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D I S C I P L I N A Fundamentos Sócio-filosóficos da Educação

Reforma Pombalina:
reflexos na educação brasileira

Autoras

Cecília Queiroz

Filomena Moita

aula

06
Governo Federal
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva
Ministro da Educação
Fernando Haddad
Secretário de Educação a Distância – SEED
Carlos Eduardo Bielschowsky

Universidade Federal do Rio Grande do Norte Universidade Estadual da Paraíba


Reitor Reitora
José Ivonildo do Rêgo Marlene Alves Sousa Luna
Vice-Reitora Vice-Reitor
Ângela Maria Paiva Cruz Aldo Bezerra Maciel
Secretária de Educação a Distância Coordenadora Institucional de Programas Especiais - CIPE
Vera Lúcia do Amaral Eliane de Moura Silva

Coordenador de Edição Diagramadores


Ary Sergio Braga Olinisky Bruno de Souza Melo (UFRN)
Dimetrius de Carvalho Ferreira (UFRN)
Projeto Gráfico Ivana Lima (UFRN)
Ivana Lima (UFRN) Johann Jean Evangelista de Melo (UFRN)

Revisora Tipográfica Revisores de Estrutura e Linguagem


Nouraide Queiroz (UFRN) Rossana Delmar de Lima Arcoverde (UEPB)
Thaísa Maria Simplício Lemos (UFRN)
Revisoras de Língua Portuguesa
Ilustradora Maria Divanira de Lima Arcoverde (UEPB)
Carolina Costa (UFRN)

Editoração de Imagens
Adauto Harley (UFRN)
Carolina Costa (UFRN)

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central - UEPB

Q3f    Fundamentos sócio-filosóficos da educação/ Cecília Telma Alves Pontes de Queiroz, Filomena Maria Gonçalves da Silva Cordeiro
Moita.– Campina Grande; Natal: UEPB/UFRN, 2007.

15 fasc.
“Curso de Licenciatura em Geografia – EaD”.
Conteúdo:  Fasc. 1- Educação? Educações?;  Fasc. 2 - Na rota da filosofia ... em busca de respostas;  Fasc. 3 - Uma nova
rota...sociologia;  Fasc.4 - Nos mares da história da educação e da legislação educacional;  Fasc. 5 - A companhia de Jesus e
a educação no Brasil;  Fasc. 6 – Reforma Pombalina da educação reflexos na educação brasileira;  Fasc. 7 - Novos ventos...
manifesto dos pioneiros da escola nova;  Fasc. 8 – Ditadura militar, sociedade e educação no Brasil;  Fasc. 9 - Tendências
pedagógicas e seus pressupostos;  Fasc. 10 – Novos paradigmas, a educação e o educador;  Fasc. 11 – Outras rotas...um
novo educador;  Fasc. 12 – O reencantar: o novo fazer pedagógico;  Fasc. 13 – Caminhos e (des)caminhos: o pensar e o fazer
geográfico;  Fasc. 14 – A formação e a prática reflexiva;  Fasc. 15 – Educação e as TIC’s: uma aprendizagem colaborativa

ISBN: 978-85-87108-57-9
1. Educação  2. Fundamentos sócio-filosóficos  3. Prática Reflexiva  4. EAD  I. Título.
22 ed. CDD 370

Copyright © 2007  Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização expressa da
UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte e da UEPB - Universidade Estadual da Paraíba.
Apresentação
Vamos na linha do tempo, saindo para o sexto trecho da nossa viagem. Durante esse
percurso, continuaremos nas águas da história, atravessando mares e rios e fazendo pontes
entre os diferentes momentos históricos.

Nessa perspectiva, vamos estudar o que pensava outro expoente da nossa história - o
marquês de Pombal - as idéias Iluministas, que ele reflete e sua repercussão na educação.

Objetivos
Ao final desta aula, do nosso sexto trecho de viagem, esperamos
que você chegue ao porto com condição de:

Identificar quem foi o Marquês de Pombal e o que ele


1 tem a ver com a educação brasileira;

Entender o processo da Reforma Pombalina,


2 contextualizando-a no tempo e no espaço;

Identificar as conseqüências da Reforma Pombalina


3 para a educação brasileira.

Aula 06  Fundamentos Sócio-filosóficos da Educação 


Zarpando...
PRECE
Senhor, a noite veio e a alma é vil.
Tanta foi a tormenta e a vontade!
Restam-nos hoje, no silêncio hostil,
O mar universal e a saudade.
Mas a chama, que a vida em nós criou,
Se ainda há vida ainda não é finda.
O frio morto em cinzas a ocultou:
A mão do vento pode erguê-la ainda.
Dá o sopro, a aragem --ou desgraça ou ânsia--
Com que a chama do esforço se remoça,
E outra vez conquistaremos a Distância --
Do mar ou outra, mas que seja nossa!
Fernando Pessoa

Vamos embarcar, embalados pelos versos de Fernando Pessoa. Nesta rota, temos que
atravessar o Atlântico e conhecer um pouco do que se passou além mar para entender nossa
história. Era o ano de 1756, quando surgiram profundas alterações na política interna de
Portugal, com reflexo em todo o seu império colonial.

Naquele ano, no reinado de Dom José I, Sebastião de Carvalho, o conde de Oeiras


(obtido em 1759), mais tarde, marquês de Pombal (em 1769), tornou-se secretário de Estado
dos Negócios do Reino de Portugal, equivalente hoje a ser um primeiro-ministro. Homem de
confiança do rei, até aquele momento, fizera carreira diplomática em várias cortes européias,
mostrando energia e determinação, que o levaram a ser nomeado Secretário dos Negócios
Estrangeiros, em 1750, rumando, em seguida, para o poder total.

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Em 1755, dá-se o terremoto, e a reação pragmática daquele que viria a ser um dos
estadistas nacionais mais marcantes foi determinante para fazer renascer dos escombros
Lisboa, capital de um país atrasado e retrógrado, completamente subjugado à Igreja e aos
seus ditames. Era uma cidade com um traçado urbano medieval, com grande parte dos
edifícios decrépitos e insalubres, a qual resistia tenazmente às novas idéias que despontavam
na Europa e ao modernismo imposto pela Inquisição e pelo poder quase ilimitado dos
Jesuítas junto ao Rei.

Lembram-se do que estudamos sobre os jesuítas na aula anterior (aula 5)? Vamos fazer
uma rápida revisão.

A Companhia de Jesus - ordem religiosa formada por padres, conhecidos como jesuítas
- foi fundada por Inácio de Loyola em 1534. Os jesuítas tornaram-se em uma poderosa e
eficiente congregação religiosa, principalmente, em função de seu princípio fundamental a
busca da perfeição humana. Tinha como objetivo sustar o grande avanço protestante da época
e, para isso, utilizou-se de duas estratégias: a educação dos homens e as dos indígenas; e a
ação missionária, por meio da qual procuraram converter à fé católica os povos das regiões
que estavam sendo colonizadas.

Com poder ilimitado, que era afrontoso aos olhos do futuro, os jesuítas controlavam
boa parte dos interesses econômicos nacionais além das tarefas de cristianização. Assim, os
cofres do Estado não refletiam a riqueza e o fausto da Igreja, já que o comércio era de fato
dominado pela Igreja, e não, pelo Estado.

Nessa perspectiva, o Marquês sabia que, para atingir seu objetivo - fortalecer a nação
portuguesa - tinha que recuperar a economia, por intermédio de uma concentração do poder
real e de modernizar a cultura portuguesa. Isso seria possível através do enfraquecimento do
prestígio e poder da nobreza e do clero que, tradicionalmente, limitavam o poder real.

Agora, vamos lançar nossa âncora. Vai ser uma breve pausa para refletir sobre
o nosso aprendizado.

Aula 06  Fundamentos Sócio-filosóficos da Educação 


Atividade 1
Aqui estudamos, de forma breve, uma figura política do governo português.
Para saber um pouco mais sobre esse Marquês, que se destacou no governo
português e teve forte influência na história da educação brasileira, proceda às
proposições seguintes:

Faça uma pesquisa sobre a vida e a obra desse personagem da


1 história;

Pesquise sobre o momento histórico em que viveu.


2
sua resposta

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Já que estamos sabendo um pouco mais sobre o que se passou além-mar - em terras
de Cabral - vamos entender melhor nossa história.

Icemos a âncora e vamos liberar nosso barco para navegar, rápido que se faz tarde,
afinal, Fernando Pessoa nos ensinou que...

“Navegar é preciso;
viver não é preciso”.

É navegar ... navegar, porque temos pressa, pois a história nos contempla com muitos
fatos interessantes. Vamos continuar nossa rota e saber mais sobre essa história, já que o
passado nos ajuda a entender o presente e dizer o futuro.

Lembra-se daquele Marquês, sobre quem você pesquisou?

Pois é, após a expulsão dos Jesuítas, deu início uma nova fase da educação no Brasil.
Conhecido como um homem pragmático, simpatizante das idéias Iluministas (ver aula 5),
pretendia colocar o país – Portugal – na rota do desenvolvimento.

As idéias do Marquês valorizavam a razão, a experiência, as sociedades liberais,


que influenciaram a criação de uma educação cidadã. Tem início, então, o embrião do
“ensino público” no Brasil. Uma educação mantida pelo estado e sem atrelamento a uma
ordem religiosa.

Na prática, o modelo implantado pelos jesuítas perdeu o curso de humanidades para


as aulas régias (latim, grego, filosofia e retórica), que continuaram a ter sua conclusão de
estudos na Europa, sob a influência das idéias Iluministas de Bacon, Hobbes, Descartes,
Kant, que se opunham às explicações divinas e religiosas, às superstições a aos mitos e, por
conseqüência, indo de encontro às estruturas conservadoras da poderosa Igreja Católica, às
práticas da inquisição e aos dogmas inabaláveis.

Dessa forma, os jesuítas eram um entrave, não só para os objetivos econômicos,


políticos e religiosos do Marquês, mas também representavam um obstáculo e uma fonte
de resistência às tentativas de implantação da nova filosofia iluminista que se difundia
rapidamente por toda a Europa.

Como o mar está revolto, encontramos um abrigo. Vamos


lançar nossa âncora e parar até que o mar se acalme.

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Atividade 2
Aproveite a parada para observar o quadro cronológico (leituras complementares).
O quadro revela acontecimentos desde 1760 a 1807, na História da Educação
Brasileira, História do Brasil, História Geral da Educação e História do Mundo.
O que você observa? Existe coorelação nos fatos?

Articule o que se passou na História da Educação Brasileira com os fatos que


estavam acontecendo na mesma época no mundo e escreva uma síntese
crítica e reflexiva.
sua resposta

 Aula 06  Fundamentos Sócio-filosóficos da Educação


As reformas e as conseqüências na educação...
Após aquela parada, vamos içar nossa âncora e navegar até além-mar para saber o que
ocorreu por lá e entender o que aconteceu por nossas paragens. Está pronto? Vamos, então,
até Portugal?

A partir do século XVI, a direção do ensino público português desloca-se da Universidade


de Coimbra para a Companhia de Jesus, que se responsabiliza pelo controle do ensino público
em Portugal e, posteriormente, no Brasil. Praticamente, foram dois séculos de domínio do
método educacional jesuítico, que termina no século XVIII, com a Reforma de Pombal,
quando o ensino passa a ser responsabilidade da Coroa Portuguesa.

As principais medidas implantadas pelo marquês, por intermédio do Alvará de 28 de


junho de 1759, foram:

n  total destruição da organização da educação jesuítica e sua metodologia de ensino,


tanto no Brasil quanto em Portugal;

n   instituição de aulas de gramática latina, de grego e de retórica;

n  criação do cargo de ‘diretor de estudos’ – pretendia-se que fosse um órgão administrativo

de orientação e fiscalização do ensino; introdução das aulas régias – aulas isoladas que
substituíram o curso secundário de humanidades criado pelos jesuítas; realização de
concurso para escolha de professores para ministrarem as aulas régias;

n  aprovação e instituição das aulas de comércio.

Inspirado nos ideais iluministas, Pombal empreende uma profunda reforma educacional
em Portugal e que tem suas conseqüências no Brasil. Veja algumas das medidas:

n  A metodologia eclesiástica dos jesuítas é substituída pelo pensamento pedagógico da


escola pública e laica. É o surgimento do espírito moderno, marcando o divisor das
águas entre a pedagogia jesuítica e a orientação nova dos modeladores dos estatutos
pombalinos de 1772;

n  Em lugar de um sistema único de ensino, a dualidade de escolas, umas leigas, outras
confessionais, regidas todas, porém, pelos mesmos princípios;

n  Em lugar de um ensino puramente literário, clássico, o desenvolvimento do ensino


científico, que começa a fazer lentamente seus progressos ao lado da educação
literária, preponderante em todas as escolas; em lugar da exclusividade de ensino de
latim e do português, a penetração progressiva das línguas vivas e literaturas modernas
(francesa e inglesa);

Aula 06  Fundamentos Sócio-filosóficos da Educação 


n  A ramificação de tendências que, se não chegam a determinar a ruptura de unidade
de pensamento, abrem o campo aos primeiros choques entre as idéias antigas,
corporificadas no ensino jesuítico, e a nova corrente de pensamento pedagógico,
influenciada pelas idéias dos enciclopedistas franceses, vitoriosos, depois de 1789, na
obra escolar da Revolução. (AZEVEDO, 1976, p. 56-57)

PombaI foi fortemente influenciado pelos ideais iluministas, no entanto o iluminismo


português apresenta algumas pecularidades que o diferenciam do modelo encontrado nas
demais reações européias (França, Inglaterra, Alemanha). Todavia, apesar de reconhecer
as peculiaridades presentes em cada nação, foi sempre um programa pedagógico, uma
atitude crítica preocupada com os problemas sociais e com as intenções de reformulação
das instituições e da cultura social.

Já lemos, pesquisamos, discutimos e agora vamos lançar nossa âncora para


um ócio criativo.

Atividade 3

“Pombal, o Marquês
que mandava e
desmandava” A seguir, temos o cordel “Pombal, o Marquês que mandava e desmandava”,
MEDEIROS, Walter. de Walter Medeiros. Coisa bem nossa, brasileira, nordestina. Após a leitura,
Pombal, o Marquês que façamos uma reflexão sobre sua temática. Depois,
mandava e desmandava.
Poemas de Cordel.
Natal/RN,s/d.
destaque as frases que tenham algo a ver com as informações que
Disponível em: 1 você já tem;
http://paginas.terra.
com.br/arte/cordel/
ap028MPombal.htm. tente criar um texto de cordel com tudo o que você aprendeu
Acesso em:
10 jun. 2007. 2 nesta aula.

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Pombal, o Marquês que mandava e desmandava
Poemas de Cordel
Walter Medeiros - Natal - Rio Grande do Norte

A história da humanidade No tempo em que ele viveu


Tem muito para se ver Era grande o despotismo
E agora eu vou dizer Um tempo de terrorismo
Com gosto e com verdade Sobre o povo se abateu
Para você entender Foram anos de sadismo
Os pru mode e os pru quê Parecia um grande abismo
De uma vida de vaidade Uma escuridão de breu

No campo e na Cidade O marquês era sabido


Essa história tem lugar Tudo em volta dominava
Pra gente se situar Até na escolta mandava
Tem até a majestade Pra cidadão ou bandido
Pois pode acreditar Sua fama se espalhava
Tem coisa de arrepiar E ele se credenciava
Por falta de caridade. Um déspota esclarecido.

Os fatos que vou narrar Mas não era só no reino


Têm muito tempo passado Que o Pombal influía
Não fique impressionado Ele também mandaria
Pode até se admirar Sem precisar nem de treino
Passaram-se num reinado Nas colônias portuguesas
De um país abastado
De olho em suas riquezas
De cultura milenar.
E nas especiarias.
Eu falo de Portugal Ele mandou no Brasil
Lá no século dezoito Sua palavra era forte
Onde um homem bem afoito No sul e até no norte
Que era Marquês de Pombal Seu mando repercutiu
Não gostava de biscoito Ele era mesmo de morte
Nem jogava de apoito Mudando até a sorte
De quem chegou, pois partiu.
O seu dinheiro real
 Ele era amigo do Rei Os jesuítas, coitados,
Que se chamava José Que aos índios ensinavam
Maltratava até a fé Seus idiomas usavam
E também fazia lei E foram escorraçados
Você sabe como é Onde eles trabalhavam
Ele só queria um pé Ordens de Pombal chegavam
Para confrontar um frei   E as portas se cerravam.

Com aquela amizade Muitas escolas fechadas


Virou primeiro-ministro Fizeram um tempo infeliz
E num trabalho sinistro Não tinha mais aprendiz
Mandava em toda a cidade O marquês não aceitava
Ali já tava bem visto Foi do jeito que ele quiz
Que ele mesmo sem ser Cristo Aula nem mais na matriz
Mandava mais que um abade

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O despotismo arrasava. Dona Maria Primeira
Ouviu a acusação
Neste tempo os brasileiros
E tomou satisfação
Sofreram um grande atraso
Acabou a brincadeira
E não foi pequeno o prazo
Mesmo pedindo perdão
Pois passaram-se janeiros
Recebeu condenação
O marquês fez pouco caso
Pro resto da vida inteira.
Como quem esquece um vaso
Que vale pouco dinheiro Ele perdeu seu poder
O patrimônio confiscado
Mas foi aquele marquês
Deixou de ser açoitado
Quem fez algo interessante
Foi desterrado a valer
Mesmo sendo arrogante
Pra bem longe foi mandado
Implantou o português
E nunca mais o reinado
Como idioma constante
Ele conseguiu rever
Pra o Brasil ser bem falante
Não contou nem até três. Na distância, abandonado
Com um castigo muito mal
Por outro lado Pombal
Foi o marquês de Pombal
Só pensavam em ganhar
Sofrer um tempo exilado
E tratou de organizar
Ficou ali e morreu
Algo pro seu ideal
Sem poder nem apogeu,
Passou a negociar
Deu-se assim o seu final.
Para bem mais enricar
Às custas de Portugal. Foi assim mesmo a história
Mas os revezes da vida Daquele rico marquês
Pegam também quem é ruim Eu agradeço a vocês
E com ele foi assim Que hoje me dão a glória
Acabou sua guarida De ter aqui minha vez
Quando dom José morreu Prá ler um cordel por mês
A rainha que sucedeu Sobre derrota ou vitória.
Era forte e destemida
sua resposta

10 Aula 06  Fundamentos Sócio-filosóficos da Educação


Aula 06  Fundamentos Sócio-filosóficos da Educação 11
Marquês de Pombal, ao propor as reformas educacionais, seguia os ideais iluministas
- um nova sociedade exige um novo homem que só poderá ser formado por intermédio
da educação.

Nessa perspectiva, por intermédio da aprovação de decretos que criariam várias escolas
e da reforma das já existentes, o Marquês estava preocupado, principalmente, em se utilizar
da instrução pública como instrumento ideológico e com o intuito de dominar e dirimir a
ignorância que grassava na sociedade, condição incompatível e inconciliável com as idéias
iluministas (Santos, 1982). Portanto, a partir desse momento histórico, o ensino jesuítico se
torna ineficaz para atender às exigências de uma sociedade em transformação.

A educação brasileira no período pombalino:...


Ressalta-se que, apesar das propostas formais, as reformas pombalinas nunca
conseguiram ser implantadas, o que provocou um longo período (1759 a 1808) de quase
desorganização e decadência da educação no Brasil Colônia.

Dessa forma, com a expulsão dos jesuítas, em 1759, e a transplantação da corte


portuguesa para o Brasil em 1808, abriu-se um parêntese de quase meio século, um largo
hiato que se caracteriza pela desorganização e decadência do ensino colonial.

Pombal não conseguiu, de fato, substituir a poderosa homogeneidade do sistema


jesuítico, edificado em todo o litoral latifundiário, com ramificações pelas matas e pelo
planalto, e cujos colégios e seminários formam, na Colônia, os grandes focos de irradiação
da cultura. Insatisfeito com os próprios resultados, o marquês atribuiu à Companhia de
Jesus todos os males da educação, seja na metrópole ou colônia (AZEVEDO, 1976).

Assim, ao chegarmos ao porto, convém destacar que vivenciamos juntos, nesta aula,
a luta entre o velho e o novo modelo, dentro de uma análise histórica. O novo, presente na
sociedade, está inspirado nos ideais iluministas, e é dentro desse contexto que Pombal,
na sua condição de ministro, buscou empreender uma profunda reforma educacional em
Portugal e nas colônias portuguesas.

Nos propósitos transformadores, estavam previstas algumas mudanças, a saber:

n  A metodologia eclesiástica dos jesuítas seria substituída pelo pensamento pedagógico
da escola pública e laica;

n  Criação de cargos como de diretor de estudos, visando à orientação e


fiscalização do ensino;

n  Introdução de aulas régias, isto é, aulas isoladas, visando substituir o curso de


humanidades criado pelos jesuítas.

Sempre seguindo os ideais iluministas, todas essas propostas foram frutos das
condições sociais da época, a partir das quais, ofereciam-se condições de acompanhar as
transformações de seu tempo.

12 Aula 06  Fundamentos Sócio-filosóficos da Educação


No Brasil, entretanto, as conseqüências do desmantelamento da organização educacional
jesuítica e a não-implantação de um novo projeto educacional foram graves, pois, somente
em 1776, dezessete anos após a expulsão dos jesuítas, é que se instituíram escolas com
cursos graduados e sistematizados.

Assistimos juntos a um desmantelamento de uma proposta consolidada e com


resultados, ainda que discutíveis e contestáveis, e não, à implementação de uma reforma
que garantisse um novo sistema educacional.

Enquanto educadores e pesquisadores, cabe-nos a crítica que se pode formular


nesse sentido e que vale para os dias em que vivemos que a destruição de uma proposta
educacional em favor de outra, sem que essa tenha condições de realizar a sua consolidação,
leva a resultados desastrosos.

Leituras complementares
O quadro nos oferece a síntese dos principais acontecimentos desde 1760 a 1807,
na História da Educação Brasileira, História do Brasil, História Geral da Educação e
História do Mundo.

Cronologia
HISTÓRIA HISTÓRIA HISTÓRIA HISTÓRIA
ANO DA EDUCAÇÃO DO GERAL DO
BRASILEIRA BRASIL DA EDUCAÇÃO MUNDO
  •  Em Portugal, Marquês  
de Pombal implementa
uma educação que
priorize a educação do
· Entre março e abril, 119 indivíduo em consonância
jesuítas saem do Rio de com o estado.
1760
Janeiro, 117 da Bahia,e
119 de Recife. •  São criados em Portugal
os cargos de mestres em
Literatura Latina, Retórica,
Gramática Grega e Língua
Hebraica.
    •  É criado em Portugal  
o Colégio dos Nobres,
1761 dentro do novo espírito
educacional, distante do
modelo dos Jesuítas.
    •  Jean·Jacques Rousseau  
1762 escreve Emílio e Contrato
Social.
  •  Mudança da    
capital do Vice-
1763 Reino de Salvador
para o Rio de
Janeiro.

Aula 06  Fundamentos Sócio-filosóficos da Educação 13


    •  Jean·Jacques Rousseau  
1764 escreve Devaneios de um
Passeante e Confissões.
      •  O inglês James Watt
aperfeiçoa o motor a vapor que
1765 se tornou marco da Revolução
Industrial.

    •  A Espanha expulsa  
os jesuítas e fecha seus
colégios.

•  Carlos III lança uma


1767 Ordenança Real obrigando
todo município espanhol
a ter uma escola de
primeiras letras, com
freqüência obrigatória.

    •  Carlos III dispõe que  


deveriam ser fundadas
escolas para meninas,
1768 dando preferência para
filhas de lavradores e
artesãos.

•  A Reforma Pombalina    
de Educação substitui
•  L’Abbé de L’Epée funda
o sistema jesuítico e o
em Paris a primeira
1770 ensino é dirigido pelos
instituição específica para
vice·reis nomeados por
a educação dos surdos.
Portugal.

•  É instituído o “subsídio    
literário”, imposto
destinado a manutenção •  É publicada uma Lei
dos ensinos primário e que define o modelo e as
1772 médio. linhas gerais do ensino
•  É fundada, no Rio de português.
Janeiro, a Academia
Científica.

    •  Basedow funda em  
Dessau o Instituto
Filantropinum e tem
início o movimento
1774 pedagógico conhecido
como filatropismo (philos,
“amigo”; anthropos,
“homem”).

 
•  É criado no Rio de
Janeiro, pelos padres
•  L’Abbé de L’Epée publica
Franciscanos, um curso •  Os Estados Unidos
1776 A Verdadeira Maneira de
de estudos literários e proclamam sua independência.
Instruir os Surdos.
teológicos, destinado à
formação de sacerdotes.

      •  D. Maria I, mãe de D. João,


assume o trono de Portugal.
1777
•  Marquês de Pombal perde
todos os poderes.

14 Aula 06  Fundamentos Sócio-filosóficos da Educação


    •  Morre Jean·Jacques  
1778
Rousseau.
    •  É criada a Universidade  
1782
de Havana.
•  É criado no Rio de      
1784 Janeiro o Gabinete de
História Natural.
  •  Tiradentes e   •  A Queda da Bastilha é
1789 a Inconfidência o marco da Revolução
Mineira. Francesa.
    •  É criada a Universidade  
1791
Quito.
    •  É criada em Santiago do  
Chile a Academia de São
1797
Luiz, pelo mestre Dom
Manuel de Salas.
    •  Napoleão Bonaparte dá o
Golpe do Dezoito Brumário, e
assume o poder na França
•  É criada em Buenos
1799 Aires a Escola Náutica, por •  Problemas menatis
Manuel Belgrano. afastam a Rainha, D. Maria
I, assumindo o governo o
Príncipe-Regente D. João.

HISTÓRIA DA HISTÓRIA DO HISTÓRIA GERAL DA


ANO HISTÓRIA DO MUNDO
EDUCAÇÃO BRASILEIRA BRASIL EDUCAÇÃO

•  O bispo Azeredo      
1800 Coutinho funda o
Seminário de Olinda.
   
•  D. Azeredo Coutinho
funda em Pernambuco o
•  O educador suíço Felipe
Recolhimento de Nossa
Manuel Fallenberg, funda
1802 Senhora da Glória, só
a Escola Prática de
para meninas da nascente
Agricultura.
nobreza e fidalguia
brasileira.

   
•  D. Maria I, Rainha de
Portugal, seu filho, o
Príncipe- Regente D. João,
sua nora, a Princesa carlota
Joaquina, toda família real
e cerca de 15 mil pessoas
iniciam a viagem para a
colônia brasileira.
•  O educador suíço Felipe
Manuel Fallenberg, funda •  Antes mesmo das
1807
o Instituto Agronômico naus portuguesas terem
Superior. desaparecido no horizante, as
tropas francesas, comandadas
pelo general Junot, ocupam
Lisboa.

•  D. João deixa instruções


para que as tropas francesas
sejam bem recebidas em
Portugal.

Fonte: História da Educação no Brasil Período Pombalino - (1760 - 1808). Disponível em: http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/heb03.htm. Acesso em: 24 abr. 2007.

Aula 06  Fundamentos Sócio-filosóficos da Educação 15


Resumo
O QUE TROUXEMOS DESSE TRECHO DE NOSSA VIAGEM

Chegamos ao porto seguro, à terra firme, através de vários recursos didáticos,


que nos levaram a identificar quem foi o Marquês de Pombal e o que ele tem
a ver com a educação brasileira. Em seguida, tivemos a oportunidade de
entender o processo da Reforma Pombalina, contextualizando-a no tempo e no
espaço, e de identificar as conseqüências que trouxe para a educação brasileira.
Concluímos que a destruição de uma proposta educacional em favor de outra,
sem que sua consolidação seja realizada, pode causar transtornos desastrosos
ao processo de ensino e aprendizagem.

Auto-avaliação
Essa é a hora da síntese refletida, da construção do seu DIÁRIO DE BORDO.
Escreva em uma folha de papel palavras e idéias que você considera diretamente
associadas às reformas pombalinas. Em seguida, escolha um tema que associe
essas reformas à educação brasileira. Agora, de forma criativa, disserte sobre
seu tema, refletindo criticamente acerca dessa influência incorporando aspectos
da educação em sua cidade.

16 Aula 06  Fundamentos Sócio-filosóficos da Educação


Referências
AZEVEDO, F. de. A transmissão da cultura: parte 3. São Paulo: Melhoramentos/INL, 1976.

CAPRA, F. A teia da vida. São Paulo: Cultrix, 1996.

HARNECKER, M. Para compreender a sociedade. Traduzido por Emir Sader 1 ed, São Paulo:
Brasiliense, 1990.

HOBSBAWN, E. A era dos extremos. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.

PILETTI, N. História da Educação no Brasil. 6. ed. São Paulo: Ática, 1996.

ROMANELLI, O. História da Educação no Brasil. Petrópolis: Vozes, 2003.

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Anotações

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Anotações

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Anotações

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SEB/SEED

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