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AOS TREZE
Introdução: Aos Treze é um filme com temática jovem que fez sua estreia em
2003 em Nova Iorque. O filme foi produzido de forma independente, mas devido ao
sucesso em seu recebimento pelo público a obra foi aos cinemas. Indicado ao Oscar na
categoria de Melhor Atriz Coadjuvante e ao Globo de Ouro nas categorias de Melhor
Atriz em filme dramático e Melhor Atriz Coadjuvante em Cinema, entre outras
premiações, a obra faz sua marca como um dos melhores filmes Coming of Age (categoria
de filmes sobre amadurecimento, transição entre a adolescência e a vida adulta).
A história é inspirada parcialmente na vida de uma das roteiristas e atriz no filme.
Nikki Read tinha apenas seus treze anos durante a escrita do roteiro e após estar saindo
de um período conturbado em sua vida, a artista junto a Catherine Hardwicke tomaram a
decisão de transformar essa vivência em um filme. Nikki atua como Evie Zamora na obra
e devido sua relação próxima na concepção e produção o filme se tornou mais próximo
do público jovem e realista sobre como pode se da essa relação dos jovens de classe baixa
e vida em casa conturbada com drogas, sexo e criminalidade, de um ponto de vista
feminino.
Catherine também relacionou sua vivência no desenvolvimento da obra, a diretora
e roteirista agiu como uma figura materna na mãe de Nikki durante o período difícil de
sua vida, seu envolvimento torna a personagem da mãe da protagonista, Melanie
Freeland, também próxima de uma audiência de país que tem medo dos filhos seguirem
ao caminho que o filme retrata ou já passaram por uma situação parecida.
O toque pessoal na produção do filme se conecta também com a produção de arte
com Catherine participando da equipe responsável por pensar as cores, cenário e figurino.
A escolha da paleta de cores é utilizada para transmitir a essência dos personagens para
além do que o tempo de tela possibilita. O cenário funciona como ferramenta de
apresentar o público a um ambiente que é próximo deles, uma casa nos subúrbios perto
de Los Angeles que é repleta objetos contando a história daquela família, assim como
retratando a dificuldade deles com o dinheiro. Já o figurino mostra a transição desse
ambiente familiar a um caos pela mudança na índole da principal junto ao seu estilo, se
utilizando de símbolos da moda da época que a audiência já interliga a uma série de
comportamento, tornando essa identificação mais fácil.
O uso das cores no filme: A obra adota o uso de cores para diferentes significados
nos mesmos usos. Os tons azulados são ligados a Tracy, não apenas sendo a cor utilizada
para a identificar nas cenas, como também indicador da tristeza que a jovem carrega
consigo. O filme em seu início faz referências a mãe de Tracy, Melanie, ter sido uma
dependente química em processo de reabilitação, assim como expõe o relacionamento
amoroso instável da mãe afetando sua saúde mental e as condições financeiras da família
aumentando a carga emocional na protagonista, como também sendo um fator crucial
para muitas de suas necessidades passarem despercebida pela mãe que foca em conseguir
dinheiro para a família, apesar da sua dificuldade em se afirmar aos seus clientes em sua
vida profissional, os deixando fazer o que quiserem.
O azul também simboliza a juventude de Tracy, sua essência em ainda ser uma
criança de treze anos, apesar de exposta a situações que não são apropriadas a sua idade
e impedem que a jovem cresça em um ambiente familiar saudável. É utilizado na linha
de tempo do começo do filme e predomina novamente em seu final, levando até a cena
que Tracy chora descontroladamente nos braços de Melanie que a abraça e beija,
relembrando o público através da atuação e paleta de cores apresentada que a protagonista
continua sendo apenas uma criança.
O filme tem uma paleta de cores simples, apesar das diversas interpretações
possíveis, consistindo apenas de duas cores contrastantes e uma meio termo. Do azul ao
amarelo alaranjado, até um verde e de volta ao azul.
Evie Zamora marca sua presença na tela com a predominância de cores quente
assim que se insere na narrativa da principal. A escolha por uma cor contrastante aumenta
o simbolismo na transição da Tracy como uma filha exemplar a uma adolescente
problemática, esteriotipo de qualquer modelo de criança que os pais não queriam na
época, as cores contrastantes despertam um outro lado da protagonista, podendo até ser
entendido como ela saindo de sua índole.
Outro papel da coloração quente são os sentimentos subentendidos no filme de
uma afetividade homossexual da principal pela amiga, a temática é explorada na obra
desde o começo quando a protagonista só se importa com a aprovação de Evie, se
aproximando de forma extremamente rápida e intensa a ela assim que conquista sua
atenção, chegando a dormir com ela toda noite e tendo cenas como Evie confessando a
amar enquanto ela dorme e momentos de beijo, até momentos que as duas parecem
indiretamente citar casamento. De forma direita ou não, tons quentes são por diversas
vezes utilizados na mídia com a função de informar uma afinidade romântica entre
personagens e em Aos Treze não foi diferente.
Para além dessas colocações, a paleta de cores interligada a Evie também expressa
a euforia que a personagem proporciona a Tracy, operando como sua escapatória dos tons
de azul que a jovens tem em sua vida, esses que retornam na ausência da amiga,
confirmando essa mensagem a audiência.
Seguindo essa linha de raciocínio, a variação de cores até o esverdeado faz sentido
até nas diversas nuances do mesmo filme. Sobre a influência da amiga na vida de Tracy,
ela começa a perceber que se encontra cada vez mais em situações que a fazem remeter a
um modelo de pensamento ruim, semelhante ao que ela formulou por causa da família,
Evie não é mais suficiente para a distrair dessa realidade e agora, na verdade, piora a
situação.
Já em outro ponto de vista, a transição do filme a tons esverdeados também remete
a Tracy está retornando a sua infância ou querendo escapar novamente, já que começa a
perceber que Evie se tornou um pouco demais para lidar e as coisas começam a escalar
para níveis piores e piores no filme até ela realmente regredir a uma versão mais infantil,
uma filha que precisa da proteção de sua mãe.
Apesar das três cores serem as principais representantes da obra, elas não são as
únicas, o filme também apresenta tons avermelhados puxados ao vinho como um
indicativo de sexualidade das meninas, tanto sobre a hiper sexualização que as jovens se
submetem, tanto pelo sentimento subliminar de atração entre elas. Uma demonstração
mais clara dessa escolha na direção de arte é uma iluminação e tratamento de imagem um
pouco mais avermelhado na cena do beijo das garotas.
Por fim, no retorno ao azul do filme aparece com ainda mais força na tela, com
Tracy voltando a ter suas vestimentas em sua maioria com cores frias similares, como no
começo do filme, não só mostrando que voltou a aquele estado de tristeza inicial, mas
como agora se agravou e tudo que ela internalizava no começo da trama agora é exposto
a todos.