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ARTIGO ORIGINAL
Antropometria e consumo alimentar: identificador do estado nutricional de idosos
Anthropometry and food intake: identifier of the nutritional state of elderly
Resumo
O estado nutricional é um importante marcador da saúde geral do idoso. Objetivou-se neste
estudo identificar através da antropometria e do consumo alimentar o estado nutricional de idosos
frequentadores de uma ONG. Estudo transversal e descritivo de informações socioeconômicas
e demográficas, antropometria e consumo alimentar. Participaram da pesquisa 101 idosos, 54,5%
do sexo feminino, com faixa etária predominante entre 60 e 70 anos, solteiros e viúvos (36,6%),
respectivamente, 53,5% declararam ter de 1 a 8 anos de estudos e 52,5% possuírem renda de
um salário mínimo. Ocorreu predominância de excesso de peso através do índice de massa
corporal, eutrofia pela circunferência braquial e desnutrição pela prega cutânea tricipital. Alto
consumo diário de alimentos energéticos: arroz (90,1%) seguido pela farinha de mandioca
(44,6%) e pão (44,6%). A respeito dos alimentos proteicos, 68,3% afirmaram consumir leite
diariamente, 54% e 38% consumem de 1 a 3 vezes/semana carne vermelha e aves,
respectivamente, e 39,6% relataram consumir feijão diariamente. O consumo de vegetais do
grupo A foi o mais frequente (35,6%) entre os idosos. Os idosos apresentaram estado nutricional
e hábitos alimentares inadequados, o que reforça a necessidade de orientações nutricionais
específica para este grupo etário.
Palavras-chave: idosos, antropometria, consumo alimentar.
Abstract
Nutritional status is an important marker of elderly’s overall health. The objective of this study was
to identify, through anthropometry and food intake, the nutritional status of elderly people
attending an NGO. Cross-sectional and descriptive study of socioeconomic and demographic
information, anthropometry and food intake. A total of 101 elderly people joined the study, 54.5%
female, aged between 60 and 70 years, single and widowed (36.6%), 53.5% reported having
between 1 and 8 years of schooling and 52.5% are earning a minimum wage income. There was
predominance of overweight through body mass index, eutrophy by brachial circumference and
malnutrition by tricipital skin fold. High daily intake of energetic foods: rice (90.1%) followed by
cassava flour (44.6%) and bread (44.6%). Regarding protein foods, 68.3% reported consuming
milk daily, red meat (54%) and poultry (38%) 1 to 3 times/week and 39.6% reported consuming
beans daily. O consumo de vegetais do grupo A foi o mais frequente (35,6%) entre os idosos.
The elderly presented inadequate nutritional status and eating habits, which reinforces the need
for specific nutritional guidelines for this age group.
Key-words: elderly, anthropometry, food consumption.
Introdução
o sexto lugar quanto ao contingente de idosos, alcançando cerca de 32 milhões de pessoas com
60 anos ou mais [1].
Os principais determinantes dessa acelerada transição demográfica são a redução
expressiva na taxa de fecundidade, associada à forte redução da taxa de mortalidade infantil e o
aumento da expectativa de vida [2].
O envelhecimento é um processo biológico que submete o corpo humano a inúmeras
alterações anatômicas e funcionais, com repercussão nas condições de saúde e nutrição.
Alterações essas progressivas, ocasionando efetivas reduções na capacidade funcional, desde
a sensibilidade para gostos primários até alterações nos processos metabólicos do organismo.
Esses fatores podem ser tanto decorrentes de eventos genéticos como ambientais: estilo de vida,
condições econômicas, cuidados com saúde e alimentação [3].
Nesse contexto, observa-se que a população idosa está mais suscetível às alterações
no estado nutricional, gerando desafios para o governo que precisa desenvolver meios para
enfrentar as demandas específicas decorrentes dessa nova realidade etária [4].
A legislação brasileira, quanto às políticas para a pessoa idosa, é bastante abrangente,
garantindo e regulando os direitos que foram assegurados às pessoas com idade igual ou
superior a 60 anos, mas o desafio em todas as legislações é o seu eficaz cumprimento.
Dificuldades na implementação englobam a obtenção precária de recursos ao sistema de
informação para a análise das condições de vida e de saúde e também a capacitação
inadequada de recursos humanos [5].
A mudança no perfil etário acarreta uma transição epidemiológica com consequentes
impactos no sistema de saúde. Os idosos representam um segmento populacional com
características próprias relacionadas ao estado nutricional [6]. A manutenção de um estado
nutricional adequado é muito importante, pois, de um lado, encontra-se o baixo-peso, que
aumenta o risco de infecções e mortalidade, e do outro o sobrepeso, que aumenta o risco de
doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), como hipertensão, diabetes mellitus e
hiperlipidêmicas [7].
O estado nutricional demonstra o grau no qual as necessidades fisiológicas por
nutrientes estão sendo atingidas, para manutenção da composição e funções adequadas do
organismo, assim a avaliação do estado nutricional pode identificar precocemente idosos com
risco nutricional, visando à introdução de programas de intervenção adequados com o objetivo
de reduzi-los [2].
No Brasil, observamos índices elevados tanto de obesidade como de desnutrição e/ ou
subnutrição em idosos de baixa renda, especialmente em mulheres, em razão do seu maior
número e longevidade em relação aos homens. Outro aspecto relevante é que elas procuram
mais atendimento à saúde do que o sexo oposto, esse fato se reflete na maior taxa de mulheres
em grupos etários mais velhos, correspondendo a aproximadamente dois terços da população
acima de 75 anos, em países como Brasil [8].
Diante do exposto foi que o estudo se propôs a identificar através da Antropometria e do
Consumo Alimentar o estado nutricional dos idosos frequentadores de uma Organização não
Governamental no município de Benevides/PA.
Material e métodos
A DCT foi aferida utilizando adipômetro científico digital Prime Vision Med com
capacidade de 0 a 60 mm e precisão de 0,1 mm, sobre o músculo tríceps do braço, 1 cm acima
do ponto médio entre a ponta do processo acromial da escápula e o elecrano da ulna, com os
braços estendidos e relaxados lateralmente. Foi levantada a pele e o tecido gorduroso e o
adipômetro Sanny foi posicionado 1 cm distalmente do polegar e do indicador, a meio caminho
entre o ápice e a base da prega e a leitura feita com aproximação de 0,1 mm, sem que o
adipômetro pressionasse por mais de três segundos. Essa medida foi repetida por três vezes,
para que a média seja considerada. Sua interpretação foi realizada segundo o padrão de
normalidade [11] e os resultados classificados utilizando os pontos de corte propostos por
Blackburn e Bistian [12].
A CB foi aferida com o cotovelo dobrado a 90o, que fica entre o processo acromial e o
ponto mais distante a ele (olecrano). As roupas do indivíduo foram arrumadas de maneira a
permitir a aferição do ponto médio. Após ter marcado esse ponto com caneta dermatográfica, a
medida foi realizada com o braço relaxado, estendido ao longo do corpo e palma da mão voltada
para a coxa. A fita métrica, plástica, inextensível foi posicionada sobre o ponto médio, sem
exercer pressão, e a leitura feita com aproximação de 0,1 cm. A sua interpretação foi realizada
segundo o padrão de normalidade [11] e os resultados classificados utilizando os pontos de corte
propostos por Blackburn e Bistian [12].
A CP foi mensurada na perna esquerda, com uma fita métrica inelástica, na sua parte
mais protuberante. Esta medida é considerada a mais sensível para estimar a proteína somática
em idosos. Valores inferiores a 31 cm indicam perda de massa muscular [13].
Para a análise dietética foi aplicado questionário de frequência alimentar simples (QFAs)
dividindo os alimentos em três grupos: energéticos, construtores e reguladores e avaliando o
consumo diário, semanal, mensal e nunca dos alimentos. Esta divisão foi baseada nas
recomendações alimentares presente no Guia Alimentar da População Brasileira [14].
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de Ciências da
Saúde, da Universidade Federal do Pará – ICS/UFPA, parecer nº 1.179.249/2015. E os
indivíduos idosos que aceitaram participar da pesquisa leram e assinaram o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido.
Os dados gerados da pesquisa foram compilados e armazenados em banco de dados
no programa Microsoft Office Excel 2010. Para análises dos dados utilizou-se do programa
Bioestat versão 5.3, onde foi realizada a estatística descritiva. A significância das associações
das variáveis antropométricas foi verificada pelo teste Qui-quadrado, com nível de significância
padrão de p < 0,05.
Resultados
Participaram da pesquisa 101 idosos, dos quais a maioria (54,5%) era do sexo feminino.
Na tabela I, pode-se verificar que a faixa etária mais predominante (73,3%) é de idosos com 60
a 69 anos, a maioria (58,2%) das mulheres relatou serem viúvas. Dentre os avaliados (53,5%)
possuíam ensino fundamental incompleto, a renda familiar foi de 1 salário mínimo, a situação
profissional da população em sua maioria era de aposentadoria, equivalente a (48,5%).
Em relação ao estado nutricional, ocorreu predominância de excesso de peso segundo
o IMC (49,5%). A PCT apresentou prevalência de desnutrição (57,4%). Nas variáveis CB (59,4%)
e CP (92,1%) apresentaram prevalência de eutrofia. Na aplicação do teste estatístico para
verificação de significância estatística entre os sexos foram encontrados os seguintes resultados:
Significância estatística para o IMC (p = 0,0101) e PCT (p = 0,0321), conforme Tabela II.
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Energéticos
Pão
Macarrão
Farinha
Arroz
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Quanto aos alimentos proteicos 68,3% e 39,6% afirmaram consumir leite e feijão
diariamente, respectivamente. Carne vermelha (54%) e aves (38%) apresentaram consumo de
1 a 3 vezes semanal (Figura 2).
Construtores
Feijão
Leite
Pescado
Aves
Carne
Bovina
Ovo
Embutidos
0 10 20 30 40 50 60 70 80
Nunca Raramente 1-2 vezes por mês
1-3 vezes por semana 4-5 vezes por semana Diariamente
Figura 2 - Frequência do consumo de alimentos proteicos entre idosos atendidos em uma ONG,
Projeto Alegria, Benevides/PA.
Reguladores
Frutas
Vegetal A
Vegetal B
Vegetal C
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
Discussão
de que elas acumulam mais gordura visceral quando comparadas aos homens, o que seria
agravado pela falta de atividade física.
Ao analisar a PCT encontrou-se desnutrição na maior parte dos idosos e com maior
prevalência dentro do sexo feminino, resultado demonstrado nos estudos de Cruz et al. [25]. Em
contrapartida, o estudo de Silva et al. [26] a respeito dos valores da PCT, revelou medidas
eutróficas. Schmidt et al. [27], referem que a medida da PCT tem sido reconhecida como um
marcador indireto de reservas de gordura corporal.
Ao avaliar as variáveis de CB e CP neste estudo foi observado prevalência de eutrofia.
Confirmando estes dados, Fernandes e Mezzomo [28] e Schmidt et al. [27] também encontraram
valores considerados eutróficos. Segundo Alvares et al. [29] a verificação do estado nutricional
utilizando a CB irá refletir a redução da massa, pois esta medida representa a soma das áreas
constituídas por tecidos gordurosos, muscular e ósseo do braço, se correlacionando diretamente
com a desnutrição proteica, refletindo o déficit muscular.
A CP apresenta forte associação com a reserva de massa muscular e tem sido
recomendada como medida sensível da perda de massa muscular em idosos, especialmente se
a redução ocorrer em função da diminuição da atividade física. No estudo em questão foi
encontrado predominância de adequação desta medida. Cruz e Santos [25] destacam que após
os 60 anos, o ser humano tende a perder massa magra, refletindo diretamente no peso corporal
existindo uma tendência para a diminuição das variáveis antropométricas com o passar da idade,
sendo de extrema importância avaliar mudanças no estado nutricional nessa população
periodicamente.
Quanto à análise do questionário de frequência alimentar simples, observou-se que o
arroz foi o principal cereal representante do grupo de alimentos energéticos. Seu consumo mais
frequente é na mistura com o feijão, sendo um alimento extremamente versátil é também
consumido em preparações com legumes, verduras, ovos e carnes [30].
Essa informação citada por Coelho et al. [23], pode estar indicando um consumo maior
de carboidratos, principalmente os carboidratos simples, cuja densidade energética é elevada.
Destaca ele como o principal fator associado ao excesso de peso e o balanço energético positivo,
ou seja, um consumo energético acima da necessidade associado a prática de atividade física
insuficiente.
Ainda no grupo de alimentos energéticos, destaca-se a farinha de mandioca que
apresentou nível elevado de consumo. O estudo de Picanço [30] salienta que a farinha opera de
tal modo na vida dos paraenses que, no ano de 2016, o Departamento Intersindical de
Estatísticas e Estudos Socioeconômicos do Pará (DIEESE/PA), constatou que, os paraenses
tiveram uma das alimentações mais caras do Brasil, isto pelo alto preço da farinha d’água que
foi reajustada em até 62,24%, fato que conferiu a Belém, a terceira posição no ranking nacional
entre as capitais com maior inflação do país. Este também argumenta que a farinha de mandioca
pode ser pensada como um alimento emblemático que, de alguma maneira, ajuda na definição
da identidade coletiva do povo paraense.
O Guia Alimentar da População Brasileira [14] recomenda o consumo diário, ou de pelo
menos cinco vezes por semana, do feijão com arroz, sabendo-se que o consumo associado
desses alimentos contribui para a ingestão de proteínas de alto valor biológico, neste estudo o
consumo de feijão foi menor que as recomendações.
O leite apresentou percentual significativo de consumo diário entre os idosos atendidos, diferente
do que a Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição [31] aborda, que em ambos os sexos,
o consumo de leite integral tendeu a diminuir com o aumento da idade e aponta que a
inadequação da ingestão de cálcio é observada em estudos realizados no Brasil, bem como em
outros países emergentes e desenvolvidos, relacionando-se ao baixo consumo de leite e
derivados, que são suas principais fontes alimentares.
Em concordância com a Pesquisa de Orçamento Familiar [32] que aponta a carne bovina
como sendo a de maior consumo no país, o consumo de carne bovina seguido de aves se
ratificou na pesquisa. O estudo de Lima-Filho et al. [33] cita que a carne de frango não é
consumida com tanta frequência como a carne bovina. Considera que a carne de frango pode
ser um substituto da bovina, visto que existem entre esses dois produtos uma relação
inversamente proporcional em termos de consumo. Conforme o consumo de carne bovina
diminui, o consumo de carne de frango aumenta, podendo ser explicado pelo elevado preço que
a carne bovina apresenta.
Conforme Orlando et al. [34] os alimentos de origem animal são nutritivos, desde que
consumidos com moderação. O consumo moderado é recomendado devido ao alto teor de
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Conclusão
Os dados obtidos neste estudo são variáveis importantes de risco nutricional. O baixo
nível socioeconômico associado à baixa escolaridade, o excesso de peso aliado ao consumo
alto de alimentos energético e a inadequada ingestão de alimentos reguladores, são
determinantes preocupantes da saúde nutricional de idosos.
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