Você está na página 1de 30

PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

TRIBUNAL DE JUSTIÇA – PRESIDÊNCIA


EXCELENTÍSSIMO SENHOR DES. PRESIDENTE

IEDA JUSSARA RIVAROLLY, já qualificada nos autos no qual contende


com o ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL, por seus procuradores, vem a Vossa
Excelência, respeitosamente, interpor o presente recurso de

AGRAVO DE INSTUMENTO
em face da r. decisão evento 23, integralizada pela decisão evento 31, expedida nos
atos do cumprimento de sentença nº 50395952420218210001, que tramita na 5ª Vara
da Fazenda Pública do Foro Central da Comarca de Porto Alegre.

Funda-se o presente, no Parágrafo único do art. 1.015, do Código de Processo


Civil.

I - DA EXPOSIÇÃO DOS FATOS E DO DIREITO

A decisão que se está agravar traz os seguintes fundamentos, in verbis:

“Vistos.
Trata-se de impugnação ao cumprimento de sentença em que parte
impugnante alega excesso de execução em virtude de que não foi observado
no cálculo da parte impugnada a prescrição quinquenal no termo inicial, bem
como o teto constitucional nas parcelas mensais e juros de mora conforme a
caderneta de poupança.
Intimada, a parte impugnada refuta a alegação do impugnante em relação
ao termo inicial, ao teto constitucional e aos juros de mora, Requereu a
improcedência da impugnação, assim como o arbitramento da verba honorária
para a fase de conhecimento e a expedição de requisitório do valor
incontroverso.
É o relatório.
Decido.
TERMO INICIAL DO CÁLCULO
Procede o argumento da parte impugnante, visto que o termo inicial do
cálculo deve observar a data do ajuizamento da ação principal (18.05.2015),
com a devida proporcionalidade na parcela inicial, face à prescrição
quinquenal, o que não restou observado no cálculo apresentado pelo exequente.
TETO CONSTITUCIONAL - PARCELAS MENSAIS
A exequente/impugnada obteve judicialmente o direito à implantação da
FGE-12 de regime especial em seus proventos com fundamento na paridade
remuneratória com os vencimentos dos servidores ativos.
Nesse contexto, entendo que a referida função gratificada não pode ser
considerada como de natureza indenizatória - e portanto, isenta da observância
do teto remuneratório constitucional -, especialmente por não se tratar de verba
de caráter pessoal e transitória.
Sinale-se, inclusive, que constou expressamente no Recurso de Apelação
que "tratando-se de vantagem que alcança todos os servidores ativos que
exercem a função gratificada de Diretor-Geral, em caráter geral e irrestrito,
tenho que o padrão FGE-12, deve ser estendido também à demandante, que
exerceu a mesma função, ante a paridade de vencimentos entre ativos e inativos
a que faz jus, nos termos da fundamentação" (Evento 1, OUT5, páginas 15-16).
Consigno, ainda, que apesar da ausência de expressa de ressalva no
comando judicial quanto à observância do referido teto remuneratório, tenho
que o entendimento esposado neste momento não ofende o princípio da coisa
julgada, na medida em que aplicação do referido dispositivo constitucional é
compulsória.
Aliás, dispõe o artigo 17 da ADCT:
"Art. 17. Os vencimentos, a remuneração, as vantagens e os adicionais,
bem como os proventos de aposentadoria que estejam sendo percebidos em
desacordo com a Constituição serão imediatamente reduzidos aos limites dela
decorrentes, não se admitindo, neste caso, invocação de direito adquirido ou
percepção de excesso a qualquer título".
Por fim, esclareço que não há falar em análise isolada da percepção da
referida função gratificada para confronto com o teto remuneratório
constitucional, ao passo que a situação não se assemelha às hipóteses de
acumulação de cargos autorizada pela Constituição Federal, ou mesmo de
percepção de vantagens de naturezas distintas, a exemplo de proventos de
aposentadoria e de pensão, que aí sim devem ter os valores percebidos
analisados isoladamente.
Portanto, entendo que assiste razão ao impugnante/executado no sentido
de que o cálculo de liquidação deve ser observar o teto remuneratório
constitucional previsto no artigo 37, inciso XI da Constituição Federal.
JUROS DE MORA
Na espécie, quanto aos critérios de atualização o STF, em recente
julgamento definitivo, com trânsito em julgado em 03.03.2020, do Tema nº 810
da repercussão geral relativa ao Recurso Extraordinário nº 870.947/SE, firmou
o seguinte entendimento, sem modulação de efeitos:
"1) O art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação dada pela Lei nº
11.960/09, na parte em que disciplina os juros moratórios aplicáveis a
condenações da Fazenda Pública, é inconstitucional ao incidir sobre débitos
oriundos de relação jurídico-tributária, aos quais devem ser aplicados os
mesmos juros de mora pelos quais a Fazenda Pública remunera seu crédito
tributário, em respeito ao princípio constitucional da isonomia (CRFB, art. 5º,
caput); quanto às condenações oriundas de relação jurídica não-tributária, a
fixação dos juros moratórios segundo o índice de remuneração da caderneta de
poupança é constitucional, permanecendo hígido, nesta extensão, o disposto no
art. 1º-F da Lei nº 9.494/97 com a redação dada pela Lei nº 11.960/09; e 2) O
art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação dada pela Lei nº 11.960/09, na parte
em que disciplina a atualização monetária das condenações impostas à Fazenda
Pública segundo a remuneração oficial da caderneta de poupança, revela-se
inconstitucional ao impor restrição desproporcional ao direito de propriedade
(CRFB, art. 5º, XXII), uma vez que não se qualifica como medida adequada a
capturar a variação de preços da economia, sendo inidônea a promover os fins
a que se destina".
Assim, para as condenações da Fazenda Pública e a partir da edição da
Lei nº 11.960/09 (julho/2009) incidem juros de mora segundo remuneração
oficial da caderneta de poupança.
Cabe ressaltar que não há falar em preclusão ou ofensa à coisa julgada,
pois a Lei Federal nº 11.960/2009 tem natureza eminentemente processual, com
aplicação imediata, mesmo em processos em curso. Dessa feita, não há ofensa
ao entendimento do STF no julgamento do Tema nº 733.
VALOR DA REPRESENTAÇÃO FGE-12 - DIRETOR GERAL
Assiste razão ao impugnante quanto à forma de apuração da Gratificação
de Representação FGE-12 - Diretor Geral, que não se confunde com a forma de
apuração do valor da função gratificada FGE-12.
Isso porque a Gratificação de Representação FGE-12 é composta pelo
valor da FG-12 multiplicada por 2,5, acrescido do valor da Gratificação de
Representação de 35% devida ao Diretor Geral, calculada sobre o CC-12
multiplicado pelo fator 2,5 (Evento 10, LAUDO2, página 6).
Sinale-se, inclusive, que apesar da extensa manifestação da impugnada no
Evento 12, não houve qualquer irresignação específica quanto ao presente
tópico da impugnação, que, portanto, merece acolhida.
HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS DA FASE DE CONHECIMENTO
O comando judicial determinou o seguinte (Evento 1, OUT6, página 6):
"Sucumbente, o Estado responde pelas custas processuais, (...) e também por
honorários advocatícios a serem arbitrados por ocasião da liquidação da
sentença - artigo 85, §§ 3º e 4º, inciso II do CPC".
Dessa feita, fixo os honorários advocatícios para a fase de conhecimento
em 10% sobre o valor da condenação, nos termos do artigo 85, § 3º, inciso I,
CPC.
Diante do exposto, JULGO PROCEDENTE A IMPUGNAÇÃO para
determinar o prosseguimento do feito pelo valor de R$ 95.062,12 (Evento 10,
LAUDO2).
Diante da procedência da impugnação, condeno a parte
exequente/impugnada ao pagamento dos honorários advocatícios relativos à
presente impugnação em 10% sobre o valor devido.
Inclua-se os procuradores no polo ativo da demanda (Evento 1, PET2,
Página 3 - letra "d").
Precedente à expedição do precatório e considerando o pedido de reserva
de honorários, intime-se a parte credora/procurador para que junte aos autos o
contrato de honorários mencionado no Evento 12, PET1, Página 15.
Intimem-se.”

Após à intimação de decisão acima, a parte agravante interpôs embargos de


declaração, evento 29, que restaram, contudo, desacolhidos, conforme decisão
evento 31.

Por sua vez, o título executivo judicial, objeto do presente cumprimento de


sentença, acórdão da eg. Terceira Câmara Cível do TJ/Rs, Apelação Cível,
Nº 70074119496, traz os seguintes fundamentos, resumidos em sua ementa, in
verbis:

“APELAÇÃO CÍVEL. SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL INATIVO. REVISÃO


DE PROVENTOS. QUADRO DA PROCURADORIA-GERAL DE JUSTIÇA.
FUNÇÃO GRATIFICADA FG-12. REGIME ESPECIAL (FGE-12). DIREITO À
PARIDADE. LEI 9.504/92. 1. Não se verifica a existência de coisa julgada. As
ações possuem causa de pedir e pedidos distintos: na primeira ação a servidora
ativa pretendia a retificação de ato administrativo para percepção de vantagem
em atividade; nesta ação a servidora inativa busca o reconhecimento do direito
à paridade para percepção de vantagem em seus proventos. Trata-se de
processo em que a causa está madura, o que autoriza a imediata apreciação do
mérito da questão (art. 1.013, § 3º, inc. III, do CPC). 2. A pretensão da parte
autora é de revisão de proventos de aposentadoria, ou seja, prestações de trato
sucessivo, atraindo a incidência da prescrição quinquenal (Súmula 85 do STJ),
de modo que estão prescritas as parcelas anteriores a 18/05/2010, considerando
a data da propositura da ação em 18/05/2015. 3. Em que pese a demandante ter
se aposentado depois da vigência da Emenda Constitucional nº 41/03 (em
03/04/2006), preencheu os requisitos previstos no artigo 3º da EC 47/05,
fazendo jus à paridade remuneratória com os vencimentos dos servidores ativos.
4. A autora é servidora pública inativa, aposentada em 03/04/2006, que
incorporou 100% da Função Gratificada de Coordenador, FG-12; postulando
revisão de seus proventos, para acrescentar o valor referente à remuneração do
regime especial. A Lei Estadual nº 14.199/2013 alterou os incisos I e II do art.
2º da Lei nº 9.504/92, passando o cargo de Coordenador (FG-12) a se
denominar “Diretor-Geral FG-12”. 5.Tratando-se de vantagem que alcança os
servidores ativos que exercem a função gratificada de Diretor-Geral, em caráter
geral e irrestrito, o padrão FGE-12 deve ser estendido também à demandante,
que exerceu a mesma função, ante a paridade de vencimentos entre ativos e
inativos a que faz jus. APELO PROVIDO. AÇÃO JULGADA
PROCEDENTE.(Apelação Cível, Nº 70074119496, Terceira Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Leonel Pires Ohlweiler, Julgado em: 28-06-
2018)”

Insta reproduzir, a parte dispositiva do mencionado acórdão acima ilustrado, o


título executivo judicial passado em julgado, in verbis:

“(...)
IV – DISPOSITIVO
Ante o exposto, DOU PROVIMENTO à apelação para afastar a
extinção do processo em virtude da coisa julgada, e, no mérito, julgar
procedente a ação, determinando a implantação da FGE-12 de regime especial
nos proventos da demandante desde a data de sua aposentadoria, condenando
o Estado ao pagamento das respectivas diferenças, atualizadas monetariamente
conforme fundamentação supra, e observada a prescrição qüinqüenal.
Sucumbente, o Estado responde pelas custas processuais,
ressalvada a isenção quanto às despesas de condução de Oficial de Justiça, e
também por honorários advocatícios a serem arbitrados por ocasião da
liquidação da sentença – art. 85, §§ 3º e 4º, II, do CPC.(...)”
II - DAS RAZÕES DO PEDIDO DA REFORMA

DA IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA DOS FUNDAMENTOS DA DECISÃO AGRAVADA

II.1) DO TERMO INICIAL DO CÁLCULO

A parte inicial da decisão ora agravada, traz os seguintes fundamentos:


“TERMO INICIAL DO CÁLCULO. Procede o argumento da parte impugnante,
visto que o termo inicial do cálculo deve observar a data do ajuizamento da ação
principal (18.05.2015), com a devida proporcionalidade na parcela inicial, face à
prescrição quinquenal, o que não restou observado no cálculo apresentado pelo
exequente”.

Carece de reforma, no entanto, o trecho da r. decisão acima identificada, porque


embora a ação tenha sido ajuizada em 18/05/2015 mostra-se claro que o comando
dispositivo do acórdão “observada a prescrição qüinqüenal”, tem como marco
inicial o os cinco anos anteriores ao ajuizamento da ação. Assim, a prescrição
quinquenal deve ser observada pela decorrência do lustro prescricional anterior ao
ajuizamento da ação, tal como identificado na memória de cálculo anexada ao
cumprimento de sentença, diga-se, a data inicial dos cincos anos anteriores ao
ajuizamento da ação, mês de maio do ano de 2010.

Obviamente que pensar diferente, como faz a decisão agravada, atenta-se


contra às disposições do art. 1º, do Decreto-Lei 20.910/1932, a seguir, com grifos
e destaques na parte contrariada pela decisão agravada, in verbis:

“As dívidas passivas da União, dos Estados e dos Municípios, bem assim todo
e qualquer direito ou ação contra a Fazenda federal, estadual ou municipal,
seja qual for a sua natureza, prescrevem em cinco anos contados da data do
ato ou fato do qual se originarem.”

Doravante, indo frontalmente contra às disposições de lei vigente acima


mencionada, a decisão agravada, com todas as venias, deve ser reformada no ponto,
na esteira da jurisprudência dominante, com entendimento sedimentado oposto à
essa decisão - causa do inconformismo da agravante. Ei-lo, abaixo, destacado o
trecho da ementa desrespeitado pela decisão agravada, in verbis:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. SERVIDOR PÚBLICO. MUNICÍPIO DE SÃO


NICOLAU. MAGISTÉRIO. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. TERÇO
CONSTITUCIONAL DE FÉRIAS. TÍTULO OBTIDO EM AÇÃO
COLETIVA. PRESCRIÇÃO DAS PARCELAS PRETÉRITAS.
INOCORRÊNCIA. CONTAGEM DO PRAZO. DATA
DO AJUIZAMENTO DA AÇÃO COLETIVA. 1. Nos termos do art. 1º do
Decreto-lei nº 20.910/32, na execução contra a Fazenda Pública, consideram-
se prescritas as parcelas anteriores ao quinquênio que precedeu
o ajuizamento da ação. 2. Com efeito, a prescrição quinquenal das parcelas
vencidas conta-se do ajuizamento da ação coletiva, e não da decisão que julgou
o cumprimento de sentença, como tentar fazer crer o agravante. Precedente do
e. Superior Tribunal de Justiça visitados. 3. Aplicação ao caso do entendimento
materializado no verbete nº 568 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça
combinado com o art. 206, XXXVI, do RITJRS. AGRAVO DE INSTRUMENTO
IMPROVIDO. DECISÃO MONOCRÁTICA.(Agravo de Instrumento, Nº
70084446897, Terceira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Nelson Antônio Monteiro Pacheco, Julgado em: 16-03-2021)

Por certo, a decisão deve ser reformada, também, tendo em vista as claras
disposições do título executivo judicial a respeito, conforme a seguir ilustrado com
grifos e destaques na parte malferida pela decisão agravada, in verbis:

“(...)
Da leitura da petição inicial, é possível compreender que a
pretensão da parte autora é de revisão de proventos de aposentadoria, ou seja,
prestações de trato sucessivo, atraindo a incidência da prescrição quinquenal
(Súmula 85 do STJ), de modo que estão prescritas as parcelas anteriores a
18/05/2010, considerando a data da propositura da ação em 18/05/2015.
(...)”

Resta inequívoco, portanto, que a decisão agravada deve ser reformada,


sobretudo, por que se insurge contra a coisa julgada, exatamente no trecho que
delimita o marco inicial do cálculo, como sendo esse em 18/05/2010.

Destarte, está errada a decisão na parte que registra “... o termo inicial do
cálculo deve observar a data do ajuizamento da ação principal (18.05.2015), (...) o
que não restou observado no cálculo apresentado pelo exequente”.

Postula-se pela reforma, no ponto.

II.2) TETO CONSTITUCIONAL - PARCELAS MENSAIS

Nessa parte, a decisão agravada refere, resumidamente, que: “A (...) FGE-12


(...) não pode ser considerada como de natureza indenizatória - e portanto, isenta
da observância do teto remuneratório constitucional -, especialmente por não se
tratar de verba de caráter pessoal e transitória. Sinale-se, inclusive, que constou
expressamente no Recurso de Apelação que "tratando-se de vantagem que alcança
todos os servidores ativos que exercem a função gratificada de Diretor-Geral, em
caráter geral e irrestrito, tenho que o padrão FGE-12, deve ser estendido também
à demandante, que exerceu a mesma função, ante a paridade de vencimentos entre
ativos e inativos a que faz jus, nos termos da fundamentação" (Evento 1, OUT5,
páginas 15-16). Consigno, ainda, que apesar da ausência de expressa de ressalva
no comando judicial quanto à observância do referido teto remuneratório, tenho
que o entendimento esposado neste momento não ofende o princípio da coisa
julgada, na medida em que aplicação do referido dispositivo constitucional é
compulsória. Aliás, dispõe o artigo 17 da ADCT: "(...) ". Por fim, esclareço que não
há falar em análise isolada da percepção da referida função gratificada para
confronto com o teto remuneratório constitucional, ao passo que a situação não se
assemelha às hipóteses de acumulação de cargos autorizada pela Constituição
Federal, ou mesmo de percepção de vantagens de naturezas distintas, a exemplo de
proventos de aposentadoria e de pensão, que aí sim devem ter os valores percebidos
analisados isoladamente. Portanto, entendo que assiste razão ao
impugnante/executado no sentido de que o cálculo de liquidação deve ser
observar o teto remuneratório constitucional previsto no artigo 37, inciso XI da
Constituição Federal.”

Cumpre mencionar, antes de tudo, o que diz o título executivo no ponto, in


verbis:

“(...)
A Lei Estadual nº 9.504/92 dispunha em sua redação original:
Art. 1º - São extintos todos os cargos em comissão e funções gratificadas
que integram o Quadro de Cargos em Comissão e Funções Gratificadas
da Procuradoria-Geral de Justiça.
Art. 2º - São criados os seguintes cargos em comissão e funções
gratificadas, assim distribuídos:
I – ASSESSORIA ESPECIAL Nº 1
DENOMINAÇÃO CC FG
Coordenador CC-12 FG-12
Já a Lei Estadual nº 14.199/2013 alterou os incisos I e II do art. 2º da Lei
nº 9.504/92:
Art. 2º - São criados os seguintes cargos em comissão e funções
gratificadas, assim distribuídos:
I - DIREÇÃO E CHEFIA
Nº DENOMINAÇÃO PADRÃO
01 Diretor-Geral CC/FG-12
Tais regras são relevantes para o deslinde do caso em julgamento.
(...)
A Situação Concreta dos Autos
A autora é servidora pública inativa, aposentada em 03/04/2006, “nos
termos do artigo 127, § 2º, da Constituição Federal, do artigo 109, inciso II,
parágrafo único, da Constituição Estadual, combinado com o artigo 3º, incisos
I, II e III, parágrafo único, da Emenda Constitucional nº 47/2005, e nos termos
das Leis nºs 7.253/79, 10.098/94, 10.695/96, 11.913/03 e 12300/05 (...) devendo
perceber, na inatividade, os proventos mensais e integrais (...), incluindo 50%
(...) referentes a 10 (dez) avanços trienais, a Gratificação Adicional de 25%
(vinte e cinco por cento) e a Incorporação de 100% (cem por cento) da Função
Gratificada de Coordenador, FG-12, acrescida de gratificação de
representação de 60%” (fls. 21-22).
Postula revisão de seus proventos, para acrescentar o valor referente à
remuneração do regime especial.
Na hipótese, em que pese a demandante ter se aposentado depois da
vigência da Emenda Constitucional nº 41/03 (em 03/04/2006), preencheu os
requisitos previstos no artigo 3º da EC 47/05, fazendo jus à paridade
remuneratória com os vencimentos dos servidores ativos, conforme já decidiu
esta Câmara:
(...)
É incontroverso nos autos que a autora possui direito à paridade
remuneratória com os servidores da ativa. A polêmica reside em saber se
aproveita a autora o caráter de regime especial da função gratificada de Diretor
Geral, para fins de percepção da função gratificada FGE-12.
Sobre o regime especial, a Lei nº 5.786/69 dispunha, no §3º do art. 3º, que
nele poderiam ser providos os cargos em comissão ou funções gratificadas
lotados no Gabinete do Governador, bem como até três cargos ou funções em
cada Secretaria de Estado.
A seu turno, a Lei nº 11.849/2002 incluiu o parágrafo único ao artigo 4º
da Lei 9.504/92:
Art. 4º - Os cargos em comissão e funções gratificadas poderão, a critério
e por ato do Procurador-Geral de Justiça, ser providos sob o regime
especial, até o máximo de cinco (5), tendo o vencimento ou a gratificação
do respectivo padrão multiplicado por 2,0. (Vide Lei n.º 9.767/92)
Parágrafo único - O cargo em comissão ou a função gratificada de
Diretor-Geral, padrão CC/FG-12, quando provido sob a forma de regime
especial poderá ter o vencimento ou a gratificação com a respectiva
representação multiplicado por 2,5.
Como visto, a partir da vigência dessa lei (11.849/02), o cargo ou função
gratificada de Diretor-Geral poderá ser provido em regime especial, a critério
e por ato do Procurador-Geral de Justiça.
Não obstante o que dispõe o art. 4º da Lei 9.504/92, de que os cargos em
comissão e funções gratificadas poderão, a critério e por ato do Procurador-
Geral de Justiça, ser providos sob o regime especial, o que se observa
hodiernamente é que do aludido regime especial, que originalmente se
justificava por uma jornada de trabalho diferenciada (art. 3º, §2º, da Lei nº
5.786/89, em sua redação original; ou ainda arts. 12 a 22 da Lei nº 6.486/72),
sobreviveu apenas a forma de provimento diferenciada, o que não justifica a
diferenciação pecuniária entre a FG-12 e a FGE-12 (regime especial).
Tanto assim o é que, em consulta online ao Diário Eletrônico do
Ministério Público, constata-se que os ocupantes da função gratificada de
Diretor-Geral percebem a gratificação correspondente ao padrão FGE-12
(regime especial):
• Jorge Antônio Gonçalves Machado – Boletim 399/2002 – Diretor-
Geral, designado em 29/11/2002, percebeu a função gratificada
FGE-12 (fl. 66);
• Carlos Alberto Cunha Umsza – Boletim 231/2009 – exerceu, em
substituição, a função gratificada de Diretor-Geral – FGE-121;
• Janete Menezes Fagundes – Boletim 231/2009 – Diretora-Geral,
designada em 11/05/2009, percebeu a função gratificada FGE-12
(2,5)2;

1 https://www.mprs.mp.br/media/areas/de/arquivos/demp_2009_05_14.pdf
2 https://www.mprs.mp.br/media/areas/de/arquivos/demp_2009_05_14.pdf
• Roberval da Silveira Marques – Boletim 202/2011 – Diretor-
Geral, designado em 26/04/2011, percebe a função gratificada
FGE-12 (2,5)3.
Portanto, tratando-se de vantagem que alcança todos os servidores ativos
que exercem a função gratificada de Diretor-Geral, em caráter geral e irrestrito,
tenho que o padrão FGE-12 deve ser estendido também à demandante, que
exerceu a mesma função, ante a paridade de vencimentos entre ativos e inativos
a que faz jus, nos termos da fundamentação.
(...)”

Dessume-se do acórdão acima, título executivo judicial ora executado, que a


controvérsia em questão girou em torno de “saber se aproveita a autora o caráter
de regime especial da função gratificada de Diretor Geral, para fins de percepção
da função gratificada FGE-12”. Ao que concluiu o documento que, “tratando-se
de vantagem que alcança todos os servidores ativos que exercem a função
gratificada de Diretor-Geral, em caráter geral e irrestrito, tenho que o padrão
FGE-12 deve ser estendido também à demandante, que exerceu a mesma função,
ante a paridade de vencimentos entre ativos e inativos a que faz jus, nos termos da
fundamentação”.

Equivocou-se, portanto, a decisão agravada, no que concluiu ser o padrão FGE-


12 uma verba de caráter geral, e por isso integrante do somatório do teto
remuneratório. Não é preciso um ingente esforço para entender que se fosse de
‘caráter geral’ o padrão FGE-12 haveria de ser alcançar todos os servidores do MP,
indistintamente, e não somente os que exercem função gratificada de Diretor Geral,
evidenciando-se a partir daí o error in judicando da decisão agravada, mormente ao
superdimensionar o alcance da referida verba a todos os servidores,
indiscriminadamente, sem nenhuma ressalva, o que não corresponde à realidade dos
presentes autos.

A escrutar a natureza da verba discutida, destaca-se trecho do título executivo


em cumprimento (grifamos): “.... o que se observa hodiernamente é que do aludido
regime especial, que originalmente se justificava por uma jornada de trabalho
diferenciada (art. 3º, §2º, da Lei nº 5.786/89, em sua redação original; ou ainda arts.
12 a 22 da Lei nº 6.486/72), sobreviveu apenas a forma de provimento
diferenciada, o que não justifica a diferenciação pecuniária entre a FG-12 e a FGE-
12 (regime especial). Tanto assim o é que, em consulta online ao Diário Eletrônico
do Ministério Público, constata-se que os ocupantes da função gratificada de Diretor-
Geral percebem a gratificação correspondente ao padrão FGE-12 (regime especial)”.

E segundo se colhe da Lei 5.786/69, que dispunha sobre a atribuição de Regime


Especial de provimento de cargos em comissão e funções gratificadas: “Art. 3º. É
instituído o regime especial de provimento de funções gratificadas (FGE) e cargos

3 https://www.mprs.mp.br/media/areas/de/arquivos/demp_2011_04_27.pdf
em comissão (CCE). (...) O provimento no regime especial corresponderá a 44
horas semanais de trabalho (...)”.

Como se percebe, não é o efetivo exercício dos servidores do órgão


administrativo em questão, tão somente, a condição para obtenção do padrão FGE-
12. Caso fosse, aí sim poderíamos dizer tratar-se de verba de caráter geral. Ocorre
que apenas os que a função gratificada de Diretor Geral – ou seja, que laboravam
no regime de 44 horas semanais foi concedida, caracterizando, assim, o regime
especial, sendo que no caso da agravante, com mesma jornada e atribuições de seus
antecessores e sucessores, os quais todos receberam e recebem a referida
gratificaçãõ. Não por outra razão o título (acórdão passado em julgado), assim refere:

“(...)
E o Estado, em sua contestação, apenas defende que as referidas
funções gratificadas (FG-12) “podem ou não ser transformadas em FGEs,
dependendo de critérios de oportunidade e conveniência do administrador”;
sem enfrentar o fato de que todos os Diretores-Gerais do Ministério Público
receberam ou recebem a função gratificada provida sob o regime especial (fl.
162-166).
Como visto, a demandante incorporou aos seus proventos 100% da
Função Gratificada de Coordenador – FG-12 (fls. 21-22); sendo que o cargo
de Coordenador passou a se denominar Diretor Geral.
E a Lei Estadual nº 11.849/2002 estabelece que os servidores
aposentados e os que, em atividade, tiverem incorporado vantagens relativas a
Cargo em Comissão, Função Gratificada ou Gratificação Equivalente, cujos
padrões e denominações foram modificadas por esta Lei, terão seus
vencimentos e proventos alterados conforme as disposições aqui introduzidas
(art. 7º). Da mesma forma, as Funções Gratificadas ou Cargos em Comissão
providos em regime especial terão esse regime mantido nas Funções e Cargos
correspondentes (art. 7º, § 1º).
Logo, o padrão FGE-12 deve ser estendido também à demandante.
(...)”

Importa referir o caráter indenizatório da FGE-12. Trata-se de “Gratificação


Representação Diretor Geral”, e conquanto o caráter indenizatório não seja
expresso na lei, a mera previsão de jornada diferenciada de 44 horas semanais é
intuitiva no sentido de ser uma verba destinada à contraprestação, em retribuição a
pessoas que laboram acima do limite de 8 horas diárias. Não há dúvida tratar-se de
uma reposição financeira pelo excedente trabalhado.

Por conseguinte, sendo uma verba de caráter indenizatório, está isenta das
limitações do teto remuneratório, forte no inciso §11, do art. 37, da CF/88, in verbis:
“Não serão computadas, para efeito dos limites remuneratórios de que trata o inciso
XI do caput deste artigo, as parcelas de caráter indenizatório previstas em lei.”
Com isso cumpre destacar, e postular, pela modificação da decisão agravada
no ponto, em especial na parte que refere “ (a FGE-12) não pode ser considerada
como de natureza indenizatória - e portanto, isenta da observância do teto
remuneratório constitucional -, especialmente por não se tratar de verba de caráter
pessoal e transitória.”

Cumpre frisar, que a modificação do trecho acima destacado subsiste aos


demais fundamentos da decisão agravada, em especial sobre a análise isolada da
percepção da referida função gratificada para confronto com o teto remuneratório
ou análise da percepção de vantagens de naturezas distintas, a exemplo de
proventos de aposentadoria e de pensão.

II.2.a) – DA INCONSTITUCIONALIDE DA INCIDÊNICA DO TETO


REMUNERATÓRIO SOBRE VERBAS INDENIZATÓRIAS DECORRENTE
DE DECISÃO JUDICIAL

Trata-se de verbas de natureza judicial, condenatória/indenizatória. Sujeitar a


limite remuneratório (teto) pagamentos em atraso ou decorrentes de decisão judicial,
como na situação em tela, ofende princípios constitucionais básicos. Fere a força da
coisa julgada decorrente do título exequendo.

Ressalta-se, no ponto, a Nota Técnica da AMB – Associação dos Magistrados


Brasileiros ao PL nº 6726/2016, em tramitação no Senado Federal, no tópico em que
há tentativa de alteração legislativa para inclusão no teto constitucional de verbas
referentes a pagamentos em atraso, adiantados ou por força de decisão judicial:
(https://www.amb.com.br/wp-content/uploads/2017/08/nota_tecnica_PLextrateto.pdf - consulta
em 09/06/2021, às 22h14min)

“(...) Pagamentos em atraso, adiantados ou por força de decisão judicial


(passivos)– art.5º do PL 6.726/16.

O PL 6.726/16, em seu artigo 5º, também padece de inconstitucionalidade, na


medida em que sujeita ao limite remuneratório os pagamentos em atraso,
adiantados ou por força de decisão judicial.

O Projeto tal como redigido (combinação dos artigos 3º, 5º, 6º e 10) submete
ao teto remuneratório os denominados “passivos”, ou seja, pagamentos que
são feitos pelo ente público em momento posterior ao devido e que, por isso,
são adimplidos com juros e correção monetária.
De acordo com o PL, é possível que um agente/servidor público, credor de
determinada verba salarial do ente estatal, jamais venha a recebê-la, ainda
que se trate de direito reconhecido por decisão judicial, bastando, para isso,
que perceba, segundo o regime de competência, rendimentos em valor próximo
ou equivalente ao teto constitucional.
Submete-se o servidor público, assim, a uma dupla penalidade: primeiro lhe é
negado o direito à época própria e, depois, quando se pretende adimplir a verba
devida, impõe-se a submissão ao teto remuneratório, o que poderá implicar, em
diversos casos, em nova negativa do direito.

Imagine-se o que pode ocorrer, por exemplo, no Rio de Janeiro, no estágio atual
de incapacidade do Estado para pagar os seus servidores.
Um servidor que possua remuneração de R$ 15 mil, por exemplo, e não
tiver recebido por 3 meses, somente poderá receber R$ 30 mil dos R$ 45mil
devidos.
Imagine-se os servidores da Justiça Eleitoral, que são chamados a trabalhar de
forma ininterrupta no período pré-eleitoral, da eleição e após a eleição. Se
ficarem impedidos de receber pelo trabalho realizado certamente se negarão a
trabalhar. Trata-se, novamente, de um enriquecimento sem causa da
Administração e da imposição de um ônus injustificável ao agente público, uma
vez que o recebimento de parcelas atrasadas não se dá por culpa do credor, mas
em razão de desídia da Fazenda Pública.
A limitação ao teto remuneratório destes valores a que faz jus o agente público,
na forma como disposto no artigo 5º e 10 (e também no art. 6º, III, quando ali
inclui as parcelas de equivalência ou isonomia), é flagrantemente
inconstitucional, violando o direito adquirido e o ato jurídico perfeito (art.5º
XXXVI); a inafastabilidade do Poder Judiciário (art.5º, XXXV, quando nega a
possibilidade de pagamento de passivos devidos inclusive por força de decisão
judicial); além de configurar verdadeiro ato de confisco, vedado pelo artigo
150, IV da Constituição Federal.”

Em decisões recentes, 2017, o eg. STF tem entendido não haver ofensa ao texto
do inciso XI e do §11 do art. 37, da CF/88 no provimento que afasta o teto
remuneratório de verbas indenizatórias. A exemplificar, é de ver o “RECURSO
EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO 1.038.852”4, em que se cuidava de acórdão
do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo – ao final mantido pelo STF, expedido
nos seguintes termos: “Os valores pagos a título de conversão de licença-prêmio
em pecúnia têm caráter indenizatório – Exegese do art. 43, § 1º da LCE nº 1.059/08
e da Súmula 136 do STJ - Verbas que não são computadas para fins de limite
remuneratório (art. 37, § 11 da CF e do art. 115, § 7º da CE) - Não incidência do
disposto no art. 37, XI da CF e art. 115, XII da CE, porquanto incidentes apenas
sobre verbas de caráter remuneratório - Inconstitucionalidade do artigo 43, § 1º da
LCE nº 1.059/08 já afastada pelo C. Órgão Especial - Concessão da ordem que se
impõe - Sentença mantida - Reexame necessário e recurso fazendário não
providos.”

De ver também, que não se amolda ao presente processo à questão


constitucional trazida no Recurso Extraordinário n. 606.358, Rel. Ministra Rosa
Weber, cuja repercussão geral foi reconhecida, e traz a norma que “Computam-se
para efeito de observância do teto remuneratório do art. 37, XI, da Constituição da

4 http://portal.stf.jus.br/processos/downloadPeca.asp?id=311938212&ext=.pdf
República também os valores percebidos anteriormente à vigência da Emenda
Constitucional nº 41/2003 a título de vantagens pessoais pelo servidor público ...”.
Isso porque, conforme se extrai do RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM
AGRAVO 1.142.19256, julgado em 2018, em análise com a seguinte ementa:
“Incidência do redutor salarial (‘abate-teto’) sobre a base de cálculo utilizada para
a apuração do valor da licença-prêmio não usufruída pelo servidor e convertida em
pecúnia, cujo pagamento pode ser cumulado com os proventos da aposentadoria,
ainda que o valor somado supere o teto remuneratório, considerando a não
incidência do teto em face da natureza indenizatória da verba”, o Ministro Gilmar
Medes explicitou a diferenciação dessa questão com a norma extraída do RE
606.358, pois, no dizer do Ministro, o precedente em mira trata exclusivamente de
“inclusão de vantagens pessoais no teto remuneratório estadual, após a Emenda
Constitucional n. 41/2003, o que não se dá no presente caso. Nestes autos, a
controvérsia cinge-se, exclusivamente, à natureza indenizatória”.

Note-se não haver distinção relevante diante do fato da decisão supra ter
considerado verbas indenizatórias decorrentes de licença-prêmio não usufruída, em
face do presente processo tratar de verbas indenizatórias decorrentes da gratificação
FGE-12, afinal, a natureza indenizatória de ambas as verbas decorre de legislação
infraconstitucional, e também no caso dos autos a verba discutida não foi usufruída
pela servidora em atividade. Assim, mostra-se legitimamente possível a aplicação
desse mesmo entendimento na correção da decisão agravada, pois se no caso
paradigma o servidor público, quando em atividade, deixou de gozar os períodos de
licença prêmio a que tinha direito, é certo que na espécie, a servidora agravante,
mesmo desempenhando as mesmas funções de Direito Geral, deixou de perceber a
correspondente gratificação especial, não obstante o nexo direto entre o cargo e a
vantagem legalmente reconhecida.

O Supremo Tribunal Federal já havia firmado entendimento, antes mesmo da


EC 47⁄05, de que as parcelas indenizatórias não fariam parte da remuneração ou do
subsídio, não sendo, portanto, computadas para fins do teto de que trata o inc. XI do
art. 37 da Constituição Federal (ADI 1.404 MC, Rel. Min. MARCO AURÉLIO,
Tribunal Pleno, DJ 25⁄5⁄01).

Em relação às verbas referentes ao exercício de direção e chefia, é inegável que


a agravante exerceu a mesma função de Diretor-Geral, obtendo o direito a
compensação indenizatória àqueles que assumem funções de representação da
instituição, com maior responsabilidade e dedicação, até porque seria um

5 http://portal.stf.jus.br/processos/downloadPeca.asp?id=314727442&ext=.pdf
6 http://portal.stf.jus.br/processos/downloadPeca.asp?id=314727442&ext=.pdf
desestímulo àqueles que assumem tais funções não receber uma retribuição pelo
ônus que terão por conta do teto remuneratório.

A gratificação conquistada pela agravante se aproxima dos “quintos”


relacionados à incorporação dos valores correspondentes à remuneração do servidor
e/ou provento na proporção de 1/5 por ano de exercício na função de direção, chefia
ou assessoramento, até o limite de 5/5 (§ 2º do art. 62, da Lei nº 8.112/90 em sua
redação original). A nomenclatura define a relação entre o período no exercício
dessas funções com a eficiência na direção das atribuições para as quais foi nomeado
o servidor, proporcionando a ele um ganho conforme o interstício desempenhado,
norteado pelo tempo de desempenho e valor do cargo ou função exercida. A
similaridade com a FGE-12 é indiscutível, e o STJ já pacificou o entendimento que
tal verba não se sujeita ao teto constitucional.

Nesse sentido:

MANDADO DE SEGURANÇA. SERVIDOR PUBLICO FEDERAL.


QUINTOS. VANTAGENS PESSOAIS. REAJUSTE DE 28,86%
DECORRENTE DE DECISÃO JUDICIAL INCLUI-SE NO ABATE TETO.
SEGURANÇA DEFERIDA PARCIALMENTE. - ENTENDE-SE POR
VANTAGENS PESSOAIS AQUELAS QUE NÃO SÃO DEFERIDAS AO
CONJUNTO DOS SERVIDORES COMO UM TODO, ESTANDO
EXCLUIDAS DO TETO DE REMUNERAÇÃO PREVISTO NO ART. 37, XI
E ART. 39, PARAGRAFO 1., DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. -
CONSIDERA-SE OS QUINTOS COMO VANTAGEM PESSOAL QUE
INTEGRA A REMUNERAÇÃO PERMANENTE DO SERVIDOR
PUBLICO, DEVENDO SER EXCLUIDO DO TETO REMUNERATORIO. -
(...) - SEGURANÇA PARCIALMENTE CONCEDIDA. (MS 3.834/DF, Rel.
Ministro FELIX FISCHER, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 13/05/1998, DJ
29/06/1998, p. 17)

Portanto, cumpre registrar a ofensa da decisão agravada ao §11, do art. 37, da


CF/88, exatamente no trecho que enuncia: (o) “cálculo de liquidação deve ser
observar o teto remuneratório constitucional previsto no artigo 37, inciso XI da
Constituição Federal”, haja vista a generalização da regra do teto remuneratório
feita pela decisão agravada ter atingido, justamente, a exceção dessa regra, qual seja:
a sua não incidência sobre as “parcelas de caráter indenizatório previstas em lei”.

Deve ser reformada a decisão agravada também nesse ponto, o que desde logo
vai postulado na presente inconformidade.

II.3) DOS JUROS DE MORA

Nessa parte a decisão ora agravada externa os seguintes fundamentos (aqui


apresentados de forma resumida): “Na espécie, quanto aos critérios de
atualização o STF, em recente julgamento definitivo, com trânsito em julgado em
03.03.2020, do Tema nº 810 da repercussão geral relativa ao Recurso
Extraordinário nº 870.947/SE, (...) Assim, para as condenações da Fazenda Pública
e a partir da edição da Lei nº 11.960/09 (julho/2009) incidem juros de mora
segundo remuneração oficial da caderneta de poupança. Cabe ressaltar que não há
falar em preclusão ou ofensa à coisa julgada, pois a Lei Federal nº 11.960/2009 tem
natureza eminentemente processual, com aplicação imediata, mesmo em processos
em curso. Dessa feita, não há ofensa ao entendimento do STF no julgamento do
Tema nº 733.”

Merece reparos, como se passa a demonstrar.

A decisão deve ser modificada em face do que consta no título exequendo,


abaixo ilustrado na parte que importa à inconformidade deduzida, com grifos e
destaques no trecho vilipendiado pela decisão ora agravada, in verbis:

“(...)
Com a declaração da inconstitucionalidade do 5º da Lei nº 11.960/09,
que deu nova redação ao artigo 1°-F da Lei n° 9.494/97, deve ser observado o
teor da decisão proferida pelo STF, à luz do artigo 102, § 2º, da Constituição
Federal, o qual disciplina que “as decisões definitivas de mérito, proferidas pelo
STF, nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de
constitucionalidade, produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante,
relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário...”, bem como do previsto
no art. 28, parágrafo único, da Lei nº 9.868/99.
Assim, no período anterior à vigência da Lei nº 11.960/09 deve ser
aplicado o IGP-M como índice da correção monetária, além do que os juros
de mora deverão observar o percentual de 6% ao ano, a contar da citação.
Posteriormente, tem aplicação a aludida legislação até a data de 25/03/2015,
momento em que o Supremo Tribunal Federal modulou os efeitos do julgamento
da ADI nº 4357-DF, cujos créditos a partir desta data deverão ser corrigidos
pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo Especial (IPCA-E).

Como se vê, o título judicial NÃO afastou a aplicação da Lei nº 11.960/09 em


relação à correção monetária. A partir disso, mostra-se equivocado o entendimento
vergastado, ao aplicar no cálculo dos atrasados em cobrança apenas os “juros de
mora segundo remuneração oficial da caderneta de poupança”.

Para melhor demonstrar o que se defende, é de ver como ficou assentado o


Tema 810 do Supremo Tribunal Federal, conforme abaixo, com grifos e
destaques na parte da normação haurida do STF cujo título executivo está de pleno
acordo, e que foi malferida pela decisão ora recorrida, in verbis:

DIREITO CONSTITUCIONAL. REGIME DE ATUALIZAÇÃO


MONETÁRIA E JUROS MORATÓRIOS INCIDENTE SOBRE
CONDENAÇÕES JUDICIAIS DA FAZENDA PÚBLICA. ART. 1º-F DA LEI
Nº 9.494/97 COM A REDAÇÃO DADA PELA LEI Nº 11.960/09.
IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DA UTILIZAÇÃO DO ÍNDICE DE
REMUNERAÇÃO DA CADERNETA DE POUPANÇA COMO CRITÉRIO
DE CORREÇÃO MONETÁRIA. VIOLAÇÃO AO DIREITO
FUNDAMENTAL DE PROPRIEDADE (CRFB, ART. 5º, XXII).
INADEQUAÇÃO MANIFESTA ENTRE MEIOS E FINS.
INCONSTITUCIONALIDADE DA UTILIZAÇÃO DO RENDIMENTO DA
CADERNETA DE POUPANÇA COMO ÍNDICE DEFINIDOR DOS JUROS
MORATÓRIOS DE CONDENAÇÕES IMPOSTAS À FAZENDA PÚBLICA,
QUANDO ORIUNDAS DE RELAÇÕES JURÍDICO-TRIBUTÁRIAS.
DISCRIMINAÇÃO ARBITRÁRIA E VIOLAÇÃO À ISONOMIA ENTRE
DEVEDOR PÚBLICO E DEVEDOR PRIVADO (CRFB, ART. 5º, CAPUT).
RECURSO EXTRAORDINÁRIO PARCIALMENTE PROVIDO. 1. O princípio
constitucional da isonomia (CRFB, art. 5º, caput), no seu núcleo essencial,
revela que o art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação dada pela Lei nº
11.960/09, na parte em que disciplina os juros moratórios aplicáveis a
condenações da Fazenda Pública, é inconstitucional ao incidir sobre débitos
oriundos de relação jurídico-tributária, os quais devem observar os mesmos
juros de mora pelos quais a Fazenda Pública remunera seu crédito; nas
hipóteses de relação jurídica diversa da tributária, a fixação dos juros
moratórios segundo o índice de remuneração da caderneta de poupança é
constitucional, permanecendo hígido, nesta extensão, o disposto legal
supramencionado. 2. O direito fundamental de propriedade (CRFB, art. 5º,
XXII) repugna o disposto no art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação dada
pela Lei nº 11.960/09, porquanto a atualização monetária das condenações
impostas à Fazenda Pública segundo a remuneração oficial da caderneta de
poupança não se qualifica como medida adequada a capturar a variação de
preços da economia, sendo inidônea a promover os fins a que se destina. 3. A
correção monetária tem como escopo preservar o poder aquisitivo da moeda
diante da sua desvalorização nominal provocada pela inflação. É que a moeda
fiduciária, enquanto instrumento de troca, só tem valor na medida em que capaz
de ser transformada em bens e serviços. A inflação, por representar o aumento
persistente e generalizado do nível de preços, distorce, no tempo, a
correspondência entre valores real e nominal (cf. MANKIW, N.G.
Macroeconomia. Rio de Janeiro, LTC 2010, p. 94; DORNBUSH, R.; FISCHER,
S. e STARTZ, R. Macroeconomia. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 2009, p.
10; BLANCHARD, O. Macroeconomia. São Paulo: Prentice Hall, 2006, p. 29).
4. A correção monetária e a inflação, posto fenômenos econômicos conexos,
exigem, por imperativo de adequação lógica, que os instrumentos destinados a
realizar a primeira sejam capazes de capturar a segunda, razão pela qual os
índices de correção monetária devem consubstanciar autênticos índices de
preços. 5. Recurso extraordinário parcialmente provido. (RE 870947,
Relator(a): LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado em 20/09/2017, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-262 DIVULG 17-11-
2017 PUBLIC 20-11-2017)

Quanto à tese da Repercussão Geral, ficou a mesma reconhecida conforme


abaixo ilustrado, com grifos e destaques na parte não considerada na decisão
agravada, revelando, por outro prisma, o acerto do título judicial exequendo no
ponto, in vebis:

“1. O art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação dada pela Lei nº
11.960/09, na parte em que disciplina os juros moratórios aplicáveis a
condenações da Fazenda Pública, é inconstitucional ao incidir sobre débitos
oriundos de relação jurídico-tributária , aos quais devem ser aplicados os
mesmos juros de mora pelos quais a Fazenda Pública remunera seu crédito
tributário, em respeito ao princípio constitucional da isonomia (CRFB, art. 5º,
caput); quanto às condenações oriundas de relação jurídica não-tributária, a
fixação dos juros moratórios segundo o índice de remuneração da caderneta de
poupança é constitucional, permanecendo hígido, nesta extensão, o disposto no
art. 1º-F da Lei nº 9.494/97 com a redação dada pela Lei nº 11.960/09;
2. O art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação dada pela Lei nº
11.960/09, na parte em que disciplina a atualização monetária das
condenações impostas à Fazenda Pública segundo a remuneração oficial da
caderneta de poupança, revela-se inconstitucional ao impor restrição
desproporcional ao direito de propriedade (CRFB, art. 5º, XXII), uma vez que
não se qualifica como medida adequada a capturar a variação de preços da
economia, sendo inidônea a promover os fins a que se destina.”

Cumpre ressaltar, que em decisões muito recentes este eg. Tribunal de Justiça
tem reconhecido e aplicado o Tema 810/STF de maneira totalmente diferente
do que levado a efeito na decisão agravada. Para tanto, é de ver que em casos
semelhantes ao presente, como a seguir, devidamente sublinhado e destacado nos
trechos da ementa que se identificam com a presente demanda com a norma jurídica
aplicável, in verbis:

“(...) CORREÇÃO MONETÁRIA E JUROS DE MORA. – (...) -A decisão


proferida pelo Egrégio Supremo Tribunal Federal no Recurso Extraordinário
nº 870.947 – Sergipe, identificado como Tema 810, reconheceu a
inconstitucionalidade da aplicação do índice de remuneração da caderneta de
poupança, na forma do artigo 1º-F da Lei nº 9.494/97, com redação dada pela
Lei nº 11.960/09, como critério de correção monetária nas condenações
impostas à Fazenda Pública. -Tese fixada pelo Superior Tribunal de Justiça,
especificamente às condenações judiciais referentes a servidores e empregados
públicos, aplicando o Índice de Preços ao Consumidor Amplo Especial (IPCA-
E), como índice de correção monetária, de acordo com o julgamento do Tema
905 do STJ, REsp 1.492.221/PR, REsp 1.495.144/RS e REsp 1.495.146/MG. -
No que concerne aos juros de mora, não foram atingidos pelo reconhecimento
da inconstitucionalidade, que se restringiu ao índice de correção monetária.
Assim, a partir de 30 de junho de 2009, prevalecem conforme disposto na Lei
11.960/2009. -Recurso provido em parte.(Apelação Cível, Nº 70085036085,
Vigésima Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Leila Vani
Pandolfo Machado, Julgado em: 31-08-2021)

Confira-se, do corpo do acordão seus fundamentos, totalmente aplicáveis


à espécie, in verbis:
“(...)
No que diz respeito à aplicabilidade dos critérios de atualização
definidos na Lei nº 11.960/2009, diante da decisão proferida pelo Egrégio
Supremo Tribunal Federal nos embargos de declaração opostos no Recurso
Extraordinário nº 870.947 – Sergipe, identificado como Tema 810, não
conferindo modulação aos efeitos da decisão proferida anteriormente, a questão
restou definida, impondo-se a análise e julgamento dos recursos que versam
sobre a matéria, não perdurando a necessidade de sobrestamento dos feitos.
Quanto aos índices de correção monetária e juros de mora a
incidirem nas condenações impostas à Fazenda Pública, o Supremo Tribunal
Federal, quando do julgamento do Recurso Extraordinário nº 870.947 –
Sergipe, identificado como Tema 810, fixou as seguintes teses:
O Tribunal, por maioria e nos termos do voto do Relator, Ministro Luiz
Fux, apreciando o tema 810 da repercussão geral, deu parcial
provimento ao recurso para, confirmando, em parte, o acórdão lavrado
pela Quarta Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, (i)
assentar a natureza assistencial da relação jurídica em exame (caráter
não-tributário) e (ii) manter a concessão de benefício de prestação
continuada (Lei nº 8.742/93, art. 20) ao ora recorrido (iii) atualizado
monetariamente segundo o IPCA-E desde a data fixada na sentença
e (iv) fixados os juros moratórios segundo a remuneração da caderneta
de poupança, na forma do art. 1º-F da Lei nº 9.494/97 com a redação
dada pela Lei nº 11.960/09. Vencidos, integralmente o Ministro Marco
Aurélio, e parcialmente os Ministros Teori Zavascki, Dias Toffoli,
Cármen Lúcia e Gilmar Mendes. Ao final, por maioria, vencido o
Ministro Marco Aurélio, fixou as seguintes teses, nos termos do voto do
Relator: 1) O art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação dada pela Lei
nº 11.960/09, na parte em que disciplina os juros moratórios aplicáveis
a condenações da Fazenda Pública, é inconstitucional ao incidir sobre
débitos oriundos de relação jurídico-tributária, aos quais devem ser
aplicados os mesmos juros de mora pelos quais a Fazenda Pública
remunera seu crédito tributário, em respeito ao princípio
constitucional da isonomia (CRFB, art. 5º, caput); quanto às
condenações oriundas de relação jurídica não-tributária, a fixação dos
juros moratórios segundo o índice de remuneração da caderneta de
poupança é constitucional, permanecendo hígido, nesta extensão, o
disposto no art. 1º-F da Lei nº 9.494/97 com a redação dada pela Lei
nº 11.960/09; e 2) O art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação dada
pela Lei nº 11.960/09, na parte em que disciplina a atualização
monetária das condenações impostas à Fazenda Pública segundo a
remuneração oficial da caderneta de poupança, revela-se
inconstitucional ao impor restrição desproporcional ao direito de
propriedade (CRFB, art. 5º, XXII), uma vez que não se qualifica como
medida adequada a capturar a variação de preços da economia, sendo
inidônea a promover os fins a que se destina. Presidiu o julgamento a
Ministra Cármen Lúcia. Plenário, 20.9.2017. (grifei).
Importante destacar que, no julgamento da ADI nº 4357 e ADI nº
4425, a Suprema Corte declarou a inconstitucionalidade parcial dos parágrafos
2º, 9º, 10º e 12º do artigo 100 da Constituição Federal, com redação dada pela
EC nº 62/2009, sendo, relativamente ao §12 do referido artigo, declarada a
inconstitucionalidade da expressão “índice oficial de remuneração básica da
caderneta de poupança”, sob o fundamento de que a TR não reflete os índices
inflacionários. Consequentemente, foi declarada a inconstitucionalidade, por
arrastamento, do artigo 5º da Lei nº 11.960/097 , que deu nova redação ao artigo
1º-F da Lei nº 9.494/97.
Na questão de ordem das ADIs nº 4357 e 4425, quando da
apreciação dos Embargos Declaratórios, foram modulados os efeitos da
inconstitucionalidade declarada:
“Concluindo o julgamento, o Tribunal, por maioria e nos termos do
voto, ora reajustado, do Ministro Luiz Fux (Relator), resolveu a
questão de ordem nos seguintes termos: 1) - modular os efeitos para
que se dê sobrevida ao regime especial de pagamento de precatórios,
instituído pela Emenda Constitucional nº 62/2009, por 5 (cinco)
exercícios financeiros a contar de primeiro de janeiro de 2016; 2) -
conferir eficácia prospectiva à declaração de inconstitucionalidade
dos seguintes aspectos da ADI, fixando como marco inicial a data de
conclusão do julgamento da presente questão de ordem (25.03.2015)
e mantendo-se válidos os precatórios expedidos ou pagos até esta data,
a saber: 2.1.) fica mantida a aplicação do índice oficial de
remuneração básica da caderneta de poupança (TR), nos termos da
Emenda Constitucional nº 62/2009, até 25.03.2015, data após a qual
(i) os créditos em precatórios deverão ser corrigidos pelo Índice de
Preços ao Consumidor Amplo Especial (IPCA-E) e (ii) os precatórios
tributários deverão observar os mesmos critérios pelos quais a
Fazenda Pública corrige seus créditos tributários; (...) 6) – atribuição
de competência ao Conselho Nacional de Justiça para que monitore e
supervisione o pagamento dos precatórios pelos entes públicos na
forma da presente decisão, vencido o Ministro Marco Aurélio, que não
modulava os efeitos da decisão, e, em menor extensão, a Ministra Rosa
Weber, que fixava como marco inicial a data do julgamento da ação
direta de inconstitucionalidade. Reajustaram seus votos os Ministros
Roberto Barroso, Dias Toffoli e Gilmar Mendes. Presidência do
Ministro Ricardo Lewandowski. Plenário, 25.03.2015.” (grifei)
Portanto, os efeitos modulatórios concedidos pelas ADIs nº 4357
e 4425, aplicam-se exclusivamente aos precatórios expedidos antes de 2015. No
caso dos autos, a controvérsia não se enquadra na hipótese de modulação dos
efeitos definida pelo STF.
Ainda, o Superior Tribunal de Justiça, no julgamento dos REsp
1.492.221/PR, REsp 1.495.144/RS e REsp 1.495.146/MG - Tema 905,
reconheceu a inaplicabilidade dos critérios de atualização estabelecidos na Lei
nº 11.960/2009. O acórdão está assim ementado:
PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. SUBMISSÃO À REGRA
PREVISTA NO ENUNCIADO ADMINISTRATIVO 02/STJ.
DISCUSSÃO SOBRE A APLICAÇÃO DO ART. 1º-F DA LEI 9.494/97
(COM REDAÇÃO DADA PELA LEI 11.960/2009) ÀS

7
Art. 5º. O art. 1º F da Lei nº 9.494, de 10 de setembro de 1997, introduzido pelo art. 4º da Medida
Provisória nº 2.180-35, de 24 de agosto de 2001, passa a vigorar com a seguinte redação:
“Art. 1º-F Nas condenações impostas à Fazenda Pública, independentemente de sua natureza e para fins de
atualização monetária, remuneração do capital e compensação da mora, haverá a incidência uma única vez,
até o efetivo pagamento, dos índices oficias de remuneração básica e juros aplicados à caderneta de
poupança. ” (NR)
CONDENAÇÕES IMPOSTAS À FAZENDA PÚBLICA. CASO
CONCRETO QUE É RELATIVO A INDÉBITO TRIBUTÁRIO.
• TESES JURÍDICAS FIXADAS.
1. Correção monetária: o art. 1º-F da Lei 9.494/97 (com redação dada
pela Lei 11.960/2009), para fins de correção monetária, não é
aplicável nas condenações judiciais impostas à Fazenda Pública,
independentemente de sua natureza.
1.1Impossibilidade de fixação apriorística da taxa de correção
monetária. No presente julgamento, o estabelecimento de índices que
devem ser aplicados a título de correção monetária não implica pré-
fixação (ou fixação apriorística) de taxa de atualização monetária. Do
contrário, a decisão baseia-se em índices que, atualmente, refletem a
correção monetária ocorrida no período correspondente. Nesse
contexto, em relação às situações futuras, a aplicação dos índices em
comento, sobretudo o INPC e o IPCA-E, é legítima enquanto tais
índices sejam capazes de captar o fenômeno inflacionário.
1.2 Não cabimento de modulação dos efeitos da decisão. A modulação
dos efeitos da decisão que declarou inconstitucional a atualização
monetária dos débitos da Fazenda Pública com base no índice oficial
de remuneração da caderneta de poupança, no âmbito do Supremo
Tribunal Federal, objetivou reconhecer a validade dos p recatórios
expedidos ou pagos até 25 de março de 2015, impedindo, desse modo,
a rediscussão do débito baseada na aplicação de índices diversos.
Assim, mostra-se descabida a modulação em relação aos casos em que
não ocorreu expedição ou pagamento de precatório.
2. Juros de mora: o art. 1º-F da Lei 9.494/97 (com redação dada pela
Lei 11.960/2009), na parte em que estabelece a incidência de juros de
mora nos débitos da Fazenda Pública com base no índice oficial de
remuneração da caderneta de poupança, aplica-se às condenações
impostas à Fazenda Pública, excepcionadas as condenações oriundas
de relação jurídico-tributária.
3. Índices aplicáveis a depender da natureza da condenação. 3.1
Condenações judiciais de natureza administrativa em geral. As
condenações judiciais de natureza administrativa em geral, sujeitam-
se aos seguintes encargos: (a) até dezembro/2002: juros de mora de
0,5% ao mês; correção monetária de acordo com os índices previstos
no Manual de Cálculos da Justiça Federal, com destaque para a
incidência do IPCA-E a partir de janeiro/2001; (b) no período
posterior à vigência do CC/2002 e anterior à vigência da Lei
11.960/2009: juros de mora correspondentes à taxa Selic, vedada a
cumulação com qualquer outro índice; (c) período posterior à vigência
da Lei 11.960/2009: juros de mora segundo o índice de remuneração
da caderneta de poupança; correção monetária com base no IPCA-E.
3.1.1 Condenações judiciais referentes a servidores e empregados
públicos. As condenações judiciais referentes a servidores e
empregados públicos, sujeitam-se aos seguintes encargos: (a) até
julho/2001: juros de mora: 1% ao mês (capitalização simples);
correção monetária: índices previstos no Manual de Cálculos da
Justiça Federal, com destaque para a incidência do IPCA-E a partir de
janeiro/2001; (b) agosto/2001 a junho/2009: juros de mora: 0,5% ao
mês; correção monetária: IPCA-E; (c) a partir de julho/2009: juros de
mora: remuneração oficial da caderneta de poupança; correção
monetária: IPCA-E.
3.1.2 Condenações judiciais referentes a desapropriações diretas e
indiretas.No âmbito das condenações judiciais referentes a
desapropriações diretas e indiretas existem regras específicas, no que
concerne aos juros moratórios e compensatórios, razão pela qual não
se justifica a incidência do art. 1º-F da Lei 9.494/97 (com redação dada
pela Lei 11.960/2009), nem para compensação da mora nem para
remuneração do capital.
3.2 Condenações judiciais de natureza previdenciária. As
condenações impostas à Fazenda Pública de natureza previdenciária
sujeitam-se à incidência do INPC, para fins de correção monetária,
no que se refere ao período posterior à vigência da Lei 11.430/2006,
que incluiu o art. 41-A na Lei 8.213/91. Quanto aos juros de mora,
incidem segundo a remuneração oficial da caderneta de poupança
(art. 1º-F da Lei 9.494/97, com redação dada pela Lei n. 11.960/2009).
3.3 (...)
Assim, reconhecida a inconstitucionalidade da aplicação do
índice de remuneração da caderneta de poupança, na forma do artigo 1º-F da
Lei nº 9.494/97, com redação dada pela Lei nº 11.960/09, como critério de
correção monetária nas condenações impostas à Fazenda Pública, não pode
ser aplicado este índice. Deve ser respeitada a tese firmada de que a
inconstitucionalidade da remuneração oficial da caderneta de poupança tem
por fundamento o fato de que a TR não reflete os índices inflacionários.
No caso em tela, por se tratar de condenação judicial imposta ao
Município, deve incidir, a partir de 30 de junho de 2009, como índice de
correção monetária, o IPCA-E.
No que concerne aos juros de mora, não foram atingidos pelo
reconhecimento da inconstitucionalidade, que se restringiu ao índice de
correção monetária. Assim, a partir de sua vigência, prevalecem conforme
disposto na Lei 11.960/2009.
(...).”

Portanto, a decisão agravada se mostra dissonante desse entendimento


sedimentado na jurisprudência dominante dos Tribunais Superiores e no TJ/Rs, que
determina a aplicação, além dos juros de mora, também do INPC/IPCA a título de
correção monetária nas condenações previdenciárias impostas à Fazenda Pública,
exatamente como fixado no cálculo da parte exequente.

Não se pode olvidar que o CPC 2015 aparece como um novo quadro teórico de
onde sobressai o dever das Cortes Superiores trazer Unidade ao Direito, com um
ordenamento jurídico seguro capaz de promover igualdade e liberdade de todo(a)s
perante o direito, nos precisos termos do art. 926, sendo instrumento para tanto o
precedente (art. 927).

A tônica de comportamentos, portanto, deslocou-se da legislação para


jurisdição, onde a densificação da segurança jurídica e a promoção da liberdade e da
igualdade passa a ter como referencial a interpretação que é dada pelas “Cortes de
Vértice” do Poder Judiciário à legislação e à Constituição; (Nesse sentido:
MARINONI, ARENHART E DITIDIERO, Novo Curso de Processo Civil. São
Paulo: Ed. RT, 2015, p. 151 e ss,. V, I).

Assim, deve ser reformada a decisão agravada quanto aos “critérios de


atualização” do cálculo exquendo, mormente na parte que, contrariando o Tema
810/STF, subtraiu do título exequendo a correção monetária, fazendo incidir
unicamente sobre o cálculo apurado “.... a partir da edição da Lei nº 11.960/09
(julho/2009) incidem juros de mora segundo remuneração oficial da caderneta de
poupança.”

Destarte é evidente o enriquecimento indevido da parte devedora,


consubstanciado na decisão ora agravada.

Ao não considerar os fundamentos relevantes do Tema 810/STF, o decisum


recorrido fere de morte a racionalidade do sistema de precedentes, verificado
especialmente a partir do CPC/2015, pois não se pode deixar de referir que o CPC
vigente é claramente precedentalista, em seu ideário e objetivos, e a prova disso são
os artigos, 332 e incisos; §3º do art. 947; § único do art. 949; 927 e incisos; § único
e incisos do art. 955; art. 985 e incisos; incisos III e IV do art. 988; art. 1.040 e
incisos. E como faz observar, novamente, DANIEL MITIDIERO8, (grifamos):

“É um equívoco que decorre da falta de compreensão da natureza do


Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça como Cortes
Supremas – de interpretação e não de controle, de precedente e não de
jurisprudência – imaginar que os Tribunais de Justiça e os Tribunais
Regionais Federais podem se afastar dos precedentes do Supremo Tribunal
Federal e do Superior Tribunal de Justiça por não concordarem com as razões
e as soluções nele formuladas”

Nesses termos, pede-se a modificação da decisão recorrida no tópico.

II.4 – DA OFENSA À COISA JULGADA

“O significado do instituto da coisa julgada material como expressão da própria


supremacia do ordenamento constitucional e como elemento inerente à existência
do Estado Democrático de Direito”. (RE 592.912-AgR, rel. Min. CELSO DE
MELLO, Segunda Turma, DJe de 22-11- 2012)

Houve, na realidade, Excelências, a conformação do ente estadual com o


julgamento proferido, que abdicou da possibilidade de recorrer às instâncias
superiores acerca do critério de atualização da dívida, bem como quanto à sujeição
8 in Cortes superiores e cortes supremas: do controle à interpretação; da jurisprudência ao
precedente. São Paulo: Thompson Reuters 2017- Revista dos Tribunais, p. 107.
das verbas indenizatórias o teto remuneratório, permitindo que a condenação
transitasse em julgado nos exatos termos do acórdão, sendo essa a baliza da fase de
cumprimento posterior.

Posteriormente ao acórdão – título executivo, Apelação Cível,


Nº 70074119496, fls. 278/293v, que decidiu sobre o fator de correção da diferenças
e também quanto FGE-12, a única insurgência da executada foi com relação a parte
que trata da prescrição do fundo de direito. A executada, portanto, não apresentou
qualquer insurgência recursal específica no tempo oportuno.

Assim não pode a Fazenda Pública impugnar – sob pretexto de excesso de


execução, parcela não mencionada no título, não discutida nos autos. A decisão
formadora do título executivo não foi proferida de modo contrário à orientação
firmada pelo STF em controle concentrado ou difuso de constitucionalidade, e que
por isso não pudesse ser executada. O STF, a propósito, assim decidiu:

“A sentença de mérito transitada em julgado só pode ser desconstituída


mediante ajuizamento de específica ação autônoma de impugnação (ação
rescisória) que haja sido proposta na fluência do prazo decadencial previsto
em lei, pois, com o exaurimento de referido lapso temporal, estar-se-á diante
da coisa soberanamente julgada, insuscetível de ulterior modificação, ainda
que o ato sentencial encontre fundamento em legislação que, em momento
posterior, tenha sido declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal
Federal, quer em sede de controle abstrato, quer no âmbito de fiscalização
incidental de constitucionalidade. A decisão do Supremo Tribunal Federal que
haja declarado inconstitucional determinado diploma legislativo em que se
apoie o título judicial, ainda que impregnada de eficácia ex tunc , como sucede
com os julgamentos proferidos em sede de fiscalização concentrada ( RTJ
87/758; RTJ 164/506-509; RTJ 201/765), detém-se ante a autoridade da coisa
julgada, que traduz, nesse contexto, limite insuperável à força retroativa
resultante dos pronunciamentos que emanam, in abstracto , da Suprema Corte”
(STF, RE 594.350, j. 25.05.2010, rel. Min. Celso de Mello; no mesmo sentido,
STF, RE 592.912 AgR/RS, rel. Min. Celso de Mello, 2ª T., DJe 22.11.2012)

Neste contexto, após o trânsito em julgado da decisão formadora do título


executivo, o CPC/2015 permite que esse seja desconstituído apenas por ação
rescisória (art. 966, do CPC), e nos casos previstos no § 12 do art. 525 do CPC/2015
e, também, do § 5º do art. 535 do CPC/2015, especialmente quando a decisão
exequenda é proferida de modo contrário à orientação firmada pelo STF em controle
concentrado ou difuso de constitucionalidade, o que definitivamente não é o caso
dos autos. Nesse sentido, in verbis:

“Por tratar-se de norma que excepciona o princípio da imutabilidade da coisa


julgada, deve ser interpretada restritivamente, abarcando, tão somente, as
sentenças fundadas em norma inconstitucional, assim consideradas as que:
(a) aplicaram norma declarada inconstitucional; (b) aplicaram norma em
situação tida por inconstitucional; ou (c) aplicaram norma com um sentido
tido por inconstitucional. 2. Em qualquer desses três casos, é necessário que a
inconstitucionalidade tenha sido declarada em precedente do STF, em
controle concentrado ou difuso e independentemente de resolução do Senado,
mediante: (a) declaração de inconstitucionalidade com ou sem redução de
texto; ou (b) interpretação conforme a Constituição. 3. Por consequência, não
estão abrangidas pelo art. 741, parágrafo único, do CPC [de 1973] as demais
hipóteses de sentenças inconstitucionais, ainda que tenham decidido em
sentido diverso da orientação firmada no STF, tais como as que: (a) deixaram
de aplicar norma declarada constitucional, ainda que em controle
concentrado; (b) aplicaram dispositivo da Constituição que o STF considerou
sem autoaplicabilidade; (c) deixaram de aplicar dispositivo da Constituição
que o STF considerou autoaplicável; e (d) aplicaram preceito normativo que
o STF considerou revogado ou não recepcionado. 4. Também estão fora do
alcance do parágrafo único do art. 741 do CPC [de 1973] as sentenças cujo
trânsito em julgado tenha ocorrido em data anterior à vigência do dispositivo
(STJ, REsp 1.189.619/PE, 1ª Seção, j. 25.08.2010, rel. Min. Castro Meira; no
mesmo sentido, cf., dentre outros, STJ, AgRg no REsp 1.357.372/RN, rel. Min.
Humberto Martins, 2ª T., j. 04.06.2013)

Em idêntica situação, o TRF-4, nos autos de recurso interposto pelo INSS sob
alegação de excesso de execução por não observância do “abate teto” – matéria não
ventilada no processo principal -, a decisão foi categórica:

“Trata-se de apelação contra sentença que julgou improcedentes os embargos


à execução de sentença que condenou o INSS a pagar correção monetária das
parcelas pagas em atraso relativas à gratificação de estímulo à fiscalização e
arrecadação - GEFA. Insurge-se o INSS aduzindo que há excesso de execução
pois o cálculo desconsiderou a limitação constitucional - "abate-teto
ministerial". É o relatório. Decido. A questão relativa ao alegado limite
"abate-teto ministerial", refoge ao âmbito da execução da sentença transitada
em julgado uma vez que não foi tratada no processo, tratando-se, sim, de
inovação recursal. Ante o exposto, nego seguimento ao recurso, a teor do art.
557 do CPC.” Diligências legais. (TRF4, AC 2001.70.00.017340-5, TERCEIRA
TURMA, Relatora MARIA LÚCIA LUZ LEIRIA, D.E. 04/05/2009)

Quer-se com isso ressaltar, a despeito da decisão agrava ter acolhido as


alegações de incidência do teto remuneratório no caso em tela, que nenhum
precedente ou orientação firmada pelo STF foi apresentado para sustentar a
inexequibilidade do título, excesso ou mesmo a inconstitucionalidade da parcela
referente ao teto remuneratório. Nem é situação de cumulação de execuções, haja
vista a escolha da fazenda pública em alegar tão somente excesso de execução sui
generis, não previsto em lei, na medida que englobou prescrição, juros e correções
e também a questão do teto remuneratório.

O excesso de execução ocorre, de acordo com o § 2º do art. 917 do CPC, nas


seguintes hipóteses: (I) quando o credor pleiteia quantia superior à do título; (II)
quando recai sobre coisa diversa daquela declarada no título; (III) quando se
processa de modo diferente do que foi determinado na sentença; (IV) quando o
credor, sem cumprir a prestação que lhe corresponde, exige o adimplemento do
devedor; (V) se o credor não provar que a condição se realizou.

No caso em liça, a bem ver não é propriamente excesso o alegado e


demonstrado, e sim o redutor do teto remuneratório previsto no art. 37, XI, da CF/88,
que não foi discutido em momento algum nos autos, não constando do título, é
matéria nova. É de ver, nesse aspecto, que “Configura-se excesso de execução a
cobrança de dívida em valor superior ao constante no título executivo judicial.
(...) (STJ, REsp 712.575/DF, Rel.ª Min.ª Nancy Andrighi, 3ª Turma, jul. 06.04.2006,
DJ 02.05.2006, p. 310). No mesmo sentido: “Viola o art. 745 do CPC o julgado
que entende incabível em embargos à execução discutir, sob a rubrica do
excesso de execução, a irregularidade do reajuste das parcelas, e, até mesmo, a
forma e os índices de correção monetária a serem aplicados” (STJ, REsp
130.484/PR, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, 3ª Turma, jul. 04.06.1998,
DJ 03.08.1998, p. 223).

No mais, por não se tratar de trabalho voluntário, seria injusto e, até mesmo,
inconstitucional, a exequente não receber a devida remuneração em troca do trabalho
que foi executado nas mesmas funções de Direto Geral, sendo isso que na prática o
a incidência do teto culmina por levar a efeito. Como discorreu o Ministro Luís
Roberto Barroso em seu voto para o RE 612.975/MT sobre o mesmo assunto, “[...]
considero que a cláusula pétrea violada aqui é o direito fundamental à
remuneração pelo trabalho desempenhado”. Também o Ministro Marco Aurélio
(RE 612.975/MT): “Do cotejo entre o art. 39, § 3º, e o art. 7º, todos da CF,
verifica-se que não há espaço na ordem constitucional vigente para trabalho
não remunerado, o que também é vedado pela Lei (federal) n. 8.112/1990 (art.
4º) que proíbe a prestação de serviços gratuitos.”

No Acórdão 1.994/2015 do Tribunal de Contas da União, da Relatoria do


Ministro Benjamin Zymler, em processo de Representação envolvendo possíveis
casos de extrapolação do limite remuneratório referido no art. 37, inciso XI, da
Constituição Federal, com a cumulação de proventos de aposentadoria por parte de
ex-servidores somados à remuneração decorrente funções exercidas na ativa, a
questão foi entendida da seguinte forma:

"(....)
30. a expressão 'percebidos cumulativamente ou não' poderia perfeitamente ser
associada, no contexto, a cada vínculo funcional - do servidor ou instituidor -
tomado individualmente. Em outras palavras, pode-se admitir que não cuida o
dispositivo do somatório de rendimentos provenientes de cargos distintos, mas
de rendimentos de um único cargo (ou vínculo funcional) tomado de per si, os
quais (rendimentos), percebidos de forma agrupada ou não, têm de se conter no
limite máximo representado pelo subsídio de Ministro do STF.
(...)
32. Com isso, insisto, a expressão 'cumulativamente ou não' conserva real
significado e força operativa, além de se coadunar com a parte final do inciso
XVI do art. 37 da CF, que, de outra forma, restaria completamente ociosa, sem
nenhuma utilidade: 'é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos,
exceto, quando houver compatibilidade de horários, observado em qualquer
caso o disposto no inciso XI'.
(...)
33. De fato, qual seria o sentido de uma tal disposição se a submissão ao teto
do somatório dos rendimentos oriundos de acumulações de cargos fosse
automática, pois que já estabelecida no inciso XI? E por que a mesma
disposição não foi repetida em outras hipóteses de acumulação expressamente
admitidas pela Constituição, como as de magistrados com assento nos
tribunais eleitorais (arts. 119 e 120) ou as de juízes e professores (art. 95,
parágrafo único, inciso I) ?
(...)
36. Em suma, entendo bastante razoável exegese no sentido de que o inciso XI
do art. 37 da C.F. fixa, originariamente, o limite remuneratório a ser
observado em cada vínculo funcional ou benefício previdenciário, tomado
isoladamente, pago pelos cofres públicos. Quando esse mesmo limite é
aplicável ao conjunto de vínculos ou benefícios, há expressa e específica
disposição a respeito. (...)”

Inclusive, cabe ressaltar a hipótese seguinte – totalmente aplicável aos autos,


do pagamento dos atrasados em causa se dar através de folha suplementar, tal como
a já admitiu a jurisprudência dominante do STJ, in verbis:

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL.


SERVIDOR PÚBLICO. MANDADO DE SEGURANÇA. PARCELAS
VENCIDAS ANTES DA CONCESSÃO DA SEGURANÇA. SUBMISSÃO AO
REGIME DE PRECATÓRIO.
1. Por preponderar carga de eficácia mandamental na sentença concessiva de
segurança, é cabível a adoção de medidas coercitivas imediatas, dispensando o
processo de execução autônomo para cumprimento da ordem ali concedida, bem
como o trânsito em julgado da sentença, que pode ser executada
provisoriamente, conforme previsão da própria Lei n. 12.016/90, art. 14, § 3º.
Nessa seara, o pagamento dos vencimentos e demais vantagens pecuniárias
devidos ao servidor público, atinentes ao interstício de tempo compreendido
entre a data da decisão concessiva da segurança e a data do efetivo
cumprimento, é feito mediante inclusão em folha suplementar de pagamento,
não se aplicando o regime do precatório, na forma prescrita no art. 100, caput,
da Constituição Federal c.c. o art. 730 do Código de Processo Civil.
Precedentes: AgRg no REsp 1.200.890/BA, Rel. Min. Herman Benjamin,
Segunda Turma, DJe de 04/02/2011; AgRg nos EDcl no Ag 814.919/GO, 5.ª
Turma, Rel. Min. JORGE MUSSI, DJe de 13/09/2010.
2. Por outro lado, relativamente aos efeitos financeiros pretéritos, o fato de
constar na parte dispositiva a determinação imediata do ressarcimento dos
vencimentos e demais vantagens, ainda que possa gerar alguma dúvida quanto
ao seu alcance, significa tão somente que fica dispensado o processo autônomo
de execução, além de prescindir do trânsito em julgado da decisão. Isso porque,
em virtude da norma constitucional expressa acerca do pagamento de débitos
pela Fazenda Pública, os pagamentos devem ser adimplidos com a estrita
observância do sistema de precatório. Nesse sentido, é firme a orientação desta
Corte no sentido de que "o cumprimento do julgado se submete ao inarredável
regime constitucional de precatório para os débitos da Fazenda Pública, nada
importando eventual natureza alimentar e o fato do débito ser derivado de
sentença concessiva de segurança." (Rcl 4924 / DF, relª. Minª. Maria Thereza
de Assis Moura, Terceira Seção, DJe 10/02/2012) 3.Agravo regimental não
provido.(AgRg no MS 17.499/DF, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL
MARQUES, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 10/04/2013, DJe 18/04/2013)

Seja como for, Excelências, a decisão agravada deve ser revista e reformada,
haja vista a questão do teto remuneratório ter sido somente agora agitada, ficando
fora de discussão na formação do título.

Não merecem prosperar alegações de excesso de execução se os cálculos


exequendos não postulam quantia superior à delimitada no título, como na espécie.
Lembre-se que a decisão agravada inicia dizendo que “Trata-se de impugnação ao
cumprimento de sentença em que parte impugnante alega excesso de execução em
virtude de que não foi observado no cálculo da parte impugnada a prescrição
quinquenal no termo inicial, bem como o teto constitucional nas parcelas mensais e
juros de mora conforme a caderneta de poupança”.

Como exemplo, tome-se um caso em que, exatamente como o presente,


discutia-se a possibilidade de excluir do cálculo de liquidação os valores excedentes
ao teto previsto no art. 37, XI, da CF. Asseverava-se, na hipótese, a
inconstitucionalidade pretensamente contida no título executivo judicial em
execução, pois a interpretação da sentença exequenda deveria dar-se em harmonia
com o texto constitucional que limita o valor da remuneração o que poderia ser
corrigida na fase de liquidação de sentença, com fulcro no art.741 parágrafo único
do Código de Processo Civil, o qual relativiza os efeitos da coisa julgada
inconstitucional.

Ao que decidiu a Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por


unanimidade, AgInt no REsp 1482707/SC, Rel. Ministro BENEDITO
GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado em 24/04/2018, DJe 02/05/2018,
conforme se vê abaixo, sublinhado na parte da normação do STJ que amolda ao caso
concreto pela semelhança do aspecto fático-jurídico, grifado na parte que demonstra
a solução, diversa da decisão ora agravada, aplicável aos autos;

In vebis:
“(...)
Com efeito, no julgamento dos embargos de declaração, o voto condutor
bem demonstra que todas as questões trazidas pelo embargante foram
enfrentadas de forma exauriente. Confiram-se:
Como visto, consta de forma expressa no acórdão que o
"'Supremo Tribunal Federal, em recente manifestação acerca do
alcance do art. 741, parágrafo único, do Código de Processo Civil,
reforçou a orientação segundo a qual a sentença de mérito
transitada em julgado só pode ser. desconstituída mediante
ajuizamento de específica ação autônoma de impugnação (ação
rescisória) que haja sido proposta na fluência do prazo decadencial
previsto em lei (RE n. 594.929/RS, Min. Celso de Melo). Assim, não
pode ser acolhida a tese de inexigibilidade do título executivo
judicial, ainda que a sentença exequenda esteja amparada em
interpretação de lei tida por inconstitucional pela Corte Suprema
(Apelação Cível n. 2011.063834-6, de Urussanga, Rel. Des. Luiz
Cézar Medeiros, j. em 2 710 9/201 1)" (fl. 99). Outrossim, consta
que, em atenção ao princípio do dedutível e do deduzido, constante
do art. 474 do Código de Processo Civil, "Passada em julgado a
sentença de mérito, reputar-se-ão deduzidas e repelidas todas as
alegações e defesas, que a parte poderia opor assim ao acolhimento
como à rejeição do pedido". Não é demasiado ratificar, operou-se
a preclusão consumativa quanto à alegação deduzida pelo
embargante, [...]”
No mais, constata-se que acórdão recorrido, quando entendeu que a
questão relativa ao limite ao teto constitucional já estava acobertada pela coisa
julgada, não destoa da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça no
sentido de que, nas execuções de título judicial, os embargos do devedor ficam
restritos às matérias constantes do rol taxativo imposto pelo art. 741 do
CPC/1973 (atual art. 535 do CPC/2015), não podendo conter alegações que
deveriam ter sido apresentadas na fase de cognição.
A propósito: AgInt no REsp 1653204/PE, Rel. Ministro Mauro Campbell
Marques, Segunda Turma, DJe 23/8/2017; AgInt no REsp 1.664.909/PE, Rel.
Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 23/8/2017.
Diga-se também que a Primeira Seção do STJ, no rito do art. 543-C do
CPC/1973 e da Resolução STJ 08/2008, quando do julgamento do REsp
1.189.619/PE, entende que a norma do art. 741, parágrafo único, do CPC deve
ser interpretada restritivamente, porque excepciona o princípio da
imutabilidade da coisa julgada, sendo necessário que a inconstitucionalidade
tenha sido declarada em precedente do Supremo Tribunal Federal, em
controle concentrado ou difuso. No mesmo sentido: REsp 1665484/RS, Rel.
Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe 20/6/2017; (AgRg no REsp
1244575/RJ, Rel. Ministro Sérgio Kukina, Primeira Turma, DJe 11/12/2015.
Este último julgado está assim ementado:
AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL.
APLICAÇÃO DO ART. 741, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CPC.
TRÂNSITO EM JULGADO DA SENTENÇA EM DATA
ANTERIOR À SUA VIGÊNCIA. SÚMULA 487 DO STJ. 1. O
entendimento desta Corte Superior é no sentido de que "O
parágrafo único do art. 741 do CPC não se aplica às sentenças
transitadas em julgado em data anterior à sua vigência" (Súmula
487/STJ). 2. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg
no REsp 1244575/RJ, Rel. Ministro Sérgio Kukina, Primeira
Turma, DJe 11/12/2015).
(...)
Como se denota, a modificação dos fundamentos do voto condutor
demanda necessariamente nova análise do contexto fático-probatório,
incidindo, na espécie, o óbice contido no teor da Súmula 7/STJ. No mesmo
sentido: Resp 1.669.376/SP, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma,
DJe 13/9/2017.”

Conclui-se, assim, na decisão ora agravada, com todas as venias, ter havido um
desprestígio com os entendimentos assentados nos Tribunais sobre a imutabilidade
da coisa julgada, sobre a alegações que deveriam ter sido apresentadas na fase de
cognição e não foram. A eficácia expansiva e a especial carga persuasiva dos
precedentes do STJ não podem ser afastadas mediante uma decisão de primeiro grau
que se coloca imune, ou escondida dos seus reflexos, como se o conteúdo decidido
não versasse sobre a mesma matéria.

Neste propósito, a mesma solução do precedentes acima deve ser aplicada no


caso presente, de forma isonômica aos jurisdicionados. Tal realidade não pode ser
ignorada, pena de ofuscar-se a previsibilidade às respostas jurisdicionais. E, “A
previsibilidade é o que condiciona a ação humana. Ela que enseja projetar e iniciar,
consequentemente - e não ao mero sabor do acaso, do fortuito, do azar ou da fortuna
– comportamento cujos frutos são esperáveis a médio e longo prazo. Está é a
normalidade das coisas.”9

Bem definido está no contraste entre o título executivo e o cálculo apresentado


pela credora, a INEXISTÊNCIA de excesso no título judicial, devendo ser
modificada a decisão guerreada, pois atenta contra a Seção V do CPC, que encerra
Capítulo XIII do Título I do Livro Especial, disciplinando a coisa julgada, que é
expressamente garantida como “DIREITO FUNDAMENTAL” no inciso XXXVI do
art. 5º da CF.

Tenha-se presente que a perspectiva do instituto da coisa julgada é técnica


adotada para (grifamos), “garantir a estabilidade das manifestações do Estado-
juiz, pondo-as a salvo inclusive dos efeitos de novas leis que queiram eliminar
tais decisões ou quando menos, seus efeitos. (Manual de direito processual civil:
volume único / CASSIO SCARPINELLA BUENO. – 4. ed. – São Paulo: Saraiva
Educação, 2018, pg. 651 – livro eletrônico).

9CELSO ANTONIO BANDEIRA DE MELLO, Segurança jurídica e mud ança de jurisprudência.


Revista de Direito do Estado nº 6, abr./jun. 2007, p. 329.
Clama-se, assim, para modificação da decisão ora agravada, por medida de
inteira Justiça!

III – DOS PEDIDOS

Em face do exposto, REQUER, digne-se Vossa Excelência em receber e


processar o presente agravo de instrumento, suspendendo-se liminarmente a decisão
recorrida, atribuindo efeito suspensivo ao recurso até ulterior julgamento (art. 1.019,
I, CPC), eis que, mostra-se relevante a fundamentação e há risco de dano grave ou
de difícil reparação, uma vez que sobrevenha definitivamente a extinção do
cumprimento de sentença, com a expedição de requisições de valores que não
chegam nem a 5% do cálculo apresentado pela credora.

Requer a intimação Fazenda Pública para impugnar as razões do presente


recurso, querendo.

Requer, ao fim, a reforma da decisão agravada, para determinar prosseguimento


da execução pelos valores apresentados no cálculo evento 1 dos au tos de origem,
redimensionando-se a verba honorária considerada pelo título judicial a ser
arbitrada, de acordo com art. 85, do CPC.

Deixa a agravante de anexar o comprovante do preparo, haja vista a Gratuidade


da Justiça deferida, no r. despacho, evento 3 dos autos de origem.

Nesse Termos, Pede Deferimento.

Porto Alegre, 13/09/2021.

Pp. PAULO VENICIO NEVES


Advogado – OAB/RS 73.878
venicio.neves@gmail.com

Pp. SANDRA REGINA ANDREATTA


Advogada – OAB/RS 40.149

Você também pode gostar