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AGRAVO DE INSTUMENTO
em face da r. decisão evento 23, integralizada pela decisão evento 31, expedida nos
atos do cumprimento de sentença nº 50395952420218210001, que tramita na 5ª Vara
da Fazenda Pública do Foro Central da Comarca de Porto Alegre.
“Vistos.
Trata-se de impugnação ao cumprimento de sentença em que parte
impugnante alega excesso de execução em virtude de que não foi observado
no cálculo da parte impugnada a prescrição quinquenal no termo inicial, bem
como o teto constitucional nas parcelas mensais e juros de mora conforme a
caderneta de poupança.
Intimada, a parte impugnada refuta a alegação do impugnante em relação
ao termo inicial, ao teto constitucional e aos juros de mora, Requereu a
improcedência da impugnação, assim como o arbitramento da verba honorária
para a fase de conhecimento e a expedição de requisitório do valor
incontroverso.
É o relatório.
Decido.
TERMO INICIAL DO CÁLCULO
Procede o argumento da parte impugnante, visto que o termo inicial do
cálculo deve observar a data do ajuizamento da ação principal (18.05.2015),
com a devida proporcionalidade na parcela inicial, face à prescrição
quinquenal, o que não restou observado no cálculo apresentado pelo exequente.
TETO CONSTITUCIONAL - PARCELAS MENSAIS
A exequente/impugnada obteve judicialmente o direito à implantação da
FGE-12 de regime especial em seus proventos com fundamento na paridade
remuneratória com os vencimentos dos servidores ativos.
Nesse contexto, entendo que a referida função gratificada não pode ser
considerada como de natureza indenizatória - e portanto, isenta da observância
do teto remuneratório constitucional -, especialmente por não se tratar de verba
de caráter pessoal e transitória.
Sinale-se, inclusive, que constou expressamente no Recurso de Apelação
que "tratando-se de vantagem que alcança todos os servidores ativos que
exercem a função gratificada de Diretor-Geral, em caráter geral e irrestrito,
tenho que o padrão FGE-12, deve ser estendido também à demandante, que
exerceu a mesma função, ante a paridade de vencimentos entre ativos e inativos
a que faz jus, nos termos da fundamentação" (Evento 1, OUT5, páginas 15-16).
Consigno, ainda, que apesar da ausência de expressa de ressalva no
comando judicial quanto à observância do referido teto remuneratório, tenho
que o entendimento esposado neste momento não ofende o princípio da coisa
julgada, na medida em que aplicação do referido dispositivo constitucional é
compulsória.
Aliás, dispõe o artigo 17 da ADCT:
"Art. 17. Os vencimentos, a remuneração, as vantagens e os adicionais,
bem como os proventos de aposentadoria que estejam sendo percebidos em
desacordo com a Constituição serão imediatamente reduzidos aos limites dela
decorrentes, não se admitindo, neste caso, invocação de direito adquirido ou
percepção de excesso a qualquer título".
Por fim, esclareço que não há falar em análise isolada da percepção da
referida função gratificada para confronto com o teto remuneratório
constitucional, ao passo que a situação não se assemelha às hipóteses de
acumulação de cargos autorizada pela Constituição Federal, ou mesmo de
percepção de vantagens de naturezas distintas, a exemplo de proventos de
aposentadoria e de pensão, que aí sim devem ter os valores percebidos
analisados isoladamente.
Portanto, entendo que assiste razão ao impugnante/executado no sentido
de que o cálculo de liquidação deve ser observar o teto remuneratório
constitucional previsto no artigo 37, inciso XI da Constituição Federal.
JUROS DE MORA
Na espécie, quanto aos critérios de atualização o STF, em recente
julgamento definitivo, com trânsito em julgado em 03.03.2020, do Tema nº 810
da repercussão geral relativa ao Recurso Extraordinário nº 870.947/SE, firmou
o seguinte entendimento, sem modulação de efeitos:
"1) O art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação dada pela Lei nº
11.960/09, na parte em que disciplina os juros moratórios aplicáveis a
condenações da Fazenda Pública, é inconstitucional ao incidir sobre débitos
oriundos de relação jurídico-tributária, aos quais devem ser aplicados os
mesmos juros de mora pelos quais a Fazenda Pública remunera seu crédito
tributário, em respeito ao princípio constitucional da isonomia (CRFB, art. 5º,
caput); quanto às condenações oriundas de relação jurídica não-tributária, a
fixação dos juros moratórios segundo o índice de remuneração da caderneta de
poupança é constitucional, permanecendo hígido, nesta extensão, o disposto no
art. 1º-F da Lei nº 9.494/97 com a redação dada pela Lei nº 11.960/09; e 2) O
art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação dada pela Lei nº 11.960/09, na parte
em que disciplina a atualização monetária das condenações impostas à Fazenda
Pública segundo a remuneração oficial da caderneta de poupança, revela-se
inconstitucional ao impor restrição desproporcional ao direito de propriedade
(CRFB, art. 5º, XXII), uma vez que não se qualifica como medida adequada a
capturar a variação de preços da economia, sendo inidônea a promover os fins
a que se destina".
Assim, para as condenações da Fazenda Pública e a partir da edição da
Lei nº 11.960/09 (julho/2009) incidem juros de mora segundo remuneração
oficial da caderneta de poupança.
Cabe ressaltar que não há falar em preclusão ou ofensa à coisa julgada,
pois a Lei Federal nº 11.960/2009 tem natureza eminentemente processual, com
aplicação imediata, mesmo em processos em curso. Dessa feita, não há ofensa
ao entendimento do STF no julgamento do Tema nº 733.
VALOR DA REPRESENTAÇÃO FGE-12 - DIRETOR GERAL
Assiste razão ao impugnante quanto à forma de apuração da Gratificação
de Representação FGE-12 - Diretor Geral, que não se confunde com a forma de
apuração do valor da função gratificada FGE-12.
Isso porque a Gratificação de Representação FGE-12 é composta pelo
valor da FG-12 multiplicada por 2,5, acrescido do valor da Gratificação de
Representação de 35% devida ao Diretor Geral, calculada sobre o CC-12
multiplicado pelo fator 2,5 (Evento 10, LAUDO2, página 6).
Sinale-se, inclusive, que apesar da extensa manifestação da impugnada no
Evento 12, não houve qualquer irresignação específica quanto ao presente
tópico da impugnação, que, portanto, merece acolhida.
HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS DA FASE DE CONHECIMENTO
O comando judicial determinou o seguinte (Evento 1, OUT6, página 6):
"Sucumbente, o Estado responde pelas custas processuais, (...) e também por
honorários advocatícios a serem arbitrados por ocasião da liquidação da
sentença - artigo 85, §§ 3º e 4º, inciso II do CPC".
Dessa feita, fixo os honorários advocatícios para a fase de conhecimento
em 10% sobre o valor da condenação, nos termos do artigo 85, § 3º, inciso I,
CPC.
Diante do exposto, JULGO PROCEDENTE A IMPUGNAÇÃO para
determinar o prosseguimento do feito pelo valor de R$ 95.062,12 (Evento 10,
LAUDO2).
Diante da procedência da impugnação, condeno a parte
exequente/impugnada ao pagamento dos honorários advocatícios relativos à
presente impugnação em 10% sobre o valor devido.
Inclua-se os procuradores no polo ativo da demanda (Evento 1, PET2,
Página 3 - letra "d").
Precedente à expedição do precatório e considerando o pedido de reserva
de honorários, intime-se a parte credora/procurador para que junte aos autos o
contrato de honorários mencionado no Evento 12, PET1, Página 15.
Intimem-se.”
“(...)
IV – DISPOSITIVO
Ante o exposto, DOU PROVIMENTO à apelação para afastar a
extinção do processo em virtude da coisa julgada, e, no mérito, julgar
procedente a ação, determinando a implantação da FGE-12 de regime especial
nos proventos da demandante desde a data de sua aposentadoria, condenando
o Estado ao pagamento das respectivas diferenças, atualizadas monetariamente
conforme fundamentação supra, e observada a prescrição qüinqüenal.
Sucumbente, o Estado responde pelas custas processuais,
ressalvada a isenção quanto às despesas de condução de Oficial de Justiça, e
também por honorários advocatícios a serem arbitrados por ocasião da
liquidação da sentença – art. 85, §§ 3º e 4º, II, do CPC.(...)”
II - DAS RAZÕES DO PEDIDO DA REFORMA
“As dívidas passivas da União, dos Estados e dos Municípios, bem assim todo
e qualquer direito ou ação contra a Fazenda federal, estadual ou municipal,
seja qual for a sua natureza, prescrevem em cinco anos contados da data do
ato ou fato do qual se originarem.”
Por certo, a decisão deve ser reformada, também, tendo em vista as claras
disposições do título executivo judicial a respeito, conforme a seguir ilustrado com
grifos e destaques na parte malferida pela decisão agravada, in verbis:
“(...)
Da leitura da petição inicial, é possível compreender que a
pretensão da parte autora é de revisão de proventos de aposentadoria, ou seja,
prestações de trato sucessivo, atraindo a incidência da prescrição quinquenal
(Súmula 85 do STJ), de modo que estão prescritas as parcelas anteriores a
18/05/2010, considerando a data da propositura da ação em 18/05/2015.
(...)”
Destarte, está errada a decisão na parte que registra “... o termo inicial do
cálculo deve observar a data do ajuizamento da ação principal (18.05.2015), (...) o
que não restou observado no cálculo apresentado pelo exequente”.
“(...)
A Lei Estadual nº 9.504/92 dispunha em sua redação original:
Art. 1º - São extintos todos os cargos em comissão e funções gratificadas
que integram o Quadro de Cargos em Comissão e Funções Gratificadas
da Procuradoria-Geral de Justiça.
Art. 2º - São criados os seguintes cargos em comissão e funções
gratificadas, assim distribuídos:
I – ASSESSORIA ESPECIAL Nº 1
DENOMINAÇÃO CC FG
Coordenador CC-12 FG-12
Já a Lei Estadual nº 14.199/2013 alterou os incisos I e II do art. 2º da Lei
nº 9.504/92:
Art. 2º - São criados os seguintes cargos em comissão e funções
gratificadas, assim distribuídos:
I - DIREÇÃO E CHEFIA
Nº DENOMINAÇÃO PADRÃO
01 Diretor-Geral CC/FG-12
Tais regras são relevantes para o deslinde do caso em julgamento.
(...)
A Situação Concreta dos Autos
A autora é servidora pública inativa, aposentada em 03/04/2006, “nos
termos do artigo 127, § 2º, da Constituição Federal, do artigo 109, inciso II,
parágrafo único, da Constituição Estadual, combinado com o artigo 3º, incisos
I, II e III, parágrafo único, da Emenda Constitucional nº 47/2005, e nos termos
das Leis nºs 7.253/79, 10.098/94, 10.695/96, 11.913/03 e 12300/05 (...) devendo
perceber, na inatividade, os proventos mensais e integrais (...), incluindo 50%
(...) referentes a 10 (dez) avanços trienais, a Gratificação Adicional de 25%
(vinte e cinco por cento) e a Incorporação de 100% (cem por cento) da Função
Gratificada de Coordenador, FG-12, acrescida de gratificação de
representação de 60%” (fls. 21-22).
Postula revisão de seus proventos, para acrescentar o valor referente à
remuneração do regime especial.
Na hipótese, em que pese a demandante ter se aposentado depois da
vigência da Emenda Constitucional nº 41/03 (em 03/04/2006), preencheu os
requisitos previstos no artigo 3º da EC 47/05, fazendo jus à paridade
remuneratória com os vencimentos dos servidores ativos, conforme já decidiu
esta Câmara:
(...)
É incontroverso nos autos que a autora possui direito à paridade
remuneratória com os servidores da ativa. A polêmica reside em saber se
aproveita a autora o caráter de regime especial da função gratificada de Diretor
Geral, para fins de percepção da função gratificada FGE-12.
Sobre o regime especial, a Lei nº 5.786/69 dispunha, no §3º do art. 3º, que
nele poderiam ser providos os cargos em comissão ou funções gratificadas
lotados no Gabinete do Governador, bem como até três cargos ou funções em
cada Secretaria de Estado.
A seu turno, a Lei nº 11.849/2002 incluiu o parágrafo único ao artigo 4º
da Lei 9.504/92:
Art. 4º - Os cargos em comissão e funções gratificadas poderão, a critério
e por ato do Procurador-Geral de Justiça, ser providos sob o regime
especial, até o máximo de cinco (5), tendo o vencimento ou a gratificação
do respectivo padrão multiplicado por 2,0. (Vide Lei n.º 9.767/92)
Parágrafo único - O cargo em comissão ou a função gratificada de
Diretor-Geral, padrão CC/FG-12, quando provido sob a forma de regime
especial poderá ter o vencimento ou a gratificação com a respectiva
representação multiplicado por 2,5.
Como visto, a partir da vigência dessa lei (11.849/02), o cargo ou função
gratificada de Diretor-Geral poderá ser provido em regime especial, a critério
e por ato do Procurador-Geral de Justiça.
Não obstante o que dispõe o art. 4º da Lei 9.504/92, de que os cargos em
comissão e funções gratificadas poderão, a critério e por ato do Procurador-
Geral de Justiça, ser providos sob o regime especial, o que se observa
hodiernamente é que do aludido regime especial, que originalmente se
justificava por uma jornada de trabalho diferenciada (art. 3º, §2º, da Lei nº
5.786/89, em sua redação original; ou ainda arts. 12 a 22 da Lei nº 6.486/72),
sobreviveu apenas a forma de provimento diferenciada, o que não justifica a
diferenciação pecuniária entre a FG-12 e a FGE-12 (regime especial).
Tanto assim o é que, em consulta online ao Diário Eletrônico do
Ministério Público, constata-se que os ocupantes da função gratificada de
Diretor-Geral percebem a gratificação correspondente ao padrão FGE-12
(regime especial):
• Jorge Antônio Gonçalves Machado – Boletim 399/2002 – Diretor-
Geral, designado em 29/11/2002, percebeu a função gratificada
FGE-12 (fl. 66);
• Carlos Alberto Cunha Umsza – Boletim 231/2009 – exerceu, em
substituição, a função gratificada de Diretor-Geral – FGE-121;
• Janete Menezes Fagundes – Boletim 231/2009 – Diretora-Geral,
designada em 11/05/2009, percebeu a função gratificada FGE-12
(2,5)2;
1 https://www.mprs.mp.br/media/areas/de/arquivos/demp_2009_05_14.pdf
2 https://www.mprs.mp.br/media/areas/de/arquivos/demp_2009_05_14.pdf
• Roberval da Silveira Marques – Boletim 202/2011 – Diretor-
Geral, designado em 26/04/2011, percebe a função gratificada
FGE-12 (2,5)3.
Portanto, tratando-se de vantagem que alcança todos os servidores ativos
que exercem a função gratificada de Diretor-Geral, em caráter geral e irrestrito,
tenho que o padrão FGE-12 deve ser estendido também à demandante, que
exerceu a mesma função, ante a paridade de vencimentos entre ativos e inativos
a que faz jus, nos termos da fundamentação.
(...)”
3 https://www.mprs.mp.br/media/areas/de/arquivos/demp_2011_04_27.pdf
em comissão (CCE). (...) O provimento no regime especial corresponderá a 44
horas semanais de trabalho (...)”.
“(...)
E o Estado, em sua contestação, apenas defende que as referidas
funções gratificadas (FG-12) “podem ou não ser transformadas em FGEs,
dependendo de critérios de oportunidade e conveniência do administrador”;
sem enfrentar o fato de que todos os Diretores-Gerais do Ministério Público
receberam ou recebem a função gratificada provida sob o regime especial (fl.
162-166).
Como visto, a demandante incorporou aos seus proventos 100% da
Função Gratificada de Coordenador – FG-12 (fls. 21-22); sendo que o cargo
de Coordenador passou a se denominar Diretor Geral.
E a Lei Estadual nº 11.849/2002 estabelece que os servidores
aposentados e os que, em atividade, tiverem incorporado vantagens relativas a
Cargo em Comissão, Função Gratificada ou Gratificação Equivalente, cujos
padrões e denominações foram modificadas por esta Lei, terão seus
vencimentos e proventos alterados conforme as disposições aqui introduzidas
(art. 7º). Da mesma forma, as Funções Gratificadas ou Cargos em Comissão
providos em regime especial terão esse regime mantido nas Funções e Cargos
correspondentes (art. 7º, § 1º).
Logo, o padrão FGE-12 deve ser estendido também à demandante.
(...)”
Por conseguinte, sendo uma verba de caráter indenizatório, está isenta das
limitações do teto remuneratório, forte no inciso §11, do art. 37, da CF/88, in verbis:
“Não serão computadas, para efeito dos limites remuneratórios de que trata o inciso
XI do caput deste artigo, as parcelas de caráter indenizatório previstas em lei.”
Com isso cumpre destacar, e postular, pela modificação da decisão agravada
no ponto, em especial na parte que refere “ (a FGE-12) não pode ser considerada
como de natureza indenizatória - e portanto, isenta da observância do teto
remuneratório constitucional -, especialmente por não se tratar de verba de caráter
pessoal e transitória.”
O Projeto tal como redigido (combinação dos artigos 3º, 5º, 6º e 10) submete
ao teto remuneratório os denominados “passivos”, ou seja, pagamentos que
são feitos pelo ente público em momento posterior ao devido e que, por isso,
são adimplidos com juros e correção monetária.
De acordo com o PL, é possível que um agente/servidor público, credor de
determinada verba salarial do ente estatal, jamais venha a recebê-la, ainda
que se trate de direito reconhecido por decisão judicial, bastando, para isso,
que perceba, segundo o regime de competência, rendimentos em valor próximo
ou equivalente ao teto constitucional.
Submete-se o servidor público, assim, a uma dupla penalidade: primeiro lhe é
negado o direito à época própria e, depois, quando se pretende adimplir a verba
devida, impõe-se a submissão ao teto remuneratório, o que poderá implicar, em
diversos casos, em nova negativa do direito.
Imagine-se o que pode ocorrer, por exemplo, no Rio de Janeiro, no estágio atual
de incapacidade do Estado para pagar os seus servidores.
Um servidor que possua remuneração de R$ 15 mil, por exemplo, e não
tiver recebido por 3 meses, somente poderá receber R$ 30 mil dos R$ 45mil
devidos.
Imagine-se os servidores da Justiça Eleitoral, que são chamados a trabalhar de
forma ininterrupta no período pré-eleitoral, da eleição e após a eleição. Se
ficarem impedidos de receber pelo trabalho realizado certamente se negarão a
trabalhar. Trata-se, novamente, de um enriquecimento sem causa da
Administração e da imposição de um ônus injustificável ao agente público, uma
vez que o recebimento de parcelas atrasadas não se dá por culpa do credor, mas
em razão de desídia da Fazenda Pública.
A limitação ao teto remuneratório destes valores a que faz jus o agente público,
na forma como disposto no artigo 5º e 10 (e também no art. 6º, III, quando ali
inclui as parcelas de equivalência ou isonomia), é flagrantemente
inconstitucional, violando o direito adquirido e o ato jurídico perfeito (art.5º
XXXVI); a inafastabilidade do Poder Judiciário (art.5º, XXXV, quando nega a
possibilidade de pagamento de passivos devidos inclusive por força de decisão
judicial); além de configurar verdadeiro ato de confisco, vedado pelo artigo
150, IV da Constituição Federal.”
Em decisões recentes, 2017, o eg. STF tem entendido não haver ofensa ao texto
do inciso XI e do §11 do art. 37, da CF/88 no provimento que afasta o teto
remuneratório de verbas indenizatórias. A exemplificar, é de ver o “RECURSO
EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO 1.038.852”4, em que se cuidava de acórdão
do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo – ao final mantido pelo STF, expedido
nos seguintes termos: “Os valores pagos a título de conversão de licença-prêmio
em pecúnia têm caráter indenizatório – Exegese do art. 43, § 1º da LCE nº 1.059/08
e da Súmula 136 do STJ - Verbas que não são computadas para fins de limite
remuneratório (art. 37, § 11 da CF e do art. 115, § 7º da CE) - Não incidência do
disposto no art. 37, XI da CF e art. 115, XII da CE, porquanto incidentes apenas
sobre verbas de caráter remuneratório - Inconstitucionalidade do artigo 43, § 1º da
LCE nº 1.059/08 já afastada pelo C. Órgão Especial - Concessão da ordem que se
impõe - Sentença mantida - Reexame necessário e recurso fazendário não
providos.”
4 http://portal.stf.jus.br/processos/downloadPeca.asp?id=311938212&ext=.pdf
República também os valores percebidos anteriormente à vigência da Emenda
Constitucional nº 41/2003 a título de vantagens pessoais pelo servidor público ...”.
Isso porque, conforme se extrai do RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM
AGRAVO 1.142.19256, julgado em 2018, em análise com a seguinte ementa:
“Incidência do redutor salarial (‘abate-teto’) sobre a base de cálculo utilizada para
a apuração do valor da licença-prêmio não usufruída pelo servidor e convertida em
pecúnia, cujo pagamento pode ser cumulado com os proventos da aposentadoria,
ainda que o valor somado supere o teto remuneratório, considerando a não
incidência do teto em face da natureza indenizatória da verba”, o Ministro Gilmar
Medes explicitou a diferenciação dessa questão com a norma extraída do RE
606.358, pois, no dizer do Ministro, o precedente em mira trata exclusivamente de
“inclusão de vantagens pessoais no teto remuneratório estadual, após a Emenda
Constitucional n. 41/2003, o que não se dá no presente caso. Nestes autos, a
controvérsia cinge-se, exclusivamente, à natureza indenizatória”.
Note-se não haver distinção relevante diante do fato da decisão supra ter
considerado verbas indenizatórias decorrentes de licença-prêmio não usufruída, em
face do presente processo tratar de verbas indenizatórias decorrentes da gratificação
FGE-12, afinal, a natureza indenizatória de ambas as verbas decorre de legislação
infraconstitucional, e também no caso dos autos a verba discutida não foi usufruída
pela servidora em atividade. Assim, mostra-se legitimamente possível a aplicação
desse mesmo entendimento na correção da decisão agravada, pois se no caso
paradigma o servidor público, quando em atividade, deixou de gozar os períodos de
licença prêmio a que tinha direito, é certo que na espécie, a servidora agravante,
mesmo desempenhando as mesmas funções de Direito Geral, deixou de perceber a
correspondente gratificação especial, não obstante o nexo direto entre o cargo e a
vantagem legalmente reconhecida.
5 http://portal.stf.jus.br/processos/downloadPeca.asp?id=314727442&ext=.pdf
6 http://portal.stf.jus.br/processos/downloadPeca.asp?id=314727442&ext=.pdf
desestímulo àqueles que assumem tais funções não receber uma retribuição pelo
ônus que terão por conta do teto remuneratório.
Nesse sentido:
Deve ser reformada a decisão agravada também nesse ponto, o que desde logo
vai postulado na presente inconformidade.
“(...)
Com a declaração da inconstitucionalidade do 5º da Lei nº 11.960/09,
que deu nova redação ao artigo 1°-F da Lei n° 9.494/97, deve ser observado o
teor da decisão proferida pelo STF, à luz do artigo 102, § 2º, da Constituição
Federal, o qual disciplina que “as decisões definitivas de mérito, proferidas pelo
STF, nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de
constitucionalidade, produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante,
relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário...”, bem como do previsto
no art. 28, parágrafo único, da Lei nº 9.868/99.
Assim, no período anterior à vigência da Lei nº 11.960/09 deve ser
aplicado o IGP-M como índice da correção monetária, além do que os juros
de mora deverão observar o percentual de 6% ao ano, a contar da citação.
Posteriormente, tem aplicação a aludida legislação até a data de 25/03/2015,
momento em que o Supremo Tribunal Federal modulou os efeitos do julgamento
da ADI nº 4357-DF, cujos créditos a partir desta data deverão ser corrigidos
pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo Especial (IPCA-E).
“1. O art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação dada pela Lei nº
11.960/09, na parte em que disciplina os juros moratórios aplicáveis a
condenações da Fazenda Pública, é inconstitucional ao incidir sobre débitos
oriundos de relação jurídico-tributária , aos quais devem ser aplicados os
mesmos juros de mora pelos quais a Fazenda Pública remunera seu crédito
tributário, em respeito ao princípio constitucional da isonomia (CRFB, art. 5º,
caput); quanto às condenações oriundas de relação jurídica não-tributária, a
fixação dos juros moratórios segundo o índice de remuneração da caderneta de
poupança é constitucional, permanecendo hígido, nesta extensão, o disposto no
art. 1º-F da Lei nº 9.494/97 com a redação dada pela Lei nº 11.960/09;
2. O art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação dada pela Lei nº
11.960/09, na parte em que disciplina a atualização monetária das
condenações impostas à Fazenda Pública segundo a remuneração oficial da
caderneta de poupança, revela-se inconstitucional ao impor restrição
desproporcional ao direito de propriedade (CRFB, art. 5º, XXII), uma vez que
não se qualifica como medida adequada a capturar a variação de preços da
economia, sendo inidônea a promover os fins a que se destina.”
Cumpre ressaltar, que em decisões muito recentes este eg. Tribunal de Justiça
tem reconhecido e aplicado o Tema 810/STF de maneira totalmente diferente
do que levado a efeito na decisão agravada. Para tanto, é de ver que em casos
semelhantes ao presente, como a seguir, devidamente sublinhado e destacado nos
trechos da ementa que se identificam com a presente demanda com a norma jurídica
aplicável, in verbis:
7
Art. 5º. O art. 1º F da Lei nº 9.494, de 10 de setembro de 1997, introduzido pelo art. 4º da Medida
Provisória nº 2.180-35, de 24 de agosto de 2001, passa a vigorar com a seguinte redação:
“Art. 1º-F Nas condenações impostas à Fazenda Pública, independentemente de sua natureza e para fins de
atualização monetária, remuneração do capital e compensação da mora, haverá a incidência uma única vez,
até o efetivo pagamento, dos índices oficias de remuneração básica e juros aplicados à caderneta de
poupança. ” (NR)
CONDENAÇÕES IMPOSTAS À FAZENDA PÚBLICA. CASO
CONCRETO QUE É RELATIVO A INDÉBITO TRIBUTÁRIO.
• TESES JURÍDICAS FIXADAS.
1. Correção monetária: o art. 1º-F da Lei 9.494/97 (com redação dada
pela Lei 11.960/2009), para fins de correção monetária, não é
aplicável nas condenações judiciais impostas à Fazenda Pública,
independentemente de sua natureza.
1.1Impossibilidade de fixação apriorística da taxa de correção
monetária. No presente julgamento, o estabelecimento de índices que
devem ser aplicados a título de correção monetária não implica pré-
fixação (ou fixação apriorística) de taxa de atualização monetária. Do
contrário, a decisão baseia-se em índices que, atualmente, refletem a
correção monetária ocorrida no período correspondente. Nesse
contexto, em relação às situações futuras, a aplicação dos índices em
comento, sobretudo o INPC e o IPCA-E, é legítima enquanto tais
índices sejam capazes de captar o fenômeno inflacionário.
1.2 Não cabimento de modulação dos efeitos da decisão. A modulação
dos efeitos da decisão que declarou inconstitucional a atualização
monetária dos débitos da Fazenda Pública com base no índice oficial
de remuneração da caderneta de poupança, no âmbito do Supremo
Tribunal Federal, objetivou reconhecer a validade dos p recatórios
expedidos ou pagos até 25 de março de 2015, impedindo, desse modo,
a rediscussão do débito baseada na aplicação de índices diversos.
Assim, mostra-se descabida a modulação em relação aos casos em que
não ocorreu expedição ou pagamento de precatório.
2. Juros de mora: o art. 1º-F da Lei 9.494/97 (com redação dada pela
Lei 11.960/2009), na parte em que estabelece a incidência de juros de
mora nos débitos da Fazenda Pública com base no índice oficial de
remuneração da caderneta de poupança, aplica-se às condenações
impostas à Fazenda Pública, excepcionadas as condenações oriundas
de relação jurídico-tributária.
3. Índices aplicáveis a depender da natureza da condenação. 3.1
Condenações judiciais de natureza administrativa em geral. As
condenações judiciais de natureza administrativa em geral, sujeitam-
se aos seguintes encargos: (a) até dezembro/2002: juros de mora de
0,5% ao mês; correção monetária de acordo com os índices previstos
no Manual de Cálculos da Justiça Federal, com destaque para a
incidência do IPCA-E a partir de janeiro/2001; (b) no período
posterior à vigência do CC/2002 e anterior à vigência da Lei
11.960/2009: juros de mora correspondentes à taxa Selic, vedada a
cumulação com qualquer outro índice; (c) período posterior à vigência
da Lei 11.960/2009: juros de mora segundo o índice de remuneração
da caderneta de poupança; correção monetária com base no IPCA-E.
3.1.1 Condenações judiciais referentes a servidores e empregados
públicos. As condenações judiciais referentes a servidores e
empregados públicos, sujeitam-se aos seguintes encargos: (a) até
julho/2001: juros de mora: 1% ao mês (capitalização simples);
correção monetária: índices previstos no Manual de Cálculos da
Justiça Federal, com destaque para a incidência do IPCA-E a partir de
janeiro/2001; (b) agosto/2001 a junho/2009: juros de mora: 0,5% ao
mês; correção monetária: IPCA-E; (c) a partir de julho/2009: juros de
mora: remuneração oficial da caderneta de poupança; correção
monetária: IPCA-E.
3.1.2 Condenações judiciais referentes a desapropriações diretas e
indiretas.No âmbito das condenações judiciais referentes a
desapropriações diretas e indiretas existem regras específicas, no que
concerne aos juros moratórios e compensatórios, razão pela qual não
se justifica a incidência do art. 1º-F da Lei 9.494/97 (com redação dada
pela Lei 11.960/2009), nem para compensação da mora nem para
remuneração do capital.
3.2 Condenações judiciais de natureza previdenciária. As
condenações impostas à Fazenda Pública de natureza previdenciária
sujeitam-se à incidência do INPC, para fins de correção monetária,
no que se refere ao período posterior à vigência da Lei 11.430/2006,
que incluiu o art. 41-A na Lei 8.213/91. Quanto aos juros de mora,
incidem segundo a remuneração oficial da caderneta de poupança
(art. 1º-F da Lei 9.494/97, com redação dada pela Lei n. 11.960/2009).
3.3 (...)
Assim, reconhecida a inconstitucionalidade da aplicação do
índice de remuneração da caderneta de poupança, na forma do artigo 1º-F da
Lei nº 9.494/97, com redação dada pela Lei nº 11.960/09, como critério de
correção monetária nas condenações impostas à Fazenda Pública, não pode
ser aplicado este índice. Deve ser respeitada a tese firmada de que a
inconstitucionalidade da remuneração oficial da caderneta de poupança tem
por fundamento o fato de que a TR não reflete os índices inflacionários.
No caso em tela, por se tratar de condenação judicial imposta ao
Município, deve incidir, a partir de 30 de junho de 2009, como índice de
correção monetária, o IPCA-E.
No que concerne aos juros de mora, não foram atingidos pelo
reconhecimento da inconstitucionalidade, que se restringiu ao índice de
correção monetária. Assim, a partir de sua vigência, prevalecem conforme
disposto na Lei 11.960/2009.
(...).”
Não se pode olvidar que o CPC 2015 aparece como um novo quadro teórico de
onde sobressai o dever das Cortes Superiores trazer Unidade ao Direito, com um
ordenamento jurídico seguro capaz de promover igualdade e liberdade de todo(a)s
perante o direito, nos precisos termos do art. 926, sendo instrumento para tanto o
precedente (art. 927).
Em idêntica situação, o TRF-4, nos autos de recurso interposto pelo INSS sob
alegação de excesso de execução por não observância do “abate teto” – matéria não
ventilada no processo principal -, a decisão foi categórica:
No mais, por não se tratar de trabalho voluntário, seria injusto e, até mesmo,
inconstitucional, a exequente não receber a devida remuneração em troca do trabalho
que foi executado nas mesmas funções de Direto Geral, sendo isso que na prática o
a incidência do teto culmina por levar a efeito. Como discorreu o Ministro Luís
Roberto Barroso em seu voto para o RE 612.975/MT sobre o mesmo assunto, “[...]
considero que a cláusula pétrea violada aqui é o direito fundamental à
remuneração pelo trabalho desempenhado”. Também o Ministro Marco Aurélio
(RE 612.975/MT): “Do cotejo entre o art. 39, § 3º, e o art. 7º, todos da CF,
verifica-se que não há espaço na ordem constitucional vigente para trabalho
não remunerado, o que também é vedado pela Lei (federal) n. 8.112/1990 (art.
4º) que proíbe a prestação de serviços gratuitos.”
"(....)
30. a expressão 'percebidos cumulativamente ou não' poderia perfeitamente ser
associada, no contexto, a cada vínculo funcional - do servidor ou instituidor -
tomado individualmente. Em outras palavras, pode-se admitir que não cuida o
dispositivo do somatório de rendimentos provenientes de cargos distintos, mas
de rendimentos de um único cargo (ou vínculo funcional) tomado de per si, os
quais (rendimentos), percebidos de forma agrupada ou não, têm de se conter no
limite máximo representado pelo subsídio de Ministro do STF.
(...)
32. Com isso, insisto, a expressão 'cumulativamente ou não' conserva real
significado e força operativa, além de se coadunar com a parte final do inciso
XVI do art. 37 da CF, que, de outra forma, restaria completamente ociosa, sem
nenhuma utilidade: 'é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos,
exceto, quando houver compatibilidade de horários, observado em qualquer
caso o disposto no inciso XI'.
(...)
33. De fato, qual seria o sentido de uma tal disposição se a submissão ao teto
do somatório dos rendimentos oriundos de acumulações de cargos fosse
automática, pois que já estabelecida no inciso XI? E por que a mesma
disposição não foi repetida em outras hipóteses de acumulação expressamente
admitidas pela Constituição, como as de magistrados com assento nos
tribunais eleitorais (arts. 119 e 120) ou as de juízes e professores (art. 95,
parágrafo único, inciso I) ?
(...)
36. Em suma, entendo bastante razoável exegese no sentido de que o inciso XI
do art. 37 da C.F. fixa, originariamente, o limite remuneratório a ser
observado em cada vínculo funcional ou benefício previdenciário, tomado
isoladamente, pago pelos cofres públicos. Quando esse mesmo limite é
aplicável ao conjunto de vínculos ou benefícios, há expressa e específica
disposição a respeito. (...)”
Seja como for, Excelências, a decisão agravada deve ser revista e reformada,
haja vista a questão do teto remuneratório ter sido somente agora agitada, ficando
fora de discussão na formação do título.
In vebis:
“(...)
Com efeito, no julgamento dos embargos de declaração, o voto condutor
bem demonstra que todas as questões trazidas pelo embargante foram
enfrentadas de forma exauriente. Confiram-se:
Como visto, consta de forma expressa no acórdão que o
"'Supremo Tribunal Federal, em recente manifestação acerca do
alcance do art. 741, parágrafo único, do Código de Processo Civil,
reforçou a orientação segundo a qual a sentença de mérito
transitada em julgado só pode ser. desconstituída mediante
ajuizamento de específica ação autônoma de impugnação (ação
rescisória) que haja sido proposta na fluência do prazo decadencial
previsto em lei (RE n. 594.929/RS, Min. Celso de Melo). Assim, não
pode ser acolhida a tese de inexigibilidade do título executivo
judicial, ainda que a sentença exequenda esteja amparada em
interpretação de lei tida por inconstitucional pela Corte Suprema
(Apelação Cível n. 2011.063834-6, de Urussanga, Rel. Des. Luiz
Cézar Medeiros, j. em 2 710 9/201 1)" (fl. 99). Outrossim, consta
que, em atenção ao princípio do dedutível e do deduzido, constante
do art. 474 do Código de Processo Civil, "Passada em julgado a
sentença de mérito, reputar-se-ão deduzidas e repelidas todas as
alegações e defesas, que a parte poderia opor assim ao acolhimento
como à rejeição do pedido". Não é demasiado ratificar, operou-se
a preclusão consumativa quanto à alegação deduzida pelo
embargante, [...]”
No mais, constata-se que acórdão recorrido, quando entendeu que a
questão relativa ao limite ao teto constitucional já estava acobertada pela coisa
julgada, não destoa da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça no
sentido de que, nas execuções de título judicial, os embargos do devedor ficam
restritos às matérias constantes do rol taxativo imposto pelo art. 741 do
CPC/1973 (atual art. 535 do CPC/2015), não podendo conter alegações que
deveriam ter sido apresentadas na fase de cognição.
A propósito: AgInt no REsp 1653204/PE, Rel. Ministro Mauro Campbell
Marques, Segunda Turma, DJe 23/8/2017; AgInt no REsp 1.664.909/PE, Rel.
Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 23/8/2017.
Diga-se também que a Primeira Seção do STJ, no rito do art. 543-C do
CPC/1973 e da Resolução STJ 08/2008, quando do julgamento do REsp
1.189.619/PE, entende que a norma do art. 741, parágrafo único, do CPC deve
ser interpretada restritivamente, porque excepciona o princípio da
imutabilidade da coisa julgada, sendo necessário que a inconstitucionalidade
tenha sido declarada em precedente do Supremo Tribunal Federal, em
controle concentrado ou difuso. No mesmo sentido: REsp 1665484/RS, Rel.
Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe 20/6/2017; (AgRg no REsp
1244575/RJ, Rel. Ministro Sérgio Kukina, Primeira Turma, DJe 11/12/2015.
Este último julgado está assim ementado:
AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL.
APLICAÇÃO DO ART. 741, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CPC.
TRÂNSITO EM JULGADO DA SENTENÇA EM DATA
ANTERIOR À SUA VIGÊNCIA. SÚMULA 487 DO STJ. 1. O
entendimento desta Corte Superior é no sentido de que "O
parágrafo único do art. 741 do CPC não se aplica às sentenças
transitadas em julgado em data anterior à sua vigência" (Súmula
487/STJ). 2. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg
no REsp 1244575/RJ, Rel. Ministro Sérgio Kukina, Primeira
Turma, DJe 11/12/2015).
(...)
Como se denota, a modificação dos fundamentos do voto condutor
demanda necessariamente nova análise do contexto fático-probatório,
incidindo, na espécie, o óbice contido no teor da Súmula 7/STJ. No mesmo
sentido: Resp 1.669.376/SP, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma,
DJe 13/9/2017.”
Conclui-se, assim, na decisão ora agravada, com todas as venias, ter havido um
desprestígio com os entendimentos assentados nos Tribunais sobre a imutabilidade
da coisa julgada, sobre a alegações que deveriam ter sido apresentadas na fase de
cognição e não foram. A eficácia expansiva e a especial carga persuasiva dos
precedentes do STJ não podem ser afastadas mediante uma decisão de primeiro grau
que se coloca imune, ou escondida dos seus reflexos, como se o conteúdo decidido
não versasse sobre a mesma matéria.