acreditou ser sua versão de
uma risada.
– Isso não é engraçado!
R2 apitou e assobiou, pontuando sua resposta com um
som similar ao de uma bola de ar sendo esvaziada.
– Eu sei que não falei para você parar, mas você me viu
virar de costas e olhar para longe!
R2 disse algo provavelmente depreciativo.
– Sim, bem, lembre-se disso da próxima vez que precisar
de um lubrificante.
R2 assobiou, subindo e descendo na escala.
Mestre Yoda estaria balançando a cabeça. Belo controle
Luke tinha sobre a Força. Um pequeno deslize na
concentração e puf!, ele sumia.
Luke rapidamente esqueceu sua irritação consigo mesmo
e o pequeno droide. Os sons estavam ficando mais altos e
ele podia ver uma trilha de poeira agora, apontando como
um cometa direto para ele. Motores.
Alguém estava vindo e parecia haver um monte deles.
– Talvez seja melhor ficarmos fora de vista – disse Luke. –
Esconda-se lá dentro, R2.
Com R2 em segurança na casa de Ben, Luke deu a volta
em uma colina arenosa e se agachou. Não podia sair
correndo toda vez que algum rato das dunas tossisse. Tinha
que ficar e ver o que estava acontecendo.
O barulho dos motores era agora uma algazarra cheia de
eco, e Luke finalmente reconheceu a fonte: swoops.
Swoops eram veículos repulsores longos e cortantes,
com uma espécie de arado na frente. Os veículos, capazes
de levar duas pessoas sentadas, eram rápidos e
manobráveis, mas difíceis de se controlar bem. Eram pouco
mais do que enormes motores com assentos e controles, e a
combinação de grandes repulsores e velozes
turbopropulsores gerava um veículo muito rápido, sórdido e
barulhento. Uma speederbike era brinquedo de criança em
comparação com uma swoop completamente equipada. A
maioria das pessoas associava esse tipo de veículo pequeno
e sem proteção às gangues, bandidos que faziam de tudo,
desde que não fosse legal. Algumas delas eram famosas,
como os Demônios Nova e os Diabos da Estrela Negra.
Podiam fazer seus swoops realizarem qualquer coisa, menos
dançar. Contrabandeavam especiarias, armas, executavam
pequenos trabalhos para várias facções do submundo, e,
geralmente, causavam muita dor por onde passavam.
É claro, nem todo mundo que voava em uma swoop era
bandido.
Ele mesmo havia passado algum tempo dirigindo uma
swoop emprestada quando era adolescente, entrando e
saindo dos cânions e rugindo pelas ruas de Mos Eisley tarde
da noite quando a patrulha de tráfego era escassa.
A pergunta era: o que membros de uma gangue
swooptroop estariam fazendo ali? Ele era a única pessoa em
uma centena de quilômetros. Teriam se perdido?
Improvável, considerando sua experiência.
Não; se aquilo fosse o que ele pensava, eles estariam
vindo para vê-lo.
E não seria para lhe desejar um bom-dia. Bem, ele queria
um teste de verdade para seu sabre de luz. Parecia que
estava prestes a obter um.
Luke olhou com atenção em busca de insígnias quando
as swoops chegaram vibrando o chão e começaram a
circundar a casa de Ben. Havia oito, nove... doze swoopers,
e todos usavam óculos de proteção e capacetes antichoque,
mas seus trajes de voo não eram iguais. Dois deles vestiam
neocel azul; outros dois, laranja e bronze; o uniforme de um
tinha mangas verde-balão; outro ostentava couro seco de
bantha vermelho; e cerca de metade deles usava trajes de
estivador, de cor cinza.
Todos exibiam a mesma insígnia em suas jaquetas. Luke
não a conseguira identificar muito bem, embora ela
parecesse vagamente familiar.
Todos carregavam pistolas de raios.
Ele não estava tão bem escondido como tinha pensado.
Um deles o viu, puxou sua pistola e disparou. O raio passou
chiando por Luke e transformou a areia em um vidro
lamacento. Não passara nem perto, mas não fazia parecer
que aqueles homens estivessem ali para arranjar
prisioneiros.Uh-oh.
Ouviu um dos bikers gritar por sobre a barulheira dos
motores:
– Façam o nanico virar Bespin, caras!
Luke correu para encontrar cobertura. Havia dois
grandes pedregulhos que manteriam a maior parte dos
disparos longe dele. Correu. Sua pistola estava na casa;
tudo o que tinha era seu sabre de luz e uma chance de, o
quê?, dez-para-um, doze-para-um? Poderia ser melhor. Ele
nunca fugiria deles a pé. E não havia muitos lugares para se
esconder por ali.
Por que estavam tentando matá-lo? Quem os teria
enviado?
Precisava saber. Também precisava se manter vivo.
Os motores retumbaram; as vibrações dos repulsores
causavam tremores no chão; o som grave profundo cobriu-o
por completo e os subsônicos faziam sua cabeça doer. Podia
ver a boca deles se mexendo, mas não ouvia o que
gritavam.
Ok, Luke. Pense em algo.
Os swoopers passaram rosnando, disparando tiros contra
ele. A maioria dos raios não chegava perto e ele conseguia
bloquear os restantes com suas próprias habilidades
naturais. Tentou deixar a Força preenchê-lo, mas isso não
aconteceu. Difícil se concentrar com todo aquele barulho e
uma dúzia de bandidos armados atirando nele.
Dois dos bikers aproximavam-se; ambos dispararam
novamente. Nenhum tiro sequer chegou perto; os raios
passaram a mais de um metro.
Felizmente as swoops levantavam muita areia. Uma
nuvem de poeira os cercou e virou uma tela translúcida
marrom.
Mais uma vez um feixe de raios passou longe quando
Luke saltou e girou sua lâmina verde brilhante.
De trás dele veio um estrondo. Luke virou-se e viu que
duas das swoops haviam colidido. Uma delas capotou e
bateu em um amontoado de pedras, com o piloto pulando
no último segundo. A outra moto fincou-se no chão,
danificada mas provavelmente ainda utilizável. Eles não
podiam atirar e não podiam voar. Sorte dele.
Um rugido à sua esquerda. Luke deu um giro.
Um motoqueiro vinha em sua direção, com o que parecia
ser um machado gigante na mão!
Outro motor rugiu mais perto do que o sujeito do
machado. Luke preparou-se, e, quando o segundo swooper
chegou, ele girou seu sabre num drible e deu um pontapé
no motoqueiro com a bota.
O chute de Luke derrubou o agressor da swoop. Sem
alguém para pressionar os controles a turbina
imediatamente foi desligada, mas não o motor repulsor.
Luke pulou sobre a swoop, agarrou o guidão e torceu o anel
de ignição. A turbina da swoop resmungou de volta à vida.
Agora as chances eram melhores. Ele não conseguiria
manter aquele ritmo; melhor testar sua sorte montando
uma dessas. Pisou levemente no acelerador, pressionou as
retros, virou, fez a swoop dar meia-volta e saltou por uma
duna, como fazia quando adolescente. Apontou a swoop
para o homem do machado e finalmente pisou com toda a
força no acelerador.
A aceleração por pouco não o derrubou, mas ele
conseguiu manter-se no selim.
Ah, garoto! Ele quase havia se esquecido de como aquilo
era divertido!
O machado do motoqueiro fez-se em pedaços ao atingir
o sabre de Luke. Luke torceu o acelerador, virou-se e tomou
distância, com o motor urrando.
O motoqueiro mais próximo de Luke agora era o das
mangas verde-balão. Com os turbos da swoop abertos ao
máximo, não demorou muito para alcançá-lo.
Verde o viu chegando; porém, quando percebeu que Luke
não era um dos membros de seu bando, já era tarde
demais. Tentou dar a volta no último segundo, mas o golpe
do sabre de luz cortou a linha de controle do propulsor
direito de Verde. O jato direito desligou, mas não o
esquerdo, e imediatamente a swoop ficou fora de controle.
Luke passou por ele e estava seguro, entretanto a pequena
nave seguiu girando e rodopiando descontroladamente até
o caminho de outro dos motoqueiros de cinza. Ouviu-se um
barulho de metal e plástico quando as duas swoops
colidiram uma com a outra e bateram no chão.
Ora, ora. Três a menos, faltam nove. Por enquanto, tudo
bem.
Era bom demais para durar.
O líder viu Luke e gesticulou com as mãos para mover
suas tropas. Eles se dispersaram e voltaram a entrar em
formação, em unidade.
Luke balançou a swoop em uma curva aberta e acelerou.
Se conseguisse levar aquela belezura por mais algumas
centenas de metros acima, para fora da areia e do solo
pedregoso, poderia alcançar velocidade de corrida. Isso lhe
permitiria chegar ao Cânion do Mendigo em questão de
minutos. Luke já tinha explorado cada centímetro daquele
lugar em seu T-16; não havia jeito de eles o vencerem por
lá. Poderia pegá-los um de cada vez e desativar suas
máquinas; poderia capturar o bando inteiro!
Havia um par extra de óculos de proteção preso ao
guidão. Luke guardou seu sabre de luz na cintura, puxou os
óculos e colocou-os. Precisaria deles; quando as turbinas
extras eram ligadas em uma swoop já acelerada, ela podia
passar dos 600 km/h. Até os insetos deviam prestar atenção
em algo chegando nessa velocidade. Torceu para que o
proprietário da máquina mantivesse o arado amolado.
Cânion do Mendigo, aí vou eu.
O Cânion do Mendigo era na verdade uma série de
cânions interligados. Muito tempo atrás, havia uma grande
quantidade de água em Tatooine, e boa parte dela fluía
através de rios. O Cânion do Mendigo tinha sido a
confluência de pelo menos três rios, e, junto com milhões de
anos de vento, chuva e luz do sol, a água corrente havia
esculpido na rocha vales profundos e retorcidos.
Fazia algum tempo desde que voara pelos cânions pela
última vez. Mas, bem, eles não haviam mudado nada
daquela época para cá. Ele e alguns dos outros candidatos
locais a pilotos estelares costumavam se envolver em
combates simulados por lá, usando inofensivos feixes de luz
no lugar de lasers. Além disso, ele tinha caçado ratazanas
womp, algumas delas com três metros de comprimento,
alvos difíceis de se acertar com uma pistola esportiva de
baixa potência e viajando em alta velocidade.
O bando de swooptroops ainda estava em seu encalço
quando ele desceu ao nível do solo. Não haviam ganhado
terreno, com exceção de um dos motoqueiros, que estava
apenas a cem metros de distância. Mas também não
haviam perdido terreno; estavam a apenas algumas
centenas de metros atrás do biker vestido de azul, e
segurando firme.
Luke sorriu. Vamos ver se gostam de jogar no meu
território.
A rota chamada Avenida Principal seguia mais ou menos
em linha reta por cerca de dois quilômetros até fazer uma
curva fechada e angulosa para a direita. Curva do Morto,
como era conhecida, e por boas razões. Luke diminuiu a
velocidade ao se aproximar do cruzamento. Quem tentasse
passar muito rápido por ali certamente seria transformado
em uma pasta gosmenta grudada à parede mais distante da
curva.
Apertou as retros enquanto ajustava os turbojatos para
um arco difícil à direita. A swoop virou um pouco, puxou
para a esquerda; então os propulsores a endireitaram com
um empurrão pesado.
Fácil como espirrar.
O piloto que seguia logo atrás, aparentemente não
familiarizado com os cânions, não desacelerou o suficiente.
Luke ouviu o estrondo quando o swooper bateu na
parede oposta da curva. A célula de combustível explodiu e
uma brilhante bola de fogo amarela e laranja subiu aos
céus.
Sem tempo para pensar nisso; outra curva se
aproximava, um longo zigue-zague para a esquerda, para a
direita, depois esquerda novamente, e ele precisava manter
a swoop no centro da valeta, que ficava mais estreita na
metade do Z esticado.
Não via o resto dos swooptroops atrás dele; contudo, se
queriam pegá-lo, teriam que estar por lá em algum lugar.
Poderiam ficar no alto, mas para vê-lo precisariam subir
tanto que não poderiam alcançá-lo. E, se ficassem muito
longe, ele poderia encontrar uma saliência e esconder-se
debaixo dela, e eles nunca o encontrariam.
Quatro a menos, faltam oito.
Segundos depois, um dos motoqueiros de cinza apareceu
no retrovisor de Luke.
Devia ser muito bom, para ganhar terreno tão rápido. Ou
muito estúpido.
Cinza chegou mais perto. Estava a sessenta ou setenta
metros agora.
Hora de passar a linha pela agulha. Lá estava, logo à
frente.
O Buraco da Agulha era uma fenda estreita com dentes
de pedra irregulares.
Luke disparou os turbojatos. Passou pela abertura. Perto
o suficiente para que uma ponta de rocha rasgasse seu
casaco.
Uau!
Cinza, bem atrás de Luke, tentou segui-lo.
Não conseguiu.
Boom...
Os demais ainda estavam atrás dele. E as chances ruins
ainda eram ruins. Poderia ser uma longa tarde. Ou uma bem
curta...
Quando desacelerou para uma curva acentuada, Luke
ouviu um grito rouco:
– Ele tem ajuda! Não vamos ganhar esta, Spiker! Vamos
cair fora!
Huh? Ajuda?
Luke olhou por cima do ombro.
Uma swoop, motores desligados, caía silenciosamente
em queda livre. O homem na máquina estava vestido de
preto, com a cabeça envolta em um capacete de voo e
escudo polarizado, uma pistola de raios brilhando na mão
direita estendida. Ele atirava nos swoopers.
Se o cara na swoop não ligasse os motores logo,
transformaria aquela valiosa máquina e a si mesmo em uma
grande cratera fumegante.
Como se tivesse ouvido Luke, os motores da swoop
cadente foram ligados. A pequena nave continuou a cair,
porém mais lentamente.
Parecia que ele não tinha ligado o repulsor a tempo.
Ele continuou atirando enquanto caía; errando, mas
fazendo os swoopers se dispersarem. Quem...?
A swoop chegou a um palmo do chão e parou. Pairou no
ar, morta.
Cara, isso era voar.
Os swoopers debandaram. Após um instante, o estranho
levou sua moto lentamente até onde estava Luke, pairando
em sua swoop estacionada.
O homem tirou o capacete e o escudo facial.
Dash Rendar!
– O que você está fazendo aqui? – disse Luke.
Dash deu de ombros.
– Salvando seu traseiro de escória swoop, parece.
– Você sabe o que quero dizer. Por que você está aqui? –
Luke olhou para os agressores caídos. – Então...?
– Bem, é o seguinte: Leia; ela é fogo, viu?! Ela meio que
queria que eu ficasse de olho em você até ela voltar.
– Ela o quê?
– Calma, você vai ficar com úlcera. Nada demais.
– Escute, amigo, eu não preciso de babá!
– Ah, sim, você poderia ter acabado sozinho com esses
retardados, né?
– Eu não estava indo tão mal.
– Não, tá certo, você não estava. Mas ia perder.
Luke segurou seu temperamento o melhor que pôde. Ele
não gostava daquele fanfarrão, mas Dash estava certo.
Teria sido necessário um milagre, coisa que ele ainda não
era capaz de realizar, para vencer sozinho até o último dos
swoopers. Gostasse ou não (e ele realmente não gostava),
Dash salvara seu pescoço.
– Obrigado. – Foi um murmúrio.
– Desculpe, eu não ouvi o que você disse.
– Não force, Dash.
O homem mais velho sorriu.
Rapaz, ele trocaria algumas palavras com Leia quando
ela voltasse. Por mais que fosse atraído por ela, por mais
que achasse que ela era a mulher mais durona, mais bonita
que ele já tinha conhecido, onde ela estava com a cabeça
enviando esse cara para tomar conta dele? E sabia que ela
devia estar pagando Dash para fazer isso; Dash não era o
tipo de cara que fazia favores de graça.
Dash disse alguma coisa e Luke piscou para ele.
– Huh?
– Eu disse, você viu as tatuagens deles? Essa gangue
trabalha pro Jabba.
Luke olhou. Era daí que conhecia a insígnia. Homens de
Jabba.
Dash continuou:
– Eu estava em Mos Eisley, meio que... de bobeira,
quando escutei uma conversa dele. Tinham ordens para
matar você.
Matá-lo, sim, tinha percebido isso. Dash continuou
falando, e Luke voltou a concentrar-se no que ele estava
dizendo.
– ...Vader não é mais o seu admirador número um.
– Ele nunca foi. Se é que era mesmo ele por trás disso.
Será? Luke balançou a cabeça. Aquilo ainda não fazia
sentido.
– Lorde Vader, estamos nos aproximando do asteroide
rebelde.
Vader afastou-se da janela para contemplar o oficial
júnior que havia sorteado o dever dessa vez.
– Bom. Peça ao almirante Okins para me encontrar na
ponte.
– De imediato, Lorde Vader.
Vader ajustou os controles em sua armadura para um
aumento da oferta de oxigênio e dirigiu-se para a ponte.
Não era sua escolha, este ataque surpresa contra naves
indefesas, mas o executaria bem.
– Ah, príncipe Xizor – disse o Imperador. – Como é bom
vê-lo novamente.
Xizor balançou a cabeça e fez uma reverência.
– O prazer é meu, meu Imperador.
– Entre. O que o traz aos meus aposentos?
– Eu apenas estava curioso, meu mestre, quanto ao
progresso do ataque de Lorde Vader contra o estaleiro
rebelde no Setor Baji.
O rosto devastado do Imperador nada revelou, mas Xizor
teve certeza de que seu comentário fora uma surpresa.
– Eu realmente preciso roubar os seus espiões de você –
disse o Imperador. – Especialmente depois que você roubou
meu melhor horticultor. Uma pena que o homem tenha
sofrido aquele acidente fatal no elevador antes que pudesse
começar a trabalhar para você.
– Sim, uma pena – respondeu Xizor. Se alguma vez
houvera um mau perdedor, teria sido o Imperador. – No
entanto, não foram meus espiões que me deram essa
informação.
– Diga-me, então, como você soube disso?
– Estou surpreso que Lorde Vader não o tenha
mencionado a você, mas o que os meus espiões
descobriram foi a localização do estaleiro rebelde. Eu, é
claro, imediatamente ofereci a informação a Lorde Vader.
– É claro – disse o Imperador, com a voz tão suave
quanto lubrificante sobre uma placa de transparaço. – Estou
esperando um relatório da frota em breve. Talvez você
queira se juntar a mim para algumas bebidas e esperar...
– Eu ficaria honrado.
Xizor conteve seu sorriso. Vader não tinha dito ao
imperador que fora ele quem entregara o estaleiro rebelde.
Nenhuma surpresa. E mais: ele havia de alguma forma
recolhido as gravações do próprio aerogancho do Imperador
para impedi-lo de descobrir. Xizor teria feito o mesmo na
posição de Vader. O que era, é claro, o motivo de ele estar
ali. Ter certeza de que o Imperador sabia a quem era devido
o crédito por tais atividades.
E também a quem culpar por ele não ter sido informado
disso.
Ah, mas ele gostaria de ver Vader ficar ciente de que seu
pequeno jogo fora por água abaixo.
Gostaria imensamente.
– Almirante?
– Estaremos na área em pouco tempo, Lorde Vader –
disse Okins.
– Bom. Comece a disparar assim que atingirmos a
distância ideal. Eu não quero erros.
Vader parou à frente da janela principal de sua nave,
olhando para o grande asteroide bem diante deles. Grande
como uma pequena lua, a rocha era tomada por crateras de
colisões com seus irmãos menores e parecia ser de níquel-
ferro, muito comum na região.
De repente, duas naves apareceram, vindas do outro
lado do asteroide.
– Duas fragatas de escolta Nebulon-B – disse um oficial à
sua esquerda.
Vader olhou para as duas naves. As fragatas eram
compridas e finas e tinham compartimentos de controle e
armas na frente. Estavam conectadas, na parte traseira, por
um tubo longo e relativamente delgado a enormes unidades
TIE.
– Nossas próprias naves – disse ele, irritado.
Ninguém falou nada.
No início da Rebelião, algumas fragatas haviam sido
capturadas ou deserdado para a Aliança.
– Pelo menos eles não terão caças TIE operacionais –
disse o almirante.
Como se suas palavras tivessem sido um sinal, uma
dúzia de caças X-wing saíram da fragata e começaram a
acelerar em direção à frota imperial.
– Vejo que elas foram modificadas para transportar X-
wings – disse Vader. Seu tom era muito seco. – Parece que o
estaleiro não será um alvo tão fácil, afinal.
Okins virou-se para o oficial de operações TIE.
– Espalhe nossos caças. Não quero desperdiçar poder de
fogo acertando essas irritantes... moscas com nossas armas
principais.
– Imediatamente, Almirante.
Vader viu uma terceira nave circundar o asteroide, muito
mais rápida do que as fragatas. Ele a identificou quando o
oficial falou:
– Aí vem uma corveta Corelliana.
Sob sua máscara, Vader sorriu. Bom. Melhor uma batalha
do que um abate de pássaros aleijados e empoleirados.
Virou-se para o oficial de operações.
– Prepare meu Interceptor.
O almirante olhou para o Ofop TIE, depois para Vader.
– Meu lorde, você acha que isso seja...?
– ... sábio? – concluiu Vader. – Faz tempo demais desde
que voei em combate, almirante. Preciso flexionar os
músculos. Você pode lidar com o estaleiro. Vou varrer esses
caças do vácuo.
O almirante inclinou a cabeça em uma reverência militar.
Como se o almirante pudesse fazer qualquer outra coisa.
Vader tinha esquecido quanto gostava de pilotar seu
Interceptor; já fazia muito tempo. Tudo voltou rapidamente.
A diversão não durou muito. Quase sem esforço, ele
transformou três, quatro, cinco das naves rebeldes em
destroços fumegantes.
Era... decepcionante. A Força não estava presente neles;
não era um desafio real. Alguns eram hábeis, é verdade,
mas mera habilidade não poderia derrotar o lado sombrio.
Ele esperava ter um rival à altura.
Qualquer rival.
Um X-wing que realizara uma subida repentina tentou
atacá-lo por baixo, mas ele espiralou para longe e deu uma
volta rápida, socou-o com seus lasers e transformou-o em
sucata.
Estava ciente dos destróieres atirando contra as fragatas,
incapacitando uma delas e impedindo a outra de fugir. Uma
fragata não era páreo para o orgulho da Marinha Imperial.
Enquanto conduzia outro X-wing ao esquecimento, ele
sentiu um distúrbio na Força quando a frota atacou o
estaleiro rebelde, derramando destruição sobre as indefesas
naves aterradas, seus pilotos e tropas. Raios de luz
multicoloridos queimavam tudo o que tocavam.
Outro X-wing disparou, desviou e girou, tentando evitar
seu fogo. O piloto rebelde era bom, mas não tinha chance
alguma de escapar.
Vader deixou o lado sombrio guiar sua mira. Sentiu suas
armas travarem no alvo...
Não disparou.
Enojado, interrompeu seu ataque e permitiu que o X-wing
escapasse. Isso estava aquém dele. Desde que enfrentara
Luke no poço da Cidade das Nuvens, nenhum outro
oponente tinha representado ameaça real. Bem. Talvez o
criminoso Xizor oferecesse algo, mas aquilo era diferente;
não era o desafio de um guerreiro. Xizor era meramente
falso e desonesto; nunca ousaria ficar cara a cara com o
Lorde Sombrio dos Sith.
Vader observou o X-wing fugir ao longe. A batalha
terminou – se é que havia sido uma. O estaleiro rebelde
estava ardendo, com seu próprio ar e combustível
alimentando a conflagração. Centenas de naves destruídas,
milhares de soldados varridos, uma grande vitória para o
Império.
Vader meneou a cabeça. Uma grande vitória. Em outros
tempos isso o teria deixado orgulhoso. Agora? Agora era tão
vazio quanto quebrar esses fracos pilotos de X-wing.
Um guerreiro precisava lidar com iguais. Obi-Wan se fora
e os outros Jedi estavam todos extintos, exceto por um, que
era o mais forte de todos eles. Seu próprio filho.
Ele havia dito ao Imperador que Luke Skywalker se
juntaria a eles ou morreria. A verdade era um pouco
diferente: Luke se juntaria a Darth Vader ou morreria.
Seria algo merecedor de sua atenção.
Seria o duelo de uma vida. Aquilo ali sequer contava
como exercício.
Pilotou seu caça de volta para a nave.
Vader pisou na área da holocam e iniciou a transmissão.
A HoloNet tomava um atalho através do hiperespaço e
alcançava conexões consideravelmente mais rápidas do que
a luz. O ar tremeluziu e brilhou quando o Imperador
apareceu do nada.
Vader apoiou-se sobre um joelho.
– Meu mestre – disse ele.
– Ah, Lorde Vader. Seu relatório?
– O estaleiro rebelde não existe mais. Houve uma luta,
mas de curta duração. Nós destruímos centenas de naves,
com milhares dos inimigos dentro delas.
– Bom, bom.
O Imperador acenou com a mão e sua imagem tornou-se
menor à medida que sua holocam ajustava-se para um
ângulo mais aberto.
O novo ângulo revelou Xizor de pé a dois metros de
distância.
A reação involuntária de Vader parou momentaneamente
seu respirador mecânico. Percebeu que o Imperador era
capaz de ouvir sua respiração. Forçou-se a permitir que o
respirador retomasse sua função normal.
– Príncipe Xizor estava me contando como ficou feliz em
fornecer ao Império a localização da base rebelde. Parece
que devemos a ele muita gratidão, você não acha?
Vader rangeu os dentes. Preferiria morder a própria
língua e engoli-la a ofertar tal gratidão, especialmente
diante do Imperador, mas não tinha escolha. O Imperador
gostava de estalar o chicote de vez em quando, para
mostrar que ainda o segurava e que não era avesso a usá-
lo.
Vader olhou para Xizor. Era bom que não pudessem ver
seu rosto quando falou.
– O Império deve-lhe agradecimentos, príncipe Xizor.
O Imperador sorriu.
Xizor sorriu ainda mais amplamente. Disse:
– Oh, não foi nada, Lorde Vader. Eu estou sempre feliz em
servir.
Se o homem tivesse sido mais escorregadio e servil em
seu tom, teria que olhar para cima após lamber as botas do
Imperador. Era bom que estivesse a anos-luz de distância; a
ira de Vader era tal que ele não sabia se poderia ter se
furtado a destruir Xizor ali mesmo, apesar das advertências
do Imperador.
– Espero vê-lo em breve, Lorde Vader.
– Sim, meu mestre. Estamos voltando agora mesmo
enquanto conversamos.
– Bom.
A imagem rodopiou e sumiu.
Vader ficou parado. Virou-se e deixou a holocâmara.
Um oficial subalterno aproximou-se quando ele saía.
– Lorde Vader, eu...
Foi até onde pôde ir. Vader cerrou o punho e invocou o
lado sombrio.
O oficial caiu, apertando a garganta.
– Não quero ser incomodado – disse ao homem caído no
chão. – Está claro?
Vader abriu o punho.
O oficial inalou ruidosamente. Quando conseguiu, disse:
– C-C-Claro, L-Lorde Vader!
Com isso, o Lorde Sombrio dos Sith afastou-se
violentamente para a sua própria câmara para refletir.
Xizor sentiu a glória de seu triunfo sobre Vader quase
como algo tangível, uma chuva de prazer que o lavou e o
preencheu com um brilho especial.
– Você precisa vir me visitar mais vezes – disse o
Imperador. – Gosto das nossas conversas. Tenho certeza de
que Lorde Vader também gostará de vê-lo quando retornar.
Xizor curvou-se. Muito improvável que Vader gostasse
disso.
– Meu mestre.
Saiu da câmara, e a sensação de poder era inabalável. O
Imperador estava, é claro, ciente do que Xizor acabara de
fazer a Vader; na verdade, tinha gostado de ser parte do
processo, de colocar seus dois servos um contra o outro e
assistir à coisa se desenrolar. Era como um homem que
possuía uma matilha de lobos-gatos semidomesticados.
Gostava de jogar um único osso para ver qual deles
subjugaria os demais. O Imperador era tão desonesto
quanto qualquer homem e Xizor resolveu tomar extremo
cuidado durante o restante daquele estratagema.
Extremo cuidado.
Xizor recostou-se na forma-cadeira e olhou para o
pequeno holoproj flutuando em sua mesa.
– Ampliar imagem – disse ele. – Escala completa.
O computador obedeceu e o simulacro aumentou seis
vezes.
De pé sobre a mesa estava agora uma mulher belíssima,
sem saber que sua foto fora capturada por uma holocam
escondida.
– Mover imagem para o holoprato do piso.
Mais uma vez o computador fez como fora ordenado.
Xizor assentiu.
– Então esta é a princesa Leia Organa. Uau. Que
interessante.
Sabia quem ela era, é claro, mas nunca se preocupara
em observar sua imagem de perto antes. Sempre presumira
que ela fosse alguma mulher endurecida pela batalha,
devotada apenas à Causa, uma daquelas fanáticas
andróginas e feias que não se preocupavam com a
aparência. Uma suposição equivocada, essa.
Às suas costas, Guri disse:
– Ela abordou o proprietário de um dos nossos cassinos
protegidos em Rodia, no complexo de jogos. Procurava
marcar uma reunião com alguém de estatura no Sol Negro.
O Príncipe das Trevas juntou os dedos e considerou a
imagem.
– Agora, por que uma das líderes da Aliança estaria
interessada em nossa organização? Eles têm rejeitado
repetidamente as nossas aberturas, não querendo sujar as
suas mãos revolucionárias limpas com a escória criminosa
comum. Mudança de opinião? Duvido.
Como não havia sido feita uma pergunta, Guri não
respondeu.
Xizor continuou:
– Deve ser importante. Vamos ver o que ela quer, não?
Vá e descubra.
Mais uma vez Guri se absteve de falar, mas Xizor
detectou uma perturbação em seu comportamento.
– Algum problema?
– A tarefa não parece particularmente difícil.
Xizor riu. Um de seus poucos pontos fracos, este: desejar
ser testada para encontrar seus limites.
– Talvez não. Ainda assim, é importante por outro motivo.
Se nossa inteligência e a do Império estiverem corretas,
princesa Organa é próxima apenas de algumas poucas
pessoas. Uma delas é Luke Skywalker. Existe grande
possibilidade de ela saber onde ele está. Descubra o que ela
quer e reporte de volta para mim. Ela pode muito bem ser a
maneira mais fácil de encontrar Skywalker. De qualquer
forma, posso encontrar um... uso para ela. Depois que você
cuidar daqueles outros negócios que discutimos. Deverão
ser mais... desafiadores, acredito.
– Como quiser.
Xizor colocou seu dedo na testa e esboçou uma
saudação zombeteira.
Guri partiu.
Ele voltou a olhar para a falsificação de Leia Organa.
– Computador, girar imagem, velocidade normal.
O holograma girou sobre um eixo invisível.
Ela parecia igualmente boa por trás.
Xizor respirou fundo e deixou o ar sair. Ali estava uma
mulher interessante. Atraente, capaz, bem-educada e
perigosa. Ela era, de acordo com os arquivos, tão hábil com
armas quanto linda.
O Príncipe das Trevas sentiu uma agitação dentro de si.
Estava ciente da mudança de cor da sua pele, que passara
do verde-fresco para um morno laranja-pálido. Sorriu. Havia
dispensado sua amante mais recente. A ideia de companhia
feminina não era repelente. Especialmente a de uma fêmea
que tinha mais a oferecer do que mera boa aparência.
Perguntou-se o que ela estaria fazendo agora.
Provavelmente desfrutando uma refeição requintada ou
gastando dinheiro com entretenimento caro. Fêmeas
amavam essas coisas.

Leia observava enquanto Chewie jogava outra partida de


hologame, dessa vez contra um Twi’lek com uma pintura
corporal espalhafatosa e joias baratas nos tentáculos da
cabeça.
Chewie fez um movimento e recostou-se.
– Muito bem, Chewbacca – disse 3PO. – Excelente
movimento.
O Twi’lek relanceou para 3PO e lançou-lhe um sorriso
doentio e cheio de dentes.
Leia inclinou-se sobre o droide protocolar e sussurrou
para ele:
– O que está acontecendo aqui? Eu vi esse Twi’lek ganhar
quatro partidas seguidas contra jogadores muito melhores
do que Chewie.
3PO olhou para ela.
– Oh, bem – disse ele em voz baixa. – Eu tomei a
liberdade de mencionar ao Twi’lek antes de o jogo começar
o que acontece quando Wookiees perdem em tais
entretenimentos.
Leia olhou fixamente para ele.
– Você se lembra do que mestre Solo disse sobre
arrancar fora os braços?
Leia balançou a cabeça. Han estivera brincando com 3PO
com aquele comentário. Chewie era feroz o bastante no
campo de batalha, mas na verdade tinha bom
temperamento. Ela nunca teria acreditado naquela história
dos braços. Mas parece que o Twi’lek acreditara
Se o Sol Negro não aparecesse logo, ela começaria a ter
enjoos por ficar tanto tempo enfiada naquele lugar.

Guri sentou-se à mesa diante de outros três. Dois deles


eram humanos; o terceiro era um Quarren. Atrás dela, um
par de guarda-costas Gamorreanos observavam, de pé. Guri
estava desarmada.
– Suas fontes estão enganadas – disse um dos homens.
Tratava-se de Tuyay, o diretor de operações da Ororo
Transportes. Adepto da malhação, ele era cheio de
músculos, visíveis mesmo debaixo de seu caro terno de
zeyd sob medida. Supostamente, podia agachar-se
carregando quatro vezes o seu próprio peso sobre os
ombros, sem começar a suar. Não parecia feliz. Na verdade,
parecia prestes a romper um vaso sanguíneo.
– São eles? – disse Guri. Ela se recostou na cadeira,
parecendo totalmente relaxada.
– M. Tuyay está correto. Ororo não se atreveria a
enfrentar o Sol Negro. Esse era Dellis Yuls, o Quarren, chefe
de segurança da organização.
O outro jogador, um homem magro, baixo e nervoso,
assentiu com a cabeça.
– Não, claro que não, nós nunca pisaríamos em território
do príncipe Xizor – falou Z. Limmer, o diretor financeiro.
– Então – disse Guri –, devo dizer ao príncipe Xizor que
tudo isso foi um erro, e que nossos agentes são idiotas que
não conseguem encontrar o próprio traseiro com ambas as
mãos?
– Eu não colocaria exatamente nesses termos – disse o
Quarren.
Tuyay olhou para os outros dois sentados ao seu lado e
bufou.
– Dane-se essa porcaria! Estou cansado de bancar o
capacho para o seu chefe. Sim, diga a ele que seus agentes
são idiotas! Diga a ele que ele é um idiota! Ororo não está
tremendo de medo do terrível e poderoso Príncipe das
Trevas! Estamos fora da Orla aqui, a um longo caminho das
camas macias e prazeres decadentes do Centro Imperial,
onde Xizor recobre seu ninho com os nossos tributos.
Conquistamos nosso caminho até aqui; merecemos cada
decicred que recolhemos! Diga a ele que, se ele não gostar,
pode vir aqui e fazer algo quanto a isso.
Limmer engoliu em seco e ficou pálido.
– Eu-eu-eu acho que o que M. Tuyay q-q-quis dizer foi-...
– Cale a boca, Limmer, seu revo-vermezinho! Não tente
adoçar o que eu disse. – Tuyay encarou Guri. – Vá para casa,
menininha. Parta agora enquanto eu ainda permito. E não
volte. Se voltar, posso encontrar um uso para você de que
você não gostaria. – Ele sorriu, com uma expressão
perversa.
Guri sorriu e se levantou, ainda parecendo ter acabado
de acordar de um longo cochilo. Ao se mover, foi
incrivelmente rápida. Pulou para cima da mesa, deu uma
cambalhota e aterrissou atrás de Tuyay, girou e pegou-o
com cadeira e tudo. Então, jogou-o contra os dois guardas
Gamorreanos antes que conseguissem sacar as pistolas. Os
dois alienígenas parecidos com porcos foram nocauteados
pelo impacto.
Dellis Yuls tirou uma pequena pistola de raios de dentro
de sua túnica, mas, antes que pudesse levantá-la, Guri
agarrou seu pulso, quebrou-o e retirou a arma de sua mão.
Jogou-a para o lado, sorrindo.
Limmer tentou se levantar e ela espetou seu pescoço
com as pontas dos dedos, fez uma pausa longa o bastante
para torcer o pescoço de Yuls até que estalasse como um
graveto molhado se partindo e então pulou por cima da
mesa.
Tuyay ficou de pé. Guri agarrou-o pelo pescoço enquanto
ele fazia o mesmo com ela. Por um momento, ficaram ali,
travados em estase.
Tuyay tombou, com o rosto cheio de medo da força dela.
Perdeu a consciência quando o sangue de seu cérebro foi
interrompido.
Guri soltou-o, estendeu a mão, puxou a pistola do cinto
de um dos Gamorreanos atordoados e usou-a para atirar
nos dois guarda-costas. Um raio para cada, direto na
cabeça.
Ela pulou para cima da mesa e de novo para baixo, para
perto de Limmer e Yuls, e atirou nos dois, na base do crânio.
Em seguida, voltou para onde jazia Tuyay, que tentava
respirar com a garganta machucada. Agachou-se ao lado
dele e esperou até que ele percebesse e olhasse para ela.
– Vou retransmitir suas palavras ao príncipe Xizor.
Sorriu e, de forma quase descuidada, empurrou a pistola
contra o globo ocular esquerdo de Tuyay, puxando o gatilho.
Então se levantou, foi até a securicam escondida que
gravara toda a cena e arrancou o equipamento da parede.
A imagem ficou preta.

– Pare a gravação – disse Xizor.


Ele suspirou e meneou a cabeça. A gravação mostrava o
que ele já sabia. Guri era a arma mais mortal de seu
arsenal. Ele se perguntou como ela se sairia em uma luta
contra Vader. Provavelmente melhor do que ele, embora
estivesse quase certo de que Vader, que havia caçado e
assassinado adeptos dos Jedi, poderia vencê-la.
Mesmo assim, seria algo interessante a que assistir.
E, por nove milhões de créditos, um entretenimento
muito caro, caso ela perdesse.
– Passe novamente – disse ele.
Adorava ver uma profissional trabalhando.
– Mas onde está Leia? – perguntou Luke.
Ele e Dash tinham voltado à casa de Ben, cada um em
uma swoop. As duas swoops estavam agora sob a camu-
lona, junto ao X-wing. A nave de Dash estava em Mos Eisley,
no porto.
– Foi até Rodia entrar em contato com o Sol Negro.
Luke quase deixou cair o recipiente de água fria que
segurava.
– Sol Negro! Ela está maluca?
Dash sorriu.
– Oh, você é um especialista sobre eles, não é?
– Não, mas conversei muito com Han quando estávamos
enfiados em Hoth, durante as frias noites de tempestade.
Ele fizera negócios com eles. Disse que eram mais
perigosos do que o Império. – Parou por um segundo. – Por
que Leia quer entrar em contato com o Sol Negro?
Dash deu de ombros.
– Me pegou. Talvez eles possam saber quem quer você
morto. A princesa gosta de você, embora eu não veja o
porquê. Você vai segurar essa água até ela evaporar?
Luke olhou para o recipiente esquecido.
– Oh, desculpe.
Entregou a água a Dash, que se serviu de um copo
grande e bebeu dele ruidosamente.
A ideia de Leia lidando com uma sinistra organização
criminosa do submundo não lhe caiu bem. Mas o que ele
faria quanto a isso? Ela era uma garota crescida; já cuidava
bem de si mesma antes de se conhecerem. Bom, sem
contar que fora capturada por Vader. Claro, ele, Han e
Chewie a haviam resgatado, mas não se cobriram de glória
fazendo isso. Pelo contrário, se cobriram de um eflúvio
fedorento naquele poço de lixo...
– Então, qual é a boa, garoto?
– Huh?
– Vamos sentar aqui e esperar eles voltarem? Ou talvez
você prefira ir perguntar ao Hutt por que ele mandou aquele
grupo de comédia para detonar você?
– Jabba não tem razão alguma para estar atrás de mim.
– A menos que alguém o tenha contratado para fazer
isso. É por isso que eu estou aqui, lembra? Já que é
agradável e tranquilo, eu poderia ensiná-lo a voar direito
com aquelas swoops.
– Escuta, eles nunca teriam me capturado no Cânion do
Mendigo.
R2 começou a assobiar e apitar freneticamente.
– Não gosto desse som – disse Luke.
– O que foi isso? – disse Dash.
– Alguma coisa lá fora, parece. É melhor irmos ver.
R2 bipou de novo.
Dash sacou sua pistola e checou o visor de carga.
Luke estendeu a mão para tocar em seu sabre de luz e
assegurar-se de que ainda estava pendurado em seu cinto.
R2 chilreou e deslizou em direção à porta.
Lá fora, viram o fogo de um foguete em frenagem bem lá
no alto.
– Parece um droide mensageiro – disse Luke.
R2 aparentemente o confirmou.
Dash soltou a respiração e guardou a pistola.
Droides mensageiros não eram algo que se visse cair
sobre sua cabeça todos os dias. Eles eram usados quando
fosse necessária uma entrega rápida e não se desejasse
usar a HoloNet e seus relés, mas eram caros e serviam para
apenas um tiro; a menos que se tivesse um novo dínamo de
reforço à disposição, não era possível reutilizá-los.
R2 assobiou novamente.
– Isso é espantosamente rápido. Espero que seja à prova
de choque – disse Luke.
Dash já tinha começado a voltar para a porta.
Ali fora, por menor que fosse o droide que caía em
direção ao chão do deserto, era visível a meio quilômetro de
distância.
– Quem sabe que você está aqui, garoto?
Luke balançou a cabeça.
– Leia, Lando, Chewie, 3PO.
– E Jabba – disse Dash. – Mas não acho que ele fosse
gastar grana com um droide quando poderia simplesmente
usar um sistema de comunicações local. Isso se ele quisesse
falar com você em vez de matá-lo.
– Talvez seja para você – sugeriu Luke.
– Eu duvido. Não deixo endereços de encaminhamento.
Ninguém sabe que eu estou aqui, exceto seus amigos, e
eles não têm razão para me chamar.
Luke observou a pequena nave mensageira despencar.
Ela começou a disparar retros e a desacelerar, mas ainda
estava descendo muito rápido. O droide provavelmente
subestimara a gravidade ou algo assim.
Talvez fosse para Ben. Alguém que não entrava em
contato já havia algum tempo e não sabia que ele... partira.
O droide mensageiro bateu no chão com força suficiente
para espirrar areia e fazer um barulho que eles escutaram a
quinhentos metros de distância.
– Vamos ver – disse Dash.
Luke rangeu os dentes. Quase começou a dizer alguma
coisa sobre dar ordens, mas manteve o controle. Cavaleiros
Jedi deveriam ser bem-humorados. Teria que melhorar isso.
Começaram a andar na direção da nave.

Em seu santuário interior, Xizor acordou de um leve


cochilo com o som de seu comunicador pessoal e privado
chamando seu nome em voz baixa.
– Chamada para você, príncipe Shhiizzorr. – Seria a sua
imaginação, ou o voxchip falara seu nome com o mesmo
sotaque da cadeira que ele tinha substituído?
Nada durava naqueles dias. Tudo começava a estragar
bem antes de estar devidamente quebrado. O Império
seguia de turboelevador para a entropia.
– Deixe passar. E faça um autodiagnóstico em seu
voxchip.
O holoproj em pequena escala floresceu em sua mesa.
Era um de seus espiões locais.
– Sim?
– Você me pediu para informá-lo quando Lorde Vader
retornasse ao seu castelo, meu príncipe. Ele acabou de
chegar.
O Príncipe das Trevas assentiu.
– Bom. Mantenha os procedimentos normais de
vigilância.
O espião fez que sim e cortou a conexão. Sua imagem
piscou e se apagou.
Então Vader tinha retornado das guerras, e havia
involuntariamente prestado um favor a Xizor atingindo
Ororo onde mais doía, no saldo de créditos. Junto com a
pequena demonstração de Guri para o quadro de oficiais,
Ororo ficaria bem-comportada, ao menos no futuro próximo.
Melhor que ele não ligasse para Vader ainda. Sem
dúvida, o Lorde Sombrio dos Sith precisava de algum tempo
para se recuperar um pouco do tapa na mão que levara do
Imperador. O principal problema de Vader era que ele
permitia que seu temperamento o dominasse. Um legado de
sua herança mamífera; era assim com muitas espécies e
quase sempre prejudicial. Frieza permitia precisão; calor
fazia deixar o cuidado de lado e mergulhar na falta de
limites. Frieza era o processo de deliberação e
planejamento; calor, o resultado da paixão desenfreada.
Paixão era ok, mas só quando controlada e canalizada
corretamente. A princesa Leia, por exemplo. Ela o atraía,
mas ele a traria para perto devagar e com cuidado, não em
uma perseguição selvagem na qual ele abandonasse as
amarras intelectuais e navegasse pelo mar da luxúria. Ah,
não; esse não era o modo Falleen. O modo Falleen era frio.
Frieza era melhor do que calor.
Sempre.

Darth Vader observava o espião através de uma holocam


escondida na parte superior de um droide limpador de rua.
O droide descia a avenida como um gigante caracol
mecânico, deixando um rastro de limpeza em vez de limo,
lavando o caminho com poderosos jatos e abluções que
faziam a superfície brilhar.
O espião de Xizor estava sentado em um bar ao ar livre,
fingindo ler uma cópia impressa de um newsfax enquanto
enrolava para beber um drinque quente que havia muito
esfriara.
Vader suspirou e desligou a imagem com um gesto. Esse
era um negócio tão complicado, toda essa espionagem e
intriga. É verdade que ele havia aprendido o jogo; jogava
bem, como se devia fazer para viver naquele mundo, mas
não gostava. Homens como Xizor e o Imperador tinham
prazer com suas manipulações, mas Vader sempre se
sentia... sujo quando revirava toda essa realidade de
acordos duplos e espiões triplos. Era um guerreiro, e como
tal preferia plantar-se sozinho no caminho de um exército a
fazer tudo isso de sorrir pela frente e traçar a ruína de um
inimigo pelas costas, como era comum no núcleo político do
Centro Imperial. Derrubar um homem com sua lâmina era
limpo e honrado. Dar-lhe um tiro pelas costas da escuridão
de um beco e apressar-se em pôr a culpa em outro era algo
completamente diferente.
Afastou-se dos monitores. Sim, ele podia fazê-lo, e, sim,
era necessário; ainda assim, não tinha que gostar.
Mais cedo ou mais tarde, teria a prova que precisava
contra Xizor. Quanto mais enrolada a teia, mais provável
que o tecelão acabasse preso nela. Mais cedo ou mais
tarde, o homem cometeria um erro fatal, e quando o fizesse
Vader golpearia Xizor; depois explicaria o motivo para o
Imperador.
Aí estava um pensamento do qual gostava.

O droide mensageiro, uma caixa compacta e


arredondada dotada de uma unidade antigrav que lhe
permitia pairar e se mover a alguns metros do chão,
aparentemente não fora danificado pelo forte impacto da
nave de entregas no chão do deserto. A caixa, da metade
do tamanho de R2, flutuava agora diante de Luke e Dash na
casa de Ben.
Não parecia danificada, mas algo devia ter se soltado lá
dentro.
– Eu tenho uma mensagem para a princesa Leia Organa –
disse pela quinta vez.
– Quantas vezes tenho que lhe dizer que ela não está
aqui? – disse Luke. – R2, você pode falar com essa coisa?
R2 aproximou-se do droide, assobiou e bipou
rapidamente, e concluiu emitindo luzes de seu holoprojetor
sobre a coisa.
Houve uma pausa, enquanto algum sistema se ajustava
dentro do droide.
– Estou habilitado a entregar a mensagem para um
representante autorizado da princesa Leia Organa, em sua
ausência – disse.
– Agora estamos chegando a algum lugar – disse Luke. –
Conte-me. Eu sou seu, uh, representante autorizado.
Sorriu para Dash, que balançou a cabeça.
– Senha? – perguntou o droide.
Senha? O que Leia usaria como senha?
– Uh, Luke Skywalker.
– Essa senha está incorreta.
Dash riu.
– Uh, Han Solo?
– Essa senha está incorreta.
– Podemos ficar aqui um bom tempo enquanto você
recita todos os nomes que conhece, Luke.
– Cale a boca, está bem? Estou pensando.
– Ah, bom, eu não iria querer interferir nisso, não é
mesmo?
Luke refletiu sobre o problema. Tinha de ser algo simples,
imaginou, algo que Leia não esqueceria. Qual era a primeira
coisa que lhe vinha à mente quando pensava nela?
Esqueça isso.
– Uh, Alderaan?
– Senha correta.
Uma placa deslizante no droide moveu-se e expôs um
holoprojetor. Um segundo depois, um holoproj piscou.
Um Bothano baixo, de cabelos compridos e barba, estava
parado, vestido com uma túnica verde-floresta, calças e
botas, com uma longa pistola de raios de estilo militar
amarrada em sua cintura e perna direita.
– Saudações, princesa Leia. Aqui é Koth Melan, falando
com você de minha terra natal de Bothawui. Nossa rede de
espionagem descobriu informação vital para a Aliança, e a
natureza desses dados é de tal importância que justifica o
envio deste droide mensageiro. Você deve vir
imediatamente a Bothawui. Não posso deixar de ressaltar a
importância dessa informação, ou a urgência. Tempo é
essencial. Eu estarei na Missão Intergaláctica de Comércio
por cinco dias. A Aliança deve agir nesse período ou a
informação pode ser perdida.
A projeção encerrou.
– Ora, ora – disse Dash. – Alguém está com muita pressa.
Nós só poderíamos chegar a Bothawui antes do fim desse
prazo se eu forçasse muito a barra com a minha nave. Essa
sua banheira X-wing poderia conseguir, mas eu não
apostaria nisso.
– Precisamos levar essa informação para Leia – disse
Luke.
– Sem chance, garoto. Não podemos usar a HoloNet
porque a gente não sabe onde ela está exatamente. Não
podemos simplesmente ligar e perguntar, podemos?
“Desculpe, você pode me dizer onde uma das inimigas mais
procuradas do Império está, por favor?”
– Está bem, entendi.
– Bom, até chegarmos a Rodia, encontrarmos Leia e
seguirmos todos para Bothawui, teria se passado uma
semana-padrão, pelo menos.
Luke olhou para o droide mensageiro. O que deveriam
fazer? Aquilo parecia importante, muito importante.
– Bem – disse ele. – Acho que teremos que ir no lugar
dela, então.
– Por quê? A mensagem era pra ela.
– Eu sou seu representante designado. Acertei a senha. O
que quer que esse Koth Melan tenha, poderá me contar.
– Não me parece muito brilhante. Um mestre espião
Bothano vai simplesmente obedecer e entregar o jogo,
assim? E seu nome não me soa bem, também. “Melan”?
Isso não é Bothano.
– Ninguém lhe perguntou. Você deveria ser um guarda-
costas, certo? Você não se importa com a Aliança.
– Não, a menos que eles queiram me contratar. Você está
certo.
– Tudo bem. Eu vou. Você faz o que quiser.
Dash sorriu.
– Bem. Você vale mais para mim vivo do que morto. É
melhor eu proteger o meu pagamento. Vou com uma das
swoops até a cidade pegar a minha nave. Encontro você em
órbita.
Luke assentiu. Não gostava muito de Dash, mas o cara
era bom com armas e sabia voar. Isso contava muito.
– Vamos pegar o X-wing, R2. Vamos dar um passeio.
R2 também não parecia achar uma ideia muito boa.
Que pena, pensou Luke. Um Cavaleiro Jedi não ficaria
sentado sem fazer nada enquanto um negócio vital da
Aliança estava em andamento, ficaria? Não. Ele não faria
isso.
– Me dezzculpe – disse Avaro. – O Zzol Negro não fazz o
que eu mando.
Leia sacudiu a cabeça em desaprovação. Ela e Chewie
estavam no escritório de Avaro, e mais uma vez ele os
desapontava. Lando estava feliz como um porco-escada em
lama morna; ele ganhava a maioria dos jogos de cartas de
que participava. Até Chewie estava gostando do cassino,
mas, se algo não acontecesse muito em breve, Leia
começaria a arrancar os cabelos. Ficar sentada sem fazer
nada não era seu estilo.
– Tudo bem – disse ela. – Vamos fazer assim. Se alguém
não aparecer aqui na próxima semana, vamos tentar em
outro lugar.
Avaro deu de ombros.
– Fazzam como quizzerem.
Pouca chance de isso acontecer, pensou Leia. Para fazer
como ela queria, teria que estar em movimento, fazendo
alguma coisa, descobrindo quem estava atrás de Luke e por
quê. Parecia desajeitado demais por parte de Vader planejar
aquele ataque pelas mãos da chefe dos mecânicos de forma
que pudesse ser rastreado tão facilmente até o Lorde
Sombrio dos Sith. Ela não tinha outra ideia sobre quem
queria matar Luke, mas às vezes algo fácil demais poderia
estar certo.
Outras vezes, não.
Ela se levantou e deixou o escritório de Avaro. Não tinha
muita escolha. Esperaria, mas a contragosto.
Guri estava prestes a partir para Rodia quando Xizor a
deteve.
– Antes que vá para lá, tenho outra tarefa para você. Há
um documento secreto em meus arquivos pessoais, sob o
título “Rota”. Você sabe o que é.
– Sim.
– Baixe-o e faça com que chegue às mãos de nosso
agente duplo Bothano em Bothawui. Certifique-se de que
ele saiba que nós somos os responsáveis pela sua entrega.
Guri não disse nada, mas ele podia sentir sua relutância.
Ele disse:
– Você desaprova.
– Fazer isso não parece estar de acordo com seus
interesses – disse ela.
– Ah, mas está. Fazer o Sol Negro colocar esse boato nas
mãos dos Rebeldes de graça vai torná-los muito mais aptos
a confiar em nós. Na hipótese improvável de que o Império
perca esta guerra, a Aliança deverá se lembrar de nós como
amigos e não inimigos.
Guri assentiu. Entendia, concordasse ou não.
– Alteza.
Partiu.
Xizor refletiu sobre a preocupação de Guri enquanto
repassava o plano. A nova informação somava-se ao que já
fora descoberto pelos Bothanos. Havia algum risco, mas
nada significativo, considerando o que se poderia ganhar. O
Império era forte, e ele realmente não achava que a Aliança
triunfaria, mas apenas um estúpido não levaria em conta as
possibilidades remotas. Fatos mais estranhos já haviam
acontecido. Pessoas eram atingidas por um raio; meteoritos
vinham do céu e acertavam-nas na cabeça; o bater das
asas de uma mariposa na costa norte poderia ser a brisa
que ajudaria a formar um furacão na costa sul. Um jogador
prudente não assumia riscos desnecessários, mas havia
momentos em que um salto calculado sobre um abismo
profundo era necessário. Aquele era um desses momentos,
e, como de costume, era uma lâmina de dois gumes.
Manejada com cuidado, cortaria de ambos os lados.
Exatamente como deveria cortar.

Chegar a Bothawui não era tão difícil, embora tivesse


sido um pouco complicado quando saíram de volta para o
espaço real. Uma patrulha imperial infestava o planeta.
Luke e Dash tinham que voar de forma bem maluca para
evitá-los.
Não parecia haver uma quarentena, e conseguiram
chegar à superfície do planeta. Pegaram um veloz pubtrans
do porto para a cidade.
Luke nunca havia estado em Bothawui e estava
interessado em ver como o planeta se compararia ao seu
planeta natal em limpeza e conservação. Era um dia
ensolarado de primavera no local. Havia destacamentos de
stormtroopers imperiais rondando em pequenos grupos,
mas parecia que os Bothanos tinham o controle do próprio
porto. As ruas eram largas, e muitos dos altos edifícios
brilhavam com algum tipo de pedra natural. A maioria das
pessoas que ele via eram, naturalmente, Bothanos, mas
havia um bom número de estrangeiros aqui e ali. Muito
cosmopolita, dada a guerra e tudo. Disse isso para Dash.
– Sim, bem, a espionagem continua aos montes – disse
Dash. – E Bothawui é um dos centros mais ativos para
agentes de toda a galáxia. O Império tem seus próprios
espiões aqui; o mesmo acontece com a Aliança, e todos
praticamente permitiram que o local fosse um território
neutro.
Chegaram à Missão Comercial Intergaláctica, pagaram a
taxa e saíram.
Entrar lá para ver Koth Melan seria um pouco mais difícil.
O guarda Bothano solicitava um passe, o que eles não
tinham. Luke não estava particularmente interessado em
contar ao guarda quem ele era, uma vez que estava sendo
procurado.
Talvez devesse tentar usar a Força no Bothano. Havia
realizado o truque de Ben algumas vezes e tinha
funcionado. Além disso, poderia impressionar Dash um
pouco.
Mas, antes que Luke pudesse reunir a Força para
influenciar o guarda, Dash puxou o Bothano de lado, falou
algumas palavras e colocou algo em sua mão.
O guarda sorriu e gesticulou para que entrassem no
prédio.
– O que você disse a ele? – perguntou Luke.
– Não muito. Mas a moeda de cem créditos que dei a ele
disse: “Ei, estes são bons rapazes, que tal deixá-los entrar”.
– Você o subornou?
– Você não costuma sair muito, né? É assim que as coisas
funcionam aqui na galáxia real. Dinheiro é o lubrificante que
faz com que todas as coisas se movam. Estamos dentro,
então estamos felizes. O guarda pode comprar para a sua
esposa ou namorada um bom presente, então ele está feliz.
Ninguém se machucou. Se formos pegos, o guarda nunca
nos viu antes. É o custo de fazer negócios.
Luke balançou a cabeça. Mas talvez Dash tivesse sua
razão. Dar-lhe alguns créditos seria pior do que nublar sua
mente com a Força? Sim, era por uma boa causa e poderia
se justificar, mas alguns poucos créditos também se
justificavam?
Teria que pensar um pouco mais sobre isso.
Dash, enquanto isso, caminhou até um droide de
informações parado no lobby do edifício.
– Onde podemos encontrar Koth Melan?
O droide tinha uma voz profunda e sonora.
– Nível dezesseis, número sete.
– Obrigado.
Foram para os turboelevadores.
Outro droide, esse um modelo protocolar muito parecido
com 3PO, estava em uma mesa na antessala do escritório
para onde Luke e Dash se dirigiam. A pele de metal do
droide era polida, de um dourado reluzente.
– Bom dia. Como posso ajudá-los?
– Princesa Leia foi convidada para ver Koth Melan – disse
Luke.
– Você é a Princesa Leia?
Luke franziu a testa:
– Não, não, eu não sou a princesa Leia. Eu sou seu...
representante. Luke Skywalker. Não temos exatamente um
horário marcado. Mas ele quer vê-la, então vai querer nos
ver.
O droide disse:
– Eu não acredito que esse seja um pressuposto lógico.
– Olha, apenas diga a ele que estamos aqui, ok?
– Temo que não possa admiti-los sem um horário
marcado. Mestre Melan é um Bothano muito ocupado. Não
posso incomodá-lo com cada coisinha. Talvez eu possa
providenciar para que vocês o vejam em, oh, talvez uma
semana-padrão? Seus nomes?
Luke franziu a testa. Como poderiam convencer aquele
droide a deixá-los entrar? Não era possível suborná-lo e a
Força não funcionaria com ele...
Dash sorriu e puxou sua pistola. Apontou para o droide.
– Tudo bem, Douradinho. Meu nome é Homem Com Uma
Pistola Prestes a Cozinhar Você. Ou você abre a porta ou seu
ocupado Bothano terá que conseguir um novo
recepcionista.
– Oh, céus – disse o droide.
– E nada de alarmes de segurança, também – disse Dash.
– Estou de olho bem aberto em você. Levante-se e abra a
porta manualmente.
O droide protocolar disse:
– Muito bem, Homem Com Uma Pistola Prestes a
Cozinhar Você.
Luke e Dash trocaram olhares marotos. Droides podiam
ser muito literais, às vezes.
O droide digitou um código no teclado ao lado da porta
interna. Ela se abriu.
– Entre – ordenou Dash.
O droide entrou antes deles em um grande escritório.
Sentado atrás de uma mesa em frente a uma parede clara
de transparaço estava o Bothano que enviara a mensagem
a Leia.
Bem, pelo menos Luke pensou que fosse o mesmo.
Achava todos muito parecidos.
– Mestre Melan, desculpe interromper, mas...
– Está tudo bem, R-Zero-Quatro. Volte para a sua mesa.
Verei esses cavalheiros.
– Dificilmente cavalheiros, senhor – disse o androide, de
nome R0-4. – Eles me disseram que eram a princesa Leia. E
me ameaçaram com danos corporais!
– Não importa, R-Zero-Quatro. – A Dash, o Bothano disse:
– Abaixe a arma, Rendar. Você não precisa dela.
Dash piscou, surpreso, mas guardou a arma.
O droide partiu, fechando a porta atrás de si.
Luke deu um passo adiante.
– Desculpe o modo como entramos, mas tínhamos de ver
você.
Melan sorriu.
– Eu sei. Você é Luke Skywalker, e você é Dash Rendar.
Eu estava esperando por vocês. Por favor, sentem-se.
Luke e Dash trocaram olhares rápidos.
– Talvez eu deva explicar – disse Melan. – Descobri há
pouco tempo que a princesa Organa não está mais em
Tatooine, tarde demais para chamar de volta o droide
mensageiro que enviei. Já que estão aqui, suponho que
soubessem a senha que ela e eu criamos. – Olhou para
Luke. – Conheço sua reputação e seu trabalho para a
Aliança. – Olhou para Dash. – Também conheço a sua
reputação, M. Rendar, embora esteja surpreso em vê-lo
trabalhando para a Aliança.
Dash deu de ombros.
– Eu não estou. Estou trabalhando para a princesa.
– Ah, bem. Não importa. Vocês estão aqui e agora
podemos tratar dos negócios em questão.
– Você assumiu um risco em nos deixar entrar à força
aqui com uma pistola desse jeito – disse Dash. – Poderíamos
ser assassinos imperiais disfarçados.
Melan devolveu-lhes outro sorriso.
– Na verdade, não. Sei que vocês estão aqui desde que
desembarcaram no porto. Vocês foram escaneados pela
primeira vez na porta de entrada do edifício pelo guarda
que você “subornou”, depois no turboelevador, e
positivamente identificados. Se fossem assassinos
disfarçados, assim que as portas do elevador se abrissem,
teriam chegado a um andar com uma dúzia de guardas
apontando armas para vocês.
Luke e Dash entreolharam-se.
– Eu tenho muitos inimigos – continuou Melan. – Aprendi
a ser cauteloso.
Luke foi até uma das cadeiras e sentou-se. Dash fez o
mesmo.
– O que é tão importante que o fez enviar um droide
mensageiro a Leia? – perguntou Luke.
– O Império embarcou em um novo projeto militar –
começou Melan. – Nós ainda não sabemos o que é ou onde
fica o projeto, mas sabemos que é grande. O Imperador tem
desviado vastas somas de dinheiro, material e homens para
essa empreitada.
– Como você obteve essa informação? – perguntou Luke.
– A SpyNet Bothana é inigualável – disse Melan. Parecia
haver um toque de orgulho em sua voz. – Como você
pensou ter feito com o guarda no térreo, nós subornamos
um oficial imperial de alto escalão. Com o que ele nos deu,
tentamos infiltrar um droide slicer no complexo principal de
computadores em Coruscant para localizar e copiar os
planos desse empreendimento secreto. Infelizmente, essa
parte do plano falhou. O que aprendemos como resultado
dessa falha é que os planos são mantidos muito bem
guardados em computadores especiais sem linhas externas.
Assim, não há maneira de obter essa informação a partir de
um comlink; não existe acesso a esses sistemas, exceto
localmente. Pelo pouco que descobrimos sobre ele, o projeto
não augura nada de bom para a Aliança.
Luke assentiu.
– E o que devemos fazer quanto a isso?
– Nossos agentes coletaram informações de inteligência
que indicam que um dos computadores protegidos está
sendo enviado de Coruscant para Bothawui. Acreditamos
que seria do interesse da Aliança que esse computador
fosse obtido e acessado, para ver o que o Império está
fazendo.
Luke balançou a cabeça novamente.
– Parece razoável.
Dash disse:
– Desculpe, mas por que você está tão ansioso em ajudar
a Aliança? Achei que o trabalho da SpyNet Bothana fosse
coletar e vender informação, e não se envolver com
estratégia e táticas.
Melan exibiu uma expressão sombria.
– Vinte anos atrás, o Império executou meu pai por
espionagem.
– Esse é um dos riscos desse negócio, não?
– Sim, e um que eu também corro. Mas nem todos os
Bothanos são espiões, M. Rendar. Meu pai era professor. Não
era culpado de nada, exceto de tentar educar seus alunos
sobre o Império. Você deve ter notado que meu nome não
termina no honorífico normal “y’lya”. Até que o Império seja
derrotado, não terei honra verdadeira.
Dash assentiu.
– Isso explica.
Luke pensou em sua tia e seu tio, transformados em
cadáveres fumegantes na fazenda em Tatooine. Entendeu
como Melan se sentia.
– Imagino que você mesmo talvez tenha rancor contra o
Império – continuou Melan, olhando para Dash. – Depois do
que o Imperador fez com você e sua família.
Dash rangeu os dentes; Luke viu os músculos de sua
mandíbula se contraírem.
– Isso não é da sua conta – disse ele.
Luke não disse nada, mas uma pergunta saltou para a
camada superior de sua mente: O que fizeram a você,
Dash?
Em vez disso, Luke falou:
– Se o Império está se dispondo a encarar todo este
problema, melhor descobrirmos o motivo. Como podemos
colocar as mãos nesse computador?
Melan assentiu.
– Nossos agentes descobriram que o Império pretende
enviar os planos incógnitos em uma nave sem escolta que
pareça um mero cargueiro transportando fertilizantes. Eles
argumentam que uma nave desse tipo não chamará a
atenção da Aliança da maneira como um comboio
fortemente armado chamaria.
– Um cargueiro cheio de adubo? – disse Dash. – Que
droga. Quem sequestraria isso?
– Nossos agentes informam que serão capazes de obter a
rota da nave disfarçada em breve. Quando o fizerem, será
uma questão de um ou dois dias antes que a nave chegue.
Há Bothanos simpáticos à Aliança que estão dispostos a nos
ajudar a entrar no cargueiro, mas são relativamente pouco
qualificados para missões desse tipo. Seria bom que
tivessem um comandante com alguma experiência em
batalhas espaciais para liderá-los.
Luke sorriu.
– Isso é comigo. – Virou para Dash. – E você? Está
dentro?
– Arriscar minha nave e meu pescoço? Para quê?
– Achei que você quisesse me manter vivo.
– Você não vale tanto assim.
– Um cargueiro? Contra um esquadrão de Bothanos e
meu X-wing? Como pode ser perigoso? Moleza.
Dash pareceu pesar os prós e contras.
– Além disso, se as informações no computador forem
tão valiosas quanto parecem, a Aliança poderia estar
disposta a lhe dar um bônus por ter ajudado a recuperá-la.
Pode valer alguns milhares de créditos, talvez mais.
Dash olhou para ele.
– Tudo bem. Não tenho mais nada para fazer. Por que
não?
Luke sorriu. Esse cara lembrava muito Han.
O Imperador normalmente era um homem inteligente.
Era difícil que fizesse alguma coisa que Darth Vader achasse
imprudente, muito menos estúpida.
No entanto, enquanto Vader prostrava-se diante de seu
mestre no castelo do Imperador, achou que aspectos
retorcidos de seus negócios recentes encaixavam-se bem
na última categoria. Estúpidos – e perigosos.
Não que ele se atrevesse a dizer isso; fosse na cara do
Imperador ou pelas suas costas. Mas o Imperador não era
tão poderoso a ponto de ler pensamentos. Ainda bem,
porque se pudesse com certeza destruiria Vader ali mesmo
por conta de sua opinião sobre essa tolice. No entanto,
pensou Vader enquanto olhava para seu mestre, se ele
pudesse ler pensamentos, sem dúvida este... plano jamais
seria posto em prática.
– Você desaprova, Lorde Vader?
– Não cabe a mim reprovar, meu mestre.
– Isso mesmo.
Mais tarde, enquanto caminhava em direção a seu
castelo, Vader refletiu sobre como responder àquela
questão. Parecia que havia pouco a se fazer, salvo
acompanhar a situação. Ficar quieto e observar.
Isso não melhorou seu humor.

Luke e Dash viajaram com Koth Melan em sua


landspeeder particular até uma base escondida nas
montanhas, a duas horas-padrão de distância da cidade. Ali
se encontraram com o esquadrão de pilotos e oficiais
Bothanos e inspecionaram suas naves.
Os doze caças eram BTL-S3: Y-wings de dois lugares, a
nave de ataque mais comum da Aliança. Não eram tão
rápidos como os X-Wings ou TIE, não tinham o mesmo poder
de fogo, mas eram resistentes e capazes de aguentar
muitos danos. Não eram as mais modernas ou melhores
naves no vácuo, mas deviam ser mais do que suficientes
para abordar um único cargueiro. Usavam as cores e os
códigos de identificação da Aliança.
– Monte de velharias – disse Dash. – Provavelmente você
vai precisar sair e empurrar se quiser ir mais rápido do que
um droide de perna quebrada.
Luke ignorou-o. Ao líder do esquadrão, perguntou:
– Você tem astromechs para todos eles?
O líder, um Bothano que parecia tão jovem para sua
espécie quanto Luke, assentiu.
– Sim, temos droides. E todas as naves têm canhões de
laser Taim & Bak IX; quatro deles usando geradores-padrão
Nolvadex. Infelizmente, não temos torpedos de prótons para
os lançadores Arakyrd.
Luke deu de ombros.
– Não importa. Nós não queremos disparar contra o
cargueiro, de qualquer forma, mas, sim, que fique intacto.
Quanto tempo de voo tem o seu esquadrão?
– Temo que não muito. Quase todos nós somos
relativamente novos. Cem horas ou menos nestes pássaros.
Mas os meninos são rápidos, e os artilheiros são muito
certeiros, embora não tenhamos muita prática.
Isso não era bom.
– Temos alguns dias até chegarmos à localização do
nosso alvo – disse Luke. – Talvez possamos encontrar um
lugar para fazer algumas manobras.
– Nós adoraríamos, comandante Skywalker. O esquadrão
está à sua disposição.
Luke sorriu. Ele ainda gostava do som disso. Comandante
Skywalker. Podia ver a si mesmo tornando-se o coronel
Skywalker, general Skywalker. Será que virar um general
não interferiria em seus estudos Jedi? Ben tinha sido um
general, não?
Esse caminho teria de começar mais tarde. Primeiro isso;
depois, Han teria de ser resgatado. Isso poderia ser difícil,
mas, para uma corrida lenta contra um cargueiro de
esterco, ele poderia deixar esses caras em forma em um ou
dois dias, não?

Leia estava contemplando colocar uma moeda de um


crédito em uma das máquinas de jogos de azar fraudadas.
O tédio era tamanho que estava prestes a tentar.
Avaro aproximou-se dela.
– Acabei de rezzeber uma ligazzão de fora do planeta. A
reprezzentaunte do Zzol ezztá a caminho. Ela zzegará aqui
em trêzz diazz.
Leia sentiu uma onda de alívio. Obrigada. Então,
enquanto Avaro gingava para longe, ela pensou sobre o que
ele tinha acabado de dizer. “Ela” zzegará aqui em três dias?
Ela?
Bem, por que não? Nenhuma regra dizia que uma mulher
não poderia ser criminosa.
De uma maneira perversa, agradava-lhe que a
representante do Sol Negro fosse uma mulher.
E já era hora de ela chegar ali, também.

O agente de campo que estavam aguardando chegou à


base escondida em Bothawui três dias depois de Luke e
Dash. Koth Melan recebeu o agente em uma sala privada,
onde os quatro se reuniram.
– Aqui estão as coordenadas do plano de voo – disse o
agente. Mostrou um pequeno computador e colocou-o sobre
a mesa.
Melan disse:
– Novas informações sobre o que pode ser o projeto?
– Nem mesmo rumores. Isto é mais fechado do que um
molusco Corelliano.
– Que pena.
O agente parecia-se com centenas de outros Bothanos
que Luke já tinha visto. Se fosse colocado em uma multidão,
ele desapareceria.
– Você acredita que estas coordenadas sejam válidas? –
perguntou Melan. Apontou para o pequeno computador.
– Acredito. Recebi-as de nosso contato no submundo. Ela
nunca entregou informações falsas antes.
– Contato no submundo? – disse Luke.
– Sol Negro – disse o agente.
Luke e Dash entreolharam-se. Luke disse:
– Sol Negro?
Melan respondeu:
– Parece que a organização está cortejando a Aliança.
Várias vezes nos forneceram informações valiosas. Acredito
que eles pensem que a Aliança vai ganhar a guerra contra o
Império.
– Devem ser os únicos – disse Dash.
Melan olhou para Dash, mas ignorou o que ele disse.
– A guerra, como a política, às vezes nos brinda com
estranhos companheiros de cama. Cada um usa as
ferramentas que tem.
Luke balançou a cabeça.
– Eu não gosto disso. Eles devem esperar algo em troca.
E parecia uma terrível coincidência que Leia tivesse ido
atrás do Sol Negro e que ali eles estivessem, entregando
informações valiosas. Algo não estava certo.
– Eles não pediram nada.
– Ainda – disse Dash.
– Ok – disse Luke –, vamos deixar isso de lado por
enquanto. Se essa informação estiver certa, quanto tempo
temos para nos preparar e zarpar?
– Seu esquadrão de voluntários já foi posto em estado de
alerta – disse Melan. – Nós precisaremos estar em posição
em menos de três horas-padrão para realizar o encontro.
– “Nós”?
– Eu vou junto – disse Melan. – Se Dash Rendar tiver
espaço em sua nave...
Dash devolveu ao Bothano um sorriso preguiçoso.
– Sem problemas. Sabe cozinhar? Posso querer fazer uma
refeição enquanto coletamos esse cargueiro.
– Duvido que tenhamos tempo para comer – disse Luke.
– Talvez você não tenha, garoto, mas eu posso voar e
comer ao mesmo tempo.
Luke teve que sorrir. Esse cara era tão cheio de si, que
era espantoso ainda não ter explodido e espalhado ego por
toda a parte.
– Melhor irmos para as naves – disse Luke.
Dash fez uma saudação zombeteira.
– Sim, sim, comandante.
Hora de partir.
Luke liderou os doze Y-wings para fora do planeta, sob a
sombra da lua local, para ajudá-los a evitar patrulhas
imperiais. Embora a formação fosse um pouco irregular,
voavam muito bem para um grupo que tinha apenas um
tempo mínimo de prática. Não gostaria de levá-los para
uma batalha contra o melhor grupo de TIE da Marinha
Imperial, mas deviam ser capazes de ajudar a cercar um
cargueiro e pará-lo.
As coordenadas e a hora se aproximavam, e ele voltou
sua atenção para a emboscada.
Atrás dele, Dash pilotava sua nave cromada, quase
invisível contra o pano de fundo do espaço, com Koth Melan
como passageiro.
– Fiquem espertos, rapazes – disse Luke em seu comm. –
Estamos quase lá. Quero ouvir vocês, Esquadrão Azul.
Os pilotos dos Y-wings se logaram. Ele manteve tudo
simples; cada uma das naves de ataque tinha um número e
havia batizado a unidade com uma cor.
– Afirmativo – disse Luke. – Chegamos. Fiquem em
posição.
O Esquadrão Azul obedeceu, fazendo seus caças ficarem
imóveis. Flutuavam no meio do nada, esperando. Se a
informação estivesse correta, o cargueiro deveria saltar do
hiperespaço a menos de cem quilômetros logo à frente.
O piloto do cargueiro provavelmente dormira demais. A
nave entrou no espaço real, como deveria, mas a apenas
cinquenta quilômetros de distância.
Era um cargueiro leve, Corelliano, embora de
configuração diferente da Millennium Falcon. Em vez do
corpo em forma de disco, com os narizes gêmeos e a cabine
isolada em uma ponta, esse era ovalado e comprido, com as
extremidades quadradas e um contêiner de carga
retangular destacável pendurado sob a barriga. Parecia o
diagrama de uma pistola gigante.
– Atenção, Esquadrão Azul, aí está o nosso alvo.
Formação de ataque!
A nave saiu do hiperespaço relativamente lenta, mas, já
que estava mais perto do que o previsto, não teriam muito
tempo. Luke mudou para um canal de operações padrão e
saudou o cargueiro.
– Atenção a bordo do cargueiro Suprosa. Aqui é o
comandante Skywalker da Aliança. Desligue seus motores e
prepare-se para a abordagem.
Se tudo corresse como planejado, Koth Melan, em seu
traje de vácuo, seria escoltado a bordo do cargueiro por
alguns guardas e técnicos que também estavam na nave de
Dash. Entrariam e sairiam em poucos minutos.
– Aqui é o capitão do cargueiro Suprosa. Você está louco?
– foi a resposta. – Nós estamos transportando fertilizantes!
Que tipo de piratas vocês são?
– Não somos piratas. Como eu disse, somos da Aliança. E
talvez tenhamos um grande jardim. Detenha-se, capitão, e
ninguém se machucará.
Houve uma longa pausa. Era possível que o piloto não
soubesse o que estava transportando, mas Luke não
acreditava nisso. Se não soubesse, não faria objeção
alguma a ser abordado. Se soubesse...
– Escute, amigo, eu estou trabalhando sob contrato para
a XST e minhas ordens são para entregar a carga para o
agente em Bothawui. Por que você não vai incomodar
alguém contrabandeando armas, especiarias ou algo assim?
– Capitão, ou você desliga seus motores ou vamos
desligá-los para você. Alguns dos meus artilheiros podem
matar moscas na parede com seus canhões de laser. – Bem,
era possível, embora ele não tivesse visto nenhum deles
atirando tão bem assim durante as manobras. O piloto do
cargueiro não sabia disso.
O cargueiro de repente soltou seu módulo de carga,
acelerou e virou-se para estibordo.
Estava tentando fugir.
Luke mudou de novo para o CaOp tático.
– Será da maneira mais difícil, rapazes. Mirem apenas
nos motores! Se não estiverem certos, não tentem o
disparo. Não queremos explodir esse bebê. Mexam-se!
A distância entre o Esquadrão Azul e o cargueiro diminuiu
com rapidez. Isso era estúpido; a nave estava desarmada e
era muito mais lenta do que os Y-wings. Se eles quisessem
cozinhar o capitão, só lhe restava virar jantar. Ele devia
saber disso.
O cargueiro tentou ficar em um ângulo reto em relação
aos caças, mas esses já estavam quase em distância de
tiro. Luke estava na liderança; sua nave era mais rápida do
que os Y-wings, e bastariam uma ou duas explosões para
apagar os motores, presumindo que eles tivessem escudos-
padrão.
Mais dois segundos...
R2 assobiou.Uh-oh. Luke não gostou do que ouviu.
– Coloque-o na tela, R2.
A imagem do cargueiro apareceu na tela de Luke.
Onde antes havia quatro seções normais de casco, agora
piscavam luzes vermelhas. Outros dois pontos brilhavam em
azul.
Placas tinham deslizado para trás no cargueiro,
revelando armas escondidas.
– Atenção, todo mundo, essa coisa tem dentes! Ele tem
canhões de laser dianteiro e traseiro e, ao que parece,
lança-mísseis ventral e dorsal. Cuidado!
Luke fez seu X-wing realizar uma curva arrebatadora
quando o laser a bombordo do cargueiro disparou. A
explosão foi próxima o suficiente para embaralhar seu
comm.
Um dos Y-wings, Azul Quatro, mergulhou para o
cargueiro, mirando no compartimento do motor. Luke viu o
disparo de raios do caça atingir o alvo, mas o jorro azul
brilhante que ocorreu quando o raio o acertou revelou que o
cargueiro tinha escudos aprimorados.
Não era um alvo tão fácil, afinal.
O canhão do cargueiro encontrou Azul Quatro e a nave
explodiu.
Bem, as armas têm bem mais potência do que parecem!
– Desfazer, circular, reagrupar! – gritou Luke em seu
comm.
Azul Dois estava avançando e abortou o ataque.
Tarde demais. Azul Dois fez-se em pedaços.
Quatro das naves Bothanas deram a volta e se afastaram
em ótima formação, com Dash e sua Outrider ao lado.
Luke estava perto o bastante para ver o lança-mísseis no
topo do cargueiro soltar uma nuvem de gás no espaço,
cristalizada e brilhante sob a luz do sol local.
– Ele disparou um míssil! – gritou Luke.
– Deixe comigo – disse Dash. – Vou transformar esse
treco em sucata.
Luke observou a nave de Dash rodopiar e mergulhar, e
suas armas robóticas começaram a vomitar certeiros raios
de energia. Ele não podia ver o míssil, mas viu que Dash
continuava seu ataque, as armas emitindo suas lanças de
luz sólida.
– Droga! – disse Dash. – Eu devo estar acertando! Por
que ele não para?
– Dash! Volte! – gritou Luke.
– Cale a boca, estou quase lá, pare, seu maldito pedaço
de sucata, pare!
– Mexa-se, Dash!
– Não, vou pegá-lo!
– Está vindo! – gritou Azul Seis. – Dispersar!
Os quatro caças tentaram se espalhar, separando-se
como um punho se abrindo.
Tarde demais.
O míssil explodiu entre eles e, quando a explosão
clareou, todas as quatro naves, oito Bothanos, haviam
desaparecido.
– Eu não posso ter errado – disse Dash, com voz
incrédula. – Não posso.
A raiva tomou conta de Luke e ele forçou seu X-wing a
fazer uma curva acentuada. Seguiu direto para o cargueiro.
Seis de seu esquadrão haviam sido destruídos, em um
piscar de olhos. E Dash, o figurão Dash, cometera uma
asneira colossal. Se não tivesse custado vidas, Luke acharia
que o fanfarrão havia tido o que merecia. Se ainda restava
alguma dúvida de que a tripulação do cargueiro sabia o que
estava carregando, ela se dispersara.
Estava irritado demais para usar a Força. Ignorou os raios
de energia que passavam por ele; ignorou a cacofonia de
assobios e balidos de R2; ignorou tudo, menos o
compartimento do motor do cargueiro, sob a mira de suas
armas. Disparou. Disparou de novo e de novo. Viu a
radiação absorvida pelos escudos, viu o azul brilhante. Viu o
campo de força ceder sob seu ataque. Viu o compartimento
do motor se romper, fumaça, lampejos vermelhos e roxos
enquanto seus lasers o fritavam e matavam.
– Eu não posso ter errado – disse Dash. Parecia
atordoado.
– Pare com isso, Dash – ordenou Luke. – Tarde demais
para se preocupar com isso agora. Prepare-se para levar sua
nave até o cargueiro.
Luke alterou o canal. Dirigindo-se ao cargueiro, ele disse:
– Seus motores estão mortos, capitão, e é assim que
você e sua tripulação estarão se disparar outro laser ou
míssil, está ouvindo?
Uma breve pausa.
– Entendido.
– De agora em diante vocês serão considerados
prisioneiros de guerra. Preparem-se para ser abordados. Se
valorizam a própria vida, melhor não mexerem na carga
real. Se alguma coisa acontecer com ela, vocês sofrerão o
mesmo destino.
Luke desligou o comm. Ah, droga. Havia perdido metade
de seu esquadrão. Ele devia ter imaginado que era fácil
demais para ser verdade. Doze Bothanos haviam morrido
em busca daquela nave e seu computador. Ele deveria ter
se preparado para algum truque. Deveria saber que não se
podia confiar no Império. Deveria ter percebido que Dash
era mais conversa do que substância.
Ele era um péssimo comandante. Toda vez que saía,
perdia pessoas. E não havia mais ninguém para culpar por
isso. Sim, Dash tinha falhado, mas era sua responsabilidade,
ele era o comandante da missão. Ele tinha achado que seria
tão fácil. Uma moleza, dissera a Dash.
Sim. Ele era muito arrogante, muito autoconfiante, muito
certo de que a Força lhe mostraria o caminho. Errado.
Sob certo aspecto, isso o irritava. A Força nem sempre
vinha quando ele precisava.
Mas o lado sombrio estaria lá se você precisasse.
Sempre.
Oh não, isso, não. Nem pense em ir por esse caminho.
Mas era tentador. Todo aquele poder. Ele havia sentido...
Balançou a cabeça. Torceu para que o que estivesse no
computador que o cargueiro transportava valesse o custo
para coletá-lo. Tinha que valer.
Avaro enviou um subalterno para dizer-lhes que a
representante do Sol Negro havia chegado. Ofereceu uma
sala de reuniões, que Leia educadamente recusou. Ela pediu
que Lando alugasse um local a dois cassinos de distância
dali, que ele e o droide checaram cuidadosamente em
busca de aparatos de espionagem. O mais longe que sua
confiança em Avaro ia era a mesma distância em que ela
conseguiria arremessá-lo.
– Diga a ela para nos encontrar no Próxima Chance –
disse ela ao lacaio, que se curvou e saiu.
Leia aproximou-se de Chewie, que estava em uma
partida de jogo de tabuleiro com 3PO. Os demais jogadores
do local estavam convencidos de que seria mais sensato
deixar o Wookiee ganhar.
– Vamos, rapazes. Temos companhia.
Chewie e 3PO se levantaram e seguiram-na pelo cassino.
Lando estava a caminho da suíte alugada, para fazer
outra rápida checagem no lugar e configurar a segurança.
Estaria escondido com a pistola na mão quando a
representante do Sol Negro aparecesse. Chewie ficaria de
guarda na porta do corredor e 3PO ficaria com Leia.
Havia anoitecido cedo, uma noite úmida e quente. As
fachadas dos cassinos não pareceriam tão degradadas se
não houvesse luzes tão berrantes na parte externa. Tubos
transparentes de plástico cheios de gases eletrorreativos
que brilhavam em uma dúzia de cores diferentes, quase
todas exageradas, emitindo um halo multicolorido e
sombras para todas as direções. As luzes combinavam com
todo o resto. Tudo no complexo parecia artificial. Até os
gramados e arbustos de bioengenharia soavam falsos.
Em algum lugar na escuridão, alguém gritou. Leia ouviu
o som de botas correndo, seguido por gritos roucos. Ela
tocou o cabo de sua pistola, escondida em um coldre dentro
do cós da calça. Mesmo com Chewie por perto, sentia-se
melhor sabendo que tinha uma arma. A noite ali era
perigosa como uma luta com o Império. Pessoas que
perdiam muito dinheiro jogando às vezes faziam coisas
desesperadas. As notícias locais costumavam listar o
número de assassinatos em sua página 2 toda manhã. Um
assassinato tinha que ser particularmente horrível ou
espetacular para figurar na página frontal.
Chegaram ao Próxima Chance sem incidentes e foram
direto para a suíte.
Lando, pistola na mão, encontrou-os na porta quando
tocaram a campainha.
– Tudo pronto?
– Sim – disse ele. Indicou a sala de reuniões da suíte.
Havia uma mesa com um computador embutido em um
canto da sala, dois sofás, três cadeiras e uma mesa
pequena. Um bar e um refrigerador estavam no canto
oposto à porta. Duas portas de correr levavam para o
refrescador e um quarto adjacente. – Estarei atrás da porta
do quarto – disse Lando. – Caso a representante do Sol
Negro precise usar o refrescador.
– Ótimo. Chewie, você fica com o corredor.
Chewbacca balançou a cabeça e saiu para o corredor,
com a balestra pendurada.
– Ok, 3PO, você fica ali, perto do bar.
Leia mudou-se para a mesa e sentou-se atrás dela.
Poderia muito bem tentar manter uma postura de
profissional de negócios. Recostou-se, respirou fundo,
deixou o ar sair.
Costumava se reunir com oficiais da Aliança, generais,
chefes de planetas, além de governadores imperiais e
senadores, por isso títulos não a assustavam. Mas nunca
tivera um encontro cara a cara com um grande nome do
submundo antes. Pelo menos, não que soubesse. Estava um
pouco nervosa. Não sabia muito bem o que esperar.
Chewie chamou do corredor.
Parecia que sua interlocutora havia chegado.
– Mande-a entrar – disse Leia.
A porta se abriu.

O computador tinha o tamanho de uma maleta pequena.


Era preto e quase sem marcas, exceto por um painel de
controle em uma das bordas. Koth Melan segurou a coisa
facilmente com as palmas das mãos.
Estavam a bordo da Outrider, no salão da nave. Dash
estava esparramado em uma cadeira embutida, olhando
para a parede sem dizer nada. Estava chocado com sua
falha em parar o míssil que derrubara quatro dos Y-wings.
Por mais que Luke quisesse ver Dash baixar um pouco a
bola, não queria que fosse daquele jeito. Dash estava
desapontado por não ser tão bom quanto pensava, mas
pelo menos ele estava vivo. Mais do que poderia ser dito
sobre metade de sua unidade de ataque.
Luke olhava para o pequeno computador. Mais uma vez,
esperou que o que estivesse ali dentro valesse a vida de
uma dúzia de Bothanos.
– Você consegue acessar o programa?
Melan balançou a cabeça.
– Não. Está criptografado e protegido por um dispositivo
de destruição automática. Só um especialista pode
contornar as travas de segurança. Nossa melhor equipe
está em Kothlis, um mundo colonial de Bothan a alguns
anos-luz daqui. Vamos transportá-lo para lá e descobrir o
que temos.
– Eu gostaria de ir junto – disse Luke.
– É claro. Vou lhe passar as coordenadas. Você pode
alcançá-lo facilmente em seu X-wing.
– Dash?
O homem não respondeu e continuou a olhar para o
nada. Aquilo realmente o afetara bastante. Luke chegou a
sentir pena dele.
– Dash – repetiu.
Dash piscou como se saísse de um transe.
– Huh?
Luke tinha visto isso antes. Choque da batalha.
Para Melan, Luke disse:
– Podemos esbarrar com problemas imperiais no caminho
para Kothlis?
Melan deu de ombros.
– Quem pode dizer? É possível.
– Sua organização conseguiria localizar a princesa Leia?
– Até ontem, ela estava no cassino de Avaro Sookcool no
complexo de jogos em Rodia.
Luke balançou a cabeça. Esses caras eram bons. Olhou
para Dash. Não podia levá-lo junto, não do jeito que estava
agora. Estava muito arrasado.
– Dash...
– Eu o tinha na minha mira – disse Dash. – De jeito
nenhum eu teria errado.
– Dash!
– Huh? O quê?
– Vá para Rodia. Encontre a princesa Leia e conte a ela
sobre o computador e os planos secretos. Entendeu?
– Eu deveria ir com você.
– Não, é mais importante que você encontre a princesa. –
Luke sentiu-se como se estivesse falando com uma criança.
Dash piscou. Olhou para Luke.
– Está bem. Rodia. Planos. Entendi.
– Nos encontraremos mais tarde – disse Luke. – Está
bem?
– Encontro você mais tarde, uh-huh.
– Você vai ficar bem?
– Sim.
Luke olhou para Melan, que parecia estar com pena do
piloto.
– É a guerra – disse Melan. – Coisas ruins acontecem.
Luke assentiu. Mais uma coisa pela qual o Império teria
que responder.

Fosse lá o que estivesse esperando, pensou Leia, não


correspondia a Guri.
A mulher do Sol Negro era linda, belíssima, com longos
cabelos loiros e uma figura esbelta. Usava um casaco preto
curto sobre uma segunda pele preta e botas de cano alto,
com um cinto de couro vermelho granulado, usado meio
solto e abaixo dos quadris. Se ela tivesse uma arma, Leia
não poderia ver. Movia-se com a graça de uma dançarina
profissional.
Guri sentou-se diante de Leia e sorriu. Quando falou, sua
voz mostrou-se fria e comedida:
– Como podemos servi-la, princesa?
Leia conteve um sorriso. Direta ao ponto, aquela mulher.
Mas Leia fora uma diplomata por muito tempo para deixar
escapar o que queria para uma estranha. Era preciso todo
um ritual, alguma dissimulação, um pouco de
desorientação. Não se saltava de um penhasco alto em
águas desconhecidas. Coisas perigosas poderiam estar à
espreita logo abaixo da superfície. Era uma boa ideia
investigar cuidadosamente primeiro. Ela não sabia nada
sobre essa loira glacial, seu status em sua organização,
quais os seus objetivos, o que costumavam pedir daqueles
com quem tratavam. Ainda que a Aliança não topasse uma
parceria com criminosos, Leia não se furtaria a utilizar
quaisquer olhos e ouvidos de que precisasse para manter
Luke vivo, e ela não representava a Aliança nessa reunião.
Mas manteria isso para si mesma.
– Pelo que entendi, o Sol Negro tem uma capacidade de
coleta de informações de inteligência de primeira linha –
disse ela.
Guri abriu um sorriso.
– Ouvimos algumas coisas de vez em quando.
– Gostaria de uma bebida? – Leia indicou o bar e 3PO.
Guri olhou naquela direção.
– Chá, se não for incômodo. Quente.
Leia olhou para 3PO.
– E o mesmo para mim, por favor.
– É pra já – disse 3PO, começando a fazer o chá.
– Seu voo foi agradável? – perguntou Leia.
Guri sorriu.
– Muito. Acredito que Avaro tenha tornado sua espera
aqui igualmente agradável.
Bem, pelo menos ela sabia como jogar esse jogo. Fazia
algum tempo que Leia não tinha a oportunidade de sentar e
conversar com outra mulher, estando sempre em torno de
todos aqueles homens e machos ultimamente. Elas
tomariam seu chá, dançariam sua dança diplomática, e,
uma vez ou outra, abordariam as questões de mais
substância. Como no jogo de cartas de Lando, era mais
sensato manter a mão escondida até que soubesse alguma
coisa sobre o jogo dos outros jogadores.
O chá veio e se foi. A conversa manteve-se branda, e,
ainda que não houvesse nada que Leia pudesse apontar,
algo estava errado. Guri não parecia certa, de alguma
forma. Era polida, de boas maneiras, disposta a seguir o
exemplo de Leia no jogo que estavam jogando, e, mesmo
assim, Leia queria se livrar de sua visitante.
O que causaria isso?
Até agora, não haviam chegado nem perto de abordar a
questão de Luke, e, em algum momento, ela teria que tocar
nesse assunto. Mas ainda não. Não até que pudesse
discernir um pouco o que a incomodava na mulher do Sol
Negro.
– Nós estamos mais do que dispostos a agradar a Aliança
– disse Guri, recostando-se em sua cadeira. Parecia tão
relaxada. Muito mais do que Leia se sentia. – Não ficaríamos
tristes se o Império perdesse esta guerra e a Aliança
ascendesse ao poder.
– A Aliança pode ser pior do que o Império, no que
concerne a organizações criminosas – disse Leia. Vamos ver
como ela lida com isso.
Guri deu de ombros.
– A verdade é que o Sol Negro está cada vez menos
interessado em atividades ilegais. A maior parte de nossa
receita hoje vem de investimentos em indústrias legítimas e
operações estritamente legais. Há muitos em nossa
organização que gostariam de se tornar honestos, nada
embaixo da mesa. Tal coisa é difícil sob o peso do Império.
Talvez sob a Aliança a transição possa ser mais bem
efetuada.
Boa resposta, pensou Leia.
– E, como mencionei, temos simpatia pela Aliança. Nós...
ajudamos vocês um número de vezes. Na verdade,
recentemente auxiliamos a Aliança a obter os planos de um
projeto de construção imperial supersecreto, por meio da
SpyNet Bothana.
– Sério? Eu não tinha ouvido falar disso.
– Foi muito recente. A notícia não teria tido tempo de
chegar aqui.
Hmm. Leia recostou-se na cadeira, tentando imitar a
pose relaxada de Guri. Isso merecia ser investigado. Estava
bastante certa de que, se o Sol Negro tivesse dado algo de
grande valor para a Aliança, haveria algo a ser pedido em
troca. Se não agora, mais tarde.
Guri inclinou-se para a frente.
– Lamento, mas devo perguntar se seria possível dar
continuidade a esta reunião mais tarde. Tenho negócios
urgentes em uma das luas locais e temo que minha janela
de lançamento seja em breve.
– É claro – disse Leia. Não importava se Guri tinha os tais
negócios ou não. Se fosse verdade, então ela realmente
precisaria comparecer. Se não fosse, cortar bruscamente a
reunião teria sido uma jogada, que Leia aceitaria para ver
aonde a levaria.
– Talvez possamos nos falar de novo, digamos, em três
ou quatro dias?
– Aguardarei com ansiedade – disse Leia, sorrindo.
Guri se levantou, suave como um acrobata nas melhores
condições. Sorriu, dirigiu a Leia um aceno de cabeça, algo
um pouco mais suave do que uma curvatura militar, e saiu.
Depois que ela se foi, Lando e Chewie entraram na sala.
– O que você acha? – perguntou Leia.
– Uau, ela é completamente fria – disse Lando. – Você
poderia empilhar cubos de gelo na cabeça dela e eles não
derreteriam. Desarmada, a menos que estivesse
escondendo uma arma em algum lugar que eu não pude
perceber. Muito atraente, também, mas há algo de
assustador nela.
Leia assentiu. Ficou feliz por Lando ter percebido.
– 3PO?
– Não fui capaz de identificar seu sotaque – disse ele. – O
que é decididamente estranho, dada a minha vasta
experiência em línguas. Sua língua básica era impecável,
sua inflexão precisa, mas temo que não possa afirmar qual
o seu planeta de origem.
Chewie disse algo.
Ninguém falou por alguns instantes. Então Leia
perguntou:
– Bem, alguém pode me dizer o que ele disse?
3PO começou primeiro:
– Chewbacca diz que a mulher o deixou muito nervoso.
– Ele não disse “muito” – complementou Lando. –
Simplesmente “nervoso”.
– Desculpe – disse 3PO. – Eu inferi o modificador pelo seu
tom. Língua Wookiee permite essas dubiedades.
– Você está dizendo que meu domínio da língua Wookiee
é ruim? – questionou Lando.
– Não comecem, vocês dois. “Muito” ou não, poucas
coisas deixam um Wookiee nervoso. Certamente mulheres
normais não estão entre elas. Algo a se considerar.
Talvez da próxima vez que a mulher do Sol Negro
aparecesse eles devessem preparar uma recepção um
pouco melhor.
A princesa Leia recostou-se na cadeira e sorriu. Parecia
relaxada, confortável, no comando.
Guri inclinou-se para a frente. Disse a Leia que precisava
interromper a reunião agora.
Leia não ficou nem um pouco perplexa.
– É claro – disse ela. De novo o discreto e educado
sorriso.
– Congele aí mesmo – disse Xizor.
O holoproj de Leia tremeu e ficou imóvel, mais nítido
como uma única imagem do que em movimento. Quem
sabe ele mandasse instalar esse quadro em especial como
uma duplicata holográfica permanente em uma das paredes
da sua câmara particular. Seria melhor, talvez, se ela
estivesse nua, mas era ótima também desse jeito. Parecia
capturar a essência da mulher. Conseguiria um nu mais
tarde.
Sem tirar os olhos da imagem tridimensional em
tamanho real no chão à sua frente, ele perguntou:
– O que você achou dela?
Às suas costas estava Guri.
– Ela é perita em conversa fiada sem sentido, como
convém a uma diplomata habilidosa. Não revelou nada do
que de fato queria, exceto que pode ter a ver com a coleta
de informações. Ela é fisicamente atraente para uma fêmea
de sua espécie e espécies afins. Ela é inteligente.
– E...?
– E deve ser mais do que mera coincidência que essa
mulher, conhecida por ser próxima de Luke Skywalker,
esteja sondando o Sol Negro.
Xizor desviou o olhar do holoproj para a sua tenente mais
confiável. Aquilo seria subestimá-la completamente. Quem
quer que acreditasse em coincidências pesadas como
aquela teria de ser um tolo. De alguma forma, Leia (já
estava começando a pensar nela pelo primeiro nome) havia
descoberto mais do que deveria ter sido capaz de descobrir.
Apesar de ter feito um esforço enorme para separar a si
mesmo do assassinato planejado de Skywalker, ela decifrara
a trama e conseguira ligá-la ao Sol Negro. Não era algo
bom, mas era bem surpreendente. Outro ponto a seu favor.
– Sua sugestão?
– Mate-a. Mate seu Wookiee e seu companheiro jogador.
Apague a memória do droide protocolar e derreta-o. Elimine
Avaro também, só para ter certeza. E qualquer um do
cassino que a possa ter reconhecido.
Xizor sorriu. Guri era implacável e eficiente. Fazia parte
do seu charme. Poderia incendiar um prédio para se livrar
dos cupins. Dada sua permissão, faria exatamente o que
sugerira.
– Acho que não – disse ele. – Volte e encontre-a de novo.
Devemos descobrir exatamente quanto ela sabe e para
quem ela disse, se é que o fez.
– Posso obter essa informação antes de acabar com ela.
– Não, prefiro conduzir esse interrogatório em particular
eu mesmo. Quero que você a traga para mim.
Guri ficou em silêncio.
– Vá em frente, fale o que pensa.
– Você está atraído romanticamente por essa mulher.
– E daí?
– Tais atrações são conhecidas por nublar a mente de
seres até então racionais.
Ele riu, algo que vinha fazendo muito raramente nos
últimos dias. Ninguém além de Guri teria a coragem de falar
assim. Outro de seus traços cativantes.
– Não tenha medo, minha querida Guri. Ela nunca
poderia substituí-la em meus afetos.
Guri nada falou. Ele pôde ver que esse pensamento não
lhe havia ocorrido. Ela era imune ao ciúme, até onde ele
fora capaz de determinar. Guri ficaria parada segurando as
roupas da amante de Xizor enquanto ele a possuísse,
aparentemente sem ser afetada pelo que estivesse vendo.
– A princesa Leia sem dúvida será útil para localizar
Skywalker, de uma forma ou de outra. Depois disso, você
pode dispor dela.
Guri assentiu uma vez.
– Vá.
Quando Guri partiu, Xizor refletiu sobre o que ela dissera
e descartou a ideia. Ele seguia por uma estrada bem fria e
sua paixão estava sempre amarrada em segurança até que
ele quisesse deixá-la livre. Guri ficava preocupada; esse era
o seu trabalho e o modo como fora programada, para
protegê-lo a todo custo, ainda que isso envolvesse sua vida
amorosa. Ele não precisava ser protegido nessa área. Em
tais assuntos um Falleen era bem capaz de cuidar de si
mesmo.
E, nesse caso, seria um prazer fazê-lo, também.

O X-wing de Luke saiu do hiperespaço nas imediações do


planeta Kothlis. O mundo tinha três pequenas luas, era o
quarto dos sete planetas que circundavam a primária local,
e não parecia estar repleto de soldados da Marinha Imperial,
pelo menos não onde Luke estava. Ele examinou as bandas
comm locais e pegou tráfego normal, nada alarmante.
– R2, trace um curso para o ponto de encontro que Melan
nos passou.
R2 assobiou, em uma afirmativa.

Os espiões de Darth Vader disseram a ele que Xizor tinha


ido mais uma vez encontrar o Imperador. O homem estava
envolvido em algo perigoso para o Império, tinha certeza
disso. Mas precisava de provas antes de falar com o
Imperador. Xizor caíra nas graças dele, e, se quisesse cortar
essa ligação, Vader deveria descobrir o que o Príncipe Negro
estava tramando. Deveria ter evidências irrefutáveis.
– Traga um dos meus droides duelistas – disse Vader para
o ar. – Não. Traga dois deles.

O esquadrão de caças rebeldes avançou; doze Y-wings


liderados por um único X-wing e uma nave maior, não
identificada e fortemente armada.
O alvo do ataque realizou manobras evasivas e abriu
fogo.
A luta foi furiosa, mas acabou rápido. O piloto do X-wing
logo imobilizou o cargueiro, destruindo seus motores
principais depois que a nave detonara metade de seus
atacadores.
– Acho que já vimos o bastante – disse o Imperador.
A gravação do ataque, feita de dentro do cargueiro e sem
som, desapareceu.
– Transcorreu exatamente como planejamos, pelo que
vejo – disse Xizor. – Eles tiveram que se esforçar um pouco
para conseguir. Não queríamos que parecesse fácil demais.
Um longo silêncio se passou antes que o Imperador
falasse.
– Espero que saiba o que está fazendo, príncipe Xizor. Eu
concordei em deixar que os planos da nova Estrela da Morte
caíssem nas mãos dos Rebeldes, levado por um conselho
seu. É melhor que esteja certo.
Xizor disse:
– Eu estou, meu mestre. Uma vez que os Rebeldes
descubram exatamente o que conseguiram, sua confiança
em mim será completa. Será tarefa fácil atrair os líderes da
Aliança para a sua armadilha. Entregarei a Rebelião para
que possa esmagá-la como preferir.
O Imperador não disse nada, mas Xizor ouviu a ameaça
tácita: Se estiver errado, você se arrependerá muito.
Alguém que olhasse de fora e soubesse quase tudo o que
Xizor sabia poderia considerar a sua posição precária. Tal
como acontece com um malabarista que mantém meia
dúzia de bolas no ar, o desastre parecia iminente. Mas Xizor
tinha habilidades e, mais importante, a força de vontade
para manter as bolas voando sem problemas. Tudo fazia
parte do jogo. E era isso o que o tornava tão interessante.
Qualquer um poderia fazer malabarismos com menos itens;
mas era preciso um mestre para fazer o que ele estava
fazendo.

– Tem certeza de que essa coisa vai funcionar? –


perguntou Leia.
Chewbacca, ocupado trabalhando no batente da porta
com uma pequena chave de energia, disse algo. Parecia
sarcástico.
3PO logo traduziu:
– Ele diz que se não funcionar não será porque foi mal
instalado.
Leia virou-se e olhou para Lando, que deu de ombros.
– O cara que me vendeu isso disse que era o melhor que
tinha – disse ele. – Consegui o mais recente escâner
doppraymagno, com sensor de campo total e uma fonte de
alimentação autossuficiente que deve durar um ano. Melhor
funcionar, isso me custou caro.
– Um mero trocado para os seus vencimentos, acho –
disse Leia.
– Ah, um belo trocado. Espero que valha a pena.
Eu também, pensou Leia.
Chewie murmurou algo.
– Ele diz que está pronto para o teste – disse 3PO.
Leia caminhou até a mesa e sentou-se atrás dela. Ligou o
computador embutido no tampo.
– A unidade está dentro do arquivo “Bioscan” – disse
Lando. Leia abriu o programa. Um holograma apareceu
sobre a mesa.
– Modo não holográfico – disse ela. – Tela plana apenas.
A imagem desapareceu. Ela olhou para a mesa. As
palavras “escâner off-line” apareceram na tela. Seria
invisível da cadeira em frente à mesa.
– Ligar “Bioscan” – disse ela.
A tela se iluminou com a imagem de um olho, uma
orelha e um nariz. Ah, que bonito.
– Ok, todo mundo para fora. Vamos testá-lo.
3PO, Lando e Chewie marcharam para o corredor.
– Fechem a porta.
Fecharam.
– Ok – gritou Leia. – Lando, você vem primeiro.
A porta se abriu e Lando passou por ela. Então deu uma
voltinha, como se desfilasse a última tendência da moda.
– Aqui estou. Aproveite.
Leia sorriu. Ele era agradável para um ladino. Ela olhou
para a tela.
O escâner recém-colocado na moldura da porta captou a
imagem de Lando, que surgiu na tela. Uma infolinha subia
ao longo da imagem enquanto os sensores examinavam
Lando e enviavam o resultado para o computador: humano,
homem, armado com uma pistola e uma pequena vibrofaca
no bolso da calça do lado esquerdo, batimentos cardíacos,
respiração, índice de tonacidade muscular, altura, peso,
temperatura do corpo. Até mesmo um índice de refração
indicando quantos anos sua pele tinha, com margem de erro
de um ano-padrão.
Lando, de acordo com o dispositivo, era um pouco mais
velho do que parecia.
Nada de bombas, gás venenoso ou equipamentos de
comunicações escondidos nessa pessoa. Nenhuma holocam
ou dispositivo de gravação.
– Parece ter funcionado com você. Pode entrar, Chewie.
Mais uma vez o dispositivo escaneou e relatou. Ela não
sabia como eram as leituras normais de um Wookiee, mas o
programa que veio com o escâner aparentemente sabia e
disse a ela que Chewie estava dentro dos limites normais
para a sua espécie.
Teve certeza de que Chewie ficaria feliz em saber disso.
Finalmente ela chamou 3PO. O programa não teve
problema em reconhecê-lo como um droide.
– Bem. Parece estar funcionando perfeitamente – disse
ela.
– Por que não testamos em você? – sugeriu Lando.
– Não acho que seja necessário – disse ela. – Já bastam
vocês.
O comlink de Lando bipou. Ele o tirou do cinto. Leia olhou
para ele.
– Tenho um espião no porto – disse ele. Ergueu o comlink.
– Prossiga.
– Uma nave acaba de chegar – falou uma voz metálica. –
A Outrider, pilotada por...
– Dash Rendar? – finalizou Leia. – O que ele está fazendo
aqui? Ele deveria estar de olho em Luke!
– Obrigado – disse Lando pelo comlink. Desligou.
Voltando-se para Leia, disse: – Talvez seja melhor
descobrirmos.
Encontraram Dash no meio do caminho. Ele estava em
um táxi do pubtrans, vindo do porto. Chewie deu a volta
com seu veículo alugado, e eles logo alcançaram o táxi e
acenaram para ele.
Quando Dash desceu, parecia terrível.
– Luke está bem? – perguntou Leia, com pressa.
– Sim, ele está bem.
– Por que você está aqui? Você deveria estar servindo
como guarda-costas dele.
Dash olhou para ela.
– Ele está bem. Ele não precisa da minha ajuda.
– Você não parece tão bem – pontuou Lando. – Problema?
– Longa história – disse Dash.
– Entre no speeder – disse Leia. – Você pode nos contar
no caminho de volta para o cassino.
Ele entrou no speeder e eles partiram.
Quando ele terminou, Leia balançou a cabeça. Luke
estava bem, isso era o mais importante. E parecia que Guri
tinha dito a verdade, pelo menos sobre os planos secretos.
– Alguma ideia do que sejam esses planos? – perguntou
Lando.
– Não. Os Bothanos têm alguns especialistas bem
quentes lá em Kothlis que vão puxá-los para fora do
computador. – Sua voz era monótona, quase morta.
Lando disse:
– Ei, anime-se, Dash. As coisas ficam pesadas em meio a
uma batalha. Qualquer pessoa pode cometer...
– Eu não! Eu não erro. Eu deveria ter derrubado aquele
míssil! Bothanos morreram porque eu errei, você entende?
Leia ficou em silêncio. Ela não gostava de Dash Rendar.
Ele era um fanfarrão imerso em si mesmo. Mas pelo menos
tinha algum sentimento pelos outros. Talvez fosse mais
porque sua autoconfiança tinha se esfacelado, mas ela
podia ver que aquilo o havia sacudido de verdade. Devia ser
terrível pensar que se tem a imagem mais nítida do espaço
e então descobrir que possui algumas partes manchadas na
borda.
Ninguém disse nada por algum tempo.
Bem, assim que esse negócio com o Sol Negro fosse
concluído, eles partiriam para encontrar Luke. De alguma
forma, tudo ficaria resolvido.

Luke deixou R2 cuidando do X-wing e caminhou até a


sala onde deveria encontrar Koth Melan.
O Bothano estava à espera.
– Algum problema? – perguntou Melan.
– Não. E o que faremos agora?
– Nós temos um esconderijo aqui, a poucos quilômetros
de distância, na periferia da cidade. O computador já está lá
e a equipe está trabalhando nele. Vamos lá e esperaremos
até que terminem.
– Quanto tempo vai demorar?
Melan deu de ombros.
– Quem pode dizer? Horas, talvez, se tivermos sorte.
Dias, se não. A equipe é muito boa e não vai correr nenhum
risco. Depois do que tivemos de pagar por ele, seria
péssimo que uma escorregadela nos fizesse perder as
informações.
– Sim, seria.
– Eu tenho um speeder esperando lá fora.
– Mostre o caminho – disse Luke.
Lá fora, o ar diurno tinha um cheiro estranho. Luke
demorou alguns instantes para identificá-lo. O odor era de
queijo quente e mofado. Sorriu para si mesmo. Sabia que se
acostumaria com aquilo bem rápido e passaria a ignorá-lo.
Isso era algo que quase nunca se mencionava nos anúncios
de viagem, que todo planeta tem seus próprios cheiros e
sensações. A luz era um pouco mais vermelha ali do que em
Tatooine. Fazia um pouco mais frio do que em Bothawui, e
havia esse cheiro. Mundos alienígenas (bem, alienígenas
para quem não nascera neles) eram, cada um deles, únicos.
Queijo mofado não era tão ruim. Já havia sentido cheiros
piores.
Caminharam até o speeder de Melan e entraram. Hora
de descobrir o que o Império acreditava ser tão valioso.
O esconderijo era um arranjo bem inteligente, pelo que
Luke viu. O que parecia ser uma fileira de antigas unidades
de armazenamento e escritórios humildes em um parque
industrial virava algo bem diferente por trás da fachada.
Para além de um posto de segurança com um trio de
enormes guardas armados estava um moderno complexo de
unidades interligadas, brilhantes e reluzentes com os mais
modernos computadores e equipamentos eletrônicos, além
de um grupo de técnicos para operá-los. Quase todos eram
Bothanos, mas havia vários outros alienígenas na operação.
Era uma camuflagem inteligente. Do lado de fora, nunca
se esperaria encontrar tudo aquilo.
– Por aqui – disse Melan.
Luke seguiu o espião mestre Bothano por um bem
iluminado corredor até uma sala com mais um guarda
armado na porta. Melan mostrou uma identificação e foram
admitidos.
Dentro da sala havia meia dúzia de técnicos Bothanos.
Um deles cuidava de algumas sondas plugadas em entradas
do computador que eles haviam capturado. Outros estavam
sentados diante de consoles digitando em teclados ou
usando controles voxax. Dados dançavam no ar como
imagens holográficas que se formavam e reformavam.
– Temo que não haja muito para ver – disse Melan. – A
menos que você seja um especialista nisso, os dados
parecem praticamente um amontoado de números e letras.
Luke assentiu.
– O que significam? – Indicou uma das telas.
– Agora você me pegou – disse Melan. – Eu sou um
espião. O que eu sei sobre programação você poderia
escrever em um microdiodo com uma espada cega.
Luke sorriu.
– Opa, opa, opa! – disse um dos técnicos Bothanos. –
Vejam isso, rapazes! Setor de digitalização Tarp-Hard-Xenon.
Luke ouviu o som das teclas, os comandos dos voxaxes.
– Uau! – disse uma das técnicas.
– Ah, meu Deus! – disse outro. – Eu não posso acreditar!
– O quê? – disse Luke. – O que é isso?
Antes que alguém pudesse dizer qualquer coisa, a porta
explodiu e alguém entrou atirando.

Leia sorriu para Guri, que estava mais uma vez sentada
diante dela na mesa em sua suíte. Mas o sorriso servia para
encobrir sua perplexidade.
De acordo com a tela do computador embutido na mesa
e o escâner que o alimentava, Guri não era humana.
O que ela era, o programa de escâner não sabia dizer.
– Aceita uma bebida? – perguntou Leia.
– Chá seria ótimo.
– 3PO, poderia preparar duas xícaras do chá especial, por
favor?
Leia desviou sua atenção do droide e exibiu seu sorriso
para Guri novamente. Mirou de relance a tela do
computador com a visão periférica enquanto olhava para a
representante do Sol Negro. De acordo com o escâner, a
pele de Guri tinha cerca de dez anos-padrão de idade.
Isso não era interessante?
– Creio que seus negócios tenham corrido bem...
– Correram.
Não teria problemas para mantê-la falando por alguns
minutos, até que o “chá especial” que 3PO estava
preparando fizesse o seu trabalho. A poção do sono que ele
derramava na xícara de Guri a deixaria fora de ação de
forma inofensiva por algumas horas, durante as quais Leia e
os outros poderiam fazer um exame mais detalhado da
pessoa e dos pertences de Guri. Esse era o plano que
haviam combinado para o caso de o escâner fornecer
resultados inesperados. Depois de duas horas, Guri
despertaria (se a poção funcionasse como deveria) sem
lembrar-se de ter caído no sono. Talvez pudessem descobrir
quem e o que ela era durante esse tempo. Pelo menos os
instintos de Leia estavam certos: havia algo estranho em
Guri. Muito estranho.
3PO trouxe o chá. Leia esperava que o droide tivesse
colocado o treco na xícara certa. Seria embaraçoso se
Lando ou Chewie tivesem que entrar e cuidar das coisas
enquanto ela tirava uma soneca.
3PO estava atrás de Guri. Leia relanceou para ele. O
iluminador de seu olho esquerdo apagou-se e voltou a
brilhar.
Leia pegou seu chá e tornou a sorrir.
Quando um homem vai até você disparando uma pistola,
você não fica parado fazendo perguntas estúpidas. Luke
pegou o sabre de luz no cinto, ativou-o e, com um golpe
para a direita, bloqueou um dos disparos enquanto a lâmina
deslizava e se estendia.
Um raio desfez-se sobre a lâmina em uma chuva de
faíscas vermelhas e alaranjadas. O ar passou a feder a
ozônio de repente.
Os técnicos estavam desarmados e Luke viu dois deles
serem alvejados e caírem. Os outros correram em busca de
proteção.
Koth Melan sacou uma pequena arma e revidou,
acertando o agressor principal bem no meio dos olhos. Ele
caiu para trás.
Havia outros atrás dele, entrando pela porta quebrada.
Luke saltou para a frente, girou o sabre de luz no sentido
horizontal e jogou o invasor seguinte pelo vão da porta.
Melan disparou. O raio passou perto da orelha esquerda
de Luke e acertou o terceiro homem que tentava entrar.
Depois desse, Luke viu, havia pelo menos mais uma
dúzia de atiradores aglomerando-se em direção à porta.
Talvez mais. Não dava tempo de fazer uma contagem
precisa.
Mais feixes de energia cozinharam o ar, queimando ao
passar por Luke e acertando consoles de computador e
técnicos.
– Muitos deles! – gritou Melan. – Por aqui!
Luke criou uma cortina de luz sólida com sua lâmina,
defletindo os raios, que forçavam os invasores a recuar
temporariamente. Ele saltou para o lado e Melan disparou
várias vezes na abertura, limpando-a naquele momento.
– Vamos!
Luke virou e correu. A discrição ali sem dúvida era muito
grande. Quem seriam esses caras? Eles vestiam preto, mas
não usavam qualquer insígnia visível. Algum novo grupo de
ataque imperial? Mercenários?
Isso não importa agora. Preocupe-se com quem eles
sejam mais tarde. A festa acabou, Luke; é hora de ir
embora!
Luke correu atrás de Melan.

Depois de vinte minutos de conversa fiada, Leia


percebeu que a poção do sono não funcionaria. Devia
demorar cinco minutos, oito minutos no máximo, se a
vítima tivesse a constituição de uma rocha.
Guri continuava com seu vai e vem diplomático, sem
quaisquer efeitos evidentes da poderosa poção.
Talvez 3PO tivesse se enganado de alguma forma ou não
tivesse colocado a coisa na xícara de Guri...
O computador ainda estava processando informações e
exibindo-as para Leia. A... pessoa sentada diante dela
respirava ar e seu coração bombeava sangue, mas os
pulmões não eram normais, nem o coração. Os músculos
sob a pele de supostamente dez anos de idade não eram
feitos de qualquer tecido que o escâner pudesse
reconhecer. Sua temperatura corporal era dez por cento
mais fria do que o normal. Um ser humano tão frio estaria
morto.
Em uma inspeção visual, Guri parecia uma jovem
perfeitamente normal e atraente com seus vinte e poucos
anos. De acordo com o escâner e o computador, não era
humana, nem de qualquer uma das oitenta e seis mil
espécies alienígenas que ele havia sido projetado para
reconhecer e tampouco de algum tipo padrão de droide. E
era, ao que parecia, imune a uma poção do sono que
deveria funcionar em qualquer humano.
O que estava acontecendo aqui?
Nenhuma dúvida quanto a isto: tinham um problema, e
não era aquele que Leia havia antecipado.
Agora, o que fariam?
Guri ajudou a resolvê-lo. Ela disse:
– Tudo bem, Leia Organa, acho que isto já foi longe o
suficiente.
– Perdão?
Guri levantou sua xícara vazia. Enquanto Leia observava,
ela apertou a pesada caneca de cerâmica com uma das
mãos. Sua mão tremeu um pouco, mas o objeto espatifou-
se em pequenos pedaços. Guri sorriu.
– Posso fazer isso com a sua cabeça, se eu quiser. Você
provavelmente tem uma arma escondida em algum lugar,
mas, estou avisando, sou muito mais rápida do que você, e,
se tentar alcançar sua arma, posso chegar até você antes
que chegue até ela.
Leia abandonou os disfarces.
– Suponha que eu acredite em você. O que você quer?
– Você vai me acompanhar para fora deste lugar. Vai
dizer ao Wookiee no corredor para que permaneça aqui
enquanto partimos; convença-o, caso contrário, ele morre.
– Para onde estamos indo?
– Não se preocupe com isso. Basta fazer o que lhe digo e
vai sobreviver para chegar lá.
– Eu acho que não – disse Leia. – Seja lá quem, ou o que,
você for, aposto que não é mais rápida do que um raio
desintegrador. Lando? Dash?
A porta para o quarto correu para o lado e se abriu.
Lando e Dash estavam ali de pé, pistolas apontadas para
Guri. Entraram na sala.
– Você pode estar errada – disse Guri.
A porta do corredor também se abriu e Chewie ficou ali
com sua balestra apontada para as costas de Guri.
– Posso – disse Leia. – Mas você tem que ser muito rápida
para evitar ser atingida por três raios.
Guri virou a cabeça ligeiramente para olhar para Chewie.
Voltou a olhar para Leia.
– Você tem a vantagem, ao que parece. O que propõe?
Essa era uma boa pergunta. O que eles fariam agora?

Um dos técnicos Bothanos saltou, pegou o computador e


puxou-o de forma que se soltasse das sondas e dos cabos.
As telas não danificadas ficaram brancas.
– Vá! – gritou Melan para o técnico. – Vamos lhe dar
cobertura!
O técnico correu para o fundo da sala. Uma parte da
parede deslizou para trás para revelar uma saída de
emergência. O técnico com o computador zuniu pela
abertura.
Melan, enquanto isso, esvaziou a carga de sua pistola
contra os agressores que estavam voltando. A arma fez um
clique seco e ele a jogou para o lado.
– Corra! – gritou ele.
Luke não precisou ouvir duas vezes. Mas, antes que
pudesse dar um passo, um raio atingiu Melan.
O Bothano caiu.
Luke caiu sobre um joelho.
– V-v-vá! – disse Melan. – Me deixe aqui, caia fora!
Luke viu os invasores de preto chegando em uma
torrente. Não se abandonava seus camaradas feridos em
batalha. Ficou de pé entre Melan e a maré negra.
– Idiota! V-v-vá embora!
Com o sabre de luz, Luke derrubou a pistola da mão do
primeiro homem a chegar até eles. Perguntou-se
brevemente por que o homem não atirou, mas não teve
tempo para refletir sobre isso porque mais cinco ou seis
atiradores entraram na sala.
– Luke – disse Melan. – Obrigado. Eu...
Luke olhou de relance para baixo. Melan ficou mole e
seus olhos rolaram para trás, mostrando apenas a esclera
pálida. Um último suspiro trêmulo escapou e ele ficou
imóvel.
Morto.
O número de homens aglomerados na sala aumentou.
Havia dez, quinze deles agora, todos com as pistolas
apontadas para ele, mas sem atirar. O que...?
– Desligue seu sabre – ordenou um deles, a voz áspera. –
Você não tem como vencer.
Luke olhou para o homem que falava. Sua figura estava
nas sombras e só pôde ser vista quando saiu para a luz.
O alienígena reptiliano tinha a sua altura, era coberto de
escamas negras, com uma boca cheia de dentes pontudos.
Definitivamente um comedor de carne. Luke pensou ter
reconhecido a espécie como a de um Barabel, mas não
estava certo; não tinha visto muitos deles. Barabels não
deixavam sua terra natal com tanta frequência.
Luke viu que não teria chance, mesmo usando a Força.
Pressionou um botão e desligou seu sabre de luz.
– Decisão sábia – disse o Barabel. – Meu povo tem
grande respeito pelos Cavaleiros Jedi e lamento ter de fazer
isso, mas são negócios. Peguem a arma dele.
Um deles se mexeu e removeu o sabre de luz da mão de
Luke.
Luke olhou de volta para o Barabel.
– O que vocês querem?
– Desculpe, mas queremos você, Skywalker.

Chewie disse algo. Não parecia feliz.


– Chewie não acha que essa seja uma ideia muito boa –
disse Lando. – Eu concordo com ele.
Leia disse:
– Olhe, eu sei que você deve a Han e quer cuidar de
mim, mas precisamos fazer isso.
Dash estava apoiado contra uma parede, com uma
pistola fixa sobre Guri, que estava sentada em uma cadeira
e amarrada com algemas e um cabo de aço. Não se
arriscariam com ela.
Dash disse:
– Vocês vão chegar assim, do nada, no coração do
Império, é isso?
– Eu tenho algumas conexões em Coruscant – disse Leia.
– Foi de lá que veio a nossa amiga aqui. – Indicou Guri, que
não reagiu. – Alguém está jogando de uma forma de que eu
não gosto. Luke está em perigo. Esta... pessoa que diz
representar o Sol Negro é a nossa única ligação com eles.
Lando disse:
– Sabe, houve rumores alguns anos atrás sobre droides
réplicas, quase humanos. Parece que ouvi que alguém tinha
aperfeiçoado o método, que os havia deixado tão bons que
você não poderia dizer a diferença entre uma das réplicas e
um ser humano real apenas olhando. Foi uns dez, doze anos
atrás. Isso bateria com a idade dela que o escâner nos deu.
– Relanceou para Guri.
Guri sorriu, mas não disse nada.
– E daí que ela é um droide? – disse Dash. – Que
diferença faz para vocês saberem disso?
Leia balançou a cabeça.
– Não muita – disse ela. – Mas, se pudermos chegar a
quem a mandou, talvez faça. Ela deve valer muito para eles.
Chewie gemeu alguma coisa.
– Chewbacca diz que, se você vai para Coruscant, ele
também vai.
Leia olhou para 3PO.
– Não me culpe, estou apenas traduzindo o que ele disse.
– Tudo bem, você pode ir comigo. Lando, você e Dash
ficam aqui para esperar por Luke. Nós levaremos Guri
conosco. Seja lá quem ou o que ela for, é o nosso passe
livre.
– Como vocês vão chegar lá? – perguntou Dash. – Farão
reserva em uma nave de passageiros? Eles verificam essas
coisas em Coruscant, sabe?!
– Vou entrar em contato com a Aliança e pedir que nos
forneçam uma pequena nave.
– Eu não gosto disso – disse Lando.
– Por que simplesmente não usa a nave dela? –
perguntou Dash. – Deve ter todas as permissões de entrada.
– E talvez nos explodir em pedacinhos? Nós já
determinamos que ela não é o ser mais confiável que
conhecemos. Alguém poderia roubar a sua nave?
Dash riu.
– Não iriam muito longe se tentassem.
– Continuo não gostando disso – disse Lando.
– Eu não estou pedindo que goste, estou mandando que
faça. Isso praticamente encerrou a conversa.
Leia tentou soar como se estivesse no comando e
soubesse exatamente o que estava fazendo, mas isso era
um exagero. Se Guri fosse um droide réplica, sem dúvida
seria valiosa para quem a tinha enviado. Talvez essa pessoa
estivesse disposta a falar para recuperá-la. A sabedoria
convencional dizia que os melhores planos eram geralmente
os mais simples, e, se fosse verdade, aquela seria uma
ótima ideia.
Deixando a sabedoria convencional de lado, não era um
grande plano; ainda assim, era tudo o que ela tinha, e iria
segui-lo da melhor maneira que pudesse.
– Com licença – disse Guri.
Leia virou para olhar para ela.
– O quê?
– Há um jeito mais fácil.
Leia olhou para Guri, depois para os outros.
– Do que você está falando?
– Você quer ir para o Centro Imperial e se reunir com a
liderança do Sol Negro, certo?
– Essa é a ideia geral.
– Por isso eu fui enviada; para fornecer-lhe escolta para
esta viagem.
– Então por que as ameaças?
– Era a maneira mais rápida.
– Eu não confiaria nela, Leia – disse Lando.
– Eu não confio, mas sou razoável. Continue.
– Vai ser muito arriscado para você tentar passar pelos
piquetes imperiais ao redor do Centro Imperial. Eu posso
diminuir esse risco consideravelmente.
– Sem ofensa, mas Lando está certo. Por que deveríamos
confiar em você?
– Porque eu trabalho para o príncipe Xizor.
Lando e Dash respiraram fundo.
Leia olhou para eles.
– Xizor é o cabeça do Sol Negro – disse Dash.
– Posso arranjar para que você fale com ele, se quiser.
Leia franziu a testa.
– Ele está aqui?
– Eu tenho seus códigos comlink privados.
– Eu não gosto disso – disse Lando. Balançou a pistola.
Lando não costumava gostar de muita coisa nos últimos
tempos.
Chewie rosnou e grunhiu. Ele também não gostava.
– Você é procurada pelo Império, assim como seus
companheiros. Eu posso arranjar disfarces, passar pela
alfândega e seguir direto para o príncipe – disse Guri. – Isso
eliminaria boa parte do risco.
Leia suspirou. Parecia razoável, apesar da tentativa de
Guri de capturá-la.
– Tudo bem, nós vamos pelo menos ouvir o que seu
mestre tem a dizer. – Antes que os outros pudessem
protestar muito, ela os silenciou com um gesto.
– Posso me levantar? – perguntou Guri.
– Sim.
Guri ficou de pé com um movimento suave.
– Dash, desamarre-a – ordenou Leia.
– Não há necessidade – disse Guri, sorrindo. Flexionou os
braços. As algemas em torno de seus pulsos arrebentaram
como se fossem feitas de plasto barato. Ela respirou fundo e
retesou-se; o cabo em volta dos seus ombros deu um
gemido metálico, esticou-se e arrebentou.
– Ah, cara – disse Lando.
Guri foi até o comunicador da sala, agitou as mãos diante
dele. Alguns momentos se passaram. Em seguida, uma
profunda voz masculina disse:
– Sim?
– Guri, alteza. Eu tenho a princesa Leia Organa aqui. Ela
gostaria de falar com você.
– Onde está a imagem? – perguntou Lando.
– Meu mestre prefere não a enviar, mesmo em um canal
protegido – disse Guri. Ela olhou para Leia.
Leia disse:
– Saudações, príncipe Xizor.
– Ah, princesa Leia. Que prazeroso conhecê-la
finalmente.
Sua voz era convincente, pelo menos.
– Sua... droide aqui diz que você quer me ver.
– De fato. Tenho informações que talvez possam ser úteis
para você.
– Que diz em respeito a...?
– À tentativa de assassinato de Luke Skywalker. Um
amigo seu, não?
Leia precisou de muito autocontrole para não gaguejar.
Xizor sabia da trama!
– Nós somos camaradas, sim – disse Leia. – Diga-me,
como você sabe dos atentados contra a vida de Luke
Skywalker?
– Não pelo comlink – disse ele. – Precisamos discutir
esses assuntos cara a cara. Se permitir que Guri a escolte,
explicarei tudo quando chegar.
Leia olhou pela sala. Isso certamente era inesperado. O
que faria?
O prédio aonde Luke fora levado ficava a cerca de cem
quilômetros, calculou, do esconderijo Bothano (que não
permaneceu escondido por muito tempo, afinal). E agora ele
estava trancado em uma cela bem reforçada. A tecnologia
ali era um pouco mais simples que a dos Bothanos. As
paredes eram lisas, feitas de alguma substância dura, de
um cinza neutro. A pesada porta era revestida de uma placa
de hiperaço e uma janela no nível dos olhos era coberta por
uma malha de metal, com fios grossos como seu dedo
mindinho. Um guarda com mais de dois metros de altura e,
provavelmente, metade disso de largura, estava do outro
lado com um rifle de raios, olhando para a porta. Havia um
pesado beliche de plástico aparafusado ao chão, com um
colchão fino e um cobertor. Uma luz leve vinha do teto e
projetava sombras fracas e difusas. Num canto havia uma
depressão rasa no chão com um buraco redondo do
tamanho de um punho no meio. Ele tinha uma boa ideia de
para que era utilizada.
Além dessas coisas e de si mesmo, não havia nada na
cela.
Bem. Poderia ser pior. Poderia ter ratos.
Luke sentou-se no beliche. Haviam tomado seu
comunicador e o sabre de luz, mas não o agrediram ou
torturaram. Ainda, pelo menos.
Quem eram? O que eles queriam?
Como que em resposta, a fechadura da porta da cela
clicou e a porta se abriu para dentro. A Barabel apareceu.
Luke não podia vê-la muito bem (tinha quase certeza agora
de que era uma fêmea). Ela parecia encontrar com
facilidade a mais escura das sombras, como se pertencesse
àquele lugar. Bem. Isso não importava. Podia ouvi-la muito
bem.
– Imagino que não queira me dizer o que está
acontecendo.
A Barabel fez um gesto que Luke interpretou como um
dar de ombros.
– Não há por que não dizer. Nenhum sentido em ser
desagradável. Não há nada que você possa fazer.
Aí estava um pensamento feliz.
– Eu sou Skahtul. Ganho a vida como caçadora de
recompensas, da mesma forma que todos os outros aqui.
Parece que há uma grande recompensa, bem grande, para
quem entregar a eles Luke Skywalker vivo e bem, sem
perguntas. Percebendo que seria uma tarefa difícil, alguns
de nós decidiram se unir. É melhor ter uma parte de um
monte de créditos do que nenhuma. Para nossa sorte, você
e aqueles malditos Bothanos aumentaram o valor das
parcelas que os sobreviventes ganharão. É a mesma torta,
mas agora existem menos de nós para dividi-la.
Antes que ele pudesse falar, ela continuou:
– Por incrível que pareça, há uma segunda recompensa
oferecida por Luke Skywalker. Essa é por ele, ou seja, você,
morto. Felizmente para você, o segundo valor não é tão
grande quanto o primeiro, por isso pretendemos mantê-lo
com saúde até que possamos receber os créditos.
– Aqui está uma terceira opção – disse Luke. – Que tal eu
lhes dar mais do que as duas recompensas para me
deixarem partir?
Skahtul gargalhou, um som duro e afiado que reverberou
nas paredes sólidas.
– Oh, certamente, nós, meus colegas e eu, estaríamos
abertos a tal oferta.
Aí estava uma chance. Poderia pedir os créditos
emprestados a Leia e pagá-la mais tarde.
– De quanto estamos falando?
Skahtul mencionou uma soma.
– Eei! Daria para comprar metade de uma cidade com
essa quantia de créditos!
– Com bastante de sobra ainda para que você e seis ou
oito de seus amigos se aposentassem e vivessem felizes
para sempre – disse a caçadora de recompensas. – Será que
deixamos passar algo em nossa revista? Você tem uma aba
de crédito com esse valor em seus bolsos, talvez?
– Quem dera. – Se Leia tivesse tudo isso, ele nunca
viveria por tempo suficiente para pagá-la de volta, mesmo
que chegasse a general. A menos que saísse por aí e
tropeçasse em uma montanha de platina que não
pertencesse a ninguém. Não havia muita chance de isso
acontecer.
Skahtul riu.
– É bom que você mantenha o senso de humor. – Sua voz
ficou séria. – Mas esteja avisado. Qualquer tentativa de
escapar será respondida com a máxima resistência.
Sabemos quão engenhosos são os Cavaleiros Jedi. Você vale
alguns milhares mais vivo do que morto; no entanto, é
melhor coletar a recompensa menor do que correr o risco de
perder tudo. Isso foi compreendido?
– Sim, entendi.
– Bom. Não é pessoal, você sabe. Alguns de nós até
admiram o que você fez contra o Império, temos algumas
simpatias nesse sentido, mas negócio é negócio. Comporte-
se e você vai ser bem tratado. Você será mantido aqui
dentro, mas será alimentado e não será molestado até que
nosso benfeitor nos pague e venha recolhê-lo.
– Você pode me dizer quem é este “benfeitor”?
– Não se preocupe, você vai descobrir em breve.
Com isso, Skahtul deslizou de volta pela porta e fechou-
a.
Luke ficou olhando para a porta. Bem, que ótimo.
Capturado por um bando de caçadores de recompensas e
vendido para quem tinha dado o maior lance. Ainda bem
que a pessoa que o queria morto (e quem poderia ser?) não
era tão generosa quanto quem o queria vivo. Dada a
quantia envolvida, ele não tinha ideia de quem este último
poderia ser.
Darth Vader poderia jogar esses tantos créditos por uma
janela e nunca sentir falta deles, se as histórias fossem
verdadeiras. De acordo com o que ouvira, se a fortuna
pessoal de Vader fosse transformada em moedas de crédito
e despejadas em uma pilha, seria possível que uma pessoa
passasse o resto da vida escavando-a com uma pá sem
alcançar o fundo.
Leia com certeza não tinha isso tudo. Provavelmente
nem toda a Aliança teria isso tudo. Precisava pensar em
algo rápido. Imaginava que, se ficasse cara a cara com
Vader desarmado, não teria muita chance de sobrevivência.
Boa ideia, Luke. Pense em algo. Mas em quê?

O droide que parecia uma mulher havia escondido sua


nave em uma pequena clareira no meio de uma vasta
floresta tropical a duzentos quilômetros de distância do
cassino de Avaro. A viagem não demorou muito por
landspeeder e foram apenas três deles: Guri, Chewie e Leia.
Nuvens de tempestade se reuniam em camadas de roxo
e cinza quando chegaram. O estrondo de um trovão surgiu
segundos após os lampejos brilhantes de um raio. O ar tinha
aquele cheiro úmido e selvagem que ocorre antes de uma
chuva forte.
Leia e Chewie olharam para a nave. Tratava-se de uma
nave elegante, de algum modo quase feminina, com um
formato que lembrava vagamente um oito deitado de
bruços, cheio de armas nas partes frontal e superior e
quatro motores potentes montados na popa.
– Minha nave, a Stinger – disse Guri.
– Muito bonita.
– Batizada pelo meu mestre – disse ela. – Uma
designação apropriada.
– É melhor subirmos a bordo antes de a tempestade
chegar aqui – disse Leia.
O trio caminhou para a nave. Dash e Lando não ficaram
particularmente felizes em ser deixados para trás, mas Leia
não arriscaria ninguém mais do que o necessário. Chewie
era o bastante. Se tudo fosse como Guri e o misterioso Xizor
alegavam, ficaria tudo bem; presumindo que passassem
pelos piquetes ao redor de Coruscant pela alfândega
planetária. Se não fosse, não haveria sentido em fazer com
que todos eles se metessem em encrencas.
Bem. Em mais encrencas do que aquelas em que já
estavam.
A chuva caiu com força e eles correram para a nave.
Ficaram encharcados de qualquer maneira.

Dois dias tinham se passado, pelo menos. Luke perdera a


noção do tempo, uma vez que não havia qualquer luz,
exceto a luz fraca da cela. Não havia paredes feitas de
transparaço que mostrassem o lado de fora.
Ele estava praticando sua levitação, pairando alguns
centímetros sobre o beliche, quando ouviu passos se
aproximando. Deixou-se cair no beliche. Não queria revelar
que sabia como fazer aquilo. Não detectara holocams na
cela e o guarda, normalmente, ficava do outro lado do
corredor.
A porta clicou e Skahtul deslizou silenciosamente para a
cela.
– Então, meu comprador pagou?
– Não exatamente.
Luke escorregou da cama e ficou de pé, encarando a
Barabel, mais baixa que ele.
– O que isso significa?
– Isso significa que, depois de uma discussão com os
meus... colegas, percebemos que você pode ser ainda mais
valioso do que pensávamos.
– Mais valioso? Ora, vamos.
– Existem duas facções que querem você. Sugeriu-se que
talvez possamos elevar o preço jogando uma contra a outra.
Luke piscou.
– Você vai fazê-los dar lances por mim? Como um
escravo?
– Algo assim.
– Quem são essas pessoas?
Skahtul fez algo parecido com um dar de ombros.
– Para ser honesta, nós não sabemos. Nossos contatos
têm sido muito, ah, tortuosos. Agentes de agentes de
agentes, esse tipo de coisa.
Luke não conseguiu pensar em nada para dizer.
– É claro, temos que ser muito, ah, circunspectos nas
nossas relações. Jogadores com o tipo de dinheiro de que
estamos falando devem ser muito poderosos. Um passo em
falso pode ser bem perigoso. Fatal.
– Então você solicitou que dessem ofertas maiores. E se
os que me querem morto virem com mais créditos?
– Como eu disse antes, não é pessoal, apenas negócios.
Luke olhou para a Barabel.
– Desculpe se levar para o lado pessoal. – Sua voz saiu
tão seca quanto sua garganta de repente se tornou.

Em seu covil, Xizor sorria. Guri tinha a princesa e


estavam a caminho. Perfeito.
Recostou-se na cadeira e juntou os dedos. Às vezes era
quase decepcionante quão facilmente ele realizava seus
desejos. Seria bom ter um desafio de vez em quando, como
nos velhos tempos antes de tornar-se mestre em tantas
coisas. Quando tinha que trabalhar um pouco.
Ah, bem. Melhor ganhar facilmente do que perder.

O Imperador estava sentado em seu trono favorito, que


ficava um metro mais alto do que o resto da sala. Vader
entrou e prostrou-se sobre um joelho.
– Meu mestre.
– Levante-se, Lorde Vader.
Vader assim o fez. Esperava que o Imperador quisesse
algo fácil e breve. Tinha acabado de receber de seus
agentes a notícia de que Luke fora encontrado. Seus
captores, ao que parecia, eram uma ralé de caçadores de
recompensa que exigiam mais dinheiro. Os agentes de
Vader sabia quem eles eram, mas não exatamente onde
estavam escondidos. E parecia que havia outro concorrente
que também queria Luke. Vader faria seu pessoal oferecer o
que fosse necessário; dinheiro não significava nada quando
comparado com o lado sombrio, e ele tencionava levar o
garoto nessa direção. Considerou ir ele mesmo recolher
Luke, em Kothlis, onde estaria detido, mas deixar o Centro
Imperial agora seria perigoso. Precisava estar ali para
observar Xizor. Os planos distorcidos do criminoso haviam
enlaçado o Imperador e ficar longe poderia muito bem ser
um erro fatal...
– Você vai para Kothlis – disse o Imperador. – Buscar o
jovem Skywalker.
Mais uma vez Vader ficou feliz por seu rosto estar
mascarado. Não esperava ouvir isso. Como o Imperador
soubera? Quem na organização de Vader o teria traído? Não
havia maneira de o Imperador estar a par dessa informação,
não ainda. Apenas um punhado de agentes de maior
confiança de Vader sabia disso.
A menos... a menos que o Imperador fosse o outro lado
dando lances por Luke?
Não. Isso não fazia sentido. O Imperador tinha delegado
a Vader essa tarefa; ele não entraria em uma guerra de
lances contra si mesmo.
– Já enviei meus agentes atrás dele – tentou Vader.
– Agentes não são de confiança. Skywalker ganha mais
controle da Força a cada dia. Gostaria de lembrar que ele
tem dentro de si o poder de nos destruir. Só você é potente
o suficiente para capturá-lo.
– Sim, meu mestre. – Não havia discussão com ele uma
vez que houvesse decidido.
Certamente havia a mão traiçoeira do Príncipe Xizor
naquilo. Não seria sábio trazer isso à tona; o Imperador
tinha deixado bem claro que o Príncipe das Trevas era sua
preocupação, e não seria uma boa ideia revelar que Vader
traçava seus próprios planos em relação a Xizor.
– Há outra razão. Você está ciente de que o esquema do
príncipe Xizor de permitir que os planos da Estrela da Morte
caiam em mãos dos Rebeldes foi implementado.
– Sim, meu mestre. O plano prossegue com minhas
objeções.
– Tais objeções foram anotadas, Lorde Vader. No presente
momento, os planos foram transportados do cargueiro
sequestrado perto de Bothawui para Kothlis. Que
coincidência, não acha?
Que Luke e os frutos da trama retorcida de Xizor
estivessem no mesmo planeta, ao mesmo tempo, fosse uma
coincidência? Duvidoso.
– Temos que parecer fazer uma tentativa de recuperar os
planos – continuou o Imperador –, para convencer os
Rebeldes de que os planos são genuínos e de que estamos
angustiados com sua perda. Por isso a sua viagem vai servir
a dois propósitos. Você pode buscar Skywalker e pode
destruir parte do cenário local, para que os Rebeldes sejam
levados a acreditar que estamos preocupados com o roubo.
Ele tinha ao menos que tentar:
– Qualquer um dos nossos almirantes poderia ir, acenar a
bandeira e disparar as armas. Tenho muitos assuntos
urgentes aqui.
– Mais prementes do que os meus comandos, Lorde
Vader?
Lá se fora a tentativa.
– Não, meu mestre.
– Achei que não. Terei Skywalker conosco ou destruído,
quanto mais cedo melhor. E o fim da Rebelião está próximo.
Se você liderar pessoalmente o ataque, os Rebeldes ficarão
convencidos de que nós pensamos que esses planos têm
grande valor.
– Sim, meu mestre.
Vader deixou as câmaras e mais uma vez sua raiva
latente ameaçou borbulhar e vencê-lo. O toque de Xizor era
como um espesso nevoeiro noturno: escuro, frio e úmido,
infiltrando até as menores rachaduras com mofo e umidade.
Mais uma vez, manobrara o Imperador para que seu rival
fosse tirado de cena. Com Vader em Kothlis, quem sabe que
nojentas teias aquela aranha reptiliana teceria para o
Imperador?
Vader decidiu que a viagem seria rápida.

A chamada veio do piquete de destróieres estelares e


fragatas imperiais posicionados ao redor do planeta:
– Código de entrada – disse a voz entediada.
Dentro da Stinger, Guri respondeu com um número.
Um instante se passou.
– Podem passar. Travem na grade de pouso e coloquem
no automático.
Guri operava a nave com uma destreza muito
impressionante. Batia nos controles, com as mãos dançando
rapidamente.
Leia e Chewie se entreolharam.
– Eles vão checar se há contrabando na alfândega – disse
Guri, como se estivesse lendo a mente de Leia. – O Sol
Negro tem contatos lá, mas não podemos deixar que fique
óbvio que você está sob a nossa proteção. Hora da
mudança.
Chewie disse algo. Ele não parecia feliz.
– Você quis vir junto – disse Leia.
Ele não gostou, mas saiu e foi para o refrescador.
Uma vez com a nave no automático, Guri se levantou e
caminhou até um armário. Tirou de lá algumas roupas e um
capacete focinho-máscara que cobria toda a cabeça. Jogou-
os para Leia.
– Aqui. Coloque isso.
As roupas fediam. Leia torceu o nariz.
Guri disse:
– Pertenciam a Boushh, um caçador de recompensas
Ubese. Boushh era muito bom no ofício. Fez muito trabalho
sob contrato para o Sol Negro. Ele... aposentou-se
recentemente.
– Por acaso falo um pouco de Ubese – disse Leia.
– Nós sabemos. O traje não é um acaso.
Leia olhou para as roupas.
– O que aconteceu com esse Boushh? Aposentou-se?
– De repente. Tentou forçar o Sol Negro a lhe dar mais
créditos em uma entrega para a qual havia assinado um
contrato. Isso foi... imprudente. – O som da última
declaração fez Leia sentir um calafrio. Foi trocar de roupa.
Tinha a impressão de que Boushh não precisaria desses
trajes fedorentos de novo.
Quando Chewie voltou, poucos minutos depois, tudo que
Leia pôde fazer foi manter uma cara séria. Onde seu pelo
era marrom e cinza, agora havia grandes manchas pretas.
Uma máscara semelhante ao rosto de um guaxinim cercava
seus olhos, e o pelo em sua cabeça tinha sido cortado em
intervalos curtos. Ela se virou para Guri, que disse:
– Conheça Snoova, um famoso caçador de recompensas
Wookiee.
Chewie estava infeliz, e isso pôde ser percebido no que
quer que ele tivesse dito.
– Pare de reclamar – disse Leia. – O corante vai sair com
uma lavagem e seu pelo vai voltar a crescer. Em duas
semanas você estará de volta ao normal.
Leia colocou o capacete e testou o voxscrambler
embutido. Quando falou, sua voz foi alterada
eletronicamente. Sabia Ubese bem o bastante para
conseguir enganar, desde que não encontrasse um nativo
daquele lugar. Sua fala zumbia, chiava e soava aos seus
próprios ouvidos como se de fato viesse de uma garganta
alienígena.
Chewie grunhiu e gemeu, e Guri assentiu.
– Sim. Vai funcionar. Vamos aterrissar em breve.
Leia assentiu e tirou o capacete. Esperava que Guri
soubesse o que estava fazendo.
Um homem magro levava comida e bebida para Luke
duas vezes ao dia. Já tinha comido pior – e melhor, também.
A rotina era geralmente a mesma quando o almoço ou o
jantar chegavam: o magrelo carregava uma bandeja até a
porta. O guarda destrancava a porta, e apontava o rifle de
raios para Luke, que deveria ficar no beliche; o magro
punha a bandeja no chão ao lado da porta e então saía com
o guarda.
Dessa vez, Luke perguntou as horas para o magrelo.
– O que importa para você? – questionou o homem.
– Por que você se importa se eu me importo? – devolveu
Luke.
O magrelo zombou, mas enfim disse a Luke que horas
eram e partiu.
Aquela era a refeição da noite, como Luke havia
suspeitado.
A razão para a sua pergunta era simples. Estava
pensando em fugir, e queria a cobertura da escuridão.
Depois que saísse do prédio, seria melhor que eles não
fossem capazes de visualizá-lo, que ele pudesse usar a
noite para se camuflar.
Luke comeu. O líquido era doce, marrom e efervescente;
a comida não tinha sabor algum; costeletas de soja-pro,
algum tipo de vegetal laranja, algo verde e crocante. No
entanto, não fazia sentido escapar de estômago vazio.
Quando chegasse ao seu X-wing e levantasse voo, não
haveria como saber quando teria a chance de comer
novamente.
Quando chegasse ao seu X-wing.
Sorriu com a boca cheia da gororoba verde. Como se
essa fosse a parte fácil.

Não seria inteligente que fossem vistas juntas, Guri disse


a Leia.
– Depois de passarmos pela alfândega, me encontrem
nessas coordenadas.
Leia e Chewie concordaram.
Houve alguns momentos de tensão na alfândega.
Um guarda examinou o holocartão de identificação
segundo o qual Leia era Boushh e bateu-o de leve contra a
mesa diante dele.
– Propósito da sua visita?
– Negócios – disse Leia em Ubese. Sua voz zumbia e
clicava através da máscara.
– Vejo que você está autorizada a transportar essa arma,
mas não vemos com amabilidade pessoas que as utilizam
no Centro Imperial.
Leia não disse nada.
– Acho que terá que tirar esse capacete – disse ele. – Só
para ter certeza de que você bate com a holografia. – Bateu
com o cartão de novo, deu uma olhada nele. – Temos que
ser bem cuidadosos.
Leia disse:
– Meus pulmões serão danificados se respirar este ar
sem meus filtros.
– Posso arranjar uma sala-atmosfera – começou. E parou.
Chewie aproximou-se de Leia e do guarda, rosnando
algo.
Ela percebia quanto estava acostumada com ele sempre
que o via em seu disfarce. O bom e velho Chewie, tão
confiável quanto a luz do sol, leal até o fim.
– Qual é o seu problema? – disse o guarda.
Chewie balbuciou algo um tanto raivoso.
– Não me importo se você está atrasado para um
compromisso – disse o guarda. Mas a fila de pessoas
esperando para passar pela alfândega estava começando a
ficar mais longa, e o guarda subitamente devolveu a Leia
seu cartão de identificação.
– Pode passar, caçador de recompensas. Eu tenho outras
pessoas para atender.
Depois que Chewie passou, ele e Leia andaram bem
depressa para longe da área.
– Ok, agora vamos ver o meu contato. Esta seção do
Subterrâneo é relativamente segura – disse ela –, mas ainda
não é um lugar onde se possa baixar a guarda.
Chewie balançou a cabeça e deu um tapinha na balestra.
Disse alguma coisa.
– Se você acabou de perguntar por que não seguimos
direto para encontrar Guri, antes eu quero ver se consigo
aumentar um pouco as nossas chances.
A bordo da Executor, Vader refletiu sobre seu futuro
encontro com Luke. Desde a última vez que haviam se
encontrado, o menino tivera tempo para lidar com o que lhe
fora dito. Em algum nível de consciência ele devia saber a
verdade, que Vader era seu pai. É claro que isso tinha sido
em outra época da vida, quando Vader ainda era Anakin
Skywalker; mas o fato permanecia.
Ele iria convertê-lo. Sabia que era possível, porque já
conseguira sentir o lado sombrio ascendendo em Luke, o
poder da sua ira. O menino havia soltado suas amarras uma
vez; poderia fazer com que se libertasse de novo. A cada
repetição, tornava-se mais fácil. O lado sombrio era um
caminho que se fazia mais amplo e mais profundo a cada
vez que era trilhado. Logo, não seria esforço algum para
Luke permitir que o lado sombrio o governasse.
E o Imperador estava certo. Luke tinha muito poder. Era
cru, sem foco e inexperiente, mas era vasto. Seu potencial
era maior do que o do Imperador, maior do que o de Vader.
Embora ainda fosse apenas energia potencial e não
focalizada. Até que se encontrassem, Vader continuaria a
ser o mais apto, o mestre. Derrotaria o menino e o traria
para o lado sombrio. Assim entrariam em acordo, pai e filho.
E, quando isso acontecesse, nada na galáxia seria capaz
de detê-los. Ninguém ousaria se opor a eles. Tudo se
curvaria diante deles. Mundos tremeriam à sua
aproximação.
Sob a máscara, Vader sorriu.
Luke respirou várias vezes num ritual de purificação,
como lhe havia sido ensinado, e tentou liberar seus
pensamentos. Ben Obi-Wan era capaz de plantar sugestões
na mente de um stormtrooper sem esforço aparente. Não
era tão fácil para Luke. Tinha conseguido uma ou duas
vezes, mas exigia muita concentração convocar a Força em
quantidade suficiente. A chave era não se preocupar se
funcionaria ou não, nem pensar no que aconteceria se
falhasse. Você praticamente não poderia ter qualquer outra
coisa em sua mente. Bem, pelo menos Luke não podia. E
isso era complicado, dado que, se não funcionasse ou se ele
desistisse antes de concluir, poderia acabar morto.
Não. Afaste esses pensamentos. Lembre-se de que a
Força está com você. Você consegue fazer isso.
Tomou outro fôlego, deixou metade do ar sair e permitiu
que a Força o conectasse à mente do guarda no corredor.
A sensação era estranha, como sempre. Não era como se
ele estivesse realmente em dois lugares ao mesmo tempo,
e sim como se uma parte de sua mente não estivesse muito
conectada, não estivesse acessível. Uma sensação de
confusão.
Luke percebeu que os pés do guarda doíam, que ele
precisava visitar um refrescador, que estava cansado de
ficar parado ali segurando um rifle de raios, olhando para
uma porta antiexplosões pela qual ninguém poderia passar,
de maneira nenhuma...
– Abra a porta.
– Huh? Quem está aí?
– Você deve abrir a porta.
– Eu... devo abrir a porta.
– Você deve largar seu rifle e abrir a porta agora.
– Eu devo largar... meu rifle. Abrir a porta agora.
Luke observou o guarda pela janela gradeada. Viu-o
colocar seu rifle no chão.
Ele conseguira.
Luke sorriu. Um erro.
– O que...?
Eu o perdi. Concentre-se, Luke!
– Abra a porta.
Luke afastou os pensamentos de vitória e derrota de sua
mente. A única coisa que importava era o guarda.
– Abra a porta.
– Sim. Abra... a... porta...
O cartão-chave do guarda entrou no slot. A tranca clicou.
Um dos sons mais doces que Luke já tinha ouvido.
Ignorou-o.
– Você está muito cansado. Você precisa entrar e deitar
na cama e tirar um bom cochilo.
– Cama. Tirar um cochilo...
O guarda andou até a cela e passou por Luke. Luke
pegou o cartão-chave da mão do guarda. Espiou pelo
corredor. Ninguém mais à vista. Deu um passo para fora da
cela, fechou a porta com cuidado, deixou cair o cartão-
chave no chão e pegou o rifle de raios. Olhou para trás. O
guarda roncava no beliche.
Pronto. Bem melhor assim.
Começou a descer pelo corredor. Sentia-se bastante
confiante. Esse guarda tinha lhe dado menos trabalho do
que aquele do circo, quando praticara andar na corda
bamba. Agora ele deveria ser capaz de cuidar de outros que
aparecessem pelo caminho, fosse com a Força, fosse com o
rifle. Também deveria ir direto para a saída mais próxima e
fugir. Com alguma sorte, algumas horas passariam até que
alguém se desse conta de seu sumiço.
Mas primeiro queria tentar encontrar seu sabre de luz.
Havia passado um bom tempo construindo aquele sabre e,
como a fuga tinha sido tão fácil, tinha certeza de que seria
capaz de recuperar sua arma Jedi e partir tranquilamente. A
Força estava com ele. Ele faria isso.
Tinha certeza.

Enquanto Leia e Chewie seguiam caminho por uma


passagem escura e retorcida em direção ao coração do
Subterrâneo Sul, ela balançava a cabeça. O complexo de
cassinos em Rodia fazia o de Mos Eisley parecer bonito.
Mas, aparentemente, por mais horrível que fosse um lugar,
sempre haveria outro bem pior.
O Subterrâneo Sul fazia o complexo de cassinos parecer
um paraíso de férias.
Havia mendigos por toda parte, vestindo farrapos,
magros e insistentes. O que quer que os tivesse levado ao
subterrâneo devia ser terrível, para que aquela fosse sua
única opção.
Todos os tipos de ofertas ilícitas lhes eram feitas
enquanto ela e Chewie se moviam cada vez mais para
dentro do labirinto de túneis subterrâneos. Os moradores do
corredor venderiam qualquer coisa que eles quisessem, e os
detalhes sobre os produtos faziam o estômago de Leia
revirar.
Sim, aquelas pessoas sempre haviam existido, mas o
Império era o responsável pelo imenso crescimento do
número delas. O que fora uma pequena mancha na alegria
da República era agora uma praga sobre o corpo inchado do
Império.
Chewie rosnou para uma mulher parcialmente vestida
que sorriu ao se aproximar deles. A mulher recuou com
pressa.
O corredor em que andavam estava mal iluminado,
manchado com grafites em meia dúzia de línguas comuns e
pictograpias. As próprias paredes eram úmidas, como se
suassem.
Um planeta cuja superfície fora completamente
construída precisava ter fundações profundas. Em alguns
lugares, o vasto complexo de túneis e cavernas artificiais
atingia um quilômetro de profundidade e continuava
seguindo mais para o fundo. Esses eram locais onde os raios
do sol nunca chegavam; onde o mofo azul acinzentado
sobre as paredes e o teto às vezes alcançava dez
centímetros de espessura; onde o ar úmido e fecundo fedia
permanentemente a podridão fúngica; e coisas piores.
Uma figura de capuz e manto negros saiu da escuridão
sob um eletrobastão quebrado, estendendo a mão verde de
apenas quatro dedos em busca de esmolas.
Chewie disse alguma coisa e a figura se afastou. Uma
onda de fedor do corpo não lavado da criatura somou-se
aos demais cheiros.
Chewie torceu o nariz.
O fedor era pior que o do compactador de lixo no qual
ela, Han, Chewie e Luke haviam se enfiado em sua primeira
reunião. Felizmente para ela, seu disfarce de caçador de
recompensas filtrava o pior dos odores. Pobre Chewie.
Esperava que o local aonde estavam indo tivesse um bom
sistema de filtragem de ar, geradores de ozônio ou, pelo
menos, purificadores de ar.
À sua frente, um eletrobastão piscou, pintando o corredor
escuro com lampejos de luz vacilante até se apagar por
completo.
Em algum lugar no corredor, às suas costas, alguém – ou
algo – gritou. O grito reduziu-se a um gargarejo aquoso no
final.
Leia manteve a mão sobre a pistola.

– Quanto falta para deixarmos o hiperespaço? –


perguntou Vader.
– Algumas poucas horas, meu lorde – disse o capitão.
– Estarei em meus aposentos. Envie alguém para me
informar quando chegarmos ao sistema.
– Sim, meu lorde.
Logo estarei aí, meu filho.

Isso foi quase fácil demais, pensou Luke enquanto


pegava seu sabre de luz em cima da mesa. A pequena sala
de armazenamento estava vazia; ninguém parecia estar
acordado ou por perto e lá estava seu comlink, bem ali
sobre a mesa. Chamaria R2 para pedir-lhe que aquecesse o
X-wing e enviasse a Luke um sinal de rastreio. Uma vez que
estivesse em sua nave, aqueles cloobs nunca mais o
pegariam de novo.
Luke colocou o rifle de raios sobre a mesa e apanhou o
comunicador.
– Quem está aí? Se se mexer eu atiro!
Uh-oh.

No fundo do Subterrâneo Sul o corredor abria-se para


uma enorme câmara hemisférica, tão grande quanto uma
praça da cidade, com um teto alto, boa iluminação e um
círculo de lojas em todo o perímetro. Ali os espessos fedores
se diluíam. Pessoas e alienígenas perambulavam pela área,
protegidos por guardas armados e vestidos com algum tipo
de uniforme, o que servia obviamente para manter uma
aparência de ordem. O local poderia facilmente ser a área
comercial de uma cidade pequena de quase qualquer lugar,
em qualquer planeta civilizado.
Na parte do círculo onde eles estavam havia uma
padaria, uma loja de armas, uma sapataria, um quiosque de
roupas e um mercado de produtos eletrônicos. Aqui um
restaurante, ali uma cantina e acolá uma loja de plantas.
Leia suspirou, aliviada. O lugar tinha mudado desde a última
vez que estivera aqui, mas ainda existia.
– Chegamos – ela disse a Chewie.
O interior da loja de plantas exalava um cheiro ótimo.
Teria sido delicioso em qualquer lugar, mas o era ainda mais
naquele ambiente. Havia pratos de stikmusgo cinza, vasos
de plantas elásticas, flores de todos os tipos, que iam do
vermelho ao violeta, e grossas folhas onduladas de fungo
amarelo presas às paredes e ao teto. Este último produzia
oxigênio sem a necessidade de luz solar, e era, portanto,
particularmente adequado para o hábitat subterrâneo. A
quantidade de oxi no ar ali era tão grande que Leia teve
pequenas vertigens ao respirá-lo.
O teto tinha quatro metros de altura, o que era
necessário porque o proprietário original da loja de plantas
era um velho Ho’Din chamado Spero. Os Ho’Din geralmente
ultrapassavam os três metros de altura, contando com a
cabeleira, que lembrava um aglomerado de vermes ou um
ninho de cobras cobertas de escamas vermelhas e violetas
brilhantes.
Leia olhou em volta e viu o alienígena alto e esguio se
mexendo atrás de uma vitrine de árvores de penas que
roçavam o teto. O velho Spero ainda estava vivo. Outro
golpe de sorte.
– Uma boa reunião – disse Spero. – Como posso ajudá-
los?
Leia falou.
– Estamos aqui para cobrar uma dívida, Mestre Jardineiro.
Como muitos Ho’Din eram famosos por seu trabalho
ecológico, especialmente com plantas, “Mestre Jardineiro”
era considerado um elevado honorífico entre eles. Spero
ganhara o título após criar a espécie de fungo amarelo que
pendia das paredes, usada por toda a galáxia.
– Não consigo me lembrar de débito algum – disse o
velho Ho’Din. – Muito menos para estranhos. – Ele parecia
confuso.
– Nem mesmo a Leia Organa?
Agora ele sorriu.
– Ah, sim. A princesa. Devo a ela a minha vida e de toda
a minha família.
– Ela gostaria que nos ajudasse.
– E como é que eu sei que você foi enviada pela princesa
Organa?
– De que outra forma saberíamos de sua dívida?
Ele assentiu com a cabeça.
– Razoável. O que querem de mim?
– Precisamos saber sobre o Sol Negro. Quem os lidera e
como podemos entrar em contato com eles.
Spero suspirou.
– Eu estava indo preparar chá. Gostaria de uma xícara?
– Talvez outra vez.
– Está bem, então. O Sol Negro é liderado pelo Falleen
Xizor. Ele é conhecido ainda como o “Príncipe das Trevas”,
ou, às vezes, “Sublorde”. Também é o proprietário e
presidente da XST, Xizor Sistemas de Transporte, uma
empresa mais ou menos legítima, que sozinha vale bilhões.
Ele raramente deixa Coruscant, tem um palácio comparável
aos do Imperador e Darth Vader. – Spero apontou para o
teto. – Na superfície, embora partes dele estendam-se
profundamente pelo solo.
Leia e Chewie se entreolharam. Isso confirmava o que
Guri tinha dito a ela. Era o que ela precisava saber. Leia
assentiu e começou a se afastar.
– Obrigado, Mestre Jardineiro – disse ela.
– É um prazer ajudá-la, princesa.
Leia virou-se e olhou para o velho alienígena.
– Perdão?
– Ho’Din não se limita aos seus olhos e ouvidos, princesa.
– O grosso “cabelo” carnudo em sua cabeça agitou-se e
ondulou, brilhando sob as luzes da loja. – Nós nunca
esquecemos os nossos amigos.
Leia curvou-se para ele.
– Então considere sua dívida saldada.
O Ho’Din curvou-se em resposta.
– Bobagem. Os netos dos meus netos não poderiam viver
por tempo suficiente para saldá-la. Mas estou feliz por ter
sido de algum serviço. Caminhe com cuidado, princesa. O
Sol Negro é um adversário formidável.
– Farei isso. Obrigada mais uma vez, mestre Spero.
Lá fora, na área aberta, Leia disse a Chewie:
– Bem, parece que essa parte da história de Guri é
verdade. Melhor irmos encontrá-la.
Chewie rosnou, e ela não teve certeza se ele estava
concordando ou discordando dela.
Luke ainda carregava o sabre de luz na mão direita.
Agarrou a arma com mais força, o polegar no botão de
controle enquanto lentamente se virava para encarar o
dono da voz às suas costas.
– Desculpe, pensei que aqui fosse o refrescador – disse
Luke. Bem. Valeu a tentativa.
O alienígena diante dele era um Nikto, e o comentário
provavelmente o confundira, ao menos por um segundo.
Então seus olhos circundados por chifres se arregalaram
quando reconheceram Luke. Sacou a pistola.
Luke apertou o controle do sabre de luz. A lâmina
brilhante conferiu luz à sala escura.
O Nikto disparou e um raio vermelho dirigiu-se para Luke.
Ele deixou a Força fluir e o raio ricocheteou de sua lâmina,
voltou... e acertou o pé do atirador. O Nikto deixou cair a
arma, agarrou a extremidade ferida e começou a pular
sobre o outro pé, gritando.
– Ow, ow, ow, ow, ow!
Não fosse tão perigoso, teria sido engraçado.
Lá se fora a ideia de esgueirar-se sem ser detectado.
Luke correu para o atirador ferido e atingiu-o com o
ombro de passagem, fazendo com que saísse girando.
Como os swoopers no deserto, o Nikto também xingava
melhor do que atirava.
Portas começaram a se abrir para o corredor, e
caçadores de recompensa armados, a maioria deles
vestidos para dormir, emergiram.
Teria que se cuidar agora.
Girou o sabre de luz e tentou abrir caminho para a
liberdade.

Leia e Chewie caminhavam até o local onde


encontrariam Guri. O lugar era um parque público na
superfície, um pequeno pedaço de vegetação plantada,
cercada de plasticreto e hiperaço.
– Demoraram mais tempo do que o esperado – disse Guri
ao vê-los.
– Paramos para ver os pontos turísticos – disse Leia.
Guri olhou para ela e Leia percebeu fortemente que a
mulher (não, o droide) não gostava dela.
– Sigam-me – disse Guri.

Uma chuva horizontal de raios caiu sobre Luke.


A Força permitia que se movesse mais rápido do que
pensava ser possível, e ele teceu uma tapeçaria defensiva
com o sabre de luz, que mandou a chuva forte para longe.
Os raios defletidos atingiram e perfuraram paredes,
caçadores de recompensa, o chão, o teto. Era perigoso estar
ali, não importava onde ficasse.
Espantado com sua velocidade e habilidade, Luke sabia
que não podia continuar. Bastava que deixasse passar um
só raio e estaria perdido. Mais cedo ou mais tarde, eles o
acertariam.
Correu adiante pelo corredor, e os atiradores à sua frente
abriram caminho para o seu próprio poder de fogo refletido.
Houve muita gritaria em meio aos raios:
– Preste atenção, seu idiota!
– Olhe ele ali, pegue-o!
– Cuidado, cuidado!
– Fui atingido!
Ele não sabia quão longe estava a saída; mas tinha
noção de que, se não estivesse bem perto, ele não
escaparia.
Ainda assim Luke seguiu com o fluxo da Força,
continuando a cortar e bloquear, aparando raios e carne e
ossos enquanto os caçadores de recompensa tentavam
detê-lo. Não havia muita escolha; ele não podia exatamente
parar e pensar sobre as coisas.
À sua frente e para a esquerda, a parede subitamente
tremeu e implodiu.
Detritos fumegantes respingaram em todas as direções.
Alguns dos caçadores de recompensa foram derrubados
pela implosão; outros fugiram. A fumaça avançou e tomou o
corredor; um vapor acre queimou as narinas de Luke.
O caos geral aumentou.
– O que...?
– Luke?
Ele conhecia aquela voz.
– Lando? Aqui!
Mais uma pistola juntou-se à briga – e essa não estava
mirando em Luke. Caçadores de recompensas caíam.
– Reagrupar! – gritou alguém. – Estamos sob ataque!
A confusão aumentou.
Luke viu Lando atacar através da fumaça e do vapor
malcheiroso e disparar com precisão, acertando vários dos
confusos caçadores de recompensa.
– Como atirar em cobras numa caixa de sapato – disse
Lando. Ele sorriu. – Foi você quem pediu um táxi?
– Eu? O que faz você pensar que eu quero ir embora?
Estou me divertindo aqui. – Luke rodopiou e cortou o cano
de uma pistola. A arma começou a assobiar e cuspir faíscas.
Seu dono assustou-se, deixou-a cair e fugiu.
– Sim, você está certo. Por aqui.
Lando liderou o caminho, pistola trabalhando. Luke o
seguiu, bloqueando tiros pelas costas.
Atravessaram a parede destruída e sumiram na noite.
Não demoraria muito para que os caçadores de
recompensas se controlassem. Era melhor estar longe
quando isso acontecesse.
– Eu tenho um landspeeder, uh, emprestado estacionado
logo ali – disse Lando. Fez uma pausa, disparando contra o
prédio às suas costas. – O que diz de darmos um passeio?
Alguém na parede rompida gritou de surpresa e dor ao
ser atingido pelo raio de Lando.
– A Falcon está no meio de um parque público a cinco
minutos daqui. Deixei 3PO cuidando dela.
– 3PO? Onde estão Leia e Chewie?
– Essa é uma longa história. Melhor você ouvi-la quando
voltarmos para a nave.
– Como você sabia onde me encontrar?
– Dash me deu o planeta. Eu cheguei aqui e descobri
sobre o ataque ao esconderijo Bothano. Alguns dos meus
conhecidos locais me deviam favores. Eles me disseram
onde esses yabbos estavam escondidos.
Lando abaixou-se. Um raio chiou sobre a sua cabeça,
desviando-se dele uns bons dois metros.
– Podemos ir agora e jogar Pergunte ao P’w’eck depois?
– Boa ideia.
Correram.
Atrás deles, os caçadores de recompensa continuavam
atirando.

Xizor observava com olhar crítico os galhos mais baixos


de sua árvore espinhos-de-fogo em miniatura de seiscentos
anos. A pequena planta tinha sido um presente de um ex-
rival, que tentara fazer as pazes com o Sol Negro depois de
um... desacordo. Com menos de meio metro de altura, a
pequena árvore era uma réplica quase perfeita das árvores
espinhos-de-fogo de cem metros de altura que cresciam
apenas em um único pequeno bosque da Floresta Tropical
Irugiana, em Abbaji. A árvore anã estivera na família do ex-
rival durante dez gerações e era, para alguém que soubesse
o valor dessas coisas, muito preciosa. Mesmo que sua
fortuna evaporasse e ele ficasse completamente falido,
Xizor não venderia aquela planta, nem se alguém lhe
oferecesse um decamilhão de créditos.
Havia aqueles capazes de oferecer muito mais do que
isso. Pequenas árvores como essa estavam conectadas a
uma boa quantidade de história.
Moveu as pequenas tesouras mecânicas com grande
precisão. Concentrou-se no ramo quase fino como um
cabelo entre as lâminas... cortou...
Ah. Perfeito. Somente esse corte era a única tosa
necessária no ano. Talvez na próxima estação ele retirasse
aquele raminho com uma angulação obtusa sobre o
primeiro galho ascendente. Teria um ano para pensar nisso.
Retirou a tesoura com cuidado. Refletiu sobre a espinhos-de-
fogo. Era bela. Bela o bastante para desculpar os erros do
seu antigo proprietário. O homem tinha cometido erros de
julgamento, mas com esse presente ele mostrava ser
também um homem sofisticado e inteligente. Erros
poderiam ser perdoados se houvesse razões atenuantes.
Xizor era, afinal, um ser civilizado, não um bandido movido
por reflexos.
Permitiria que a princesa Leia descobrisse isso sobre ele.
Assim como permitiria que ela descobrisse outras coisas
mais íntimas sobre ele...

– É tão bom ver que você está bem, mestre Luke.


– É bom ver você, também, 3PO – disse Luke.
Lando passou correndo por eles para a cabine da Falcon.
– Mexa-se, Luke – gritou Lando ao passar. – Não só temos
os caçadores de recompensa para nos atazanar como há
um comboio imperial vindo para cá. Eles acabaram de sair
do hiperespaço para este sistema.
Luke correu. Chegou à poltrona de controle e se sentou,
afivelando-se.
– Sério? Alguém que conhecemos? – Já estava
alcançando os interruptores de pré-voo.
– Eu não cheguei perto o bastante para ler as placas de
identificação, mas a nave líder é um destróier estelar.
– Classe Victory?
– Maior do que isso.
– Classe Imperial?
– Tente de novo.
Luke desviou o olhar dos controles para Lando, com os
olhos se arregalando.
– Não.
– Sim. Classe Super.
– É o... Executor?
– Como eu disse, não cheguei tão perto. Mas quantos
desses estão por aí? Eles não põem essas coisas em marcha
só por diversão.
Luke olhou para o infinito. Seria Darth Vader? O que ele
estaria fazendo ali?
– Vamos terminar rápido com o cheque de voo – disse
Lando. – Não acho que seja uma boa ficar por aqui.
– Concordo. Espere. R2 está no meu X-wing.
– Eu sei, vi isso. Tenho um raio trator preparado para ele.
Vou sobrevoar o X-wing e puxá-lo para cima; vamos prendê-
lo nos encaixes do casco. – Lando apontou para a tela de
controle. – Vamos sair daqui como um raio e entrar na
velocidade da luz rapidinho. Mesmo que não seja Vader
naquele monstrengo, não quero confusão com ele.
Luke assentiu e estendeu a mão para o sistema de
comunicações.
– Para onde estamos indo?
– De volta para Tatooine. É para onde Leia quer que a
gente vá.
– Onde ela está?
– Vamos falar sobre isso mais tarde, ok? – Lando tocou
nos controles até escutar os motores da nave ganharem
vida.
– Melhor sentar lá atrás, Douradinho – gritou Lando. –
Estamos prestes a cair fora!
Uma centena de stormtroopers cercou o prédio, pistolas
prontas para cozinhar qualquer pessoa que tremesse.
Darth Vader permaneceu na escuridão, olhando para o
rombo aberto na parede do edifício. Insetos noturnos
zumbiam e o ar cheirava a isolamento queimado. Ele não
precisava entrar para saber que Luke não estava lá; se o
menino estivesse em algum lugar em um raio de cinquenta
quilômetros, ele certamente teria sentido.
Esses caçadores de recompensa o capturaram; e logo
depois o perderam.
Vader não estava satisfeito.
O comandante dos stormtroopers estava parado
nervosamente nas proximidades, à espera de um comando.
Vader deu-lhe um:
– Traga-me o sobrevivente de mais alto escalão.
– De imediato, meu lorde. – O comandante gesticulou e
um esquadrão entrou no prédio. Tiros foram trocados. O
tempo passou.
Dois soldados surgiram, arrastando um homem entre
eles. Trouxeram-no para onde Vader estava e o soltaram. O
prisioneiro cambaleou, mas ficou em pé.
– Você sabe quem eu sou?
– S-S-Sim, Lorde Vader.
– Bom. Onde está Skywalker?
– E-E-Ele escapou.
Vader cerrou o punho, e o homem agarrou sua garganta.
– Eu sei que ele escapou, tolo.
O homem sufocava; seus olhos se arregalaram. Vader
esperou por alguns segundos e abriu a mão.
O homem abriu a boca e respirou fundo.
– Eu estava d-d-dormindo, meu lorde. Acordei com um
tiroteio. Deixei meus aposentos e vi Skywalker no corredor.
N-não parecia real. Uma dúzia de nós atirava nele e ele
mexia o sabre de luz pra lá e pra cá e bloqueava os raios!
Apesar de sua raiva, Vader ficou satisfeito. A habilidade e
poder do rapaz estavam aumentando.
– Continue.
– Mais de nossos homens chegaram. Tínhamos certeza
de que iríamos vencê-lo, mas aí a parede explodiu. Fomos
atacados. Eu não sei dizer quantos eram, quinze, talvez
vinte. Nós estávamos em desvantagem numérica. Quando a
luta terminou, Skywalker tinha saído do prédio.
Vader olhou para o espaço. Do prédio e do planeta, seria
capaz de apostar. Pegaria seu transporte de volta para a
Executor; talvez não fosse muito tarde para alcançá-lo.
Relanceou para o caçador de recompensas.
– Pelo que entendi, mais alguém queria Skywalker.
Quem?
– E-Eu não sei, Lorde Vader.
Vader levantou a mão de novo e começou a enrolar os
dedos em um punho.
– Espere! Por favor! Eu não sei, nós... nós lidamos com
agentes.
Ele olhou para o caçador de recompensas. Sentiu que
havia algo mais ali.
– Você tem uma suspeita – disse Vader. Não era uma
pergunta.
– Eu... alguns de nós ouviram rumores. Eu não sei se eles
são verdadeiros.
– Diga-me.
– Nós... nós ouvimos que era... o Sol Negro.
Vader olhou para o homem. Claro.
– E esse outro... licitante queria Skywalker vivo e bem?
– N-N-Não, meu lorde. Ele o queria morto.
De repente ele se virou, esquecendo-se do prisioneiro.
Claro. Ele havia inconscientemente suspeitado o tempo
todo. Agora que sabia, fazia todo o sentido. Xizor queria
frustrar Vader de qualquer forma que pudesse. Que melhor
maneira do que matar seu filho e ao mesmo tempo
envergonhá-lo perante o Imperador?
– De volta à nave auxiliar – disse ao comandante.
– E quanto a esta escumalha? – Acenou para o edifício e
o prisioneiro.
– Deixe-os. São inúteis.
Vader já estava indo embora.

A Falcon estava em alta órbita, prestes a disparar para


longe. R2 estava em segurança a bordo e o X-wing de Luke
estava preso ao casco. Luke não confiava na plataforma que
prendia o caça à embarcação maior, mas ela o mantinha
fora do alcance das armas e deveria segurá-lo. Assim
esperava.
– R2! Achei que nunca mais o veria de novo! – disse 3PO.
R2 assobiou para 3PO.
– Sim, nós também tivemos a nossa quota de aventuras.
Devo dizer que não gosto nem um pouco de todo esse
negócio. Não poderíamos encontrar um bom e calmo
planeta e tirar umas férias? Em algum lugar de clima
agradável, com uma profunda piscina de lubrificante?
Luke sorriu. R2 e 3PO eram sempre divertidos.
Lando saiu da órbita e se dirigiu para o espaço
interplanetário.
– Quanto tempo até o salto para o hiperespaço, mestre
Lando?
– Alguns minutos. E que tal isso para mostrar que nossa
sorte mudou? Não há nave imperial alguma em nosso
rastro. Já era hora de algo dar certo pra gente.
Luke assentiu. Enquanto esperava que Lando ligasse o
hiperdrive, ele disse:
– Como está Dash? Ele estava muito chateado depois
que atacamos aquele cargueiro.
– Não muito bem. Bem deprimido. Ele não consegue
acreditar que falhou em alguma coisa. Tinha que acontecer
mais cedo ou mais tarde, mas ele não está acostumado com
isso.
– Coisas como essa acontecem na guerra – disse Luke. –
Você fica decepcionado. – Como ele ficara com Dash. Uma
pena.
– Sim. O que havia no computador que era tão
importante, afinal?
Luke deu de ombros.
– Eu não sei. Os Bothanos tinham acabado de descobrir
quando os caçadores de recompensa atacaram o
esconderijo.
– Será que os caçadores de recompensa pegaram o
computador?
– Eu acho que não. Acho que nem sabiam que estava lá.
Eles estavam atrás de mim. Da última vez que vi, um dos
técnicos Bothanos estava com o computador. Acredito que
tenha escapado com ele.
– Se escapou, os Bothanos vão levá-lo para a Aliança –
disse Lando. – Eles são muito confiáveis. Acho que nós
vamos descobrir o que era, em algum momento.
– Sim.
– Preparem-se para o salto no hiperespaço.
Lando apertou o controle.
Nada aconteceu.
Luke virou-se para olhar para ele.
– Oh, céus – disse 3PO. – Parece haver um problema.
– Deve ser uma das modificações de Han! – disse Lando.
– Meu pessoal supostamente consertou essa coisa em
Bespin! Não é minha culpa!
– Bem. O que fazemos agora?
– Encontramos um esconderijo e consertamos isso antes
de esbarrarmos com a Marinha Imperial.
– Isso parece uma excelente ideia – disse 3PO.
R2 assobiou, concordando.
Guri levou Leia e Chewie de volta para o Subterrâneo.
Andaram por horas, virando em inúmeros corredores cada
vez mais estreitos. Enfim chegaram a um pesado portão,
trancado. Guri abriu-o e voltou a trancá-lo depois que
passaram. Entraram no que parecia ser uma pequena
estação de trem repulsor.
Um homem estava à espera lá. Era baixo, atarracado e
careca, com a constituição de um estivador de algum
mundo com gravidade pesada. Usava macacão cinza e tinha
uma pistola presa do lado esquerdo da cintura. Sorriu,
revelando dentes que pareciam feitos de cromo preto.
– Vá com ele – ordenou Guri.
– Aonde você vai?
– Não é da sua conta. Apenas faça o que lhe disserem e
você verá o príncipe Xizor em breve.
Ela se virou e foi embora sem dizer mais nada.
O careca postou-se diante de Leia.
– Por aqui – disse ele.
Careca foi na frente até um carrinho motorizado
estacionado do lado de fora, em que mal havia espaço para
os três. Felizmente, o teto da coisa era conversível. Com a
capota abaixada, Chewie poderia ficar sentado sem bater a
cabeça. Dirigiram através de um túnel até meio caminho do
círculo de lojas. Careca tocou em um controle no carrinho e
uma pesada grade de metal que cobria a abertura do
corredor deslizou para o teto. Lá dentro o túnel era limpo,
bem iluminado, sem mofo ou grafite nas paredes. O piso era
livre de sujeira.
Dirigiram por um bom tempo; provavelmente dez ou
doze quilômetros. Enfim, o túnel se abriu para uma grande
câmara, no meio da qual havia um carro bala flutuando
sobre repulsores magnéticos em cima de um monotrilho.
Aonde quer que estivessem indo, devia ser bem longe.
Carros maglev podiam cobrir longas distâncias bem
depressa, a trezentos ou quatrocentos quilômetros por hora,
especialmente em um túnel completo como aquele. Não
compensava usar sua velocidade total se o destino não
fosse distante.
Chewie e Leia seguiram Careca para dentro do carro.
Quando já estavam sentados e afivelados, Careca disse:
– Vá.
O carro bala moveu-se suavemente para longe da
câmara e dentro de um túnel escuro. Pegou velocidade
rápido. Uma fileira de pequenas lâmpadas amarelas
iluminava o túnel de tantas em tantas centenas de metros,
e não demorou muito para que as luzes amarelas
parecessem estar piscando sobre eles continuamente.
Qualquer que fosse seu destino, chegariam lá muito em
breve, mesmo que ele ficasse do outro lado do planeta.
Leia olhou para Chewie e desejou poder ler melhor suas
expressões. Ele parecia calmo. Mais calmo do que ela.
Esperava estar fazendo a coisa certa, embora fosse um
pouco tarde para se preocupar com isso agora, não?

– Qual é o problema? – perguntou Luke.


Do poço de serviço logo abaixo dele, a resposta de Lando
foi mais do que um pouco irritada:
– O problema é que Han e Chewie alteraram,
reconectaram e ferraram completamente com esta nave!
Estou olhando para um ninho de serpente de fios onde
deveria estar uma placa de circuito destacável! Os
diagramas não se aplicam a coisa alguma aqui!
– Bem, você consegue consertar?
– Eu estou tentando consertar! Passe-me esse bifurcador
de ligações.
Luke pegou o BL, que parecia uma barra com dois dedos
afiados fazendo o sinal de V em uma extremidade. Teve que
deitar de barriga no chão para alcançar Lando.
Lando opinou divertidamente que a ascendência de Han
estava em questão e que seus hábitos pessoais deixavam
muito a desejar.
Apesar do perigo de sua situação, Luke sorriu.
– Peça a R2 para dar uma olhada daí; talvez ele saiba o
que faz este maldito fio azul.
R2 escutou. Deslizou até a borda do poço de serviço,
“inclinou-se” para a frente e deu uma espiada lá embaixo.
Assobiou e chilreou por um momento.
– Iaautch! – gritou Lando.
– Melhor você não tocar nesse aí.
– Agora, o que você me diz? E esse amarelo?
R2 assobiou.
Parecia que ficariam ali por algum tempo, presumiu Luke.
Tinham conseguido encontrar os restos de uma pequena
lua ou talvez um grande asteroide, em uma longa órbita
parabólica ao redor do planeta. Aninharam a Falcon entre as
rochas maiores e fizeram com que a nave alcançasse a
velocidade exata da nuvem de destroços. De uma certa
distância, com a maior parte de sua energia desligada, a
nave pareceria apenas mais um dos pedregulhos maiores.
Não havia gravidade suficiente ali para que as rochas se
aglutinassem de novo; elas deviam ser um perigo conhecido
pelas naves e, provavelmente, evitadas. Mesmo um
destróier estelar classe Super não iria querer um monte de
pedras do tamanho de edifícios colidindo com seus escudos
em alta velocidade. A quantidade de energia cinética
gerada de uma vez só seria grande demais.
Pelo menos era isso o que Luke e Lando esperavam.
– Passe-me aqueles alicates cabeça-de-agulha – disse
Lando.
Luke obedeceu.
– Você quer que eu desça aí para ajudar? Eu sou muito
bom com ferramentas.
– Eu já fui dono desta nave – disse Lando. – Vou descobrir
uma maneira de contornar o que Han fez com ela. O homem
deveria ter vergonha de si mesmo.
– Vou falar isso pra ele quando tirá-lo da carbonita – disse
Luke.
– Eu também. Em alto e bom som e várias vezes.
O carro bala desacelerou. As faixas de amarelo ao redor
deles passaram a piscar a intervalos mais longos. Quando o
carro parou, estava dentro de uma vasta câmara, tão
grande quanto um salão de festas oficial. Sobre a
plataforma na qual parou estavam seis grandes guardas,
todos vestindo uma armadura cinza e armados com rifles de
raios. Careca saiu e deu seu sorriso negro brilhante.
– Por aqui – disse ele.
Dois dos guardas romperam a formação com os outros e
foram para trás de Chewie e Leia.
– Tire o capacete – disse Careca. – Você não vai precisar
mais dele.
Careca levou-os até uma porta tão espessa quanto um
cofre de banco. Pressionou a mão contra um leitor e a porta
clicou e se abriu. Ele os levou para dentro, por um corredor
alto e arqueado, largo o bastante para uma dúzia de
homens lado a lado. A porta maciça se fechou às suas
costas. Estava muito frio ali, frio o suficiente para que sua
respiração formasse vapor.
A uma curta distância mais à frente havia outra porta,
com outros seis guardas de armadura diante dela. Não era
tão pesada quanto a porta anterior, mas era ainda
suficientemente espessa e controlada por um leitor de
impressão. Depois que passaram por ela, encontraram
ainda mais guardas.
Parecia que quem controlava aquele lugar não queria
visitas inesperadas.
Chegaram a um grupo de quatro turboelevadores.
Careca digitou um código em um teclado e a porta do
elevador à esquerda se abriu. Os três entraram, deixando os
dois guardas para trás.
Enquanto o elevador subia, Leia perguntou:
– Já aprendeu a confiar em nós? – Indicou os guardas que
tinham ficado.
Careca sorriu. O elevador parou, e outro par de guardas
apareceu
Bem. Talvez Careca não tivesse aprendido a confiar
neles, afinal.
Uma série de corredores seguia por uma teia de
ramificações a partir dos elevadores, e Careca os conduziu
por um que se conectava a um labirinto de outros
corredores. Leia tentou memorizar todas as idas e vindas
(tinha uma boa memória para essas coisas), mas, a meio
caminho através de uma complexa cadeia de curvas à
esquerda e à direita, as luzes se apagaram.
– Apenas continuem andando – disse Careca. – Eu aviso
quando devem virar.
Caminharam na escuridão por cinco minutos, com
Careca falando de vez em quando. “Virem à esquerda.”
“Virem à direita.” “Virem quarenta e cinco graus à esquerda
por cinco passos, depois virem à direita.”
Quando as luzes acenderam-se (como ele conseguira
guiá-los sem enxergar?), Leia estava completamente
perdida.
Quem quer que fosse a aranha gorda entrincheirada no
centro daquela teia, ela de fato não gostava que visitassem
sem avisar.
Em dado momento, Careca levou-os por um corredor. No
final do corredor, havia duas altas portas de madeira
esculpida e, de pé nas laterais, mais dois guardas. Esses
não usavam armaduras nem tinham rifles, mas portavam
pistolas em seus cintos muito baixos. Eram homens
grandes, que pareciam saber usar as mãos. Um deles girou
as maçanetas e abriu as portas quando se aproximaram.
Careca disse:
– Lá dentro.
Em seguida, virou-se e foi embora.
Leia olhou para Chewie. Percebeu que seu pulso estava
acelerado e seu estômago oscilava. Respirou fundo e deixou
parte do ar sair.
Entrou no cômodo, com Chewie logo atrás.
Um homem alto (não, não era um homem, mas um
alienígena de aparência exótica) levantou-se de trás de uma
grande mesa e sorriu para ela.
– Ah – disse ele –, princesa Leia Organa e Chewbacca.
Bem-vindos. Eu sou Xizor.
Era a voz que ela tinha ouvido pelo comunicador do
hotel.
O pulso de Leia acelerou ainda mais. Sentiu uma tontura
repentina, como se seu cérebro tivesse nublado. Então, lá
estava ela, finalmente, de frente para a pessoa encarregada
da maior organização criminosa da galáxia. Isso era
estranho o suficiente por si só, mas, para tornar tudo ainda
mais esquisito, ele era absolutamente... belo!
– Como está indo aí embaixo? – perguntou Luke.
– Nem queira saber – respondeu Lando.
– Vou ver o que posso preparar na cozinha, você quer
alguma coisa?
– Sim, um copo cheio de ácido de bateria e inseticida.
Luke balançou a cabeça, levantou-se e dirigiu-se até a
cozinha.
Parou de repente, como se tivesse sido tocado por uma
mão gelada.
– Mestre Luke? Você está bem?
Luke ignorou 3PO. Havia um distúrbio na Força, uma
mancha escura em sua perfeição. Parecia familiar...
Uh-oh.
Luke virou-se e correu de volta para o poço de serviço.
– É melhor você consertar isso rápido, Lando.
– Qual é a pressa?
– Acho que estamos prestes a ter companhia.
Lando enfiou a cabeça por cima da borda do poço.
– O quê? De jeito nenhum alguém poderia nos encontrar
aqui.
– É? Quer apostar?
– Ah, cara. Nem me diga no que você está pensando –
disse Lando.
– Ahn?
– Não diga “tenho um mau pressentimento em relação a
isso”.
Luke olhou para ele.
Lando desapareceu de novo pelo poço de serviço.
– Estou me apressando, estou me apressando!
Luke foi até a cabine verificar os sensores. Se fosse quem
ele pensava, esconder-se em um amontoado de rochas não
iria adiantar nada. De algumas coisas você podia fugir, mas
simplesmente não conseguia se esconder.

Xizor estava satisfeito. A jovem sentada à sua frente,


ladeada por seu peludo guarda-costas, era tão deleitável
quanto ele imaginara, ou ainda mais. Até agora, tinham
falado de coisas triviais, generalidades. Ele fingiu estar
honrado por ela ser uma alta oficial da Aliança; ela fingiu
não estar enojada por ele ser um criminoso. E, de fato, não
importava de verdade o que ela sentia, agora que estava ali
ao seu alcance.
Não, a coisa agora era de que forma melhor prosseguir
com seu cortejo, se é que podia pensar nisso em tais
termos.
Ele já havia permitido que alguns de seus potentes
feromônios dominassem o ar. Lutava com vontade para
evitar que a cor de sua pele mudasse muito, mas havia um
brilho quente ao seu redor. O Wookiee não parecia notar,
mas Leia tinha respondido aos atrativos químicos que ele
exalava. Sentia-se atraída por ele; e ele sabia disso graças à
sua longa experiência com as mulheres. Ele era atraente ao
olhar, e, com a atração adicional de seus hormônios
aprimorados, seria preciso uma fêmea humanoide muito
forte e muito determinada para resistir a ele.
Quando jovem, ele havia sentido a atração que Leia
experimentava agora. Havia mulheres Falleen e era difícil
ignorar quando uma delas... florescia para você. Como uma
flor de estufa enviando sua fragrância pelo ar, os
feromônios Falleen rodopiavam e envolviam qualquer um
próximo o bastante para seu abraço urgente. Forte como
um torno de hiperaço...
Se Leia tivesse alguma sensualidade, poderia apenas
fingir que não estava atraída por ele, como agora tentava
fazer. Ele tinha que lhe dar crédito; ela não estava
demonstrando como se sentia. Mas o rubor de suas
bochechas, sua respiração um pouco mais rápida, seu...
anseio, tudo isso era óbvio para quem já tinha visto tais
sinais milhares de vezes, quem sabia como identificá-los e
usá-los para seu melhor proveito, como Xizor. E ele os
usaria.
– Você deve estar cansada da viagem – disse Xizor. –
Deve refrescar-se, trocar de roupa, relaxar um pouco antes
de nos aprofundarmos em assuntos sérios.
– Eu não trouxe exatamente um guarda-roupa comigo.
Xizor fez um gesto com a mão e exibiu para ela um
sorriso típico de homem da galáxia.
– Essas coisas são facilmente remediáveis. Pedirei a
Howzmin que lhe mostre os seus aposentos. Temos alguns
visitantes de vez em quando e um bom anfitrião cuida das
necessidades de seu hóspede. Talvez existam algumas
peças de roupa que você considere aceitáveis no seu
quarto. Tenho negócios urgentes aos quais devo
comparecer. Refresque-se e junte-se a mim em duas horas.
Leia relanceou para seu guarda-costas e tornou a olhar
para ele.
Xizor ofereceu a ela seu sorriso mais sexy.
Ela parecia nervosa.
– Sim. Está bem. Estamos um pouco cansados.
Sem ser visto, Xizor acenou com o pé sob a mesa e um
sensor lá embaixo transmitiu o movimento a um dispositivo
de comunicação implantado em Howzmin. A porta se abriu
e o servo careca entrou na sala.
– Leve a princesa Leia e Chewbacca aos seus quartos.
– É para já, príncipe Xizor.
Depois que os dois saíram, Xizor sentou-se, respirando
lenta e profundamente, apreciando a sensação de vitória
iminente. Antes de seu próximo encontro, ele faria
meditação e exercícios que deixariam suas essências
hormonais com força total. Um Falleen animado que
liberava seu arsenal completo de feromônios era, para
todos os efeitos práticos, irresistível para um membro do
sexo oposto. Não importava qual a postura de uma mulher
quanto à fidelidade, se tinha sido uma parceira fiel a outro
por anos ou décadas. Os feromônios dos Falleen eram mais
potentes do que o mais forte tempero. Leia poderia querer
resistir a ele com a mente, mas seu corpo doeria de desejo.
E havia somente um antídoto contra isso.
Xizor sorriu. Ele adoraria administrar esse único antídoto
em Leia. Adoraria mesmo...
Leia estava abalada. Enquanto Howzmin os levava por
um complicado corredor, ela teve de respirar fundo várias
vezes para se acalmar. O que havia sido tudo aquilo? Que...
que atração emocional rolava sobre ela como a onda de um
oceano tropical? Claro, Xizor era bonito, era exótico, mas ela
nunca fora do tipo que ficava prostrada diante de um rosto
bonito. O que ela sentia, o que queria fazer, bem, isso não
era em nada de seu feitio. Além disso, amava Han. Amor
não era algo que se guardava em uma gaveta ao ver um
homem... um Falleen atraente. Isso não estava certo.
Mas não podia negar o que havia sentido. O alienígena
mexia com ela de alguma forma. Era como um soco no
plexo solar; tirava o seu fôlego.
Bem, não importava. Deu um suspiro. Estava de volta ao
normal; focaria sua atenção no objetivo. Ela viera até ali
para ajudar Luke. Quando isso estivesse feito, partiriam
para resgatar Han. Colocaria de lado o que quer que tivesse
sentido pelo misterioso Xizor e nunca mais pensaria nisso
de novo.
A parte dela sentada em algum lugar de sua mente
observando, ouvindo e se recusando a permitir que
qualquer coisa além da verdade passasse parecia rir: Ah,
sério? Você pode até não fazer nada em relação ao que
sentiu por ele, irmã, mas não será capaz de esquecê-lo tão
facilmente.
Cale a boca, disse mentalmente à vozinha. Eu não
preciso disso.
Talvez não, irmã, mas você tem.
– Este é o seu quarto – disse Howzmin. – O Wookiee
ficará na próxima suíte.
Leia sacudiu-se para sair do diálogo interior e fez um
gesto com a cabeça para Howzmin.
Chewie disse algo que soou como uma pergunta.
Leia disse:
– Ficarei bem. Se Xizor quisesse nos prejudicar, já
poderia ter feito isso. Continue. Lave essa tintura, não é
mais necessária. Encontre-me de novo aqui quando estiver
pronto.
Chewie assentiu e seguiu Howzmin até a porta ao lado.
O portal em frente a Leia deslizou para trás quando se
aproximou, e ela entrou no quarto.
Era um modelo perfeito de elegância, ela pensou.
O tapete era tão espesso que ela afundou nele quase até
os tornozelos. Neocel preto, imaginou; provavelmente dava
um trabalho enorme manter aquilo limpo. Havia um sofá de
couro branco, possivelmente clonado, que fazia um forte
contraste com o tapete; uma cama redonda com lençóis
pretos e um edredom, sob um dossel branco translúcido
sustentado por seis mastros esculpidos. Uma mesa branca
com um computador sobre ela e uma cadeira preta
posicionada ordenadamente sob a mesa ocupavam um
nicho ao lado da cama.
Simples, elegante e certamente mais caro que qualquer
suíte de hotel dos grand moffs da galáxia.
Leia cedeu a uma vontade urgente de tirar as botas e
caminhar com os pés descalços por todo o tapete. O
material era ou naturalmente morno ou mantido aquecido
de alguma forma, e oferecia uma sensação maravilhosa
entre os dedos dos pés.
Havia um refrescador do outro lado de uma porta
fechada, todo preto e branco; azulejos, pias e banheira
esculpidos em formas suaves e arredondadas.
Encontrou uma porta de armário quando voltou à sala
principal e abriu-a.
Havia roupas no armário, como lhe fora dito. Ao contrário
dos cômodos, eram de todas as cores do arco-íris: vestidos,
camisas, calças, jaquetas, macacões. Leia tirou um cabide
no qual estava pendurado um vestido diáfano de material
verde quase transparente e tão leve que pesava quase
nada. Olhou para ele. Tocou-o. Ela não era do tipo que
gastava grandes quantias em roupas, mas reconhecia a
qualidade quando a via, mesmo sem a etiqueta para
confirmar. Esse vestido era um Melanani original, feito de
fibra de traça Loveti, e com o preço dele era possível
comprar um novo landspeeder.
Uma olhadela rápida nas outras roupas revelou que
todas eram originais de primeira classe. Ele realmente
cuidava das necessidades de seus hóspedes. Os créditos
gastos somente naquele armário poderiam comprar e
mobiliar casas em muitos planetas, com troco suficiente
para contratar cozinheiros e jardineiros para todas elas.
Leia começou a fechar o armário, mas parou. Olhou de
novo o seu interior e examinou a etiqueta do primeiro
vestido que tinha visto.
Ora. Veja só isso. Do seu tamanho exato.
Um súbito pensamento lhe ocorreu e ela começou a
verificar as outras etiquetas.
Tudo era do seu tamanho.
Ela piscou e ficou olhando para o interior do armário.
Poderia ser coincidência que o líder do Sol Negro possuísse
um armário cheio de roupas do seu tamanho?
Pensou que não. Talvez Howzmin tivesse conseguido
suas medidas através de um sensor em algum ponto ao
longo do caminho e feito a viagem de compras mais rápida
da história. Xizor tinha créditos para queimar. Talvez
houvesse uma dúzia de quartos, todos abastecidos dessa
forma, cada um para um hóspede de tamanho diferente?
Improvável, mas possível.
Xizor sabia que ela estava a caminho, afinal de contas;
talvez estivesse apenas sendo um anfitrião atencioso.
Meneou a cabeça. Estava cansada. Talvez tomasse um
banho e esticasse o corpo por alguns minutos. Quanto às
roupas caras? Bem, ele tinha se dado ao trabalho, não
importava a explicação. Se ele achava essas coisas
atraentes, talvez ela devesse vestir uma das roupas e usar
isso em seu benefício, para desequilibrá-lo. Se estivesse
ocupado admirando-a, talvez ficasse mais propenso a lhe
dar algo de que ela precisava.
E sua vozinha disse: Realmente, irmã, quem você acha
que está enganando? Você quer ficar bonita para ele,
admita.
Sim, tudo bem, e daí? Ela não era casada. Não havia
nenhuma lei contra flertar um pouco, havia? Não faria nada
com o chefe de um submundo do crime, faria? Qual o
problema de se vestir bem um pouco? Não fazia muito disso
desde que se juntara à Aliança. Não que sentisse muito a
falta, mas, dada a situação, que mal faria?
Cuidado, irmã. Essas águas são perigosas. Melhor tomar
cuidado com as serpentes marinhas.
Oh, me poupe. Eu sou uma menina grande. Posso cuidar
de mim mesma.
Começou a encher a banheira com água quente.

– Acho que isso resolve – disse Lando saindo do poço de


serviço.
– Você acha?
– Não dá para saber com certeza até ligarmos o
hiperdrive.
– Mestre Lando, mestre Lando!
3PO vinha cambaleando, agitando os braços e emitindo
brilhos dourados em todas as direções.
– O quê?
– Os sensores indicam que uma nave está se
aproximando! Uma nave enorme! Gigantesca!
Lando olhou para Luke.
– Imagino quem possa ser.
– Espero que tenha consertado o hiperdrive – disse Luke.
– Caso contrário, acho que vamos descobrir quem é.
Os dois passaram correndo pelo droide em direção à
cabine de comando.
No caminho, Luke sentiu aquele toque frio alcançá-lo
através da Força. Sabia quem era. A única pergunta era:
Darth Vader podia senti-lo também?

– Lorde Vader?
Vader olhava pela janela para o campo de asteroides
diante deles. Não se deu ao trabalho de olhar para o seu
capitão.
– O que é?
– Estamos nos aproximando do campo de asteroides.
Vader virou-se para olhar para o capitão.
– Você quer dizer este campo de asteroides bem à nossa
frente? – Apontou para a janela.
Aturdido, o capitão recuou.
– Sim, meu lorde. Nossos sensores não detectaram sinal
algum de uma nave naquela região.
– Ainda assim, há algo no campo – disse Vader. – Não
consigo localizar sua posição exata, mas há um foco da
Força nessas rochas e quero encontrá-lo.
– Certamente, Lorde Vader. Ah, posso sugerir que
mandemos nossos caças? Entrar no campo de asteroides
diretamente colocaria muita pressão sobre os escudos da
nave.
– Muito bem. Diga-lhes para procurar por qualquer coisa
incomum, qualquer coisa. Se encontrarem algo, não devem
agir, mas informar imediatamente.
– Sim, meu lorde. Eu os enviarei já.
Vader voltou-se para a janela. Seria Luke? Ainda não
podia ter certeza. O lado sombrio podia não ter limites, mas
ele tinha, e tudo o que podia saber àquela distância era que
algum poderoso foco da Força estava naquele monte de
rochas despedaçadas mais à frente. Não acreditava que
poderia ser qualquer outra coisa além de Luke, mas não
estava certo. Tinha que proceder com cautela. Com as
manipulações de Xizor envenenando o poço no Centro
Imperial, era mais importante do que nunca capturar Luke
vivo. Um pouco mais perto e a indefinição sem dúvida se
resolveria. Estava perto demais para perder seu filho de
novo. Mais cedo ou mais tarde, iria encontrá-lo e trazê-lo
para o lado sombrio. Tinha certeza disso. Ele era Darth
Vader, afinal; havia exterminado os Jedi restantes com as
próprias mãos. Todos, exceto o mais forte deles: seu próprio
filho.
Mais cedo ou mais tarde ele enfrentaria o último
candidato a Jedi. De uma forma ou de outra, lidaria com ele
também.

Leia usou os sopradores para secar-se após o banho,


penteou o cabelo e teve de admitir que fazia muito tempo
que não se sentia tão bem. Não era comum naqueles dias
que ficasse imersa em uma banheira de água quente. Na
maioria dos lugares a que ia e nas naves que usava para
chegar a eles, estaria com sorte se tivesse água reciclada
suficiente para um banho rápido. Você entrava, jogava água
suficiente para se molhar, ensaboava-se e enxaguava-se
com os poucos litros restantes antes que o relógio
automático desligasse a água. Era melhor do que nada, mas
longe de ser divertido como esticar as pernas em uma cuba
esculpida em mármore negro, cheia de vapor-d’água tão
quente que deixava sua pele vermelha. Isso devia ser um
dos melhores luxos da civilização.
Foi até o armário e abriu-o. Reparou em uma pequena
gaveta embutida na parede e viu que ela continha roupas
íntimas. Bem, Xizor realmente pensara em tudo.
Ok. Qual daqueles vestidos deveria usar?

Xizor olhou para o ponto vazio onde o holoproj ficaria se


ele o ligasse. Havia holocams escondidas por todo o castelo,
é claro, em praticamente todos os cômodos.
Incluindo o quarto no qual Leia tinha sido instalada.
Ele brincou com a ideia de ver a gravação, para saber se
ela havia aproveitado o que o quarto tinha a lhe oferecer.
Mas... não. Não queria estragar a surpresa. Olharia mais
de perto para ela mais tarde.
Muito mais de perto.
A Millennium Falcon deixou o campo de asteroides, na
direção oposta à da meganave que se aproximava, e estava
pronta para realizar o salto para o hiperespaço.
Luke olhou para os sensores.
– Temos caças TIE chegando. Diria que quase quarenta
deles. Quando quiser, Lando.
– Lá vai – disse Lando. – Se você acredita em sorte, peça
pela versão boa dela.
Levou a mão ao controle. Engatou o hiperdive...
Nada aconteceu.
Lando xingou a nave, em uma sequência de frases
engraçadas. Algumas eram descrições bem gráficas, ainda
que altamente improváveis, de coisas que ele gostaria de
fazer com ela.
– É melhor eu voltar para as armas – disse Luke.
Começou a se levantar.
– Não, espere...
– Nós não temos tempo para esperar; em dez segundos
estaremos cercados de TIEs.
Lando tocou em outro controle e fez um ajuste.
– Agora!
A Millennium Falcon saltou. O espaço ficou borrado ao
redor deles, de forma familiar, quando o cargueiro transitou
para o hiperespaço.
– Rá-rá! – disse Lando.
Luke, já quase de pé, foi jogado de volta ao seu assento
com força. Quando se recuperou, olhou para Lando.
– Essa foi muito perto.
Lando deu de ombros.
– Ei, se você queria uma vida chata, deveria ter ficado
em Tatooine. – Ele sorriu, satisfeito consigo mesmo. – Eu
sabia que poderia consertar.
Luke balançou a cabeça, mas teve de sorrir. Estavam
seguros, ao menos por enquanto. O que importava se quase
tinha acontecido? “Quase” não significava nada.
– Agora, se alguma outra modificação especial de Solo
não nos mandar pro meio de uma estrela, nossa próxima
parada deve ser Tatooine. Assim que Leia e Chewie
terminarem seu negócio, podemos voltar para o resgate de
Han.
– Por mim tudo bem – disse Luke. – Eles ainda não
terminaram?
Lando deu de ombros.
– Eles tiveram que fazer um pequeno desvio.
Luke tinha a impressão de que Lando não estava lhe
contando tudo, mas deixou passar. Estava cansado.
Precisava descansar, comer alguma coisa; então poderia
continuar com aquela conversa.

Vader olhava para o espaço quando o capitão se


aproximou nervosamente.
– M-Meu Lorde Vader – começou.
Vader reprimiu um suspiro.
– Não há necessidade de dizê-lo, capitão. Seus pilotos
perderam suas presas.
– A nave deixou o campo de asteroides e fez a mudança
para o hiperespaço quando eles se aproximaram. Não havia
nada que pudessem fazer.
– E seus pilotos identificaram a nave?
– Era um pequeno cargueiro Corelliano.
Vader não respondeu. Sem dúvidas era a nave de Solo, a
Millennium Falcon, agora sob o controle de Luke. Talvez ele
tivesse com ele a jovem princesa e aquele jogador traidor,
Calrissian.
– Defina o curso para o Centro Imperial, capitão.
– Mas nós não deveríamos...
– Deixe que eu me preocupe com isso. – Fez uma pausa.
O capitão estava certo. O Imperador o enviara para lá
por outras razões além de buscar Luke.
– Muito bem. Há suspeita de uma base rebelde em uma
das luas Kothlisianas.
– Não sei de base alguma, meu lorde.
Vader voltou a olhar para o capitão, que rapidamente se
calou.
– Como eu disse, há suspeita de uma base rebelde na
lua. Antes de irmos, você permitirá que seus homens
exibam seu talento bombardeando essa base.
– Sim, meu lorde.
Luke havia partido, ele não sabia para onde, e Xizor
continuava com sua malandragem retorcida à própria vista
do Imperador. Localizaria seu filho mais tarde. Enquanto
isso, seria melhor voltar para onde pudesse lidar com Xizor.
Havia um velho provérbio Sith que dizia: “Mesmo quando
enfrentamos o grande gato-sabre, é melhor não virar as
costas para a humilde serpente”. Uma mordida de uma
pequena cobra poderia matá-lo tanto quanto as presas do
tamanho do braço de um predador gigante. E o beijo da
serpente seria mais lento – e mais doloroso também.
– Depressa, capitão. Eu não gostaria de ficar esperando.
– Não, meu lorde.

Leia vestiu uma roupa colante escura antes de entrar no


vestido verde quase transparente. Provavelmente não era a
intenção do estilista que as roupas íntimas escolhidas
cancelassem o efeito translúcido de seu tecido, mas ela não
estava interessada em deixar que Xizor visse tanto dela.
Sentiu-se um pouco fútil por estar usando roupas de
vários milhares de créditos. Ela não fazia isso desde que era
uma menina em Alderaan.
Entrou no refrescador e olhou-se no espelho. Havia usado
uma gaveta de maquiagem bem abastecida ao lado do
espelho, apenas um toque, e conseguira trançar seu cabelo
e prendê-lo para que não parecesse o ninho de um rato de
nave enlouquecido. Pelo menos estava limpo. Esboçou um
sorriso.
Chewie já deveria ter chegado.
Foi até a porta do quarto. Franziu o cenho quando ela
não se abriu automaticamente. Encontrou o controle
manual, mas, ao tentar usá-lo, a porta ainda se recusou a
deslizar para o lado.
Ah. Parecia que lorde Xizor não queria hóspedes andando
por aí em seu castelo.
Ao se virar, de repente a porta abriu. Chewie estava ali,
sem seu disfarce colorido. O corte de cabelo ainda parecia
estranho, mas sem a coloração o Wookiee parecia mais
familiar.
Howzmin estava logo atrás dele.
Ela queria dizer a Chewie que precisava ver Xizor
sozinha.
– Dê-nos um momento, está bem? – disse Leia para
Howzmin.
O servo assentiu, com um rígido gesto militar.
Chewie entrou no quarto. A porta se fechou.
Ele olhou para Leia. Virou a cabeça de lado, intrigado.
– O que você está olhando? Coloquei algumas roupas
limpas, só isso.
Chewie não disse nada.
Leia sentiu uma pontada de culpa. Chewie e Han eram
como irmãos. Ela não tinha feito nada de errado, mas sentia
como se tivesse feito, então tentou explicar:
– Olha, precisamos da ajuda de Xizor. Não há razão para
que eu não fique com uma aparência agradável; talvez eu o
pegue desprevenido e reduza sua resistência.
Ainda em silêncio, Chewie ergueu uma sobrancelha.
Leia sentiu-se corar.
– Quem é a diplomata aqui, afinal? Eu não lhe digo como
pilotar uma nave, você não me diz como conduzir
entrevistas.
Finalmente, o Wookiee disse algo. Pontuou sua frase com
um gesto que apontou para a porta e depois para Leia. Ela
não entendeu o comentário, mas teve uma noção do que
ele estava tentando transmitir: Chewie não aprovava. Han
aprovaria?
Nem com um olho Gamorreano ele aprovaria.
– Não é da sua conta como eu me visto! – disse ela.
Talvez isso tivesse saído de forma mais irritada do que
deveria. Começou a pedir desculpas, mas mudou de ideia.
Ela e Han não eram casados; eles não haviam tido tempo
sequer de prometer coisas um ao outro. Sim, ela o amava e
acreditava que ele a amasse também, mas ele nunca
dissera isso. Quando houve a chance, falou: “Eu sei”. Que
tipo de compromisso era esse? “Eu sei”? Duas palavras em
vez de três? Era tão mais difícil dizer uma palavra curta a
mais?
Não havia nada de errado em tentar ficar bonita para um
homem bonito, especialmente um que poderia ajudar a
salvar a vida de Luke. Não era como se eles estivessem
prestes a fazer alguma coisa! Por que Chewie estava sendo
tão rígido? Ela não tinha nada do que se envergonhar. Nada
mesmo!
Então, por que você se sente tão culpada, irmã?

Em sua câmara mais particular, Xizor estava sentado


sozinho sobre um tapete, em uma sala que não possuía
mais nada, de olhos fechados, com os dedos entrelaçados
no colo. Sua respiração era profunda e regular; sua mente,
clara. Começou a se concentrar em clamar suas habilidades
hormonais especiais.
Seus atratores aumentaram e começaram a escorrer
pelos poros. Seus feromônios emergiram, incolores,
inodoros, passíveis de ser captados apenas pelos receptores
das fêmeas humanoides. Para uma portadora das pequenas
organelas ocultas e quase invisíveis dentro dos canais
olfativos, os atratores seriam esmagadores; eles
provocariam uma compulsão mais forte do que um
comando hipnótico.
Não havia maneira de impedir que sua pele ficasse
vermelha, mas não importava. Ela não ligaria para sua cor,
uma vez que o sentisse chamar por ela.
Havia lhe dado uma pequena prova disso antes. Agora
colocaria um banquete diante dela. Um que ela não poderia
recusar.
Ele respirou fundo, deixou o ar sair. Quase pronto. A
frieza estava lá, mas logo, logo a paixão seria libertada.
Sorriu.

R2 e 3PO conversavam na sala de repouso. Luke, a


caminho da cozinha para enfim preparar sua refeição, parou
e olhou para os droides.
– Algum problema?
3PO disse:
– R2 está um pouco preocupado com a princesa Leia. Eu
disse a ele que ela é bastante engenhosa – disse 3PO. –
Tenho certeza de que ela está bem.
Luke deu de ombros. Foi para a cozinha. Naquele
momento, teve a sensação de que Leia, onde quer que
estivesse, corria grande perigo.
Sua fome desapareceu. Não tinha mais vontade de
comer. Talvez fosse melhor ter aquela conversa com Lando.
Agora.
Na cabine, Lando disse:
– Desculpe, amigo, mas não devo lhe contar.
– O quê?
– A princesa quer que você vá para Tatooine, e ela pediu
que, quando você perguntasse, eu dissesse que ela já
cuidava de si mesma antes de conhecer você e que pode
cuidar de si mesma agora.
Luke olhou com raiva.
– Além disso, ela tem Chewie com ela. Ele não vai deixar
nada lhe acontecer, você sabe disso.
– Sim, talvez.
– Olha, ela provavelmente vai chegar a Tatooine antes de
nós. E ela está no comando, lembra?
Luke assentiu. Mas não gostou. Algo parecia errado.

Quando a porta do santuário de Xizor se abriu, Leia


quase engasgou. O senhor do crime agora usava um longo
manto esvoaçante em tons de vermelho, que pareciam
refletir a mesma cor em sua pele descoberta. A roupa
poderia ter sido feita pelo mesmo estilista responsável seu
vestido. E ele não estava usando nada colante sob a peça.
Seu corpo era grande sob o tecido fino, rígido e muscular, e,
se existiam diferenças anatômicas visíveis entre ele e os
seres humanos básicos, ela não podia vê-las.
Ele sorriu.
– Entre, princesa.
Às suas costas, Chewie disse algo. Xizor certamente o
entendera, porque seu sorriso sumiu por um segundo, antes
de ele recuperá-lo.
– Seu amigo se importaria em aproveitar este momento
para jantar, enquanto conduzimos nossas negociações?
Pelo tom de Chewie, ele se importaria.
Leia havia esquecido de lhe falar sobre isso em seu
quarto, de tão defensiva que ficara a respeito de suas
roupas. Agora, ela pediu:
– Chewie, espere lá fora.
Ele realmente não gostou disso.
Ela se virou e encarou o Wookiee.
– Han confiaria em mim agora. Você deveria, também.
Chewie fez uma expressão de dúvida, mas calou a boca.
Deu um passo para trás e quase derrubou Howzmin.
– Eu vou ficar bem.
A porta se fechou entre eles.
Quando ela se virou, Xizor estava perto de um pequeno
bar atrás do sofá de couro.
– Algo para beber? Brandy Luraniano? Champanhe
verde?
– Chá está bom, Sua Alteza. – De jeito algum ela beberia
algo potente perto dele.
– Me chame de Xizor, por favor. Podemos dispensar os
títulos, agora que estamos sozinhos.
Leia observou Xizor servir seu chá. Ele parecia quase...
brilhar, e ela ficou tonta só de olhar para ele. Foi para o sofá
e sentou-se em uma das extremidades. Tentou relaxar, mas
sentia uma estranha tensão sufocando-a.
Quando ele contornou o sofá para entregar seu chá, sua
cintura roçou a parte de trás da cabeça de Leia.
Aquilo provocou um choque através do corpo dela, uma
rajada parecida com a sensação de queda livre ou de ter o
estômago cheio de borboletas.
Xizor passou-lhe a xícara de chá e sentou-se na outra
ponta do sofá.
Leia sentiu uma breve pontada por ele não ter se
sentado mais perto dela.
E uma pontada de preocupação com tal pensamento. O
que ela estava fazendo?
Tentou trazer à mente uma imagem de Han. Mas, por
alguns instantes, não podia ver seu rosto. Era como se ela
tivesse de alguma forma esquecido como ele era...
Pare com isso!
Xizor disse:
– Então, a Aliança estaria interessada em fazer negócios
com o Sol Negro? – Deu um gole no seu drinque.
Leia achou absolutamente fascinante a maneira como
ele bebia.
Demorou a reunir seus pensamentos.
– Ahn, sim, nós, isto é, a Aliança, estamos considerando
tal aliança.
A Aliança considerando uma aliança? Qual é o problema
com você, Leia? Perdeu o juízo?
Xizor pareceu não tomar conhecimento de sua má
escolha de palavras.
– Bem, certamente há vantagens para tal... ligação –
disse ele.
O corpo de Leia tornou-se quente, de repente. Desejou
não ter colocado o colante. Teve vontade de pedir licença,
encontrar um refrescador e tirar a roupa de baixo. O tecido
do vestido proporcionaria uma ótima sensação contra sua
pele nua.
E como seria sentir a mão de Xizor contra sua pele nua?
Balançou a cabeça, tentando clareá-la. Aquilo era
loucura! Ela sequer o conhecia! Mas ele era tão, tão... tão
alguma coisa!
– Eu.... nós.... a Aliança, nós sentimos que, ainda que os
objetivos do Sol Negro não sejam os mesmos que os nossos,
o Império é nosso inimigo comum.
– Sim, a guerra cria estranhos parceiros, não? – Ele
sorriu.
Parceiros...
– Aqui, deixe-me aquecer seu chá – disse ele.
– Não, está tudo bem...
Mas ele já estava de pé. Curvou-se, levantou a mão dela
com a sua mão e pegou a xícara.
Seu toque era elétrico; enviou uma carga através dela,
como se tivesse agarrado um nó capacitor ligado.
Engasgou.
Mais uma vez, ele pareceu não tomar conhecimento do
que ela dissera.
O tempo parecia atolado em lama espessa. Xizor
afastou-se tão lentamente; os sons pareciam emudecidos;
Leia sentiu o calor em seu corpo aumentar. Algo estava
errado ali. Sentia-se bem, sentia-se bem demais. Como se
estar ali fosse a melhor coisa do universo. Bem, quase a
melhor coisa. Xizor precisava esquecer-se daquele chá e
voltar logo; então a melhor coisa começaria...
Leia! Qual é o problema com você?
Encrenca, irmã. Encrenca grande. É melhor você ir
embora. Rápido.
Mas partir era a última coisa que ela queria fazer.

No hiperespaço, Vader pensava em qual seria seu


próximo movimento. Havia chegado tarde demais para
buscar Luke, mas ostentara a bandeira imperial e havia
explodido um pequeno espaçoporto. Se o porto tinha ou não
alguma coisa a ver com os Rebeldes, não importava. O que
importava é que eles acreditavam que ele achava que tinha.
Isso fundamentava a impressão de que o computador
roubado era importante para o Império.
Metade da sua missão havia sido cumprida, embora em
sua mente fosse a metade menor.
Não tinha provas contra Xizor, apenas especulações e
rumores. Informação de terceiros vinda de um caçador de
recompensas prestes a ser executado dificilmente seria
suficiente para indiciar um dos seres mais poderosos da
galáxia. Ele estava convencido, mas o Imperador não seria
influenciado tão facilmente. Precisava de mais antes de
fazer um movimento contra o Príncipe das Trevas.
Bem, se precisava de mais, teria mais. Sobretudo agora
que sabia o que estava procurando.

Xizor abaixou-se e beijou Leia. Levemente no início, com


um simples toque de seus lábios nos dela.
Delicioso. Incrível. Ela o bebeu, extasiada com seu toque.
Ele pressionou mais.
Leia flagrou-se correspondendo ao beijo. Devolvendo-o...
Afastou-se.
– Não. Isso não está certo – disse ela. Mas manteve uma
mão em seu ombro. Era rígido, poderoso aquele ombro,
quente sob seus dedos. Não. Isso era errado.
– Eu vim... para falar sobre... Luke Skywalker!
– No devido tempo. Temos coisas mais importantes a
fazer em primeiro lugar.
Ele se inclinou e beijou-a novamente. Ela sentiu o fogo
nele.
Leia pôs os braços ao redor de Xizor e devolveu o fogo
com o seu próprio. Seria tão ruim deixá-lo continuar? Para
salvar Luke?
Xizor tirou sua boca da dela e passou os lábios sobre seu
pescoço, deslizando por sobre o ombro. A alça do vestido
caiu daquele lado.
Não apenas para salvar Luke, mas para aproveitar ao
máximo aquele momento... Ela queria fazer isso?
Não queria. Não.
Mas queria, ao mesmo tempo.
Suas mãos se moviam sobre ela. Ah, sim...
Xizor pressionou seus lábios contra o ombro nu de Leia e
sentiu-a estremecer de prazer. Ele a tinha agora. Ela era
sua; se não em mente e espírito, certamente seu corpo lhe
pertencia. Estava um pouco decepcionado com a facilidade.
Ah, bem.
Levou a mão até o fecho de seu vestido...
Houve uma batida na porta.
O quê? Quem se atrevia?
Leia pulou, afastou-se dele e ajeitou o vestido
amarrotado. Estava respirando rápido, com o rosto
vermelho.
Alguém começou a urrar lá fora. A batida aumentou.
Aquele maldito Wookiee! Por que ele estava ali? Como
Howzmin permitiu que chegasse até ali?
Aturdida, Leia disse:
– É-É melhor eu ver o que ele quer.
– Fique. Eu me livro dele. – Xizor começou a se levantar.
– N-Não, eu faço isso.
Xizor sorriu. Sentiu-a desejá-lo.
– Como quiser.
Ele a observou ficar de pé. Ela oscilou um pouco ao
caminhar até a porta. Isso era apenas um revés temporário.
Ela espantaria o Wookiee e voltaria para ele. Uma vez que
colocasse uma mulher sob seu feitiço, ela pertenceria a ele
para sempre.
Leia tocou os controles da porta (Xizor a trancara), o que
a fez deslizar para o lado.
O Wookiee grunhiu para ela. O domínio de Xizor da
língua Wookiee era imperfeito, mas ele conseguia captar a
essência do que aquela coisa alta e peluda dizia. Ele queria
que Leia fosse com ele, agora.
– Eu estou no meio de... de uma, uma... discussão
delicada aqui – disse ela. – Isso não pode esperar?
Xizor sorriu.
O Wookiee ralhou um pouco mais. Talvez ele fosse mais
esperto do que parecia; ele sabia que algo estava
acontecendo, algo que a ameaçava, ainda que não
soubesse precisamente o quê. Um humano parado na porta
entenderia apenas ao olhar para Leia – pelo menos algum
com um pingo de inteligência.
Leia virou-se e relanceou para Xizor.
– Ele parece chateado – disse ela. – Talvez seja melhor eu
ir ver o que ele quer.
Agora que a tinha sob seu controle, Xizor poderia fazer o
que quisesse com ela. Brincou com a ideia de ordenar que
ela fechasse a porta e tirasse a roupa antes de voltar para o
sofá. Mas não. Tal era a crença em seu poder que ele
apenas deu de ombros.
– Como quiser. Estarei aqui. – Fez uma pausa deliberada.
– Por um tempinho a mais. – Deixou-a pensar que ele
poderia ir embora se ela não se apressasse. Uma pequena
crueldade, mas uma demonstração de sua autoridade. Eu
posso ir embora, você quer correr esse risco?
– Eu... Eu vou... – Ela parou. Balançou a cabeça como se
estivesse tentando se livrar de sua influência.
Você não se livra da minha magia biológica tão
facilmente, pequena.
Acenou para ela de longe, despreocupado.
Ela voltaria.
No corredor do lado de fora do santuário de Xizor, Leia
olhou para Chewie, que a encarava.
– É bom que seja importante!
Howzmin estava estatelado no chão. Inconsciente ou
morto, ela não sabia dizer. Chewie agarrou-a pelo braço e
empurrou-a pelo corredor.
– Solte-me, seu brinquedo de pelúcia gigante!
Chewie não prestou atenção.
Quando chegaram a uma pequena saleta a uma curta
distância, Chewie empurrou Leia para dentro e seguiu atrás
dela.
– Você vai se arrepender, seu...
Ele apertou uma mão peluda sobre a boca dela e
apontou para o teto com a outra mão.
Leia olhou. Viu um pequeno microfone parabólico
embutido no teto.
– Alguém está escutando? – sussurrou ela.
Ele assentiu com a cabeça.
– Estamos sendo observados também?
Chewie balançou a cabeça. Fora por isso que ele a tinha
levado até ali, ela percebeu. Devia ser um ponto cego.
Chewie sabia o que ela e Xizor estavam fazendo lá dentro;
percebera de alguma forma. Ele a estava protegendo. E
protegendo Han.
O desejo que ela sentia evaporou. A vergonha a
inundava.
Como ela podia tê-lo deixado ir em frente? Ela amava
Han. Havia acabado de conhecer Xizor; nada parecido tinha
lhe acontecido antes. Não só era errado, como não era
natural. Nada tinha a ver com ela; ela nunca iria se
comportar daquela maneira, muito menos com um
estranho!
Ele teria colocado algum tipo de droga em seu chá,
talvez? Isso explicaria muita coisa. Será que, por alguma
outra razão, ele queria seduzi-la?
Isso seria terrível. E, ao mesmo tempo, fez com que ela
se sentisse melhor. Pelo menos teria uma desculpa real para
as sensações que a tinham tomado. Uma desculpa para o
modo como havia se comportado. Chegara muito perto do
desastre. E Luke?...
Em um instante, a compreensão foi clara para ela: não
era Vader quem queria Luke morto.
– Acho que é melhor pensarmos em um plano alternativo
– disse ela. – Chewie, aqui está o que você deve fazer...

Quando a Executor chegou ao sistema, Vader já estava


se coçando para voltar. Paciência nunca fora sua virtude
mais forte e estava ansioso para montar seu caso contra
Xizor.
Enquanto a nave gigante abria caminho em direção ao
planeta, Vader pensava no que faria. Debatia consigo
mesmo se já mencionaria alguma coisa para o Imperador ou
não. Por um lado, como Xizor estava atualmente em alta
estima imperial, quaisquer comentários depreciativos
poderiam ser descartados, encarados como ciúme, embora
o Imperador tivesse de saber a verdade àquela altura. Por
outro lado, se não dissesse nada, ele poderia ficar irritado
com Vader mais tarde por causa do seu silêncio. O
Imperador queria saber tudo sobre todos – exceto quando
não queria escutar.
Como Vader esperava, o Imperador não foi convencido.
– Você me decepciona, Lorde Vader. Sinto que seu
julgamento esteja nublado por uma espécie de... rancor
pessoal nesse caso.
– Não, meu mestre. Estou apenas preocupado com a
traição do criminoso. Se ele está de fato tentando matar
Skywalker...
O Imperador o interrompeu:
– De fato, Lorde Vader, eu certamente precisaria de mais
provas do que um rumor de algum caçador de recompensas
para agir contra um aliado tão valioso. Ele não nos deu
aquela base rebelde? Não colocou sua vasta frota de naves
à nossa disposição?
– Eu não esqueci essas coisas – disse Vader. Tentava
manter a voz firme e uniforme. – Mas também não esqueci a
minha promessa de trazer Skywalker para o lado sombrio.
Skywalker vir para o nosso lado seria muito mais importante
para o Império do que Xizor.
– Realmente seria. Se você puder convertê-lo.
– Eu posso, meu mestre. Mas não se ele for morto antes
que eu possa chegar até ele.
– O jovem Skywalker conseguiu permanecer vivo até
agora. Se ele é tão apto com a Força como presumimos que
seja, continuará vivo até que você o encontre, não acha? E,
se ele não for tão forte como acreditamos, então não nos
serviria de qualquer forma.
Vader rangeu os dentes. Pensara da mesma forma da
última vez que encontrara Luke. Se ele pudesse ser
destruído facilmente, então não tinha nenhum valor real
para o lado sombrio. Ainda assim, não gostava de ver seu
argumento utilizado contra ele mesmo.
Nada disso era inesperado, mas mesmo assim era muito
irritante. Que o Imperador colocasse tanta fé no Príncipe das
Trevas, um dos seres mais escorregadios e imorais que já
haviam existido, era no mínimo perturbador.
– Já que isso parece tão importante para você, dou-lhe
permissão para sair em busca de Skywalker. Por um curto
período, pois há outras tarefas que eu gostaria que
executasse. Isso é satisfatório?
Na verdade, não; mas o que poderia fazer?
– Sim, meu mestre.
Vader queria encontrar seu filho, mas também tinha que
sustentar um caso contra Xizor. Qualquer uma das duas
coisas, por si só, exigiria a maior parte da sua atenção. As
duas, ao mesmo tempo, seriam difíceis.
Mas ele era o Lorde Sombrio dos Sith e uno com o lado
sombrio. Conseguiria.
Leia respirou fundo, deixou o ar escapar e abriu a porta
para a câmara de Xizor. O chefe do Sol Negro estava
sentado no sofá, onde ela o deixara, com o copo na mão.
Ele sorriu.
– Eu estava começando a me preocupar.
Ela sorriu, esperando não parecer muito falsa. Ainda
podia sentir o carisma que ele exalava, mas agora
conseguia resistir. Não sabia como exatamente, mas tinha
algum tipo de força que não havia notado antes. Talvez sua
raiva tivesse se tornado um escudo em que a atração dele
se chocava e era repelida. Talvez a droga tivesse perdido o
efeito. Não importava o que era, contanto que funcionasse.
Agora teria que manter Xizor ocupado por tempo o
bastante para que Chewie escapasse, ou pelo menos
ganhasse uma boa vantagem.
Chewie não gostara da ideia, mas ela o convenceu de
que ele poderia servi-la melhor se pudesse sair dali e voltar
com ajuda.
– Volte e sente-se aqui ao meu lado – disse Xizor. Não era
um pedido, mas uma ordem. Ele não parecia nem um pouco
curioso em saber por que Chewie estivera tão ansioso para
vê-la.
Em vez disso, Leia foi até o bar.
– Deixe-me preparar um pouco de chá primeiro – disse
ela. – Estou com um pouco de calor e com sede.
Ela viu a mistura de emoções voar rapidamente em suas
feições, mas só porque o estava observando com atenção.
Ele estava com raiva por ela não o ter obedecido
instantaneamente (sua testa franzia-se em uma levíssima
careta), mas também estava contente por ela estar
perturbada. Ou talvez excitado... A rápida flexão dos lábios
dele em um sorriso que durou apenas um segundo deu a ela
essa dica.
Não teve pressa ao preparar o chá. Quando terminou,
tomou um gole, sem fazer menção de se aproximar dele.
– Venha cá – disse ele. Definitivamente um comando.
Leia pousou o chá e começou a ir até ele.
O sorriso surgiu de novo. Ele pensava que Leia estava
sob seu controle.
– Você disse que estava com calor. Por que não... tira
suas roupas e fica mais confortável?
Ela se movia devagar.
– Fiquei com um pouco mais de frio – disse ela.
– Tire-as de qualquer maneira. – Agora havia um núcleo
de hiperaço sob suas palavras. – Isso me agradaria. Você
quer me agradar, não é?
Não, o que realmente quero é dar a Chewie mais alguns
minutos.
Ela parou. Levantou um pé e tirou a sandália. Sorriu para
Xizor e jogou a sandália de lado. Abaixou o pé descalço e
levantou o outro pé. Puxou a segunda sandália para fora e
deixou-a cair.
Agora ele sorria de novo. Tomou um gole de sua bebida.
Algo verde, o que quer que fosse.
Ela estendeu a mão e tocou o fecho do vestido. Mexeu
nele, torceu-o, franziu a testa.
– O que você está fazendo?
– Está preso – disse ela.
Ele se inclinou para a frente.
– Venha aqui. Eu faço isso.
– Espere. Pronto.
Ela abriu o fecho. Estava completamente vestida com o
colante; remover o vestido transparente não revelaria nada
dela, mas lhe arranjaria um pouco mais de tempo.
Ele se recostou no sofá.
Ela atrasou os movimentos o máximo que pôde antes de
deixar o vestido verde cair no chão, em torno de seus
tornozelos. Até agora, tudo o que ele tinha conseguido ver
eram seus pés.
– Agora o resto – disse ele, gesticulando com o copo.
Esperou que Chewie já tivesse tido tempo suficiente,
porque aquele era o máximo que estava disposta a ir com
aquele jogo.
– Eu acho que não – disse ela.
Ele colocou o copo sobre a mesa e ficou de pé.
– O quê?
– Não é apropriado tirar a roupa na frente de um
estranho – disse ela.
Ele se moveu em direção a ela. Agarrou-a pelos ombros e
sacudiu-a. Com ele assim tão perto, ela sentiu o fascínio
cobri-la como ondas. Era algo de dentro dele, algum tipo de
atrativo que ele produzia; muito mais forte do que ela, mas,
agora que ela sabia o que era, poderia resistir. Seu corpo
queria uma coisa, porém era uma mulher civilizada e era a
sua mente que a controlava, não seus hormônios.
Ele se inclinou para beijá-la.
Ela bateu com o joelho entre as pernas dele, com força.
Ele gemeu e empurrou-a para longe, tropeçando para
trás.
Leia ficou ali, olhando para ele. Sorria docemente. Não
gostou disso, não é?
Quando ele conseguiu endireitar-se, seu rosto estava frio,
sua expressão, neutra. Se sentia alguma dor, não
demonstrava; se estava com raiva, não era evidente. A
paixão que ele tinha havia sumido, ou pelo menos estava
agora bem escondida.
Ela percebeu que ele parecia ter mudado de cor,
também. Parecia mais pálido, mais frio, um verde
desbotado.
– Então, você resiste a mim.
– Acertou – disse ela.
Ele assentiu com a cabeça.
– Foi algo que o Wookiee disse. – Não era uma pergunta.
Ela sorriu.
– Às vezes Wookiees são muito inteligentes. E sempre
muito leais.
Ele balançou a cabeça.
– Ah. Este é o problema das mulheres brilhantes e fortes:
às vezes elas são brilhantes e fortes quando você menos
quer que elas sejam. – Curvou-se. – Estou contente que
você seja uma adversária à altura. – Terminou a reverência.
– Guri.
Um painel deslizou para o lado na parede atrás dele e a
DRH entrou na sala.
Leia deu-lhe um aceno militar.
– Parece que você estava certa – disse Xizor para Guri. –
Leve-a para o quarto dela e tranque-a. – Para Leia, falou: –
Você e eu continuaremos esta discussão depois. Mais cedo
ou mais tarde, acredito que você descobrirá que não sou tão
má companhia.
– Não apostaria nisso – disse ela.
Guri aproximou-se e pegou Leia pelo braço. Sua mão era
suave, mas seu aperto era como uma braçadeira de aço.
Leia esperava que Chewie tivesse conseguido uma boa
vantagem.
Depois de Guri levar Leia embora, Xizor sorveu mais um
copo de champanhe verde. Talvez ajudasse a aliviar a dor
na virilha.
Depois de algum tempo, ligou para o seu chefe de
segurança.
– O Wookiee escapou?
– Sim, Alteza.
– Você não permitiu que ele achasse fácil demais?
– Ele derrubou cinco dos nossos, meu príncipe. Nós o
chamuscamos com um raio enquanto ele corria por um
corredor. Não vai achar que foi fácil.
– Bom.
Xizor interrompeu a ligação e sorriu para o líquido verde
e borbulhante. Sua vigilância sobre o Wookiee havia
relatado de imediato a tentativa de fuga. Antes de Leia ter
retornado Xizor já tinha colocado seu plano alternativo em
andamento. Pretendia desde o início deixar o Wookiee
partir, mas não tão cedo. Bem, não importava. O Wookiee
certamente entraria em contato com Skywalker e o menino
viria correndo para tentar salvar a princesa. Os agentes de
Xizor prenderiam Skywalker assim que ele chegasse a
poucas horas de distância do castelo.
Tão fácil. As mais quentes eram as mais previsíveis.
Uma mensagem prioritária de fora do planeta foi
anunciada em seu canal privado. Não estava com vontade
de falar com ninguém no momento, mas poucas pessoas
tinham acesso ao seu link direto, e, se uma deles estava
chamando, era provável que fosse algo que era melhor não
ignorar.
A ligação era apenas de voz, sem a imagem de quem
chamava. Compreensível, considerando a posição em que
alguns de seus agentes às vezes se encontravam por
motivos de segurança. Ele mesmo não gostava de transmitir
sua imagem. Um capricho pessoal. Era possível codificar a
transmissão, é claro, mas entre agentes de campo a
paranoia era alta. Muitos agentes argumentavam que, se
uma linha blindada fosse decodificada, era adequado não
ter imagens anexadas ao seu áudio.
Seu computador já tinha verificado quem chamava entre
os seus padrões de voz. De outro modo, nem teria deixado
passar a ligação.
– Sim?
– Meu príncipe, há notícias de Skywalker.
– Sim, e...?
– Ele supostamente foi capturado por um grupo de
caçadores de recompensas. Eles não queriam dizer onde
estavam exatamente, mas nós descobrimos que eles estão
em Kothlis. Esperamos ter essa informação atualizada em
poucos instantes. Existe um problema, no entanto.
– Entendo. E esse problema é...?
– Eles dizem que há outro licitante para seu prisioneiro.
Um cuja oferta supera a nossa e que tem... conexões
imperiais.
Hmm. Vader acabara de ir para aquela área. Oficialmente
a razão era dar credibilidade ao roubo do computador, mas,
pensando bem, quem na galáxia iria querer Skywalker tanto
quanto Xizor? Vader, é claro. Contudo, por outro lado, Vader
já havia retornado ao planeta, fora visitar o Imperador e
nada indicava que trouxera Skywalker com ele. Talvez a
informação lhe tivesse chegado tarde demais. Ou nem
tivesse chegado a ele.
Bem. Aquele estratagema com a princesa poderia não
ser necessário, afinal.
– Diga-lhes que vamos dobrar o que o outro lado está
oferecendo.
– Alteza, se estamos competindo com o Império, não
teremos como dobrar.
– Eu sei disso. Não importa, já que nunca iremos pagá-
los. Assim que descobrirmos exatamente onde eles o estão
mantendo, montaremos uma equipe de ataque para
capturá-lo de graça. Nós não precisamos dele respirando,
apenas do corpo.
– Muito bem, Alteza... espere. Perdão; estou recebendo
uma ligação de um dos nossos agentes em relação a esse
assunto; ele pode ter o local exato de que necessitamos...
Xizor deu permissão ao agente para atender a chamada.
Sentou-se e esperou. Meditou sobre a crueldade da
entropia. Sobre o tempo que já tinha passado à espera de
outras pessoas. Meses, provavelmente. Talvez mais. Claro,
isso acontecia muito menos agora do que antes...
Quando seu agente voltou, sua voz estava trêmula e ele
tinha dificuldade em falar sem engolir em seco com
frequência.
– M-meu príncipe, houve uma... complicação. – O medo
se escondia nas palavras do homem como uma ave do
deserto que circunda um animal moribundo.
– Uma complicação – repetiu Xizor.
– Pa-parece que Skywalker escapou da prisão. E Darth
Vader está agora pessoalmente envolvido; ele foi visto perto
do local da fuga poucas horas depois do evento.
Como o portador do que ele pensava serem péssimas
notícias, o agente temia por sua vida. Pessoas haviam sido
mortas por menos ao oferecer novidades infelizes para os
seus príncipes, e o homem sabia, sabia que seu empregador
já havia feito isso. Sem dúvida a essa altura já tinha ouvido
a história do traidor Green, também.
Xizor riu.
– M-meu príncipe?
Finalmente. Algumas boas notícias. Vader tinha acabado
de perder Skywalker. O garoto estava livre e, enquanto Leia
estivesse instalada com segurança ali, mais cedo ou mais
tarde Skywalker apareceria na porta de Xizor. O Wookiee
cuidaria disso.
– Não se preocupem com a fuga de Skywalker – disse o
Príncipe das Trevas. – Essa situação está sob controle.
Algum dia, talvez, ele permitiria que esta história se
tornasse pública, quando estivesse no controle da galáxia.
Ah, as pessoas diriam, como é traiçoeiro o Príncipe das
Trevas. Cuidado!
Cuidado, de fato.
Leia tentou abrir a porta do seu quarto, mas é claro que
estava trancada. Olhou em volta. Não parecia que o último
ocupante tinha esquecido uma pistola sobressalente na
mesa de cabeceira; não havia ferramentas com as quais
abrir a porta, nem portinholas secretas que pudesse
encontrar. Também não podia localizar a holocam, mas
tinha certeza de que o quarto estava equipado com
dispositivos de vigilância, levando em conta o que ela já
sabia. Se tivesse que ficar ali por tempo suficiente para ter
de se despir, ela o faria no escuro, torcendo para que não
tivessem um modo de captação de luz na lente da câmera.
Apesar de, provavelmente, ser um pouco tarde para o
recato.
Suspirou. Esperava que Chewie tivesse escapado. Não
que isso lhe fosse de muita ajuda, mas, se ele tivesse
fugido, poderia avisar Luke e Lando, para que Luke ficasse o
mais longe possível do Sol Negro. Luke gostaria de vir e
resgatá-la, mas Lando era um realista; ele deveria ser capaz
de convencê-lo a não fazer isso. Eles precisavam ficar livres
para resgatar Han. Isso era o mais importante.
Perdoe-me, Han, pelo que quase fiz. Foi por causa de
uma droga, eu sei, mas sinto muito por ser tão fraca.
Quando ela o visse de novo; bem, se o visse de novo,
talvez lhe contasse tudo. Pensando bem, talvez não. Não
fazia sentido perturbá-lo, certo?
A ideia de ver Han de novo a fez sentir-se
momentaneamente melhor, mas teve que admitir que suas
chances não pareciam muito boas agora.
Ela se sentou na cama e considerou suas opções. No
momento, não parecia ter muitas.
Inclinou-se para trás, esticando-se. Uma das coisas que
tinha aprendido durante o trabalho com o pessoal militar da
Aliança era: quando em dúvida, tire um cochilo. Nunca se
sabe quando você terá essa chance novamente.
Não que ela achasse que seria capaz de dormir,
considerando tudo o que estava acontecendo. Apenas
ficaria ali e tentaria relaxar por alguns instantes.
Para sua surpresa mais tarde, caiu em um sono profundo
quase imediatamente.

Lando não queria parar, mas Luke insistiu.


– Olha, eu confio na Força e ela está me dizendo que Leia
está em perigo. Então vamos fazer uma chamada e
verificar, ok?
– Não pode esperar até chegarmos a Tatooine?
– Não.
Lando suspirou.
– Tudo bem. Mas lembre-se de que eu fiz isso. Você me
deve uma.
Deixou a Falcon sair do hiperespaço.
– Como vamos chamar? – perguntou Luke.
Lando sorriu.
– Eu tenho uma pequena surpresa para você. Han não é
o único que sabe equipar a Falcon.
– O que você quer dizer?
Lando colocou a nave no controle automático e levou
Luke para o porão de carga traseiro. Indicou um dispositivo
montado em uma parede.
– Isso parece uma unidade de comunicação.
– Garoto brilhante. Vá em frente, faça a sua chamada.
Luke digitou os códigos de retransmissão que Lando lhe
deu enquanto o jogador inseriu no aparelho um override
para garantir que a comunicação não fosse rastreada.
Dash não respondeu, mas havia uma resposta
computadorizada gravada.
Luke virou para Lando.
– Nós temos o código de “toque a mensagem”?
– Sim. – Lando disse a ele.
A imagem que ganhou vida como um fantasma os
surpreendeu. Um Wookiee com péssimo corte de cabelo.
Luke não o reconheceu de imediato. Até que começou a
falar. Gritando, era mais parecido ainda.
Chewie!
– O quê? – disse Lando.
– O que foi?
– Oh, não!
– Lando!
Lando traduziu.
– Leia está sendo mantida prisioneira em Coruscant pelo
Sol Negro. Eles tentaram matar Chewie, mas ele escapou. A
princesa o fez partir, não foi ideia dele...
De repente a transmissão terminou.
– O que aconteceu?
– Eu não sei, meus códigos simplesmente ficaram em
branco. Alguém deve ter reportado o roubo do override. –
Puxou o override do slot da unidade de comunicação e
jogou o cartão eletrônico no chão.
– Vamos – disse Luke.
– Para Tatooine, certo?
– Errado.
– Eu sabia que você iria dizer isso. Não podemos ir para
Coruscant! É muito perigoso.
– Você pode ficar aqui, se quiser.
– Luke...
– Leia precisa da minha ajuda. Eu vou.
Lando olhou para o teto por um momento, depois
balançou a cabeça.
– Por que eu? Por que essas coisas sempre acontecem
comigo?
Tempo e espaço estremeceram e a Millennium Falcon
abandonou o hiper para o espaço real.
Luke olhou para as telas de controle.
– Ainda estamos muito longe – disse ele. – Vamos levar
dias para chegar lá.
– Sim, bem, há uma razão para isso – disse Lando. – Nós
não estamos falando de um mundo de fundo de foguete
com duas cidades e uma vilazinha. Coruscant é um grande
complexo de edifícios que recobre quase todo o planeta. O
espaço em torno dele está cheio de aeroganchos, mundos-
roda, satélites de energia e um rio inteiro de tráfego
comercial e privado, para não mencionar um grande naco
da Marinha Imperial. É como um enorme dossel, e os
buracos nele são bem minúsculos. Nós não vamos passar
alegremente por tudo isso nesta nave. Meu palpite é de que
a Falcon esteja estampada em telas de computador com a
inscrição “procura-se” por toda a galáxia e, com a mesma
certeza com que sabemos que lagartos adoram a luz do sol,
em cada escâner de segurança aqui no centro do Império.
Eu não acho que um código de segurança roubado nos faça
passar. Não vamos ajudar Leia em nada trancados em uma
prisão do Império.
– Entendi.
– Por isso, abriremos caminho lentamente, tentando
pensar em alguma coisa. Tem alguma ideia brilhante?
Luke pensou.
– Bem, na verdade, sim.
Lando piscou.
– Já? Vamos ouvir.
Luke contou a ele.
– Não sei não, hein? – disse Lando.
– Ei, Han fez isso. E em um destróier estelar, não em um
cargueiro robótico operado por droide. – Luke parou um
segundo. Em seguida, disse: – Se você quiser, eu piloto.
Lando ergueu as sobrancelhas.
– Escute, eu ensinei esse truque ao Han.
Luke sorriu.
Em teoria, deveria funcionar. Estavam perto das rotas de
cargueiros que entravam e saíam de Coruscant. Era por
onde as grandes naves pesadamente seguiam, os
cargueiros e naves contêineres, por canais restritos. Para
estar ali, você tinha que estar carregando algo que pesasse
algumas centenas de toneladas ou mais. Embora a lei
dissesse que tinha que haver alguém além de droides a
bordo das naves de grande porte, essa lei em geral era
ignorada e poucas vezes aplicada, especialmente quando se
tratava de alguém entregando mercadorias para o Império.
Uma vez dentro da rota, um droide programado para pilotar
naves para dentro e fora dos poços de gravidade não
precisava prestar tanta atenção no que se passava à sua
volta. O sistema de controle de tráfego de vácuo cuidava de
tudo, de modo que se esconder no centro ou na parte
traseira de um grande cargueiro deveria ser tão fácil quanto
estalar os dedos. Depois disso, você só tinha que ficar em
sua sombra por todo o caminho, até que estivesse fora do
perímetro e dentro do Doppler planetário. A Falcon tinha
jammers que cuidariam disso sem problemas. Um menino
inteligente de dez anos poderia construir um jammer
decente com um velho fogão micro-ondas e duas grades
repulsoras desalinhadas.
O truque era coincidir com a velocidade e o curso da
nave maior, de modo que você ficasse exatamente no
mesmo lugar em relação a ela. Um bom piloto seria capaz
de fazer isso, mas, se ele fizesse zigue quando deveria fazer
zague, bem, isso poderia significar ser vaporizado por uma
nave de piquete imperial ou uma bateria de defesa
planetária. Ainda assim era possível, se se tivesse a
coragem e a habilidade. Deveria funcionar. Em teoria.
Sim, o Império mantinha anéis de naves ao redor do
planeta, mas eles eram projetados para parar uma força de
ataque. O espaço era grande demais para que eles fossem
capazes de ver tudo. E o que uma única nave seria capaz de
fazer a um planeta inteiro, especialmente quando seu
inimigo se recusava a atacar e destruir alvos civis (como era
o caso da Aliança)?
– Pronto? – disse Lando.
– Pronto – disse Luke.
– Nós estamos prontos também – disse 3PO. – Se alguém
se importa.
R2 assobiou.
Lando sorriu.
– Segurem-se. Lá vamos nós.
O cargueiro que se movia em sua direção era enorme. Na
verdade, era um rebocador modificado puxando uma série
de contêineres de carga cilíndricos interligados, dispostos
em um longo anel. Cada um desses recipientes era tão
grande quanto a Falcon, e cada um deles tinha foguetes de
frenagem orbital. Era um pouco pequeno para um
supertransportador, mas a carga da nave poderia chegar a
oitocentas ou novecentas toneladas; não exatamente
pequena. O cargueiro emitia um sinal de eco que o
identificava como a nave Tuk Prevoz, do PIN (Proprietários
Independentes de Naves), registrada no Centro Imperial e
voando sob contrato com a Xizor Sistemas de Transporte.
Lando trouxe a Falcon para perto em arco longo e raso,
quase um 180 hemisférico, primeiro afastando-se do
cargueiro, depois vindo por trás e finalmente sob a sua
barriga.
– Aqui devemos estar bem na sombra do seu sensor –
disse ele.
Luke assentiu. Grandes naves tinham vários pontos
cegos, especialmente aquelas que rebocavam grandes
cargas. Se pudessem ficar na sombra do sensor quando se
aproximassem, a tripulação não poderia percebê-los. Uma
vez que estivessem em segurança ao lado de um dos
contêineres de carga, ninguém da nave seria capaz de
identificá-los visualmente, e, a menos que passassem a um
cuspe de distância de uma das naves das linhas de piquete,
nenhum olho imperial seria capaz de reparar neles.
Luke olhou para os monitores. Lando estava atento ao
seu plano de voo. Um ou dois graus para um dos lados e da
tripulação do cargueiro poderia receber um blip em seus
monitores; mas, até ali, tudo ia bem.
Os recipientes de carga ficavam maiores. O problema
com voo visual na parte de baixo de uma nave era a
perspectiva. O movimento ficava bastante subjetivo.
Relativamente falando, ou eles estavam se aproximando ou
o cargueiro estava caindo sobre eles, e no fim das contas
isso não tinha importância, contanto que ficassem alinhados
dentro da sombra do sensor.
Lando movia as mãos com precisão, como um
microcirurgião fatiando nervos. A Falcon desacelerou,
desacelerou... e parou.
A superfície do compartimento de carga mais próximo
estava a três metros de distância.
– Bom trabalho – disse Luke. Apesar de sua ideia ter feito
Lando passar por um aperto, o jogador era um bom piloto.
– Sim, mas essa é a parte mais fácil. Agora temos de
permanecer com este trambolho até entrarmos na
atmosfera e ele deixar cair sua carga em uma órbita
espiralada. Estou desligando o transponder e os sistemas
não essenciais. Nós não queremos que ninguém veja nossas
luzes ou capte os sensores ativos. De agora em diante, é na
mão.
– Já pensou no que vamos fazer quando estivermos no
solo?
Lando bufou.
– Vamos nos preocupar com a chegada ao planeta
primeiro, que tal? Eu conheço algumas pessoas, tenho
alguns contatos. Nós vamos ficar bem.
Luke assentiu. Esperava que Lando estivesse certo.
Claro, eles poderiam se desviar do curso a caminho do
planeta, ser cozidos pelos lasers de uma artilharia e não ter
de se preocupar com isso. Não que tal possibilidade o
fizesse se sentir melhor.
Ele sondou a Força, tentando encontrar Leia. Foi até o
limite de sua capacidade...
Nada. Se ela estava lá, estava longe demais.
Bem. Estariam mais perto em breve. Se sobrevivessem,
tentaria novamente.
Se sobrevivessem.
Sentado nu em sua câmara e trabalhando em sua
meditação de cura, Darth Vader franziu a testa. Houve um
distúrbio na Força. Sondou-a com o poder do lado sombrio...
Não conseguiu se conectar à sua fonte, o que quer que
fosse.
De repente, teve uma sensação de ondulação.
O lado sombrio ainda reservava surpresas para ele.
Como o fogo, que poderia aquecer ou queimar, e exigia
grande cuidado para que não se tropeçasse e caísse nele.
Ele viu o que o uso extensivo havia feito ao Imperador;
devorara-o fisicamente. Mas isso não aconteceria com
Vader, pois ele pretendia dominar o lado sombrio. Estava
indo bem. Seria apenas uma questão de tempo; de quando,
não se. E, quando finalmente convertesse Luke, o processo
seria mais rápido. Dois ímãs poderosos atrairiam mais
energia sombria do que um. Juntos, manipulariam a Força
mais rápido do que qualquer um poderia fazer sozinho.
Tão forte, o menino. Quem diria? Luke Skywalker, seu
filho, poderia muito bem ser o homem mais poderoso da
galáxia.
Ele se permitiu abrir um sorriso, ainda que a expressão
esticasse suas cicatrizes e fosse doloroso. Podia suportar a
dor.
Ele era o Lorde Sombrio dos Sith e poderia suportar
qualquer coisa.
– Realmente não acho que isso seja uma boa ideia,
mestre Luke. Acredito que seria muito melhor se R2 e eu
fôssemos com você e mestre Lando.
R2 assobiou, concordando.
– Olha, vocês ficarão bem aqui na nave – disse Luke. –
Nós precisamos de vocês, caso necessitemos de ajuda.
Além disso, vai ser muito mais perigoso lá fora do que aqui.
– Ah. Bem, nesse caso, talvez devêssemos ficar aqui.
R2 apitou.
– Não, você ouviu o mestre Luke, ele precisa de nós a
bordo da nave caso alguma coisa dê errado.
– Errado, o que poderia dar errado? – disse Lando. – Só
porque há avisos espalhados por toda a galáxia de grandes
recompensas por nós, vivos ou mortos, e resolvemos nos
meter de cabeça bem no coração negro e malévolo do
Império?
Luke balançou a cabeça.
– Ora, vamos. Qual seria o último lugar em que você
procuraria por nós, se fosse um agente imperial ou um
caçador de recompensas?
– É, acho que você está certo. Eles devem achar que
ninguém seria assim tão estúpido. Sorte nossa que eles não
sabem que somos assim tão estúpidos.
Luke balançou a cabeça. Toda essa brincadeira era uma
tentativa de aliviar a situação. A verdade era que tudo
aquilo era bem perigoso, sob qualquer ângulo. Para 3PO, ele
disse em voz mais grave:
– Olha, eu serei honesto. Há uma boa chance de não
voltarmos. Se isso acontecer, não chame a Aliança para
ajudar. Não há sentido em colocar parte da frota em perigo.
– Eu entendo – disse 3PO.
R2 assobiou e bipou rapidamente. O tom era irritado.
Luke olhou para o pequeno droide. Agachou-se e colocou
uma mão em sua cúpula.
– Fique de olho no comlink, ok? Vamos ligar se
precisarmos de vocês. Se ficarmos em apuros, vocês podem
tentar nos pegar. 3PO tem as mãos e os pés, você tem as
habilidades de astronavegação. Tenho certeza de que vocês
dois trabalhando juntos podem pilotar a Falcon em uma
emergência.
– Tá aí um pensamento feliz – disse Lando. – Se Han
escutasse isso, seria descongelado mais depressa do que
com um maçarico de laser. – Lando ainda estava tentando
manter as coisas alegres, mas Luke imaginou que o jogador
tinha uma sensação gélida na boca do estômago também.
Não seria fácil.
R2 não pareceu gostar muito da ideia de pilotar a Falcon.
– Não seja rude – disse 3PO. – Eu não fui sempre um
droide protocolar, você sabe. Eu programei conversores e
uma vez dirigi um carregador-pá por todo um mês-padrão.
Eu observei mestre Han, mestre Lando e Chewbacca com
frequência suficiente. Ouso dizer que posso pilotar esta
nave melhor do que você!
R2 emitiu mais sons rudes.
– Ah, sim? Bem, pelo menos eu não me pareço com uma
lata de lixo crescida!
– Vamos, Luke – disse Lando. – Se queremos fazer isso,
precisamos nos mexer. Podemos conseguir alguns disfarces
e, se nos apressarmos, chegar ao Subterrâneo antes do
amanhecer. Esses dois vão discutir a noite toda.
– Ok. – Luke ficou de pé. – Vejo vocês em pouco tempo.
– Tenha cuidado, mestre Luke.
R2 apitou algo semelhante.
Luke esperava não parecer tão sério quanto se sentia.
– Teremos.
Lando já estava com seu disfarce no lugar. Sua cabeça
estava envolta por um lenço e capuz de mendigo, com as
roupas normais escondidas sob um manto esfarrapado. Luke
vestiu trajes semelhantes e também cobriu a parte inferior
do rosto.
Fora do enorme edifício, Luke e Lando abriram caminho
por uma área relativamente pouco povoada. Não havia
muitos pontos completamente vazios, mas essa área ficava
no hemisfério sul, não muito longe do polo. E fazia frio.
Havia lugares aparentemente mais confortáveis para viver e
trabalhar. Lando tinha um “parceiro de negócios” que lhe
devia um favor e pagou-o permitindo que escondessem a
Millennium Falcon em um armazém meio cheio com o que
parecia ser plâncton seco e que fedia como um aterro de
Tatooine sob o calor do verão.
– Exatamente quantas pessoas lhe devem favores?
Lando mostrou seu sorriso brilhante.
– Um monte de gente que jamais deveria jogar. Sorte
minha que eles jogam.
– E agora?
– Pegamos uma carona para o Subterrâneo Sul.
Mantenha esse sabre de luz fora de vista, mas à mão. Este
não é o tipo de lugar para onde você levaria sua avó para
um chá, se você entende o que quero dizer.
– Ruim como Mos Eisley?
– Algumas partes são piores.
– Ótimo. Por que estamos indo para uma parte tão
deliciosa deste planeta cromado, afinal?
Lando conduziu-os por um beco estreito e retorcido. Luke
viu que ele mantinha a mão sobre a pistola enquanto
andavam. O ar estava gelado; mordia a jaqueta que Luke
usava, arranhava seus ouvidos e transformava suas
respirações em uma densa névoa branca enquanto
caminhavam.
Lando fez uma pausa no final do beco, espiou para fora e
então continuou até a próxima passagem estreita.
– Bem, é assim. Você já ouviu falar do célebre ladrão de
naves Evet Scy’rrep?
– Claro, eu costumava assistir a Bandidos Galácticos no
holoproj quando era criança. Eles basearam uma série
inteira nele. Ele roubou uns quinze starliners, fugiu com
milhões de créditos e joias. Mas o prenderam no final.
– Isso mesmo. Em seu julgamento, alguém lhe perguntou
por que ele roubava cruzeiros de luxo. E Scy’rrep disse:
“Porque é lá que os créditos estão”.
Luke sorriu e balançou a cabeça.
Lando disse:
– Estamos indo para essa porcaria de lugar porque é lá
que meus contatos estão.
– Vamos lá. Espero que seja mais quente do que aqui.

Xizor estava no banho, em uma banheira de imersão


esculpida em uma densa pedra negra de jardim, grande o
suficiente para acomodar dez pessoas confortavelmente.
Ele passava muito tempo no banho, parte da herança de
sua espécie. Os Falleen haviam nascido da água e era
sempre bom voltar a ela. O vapor saía da água quente,
trazendo o cheiro do óleo de eukamint que rodopiava na
banheira. Sopradores criavam ondas suaves e bolhas que
circulavam através do líquido. Aquele era um lugar onde ele
se permitia relaxar totalmente. Não havia holoproj, comlink,
pessoas com permissão para entrar, nada além dele mesmo
e dos convidados que desejasse entreter. E Guri, é claro.
Ele, às vezes, ouvia música quando seu estado de espírito a
desejava, mas em geral não queria que nada se
intrometesse na sua paz enquanto lavava as tensões do dia.
Recostou-se na pedra morna e tomou um gole de uma
suave bebida pós-jantar, uma mistura defumada de absinto
e extratos de especiarias, potente o bastante apenas para
adicionar um brilho interno à água morna ao seu redor. A
vida sempre parecia melhor dali. As coisas eram quase
perfeitas.
Convidara Leia para acompanhá-lo, mas ela se recusara
a fazê-lo.
As coisas eram... quase perfeitas.
Guri caminhou até ele e parou ao lado da banheira.
– Você sabe que eu odeio ser incomodado aqui – disse
ele. O que era, ele mesmo percebeu enquanto falava, algo
inútil de se dizer. Guri não o teria incomodado se o que ela
quisesse fosse algo que pudesse esperar.
Ela trazia um pequeno comunicador.
– O Imperador – disse ela.
Xizor sentou-se e pegou o comlink.
– Meu mestre – disse ele.
– Deixarei o planeta em breve – disse o Imperador. – Para
inspecionar partes de um certo... projeto de construção do
qual você está ciente. Quando eu voltar, devemos nos ver.
Tenho algumas coisas que gostaria de discutir com você.
– Claro, meu mestre.
– Chegaram aos meus ouvidos histórias envolvendo um
dos Rebeldes, Luke Skywalker. Parece que você tem um
interesse por ele.
– Skywalker? Já ouvi esse nome. Não poderia dizer que
tenho algum interesse nele.
– Falaremos sobre isso no meu retorno.
A conversa terminou e o Imperador desconectou. Ele
raramente se incomodava com saudações ou despedidas.
Xizor colocou o pequeno comlink cilíndrico na borda da
banheira e permitiu-se afundar na água tranquilizadora.
Bem. Era de se esperar que o Imperador descobrisse sobre
seus planos mais cedo ou mais tarde. Isso não mudava
nada, desde que Xizor permanecesse cauteloso. Rumores
não eram provas.
Guri curvou-se, pegou o comunicador e partiu.
Enquanto ele a observava se afastar, considerou
brevemente mandar que se despisse e se juntasse a ele na
água. Tinha feito isso algumas vezes quando queria uma
companhia na qual pudesse confiar absolutamente, e ela
demonstrara, para sua satisfação, que era capaz de se
passar por uma mulher em praticamente todos os sentidos.
Mas não. Estava guardando suas energias para Leia. Ela
aprenderia a vê-lo sob uma luz melhor, ele sabia. Podia
esperar. Paciência era uma das virtudes fundamentais.
Respirou fundo e afundou na água. Sua capacidade
pulmonar era grande e ele podia ficar imerso durante muito
tempo, uma dívida à sua herança réptil. A água aquecia seu
rosto, e ele se deleitava nela.
Em geral, a vida era muito boa.

Estava mais quente no Subterrâneo, mas fedia quase


tanto quanto o armazém onde haviam deixado a Falcon.
Pelo menos para Luke. Os vários humanos e alienígenas que
passavam não pareciam notar o fedor. Incomodava Luke
que, para que você cheirasse uma coisa, partículas
minúsculas e invisíveis dela eram inaladas e recolhidas por
seu sistema olfativo. Não sabia o que estava causando
aquele terrível fedor podre e fétido, mas não queria pedaços
microscópicos de tais substâncias entrando em seu nariz.
Estavam em uma estação de trem maglev não muito
abaixo da superfície. A plataforma estava lotada e havia
stormtroopers imperiais de armadura e oficiais
uniformizados circulando no enorme salão.
– Acho que é hora de conseguirmos melhores disfarces –
disse Lando. – Não queremos que alguma câmara de
vigilância nos registre nestes trapos.
– O que você tem em mente?
Um squidhead passou por eles, com pressa de chegar a
algum lugar. Não tinha consideração por mendigos.
– Estive pensando nisso. O ideal seria que parecêssemos
alguém em quem ninguém prestasse atenção.
– Stormtroopers?
Lando assentiu.
– Sim. Ou talvez fosse melhor Stormtroopers de Elite. O
rosto deles está coberto, e, como são muito bem-vistos,
ninguém os incomoda.
Luke olhou em volta.
– Tem um mais ou menos do meu tamanho, lá perto do
droide bilhete.
– Sim, e tem um da minha altura e peso perto da
máquina de vender periódicos. Talvez devêssemos cumprir
nosso dever para com o Império e relatar algo estranho
acontecendo em um dos quiosques refrescadores, não
acha?
– Como qualquer cidadão leal faria – disse Luke.
Ele e Lando sorriram um para o outro.
Leia acordou, sentindo-se tonta. Não conseguia de jeito
nenhum entender a passagem do tempo. Tinha cochilado
um pouco; Xizor havia ligado e perguntado se ela queria
tomar um banho com ele. Um banho! Ora, vamos! E, depois,
havia caído no sono.
Levantou e foi até o console do computador.
– Que horas são?
O dispositivo disse a ela.
Uau. Dormira por quase seis horas-padrão. Boa soneca,
essa.
Também estava com fome.
Mal tivera esse pensamento quando a porta se abriu e
Guri entrou, carregando uma grande bandeja coberta por
uma cúpula. Ela colocou a bandeja sobre a mesa do
computador diante de Leia.
– Comida – disse. Virou-se e saiu.
Leia levantou a cúpula. Um jantar de sete pratos estava
artisticamente disposto. Uma salada, dois diferentes tipos
de massa folhada de soja-pro, legumes cozidos, frutas, pão
e embalagens de bebidas. Parecia ótimo e cheirava muito
bem, também.
Leia pegou um pedaço de pão e provou. Estava quente,
macio, com um sabor leve de farinha. Excelente. Poderia
muito bem comer. Se Xizor quisesse matá-la, já poderia ter
feito isso; provavelmente não planejava envenená-la. Assim
como dormir, comer era uma das coisas que se deveria
fazer nas horas vagas. E, se o gosto fosse tão bom quanto o
cheiro daqueles pratos, bem, seria um bônus.
O tenente do tamanho de Luke franziu a testa ao entrar
no quiosque, com Luke logo atrás dele.
– Do que você está falando, eu não vejo nenhum... uh? O
que...?
O último som foi proferido quando Luke usou a Força
para tomar o controle dos pensamentos do homem. Podia-
se imaginar que um trooper a serviço do Império teria uma
mente mais forte do que a desse cara. Mas, se tivesse, ele
não estaria no exército imperial, e sim trabalhando para a
Aliança...
Luke ordenou que o homem se despisse, depois que se
sentasse e tirasse um longo cochilo. Ele arrancou as
próprias roupas e apressadamente vestiu o uniforme
emprestado. Manteve a pistola, escondendo seu sabre de
luz na cintura, sob o casaco. Foi até a parte comum do
refrescador e examinou-se no espelho. Nada mal.
Atrás dele, Lando surgiu de outro quiosque, vestindo um
uniforme similar. Lando ajustou o cinto com sua nova arma
e tirou um fiapo da manga direita.
– Mulheres adoram um homem de uniforme – disse ele.
Colocou o capacete.
– Vamos torcer para que elas não vejam o homem por
trás da armadura – disse Luke.
Os dois alinharam os ombros, estufaram o peito e
forjaram uma arrogância imperial enquanto saíam do
refrescador.
Vader estava de pé na rampa que levava ao transporte
pessoal do Imperador, olhando para o homem mais baixo.
– Calculo que devo voltar em três semanas – disse o
Imperador. – Acredito que você possa evitar que o planeta
caia em pedaços enquanto eu estiver fora.
– Sim, meu mestre.
– Eu não esperaria menos. Alguma notícia de Skywalker?
– Ainda não. Vamos encontrá-lo.
– Talvez mais cedo do que você espera.
Vader olhou para o Imperador, que dava um meio sorriso,
mostrando os dentes danificados. Ele previra alguma coisa?
O Imperador era ainda mais sintonizado com o lado sombrio
do que Vader. Teria apanhado alguma informação nova
sobre Luke?
Se sim, não estava pronto para revelá-la, pois se virou e
se permitiu ser escoltado até a rampa por um esquadrão da
Guarda Real imperial, com suas vestes cerimoniais
vermelhas e armaduras da mesma cor.
O barulho da retorcida bengala do Imperador sobre a
rampa era a única coisa a romper o silêncio.
De todas as pessoas da galáxia, em quem o Imperador
mais confiava era Darth Vader; pelo menos era nisso que
Vader gostava de acreditar. E, tanto quanto podia
determinar, a extensão dessa confiança era menor do que
um braço estendido.
Mas não importava. Ele estava certo sobre uma coisa:
cedo ou tarde Luke apareceria. Uma luz tão esplendorosa
não poderia se esconder por muito tempo. Por sua natureza,
o menino brilharia o suficiente para ficar visível a quem
tivesse o poder e o conhecimento de como procurar por ele.
Uma vez que um Jedi começava a crescer na Força, o
processo não era facilmente interrompido. No caso de Luke,
Vader duvidava de que pudesse ser interrompido.
Eles se encontrariam novamente. Uma semana, um mês,
um ano. Não importava. Aconteceria.
Enquanto isso, manteria um olhar afiado sobre as ações
de um inimigo demasiado perto de casa. Mesmo agora, os
agentes de Vader procuravam cada pedaço de informação
que ainda não tivessem encontrado sobre o Sublorde do Sol
Negro. Isso também seria simplesmente uma questão de
tempo. Quando se conhecia a direção, a viagem ficava mais
fácil, e mais cedo ou mais tarde Xizor cometeria um erro.
Tropeçaria.
Quando o fizesse, Vader estaria esperando para pegá-lo.
– Bem – disse Luke —, este é um bairro melhor do que
onde estávamos antes, mas aonde estamos indo?
Lando apontou.
– Para lá.
– Uma loja de plantas?
– Não se deixe enganar. Ela pertence a um velho Ho’Din
chamado Spero. Ele tem um monte de ligações: com o
Império, com a Aliança, com criminosos...
– Deixe-me adivinhar: ele lhe deve um favor.
– Não exatamente. Mas fizemos alguns negócios no
passado e ele não se importará de ganhar alguns créditos
em troca de informações.
Foram até a loja.
– Tem muita gente nos olhando de cara feia – disse Luke.
– São os uniformes. O Império não tem muitos amigos
aqui em baixo. A maioria dos moradores são,
provavelmente, fugitivos, a um passo de serem presos. Eles
não vão nos incomodar enquanto não metermos o nariz
onde não devemos. Não querem atrair a atenção e a raiva
do Império para os seus esconderijos.
Dentro da loja, não havia sinal do proprietário Ho’Din.
Exceto por Luke e Lando, o lugar estava vazio.
– Ninguém em casa – disse Luke. – Isso é estranho, não
é?
– Sim, estranho. Eu...
Alguém disse alguma coisa atrás deles. Luke não
entendeu o que era, mas reconheceu o idioma: Wookiee.
– Calma, amigo – disse Lando. – Ninguém vai fazer
movimentos bruscos. – Ergueu as mãos e disse a Luke para
fazer o mesmo.
Ouviram outra frase em Wookiee.
Alguma coisa nessa voz...
– Vire-se bem lentamente – disse Lando para Luke.
Viraram-se.
Havia mesmo um Wookiee parado lá. Com um corte de
cabelo horroroso.
– Chewie! – exclamou Lando.
Apesar dos capacetes, Chewbacca os reconheceu no
mesmo instante e baixou a pistola que segurava.
Lando sorriu. Ele e Luke avançaram para abraçar Chewie.
– O que aconteceu? O que houve com o seu cabelo?
Chewie tentou responder, enquanto Lando disparava
mais perguntas e Luke não entendia muita coisa da
conversa. Mas estava contente em ver o Wookiee.
Finalmente Lando começou a traduzir para Luke.
– O dono da loja está amarrado nos fundos. Caso alguém
visse Chewie chegando, não pensaria que Ho’Din o está
ajudando... está bem, está bem, e... calma, amigo!
Chewie continuou falando em um ruído lamentoso.
– Ok, ok, Leia acha que é o Sol Negro quem lhe quer
morto, Luke. Eles estão por trás das tentativas de
assassinato, e não o Império. Ahn? Bem, eu não sei como,
somos apenas nós três. Como vamos entrar no local? Não
vai ajudá-la em nada se formos presos, vai?
O diálogo terminou abruptamente quando um raio
passou através da porta aberta da loja e quebrou um vaso
de flores pendurado no teto. Fragmentos de cerâmica
desabaram sobre as costas de Luke e pedaços de terra
úmida e musgo caíram por perto. O cheiro de selva dentro
da loja aumentou.
– Ei!
Fora da loja, quatro homens com pistolas dispararam
mais vezes. Quem quer que fossem, não estavam usando
uniformes.
Dentro da loja de plantas, os três deitaram no chão.
Chewie ergueu sua pistola e disparou várias vezes às cegas
contra os atiradores.
– Quem são esses caras? Por que estão atirando em nós?
– Sei lá! – disse Lando. Ele puxou sua pistola e fez coro
aos disparos de Chewie. Pela torrente de luz que veio em
resposta, não pareciam ter acertado ninguém.
– Há outra maneira de sair daqui? – perguntou Luke.
Chewie rosnou em resposta. Luke achou que significava
“sim”.
– Pelos fundos! – gritou Lando.
Ele e Chewie arriscaram mais disparos e os três se
arrastaram em direção à parte de trás da loja.
Passaram pelo velho Ho’Din, amarrado e amordaçado em
um canto.
– Desculpe por isso – disse Lando ao Ho’Din. – Mande a
conta pra Aliança, eles vão reembolsar tudo!
Chewie chegou à saída dos fundos e abriu a porta de
correr.
Outro raio zuniu pela porta na altura do peito e fez um
buraco em uma parede interna. Felizmente, todos estavam
estirados no chão e o buraco se abriu bem acima de suas
cabeças.
Lando amaldiçoou.
– Eles nos encurralaram!
Antes que pudessem pensar no que fazer, alguém gritou
do lado de fora da saída dos fundos. Ouviram o som de
vários disparos, mas nenhum raio penetrou na loja.
– O que...? – começou Lando.
Luke estava deitado de bruços no chão e olhou para
cima, com o uniforme roubado todo sujo de terra e pedaços
de plantas. Viu uma figura andando pelo beco. Bem, não
exatamente andando, mas... tirando onda.
Luke reconheceu o homem.
Dash Rendar! Ah, cara. Aí estava ele salvando Luke de
novo. Luke odiou isso.
– E aí, rapazes? Problemas? – Ele girou a pistola no dedo
indicador e soprou ao longo do cano. Ela fez um leve silvo.
Luke ficou de pé e viu Lando e Chewie fazerem o mesmo.
Começou a falar, mas Lando foi mais rápido.
– Rendar! O que você está fazendo aqui?
– Salvando seus traseiros, pelo visto. Parece ser minha
especialidade. Melhor cairmos fora, podemos falar enquanto
andamos. Sigam-me.
Luke balançou a cabeça. Ele realmente não gostava
disso, mas não havia muito que pudesse dizer a respeito.
Rendar, infelizmente, estava certo.

Em uma sala de reuniões de seu castelo, Darth Vader


encarava o homenzinho à sua frente.
– Você está certo disso?
– Sim, meu lorde, tenho certeza.
Vader sentiu um lampejo de triunfo. Não era o bastante,
mas já era uma parte da prova de que precisava.
– E você tem a fita e a documentação.
– Já estão nos seus arquivos, Lorde Vader. – O
homenzinho sorriu.
– Você tem me servido bem. Não me esquecerei disso.
Continue sua pesquisa.
O homenzinho curvou-se e saiu.
Ora. Existia a gravação de um agente mercenário falando
com uma chefe de mecânicos da Aliança, dizendo que ela
ficaria rica se matasse Luke Skywalker.
Naturalmente, nenhuma conexão direta com Xizor fora
descoberta, mas os agentes de Vader a encontrariam, se ela
existisse. Assim como o agente falara com a chefe dos
mecânicos, alguém devia ter falado com o agente. Os
espiões de Vader rastreariam cada momento da vida
daquele agente até descobrirem quem o teria enviado. E
quem enviara o ser que o enviara. E assim por diante.
Era mais uma adição à crescente coleção de evidências
circunstanciais que seus agentes haviam reunido e
continuavam a reunir.
Sozinho, um grão de areia não era nada, mas grãos
suficientes poderiam cobrir uma cidade. Não deveria abrir o
jogo cedo demais. Já tinha areia suficiente para começar.
Um pouco mais e poderia soterrar Xizor.
Ele tinha de ser eliminado, de uma vez por todas, e
aproximava-se o dia em que isso aconteceria.
Breve.
Seria em breve.

Dash mostrou o caminho. Chewie pegou a deixa e levou-


os por um labirinto de corredores e túneis tortuosos que
despistariam quaisquer perseguidores, dada a rapidez com
que Luke perdera seu próprio senso de direção.
– E como você chegou aqui? – Lando perguntou a Dash.
– Da maneira usual. Escondido sob a barriga de um
cargueiro na sombra do sensor. Um truque que eu aprendi
quando era menino na Academia. Um bom piloto sabe fazer
isso dormindo. E vocês?
O sorriso de Lando parecia um pouco doentio para Luke.
Ele deu de ombros.
– É, nós fizemos isso também. Moleza. Poderia ter feito
no piloto automático, de tão fácil.
– Sim, mas como você conseguiu chegar aqui? –
perguntou Luke. Apontou para o chão.
– Na loja do Ho’Din? Ah, todo mundo sabe do Spero, não
é mesmo, Lando?
– Parece que sim – disse Lando. – Ok, esse foi o como,
mas e o porquê?
Dash suspirou.
– Alguma coisa a provar, eu acho. Fiquei muito mal
depois do desastre pelo qual Luke e eu passamos. Não é
algo com que estou acostumado, cometer erros. Mas
pensei: “se você bate com a sua nave, é melhor subir na
primeira que vir e voltar ao espaço. Se deixar passar muito
tempo, você fica com medo de voar”. Eu estraguei tudo e
ainda não superei isso, mas não dá para ficar sentado numa
poça de lágrimas por muito tempo. Eu trabalho por dinheiro,
mas devo umas coisinhas ao Império. Quando Chewie
chamou, decidi que era hora de pagar.
Luke assentiu.
– Entendo como você se sente.
– Eu tenho alguns contatos aqui – disse Dash.

– Você deve tomar café da manhã comigo – disse Xizor.


Leia olhou para ele. Ele havia ido cedo até o quarto dela,
mas ela já tinha se vestido e estava mais uma vez com seu
traje de caçador de recompensas, sem o capacete. Não
queria vestir as roupas que aquele lixo lhe fornecera.
– Eu não estou com fome – disse ela.
– Eu insisto.
Mesmo agora que sabia que ele tentara matar Luke, ela
ainda sentia um fantasma de atração por ele. Felizmente,
era capaz de resistir. A raiva produzia um bom antídoto.
Decidiu ver se Xizor revelaria alguma coisa a ela. Disse:
– Chewbacca se juntará a nós?
– Ah, não. Seu amigo Wookiee... teve que partir.
– Ele fugiu e você não pôde encontrá-lo, hein?
Xizor deu um sorriso estreito totalmente sem humor.
– Você acha que ele fugiu por conta própria? Realmente,
Leia. Eu permiti que ele fugisse.
– Ora, vamos.
– Eu quero Skywalker. Skywalker quer você. Eu tenho
você. Com certeza não preciso desenhar um diagrama.
Ela sentiu a barriga embrulhar e ficar gelada. Ele estava
brincando com eles. A única razão de tê-la feito ir até ali era
usá-la como isca para Luke. Oh, não.
Estava com fome, mas o café da manhã não tinha mais
apelo algum. Essa criatura era má. Traiçoeira, brilhante e
má.

– Para onde estamos indo? – perguntou Luke.


Dash disse:
– Conheço um lugar onde podemos nos esconder. E
então pensaremos no que fazer.
Luke sentiu dentro de si uma onda repentina de algo
desconhecido. Uma espécie de conhecimento poderoso que
o preencheu e o fez sorrir. Por um segundo, havia se
tornado uno com a Força, sem nem mesmo tentar.
Simplesmente acontecera.
– O quê? – disse Lando, percebendo.
– Nós iremos a este lugar e faremos planos para resgatar
Leia – disse Luke.
Não tinha certeza do que esperar; talvez que Lando,
Dash ou mesmo Chewie olhassem e balançassem a cabeça,
perguntando quem tinha morrido e deixado Luke no
comando, algo assim. Mas os três trocaram olhares, e
quando olharam para Luke era evidente que algo havia
mudado.
– Certo – disse Lando. – Claro.
Chewie gemeu, concordando.
– Sem problemas – disse Dash.
Era simplesmente a decisão correta e parecia tão natural
quanto respirar. Assim era a Força, ele percebeu. Um
fenômeno natural. Ele havia lutado tanto para alcançá-la e
ele só precisava relaxar e permiti-la, em vez de tentar criá-
la. Simples.
Uma pena que “simples” e “fácil” não fossem a mesma
coisa.
Não importava. Algo difícil não era necessariamente
impossível. Com a Força, muitas coisas eram possíveis. Ele
ainda tinha muito a aprender, mais do que pensava até
então. Sorriu. O que foi que o mestre Yoda tinha dito?
Reconhecer a sua ignorância é o primeiro passo para a
sabedoria?
Sim.

Guri estava de pé diante de Xizor, que despia seu traje


matinal e começava a se vestir para seus compromissos. Ela
parecia não perceber sua nudez.
– Nossos agentes dizem que um cargueiro Corelliano
correspondendo à descrição da Millennium Falcon está
escondido em algum lugar no distrito de armazéns
Hasamadhi, perto do Polo Sul.
Xizor tirou do armário uma túnica e calças combinando e
examinou-as sob a luz solar artificial.
– E daí? Há centenas de cargueiros Corellianos que se
parecem com ela, não?
– Não escondidos no distrito de armazéns Hasamadhi.
– Você está dizendo que acha que Skywalker e o jogador
vieram para cá? Passaram pelos piquetes imperiais e
pousaram no planeta dessa forma tão ousada?
– Qualquer piloto imbecil que conheça o truque do
cargueiro poderia ter feito isso. Nossos próprios
contrabandistas fazem isso o tempo todo.
Xizor descartou a roupa. Jogou-a no chão e pegou outra,
de tonalidade mais escura e corte mais conservador.
– Está bem. Verifique. Se for a nave de Skywalker, que
fiquem de olho nela. Quando ele aparecer, nosso pessoal
deverá matá-lo. Discretamente, é claro.
Ela assentiu. Virou-se e saiu.
Xizor examinou sua imagem no espelho depois de ter se
vestido. Muito impressionante. Ele também refletia sobre o
que Guri acabara de lhe dizer. Realmente não esperava que
Skywalker estivesse ali tão cedo, mas era possível. Se fosse
ele, tanto melhor.
Vader seria feito de idiota por ter Skywalker morto bem
debaixo de seu nariz.
E havia Leia, um problema que ele acabaria por desatar
a contento. Teria tempo de sobra para brincar com ela.
As coisas não poderiam estar se encaminhando de forma
melhor, não?
Mas os negócios tinham que continuar e Xizor não
poderia delegar tudo. Determinados assuntos exigiam sua
atenção. Terminou sua inspeção e se dirigiu a seu santuário
de reuniões.
Uma vez lá, Xizor disse:
– Ok. Qual é o meu primeiro compromisso?
– General Sendo, príncipe Xizor.
– Bom. – O dispositivo estava consertado e enunciava
corretamente o seu nome.
– Mande-o entrar.
O general Sendo entrou e fez uma exagerada reverência.
– Sente-se, general – disse Xizor.
– Sua Alteza. – O homem obedeceu.
Houve a conversa fiada obrigatória. Então Xizor
entregou-lhe um envelope de plastex contendo dez mil em
notas de crédito usadas e bem gastas, sua bolsa mensal por
manter o Sol Negro a par das coisas que ele desejava saber.
Sendo era um oficial burocrático e ocioso da Filial Destab da
Inteligência Imperial e nunca vira uma batalha, mas podia
acessar todos os tipos de informações da mesa onde exercia
seu trabalho de manter uma cadeira aquecida.
Xizor colocou o envelope na mão do homem e mandou-o
embora. Não havia possibilidade de traição ali: cada
suplicante que chegava era escaneado e revistado em
busca de gravadores ou holocams, e qualquer um que
possuísse tais coisas em si era sumariamente executado
assim que entrasse. As regras eram simples, e todo mundo
que entrava no castelo de Xizor tinha de lê-las a cada visita.
E, se o mensageiro tentasse contar o que vira sem provas,
estaria desperdiçando seu tempo. Sem falar que os oficiais
de alta patente da polícia local, a guarnição do Exército
local e a Inteligência da Marinha Imperial também estavam
na folha de pagamentos do Sol Negro, de modo que
quaisquer denúncias sobre Xizor chegariam à sua mesa
segundos depois de ter sido registradas. Tais pessoas
simplesmente... desapareciam, cortesia dos funcionários
secretos do Sol Negro no respectivo órgão competente.
Mayli Weng chegou com uma petição do Sindicato dos
Trabalhadores em Entretenimento Exótico, pedindo
aumentos salariais gerais e melhores condições de trabalho
para seus vinte mil trabalhadores membros. Xizor estava
disposto a atender ao seu pedido: profissionais do
entretenimento felizes deixavam os clientes mais felizes.
Assim, o percentual do Sol Negro nos lucros (doados pelos
proprietários das empresas das quais os artistas eram
contratados) aumentara. Weng sempre pedia e nunca
exigia. Ele nunca tivera de usar seus feromônios nela, de
tão educada que era. É claro, não poderia fazer a mudança
ele mesmo; isso caberia à Liga dos Proprietários. Mas nunca
haviam recusado uma recomendação do Sol Negro e era
improvável que o fizessem agora.
– Verei o que posso fazer – disse Xizor.
Weng assentiu, curvou-se, agradeceu-lhe profusamente
por sua generosidade e saiu.
Bentu Pall Tarlen, o chefe da Divisão de Contratos de
Construção do Centro Imperial, chegou para entregar
pessoalmente as mais recentes propostas sobre os grandes
projetos de construção do planeta. De posse desses
números, Xizor poderia fazer com que suas empresas
favorecidas concorressem com preços mais baixos e
ganhassem as licitações. Uma vez que as obras
começassem, haveria (é claro) custos inesperados e atrasos
para fazer com que as verbas envolvidas atingissem níveis
rentáveis. O percentual do Sol Negro em tais ofertas não era
desprezível.
Através de um consórcio fantasma que contratava
“consultores”, Xizor arranjou uma transferência para a
conta de Tarlen.
O homem saiu, satisfeito.
Wendell Wright-Sims apareceu para entregar dez quilos
do tempero mais caro. Xizor não consumia tais coisas, mas
às vezes tinha hóspedes que desejavam fazê-lo, e ele queria
ser um bom anfitrião. Agradeceu a Wright-Sims e mandou-o
embora. Não havia pagamento; o homem fazia aquilo para
manter um favor. Era uma garantia de segurança barata
para ele, ainda que aquela quantidade de tempero
provavelmente valesse uns dois milhões de créditos nas
ruas.
O chefe do Sol Negro poderia delegar essas transações
para outros, mas preferia encontrar-se cara a cara com suas
ferramentas mais valiosas de vez em quando. Era parte do
trabalho, necessária para lembrá-los de quem controlava o
sistema. E quem iria atrás deles caso entrassem em conflito
com o Sol Negro.
O trabalho poderia ser entediante para alguns, mas fazia
anos que Xizor não ficava entediado. Havia muitas coisas
em que se pensar, muitos ângulos a se considerar, mesmo
na situação mais corriqueira. Tédio era para aqueles que
não tinham imaginação. Xizor poderia ficar sentado sozinho
em uma sala por dias, olhando para uma parede, e manter-
se tão ocupado mentalmente quanto a maioria dos homens
que realizam um trabalho complexo e exigente.
O representante da Guilda dos Joalheiros chegou.

O lugar para onde Dash os levara era uma pocilga suja e


fedorenta, mais próxima de uma caverna do que de
qualquer outra coisa, com esgoto a céu aberto e cabos de
energia roídos por ratos. Pelo menos era o que parecia do
lado de fora.
Depois que passaram por um guarda e um portão tão
largo quanto Chewie, constataram que o interior era bem
melhor. Poderia ser um hotel de segunda categoria em
qualquer um dos inúmeros portos que Luke tinha visitado.
Só que os preços da estadia ali teriam comprado para eles
casas novas em Tatooine. Para cada um.
Ou assim Dash lhes contara.
– Agora, se pudermos chegar a uma ideia de como
proceder, posso falar com meus contatos – disse Dash. –
Temos alguma ideia?
– Sim – disse Luke. – Eu tenho uma.
Luke respirou fundo, soltou o ar devagar e procurou
limpar a mente. Agora que tinha tempo e espaço, queria
tentar encontrar Leia outra vez.
Havia tirado o uniforme roubado e descartado a pistola, e
agora estava sentado na postura ajoelhada que mestre Yoda
lhe ensinara para meditação. As novas roupas que Dash
conseguira para ele eram apropriadas: capa e capuz cinza-
escuro em um tecido grosseiro, uma camisa lisa e um colete
simples, calças e jaqueta, botas até o joelho, tudo preto,
sem qualquer insígnia. Talvez não fosse muito bem um
uniforme de Cavaleiro Jedi, mas era bem parecido.
Relaxe. Desapegue-se...
Ele se concentrou, focalizando, e disse o nome em voz
alta:
– Leia...
Esperou um momento. Então:
– Leia, eu estou aqui. Estou indo salvá-la.
Ela estava usando o computador, tentando encontrar
uma planta do castelo de Xizor. Mas ele não era tolo a ponto
de deixar algo desse tipo em um lugar que ela pudesse
acessar; droga.
Leia...

Era mais empatia do que telepatia, e, como acontecera


antes, em Bespin, ela reconheceu a sensação rapidamente.
Luke.
Respirou fundo e deixou o ar sair, ficando em silêncio.
Estava sendo observada; não deveria dar nenhum sinal de
sua conexão com Luke. Fingiu estar olhando para uma
imagem qualquer no computador, mas enxergava através
dele, para a distância além das paredes.
Leia, eu estou aqui. Estou indo salvá-la.
Isso era o que Luke estava dizendo, se ela o colocasse
em palavras. No entanto, aquilo não podia ser expresso em
palavras; era uma sensação.
Luke estava ali, em Coruscant, não muito longe. Vindo
até ela.
Havia uma tranquilidade em Luke que ela não sentira
antes. Ele tinha ficado mais forte; seu controle sobre a Força
estava melhor. Ela tinha medo por ele e ao mesmo tempo
estava tocada pela conexão. A sensação de sua confiança
era muito poderosa. Da primeira vez que ela o sentira
tocando-a dessa forma, ele estava muito ferido, após quase
ter sido destruído por Vader. Mas agora, agora ele parecia
forte, no controle, potente. Talvez pudesse resgatá-la. Talvez
sobrevivessem a tudo isso de alguma forma.
Leia...
Ela sorriu. Luke, eu estou aqui...
Luke Skywalker, Cavaleiro Jedi, sorriu.

Em seus aposentos, Darth Vader sentiu a ondulação na


Força. Era discreta, mas reconheceu-a dessa vez.
Luke.
Ele estava ali. No Centro Imperial.
Esse conhecimento enviou um calafrio através de seu
corpo.
Vader estendeu-se pela Força, tentando tocar seu filho:
Luke...
Franziu a testa. O caminho estava... bloqueado. Não
apenas o poder de Luke havia aumentado, como parecia
estar em dois lugares diferentes.
Impossível. Ele certamente estava interpretando as
energias de forma errada. Não poderia haver outro tão forte
quanto Luke na Força; os Jedi estavam todos mortos. O
Imperador estava a anos-luz de distância.
O que poderia estar causando esse efeito de eco?
Certamente era apenas isto, um eco, alguma reverberação
na Força.
Em um instante a ondulação passou e Vader viu-se
sozinho novamente.
Acenou com a mão e levantou a cúpula de câmara. Ficou
de pé e entrou em sua armadura. Luke estava aqui, e ele
estava indo encontrar o menino. Encontrá-lo...
... e trazê-lo para o lado sombrio.
Xizor estava sentado sozinho em sua sala de jantar
particular nos recônditos de seu castelo e almoçava finas
fatias de brilho-da-lua, uma delicada, rara – e cara –
variedade de pera de mais de cem anos-luz de distância.
Enquanto comia, franziu a testa. Não tinha nada a ver com a
fruta, que estava fresca e deliciosa; não, ela estava
excelente, maravilhosa como sempre.
Mas algo estava errado.
O que era ele não sabia dizer, mas não havia chegado ao
topo de uma organização que exigia rapidez e inteligência
sob pena de morte ignorando suas impressões, fossem
lógicas ou intuitivas. Na complexidade que era o Sol Negro
sempre havia problemas – mas não havia qualquer indício
de mais problemas do que o habitual. Não havia relatos de
traição, rivais iniciantes invadindo territórios proibidos,
policiais idealistas e com excesso de zelo bisbilhotando o
que haviam sido pagos para ignorar. A máquina parecia
estar correndo bem.
Entretanto, existia essa sensação de ansiedade nervosa
em seu estômago, na qual tinha aprendido a prestar
atenção ao longo dos anos. Era uma sensação, sim. Não que
ele não tivesse emoções; mas elas eram sempre
controladas.
Mastigou a fruta pensativamente. Nada havia mudado
nela, mas parecia... não estar tão boa quanto alguns poucos
minutos antes.
Brilho-da-lua era encontrada apenas em um único mundo
satélite, em uma pequena região de uma floresta; não
crescia naturalmente em nenhum outro lugar da galáxia; de
fato, não podia ser cultivada em outro lugar. Muitos haviam
tentado transplantar aquela árvore parecida com um fungo
– e todos falharam. Quase do tamanho do punho de um
homem, a fruta continha em seu estado natural um dos
mais poderosos venenos biológicos conhecidos. Uma única
fatia inalterada, dividida em mil pedaços minúsculos, seria
suficiente para matar milhares de pessoas em menos de um
minuto. Não havia antídoto conhecido, mas existia uma
maneira de neutralizar o veneno antes de comer a fruta. Tal
preparação do brilho-da-lua legalmente exigia um chef que
houvesse estudado a técnica por um período mínimo de
dois anos e tivesse um certificado de Mestre Chef de Brilho-
da-Lua, e o processo em si consistia em noventa e sete
etapas. Caso alguma das etapas fosse omitida ou realizada
de maneira incorreta, o prato resultante poderia causar
desde uma ligeira indisposição gástrica a um doloroso coma
alucinatório, seguido de morte. Um restaurante provido das
licenças apropriadas para oferecer o prato cobrava algo em
torno de mil créditos por uma única porção de brilho-da-lua.
Xizor geralmente comia a fruta três ou quatro vezes por
mês e tinha o mais respeitado chef de brilho-da-lua da
galáxia em sua folha de pagamento. Mesmo assim, uma
pequena emoção sempre o tomava quando consumia a
fruta. Sempre havia a possibilidade, ainda que pequena, de
um erro.
Isso acrescentava um toque maravilhoso ao sabor.
Comer brilho-da-lua era um pouco como a competição de
Xizor com Darth Vader. Não havia emoção ao disputar com
aqueles que você sabia que iria derrotar, sem sombra de
dúvida. Mas, com um adversário como Vader, ainda que
fosse cachorrinho do Imperador, era preciso se lembrar de
que seus dentes eram afiados e estavam sempre prontos
para morder. Ele não achava que Vader o venceria, mas
certamente havia uma pequena possibilidade.
Isso acrescentava um toque maravilhoso à disputa.
Teria sido Vader quem motivara essas sensações de
aviso?
Ou seria outra pessoa?
Deixou a brilho-da-lua de lado, não mais interessado
nela. Pediria que Guri fizesse uma verificação de segurança
completa em suas operações, dentro e fora do planeta. E
aproveitaria para pedir que ela se livrasse do resto de
brilho-da-lua, também. Se o seu chef visse qualquer sobra
no prato, provavelmente pediria demissão, fazendo um
escândalo. Ou pior, poderia ficar chateado o bastante para
esquecer uma etapa da próxima vez que preparasse o
prato. Xizor não queria isso. Artistas eram tão
temperamentais!
Ele olhou para o prato meio vazio, cujo custo poderia
fornecer alimentos para uma pequena família durante
vários meses. Não havia mais nada a ser feito quanto à
sensação de nervosismo. Provavelmente não significava
nada. Ansiedade, nada mais.
Gostaria de poder acreditar nisso.

Estavam sentados diante de uma pequena mesa no


restaurante do hotel do Subterrâneo, à espera de sua
refeição.
Dash começou:
– Este é o centro do Império...
– É? – cortou Lando, com pesada ironia. – Uh-oh. Nós não
deveríamos estar aqui. Porque pode ser... perigoso.
– Aonde quer chegar, Dash? – perguntou Luke, ignorando
o sarcasmo de Lando.
– O Império é corrupto. Baseia-se muito menos em
lealdade e honra do que em subornos e corrupção. Créditos
lubrificam as engrenagens, mais aqui do em qualquer outro
lugar.
– E daí? Você acha que poderemos subornar um guarda?
Eu não acho que o Sol Negro colocaria esse tipo de pessoa
na porta – disse Lando.
– Não um guarda, um engenheiro.
– O que estou deixando de captar aqui? – perguntou
Luke.
Dash continuou:
– Em uma burocracia, tudo tem de ser arquivado e
copiado e registrado em quatro vias. Você não pode
construir nada sem autorizações, licenças, inspeções,
planos. Só precisamos encontrar o engenheiro certo, aquele
que talvez jogue demais ou gaste mais do que ganha.
Eles ainda pareciam confusos.
– Está bem – disse Dash. – Esta é a ideia. Sabemos que
os edifícios realmente grandes deste planeta se estendem
tão fundo abaixo da superfície quanto se elevam acima
dela. Uma coisa que eu sei é que, não importa o quanto
você recicle e recupere a água, parte dela sempre se perde.
Resíduos, esgotos, tudo isso tem de ser bombeado para
fora, para onde sistemas maiores e mais eficientes possam
trabalhar com eles.
– Uma coisa básica; não suje seu próprio ninho – disse
Luke. – E daí?
– Um edifício tão grande como este – colocou sobre a
mesa um cartão- -postal holográfico que mostrava várias
estruturas enormes, incluindo o castelo do Imperador – gera
uma grande quantidade de resíduos. Tem que haver uma
maneira de se livrar deles. Eu não vi nenhuma van de lixo
ou vagões de drenagem nas ruas ou nos céus de Coruscant,
então eles devem mandar os resíduos sólidos para baixo e
bombeá-los para longe, provavelmente como uma
maçaroca. Portanto, estamos falando de tubos.
Luke captou. Olhou ao redor da mesa e disse:
– Tubos enormes.
Viu que os outros haviam compreendido.
Chewie disse algo.
Lando balançou a cabeça e disse:
– Chewie está certo. Esses canos, se forem grandes o
suficiente para permitir a passagem de pessoas, certamente
estarão sob guarda.
Chewie disse outra coisa.
– Sim – disse Dash. – Chewie também aponta que tais
drenos seriam difíceis de localizar, uma vez que todos os
edifícios teriam sistemas semelhantes. É provavelmente um
labirinto monstruoso debaixo da terra.
– Certo. Mas provavelmente haverá menos guardas
postados em um grande cano de esgoto do que nas portas
acima do solo. Eles, na verdade, não esperam qualquer
ataque por ali; você não poderia mandar muitas tropas
dessa maneira, porque elas fariam muito barulho e seriam
captadas pelos sensores. Mas alguns poucos homens
ficariam ocultos pelo ruído de fundo, se tivessem cuidado.
Lando olhou para Luke e Chewie, e então de volta para
Dash.
– Supondo que a gente consiga encontrar um guia, você
está dizendo que quer que a gente ande por quilômetros de
esgoto para entrar nesse lugar? – Olhou para Dash como se
ele tivesse acabado de se transformar em uma aranha
gigante.
Dass sorriu.
– Exatamente o que os guardas devem pensar. Quem
seria tão estúpido?
Lando balançou a cabeça.
– Nós. Quem mais?
– E encontrar um guia não é problema. Eu conheço
alguém.
– Já ouvi isso antes – disse Luke.
Vader respirou fundo, soprou e puxou o ar de novo. As
energias do lado sombrio o preencheram e ele pôde voltar a
respirar como um homem normal. Focalizou sua raiva. Não
era justo que fosse um aleijado, que não pudesse fazer isso
o tempo todo. Não... era... certo!
As energias de cura permaneciam.
Enquanto conseguisse manter a sua indignação, seus
pulmões e vias respiratórias permaneceriam abertos e
limpos. Alimentou os fogos de sua ira com a injustiça de
uma galáxia que o deixava ser inteiro.
As energias de cura ainda funcionavam.
Lutou contra a sensação de alívio que sentia. Lutou e
manteve sua raiva pura.
E ainda funcionava. Quase dois minutos agora. Um novo
recorde.
Ele ficaria mais forte. Acrescentaria o poder de Luke ao
seu, e em algum momento seria capaz de abandonar a
armadura, de caminhar como os homens normais.
Luke...
Tentou impedir o sorriso. Falhou.
Afundou de volta na proteção de sua câmara de
respiração, incapaz de manter as energias por mais tempo.
Mas, mesmo assim, conseguiu dois minutos. Algum dia
seriam dez minutos, depois uma hora, e então o tempo que
quisesse.
Algum dia.
Leia não era a mulher mais paciente da galáxia, e sabia
disso. Ficar enfurnada em um quarto, por mais bem
equipado que fosse, não correspondia em nada à sua ideia
de diversão.
Tentou meditar, mas sua mente zumbia demais.
Trabalhou em planos de fuga, mas, dada a pouca
informação que tinha, seu escopo era bastante limitado.
Por fim, começou a se exercitar. Sabia alguma coisa de
ginástica básica, fácil de fazer caso se tivesse um pouco de
espaço no chão. O tapete era quase tão espesso quanto um
tatame, e, ainda que o teto não fosse alto o bastante para
permitir saltos (se ela ainda pudesse dar um), nada a
impedia de ficar de cabeça para baixo ou fazer outros
movimentos. Esticou-se, contorceu-se, fez espacates, forçou
seus músculos contra a gravidade de diferentes formas, em
uma boa série de exercícios.
Quando acabou, estava exausta e sentia-se muito
melhor. Caminhou lentamente para o refrescador e acionou
o chuveiro. Apagou as luzes e despiu-se, tomou banho e se
vestiu de novo no escuro. Negócio complicado, mas, como
tinha quase certeza de que Xizor tinha umas duas ou três
holocams escondidas em seu quarto, não iria lhe oferecer
um show particular.
Sentindo-se um pouco dolorida, mas melhor, Leia mais
uma vez pensou em maneiras de escapar. Ou, mais
precisamente, em maneiras de ajudar Luke com qualquer
plano que ele tivesse. Estava preocupada com ele, embora,
em outro nível, satisfeita por ele estar vindo resgatá-la.
Era bom saber que alguém se importava a esse ponto.
O contato de Dash, um certo Bento Vidkun, estava mais
do que disposto a escanear os sistemas, traçar mapas, guiá-
los ele mesmo ou qualquer outra coisa que pudessem
querer; contanto que eles tivessem muitos créditos.
Na verdade, não dispunham de muito dinheiro. Lando
tinha um pouco escondido aqui e ali, mais o que conseguira
sacar do Banco Galáctico antes de suas contas em Bespin
serem fechadas pelo Império. Mas, sob um pseudônimo,
Leia tinha uma linha de crédito da Aliança para uso em
emergências, e Luke sabia o código de acesso da conta.
Imaginou que aquele fosse um bom momento para usá-lo.
Vidkun estava disposto a vender-se barato, também. A
integridade do engenheiro aparentemente valia cerca de
três meses de salário, o que não era muito.
Ele era um homem baixo, magro, pálido como a barriga
de um peixe, com olhos castanhos saltados, uma barba rala
e bigode, e mais do que o necessário para o nariz.
Pigarreava muito. De acordo com ele, trabalhava à noite,
dormia por dias e raramente via o sol, exceto quando ia e
voltava de suas funções no Complexo Imperial. Sua esposa,
uma mulher um pouco mais jovem, aparentemente tinha
gostos muito caros.
– ...veem este cano? Este é o subesgoto de todo o setor.
Você poderia dirigir um landspeeder através dele; é enorme.
O ramo que queremos fica aqui. – Apontou para o
holograma que flutuava sobre a mesa. – Esse é o que drena
o castelo de Xizor. Há uma grade trancada para impedir a
entrada de ratos, olhos de cobra e outras pestes, mas a
manutenção tem os códigos-chave. Depois disso, é caminho
aberto até os tubos de construção, aqui. Meio quilômetro no
máximo.
Ele tocou em um controle do projetor e a imagem abriu-
se em um zoom, ampliando a massa de túneis enrolados
como novelos.
– Qual o tamanho disso? – perguntou Lando.
– Você pode ver, eles estão em escala. Grande o
suficiente para permitir dois homens andando lado a lado,
se não forem muito altos. – Olhou para Chewie. – O Wook
aqui terá que se curvar um pouco.
Chewie rosnou para o homenzinho.
– E esses levam até o prédio em si?
O engenheiro limpou a garganta, cuspindo um catarro
grosso.
– Sim. Haverá outra grade para ratos no ponto onde ele
penetra na estrutura. Supostamente não devemos ter os
códigos de bloqueio dela, mas, bem, por acaso meu
cunhado Daiv trabalha para a empresa que construiu o
castelo de Xizor e posso lhe dar os códigos deles. Por uma
pequena soma. – Sorriu, revelando dentes amarelos que
pareciam mais afiados do que deveriam.
Luke e Lando trocaram olhares.
– Quão pequena essa soma? – perguntou Dash.
– Duzentos e cinquenta créditos?
– Cento e vinte e cinco – ofereceu Lando antes que Dash
falasse.
– Ter esses códigos nos pouparia um monte de
problemas.
– Disparos de raios são mais baratos – disse Lando. –
Podemos explodir as trancas. Cento e cinquenta.
– Faria muito barulho e você não quer isso. Cento e
setenta e cinco.
Lando assentiu.
– Ok, fechado.
O engenheiro sorriu nervosamente e continuou.
– Agora, temos que tomar cuidado com o mata-pestes,
aqui. – Indicou com o dedo um ponto na imagem diáfana. –
Se andarem por essa área, bzzzt!, vão fritar mais rápido que
numa explosão de micro-ondas de amp alto. Por acaso meu
outro cunhado, Lair, instala essas coisas, e tenho os códigos
de passagem.
– Por uma pequena soma – disse Luke, secamente.
– Mesmo preço que o outro?
Lando olhou para o teto.
Dash concordou:
– Está bem.
– Depois disso, só precisarão se preocupar em sair da
câmara de coleta e passar pelos guardas que estiverem lá
em baixo. Não posso ajudá-los com isso; Xizor usa o seu
próprio pessoal e não conheço nenhum deles.
– A gente se vira – disse Dash.
Vidkun assentiu. Levantou-se.
– Aonde você pensa que vai? – questionou Lando.
– Huh? Para casa.
– Eu acho que não – disse Dash. – Acho que talvez você
devesse ficar aqui com a gente.
– Mas vocês disseram que só estarão prontos para ir
amanhã.
– Mudamos de ideia – disse Dash. – Queremos ir agora. E,
já que não queremos encontrar um esquadrão de
stormtroopers ou guardas do Sol Negro esperando por nós
quando começarmos a transitar pelos esgotos, preferimos
que você não faça nenhuma chamada.
– Ei, eu não entregaria vocês!
– Não, a menos que você achasse que o Sol Negro ou o
Império pudessem pagar mais por nós – disse Lando. – Mas,
como você vai nos guiar, se alguém começar a atirar,
adivinha quem levará o raio primeiro?
Vidkun parecia nervoso. Pigarreou, engoliu e disse:
– Posso ligar para a minha mulher e avisá-la? Ela vai ficar
realmente com raiva de mim, se eu não avisar.
– Então compre para ela um bom presente quando você
voltar – sugeriu Dash. – Você vai estar com o bolso cheio de
créditos, poderá fazer as pazes com ela.
O engenheiro esfregou o rosto e mostrou seu sorriso
auripigmentado de novo.
– Tá. Tá bom. Acho, já que não tenho muita escolha.
– Isso mesmo – disse Dash.

O brilho planetário era tão intenso, com tantas naves


entrando e saindo, que nunca chegava a ficar escuro de
verdade na varanda de Xizor. Aparentemente havia uma
forte brisa descendente, gerada quando os edifícios
esfriavam e o ar noturno deslizava para baixo pelos cânions
artificiais em direção às ruas bem lá embaixo.
Aparentemente porque, mesmo ali, muitos andares acima
da superfície, a segurança de Xizor incluía uma placa de
transparaço da espessura de uma mão, que dava a volta
transformando a varanda em uma bolha blindada. Podia ver
a noite, mas não senti-la. Era um pequeno preço a se pagar
pela segurança.
Sempre havia a opção de vestir um disfarce se ele
quisesse caminhar entre a ralé, mas até agora a falta de
liberdade pessoal não o incomodara tanto assim.
Guri se aproximou por trás dele, com passos quase
inaudíveis.
– Todos os nossos sistemas de segurança emitiram seus
relatórios – disse ela.
– E...?
– Nenhuma atividade inesperada. Nada mais ameaçador
do que o habitual.
Ele assentiu. Esperou um momento e disse:
– Eu a convidei aqui para cima. – Ele apontou para a
vista. – Ela se recusou.
Houve uma pausa que durou mais tempo do que Guri
normalmente se permitia dar antes de falar. Disse:
– Seu feromônio de atração foi insuficiente para dobrá-la
à sua vontade. Isso nunca aconteceu antes.
– Eu tinha notado isso, muito obrigado.
– Essa falha a tornou mais atraente.
Xizor disse:
– O que quer dizer?
– Costuma-se querer mais o que não se pode ter.
Enquanto ela resistir aos seus avanços, seu carisma se
tornará mais forte. Quanto mais ela resiste, mais você a
deseja. Tornou-se uma competição de vontades.
Ele sorriu.
– Sim, tornou-se. Uma que eu vou ganhar, em algum
momento.
Guri não disse nada.
– Você duvida de mim?
– Você nunca havia falhado antes.
Não era realmente uma resposta, mas uma verdade.
– E você, minha sempre vigilante guarda-costas, não
aprova.
– Quanto mais inteligente e dedicado alguém é, mais
perigoso pode ser quando ameaçado.
Ele olhou fixamente para uma rota de tráfego planeta-
espaço particularmente congestionada. Os faróis móveis
das naves pareciam formar uma linha quase contínua de
luzes brilhantes e coloridas
– Você, de todos os seres, deveria compreender. Boa
parte da vida é sobre a busca pelos seus iguais. Você é
única. Há outros semelhantes a você, mas nenhum deles
exatamente como você. Você é superior a qualquer outro
DRH já criado.
– Sim – disse ela.
– Você nunca quis conhecer alguém capaz de se mexer,
de sentir, de pensar à sua altura? Um igual?
– Não particularmente. Qual o sentido? Maior do que eu,
menor do que eu, o que importa para o meu
funcionamento?
Ele desviou o olhar do espetáculo de luzes no céu e a
encarou.
– No entanto, você deseja tarefas que sejam um desafio.
– É claro.
– É a mesma coisa. Sim, é perigoso lidar com alguém que
possa derrotá-lo, e talvez seja ainda mais perigoso
relacionar-se com alguém que um dia poderia esfaqueá-lo
enquanto você se deita para dormir ao lado dela. Ainda
assim, as possibilidades são tão... maiores. Há bilhões de
mulheres, muitas das quais mais bonitas, mais capazes
fisicamente, até mais dedicadas – continuou ele. – Talvez
até mesmo as três coisas. Mas esta é a que eu quero e eu
vou tê-la.
Guri assentiu uma vez.
– Ah. É por isso que você come brilho-da-lua.
Ele a olhou fixamente. Ela havia entendido, ao menos em
algum nível. Ele concordou.
– Depois de conquistá-la, quando estiver cansado dela,
você poderá eliminá-la.
– Depois de conquistá-la.
Ele sorriu. Escutou o “se conseguir” em sua voz.
Quando Guri partiu, ele tornou a observar o céu. A
maioria das pessoas ficaria encantada por ter encontrado
um parceiro com o qual pudesse viver com estímulo pelo
resto da vida. Ele não era a maioria das pessoas. Ele era,
como Guri, único. Esperaria pelo tempo que fosse
necessário para provar Leia, e, quando o tivesse feito,
estaria saciado e acabaria com ela. Em sua busca por uma
igual ela chegava perto, mas não era tão boa quanto ele.
Até agora, ninguém na galáxia o tinha sido. E não
esperava encontrar uma pessoa assim. Ele era,
simplesmente, superior a todos.
Tinha aprendido a conviver com isso.

– 3PO?
– Sim, mestre Luke?
– Está tudo bem na nave?
Houve uma breve pausa. Luke girou o pequeno comlink
distraidamente entre os dedos.
A voz de 3PO soava um pouco metálica pelo
comunicador.
– Na nave, sim. Mas R2 tem ouvido algumas
comunicações táticas em um canal de operações protegido.
Parece que há equipes de busca na área. Eles parecem
estar à procura de um cargueiro Corelliano.
Luke ficou olhando para o comunicador.
– Hmm. Ok. Fique de olho bem aberto. Se alguém
começar a bisbilhotar por aí, ligue para mim.
– Certamente farei isso. De imediato – disse 3PO.
Luke mordeu o lábio. Estavam prestes a entrar nos
esgotos. Ele não precisava de mais problemas.
Vader estava na sacada de seu castelo, imune à brisa da
noite que caía sobre ele. Havia tentado sondar a Força e
encontrar Luke, mas falhara. Seria mesmo Luke? Quem mais
poderia ser? E, se fosse, onde ele estava exatamente não
era tão importante quanto o por que estava ali, no Centro
Imperial.
Teria vindo desafiar Vader? Ou enviado em algum
esquema rebelde para atacar o Imperador? A linha protetora
de naves de guerra imperiais impediria qualquer ataque das
forças rebeldes, mas era projetada para detectar naves de
grande porte e não pulgas. Um piloto determinado em uma
pequena nave poderia encontrar caminhos através da
SkyNet imperial.
O que foi, meu filho? Por que você veio aqui? Permita-se
me ouvir, revele o seu paradeiro e irei até você.
Se Luke ouvira seu chamado, não tinha respondido.
– Meu Lorde Vader – disse uma voz às suas costas.
Ele se virou. O homenzinho que lhe fornecera as
informações contundentes sobre Xizor estava ali, parado.
Vader havia deixado ordens para que ele fosse admitido,
não importava quando chegasse.
– Você tem alguma coisa para mim?
– Sim, meu lorde. Descobrimos uma cópia pirata de
certos arquivos planetários dos Falleen, que acreditávamos
terem sido destruídos.
– Por que eu deveria achar isso interessante?
– Ele contém algum material sobre a família do príncipe
Xizor. Seu pai era o rei de uma pequena nação lá.
Vader franziu a testa.
– Eu sabia que seu pai era da realeza, mas achava que o
príncipe Xizor havia ficado órfão bem cedo.
– Não exatamente, meu lorde. Você deve se lembrar de
um experimento biológico em Falleen que... deu errado, há
uma década ou mais.
– Sim, eu me lembro.
– Durante o, ah, procedimento de esterilização, alguns
cidadãos imperiais perderam a vida.
– Um incidente lamentável.
O homenzinho tocou em um controle em seu cinto. Um
holograma apareceu entre ele e Vader. Parecia ser um
retrato de família com oito Falleen. Vader olhou para o
grupo. Havia certa semelhança familiar entre eles... espere.
Um deles era Xizor. Tinha a mesma aparência; um pouco
mais jovem, talvez. Era difícil dizer, Falleen envelheciam
muito lentamente; eram uma espécie de vida longa.
– A família do príncipe Xizor – disse o homenzinho. –
Todos foram mortos durante a destruição da bactéria
mutante que escapou do laboratório.
Uma luz raiou na mente de Vader, brilhante, clara e
repentina. Ah! Isso explicava muita coisa. Xizor não
considerava Vader um rival simplesmente por conta da
afeição do Imperador ou porque ele era um obstáculo para
as suas ambições.
Era pessoal.
– Como os registros disso foram destruídos?
O homenzinho sacudiu a cabeça.
– Nós não sabemos. Por alguma razão, todas as
referências à família de Xizor simplesmente desapareceram,
logo após a destruição da cidade.
Darth Vader tinha sido encarregado desse projeto. Xizor
devia considerá-lo responsável pela morte de sua família. E
agora ele queria matar Luke, o filho de Vader. Não apenas
para fazê-lo perder moral frente aos olhos do Imperador,
mas por vingança!
Fazia sentido. Através do Sol Negro, Xizor tinha os meios
de obter e eliminar os registros. Ele era Falleen e muito
paciente. Não eram os Falleen que diziam que a vingança
era como um bom vinho? Que deveria envelhecer para que
fosse perfeita? Eles eram frios, os homens-lagarto;
poderiam esperar por um longo tempo para conseguir o que
queriam.
Bem, assim como ele.
– Mais uma vez você me serviu bem – disse Vader. –
Quando terminar esse projeto, não terá mais necessidade
de se preocupar com dinheiro, tal é a minha gratidão.
O homenzinho se curvou.
– Meu lorde.
Vader mandou-o embora. Tinha muito em que pensar.
Muito o que fazer.
Quando estava pronto para partir, o pequeno grupo
equipou-se com tudo o que achava necessário para uma
longa caminhada através dos esgotos, seguida de um
assalto a um edifício fortificado.
Luke certamente não se considerava um mestre Jedi,
mas optou por usar seu sabre de luz como arma. Chewie
conseguiu localizar uma balestra e Lando e Dash
mantiveram as próprias pistolas. Ninguém ofereceu uma
arma a Vidkun. Se houvesse tiroteio, não estavam muito
certos sobre para que lado ele miraria.
Dash havia expressado isso dizendo que pessoas como
Vidkun eram úteis, e que só se podia confiar nelas enquanto
estivessem em seu campo de visão. Você lhes pagaria sua
dívida e depois deveria ficar o mais longe que pudesse, e
rápido.
Escolheram partir durante o dia. Vidkun normalmente
estaria fora do horário de trabalho e, portanto, sua ausência
não seria notada. E quando se está tão fundo no solo, não
importa o que o sol esteja fazendo.
Luke mudou parte do equipamento em seu cinto de
posição e ajustou a pequena mochila para que ficasse mais
confortável em seus ombros.
Dash perguntou:
– Prontos?
Todo mundo estava.
– Vamos nessa.
Darth Vader recebeu uma chamada do Imperador,
através da HoloNet:
– Meu mestre.
– Lorde Vader. Como estão as coisas por aí?
Por que ele estava perguntando isso?
– Calmas. Não há problemas.
– Fique alerta, Lorde Vader. Eu senti uma perturbação na
Força.
– Sim, meu mestre.
Quando o Imperador desconectou, Vader levantou-se e
olhou para o infinito. Teria sido Luke o que o Imperador
sentira? Ou algo mais? O Sol Negro e seu líder amoral?
Bem. Já era tempo, ele decidiu, de ver se podia
encurralar esse adversário em particular em algum canto.
Para o seu computador, disse:
– Chame o príncipe Xizor.
Em seu santuário, Xizor ficou um pouco surpreso com a
chamada.
– Lorde Vader. Que agradável surpresa.
A imagem de Vader parecia, como sempre,
imperturbável. Mas, quando ele falou, o hiperaço em sua
voz mal era coberto por uma fina camada de civilidade:
– Talvez não tão agradável. Fiquei ciente de suas
tentativas de matar Luke Skywalker. Você abandonará
imediatamente todas as tentativas de prejudicar o rapaz.
Xizor manteve o rosto neutro, mesmo que sentisse um
surto violento de raiva.
– Sua informação está errada, Lorde Vader. E, mesmo
que fosse correta, entendo que o rapaz é um oficial rebelde,
todos considerados traidores e procurados vivos ou mortos.
Essa mudança repentina de atitude é um decreto imperial
oficial?
– Se Skywalker for prejudicado, considerarei você
diretamente responsável.
– Entendo. Garanto-lhe que, se encontrar Skywalker,
estenderei a ele a mesma cortesia que dirigiria a você,
Lorde Vader.
Vader cortou a conexão.

Xizor respirou fundo e soltou o ar lentamente. Mais uma


vez disse a si mesmo que era de se esperar que Vader
descobrisse algumas informações sobre Skywalker mais
cedo ou mais tarde, como fizera o Imperador. Poucas coisas
de valor real poderiam ser mantidas em segredo para
sempre; ainda assim, era mais um aborrecimento. Isso não
deveria ter nenhum efeito sobre seus planos, também; ele
apenas teria que ser mais cauteloso em suas ações. Quando
Skywalker não pudesse ser encontrado, Vader até poderia
suspeitar que ele fosse o responsável, mas, enquanto não
tivesse provas, Xizor estaria seguro.
Saber disso mal chegava a apagar o eco persistente do
medo.
É claro, o Imperador sempre poderia mudar de postura.
Fizera isso mais do que algumas vezes e por razões que
muitas vezes pareciam caprichosas, na melhor das
hipóteses. Ainda assim, se Xizor pudesse entregar os líderes
da Aliança, seria um grande passo para manter os favores
imperiais. Com a Rebelião decapitada, muito esforço seria
poupado. Bilhões de créditos e dezenas de milhares de
homens e máquinas seriam liberados para outros prazeres
do Imperador, quaisquer que fossem. O Lorde Sombrio dos
Sith poderia reclamar; contudo, enquanto ele fosse útil,
Xizor seria à prova de raios e intocável.
Darth Vader era por demais fantoche do Imperador para
ir contra a vontade de Palpatine.
A conversa fora ligeiramente preocupante; nada mais. E
proporcionara a Xizor um conhecimento que ele não tinha
antes. Vader não estava dormindo, e era bom que ele o
soubesse. Subestimar o inimigo sempre era algo ruim.

Leia passou para a segunda série de exercícios do dia,


mas pegou leve. Poderia ter de fugir de repente e queria
estar flexível e aquecida, mas não esgotada.
Coisas estavam prestes a acontecer.
O lodo era negro esverdeado, espesso, oleoso e fedia
mais do que qualquer coisa que Luke já tinha encontrado na
vida. A escória da escória, a gosma gordurosa era líquida,
ou pelo menos fluida, e corria ao redor de seus pés, por
vezes chegando até os tornozelos.
Luke estava muito feliz por ter ganhado botas até os
joelhos com suas roupas novas.
O túnel em que andavam era tão grande quanto Vidkun
havia dito. Era iluminado por uma fileira de fracos
eletrobastões, dispostos em um ângulo que não lhes
permitia incidir luz direta, mas brilhantes o bastante para
que enxergassem o caminho.
Algo mais à frente produziu um barulho de dentes
batendo, e eles escutaram dois sons como se alguém
tivesse deixado cair duas pedras do tamanho de uma
cabeça no líquido escuro.
Chewie, que ia à frente, murmurou alguma coisa. Parecia
bastante agitado. Parou de se mover.
Lando, logo atrás dele e à frente de Luke e Vidkun, disse:
– Eu ouvi. Não é minha culpa se você não quis usar
botas. Vá em frente, está com mais medo de você do que
você dele.
Atrás deles, na retaguarda, Dash disse:
– Sim, é melhor tomar cuidado, Chewbacca! Ouvi dizer
que as serpentes de esgoto amam calcanhar de Wookiee!
A resposta de Chewie foi curta, afiada e provavelmente
obscena.
Lando disse:
– Tudo bem, esqueça a dívida vitalícia que você tem com
Han. Deixe os bandidos ficarem com Leia porque você tem
medo de uma tirinha de couro desdentada.
Chewie rosnou, mas voltou a se mover.
Vidkun disse:
– O que há com o Wook?
– Ele não gosta de coisas pequenas que nadam ou se
arrastam – disse Luke. – Realmente não gosta delas.
Vidkun deu de ombros.
– Só mais algumas poucas centenas de metros – disse
ele. Aparentemente não era afetado pela caminhada pelo
fluxo nojento que batia em suas pernas.
– Ei! – disse Dash. – Cuidado!
Luke girou, tirou o sabre de luz do cinto, apertou o
controle da arma...
Bem a tempo de ver um grande olho injetado preso a
uma haste carnuda deslizando pelo eflúvio turvo em sua
direção. Também avistou o saque rápido de Dash. Uma
dianoga!
– Não atire! – ordenou Luke. Agachou-se e girou o sabre
de luz.
A dianoga tentou fugir, mas era muito lenta. O feixe
cintilante de luz sólida cortou a haste e o olho caiu no lodo.
A criatura ferida começou a se debater violentamente,
dando fortes golpes musculares com seu corpo em todas as
direções.
Luke chegou mais perto e abaixou a lâmina. Acertou o
corpo da dianoga com um golpe sólido e cortou-a ao meio.
As partes cortadas continuavam se debatendo, mas os
espasmos rapidamente diminuíram.
Dash girou a pistola em volta do dedo e deixou-a cair no
coldre.
– Belo movimento, garoto.
– Eu vi essas coisas antes – disse Luke. – Da última vez
que encontrei uma eu estava em um compactador de lixo.
Ela quase me pegou.
Chewie grunhiu, confirmando.
– Você passa muito tempo em lugares como este? – disse
Dash.
– Não se eu puder evitar.
Os cinco continuaram a percorrer a lama.
– Logo aí à frente – disse Vidkun.
Pararam. Havia dois grandes buracos redondos na
parede, cobertos por grades de metal de um dedo de
espessura. Os buracos eram ligeiramente voltados para
baixo. Mais lodo escorria dos tubos menores e se juntava ao
lamaçal que corria lentamente pelo tubo maior onde
estavam.
Lando disse:
– Ok, Vidkun, vamos ver se esses códigos que você tem
funcionam.
O engenheiro avançou, fez alguma coisa com os
mecanismos da tranca usando um cartão de plástico. Os
portões se abriram. Sorriu para eles.
– Está vendo? Como eu lhe disse. Temos que ir pelo da
direita.
Chewie começou a subir para o novo túnel. Era um pouco
curto para ele, mas os outros não deveriam ter problemas
para andar por ali.
Chewie escorregou e quase caiu, mas conseguiu se
equilibrar. Teve que colocar uma mão na gororoba para
fazer isso e, quando puxou de volta, a mão estava tão
escura quanto o material que a cobria. Sacudiu-a
violentamente.
Chewie não estava feliz.
– Cuidado – disse Vidkun. – É um pouco escorregadio em
alguns lugares.
Chewie virou-se lentamente para olhar para Vidkun.
Sorte do engenheiro que os olhos do Wookiee não eram
lasers; caso contrário, Vidkun teria queimado até virar uma
coisa preta tostada bem ali onde estava.
Lando riu.
– Sim, tenha cuidado, seu grandalhão desajeitado... iau!
Lando derrapou e caiu sentado no lodo. Levantou-se
depressa, mas não rápido o bastante para evitar que seu
traseiro ficasse encharcado.
Chewie riu tanto que Luke achou que ele fosse cair de
novo.
Luke lutou contra a própria risada. Não queria ser o
próximo, então ficou em silêncio. As coisas tinham um jeito
de acontecer quando você desafiava o destino.
– Você devia ter usado roupas velhas – apontou Dash.
– Ei, Rendar, eu não tenho nenhuma roupa velha.
– Agora você tem. Isso nunca mais vai ficar limpo a ponto
de você poder usar em público. Expulsariam você dos
Stormtroopers de Elite fedendo assim.
– Cale a boca – disse Lando.
Caminharam pelo cano acima, subindo pela ligeira
inclinação com muito cuidado.
– Chegando à área do tal raio – disse Vidkun. – Deixe-me
usar o desativador.
Todo mundo parou, enquanto o engenheiro mexia com os
controles de uma pequena caixa preta que puxou de seu
cinto.
Um pouco mais à frente deles, o ar brilhou. Houve um
breve lampejo de luz arroxeada.
– Deve estar desligado agora – disse Vidkun.
– Tudo bem, você vai primeiro – disse Lando.
O engenheiro olhou para ele, mas seguiu em frente.
Quando já havia andado por alguns metros sem deixar
Vidkun frito e crocante, eles o seguiram.
Achei que após algum tempo fosse me acostumar com o
cheiro, pensou Luke. Mas o fedor parecia estar em
constante mudança, indo de mal a pior, trazendo odores
que ele nunca sequer imaginara que existiam.
Seria preciso um banho muito quente e muito longo para
lavar aquele fedor.
Enquanto caminhavam, o lodo refletia a luz pálida dos
eletrobastões presos às paredes do túnel, em ondulações
sinistras. Os menores sons eram ampliados e ecoavam,
voltando para eles a partir das sólidas paredes de duracreto.
– Está perto agora – disse o engenheiro.
– Bom – Lando, Luke e Dash disseram ao mesmo tempo.
Chewie disse algo também e Luke não precisou de um
tradutor para descobrir que ele estava de acordo. Melhor
enfrentar os guardas de Xizor do que suportar aquela
gosma por mais tempo.
– Pronto – sussurrou Vidkun. – Aquela é a entrada para o
edifício. Leva para o reciclador no subporão. Não haverá
nenhum guarda dentro do reciclador, mas provavelmente
haverá alguns na câmara de fluxo adjacente. Aqui está a
chave da grade antirratos. – Entregou um cartão de plástico
para Lando. – Até logo.
Virou-se para ir embora.
Dash meteu-se na frente dele.
– Aonde você pensa que vai?
– Ei, minha parte acabou. Trouxe vocês até o edifício e
entreguei as plantas do lugar, esse era o trato.
– Bem, acho que você nos trouxe até o edifício – disse
Dash. – Esse era o trato, certo. Mas, veja, houve uma
pequena mudança de itinerário.
Vidkun pareceu alarmado.
– Calma, nós não vamos atirar em você ou nada do tipo.
Só gostaríamos que viesse conosco até chegarmos a algum
lugar onde você, com segurança, possa... esperar por nós.
Vidkun não aceitou.
– Sem ofensa e tudo, mas e se matarem vocês? Eu
poderia ficar muito tempo esperando!
– Acho que você vai ter que correr esse risco – disse
Lando. – Não é que a gente não confie em você. É que não
confiamos em você. Além disso, é bem mais agradável lá
dentro. – Indicou com um gesto o fluxo preto borbulhante.
– Eu não ligo para os dejetos – disse Vidkun. – Estou nele
o tempo todo.
– No entanto, insistimos – disse Lando. Tocou de leve na
pistola.
Vidkun deu de ombros.
– Bem. Ok. Já que você coloca dessa maneira...
E, antes que alguém pudesse reagir, ele puxou uma
pequena pistola do macacão e começou a atirar
descontroladamente.
Luke não antecipara esse movimento. O sujeito não
parecia ser desse tipo. Assim, Luke foi lento em ligar seu
sabre de luz.
O primeiro tiro passou longe.
O segundo tiro atingiu Dash; Luke ouviu seu grunhido.
Mexa-se, Luke!
O engenheiro não disparou pela terceira vez porque Dash
sacou sua pistola e acertou um raio bem entre os olhos do
homem.
Vidkun caiu, respingando lodo nas paredes do túnel.
Boiou um pouco, levado de costas pela leve correnteza,
virou-se e, então, parou. Um filete de fumaça subia do
buraco irregular em sua testa.
– Dash?
– Eu estou bem. Só me chamuscou um pouco. – Virou e
mostrou a queimadura ao longo de seu quadril esquerdo. O
raio havia cortado fora uma tira reta do macacão de Dash e
formado uma grande bolha. Nem estava sangrando.
– Não deixe essa porcaria cair em você – disse Lando,
apontando para o esgoto. – Provavelmente não faria
nenhum bem.
– Onde ele conseguiu a pistola? – disse Luke, guardando
o sabre de luz.
– Devia estar com ele o tempo todo – disse Lando. – O
que estou querendo saber é por que ele fez isso. Nós não
iríamos machucá-lo.
– Um cara assim acha que os outros são capazes de fazer
o que ele faria – disse Dash.
Luke abriu o kit de primeiros socorros que havia trazido e
ofereceu a Dash um curativo cirúrgico. Dash aplicou o
curativo sobre o quadril, pressionou o selo e relaxou um
pouco quando o analgésico tópico na bandagem cobriu a
ferida. Foi dar uma olhada em Vidkun.
– Eu estava errado – disse ele. – Parece que acabamos
atirando em você. Mas não foi ideia nossa.
– Vamos torcer para que os guardas não tenham ouvido o
tiro – disse Lando.
– Sim. – Luke olhou em volta, respirou fundo. – Prontos?
Eles estavam.
– Uh-oh – sussurrou Luke.
Agachado atrás dele no reciclador, Lando também
sussurrou:
– Eu não quero saber o que é. – Escutaram uma batida. –
O que foi?
Mesmo um sussurro parecia alto na câmara. O líquido
imundo e turvo chegava aos seus tornozelos. Um conversor
embutido nas paredes circulares zumbia e despejava ainda
mais esgoto, que escorria para baixo através de um dreno
aberto.
– Guardas – disse Luke.
– E?
– Há seis deles.
– Seis? Para proteger uma estação de tratamento de
esgoto?
Dash acrescentou seu sussurro:
– E daí? São só um e meio pra cada um. Quanto tempo
você leva para puxar um gatilho, Calrissian?
– Escute, amigo, não se preocupe com quanto tempo
eu...
– Shhh! – disse Luke. Espiou de novo pela escotilha meio
embaçada que cobria a porta do reciclador. Sim, havia seis
homens a poucos metros de distância. Quatro deles
estavam sentados ao redor de uma mesa, jogando cartas,
com os rifles de raios apoiados contra a parede. Os outros
dois estavam perto dos jogadores, observando e,
aparentemente, dando conselhos, mas tinham as armas
penduradas sobre os ombros. Dash estava certo. Se fossem
rápidos, poderiam cuidar dos guardas antes que tivessem
chance de pegar seus rifles; poderiam desarmá-los, amarrá-
los e seguir caminho sem que mais ninguém soubesse. O
truque era fazer isso antes que um dos guardas pegasse
seu comlink para pedir ajuda.
Luke se afastou da escotilha e agachou-se na lama com
os outros.
– Ok, o plano é o seguinte. Dash, você abre essa
escotilha; eu vou primeiro; Chewie vai atrás de mim, depois
Lando. Você vem por último.
– Ei, por que essa ordem? – sussurrou Dash. – E quem o
colocou no comando?
– Eu posso parar um raio com meu sabre de luz se um
dos guardas for rápido no gatilho. Chewie é bem
impressionante com sua balestra; eles vão prestar mais
atenção nele do que em você ou em Lando. Além disso, ele
atira melhor, se for preciso.
– Não melhor do que eu. E seria muito mais fácil apenas
aparecer de repente e atirar em todos eles – disse Dash. –
Chegamos atirando e eles já eram.
– Essa é a nossa diferença em relação ao Império – disse
Luke. – Eles não hesitariam em fazer desse jeito. Nós só
atiramos se for necessário.
– Está bem. Mate a todos nós sendo um cara legal.
Luke balançou a cabeça. Um Jedi tinha que saber agir se
a situação o exigisse, mas um Jedi também deveria evitar a
violência sempre que pudesse. “Guerreiro” e “assassino”
não significavam a mesma coisa.
– Ok. Prontos?
– Luke segurou o sabre de luz para baixo, para que o
brilho não revelasse que estavam ali. Respirou
profundamente duas vezes.
– No três. Um... dois... três!
Dash escancarou a escotilha.
Luke saltou por ela, o sabre de luz em punho.
– Ninguém se mexe! – gritou.
Chewie pulou atrás dele.
Os pés molhados do Wookiee deslizaram no chão como
se ele estivesse usando patins de gelo, e ele caiu de costas.
Lando tentou pular sobre Chewie, mas tropeçou no
Wookiee caído e esparramou-se de bruços no chão.
Os guardas assustados pularam para alcançar suas
armas.
Ah, cara!

Leia estava sentada na cama quando, de repente, sentiu


um jorro quente de medo.
O que...?

Eles podiam estar em uma situação ruim, mas os


guardas não eram lentos. Os dois que estavam de pé
sacaram seus rifles de raios, miraram e dispararam.
Luke bloqueou o primeiro raio, usou a Força, bloqueou o
segundo...
Dash mergulhou sobre Lando e Chewie, rolou sobre os
ombros, esticou-se no chão e disparou uma, duas, três
vezes.
Os dois guardas que estavam de pé tombaram, mas
outro pulou de um canto, com o rifle cuspindo.
Chewie ficou sentado e a balestra cantou.
O terceiro guarda caiu, mas o quarto atirou.
Luke mal conseguiu bloquear o disparo, que fez suas
mãos e braços vibrarem, mas o raio defletido atingiu uma
das lâmpadas do teto, que se espatifou; a sala ficou escura.
A pistola de Dash cuspiu luz sólida de novo e de novo; a
balestra de Chewie trovejou.
Os guardas estavam todos caídos agora, exceto por um
deles, que, sem arma, gritava.
Gritava por um comlink.
Lando atirou no último guarda, que tombou; o comlink
voou de sua mão e rolou até parar ao lado das botas de
Luke.
Do comlink veio uma voz metálica:
– Thix? O que está acontecendo aí embaixo? Thix? Alô,
setor um-um-três-oito, alô?
Chewie ficou de pé. O Wookiee deu de ombros,
parecendo envergonhado.
Luke balançou a cabeça. Pisou com a bota no comlink
estridente e esmagou-o.
– Lá se vai nossa entrada discreta – disse Lando.
Xizor estava pagando ao ministro cultural sua propina
mensal quando Guri entrou na sala. O Príncipe das Trevas
fez ruídos educados e dispensou o ministro.
Quando o homem se foi, ele disse:
– O quê?
– Um problema no subporão.
– Que tipo de problema?
Ela deu de ombros.
– Não sabemos. Essa área ainda não está conectada à
vigilância e os guardas não estão respondendo.
– Outra falha de comunicação – disse ele. Isso acontecia
muito lá embaixo, onde os canos, conduítes e vigas de
hiperaço eram grossos. Algum tipo de interferência nas
ondas de comunicações que os engenheiros não foram
capazes de resolver. Chamavam de pontos mortos.
– Ou é uma falha na comunicação ou Skywalker é mais
rápido e mais inteligente do que pensávamos. Os sensores
não captaram algum exército sob o edifício?
– Não.
– Bom. Se for Skywalker, provavelmente está sozinho ou
talvez com o Wookiee. Mande uma unidade verificar.
– Dois esquadrões já estão a caminho – disse ela.
– Bom. Deixe entrar o moff quando você sair. Não há
nada com o que se preocupar.
Não havia realmente nada com o que se preocupar, disse
para si mesmo. Um garoto não passaria pela sua segurança,
por mais sortudo que fosse.
Luke e os outros correram. Até agora, a planta que
tinham memorizado estava certa, mas era muito grande
para terem decorado tudo e havia a chance de acabarem
em um beco sem saída se não fossem cuidadosos. Ainda
assim, rapidez era o mais importante agora; o local estava
em alerta. Teriam que se arriscar e não podiam se dar ao
luxo de uma visita guiada.
Chewie sabia onde Leia estava e seguia na frente.
O quarteto dobrou uma esquina em um largo corredor e
esbarrou com mais quatro guardas.
Todo mundo que tinha uma pistola começou a atirar.
Do comlink no cinto de Luke, veio a voz estridente e
excitada de 3PO:
– Mestre Luke, mestre Luke!
Luke bloqueou um raio que vinha em sua direção. Gritou
para o comunicador, mas deixou-o no cinto:
– Estamos ocupados aqui, 3PO.
– Mas, mestre Luke, há homens vindo na direção da
nave! Homens com armas!
Ótimo. Exatamente do que ele precisava.
Luke desviou outro raio, saltou para a frente e viu-se
dentro do alcance do homem que disparou contra ele.
Chicoteou o sabre de luz para baixo e a mão que segurava a
pistola caiu no chão. Luke girou e deu um chute lateral no
guarda, acertando-o em cheio no nariz e nocauteando-o.
Os outros guardas também haviam tombado. Luke
apontou para o caminho por onde os guardas tinham
acabado de chegar.
– Por aqui, deve estar vazio!
Enquanto corriam, ele puxou o comunicador do cinto.
– 3PO?
– Oh, céus, oh, céus!
– 3PO!
– Mestre Luke. Oh, o que devemos fazer?
– Tirem a nave daí, agora! Do jeito que nós falamos. R2
conhece os sistemas; você pode operar os controles. Me
ligue de volta quando estiverem no ar. Fiquem na linha
suborbital e sob os escâneres de segurança estratosféricos,
entendeu?
– Sim, mestre Luke!
– Vá!

Leia sentiu alguma coisa no ar. Uma sensação de


iminência... algo que ela não conseguia discernir. Luke.
Luke estava ali.
Começou a juntar as partes de seu disfarce.

– Nós perdemos contato com a segunda unidade de


guardas – Guri disse a Xizor.
– Mesma área?
– Não. Quatro níveis acima.
Hmm. Isso era bem acima da área normal de problemas
de comunicação do castelo. E uma coincidência improvável.
– Ponha a segurança em alerta máximo.
– Já está feito – disse ela.
Poderia ser Skywalker? Teria ele de alguma forma
conseguido entrar no castelo sem ser detectado? Ou seria
outra pessoa?
– Cancele meus compromissos. Vá buscar a princesa
Leia. Traga-a para a minha sala fortificada.

Chewie levou-os por mais oito ou dez andares até que


depararam com outro grupo de guardas. A troca de disparos
foi rápida, o ar cheio de energia crepitante, homens
gritando, o cheiro de parede queimada e ozônio.
Dash estava certo sobre uma coisa: sabia atirar muito
bem. Acertou três guardas com três tiros, zap, zap, zap!,
uma das coisas mais rápidas que Luke já tinha visto. O
próprio Luke desviou ou bloqueou os raios que vieram em
sua direção e os ricochetes aumentaram a confusão geral.
Chewie e Lando atiravam de longe com suas armas. Os
guardas não eram ruins, mas não se esforçavam. Estavam
atirando porque eram pagos para isso; Luke e seus amigos
estavam atirando pela própria vida. O último guarda de pé
virou-se e fugiu. Chewie acertou-o e ele caiu de barriga no
chão; em seguida deslizou por dois metros até bater em
uma parede lateral e parar.
– Vai, vai, vai!

Leia sentiu alguém se aproximar de seu quarto. Intuição,


pensou, mas confiava nela. Pegou uma das cadeiras e
colocou-a ao lado da porta. Ficou em cima dela,
cuidadosamente equilibrada contra a parede, segurando
com firmeza o pesado capacete do caçador de
recompensas.
A porta se abriu e Guri entrou no quarto. Ela era rápida,
mas Leia já tinha começado a se mover. Antes que Guri se
virasse, Leia martelou a parte de trás de sua cabeça com o
capacete. Foi um golpe poderoso que teria deixado uma
mulher humana inconsciente. Mas o impacto foi suficiente
apenas para desequilibrar a droide, que caiu para a frente.
Isso permitiu que Leia saltasse da cadeira e corresse
para fora do quarto, em direção ao corredor. Pressionou o
controle da porta...
Guri tinha se levantado e voltava quando a porta se
fechou. Leia travou o mecanismo da tranca, mantendo a
porta fechada.
A porta tremeu com o impacto de Guri. O golpe seguinte
estilhaçou o plástico grosso, que ficou cheio de pequenas
rachaduras. Leia sabia que aquilo não iria segurá-la por
muito tempo.
Virou-se e correu.

Chewie os levou por uma escada que ficava uma dúzia


de níveis acima do ponto onde entraram no castelo.
– Mestre Luke? Conseguimos deixar o prédio com
sucesso.
3PO.
Luke puxou seu comunicador para que não tivesse que
gritar.
– Onde vocês estão?
– Em algum lugar do céu, mestre Luke, eu... o quê? Oh,
fique quieto, eu estou voando corretamente... ah! Ahh!
– 3PO?
Houve um momento de silêncio. E então um barulho
metálico.
– Eu vi, seu cinzeiro tagarela! Se você não tivesse me
distraído eu teria dado a volta a tempo.
– 3PO, o que está acontecendo?
Luke ouviu R2 assobiando freneticamente ao fundo.
– Cale a boca, seu tolo! Não foi minha culpa!
– 3PO?
O droide disse:
– O quê? Onde? Oh, não!
Houve um som de vidro se quebrando.
– 3PO!
– Eu sinto muito, mestre Luke. Graças às instruções
lamentavelmente inadequadas de R2, nós acidentalmente
destruímos um outdoor de publicidade e uma torre de
transmissão. Não, nós não batemos naquela hovervan, foi
só um arranhão. Sim, foi culpa sua também! Se não ficasse
tagarelando para mim como uma chaleira superaquecida,
eu teria...
– 3PO, pare de falar com R2 e me diga o que está
acontecendo.
– Estamos voando quase rente ao chão porque R2 disse
que deveríamos fazer isso, mas acho que devemos subir um
pouco mais. Não, eu não me importo com quanto você sabe
de astronavegação, eu estou pilotando a nave agora.
Apenas me dê as direções.
– Ok, escute. Traga a Falcon para as coordenadas que eu
lhe disse. Depressa. E ganhe altitude suficiente para que
não bata em nada.
– Viu? Eu lhe disse que estávamos muito baixos, mas
não, ninguém pode lhe dizer nada, você sabe tudo sobre...
– 3PO!
– Sim, mestre Luke. Estamos a caminho. Não, eu não
acho que devamos ir por esse caminho, aquele edifício é
alto demais, devemos ir por este caminho, oh, cuidado!
Luke teve de cortar a conexão em seguida. Havia uma
porta logo à frente deles, uma pesada porta à prova de
fogo, e estava trancada.
Lando apontou sua pistola para ela, mas Luke o
interrompeu.
– Não. Está protegida magneticamente. Isso vai
ricochetear e talvez atingir um de nós.
– Como é que vamos passar por isso, então?
– Para trás. Vamos ver se vai parar um sabre de luz.
Acendeu a lâmina.
A porta não parava um sabre de luz.
Eles a atravessaram e continuaram a subir.

Guri entrou correndo na sala fortificada de Xizor. Ele


piscou para ela.
– O quê?
– Ela fugiu. Estava esperando quando cheguei lá. Me
acertou por trás. Estou sem danos, mas isso lhe deu tempo
de escapar.
– Droga!
Xizor não conseguiu controlar sua explosão. Isso não era
bom. Aquele era o seu castelo e as coisas estavam ficando
fora de controle. Teria subestimado Skywalker?
Aparentemente, sim. Hora de corrigir isso.
Foi até uma mesa e abriu um painel deslizante. Tirou do
compartimento escondido uma elegante pistola de alta
potência.
– Ok. Vamos encontrá-la. E quem estiver causando esses
problemas.

– Espere um segundo – disse Lando.


– O quê? Por quê?
Lando apontou para uma caixa de junção embutida na
parede.
– Isto é um disjuntor de segurança.
– E daí?
– Fiquem daquele lado.
Todo mundo se afastou. Lando disparou um raio no
mecanismo simples da tranca e abriu a tampa.
– As holocams e sensores de vigilância são roteados
através destes cabos de fibra óptica. – Indicou com a pistola
vários fios brancos translúcidos da espessura de um dedo.
– Como você sabe disso?
– Confie em mim. Tenho alguma experiência com essas
coisas. – Com isso, atirou nos cabos. A parede cuspiu
fumaça e faíscas e uma fonte de luz amarela e laranja criou
vida, até que houve um grande curto-circuito. O cheiro acre
de plástico queimado encheu o corredor.
– Agora eles não serão capazes de nos ver, pelo menos
neste nível. Se explodirmos todas as caixas iguais a esta
que encontrarmos, eles ficarão cegos.
Chewie gritou alguma coisa. Luke se virou. Mais guardas,
e eles não eram cegos, embora atirassem como se fossem.
Uma boa coisa.
– Por aqui! – gritou Luke.
Os quatro correram, com raios sendo disparados às suas
costas.
Viraram outra esquina, ziguezaguearam por um corredor
lateral e correram em direção a uma porta no final do
corredor. Ouviram alguém batendo do outro lado e viram a
porta começar a deslizar para trás. Dash e Lando
levantaram suas armas.
– Não! – gritou Luke. – Não atirem!
A porta se abriu para revelar...
– Leia!
Luke sorriu e ela retribuiu. Correu para ela. Os dois se
abraçaram.
– Você demorou – disse ela. Olhou para eles torcendo o
nariz. – Gah, onde andaram nadando? Vocês fedem como
aquela coisa que Lando cozinhou para a gente. Têm a
mesma aparência, também.
– A nave quebrou – disse Luke. – E tivemos que pegar um
atalho pelo esgoto.
Os dois olharam para Lando.
– Não foi minha culpa isso da nave – disse Lando. – Foi a
modificação de Han!
– Não importa. Vamos sair daqui.
Os cinco correram.
– Mestre Luke?
– O que é agora, 3PO?
– Parece que atraímos a atenção de uma nave policial
robótica. Parece estar nos seguindo.
– Bem, despiste-a.
– Como, mestre Luke?
– Voe como Han faz.
Enquanto corria ao lado dele, Leia arregalou os olhos.
– Você está deixando os droides pilotarem a nave? Ficou
maluco?
– Eles estão fazendo tudo certo. Só estão um pouco
nervosos. Eles realmente estão indo muito bem.
– Não, cale-se, R2! – disse 3PO. – Você ouviu o que
mestre Luke disse. Vou contornar aquele... whoa-yaahh!
Os assobios e gritos de R2 ficaram ainda mais frenéticos.
– Mestre Luke! Socorro! Socorro!
– 3PO, o que você está fazendo?
Os assobios de R2 pareciam uma gravação tocada em
velocidade ultra-alta.
– Eu estou tentando desvirá-la para o lado certo! Fique
quieto. Ahh!
– Parece que estão de cabeça para baixo – disse Lando.
– “Fazendo tudo certo”, você disse – falou Leia. – Não
posso acreditar que você os deixou pilotar a nave.
– 3PO, faça o que R2 disser! R2, mostre a ele como sair
do loop!
Houve outra troca de gritos e diálogos nervosos pelo
comunicador.
– Ah, assim é melhor. Parece que despistamos nosso
perseguidor, mestre Luke. Acredito que ele tenha batido na
passarela sob a qual voamos enquanto estávamos de
cabeça para baixo.
– Não posso acreditar que você deixou os droides
pilotarem a...
Luke olhou para ela.
– Você pode parar de dizer isso? – Olhou para o
comunicador. – Ok, vocês dois, venham para as
coordenadas que eu disse. E tenham mais cuidado.
– Estamos indo muito bem agora, mestre Luke. Não se
preocupe.
Luke olhou para o teto e suspirou.
– Vou fazer soar o alarme geral – disse Guri.
– Não! Que impresão isso daria? O chefe do Sol Negro
permite que sua segurança seja burlada? Fale para os
guardas de perímetro ficarem atentos. Quem tiver entrado
não pode sair.
Guri assentiu e falou pelo comunicador.
Correram pelo corredor, passando pelo quarto de onde
Leia tinha escapado. Havia um nexo de vigilância, uma
subestação não muito à frente, onde poderiam acessar a
gravação e ver os hologramas enviados pelas holocams.
Dariam uma parada ali e localizariam os invasores, que
estavam sendo registrados pela camnet desde que haviam
deixado o porão.
Chegaram à central. Guri digitou comandos em um
teclado antiquado. Uma imagem do logotipo pessoal de
Xizor apareceu no ar. Ela digitou seu código de identificação
de segurança e mudou o leitor para acesso por voz.
– Exibir nível quinze, todos que não estiverem usando um
uniforme interno.
A imagem quebrou-se em um milhão de pontos
minúsculos, rodopiou como água descendo por um ralo e
então ficou branca.
Xizor franziu a testa. Deu tapinhas na cabeça com a
pistola que segurava.
– Onde está a imagem? – Guri perguntou ao computador.
– Alimentação de holocams e sensores do nível quinze
estão fora de operação.
– Exibir nível dezesseis.
Mais uma vez, a imagem ficou em branco.
– Exibir nível dezessete.
O mesmo.
– Exibir nível dezoito.
O ar rodopiou e uma varredura múltipla de salas e
corredores vazios piscou em imagens fantasmagóricas.
– Eles estão no dezessete – disse Xizor.
Guri olhou para ele.
Ele apontou para as imagens com a pistola.
– Estão explodindo os disjuntores para que não os
vejamos. Se já tivessem chegado ao dezoito, aquele andar
também estaria às cegas. Vamos.
– Nós não sabemos quantos são – disse Guri. – Perdemos
pelo menos uma dúzia de guardas. É muito perigoso para
você ir até lá.
– Eu julgarei o que é muito perigoso – disse ele. – E, como
sabemos que é Skywalker, é aqui que isso vai terminar. Vou
despachá-lo pessoalmente!
Ele não seria envergonhado em seu próprio castelo.

– Então, qual... é... o plano? – disse Leia, sem fôlego.


– Cair fora daqui – disse Luke. – Chegar à Falcon e sair do
planeta o mais rápido possível. – Como se para impedir que
ela repetisse a mesma frase de antes, adiantou: – 3PO e R2
conseguem fazer isso.
Ela balançou a cabeça.
Chewie disse alguma coisa e Leia adivinhou que o
Wookiee não estava muito satisfeito com os seus novos
pilotos, também.
– Escutem – disse Lando –, se não sairmos daqui, não vai
importar quem está pilotando o quê. Vamos.
Leia assentiu. Lando resumiu bem a situação.
Dash disse:
– O cara está certo.
Luke disse:
– Ninguém vai achar que somos estúpidos o suficiente
para ir mais para cima. Eles esperam que a gente tente
descer para os andares ao nível do solo.
Lando riu.
– Sim, esse é o problema com nossos inimigos. Eles
teimam em pensar que ninguém seria tão estúpido como a
gente. Nós os enganamos todas as vezes.
Leia balançou a cabeça novamente. Ela agora carregava
uma pistola que alguém pegara de um dos guardas caídos
ao longo do caminho, e aquilo fazia com que se sentisse um
pouco melhor. Não muito melhor, mas um pouco. Tinha
visto o suficiente de Xizor para perceber que, se não
pudesem escapar, seria melhor que ele não os capturasse
vivos. Por trás daquela fachada charmosa havia um
monstro, e ela não tinha a intenção de cair em suas mãos
novamente.

Xizor e Guri entraram no turboelevador.


– Nível vinte – ordenou Xizor. – Vamos esperar por eles lá.
O turboelevador caiu, provocando nele uma sensação de
queda livre que vibrava em sua barriga como um pássaro
tentando fugir. Apesar da raiva que sentia por ter sido
invadido, havia um sentimento de excitação naquilo tudo.
Não era sempre que podia despachar pessoas com as
próprias mãos. Estava certo de que os invasores do castelo
incluíam Luke Skywalker. Pela ousadia de vir até ali, teria
um prazer especial em matar o menino.
Respirou fundo, lutando por controle. Não era
conveniente deixar que suas emoções corressem livres.
Mas, pensando bem, não havia ninguém lá além de Guri e
sua equipe. Ele não se importava com o que ela pensava e
seus guardas teriam que ser todos substituídos depois que
tudo acabasse. A falha de um era, conforme Xizor pensava,
a falha de todos. E aqueles que não fossem soldados, os
supervisores, teriam uma demissão particularmente
dolorosa.
O turboelevador desacelerou. Seu peso parecia aumentar
à medida que o piso do elevador pressionava com mais
força as solas de suas botas.
– Nível vinte – anunciou o turboelevador.
A porta deslizou para o lado.
Xizor levantou a pistola e deixou-a apontada para o teto
ao lado de sua orelha direita, pronto para disparar. Passava
algumas horas por semana praticando em seu campo de
tiro pessoal. Era excelente atirador.
Guri não carregava armas; embora ela também se
destacasse na pontaria, raramente precisava usar uma
pistola.

Saíram para o corredor.


– Nível vinte – disse Dash. – As escadas terminam aqui,
vamos ter que entrar e encontrar outra passagem.
– Quantos níveis têm este lugar?
– Pelo que me lembro, cento e dois acima do solo.
– Ah, cara – disse Lando. – E nós temos que subir tudo
até o telhado?
– Não, há uma plataforma de pouso que se estende para
fora do nível cinquenta – disse Luke.
– Isso não é nada. Mais trinta andares, nada que tire o
fôlego – disse Dash.
– Eu já estou sem fôlego – disse Lando.
– Você está ficando velho, Calrissian.
– Sim, e espero poder ficar mais velho, também.
– Deve haver outro lance de escadas do outro lado do
corredor, a sessenta metros daqui – disse Luke. – Vamos
logo.
Apressaram-se.
Xizor os viu primeiro, porque Guri estava abrindo uma
porta lateral para conferir se eles estavam se escondendo lá
dentro. Cinco deles, incluindo Leia. O Wookiee estava lá
(imaginou que ele voltaria para buscá-la), e também três
homens. Um deles era o de pele negra; devia ser o jogador.
O outro não era alguém que ele conhecesse e o terceiro era
Skywalker.
O Príncipe das Trevas sorriu. Virou-se de lado, baixou a
pistola e levou-a para a frente do corpo, apontando com
uma das mãos. Pôs a mão livre nos quadris, como se
estivesse em uma competição de tiro ao alvo. Mirou bem no
olho esquerdo de Skywalker, soltou parte da respiração,
prendeu-a e apertou o gatilho delicadamente...
Luke viu o alto alienígena assim que ele disparou.
Uh-oh. Parecia que o cara passava bastante tempo
treinando sua mira.
Puxou o sabre de luz do cinto, ligou-o e deixou a Força
tomá-lo...
A lança de energia mortal seguia para Luke...
Seu sabre de luz distendeu-se, fez um movimento para
dentro e parou, como que por vontade própria, diante de
seu rosto, bloqueando a visão de seu olho esquerdo.
Sentiu o impacto da energia quando sua lâmina desviou
o raio. Teria acertado bem no seu olho.
O alienígena atirou de novo.
Mais uma vez o sabre de luz se moveu, guiado pela
Força. Outro raio atingiu inofensivamente a arma Jedi feita
em casa e ricocheteou para trás e para baixo; em seguida,
atravessou o chão...
Xizor franziu a testa. Como ele pôde fazer isso? Ele não
poderia ser tão rápido!
Disparou novamente.
Guri saltou para o corredor. Ela segurava uma cadeira,
uma coisa pesada de metal com rebites na parte inferior.
Atirou-a pelo corredor como se não pesasse mais que uma
pedrinha.
– Cuidado! – gritou Luke.
Uma cadeira vinha girando em sua direção. Não podia
usar o sabre para cortá-la, pois talvez o atirador disparasse
outro raio.
Chewie deu um passo à frente, emparelhou com Luke,
levantou sua balestra e atirou.
A cadeira explodiu em pedaços, emitindo uma nuvem de
estilhaços pontiagudos.
Leia viu Xizor e Guri diante deles. Levantou sua pistola e
disparou. Viu imediatamente que havia mirado alto demais
e tentou abaixar a mão.
Xizor percebeu duas coisas: estava em minoria e
Skywalker conseguia bloquear seus disparos. Estava mais
alarmado do que com medo, mas sabia que tinha que sair
do corredor rapidamente.
– Mexa-se! – gritou para Guri.
Ela se colocou na frente dele e protegeu-o dos ataques
do quinteto, enquanto ele entrava no quarto vazio de onde
ela tinha arrancado a cadeira. Um segundo depois, ela se
juntou a ele.
– Um truque interessante o que ele faz com o sabre de
luz – observou Xizor.
– Ele é parente de Vader – disse ela. – Devo chamar os
guardas agora?
Ele suspirou.
– Chame-os.
Ela já estava falando pelo comlink.

– Aquele era Xizor! – gritou Leia.


– Bom. Vamos pegá-lo! – gritou Luke de volta.
– Acho que não – disse Lando. – Olhe!
Uma dúzia de guardas apareceu no fim do corredor e
começou a atirar.
– Ali dentro! – gritou Dash.
Havia uma porta à sua esquerda. Chewie abriu-a,
esmagando-a. Leia o seguiu, com Lando e Dash atrás dela.
Luke passou por último, bloqueando e rebatendo os raios
que zuniam para eles como vespas furiosas.
Dentro da sala, uma espécie de escritório, eles olharam
um para o outro.
– E agora? – disse Leia.
Os raios continuaram a sibilar, atravessando a porta
destruída.
Lando olhou para Luke, que assentiu.
– Bem – disse Lando –, é hora de tomar medidas
desesperadas. – Enfiou a mão na pequena mochila que
carregava e saiu com uma bola prateada do tamanho de um
punho humano. Havia alguns controles, um slot da largura
de um dedo ao redor do equador da bola e uma espécie de
diodo eletrônico na parte superior e no slot.
Leia olhou para a bola brilhante, e então para Luke. Ele
acenou para Dash.
Mais raios passavam chiando. Eles pareciam não ter
percebido lá fora, mas ninguém estava atirando de volta.
Dash tomou a bola de Lando.
– É um detonador térmico – disse ele. – Lando trouxe três
deles. Eles usam um cronômetro ou um ativador. Basta
apertar esse interruptor aqui, pressionar aquele botão para
dentro e segurá-lo. Se soltá-lo sem desarmar o ativador
antes, ele explode.
– E faz o quê, exatamente?
– Faz uma pequena reação de fusão termonuclear.
– Uma pequena reação de fusão termonuclear – disse
ela.
– Sim, suficiente para vaporizar um bom pedaço de
qualquer coisa à sua volta.
– Entendo. Isso nos inclui se explodir aqui, certo?
– Certo. Mas estamos apostando que seu amigo, o líder
do Sol Negro, não vai querer que isso exploda enquanto ele
estiver por perto, sem falar no que faria com o castelo.
Ela concordou.
– Deixe-me vê-lo.
Os olhos de Dash se arregalaram. Luke fez um gesto para
ele.
Leia tomou o dispositivo e examinou-o.
– E se você não usar o ativador?
– Ele usa um cronômetro. A configuração padrão é de
cinco minutos. Se você travá-lo aqui, uma vez que o
cronômetro é ativado, ninguém pode desligá-lo.
– Entendi. – Ela levantou a bola de metal e colocou-a
dentro do capacete do caçador de recompensas preso ao
seu cinto.
Os outros se entreolharam. Luke disse:
– Uh, Leia...
– Você disse que tinha mais deles, certo? Eu quero ficar
com esse. Pode vir a calhar.
Luke deu de ombros.
– Ok. Nós compramos com o seu dinheiro, mesmo.
Os raios do lado de fora da porta pararam.
– Acho que seria melhor ter uma conversinha com Xizor –
disse Luke.
Lando entregou-lhe outro dos detonadores térmicos. Luke
tocou nos controles. O aparelho começou a fazer um sinal
sonoro. Luzes minúsculas piscavam.
Luke respirou fundo.

Xizor saiu para o corredor atrás dos doze guardas, que se


deslocavam em direção a uma porta aberta em frente à sala
onde ele e Guri tinham se escondido.
Ouviu um pequeno ruído, um bip repetitivo. O que seria
aquilo?
Skywalker saiu para o corredor. Os guardas apontaram
suas pistolas, mas o rapaz não tinha o sabre de luz na mão.
Em vez disso, carregava algum tipo de pequeno dispositivo.
Xizor nem sempre havia sido um comandante
burocrático. Ele trabalhara durante anos com o aspecto
braçal de sua profissão e sabia reconhecer uma bomba.
– Não atirem! – gritou. – Baixem as armas!
Os guardas olharam para ele como se tivesse ficado
louco, mas obedeceram.
– Boa ideia – disse Luke.
Os outros intrusos e Leia apareceram no corredor atrás
de Skywalker.
O bip soava bem alto em meio ao silêncio. Luzes
minúsculas piscavam no dispositivo.
– Você sabe o que é isso? – disse Skywalker.
– Faço uma boa ideia – disse Xizor.
– Tem um ativador instantâneo – disse Luke. – Se eu
soltar...
Não houve necessidade de terminar a frase.
– O que você quer?
– Ir embora. Meus amigos e eu.
– Se você soltar a bomba, vai morrer. Assim como seus
amigos. – Olhou para Leia. Seria um grande desperdício.
O menino deu de ombros.
– Como está, morreremos de qualquer maneira. Não
temos nada a perder. E quanto a você? Está pronto para
desistir de tudo isso? – Apontou para o edifício em torno
deles. – Este é um detonador térmico Classe-A, você sabe o
que isso significa?
Alguns dos guardas sabiam, a julgar pelos súbitos
suspiros e xingamentos.
– Acho que você está blefando.
– Só há uma maneira de descobrir. Sua vez.
Xizor refletiu. Se o menino não estivesse blefando e
alguém atirasse nele, um DT Classe-A destruiria vários
andares do edifício em um piscar de olhos. Sem tantas de
suas vigas de apoio, os oitenta e tantos andares acima
desabariam. A estrutura poderia cair como uma árvore
derrubada, esmagando as ruas abaixo. Ou poderia implodir
sobre si mesma e achatar o que sobrasse de sua base. De
qualquer maneira, o castelo sofreria perda total, assim
como todos dentro dele.
Ele poderia construir outro castelo. Mas, se a bomba
explodisse tão perto, ele não estaria vivo para fazê-lo.
Estaria disposto a arriscar tudo pelo que havia trabalhado, a
própria vida, para apostar que Skywalker não era um
suicida? Ele era parente de Vader, não era? Vader não
blefaria. E aqueles tipos da Aliança já haviam demonstrado
várias vezes quão corajosos eram na adversidade.
Não. Ele não podia correr o risco.
– Está bem. Partam. Ninguém vai impedi-los.
Vivo, ele poderia persegui-los. Morto, bem, estaria morto.
Quatro deles passaram pelos guardas, que quase caíram
uns sobre os outros tentando sair do caminho, como se
poucos metros fizessem alguma diferença. Tolos.
Skywalker ficou sozinho, encarando-o.
Xizor observou os outros partirem. Talvez Guri pudesse
se mover rápido o bastante para pegar a coisa antes que
ela explodisse.
Onde estava Guri?
Talvez pudesse tentar um blefe, pensou Xizor. Para
Skywalker, ele disse:
– Você me causou uma grande quantidade de problemas.
– Que pena – disse o rapaz. – Você mereceu.
– Eu ainda poderia atirar em você.
– Você poderia tentar. – Ainda segurava o sabre de luz.
Ligou-o, segurando-o meio sem jeito com uma das mãos.
– Eu poderia atirar em um dos outros. Seu amigo, o
Wookiee. Ou a princesa.
– Todos viraríamos vapor antes de cairmos no chão.
Incluindo você.
Era um impasse, e Skywalker sabia disso.
Xizor olhou em volta. De repente, os quatro pararam. O
homem negro enfiou a mão em sua mochila e tirou outra
bola brilhante.
Xizor sorriu e disse:
– Qual o sentido disso? Você não pode nos explodir mais
se usar duas.
O homem negro sorriu. Havia uma calha de lixo na
parede a seu lado. Ele a abriu. Aquilo levava às caixas de
reciclagem no subporão. Ativou um controle do dispositivo.
Ele começou a bipar e piscar.
Xizor teve uma premonição horrível. Gritou:
– Não!
Mas o homem jogou a bomba pela abertura.
– Você tem cinco minutos para sair do prédio – disse o
homem negro. – Se eu fosse você, iria nessa.
Xizor se virou e gritou para os guardas.
– Peguem os turboelevadores, vão até o porão e
encontrem esse dispositivo! Tirem-no daqui!
Mas estava perdendo tempo. Os guardas entraram em
pânico. Separaram-se e correram, gritando freneticamente.
Quase o derrubaram.
Quando se recuperou, Skywalker, Leia e os outros tinham
ido embora e os guardas estavam correndo para fazer o
mesmo.
Droga!
Em cinco minutos, o castelo de Xizor seria destruído.
Xizor correu também. Tinha um turboelevador expresso
privado. Se ele se apressasse, teria tempo de sobra para
chegar à sua nave pessoal e escapar.
Suas emoções saíram do controle e ele ficou furioso. Um
fogo frio cozinhava sua razão em raiva mortal. Pegaria a sua
nave e os seguiria. Até o fim de toda a galáxia, se fosse
preciso.
E então eles pagariam por isso com a própria vida.
Eles pegaram o turboelevador e pediram que se
apressasse. Menos de um minuto depois, estavam no nível
cinquenta. Durante a viagem, Luke fechou o detonador
térmico e devolveu-o para Lando. Não era provável que
Xizor tivesse muita sorte em conseguir guardas para
persegui-los àquela altura. Qualquer um com metade de um
cérebro estaria correndo para a saída mais próxima, ainda
mais com os alarmes tocando tão alto que tornava difícil
pensar. Um dos guardas provavelmente tropeçara no
controle do alarme.
Eles teriam tempo suficiente para escapar...
Se 3PO e R2 tivessem chegado lá.
Se não, não teriam muito tempo para se lamentar.
As portas se abriram e, enquanto saíam, vinte ou trinta
pessoas muito alteradas passaram correndo por eles,
lotando completamente o elevador. As pessoas que não
conseguiram entrar xingaram, gritaram e choraram,
correram para o turboelevador mais próximo e ficaram
batendo no botão de chamar.
– Deve ser o fim do expediente – observou Dash.
– Eles têm quatro minutos – disse Lando, com a voz seca.
– Melhor correrem.
– Isso foi bem frio – disse Luke.
– Eles deveriam ter pensado nisso antes de decidirem vir
trabalhar para o Sol Negro – disse Lando. – É uma operação
de alto risco, ser um bandido.
– A plataforma de pouso deve ficar para esse lado – disse
Dash. – Vamos.
Não havia sobrado muitas pessoas no corredor. Enquanto
observavam, outro turboelevador chegou, já meio cheio de
gente dos andares acima, e lotou rapidamente. Quando as
portas se fecharam, os cinco pareciam estar sozinhos.
Correram na direção que Dash lembrava ter visto nas
plantas do prédio.
Cinquenta metros depois, Luke ouviu alguma coisa.
Imergiu na Força, mas não conseguiu encontrar nada.
Acenou para os outros mais à frente.
– Sigam em frente, vou daqui a pouco!
Eles fizeram como ele disse.
Ele puxou o sabre de luz e ligou-o...
– Eis o Cavaleiro Jedi – disse uma mulher. – O homem da
lenda.
Ele se virou. A mulher chamada Guri estava ali de pé.
Uma droide. Lando a havia descrito em detalhes no caminho
até ali.
– Você causou grande infortúnio ao meu mestre – disse
ela. – Vai morrer por isso.
Luke apontou a ponta da espada para ela. Ela não
parecia carregar arma alguma, mas Lando lhe dissera o
quanto ela era rápida. E forte.
– Mas você tem essa lâmina e eu estou desarmada –
disse ela. Mostrou as palmas das mãos para ele.
Ele devia ter três minutos. A única coisa inteligente a
fazer seria cortá-la com o sabre de luz e fugir. Ou, pelo
menos, tirá-la do caminho e seguir direto para o encontro
com – assim esperava – a Falcon.
Mas... por que começar a fazer a coisa certa agora?
Desligou o sabre de luz e colocou-o no cinto, bem preso.
– O que você quer?
– Um teste – disse ela. – Meu mestre coloca-se contra os
adversários mais mortais que pode encontrar. Não há
homem que seja meu igual em combate corpo a corpo.
Exceto, talvez, se as histórias forem verdadeiras, um
Cavaleiro Jedi.
– Este edifício vai explodir em pedaços em três minutos –
disse ele. – E você quer brincar?
– Não vai demorar muito tempo. Você tem medo de
morrer, Skywalker?
Sim, é claro que ele tinha.
Mas então, em um segundo, percebeu que na verdade
não tinha.
A Força estava com ele. O que fosse para acontecer,
aconteceria.
Ela saltou na direção dele.
Era impossivelmente rápida. Por conta própria, ele nunca
se esquivaria, mas estava permeado pela Força.
Ele deu um passo para a direita e chutou quando ela
passou voando. Acertou seu quadril e mandou-a para o
lado, mas ela caiu de pé.
– Bom – disse ela.
Que bom que havia gostado. Ela era sobrenaturalmente
rápida, e somente através da Força ele poderia lidar com
dela.
Ela o rodeou, procurando uma abertura.
– Luke!
O grito de Leia o distraiu. Ele lançou seu olhar na direção
do som de sua voz e viu que ela e os outros retornavam por
causa dele.
Foi o suficiente para Guri. Ela deu um passo bem longo e
desferiu-lhe um soco.
Luke recuou, mas o punho dela acertou-o com força na
barriga.
– Uuuff!
Guri prosseguiu com uma cotovelada, mas ele mergulhou
para longe, rolou e voltou-se, vindo com as mãos
levantadas enquanto ela disparava atrás dele.
Ele perdeu o contato com a Força. Estava por conta
própria.
Ela lhe deu um tapa próximo à orelha e ele caiu,
atordoado.
Se não fizesse algo rápido, ela o mataria!
A Força. Deixe-a fluir para você, Luke.
Luke ouviu a voz de Ben vindo de uma grande distância,
ecoando através do tempo e espaço. Sim. Conseguiu puxar
o ar enquanto Guri levantava a mão, formando agora uma
lâmina em vez de um punho, com um sorriso de triunfo
iluminando seu rosto.
Quando soltou o ar, o medo saiu junto.
Tinha que confiar na Força completamente.
Guri desacelerou, como se de repente tivesse se atolado
em uma poça de tempo. Ele viu a mão dela descer para
esmagá-lo, mas era tão incrivelmente lenta, uau, que ele
poderia facilmente apenas rolar de lado e ficar de pé antes
que ela o atingisse...
E assim o fez. Sentiu como se estivesse se movendo a
uma velocidade normal, embora tivesse uma sensação de
crepitação quando se movia. O som de vento forte
assobiava em seus ouvidos.
Ele veio para cima, girou, sustentou a mão aberta contra
o golpe descendente, empurrou-a de lado. Usou sua perna
esquerda em uma varredura que acertou Guri atrás do
tornozelo direito. Seus pés deixaram o chão, ainda se
movendo em câmera lenta, e ela caiu, flutuando para baixo
até bater de costas...
O tempo acelerou.
O grito de Leia ainda ecoava pelo corredor.
Guri bateu no chão. Ele nunca tinha ouvido ninguém cair
com tanta força; o baque sacudiu o chão.
Ele a atordoou.
Luke puxou seu sabre de luz e ligou-o. Aquela droide era
mortal, muito perigosa para continuar a existir. Ergueu a
lâmina.
Deitada de costas, atordoada, ela conseguiu sorrir.
– Você ganhou de forma justa – disse ela. – Vá em frente.
Ela teria matado você.
O tempo parou novamente, esticando-se como plástico
derretido em um incêndio...
Luke baixou a lâmina. Desligou-a.
– Venha conosco. Podemos reprogramar você.
Ela se sentou.
– Não. Se encontrarem uma maneira de desbloquear
meu bloco cerebral, se de alguma forma fizerem download
da minha memória, isso será fatal para mim. E meu mestre.
Temos muito pelo que responder. Melhor me matar agora.
– Não é culpa sua – disse ele. – Você não se programou
sozinha.
– Eu sou o que sou, Jedi. Não acho que possa haver
salvação para mim.
– Luke! Vamos!
Ele balançou a cabeça.
– Já houve mortes demais – disse ele. – Não serei
responsável por mais uma hoje. – Acenou para ela com a
cabeça, virou-se e correu.

Leia observou Luke desligar seu sabre de luz, dizer algo


para Guri, virar-se e correr em sua direção.
Ela tinha perdido a noção do tempo, mas devia estar
muito perto.
Os cinco saíram para a plataforma de pouso.
Nem sinal da Millennium Falcon.

A nave pessoal de Xizor, a Virago, estava no último nível.


Era sempre mantida abastecida e pronta para partir, sem
preparações. Ele alcançou a nave. Com os sons do sistema
de alerta de emergência zurrando mais e mais, ele ficou um
pouco surpreso ao ver os guardas da nave ainda a postos,
ainda que muito nervosos.
– O edifício vai explodir – disse ele, como se estivesse
falando sobre o tempo. – Peguem um dos airspeeders e
fujam. Vocês têm dois minutos para escapar.
Os guardas curvaram-se e saíram correndo. Talvez a
falha de um não fosse a falha de todos. Os dois guardas
manteriam seus empregos quando isso terminasse, talvez
até mesmo fossem promovidos. Tão raro encontrar lealdade
naqueles dias.
Ele correu para a Virago e fechou a escotilha. Seria
preciso um minuto para ligar todos os sistemas. Trinta
segundos depois, estaria a cinco quilômetros de distância. A
Virago era uma das naves mais rápidas do planeta.
Ele se acomodou no assento de controle, acenou com a
mão sobre os sensores do computador e observou as telas
se acenderem. Voaria para seu aerogancho. Tinha sua
própria marinha aportada no interior e ao redor da estação
espacial, várias corvetas, algumas fragatas, centenas de
combatentes substituíveis. Presumiu que os responsáveis
por destruir o seu castelo tivessem uma nave à disposição
para resgatá-los.
Assim que essa nave entrasse em órbita, sua marinha
estaria esperando.
– Todos os sistemas ligados – disse o computador da
Virago.
Bom. Ele estendeu a mão para os comandos de voo.
Restava mais de um minuto.
Parou por um segundo, olhou seu castelo pela janela. Era
muito ruim a sua destruição. Havia passado muitos anos
bons ali, e sentiria a falta dele. Mas reconstruiria um maior,
melhor, num lugar ainda mais majestoso.
Até que pudesse ocupar o castelo do Imperador.
Tocou os comandos de voo. A Virago subiu suavemente
da plataforma e afastou-se sob a luz do sol brilhante.
Estava a poucas centenas de metros de distância, longe
o suficiente para sentir-se seguro, quando viu um gasto
cargueiro Corelliano se aproximar. A nave parecia estar fora
de controle; espiralava sobre seu eixo horizontal, caindo em
diagonal.
Xizor xingou, ligou os repulsores de emergência e deu a
volta. A Virago caiu um pouco para bombordo e então saltou
como se chutada por uma bota gigante.
A outra nave errou-a por muito pouco.
Que tipo de idiota estava no controle daquele veículo?
Não importava. Ele estava seguro. Por um momento,
imaginou o que tinha acontecido com Guri. Outra perda.
Bem. A vida era difícil às vezes. O truque era sobreviver.
E, mais uma vez, o Príncipe das Trevas tinha feito isso.
Sobreviver e, então, fazer seus inimigos se arrependerem
do que haviam causado.

Dash a viu primeiro.


– Pela Mãe da Loucura! – gritou, apontando.
Luke olhou para cima e viu a Millennium Falcon
chegando.
Chegando muito rápido e rodando como um giroscópio
demente de brinquedo.
Enquanto observavam, a trêmula nave endireitou-se;
pelo menos parara de rodopiar, mas ainda estava vindo
muito rápido.
– Abaixem-se! – gritou Lando.
Os cinco deitaram no chão.
A nave deu um rasante. Voltou a subir a um metro do
chão da plataforma e desviou para estibordo. O vento de
sua passagem os puxou.
Luke olhou de relance para cima e viu o canto a
bombordo da Falcon raspar na parede e quebrar um
conjunto de sensores Doppler, que caíram em pedaços por
todos os lados.
– C-3PO, eu vou matar você! – rugiu Lando.
Luke e os outros ficaram de pé e viram o círculo da nave
dando a volta. Puxou seu comunicador.
– 3PO, desligue as unidades! Traga-a para cá apenas com
os repulsores! E depressa!
– Eu estou tentando, Mestre Luke. Os controles são um
pouco sensíveis.
A nave pulou uma centena de metros para cima, como se
atirada por um estilingue.
R2 estava apitando tão rápido e tão alto que parecia que
iria queimar um circuito.
A Falcon balançou, inclinou-se para o lado e caiu.
Endireitou-se pouco antes de se chocar com o telhado e
saltou para cima em uma coluna invisível de ar.
Finalmente a nave tinha perdido velocidade. Parecia
flutuar como uma folha que cai em uma brisa suave, depois
parou e pairou no lugar cinquenta metros acima deles.
Luke olhou em volta. Cinquenta metros, cinco mil metros,
dava no mesmo. Muito longe. Tinham menos de um minuto
sobrando.
– Traga-a para baixo, seu droide idiota! – gritou Lando.
– Pena que Leebo não esteja nos controles – disse Dash. –
Ele é um piloto muito bom.
– Se é para desejar, então eu preferiria que nós
estivéssemos nos controles – disse Leia.
Ao lado da saída estavam o que pareciam dois pares de
asas dobradas. Luke entendeu o que eram: paragliders.
Planando em um daqueles era possível voar até o telhado
de um edifício mais baixo, ou por quilômetros até a rua. Se
a nave não chegasse ali nos próximos segundos, ele
afivelaria Leia em um deles e a jogaria do edifício. O outro
paraglider teria que levar quatro passageiros, sendo que um
deles era um Wookiee. Seriam pesados demais, mas havia
uma chance de que funcionasse. Aprendera, enquanto
lutava contra os andadores imperiais em Hoth, que ele era
capaz de retardar bastante uma queda usando a Força e
mestre Yoda lhe ensinara...
– Lá vem ela! – disse Dash.
A Falcon caía na direção deles. Afastaram-se. A nave
pairou sobre a plataforma de pouso a dois metros de altura
e então caiu como uma pedra. As escoras de pouso
gemeram, mas aguentaram. A rampa da barriga abriu-se
como um bocejo.
– Vai, vai, vai! – gritou Luke.
Chewie agarrou Leia e correu. Dash e Lando estavam
logo atrás, com Luke em seguida.
Quando Luke conseguiu entrar no navio, a rampa já
estava se fechando.
Luke seguiu os outros em direção à cabine.
Tinham talvez trinta segundos restantes...
Dash chegou à cabine primeiro, com Lando e Luke logo
atrás.
– Mexa-se! – Dash gritou para 3PO.
– Estou me mexendo, estou me mexendo!
Dash empurrou 3PO e escorregou para o assento. Suas
mãos dançaram sobre os controles.
3PO bateu no assento do copiloto. R2 assobiou
freneticamente.
– Não precisa ser tão rude, mestre Dash.
Houve um estrondo profundo abaixo deles. A Falcon
balançou.
– Vamos, Dash! – gritou Lando.
Luke olhou pela tela, e, ainda que estivessem em grave
perigo, ele percebeu uma coisa: um dos paragliders tinha
sumido.
A nave balançou, inclinou-se, começou a deslizar...
... levantou...
– Vai, vai!
A Millennium Falcon girou para longe. Assim que o fez,
Luke viu o edifício se sacudir e a plataforma de pouso ruir.
Então o edifício caiu diretamente para baixo, como uma
torre de areia que levou um chute em sua base. A fumaça
subiu; um ruído terrível, como um prego gigante sendo
arrancado de madeira molhada, emergiu com a fumaça.
Explosões de fogo irromperam em direção ao céu.
Conduítes elétricos gigantes soltaram faíscas multicoloridas.
Coisas explodiram e jogaram estilhaços contra eles. A nave
balançou sob os impactos.
Dash ligou os propulsores e a Falcon saltou para cima.
Abaixo, o castelo de Xizor, Sublorde do Sol Negro, entrou
em colapso em uma montanha de chamas, fumaça e
destroços.
Dessa vez, nem mesmo Lando fez alguma observação
engraçada.
Leia juntou-se aos outros na cabine lotada.
– Vamos sair daqui – disse Luke. – Nada extravagante,
apenas vá o mais rápido que puder.
– Entendi – disse Dash.
3PO se levantou.
– Acho que voei bastante bem – disse ele.
Todo mundo se virou para olhar para o droide.
– Mas acho que não gostaria de fazer isso de novo tão
cedo – apressou-se a acrescentar.
Luke balançou a cabeça, sorriu e começou a gargalhar.
Foi uma libertação incontrolável da tensão nervosa. Em
poucos segundos, todos estavam rindo, exceto 3PO e R2.
– O que é tão engraçado? – perguntou 3PO, indignado.
Aquilo os fez gargalhar de novo. Tinham conseguido.
Estavam salvos.
Bem, quase. Mas pelo menos a parte mais difícil deveria
ter passado.
Xizor estava furioso e, salvo pela morte de sua família,
não se lembrava de já ter estado com mais raiva antes. Seu
castelo não mais existia; seus objetos de valor, grande parte
de sua enorme base de informações, tudo fora destruído em
um instante. Artefatos e registros que não podiam ser
substituídos porque não tinham duplicatas em lugar algum.
Arquivos de chantagens, projetos pessoais, os segredos
mais importantes do Sol Negro desde que ele assumira
haviam desaparecido em segundos. Levaria anos para se
recuperar e, se algo acontecesse com ele, seu sucessor
nunca viria a saber tudo o que estaria faltando, porque nem
chegaria a saber sobre sua existência. Nem saberia quem
teria sido o responsável: todos os arquivos sobre Skywalker
e a princesa estavam em seu computador pessoal, e tanto
ele como seus backups encontravam-se entre os
escombros.
Fosse qual fosse a raiva que sentia, não se manifestava
mais em sua voz quando Xizor ligou para seu aerogancho.
Tinha descoberto que o pequeno cargueiro Corelliano que
quase colidira com ele ao fugir do castelo era o mesmo que
seu pessoal estava procurando.
O mesmo que tinha ido resgatar Skywalker e Leia e seus
amigos.
Talvez a nave tivesse fracassado nessa missão. Dada a
forma como as coisas estavam indo ultimamente, era mais
provável que não. Melhor checar.
Estar à frente de uma companhia de transportes tinha
algumas vantagens quando se tratava de descrever naves:
– Há um cargueiro Corelliano em forma de disco bipartido
deixando o planeta em breve – disse ao comandante da sua
marinha pelo comunicador. – É um YT-13-100, com pouco
mais de 25 metros de comprimento e capacidade para cem
toneladas. Localize-o e destrua-o. Se você puder desativá-lo
e capturar a tripulação e os passageiros, também seria
aceitável. Se, no entanto, ela conseguir passar, você e
qualquer outra pessoa que eu considerar responsável virará
adubo antes do próximo nascer do sol. Estamos
perfeitamente claros sobre isso?
– Claro, meu príncipe.
– Bom. – Estendeu a mão para o comunicador para
desligar a transmissão. – Agora eu o peguei, Skywalker.
– Perdão, Alteza?
– O quê? Nada. Não importa.
Pressionou o botão e cortou a transmissão.
Provavelmente não deveria ter mencionado o nome de
Skywalker daquela maneira, mas tudo bem. O canal era
criptografado. Não importava. Estava muito perto de
terminar isso agora.
Olhou para o relógio do painel. Deveria chegar ao
aerogancho em breve.

– Meu Lorde Vader, você pediu para ver qualquer coisa


relacionada a este nome – disse o oficial.
Vader olhou para o homem. Tomou o flimsi impresso de
sua mão e examinou-a.
– De onde veio isso?
– Uma transmissão codificada da nave Virago, meu
senhor, a caminho do aerogancho Punho dos Falleen, em
alta órbita. A nave está registrada em nome de...
– Eu sei em nome de quem ela está registrada – disse
Vader. Amassou a fina folha plástica impressa.
E, embora o oficial não pudesse ver, Darth Vader sorriu,
ignorando a dor que isso lhe causava.
– Prepare minha nave auxiliar – disse ele.
Tinha avisado Xizor para ficar longe de Luke. O criminoso
escolhera ignorar essa ordem.
Isso havia sido um erro grave.
Tanto quanto possível, Vader estava satisfeito. Tinham
feito o jogo de Xizor por tempo suficiente. Agora iriam jogar
o seu.

Dash disse:
– Pode assumir aqui, Luke?
– Claro. – Luke, já no assento do copiloto, tomou o
controle. – Aonde você está indo?
– A lugar algum. Eu só preciso assobiar para a minha
montaria.
– O quê?
Dash tirou do cinto uma caixinha preta retangular.
– Comlink de único canal criptografado de longo alcance.
Hora de fazer Leebo subir com minha nave e deixá-la em
órbita. Podemos nos encontrar mais tarde; eu posso pegar
emprestado um dos seus trajes... Esta banheira ainda tem
trajes de vácuo, não é? E voltar para uma nave de verdade
em vez desse caixote frágil.
Luke sorriu.
– Acho que podemos fazer isso.
– Depois disso, você segue seu caminho, eu sigo o meu.
Acho que o preço da limpeza daquele prédio lá embaixo já
ajuda a equilibrar minha prestação de contas com o
Império.
– Você realmente deveria considerar se juntar à Aliança –
disse Luke. – Você é um bom homem e poderíamos usá-lo.
– Obrigado, Luke, mas acho que não. Eu não sou muito
de fazer parte de um grupo.
Apertou o botão de comando em seu comunicador
especializado.
– Ei, Leebo, seu balde enferrujado, bote as engrenagens
para rodar e me encontre nas seguintes coordenadas.
– Meu mestre não está no momento. Quem está
chamando, por favor?
– Muito engraçado – disse Dash. Olhou para Luke. –
Nunca compre um droide programado por um comediante
fracassado.

O desembarque de Xizor no aerogancho deu-se sem


interferências. Sua marinha já havia partido. Como tinham
todas as permissões necessárias, a Marinha Imperial não os
incomodara.
Xizor caminhou até seu centro de comando, um deque
cercado por placas de transparaço que lhe permitia uma
visão livre de quase 360 graus do espaço ao redor do
aerogancho.
Abriu um canal no comunicador para seu comandante.
Um holoproj do homem apareceu.
– Sim, meu príncipe?
– Você enviou suas naves, comandante?
– Sim, Alteza. Nossos sensores foram programados para
detectar qualquer nave que correspondesse aos critérios
que Vossa Alteza me passou. Se vier nesta direção, nós a
identificaremos.
– Bom. Mantenha-me informado.
A imagem desapareceu e Xizor olhou para a escuridão do
espaço. Tinha ouvido trechos das conversas quando chegou.
O rumor chegara rápido ali, embora ninguém se atrevesse a
falar diretamente com ele sobre o desastre lá embaixo.
Bem. Não importava. Tinha sobrevivido a coisas bem piores.
Sobreviveria a mais esta; sobreviveria e, de alguma
forma, transformaria isso em uma vitória.

– Obrigado pela carona – disse Dash pelo comunicador.


A Outrider estava presa ao lado bombordo da Millennium
Falcon em uma órbita correspondente. Um braço forte
poderia acertar uma pedra nela, mesmo em plena
gravidade. Dash tinha pulado pelo pequeno vão,
reclamando o tempo todo sobre como o traje de vácuo
emprestado fedia.
– Quer apostar uma corrida até o ponto de salto? – disse
Luke. Ele agora estava sentado atrás dos controles, em seu
turno de pilotagem. Lando sentava-se ao lado dele, com
Leia atrás dos dois.
Dash riu.
– Você quer começar com um parsec de vantagem?
– Não, eu...
Um feixe de luz verde sólida brilhou entre as duas naves.
Um raio do canhão de alguma grande nave. Não era
possível ver o laser em si no vácuo, é claro, mas ele seguia
o marcador ionizado, que era bem visível.
Alguém estava atirando neles.
– Uh-oh, parece que temos companhia.
Mais lasers e raios carregados de partículas piscaram,
nenhum deles realmente muito perto. Bem, não mais perto
do que um ou dois metros...
Luke acelerou. A Falcon saltou como um hopperoo
assustado.
Lando disse:
– Nós temos uma corveta sem insígnias chegando a 2-7-
0! E quatro caças a 3-5-9! Não são naves imperiais! Quem
são esses caras?
– Quem se importa? – disse Luke. – Temos que nos
mexer! Chewie, as armas!
– Você ouviu o homem, bola de pelos – disse Leia. – Você
quer dorsal ou ventral?
Chewie rosnou. Ele e Leia desapareceram.
– Boa sorte, Dash! – gritou Luke.
– Você também, Luke.
Luke apontou a Falcon para o vazio e zarpou. A nave
balançou quando um feixe de raios chocou-se contra seus
escudos.
Precisavam sair daquele sistema, bem rápido, e fazer o
salto para o hiperespaço.

– Príncipe Xizor, nós localizamos o cargueiro Corelliano –


veio a voz do comandante pelo holoproj.
– E...?
– Estamos atacando agora. Deve ser destruído em
instantes.
Xizor assentiu.
– Não tenha tanta certeza, comandante. Eles parecem
ser extremamente sortudos.
– Eles vão precisar de mais do que sorte, meu príncipe.
Estão completamente cercados. Vão precisar de um milagre.
Xizor balançou a cabeça de novo.

– Há um muro entre nós e o lugar aonde precisamos ir –


disse Luke.
– Então encontre outro caminho – disse Lando. – Você
quer que eu pilote?
– Não.
Um raio os atingiu, entortando-os. Os escudos
aguentaram.
Lando gritou pelo comunicador:
– Pensei que vocês dois estariam atirando de volta!
Chewie e Leia gritaram com ele, mas Luke estava
ocupado demais voando para prestar atenção ao que eles
disseram. Fez a Falcon subir de repente, deu uma guinada
ao chegar ao topo, voltando pelo caminho por onde tinham
vindo.
– Chewie quer saber como ele pode atirar em alguma
coisa com você rodando desse jeito – disse Lando.
– Como é que ele pode errar? Estamos cercados! Ele
deve acertar em alguma coisa, mesmo atirando de olhos
fechados!
Uma forma negra passou zunindo por eles. Era a
Outrider, com os canhões cuspindo.
À frente da Falcon, um caça explodiu.
Lando disse:
– Viu como se faz, Chewie?
Chewie gritou algo para Lando.

– Você já parou a nave, comandante?


– Ainda não, Alteza. Eles são, ah, muito hábeis. E há duas
naves devolvendo nosso fogo. Não temos um sinal de
transponder da outra, mas é fortemente armada.
– Se a minha marinha não pode derrotar duas naves ela
certamente precisa de outro comandante – disse Xizor.
– Nós vamos derrotá-los. Nossa rede está se fechando.
Eles estão ficando sem espaço.
As naves que atacavam tinham formado um hemisfério
no espaço. Havia uma enorme quantidade de cargueiros
civis e naves de passageiros indo e voltando do planeta, e
Luke precisava evitar bater em um deles enquanto se
esquivava dos caças que os perseguiam. Os civis tentavam
sair do caminho, o que tornava as coisas piores. E, mais
cedo ou mais tarde, a Marinha Imperial acordaria e
provavelmente aumentaria a confusão. Por que ainda não
tinham feito isso era uma incógnita para Luke.
Enquanto observava, um dos agressores atirou na
Falcon. O raio do canhão atingiu uma das naves de
passageiros, abrindo um buraco em seu conversor de
energia e causando um lampejo brilhante quando a unidade
entrou em curto. Muitos danos; provavelmente ninguém
ferido.
– Péssimos atiradores – disse Lando. – Não se importam
em saber em quem estão atirando.
Luke assentiu. Ele achou que poderiam entrar e sair pelo
tráfego e evitar ser atingidos, mas parecia que Lando
estava certo: os bandidos não se importavam em saber
contra quem estavam disparando.
Os atacantes os tinham encurralado. Não parecia haver
nenhuma maneira de escapar. Pena que ele não poderia
chegar ao seu X-wing; embora uma nave a mais talvez não
fosse de muita ajuda.
As coisas pareciam ruins. Bem ruins...
Um dos caças partiu direto na direção deles, com os
canhões jorrando plasma quente.
O atacante explodiu. A Falcon passou pela nuvem de
detritos. Tamborilou como chuva de granizo contra os
escudos.
– Bom tiro! – gritou Luke. – Quem acertou? Foi você, Leia?
– Eu, não – respondeu a voz dela. – Já tenho muito com o
que me preocupar aqui do meu lado. Deve ter sido Chewie.
Chewie disse algo.
– Chewie diz que também não foi ele – disse Lando.
Luke piscou. Então quem foi?
Pelo comunicador:
– Ei, Luke! Tudo bem se eu participar da sua festa?
– Wedge! O que você está fazendo aqui?
– Esperando por vocês. O droide de Dash nos enviou um
sinal de socorro. Desculpe ter demorado tanto tempo para
chegar aqui.
Outro dos atacantes explodiu em uma bola de fogo.
– Bem, só não deixe isso acontecer de novo – disse Luke.
Sorriu. Agora que o Esquadrão Rogue estava ali, as chances
eram um pouco melhores.
Fez a Falcon dar a volta de repente.

– Parece haver um pequeno problema, meu príncipe –


disse o comandante.
Xizor, observando os lampejos das armas e naves
explodindo de seu deque, franziu a testa.
– Eu notei. Por que suas naves estão explodindo,
comandante?
– Um esquadrão de caças X-wing acaba de entrar na
briga. Não mais do que uma dúzia deles. Vão apenas... adiar
o inevitável.
– Você tem certeza, comandante?
– Nós ainda estamos em vantagem de vinte para um,
Alteza. E nossas fragatas estão por perto para o caso de
eles conseguirem passar pelas corvetas e caças. Eles não
podem escapar.
– Espero que você esteja certo, comandante.

Luke fez um mergulho de barriga em um ângulo de


quase noventa graus. Um trio de caças o perseguia,
disparando sem parar. Por um lado, ficou contente em ver
os Rogues; por outro, estavam perdendo a luta. Com todo o
tráfego civil ao redor, os mundos-roda e aeroganchos, os
satélites de energia, as plataformas de comunicações e
sabe-se lá o que mais, o espaço em torno de Coruscant não
era de vácuo puro.
O comunicador estava entupido de conversas:
– Eu os peguei, Luke – disse Wedge.
– Não, deixe comigo – disse Dash.
Outro atacante explodiu a bombordo.
– Esse fui eu – disse Leia. – Você descobriu quem são
esses caras?
– Ainda não – disse Luke.
– Aposto um crédito que são de Xizor.
Luke e Lando trocaram olhares. É claro, isso fazia
sentido.
Não que fizesse alguma diferença...
– Dois chegando a 1-5-0! – gritou Lando.
Luke acelerou. A Millennium Falcon disparou para longe
em uma curva acentuada.
– O que você está fazendo aí em cima? – gritou Leia.
– Dando a você uma visão perfeita para disparar – gritou
Luke em resposta.

Vader estava na ponte da Executor.


– Quanto tempo até que possamos dar a volta ao
planeta? – perguntou.
– Alguns poucos minutos, meu lorde – respondeu o
nervoso comandante.
– Assim que estivermos na área de alcance, estabeleça
comunicações com o aerogancho Punho dos Falleen. Falarei
com o príncipe Xizor.
– Claro, meu lorde.

– Acho que temos problemas, amigo – disse Dash. Sua


voz era calma pelo comunicador, mas também conformada.
Luke assentiu.
– Wedge?
– Temo que ele esteja certo, Luke. Esses caras são
apenas pilotos meia-boca, mas há um monte deles. Acho
que ainda estamos em desvantagem de quinze para um e
há um par de fragatas sentadas lá esperando. Não temos
para onde correr, não temos espaço de manobra. Eles estão
se aproximando e não se importam em matar naves civis,
também.
– Sim – disse Luke. Respirou fundo. – Bem, acho que só o
que podemos fazer é levar o máximo delas conosco. A
menos que alguém queira se render.
Dash e Wedge riram.
– Foi o que eu pensei. Que a Força esteja com vocês.
Luke voou como nunca tinha voado antes. Desviou,
girou, parou, mergulhou, deu espirais que quase fizeram
todos desmaiarem lá dentro. Ele dava o seu melhor e tinha
a Força para ajudá-lo, mas estavam perdendo.
Seria apenas uma questão de tempo.

– Príncipe Xizor, estamos começando a pegá-los. Três dos


X-wings foram destruídos ou desativados. Nossa rede está
se fechando. Será apenas uma questão de tempo.
Xizor assentiu. Finalmente.

– Estamos ao alcance, Lorde Vader.


– Ótimo. Libere seus caças.

Leia acompanhou o caça que se aproximava, disparou,


errou, virou no banco de armas. O caça passou zunindo.
Bem. Havia outro logo atrás, e mais atrás desse. Ela
mirou, disparou, viu as lanças de energia acertar o atacante,
viu parte de uma asa se despedaçar e sair, viu o caça ferido
girar fora de controle. Havia centenas dessas malditas
coisas e, contando Dash e a Falcon, eles estavam reduzidos
a quê? Nove, dez naves?
Parecia que Xizor iria vencê-los, afinal.
Luke viu os caças TIE passarem gritando na direção
deles. Uma dúzia, pelo menos.
– Uh-oh – disse Lando.
– Sim, eu estava me perguntando por que não haviam
aparecido. – Luke olhou para Lando. – Ouça, obrigado por
tudo, Lando. Você tem sido um bom amigo.
– Não quero ouvir esse tipo de conversa. Eu ainda sou
um bom amigo.
Luke balançou a cabeça e virou-se para olhar para os
caças. Não havia para onde ir; o espaço estava cheio de
naves; era como tentar voar através de uma tempestade de
granizo sem ser atingido. Respirou fundo.
Viu os TIE passarem direto. Observou-os derrubarem dois
dos atacantes sem insígnia.
– Ahn – disse Lando.
– Luke – veio a voz de Leia pelo comunicador –, eu acabei
de ver...
– Eu sei, eu sei. O que está acontecendo?

Xizor ouviu o pânico na voz de seu comandante:


– Alteza, estamos sendo atacados pela Marinha Imperial!
Perto dele, um técnico de comunicações acenou
freneticamente.
Xizor encarou o homem com um olhar maligno.
– É melhor que isso seja importante, sua vida está em
jogo.
– É-é Lorde Vader. Ele quer falar com você.
Vader! Ele deveria ter adivinhado!
– Coloque-o na linha.
A imagem de Vader rodopiou diante dele até se
estabilizar. Xizor partiu para a ofensiva de imediato:
– Lorde Vader! Por que a Marinha está atacando minhas
naves?
Houve uma pausa; Vader então disse:
– Porque as naves, sob suas ordens, estão envolvidas em
atividades criminosas.
– Bobagem! Minhas naves estão tentando parar um
traidor rebelde que destruiu meu castelo!
Houve outra pausa.
– Você tem dois minutos-padrão para recolher suas naves
– disse Vader. – E para se colocar sob minha custódia.
A frieza de Xizor floresceu para uma raiva descontrolada.
Tentou manter sua voz calma.
– Eu não vou fazer isso. Levarei a questão até o
Imperador.
– O Imperador não está aqui. Eu falo pelo Império, Xizor.
– Príncipe Xizor.
– Você pode manter o título; por mais dois minutos.
Xizor forçou um sorriso confiante.
– O que você vai fazer, Vader? Destruir meu aerogancho?
Você não ousaria. O Imperador...
– Eu lhe avisei para ficar longe de Skywalker. Recolha
suas naves e renda-se à minha custódia, ou sofrerá as
consequências. Arriscarei o desagrado do Imperador. – Fez
uma pausa. – No entanto, você não estará lá para ver, desta
vez.
Xizor sentiu uma onda de medo quando a imagem de
Vader virou um fantasma e desapareceu. Ele faria isso?
Atacaria o aerogancho?
Tinha menos de dois minutos, antes de descobrir. Era
melhor que decidisse o que fazer.
Rápido.

– Luke, cuidado! – gritou Lando.


– Estou vendo!
Luke fez a Falcon dar uma subida íngreme, mas havia
mais naves surgindo naquele ângulo e ele arrancou para
estibordo. O vácuo estava tomado por lampejos de energia,
restos de caças destruídos, mais naves do que ele jamais
tinha visto em um espaço tão pequeno. A área parecia um
ninho de mermyns irritados.
Mas, ainda que os caças TIE, ocasionalmente,
disparassem contra os X-wings, pareciam ter como alvo
principal os caças sem insígnias. As naves de Xizor. Por quê?
– Eles estão do mesmo lado, não estão?
Luke não percebeu que tinha falado em voz alta até que
Lando disse:
– Agradeça a sua estrela da sorte. Se estão atirando um
no outro, não estão atirando em nós! Cuidado!
Luke desviou, escapando do caça que se aproximava por
centímetros.
Sentiu um distúrbio familiar na Força. Vader?
Sem tempo para se preocupar com isso, também. Luke
deixou as perguntas para mais tarde, se houvesse um mais
tarde para eles, e concentrou-se em pilotar a Falcon.
O comandante da marinha de Xizor fez uma chamada
desesperada para o seu mestre. Vader ouviu a comunicação
decodificada em seu sistema de alto-falante.
– Meu príncipe, estamos sendo destruídos pelos
atacantes! Estamos em menor número e sendo
massacrados! Preciso de permissão para oferecer nossa
rendição! Alteza?
Vader observou o cronômetro, deleitando-se em ver o
tempo derretendo. Não restava muito dele para o Príncipe
das Trevas agora.
Sete segundos... seis segundos... cinco...
O comandante, aterrorizado, balbuciava:
– Príncipe Xizor, por favor, responda! Precisamos nos
render ou seremos feitos em pedaços! Por Favor!
... quatro segundo restantes... três segundos...
– Alteza, eu... – A transmissão do comandante foi
interrompida abruptamente. Um dos caças imperiais devia
tê-lo atingido.
... dois... um...
– Comandante, destrua o aerogancho.
Não se permanecia no comando da nave de Darth Vader
questionando ordens.
– Sim, meu lorde.
Darth Vader respirou fundo, por mais doloroso que isso
fosse. Sorriu, sem ser visto.
Adeus, Xizor. E boa viagem.
A Millennium Falcon estava de frente para o aerogancho
quando ele explodiu.
Luke viu o destróier estelar gigantesco emitir um potente
feixe de raios, perfurando o aerogancho. O planetoide
despedaçou-se, explodiu como em supernova e tornou-se
uma pequena estrela que brilhou intensamente por um
segundo antes de desaparecer, deixando para trás milhões
de pedaços brilhantes.
Era uma visão espetacular, mesmo com toda a sua
violência. Luke lembrou da explosão que havia destruído a
Estrela da Morte.
– Ah, cara – disse Lando suavemente. – Eles devem ter
deixado alguém com muita raiva.
Luke balançou a cabeça, sem falar.
Dash disse:
– Atenção, rapazes. Sigam-me.
Luke piscou.
– Ahn?
– Alguém acabou de nos abrir uma saída de emergência.
– Você está louco? Nós não podemos voar através
daqueles destroços!
– Nós não temos escolha. Há naves em toda a parte.
Qual é o problema, garoto? Acha que não consegue fazer
isso?
– Se você consegue, meu droide consegue. Vamos. –
Luke compreendeu o que Dash queria. Seria complicado,
perigoso, mas o espaço em torno do aerogancho destruído
estava relativamente aberto; os destroços estavam se
expandindo dali para fora. Se pudessem evitar ser
perfurados por aquelas coisas no caminho até lá, seria a sua
melhor chance.
– Iiirrôou! – gritou alguém do Esquadrão Rogue.
Luke riu. Sabia exatamente como eles se sentiam.
Dirigiram-se para os escombros e parecia que tudo
ficaria bem. Os mocinhos haviam triunfado!
– Cuidado, Dash! – gritou Lando.
Luke mal podia desviar o olhar, mas o fez. Bem a tempo
de ver um bloco de aerogancho destruído do tamanho de
um resiplex aproximar-se da Outrider.
– Dash! – gritou Luke. Ele estava muito perto para
desviar.
Houve um lampejo de luz brilhante demais para os olhos.
Luke virou o rosto, viu Lando lançar um braço para cima
para bloquear o brilho.
Quando a luz se apagou, a Outrider havia desaparecido.
– Ah, cara – disse Lando. – Ele... ele... sumiu.
Em segundos.
O doce sabor do triunfo amargou na boca de Luke.
Não havia tempo para se preocupar com isso agora.
– Preparem-se! Isso vai ser difícil!
Os detritos zuniam por eles, uma promessa de impacto a
cada segundo. Estava triste a respeito de Dash. O homem
acabara por se revelar boa gente no final. Mas não queria
acabar como uma pilha de escombros chamejantes. Deixou
a Força levá-lo e voou.
A base secreta da Aliança ficava a anos-luz de distância
de Coruscant e eles mal haviam começado; mas haviam
escapado.
Luke estava de pé ao lado de Leia, Lando e Chewie, com
3PO e R2 às suas costas. O edifício era, como tantas outras
estruturas da Aliança, uma grande unidade pré-fabricada,
barata. Tinha uma grande parede de transparaço que
mostrava da superfície do asteroide até a escuridão do
espaço. Luke olhava por ela, fitando as profundezas da
galáxia.
– Então, se Xizor estava naquele aerogancho como os
nossos relatórios de inteligência indicam, acho que isso põe
fim aos caçadores de recompensa do Sol Negro que
estavam atrás de você – disse Lando.
– Ainda há Vader – disse Leia.
Luke olhou para ela e balançou a cabeça.
– Não acho que Vader me queira morto. Ainda, pelo
menos. Lidarei com ele quando chegar a hora.
Olharam para o lado e viram Wedge se aproximando.
– Tenho uma mensagem para você, Luke – disse Wedge –,
enviada pelos Bothanos. Era para Dash, mas, bem... – Ele
parou. – Hm. Enfim, aquele míssil que Dash supostamente
perdeu durante aquele fiasco perto de Kothlis? Acontece
que ele não o perdeu.
– O quê? – Luke piscou para Wedge.
– A coisa era um dos novos trecos com blindagem de
boro-diamante do Império. Nada poderia tê-lo parado. Os
Bothanos queriam que ele soubesse.
Luke sentiu um nó de ar líquido se formar em sua
barriga. Ah, cara. Dash não tinha errado, mas agora nunca
saberia. Que horror, desaparecer antes de descobrir que
você não tinha sido responsável pela perda de seus
companheiros. E pior era lembrar que Luke tinha ficado um
pouco contente; não pelas mortes, claro, mas por ver que a
arrogância de Dash diminuíra.
Ah, cara.
– O que você vai fazer agora? – disse Wedge.
– Vamos buscar Han – disse Luke. – Se ele não está em
Tatooine ainda, logo estará.
– Vão entrar no bem guardado palácio do Hutt e resgatá-
lo? Simples assim? – disse Wedge.
– Eu tenho um plano – disse Luke.
Virou-se e olhou para as estrelas. Talvez ainda não fosse
um mestre, mas tinha aprendido muito.
Era um Cavaleiro Jedi – e isso era o bastante por agora.
Epílogo

No santuário particular do Imperador, Darth Vader


ajoelhava-se diante de seu mestre. Acreditava ter razão
para estar preocupado.
– Você desafiou as minhas ordens, Lorde Vader.
– Sim, meu mestre. Mas espero não ter falhado com
você.
– Levante-se.
Vader ficou de pé.
O Imperador favoreceu Vader com um sorriso sinistro.
– Eu tenho conhecimento de que Xizor servia aos seus
próprios fins e que você foi astuto por ter descoberto sua
trama. Eu sabia de tudo, é claro.
Vader nada disse.
– Temos certeza de que ele está morto?
– Não vejo como ele poderia ter sobrevivido. Eu vi seu
aerogancho explodir em pedaços.
– Ainda bem. O Sol Negro é útil, mas é também como um
chirru: corte sua cabeça e outra aparecerá para substituí-la.
– Gargalhou de forma sombria, divertindo-se com a própria
comparação.
– Talvez o próximo líder seja igualmente perigoso – disse
Vader.
– Nenhum líder do Sol Negro jamais poderá ser páreo
para o poder do lado sombrio.
– Mas e quanto ao plano para iludir os líderes Rebeldes?
– A nova Estrela da Morte vai atraí-los e, desta vez, você
e eu estaremos lá para terminar esta Rebelião.
Vader quis sacudir a cabeça. Como sempre, o Imperador
estava um passo à frente dele.
– O jovem Skywalker estará lá também. Prevejo isso.
Vader suspirou.
– Está tudo acontecendo exatamente como eu previ,
Lorde Vader.
Ele sorriu de novo e Vader sentiu um toque gélido.
Realmente não havia ninguém na galáxia com tanto
controle do lado sombrio quanto o Imperador. Era uma
fraqueza de Vader sentir esse medo. Uma parte de Anakin
Skywalker ainda existia nele, apesar de tudo o que tinha
feito. Teria que eliminá-lo ou isso acabaria por ser sua ruína.

Na casa de Ben em Tatooine, Luke respirou fundo e


buscou a calma. Eles não esperavam que Jabba ficasse
interessado na proposta, levando em conta o que haviam
descoberto sobre como ele era desagradável, mas esse não
era o problema. Lando tinha uma forma de entrar lá, assim
como Chewie e Leia, e isso também colocaria 3PO e R2
dentro do palácio. Se o Hutt estivesse disposto a negociar,
isso evitaria um monte de problemas, mas nenhum deles
realmente esperava que isso acontecesse. Jabba era, de
acordo com tudo o que tinham escutado, extremamente
egoísta e não precisava do dinheiro. Azar o dele.
Ah. Bem. Só teriam de fazer as coisas da maneira mais
difícil. Qual a novidade?
– Ok, R2, comece a gravação.
R2 bipou.
– Saudações, Excelso. Permita que eu me apresente. Eu
sou Luke Skywalker, Cavaleiro Jedi e amigo do capitão Solo.
Eu sei que você é muito poderoso, grande Jabba, e que a
sua raiva de Solo deve ser igualmente poderosa. Busco uma
audiência com Sua Grandeza para negociar a vida de Solo.
Isso deveria ser servil o bastante, mas, se o que ouviram
fosse verdade, Jabba riria disso. Luke parou por um
momento, recuperou o fôlego e continuou:
– Com sua sabedoria, tenho certeza de que podemos
chegar a um arranjo que seja mutuamente benéfico e nos
ajude a evitar qualquer confronto desagradável.
Pouca chance disso. Mas continuou:
– Como um sinal da minha boa vontade, apresento a
você um presente. Estes dois droides.
Luke lutou contra o sorriso que ameaçava aparecer: sem
dúvida alguma 3PO ficaria surpreso ao ouvir isso quando a
gravação fosse tocada. Luke pensou em lhe dizer, mas
chegou à conclusão de que seria melhor se ele não
soubesse. Ele ficava abalado com tanta facilidade. Além
disso, a surpresa de 3PO ajudaria a convencer Jabba.
– Ambos são esforçados e o servirão bem – concluiu
Luke.
Olhou de relance para R2, levantou uma sobrancelha, e o
pequeno droide desligou seu gravador.
Leia, de pé atrás de R2, sacudiu a cabeça.
– Você acha que vai funcionar?
Luke deu de ombros.
– Espero que sim. Só há uma maneira de descobrir.
Ela se aproximou e tocou em seu braço.
Luke disse:
– Ei, depois de tudo que acabamos de passar, resgatar
um velho pirata surrado vai ser moleza, certo?
Ela sorriu.
– Certo.
Ele tornou a sorrir. Suas emoções estavam misturadas.
Ele não sabia como ela realmente se sentia, em relação a
ele e ao velho pirata surrado, mas sabia como ele se sentia
em relação aos dois. O que quer que acontecesse, teria que
fazer a coisa certa; era assim que as coisas eram. E a coisa
certa aqui era simples, ainda que não fácil.
Aguente firme, Han.
Nós vamos salvá-lo.
[1] Composição de vários tons simultâneos dentro de um
tema único. (N. E.)
STAR WARS / SOMBRAS DO IMPÉRIO
TÍTULO ORIGINAL:

Star Wars / Shadows of the Empire


COPIDESQUE:

Isabela Talarico
REVISÃO:

Entrelinhas Editorial
Isadora Prospero
CAPA, PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO:

Desenho Editorial
ILUSTRAÇÃO DE CAPA:

Mark Molnar
DIREÇÃO EXECUTIVA:

Betty Fromer
DIREÇÃO EDITORIAL:

Adriano Fromer Piazzi


EDITORIAL:

Daniel Lameira
Katharina Cotrim
Mateus Duque Erthal
Bárbara Prince
Júlia Mendonça
Andréa Bergamaschi
COMUNICAÇÃO:

Luciana Fracchetta
Felipe Bellaparte
Pedro Henrique Barradas
Lucas Ferrer Alves
Renata Assis
COMERCIAL:

Orlando Rafael Prado


Fernando Quinteiro
Lidiana Pessoa
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(EDIÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA PARA O BRASIL)

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A ARMADILHA DO PARAÍSO É UM LIVRO DE FICÇÃO. TODOS OS PERSONAGENS,


LUGARES E ACONTECIMENTOS SÃO FICCIONAIS.

EDITORA ALEPH
Rua Henrique Monteiro, 121
05423-020 – São Paulo – SP – Brasil
Tel.: [55 11] 3743-3940
www.editoraaleph.com.br
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Vagner Rodolfo CRB-8/9410

P465s
Perry, Steve
Sombras do Império [recurso eletrônico] / Steve Perry ; traduzido por
Alexandre Mandarino. - São Paulo : Aleph, 2017.
350 p. : 23,2 MB ; ePUB

Tradução de: Star Wars: Shadows of the Empire


ISBN: 978-85-7657-353-1 (Ebook)

1. Literatura norte-americana. 2. Ficção. I. Mandarino, Alexandre. II.


Título.
2017-313 CDD: 813.0876
  CDU: 821.111(73)-3

Índice para catálogo sistemático:


1. Literatura : Ficção Norte-Americana 813.0876
2. Literatura norte-americana : Ficção 821.111(73)-3
Acreditamos que toda forma de cultura tem o seu valor

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lvraria digital
Guerra do Velho
Scalzi, John
9788576573166
368 páginas

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A humanidade finalmente chegou à era das viagens


interestelares. A má notícia é que há poucos planetas
habitáveis disponíveis – e muitos alienígenas lutando por
eles. Para proteger a Terra e também conquistar novos
territórios, a raça humana conta com tecnologias
inovadoras e com a habilidade e a disposição das FCD -
Forças Coloniais de Defesa. Mas, para se alistar, é
necessário ter mais de 75 anos. John Perry vai aceitar esse
desafio, e ele tem apenas uma vaga ideia do que pode
esperar.

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STAR WARS - Tarkin
Luceno, James
9788576573616
368 páginas

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Ambientando cinco anos após o golpe contra a República,


STAR WARS: Tarkin, de James Luceno, apresenta o Império
Galáctico ainda consolidando seu poder, enquanto constrói,
secretamente, uma de suas armas mais poderosas: a
Estrela da Morte. O supervisor dessa obra é ninguém menos
que Tarkin, o obscuro vilão de STAR WARS: Uma Nova
Esperança.

Porém um ataque ardiloso coloca o projeto em perigo e por


ordem do próprio Imperador, o oficial divide com o recém-
convertido ao lado sombrio, Darth Vader, a liderança de
uma força-tarefa dedicada a encontrar e deter os
responsáveis pelo atentado. O que nenhum dos dois
imagina é que os inimigos do Império têm planos muito
mais ambiciosos, e o que deveria ser uma mera
investigação, rapidamente se torna uma caçada, com cada
um dos lados buscando estar dois passos à frente do
adversário.

Para vencer esse jogo a tempo, Tarkin precisará relembrar e


aplicar todas as suas experiências de vida – dos ritos de
passagem de sua juventude a decisões estratégicas em
seus inúmeros cargos de autoridade – mostrando a todos
por que lhe foi confiada a arma mais terrível da galáxia.

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Um Cântico para Leibowitz
Jr., Walter M. Miller
9788576572459
400 páginas

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Após ter sido quase aniquilada por um holocausto nuclear, a


humanidade mergulha em desolação e obscurantismo,
assombrada pela herança atômica e pelo vazio de uma
civilização perdida. Os anos de loucura e violência que se
seguiram ao Dilúvio de Fogo arrasaram o conhecimento
acumulado por milênios. A ciência, causadora de todos os
males, só encontrará abrigo na Ordem Albertina de São
Leibowitz, cujos monges se dedicam a recolher e preservar
os vestígios de uma cultura agora esquecida. Seiscentos
anos depois da catástrofe, na aridez do deserto de Utah, o
inusitado encontro de um jovem noviço com um velho
peregrino guarda uma surpreendente descoberta, um elo
frágil com o século 20. Um foco de luz sobre um mundo de
trevas. Cobrindo mil e oitocentos anos de história futura,
"Um cântico para Leibowitz" narra a perturbadora epopeia
de uma ordem religiosa para salvar o saber humano. Marco
da literatura distópica e pós-apocalíptica, vencedor do
prêmio Hugo de 1961, este clássico atemporal é
considerado uma das obras de ficção científica mais
importantes de seu tempo.
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As Fontes do Paraíso
Clarke, Arthur C.
9788576572275
352 páginas

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Há dois séculos, Kalidasa desafiou sua família e sua religião


para empreender uma verdadeira maravilha arquitetônica: a
construção de um suntuoso palácio no topo de uma
montanha, que o alçaria aos céus e o igualaria aos deuses.
Duzentos anos depois, o ambicioso engenheiro Vannevar
Morgan, que já unira dois continentes com a Ponte Gibraltar,
se propõe a construir uma nova ponte, desta vez ligando a
Terra ao espaço sideral. O que ele não imagina, porém, é
que em seu caminho está um monastério budista, localizado
sobre a única montanha na qual seu projeto poderia ser
construído. Em paralelo, a humanidade detecta um estranho
sinal de rádio, de origem não humana. Pela primeira vez na
história, o planeta Terra é contatado por uma raça
alienígena que, ao que tudo indica, está cada vez mais
próxima.

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Encontro com Rama
Clarke, Arthur C.
9788576572572
288 páginas

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Vencedor de renomados prêmios da ficção científica, entre


eles o Hugo e o Nebula, "Encontro com Rama" conta a
história de uma terrível colisão de um meteorito contra o
continente europeu. Após o acontecimento, líderes mundiais
e cientistas reuniram esforços para evitar que catástrofes
dessa natureza voltassem a acontecer. Quase cinquenta
anos depois, a humanidade atônita acompanha a chegada
de um novo astro ao Sistema Solar.

De proporções inimagináveis, Rama espanta e ameaça, pois


avança firmemente na direção de nosso Sol. Uma expedição
é enviada para explorar os mistérios do que se imagina ser
um colossal meteoro. Mas, num misto de surpresa e
apreensão, Rama se revela uma sofisticada construção,
repleta de enigmas que desafiam a mente e os conceitos
humanos. Inestimável fonte de pesquisa para a ciência ou
ameaça para a segurança da humanidade, Rama torna-se
palco de uma das mais fascinantes jornadas de
descobrimento da ficção científica; um espelho da
genialidade de um dos autores mais criativos do século 20.
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