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"Uma tônica dos textos de Morozov é a necessidade de discutirmos as

tecnologias atuais como consequências de fenômenos estruturais mais


profundos, especialmente a intersecção entre política, finanças e direito.
Não interessa a ele analisar como a Uber revolucionou o mercado de
transporte individual, como gera novos desafios para a mobilidade urbana
ou que efeitos pode gerar nos nossos padrões de consumo. Interessa
investigar o surgimento da Uber como consequência de um processo mais
amplo de desregulamentação das relações de trabalho, de avanço do ideal
de empreendedorismo e de desmantelamento do Estado de bem-estar
social" (Zanatta, Rafael, 2019). O texto, retirado do site do "Quatro,
cinco, um - Revista de Livros"
(https://www.quatrocincoum.com.br/br/resenhas/politica/extrativismo-
digital), procura apresentar a abordagem crítica de Evgeny Morozov
contra o "solucionismo tecnológico". Formule um texto dissertativo
esclarecendo em que consiste esse "solucionismo" e qual é a visão
alternativa que Morozov apresenta para pensar as tecnologias hoje. Em
sua resposta, recorra (explicando) às noções de neoliberalismo e Estado
de bem-estar social. *
Em algumas regiões do mundo - sobretudo a partir da Segunda
Guerra Mundial - se consolidou o estado de bem-estar social, isto é, o
governo começou a investir em um conjunto de ações públicas para
melhorar os aspectos sociais das sociedades. Entretanto, com a crise do
capitalismo movida pelo setor petrolífero, o neoliberalismo ascendeu em
alguns países com a proposta de promover o crescimento econômico,
mediante a contenção dos gastos públicos e por meio da suposta
diminuição de impostos à iniciativa privada. Desta forma, é possível
observar uma nítida retração dos direitos sociais e o início de uma cultura
que desvaloriza o próprio bem estar social.
Nesse contexto, a flexibilização de leis trabalhistas foi promovida e
essa é acentuada pelas plataformas digitais no hodierno. De acordo com
Evgeny Morozov, as plataformas digitais contribuem com o oferecimento
de relações de trabalho precárias e sem segurança, as quais os trabalhadores
- embora sejam vistos como pequenos empreendedores ou ainda
empresários - vivem em condições muito precárias. Sendo assim, é possível
observar uma certa cultura meritocrática, fortalecida pelas empresas de
redes digitais, a qual se constrói através do discurso de conquista própria e
de liberdade individual.
Destarte, conforme aborda Morozov na obra Big Tech, o
“solucionismo tecnológico”, ou seja, a crença que a tecnologia resolverá
maior parte dos conflitos e problemas do mundo entra em conflito com a
realidade - tendo em vista que o espaço digital ameaça por várias
perspectivas a própria liberdade. Entretanto, tal ameaça não é claramente
visualizada pelos indivíduos; empresas do mundo em rede, como o Google
e Facebook, dispõem de diversas informações individuais acerca dos
sujeitos, as quais são utilizadas para fins políticos ou econômicos. Contudo,
é comum que o indivíduo não possua consciência sobre isso e
constantemente é controlado pelo mundo digital sem estar ciente da
capitalização de seus dados.
Além do controle dos dados individuais dos indivíduos pelas
empresas digitais, tais plataformas colaboram com a despolitização de
debates e discussões sobre a tecnologia, uma vez que constituem uma
determinada cultura em que os seres humanos possuem uma visão pouca
crítica em relação à tecnologia. Essa cultura é fortalecida também pelas
bolhas de interação social formadas pelas redes sociais, as quais – segundo
uma lógica algorítmica – criam esferas de interações sociais limitadas, que
por sua vez, criam também crenças e debates limitados que são
segmentados pelas redes.
Em suma, a convergência dos interesses das empresas digitais com
o do capitalismo financeiro, usando do discurso neoliberal, desrespeita a
privacidade individual, colabora com a violação dos direitos sociais e além
disso, ameaça à própria liberdade vinculada à democracia. Logo, de acordo
com Morozov, o debate acerca da tecnologia, que vêm sido impedido pelas
bolhas de interações sociais e pela falta de criticidade das pessoas, precisa
ser urgentemente estabelecido. Sendo assim, é preciso que o debate público
seja fomentado – além da esfera virtual - por pessoas com visões críticas
acerca do impacto que a tecnologia, sobretudo vinculada às empresas
digitais, tem nas vidas dos seres humanos e na liberdade que esses
acreditam ter. Portanto, nos cabe refletir também até que ponto a tecnologia
limitará o pensamento crítico e continuará a ser um aparato de controle ao
invés de um instrumento de libertação.

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Em algumas regiões do mundo - sobretudo a partir da Segunda Guerra Mundial - se


consolidou o estado de bem-estar social, isto é, o governo começou a investir em um conjunto
de ações públicas para melhorar os aspectos sociais da população. Entretanto, com a crise do
capitalismo movida pelo setor petrolífero, o neoliberalismo ascendeu em alguns países com a
proposta de promover o crescimento econômico, mediante a contenção dos gastos públicos e
por meio da suposta diminuição de impostos à iniciativa privada. Desta forma, é possível
observar uma nítida retração dos direitos sociais e o início de uma cultura que desvaloriza o
próprio bem estar social.
Nesse contexto, a flexibilização de leis trabalhistas foi promovida e essa é acentuada pelas
plataformas digitais no hodierno. De acordo com Evgeny Morozov, as plataformas digitais
contribuem com o oferecimento de relações de trabalho precárias e sem segurança, as quais
os trabalhadores - embora sejam vistos como pequenos empreendedores ou ainda
empresários - vivem em condições muito precárias. Sendo assim, é possível observar uma
certa cultura meritocrática, fortalecida pelas empresas de redes digitais, a qual se constrói
através do discurso de conquista própria e de liberdade individual.

Destarte, conforme aborda Morozov na obra Big Tech, o “solucionismo tecnológico”, ou


seja, a crença que a tecnologia resolverá maior parte dos conflitos e problemas do mundo
entra em conflito com a realidade - tendo em vista que o espaço digital ameaça por várias
perspectivas a própria liberdade. Entretanto, tal ameaça não é claramente visualizada pelos
indivíduos; empresas do mundo em rede, como o Google e Facebook, dispõem de diversas
informações individuais acerca dos sujeitos, as quais são utilizadas para fins políticos ou
econômicos. Contudo, é comum que o indivíduo não possua consciência sobre isso e
constantemente é controlado pelo mundo digital sem estar ciente da capitalização de seus
dados.

Além do controle dos dados individuais dos indivíduos pelas empresas digitais, tais
plataformas colaboram com a despolitização de debates e discussões sobre a tecnologia, uma
vez que constituem uma determinada cultura em que os seres humanos possuem uma visão
pouca crítica em relação à tecnologia. Essa cultura é fortalecida também pelas bolhas de
interação social formadas pelas redes sociais, as quais – segundo uma lógica algorítmica –
criam esferas de interações sociais limitadas, que por sua vez, criam também crenças e
debates limitados que são segmentados pelas redes.

Em suma, a convergência dos interesses das empresas digitais com o do capitalismo


financeiro, usando do discurso neoliberal, desrespeita a privacidade individual, colabora com a
violação dos direitos sociais e além disso, ameaça à própria liberdade vinculada à democracia.
Logo, de acordo com Morozov, o debate acerca da tecnologia, que vêm sido impedido pelas
bolhas de interações sociais e pela falta de criticidade das pessoas, precisa ser urgentemente
estabelecido. Sendo assim, é preciso que o debate público seja fomentado – além da esfera
virtual - por pessoas com visões críticas acerca do impacto que a tecnologia, sobretudo
vinculada às empresas digitais, tem nas vidas dos seres humanos e na liberdade que esses
acreditam ter. Portanto, nos cabe refletir também até que ponto a tecnologia limitará o
pensamento crítico e continuará a ser um aparato de controle ao invés de um instrumento de
libertação.

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