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Este é o resumo da terceira live da Semana SOS Quarentena, que foi criada com
o objetivo de tornar mais leve a sua quarentena com filhos. Reunimos os temas
mais urgentes, e uma das coisas que mais pediram é a questão dos filhos não
ouvirem os pais.
É fundamental entender que precisamos enxergar as situações pelos olhos da
criança. Para isso, nada melhor do que lembrar de quando nós éramos crianças.
Chamar sua criança interior ajudar muito a compreender o seu filho e a ter mais
empatia por ele.
Boa leitura!
1. Obediência;
2. Expectativas irreais sobre as crianças;
3. Comunicação para bebês e crianças mais velhas.
Essa divisão irá facilitar bastante para entender a questão de forma mais
profunda.
A educação tradicional, da qual a maioria de nós veio, enxerga a primeira como
uma oportunidade de prevenir um monte de problemas na vida da criança,
ensinar limites, colocar informações na cabeça dela e controlá-la para não se
tornar uma tirana, mimada.
Esse conceito de controle sobre a criança traz muito peso ao adulto porque
presume que a criança precisa ser domada, subestimando-a e afirmando que
você precisa controlá-la antes que ela te controle.
Existe, ali, uma superioridade hierárquica dos pais sobre as crianças que
resultado na obediência e um objetivo: ter uma criança calma, que nunca chora
ou grita.
Mas é curioso que o mercado de trabalho quer pessoas proativas, criativas,
espontâneas, comunicativas, dinâmicas, corajosas, responsáveis, com
inteligência emocional…
Como uma pessoa que cresce sempre na obediência vai desenvolver isso tudo?
Ao contrário, uma pessoa obediente vai sempre fazer o que as outras mandam.
Obedecer se torna um hábito, e a única maneira de fazer alguma coisa é
esperando alguém dar ordens.
Vale lembrar que querer obediência da criança é uma luta por poder. Estamos
perdendo muitas oportunidades de dar uma educação melhor para ela quando
fazemos isso.
A lógica da criação tradicional é que alguém precisa mandar e outra pessoa,
obedecer. Sem isso, a criança certamente se tornará “mimada”, “birrenta”, e por
aí vai.
Dizem que a próxima geração será insuportável porque entendem que, se não
há violência por parte dos pais, a criança ganhou a disputa por poder. Além
disso, também argumentam que, sem a violência, não é possível dar limites à
criança.
Quando começamos a entender isso, fica uma pergunta: será que o seu filho
não está realmente te ouvindo ou apenas não está te obedecendo?
Provavelmente, se a criança não fez o que você falou para ela fazer, ela (1) não
tem idade para entender ou (2) tem outras necessidades mais importantes
naquele momento.
Na visão tradicional, o adulto é o centro da primeira infância, responsável por
tudo: se a criança está andando, se já desfraldou, se está comendo bem etc.
Esse peso sobre o adulto é muito grande porque ele se torna, no lugar da
criança, o centro das atenções de todo o processo.
Tudo se torna uma provocação, um teste que a criança está fazendo. Então, se
ela não entende alguma coisa, você se estressa quando, na verdade, deveria
continuar a repetir, mesmo que por muitas vezes.
Alimentamos muitas expectativas irreais sobre a criança e, por isso, não
conseguimos entender, por exemplo, a importância de repetir as coisas que
falamos. Se a criança não precisasse repetir para aprender, nunca iria aprender
nada.
Por isso afirmo que bater e castigar não tem efeito. A criança não está sendo
teimosa; ela está apenas sendo criança.
Dê um jeito de repetir, explicar de outras maneiras e não se sinta pessoalmente
magoada por não ter sido obedecida.
A partir daí, começa uma atmosfera de estresse na casa porque a criança
também passa a se sentir mal pelas críticas, brigas etc. É um ciclo que se
retroalimenta: a criança faz algo de que você não gosta, você se estressa, briga
com ela, e a reação dela gera estresse em você e nela mesma.
Lembre-se de que você é a pessoa madura da situação, e essa responsabilidade
é sua. Portanto, ouça o que a criança tem a dizer, entenda por que ela está tão
triste e seja o porto seguro de que ela precisa para se recuperar e ser ela
mesma na sua presença.
Quando começamos a enxergar a situação com os olhos da criança, começamos
a entender que o “chorar por tudo” é uma forma de te avisar sobre uma
necessidade dela naquele momento.
Também é fundamental entender que, por trás de todo comportamento, existe
uma necessidade. Por exemplo, se eu disser que uma amiga está chorando por
tudo, as pessoas vão dizer que ela precisa de ajuda, apoio, não está se sentindo
amada etc.
Por que é diferente com as crianças? Muitas vezes, se trocarmos o adulto da
situação por uma criança, nossa percepção muda completamente.
Exemplo do Théo: demoramos um pouco mais para parar de trabalhar hoje.
Antes de dormir, o Théo queria conversar e estava puxando assunto com muita
empolgação, mas o Gael estava com sono. Na hora de entrar no quarto, quando
o Gael já estava entrando no sono, o Théo continuou falando.
Isso me irritou, e pensei: “Mas eu falei quantas vezes?” Essa foi a minha reação
automática, de achar que a criança não está me obedecendo simplesmente
porque não quer.
Então, eu penso que esse sentimento não é sobre ele. Estou acionando o leão
porque não estou conseguindo me controlar. Por isso, é importante usar
exercícios que facilitam esse autocontrole.
Entendi que o Théo tinha passado o dia inteiro sem conversar conosco, aquele
momento de conexão porque estávamos trabalhando. Quando ele chegou ao
quarto, o balde da atenção só estava meio cheio.
Ele não iria conseguir dormir com a euforia de querer contar algo que aconteceu
durante o dia, principalmente sobre um episódio de Pokémon, sobre o qual ele
gosta de conversar com o Saed. Pensei: “Tô tirando o momento dele de
conversar com o pai sobre isso”
Se você sempre interrompe a criança, ela aprende também a fingir que está
ouvindo você e apenas dizer: “Aham, mamãe” e voltar a fazer o que estava
fazendo.
Ou vai piorar o comportamento ou terá uma tendência depressiva. Isso lembra
aquelas crianças educadas, que “não dão um pio”: elas estão anuladas, não
estão realmente vivendo a infância.
Então, depois de explicar os conceitos da educação tradicional sobre a criança
te ouvir, vamos explicar de fato o que isso significa.
Em relação aos bebês, duas coisas ajudam muito neste sentido: (1) ajudá-los a se
conectarem com você, evitando a atenção difusa e ficando de fato na sua
presença, (2) comunicação não-verbal, com mais gestos e expressões faciais e
menos palavras.
Para falar de assuntos mais sérios, como não bater no amigo, você também
pode seguir os três passos: conversar durante o dia sobre o assunto, contar uma
história inventada sobre isso e falar sobre isso durante o sono REM.
Sobre os mais velhos, busque se certificar de que eles estão ouvindo você.
Abaixe até a altura deles e diga: “Filho, você está me ouvindo?” ou comece
frases para eles terminarem.
Não é gritando que isso deve acontecer, mas se conectando à criança,
mostrando empatia e capacidade de entender.
Não leve tudo para o lado pessoal! Mantenha sua calma e foque em explicar à
criança de forma que ela entenda.
Quando a criança se sente incluída na conversa, tudo muda! Por isso é
fundamental aprender a escutá-la e não se colocar no centro de todos os
assuntos.
Com carinho,
Nanda Perim
nandaperim@psimama.com.br