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205 Introdução
tamanho menor que o tamanho normal. Essas sintomas dos enfezamentos vermelho e pálido, e da
plantas podem apresentar também proliferação possibilidade de infecção simultânea da planta de
de espigas pequenas. A redução no tamanho das milho por fitoplasma e por espiroplasma, em geral, é
espigas e na produção de grãos é variável em impossível distinguir entre essas duas doenças com
função do nível de resistência da cultivar e da base apenas nas características visuais (SABATO et
idade em que a planta foi infectada, sendo maior al., 2013; OLIVEIRA et al., 2014a).
quando as plantas são infectadas nos estádios
iniciais de desenvolvimento. As espigas pequenas, Transmissão dos agentes causais dos
das plantas doentes, podem apresentar grãos enfezamentos e ciclo da doença
esparsos, ou grãos pequenos e chochos. Pode A cigarrinha Dalbulus maidis é o inseto-vetor do
ocorrer redução no comprimento dos internódios e espiroplasma e do fitoplasma agentes causais dos
na altura das plantas infectadas. A distinção entre o enfezamentos do milho.
enfezamento-pálido e o enfezamento-vermelho, com
base apenas nos sintomas, é difícil, praticamente O milho é o único hospedeiro dessa cigarrinha e
impossível (COSTA et al., 1971; NAULT, 1980; desses patógenos. Assim, ambos, inseto-vetor
OLIVEIRA et al., 2002b; MASSOLA JÚNIOR, 1998; e patógenos, se perpetuam através da migração
SABATO et al., 2013). Além disso, algumas vezes das cigarrinhas, de lavouras de milho com plantas
essas doenças ocorrem simultaneamente na mesma adultas doentes para lavouras jovens, com
planta (OLIVEIRA et al., 2014a). plântulas sadias (OLIVEIRA et al., 2013a). O habitat
A resistência do milho ao enfezamento-pálido é preferencial da cigarrinha é o cartucho da planta
controlada por genes com efeito quantitativo, (Figura 4)
podendo haver genes maiores com efeito de
dominância, ou de epistasia (SILVA et al., 2003; A cigarrinha adquire esses agentes patogênicos
SILVEIRA et al, 2008; OLIVEIRA et al., 2013b). ao se alimentar de plantas de milho doentes,
podendo adquirir apenas um, ou ambos, fitoplasma
Enfezamento-vermelho e espiroplasma. O período latente desses molicutes
Doença causada pelo fitoplasma Maize bushy stunt na cigarrinha é variável de três a quatro semanas,
(MBS) (classe Mollicutes) (NAULT et al., 1980; período em que se multiplicam em diversos órgãos
BEDENDO et al., 1997). Os sintomas dessa doença do inseto-vetor, sobretudo nas glândulas salivares, e
também se manifestam caracteristicamente após o que pode ser influenciado pela temperatura ambiente
florescimento, e são mais acentuados na época do (MOYA-RAYGOZA; NAULT, 1998; OLIVEIRA et
enchimento de grãos, ocorrendo
infecção pelo patógeno nas
plantas de milho em estádios
iniciais de desenvolvimento.
As plantas infectadas pelo
fitoplasma, em geral, apresentam
avermelhamento foliar (Figura 2)
(COSTA et al., 1971; OLIVEIRA
et al., 2012). Algumas cultivares
de milho, quando infectadas 0000
por esse patógeno, apresentam
espigas em proliferação e 0000
perfilhamento na base da
planta (NAULT, 1980) (Figura
3). As espigas das plantas
doentes, como no enfezamento-
pálido, são pequenas, podendo
apresentar grãos esparsos,
ou grãos chochos. Em razão
das semelhanças entre os Figura 2. Enfezamento-vermelho (MBS fitoplasma).
Figura 2. Enfezamento-vermelho (MBS fitoplasma).
Recomendações para o manejo de doenças do milho disseminadas por insetos-vetores 3
Figura 4. Cigarrinhas Dalbulus maidis no cartucho de plântulas de milho.
Figura
Figura
4.4.
Cigarrinhas
Cigarrinhas
Dalbulus
Dalbulus
maidis nono
maidis cartucho
cartucho
dede
plântulas
plântulas
dede
milho.
milho.
al. 2007b). Após esse período latente, a cigarrinha
torna-se infectante, e passa a transmitir o(s) A cigarrinha Dalbulus maidis migra a longas
patógeno(s), cada vez que se alimenta de plântulas distâncias, disseminando os molicutes patogênicos
de milho, durante o tempo em que vive. Essa para lavouras com plântulas de milho nos
transmissão é do tipo persistente e propagativa. estádios iniciais de desenvolvimento (OLIVEIRA
et al., 2013a, 2014b). Em decorrência da
Os molicutes infectam e se multiplicam nos tecidos atividade migratória da cigarrinha, pode ocorrer
do floema das plantas de milho, e atingem todas as efeito de concentração, nas lavouras semeadas
partes da planta. Ao infectar as plântulas de milho tardiamente, incluindo a safrinha, e também efeito
o espiroplasma multiplica-se primeiro nas raízes, e de concentração em determinada lavoura, em
posteriormente atinge a parte aérea (WHITCOMB et função da colheita do milho nas proximidades
al., 1986; GUSSIE et al.,1995). (OLIVEIRA et al., 2014b). O aumento da densidade
populacional da cigarrinha, em lavouras jovens,
Considerando-se os prazos relativamente longos, associado a condições climáticas favoráveis à
do período latente para os molicutes, no inseto- multiplicação dos molicutes no inseto-vetor e
vetor e na planta infectada, e o ciclo do milho, nas
plantas, pode resultar em surtos epidêmicos
as cigarrinhas infectantes com esses patógenos, dessas doenças.
que chegam às lavouras de milho jovens, são
Figura
Figura
5.5.
importantes Mosaico-comum-do-milho.
Mosaico-comum-do-milho.
na determinação dos níveis de Avaliações da incidência dos enfezamentos
incidência de plantas doentes nessas lavouras. mostram maior incidência na safrinha, em relação à
4 Recomendações para o manejo de doenças do milho disseminadas por insetos-vetores
safra de verão, e no milho semeado tardiamente, na diferente de estirpes do mesmo vírus relatadas em
região Sudeste (OLIVEIRA et al., 2002a). outros países.
Figura 5. Mosaico-comum-do-milho.
Essa virose é causada por vírus do gênero
Potyvirus, denominados pelo nome comum Os pulgões adquirem partículas do vírus ao se
Figura
Figura
5. Mosaico-comum-do-milho.
5. Mosaico-comum-do-milho.
potyvirus, que podem infectar muitas espécies alimentar de plantas com a virose e, durante
gramíneas, incluindo o milho (COSTA et al., algumas horas, passam a transmiti-lo para
1971; ALMEIDA et al., 2000, 2001). Embora plantas sadias, quando se alimenta nessas
sejam atualmente relatadas sete espécies distintas plantas. Esse tipo de transmissão é denominada
desses vírus, no Brasil, apenas a espécie sugarcane não persistente, ou semipersistente (AGRIOS,
mosaic virus (SCMV) tem sido predominantemente 2005). Os pulgões são polífagos e realizam
detectada e identificada infectando o milho. É picadas de prova antes de iniciarem efetivamente
importante observar que, apesar do nome, essa a alimentação na planta hospedeira, e nessas
espécie de vírus não infecta a cana-de-açúcar picadas de prova disseminam o vírus. Assim,
(ALMEIDA et al., 2001) e que análises moleculares a forma alada do pulgão desempenha papel
desse potyvirus isolado de milho, predominante no importante na disseminação da virose. Porém, os
Brasil, mostram tratar-se de uma estirpe do SCMV insetos da forma áptera podem migrar de uma
Recomendações para o manejo de doenças do milho disseminadas por insetos-vetores 5
planta para outra, dentro da lavoura de milho, que são mais opacos. Nas fêmeas, a coloração
contribuindo para a disseminação do vírus. é praticamente homogênea em todo o corpo.
Na forma adulta essas cigarrinhas apresentam
Os potyvirus se multiplicam nos tecidos de dois pares de asas transparentes com nervuras
parênquima e infectam todas as partes da plântula distribuídas longitudinalmente no comprimento
de milho infectada. Após a infecção, em poucos das asas, ambos estendendo-se um pouco além
dias (5 a 15) as plântulas manifestam os sintomas do abdome. Seu aparelho bucal é do tipo sugador
da virose, e podem servir de fonte de inóculo para labial com três segmentos. As antenas são
a aquisição de vírus por outros pulgões, permitindo, setáceas com filamento apical. Os indivíduos dessa
assim, mais de um ciclo da doença na lavoura. espécie apresentam quatro fileiras de espinhos
Os potyvirus são transmissíveis mecanicamente, nas tíbias das pernas posteriores, característica da
e podem ser inoculados em plântulas de milho família Cicadellidae. Os adultos apresentam duas
utilizando-se extratos de folhas infectadas manchas circulares negras, bem marcadas, na
(ALMEIDA et al., 2000). cabeça, entre os olhos compostos. A cigarrinha-
do-milho geralmente habita o cartucho das plantas,
em número variável, dependendo da época. São
Insetos vetores insetos muito ágeis, abandonam a planta ao menor
distúrbio. A identificação taxonômica desse inseto é
Cigarrinha Dalbulus maidis baseada no formato do sétimo esternito abdominal
O gênero Dalbulus (Hemiptera: Cicadellidae) da fêmea e na morfologia dos componentes da
é composto por 13 espécies distribuídas genitália masculina (Figura 7).
principalmente no México e em alguns países da
América Latina e da América do Sul (TRIPLEHORN; Dalbulus maidis tem como plantas hospedeiras
NAULT, 1985). A cigarrinha-do-milho, Dalbulus naturais para reprodução basicamente o milho e
maidis (Delong & Wolcott) (Figura 6) é a única os teosintos (Zea spp.) (NAULT, 1980; LARSEN
espécie do gênero Dalbulus que ocorre no Brasil et al., 1992), embora já tenha sido relatada
(OLIVEIRA et al., 2004). sua criação em Tripsacum dactyloides (PITRE
et al., 1966). No Brasil, como os teosintos
Essa espécie é formada por insetos diminutos, e as espécies de Tripsacum não são comuns
com cerca de 3,7 a 4,3 mm de comprimento. Em (existem de forma restrita em algumas entidades
0000
0000
Figura 6. Adultos da cigarrinha Dalbulus maidis.
geral, as fêmeas são maiores que os machos. Os que realizam pesquisa), o único hospedeiro
adultos são de coloração amarelo-palha, podendo conhecido para essa espécie de inseto é o
Figura
alguns 6. apresentar
espécimes Adultos da cigarrinha
coloração Dalbulus milho.
mais clara maidis.Estudos recentes demonstraram que D.
Figura 6. Adultos da cigarrinha Dalbulus
ou mais escura, em função do clima. Os machos maidis.
maidis adota a migração como uma estratégia
apresentam o abdome com coloração amarelo para se disseminar. Essas cigarrinhas utilizam
vivo, diferenciando-se do tórax e da cabeça, os recursos alimentares oferecidos pelas
A B
A
B
6 Recomendações para o manejo de doenças do milho disseminadas por insetos-vetores
C D E
F
G
H
Figura 7. A cigarrinha-do-milho, Dalbulus maidis. Adulto: A) vista dorsal; B) asas anterior e posterior. Fêmea: C) ovipositor em vista
Figura
ventral mostrando sétimo 7. A cigarrinha-do-milho,
esternito Dalbulus
abdominal. Genitália masculina: D) maidis. Adulto:
placa genital A)ventral;
em vista vista dorsal; B) asas
E) e F) edeago em vista lateral e
anterior
dorsal; G) conectivo e dorsal;
em vista posterior. Fêmea:
H) estilo em vista C) ovipositor
dorsal. Linhas: 1,0em
mm vista
(A-C) eventral
sétimo mostrando
0,1 mm (D-H).
esternito abdominal. Genitália masculina: D) placa genital em vista ventral; E) e
F) edeago em vista lateral e dorsal; G) conectivo em vista dorsal; H) estilo em
vistadurante
plantas de milho dorsal. Linhas: 1,0 mm
todo o ciclo da (A-C) e 0,1 mm (D-H).
Pulgão
cultura e abandonam os campos senescentes Diversas espécies de afídeos ou pulgões
à procura de novos plantios de milho, podendo (Hemiptera: Aphididae) podem ocorrer em plantas
se deslocar entre áreas separadas0 por dezenas de milho, sendo0000
o pulgão-do-milho, Rhopalosiphum
de quilômetros de distância (OLIVEIRA et al., maidis (Fitch) (Figura 8) a espécie mais comumente
2013a). encontrada nessa cultura, no Brasil. O pulgão R.
maidis é cosmopolita, encontrado nas regiões
tropicais, subtropicais ou mesmo em algumas
vistavista
dorsal. Linhas:
dorsal. 1,0 1,0
Linhas: mmmm(A-C) e 0,1
(A-C) mm
e 0,1 (D-H).
mm (D-H).
Recomendações para o manejo de doenças do milho disseminadas por insetos-vetores 7
0 0 0000
0000
(esquerda) e colônia de pulgões em planta de milho (direita).
Figura 8. Pulgão-do-milho Rhopalosiphum maidis. Adultos ápteros e ninfas
Figura 8. Pulgão-do-milho Rhopalosiphum maidis. Adultos ápteros e ninfas
Figura 8. Pulgão-do-milho Rhopalosiphum maidis. Adultos ápteros e ninfas
(esquerda) e colônia de pulgões em planta de milho (direita).
(esquerda)
regiões e colônia de pulgões em planta de milhoque(direita).
temperadas, entre as latitudes de 40 maiores as posteriores. As asas são mantidas
o
N e 40o S (BERTI FILHO, 1982; HILL, 1983; verticalmente sobre o corpo quando em repouso. Os
BLACKMAN; EASTOP, 1984). insetos da forma áptera medem aproximadamente
1,5-2,0 mm. Os espécimes exibem coloração
O pulgão-do-milho apresenta duas formas: verde-azulada e apresentam cabeça, pernas e
macróptera (alada) e braquíptera (áptera) (Figura antenas escuras. Ambas as formas possuem corpo
9). Os insetos da forma alada são pequenos (< 1,5 piriforme. O aparelho bucal é do tipo sugador
mm) e apresentam cabeça, tórax, pernas e antenas labial trissegmentado e as antenas são filiformes.
escuras, abdome verde-claro. Possuem dois pares Na parte posterior do abdome encontram-se
de asas translúcidas, sendo as anteriores bem duas estruturas tubuliformes escuras e dispostas
A
B
C
FiguraRhopalosiphum
Figura 9. O pulgão-do-milho, 9. O pulgão-do-milho, Rhopalosiphum
maidis. A) adulto alado em vistamaidis. A)adulto
dorsal; B) adultoáptero
aladoemem vista
vista dorsal e C) sifúnculo em
vista lateral. Linhas: 1,0 mm (A-B)
dorsal; e 0,1 mm
B) adulto (C).
áptero em vista dorsal e C) sifúnculo em vista lateral. Linhas:
1,0 mm (A-B) e 0,1 mm (C).
8 Recomendações para o manejo de doenças do milho disseminadas por insetos-vetores
Os espécimes de R. maidis são muito pouco móveis, O fitoplasma não cresce em meio de
principalmente aqueles da forma áptera. Vivem em cultura artificial. Contudo, a comparação do
colônias, principalmente no cartucho das plantas desenvolvimento de plantas de milho infectadas
de milho, e quando em grande número podem se por esse patógeno e cultivadas em condições de
espalhar por outras partes da planta, incluindo temperatura de 15 0C e 27 0C e de 18 0C e 30
o colmo e os órgãos reprodutivos. O principal 0
C, respectivamente durante o dia e durante a
hospedeiro dessa espécie é o milho; no entanto, noite, mostrou que as plantas infectadas secam
também se encontra registrada em plantas de aveia, mais rapidamente nas condições de temperaturas
centeio, cevada, trigo, sorgo e cana-de-açúcar, além mais elevadas (NAULT, 1980), evidenciando que
de outras gramíneas (SILVA et. al., 1968; BERTELS, temperaturas altas favorecem o desenvolvimento
1973; HILL, 1983; BLACKMAN; EASTOP, 1984; do fitoplasma.
GALLO et al., 2002). A disseminação dessa espécie,
assim como a maioria das espécies de pulgões, se A temperatura afeta a aquisição e o período
dá pela migração da forma alada (DEWAR et al., latente do fitoplasma no inseto vetor (MOYA-
1980). Os pulgões alados abandonam as plantas RAYGOZA; NAULT, 1998; OLIVEIRA et al.,
hospedeiras, principalmente quando as condições 2011). Temperaturas médias de 18 0C e 30 0C,
são desfavoráveis para a colônia, e migram, mínima e máxima, respectivamente, favorecem
colonizando novas plantas. o desenvolvimento do espiroplasma e a
expressão dos sintomas do enfezamento pálido
nas plantas de milho (OLIVEIRA et al., 2011;
Influência do clima na incidência SABATO et al., 2014).
das doenças
Na Tabela 1 são apresentados os resultados da
O clima influencia a incidência e a severidade das avaliação de cinco híbridos de milho comum e um
doenças vegetais atuando diretamente sobre o agente híbrido de milho pipoca, submetidos à inoculação
causal, ou indiretamente sobre o hospedeiro, ou sobre com espiroplasma, e cultivados em vasos, em
ambos. As condições climáticas podem favorecer ou viveiro telado, em duas épocas com diferentes
restringir os mecanismos de dispersão do agente causal condições de temperatura ambiente. A inoculação
ou o seu desenvolvimento e proliferação no hospedeiro, foi feita através do confinamento de duas
e podem também afetar processos fisiológicos do cigarrinhas D. maidis infectantes com espiroplasma,
hospedeiro, favorecendo a infecção pelo patógeno. em cada plântula, aos oito dias após a germinação,
Entre as variáveis climáticas, a temperatura e a durante seis dias. Para cada híbrido foram feitas
umidade relativa do ar destacam-se pelos efeitos sobre cinco repetições com inoculação, e duas repetições
as doenças vegetais (AGRIOS, 2005). para controle, sendo esse controle plantas não
submetidas à inoculação, em que foram confinadas
Existem evidências que os enfezamentos do milho duas cigarrinhas sadias. As plantas foram avaliadas
causados por molicutes e a virose mosaico-comum, semanalmente quanto à manifestação de sintomas
causada por potyvirus, são doenças que podem do enfezamento pálido.
ser favorecidas por temperaturas mais elevadas do
verão, em relação às temperaturas mais amenas do As condições de temperatura ambiente durante a
outono e do inverno. condução dos Experimentos 1 e 2 encontram-se na
Figura 10a,b.
Influência da temperatura nos
enfezamentos por molicutes No Experimento 1, em que predominaram
A temperatura ambiente pode influenciar temperaturas mais elevadas, em relação ao
diretamente a multiplicação do espiroplasma. Experimento 2 (Figura 10a,b), os sintomas do
Recomendações para o manejo de doenças do milho disseminadas por insetos-vetores 9
Tabela 1. Sintomas do enfezamento pálido em plantas de seis híbridos de milho comum e um híbrido de
milho pipoca submetidas ou não à inoculação com espiroplasma em experimentos em duas condições de
temperatura ambiente*.
Experimento 1
Híbridos Plantas submetidas à inoculação c/ espiroplasma Plantas sadias
1 2 3 4 5 1 2
1 +++++ +++++ +++++ +++++ +++++ - -
2 +++++ +++++ +++++ +++++ +++++ - -
3 +++++ +++++ +++++ - +++++ - -
4 +++++ - + +++++ + - -
5 +++++ +++++ - - +++++ - -
6 - - +++++ - +++++ - -
Pipoca +++++ +++++ +++++ +++++ +++++ - -
Experimento 2
Híbridos Plantas submetidas à inoculação c/ espiroplasma Plantas sadias
1 2 3 4 5 1 2
1 - - +++ - ++ - -
2 - - - - - - -
3 +++++ +++++ +++++ +++++ +++++ - -
4 - - - - - - -
5 - - - ++++ - - -
6 ++++ - - - - - -
Pipoca +++++ +++++ +++++ +++++ +++++ - -
0000
*
(-) ausência de sintomas; (+) sintomas em uma folha; (++) sintomas em 25% das folhas; (+++) sintomas em até 50% das folhas; (++++)
sintomas em mais de 50% das folhas; (+++++) sintomas em todas as folhas e redução em altura.
b)
0000 000
Figura 10. a) Temperatura e precipitação pluviométrica durante a condução do a)
Figura 10. Temperatura
Experimento 1; e precipitação pluviométrica durante a condução do
b) b) Temperatura e precipitação pluviométrica durante a condução do Experimento
Experimento 2. 1; b) Temperatura e precipitação pluviométrica durante a
condução do Experimento 2.
10 Recomendações para o manejo de doenças do milho disseminadas por insetos-vetores
condições de temperatura do Experimento 2 (Figura duas semanas. É possível que esse efeito seja
10b) atrasaram o florescimento das plantas, que decorrente da maior atividade fisiológica da planta
ocorreu com mais de 70 dias após a semeadura, e em temperatura mais elevada, favorecendo a
afetaram diferencialmente nos híbridos de milho, multiplicação do vírus nos tecidos, e a expressão
a infecção pelo espiroplasma e a manifestação de dos sintomas da doença.
sintomas do enfezamento pálido. De forma geral,
durante o período de condução do Experimento Sistema de produção de milho e
1, as temperaturas foram mais altas em cerca de incidência das doenças
4 a 5 0C, em relação ao período de condução do
Experimento 2 (Figura 10a,b). As temperaturas Influência do sistema de produção de milho
máximas permaneceram em torno de 30 0C e com semeadura escalonada na incidência
as mínimas em torno de 18 0C, durante a maior dos enfezamentos
parte do período de condução do Experimento 1, A cigarrinha Dalbulus maidis migra de lavouras
confirmando que essas condições favorecem o de milho em fase de produção para lavouras com
desenvolvimento do enfezamento pálido. plântulas nos estádios iniciais de desenvolvimento,
concentrando-se, ao longo do tempo, nas lavouras
Influência da temperatura na virose semeadas tardiamente, em dezembro, e nas
mosaico-comum épocas da safrinha (OLIVEIRA et al., 2014a).
A avaliação da incidência da virose do mosaico- Em decorrência desse fato, ocorre aumento da
comum em duas cultivares de milho, mensalmente população de cigarrinhas infectantes com molicutes,
semeadas em Sete Lagoas, MG, durante dois anos, quando há plantas de milho com enfezamentos nas
mostrou maior incidência nos meses de novembro, lavouras de milho adultas, e quando as condições
dezembro e janeiro, coincidindo com temperaturas climáticas, particularmente a temperatura,
elevadas e alta precipitação pluviométrica favorecem a multiplicação desses patógenos, nas
(ALMEIDA et al., 2001). Contudo, é provável que plantas e nas cigarrinhas. Por isso, ocorre maior
essas condições climáticas tenham essencialmente incidência dos enfezamentos nas lavouras de milho
contribuído para favorecer o desenvolvimento tardias e na safrinha.
dos afídeos vetores desse vírus, e de gramíneas
perenes infectadas, que podem servir de fonte Assim, o escalanomento da semeadura do
de inóculo. Estudos sobre a reprodução do milho em determinada localidade, ou em uma
pulgão-do-milho, Ropalosiphum maidis, mostram microrregião, contribui para aumentar a densidade
que temperaturas elevadas, em torno de 30 0C populacional do inseto-vetor dos molicutes e pode
reduzem o número de dias do ciclo biológico desse aumentar a incidência das doenças que as causam
inseto (MAIA et al., 2004). se simultaneamente ocorrer: presença de inóculo
dos molicutes, condições climáticas favoráveis ao
Contudo, não tem sido observado efeito marcante seu desenvolvimento, cultivar de milho susceptível
da temperatura diretamente sobre a infecção das aos enfezamentos.
plântulas de milho pelos potyvirus e a severidade
dos sintomas da virose. A comparação da Influência do sistema de produção de milho
inoculação mecânica do agente causal do mosaico- com escalonamento de semeadura na
comum em plântulas de milho, utilizando-se incidência da virose mosaico-comum
extrato de folhas com sintomas dessa virose, e De forma similar ao que acontece com os
“carborundum” para provocar ferimentos (ALMEIDA enfezamentos, avaliações da incidência do mosaico-
et al., 2000), em condições de temperatura média comum, em função da época de semeadura do milho,
diária em torno de 19 0C e de 24 0C, mostraram mostram maior incidência dessa virose em semeaduras
apenas atraso de poucos dias no aparecimento realizadas nos meses de novembro, dezembro e
dos sintomas, na condição de temperatura mais janeiro, coincidindo com temperaturas e precipitações
baixa. Na condição de temperatura mais elevada, pluviométricas mais elevadas, sendo essas condições
as plântulas submetidas à inoculação apresentaram consideradas, provavelmente favoráveis ao
sintomas característicos da virose em cerca de desenvolvimento dos afídeos vetores (ALMEIDA et
uma semana, e na temperatura mais baixa, em al., 2001). É importante observar que, na época do
Recomendações para o manejo de doenças do milho disseminadas por insetos-vetores 11
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