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Kari Lukka
Departamento de Contabilidade e Finanças, Turku School of Economics (TSE), Rehtorinpellonkatu 3, FI-
20500 Turku, Finlândia
Resumo
Uma situação prática problemática, que permaneceu sem solução por um longo período, foi encontrada em um projeto de
pesquisa de casos. O problema aparente da empresa de casos foi a modesta padronização de seus sistemas de informação e
relatórios contábeis gerenciais. Embora os problemas ligados à padronização parecessem cronicamente procurar soluções na
empresa, apenas poucas tentativas de mudar a situação surgiram. O propósito imediato do artigo é explicar por que parecia haver
problemas sem soluções na empresa de casos e, em particular, como ele conseguiu lidar com tal situação. O artigo contribui para
a literatura recente sobre mudanças contábeis gerenciais e estabilidade, principalmente por meio do quadro, baseado na teoria
institucional, por Burns e Scapens [Burns, J., Scapens, R.W., 2000. Conceitualização da gestão da mudança contábil: um quadro
institucional. gerir. Acc. Res. 11, 3-25]. A noção de acoplamento solto é mobilizada e integrada com o quadro, e, assim, a relação
de muitos lados entre duas de suas noções centrais, regras e rotinas, é refinada. O acoplamento frouxo entre regras e rotinas foi
característico da vida contábil cotidiana da gestão na empresa case: rotinas informais bem desenvolvidas e flexíveis e ações
conhecedoras pelos participantes da organização tiveram a capacidade de suavizar os atritos dos sistemas formais de regras
relacionados à contabilidade gerencial, poupando-os da pressão por grandes mudanças. Os achados sustentam o argumento da
possível coexistência da mudança e estabilidade na contabilidade gerencial, porém apontando para a necessidade de manter claro
qual aspecto da contabilidade gerencial – formal ou informal – nos referimos em cada instância. Eles também sugerem que a
relação legitimante entre os domínios formais e informais de uma organização pode ser um inverso do que tipicamente
reivindicado na nova teoria institucionalista. © Elsevier Ltd. 2006. Todos os direitos reservados.
Palavras-chave: Mudança e estabilidade da contabilidade gerenciada; Regras e rotinas; Acoplamento solto; normalização
Prólogo
Southlake, uma empresa bastante lucrativa no negócio de equipamentos de processamento pesado cresceu rapidamente e tem
espalhado suas operações em todo o mundo.1 Cresceu particularmente através de grandes aquisições internacionais. A
contabilidade gerencial é geralmente considerada como um importante sistema de controle da empresa. A arquitetura do sistema
de informações é baseada em soluções locais, diferindo de um país e unidade para outro. A comunicação diária entre unidades,
tanto verticais quanto horizontais, bem como relatórios regulares é baseada principalmente em e-mail, sistema de informações
do Lotus Notes e na circulação de relatórios criados pelo software de planilha lotus. Mas o ambiente disperso do sistema de
informações tem desvantagens. Informações sobre itens em estoque em diferentes partes do mundo, por exemplo, são difíceis
de acessar, não confiáveis e lentas de alcançar. A empresa admite que opera continuamente com um inventário muito grande.
Executar a contabilidade gerencial é cansativo devido a várias operações manuais, necessárias, uma vez que diferentes softwares
estão em uso nas diversas unidades. O manual do controlador da empresa está parcialmente desatualizado e não há um gráfico
uniforme de contas. Há espaço para várias interpretações diferentes dentro da empresa sobre o que certas noções contábeis
significam e como devem ser relatadas. Nesse contexto, é considerado um exercício difícil desenvolver um novo procedimento de
relatórios contábeis de gestão sobre a margem do produto sobre todas as unidades que contribuem para isso. No entanto,
paradoxalmente, o sentimento geral dentro da empresa é que sua contabilidade gerencial funciona suficientemente bem.
1. Introdução
O ponto de partida deste estudo foi uma situação confusa, encontrada em um projeto de estudo de caso,
delineado de forma estilizada no Prólogo acima. Era uma situação em que a mudança contábil da gestão
(especialmente relacionada à padronização, uma forma de definição de regras organizacionais) poderia ter
sido esperada, mas onde não foi muito encontrada. O propósito imediato deste artigo é entender o que
estava acontecendo na empresa do caso. Por isso, por que parece que houve problemas sem soluções? E,
em particular, como a empresa lidou com a situação?
Do ponto de vista teórico, este artigo integra algumas das ideias na literatura da tomada de decisão
organizacional e na literatura recente sobre mudança contábil gerencial, desenhando principalmente no
quadro institucional sugerido por Burns e Scapens (2000). Assim, os sistemas e práticas contábeis de gestão
são considerados como constituindo regras e rotinas organizacionais relativamente estáveis, que codificam
as questões "tomadas como garantidas" no nível institucional e são promulgadas no âmbito da ação. O artigo
foca na relação entre regras formais e rotinas informais em particular e no papel dessa relação em relação à
mudança contábil gerencial e estabilidade.
Este artigo contribui para a literatura recente sobre mudanças contábeis gerenciais e estabilidade, como
Granlund (1998, 2001). O ponto de partida da análise é a tese central de Burns e Scapens (2000): enquanto
sistemas e práticas contábeis de gestão tendem a constituir regras e rotinas relativamente estáveis, há
sempre a possibilidade de mudança. De forma mais marcante, eles argumentam que "estabilidade e
mudança não são processos mutuamente exclusivos, eles ocorrem simultaneamente". (p. 22). Este estudo
esclarece especificamente como essa mudança sugerida e estabilidade da contabilidade gerencial podem
realmente coexistir. Para isso, uma noção significativa mobilizada neste artigo, importada da literatura
moderna da tomada de decisões organizacionais, é a ideia de uma organização como um sistema vagamente
acoplado (Glassman, 1973; Weick, 1976; Orton e Weick, 1990; Seo e Creed, 2002). Resumindo, a variedade
de elementos de uma organização não precisa estar fortemente ligada umas às outras e a organização ainda
pode funcionar. Ao mobilizar a noção de acoplamento solto, este artigo traz mais evidências sobre a
complexa relação entre as regras e as rotinas da contabilidade gerencial. O artigo não só geralmente apoia
o argumento de Burns e Scapens (2000), mas também o refina mostrando um novo modo de como a
mudança e a estabilidade podem ocorrer simultaneamente.
Ahrens e Dent (1998) argumentam que analisar ambiguidades gerenciais, tensões e contradições é uma
grande oportunidade oferecida por métodos de pesquisa de campo, uma vez que permitem uma análise de
temas sugestivos e contrapontos, interpretações e contra-interpretações, e diferentes vozes em torno da
contabilidade nas organizações. Como a parte empírica do artigo descreve uma situação de tensão
multidimensional da empresa de casos Southlake, é precisamente esse tipo de análise que buscamos neste
artigo, que responde a recentes pedidos de pesquisa sobre práticas contábeis de gestão explorando não
apenas processos formais e mudança/estabilidade intencional, mas também processos informais e
mudança/estabilidade não intencional (cf. Burns e Scapens, 2000; Burns e Vaivio, 2001).
O estudo de caso em Southlake indica que rotinas organizacionais e ações cotidianas experientes podem ser
flexíveis o suficiente para suavizar os problemas dos sistemas formais de regras para que o desempenho do
resultado da função controlador2 seja satisfatório. Rotinas contábeis de gestão flexíveis e suficientemente
bem funcionais oferecem legitimidade intra-firme para o problemático sistema de regras formais, aliviando
as pressões para alterá-lo. Assim, a forma como a empresa resolve a questão de seus sistemas de regras
inadequadamente funcionais – como lida com a situação – é, pelo menos parcialmente, uma explicação para
o porquê de parece haver problemas sem soluções. Trata-se de uma nova constatação sobre como a
estabilidade e a mudança podem coexistir: a mudança na forma de flexibilidade dentro do domínio informal
pode permitir a estabilidade através da fronteira de domínio dentro do formal — um inverso da relação
entre regras formais e rotinas informais típicas da nova sociologia institucional (por exemplo, Meyer e
Rowan, 1977; DiMaggio e Powell, 1983; Carruthers, 1995). Como será explicado, esse acoplamento frouxo
entre regras e rotinas pode ser visto tanto como uma solução quanto como um problema.
O resto do jornal é organizado da seguinte forma. Na próxima seção, em breve revisaremos os
conhecimentos específicos sobre os elementos básicos do estudo, ou seja, que lidam com a mudança
contábil gerencial e a estabilidade, com foco no quadro institucional de Burns e Scapens (2000). Também
introduziremos a noção de acoplamento solto lá. Na seção seguinte, a noção de padronização contábil
gerencial – na qual se concentra a parte empírica – será brevemente explorada. Após descrever o site do
caso e os métodos aplicados, serão descritos os dilemas encontrados em torno da padronização da empresa
de casos, com foco em duas questões relacionadas à contabilidade gerencial: padronização dos sistemas de
informação e padronização dos relatórios contábeis gerenciais. Na parte central do estudo que se segue,
será feita uma tentativa – com a ajuda das lentes teóricas levantadas na parte frontal do artigo – para dar
sentido aos achados do caso, e desenvolver os argumentos teóricos do estudo. O trabalho termina com
conclusões.
6. Conclusões
O ponto de partida para este artigo foi o verdadeiro quebra-cabeça encontrado no estudo empírico no
Southlake Group, uma empresa de operação global com sede na Finlândia. Embora a empresa de casos
parecesse ter vários problemas ligados aos seus sistemas de regras, mais especificamente o baixo nível de
padronização de seus sistemas de informação e relatórios contábeis de gestão, parecia haver
surpreendentemente pouco esforço para resolvê-los. Foi a estabilidade em vez de uma mudança que parecia
caracterizar a situação.
O objetivo imediato do artigo era dar sentido ao que estava acontecendo na empresa do caso,
principalmente respondendo a duas perguntas: Por que parece que havia problemas sem soluções? E, em
particular, como a empresa lidou com a situação? Teoricamente, o artigo contribui para a literatura recente
sobre mudanças contábeis gerenciais e estabilidade, principalmente por se basear no quadro baseado na
teoria institucional de Burns e Scapens (2000). Seu artigo foca na relação entre regras formais e rotinas
informais, e o papel dessa relação na gestão da mudança contábil e estabilidade. Mais especificamente, os
achados deste artigo lançaram mais luz sobre como a mudança e a estabilidade podem ocorrer
simultaneamente. Ele geralmente suporta a principal tese de Burns and Scapens (2000), mas também a
refina explicando um novo modo de emergência simultânea de mudança e estabilidade. A noção de
acoplamento solto, importado da literatura moderna sobre a tomada de decisões organizacionais,
desempenhou um papel crucial na análise e foi a chave para dar sentido aos achados dos casos.
No caso southlake, o reconhecimento da ambiguidade de metas – entre a tradicionalmente dominante
descentralizada e a abordagem de gestão centralizada recentemente – possibilitou compreender a
discrepância entre a conversa e a ação relacionadas à padronização. Embora a natureza do processo de
contabilidade gerencial de Southlake possa ser descrita pela noção de "confusão", essa condição não o
paralisou. A contabilidade gerencial de Southlake foi capaz de entregar, embora com considerável
inconveniente, os relatórios de rotina esperados mês após mês. Isso ocorreu desde que os contadores de
gestão encontraram rotas criativas para lidar com a situação inconveniente: desenvolveram, dentro do
domínio informal, rotinas apenas vagamente acoplados aos problemáticos sistemas de regras formais,
introduzindo flexibilidade em suas práticas contábeis gerenciais. As pressões para aumentar a padronização
foram relaxadas, uma vez que um nível suficiente da integração necessária foi alcançado através de rotinas
informais e ações diárias.
A análise do artigo não apenas geralmente apoia a utilidade do quadro por Burns e Scapens (2000), mas
também refina sua relação central entre regras formais e rotinas informais, que não examinam em grande
detalhe. Este artigo sugere que a relação entre regras e rotinas em um determinado ponto/período limitado
de tempo pode ser muito frouxa, e que esse acoplamento frouxo de regras e rotinas pode ser fundamental
no bom funcionamento da contabilidade gerencial de uma empresa, pelo menos no curto prazo. O
acoplamento frouxo entre regras e rotinas explica o principal argumento de Burns e Scapens de que a
mudança de contabilidade gerencial e a estabilidade podem coexistir. Como o caso Southlake indica, isso
pode ocorrer, por exemplo, para que os sistemas formais de regras sejam relativamente estáveis enquanto
as rotinas informais flexionam, juntamente com as ações cotidianas do pessoal contábil da gestão.
Como um resultado novo particular, os achados do estudo sugerem uma relação entre regras e rotinas
opostas ao que pode ser encontrado implicitamente em Burns e Scapens (2000) e explicitamente na
literatura da nova sociologia institucional. Não só as regras formais podem legitimar a existência de uma
organização, ao mesmo tempo em que permitem que rotinas informais permaneçam intactas, mas as rotinas
informais também podem atuar como o dispositivo de "proteção", legitimando os sistemas formais de regras
existentes e protegendo-os das pressões de mudança. Assim, o estudo evidencia uma relação inversa entre
regras organizacionais e rotinas quando comparado aos entendimentos anteriores. Os achados do caso
sugerem que o desempenho adequado da função controladora, impulsionado pelas rotinas informais bem
desenvolvidas e flexíveis e ações conhecetivas dos controladores locais, pode desempenhar um papel
importante na legitimação dos sistemas de regras relacionados. No entanto, embora essa suavização das
pressões de mudança através da flexibilidade dentro do domínio informal possa ser vista como uma solução
a curto prazo, pode vir a ser um problema a longo prazo, se fizer com que a organização adie por muito
tempo as adaptações funcionais necessárias.
No geral, os resultados deste artigo somam-se ao nosso conhecimento da complexa interação entre os
domínios formais e informais da contabilidade gerencial. Considerando os domínios formais e informais
simultaneamente, a mudança e a estabilidade podem de fato coexistir, e não é apenas que as regras formais
têm o potencial de proteger as rotinas informais, pode ser o contrário também. O artigo apoia a visão
emergente de que, para entender minuciosamente a mudança contábil gerencial, precisamos sondar muito
além dos limites dos sistemas formais de regras (como os projetos contábeis de gestão sugeridos e vendidos
pela indústria de consultoria) e prestar cada vez mais atenção ao domínio informal das organizações. Apesar
de alguns exemplos de estudos recentes fazendo isso, mais pesquisas nesse sentido são certamente
necessárias. Entender mais profundamente a interação entre as regras formais e as rotinas informais da
contabilidade gerencial é, sem dúvida, fundamental para o sucesso do projeto e implementação da mudança
contábil gerencial.
Epílogo
Após o período do estudo empírico, Southlake parecia estar se movendo para uma integração mais profunda e
padronização de seus sistemas de informação. O início desse processo pode ser traçado para a fusão da Finncom e da
Metcom em 1999, pela qual o conglomerado Eagle foi formado.8 Este processo de mudança é, pelo menos em parte,
impulsionado pelo desenvolvimento de sistemas anteriores dentro da Metcom, que agora, após a fusão, foi expandido e
ainda desenvolvido.25 Pode-se supor que a formação da Eagle e o aumento da pressão institucional que trouxe foi uma
"crise" que não poderia ser absorvida pela rotinas flexíveis e ação cotidiana dos controladores de Southlake e, portanto,
uma mudança mais completa era necessária e possível. E o ritmo da mudança era rápido. Em setembro de 2001, a Eagle
adquiriu o maior concorrente de Southlake com o objetivo de integrar suas atividades com as de Southlake. Após essa
aquisição, a Southlake tornou-se líder global de mercado em seus negócios.
Reconhecimento
Eu gostaria de agradecer, em particular, Thomas Ahrens, Salvador Carmona, Robert Chenhall, Markus Granlund, Trevor
Hopper, Anthony Hopwood, Brian Jørgensen, Anne Kovalainen, Frederick Lindahl, Sven Modell, Vesa Partanen, Tuomo
Peltonen, Pekka Pihlanto, Robert Scapens, Michael Shields, Peter Skaerbaek e Tero-Seppo Tuomela por seus comentários
úteis e perspicazes. Agradecimentos especiais são devidos aos meus dois assistentes de pesquisa neste projeto, Ilkka
Haapaniemi e Assi Ilmanen. Além disso, estou em dívida com vários representantes da empresa de casos devido à sua
cooperação substancial durante o projeto de pesquisa. Agradeço também o apoio financeiro prestado pelo TSEBA, pela
Fundação Mashuri e pela Fundação para a Educação Econômica.