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ANÁLISE DE FILME

O documentário da TV Escola “A vida examinada – Sócrates” apresenta parte da


história de um dos maiores filósofos do período clássico da Grécia Antiga, Sócrates (c. 470-399
a.C), lançado em 2011 sob direção geral de José Geraldo Oliveira, com duração de 46
minutos. Tem como ideia central abordar o que é filosofia sob ponto de vista filosófico
socrático, como funciona, aplicabilidades em diferentes áreas do conhecimento e quão
contemporânea são suas ideias, pois os personagens coadjuvantes aparecem na trama com
trajes diferentes da época sugerida, apenas o personagem principal Sócrates usava vestes que
caracterizava a Grécia Antiga.
No primeiro momento do referido filme, é apresentada a metáfora “O mito da
caverna” baseada num diálogo entre Gláuco, escrita por Platão a fim de debater sobre
ignorância versus aprendizado/conhecimento. Cabe ressaltar que Sócrates nada escreveu, pois
acreditava que a filosofia devia ser praticada oralmente. Durante todo filme, o personagem de
Sócrates foi o que mais me chamou atenção e também Platão, seu aprendiz, que na minha
interpretação ora aparece como a figura de um historiador registrando as ideias e biografia de
seu mestre Sócrates, ora como filósofo, pois também pensava e repensava a respeito do que
“aprendia” formando sua própria concepção.
Na parábola da caverna, Sócrates propõe a Glauco que imaginasse uma estória na qual
há um grupo de humanos numa caverna na condição de prisioneiros, nascidos e crescidos ali,
acorrentados de modo que permanecem sempre virados para o fundo da caverna,
impossibilitando-os de virar-se e observar diretamente o que ocorria ao seu redor, guiando-se
apenas por ecos e sombras projetadas de fora da caverna. O interessante é que neste ponto da
estória, Glauco afirma que os prisioneiros eram “seres estranhos” e então Sócrates rebate
dizendo que eles são semelhantes aos prisioneiros, porém, Glauco não se reconhece como um
dos prisioneiros por classificá-los como selvagens e ignorantes.
Eis que um dia, um dos prisioneiros consegue se libertar das correntes. Ao sair das
sombras e ver o mundo que existia para além das projeções da caverna (ilusão de ótica), passa
por processos de adaptação e percepção daquela nova realidade. Ao retornar para a caverna e
relatar a experiência, expondo sua nova visão de mundo, os que permaneceram na escuridão o
julgariam como louco, pois era algo que eles não conheciam. Em outra situação hipotética,
coloca-se que o indivíduo seja obrigado a sair da caverna, nessa situação poderia ocorrer uma
resistência ao processo transformador da percepção da realidade, por ser doloroso e lento
podendo levar o indivíduo a rejeitar o mundo real e preferir viver nas sombras por acreditar
que o reflexo e os ecos da caverna é a realidade verdadeira.
Nesse momento o que Platão quis evidenciar é que, segundo Sócrates, somos reflexos
do que aprendemos. Nossas ações, pensamentos, crenças e estilo de vida são orientados por
padrões culturais ao qual fomos criados e moldados o que nos assemelharia aos prisioneiros
da caverna que não saíram das sombras, tidos como ignorantes por Gláuco, diferentemente do
prisioneiro que ao sair do seu mundo limitado da caverna passa por um processo de adaptação
e adquire nova visão de mundo. A nova realidade, conhecimentos e experiências provocaram
inquietações sobre o que é real, ampliando assim a concepção de mundo. Por isso a
importância de questionarmos o que nós entendemos como real ou correto e quais critérios
estabelecidos para tal. Na filosofia o conhecimento racional (mundo das ideias, questionar a
realidade através da reflexão crítica) se sobrepõe ao conhecimento comum (o mundo das
sombras, comparado à caverna, concepção limitada).
Num segundo momento do filme é abordado o método socrático, baseado na dialética.
Tal método surge quando Sócrates, ao ser nomeado o mais sábio dos homens pelo Oráculo de
Delfos, decide interrogar os homens tidos como sábios, que a propósito cobravam um preço
alto por seus ensinamentos, e comprovar que o Oráculo estava equivocado, pois ele não se
considerava sábio. Ao confrontar os sábios de Atenas Sócrates constata que estes apenas
reproduziam o que lhes fora ensinado e que na verdade não detinham conhecimento, mas sim
um conjunto de informações. E sua busca por alguém realmente sábio, Sócrates foi acusado
de ateísmo, de sabotar a fé dos deuses tradicionais e corromper a juventude de Atenas e
condenado à morte. Para ele, uma vida sem ser examinada não valia ser vivida e mantinha-se
fiel aos próprios pensamentos, busca constante da verdade, pois não há uma certeza absoluta.
É a partir de Sócrates que a filosofia adquire um perfil mais antropológico ao
questionar sobre aspectos da humanidade: piedade, amor, para que serve política, o que é
justiça entre outros. O método socrático possibilita um processo reflexivo racional em que a
sabedoria pode ser alcançada através do pensamento crítico individual. Assim, as perguntas
constituem a base da filosofia e do método socrático para tentar explicar fatos através de
argumentos racionais.

REFERÊNCIAS 

A Vida Examinada – Sócrates. (Completo). Youtube, 19 de fev. de 2011. Disponível em:


https://www.youtube.com/watch?v=KcujZd3JDtg

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