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MORFOLOGIA DESCRITIVA DA LÍNGUA PORTUGUESA

Profa. Sanderléia Longhin, em 7 e 8 de julho de 2021

MORFOLOGIA FLEXIONAL NO NOME

→ Flexão: indicação de categorias gramaticais


→ Nomes: funcionam como substantivos e/ou como adjetivos
(O budista japonês / O japonês budista)
→ As categorias gramaticais expressas nos nomes são gênero e número, ambas pautadas em
relações de oposição, conforme:

Gênero Número
masculino vs feminino singular vs plural

→ Marcação de gênero

 Gênero é uma categoria inerente aos nomes substantivos e verdadeiramente flexional


nos adjetivos:

(1) O garoto saudável o substantivo tem morfologia de gênero, o adjetivo não


(2) A garota saudável

(3) A criança saudável o substantivo não tem morfologia de gênero

(4) O garoto bonito o substantivo tem morfologia de gênero, o adjetivo concorda com ele
(5) A garota bonita

 Não confundir as categorias de gênero (=categoria gramatical) e sexo (= categoria


biológica). A categoria de gênero se aplica a todos os substantivos, quer se refiram a
seres animados (a menina) ou não animados (a mesa). Observe o caso de a criança
(ele, ela) e a cobra (macho ou fêmea).

 Em português, temos três possibilidades nos nomes substantivos:

1. Nomes substantivos de dois gêneros com (o) lobo/ (a) loba


flexão redundante (o) mestre/ (a) mestra COM
(o) pintorØ/ (a) pintora
MORFOLOGIA
2. Nomes substantivos de dois gêneros sem (o/a) estudante
flexão redundante (o/a) selvagem SEM
(o/a) dentista MORFOLOGIA
3. Nomes substantivos de gênero único (a) pessoa, (a) testemunha, (a) mosca, (o)
nariz, (o) homem, (a) mulher, (o) príncipe,
(a) princesa, (a) criança
SEM
MORFOLOGIA
→ Flexão em gênero

 Relação de oposição que se instaura a partir do acréscimo do morfema /-a/ à forma


masculina (que é variada):

Proposta [Ø] vs [-a] autorØ + [-a] → autora


de Mattoso Camara   peruØ + [-a] → perua
masc fem. garotoØ + [-a] → garota
mestreØ + [-a] → mestra
→ Admite [Ø] como o único
morfema de masculino, em razão da vogais temáticas
diversidade de terminações das
formas masculinas.

Proposta de [Ø, o, e] vs [-a] autorØ + [-a] → autora


Laroca   peruØ + [-a] → perua
masc fem. garoto + [-a] → garota
mestre + [-a] → mestra
→ A regra é a mesma de Mattoso, a
diferença é que ela admite [o] e [e]
como morfemas de masculino,
quando estão envolvidos em pares de
opostos.

OBS1: Morfema ou desinência de gênero [-a] vs vogal temática [-a]: a desinência de


gênero sempre está em uma relação de oposição com o masculino, diferentemente da
vogal temática.

(a) menina → des. gênero


(o) mapa → vogal temática
(a) cobra → vogal temática
(a) criança → vogal temática
(a) mesa → vogal temática
(a) funcionária → des. gênero

OBS2: Variações e particularidades na indicação de gênero

(a) Subtração de um segmento da forma masculina (morfema subtrativo): mau-má, réu-ré,


irmão-irmã, cidadão-cidadã, cirurgião-cirurgiã. (cf. Koch e Silva)
(b) alternância vocálica redundante e não-redundante: a vogal tônica fechada /ô/ passa a ser
aberta /ó/: formoso-formosa, novo-nova, porco-porca, este-esta, sogro-sogra. O par avô-avó
constitui o único caso de morfema alternativo não-redundante (a alternância é a única marca).
(c) em adjetivos aumentativos ocorre alteração: /-ão ~ -on/: resmungão-resmungona,
valentão-valentona, bobão-bobona, comilão-comilona.
(d) alteração /-ão ~ -oa/: leitão-leitoa, leão-leoa, patrão-patroa (frequência baixa).
 Além do mecanismo flexional, o português dispõe de mais dois recursos:

Derivação Determinados sufixos derivacionais têm a função adicional de


atribuir gênero. Alguns se especializam na marcação de
feminino, outros, de masculino:

-ADA = o boi → a boiada


-AL = a laranja → o laranjal

Heteronímia de radicais mulher/homem; genro/nora; cavalo/égua; zangão/abelha

Para Mattoso Câmara, a explicação mais adequada consiste em


dizer que mulher não é o feminino de homem, mas apenas uma
forma feminina que supre a falta de flexão em homem.

→ Flexão em número

 A categoria de número divide os nomes singular e plural;


 Regra geral: relação de oposição entre o morfema [-s] de plural e o morfema [Ø] de
singular.

[Ø] vs [-s]
 
singular plural

rosaØ – rosas faceØ - faces


reiØ – reis pauØ - paus

OBS1: Coletivos são formas singulares que envolvem uma significação plural (multidão,
ramagem, etc). Quando designam mais de um conjunto, também se flexionam: multidões,
ramagens.

OBS2: Existem formas plurais que se referem a conceitos linguisticamente indecomponíveis.


São interpretadas de um modo global: óculos, algemas, costas, parabéns, núpcias. Não
apresentam singular mórfico.

 Alomorfes de número [-s é o morfe, -es e -is são os alomorfes]

Alomorfe -es Condicionamento: nomes terminados em país – países


-s (precedido de vogal tônica), -r, -z, -n vez – vezes
pilar – pilares

Alomorfe -is Nomes terminados em -l, precedidos de jogral – jograis


vogal diferente de i. A mudança consiste lençol – lençóis
na queda de –l final seguida de coronel – coronéis
ditongação azul – azuis
Nomes terminados em –l, precedidos da fuzil = fuzi + is → fuziis →
vogal i, além da queda do –l, a depender fuzis
da tonicidade da vogal, ocorrem barril = barri + is → barriis
processos diferentes. Se a vogal for → barris
tônica, ocorre crase:
Se for átona, ocorre dissimilação fóssil = fossi + is → fóssiis
regressiva (i > e) (número reduzido de → fósseis
palavras) fácil = faci + is → fáciis →
fáceis

Não variação Nomes terminados em –x e –s, se (este, estes) tórax


(sem precedidos de vogal átona, não sofrem (o, os) tênis
morfologia) variação (o, os) ônibus

a marcação é sintática
Redundância Casos em que há morfema flexional + corpo – corpos
alternância vocálica /ô/ /ó/
povo - povos
/ô/ /ó/

 Nomes em -ão

→ Três possibilidades:

1. Plural regular com o acréscimo do cristão - cristãos


morfema -s, sem alomorfia sótão - sótãos
mão - mãos

2. Alomorfe -ães alemão – alemães


cão – cães
capitão – capitães
pão – pães

3. Alomorfe -ões sermão - sermões


balão – balões
limão – limões
carvão – carvões
paixão – paixões
ladrão – ladrões

A diacronia explica esses fatos que sincronicamente são alomorfias. Observe as


consequências da queda da consoante nasal quando em contexto intervocálico:

lat. manu > mau...> mão (pl. mãos)


lat. cane > cae... > cão (pl. cães)
lat. pane > pae... > pão (pl. pães)
lat. sermonis > sermois ...> sermão (pl. sermões)
 Segundo Campos, a produtividade Xões bloqueia a proliferação da variante Xães, restrita a
um grupo reduzido de nomes em uso no vocabulário ativo da língua. Palavras como guardião
e charlatão, que a gramática exemplifica com o plural guardiães e charlatães, já estão sendo
flexionadas no padrão Xões, como atesta o Aurélio: guardiões, charlatões. A pluralização em
Xãos é também restrita. A preferência é por Xões. Vale observar que alguns nomes ainda não
têm uma forma de plural devidamente fixada: ancião: anciões, anciães e anciãos. Segundo
Laroca, os professores deveriam insistir nas formações Xões, rejeitando os chamados “plurais
fantasmas” (Mattoso).

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