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108 Elementos da Natureza e Propriedades dos Solos

4.2 A TEXTURA DO SOLO (DISTRIBUiÇÃO DAS PARTíCULAS,


DE ACORDO COM O SEU TAMANHO)
Conhecer as proporções dos diferentes tamanhos das partículas existentes no solo (i. ~., a tex-
tura do solo) é fundamental para entendermos o seu comportamento e melhor mànejá-lo.
Quando se investigam os solos de determinado local, a textura dos seus vários horizontes é
frequentemente a primeira e mais importante propriedade a ser determinada, pois a partir dela
pode-se chegar a muitas conclusões. Além disso, no campo, a textura do solo não está facilmen-
te sujeita a mudanças, de forma que ela é considerada uma propriedade permanente do solo.

-A natureza dos separados do solo


_ Solo como revestimento Os diâmetros das partículas individuais do solo variam em uma escala de seis ordens
de bolas de beisebol, por de magnitude, desde matacões (> 1 m, ou boulderes) até as argilas submicroscópicas
Lesley Bannatyne: (<10-6 fi). Os pesquisadores agrupam essas partículas nas frações do solo de acordo
www.csmonitor. com vários sistemas d e c1assifircação, como i Iustra d o na Figura 4 .1. O sistema d e cIas-
com/2005/1018/p18s02-
hfks.html?s5widep --siflcação estabelecido pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos é usado
neste texto. As faixas de tamanho para essas frações não são puramente arbitrárias,
pois reflerem as principais mudanças no modo como as partículas se iomportam e nás pro-
priedades.físicas que elas imprimem ao solo. I--
Cascalhos, seixos, matacões e outros fragmentos grosseiros maiores do que 2 mm de
diâme~éo podem afetar o comportamento de um solo, mas não são considerados como parte
da terra fina seca ao ar (TFSA), à qual o termo textura do solo melhor se aplica.
Areia As partículas menores que 2 mm, contudo maiores que 0,05 mm, são denominadas
areia. Elas dão uma sensação áspera entre os dedos (sensação de textura grosseira, arenosa). As
partículas são, em parte, visíveis a olho nu e podem ser arredondadas ou angulares, dependen-
do do grau de intemperismo e abrasão a que foram submetidas. As partículas de areia grossa

podem ser fragmentos de rocha contendo vários minerais, mas a maioria dos grãos de areia
consiste em um único mineral, geralmente o quartzo (Si02), ou outros minerais primários
silicatados (Figura 4.2). A dominância do quartzo significa que a fração areia geralmente con-
tém poucos nutrientes para as plantas.



Figura 4.1\ Classificação das partículas de solo, de acordo com os tamanhos. A escala sombreada, no centro, e os
nomes sobre os desenhos das partículas seguem o sistema do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos
(USDA),amplamente utilizado no mundo e adotado neste livro. Os outros dois sistemas mostrados são também am-
plamente utilizados por estudiosos do solo e e-rigenheiros civis. O desenho (no~ a escala) ilustra o tamanho das fra-
ções do solo. (Diagrama: cortesia de R. Weil!
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Capítulo 4 Arquitetura e Propriedades Ffsicas do Solo 109

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_ Argila Silte Areia

Figura 4.2 Relação geral entre o tamanho das partículas e os tipos de.minerais presentes. O quartzo predomina na
areia e nas porções mais grosseiras do silte. Os minerais primários silicatados, como feldspato, hornblenda e micas,
est~o presentes n~s a~eiélse, em quantidades menores, na fração silte. Os minerais secundários silicatados predomi-
nam na fração argila. Outros minerais secundários, como os óxidos de ferro e de alumínio, são importantes constituin-
tes das frações silte fino e argila grossa. (Diagrama:
cortesiade N. C. Brady)

Como as partículas de areia são relativamente grandes, os poros deixados entre elas tam-
bém o são. Esses poro~1grandes não podem reter água contra a ação da força da gravidade (S~-
ção 5.2) e, portanto, drenani rapidamente e facilitam a entrada de ar no solo. A relação entre o
tamanho da partícula e a área superficial específica ou, simplesmente, superfície específica
(a área superficial para uma dada massa de partículas) é ilustrada na Figura 4.3. As partícuLas
de areia, pelo seu tamanho relativamente grande, têm baixa superfície específica, possuindo
pouca capacidade de reter água ou nutrientes, e não aderem uma às outras em uma massa
coerente (Seção 4.9). Devido às propriedades que acabamos de descrever, os solos arenosos são
bem-arejados e soltos, mas também inférteis e propensos à seca.
Silte As partículas menores que 0,05 mm, porém maiores que 0,002 mm de diâmetro, são
classificadas como si/te. Apesar de essas partículas serem semelhantes às areias, tanto na forma
como na composição mineral, são tão pequenas que são invisíveis a olho nu (Figura 4.2). Em
vez da sensação áspera e arenosa quando esfregada entre os dedos, a sensação do silte é de
maciez ou sedosidade, como a produzida pela farinha de trigo. Quando o silte é composto
de minerais intemperizáveis, o tamanho relativamente pequeno das partícuLas (e de maior
superfície específica) permite um intemperismo rápido o suficiente para liberar quantidades
significativas de nutrientes para as plantas.
Em um material de solo siltoso, os poros entre as partículas são muito m;enores (e muito
inais numerosos) do que em um material arenoso, portanto o silte retém mais-água e tem uma
menor capacidade de drenagem. No entanto, mesmo quando úmido, por si só, não exibe
muita pegajosidade ou plasticidade (maleabilidade). A maior parte da pequena plasticida-
de, da pouca coesão e da baixa capacidade de adsorção que a fração silte exibe é decorrente
de uma pelícuLa de argila que a ele se adere (Figura 2.14). Devido à sua baixa pegajosidade e
plasticidade, os solos com alto conteúdo de silte e areia fina podem ser altamente suscetíveis à
erosão, tanto pelo vento como pela água.
Argila As partículas de argila são menores do que 0,002 mm. Portanto, elas têm área super-
ficial específtca dlUitO grande, o que lhes dá uma enorme capacidade de adsorver água e outras
substâncias. Uma colher de argila pode ter uma área superficial do tamanho de um campo de
futebol (Seção 8.1). Essa grande superfície adsprtiva faz com que as partícuLas de argila for-
mem uma massa coesa quando seca. Quando úmida, a argila é pegajosa e pod.e-ser facilmente
moldada (i. e., apresenta alta plasticidade).

110 Elementos da Natureza e Propriedades dos Solos
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Argila. Silte • , Areia • ~ascafh~
Tamanho da partfcula (largura) de cada cubo (mm)

Figura 4.3 Relação entre a área superficial e o tamanho da partícula. Considere um cubo de 8 m'1"de aresta e 1,3 g de
massa. (a) Cada lado possui 64 mm2 de área superficial. O cubo tem seis lados, com área superficia,1total de 384 mm 2 (6
lados x 64 mm 2 de cada face) ou uma área específica de 295 cm2/g (384/1,3). Se o mesmo cubo for dividido em cubos
menores, de modo que éada um tenha' 2 mm de lado (b), o mesmo material será agora representado por 64 (4 X 4 X 4)
cubos menores do tamanho de areias. Cada lado do cubo pequeno terá 4 mm2 (2 mm X 2 mm) de área superficial, resul-
tando em 24 mm 2 de área ~uperficial (6 lados X 4 mm2de cada face). A área superficial total será de 1.536 mm 2 (24 mm2
x 64 cubos) ou uma superfície específica de 1.182 mm2/g (1.536/1,3). Deste modo, a área superficial deste cubo será
quatro vezes maior do que a área superficial do ,cubo maior. (c)A curva da área superficial específica (ou superfície espe-
cífica) explica por que quase toda a capacidade'de adsorção, expansão, plasticidade, aquecimento e outras proprieda-
des relacionadas à área superficial, nos solos minerais, estão associadas à fração argila. (Diagrama: cortesia de R. Weil)

.As partículas de argila de tamanho menor - ou argila fina* - são tão pequenas que se com-
portam como coloides - se suspensas na água, não sedimentam rapidamente. Ao contrário
das partículas de'areia e de silte, as de argila têm um formato de lâminas (ou placas) finas e
achatadas. Entre as partículas de argila, os poros são muito pequenos e tortuosos, o que faz
com que, entre elas, o movimento da água e do ar seja muito lento. Nos solos argilosos, os
poros entre as partículas têm tamanho muito pequeno, mas são numerosos, permitindo que o
solo retenha bastante água; porém, a maior parte dessa água pode não estar disponível para as
plantas (Seção 5.8). Cada tipo de mineral de argila (Capítulo 8) imprime diferentes proprie-
dades aos solos. Desta forma, muitas propriedades do solo, como a expansão e a contração, a
plasticidade, a capacidade de retenção de água, a densidade e a adsorção química dependem
tanto do tipo como da quantidade de argila nele presentes.,

Influência da superfície específica do solo sobre suas outras propriedades


Quando o tamanho das partículas diminui, a superfície específica (e as propriedades a ela
relacionadas) aumenta, como ilustrado no gráfico da Figura 4.3. As argilas finas, de tamanho
coloidal, têm uma superfície específica cerca de 10.000 vezes maior do que a mesma quanti-
dade de areias de tamanho médio. A textura do solo influencia de várias formas muitas de suas
ourras propriedades (Tabela 4.1), em razão dos fenômenos que acontecem na superfície das

* N. de T.: As partículas do solo menores que 0,002 mm de diâmetro podem ser subdivididas cm argila grossa (ta-
manho entre 0,002 e 0,0002 mm) e argila fina (<0,0002 mm). As últimas são, normalmente, consideradas coino
as que realmente apresentam propriedades coloidais. -

Capítulo 4 Arquitetura e Propriedades Fisicasdo 5010111

Tabela 4.1 Influência das frações do solo sobre algumas das suas propriedades e comportamentos dos solos'
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Classificação das propriedades
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associadas às frações do solo
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Propriedade/comportamento Areia Silte Argila


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Capacidade de retenção de água Baixa Média a alta Alta
Aeração Boa ' Média Pouca
Taxa de drenagem Alta Lenta a média Muito lenta
Teor de matéria orgânica no solo Baixo Médio a alto Alto a médio
Decomposição da matéria orgânica Rápida Média Lenta
Aqueci~ento na primavera Rápido Moderado Lento.
Susce,tibilidade à compactação Baixa Média Alta
. Suscetibilidade à erosão eólica Moderada (alta, se Alta Baixa
a areia for fina)
Suscetibilidade à erosão hídrica Baixa (a menos que Alta Baixa, se agregado;
a areia seja fina) alta, quando não
Potencial de expansão e contração Muito baixo Baixo Moderado a muito alto
Impermeabilização de barragens, represas Restrita Restrita Bo,a
e aterros
Moderada
I
Aptidão para cultivo logo após'chuva Boa Rrstrita
Potencial de lixiviação de poluentes Alto Médio B,aixo(a menos que
j
I seja fendilhada)'
Capacidad~ de armá"zenam~nto de Pouca Média a alta Alta
nutrientes
Resistência à mudança de pH Baixa Média Alta

a Exceçõesa essas generalizações ocorrem devido:à estrutura deisolo e à mineralogiadas argilas.

partículas, como: (1) adsorção de películas d'água com nutrientes e substâncias químicas; (2)
intemperismo dos minerais e (3) desenvolvimento de micro-organismos.

4.3 CLASSES TEXTURAls


Além das três grandes classes texturais de solos - arenosos, argilosos efrancos (ou textura média)
_, as 12 classes texturais ilustradas na Figura 4.4 dão uma ideia mais clara acerCa da distribui-
ção das partículas, de acordo com seus tamanhos, e de suas características gerais relacionadas
às prop'riedades físicas do solo. A maior parte do nome das classes texturais é precedida pelo
termo franco.
,
Franco O conceito central de solo franco (ou de textura franca) é o de uma mistu- Triângulotextura I
.ra de partículas de areia, silte e argila que apresenta a propriedades de cada fração em interativo:
proporções semelhantes. Essa definição não significa que as três frações estão presen- http://courses.soil.ncsu.
tes em quantidades iguais (por esta razão, a classe franca, na Figura 4.4, não clstá exa- edu/resources/physics/
texture/soiltexture.swf
tamente no centro do triângulo). Essa irregularidade acontece em razão de uma per-
centagem relativamente pequena de argila ser suficiente para induzir as propriedades
argilosas em um solo, enquanto as pequenas quantidades de areia e silte têm pouca influência
sobre o seu comportamento. Um s~lo franco no qual predomina a fração areia se enquadra
na classe textura! areia-franca. Do mesmo modo, outros solos se enquadrariam nas classes rex-
turais fran~o~areflOsa,franco-siltosa, franco-argifo-siltosa, franco-argiloarenosa e franco-argilosa.
e
Examine bem a Figura 4.4 perceba que um material de solo com texturafranco-argifosa pode
ter apenas 26% de argila; contudo, para ser qualificado como tendo uma textura areia-franca
. ou .[ranco-siltosa, o solo deve ter, pelo menos, 45% de areia ou 50% de silte, respectivamente.

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112 Elementos da Natureza e Propriedades dos Solos

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Percentagem
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de areia

Figura 4.4 As classes texturais são definidas pelas percentagens de areia, silte e argila, de acor-
do com as linhas destacaâas desse triângulo textura/. Para usar o gráfico, primeiro identifique a
percentagem apropriada de argila no lado esquerdo do triângulo; depois, trace uma linha hori-
zontal a partir desse ponto. A seguir, identifique a percentagem de areia no lado inferior, ou na
base do triângulo; em seguida, trace uma linha no interior do triângulo, paralela ao seu lado, in-
titulado "percentagem de silte". As setas pequenas indicam a direção apropriada em que essas
linhas devem ser traçadas. O nome do compartimento no qual essas duas linhas se intersectam
indica a classe te~tural da amostra de solo. Assim, será necessário considerar somente duas das
três frações do solo, visto que a soma das percentagens de areia, silte e argila é sempre igual a
10Q%. Como exemplo, a classe textural de uma amostra de solo que contém 15% de areia, 15%
de argila e 70% de silte é indicada pelas linhas claras tracejadas, que se intersectam no comparti-
mento denominado "Franco-siltoso".*

Fragmentos grosseiros Se um solo contém uma proporção significativa de partículas maio-


res que as da areia (denominadas fragmentos grosseiros), um adjetivo qualitativo pode ser
usado como parte do nome da classe textural. Os fragmentos grosseiros, que variam de 2 a 75
mm (medido ao longo do seu maior diâmetro), são denominados cascalhos (ou seixos, se arre-
dondados), e aqueles que variam de 75 a 250 mm são chamados de calhaus; os maiores que
250 mm são chamados de pedras ou matacões**. Um exemplo de uma classe textural modifi-
cada seria "solo de textura franco-arenosa cascalhentà'. .

* N. de T.: As nomenclatura das classes texturais apresentadas são as preconizadas


do Solo no Campo, por Santos ct alo (2005). Nesse manual, a classe argila foi subdividida
no Manual de Descrição e Coleta
em argilosa e muito argilosa


(esta ú1tim~ quando o teor de argila for superior a 60%). .
** N. de T.: No Manual para Descrição do Solo no Campo (Santos et al .• 2005), os limites de tamanho para essas
frações grosseiras são: 2 mm a 20 cm (cascalho), 2 a 20 cm (calhaus) e >20 cm (maracões).

1
--
Capftulo 4 Arquitetura e Propriedades Flsicas do Solo 113

Modificações das classestexturais do solo


processos pedológicos (Capítulo 2), como iluviação, erosão e intemperismo dos minerais, que
atuam durapte muito tempo podem modificar a textura de certos horlzontes de um solo. No
entanto, no~malmente, as prática$ de manejo não alteram a textura do solo; nesse caso, as alte-
rações em tim determinado material de solo poderiam acontecer pela ~dição (ou mistura) de
um material de solo com outro de textura diferente. Por exemplo, a incorporação de grandes
quantidades de areia para alterar as propriedades físicas de um material de solo argiloso para seu
uso em vasos dentro de uma casa de vegetação ou em gramados de campos esportivos poderia ser
considerada mudanÇa de textura do solo. No entanto, a adição somente de turfa, ou somente de
compost~, para obter uma boa mistura que sirva como substrato para cultivos em vasos, não irá
fazer c~m que a textura se:modifique, já que essa propriedade refere-se apenas às partículas mi-
nerais. Na verdade, o termo textura do solo não é relevante para um meio artificial que contenha
principalmente perlita, turfa e esferas de isopor ou outros materiais que não provenham de solos.
Muitos cuidados devem ser observados nas tentativas de melhorar as propriedades físicas
de solos de textura argilosa por meio da adição de areia. Onde as especificações (p. ex., para
um projeto paisagístico) pedem um solo de uma determinada classe textural, é aconselhável
procurar um solo de ocorrência natural que atenda às especificações, em vez de tentar alterar a
classe textural, misturando areia ou argila a ele. Uma mistura, em quantidades moderadas, di
areia fina ou de areia que varie muito em tamanho pode terminar em um produto mais par~-
cido com um concretójdo que com um solo arenoso. Para algumas aplicações (como campos
de esportes; consulte ;l/Figura 4.5), a necessidade de o solo ter uma drenagem rápida ou resitir
à compactação, mesmo quando está saturado com água, pode justificar a construção de um
substrato artificial com areias uniformes, cuidadosamente selecionadas.

Avaliação da classetextural pelo:"método do tato"


A determinação da classe textural é uma das primeiras habilidades de campo que pode desen-
volver estudando a ciência do solo. A avaliação da classe textural pelo tato é de grande valor
prático para as atividades de campo quando se tem que fazer levantamentos de solos, classi-

Figura 4.5 \A modificação da textura do solo pode dar muito trabalho. Estas fotos mostram grandes montes de areia
(material mais escuro) e cascalho (material esbranquiçado) que foram trazidos de outro lugar e estão sendo distribuí-
dos para melhorar a drenagem de um campo esportivo a fim de permitir a prática do atletismo em dias mais chuvo-
sos. A seta mostra um trator do tipo buldôzer, gúiado-a laser, espalhando uniforl1lJilmente os montes de areia e os de
cascalho. (Fotos:cortesiade R. Weil)
r-
!

114 Elementos da Natureza e Propriedades dos Solos

flcação de terras e qualquer outro tipo de investigação na qual a textura poderá ter um papel
importante.
O triângulo textural (Figura 4.4) sempre devrrá ser levado em conta na avaliação çla classe
textural pelo método do tato, como explicado no Quadro 4.1 e na Figura 4.6.

Análise granulométrica de laboratório


O primeiro passo e às vezes o mais difícil da análise granulo métrica feita no laboratório é a
dispersão completa de uma amostra de solo, de modo que até os menores agregados sejam
desfeitos em partículas primárias ou individuais. A separação em classes, de acordo com o ta-
manho das parúculas, pode ser feita pela lavagem das partículas retidas em diferentes peneiras,
com aberturas de malhas padronizadas, para separar os fragmentos grosseiros e as frações das
areias, permitindo a passagem somente das frações de silte e argila. Depois, o método da sedi-
mentação é normalmente utilizado para determinar as quantidades de silte e argila. O princí-
pio envolvido é simples: como as partículas do solo são mais densas que a água, elas tendem
a se sedimentar, mergulhando verticalmente a uma velocidade proporcional ao seu tamanho.
Em outras palavras, "quanto maiores as partículas, mais rápido elas se depositam no fundo". A
equação que descreve essa relação é chamada de Lei de Stokes: ,
i
onde k é uma constante relacionada à força da gravidade, à densidade ie à viscosidade da água
~ d é o diâmetro da partícula.

4.4 A ESTRUTURA DOS SOLOS MINERAIS


o termo estrutura do solo refere-se ao padrão de arranjo das partículas de areia, silte, argila e de
matéria orgânica nos solos. Devido a várias forças com diferentes intensidades, essas partículas
se unem para formar unidades estruturais discretas chamadas de agregados (ou peds). Quando
uma determinada porção do solo é escavada e retirada com cuidado (para não deformar suas
condições naturais), ela tende a se desfazer em agregados que antes estavam separados entre si

QUADRO 4.1

Métodq_para determinação da textura pelo tato


i
O primeiro e mais crítico passo para a avaliação da teúdo de argila, como a maleabilidade, a pegajosida- ,
textura pelo tato é amassar (ou "trabalhar") bem de e a plasticidade'. Um alto teor de silte se traduz em L
uma amostra úmida, do tamanho de um limão, até uma sensação de 'maciez e sedosidade, com pouca !
formar uma massa com consistência uniforme, adi- pegajosidade ou resistência à deformação. Um mate- 1I

cionando água aos po,ucos, q,U,i, o n,e,ce,ssário. Saiba rial de solo com um significativoteor de areia provoca -
que essa etapa pode levar ai " minutos, porque uma sensação áspera e um som de pequenos rangi-

I
I

uma avaliação precipitada p.' ,,'Imente levará a dos quando esfregado próximo ao seu ouvido. , _ f
erros, em razão de alguns agre, ados ,de argila e de Estime a quantidade de argila, comprimindo a
silte poderem se cómportar'<:omo ~e fossem grãos amostra de solo devidamente úmida entre o polegar e :
de areia. O solo deve estar bem úmido, mas não mui- o indicador, tentando fazer uma tira com ela. Procure i
to lamacento. Tente amassar a a,mostra com apenas fazer essa tira tão longa quanto possível, até que ela li,
uma das mãos, guarde a-C;utra.limpapara escrever no se rompa com o próprio peso (Figura 4.6).
caderno de anotações de campo (e apertar a mão do Interprete suas observações (tendo em mente o tri-
seu c1iehte). ângulo da Figura 4.4) segundo os seguintes itens:
Depois, enquanto comprime e amassa a amostra,
observe todas as propriedades associadas com.o con-
(continua)
Capítulo 4 Arquitetura e Propriedades Físicasdo Solo 115

QUADRO 4.1 (CONTINUAÇÃO)

Método para determinação da textura pelo tato

1. A amostra de solo não se torna coesa, como


uma bola, desfazendo-se facilmente: areia.
2. A amostra forma uma pequena bola, mas não
uma tira: areia-franca
3. A tira é friável e se quebra quando está com
menos de 2,5 cm de comprimento e:
a. o rangido é-audível e a sensação é áspera:
, - franco-arenosa
b. a sensação é de maciez e sedosidade e' o
, rangido não é audível: franco-siltosa
c. a sensação é ligeiramente áspera e macia, e
o rangido não é claramente audível: franca
4. O solo exibe moder:..adapegajosidade e plasti-
cidade, forma tiras alongadas de 2,5 a 5 cm de
comprimento e: ,
,
a. o rangido é audível e a sensação é de as-
pereza: franco-argiloarenosa
b. a sensação é macia e sedosa e o rangido
não é audível: franco-argilo-siltosa
c.' a sensação é de pouca aspereza e alguma
maciez e o rangido não é claramente audí-
vel: franco-argilosa
5. O solo exibe dominante pegajosidade e plas-
ticidade, formando fios mais longos do que-
5cme: '
a. o rangido é audível e a sensação de aspe-
reza predomina: argiloarenosa
b. a sensação é de maciez e sedosidade; o
rangido não é audível: argilo-siltosa
c. a sensação é de apenas pequena aspereza
e sedosidade e o rangido não é claramen-
te audível: argila
Uma melhor estimativa do conteúdo de areia (e,
portanto, um posicionamento mais exato sobre a di-
mensão hotizontal do triângulo das classes texturais)
podê 'ser obtida molhando-se na palma da mão um

'.'
, torrão de solo, do tamanho de uma ervilha, e depois
I esfregando-o com o dedo até que fique coberto com Figura 4.6 Acima, aspecto não coeso e áspero de
uma lama rala proveniente do material do solo. Dessa uma amostra de textura areia-franca, com cerca de

I
I
'forma, os grãos de areia poderão ser vistos, e sua 15% de argila, que forma apenas uma tira curta. No
'quantidade poderá ser estimada por comparação com _ centro: aspectqfosco, liso e quebradiço, caracterís-

i
o volume inicial do torrão e com os seus tamanhos re- tico de uma amostra franco-siltosa. Abaixo: aspecto
',\ lativos (areia fina, média, gr,~~sa, etc.).," liso e brilhante de u'ma tira longa e flexível de solo
O aprendizado deste rni~,iddo_.p9,çl~-sermais eficaz com textura argilosa. (Fotos: cortesia de R.~eil) J:',-.:'
se forem utilizadas amostrasco'tn várias classes textu- "
rais já conhecidas. Depois de p'raticar bastante com
] essas amostras, boas estimativas de classes texturais
j poderão .~ero,btidas no campo.
I ..!:,". 1'-'",'o;.~'L""'.1d~_~.':f~.''''' •• -"'~',-,,",,'>:'"'i .. ;~,-J~ry ~~~.-"'-.~~.:::.: •.---;-.....---.=r=.-:-- ....-:---st. F ••• :..._, ,.-,~"",,!

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