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Em 1984, foi lançado do CLBI o primeiro fogue- VLS: DESAFIO A ESPERA

te nacional dotado de um sistema de controle de


atitude em voo, o Sonda IV, que representou outro
DE UM DESENLACE
grande salto em relação aos modelos anteriores. Do espaço tem-se uma visão ampla e privilegiada
Como último da linhagem, incorporou conceitos da Terra, permitindo o monitoramento de grandes
mais avançados, novas tecnologias de materiais e áreas, notadamente quando se trata de países ex-
construtivas. Dotado de dois estágios de propelente tensos como o Brasil que tem hoje um programa re-
sólido, a lista de inovações dele advindas é extensa, lativamente desenvolvido de satélites, em particular
destacando-se o controle do empuxo vetorial, siste- de observação, com a série CBERS (ver reportagem
mas de pilotagem para controle de atitude, disparo nesta edição), mas ainda lhe falta capacidade de
a partir de uma mesa de lançamento - diferente- acesso autônomo ao espaço. Atualmente, cerca de
mente de seus antecessores, que decolavam com 10 países detém tal capacidade, grupo liderado por
o auxílio de uma rampa universal com trilhos, e o Estados Unidos, Rússia e França, e que inclui ainda
desenvolvimento da primeira torre de integração. Japão, China, Índia, Israel e Itália, entre outros.
Por ter um propulsor de porte avantajado, obri- Os primeiros passos da longa e desa¿adora
gou à pesquisa de um novo tipo de aço, da classe caminhada foram dados logo após a constituição
carbono-cromo-níquel-molibdênio, com alto teor de da MECB. Identi¿cado como VLS-1, de¿niu-se que
silício, com tratamento para resistência de 200 kgf/ o veículo deveria ter capacidade para colocar sa-
mm2. Adicionalmente, o novo propulsor, com um télites de 100 a 350 kg em órbitas de 200 a 1.000
metro de diâmetro (propulsores do futuro VLS- 1) km de altitude. É relevante lembrar que satélites
exigiu a implantação de um complexo, hoje denomi- ou qualquer outra carga útil precisa ser acelerada
nado Usina Coronel Abner, onde, além de produzir até 27.000 km/h para entrar em órbita, sendo que,
propelente sólido com tecnologia totalmente brasi- para, por exemplo, colocar um satélite de 200 kg
leira, é também possível fazer o carregamento de para orbitar a 650 km de altitude é necessário mais
grandes propulsores e experimentá-los em bancos de 40 toneladas de propelente sólido. Portanto, a
de prova horizontais com quatro graus de liberda- magnitude e complexidade do projeto VLS-1 de-
de. Lançaram-se metodologias e parte gerencial de mandaria enorme expertise técnica, recursos ¿nan-
projeto mais avançadas, preparando o caminho na ceiros e humanos, e a mesma persistência pela qual
O Sonda IV
direção do domínio de tecnologias críticas aplicadas passaram os países que hoje lideram esse setor.
foi o mais
no VLS. Foram lançados quatro Sonda IV entre De¿nidas as características técnicas, bem como
avançado novembro de 1984 e abril de 1989, todos bem su-
foguete da aprovisionadas partes construídas com ajuda de
cedidos e com propósitos experimentais. indústrias brasileiras (e outras adquiridas no exte-
família Sonda
rior) e testes de validação das soluções de projeto,
o IAE partiu para os primeiros lançamentos. Três
tentativas foram realizadas sem sucesso em 1997,
1999 e em agosto de 2003, sendo a última a maior
tragédia espacial brasileira, quando 21 técnicos do
IAE-DCTA

IAE pereceram num incêndio na plataforma dias


antes do lançamento. Após a tragédia, um longo
período de revisão crítica do projeto, com a ajuda
de entidades e empresas russas, aconteceu antes
da retomada das atividades. Com parcos recursos,
o programa prossegue no limite de sobrevivência. O
baixo nível de investimentos contrasta com a cres-
cente importância de uma indústria que movimenta
mundialmente mais de US$ 20 bilhões.
Em 2005, o IAE lançou o Programa Cruzeiro
do Sul que, num horizonte de 17 anos, visava de-
senvolver uma família de lançadores de satélites
apta a atender as necessidades do seu programa
espacial e algumas missões internacionais. Assim,
previa-se o desenvolvimento de cinco lançadores
de classes distintas:

- VLS-Alfa, concebido para atender o segmento de


cargas úteis na faixa de 200-400 kg destinados a
órbitas equatoriais baixas;
- VLS-Beta, capaz de atender missões de até 800
kg para órbita equatorial a 800 km de altitude;
- VLS-Gama, destinado a missões de cargas úteis
de cerca de 1.000 kg em órbitas heliossíncronas
e polares;
- VLS-Delta, focado em missões geoestacioná-
rias, com capacidade de colocação de cargas
de cerca de 2.000 kg em órbitas de transferência
geoestacionária; e
- VLS-Epsilon, para cargas úteis geoestacionárias
de maior porte, de cerca de 4.000 kg.

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O Cruzeiro do Sul é hoje visto mais como concei- Este é o caso do VS-30, um dos foguetes na-
tual, uma vez que suas pretensões são impraticáveis cionais de maior sucesso, resultado da evolução do
dentro do orçamento e prazo inicialmente considera- primeiro estágio do foguete Sonda III (motor S30),
dos, e serve como diretrizes para iniciativas em desen- e com capacidade de atingir um apogeu de 160 km,
volvimento ou discussão. Propostas para o desenvolvi- transportando cargas úteis de 260 kg. Como desdo-
mento dos VLS-Alfa e Beta, em regime de cooperação bramento do VS-30, em 2000, o primeiro protótipo
internacional, foram apresentadas à AEB no início da do VS-30/Orion foi lançado do CLA. Fruto da coope-
atual década e desde então estão em análise. ração com o Centro Espacial da Alemanha (DLR), é
As principais recomendações para o programa uma composição entre o VS-30, que compõe o 2º
VLS, assistidas pelos russos, indicaram um grada- estágio, e o propulsor de combustível sólido nor-
tivo cronograma de lançamentos experimentais. O te-americano Improved Orion (IO). A combinação
primeiro deles, designado XVT-1 VSISNAV, aguar- permitiu atingir apogeus de 300 km e transportar
dado para o ¿nal de 2015 ou 2016, na dependência cargas úteis de até 160 kg. Até o presente, foram
de recursos, deverá quali¿car a parte baixa do lan- lançados sete artefatos.
çador, ou seja, seus dois primeiros estágios, ambos Concebido de acordo com a proposta da DLR,
dotados de propulsores S-43, combinados com o baseada na necessidade de um substituto para o
3º e 4º estágios inertes. A ¿nalidade será testar foguete Skylark 7 no Programa Europeu de Micro-
em voo a ignição do 2º estágio e experimentar a gravidade, há vários anos o IAE iniciou estudos de
separação dos quatro propulsores do 1º estágio por um derivado do VS-30 de dois estágios, com capa-
detonação de cargas pirotécnicas. Além de testar cidade de alcançar maior apogeu e levar mais carga
esses subsistemas, levará para o espaço o Sistema útil, dando origem ao VSB-30, que utilizou recursos
de Navegação (SISNAV), desenvolvido pelo IAE no humanos e ¿nanceiros do DLR, da AEB e do IAE. O
âmbito do projeto Sistemas Inerciais para Aplicação VSB-30 é um foguete suborbital de sondagem, de
Aeroespacial (SIA). O VSISNAV, apesar de levar o dois estágios, não guiado, sendo estabilizado por
SISNAV, terá um sistema de navegação próprio. O “empenas” e lançado através de uma plataforma
VSISNAV é importante também no aspecto evo- universal dotada de trilhos. Para seu 1º estágio
lutivo do VLS, à medida que se planeja servir de adotou-se um motor S31, de propelente sólido tipo
base para o VLS-Alfa, o qual terá 3º e 4º estágios booster, de queima rápida, característica que denota
substituídos por um único propulsor líquido L75. altas acelerações, enquanto que o S30 integra o 2º.
Dentre os sistemas críticos do VSISNAV ¿guram Entre as inovações, o VSB-30 recebeu um sistema
as redes elétricas. Antes, serão testadas e quali¿ca- de indução de rolamento e ausência de dispositivos
das nos laboratórios do IAE para veri¿car se estão mecânicos de descarte do booster, operação que
de acordo com as especi¿cações e se suportam as passou a aproveitar os efeitos dinâmicos do voo. O
severas condições do voo real. Basicamente, de- lançamento de quali¿cação ocorreu em outubro de
pendem delas as funções de comando, controle e 2004, durante a Operação Cajuana, no CLA. Dotado
comunicações do foguete, e assim precisam estar de maior capacidade de apogeu e carga útil que o
imunes a defeitos e interferências. O IAE recebeu VS-30 (250 km e 400 kg, respectivamente), a sua
alguns itens dessas redes elétricas e deu início aos certi¿cação foi alcançada em outubro de 2009. Es-
ensaios já em 2013. Entre agosto e dezembro de tima-se que 80% do VSB-30 hoje é fabricado por
2014, foram realizados na Usina Coronel Abner o indústrias brasileiras, dentre as quais nomes tradi-
carregamento dos cinco motores-foguetes do VSIS- cionais como a Cenic e a Orbital. Há anos, existe
NAV. Para assegurar o perfeito funcionamento do também a intenção da AEB e do IAE em transferir
grupo propulsor, do disparo até o apogeu, as cargas sua fabricação para um integrador nacional. De fato,
de propelente sólido são submetidas a inspeções em novembro de 2014 a AEB e a Agência Brasileira
que incluem rigorosos testes não destrutivos que de Desenvolvimento Industrial (ABDI) ¿rmaram um
procuram detectar possíveis defeitos nos blocos de acordo de cooperação técnica para estudos relacio-
combustível. Aqui vale registrar a participação da nados ao desenvolvimento da indústria espacial.
brasileira AEQ Aeroespacial, fornecendo o perclo- Entre as iniciativas que integram o plano preliminar
rato de amônio, composto químico essencial para constam estudo de viabilidade econômica-comercial
a fabricação dos propulsores sólidos. do VSB-30 e sua transferência para a indústria, além
Entre os preparativos para o lançamento do de um estudo do potencial de mercado para peque-
VSISNAV, um trabalho de rastreamento de possíveis nos satélites e tendências tecnológicas.
fontes eletromagnéticas que podem causar interfe- Quatorze VSB-30 foram lançados entre outu-
rências foi implementado na região do CLA pela Força bro de 2009 e abril de 2013, sendo onze deles na
Aérea Brasileira (FAB) com emprego de um R-99 Europa e os demais no CLA. A relação entre essas
dotado de avançadas capacidades de inteligência quantidades de lançamentos decorre da demanda,
eletrônica. Outro passo importante ¿ca por conta da que é superior no Programa de Microgravidade, da
integração das equipes do IAE e do CLA, e reuniões Agência Espacial Europeia (ESA), que por meio da
presenciais já foram convocadas com esse propósito. DLR mantém há décadas uma parceria próxima com
o IAE, na forma de projetos conjuntos e aquisição de
FOGUETES SUBORBITAIS propulsores. A compra mais recente de propulsores
brasileiros ocorreu em 2011, quando a DLR adquiriu
Apesar da importância estratégica do domínio 21 unidades, que serviram para montar oito VSB-
da tecnologia advindas do VLS, o PNAE contempla 30, e outros cinco destinados aos veículos VS-30 e
também a necessidade de desenvolver continua- VS-30/Orion. Na época, tal aquisição foi avaliada
damente aquelas voltadas para veículos espaciais em cerca de 3 milhões de euros. Antes disso, para o
de sondagem, que executam missões de per¿l su- desenvolvimento do VSB-30, a DLR realizou investi-
borbital. Além de gerar tecnologias e spin-offs, tais mentos da ordem de 700 mil euros. De acordo com
veículos também abrem janelas de oportunidades o IAE, após a integração dos motores e sistemas,
comerciais e cooperação internacional. cada VSB-30 custa cerca de 320 mil euros.

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No âmbito da cooperação IAE/DLR, foram rea- órbitas equatoriais de 300 km de altitude ou 180
lizados, em 2013, quatro lançamentos de foguetes kg em órbitas inclinadas em missões cientí¿cas,
brasileiros no exterior, em operações do VS-30 e tecnológicas ou de observação.
VSB-30, e existem outras missões planejadas na No ¿nal de 2013, foi realizado um workshop
Europa para 2015. No Brasil, está programada para com especialistas do IAE e DLR, ocasião em que
o meio deste ano uma missão do VSB-30 no progra- foram apresentados e discutidos os estágios de
ma Microgravidade, levando a bordo experimentos desenvolvimento do programa em diversas áreas,
de universidades e centros nacionais de pesquisas. tais como con¿guração mecânica geral, separação
Para isso, está sendo desenvolvida a Plataforma do 1º estágio (quente e frio), estratégia de con-
Suborbital de Microgravidade (PSM), um equipa- trole, de¿nição estrutural da interface primeiro/
mento nacional para experimentos dessa natureza. segundo estágios, sistemas de destruição, cálculo
Será constituída de um conjunto de módulos con- de empenas, meios de ensaios, trajetória, estudos
trolado em velocidade angular, equipado com um de MGSE (Mechanical Ground Support Equipment),
sistema de telemetria para a transmissão de dados sistemas pirotécnicos, adaptação da torre móvel
de voo e dos experimentos. Contará, ainda, com de integração, progresso do envelope motor e sua
um sistema de recuperação para resgate no mar. proteção térmica, entre outros.
Já o foguete de sondagem suborbital VS-40 é Há estudos para a adoção de um motor mais
constituído pelos terceiro e quarto estágios do VLS-1 potente no 3º estágio, solução que poderia apri-
(motores S40M), e surgiu em função da necessi- morar seu desempenho para colocação de cargas
dade de testar o propulsor do 4º estágio do VLS-1 úteis de até 350 kg a 300 km de altitude, em órbita
na condição de vácuo. O VS-40 foi dimensionado equatorial, ou até 150 kg, com inclinação de 98
para alcançar um apogeu de 650 km, e seu voo de graus a uma altitude de 600 km.
quali¿cação ocorreu em abril de 1993, com um se- O primeiro voo do VLM-1 não será para inserção
gundo disparo em março de 1998, levando a carga de microssatélites em órbita, mas para transportar
útil VAP-1, da Fokker Space. o experimento SHEFEX III. A expectativa é de que
A variante VS-40M recebeu modi¿cações que in- o voo ocorra entre os anos de 2016 e 2017.
cluíram um dispositivo mecânico de segurança (DMS) Há também a expectativa de que uma plataforma
na rede de ignição, melhoria da proteção térmica do VLM-1 seja construída em Esrange, na Suécia,
interna ao motor e modi¿cações no projeto da tampa nas istalações da Swedish Space Corporation (SSC),
traseira e na geometria interna do bloco propelente, empresa que já executa os lançamentos do VS-30 e
todas aplicáveis ao motor S40 (primeiro estágio). Em VSB-30 na Europa. No ¿nal de 2014, houve também
outubro de 2010, foi realizado, com sucesso, o tiro certos avanços no Brasil, tendo o IAE ¿rmado com a
em banco de quali¿cação do motor S40M. Em junho Funcate, uma fundação ligada ao INPE, um convênio
de 2012, um VS-40M levou ao espaço, a partir da para a viabilização da contratação de indústrias par-
Noruega, o experimento europeu SHEFEX 2 (Sharp ticipantes do programa, como a Avibras e a Cenic.
Edge Flight Experiment), que objetiva testar o com-
portamento de novos materiais e proteção térmica AVANÇOS EM PROPULSÃO
necessários para se dominar a tecnologia de voos
hipersônicos e de veículos lançadores reutilizáveis Dominada a tecnologia de propulsão sólida, o
e, para 2015, está previsto mais um voo para le- IAE começou, no ¿nal dos anos de 1990, as pes-
var o SARA Suborbital 1, um satélite de pequenas quisas da propulsão líquida enviando técnicos para
dimensões, projetado para operar em órbita baixa a Rússia. Apesar da praticidade dos propelentes
(em torno de 300 km) e ser capaz de transportar ex- sólidos em alguns aspectos, cujo princípio básico
perimentos cientí¿cos e tecnológicos de até 100 kg. de fabricação consiste na mistura de alumínio
Para este voo, já foram providenciadas a produção (combustível) e perclorato de amônio (oxidante)
e usinagens de inúmeros itens do veículo e de seus formando uma massa que se solidi¿ca, os sistemas
subsistemas. Um dado inovador do projeto SARA de propulsão líquida emergiram como soluções
Suborbital 1 é o fato de ser uma empresa privada mais potentes quando se mede a força de empuxo
a contratante principal, a Cenic, de São José dos gerada tomando-se como referencial o mesmo peso
Campos (SP). Para 2016, está em desenvolvimento de propelente queimado, tendo a desvantagem de,
o VS-40M para o SARA Suborbital 2. quando acionado, não ser possível conter a queima
do propelente ou controlar sua intensidade. Já a
PARA OS MICROSSATÉLITES propulsão líquida permite o controle da queima da
mistura na câmara de combustão para mais ou para
Em matéria de veículos lançadores, além do VLS menos, como se fosse a manete de controle de um
VSISNAV, o IAE hoje toca como prioridade o projeto motor à reação de um jato, o que torna mais preci-
do VLM-1, lançador de microssatélites resultante sas as inserções de satélites em suas órbitas – não
da parceira com a DLR, mas que conceitualmente sem motivo hoje a tecnologia adotada ao menos
já era considerado pela MECB. Contando desde o nos últimos estágios dos lançadores mais modernos.
início de seu projeto com signi¿cativa participação O modo básico desses sistemas consiste em
da indústria nacional, o VLM-1, em sua versão bá- acomodar combustível e oxidante em tanques sepa-
sica, terá três propulsores de propelente sólido. No rados. Ambos devem estar no estado líquido. Como
1º e 2º estágios, será empregado o propulsor S50, combustível, pode ser usado o hidrogênio líquido,
em desenvolvimento, enquanto que o terceiro fará querosene e etanol, este último objeto de interesse
uso do S44. Pesando 12 toneladas (sendo 10 de dos primeiros projetos do IAE. O emprego do oxigê-
propelente), o S50 possui 1,46 metros de diâmetro nio como oxidante demanda o domínio do seu mane-
e 5 metros de comprimento e será o maior do tipo jo e de tecnologia de armazenamento em condições
feito no Brasil, com a sua estrutura inteiramente criogênicas (200ºC abaixo de zero). Além disso,
conformada em compósito. Assim, o lançador será fazem parte desses sistemas válvulas, ¿ltros, rede
capaz de colocar cargas úteis de até 200 kg em de tubos condutores e sistemas de pressurização.

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Iniciado na década de 2000, o primeiro projeto de- A INDÚSTRIA NACIONAL
senvolvido no IAE neste campo foi o motor-foguete L5,
capaz de gerar impulso de 5 kN. Estima-se que esse De há muito objeto de comentários e estudos
motor, instalado no lugar do S44 no caso do VLS-1, conceituais, a criação de uma integradora local
aumentaria a massa máxima satelitizada em até 50%. (prime contractor) para o segmento de lançadores
Como sistema essencial para chegar-se às caracte- de satélites e foguetes brasileiros tem transitado
rísticas desejadas dos motores-foguetes, o IAE e a Orbi- pelos corredores do Programa Espacial Brasileiro. De
tal Engenharia, de São José dos Campos, projetaram e fato, como acontece, por exemplo, com a francesa
estão conduzindo ensaios do Sistema de Alimentação de Arianespace, que oferece serviços de inserção de
Motor-Foguete (SAMF). Contando com recursos do Fun- satélites na órbita terrestre a partir de Kourou, na
do Nacional de Desenvolvimento Cientí¿co e Tecnológico Guiana Francesa, contratar uma organização priva-
(FNDCT), na modalidade de subvenção econômica, da da ou de capital misto para comercializar e operar
Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), o SAMF é veículos poderia acelerar o programa e render os
destinado ao armazenamento e injeção de propelentes frutos dele esperados.
líquidos pressurizados (no caso do L5 corresponde a É um modelo que já é praticado no ProSub, da
oxigênio líquido e etanol) para testar motores-foguete Marinha do Brasil, que resultou na formação do
em voo. É composto por tanques de ¿bra de carbono consórcio Odebrecht Defesa e Tecnologia/DCNS,
e de alumínio, válvulas, reguladores, ¿ltros, tubulação denominado Itaguaí Construções Navais (ICN), e
e suporte para ¿xação de motor. mesmo no Programa Espacial, com o surgimento
O SAMF, associado ao motor-foguete L5, formou da Visiona Tecnologia Espacial para o projeto do
o estágio de propulsão líquida (EPL), módulo básico Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunica-
empregado para modelar os sistemas de propulsão ções Estratégicas (SGDC) (ver reportagem sobre a
líquida dos VLS. Em 19 de dezembro de 2013, indústria espacial nesta edição).
aconteceu o primeiro ensaio quente do modelo de De concreto, no entanto, ainda nada existe
voo para a veri¿cação funcional de todos os siste- quanto ao caminho e a participação da iniciativa
mas. Os testes foram monitorados pela eletrônica privada desejadas pelo governo para o segmento de
embarcada no veículo de provas, lançado noves lançadores, mas são assuntos que – acredita-se, em
meses depois. Considerado um marco histórico no algum momento, devem entrar na agenda de priori-
Programa Espacial, foi realizado com sucesso em dades. De tempos em tempos, surgem especulações
1º de setembro de 2014, a partir do CLA, o lança- sobre interesses de indústrias em se quali¿carem
mento do primeiro foguete brasileiro de propulsão como integradoras, caso da Avibras Aeroespacial e
líquida, o VS-30 V13, preparado especialmente para da Odebrecht Defesa e Tecnologia, controladora da
veri¿car o desempenho em voo do EPL, e de dois Mectron. Associada à questão industrial, está ainda
outros experimentos (GPS Espacial e Chave Mecâ- uma decisão a ser tomada no futuro em relação a
nica Acelerométrica). Dentro da Operação Raposa, potenciais parceiros estrangeiros em projetos de
o VS-30 V13 foi con¿gurado com o EPL/L5 no 1º lançadores. Embora quase sempre nunca con¿r-
estágio e com um propulsor S30 no 2º. madas, não é segredo que empresas da Rússia,
Na esteira do resultado positivo do EPL/L5, o IAE Itália (Avio) e França (antiga Astrium, hoje parte VS-40 na
trabalha no L15 com capacidade de gerar empuxo de da Airbus Defence and Space, e Safran), além de missão
15 kN, funcionando como o L5. A ideia inicial é empre- outros países, ofereceram parcerias ou a negociação SHEFEX, em
gá-lo num foguete de sondagem suborbital, o VS-15. de tecnologias de foguetes. parceria com a
Com a esperada evolução da família VLS e a pre- Alemanha
cisão dos motores de propulsão líquida nas tarefas N. da R.: André M. Mileski colaborou neste
de inserção de satélites na órbita terrestre, é um ca-

DLR via AEB


artigo.
minho natural o desenvolvimento de motores mais
capazes para substituir os propulsores sólidos. E,
por essa demanda, o projeto L75 busca um modelo
de engenharia correspondente a um motor-foguete
que utilizará oxigênio líquido e querosene e que será
capaz de gerar 75 kN de empuxo no vácuo. Dife-
rentemente do L5, que usa nitrogênio gasoso para
pressurização, o L75 terá uma turbobomba para
injetar combustível e oxidante na câmara de com-
bustão. A meta é a eliminação do 3º e 4º estágios
do VLS-1, dando origem ao VLS-Alfa. O projeto do
L75, traz um extraordinário desa¿o para indústria
brasileira, pois entre a concepção e a operação há
um longo e difícil caminho a percorrer.
Por último, o motor híbrido H1 visa a capacitação
em propulsão híbrida, empregando tecnologias já
disponíveis de propulsão sólida e líquida. Em se-
tembro de 2013, o IAE realizou o primeiro ensaio de
queima e o desempenho foi considerado satisfatório,
uma vez que os principais parâmetros propulsivos
como vazão mássica de oxigênio, pressão na câ-
mara de combustão e velocidade característica do
propelente aproximaram-se dos valores teóricos.
Nesse ensaio, gás oxigênio foi injetado no interior
da câmara de combustão, que possuía um bloco de
combustível sólido (HTPB) com geometria estrela.

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