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Atividade: trecho de projeto de pesquisa

Um amigo te enviou um projeto de pesquisa dele para que você o ajude na


revisão da estrutura e das argumentações do texto. Analise o trecho a seguir e faça
contribuições no trabalho adequando a estrutura a normas da ABNT, oferecendo
sugestões e opiniões ligadas ao encadeamento do texto e contribuindo, dentro do
possível, com as estratégias de argumentações.
 

Todos os campos da atividade humana, estão ligados ao uso da linguagem, compreende-


se perfeitamente que o caráter e as formas desse uso sejam tão multiformes quanto os
campos da atividade humana" [...] (Bakhtin, 2013, p.261).
 

O objetivo principal desta pesquisa é analisar as escritas de muros e


investigar se elas seconstituem como um gênero discursivo. Com isso, discutiremos em
torno do conceito gênero, conceito que desenvolve-se no Círculo bakhtiniano. Desta
forma, será importante abordarmos reflexões teóricas sobre caracterizações desta noção.
Estamos entendendo que os gêneros não são entidades formais, mas sim entidades
comunicativas. Para Marcuschi,

“Gêneros são formas verbais de ação social relativamente


estáveis realizadas em textos situados em comunidade de
práticas sociais e em domínios discursivos específicos.” (1999,
p. 12)

Marcushi enfatiza o caráter comunicativo do gênero em lugar da forma,


como Bakhtin concebe os gêneros textuais como fenômenos históricos, conectados à
vida cultural e social que favorecem a ordenação e estabilização das atividades
comunicativas do cotidiano. Assim, os três elementos que caracterizam o gênero são: O
conteúdo temático, plano composicional e estilo. Portanto EM nossa análise, percorrerá
primeiramente esses três elementos, esse caminho torna-se necessário e imprescindível
para que possamos estabelecer se essas práticas de escritas de muros constituem-se ou
não como gênero. Diante desta emergência de investigar uma possível relação,
amparamos nossas reflexões em BAKHTIN que diz:

Falamos apenas através de determinados gêneros do discurso, isto é, todos


os nossos enunciados possuem formas relativamente estáveis e típicas de
construção do todo. Dispomos de um rico repertório de gêneros de discurso
orais (e escritos). Em termos práticos, nós o empregamos de forma segura e
habilidosa, mas em termos teóricos podemos desconhecer inteiramente a sua
existência. (2003, p.282).

Após abordaremos sobre o sujeito, como ele se constitui, de que forma ele é
parte da cidade, apropriando-se de locais públicos para sua prática discursiva em muros,
modificando desta maneira o espaço da cidade, para (re)produzir significados e
enunciados, traçaremos um elo entre esse sujeito, meio social e a vida urbana sendo
pertinente recorrer a sua historicidade. Neste contexto, recorremos a dissertação de A
cidade (in)divisível de Maria Padilha Fedatto, onde discorre:

Quando pensamos a cidade consideramos que não existe um espaço absoluto, ele é
relativo aos sujeitos significantes que o habitam, que vivem em sociedades marcadas por
relação de poder determinando tanto o habitante como seu modo de habitar e constituir o
espaço. Assim como o sujeito modifica o espaço da cidade produzindo possibilidades de
simbolizar-se, a cidade com sua materialidade, intervém nos processos de subjetivação
numa demanda específica por significação.

Posteriormente definiremos os recortes das escritas de muro para nossa


análise.depois dos recortes selecionados, me posiciono com alguns questionamentos a
serem desenvolvidos no decorrer de nossa investigação: o espaço urbano que foi
escrito? Quem é esse interlocutor de cada escrita/enunciado? Que relações de produção
de sentido podemos mobilizar para refletirmos sobre os dizeres inscritos nas vozes
discursivas dos escritos/enunciados? Com que lugares discursivos estes enunciados
dialogam? Quem é o outro desse discurso e o que o outro significa? Qual a forma em
que o enunciado é escrito (cor, como aparece, a letra)? Como se dão as relações entre
enunciado verbal e/ou não verbal? Esse enunciado é proibido ou permitido no meio
social? O interlocutor assinou o seu discurso, deixou alguma marca da sua identidade ou
de autoria? Nesse esforço investigativo buscamos durante o processo de análise
linguística sustentar este trabalho amparando-nos em estudos de bases nas Ciências
sociais e tecendo o nosso discurso na perspectiva bakhtiniana.
A concepção teórica em qual estamos nos coloca a mobilizar conceitos tais
como diálogo e relações dialógicas; alteridade; subjetividade; gêneros do discurso
(forma composicional, estilo; conteúdo); enunciado; autoria; responsividade; valores
ideológicos; significação e tema (Marxismo e Filosofia da Linguagem). Além destas
categorias de análise propomos debater concepções pautados significativamente em
Bakhtin (1997), gêneros do discurso e identidade. De acordo com PINHEIRO (2008,
p.7), o discurso nos permite compreender que, mediante nossa participação nas mais
diversas esferas sociais, é possível determinar quem somos, como avaliamos o outro e
como este nos avalia, desencadeando assim, um processo de construção e reconstrução
da identidade. Portanto, na interlocução entre o “eu” e o “outro” que ocorre a
constituição da identidade social, pois “(...) eu me vejo e me reconheço através do outro,
na imagem que o outro faz de mim” (Bezerra, 2013, p.194).
Para investigarmos a respeito de construções discursivas (imagem - ethos -,
lugares sociais, ideologias) a respeito dos processos de estabilização e identidade,
analisaremos no corpus em estudo, de que forma isso ocorre, e reconhecermos o sujeito
na condição de autor das escritas. Estabeleceremos redes dialógicas de interpretação
dimensionando estabilidades nas marcações de uma identidade. Sabemos que os
gêneros sofrem modificações devido ao momento histórico ao qual estão inseridos. Por
isso, cada situação social dá origem a um gênero com características e marcas
peculiares. Para Bakhtin “o gênero vive do presente mas recorda o seu passado, o seu
começo”.  Assim, um caminho a ser realizado em nossas análises é a articulação entre
vozes, relações dialógicas e alteridade. O nosso discurso não se relaciona direto com as
coisas, mas com outros discursos que semiotizam o mundo (Fiorin, 2006, p. 167).

Referências bibliográficas

BAKHTIN, M. Estética da criação Verbal. São Paulo; Martins Fontes 1992.

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