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ANÁLISE FISIOGRÁFICA
A simples carta topográfica com curvas de nível não é suficiente para a análise e
diagnose do relevo, pelo que há que efectuar, sobre ela, diversas análises.
Outra técnica a que por vezes se recorre para uma primeira percepção do relevo consiste
em proceder, num transparente e sobre uma base idêntica, a uma leve translação de
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curvas de nível, sombreando-se em seguida o espaço em desfasamento; obtém-se assim
o falso efeito de estereoscopia. (Fig.4.2)
(…) “ A marcação das linhas fundamentais do relevo duma dada região – FESTOS e
TALVEGUES – permite uma interpretação fisiográfica quase paralela, por assim dizer,
ao seu funcionamento orgânico. De facto, a configuração anatómica que ressalta põe em
relevo o próprio sistema circulatório e esclarece, até um certo ponto, um processo dos
circuitos. Entre estes, o mais evidente diz respeito à circulação hídrica (…). Mas outros
circuitos que não os das águas estabelecem-se entre as mesmas linhas de festo e de
talvegue: as massas atmosféricas têm movimentos diurnos que os percorrem num ou
noutro sentido. As espécies biológicas de propagação hídrica têm deslocações idênticas
às da água da precipitação, e as sementes e esporos de propagação anemófila não
escapam ao ritmo das massas atmosféricas. Também o homem escolhe, desde sempre,
percursos idênticos, quanto mais não seja por eles serem mais fáceis e mais racionais,
constatando-se assim que os itinerários religiosos, militares e comerciais não são
estranhos a estas linhas (…)”1. Poderá pensar-se que tal relação entre as linhas
fundamentais do relevo e os percursos humanos, derivavam quase que exclusivamente
de limitações tecnológicas (para além de outras com certa importância como sejam
necessidades de defesa), e que na época actual, tal não terá qualquer razão para se
manter, já que as conquistas da ciência fizeram desmoronar essas limitações; tal poderá
permanecer correcto dentro duma perspectiva simplista de consumo, estará totalmente
errado ao encararmos a questão sob um ponto de vista energético (de economia de
recursos, portanto) – as vias de festo e de talvegue são as que melhor asseguram,
respectivamente, uma troca-distribuição e recolha, por exigirem melhores gastos de
energia (em extremo e esquematicamente poderá dizer-se que essa distribuição e
recolha poderia ser feita pela força da gravidade – Fig.4.3).
1
BARRETO, A. V., DENTINHO A.P., CASTELO BRANCO, A. – ORDENAMENTO PAISAGÍSTICO
DO ALGARVE. Comunicação ao XIIº congresso Internacional de arquitectos Paisagistas – Lisboa 1970.
(os termos em maiúsculas são nossos)
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Fig.4.3 – Percursos de Distribuição e de Fig.4.4 – Limites de Bacia Hidrográfica
Recolha
Para além disso é possível distinguir, numa grande bacia hidrográfica desaguando no
mar, uma hierarquização de bacias confluentes até às bacias de menor importância, a
montante. Cada uma delas, em geral, sistematizar-se-á por sua vez numa BACIA DE
RECEPÇÃO, num CANAL CONDUTOR E num CONE DE DEJECÇÃO,
diferenciação mais nitidamente marcada nos regimes pluviais torrenciais. Esta
diferenciação corresponde a funções distintas quanto a capacidades, aptidões e
potencialidades, e é escolhida geralmente por grupos étnicos e por culturas distintas
(…)1 (Fig.4.5 e 4.6).
1
Obra citada na página anterior
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Fig.4.7 – Festos e Talvergues
“As linhas de feito e de talvegue quando se interceptam determinam pontos nos quais se
concentram os fluxos, PONTOS NOTÁVEIS DA PAISAGEM ou seja, centros de
acumulação dos fluidos como aliás dos percursos dos seres humanos. Os pólos destes
circuitos são designados respectivamente sob o nome de CENTROS DE ENCONTRO
E CENTROS DE DISTRIBUÍÇÃO. Correspondem respectivamente ao desaguar dum
vale ou a confluências com outro vale, e a um COLO, desfiladeiro ou um ponto de
intercepção de festos. A estreita correlação entre os circuitos e os movimentos das
massas atmosféricas anteriormente mencionadas, sujeitas periodicamente a sentidos
opostos, confere aos centros de encontro um valor de TROCA. Este valor tem como
limite a potencialidade da própria bacia; empobrecê-la será diminuir o valor de troca.
Por seu lado, os centros de distribuição estão ligados a um valor de troca calculado
esquematicamente pelo saldo líquido diferencial entre as bacias confinantes e, nestas
condições, serve simultaneamente várias linhas fisiográficas. Consequentemente, é fácil
constatar, que nas suas ramificações laterais, e quando se situam fora da zona
estimulante dos grandes centros de encontro litorais, os centros de distribuição têm um
fraco valor absoluto e não atingem valores notáveis, a não ser nos grandes centros
continentais. Da mesma maneira que uma linha de água e os seus afluentes constituem
uma ramificação cujos braços aumentam o valor para jusante, as ramificações dos festos
ganham uma importância para o interior e é possível inseri-las no conjunto do relevo
dum continente. Constata-se que só na proximidade destes módulos primários é que se
encontram centros de distribuição com um desenvolvimento urbano considerável e com
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grande influência regional. As linhas de festo nas vizinhanças do litoral perdem a sua
importância em matéria de potencialidade urbana”.1 (Fig.4.8 e 4.9)
1
Obra citada nas páginas anteriores
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Fig.4.10 – Linhas Fundamentais do Relevo na Península Ibérica. Centros de
Encontro e de Distribuição
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Fig.4.11 – Linhas Fundamentais do Relevo do Centro de Portugal. Bacias
Hidrográficas; Centros de Encontro e de Distribuição
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4.3.DECLIVES
Permite esta análise uma caracterização com mais pormenor e objectividade, por
introduzir o factor quantitativo à interpretação do relevo. Marcam-se os declives das
encostas segundo classes representativas de diferenciação segundo diversas abordagens
como sejam riscos de erosão do solo, drenagem natural (hídrica e atmosférica),
facilidade de implantação de estruturas e infra-estruturas, etc. As classes de declives
utilizadas para cada caso dependerão:
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A marcação dos declives das encostas faz-se com a ajuda de uma BITOLA aonde se
assinalam, de acordo com a equidistância e a escala da carta, os segmentos de recta
correspondentes aos declives procurados; por exemplo, para a escala 1: 25 000 e para as
classes de declives 0-3%, 3-8%, 8-16%, 16-25% e superior a 25% teríamos; para a
equidistância de 10m e através de um simples proporção, os comprimentos que a essa
diferença de nível, correspondem aos declives procurados:
Passando para a escala 1/25 000 tais comprimentos a partir de um ponto de origem
comum ficaremos de passe da bitola pretendida, com os comprimentos correspondentes
aos limites das classes de declives pretendidos:
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Entre a posição 1 e 2 da bitola o declive passou da classe C para a B pelo que no ponto
de transição se marcou o traço 1; entre a posição 2 e 3 da bitola o declive passou da
classe B para a A pelo que, no ponto de transição se marcou o traço 2 e assim
sucessivamente se vão fazendo as marcações.
Depois de marcados os declives de toda a carta unem-se as zonas com idêntico declive e
dá-se-lhes uma representação gráfica coerente, ou seja, as encostas mais declivosas em
tons escuros e à medida que se vão suavizando utilizam-se tons ou cores cada vez mais
claros. (Fig.4.13)
4. 4. ORIENTAÇÕES DO TERRENO
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B – Em relação às direcções cardeais e seus colaterais
Nesta pesquisa serão desde logo excluídas as zonas consideradas planas e portanto que
não têm orientação específica (zonas com declive compreendido entre zero e dois ou
três por cento). É normal proceder-se previamente a uma simplificação do pormenor das
curvas de nível e será sobre estas mais ou menos rectificadas, que se determinarão em
seguida as orientações das encostas (tais simplificações serão tanto mais aceitáveis
quanto menor for a escala a que se está a trabalhar, pois vão-se anular certos
pormenores sem expressão – Fig.4.14)
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Fig.4.14 – Exemplo de simplificação do traço das curvas de nível, para
efeitos de marcação de orientação do terreno, à Escala 1/25000.
Com a carta em que se pretende marcar as orientações paralela em relação aos lados da
mesa de trabalho, e com o auxílio de uma régua em T na qual corre o esquadro
anteriormente preparado, consegue-se colocar o pequeno orifício do centro do octógono
em qualquer ponto da carta que se deseje. A técnica utilizada será seguir as várias
curvas de nível com o orifício central do octógono (o que consegue movendo a régua
em T e o esquadro) e através dele fazer-se uma marcação sobre a curva cada vez que
esta passa de um triângulo para outro. (do octógono – Fig.4.16)
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Fig.4.16 – Marcação da orientação do terreno
Procedendo deste modo ao longo de todas as curvas da zona a estudar e tendo marcado
também as linhas de festo e talvegue (que constituem sempre uma mudança de direcção
e indicam o sentido da pendente), obter-se-à um desenho do tipo do da figura 4.17.
Bastará unir os vários pontos assim determinados para obter a carta das orientações das
encostas.
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Fig.4.17B – Marcação das Orientações do terreno – zonas
com igual orientação
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4.5. SÍNTESE FISIOGRÁFICA
A partir dos pontos anteriormente tratados poderá elaborar-se uma ou mais que uma
carta síntese pretendendo definir as grandes linhas de caracterização fisiográfica. Esta
síntese poderá variar bastante consoante os objectivos do trabalho pelo que o que se
segue, longe de ser uma caracterização exaustiva, não passa do que mais
frequentemente se considera em estudos de caracterização biofísica.
Esquematicamente é possível marcar para a toda a zona em estudo as ZONAS
FISIOGRÁFICAS – formas de relevo que se podem sistematizar em:
C – FESTO – zonas convexas, de iluviação, mais ou menos planas com melhor ou pior
definição fisiográfica, com maior ou menor importância consoante as bacias que
delimitam (Fig.4.20)
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Fig.4.20
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Outro elemento que haverá interesse incluir (podendo, no entanto, ser desenvolvido
posteriormente quando se tratar da percepção da paisagem) serão os principais limites
visuais que definirão os cuidados de influência visual.
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