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Domingo 19|10
16/03/2014 - 06h00
por Marina Novaes
Para Steve Pudney, não existe motivo para temer legalização da maconha e, como um dos
benefícios, teria o afastamento de usuários e traficantes
O economista é autor de uma pesquisa publicada em outubro de 2013, com outros dois estudiosos,
sobre os impactos da legalização da cannabis (nome científico da planta) na Inglaterra e no País de
Gales. Assim como o Brasil, nestes países o consumo da droga também é crime. De acordo com o
estudo, se aprovada, a regulamentação da maconha garantiria aos cofres públicos cerca de £1,25
bilhões (ou o equivalente a R$4,88 bilhões) por ano.
“Nós precisamos de um debate de adultos, onde todos admitam que sim: há vantagens e
desvantagens para a legalização da maconha. Não existem certezas nesse debate. [A legalização]
Envolve riscos. Mas a proibição não está funcionando também”, avaliou Pudney, em entrevista a
Opera Mundi.
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O estudo também avalia os impactos de uma mudança na lei sobre os índices de violência e
criminalidade dos países e o efeito da droga sobre a saúde mental da população. E traça
probabilidades de aumento de consumo caso a droga se torne legal - no cenário mais pessimista,
poderia chegar a 40%.
“Nós não achamos nada que possa amedrontar qualquer governo (a regulamentar a maconha). Não
há nenhuma ‘consequência decisiva’ que faz da legalização algo impensável”, defende Pudney.
No Reino Unido, 15% dos presos estão nesta condição devido ao envolvimento com tráfico de drogas.
Entretanto, o consumo da maconha no país vem caindo nos últimos 10 anos, bem como o interesse
político em mexer nas leis que abordam a questão. Uma pesquisa de 2012, publicada pela revista The
Economist, aponta que 75% dos parlamentares alegam ser difícil discutir mudanças na política anti-
drogas, justamente por ser um tema polêmico. E 58% dos britânicos acham que a maconha deve
continuar ilegal, segundo estudo de 2010.
Já no Senado brasileiro, o tema entrará em debate após a Casa receber, em fevereiro, um projeto de
iniciativa popular que reuniu mais de 22 mil assinaturas - a relatoria será do senador Cristovam
Buarque (PDT-DF), que pretende convocar audiências públicas para discutir a ideia. Também no mês
passado, o deputado federal Eurico Júnior (PV-RJ) protocolou na Câmara um projeto de lei para
legalizar a droga para fins medicinais e para o consumo doméstico. Já o deputado Jean Wyllys (PSOL-
RJ) anunciou que também levará um projeto de legalização da maconha ao Legislativo Federal nos
próximos dias.
Wikicommons
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Segundo o britânico, não há evidências de que uso da maconha torna as pessoas propensas a cometer crimes
A retomada do debate acontece mais de 11 anos depois de o Brasil arquivar o mais recente projeto de
lei que defendia a descriminalização da maconha. O texto, apresentado em 2001 pelo ex-deputado
Marcos Rolim (à época do PT-RS), não passou nas comissões e foi arquivado pela Câmara em 2003.
Por outro lado, um projeto de lei que vai na contramão deste debate - o PL 7663/10, do deputado
Osmar Terra (PMDB-RS) - quer endurecer as penas por uso e venda de drogas e aguarda aprovação
do Senado, depois de passar na Câmara.
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sem se ater a fatos. Mas há muitos pontos que têm de ser considerados. E o que mais chamou
atenção foi a economia que a regulamentação geraria, considerando gastos com a polícia e o
Judiciário para prender e condenar o usuário, e para manter a população carcerária. Só com isso, são
menos £361 milhões por ano em despesas públicas.
Também consideramos o cenário da arrecadação, porque essa indústria teria que pagar impostos.
Nesse sentido, o impacto não seria muito grande. Mas chegamos à conclusão de que seria possível
arrecadar em torno de £900 milhões por ano, na Inglaterra e País de Gales (o estudo não considerou
a Escócia e a Irlanda do Norte).
OP: O senhor disse que, em toda sua pesquisa, não encontrou nada que pudesse justificar o
medo que os governos têm desse tema, nem que tornasse “impensável” a legalização da
maconha. O que quer dizer com isso?
SP: Não há dados suficientes que apontam como isso prejudicaria tanto a população. Nós
simplesmente não encontramos. Nós ignoramos completamente qualquer moralidade para fazer esse
estudo, nos baseamos apenas no banco de dados disponível.
Mas sempre há alguém que questiona se legalizar a maconha levaria a um aumento da violência. Isso
não é verdade. O fato dela ser ilegal que leva aos crimes, é por isso que as pessoas estão na prisão.
Há poucas evidências que apontem o usuário da maconha como propenso a cometer crimes. A
cannabis não é muito viciante e é barata, ou seja, é pouco provável que as pessoas roubariam para
comprar maconha. É exatamente o oposto da heroína, que é uma droga cara e extremamente
viciante, que comprovadamente leva a episódios de violência. Então sou muito cético em relação a
esse argumento.
Também concluímos que as pessoas tendem a se afastar dos traficantes (se a maconha fosse
legalizada). Então você separaria a cannabis de um mercado muito mais perigoso. E esse é um
argumento que precisa ser levado em consideração.
OP: Mas existe também o temor de que a maconha leve o usuário para drogas mais “pesadas”.
O estudo considerou essa hipótese?
SP: É verdade que as pessoas que usam cocaína e heroína já usaram, em algum momento, cannabis.
Mas também há pouca evidência que comprove que a maconha levou a isso. (...) E vale lembrar:
drogas como cocaína e heroína são muitas vezes apresentadas aos usuários pelos traficantes, porque
elas são mais caras e dão mais lucro que a cannabis. Ou seja, se você distancia o usuário do
traficante, você a afasta de drogas mais perigosas. Acho que é um pouco ingenuidade esse
argumento (de que maconha leva a drogas mais perigosas).
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que proíbem a droga. Eu acho que os países deveriam diminuir essa influência e buscar medidas que
funcionem para as suas realidades.
Mesmo países mais liberais falham em pelo menos um aspecto muito importante: a qualidade da
cannabis consumida. Estudos apontam que a maconha é hoje muito mais forte e prejudicial que no
passado, graças principalmente à substância THC (em inglês, Tetrahydrocannabinol), associada a
doenças mentais e psicoses. Por outro lado, outro componente, o CBD (Cannabidiol), é apontado
como mais brando e com efeitos antipsicótico. Em um mercado regulamentado, os países poderiam
ditar as regras e controlar o produto que chega ao consumidor. Os usuários, ao menos, saberiam
exatamente o que estão consumindo e os efeitos sobre a saúde. Eu ficaria muito satisfeito se o Brasil
abordasse essa questão ao debater o tema.
Divulgação
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7 comentários Comentar
Marvin Amaral · Quem mais comentou · Porto Alegre, Rio Grande do Sul
Enquanto houver grupos religiosos no senado e na câmara, essa questão não poderá ser
discutida.
Responder · Curtir · 19 de março às 07:38
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