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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 1.492.341 - SC (2014/0284594-7)

RELATORA : MINISTRA ASSUSETE MAGALHÃES


RECORRENTE : PORTOBELLO SHOP S/A
ADVOGADO : NELSON WILIANS FRATONI RODRIGUES E OUTRO(S)
RECORRIDO : FAZENDA NACIONAL
ADVOGADO : PROCURADORIA-GERAL DA FAZENDA NACIONAL

DECISÃO

Trata-se de Recurso Especial, interposto por PORTOBELLO SHOP S/A,


fundamentado no art. 105, III, a, da Constituição Federal, contra acórdão do Tribunal
Regional Federal da 4ª Região, assim ementado:

"TRIBUTÁRIO. PRESCRIÇÃO. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA.


INEXIGIBILIDADE. AUXÍLIO-DOENÇA. AUXÍLIO-ACIDENTE.
PRIMEIROS QUINZE DIAS DE AFASTAMENTO.
SALÁRIO-MATERNIDADE. FÉRIAS E ADICIONAL DE 1/3
CONSTITUCIONAL. COMPENSAÇÃO. CORREÇÃO MONETÁRIA.
1.Tratando-se de ação ajuizada após o término da vacatio legis da LC
nº 118/05 (ou seja, após 08-06-2005), objetivando a restituição ou
compensação de tributos que, sujeitos a lançamento por
homologação, foram recolhidos indevidamente, o prazo para o pleito é
de cinco anos, a contar da data do pagamento antecipado do tributo,
na forma do art. 150, § 1º e 168, inciso I, ambos do CTN, c/c art. 3º da
LC n.º 118/05. 2. Segundo orientação do Superior Tribunal de Justiça,
não deve incidir contribuição previdenciária sobre a remuneração paga
pelo empregador ao empregado durante os primeiros quinze dias de
afastamento do trabalho por motivo de incapacidade, uma vez que tal
verba não possuiria natureza salarial. 3. Configurada a natureza
salarial do salário-maternidade incide sobre ele a contribuição
previdenciária. 4. Tratando-se de férias efetivamente gozadas, é
devida a contribuição. Em relação ao adicional de 1/3, realinhando a
posição jurisprudencial desta Corte à jurisprudência do STJ e do STF,
no sentido de que a referida verba que detém natureza indenizatória
por não se incorporar à remuneração do servidor para fins de
aposentadoria, afasta-se a incidência de contribuição previdenciária
sobre o terço constitucional de férias. 5. As contribuições
previdenciárias recolhidas indevidamente podem ser objeto de
compensação com parcelas vencidas posteriormente ao pagamento
do tributo em questão, desde que relativas a tributo de mesma espécie
e destinação constitucional, conforme previsto nos arts. 66 da Lei
8.383/91, 39 da Lei 9.250/95 e 89 da Lei 8.212/91, observando-se as
disposições do art. 170-A do CTN e do art. 89, § 3º, da Lei 8.212/91. 6.
A atualização monetária incide desde a data do pagamento indevido
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do tributo até a sua efetiva compensação, sendo aplicável, para os
respectivos cálculos, a taxa SELIC" (fl. 236e).

Opostos Embargos de Declaração, foram eles parcialmente providos,


apenas para efeito de prequestionamento (fl. 271e).
No Recurso Especial, alega o recorrente, violação aos arts. 535, II, do
CPC, 74 da Lei 9.430/96, 22, I, da Lei 8.212/91, 3º e 4º da Lei Complementar
118/2005, 97, I e III e 170-A, ambos do CTN e 26 e 79, I, ambos da Lei 11.941/2009,
sustentando, em síntese, ser indevida a exigência do recolhimento da contribuição
previdenciária patronal incidente sobre os valores pagos aos empregados a título de
salário-maternidade, férias gozadas e nos 15 (quinze) primeiros dias que antecedem
à concessão do auxílio-acidente, porquanto consistiriam em verbas de natureza
indenizatória, requerendo a compensação dos valores indevidamente recolhidos a
tais títulos.
Alega, ainda, que o acórdão recorrido dissente do entendimento do STJ,
sendo que, no caso, o prazo prescricional para a repetição de indébito é decenal
(tese dos cinco mais cinco).
No que se refere à compensação, aduz que tem direito a compensar os
créditos sub judice antes do trânsito em julgado da decisão judicial, em face de se
tratar de questão reiteradamente decidida pelo STJ; que não deve ser aplicada, ao
caso, qualquer limitação à compensação, considerando a revogação do § 3º do art.
89 da Lei 8.212/91; que os créditos previdenciários podem ser compensados por
débitos de qualquer natureza relativos a quaisquer tributos ou contribuições
administrados pela Secretaria da Receita Federal (fls. 342/377e).
Apresentadas as contrarrazões (fls. 394/412e), foi o Recurso Especial
admitido, pelo Tribunal de origem (fls. 538/539e).
Inicialmente, não há que se falar em ofensa ao art. 535, do CPC, de vez
que o voto condutor do acórdão recorrido e do acórdão dos embargos declaratórios
apreciaram fundamentadamente, de modo coerente e completo, todas as questões
necessárias à solução da controvérsia, dando-lhes, contudo, solução jurídica diversa
da pretendida.
Vale ressaltar, ainda, que não se pode confundir decisão contrária ao
interesse da parte com ausência de fundamentação ou negativa de prestação
jurisdicional.
De fato, não está o juiz obrigado a rebater, pormenorizadamente, todas
as questões trazidas pela parte, citando os dispositivos legais que esta entende
pertinentes para a resolução da controvérsia. A negativa de prestação jurisdicional se
configura apenas quando o Tribunal deixa de se manifestar sobre ponto que seria
indubitavelmente necessário ao deslinde do litígio.
Quanto ao mérito, o presente recurso merece prosperar, em parte.
Com efeito, quanto à exigência do recolhimento da contribuição
previdenciária patronal incidente sobre os valores pagos aos empregados a título de
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salário-maternidade, férias gozadas e nos 15 (quinze) primeiros dias que antecedem
à concessão do auxílio-acidente, ressalto que o Tribunal de origem decidiu a
demanda de acordo com o entendimento do Superior Tribunal de Justiça sobre o
tema, qual seja, o de que os valores pagos a tais títulos possuem natureza
remuneratória e, portanto, integram a base de cálculo para fins de contribuição
previdenciária. A propósito:

"TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. ART. 22,


INCISO I, DA LEI N. 8.212/91. SALÁRIO-MATERNIDADE E FÉRIAS
GOZADAS. INCIDÊNCIA. PRECEDENTES DO STJ.
COMPENSAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE ANTES DO TRÂNSITO EM
JULGADO. APLICAÇÃO DO ART. 170-A DO CTN.
1. A Primeira Seção, no julgamento do REsp 1.230.957/RS,
submetido à sistemática do art. 543-C do CPC e da Resolução
STJ n. 8/2008, firmou a orientação no sentido de que incide
contribuição previdenciária sobre o salário-maternidade.
2. O pagamento de férias gozadas possui natureza remuneratória
e salarial, nos termos do art. 148 da CLT, e integra o salário de
contribuição. Precedentes desta Corte Superior: AgRg no REsp
1.355.135/RS, Rel. Ministro Arnaldo Esteves Lima, DJe 27/2/2013;
e AgRg nos EDcl no AREsp 135.682/MG, Rel. Ministro Herman
Benjamin, DJe 14/6/2012.
3. Consoante entendimento pacificado na jurisprudência, o disposto no
art. 170-A do CTN, que exige o trânsito em julgado para fins de
compensação de crédito tributário, somente se aplica às demandas
ajuizadas após a vigência da Lei Complementar n. 104/01, ou seja, a
partir de 11/1/2001, o que se verifica na espécie.
4. Agravo regimental a que se nega provimento" (STJ, AgRg no REsp
1240038/PR, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEGUNDA TURMA,
DJe de 02/05/2014).

"TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL.


CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. SALÁRIO-MATERNIDADE.
FÉRIAS. NATUREZA SALARIAL. INCIDÊNCIA. AGRAVO NÃO
PROVIDO.
1. 'É pacífico no STJ o entendimento de que o
salário-maternidade não tem natureza indenizatória, mas sim
remuneratória, razão pela qual integra a base de cálculo da
Contribuição Previdenciária. 2. O pagamento de férias gozadas
possui natureza remuneratória e salarial, nos termos do art. 148
da CLT, e integra o salário-de-contribuição. Saliente-se que não
se discute, no apelo, a incidência da contribuição sobre o terço
constitucional' (AgRg no Ag 1.426.580/DF, Rel. Min. HERMAN
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BENJAMIN, Segunda Turma, DJe 12/4/12).
2. Agravo regimental não provido" (STJ, AgRg no REsp 1355135/RS,
Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, PRIMEIRA TURMA, DJe de
27/02/2013).

"TRIBUTÁRIO – CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA –


SALÁRIO-MATERNIDADE - BENEFÍCIO SUBSTITUTIVO DA
REMUNERAÇÃO - POSSIBILIDADE – ART. 28, § 2º, DA LEI 8.212/91
– ADICIONAL DE PERICULOSIDADE, INSALUBRIDADE E HORAS
EXTRAS - PARCELAS REMUNERATÓRIAS - ENUNCIADO 60 DO
TST - AUXÍLIO-DOENÇA E AUXÍLIO-ACIDENTE - CARÁTER
INDENIZATÓRIO - TERÇO CONSTITUCIONAL DE FÉRIAS -
REALINHAMENTO JURISPRUDENCIAL - NATUREZA
INDENIZATÓRIA - SUFICIÊNCIA DA PRESTAÇÃO
JURISPRUDENCIAL.
1. Inexiste violação aos arts. 458, 459 e 535 do CPC se o acórdão
recorrido apresenta estrutura adequada e encontra-se devidamente
fundamentado, na forma da legislação processual, abordando a
matéria objeto da irresignação.
2. O salário-maternidade é benefício substitutivo da remuneração da
segurada e é devido em razão da relação laboral, razão pela qual
sobre tais verbas incide contribuição previdenciária, nos termos do §
2º do art. 28 da Lei 8.212/91.
3. Os adicionais noturnos, de periculosidade, de insalubridade e
referente à prestação de horas-extras, quando pagos com
habitualidade, incorporam-se ao salário e sofrem a incidência de
contribuição previdenciária.
4. O STJ, após o julgamento da Pet 7.296/DF, realinhou sua
jurisprudência para acompanhar o STF pela não-incidência de
contribuição previdenciária sobre o terço constitucional de férias.
Precedentes.
5. Não incide contribuição previdenciária sobre os primeiros 15
dias de auxílio-doença pagos pelo empregador, nem sobre as
verbas devidas a título de auxílio-acidente, que se revestem de
natureza indenizatória. Precedentes.
6. Recurso especial provido em parte. (STJ, REsp 1149071/SC, Rel.
Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, DJe de 22/09/2010).

"DIREITO TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. NÃO


INCIDÊNCIA SOBRE O TERÇO CONSTITUCIONAL DE FÉRIAS E
SOBRE OS QUINZE PRIMEIROS DIAS DE AUXÍLIO-DOENÇA E
AUXÍLIO-ACIDENTE. RESP 1.230.957/RS, SUBMETIDO AO RITO
DO ART. 543-C DO CPC. PRECEDENTES.
1. A Primeira Seção do STJ, por ocasião do julgamento do REsp

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1.230.957/RS, de Relatoria do Ministro Mauro Campbell Marques, pelo
rito previsto no art. 543-C do CPC, pacificou o entendimento no
sentido da não incidência de contribuição previdenciária sobre o terço
constitucional de férias e os quinze primeiros dias de auxílio-doença.
2. Também não incide a debatida exação sobre os quinze
primeiros dias de pagamento do auxílio-acidente, diante de seu
caráter indenizatório. Precedentes:EDcl no REsp 1310914/PR, Rel.
Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, PRIMEIRA TURMA, DJe
13/06/2014, AgRg no AREsp 102.198/CE, Rel. Ministro HUMBERTO
MARTINS, SEGUNDA TURMA, DJe 29/04/2014, AgRg no AREsp
90.530/DF, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA
TURMA, DJe 04/04/2014.
3. Agravo regimental a que se nega provimento" (STJ, AgRg nos EDcl
no REsp 1025839/SC, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA
TURMA, DJe de 01/09/2014).

Por sua vez, melhor sorte não socorre ao recorrente, no que se refere à
aplicabilidade do prazo prescricional de dez anos para a restituição ou compensação
do indébito fiscal.
No caso, trata-se de Mandado de Segurança impetrado em 09/06/2010,
portanto, após o início da vigência da Lei Complementar 118/2005, com a finalidade
de afastar a exigibilidade da contribuição previdenciária patronal incidente sobre os
valores pagos aos empregados a título de salário-maternidade, auxílio-doença e
auxílio-acidente nos quinze primeiros dias de afastamento, férias gozadas e terço
constitucional de férias, no qual se requereu, ainda, a compensação ou restituição
dos valores indevidamente recolhidos a tais títulos, nos últimos dez anos.
Registre-se, inicialmente, que a Primeira Seção desta Corte, em
18/12/2009, no julgamento do REsp nº 1.002.932/SP, da relatoria do Ministro Luiz
Fux, submetido a sistemática do art. 543-C do CPC, consolidou o entendimento no
sentido de que o prazo prescricional para o contribuinte pleitear a restituição do
indébito, nos casos dos tributos sujeitos a lançamento por homologação,
continua observando a tese dos "cinco mais cinco", ou seja (5) cinco anos de
decadência da homologação para a constituição do crédito tributário acrescidos de
mais (5) cinco anos referentes à prescrição da ação.
No entanto, a partir da edição da Lei Complementar 118/2005, houve
alteração na contagem do prazo prescricional.
A questão foi resolvida pela Excelsa Corte, quando o Supremo Tribunal
Federal, nos autos do RE 566.621/RS no qual entendeu que o prazo de cinco anos
do art. 168, I, do CTN, alterado por força do art. 3º da Lei Complementar nº
118/2005, para pleitear a repetição de valores recolhidos indevidamente como
tributo aplica-se às demandas ajuizadas na vigência do referido art. 3º, ou seja,
a partir de 09/06/2005, de modo que tendo por termo ad quem a data do
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ajuizamento é viável recuperar os valores indevidamente pagos há cinco anos
da referida data. Se a demanda é ajuizada na vigência da redação anterior à LC
118/2005, aplica-se a tese conhecida por "5+5", de modo que o contribuinte
possui 10 anos, contados do fato gerador, para repetir o que pagou
indevidamente a título de tributo.
O julgado ficou ementado nestes termos:

"DIREITO TRIBUTÁRIO – LEI INTERPRETATIVA – APLICAÇÃO


RETROATIVA DA LEI COMPLEMENTAR Nº 118/2005 –
DESCABIMENTO – VIOLAÇÃO À SEGURANÇA JURÍDICA –
NECESSIDADE DE OBSERVÂNCIA DA VACACIO LEGIS –
APLICAÇÃO DO PRAZO REDUZIDO PARA REPETIÇÃO OU
COMPENSAÇÃO DE INDÉBITOS AOS PROCESSOS AJUIZADOS A
PARTIR DE 9 DE JUNHO DE 2005.
Quando do advento da LC 118/05, estava consolidada a
orientação da Primeira Seção do STJ no sentido de que, para os
tributos sujeitos a lançamento por homologação, o prazo para
repetição ou compensação de indébito era de 10 anos contados
do seu fato gerador, tendo em conta a aplicação combinada dos
arts. 150, § 4º, 156, VII, e 168, I, do CTN. A LC 118/05, embora
tenha se auto-proclamado interpretativa, implicou inovação
normativa, tendo reduzido o prazo de 10 anos contados do fato
gerador para 5 anos contados do pagamento indevido.
Lei supostamente interpretativa que, em verdade, inova no mundo
jurídico deve ser considerada como lei nova.
Inocorrência de violação à autonomia e independência dos Poderes,
porquanto a lei expressamente interpretativa também se submete,
como qualquer outra, ao controle judicial quanto à sua natureza,
validade e aplicação.
A aplicação retroativa de novo e reduzido prazo para a repetição ou
compensação de indébito tributário estipulado por lei nova,
fulminando, de imediato, pretensões deduzidas tempestivamente à luz
do prazo então aplicável, bem como a aplicação imediata às
pretensões pendentes de ajuizamento quando da publicação da lei,
sem resguardo de nenhuma regra de transição, implicam ofensa ao
princípio da segurança jurídica em seus conteúdos de proteção da
confiança e de garantia do acesso à Justiça.
Afastando-se as aplicações inconstitucionais e resguardando-se, no
mais, a eficácia da norma, permite-se a aplicação do prazo reduzido
relativamente às ações ajuizadas após a vacatio legis, conforme
entendimento consolidado por esta Corte no enunciado 445 da
Súmula do Tribunal.
O prazo de vacatio legis de 120 dias permitiu aos contribuintes
não apenas que tomassem ciência do novo prazo, mas também
que ajuizassem as ações necessárias à tutela dos seus direitos.
Inaplicabilidade do art. 2.028 do Código Civil, pois, não havendo
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lacuna na LC 118/08, que pretendeu a aplicação do novo prazo na
maior extensão possível, descabida sua aplicação por analogia.
Além disso, não se trata de lei geral, tampouco impede iniciativa
legislativa em contrário.
Reconhecida a inconstitucionalidade art. 4º, segunda parte, da LC
118/05, considerando-se válida a aplicação do novo prazo de 5
anos tão-somente às ações ajuizadas após o decurso da vacatio
legis de 120 dias, ou seja, a partir de 9 de junho de 2005.
Aplicação do art. 543-B, § 3º, do CPC aos recursos sobrestados.
Recurso extraordinário desprovido" (STF, RE 566621, Relator(a): Min.
ELLEN GRACIE, Tribunal Pleno, REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO
DJe-195 DIVULG 10-10-2011 PUBLIC 11-10-2011).

Considerando-se a nova orientação do STF, a eg. Primeira Seção do


STJ afetou um novo Recurso Especial, sob o égide do art. 543-C do CPC, para se
adequar o entendimento da Suprema Corte, confira-se a ementa:

"CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL


REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA (ART. 543-C, DO CPC).
LEI INTERPRETATIVA. PRAZO DE PRESCRIÇÃO PARA A
REPETIÇÃO DE INDÉBITO NOS TRIBUTOS SUJEITOS A
LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO. ART. 3º, DA LC 118/2005.
POSICIONAMENTO DO STF. ALTERAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA
DO STJ. SUPERADO ENTENDIMENTO FIRMADO
ANTERIORMENTE TAMBÉM EM SEDE DE RECURSO
REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA.
1. O acórdão proveniente da Corte Especial na AI nos Eresp nº
644.736/PE, Relator o Ministro Teori Albino Zavascki, DJ de
27.08.2007, e o recurso representativo da controvérsia REsp. n.
1.002.932/SP, Primeira Seção, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em
25.11.2009, firmaram o entendimento no sentido de que o art. 3º da
LC 118/2005 somente pode ter eficácia prospectiva, incidindo apenas
sobre situações que venham a ocorrer a partir da sua vigência. Sendo
assim, a jurisprudência deste STJ passou a considerar que,
relativamente aos pagamentos efetuados a partir de 09.06.05, o prazo
para a repetição do indébito é de cinco anos a contar da data do
pagamento; e relativamente aos pagamentos anteriores, a prescrição
obedece ao regime previsto no sistema anterior.
2. No entanto, o mesmo tema recebeu julgamento pelo STF no RE
n. 566.621/RS, Plenário, Rel. Min. Ellen Gracie, julgado em
04.08.2011, onde foi fixado marco para a aplicação do regime
novo de prazo prescricional levando-se em consideração a data
do ajuizamento da ação (e não mais a data do pagamento) em
confronto com a data da vigência da lei nova (9.6.2005).
3. Tendo a jurisprudência deste STJ sido construída em interpretação
de princípios constitucionais, urge inclinar-se esta Casa ao decidido
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pela Corte Suprema competente para dar a palavra final em temas
de tal jaez, notadamente em havendo julgamento de mérito em
repercussão geral (arts. 543-A e 543-B, do CPC). Desse modo, para
as ações ajuizadas a partir de 9.6.2005, aplica-se o art. 3º, da Lei
Complementar n. 118/2005, contando-se o prazo prescricional dos
tributos sujeitos a lançamento por homologação em cinco anos a partir
do pagamento antecipado de que trata o art. 150, §1º, do CTN.
4. Superado o recurso representativo da controvérsia REsp. n.
1.002.932/SP, Primeira Seção, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em
25.11.2009.
5. Recurso especial não provido. Acórdão submetido ao regime do art.
543-C do CPC e da Resolução STJ 08/2008" (STJ, REsp
1269570/MG, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES,
PRIMEIRA SEÇÃO, DJe de 04/06/2012).

A eg. Segunda Turma do STJ vem aplicado tal entendimento, in verbis:

"TRIBUTÁRIO. REPETIÇÃO DE INDÉBITO. PRESCRIÇÃO. LC


118/05. INCIDÊNCIA. AÇÕES AJUIZADAS APÓS A SUA VIGÊNCIA.
ENTENDIMENTO FIRMADO EM REPERCUSSÃO GERAL NO RE
566.621/RS E, PELO STJ, NO RESP REPETITIVO 1.291.394/RS.
1. A Primeira Seção do STJ, ao julgar o REsp 1.269.570-MG pelo
regime dos Recursos Repetitivos prestigiou o entendimento do
Pretório Excelso de que o prazo prescricional de cinco anos definido
na Lei Complementar n. 118/2005 incidirá sobre as ações de repetição
de indébito ajuizadas a partir da entrada em vigor da nova lei
(9.6.2005), ainda que estas ações digam respeito a recolhimentos
indevidos realizados antes da sua vigência.
2. Na espécie, como a ação de repetição de indébito foi ajuizada
em 4.5.2010, o recolhimento indevido efetuado antes de 4.5.2005
está prescrito, não havendo como reputar correta a aplicação
pelo Tribunal de origem do prazo de 10 anos anteriormente
vigente, por ter sido a ação ajuizada antes da vigência da LC n.
118/2005.
Agravo regimental improvido" (STJ, AgRg no REsp 1484651/RS, Rel.
Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, DJe de
03/02/2015).

"TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL.


REPETIÇÃO DE INDÉBITO. TRIBUTO SUJEITO A LANÇAMENTO
POR HOMOLOGAÇÃO. LC 118/05. PRESCRIÇÃO QUINQUENAL.
PROCESSO ADMINISTRATIVO. SUSPENSÃO. INOVAÇÃO
RECURSAL.
1. A Primeira Seção desta Corte, no julgamento do REsp
1.269.570/RS, submetido ao rito do art. 543-C do CPC, acolhendo
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o entendimento firmado no STF no julgamento do RE 566.621/RS
em repercussão geral, adotou a orientação de ser quinquenal o
lapso prescricional das ações de repetição de indébito de tributos
sujeitos a lançamento por homologação propostas após a
vigência da LC 118/05.
2. Não se mostra possível discutir em agravo regimental matéria que
não foi objeto das razões do recurso especial, por se tratar de indevida
inovação recursal.
3. Agravo regimental a que se nega provimento" (STJ, AgRg no REsp
1466781/SP, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA, DJe
de 14/10/2014).

"PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. LEI INTERPRETATIVA. PRAZO


DE PRESCRIÇÃO PARA A REPETIÇÃO DE INDÉBITO, NOS
TRIBUTOS SUJEITOS A LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO. LC
118/2005. TEMA JÁ JULGADO PELO REGIME CRIADO PELO ART.
543-C, CPC, E DA RESOLUÇÃO STJ 08/2008 QUE INSTITUÍRAM
OS RECURSOS REPRESENTATIVOS DA CONTROVÉRSIA. PIS E
COFINS. RECEITAS FINANCEIRAS (JUROS E CORREÇÃO
MONETÁRIA) PROVENIENTES DE CONTRATOS DE VENDA DE
IMÓVEIS. RECEITAS ORIUNDAS DO EXERCÍCIO DAS ATIVIDADES
EMPRESARIAIS PORQUE INERENTES AOS CONTRATOS.
CONCEITO DE FATURAMENTO. INCIDÊNCIA.
1. Tanto o STF quanto o STJ entendem que para as ações de
repetição de indébito relativas a tributos sujeitos a lançamento
por homologação ajuizadas de 09.06.2005 em diante, deve ser
aplicado o prazo prescricional quiquenal previsto no art. 3º, da
Lei Complementar n. 118/2005, ou seja, prazo de cinco anos com
termo inicial na data do pagamento. Tema já julgado pelo recurso
representativo da controvérsia REsp. n. 1.269.570-MG, Primeira
Seção, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 23.05.2012
e em repercussão geral pelo STF no RE n. 566.621/RS, Plenário,
Rel. Min. Ellen Gracie, julgado em 04.08.2011.
2. A 1ª Seção do STJ firmou entendimento no sentido de que as
receitas provenientes das atividades de construir, alienar, comprar,
alugar, vender imóveis e intermediar negócios imobiliários integram o
conceito de faturamento, para os fins de tributação a título de PIS e
COFINS, incluindo-se aí as receitas provenientes da locação de
imóveis próprios e integrantes do ativo imobilizado, ainda que este não
seja o objeto social da empresa, pois o sentido de faturamento
acolhido pela lei e pelo Supremo Tribunal Federal não foi o
estritamente comercial. Precedentes: AgRg no Ag n. 1.420.729 / MG,
Primeira Turma, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em
27.03.2012; REsp. n. 1.210.655 / SC, Primeira Turma, Rel. Min.
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Benedito Gonçalves, Rel. p/acórdão Min. Teori Albino Zavascki,
julgado em 26.04.2011; AgRg no REsp. n. 1.318.183 / PR, Primeira
Turma, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 19.06.2012;
AgRg no REsp. n. 1.238.892 / PR, Segunda Turma, Rel. Min. Castro
Meira, julgado em 03.05.2012; ERESP 179.723/MG, 1ª S., Min. Garcia
Vieira, DJ de 25.10.2000; EREsp 149.026/AL, 1ª Seção, Min.
Humberto Gomes de Barros, DJ de 09.12.2002; AGA 512.072/SP, 1ª
T., Min. José Delgado, DJ de 01.12.2003; RESP. 652.371/PE, 2ª T.,
Min. Castro Meira, DJ de 04.10.2004; AGRESP. n. 640295/PB, 1ª T.,
Min. Luiz Fux, DJ de 22.11.2004; RESP. n. 662.397/ PE, 2ª T., Min.
João Otávio de Noronha, DJ de 01.02.2005.
3. No julgamento do RE 585.235/MG, o Supremo Tribunal Federal
apreciou o recurso extraordinário submetido a repercussão geral e
definiu que a noção de faturamento deve ser compreendida no sentido
estrito de receita bruta das vendas de mercadorias e da prestação de
serviços de qualquer natureza, ou seja, a soma das receitas oriundas
do exercício das atividades empresariais, consoante interpretação
dada pelo RE n. 371.258 AgR (Segunda Turma, Rel. Min. Cezar
Peluso, julgado em 03.10.2006), pelo RE n. 400.479-8/RJ (Segunda
Turma, Rel. Min. Cezar Peluso, julgado em 10.10.2006) e pelo RE n.
527.602/SP (Tribunal Pleno, Rel. Min. Eros Grau, Rel. p/acórdão Min.
Marco Aurélio, julgado em 05.08.2009), sendo que nesse último ficou
estabelecido que somente são excluídos do conceito de faturamento
"os aportes financeiros estranhos à atividade desenvolvida pela
empresa".
4. Sendo assim, se a correção monetária e os juros (receitas
financeiras) decorrem diretamente das operações de venda de imóveis
realizadas pelas empresas - operações essas que constituem os seus
objetos sociais - tais rendimentos devem ser considerados como um
produto da venda de bens e/ou serviços, ou seja, constituem
faturamento, base de cálculo das contribuições PIS e COFINS, pois
são receitas inerentes e acessórias aos referidos contratos e devem
seguir a sorte do principal.
5. Recurso especial não provido" (STJ, REsp 1432952/PR, Rel.
Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, DJe de
11/03/2014).

"TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL.


PRESCRIÇÃO. TRIBUTO SUJEITO A LANÇAMENTO POR
HOMOLOGAÇÃO. AÇÃO AJUIZADA APÓS A ENTRADA EM VIGOR
DA LC 118/05. PRESCRIÇÃO CORRETAMENTE FIXADA EM 5
ANOS DA DATA DO AJUIZAMENTO DA AÇÃO. AGRAVO NÃO
PROVIDO.
1. O Supremo Tribunal Federal, concluindo o julgamento do recurso

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extraordinário em que reconhecia a repercussão geral sobre a
matéria, assentou que o prazo prescricional de 5 (cinco) anos -
contado do pagamento antecipado do tributo, previsto na Lei
Complementar 118/05 - é válido para as ações de repetição de
indébito ajuizadas após 9/6/05, data de entrada em vigor do diploma
legal em tela, ainda que o pagamento indevido tenha sido realizado
anteriormente (RE 566.621/RS, Rel. Min. ELLEN GRACIE, Tribunal
Pleno, DJe 11/10/11).
2. A Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, prestigiando o
entendimento firmado pelo Supremo Tribunal Federal, na assentada
de 23/5/12, reconheceu superado o entendimento adotado nos autos
do REsp 1.002.932/SP, Rel. Min. LUIZ FUX.
3. A ação de repetição de indébito tributário, no caso, foi proposta
em novembro/08, de modo que se aplica, quanto ao prazo
prescricional, a prescrição quinquenal das parcelas
indevidamente pagas anteriormente a novembro/08.
4. Agravo regimental não provido" (STJ, AgRg no REsp 1236557/RS,
Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, PRIMEIRA TURMA, DJe de
18/12/2013).

No caso dos autos, o Tribunal de origem assim decidiu quanto à


contagem do prazo prescricional:

"Para as demandas ajuizadas até 08-06-2005, o prazo prescricional de


cinco anos para postular a restituição/compensação de créditos
tributários começa a fluir somente após a extinção definitiva do
respectivo crédito (art. 168, I, do CTN) que, nos tributos sujeitos ao
lançamento por homologação, se dá pela homologação fiscal -
expressa ou tácita - do recolhimento antecipado pelo contribuinte. Se
não houver manifestação expressa, presume-se tacitamente
homologado o pagamento (e, portanto, extinto o crédito tributário)
após cinco anos 'a contar da ocorrência do fato gerador' (art. 150, §
4º, CTN). Assim, o contribuinte que recolheu exação indevidamente,
ou a maior, tem dez anos para repetir o indébito, contados do fato
gerador se a homologação for tácita. Se esta for expressa, terá cinco
anos contados da homologação do lançamento.
Para as ações ajuizadas após 08-06-2005 - porquanto a Seção de
Direito Público do STJ, no RE nº 327.043/DF, DJ de 10-10-2005,
afastou a aplicação do art. 3º da LC 118/2005 às ações ajuizadas até
o término da vacatio legis de 120 dias - embora o prazo prescricional
de cinco anos continue a fluir da extinção do crédito tributário, esta,
por força do referido art. 3º da LC 118/2005, ocorre no momento do
pagamento antecipado de que trata o § 1º do art. 150 do CTN.
A propósito, EREsp 462.446/MA, STJ, Primeira Seção, Rel. Min. José

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Delgado, DJ de 24-10-2005.
É de ser observado, também, que a Corte Especial deste Tribunal
declarou a inconstitucionalidade da expressão 'observado, quanto ao
art. 3º, o disposto no art. 106, I, da Lei nº 5.172, de 25 de outubro de
1966-Código Tributário Nacional', constante do art. 4º, segunda parte,
da LC 118/2005 (II nº 2004.72.05.003494-7, Rel. Des. Federal Antônio
Albino Ramos de Oliveira, unânime, julgada em 16-11-2006).
No caso dos autos, como a ação foi proposta em 09-06-2010, estão
prescritos os valores recolhidos anteriormente 09-06-2005,
merecendo provimento, no ponto, o apelo da União e a remessa
oficial" (fl. 228e).

Considerando que a ação foi proposta em 09/06/2010, após à vigência


da LC nº 118/2005, desse modo, encontra-se o entendimento proclamado pelo
Tribunal de origem em conformidade com a jurisprudência do STJ, firmado no
Recurso Especial 1.269.570/MG, no sentido de que deve ser aplicado, no caso, o
prazo prescricional de 5 (cinco) anos.
Passo à análise do recurso quanto à compensação.
A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça firmou-se no sentido de
que o disposto no art. 170-A do CTN, que veda a compensação mediante o
aproveitamento de tributo, objeto de contestação judicial pelo sujeito passivo, antes
do trânsito em julgado da respectiva decisão judicial, aplica-se às demandas
ajuizadas após a vigência da Lei Complementar n. 104/01, ou seja, a partir de
11/01/2001.
Neste sentido, os seguintes julgados:

"PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. EMBARGOS DE


DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL. NATUREZA
INFRINGENTE. DECLARATÓRIOS RECEBIDOS COMO AGRAVO
REGIMENTAL. PRESCRIÇÃO. LC N. 118/2005. QUINQUENAL.
CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA A CARGO DA EMPRESA
SOBRE SALÁRIO-MATERNIDADE E FÉRIAS GOZADAS.
INCIDÊNCIA. 1/3 DE FÉRIAS. NÃO INCIDÊNCIA. APLICAÇÃO DO
ART. 170-A DO CTN.
1. Embargos de declaração recebidos como agravo regimental dado o
caráter manifestamente infringente da oposição, em observância ao
princípio da fungibilidade recursal.
2. A Primeira Seção, por ocasião do julgamento do REsp
1.230.957/RS, da relatoria do Sr. Ministro Mauro Campbell Marques,
sob o regime do art. 543-C do CPC, Dje 18/3/2014, fixou o
entendimento de que incide contribuição previdenciária sobre as
quantias pagas pelo empregador ao empregado a título de

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salário-maternidade.
3. A respeito da contribuição previdenciária patronal sobre o
pagamento realizado a título de férias gozadas e seu respectivo
adicional, tem-se que a pretensão da recorrente merece prosperar tão
somente em relação a essa segunda verba (1/3 de férias), pois, no
que se refere à primeira (férias gozadas), a jurisprudência desta Corte
apresenta orientação no sentido de que integra a base de cálculo de
referida exação.
4. Consoante entendimento pacificado na jurisprudência, o
disposto no art. 170-A do CTN, que exige o trânsito em julgado
para fins de compensação de crédito tributário, somente se aplica
às demandas ajuizadas após a vigência da Lei Complementar n.
104/01, ou seja, a partir de 11/1/2001, o que se verifica na espécie.
5. Embargos de declaração recebidos como agravo regimental, a que
se dá provimento em parte para declarar a inexistência de relação
jurídico-tributária apenas em face do adicional de 1/3 de férias" (STJ,
EDcl no REsp 1199015/PR, Rel. Ministro OG FERNANDES,
SEGUNDA TURMA, DJe de 05/12/2014).

"TRIBUTÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. CRÉDITO


PRESUMIDO DE IPI. PEDIDO DE RESSARCIMENTO.
APROVEITAMENTO OBSTACULIZADO PELO FISCO.
ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA. TERMO INICIAL. RECURSO
ESPECIAL REPETITIVO. COMPENSAÇÃO. NECESSIDADE DO
TRÂNSITO EM JULGADO. ART. 170-A DO CTN. OFENSA A
PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS. PREQUESTIONAMENTO.
INVIABILIDADE.
1. A Primeira Seção desta Corte Superior, no julgamento do REsp
1.035.847/RS, sob o rito do art. 543-C do CPC, firmou entendimento
no sentido de que o crédito presumido de IPI enseja correção
monetária quando o gozo do creditamento é obstaculizado pelo fisco.
2. Contudo, a correção monetária deve ser contada a partir do fim do
prazo que a administração tinha para apreciar o pedido, que é de 360
dias, independentemente da época do requerimento, a partir do
protocolo dos pedidos (art. 24 da Lei 11.457/07). Nesse sentido: REsp
1.138.206/RS, submetido ao rito do art. 543-C do CPC e da Resolução
8/STJ.
3. A Primeira Seção do STJ quando do julgamento, pela sistemática
do art. 543-C do CPC, do REsp 1.167.039/DF, interpretando o art.
170-A do CTN, sedimentou orientação no sentido de que "essa norma
não traz qualquer alusão, nem faz qualquer restrição relacionada com
a origem ou com a causa do indébito tributário cujo valor é submetido
ao regime de compensação".
4. No caso, a impetrante teve reconhecido o direito de serem

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"incluídos na base de cálculo do crédito presumido do IPI os valores
referentes aos insumos adquiridos de pessoas físicas e cooperativas
não contribuintes do PIS e da COFINS".
5. Aplicável à espécie a norma inserta no art. 170-A do CTN, que
exige o trânsito em julgado para fins de compensação de crédito
tributário, por se tratar de mandado de segurança impetrado já na
vigência da Lei Complementar nº 104/2001. Precedentes.
6. Não compete ao STJ examinar, na via especial, ainda que para fins
de prequestionamento, eventual violação de dispositivo constitucional,
pois esse mister é reservado ao Supremo Tribunal Federal 7. Agravo
regimental a que se nega provimento" (STJ, AgRg no REsp
1344735/RS, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA, DJe
de 20/10/2014).

In casu, a ação judicial foi proposta em 09/06/2010, após a vigência da


Lei Complementar n. 104/01, em 11/01/2001, portanto aplica-se o disposto no art.
170-A do CTN, que exige o trânsito em julgado para fins de compensação de
crédito tributário.
Quanto à compensação de créditos de natureza previdenciária, a
jurisprudência da Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça firmou o
entendimento de que não é possível a compensação de créditos tributários,
administrados pela antiga Receita Federal, com débitos de natureza previdenciária,
antes administrados pelo Instituto Nacional do Seguro Social, diante da vedação legal
estabelecida pelo art. 26 da Lei 11.457/07. Destaque-se que a citada norma criou a
Secretaria da Receita Federal do Brasil, órgão que passou a ser responsável pela
arrecadação das contribuições previstas na Lei 8.212/91, até então de competência
do INSS.
Nesse sentido, confiram-se julgados desta Corte:

"TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. SALÁRIO


MATERNIDADE. INCIDÊNCIA. MATÉRIA JULGADA SOB O RITO
DOS RECURSOS REPETITIVOS. RESP 1.230.957/RS. FÉRIAS
GOZADAS. INCIDÊNCIA. PRECEDENTE DA PRIMEIRA SEÇÃO.
COMPENSAÇÃO. TRIBUTOS ADMINISTRADOS PELA ANTIGA
RECEITA FEDERAL COM CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS.
VEDAÇÃO DO ART. 26 DA LEI 11.457/07.
1. A Primeira Seção desta Corte, no julgamento do REsp
1.230.957/RS, processado nos termos do art. 543-C do Código de
Processo Civil, firmou a compreensão no sentido de que o salário
maternidade tem natureza salarial, devendo sobre ele incidir a
contribuição previdenciária.
2. A jurisprudência desta Corte consolidou-se no sentido de que o
pagamento de férias gozadas possui natureza remuneratória, nos
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termos do art. 148 da CLT, razão pela qual sobre essa verba incide a
contribuição previdenciária. Precedente: AgRg nos EAREsp
138.628/AC, Rel. Ministro Sérgio Kukina, Primeira Seção, DJe
18/08/2014.
3. É ilegítima a compensação de créditos tributários
administrados pela antiga Receita Federal (PIS e COFINS
decorrentes de exportação) com débitos de natureza
previdenciária antes administrados pelo INSS (art. 11 da Lei
8.212/91), em decorrência da vedação legal estabelecida no art. 26
da Lei 11.457/07. Precedentes: AgRg no REsp 1.426.432/RS, Rel.
Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 07/04/2014; e
AgRg no REsp 1.276.552/PR, Rel. Ministro Sérgio Kukina, DJe
29/10/2013.
4. Agravo regimental a que se nega provimento" (STJ, AgRg no REsp
1466257/RS, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA, DJe
de 24/09/2014).

"TRIBUTÁRIO. COMPENSAÇÃO. TRIBUTOS ADMINISTRADOS


PELA ANTIGA SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL COM
CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. IMPOSSIBILIDADE. ART. 26
DA LEI N. 11.457/07.
Nos termos da jurisprudência do STJ, é impossível a
compensação de créditos tributários administrados pela antiga
Secretaria da Receita Federal com débitos de natureza
previdenciária antes administrados pelo INSS (contribuições
sociais previstas nas alíneas "a", "b" e "c" do parágrafo único do
art. 11 da Lei n. 8.212/91), ante a vedação legal estabelecida pelo
art. 26 da Lei n. 11.457/07.
Agravo regimental improvido" (STJ, AgRg no REsp 1426432/RS, Rel.
Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, DJe de
07/04/2014).

Por fim, quanto aos limites à compensação previstos nas Leis 9.032/95
e 9.129/95, a Primeira Seção desta Corte, no julgamento do Recurso Especial
796.064/RJ, submetido ao rito do Recurso Representativo da Controvérsia - art.
543-C do CPC -, proclamou o entendimento de que, "enquanto não declaradas
inconstitucionais as Leis 9.032/95 e 9.129/95, em sede de controle difuso ou
concentrado, sua observância é inafastável pelo Poder Judiciário, uma vez que a
norma jurídica, enquanto não regularmente expurgada do ordenamento, nele
permanece válida, razão pela qual a compensação do indébito tributário, ainda que
decorrente da declaração de inconstitucionalidade da exação, submete-se às
limitações erigidas pelos diplomas legais que regem a compensação tributária".
Recentemente, a Primeira Seção proferiu decisão de igual teor, in
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verbis:
"TRIBUTÁRIO. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. TRIBUTO
DECLARADO INCONSTITUCIONAL. LIMITES À COMPENSAÇÃO.
LEIS Nº 9.032/95 E Nº 9.129/95. APLICABILIDADE.
No julgamento do Recurso Especial nº 796.064, RJ, relator o Ministro
Luiz Fux, revendo orientação anterior, a Primeira Seção do Superior
Tribunal de Justiça consolidou o entendimento de que, "enquanto não
declaradas inconstitucionais as Leis 9.032/95 e 9.129/95, em sede
de controle difuso ou concentrado, sua observância é inafastável
pelo Poder Judiciário, uma vez que a norma jurídica, enquanto
não regularmente expurgada do ordenamento, nele permanece
válida, razão pela qual a compensação do indébito tributário,
ainda que decorrente da declaração de inconstitucionalidade da
exação, submete-se às limitações erigidas pelos diplomas legais
que regem a compensação tributária" (DJe de 10.11.2008).
Embargos de divergência providos" (STJ, EREsp 895.899/SP, Rel.
Ministro ARI PARGENDLER, PRIMEIRA SEÇÃO, DJe de 25/04/2014).

De outra parte, é certo que a Primeira Seção do STJ, ao julgar, sob o


rito do art. 543-C do CPC, o Recurso Especial 1.137.738/SP (Rel. Ministro LUIZ FUX,
DJe de 01/02/2010), deixou consignado que, em se tratando de compensação
tributária, deve ser considerado o regime jurídico vigente à época do ajuizamento da
demanda. Nesse sentido:

"PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO


ESPECIAL. TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO SOCIAL.
COMPENSAÇÃO. LIMITAÇÕES INSTITUÍDAS PELAS LEIS 9.032/95
E 9.129/95. OBSERVÂNCIA OBRIGATÓRIA. PRECEDENTES.
1. A orientação da Primeira Seção/STJ pacificou-se no sentido de
serem obrigatórios os limites à compensação tributária (introduzidos
pelas Leis 9.032/95 e 9.129/95), ainda que em relação a tributos
declarados inconstitucionais. Nesse sentido: EREsp 919.373/SP, 1ª
Seção, Rel. Min. Luiz Fux, DJe de 26.4.2011); REsp 1.270.989/MG, 2ª
Turma, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJe de 28.11.2011); REsp
850.072/SP, 1ª Turma, Rel. Min. Benedito Gonçalves, DJe de
23.5.2012).
2. A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que, "ajuizada
a presente demanda quando em vigor a redação do § 3º do art. 89 da
Lei 8.212/91 dada pelas Leis 9.032/95 e 9.129/95, antes, portanto, da
alteração introduzida pela Medida Provisória n. 449/2008, a limitação à
compensação tributária é de observância obrigatória" (AgRg no REsp
1.319.031/PE, 1ª Turma, Rel. Min. Sérgio Kukina, DJe de 14.11.2014).
3. Agravo regimental não provido" (STJ, AgRg no REsp 1486899/CE,
Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA,
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Superior Tribunal de Justiça
DJe de 19/12/2014).

"PROCESSO CIVIL - TRIBUTÁRIO - COMPENSAÇÃO - LIMITES -


LEI VIGENTE À ÉPOCA DA PROPOSITURA DA DEMANDA - REsp
1164452/MG - ART. 543-C DO CPC - SUFICIÊNCIA DA PRESTAÇÃO
JURISDICIONAL - HONORÁRIOS DE ADVOGADO - REVISÃO -
IMPOSSIBILIDADE - SÚMULA 7/STJ.
1. Não ocorre ofensa ao art. 535, II, do CPC, se o Tribunal de origem
decide, fundamentadamente, as questões essenciais ao julgamento
da lide.
2. Inviável o recurso especial se o exame da questão suscitada exige
revolvimento de aspectos fáticos-probatórios. Aplicação da Súmula
7/STJ.
3. Na compensação tributária efetivada por determinação judicial
aplica-se a lei vigente à época da propositura da demanda quanto aos
requisitos a serem observados para a validade do encontro de contas.
Precedente julgado segundo o rito dos recursos representativos: REsp
1164452/MG, rel. Min. Teori Zavascki.
4. Recurso especial da Associação dos Auditores Fiscais da Receita
Federal do Brasil em Minas Gerais conhecido em parte e, nessa parte,
não provido.
5. Recurso especial da Fazenda Nacional provido" (STJ, REsp
1269171/DF, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA,
DJe de 19/04/2013).

Depreende-se, dos julgados acima, que as limitações à compensação,


previstas no art. 89, § 3º, da Lei 8.212/91 – instituídas pelas Leis 9.032/95 e 9.129/95
– devem ser aplicadas às demandas ajuizadas no período de vigência das citadas
normas.
No presente caso, a petição inicial foi protocolada em 09/06/2010 (fl.
1e), ou seja, após a entrada em vigor das Leis 9.032, de 28/04/1995 e 9.129, de
20/11/1995, mas após a alteração introduzida pela Medida Provisória n. 449/2008,
que revogou o § 3º do art. 89 da Lei 8.212/91.
Nesse contexto, não há que se falar em limitação à compensação
tributária, eis que a ação foi ajuizada posteriormente à revogação do § 3º do art. 89
da Lei 8.212/91.

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Superior Tribunal de Justiça
Ante o exposto, de acordo com o art. 557, § 1ª-A, do CPC, dou parcial
provimento ao Recurso Especial, para afastar a aplicação do § 3º do art. 89 da Lei
8.212/91, no que se refere à compensação das contribuições previdenciárias
recolhidas indevidamente, reconhecidas pelo Tribunal de origem.
I.
Brasília (DF), 25 de março de 2015.

MINISTRA ASSUSETE MAGALHÃES


Relatora

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