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Aterro sanitário para disposição final de resíduos sólidos domiciliares do município de São Carlos/SP

Estudo de impacto Ambiental – EIA

7.4 ELEMENTOS DO PROJETO

7.4.1 DESCRIÇÃO DO MACIÇO DE RESÍDUOS

O maciço de resíduos será construído em uma área total de 219.234,48 m2,


compreendendo um total de 9 células de corte do terreno natural e 9 patamares de
resíduos.
A locação e dimensões das células de corte foram projetadas observando-se ao
posicionamento quanto à distância recomendada de cursos d’água e a escavação em
solo, evitando-se o desmonte de rochas no subsolo. As dimensões da célula de corte são
apresentadas na tabela 7.9. Em todas as células os taludes de corte têm inclinação 1:1.

Tabela 7.9: Dimensões das células de corte

Área Superior Altura


Célula de Corte
(m²) (m)

I 17.102,42 4,50

II 26.462,41 4,30

III 27.558,20 4,40

IV 25.643,27 4,40

V 26.605,59 5,20

VI 26.182,07 5,20

VII 24.918,93 5,20

VIII 22.136,27 5,20

IX 22.625,32 5,20

Os patamares de resíduos foram projetados em função da locação das células de


corte, apresentando taludes com inclinação de 1:3.
Todos os detalhes das células de corte e dos patamares de resíduos estão
presentes nos desenhos das pranchas PG – 08 a 16, presente no Anexo C.

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7.4.2 AVALIAÇÃO E COMPROVAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE ESTABILIDADE


FÍSICA DO MACIÇO

7.4.2.1 Introdução

Este item apresenta os resultados das análises geotécnicas de estabilidade dos


taludes do novo Aterro Sanitário Municipal de São Carlos-SP. Estas análises visam
avaliar e comprovar as condições do aterro sanitário que será construído.

7.4.2.2 Levantamentos Planialtimétrico e Geotécnico


O projeto de implantação do Aterro Sanitário Municipal de São Carlos permitiu
identificar duas seções transversais consideradas mais críticas em relação à estabilidade
(AA e BB). A Figura 7.2 apresenta a planta do aterro sanitário e a locação das seções
AA e BB.

Figura 7.2 - Planta topográfica com a implantação do Aterro Sanitário e a locação das seções
transversais (A-A e B-B) que foram objeto de verificações geotécnicas de estabilidade.

O estudo do terreno de fundação fundamentou-se em resultados de investigações


geotécnicas realizadas no local (11 furos de sondagens a trado) pela empresa Geoinvest
Investigações Geológicas Ltda. Especificamente na região do aterro sanitário foram
realizadas 5 sondagens a trado (ST 02, 03, 04, 05 e 09). Os boletins das investigações
geotécnicas encontram-se em relatório específico.

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7.4.2.3 Resultados das Investigações Geotécnicas

As sondagens realizadas no local de implantação do novo Aterro Sanitário


Municipal de São Carlos representaram o perfil de subsolo característico da cidade São
Carlos, ou seja, uma camada superficial de sedimento cenozóico, abaixo desta uma
linha de seixos e subsequente camada de solo residual da Formação Serra Geral.
O sedimento cenozóico é o produto do retrabalhamento dos materiais da
Formação Serra Geral, através de um pequeno transporte em meio aquoso de “razoável”
competência e depositados em forma de aluviões e coluviões. Estes solos mostraram-se
com textura tipicamente argilosa. A ação do intemperismo, sob condições climáticas
típicas da região, provoca neste material o processo de laterização.
A linha de seixos é uma indicação segura e útil na identificação do contato entre
o sedimento cenozóico e o solo subjacente, constituído por solo residual da Formação
Serra Geral.
A sondagem ST-03, representativa do terreno de fundação do local, foi realizada
ao longo de 10,80 metros de profundidade e apresenta a seguinte sequência média de
subsolo:

- 0 a 5,50 m: camada superficial de argila muito siltosa, pouco arenosa,


vermelha escura. O limite basal deste material é bem definido pela ocorrência deste tipo
de solo, juntamente com pedregulhos (cascalhos). Estas evidências confirmam o caráter
de solo transportado (colúvio);

- 5,50 a 6,40 m: Argila muito siltosa, pouco arenosa, com pedregulhos


(cascalhos), vermelha escura com manchas variegadas;

- 6,40 a 10,80 m: Silte pouco argiloso, variegado – solo residual de basalto –


Formação Serra Geral.

O nível d’água não foi encontrado nas investigações geotécnicas realizadas.

A partir dos resultados das investigações geotécnicas realizadas o solo de


fundação do aterro de resíduos foi dividido em dois horizontes distintos, ou seja, uma
camada superficial de sedimento cenozóico com 5,50 m de espessura (Solo A),
sobrejacente a uma camada, de mesma espessura, de solo residual da Formação Serra
Geral (Solo B). Na sequência considerou-se o impenetrável.
Para a definição dos parâmetros geotécnicos do terreno de fundação recorreu-se
ao capítulo “Propriedades Geotécnicas do Sedimento Cenozóico”, de Giacheti, L.H. e

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outros, publicado em 1993, no livro Solos do Interior de São Paulo, editado pela
Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e pelo Departamento de Geotecnia da
Escola de Engenharia de São Carlos. Neste trabalho são apresentados os resultados de
ensaios de campo e de laboratório, realizados no Campo Experimental da USP – São
Carlos. Sendo assim, os parâmetros geotécnicos atribuídos para os solos de fundação
encontram-se apresentados na Tabela 7.10.

Tabela 7.10 - Parâmetros geotécnicos adotados para os solos de fundação


Solo (kN/m3) c’ (kPa) ’(kPa)
A-Sedimento
16,0 5,0 25,0
Cenozóico
B-Solo residual
18,0 25,0 27,0
(Serra Geral)
Em que:  é o peso específico; c’ é a coesão efetiva e ’ é o ângulo de atrito efetivo.

Para avaliação dos parâmetros geotécnicos do maciço do aterro sanitário


recorreu-se ao trabalho “Mechanical Properties of Municipal Solid Waste”, de Vilar,
O.M e Carvalho, M.F (2004), publicado no Journal of Testing and Evaluation, Vol. 32,
No.6, da American Society of Testing Materials e aos resultados de retro-análise com
base em dados coletados em campo no Aterro Bandeirantes, do Município de São
Paulo. Baseado nesta experiência foi adotado o peso específico (γ) de 12 kN/m3 e a
seguinte envoltória de resistência ao cisalhamento efetiva do resíduo:

s' = 13,5 + σ’ tg 22o [kPa].

No contato do terreno natural com o aterro de resíduos foi considerada a


utilização de uma barreira impermeável (geomembrana de PEAD). Para representar o
provável plano de deslizamento no contato geomembrana-resíduo foi utilizada a
seguinte envoltória de resistência:

s’ = σ’ tg 12º [kPa].

7.4.2.4 Análises de Estabilidade

As análises de estabilidade foram processadas utilizando-se o programa SlopeW


for Slope Stability Analysis, versão 4.22, elaborado pela Geo-Slope International, de

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Calgary, Alberta, Canadá (1.995). Este programa analisa simultaneamente os métodos


de Fellenius, Bishop, Janbu e mais outro método escolhido pelo usuário (no caso o
Método de Spencer).
As análises foram processadas para as duas seções transversais consideradas,
que estão apresentadas nas Figuras 7.3 e 7.4.

80
ELEVAÇÃO (m)

70 ATERRO DE RESÍDUO
60
1
50
SOLO A
40 SOLO B
3
2 GEOMEMBRAMA PEAD
30
4
20
IMPENETRAVEL 5
10
0
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450

DISTÂNCIA (m)
Figura 7.3 - Seção transversal A-A’.

80
70
ELEVAÇÃO (m)

60 GEOMEMBRAMA PEAD
ATERRO DE RESÍDUO
50
40
30
20 SOLO A
SOLO B
10
IMPENETRAVEL
0
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 240 260 280 300 320 340 360

DISTÂNCIA (m)
Figura 7.4 - Seção transversal B-B’.

O aterro de resíduo será alteado até a cota 872,0 m. O projeto prevê a execução
de bermas de equilíbrio com 7,0 m de largura e inclinação de 2,0%. Os taludes serão
executados com inclinação 3:1 (H:V) e os lances apresentam altura máxima de 7,30 m.
Os resultados das análises de estabilidade, expressos em fatores de segurança,
foram comparados com o valor mínimo recomendado pelo U.S. Corps of Engineers e
adotado pela ICOLD – International Commission on Large Dams, para o projeto de
barragens, ou seja, de 1,5, para a condição de regime permanente.
As análises de estabilidade foram realizadas considerando duas situações
distintas:

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• Situação 1: maciço de resíduos sólidos em condição drenada;


• Situação 2: considerando um nível d’ água (NA) empoleirado estático a 6,0
metros da crista do talude. Vale a pena ressaltar que a posição do NA foi
estimada e que a sua correta localização só poderá ser comprovada a partir da
instrumentação com piezômetros e medidores de nível d’água.

7.4.2.5 Resultados das Análises

As análises foram processadas para as duas seções transversais consideradas. Os


resultados das verificações geotécnicas foram os seguintes:

• Situação 1 (Maciço de resíduos sólidos em condição drenada):

- Seção A-A
A Figura 7.5 apresenta a geometria, os horizontes de solo e as malhas de centro e
de raios utilizados como entrada para o processo de cálculo computacional da seção
transversal A-A.

MALHA DE CENTROS

80
ELEVAÇÃO (m)

70 AT ERRO DE RESÍDUO
60
1
50
SOLO A
40 SOLO B
3
2 GEOMEMBRAMA PEAD
30
4
20
IMPENETRAVEL
5
10
0
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450

DISTÂNCIA (m)

Figura 7.5 - Dados de entrada para a verificação da seção transversal A-A (Situação 1).

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Na Figura 7.6 é apresentado o resultado da análise de estabilidade realizada para


a seção transversal A–A.

MALHA DE CENTROS
2.013

80
70 ATERRO DE RESÍDUO
ELEVAÇÃO (m)

60
50
SOLO A
40 SOLO B GEOMEMBRAMA PEAD
30
20
IMPENETRAVEL
10
0
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450

DISTÂNCIA (m)
Figura 7.6 - Resultado da verificação geotécnica de estabilidade para a seção transversal A-A
(Situação 1).

A superfície crítica de ruptura mostrada na Figura 7.6 apresenta fator de


segurança igual a 2,013 > 1,5. A análise realizada mostra que o círculo de ruptura
crítico tangenciou a interface geomembrana-resíduo e que o talude do aterro de resíduos
sólidos apresenta estabilidade satisfatória.

- Seção B-B:
A Figura 7.7 apresenta a geometria, os horizontes de solo e as malhas de centro e
de raios utilizados como entrada para o processo de cálculo computacional da seção
transversal B-B.

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MALHA DE CENTROS

80
70
ELEVAÇÃO (m)

60 GEOMEMBRAMA PEAD
ATERRO DE RESÍDUO
50
40
30
20 SOLO A
SOLO B
10
IMPENETRAVEL
0
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 240 260 280 300 320 340 360

DISTÂNCIA (m)

Figura 7.7 - Dados de entrada para a verificação da seção transversal B-B (Situação 1).

Na Figura 7.8 é apresentado o resultado da análise de estabilidade realizada para


a seção transversal B–B.

1.780
MALHA D E CENTROS

80
70
ELEVAÇÃO (m)

60 GEOMEMBRAMA PEAD
ATERRO DE RESÍDU O
50
40
30
20 SOLO A
SOLO B
10
IMPENETRAVEL
0
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 240 260 280 300 320 340 360

DISTÂNCIA (m)
Figura 7.8 - Resultado da verificação geotécnica de estabilidade para a seção transversal B-
B (Situação 1).

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A superfície crítica de ruptura mostrada na Figura 7.8 apresenta fator de


segurança igual a 1,780 > 1,5. A análise realizada mostra que o círculo de ruptura
crítico também também tangenciou a interface geomembrana-resíduo e que talude do
aterro de resíduos sólidos apresenta estabilidade satisfatória.

• Situação 2 (Nível d’água empoleirado estático a 6,0 m da crista do aterro):

A Figura 7.9 apresenta o resultado da análise de estabilidade realizada para a


seção transversal A–A, considerando a Situação 2.

MALHA DE CENTROS

1.515

ATERRO DE RESÍDUO NÃO SATURADO

80
70 ATERRO DE RESÍDUO SATURADO
ELEVAÇÃO (m)

60 5
6
50
SOLO A
40 SOLO B
2
1 GEOMEMBRAMA PEAD
30
3
20
IMPENETRAVEL
4
10
0
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450

DISTÂNCIA (m)

Figura 7.9 - Resultado da verificação geotécnica de estabilidade para a seção transversal A-A
(Situação 2).

A Figura 7.10 apresenta o resultado da análise de estabilidade realizada para a seção


transversal B–B, considerando a Situação 2.

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Malha de Centros

1.510

80
70 ATERRO DE RESÍDUO NÃO SATURADO
ELEVAÇÃO (m)

60 GEOMEMBRAMA PEAD
50 ATERRO DE RESÍDUO SATURADO
40
30
20 SOLO A
SOLO B
10
IMPENETRAVEL
0
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 240 260 280 300 320 340 360

DISTÂNCIA (m)

Figura 7.10 - Resultado da verificação geotécnica de estabilidade para a seção transversal B-B
(Situação 2).

As verificações geotécnicas de estabilidade, considerando a Situação 2, realizadas


para as seções transversais A-A e B-B apresentaram fatores de segurança (FS) iguais a
1,515 e 1,510, respectivamente. Estes fatores de segurança atendem ao mínimo estabelecido
(1,5) e, portanto, conclui-se, que o aterro de resíduos apresenta estabilidade satisfatória.

7.4.2.6 Conclusões e Recomendações

1. As seções transversais analisadas (A-A) e (B-B) atendem ao fator de


segurança mínimo recomendado (FS ≥ 1,5) considerando as situações analisadas (1 e 2).
Portanto, conclui-se que os taludes projetados para a implantação do aterro sanitário
apresentam estabilidade satisfatória.
2. A posição do nível d’água estático foi estimada. Deve ser realizado o
monitoramento do aterro por meio de inspeção visual e instalação, leituras e
interpretação de instrumentação, conforme especificado no plano de monitoramento
geotécnico. A partir dos resultados da instrumentação, novas análises de estabilidade deverão
ser realizadas para a confirmação das premissas assumidas nas presentes análises.
3. Recomenda-se que os taludes de resíduo tenham inclinação máxima de 3:1
(H:V) e sejam protegidos com revestimento vegetal e drenos de superfície. Estas
intervenções visam evitar instabilidades (rupturas) no corpo do aterro.

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