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60 Anos Da Bossa Nova
60 Anos Da Bossa Nova
comece
Final dos anos 1950, zona sul do Rio de Janeiro. Um ritmo musical se esparrama pelos tapetes dos
apartamentos e auditórios de universidades da cidade, para então, no início da década de 1960, ganhar o
Brasil e o mundo. Símbolo de modernidade e trilha sonora da boemia daquela época, a bossa nova
completa 60 anos em 2018.
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A primeira aparição do novo ritmo musical aconteceu no disco Canção do Amor Demais, onde a cantora
Elizeth Cardoso interpreta composições da dupla Tom Jobim e Vinicius de Moraes. A bossa nova
desponta especi camente em duas faixas, com acompanhamento ao violão feito pelo baiano João
Gilberto, que traz pela primeira vez a batida do violão que se tornaria característica do estilo. “É clássico e
de nitivo momento de parto [da bossa nova]”, considera o crítico e historiador Ricardo Cravo Albin.
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Capítulos
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Linha do00:00
tempo
O catálogo do selo tradicionalmente reunia discos em que poetas e cronistas liam suas obras. Com
Vinicius de Moraes, no entanto, foi diferente: em vez da leitura de poemas, Irineu sugeriu produzir um
álbum com as composições ainda pouco conhecidas que ele havia feito, em parceria com Jobim, para a
peça Orfeu da Conceição.
Tom Jobim já tinha feito arranjos para o primeiro disco de Elizeth Cardoso Canções à meia luz, gravado
em 1955 e Vinicius se encantou com a voz da Divina, apelido cunhado por ele ao ouvir Canção de Amor na
voz da cantora, nas proximidades do Porto de Santos, quando voltava ao Brasil depois de anos
trabalhando como diplomata em Paris. Ligada ao samba-canção, gênero musical que predominava até
então no Brasil, Elizeth aprendeu as canções da dupla no apartamento da Rua Nascimento Silva 107, em
Ipanema, onde Tom Jobim morou entre 1953 e 1962.
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“
Capítulos Linha do tempo
Apesar de reconhecida como a
maior cantora brasileira de
sua época, o que pesou em sua
escolha por Tom e Vinicius,
Elizeth jamais foi uma
recordista em vendagem de
discos. Contudo suas
gravações alcançavam uma
permanência só comparável a
poucas cantoras brasileiras,
como é o caso desse LP
lançado pela gravadora Festa,
especializada em discos de
”
poesia e cuidadosamente
dirigida por Irineu Garcia
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A participação de João Gilberto estava prevista em cinco faixas, mas se concretizou em apenas duas:
Outra Vez, composição de Tom que já havia sido gravada em 1954, e Chega de Saudade, parceria dele
com Vinicius feita em 1956, que permanecia inédita até então.
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“
Capítulos Linha do tempo
Outra vez, mais do que Chega
de Saudade, está, em Canção
do amor demais, bem próxima
do estado de espírito bossa-
nova [...]. Quanto a Chega de
Saudade, seu registro é um
laboratório do que seria a
”
famosa gravação de João, dali
a seis meses
“
A música Outra Vez é anterior
à bossa nova. O João colocou
o ritmo de bossa nova e
seguiu com a orquestra. Eu
tinha gravado com o Dick
Farney, era um samba-canção
[...] gravada pelo João, a
música ficou com uns espaços,
enquanto o ritmo vai correndo
”
solto, e as frases melódicas
aparecem de vez em quando
Chega de Saudade
Tom Jobim fez a parte musical de Chega de Saudade quando estava no sítio de sua família em Petrópolis.
Assim que voltou para o Rio de Janeiro mostrou a canção para Vinicius, que estava de malas prontas para
reassumir seu posto de diplomata em Paris, mas adiou a viagem em alguns dias para terminar a letra da
canção.
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“
O Vinicius fez a letra de
Chega de Saudade do meu lado.
Ele não gostava de trabalhar
”
sozinho. Preferia trabalhar
ao lado do piano
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“
Conheci o Vinicius mais ou
menos em 1953, mais de obas e
olás. Em novembro de 1956,
começamos a parceria. A
verdadeira apresentação ao
Vinicius foi feita pelo Lúcio
Rangel. Foi aí que começamos
”
o trabalho no Orfeu da
Conceição
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Jobim estava com 29 anos e trabalhava como pianista no Bar Azul, em Copacabana. Vinicius apresentou
ao músico o projeto de sua peça Orfeu da Conceição e o convidou para musicá-la. Em entrevista para o
programa Ensaio da TV Cultura, resgatado para o especial sobre o poeta feito pelo Caminhos da
Reportagem da TV Brasil, Vinicius lembra desse encontro:
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“
A parceria com Antonio Carlos
Jobim, iniciada sob a
gerência espiritual de Orfeu,
serve de marca definitiva
para uma virada na carreira
do poeta. O inspirado Tom
desloca a atenção de Vinícius
do silêncio e da atmosfera
reservada própria à poesia e
a dirige para o ambiente mais
”
amplo e arejado da música
popular
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“
Depois que encontrei o
Vinícius e fiz o Orfeu da
Conceição, percebi que
poderia ser um bom músico.
Antes, na adolescência, eu
subia o morro do Cantagalo e
ia lá pra cima olhar o mar.
”
Pensava na música, pensava em
ser músico”.
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“
Capítulos Linha do tempo
No início de 1955 João
Gilberto havia chegado ao seu
fundo do poço no Rio. Estava
sem dinheiro, sem trabalho e
quase sem amigos. O orgulho
flechado por todos os lados
”
fizera sua autoestima
despencar a zero
Após passar dois anos em diferentes cidades (Porto Alegre, Diamantina, Juazeiro e Salvador), João
Gilberto retorna ao Rio em 1957, então com 26 anos, e traz na bagagem os elementos fundamentais para
a consolidação da bossa nova: a batida do violão e a forma de cantar.
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“
Capítulos Linha do tempo
As saudades da minha família
eram grandes. Procurei minha
irmã, que se casara e residia
numa cidade mineira. E daí
fui rever os meus pais, de
quem eu estava afastado havia
seis anos[...] Meus planos
eram recuperar-me dos
insucessos. Quando vim
novamente para o Rio, estava
apto para lutar em situação
de igualdade com muita gente.
”
O sofrimento havia-me dado a
necessária experiência
Se Tom e Vinicius já haviam estabelecido a parceria de letra e música que serviu de base para o gênero
musical, o elemento detonador desse processo foi o reencontro de Tom Jobim e João Gilberto, que já se
conheciam anteriormente das madrugadas nas boates cariocas.
Estimulado por Chico Pereira, fotógrafo da gravadora Odeon, onde Jobim exercia a função de diretor
artístico, João procurou o maestro no seu apartamento em Ipanema e apresentou a ele duas
composições próprias: Bim-bom e Hô-ba-la-lá.
Tom se impressionou com a batida do violão do músico baiano e pensou nas composições em que
estava trabalhando. Escolheu Chega de Saudade, parceria com Vinicius feita após a temporada de Orfeu
da Conceição, que permanecia guardada.
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Ao acompanhar Elizeth Cardoso, João Gilberto inova na forma de cadenciar o ritmo, acentuando os
tempos fracos, de forma a realizar uma síntese da batida do samba ao violão.
“
A síntese realizada pelo
violão de João Gilberto é uma
redução da batucada do samba.
Uma estilização produzida a
partir de um dos instrumentos
”
de percussão (o tamborim) em
detrimento dos demais
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“
A maneira como ele trabalha o
samba faz com que a música
dele acabe sendo samba e não
sendo ao mesmo tempo. Eu
cheguei a essa conclusão
”
analisando o ritmo, a batida
do João Gilberto ao violão
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“
João parte do samba para
retornar a ele: então, o que
ele faz é samba; e não é:
pois sua batida não permanece
no samba, ela vai e volta
impulsionada por aquilo que o
baiano acrescenta, aquilo que
se convencionou chamar de
”
bossa e que, formalmente são
os procedimentos jazzistas
Meses depois de Canção do Amor Demais chegar às lojas, João Gilberto conclui a gravação de seu
próprio disco 78 rotações, contendo de um lado a canção Chega de Saudade e de outro Bim Bom,
composição própria.
Tom Jobim já havia apresentado para Aloysio de Oliveira, que assumiria como diretor-geral da Odeon, um
acetato com João Gilberto cantando e tocando Chega de Saudade apenas em voz e violão. Oliveira não se
impressionou com o que ouviu, mas foi convencido depois por André Midani e Dorival Caymmi, que se
juntaram a Tom para convencê-lo.
Jobim simpli cou o arranjo que havia feito para o disco de Elizeth para Chega de Saudade e também para
Bim Bom, que seria gravada pela primeira vez.
“
O samba sempre teve muito
acompanhamento, muita
batucada - às vezes sofria de
excesso de acompanhamento,
inclusive. Você tocando tudo
ao mesmo tempo [...] não
deixa os espaços. Você acaba
criando uma zoeira que mais
parece um mar de ressaca. O
que nós fizemos ali com o
João foi tirar as coisas,
”
criar espaço, dissecar,
despojar, economizar
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Nesse trabalho autoral, onde de nitivamente se consolidou o que seria chamado de bossa nova, aparece
outra faceta de João Gilberto: a forma de cantar o samba. Para Walter Garcia, dizer que João Gilberto
canta “baixinho”, ou que seu canto se aproxima do modo de falar, é contemplar apenas uma parte desse
processo.
“Existe também uma percussividade na forma de cantar de João Gilberto e alguns pesquisadores apontam
que seu canto se aproxima da sonoridade de um instrumento de cordas e da articulação de um saxofone”,
acrescenta.
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Ruy Castro levanta uma possível in uência na forma de cantar de João Gilberto: a cantora Sylvia Telles,
que já havia gravado a canção Foi a Noite, de Tom Jobim, em um disco gravado em 1956 - antes do
retorno de João Gilberto ao Rio de Janeiro.
“
Lembre-se que os dois foram
namorados em 1952, quando
João ainda usava amídalas à
Orlando Silva e a acompanhava
todo dia ao violão. Não se
pode ter certeza de como ela
cantava naquele tempo, mas,
desde os seus primeiros 78s a
partir de Foi a Noite em 1956
Sylvinha já era a mesma
cantora que em 1959 gravaria
Amor de gente moça. Ela não
”
havia mudado; João Gilberto,
sim.
Em uma rara entrevista, concedida a Tárik de Souza e publicada na revista Veja em 12/05/1970, João
Gilberto comentou sobre sua forma de cantar: capa
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“Uma das músicas que despertaram, que me mostraram que podia tentar
uma coisa diferente foi Rosa Morena, do Caymmi. Sentia que aquele
prolongamento de som que os cantores davam prejudicava o balanço
natural da música. Encurtando o som das frases, a letra cabia certa
dentro dos compassos e ficava flutuando. Eu podia mexer com toda a
estrutura da música, sem precisar alterar nada. Outra coisa com que eu
não concordava era as mudanças que os cantores faziam em algumas
palavras, fazendo o acento do ritmo cair em cima delas para criar um
balanço maior. Eu acho que as palavras deveriam ser pronunciadas da
forma mais natural possível, como se estivesse conversando. Qualquer
mudança acaba alterando o que o letrista quis dizer com seus versos.
Outra vantagem dessa preocupação é que, às vezes, você pode adiantar
um pouco a frase e fazer às vezes com que caibam duas ou mais num
compasso fixo. Com isso, pode-se criar uma rima de ritmo. Uma frase
musical rima com a outra sem que a música seja artificialmente
alterada”
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A forma inovadora de tocar e cantar o samba, unida às harmonias de Tom Jobim e à guinada do poeta e
diplomata Vinicius de Moraes como letrista de música popular, encontrou ressonância imediata entre os
músicos que buscavam na noite carioca novas abordagens para o samba. Muitos deles eram
in uenciados pelo jazz norte-americano.
Transição
“A música brasileira de onde eu vim é a música do perdedor, perdedor nato [...]. A coisa da bossa nova, a
coisa do Vinicius, ele começa a dizer uma porção de coisas a rmativas, ele fala ‘eu sei que vou te amar’, ele
fala um troço positivo”, a rmou Tom Jobim em uma entrevista recuperada pela Rádio Nacional. Ouça o
trecho da entrevista:
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A bossa nova surgiu no momento em que o samba-canção era o gênero musical que dominava o
mercado fonográ co brasileiro. Ricardo Cravo Albin considera que Chega de Saudade, gravada por João
Gilberto, foi a manifestação concreta do movimento e um grito ao samba-canção.
“O samba-canção não era se não um samba lento, muitas vezes com um cheiro de bolero, que foi o
grande momento da venda de discos nos anos 1950. Era o samba-fossa, o samba dor de cotovelo”,
aponta o crítico e historiador.
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Chega de Saudade, como diria
pitorescamente o maestro
Rogério Duprat, fora ‘uma
pernada na era boleral’.
Aquele novo jeito de cantar e
tocar de João Gilberto
ensolarava tudo - muito mais
do que ‘Copacabana’, com Dick
”
Farney, tinha feito 12 anos
antes
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“O samba-canção vinha dando ares de modernidade à Música Popular Brasileira, devido a compositores que
deram à música melodias e harmonias muito mais avançadas do que as que havia até então”, considera.
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Aproveitando os avanços musicais, a bossa nova se consolidou com a nova forma de ritmar o samba, e a
batida de violão de João Gilberto representou o ápice desse processo de modernização. “A bossa nova
também é um samba, não nos esqueçamos disso, só que um samba criado ou recriado pela batida de João
Gilberto”, pontua Cravo Albin.
“
O grande salto do samba-
canção para bossa nova foi
essa batida do João. Essa
batida do João está
incorporada. O universo todo
conhece. Eu tinha uma série
de sambas-canção de parceria
com Newton Mendonça mas a
chegada do João abriu novas
perspectivas: o ritmo que o
João trouxe. A parte
instrumental - harmônica e
”
melódica - essa já estava
mais ou menos estabelecida
No livro Verdade Tropical, Caetano Veloso exempli ca a transição do samba-canção para a bossa nova ao
comparar duas gravações da música Caminhos Cruzados, composição de Tom Jobim: a versão de
Maysa, gravada como samba-canção, e a de João Gilberto, como bossa nova. Ele conclui que a segunda
revela “o samba-samba que estava escondido num samba-canção”.
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Capítulos Linha do tempo
A interpretação de João é
mais introspectiva que a de
Maysa, e também violentamente
menos dramática; mas, se na
gravação dela os elementos
essenciais do ritmo original
do samba foram lançados ao
esquecimento quase total pela
concepção do arranjo e,
sobretudo, pelas inflexões do
fraseado, na dele chega-se a
ouvir - com o ouvido interior
- o surdão de um bloco de rua
batendo com descansada
regularidade de ponta a ponta
da canção. É uma aula de como
o samba pode estar inteiro
mesmo nas suas formas mais
aparentemente
descaracterizadas; um modo
de, radicalizando o
refinamento, reencontrar a
mão do primeiro preto batendo
”
no couro do primeiro atabaque
no nascedouro do samba.
A bossa nova chega à terceira idade com seu principal ícone fora de
atividade há dez anos: a última vez que João Gilberto pisou em um
palco foi em 2008, por ocasião das comemorações dos 50 anos desse
gênero musical. Em São Paulo, os shows aconteceram no auditório do
Ibirapuera e o apresentador foi o crítico musical e amigo pessoal de
João, Zuza Homem de Mello.
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Foi a última vez que ele esteve na presença do músico e lamenta sua
ausência dos palcos no momento em que o movimento musical alavancado
por ele chega aos 60 anos.
“É uma grande pena a gente não ter mais o João Gilberto podendo cantar
e tocar em público. Certamente ele deve estar cantando e tocando no
apartamento onde vive”, reflete.
João Gilberto foi visto cantando e tocando violão pela última vez em
2015: ele aparece em vídeos postados na rede social Facebook por
Claudia Faissol, mãe de Luisa, filha caçula do cantor. João estava de
pijama, tocava e cantava Garota de Ipanema ao lado da filha.
Pesquisador da obra de João Gilberto, Walter Garcia sintetizou a complexidade do trabalho do músico
baiano como uma “contradição sem con itos”.
“O difícil do João Gilberto é que a obra dele está sempre equilibrando contrastes e antagonismos, embora
na aparência seja uma obra que não tem contradição nenhuma. Ela é toda atravessada de contradições
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mas elas são apresentadas como se não houvesse o con ito”, explica em entrevista à Portal EBC.
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“Ela é colocada numa espécie de pedestal e aí ca difícil você escutar a obra e compreender exatamente o
que ela está tentando transmitir, o que está tentando expressar”, ressalta.
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Para Zuza Homem de Melo, o aspecto mais difícil para a compreensão da obra de João Gilberto é a
necessidade de uma audição muito concentrada em duas sonoridades diferentes, voz e violão, que se
complementam.
“Uma audição do João Gilberto não é uma audição de um cantor se acompanhando ao violão. Ouvir o João
Gilberto é uma audição de voz e violão ao mesmo tempo, é diferente, as pessoas precisam se exercitar para
ouvir as duas coisas ao mesmo tempo”, a rma.
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“
A grande contribuição rítmica
da bossa nova é que quando o
João cantava, havia um jogo
rítmico entre o violão, a voz
e a bateria [...]No Bim Bom
por exemplo, você vê a
dissociação entre o que ele
faz no violão e o que ele
canta, gerando essa terceira
”
coisa que eu acho
importantíssima
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“Como um coronel que ao dar ordens não grita, ele fala cada vez mais baixo, mas ao falar cada vez mais
baixo impõe que a pessoa silencie e que no limite ela não se mova. Isso eu observei em vários shows do
João Gilberto”, aponta.
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“Eu sentia que o que eu fazia era uma coisa muito mais ligada à morte
do que à vida e resolvi quebrar com as amarras a certas idéias
abstratas de cultura, de nacionalidade e de pureza, entende? Para capa
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“Não foi à toda que eles retomavam como mestre João Gilberto. Eles
impediram que se enterrasse o João Gilberto prematuramente”, afirmou
Décio Pignatari em relação ao movimento tropicalista, em entrevista
para a Rádio Cultura de São Paulo em maio de 1968.
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“Qualquer pessoa hoje sabe o que é bossa nova, porque ela realmente
criou um padrão musical, tem uma forma musical definida. Ela ficou
característica e até hoje está por aí. Não vou dizer que ela faz
sucesso, mas ela existe, está na corrente sanguínea da música
brasileira”, afirmou em entrevista para a Portal EBC.
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Gravadora Elenco
Como diretor artístico da Odeon, Aloysio de Oliveira foi o responsável pela gravação, em 1958, dos dois
primeiros discos 78 rpm de João Gilberto, além dos primeiros LPs do músico baiano: Chega de Saudade
(1959) e O amor, o sorriso e a or (1960). Ele deixou a Odeon depois que a gravadora demitiu Sylvia Telles
e Lúcio Alves, artistas que tinham sido contratados a seu pedido. Levou ambos para a gravadora Philips,
mas ali permaneceu por apenas um ano.
Depois de passar o ano de 1962 produzindo shows na casa Au Bon Gourmet, fundou sua própria
gravadora: Elenco.
Durante os três anos de atividade com Aloysio no comando (1963-1966), a Elenco lançou mais de 60 LPs
de músicos ligados à bossa nova. Além do time de músicos que integrava, a gravadora cou conhecida
também pela identidade visual de suas capas, que caram a cargo do fotógrafo Chico Pereira e do diretor
de arte César Villela.
“O Aloysio de Oliveira tem um papel fundamental [para a bossa nova] e ele criou a gravadora Elenco
justamente pra essas pessoas que estavam meio fora do sistema que as gravadoras queriam”, pontua
Tárik de Souza.
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João Gilberto retorna ao Rio de Janeiro
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17/05/2018 60 anos da Bossa Nova
Foto: Reprodução
1963
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17/05/2018 60 anos da Bossa Nova
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1964
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17/05/2018 60 anos da Bossa Nova
Expediente
Reportagem e produção:
Leandro Melito
Edição:
Ana Elisa Santana e Nathália Mendes
Design e implementação:
Daniel Dresch
Os áudios disponibilizados na linha do tempo são programetes produzidos e cedidos pela rádio MEC, do Rio de Janeiro
Locução:
Raquel Ricardo
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