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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES – CCHLA


DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA

FUNDAMENTOS HISTÓRICO-CONCEITUAIS DA NECESSIDADE ANALÍTICA E A


SÉTIMA TESE DE MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS NA FILOSOFIA CONCRETA

Autor: Eli Queiroz Espínola


Orientador: Prof. Dr. Samir Bezerra Gorsky

NATAL/RN
2021
ELI QUEIROZ ESPÍNOLA

FUNDAMENTOS HISTÓRICO-CONCEITUAIS DA NECESSIDADE ANALÍTICA E A


SÉTIMA TESE DE MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS NA FILOSOFIA CONCRETA

Monografia apresentada como trabalho


de conclusão de curso de bacharelado
em filosofia da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte.
Orientação: Prof. Dr. Samir Bezerra
Gorsky

NATAL/RN
2021

2
ELI QUEIROZ ESPÍNOLA

FUNDAMENTOS HISTÓRICO-CONCEITUAIS DA NECESSIDADE ANALÍTICA E A


SÉTIMA TESE DE MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS NA FILOSOFIA CONCRETA

Monografia apresentada como trabalho


de conclusão de curso de bacharelado
em filosofia da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte.
Orientação: Prof. Dr. Samir Bezerra
Gorsky

Aprovado em: 06/05/2021

Banca Examinadora

Prof. Dr. Samir Bezerra Gorsky


Universidade Federal do Rio Grande do Norte ― Orientador

Prof. Dr. Bruno Rafaelo Lopes Vaz


Universidade Federal do Rio Grande do Norte ― Examinador

Prof. Dr. Sérgio Eduardo Lima da Silva


Universidade Federal do Rio Grande do Norte ― Examinador

3
AGRADECIMENTOS

Ao Deus Trino, meu Criador e Redentor, que se revelou em Jesus Cristo,


o Logos encarnado, por me favorecer nesta vocação cultural.
A minha amada esposa Sumara que, além do suporte constante, foi a
primeira a me incentivar a cursar filosofia e que levasse a cabo pesquisas sobre
obras de Mário Ferreira dos Santos.
A minha mãe Miriam pela educação e amor singulares a mim
dispensados, assim como o apoio e confiança de meus irmãos, Daniel e Débora,
sem os quais não teria chegado até aqui.
Ao caro Professor Samir Gorsky, por me guiar, nos últimos anos, nesta
fascinante jornada pelos tópicos da lógica. Aos nobres Professores da banca, Bruno
Rafaelo Lopes Vaz e Sérgio Eduardo Lima da Silva, pelo comprometimento em
apreciar o trabalho. Aos demais Professores do Departamento de Filosofia e outros
tantos que contribuíram para minha formação.
A todos os amigos pelo aprendizado e valores compartilhados ao longo
da vida.

4
Resumo
O presente trabalho se propõe a investigar, a princípio, os fundamentos da
necessidade analítica, tanto numa perspectiva histórica, quanto conceitual. A
pesquisa levará em consideração o debate associado ao problema do significado e
da definição na história da lógica e da tradição analítica, particularmente, no que se
refere aos enunciados analíticos. Um levantamento dos grandes proponentes e
críticos dos enunciados analíticos será parte desta pesquisa. O caráter de
necessidade, ou o modo de verdade de tais enunciados consiste apenas se o
significado é o caso, de maneira que negá-los implica autocontradição.
Secundariamente, como estudo de caso, visa inquirir, à luz da necessidade analítica,
a sétima tese da recente edição crítica, publicada em volume único, da Filosofia
Concreta, qual seja, “O Nada absoluto é a contradição de ‘alguma coisa há’”, de
autoria do filósofo brasileiro Mário Ferreira dos Santos (1907-1968). Aqui, a definição
kantiana de analiticidade será o critério para avaliar a sétima tese como proposição
analítica. Também a preferência de Tugendhat pelo uso da necessidade analítica
porque está fundamentada no princípio da não contradição.

Palavras chaves: Analiticidade; Necessidade; Tese; Nada Absoluto; Princípio da


Não Contradição.

5
Abstract:
The present work proposes to investigate in principle the foundations of the analytical
necessity from both a historical and a conceptual perspective. The research will take
into account the debate associated with the problem of meaning and definition in the
history of logic and the analytical tradition, particularly with regard to analytical
statements. A survey of the great proponents and critics of the analytical statements
will be part of this research. The character of the need, or the mode of truth of such
statements, consists only if the meaning is the case, so that to deny them implies
self-contradiction. Secondly, as a case study, it aims to inquire, in the light of
analytical necessity, the seventh thesis of the recent critical edition, published in a
single volume, of Philosophy Concrete, "Absolute nothingness is the contradiction of
'something exists'", authored by the Brazilian philosopher Mário Ferreira dos Santos
(1907-1968). In particular, the Kantian definition of analyticity will be the criterion for
evaluating the seventh thesis as an analytical proposition. Also Tugendhat
preference for the use of analytical necessity, because it is based on the principle of
non-contradictionbased.

Keywords: Analyticity; Necessity; Thesis; Nothing Absolute; Principle of Non-


Contradiction.

6
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 8
1. DOS ENUNCIADOS ANALÍTICOS .................................................................. 9
2. DA NATUREZA DA NECESSIDADE ............................................................... 18
3. ESTUDO DE CASO: DO ESCRUTÍNIO DA TESE .......................................... 27
CONCLUSÃO ...................................................................................................... 36
REFERÊNCIAS .................................................................................................... 37

7
INTRODUÇÃO

A pesquisa tem por objeto elencar os principais fatos e ideias referentes


ao problema da necessidade analítica. Analítico ou analisar é decompor as partes
que constituem um todo. A filosofia analítica foi um movimento, o qual teve como
motivação uma terapia da linguagem, ou seja, a análise do problema do significado,
quer num contexto científico, quer num contexto ordinário.
Em geral, se definem afirmações analíticas como verdadeiras apenas em
razão do significado, de maneira que negar uma afirmação analítica implica
necessariamente uma auto-contradição. O exemplo clássico é “todo solteiro é
alguém não casado”. Necessidade tem que ver com modos da verdade e é a
necessidade analítica (ou semântica) consiste num enunciado governado pela lei da
não-contradição. Em seguida, a investigação pretende, a título de estudo de caso,
por em questão, à luz da necessidade analítica, a sétima tese da recente edição
crítica, publicada em volume único, da Filosofia Concreta (doravante FC), qual seja,
“O Nada absoluto é a contradição de ‘alguma coisa há’”, de autoria do filósofo
brasileiro Mário Ferreira dos Santos (1907-1968).
O desenvolvimento se compõe de três capítulos. O primeiro terá como
foco os antecedentes da tradição analítica, adentrando aos aspectos mais
propriamente teóricos, no que tange à relevância das definições em lógica e a
defesa dos enunciados analíticos. O segundo exporá o caráter da necessidade para
a prática inferencial na matemática e na lógica ao longo da história filosófica. Ainda
será estudado o princípio da não contradição em face das verdades analíticas e as
consequências de sua rejeição. No último capítulo, o do estudo de caso, qual seja, o
exame da sétima tese como proposição analítica, duas contribuições terão destaque:
A noção kantiana para analítico, de acordo com a qual o conceito do predicado já
está contido no sujeito; e a de Tugendhat, para quem a necessidade analítica seria a
mais intuitiva e tem base na lei da não contradição.
A conclusão, para além da menção e registro deste autor nacional e do
débito dele em relação à tradição clássica e contemporânea da lógica, também fará
uma recapitulação dos aspectos positivos da investigação e apontará eventuais
continuidades, como desdobramentos da tese para outras áreas da filosofia, para a
matemática e ciência naturais.

8
1. DOS ENUNCIADOS ANALÍTICOS

Este capítulo se propõe a discorrer sobre como os principais fatos da


tradição da lógica, antes e depois de Aristóteles, culminaram na análise do
significado e definições, tornando-se, assim, um método levado a efeito na filosofia.
Para uma melhor compreensão, serão citados autores e escolas circunscritos a
períodos, usualmente, demarcados da antiguidade à contemporaneidade. Depois
será enfatizada a analiticidade numa perspectiva modal com percepções de
partidários e críticos.
A tradição da lógica pode se dividir, segundo Tugendhat em: Antiga, de
Aristóteles até fins da Idade Média; moderna, com a Lógica de Port-Royal (1662) e
questões relacionadas à epistemologia e à psicologia; e atual, começando com a
Conceitografia de Frege (1879), caracterizada como lógica matemática ou
simbólica.1
Em Platão já há uma preocupação com análise conceitual através de
definições na obra “Sofista” e em Aristóteles, uma análise do conceito de causa
(eficiente, formal, material, final).2 A discussão sobre princípios da inferência válida
antes de Aristóteles já são identificados em Platão, ainda que não seja chamado de
lógico, todavia o fez assistematicamente.3 A perspectiva de que o método de análise
como decomposição de conceitos que posteriormente seria adotado pela filosofia da
linguagem, remontaria à (ciência) dialética platônica na obra “Sofista”.4 Na Paideia, a
criação da gramática, de retórica e dialética é fenômeno que veio dos sofistas,
embora muitas outras realizações deles se extraviaram.5
No Dicionário dos Filósofos, alguns tratados de Aristóteles foram
posteriormente reunidos sob o nome de organon, marco da fundação da lógica, em
que pese algumas análises concernentes à proposições e ao valor de verdade nos
discursos da lógica formal fossem antecipados por Platão em Sofista, como já foi di-
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1 WOLF, Ernst Tugendhat e Ursula. Propedêutica lógico-semântica. Trad. Fernando Augusto da
Rocha Rodrigues. Petrópolis, RJ: Vozes, 1996, pp. 9,10;
2 MARCONDES, Danilo. Filosofia analítica (Filosofia passo-a-passo). Trad. Rio de Janeiro: Jorge

Zahar, 2004, p.9;


3 KNEALE, William Kneale e Marta. O Desenvolvimento da Lógica. Lisboa: Fundação Calouste

Goubekian,1980, pp. 3,14;


4 PLATÃO. Diálogos: seleção de textos de José A. M. Pessanha (O Banquete - Fédon - Sofista -

Político). Trad. José C. de Souza, Jorge P. e João C. Costa. SP: Abril Cultural, 1983, pp. 176,177;
5 JARGER, Werner. Paidéia: A formação do homem grego. Trad. Artur Bandeira M. Parreira, SP:

Martins Fontes, 1995, pp. 366.

9
to. Contudo é o filosofo estagirista quem formulou os axiomas da contradição, do
terceiro excluído, etc., e as regras do silogismo. Organon significa "instrumento",
cuja compilação dos tratados é problemática hoje.6 Chauí explica que Aristóteles usa
analíticos, analytikós, do verbo analyo que significa: desfazer ou desembaraçar
trama, fio, laço, isto é, os constituintes do pensamento e da linguagem, operação e
relação.7 Huisman oferece um resumo do organon, no qual indica a investigação do
discípulo de Platão no que se refere à definições e modalidades (cap. II, distinção de
nomes e proposições; cap. III, definição de atributo), predicação (cap IV, significaqdo
da predicação; cap. V, predicação da “substância”; caps. VI a IX, modos de
predicação), proposições e modalidade (Da interpretação, verdadeiro-falso,
afirmação-negação, universal-particular; cap. XII, proposições modais; cap. IX,
futuros contingentes).8 Durant descreve a racionalidade grega como “indisciplinada”
e “caótica” até as fórmulas de Aristóteles. E que após o filósofo de estargira, crises
políticas e econômicas enfraqueceram a mentalidade helênica. A lógica de
Aristóteles se alimentou dos vestígios da insistência socrático-platônica com
definições e refinamento conceitos. A “alma” da lógica reside no máximo rigor das
definições.9 Aristóteles explica que definir é adequar um objeto à classe ou grupo,
indicando com isso, o que há ou não em comum. Ao invés de mover-se dos fatos às
ideias (generalidades) como seu mestre, ele, na busca por definições, faz o inverso.
Aristóteles defenderá a definição como uma frase indicativa da essência de algo. 10
Na Idade Média, comenta Gilson que quanto ao problema lógico do
significado, Boécio interpretava a obra aristotélica à luz de Platão e isso por causa
da controvérsia dos universais. Bem depois, Santo Anselmo vai despontar pela vigor
e sutileza dialética raros, deixando uma contribuição que não se limita ao chamado
argumento ontológico: O ser do qual não se pode pensar nada maior. O que este fez
com os auxílios de que dispôs, Tomás de Aquino fará com fontes mais enriquecidas.
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6 ARISTÓTELES. In: HUISMAN, Denis. Dicionário dos filósofos. SP: Martins Fontes, 2001, pp. 62,64;
7 CHAUÍ, Marilena. Introdução à história da filosofia: dos pré-socráticos a Aristóteles, vol. I. São
Paulo: Companhia das Letras, 2002, pp. 357,358.
8 ORGANON. In: HUISMAN, Denis. Dicionário de obras filosóficas. Trad. Castilho Benedetti. SP:

Martins Fontes, 2000, pp. 413,414.


9 DURANT, Will. A história da filosofia. Trad. Luiz Carlos do Nascimento Silva. Rio de Janeiro: Record,

1996, pp. 63-5


10 ARISTÓTELES. Órganon: Categorias, Da interpretação, Analíticos anteriores, Analíticos 13 CHAUÍ,

Marilena. Introdução à história da filosofia: as escolas helenísticas, vol. II. São Paulo: Companhia das
Letras, 2010, p. 351;
11 GILSON, Etienne. A filosofia na idade média. Trad. Eduardo Brandão. SP: Martins Fontes, 2001,

pp. 160,161.
10
A obra dele foi reconhecida como interlocução entre lógica e revelação cristã. O
argumento ontológico será remanejado por São Boaventura, Descartes, Leibniz e
Hegel e criticado por Tomás de Aquino, Locke e Kant. Depois, Duns Scot divergirá
de Anselmo, para quem se poderia derivar a demonstração a priori acerca da
existência de Deus. Antes, essas demonstrações, devem ascender dos efeitos à
causa, ou seja, a posteriori. A busca de se provar, a partir da contradição do que
pode supor como decorrência da inexistência divina, foi mérito de Anselmo. Abelardo
se tornou um renomado professor de lógica e comentou escritos de Aristóteles e
Porfírio.12 Como comentador dos tratados de Boécio se afastou da perspectiva
platonizante, buscando a real intenção de Aristóteles. Ele traz a controvérsia dos
universais para o campo da lógica, no que se refere à validade das predicações e
não à teologia. A partir dele, a discussão se bifurca entre os partidários que
defendem a aplicabilidade da lógica às coisas (res), ou às palavras (voces).13
Na modernidade, Thomas Hobbes, quase não teve interesse pela lógica e
chegou até a definir o pensamento como um cômputo, um cálculo,14 fato que
influenciará Gottfried Wilhelm Leibniz (XVII) que chega a matematizar a lógica.15
Leibniz inicia, em determinada medida, uma tradição analítica.16 A semântica
clássica e filosofia da linguagem ordinária, caracterizarão a assim chamada 'virada
linguística’,35 isto é, “[...] esse ponto de inflexão em filosofia, chamado às vezes de
'virada lingüística’, insere-se numa tradição filosófica essencialmente austríaca
(sendo Bolzano um de seus ‘pais’), que já foi chamada (por A. Goffa) de tradição
semântica”. (SILVA, 2007, p 137). Mas em que consistiu exatamente essa virada
linguística?
Entre filósofos kantianos originou-se uma tradição semântica que adotou
o a priorismo kantiano, sem aceitar a ideia de intuição pura para fundamentar a
matemática. O problema é o a priori; o inimigo, a intuição pura de Kant; o propósito,
desenvolver uma concepção do a priori em que a intuição pura não desempenhasse
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12 ABELARDO. In: HUISMAN, Denis. Dicionário dos filósofos. SP: Martins Fontes, 2001, p. 3;
13 GILSON, Etienne. A filosofia na idade média. Trad. Eduardo Brandão. SP: Martins Fontes, 2001,
pp. 351,352;
14 KNEALE, William Kneale e Marta. O Desenvolvimento da Lógica. Lisboa: Fundação Calouste

Goubekian,1980, pp. 383,409;


15 LÓGICA. In: ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Trad. Alfredo Bosi. São Paulo: Martins

Fontes, 2007, p. 724;


16 MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: Dos pré-socráticos a Wittgenstein. RJ: Jorge

Zahar Ed., 2001, p. 15.

11
papel. Bernard Placidus Johann Nepomuk Bolzano (1781-1848) teria sido o pioneiro
dessa tradição semântica. A “Lógica” de Lotze influenciou Gottlob Frege (a questão
do antipsicologismo, as proposições da aritmética como fundamentadas na lógica, a
reformulação do platonismo).17 A filosofia analítica ou Semântica formal foi
representada por Frege, Russell, o primeiro Wittgenstein, D. Davidson, M. Dummott,
E. Tugendhat. O conceito básico no que diz respeito à significação é o da
verdade.18
Quanto ao problema da definição nas diferentes tradições filosóficas,
certo autor argumenta "[...] Com efeito, as definições são tão importantes em filosofia
que alguns sustentaram que as definições são, em última análise, tudo o que há
para saber com respeito ao assunto" (FOSL, 2012, p. 46). Há quem divida a lógica
em três partes: teoria da formação de conceitos, dos juízos e da inferência. A teoria
da definição tá ligada à primeira. O definiendum da definição tem que ver com a
entidade ou objeto a ser definido, enquanto que o definens, o conceito empregado
no processo de definição. O dilema, com vista ao caráter informativo de uma
definição é sempre a busca de uma adequação material entre o definiens e o
definiendum, em que pese serem coisas distintas.19
A discussão, a seguir, versará sobre a relação entre definição e os
enunciados analíticos, a noção modal de tais enunciados e a defesa da necessidade
analítica pelos melhores expoentes, assim como questões subjacentes ao longo da
tradição filosófica. Alternativamente, convencionou-se falar de três modalidades, a
saber, a alética ou metafísica, a epistêmica e a analítica, como se pode ver na
Enciclopédia dos termos lógico-filosóficos:
Uma verdade pode ser 1) necessária ou contingente, 2) a priori ou a
posteriori, ou ainda 3) analítica ou sintética. As primeiras são modalidades
aléticas, as segundas epistêmicas e as terceiras semânticas. [...] A
analiticidade é uma modalidade semântica: uma frase é analítica sse o seu
valor de verdade é determinável recorrendo exclusivamente ao significado
dos termos usados na frase; e é sintética se o significado dos termos não é
suficiente para determinar o seu valor de verdade [...]. (GOMES, 2006, p.
526)

___________________________________________________________

17 PITT, Eduardo Antônio. A influência da tradição semântica analítica na filosofia de Frege, pp. 327,
329, BA, 2018. Disponível em: https://www3.ufrb.edu.br/seer/index.php/griot/article/view/878/594.
Acesso em: 12/03/2020;
18 REZENDE, Antônio (Org.). Curso de Filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008, p. 254;
19 GREIMANN, Dirk Definição, pp. 1,2,10, Lisboa, 2015. Disponível em:
http://compendioemlinha.letras.ulisboa.pt/wp-content/uploads/2015/05/greimann-definicao.pdf. Acesso
em: 12/03/2020.

12
Leibniz, na obra Monadologia, afirma que verdades de razão são
necessárias e seu oposto é impossível, ao passo que as verdades de fato são
contingentes e o oposto, possível. A ideia de que num juízo analítico, o conceito-
predicado estaria contido no conceito-sujeito corresponde a Leibniz.20 Os filósofos
wolffianos não faziam diferença entre os juízos, tratando todos como analíticos. 21 Em
Kant, só a uma classe de juízo analítico que é o governado pelo princípio da não
contradição, a qual ele contrasta com o sintético:
[...] ou o predicado E pertence ao sujeito A como algo contido (ocultamente)
nesse conceito A, ou B jaz completamente fora do conceito A, embora
esteja em conexão com o mesmo, No primeiro caso denomino o juízo
analítico, no outro sintético. (KANT, 1983, p. 27).
[...] são todas as proposições analíticas juízos a priori, mesmo que seus
conceitos sejam empíricos, por exemplo: ouro é um metal amarelo; pois,
para saber isso, não preciso de outra experiência além do meu conceito de
ouro, o qual contém que este corpo é amarelo e é metal [...]. (KANT, 1984,
p. 15)

Os enunciados analíticos relacionam-se com a compreensão e não é


razoável falar de frases independentemente dos seres que as compreendem. Kant é
quem responde por esta virada subjetivista.22 De acordo com alguns autores, as
classificações a posteriori e a priori são relativas à fonte da justificação para a
crença, já o sintético e analítico, com a semântica dos conceitos relevantes.23 Para
Kant, a lógica aristotélica não precisava de revisão,24 de maneira que, segundo
Santos, Kant se atém ao uso aritotélico das terminologias análise e analítico:
[...] O emprego que Kant faz das palavras análise e analítico prende-se ao
uso por Aristóteles, que distingue no Organon, sobre a lógica formal, uma
analítica primária (teoria do raciocínio) e uma analítica secundária (teoria
das provas). Essa análise lógica que é essencialmente decomposição dos
conceitos se opõe diametralmente à síntese, como operação contrária.
Kant, no propósito de aplicar as formas lógicas ao conhecimento da
realidade, parte deste sentido da palavra quando procura as condições a
priori da experiência na sua chamada analítica transcendental. (SANTOS,
Vol. 1, 1965, p. 93)

Ao que parece, posteriormente, surgiram reações controversas por parte


de outros autores, ao se aplicar juízos na forma ou estrutura sujeito-predicado a todo
o campo do conhecimento, a exemplo de “7+5=12” na matemática, como se fosse
sintético:
___________________________________________________________

20,22 WOLF, Ernst Tugendhat e Ursula. Propedêutica lógico-semântica. Trad. Fernando Augusto da
Rocha Rodrigues. Petrópolis, RJ: Vozes, 1996, pp. 30,31,33,37;
21,24 JUÍZO ANALÍTICO; LÓGICA GERAL/TRANSCENDENTAL. In: CAYGILL, Howard. Dicionário

Kant. Trad. Álvaro Cabral. RJ: Jorge Zahar, 2000, pp. 208, 219;
23 O’BRIEN, Dan. Introdução à teoria do Conhecimento. Trad. Pedro Gaspar. Lisboa: Gradiva, 2013,

p. 63.
13
[...] Mas é um erro supor, como muitos filósofos fizeram, que a classe assim
definida dos juízos analíticos inclui todos os juízos que são verdadeiros
apenas por motivos lógicos. [...] de facto não é difícil encontrar passos na
literatura actual onde os filósofos procuram explicar a natureza da verdade
lógica usando a palavra ‘analítico’ embora a única definição moderna e
precisa da palavra pressuponha a lógica. (KNEALE, 1980, p. 363).

Frege ataca a distinção kantiana, a qual se importa mais com a


justificação das asserções do que com o conteúdo.25 Distintamente de Kant, ele não
considera trivial a verdade analítica.26 A priori/a posteriori, sintético/analítico se
referem não ao conteúdo do juízo, mas a justificação da emissão do juízo. As leis
que dão fundamento a verdade matemática são leis lógicas e de definições. Kant
subestimou os juízos analíticos. As leis aritméticas consistem em juízos analíticos e
a aplicação destas à natureza não são menos que elaborações lógicas. 27 Ainda
sobre noções atinentes à analise, para Frege, nem tudo é susceptível de definição,
como é o caso do que é simples que não pode ser decomposto e, portanto, não
pode ser definido.28 Em Frege uma verdade é analítica se é demonstrada só
recorrendo-se a princípios lógicos. Para ele, Kant adotou uma concepção restrita
demais com emprego apenas nos juízos universais aristotélicos.29 Frege objeta
também a concepção Lockeana do significado como imagens ou ideias
transmissíveis de uma cabeça para outra.30 Outros também criticaram as
proposições analíticas, na definição de Locke (um empirista idealista), alegando que
nada acrescentam ao conhecimento. Nada impede que convencionem numa língua
baleia, foca e salmão na mesma categoria. Se considerassem como analítico “baleia
é um peixe”, outras convenções não estariam de acordo com tal classificação.31
John Stuart Mill, tenta reduzir à aritmética a induções de fatos particulares
e mesmo as definições envolviam afirmações sobre factos físicos ou coleções de-
___________________________________________________________

25 LÓGICA GERAL/TRANSCENDENTAL. In: CAYGILL, Howard. Dicionário Kant. Trad. Álvaro Cabral.
RJ: Jorge Zahar, 2000, p. 219;
26 MIGUENS, Sofia. Filosofia da linguagem: uma introdução. Faculdade de Letras da Universidade de

Porto, 2007, p. 88;


27 FREGE, Charles S. Peirce, Gottlob. Os Pensadores. Trad. Luiz H. dos Santos. SP: Abril Cultural,

1983, pp. 204,265;


28 FREGE, Gottlob. Lógica e filosofia da linguagem. Trad. Paulo Alcoforado. SP: EDUSP, 2009, pp.

135, 220;
29 COOPER, David E. As filosofias do mundo. Trad. Dinah de A. Azevedo. SP: Edições Loyola, 2002,

p. 483;
30 AUROUX, Sylvain. A filosofia da linguagem. Trad. José H. Nunes. Campinas, SP: UNICAMP, 1998,

pp. 186, 189;


31 KNEALE, William Kneale e Marta. O Desenvolvimento da Lógica. Lisboa:Fundação Calouste

Goubekian,1980, p. 451.

14
compostas de mais de uma forma. Contra Mill, Frege assevera que não se pode
escrever 1000.000=999.999+1, a não ser que se observe um milhão de objetos a se
decompor com tal exatidão.32 Outro crítico da noção kantiana de analiticidade será
um dos que estiveram na raiz do movimento da filosofia da linguagem, a saber,
Bolzano:
[...] se uma proposição é ou universalmente válida ou universalmente
inválida ele diz que a proposição é analítica a respeito dos constituintes
sobre que se efectuou a substituição e sintética de outro modo. [...] ele acha
que não é possível separar claramente as noções lógicas das noções não-
lógicas. [...] Ele queria esgotar o domínio das proposições com as duas
palavras “analítico” e 'sintético” e reparou que de acordo com o sentido de
Kant as proposições auto-contraditórias não seriam nem analíticas nem
sintéticas. (KNEALE, 1980, pp.370,371)

Em Filosofias da Matemática, Silva esclarece que Edmund Husserl, segue


Bolzano, definindo analiticidade como: “[...] um enunciado é analítico se for
verdadeiro e permanecer verdadeiro por qualquer substituição dos nomes que
ocorrem nele por outros nomes quaisquer". (SILVA, 2007, p. 139). Analiticidade para
Bertrand Russell não se dá em termos de sujeito e predicado, nem se regula pela lei
de contradição. Para Kant “7+5=12” é sintética, em termos de sujeito e predicado.
Mas ao definir uma proposição como analítica pode-se derivá-la apenas da lógica,
logo “7+5=12” é uma analítica. Russell ainda dirá que toda a matemática não se
resume a tautologias e, contra os empiristas, afirmará que “2+2=4” pode ser
verificado em diversas instâncias.33
Alguns acusam os enunciados analíticos como simples tautologias.
Santos indica algumas distinções sobre esta questão. Quando não se buscar, no
processo de definição de conceitos, uma noção distinta da primeira, o resultado é a
mera tautologia.34 Todavia, nem tudo que é analiticamente verdadeiro pode ser
reduzido à tautologia com base no critério de que “nada novo está sendo dito”.
Quem colocaria essa pecha nos modelos silogísticos? "[...] Dizem que ele não nos
dá nada de novo, e assim por diante. Mas tudo isso sabia já Aristóteles, e todos os
que o seguem na filosofia. Não se pode negar que o silogismo é um juízo analítico,
___________________________________________________________

32 KNEALE, William Kneale e Marta. O Desenvolvimento da Lógica. Lisboa: Fundação Calouste


Goubekian,1980, p. 450,454,454;
33 RUSSELL, Bertrand. Ensaios escolhidos: seleção de textos de Hugh Mattem Lagey. Trad. Pablo

Rubén Mariconda. SP: Abril Cultural, 1985, p. 164;


34 SANTOS, Mário Ferreira dos. Filosofia Concreta. São Paulo - SP: Editora Filocalia, 2020, p. 400.

15
que é infalivelmente verdadeiro se obediente às regras que a lógica oferece [...]."
(SANTOS, 1959, p. 159). Por fim, ao discutir o reducionismo de certos autores, ainda
sobre proposições analiticamente verdadeiras e definições, ele explica o conceito de
necessidade intencional no contexto das aparentes tautologias:
[...] As definições são juízos determinativos de máxima determinação. Não
são, porém, tautológicas, como alguns afirmam, porque são juízos
analíticos, e consistem na precisão do que diz o conceito sujeito, sua
significação, que é dada por seu conteúdo noemático e, sobretudo, seu
conteúdo ontológico. (SANTOS, Vol. 1, 1962, pp. 114,115,155)

Saul Aaron Kripke estipula que o analiticamente verdadeiro será tanto


necessário, quanto a priori. Em desfavor de Kant, ele diz que é a investigação
científica que determina se ouro é um metal amarelo e isso tá longe de ser a priori
ou analítico.35 Willard van Orman, é um crítico radical da noção de enunciados
analíticos. Reale explica que ele põe em dúvida o registro lexográfico, se se
considerar o comportamento linguístico com fim de buscar o fundamento da própria
sinonímia. O que inclui definições explicativas sobre o definiendum e definiens com
base em sinonímias preexistentes. Definições explicitamente convencionais seriam o
caso da sinonímia que é criada por definição. Há também a circularidade no ato pelo
qual algo a ser definido parece mais repetir a sinonímia do que explicá-la.36 Para
Quine quanto à matemática e à lógica (abordagens a priori) nenhuma afirmação está
isenta de revisão.37 Em resposta a Quine, pode-se dizer que, apesar de
problemáticas, atualmente, as diferentes definições para analiticidade, disso não se
conclui que a noção em si de analiticidade seja, por assim dizer, ilegítima.38 Também
deve-se separa analiticidade de necessidade. O “Eu existo” cartesiano exprime uma
proposição verdadeira no momento mesmo em que é proferida, ainda que ninguém
exista necessariamente. “Eu estou aqui agora” é analítica por causa do significado e
é verdadeira em todos os contextos, porém não expressa uma proposição necessá-
___________________________________________________________

35 KRIPKE, Saul A. O nomear e a necessidade. Trad. Ricardo Santos. Lisboa: Gradiva, 2012, pp. 87,
190;
36 ANTISERI, G. Reale e D. História da filosofia, Vol. 7: de Freud à atualidade. Trad. Ivo Storniolo.

São Paulo: Paulus, 2006, p. 191;


37 O’BRIEN, Dan. Introdução à teoria do Conhecimento. Trad. Pedro Gaspar. Lisboa: Gradiva, 2013,

p. 251;
38 PONTES, André Nascimento. Em defesa da definição fregeana de analiticidade: Uma análise

crítica dos argumentos de Quine em Dois Dogmas, pp. 101,102,113, PB, 2014. Disponível em:
https://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/problemata/article/view/19366/11333. Acesso em: 12/03/2020;

16
ria.39 Há muita discussão sobre as condições de verdade para proposições
analíticas. Em nota, Haack, argumentará contra os críticos da relação entre verdade
e analiticidade:
[...] Os defensores da analiticidade poderiam replicar que, embora uma e a
mesma sentença possa, em certa época, exprimir uma verdade analítica, e
em outro tempo, uma verdade sintética, ou talvez uma falsidade, a
proposição originalmente expressa pela sentença permanece analítica,
embora a sentença deixe de expressá-la. (HAACK, 2002, pp. 231,232).

Tugendat, sobre o caráter necessário das proposições analíticas, imagina


circunstâncias nas quais o significado de “vermelho” teria sido alterado, quem sabe,
passando a ter o mesmo sentido, na atualidade, que a palavra “redondo”. Ou seja,
tanto o significado, quanto a identidade sofreram mudança. Ele responde que: “[...]
obtemos um outro enunciado igualmente analítico e, para sermos precisos, um
enunciado analiticamente falso, i. é: um enunciado impossível de ser verdadeiro".
(WOLF, 1996, p. 196). Outra questão séria, recentemente, levantada contra os
enunciados analíticos, particularmente, a definição de acordo com a qual o conceito
do sujeito estaria presente no predicado, é a situação hipotética, na qual alguém se
decida casar com um imigrante, sob pretexto de que ele não seja deportado. Um
imigrante a quem dantes não conhecia e que somente veio a vê-lo no dia da
cerimônia. Seria possível que tal pessoa, ciente do significado das palavras solteiro
e casado, chegue a sustentar que “nenhum solteiro é casado”?40 Aqui parece ser a
crítica mais desafiadora contra um enunciado analítico.
Chega-se ao fim de uma panorâmica quanto ao problema do significado e
definição. Percebeu-se que os mais diversos autores, escolas e vertentes, desde a
antiguidade convieram que, no que diz respeito ao papel da lógica na investigação
filosófica, particularmente, é a definição de importantes conceitos e do debate sobre
o que vem a ser significado. Tratou este capítulo da relevância perene das
definições e de algumas teorias do significado no labor filosófico. Tudo isso serviu de
pano de fundo para se discutir a natureza necessária de proposições analíticas por
parte de adeptos e críticos.
___________________________________________________________

39 O essencialismo desde Kripke, p. 17, Petrópolis, 2006. Disponível em:


https://gelogica.weebly.com/uploads/2/6/6/1/26617550/leclerc_o_essencialismo_desde_kripke.pdf.
Acesso em: 12/03/2020.
40 TEIXEIRA, Célia. Analiticidade, p. 20, Lisboa, 2015. Disponível em:
http://compendioemlinha.letras.ulisboa.pt/wp-
content/uploads/2015/07/teixeira_2015_analiticidade_artigo.pdf. Acesso em: 12/03/2020.

17
2. DA NATUREZA DA NECESSIDADE

Este capítulo se dedicará ao caráter modal das proposições, da inferência


válida, bem como da questão da necessidade na matemática e na lógica.
Igualmente se ocupará com do princípio da não contradição, e, em um instante
subsequente, a abordagem abrangerá a relação deste princípio com os enunciados
analíticos.
O método filosófico (ciência da dedução) é herança de ocidentais ou
orientais? Na obra Pré-Socráticos consta que é possível que certa originalidade na
área filosófico-científica tenha marcado a civilização grega, à proporção que
assimilava aspectos da arte e religião de tradições orientais. Quanto à passagem
entre a mentalidade mito-poética e a teorizante, os gregos do séc. IV, de posse de
uma compreensão integral, podem ser contrapostos às conquistas assistemáticas e
esparsas da ciência e dos saberes pragmáticos de orientais. Na perspectiva de Paul
Tannery, Tales introduziu na Grécia noções da matemática oriental, desenvolvidas,
aperfeiçoadas e justificadas por ele, ao laicizá-las.41
Depois de Platão, Aristóteles codifica o silogismo, assim como Euclides, a
geometria.42 Os axiomas de Euclides não podem ser considerados como um sistema
lógico formal, por assim dizer. Não há sistema de símbolos com linguagem
específica, a fim de operá-los segundo certas regras de derivação.43 As palavras
empregadas nos sistemas: “[...] dividem-se em duas classes: aquelas cujo significa-
do é fixo e imutável e aquelas cujo significado deve ser ajustado até que o sistema
seja coerente (estes são os termos não-definidos)." (HOFSTADTER, 2001, p. 109).
Definições se relacionam à inferência no contexto de sistemas, que se
constitui de axiomas e teoremas: “[...] As proposições admitidas sem demonstração
são ditas axiomas (hoje não se faz qualquer distinção entre postulado e axioma), e
as demais, demonstradas, teoremas" (EUCLIDES, 2009, pp. 82,83). Segundo
Jolivet, os axiomas de um sistema devem, para o processo de inferência, afastar
toda possibilidade de autocontradição, cabendo como resultado: “[...] deduzir o maior
___________________________________________________________

41 OS PRÉ-SOCRÁTICOS. fragmentos, doxografia e comentários. Trad. José Cavalcante de Souza


(et al.). SP: Abril Cultural, 1985, pp. VII, XVI;
42 HOFSTADTER, Douglas R. Gödel, Escher, Bach: Um entrelaçamento de Gênios Brilhantes. Trad.

José Viegas Filho. Brasília: Ed. Universidade de Brasília; SP: Impressa Oficial do Estado, 2001, p. 21;
43 SILVA, Jairo José da. Filosofias da matemática. São Paulo: Editora UNESP, 2007, p. 183.

18
número de consequências do menor número possível de axiomas iniciais"
(JOLIVET, 1969, p. 122). A prova indireta da validade se dá pela inserção de outra
premissa que negue a conclusão, o que só pode resulta numa contradição.44
Chauí observa a hipótese, segundo a qual, Aristóteles escreveu as
Categorias e parte dos Tópicos antes do estudo das normas do raciocínio exaradas
em Analíticos. As relações entre possível, impossível e necessário, os medievais
sistematizaram como o “quadrado dos opostos", pela qualidade e quantidade das
proposições com as vogais a, e, i, o. A matéria dos Analíticos Anteriores explica o
raciocínio, como operação do pensamento mediata, a saber, por inferência, pela
qual especificamente a obtenção de uma proposição ocorre a partir de outras. Nos
Analíticos Posteriores, na visão de Chauí, “aprofunda-se a diferença com relação a
Platão”, pois excluirá a dialética como o método do conhecimento científico. Os
silogismos dialéticos tratam de proposições prováveis, possíveis, contingentes,
verossímeis. Os Analíticos Posteriores dão destaque a definições e perguntas
científicas (o quê? por quê? se? o que é?) que dizem respeito ao termo médio
silogístico com vistas à demonstração.45
Desde a antiguidade à modernidade, quanto à definições na matemática,
talvez o grande contributo de Leibniz tenha sido uma matemática das matemáticas,
uma matemática superior ou meta-matemática. Seja com respeito ao vocabulário,
seja com respeito à sintaxe, Leibniz buscou criar e definir terminologias precisa,
usando de generalizações e correspondências simbólico-funcionais entre as coisas e
os signos.46 Depois, declarará Kant, os juízos matemáticos da aritmética e da
geometria pura não são analíticos.47 Tal concepção marcará posteriormente, a tese
logicista que verá identificação entre verdades matemáticas e lógicas.48
Frege encabeçará o movimento logicista. Para ele, as leis dos números
são analíticas, posto que redutíveis à lógica (em sentido amplo). Nunca, até então,
colocou-se em questão a possibilidade de se derivar a matemática da lógica tradicio-
___________________________________________________________

44 BISPO, Carlos Alberto F. Introdução à lógica matemática. SP: Cengage Learning, 2012, p. 49;
45 CHAUÍ, Marilena. Introdução à história da filosofia: dos pré-socráticos a Aristóteles, vol. I. São
Paulo: Companhia das Letras, 2002, pp. 358, 366, 367, 375,376,377;
46 CHÂNTELET, François. A filosofia: De Galileu a J. J. Rousseau, v. 2. Lisboa: Publicações Dom

Quixote, 1981, pp. 167, 168, 168;


47 KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. Trad. Valério Rohden e Udo Baldur Moosburger. SP: Abril

Cultural, 1983, pp. 28, 29;


48 FERREIRA, Fernando. Logicismo, p. 1, Lisboa, 2014. Disponível em:
http://compendioemlinha.letras.ulisboa.pt/wp-content/uploads/2015/01/fernando_ferreira-
logicismo.pdf. Acesso em: 12/03/2020.
19
nal ou aristotélica. Além de Frege, Whitehead e Russell estão entre aqueles que
sustentaram, ambiciosamente, que toda a matemática é que se prestaria a uma
redução à lógica.49 Frege criou o que se chamou de lógica de predicados, a qual não
é divorciada da lógica proposicional, antes, é uma extensão dela, mais o vocabulário
adicional de nomes próprios, predicados e quantificadores. 50
Haack aduz acerca do valor de verdade de proposição que pode ser
verdadeira mesmo que ninguém acredite nela, ou falsa mesmo que todos acreditem
nela.51 Ainda sobre verdade ou inferência necessária, é irracional crer nas premissas
de um argumento válido e não acreditar na conclusão. A lógica seria como um
instrumento que avalia o elemento de racionalidade da crença, sem, todavia,
fomentar com isso expectativas excessivamente altas. Nem tudo na matemática é
intuitivamente válido.52 Um conceito semântico, como unidade da linguagem é
verdadeiro ou é falso, pelo menos, a princípio.53
Passa-se agora a tratar da tradição modal. As proposições admitem as
consequências ou implicações desde Aristóteles. Por exemplo: É possível (é
contingente, não é impossível, não é necessário); é contingente (é possível); é
possível de não ser/é contingente que não seja (não é necessário que não seja, não
é impossível que não seja); não é possível/não é contingente (é necessário que não
seja, é impossível que seja); não é possível de não ser/não é contingente que não
seja (é necessário que seja, é impossível que não seja).54
Desde o medievo à abordagens mais hodiernas, abaixo, são esclarecidos
aspectos da tradição referente ao possível e ao contingente:

[...] Boécio, que verteu a terminologias para a filosófica latina, possível e


contingente significam a mesma coisa. Atribuiu o negativo de contingente
(incontingente, como há o impossibile). Por causa da filosofia árabe
(Avicena), “[...] embora sendo possível ‘em si’, isto é, em seu conceito, pode
ser necessário em relação a outra coisa [...]”, não sofrendo atualização ao
longo de toda escolástica. Spinoza esclui a contingência da realidade. Uma
___________________________________________________________

49 BARKER, Stephen F. Filosofia da matemática. Trad. Leônidas Hegenberg e Octanny Silveira da


Mota. Rio de Janeiro: Zahar Editores. 2ª Edição, pp 106,107,108;
50 MILLER, Alexandre. Filosofia da linguagem (coleção filosofia). Evandro Luis Gomes, Christian

Marcel de Amorim e Perret Gentil Dit Maillard. SP: Paulus, 2010, p. 17;
51 HAACK, Susan Filosofia das lógicas. Trad. Cezar Augusto Mortari, Luiz Henrique de Araújo Dutra.

São Paulo: UNESP, 2002, p. 310;


52 NEWTON-SMITH, W. H. Lógica: Um curso introdutório. Trad. Desidério Murcho. Lisboa: Gradiva,

1998, pp. 18,24,25;


53 WALTON, Douglas N. Lógica informal. Trad. Ana Lúcia R. Franco e Carlos A. L. Salum. SP: Martins

Fontes, 2012, pp. 160, 165;


54 ARISTÓTELES. Órganon: Categorias, Da interpretação, Analíticos anteriores, Analíticos

posteriores, Tópicos, Refutações sofísticas. Trad. Edson Bine. Bauru, SP: Edipro, 2005, p. 103.
20
verdade contingente se aplica a eventos contingentes segundo Ockham. C.
I. Lewis [...]. fala das leis da natureza como contingentes, como sinônimo
para "nâo-determinado", equiparando-se à liberdade. Bergson (e Sartre)
contingência tem que ver com indeterminísmo. (ABBAGNANO, 2007, pp.
233,234).

Quanto à natureza da necessidade, a verdade necessária é verdadeira


em todos os mundos possíveis e a contingente, só o é no mundo real. Concebeu-se
a lógica modal, a princípio para representar necessidade e possibilidade lógicas.55
Leibniz, como teísta, proporá a teoria dos mundos possíveis que Deus poderia ter
criado. O racionalismo tem em comum, com a Patrística e Escolástica, a noção de
verdade eterna ou verdade necessária no que tange à lógica e à matemática. 56
Tipos de necessidades, no séc. XVIII, foram distinguidos por Leibniz. E
Wolff reelabora essa distinção para falar daquilo que seria absolutamente
necessário, hipoteticamente necessário e moralmente necessário. Kant reproduz
Wolff, no geral. Wittgenstein será da opinião que só há uma necessidade (ou
impossibilidade), a lógica. Seguindo Leibniz, Peirce avalia o logicamente necessário
como o que é verdadeiro apenas a depender de regras do raciocínio e das palavras
contidas no mesmo.57 Ainda, segundo Kant, é necessário e universal aquilo que o
sujeito põe nos objetos que conhece. Para Frege as modalidades não compõem o
conteúdo de um juízo, dizendo respeito apenas às razões do assentimento do
sujeito.58
No empirismo lógico, o convencionalismo identifica a necessidade com
analiticidade. Para Quine, sinonímia, analiticidade e necessidade se equivalem e são
noções obscuras.59 ele diz que se a necessidade não se aplicasse à lógica e a
matemática poderia ocasionar uma revisão tal que “[...] perturbaria enormemente
esse sistema, cujas características fundamentais tendemos a conservar na medida
do possível” (ABAGNANO, 2007, p. 822). Ainda sobre esta perspectiva, outros
autores avaliam as implicações de uma linguagem caótica:
___________________________________________________________

55 HAACK, Susan. Filosofia das lógicas. Trad. Cezar A. Mortari, Luiz Henrique de Araújo Dutra. São
Paulo: UNESP, 2002, pp. 229,230,231;
56 MOTLOCH, Martin. Necessidade, pp. 2,3, Lisboa, 2016. Disponível em:
http://compendioemlinha.letras.ulisboa.pt/wp-
content/uploads/2016/06/motloch_2016_necessidade_artigo.pdf. Acesso em: 12/03/2020;
57,59 NECESSIDADE. In: ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Trad. Alfredo Bosi. São Paulo:

Martins Fontes, 2007, pp. 819, 820,821,822;


58 Necessidade, p. 4. Disponível em: http://compendioemlinha.letras.ulisboa.pt/wp-
content/uploads/2016/06/motloch_2016_necessidade_artigo.pdf. Acesso em: 12/03/2020.

21
Seria impossível dizer verdadeiramente que o universo é um caos, uma vez
que se o universo fosse genuinamente caótico não existiria uma linguagem
para dizer isso. A linguagem depende de coisas e qualidades que possuem
suficiente persistência no tempo para serem identificadas por palavras e
essa mesma persistência é uma forma de uniformidade. (EVANS, 1995, p.
181)

De acordo com Carnap, uma proposição é necessária se e somente se


sua verdade se baseia em razões, não incorrendo em contradião e é verdadeira em
todos os mundos possíveis. A definição mais exigente é a que reduz a necessidade
à analiticidade.60 Tugendhat é da opinião de que só a necessidade analítica deveria
ter a precedência sobre as demais:
Só encontramos, portanto, um significado de ‘necessário’ em que o critério
intuitivo de que as coisas não poderiam ocorrer de outro modo pode ser
resgatado de uma maneira fundamentada, a saber: a necessidade no
sentido analítico. (WOLF, 1996, p. 202).

A necessidade lógica pode ser identificada com regras lingüísticas. Aqui


tem lugar a definição kantiana das verdades da matemática como necessárias (7 + 5
= 12) e as condições de substituição recíproca formuladas pelo Círculo de Viena. E
Carnap ainda advoga que necessidade é uma propriedade que proposições podem
possuir antes de convenções lingüísticas, ao invés de se reduzir a elas. 61 A
semântica kripkeana dos mundos discute a necessidade como conceito modal,
distinguindo, a necessidade metafísica do a priori, o qual é relativo à
epistemologia.62 Plantinga assegura algumas proposições como necessárias:
Ninguém é mais alto que si mesmo; vermelho é uma cor; nenhum primeiro ministro é
um número primo. Esclarece também que 97+342+781=1.220 é uma soma
necessária, mas não autoevidente para a maior parte das pessoas. A noção de
verdade necessária não coincide com critérios como o da auto-evidência, não
revisibilidade ou conhecimento a priori.112
E quanto à impossibilidade como modalidade, pode-se falar de pelo
menos três, conforme certos autores. A impossibilidade lógica envolve contradição
de termos. A impossibilidade física, contradição de lei natural (viajar para Marte mais
rápido do que a velocidade da luz). E aquela que seria “praticamente” impossível,
___________________________________________________________

60,61NECESSIDADE. In: ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Trad. Alfredo Bosi. São Paulo:
Martins Fontes, 2007, p. 822;
62 LECLERC, André. O essencialismo desde Kripke, p. 30, Petrópolis, 2006. Disponível em:

https://gelogica.weebly.com/uploads/2/6/6/1/26617550/leclerc_o_essencialismo_desde_kripke.pdf.
Acesso em: 12/03/2020;
63 PLANTINGA, Alvin. The Nature of Necessity. Clarendon Press: Oxford 1974, pp. 2,5,8,9.

22
diz respeito ao que tá além dos recursos (tecnológica ou financeiramente) no
momento atual ou num futuro próximo.64
Por fim, a exposição terá como fulcro a apreciação por parte de Santos
sobre a necessidade:
Sabemos que o juízo é susceptível de determinações modais em número de
seis, como sejam: de maneira necessária, de maneira impossível, de
maneira possível, de maneira contingente e segundo a verdade e a
falsidade. Distinguido os modos lógicos e os semânticos dos modos
ontológicos, vemos, então, que os primeiros se referem às maneiras
conceptuais da modalidade lógica ou semântica, enquanto os últimos, que
nos interessam, referem-se q uma entidade que passaremos a precisar: o
modo de ser. (SANTOS, 5ª Edição, p. 131).

O necessário, ele conceitua como, etimologicamente, aquilo que não é


cedível, ou o que não se pode ceder.65 Ele também destaca que há modos de
verdade. A necessidade estaria para uma proposição universal afirmativa, como a
impossibilidade, para uma proposição universal negativa.66 Santos ainda relacionará
a necessidade ao silogismo que, como ciência demonstrativa, tem caráter
necessário, a saber, algo que não pode ser de outro modo. Um silogismo deve ser
composto de premissas necessárias. E, a fim de que a demonstração tenha
consequências necessárias, demanda-se que isso se dê por um termo médio
necessário. De outra maneira, ignora-se o motivo da conclusão como necessária.67
Já a possibilidade diz respeito à proposições particulares, quer afirmativas, quer
negativas.117 Ainda sobre proposições possíveis, se a predicação em ato, não
convém ao sujeito ou, se convém, poderia perfeitamente não convir (ex.: algum
homem é médico).118 Ele distingue possibilidade de contingência, como o caso no
qual algo que não tem apenas uma possibilidade, porém que se atualizaria de
muitas maneiras, sucedendo desta forma ou de outra.119
Após falar-se de definição ou analiticidade na matemática e lógica, de
inferência válida (verdade) e necessidade (modo de verdade), resta tratar do papel
da não contradição na inferência na necessidade analítica nas páginas finais deste
capítulo.
___________________________________________________________

64 FOSL, Julian Baggini, Peter S. As ferramentas dos filósofos. Trad. Luciana Pudenzi. São Paulo:
Edições Loyola, 2012, pp. 252,253;
65 SANTOS, Mário Ferreira dos. Métodos Lógicos e Dialéticos, Vol. 2. São Paulo: Editora Logos

LTDA, 3ª edição, p. 49;


66,68 Id. Métodos Lógicos e Dialéticos, Vol. 1. São Paulo: Editora Logos LTDA, 1962, p. 222;
69 Id. Grandezas e Misérias da Logística. São Paulo: Matese, 1966, p. 45;
70 Id. Métodos Lógicos e Dialéticos, Vol. 3. São Paulo: Editora Logos LTDA, 1962, 14;
71 Id. Filosofia e Cosmovisão. SP: Logos, 1965, p. 211.

23
Uma das transformações que caracterizou o alvorecer da filosofia foi o
princípio da não contradição, ou simplesmente, princípio da contradição:

[...] um pensamento abstrato, despojando a realidade dessa força de


mudança que lhe conferia o mito, e recusando a antiga imagem da união
dos opostos em benefício de uma formulação categórica do princípio de
identidade. [...] há, segundo Parmênides, uma razão imanente ao discurso,
um logos, que consiste em uma exigência absoluta de não-contradição: o
ser é, o não-ser não é. Sob esta forma categórica, o novo princípio, que
preside ao pensamento racional, consagra a ruptura com a antiga lógica do
mito. Mas, ao mesmo tempo, o pensamento acha-se separado, como por
um golpe de machado, da realidade física: a Razão não pode ter outro
objeto que não seja o Ser, imutável e idêntico. Depois de Parmênides, a
tarefa da filosofia grega consistirá em restabelecer, por uma definição mais
rigorosa e mais sutil do princípio de contradição, o elo entre o universo
racional do discurso e o mundo sensível da natureza. [...]. Elaborou (a razão
grega), é certo, uma matemática, primeira formalização da experiência
sensível, mas, precisamente, não procurou utilizá-la na exploração do real
físico. Entre a matemática e a física, o cálculo e a experiência, faltou a
conexão; a matemática ficou solidária da lógica. Para o pensamento grego,
a natureza representa o domínio do pouco mais ou menos, ao qual não se
aplicam nem medida exata nem raciocínio rigoroso. Não se descobre a
razão na natureza: ela está imanente na linguagem. (VERNANT, 1990, pp.
453, 472, 473).

Aristóteles chama de opostos contraditórios os atos respectivos de afirmar


e negar, tomados universalmente em referência ao mesmo objeto. 72 Santos faz
ainda uma sutil distinção entre um uso ontológico e lógico deste princípio. No
primeiro, um enunciado é impossível de ser e não ser ao mesmo tempo. Quanto à
segunda acepção, é impossível que se afirme e negue algo sob no mesmo sentido. 73
Ele ainda observa sobre o princípio da identidade:
[...] O princípio de identidade decorre da impossibilidade da proposição que
reduz o ser ao não-ser, pois se um ser consistisse apenas em não-ser ele
mesmo, todo ser consistiria em não ser, o que ofenderia o princípio de não-
contradição; ou seja, a impossibilidade simultânea da afirmação da
presença e da recusa da própria presença, ou da posse e da privação,
ambas afirmadas sobre a mesma coisa e sob o mesmo aspecto. O princípio
de identidade é, psicologicamente, simultâneo ao de não-contradição. E
dizemos contradição, aqui, no sentido claro que os antigos lógicos
empregavam: há contradição quando se afirma simultaneamente, e do
mesmo aspecto da mesma coisa, a presença (posse) de algo e a sua
ausência (privação), o que é absurdo. A identidade é afirmada pela
impossibilidade da contradição. (SANTOS, 1962, p. 113)

O princípio da não contradição envolve negação. É precisamente em


Metafísica Livro IV que Aristóteles define a teoria correspondencial da verdade: “Ne-
___________________________________________________________

72 ARISTÓTELES. Órganon: Categorias, Da interpretação, Analíticos anteriores, Analíticos


posteriores, Tópicos, Refutações sofísticas. Trad. Edson Bine. Bauru, SP: Edipro, 2005, p. 87;
73 SANTOS, Mário Ferreira dos. Filosofia Concreta. São Paulo - SP: Editora Filocalia, 2020, p. 257.

24
gar aquilo que é, e afirmar aquilo que não é, é falso, enquanto afirmar o que é, e
negar o que não é, é verdadeiro. No Livro VI, lemos: o verdadeiro e o falso não
estão nas coisas, mas no pensamento” (CHAUÍ, 2002, p. 380). O valor lógico de
uma proposição composta é sempre falso e não depende do valor lógico das
proposições simples.74 Para Santos, a negação sinaliza uma recusa de algo positivo
que, por seu turno, foi afirmado. Se ocorre uma negação, ocorre, com efeito, a
afirmação de algo que foi recusado e disso se segue que negação implica
afirmação. Do contrário negar nada, é nada negar.75 Para Tugendhat o princípio da
não contradição, como transcendental, é a condição de possibilidade para se falar
significativamente. O princípio da contradição se funda especialmente no significado
de "não" e "é", e no significado da forma do predicado. Uma frase em si só é
negativa em referência à outra. O "não" faz parte do conteúdo proposicional e como
os enunciados negativos representam a asserção de um oposto, o “não”, o oposto
de uma asserção.76 Santos explica que entre proposições contraditórias não pode
existir um termo. Pois, formalmente, havendo um, tem-se o caso de contraditórios
não perfeitos, uma vez que não se estar a afirmar a conformidade de algo a partir do
aspecto mesmo que o recusa. É necessário ter em mente as implicações modais. A
exclusão ou excludência pode ser total, como nos contraditórios e os correlativos
aqui da oposição, seriam o ente e o não ente. Pode ser parcial, o que pressupõe
privação, de maneira que a excludência se revela em graus. No caso dos contrários,
a excludência se deverá a razão dos mesmos se repelirem mutuamente.77 Assim,
Tugendhat distingue: “[...] Podemos portanto dizer que a necessidade presente nos
enunciados analíticos se funda em última instância no princípio da contradição.”
(WOLF, 1996, pp. 51,59,196).
Segundo Mill as definições são sempre nominais e não reais. Toda
proposição é aprendidas por indução, até o princípio da contradição, não seria a
priori do pensamento, mas empírico, como generalizações a partir da experiência.78
___________________________________________________________

74 BISPO, Carlos Alberto Ferreira. Introdução à lógica matemática. SP: Cengage Learning, 2012, p.
25;
75,77 SANTOS, Mário Ferreira dos. A Sabedoria do Ser e do Nada. São Paulo: Editora Matese, 1ª

Edição, Vol. 1, pp.197, 32, 89,90;


76 WOLF, Ernst Tugendhat e Ursula. Propedêutica lógico-semântica. Trad. Fernando Augusto da

Rocha Rodrigues. Petrópolis, RJ: Vozes, 1996, pp. 47,53,166,167;


78 KNEALE, William Kneale e Marta. O Desenvolvimento da Lógica. Lisboa:Fundação Calouste

Goubekian,1980, pp. 379,380,383.

25
Edmund Husserl reage tanto ao psicologismo quanto à tentativa empirista
de reduzir:
[...] na mesma consciência, atos de crença contraditórios não podem
perdurar, por menor que seja o período de tempo. Mas é isto efetivamente
uma lei? Podemos, efetivamente, formulá-la com generalidade ilimitada?
Onde estão as induções psicológicas que autorizam a sua admissão? Não
pode ter havido, e haver ainda homens que ocasionalmente, e.g.,
confundidos por sofismas, tomaram por verdadeiros simultaneamente juízos
opostos? Fizeram-se pesquisas científicas sobre se isto não acontece entre
os loucos e, talvez até mesmo para o caso de contradições manifestas? Se
se relativizam verdades lógicas posto que fundamentais, relativizar-se-á a
verdade em geral. (HUSSERL, 2014, p. 62, 111).

A não contradição, para muitos, não é considerado um princípio “pouco


informativo”, pois é a base da lógica. E a mera tentativa de objetá-la é em si
autocontradição e já pressupõe o princípio da não contradição. 79 Santos corrobora
com isso: "Mas a mente humana se contradiz, alegam. Mas, se se contradiz
algumas vezes, é porque nem sempre se contradiz. Pois, como poderia ser possível
notar que se contradiz se não houvesse o inverso da contradicção?" (SANTOS,
1959, p. 47).
Este capítulo abordou a questão das definições e afirmações validamente
inferidas em operações matemática e lógicas. Tratou também do princípio da não
contradição da perspectiva da necessidade e da analiticidade, bem como da
argumentação em favor da qual enunciados analíticos se fundam no princípio da não
contradição. Ainda voltou-se a destacar a inevitabilidade da lei da não contradição
sob pena de impasses no próprio discurso. A seguir, o princípio da não contradição
será retomado na investigação da tese.

___________________________________________________________

79FOSL, Julian Baggini, Peter S. As ferramentas dos filósofos. Trad. Luciana Pudenzi. São Paulo:
Edições Loyola, 2012, p. 55.

26
3. ESTUDO DE CASO: DO ESCRUTÍNIO DA TESE

O presente capítulo fará o exame da sétima tese, considerando sobretudo


o conceito filosófico do “nada absoluto”, a sentença “alguma coisa há” e a
contraditória da tese (o nada absoluto “não” é a contradição de “alguma coisa há”) à
luz da necessidade analítica.
Em um segundo momento, a análise prosseguirá se apoiando
principalmente nos critérios de Tugendhat, já indicados nesta pesquisa (pp. 22, 25),
quanto aos enunciados analíticos como baseados em última instância no princípio
da não contradição e a opinião de que a necessidade analítica é a mais intuitiva, se
contrastada com a necessidade nas modalidades epistêmica e metafísica. E por fim,
a investigação da tese como proposição analítica também se guiará pela noção de
analiticidade kantiana (p. 13), de acordo com a qual o conceito do sujeito estaria
contido no predicado.
Historicamente, o debate, não acerca do problema do nada, mas do ser,
está ligado à era pré-socrática. Parmênides deriva das cosmogonias um arcabouço
lógico, a noção de unidade fundamental.80 Parmênides polemiza tanto contra o
dualismo pitagórico (ser e não-ser, cheio e vazio) como contra o imobilismo
Heraclitiano.81 Santos também relacionará Pamênides ao princípio da identidade:
Cabe a Parmênides o haver estruturado, desta forma, o princípio
fundamental do pensamento lógico, que, posteriormente, iria chamar-se
“princípio de identidade”. Foi, graças à contribuição de Parmênides, que se
formulou ao ser uma série de atributos que decorrem logicamente do
conceito de identidade. (SANTOS, 1965, p. 130).

Acerca do verbete “nada”, no dicionário de filosofia de Abbagnano,


constam dois usos que se alternaram respectivivamente nas tradições parmenídica e
platônica, a saber, o “nada” como não-ser e “nada” como alteridade (ou negação).
De acordo com a primeira, o nada não pode ser objeto de conhecimento, nem de
expressão. Platão, no contexto da controvérsia do devir, chegou a conferir uma
espécie de ser ao não-ser, definindo-o como alteridade. Górgias seguirá Parmênides
e, posteriormente, os proponentes da teologia negativa ou apofática. O
neoplatônicos se manterão dentro da segunda tradição. Na modernidade, Hegel re-
___________________________________________________________

80 OS PRÉ-SOCRÁTICOS. Os Pensadores: fragmentos, doxografia e comentários. Trad. José


Cavalcante de Souza (et al.). SP: Abril Cultural, 1985, p. 137;
81 OS PRÉ-SOCRÁTICOS. fragmentos, doxografia e comentários. Trad. José Cavalcante de Souza

(et al.). SP: Abril Cultural, 1985, p. 137.


27
toma as tentativas de conciliação entre o ser e devir. Contemporaneamente,
Heidegger conceberá que é o nada o fundamento ou origem da negação e não o
inverso. O nada absoluto, kantianamente falando, é a negação de todo e qualquer
objeto.82 Bergson chega a classificar o nada absoluto como uma:
[...] “pseudo-idéia”, tão absurda quanto a de um círculo quadrado [...]. [...]
mas a análise de Bergson continua substancialmente correta, tanto em sua
tese positiva quanto na negativa. Ademais, está em conformidade com o
conceito dos lógicos contemporâneos sobre a negação; p. ex., com o que
Carnap expôs numa crítica ao conceito do nada de Heidegger, que se
tornou famosa: para ele, nesse conceito estão resumidos todos os vícios da
metafísica. Carnap afirmou então que a única noção de nada, logicamente
correta, é a negação de uma possibilidade determinada. (ABBAGNANO,
2007, p. 812)

Um pensamento ocorre a Santos no decurso de uma preleção, o qual


serviria de ponto arquimédico para as teses da FC: "alguma coisa há". E “algo” aqui
é tomado no sentido neutro.83 Seguem a tese e o comentário:
TESE 7 - O nada absoluto é a contradição de “alguma coisa há”. Há
contradição quando se afirmam a presença e, simultaneamente, a ausência
do mesmo aspecto no mesmo objeto. Dizer-se que alguma coisa há é
contradizer o nada absoluto, porque se há alguma coisa, o nada absoluto
está excluído. Dizer-se: Há o nada absoluto ― é dizer que não há nenhuma
coisa; isto é, contradizer-se que alguma coisa há. (SANTOS, 2020, p. 30).

De certa maneira, as palavras de Santos encontram ressonância com as


de Leibniz: “[...] no escrito Princípios racionais da natureza e da graça, ao qual nos
referiremos. ‘Por que existe algo ao invés do nada?’”(ANTISERI, Vol. 4, 2005, p. 54).
Se a pergunta leibziana eventualmente se invertesse para dar lugar ao nada, numa
acepção absoluta, o “por que”, no entendimento de Santos, não teria procedência, já
que o nada não tem razão de ser.84
Definições de conceito fazem parte do labor da filosofia analítica. A guisa
de definição é oportuno destacar uma nota do Professor Luís Mauro Sá Martino,
constantes no aparato crítico da FC sobre o conceito que Santos emprega e com
base no qual faz contraposição ao nada e a eventual aproximação entre o autor e
Parmênides:
À primeira vista, parece faltar aqui uma referência a Parmênides. É possível
imaginar, de um lado, que Mário tenha descartado uma nota por acidente.
Por outro lado, a proposição de que o que há é ser difere da proposição do
filósofo grego de que 'o Ser é, o não-ser não é'. Mário inverte a proposição
explicando que, se 'alguma coisa há', esse Haver é o Ser, e portanto não é
___________________________________________________________

82 NADA. In: ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Trad. Alfredo Bosi. São Paulo: Martins
Fontes, 2007, pp. 810, 811,812;
83,84 SANTOS, Mário Ferreira dos. Filosofia Concreta. São Paulo - SP: Editora Filocalia, 2020, pp. 26,

498.
28
necessariamente o Ser que se encontra como elemento originário, mas a
presença de algo que a partir daí, configura-se como Ser. (SANTOS, 2020,
p. 31).

Contudo, esse haver, ser, existir é irredutível, pois, do contrário, se fosse


possível o nada se intercalar, ocasionaria uma absoluta descontinuidade, nada mais
havendo, sendo, existindo. O haver não pode se dissociar do ser e um pressupõe o
outro. Alguma coisa sem haver ou ser, nada representaria. 85 E o ser do ponto de
vista lógico? Enquanto a noção de ser, se logicamente ponderada, é de máxima
indeterminação, a qual tudo o mais se reduz. A abordagem ontológica (ou real) é da
máxima determinação. Não há aqui contradição, salvo se tome na mesma esfera os
conceitos.86
Qual seria a única objeção cabível? Em face da proposição segundo a
qual se assere que alguma coisa há, o equívoco residiria em nenhuma coisa haver,
o que é repelido pelo ato mesmo do pensar cético, porque o nada excluiria a
possibilidade seque de dúvida a respeito. A contraditória da tese, a qual seria, o
nada absoluto “não” é a contradição de que alguma coisa há, não parece se
sustentar.87
Analítico, ou método analítico, segundo Santos: [...] consiste em buscar o
termo médio, procedendo do sujeito, ou seja pela análise do sujeito, no exame das
partes que o compõem. Examinando o sujeito, pergunta-se se o predicado lhe
convém, se não há repugnância." (SANTOS, Vol. 1, 1962, p. 251). O necessário, ele
conceitua como, etimologicamente, aquilo que não é cedível, ou o que não se pode
ceder.88 Ele também destaca que há modos de verdade. A necessidade estaria para
uma proposição universal afirmativa, como a impossibilidade, para uma proposição
universal negativa.89 Analítico, também é o que se entende por uma definição em
termos clássicos, uma vez que o sujeito contém o predicado. Assim, a definição é
seria equivalente a um juízo analítico.90 Há indícios patentes da apropriação por
parte de Santos da noção de verdade analítica kantiana como na citação abaixo:
Alguma coisa há é uma proposição analítica imediata (per se notum), quan
do ontologicamente considerada, pois alguma coisa implica, pelo menos, o
haver de alguma coisa, já que a [...] (a correlação) entre o sujeito e o predi-
___________________________________________________________

85,87Ibid., pp. 45,46,27;


86 Id. A Sabedoria do Ser e do Nada. São Paulo: Editora Matese, 1ª Edição, Vol. 1, p. 41;
88 Id. Convite à Filosofia e à História da Filosofia. São Paulo: Editora Logos LTDA, 5ª edição, p. 90;
89 SANTOS, Mário Ferreira dos. Métodos Lógicos e Dialéticos, Vol. 2. São Paulo: Editora Logos Ltda,

3ª edição, p. 49;
90 Id. Métodos Lógicos e Dialéticos, Vol. 1. São Paulo: Editora Logos Ltda, 1962, p. 222.

29
cado, é captada pela análise. [...] A verdade lógica dessa proposição
decorre do facto de pertencer o predicado à razão do sujeito, mas é também
ontológica por ser necessária. [...] é a priori, porque dispensa até a própria
experiência kantiana, porque dispensa a nós mesmos, a nossa experiência,
pois poderíamos não ser, sem que alguma coisa há deixasse de ser
verdadeiro apoditicamente. (SANTOS, 2020, p. 177.

Ou seja, analiticamente falando, o valor de verdade da tese é acessado,


recorrendo-se apenas aos significados (suj.: “nada absoluto” exclui o pred.: “alguma
coisa há”) e do caráter necessário do princípio da não contradição.
O referente aí é o ser na sua concretude espacio-temporal, ao qual é
impossível predicar o nada absoluto. “alguma” no latim é aliquid, compondo-se de
aliud (outros) e quid, significando outro que pode ser distinguido e não confundido,
que se revela como algo (a exemplo da expressão fidalgo, ou filho de algo, que não
é de qualquer), algo que se impõe por si e, portanto, sendo incompatível com
nada.100
Outro aspecto analítico da tese é a equiparação entre ser e afirmativo, os
quais se contrastam com o nada e o negativo. Pode-se postular que a afirmação
seria princípio de per si da afirmação e só, por acidente, da negação. A presença ou
posse pode privar (afastar) alguma coisa de algo, acidentalmente. No caso da
afirmação, afirma-se que uma coisa é adequada à outra e na negação, nega-se tal
adequação. E esse juízo será falso se, em última instância, essa adequação se
revelar realmente o contrário. O ser tem analogia com afirmação, presença, posse,
positividade.101
A negação é relativa, tendo como referência algo que foi afirmado, a fim
de excluir o ser ou algo, quer atual, quer possível. Negar a negação é idêntico a
afirmar a afirmação. Recusa-se que A seja B, ou que em B nenhum A está presente.
Se B não é ser (nem modo de ser), nada está sendo recusado a algo, nada é
predicado.102
Ao nada absoluto que é nihilum total, é nihilitude absoluta, não se
empresta positividade, pois é ausência de qualquer conteúdo positivo. O nada
enquanto tal é não unidade. Se o nada fosse apto a formar unidade, o que implicaria
ser necessariamente. O nada não estancia o que quer que seja, pois é sem
estrutura intrínseca. Nenhum valor pode ser conferido ao nada o que não é o caso
___________________________________________________________

100,102 Id. Filosofia Concreta. São Paulo - SP: Editora Filocalia, 2020, pp. 28, 90;
101 Id. A Sabedoria do Ser e do Nada. São Paulo: Editora Matese, 1ª Edição, Vol. 1, pp. 31,35.

30
do ser. Desvalor é carência de algo e nada de carência não implica desvalor. Um
desvalor só pode ter como referência algo positivo, a saber, a ausência de certo
valor em algo.103 Um desvalor absoluto, infinito, seria o mesmo que nada absoluto
que é ontologicamente impossível.104 No que diz respeito ao nada absoluto, Santos
define:
Não podemos emprestar-lhe efectibilidade, é a inefectibilidade, não só per
se, como, também; per accidens, porque também não podemos permitir que
o nada absoluto, pelo menos per accidens, pudesse efectivar qualquer
coisa. É uma inefectibilidade total, é uma ausência total, uma indigência
total de ser, é nenhuma coisa, não tem nenhum sentido reico, é
imparticipante, não participa de nenhum ser, não é participável por nenhum
ser. Consequentemente, é imparticipado. É de uma insubstancialidade total,
é algo que não é nem produzido nem improduzido, porque não há. É
totalmente nada, sem qualquer função, nem mesmo a de destruidor, porque
não tem nenhuma efectibilidade. Não tem limites, não tem contornos, não
tem perfis; é a negação pura. Não tem medidas, é imensurável, não é o fim,
nem o princípio, porque não há. Não tem nenhuma intensidade de ser, é a
antiteticidade total, é a eminência negativa, a impotencialidade, é a
aniquilação total. (SANTOS, Vol.1, 1ª Edição, pp. 55,56).

Quando se têm pensamentos, cujo objeto é o nada absoluto, nada se


atualiza, nem se realiza, tão pouco a ideia em si do nada. O que se pode construir
cognitivamente é pela excludência total do que se conhece como positivo. Sem a
recusa, ou melhor, sem a oposição a toda positividade, o nada seria inconcebível.
Entre o nada qualificado como relativo e o ser, não há contradição, pois ao afirmá-lo,
recusa-se a presença de algo determinado e positivo. O nada relativo sinaliza a
ausência de uma positividade, mas a recusa de determinado aspecto implica
positividade em outro.105 Ainda sobre esse nada relativo ou parcial que se revela
como dependente de algo positivo, Santos acrescenta que a noção de nada relativo
favorece a elucidação de outras aporias históricas do debate filosófico:
[...] essa positividade muito nos auxiliará a compreender diversos aspectos
da filosofia, sobretudo a heterogeneidade, e a solução do problema dialético
entre o Um e o Múltiplo, O ser finito é um composto de ser e de não-ser (de
nada relativo). (SANTOS, Vol.1, 1ª Edição, p. 89).

No entanto, inferir a existência logicamente é problemático desde Kant:


[...] O ponto central da discussão de Kant sobre o assunto é sua afirmação
de que o ser (Sein) - que aqui pode ser entendido como "existir" - não é um
predicado real do mesmo modo que podem ser outros predicados tais como
'é branco', 'é pesado' etc. "'Ser' não é evidentemente um predicado real, ou
seja, não é o conceito de algo que possa ser agregado ao conceito de uma
coisa; é meramente a posição (Setzung) de uma coisa ou de certas
determinações enquanto existentes em si mesmas. Logicamente é a cópula
___________________________________________________________

103 Id. A Sabedoria do Ser e do Nada. São Paulo: Editora Matese, 1ª Edição, Vol. 1, p. 55;
104 Id. Filosofia Concreta. São Paulo - SP: Editora Filocalia, 2020, p. 495.
31
de um juízo" (KrV, A 598, 8 526). Referir-se a algo e dizer que esse algo
existe é uma redundância. Se a existência fosse um atributo, todas as
proposições existenciais afirmativas não seriam mais que tautologias, e
todas as proposições existenciais negativas seriam meras contradições. Por
outro lado, dizer que algo é não significa dizer que ele exista. O "é" não
pode subsistir por si mesmo: ele sempre alude a um modo no qual se supõe
que ele é isto ou aquilo. E se preenchemos o predicado por meio do existir,
dizendo que uma entidade determinada "é existente", ainda faltará
esclarecer a maneira, o como, o quando ou o onde da existência. (MORA,
Vol. II, 2001p. 956).

Tugendhat, analisando o problema das frases existenciais assente que


como gramaticalmente é predicado, mas não é semanticamente um predicado, pois
quantificador existencial não é nenhum termo geral. A história prévia é desde
Aristóteles que pensava o ser em outro e o ser absoluto. Na idade média, distinguiu-
se essência de existência. Com Anselmo de Cantuária, surge o argumento
ontológico a favor da existência divina (Deus é a essência perfeita) e que depois é
revisitado por Descartes. Kant critica Descartes, ao negar que "Ser" não é predicado
de primeira ordem, nem um predicado no sentido gramatical. Quais os objetos
possíveis? Frases existenciais devem ser concebidas como particulares. Disso se
segue, segundo ele, que falta numa tal frase uma "correção" (verdade), um
fundamento na observação. Russell objeta Meinong, para quem pergunta por um
objeto sempre pressupõe que ele seja em um certo sentido, pois, não fosse assim,
não poderíamos sequer falar dele. Russell analisa o problema: "Unicórnios existem",
"O autor da Iliada existe" e "Homero existe", concluindo que existir não é predicado,
mas um operador existência e que apenas pessoas caracterizadas por descrições
definidas é que possuem existência. O debate contemporâneo prossegue em aberto,
especulando a existência de números, a existência de entes ficcionais, por fim, a
relação entre ser, existir (ou quase-existente) e haver.105
Fazendo a transposição para uma linguagem simbólica da tese em
apreço, obtém-se um quantificador universal negativo, a saber, nenhum, ou
nenhuma coisa, representando o nada absoluto, a contradição e uma proposição

existencial. O único modo de negar (¬) uma proposição categórica ou universal

negativa (∀: nada, nenhum) é contraditá-la (┴) com a proposição existencial (∃:

algo, algum, ao menos um) de algum ente ou objeto (x): ¬∀x ┴ ∃x


___________________________________________________________

105WOLF, Ernst Tugendhat e Ursula. Propedêutica lógico-semântica. Trad. Fernando Augusto da


Rocha Rodrigues. Petrópolis, RJ: Vozes, 1996, pp. 144-155.

32
A contraditória da tese seria: O nada absoluto “não” é a contradição de
que alguma coisa há. Ou “não é o caso que o nada absoluto é a contradição de
alguma coisa há”. Igualmente, fazendo a transposição da formal gramatical para a

lógica, obtém-se: ¬ (∀x ┴ ∃x). Em favor desta conclusão, Santos distingue a

modalidade de juízos negativos:


Postulado o segundo (o não-ser relativo), não se negaria, total e
absolutamente, que alguma coisa há, mas apenas que esta ou aquela
alguma coisa não há, Mas, aceito que alguma coisa há, não negamos total
e categoricamente que alguma coisa não há, “alguma coisa há” e “alguma
coisa não há” são dois juízos particulares, sub-contrários, e a verdade de
um não implica necessária como realmente o são. (SANTOS, 2020, p. 31).

Há assim uma dualidade que demarca a referência ao tema: O nada


tomado como absoluto e relativo. Ao primeiro, nega-se uma predicação total, ao
segundo, dar-se uma limitação em referência ao próprio ser. Ao ser efetivo nega-se
certa relação, predica-se a recusa de determinado aspecto. Aqui algo não é apenas
relativamente. O nada parcial é passível de substituição, de preenchimento, é
pressuposto na ordem cósmica. Não é incondicional, antes é condicionado. É um
negar relativamente a algo, uma alteridade relativa.106 Excetuando a definição para o
nada absoluto, ao que tudo indica, especificamente, a conceituação de nada relativo
(parcial) que Santos articula aqui, converge com a tradição platônica, como se pode
conferir na análise do verbete “Nada” no dicionário, segundo Abbagnano:
[...] Platão, decidindo-se por uma espécie de "parricídio" em relação a
Parmênides (Sof., 242 d), admitiu o ser do nâo-ser e definiu o Nada como
alteridade: "Resulta que há um ser do não-ser, tanto para o movimento
quanto para todos os gêneros, já que em todos os gêneros a alteridade, que
torna cada um deles outro, transforma o ser de cada um em não-ser, de
modo que diremos corretamente que todas as coisas não são e ao mesmo
tempo são e participam do ser". (Ibid., 256 d). (ABBAGNANO, 2007, p. 810).

O nada parcial (ou relativo) não pode ser caracterizado como vácuo, nem
como esvaziamento de ser.107 Só o ser enquanto tal pode limitar a si mesmo. Se o
nada que não é apto para limitar, se auto-constituísse como fronteiriço ao lado do
ser, já não seria nada, mas ser.108 Se o vácuo de Demócrito, que se interpõe entre
os entes, é algo, é positivo.109 A separação entre as coisas não pode ser absoluta,
porém apenas relativamente ao que se tem em consideração.110 Postulado o segun-
___________________________________________________________

106 Id. A Sabedoria do Ser e do Nada. São Paulo: Editora Matese, 1ª Edição, Vol. 1, pp. 56,58,61,62;
107 Id. Origem dos grandes erros filosóficos. São Paulo: Editora Matese, 1966, pp. 101, 136,138;
108,110 Id. Filosofia Concreta. São Paulo - SP: Editora Filocalia, 2020, pp. 495,38,206;
109 Id. Filosofia da crise. São Paulo: Editora Logos LTDA, 1959, pp. 34,38.

33
do (o não-ser relativo), não se negaria, total e absolutamente, que alguma coisa há,
mas apenas que esta ou aquela coisa não há.111 Mas, aceito que alguma coisa há,
não negamos total e categoricamente que alguma coisa não há, “alguma coisa há” e
“alguma coisa não há” são dois juízos particulares, sub-contrários, e a verdade de
um não implica necessária como realmente o são. 112 A privação consiste na
ausência de algo devido à natureza da coisa. Um homem cego é privado de visão,
por exemplo. Em certo sentido a privação é algo, tem positividade, é ser e a privação
de nada, nada de privação. Uma pedra não pode padecer de cegueira, porque a
visão não convém a natureza da pedra.113
Já se falou que a negação referente ao ser não é absoluta e se deve a
alguma perfeição de que o ser estaria privado. Trata-se de um negativo parcial e
positivo. Se não fosse positivo, seria o nada, sequer privação haveria. Esta negação,
esta recusa, tem como referência, não algo impossível, mas possível. Uma
impossibilidade recusada não teria conteúdo positivo.114 O negativo parcial tem que
ver com a ausência de propriedade relativa a uma entidade. Santos prossegue,
comentando acerca do nada relativo como: “[...] ausência de certa realidade num ser
real (ex.: nesta sala não há nada...; sobre este livro não há nada...)” (SANTOS, 5ª
Edição, p. 123). Se uma coisa é algo, é ser e menos que ser é nada.115 A ideia de
ser, por assim dizer, encerra certa perfeição. Seres finitos podem ser concebidos,
hibridamente, tanto da perspectiva do ser quanto da privação. Algo ainda pode ser
dito quanto à relação entre o nada relativo e o devir. O devir não pode anular, nem
aniquilar o ser, sem o qual, o devir não teria sentido objetivamente. O nada nem
perde, nem pode obter ser, visto que nada é.116 O nada não pode fluir, nem como
ausência transitar de um modo a outro, antes, durante ou depois.117 Ainda sobre o
nada relativo ou parcial, ele acrescenta:
[...] (a ausência de algo determinado) Pode ser apontado ao lado de tudo
quanto é finito, porque, ao lado desse ser, pode-se apontar o que ainda não
é, bem como a compreensão daquele exige o nada relativo, o que se lhe
ausenta para facilitar o melhor clareamento do que é. (SANTOS, 2020, p.
354).

Subsidiando os argumentos em desfavor da contraditória da tese em


estudo (o nada absoluto “não” é a contradição de que alguma coisa há), a investi-
___________________________________________________________

111 Id. Ontologia e cosmologia. São Paulo: Editora Matese, 5ª edição, p. 123;
112,114,116 Id. Origem dos grandes erros filosóficos. São Paulo: Editora Matese, 1966, pp. 139,140;
113,115,117 Id. Filosofia Concreta. São Paulo - SP: Editora Filocalia, 2020, pp. 39,386,90.

34
gação dos conceitos presentes e implicados na sétima tese busca seu fundamento
em princípios para além do da não contradição, conforme os critérios de Tugendhat,
mencionados no início do capítulo (seja no que se refere à relação entre enunciados
analíticos e o princípio da não contradição, seja a preferência pela noção de
necessidade numa acepção analítica), o que inclui os princípios da identidade, e dos
terceiro excluído, em corroboração ao levantamento ora empreendido, como nota-se
a seguir:
O nada relativo, isto é, a privação de uma propriedade, de um estado, de
uma perfeição, não é uma ausência absoluta de ser, mas apenas a
privação, neste ou naquele ser, de tais ou quais perfeições.
Conseguintemente, o nada relativo não é meio termo entre ser e nada
absoluto. A partir deste postulado, podem-se demonstrar os princípios
ontológicos de identidade, de não contradição e o de terceiro excluído, que
são os axiomas que servem de fundamento ao filosofar de Aristóteles.
Provado que não há um meio-termo entre o nada absoluto e o ser, que
estivesse fora do nada e fora do ser (já que o nada relativo é apenas o ser
possível), o que é, portanto, é (fundamento do princípio de identidade). Do
que se diz que é, não se pode simultaneamente dizer que não é
(fundamento do princípio de não-contradição), e de algo se diz que é ou não
é, não cabendo, consequentemente, uma outra possibilidade, enquanto o
ser for considerado formalmente (fundamento do princípio de terceiro
excluído). (SANTOS, 2020, p. 49).

Isso posto, a sétima tese, como proposição, parece abranger


razoavelmente o necessário e o possível, de forma que a afirmação de que alguma
coisa há não pode pressupor o nada absoluto, antes, o contrário.118 Até aqui a
investigação adotou critérios de parte da tradição analítica, quais sejam, o rigor com
as definições, a aproximação entre Santos e outros autores, como também a
dependência da tese em relação ao princípio da não contradição. O que dizer das
condições com que a sétima tese consubstancia uma necessidade analítica? Do
ponto de vista da crítica kantiana ao conceito de existência, não. Mas o que dizer
das condições de se admitir a contraditória da tese? Do nada absoluto, segue-se o
haver de algo? Ao que parece o problema da existência se mostra por demais
complexo para se resolver apenas e estritamente com a lógica, ao passo que se
excluir do mesma análise as tradições da ontologia e epistemologia.

___________________________________________________________

118 Id. Filosofias da Afirmação e da Negação. São Paulo: Editora Logos LTDA, 1959, p. 108.

35
CONCLUSÃO

A pesquisa teve como fonte obras, artigos e periódicos especializados em


lógica, filosofia da lógica e filosofia da matemática, sem mencionar as obras de
referência e historiográficas para tratar da necessidade analítica, remontando à
paradigmas aristotélicos e abordagens contemporâneas, ou seja, aspectos de
convergência e divergência do diálogo entre Mário Ferreira dos Santos e outros
autores, sobretudo, Aristóteles, Kant, Frege, Kripke e Tugendhat, no que se refere à
analiticidade e necessidade.
O primeiro capítulo dissertou no que concerne às distintas tradições da
lógica até a eclosão do movimento semântico e suas principais motivações. A
proposta também foi discutir o papel das definições e do significado na tradição
filosófica com ênfase na lógica, focando nos aspectos teóricos e controversos da
analiticidade num contexto modal e percepções de partidários e críticos dos
enunciados analíticos.
O segundo capítulo explanou tópicos da lógica modal, a saber,
necessidade, possibilidade, impossibilidade e contingência. Parte deste capítulo
dedicou-se à questão da inferência e à relação entre lógica e matemática com base
em elementos históricos e teóricos. Naturalmente, buscou-se o nexo entre o conceito
de necessidade inferência e necessidade e o princípio da não contradição.
O último capítulo fez-se o levantamento histórico-conceitual das
terminologias ser e não ser. Discutiu-se o alinhamento entre Santos e a concepção
de analiticidade nos termos kantianos. Buscou-se, por fim, fundamentar o caráter
analítico da tese no princípio da não contradição e no primado da necessidade
analítica, conforme Tugendhat. O debate sobre a existência permanece aberto.
Em virtude de tudo quanto foi tratado até aqui, a expectativa é que se
divulgue o contributo do pensamento deste autor brasileiro que se mostrou fecundo.
Sem mencionar o método de investigação próprio desse autor na FC, são muitas as
implicações da extensa bibliografia para as áreas de epistemologia, ética e
metafísica, conforme os objetivos acadêmicos. É possível que a tese em questão
tenha um significado tal que favoreça uma concepção realista e que estaria
pressuposta também em outros saberes como o da matemática e das ciências
naturais? Isso fica aberto para novas investigações.

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