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Ecologia social

Ecologia social é um conceito criado pelo geógrafo anarquista Elisée Reclus em fins do século XIX e
reapropriado pelo filósofo Murray Bookchin nos anos de 1960.
Sustenta a idéia que os problemas ecológicos atuais estão arraigados e profundamente assentados em
problemas sociais, particularmente no domínio dos sistemas políticos e sociais hierarquizados. Estes
resultaram de uma aceitação não-crítica de uma filosofia hipercompetitiva do crescer ou morrer. Sugere
também que não é possível fazer frente a tais problemas através de ações individuais como o consumismo
ético, mas precisa estar relacionado a formas de pensamento éticos mais profundas e atividades coletivas
fundamentadas em ideais democráticos radicais (libertários). A complexidade das relações entre pessoas e a
natureza é enfatizada, junto com a importância de se estabelecer estruturas sociais que possam levar em
conta tais relações (1)

A partir de um diagnóstico social e político das causas dos problemas ecológicos, Murray Bookchin traça os
contornos do que possa ser um desenvolvimento integral de homem e comunidade dentro de uma sociedade
descentralizada.
Não é possível, atualmente, considerar os problemas ecológicos como marginais, sem importância e ate
burgueses. Os dados sobre o aumento da temperatura do planeta devido a crescente taxa de gás carbônico
na atmosfera - o conhecido efeito estufa -, o descobrimento de buracos na camada de ozônio, fenômeno
atribuído ao uso imoderado de clorofluorcarbono, que permite a penetração das radiações ultravioletas, a
contaminação da água potável, do ar, dos oceanos e alimentos, a extensa eliminação de florestas pelas
chuvas acidas e cortes indiscriminados, a disseminação de material radioativo ao longo da cadeia alimentar...
Tudo isso proporcionou a ecologia uma importância que jamais teve no passado. A sociedade atual esta
destruindo o planeta a níveis tais que superam a capacidade de auto-saneamento da Terra. Estamos nos
aproximando do momento em que o planeta não poderá manter a espécie humana, nem as complexas
formas de vida que se desenvolveram através de milhões de anos de evolução orgânica.
Frente a este cenário catastrófico, apresenta-se o risco de querermos eliminar os sintomas em vez das
causas, e de que pessoas ecologicamente comprometidas pretendam soluções parciais e não respostas
duradouras. O avanço dos movimentos verdes, pôr todo o mundo, confirma a existência de um novo impulso
para as pessoas ocuparem-se concretamente do desastre ecológico. Porem, se torna cada vez mais clara a
necessidade de algo mais fundamental do que um impulso. Ainda que seja importante deter aglomerações
urbanas, uso de substancias químicas mortíferas na agricultura e indústria alimentar, é necessário estar
convicto de que as forcas que conduzem a sociedade para a aniquilação planetária tem suas raízes numa
economia de mercantil de "crê ou morre", num modo de produção que deve se expandir enquanto sistema
competitivo.

Quais são as causas de nossos problemas ecológicos?

Atribuir a culpa de nossos problemas ecológicos à tecnologia, à mentalidade tecnológica ou à explosão


demográfica é incoerência. A tecnologia - a má tecnologia, como os reatores nucleares- amplifica problemas
existentes; porem, de per si, não os produz. O aumento da população é relativo, se é que seja um problema.
Os demógrafos (os que estudam estatisticamente as populações nos seus aspectos de natalidade,
migrações, mortalidade, etc.) ha muito tempo já sabem que o que faz as estatísticas crescerem são a
pobreza material e a ruína cultural, e não as melhores condições de vida. Na verdade não sabem quantas
pessoas poderiam viver decentemente no planeta sem provocar transtornos ecológicos. Os Estados Unidos,
na ultima metade do século XIX, exterminaram milhares de bisões, vastas áreas de florestas primitivas, e
todo esse prejuízo aconteceu com a população inferior a cem milhões de habitantes, e com a tecnologia
muito atrasada para os níveis atuais.
Na realidade, não era a tecnologia e a pressão demográfica que operavam quando aconteceu esse grande
drama de exploração. O praga que afligia o continente americano era mais devastadora que uma invasão de
gafanhotos. Era uma ordem social que se deveria citar em cerimoniais: capitalismo, em sua versão privada no
Ocidente e em sua forma burocrática no Leste. Eufemismos como sociedade tecnológica ou sociedade
industrial, termos tão confundidos na literatura ecológica contemporânea, tendem a mascarar, com
expressões metafóricas, a brutal realidade de uma sociedade predatória. Com isso distraímos nossa atenção
de uma economia estruturada sobre a competição.
Tecnologia e industria são representados como os protagonistas perversos desse drama, no lugar do
mercado e da ilimitada acumulação de capital, que consubstanciam um sistema de crescimento (acumulação)
que pôr fim deglutira toda a biosfera.

Os problemas da Hierarquia e da Dominação

Aos enormes problemas sistêmicos criados por essa ordem social devemos agregar os enormes problemas
sistêmicos criados pela mentalidade que começou a se desenvolver muito antes do nascimento do
capitalismo e que foi completamente absorvida pôr ele. Refiro-me a mentalidade estruturada em termos da
hierarquia e domínio, na qual a dominação do homem pelo homem deu origem a concepção de que dominar
a natureza fosse o destino e inclusive a necessidade da humanidade. O fato de que o pensamento ecológico
começou a difundir a idéia de que esta concepção é perniciosa, certamente é reconfortante. Pôr outro lado,
ainda não se compreendeu claramente como surgiu essa concepção, porque existe e como pode ser
eliminada. Devemos explorar as origens da hierarquia social e da opressão, se quisermos encontrar uma
solução para a destruição da ecologia. É fato que a hierarquia em todas as formas - domínio do ancião sobre
o jovem, do homem sobre a mulher, do homem em forma de subordinação de classe, de casta, etnia ou de
quaisquer outras possíveis estratificações de status social - não foi identificada como um âmbito de domínio
muito mais amplo do que o domínio de classe. Esta tem sido uma das falhas cruciais do pensamento radical.
Nenhuma libertação será completa, nenhuma intenção de criar uma harmonia entre os seres humanos e
entre a humanidade e a natureza poderá jamais ter êxito enquanto não sejam erradicadas todas as
hierarquias, e não só das classes, todas as formas de domínio, e não somente da exploração econômica.

A proposta de Murray

Murray sustento que a humanidade é parte da natureza ainda que dela difira profundamente pela capacidade
que tem de pensar conceitualmente e se comunicar simbolicamente. A natureza, por outro lado, não é
simplesmente uma cena panorâmica para ser vista passivamente através da janela. É o conjunto da
evolução, a evolução em sua totalidade, precisamente como o indivíduo é sua biografia pôr completo, não
uma simples soma de dados numéricos que indicam seu peso, altura, inteligência e assim sucessivamente.
Os seres humanos não são apenas uma de tantas formas de vida, uma forma meramente especializada para
ocupar um dos tantos nichos ecológicos do mundo natural. São seres que, pelo menos potencialmente,
poderiam fazer a evolução biótica autoconsciente e conscientemente dirigida. Com isso não quero afirmar
que a humanidade não chegue a ter nunca um conhecimento suficiente da complexidade do mundo natural
para poder tomar o timão da evolução natural e dirigi-la segundo sua vontade. Pelo contrario, minhas
reflexões sobre a espontaneidade apontam para sugerir prudência nas intervenções sobre o mundo natural e
sustentar que se deve modificá-lo com grande cautela. Porém, como argumentou em "Thinking Ecologically",
o que verdadeiramente nos faz únicos, singulares no esquema ecológico das coisas, e que podemos intervir
na natureza com um grau de autoconsciência e de flexibilidade desconhecidos de todas as outras espécies.
Que possamos atuar de modo criativo ou destrutivo constitui o maior problema que devemos enfrentar em
toda reflexão sobre nossa interação com a natureza. Ainda que nossa potencialidade humana de dar
autodireçãoo consciente seja enorme, devemos, entretanto recordar que somos ainda sub-humanos.
Nossa espécie esta dividida antagonisticamente: por idade, gênero, classe, renda, etnia, etc. Falar de
humanidade em termos zoológicos como fazem tantos ecologistas, inclusive tratando as pessoas como mera
espécie e não como seres sociais que vivem em complexas criações institucionais e não em primitiva região
selvagem, é ingenuamente absurda. Uma humanidade iluminada, junta para se aperceber de suas plenas
potencialidades, em uma sociedade ecológica harmoniosa, e somente uma esperança, um dever ser e não
um ser.
Como será possível conseguir as transformações que proponho? Não acredito que elas possam acontecer
através do aparato estatal, isto é, um sistema parlamentar ou de outra ordem. Minha experiência com o
movimento parlamentar alemão me clarificou que o parlamentarismo e moralmente daninho e corrupto
Outro dado importante: o parlamentarismo invariavelmente minha a participação popular na política, no
sentido que foi atribuído a esta palavra durante séculos.
Para os antigos atenienses, a palavra política significava gestão da polis (cidade) por parte dos cidadãos em
assembléias, mulheres, estrangeiros e escravos estavam excluídos. Também é verdade que eram os
cidadãos ricos os que dispunham de recursos materiais e gozavam dos privilégios negados aos cidadãos
pobres.
A ecologia radical não pode ser indiferente a realidade material da vida humana, não pode ser indiferente as
relações sociais nem as econômicas. O delicado equilíbrio existente entre o uso da tecnologia com finalidade
de libertação e seus usos com fins destrutivos para o planeta é matéria de juízo social, porém um juízo que
vem incessantemente ofuscado quando ecologistas denunciam a tecnologia como um mal irrecuperável ou a
exaltam como uma virtude indiscutível. Os místicos e tecnocratas têm uma importante característica em
comum: não se detêm para examinar a fundo a questão ecológica, nem projetam a lógica para alem das mais
elementares e simples premissas (2).

Ecologia social : pobreza e miséria

Hoje se fala das muitas crises sob as quais padecemos: crise econômica, crise energética, crise social, crise
educacional,crise moral, crise ecológica,crise espiritual etc. Se olharmos bem,verificamos que,na
verdade,todas as crise se encontram numa fundamental: a crise do tipo de sociedade que criamos a partir
dos últimos 400 anos. Esta crise é global porque este tipo de sociedade se difundiu ou foi imposta
praticamente no globo inteiro.
Qual é o primeiro sinal visível que caracteriza este tipo de sociedade? É que ela produz sempre pobreza e
miséria de um lado e riqueza e acumulação do outro. Este fenômeno se nota a nível mundial. Aí há poucos
países ricos e muitos países pobres. Nota-se principalmente ao nível das nações: poucos estratos
beneficiados com grande abundância de bens de vida (comida,meios de saúde, de moradia,de formação,de
lazer) e grandes maiorias carentes do que é essencial e decente para a vida. Mesmo nos países chamados
industrializados do hemisfério norte,notamos bolsões de pobreza (terceiromundialização no primeiro mundo)
como existe também setores opulentos no terceiro mundo (uma primeiromundialização do terceiro mundo) no
meio de miséria generalizada.
Por que é assim? As críticas vão denunciar o por que.
Três críticas ao modelo de sociedade atual

Há três linhas de crítica ao modelo de sociedade atual


1. A primeira é feita pelos movimentos de libertação dos oprimidos.
Ela diz: o núcleo desta sociedade não está construído sobre a vida,o bem comum de todos,a participação e a
solidariedade entre os humanos. O eixo estruturador está na economia. Ela é um conjunto de poderes e
instrumentos de criação de riqueza - e aqui vem a característica básica - mediante a depredação da natureza
e a exploração do seres humanos. A economia é a economia do crescimento ilimitado, no tempo mais rápido
possível, com o mínimo de investimento e a máxima rentabilidade. Quem conseguir se manter nesta dinâmica
e obedece a esta lógica,acumulará e será rico. Mas tudo isso à custa de um permanente processo de
exploração.
Portanto, a economia se orienta por um ideal de desenvolvimento que se coloca entre dois infinitos: o dos
recursos naturais pressupostamente ilimitados e do futuro indefinidamente aberto para frente.
Para este tipo de economia do crescimento a natureza é degradada a um simples conjunto de "recursos
naturais”, ou à matéria prima em disponibilidade dos interesses humanos. Os trabalhadores são considerados
como "recursos humanos" ou pior ainda "material humano" em função de uma meta de produção. Como se
depreende,a visão é instrumental e mecanicista: pessoas,animais,plantas,minerais,enfim,todos os seres
perdem sua autonomia relativa e seu valor intrínseco. São reduzidos a meros meios para um fim fixado
subjetivamente pelo ser humano que se considera o centro e o rei do universo, Este quer enriquecer e
acumular bens para si.
Esse modelo não consegue criar riqueza sem ao mesmo tempo gerar pobreza; não é capaz de gestar
desenvolvimento econômico sem simultaneamente produzir exploração social local e internacional.

2. A segunda linha crítica vem dos grupos pacificistas e da não-violência ativa.


Estes grupos notam que o tipo de sociedade de desenvolvimento desigual produz muita violência. Violência
social e injustiça societária, por causa da própria desigualdade, violência a nível nacional e internacional. Esta
violência é consequência direta da dominação de países que detém poder tecno-científico sobre os outros
mais atrasados. O conflito generalizado tem mil rostos, dos quais os mais conhecidos são os conflitos de
classe, de etnias, de gênero e de religiões. O modelo vigente de sociedade não favorece a solidariedade,
mas a concorrência, não o diálogo e o consenso mas a luta de todos contra todos. Por isso, as
potencialidades humanas de sensibilidade pelo outro,de ternura pela vida,de colaboração desinteressada são
secundarizadas para dar lugar aos sentimentos menores da exclusão e da vantagem pessoal ou classista.

3. Somos parte de um imenso equilíbrio: ecologia social


Queremos agora aprofundar a terceira corrente, a ecológica, na sua dimensão social. O grande desafio vem
da pobreza e da miséria. Esses são nossos principais problemas ecológicos e não o mico-leão dourado, o
urso panda da China e as baleias do Atlântico Norte.
Digamos logo de saída: pobreza e miséria são questões sociais e não naturais e fatais. Elas são produzidas
pela forma como se organiza a sociedade. Hoje temos consciência de que o social é parte do ecológico no
seu sentido amplo e verdadeiro. Ecologia tem a ver com as relações de tudo com tudo em todas as
dimensões. Tudo está interligado. Não há compartimentos fechados, o ambiental de um lado,o social de outro
etc. A ecologia social pretende estudar as conexões que as sociedades estabelecem entre seus membros e
as instituições e todos eles para com a natureza envolvente.

Conclusão: Não basta a ecologia humana que se ocupa com as ações e reações do ser humano universal,
relacionado com o meio-ambiente. Ela é importante, porque trabalha as categorias mentais (ecologia mental)
que faz com que o ser humano singular seja mais ou menos benevolente ou mais ou menos agressivo. Mas é
ainda uma visão idealista, pois o ser humano não vive no geral, mas nas malhas de relações sociais. Por
isso, precisamos de uma adequada ecologia social que saiba articular a justiça social com a justiça ecológica.
É dentro da ecologia social que os temas da pobreza e da miséria devem ser discutidos. Pobreza e miséria
são questões eco-sociais que devem encontrar uma solução eco-social (3)
 
Bibliografia
1. http://pt.wikipedia.org/wiki/Ecologia_social
2. http://www.nodo50.org/insurgentes/textos/ecosocial/02porumaecosocial.htm
3. http://leonardoboff.com/site/vista/outros/ecologia-social.htm

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