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Um dia nublado começa, os ventos estavam fortes e fizeram com que entrassem folhas

pela janela do quarto, graças a isso Oliver acabou por acordar, era cedo ainda, após se
contorcer de preguiça na cama, se levantava e se espreguiçava, andou até a janela e aproveitou
o vento.

Seu quarto era um sótão meio bagunçado, tinha uma prateleira de livros, uma mesa
com um lampião apagado e uma cadeira meio velha. O lugar estava meio escuro, a única
iluminação vinha da janela.

Trocava de roupas, fazia sua higiene matinal e esperava seu mestre, sentado na cama
enquanto folheava uns escritos antigos e suas traduções meio confusas. Era algo sobre
evocação de seres abissais, estava tão entretido que não notou seu mestre entrando no
quarto.

--- Ei! --- falou o velho relojoeiro tirando o livro da mão de Oliver --- Que bom que já
está pronto, acordei meio tarde e temos muito trabalho para hoje, vamos logo com isso! --- o
homem colocou um emaranhado de engrenagens, molas e parafusos, confuso sem começo
nem fim.

Oliver pegou suas ferramentas e seu mestre apertou o botão no que parecia um
relógio pequeno. Oliver usava as ferramentas de forma quase perfeita, pareciam extensões de
seu corpo.

Efetuava movimentos rápidos desparafusando peças e organizando-as, aproveitando


à flexibilidade de seus dedos infantis, em pouquíssimo tempo a estrutura antes
incompreensível estava desmontada.

--- Vinte sete segundos, razoável... Bem, temos muito trabalho hoje, vamos logo!

--- Sim senhor!-----exclamava Oliver demonstrando animação. Descendo um lance de escadas


e passando por algumas portas chegava à oficina e a recepção do lugar.

A loja encontra-se na área nobre do reino, sendo uma tecnologia inovadora e necessária no
dia a dia de um nobre, os relógios são muito requisitados. O tempo passou a importar, é o que
os nobres dizem quando vinham comprar ou encomendar relógios.

Hoje foi bem movimentado para Oliver. Passou grande parte do dia atendendo clientes,
mostrando modelos de relógios, e anotando encomendas, trabalhou em algumas lá pelo final
do expediente, montando relógios de corda com um tipo de resina a base de seiva de árvore.

Tendo concluído seu expediente já no fim da tarde, foi para seu quarto e puxou um baú
com suas ferramentas e coisas do dia a dia, pegou algumas cordas e sua adaga, avisou seu
mestre que sairia e foi caminhar pela cidade.

O sol próximo do horizonte indicava que escureceria logo então teria pouco tempo, chegando
aos limites da cidade seguia até a floresta, onde havia deixado algumas armadilhas no dia
anterior, tinha sua adaga empunhada para caso precisasse lutar contra um lobo ou qualquer
animal selvagem.
Checando armadilha por armadilha naquela floresta, concluiu que havia conseguido
capturar quatro lebres vivas, amarrou as mesmas pelas pernas e voltou para casa, já era quase
de noite, avisou a mestre que havia chegado e subiu para seu quarto trancando a porta.

Puxou novamente seu baú e começou a tirar algumas coisas lá de dentro. Em cima da
mesa posicionou uma bacia e uma das lebres que havia capturado, com sua adaga perfurou
uma artéria no pescoço do animal.

Prezou para que sua morte tenha sido rápida enquanto o sangue do animal caia dentro da
bacia, quando o mesmo finalmente parou de sangrar, jogou seu corpo para o lado e catou um
pincel e uma tábua circular de madeira.

Consultando suas traduções e aquele grimório. Com o sangue da lebre desenhou um


triângulo e alguns símbolos complexos naquele pedaço de madeira que praticamente ocupava
a mesa inteira, acendeu uma vela em cada ponto do triângulo.

Por um segundo estava hesitante, mas lembrou de toda sua preparação e pesquisa de
semanas, não seria ali onde desistiria. Pegou um elixir já pronto que tinha preparado na noite
passada e o derramava pelo centro do triângulo enquanto proferia um mantra complexo.

O fluido não transpassava os limites do triângulo e parecia ferver

--- Abro-te portão de gehenna, enfraqueço seus sete selos --- proferia extasiado, estava
começando a suar, pegou mais uma lebre que estava claramente desesperada, ao aproximar a
mesma do triângulo, o elixir que lá estava parecia ser atraído pela lebre.

Quando o animal finalmente estava no centro do triângulo o elixir o perfurou com tentáculos,
o animal não parecia morto, se contorcia lutando contra aquilo que antes era um fluido
avermelhado se tornado negro como carvão.

A lebre virava o pescoço de forma bizarra e começava a mexer a boca

--- Uma criança brincando com o poder de Sheol? Ridículo! --- o demônio parecia estar prestes
a dizer mais alguma coisa quando foi interrompido por um mantra confuso em uma língua há
muito esquecia.

--- O portão se fecha, giro as sete chaves! --- Oliver dizia com convicção após concluir os
mantras. O coelho guinchava enquanto o fluido entrava dentro de seu corpo, de alguma forma
era como se o fluido estivesse em desespero procurando por uma âncora nesse mundo.

--- Impressionante, uma criança conseguindo me ancorar no plano mundano em um corpo


fraco, espero que tenha um bom acordo em mente se não quiser ser esfolado vivo e --- Oliver
novamente interrompia o coelho possuído.

--- Calado seu imundo, não estou aqui para brincar, e caso não tenha notado não está só preso
á esse plano como também está preso neste triângulo.

--- acha mesmo que essa coisa patética vai me segurar? EU SOU GOVERNANTE DE TRINTA
LEGIÕES DE ESPÍRITOS CRIATURA PATÉTICA! --- o animal parecia forçar a saída, mas havia algo
além do físico que o impedia.

--- Você é um saco de merda que morre assim como tudo que existe, se não tivesse esse
receptáculo após eu fechar o portão você teria evaporado --- a criatura se encolhia. Oliver
conseguia ver além daquela forma física.

Encarava uma besta destrutiva se afogando em ódio após ter seu orgulho quebrado.

--- Você também não vai durar muito nesse corpo, a cada momento seu dentro dele mais ele é
destruído, diria que você sobrevive duas semanas no máximo.

Quanto mais o mundano falava mais raivoso ficava o demônio enquanto se via preso, acima do
ódio o desespero começava a lhe corroer a entranhas, aquele mortal estava certo, seus dias
logo se findariam naquele corpo.

--- mas tem algo que eu posso fazer, um corpo só seu --- o demônio pareceu surpreso ao
escutar aquilo --- Pode ter conseguido me evocar e me prender mas sei que não trabalha com
artes negras, posso sentir, não tente me enganar humano.

--- Tenho meus métodos, e fora isso você não tem muita escolha --- o demônio ficou em
silêncio --- você tem 3 dias para decidir, depois disso não vou ter mais o que fazer por você
senão te ver definhar nesse receptáculo patético.

Vendo o demônio em silêncio finalizou o ritual e levou as duas lebres e o corpo da primeira
para a cozinha, com sua lâmina tirou o couro e separou as vísceras do animal, tomando
cuidado para não estourar nenhuma, caso contrário a carne ficaria com um gosto ruim.

Higienizou as carnes com vinagre, fez alguns cortes e jogou vários temperos para preservá-las,
guardou algumas e separou o resto para um ensopado, cortou e cozeu batatas e cenouras em
um fogareiro a lenha.

Pôs tomate, cebola e alho picados além de outros tempeiros, colocou a carne e um pouco de
sangue que havia sobrado do ritual, o cheiro era extremamente agradável, tanto que seu
mestre disse rápido de seu quarto para ver o que seu pupilo preparava.

Tentava não transparecer mas estava ansioso para provar daquele prato --- Valeu a pena fazer
desse garoto meu pupilo --- pensava enquanto Oliver mexia o caldo grosso da sopa com uma
colher de madeira.

Em alguns minutos a carne já havia pego cor e a sopa estava fervendo, com auxilio de vários
panos enrolados em sua mão pegou a panela quente e a pôs em cima da mesa, foi pegar dois
pratos e uma concha de metal, esfriando um pouco a comida já enchia os pratos fundos de
sopa.

Mal notou seu mestre num canto da cozinha observando tudo, quando o viu tomou um susto
e o serviu a janta, a sopa estava muito boa, ambos comeram enquanto conversavam um
pouco sobre o trabalho.
Logo Oliver se levantou e foi dormir dando boa noite seu mestre, chegando em seu quarto
meio escuro, só iluminado pelo lampião que carregava, o demônio ainda estava lá, que o
encarou com desprezo ao ouvir o abrir da porta.

Deu de ombros para a lebre e foi dormir, foi um sono agradável, acordou disposto pulando
da cama, fez uns alongamentos e a lebre ainda estava ali, parecia menos irritado, mas Oliver
não se importava tanto, hoje era um dia para treinar.

Seu mestre entrava no quarto enquanto Oliver terminava de se arrumar

--- Hoje não teremos desafios, dessa vez, eu atendo enquanto você fica na oficina cumprindo
com as encomendas --- Aquilo significava que seu mestre já confiava o suficiente para deixá-lo
fazer relógios sem supervisão.

Sua animação era evidente, mesmo em conflito com coisas tão grandes a pequena alegria de
receber confiança de seu mestre de ofício era incrível, logo após dar seu aviso o homem
desceu até a loja com um sorriso no rosto ao ver a animação de seu pupilo.

O coelho parecia confuso ao não ser notado e quase como se lesse os pensamentos do
demônio Oliver falou

--- É um feitiço imbuído na tábua, faz com que ele ignore sua presença dês de que sua
atenção não esteja diretamente em você --- Oliver se levantou e saiu.

Descendo o lance de escadas e passando por algumas portas chegou á oficina, tinham 13
encomendas para o dia, então teria de se apressar, organizou a bancada e começou a montar a
parte interna de alguns relógios.

Parafusava molas e engrenagens, a maioria era extremamente simples e funcionavam a corda,


já alguns eram estranhos e usavam cristais para efetuar o movimento, sendo complexos e
usando imãs e vários fios de cobre.

Sabia que aquilo seria no mínimo caro, quando montado parecia ter um estilo moderno
equiparado aos outros, funcionava á base da energia dos cristais, de certa forma era uma
tecnologia familiar, buscava em suas memórias fragmentadas por algo parecido.

Lembrou-se de um nome, Gears, ficou espantado com a possibilidade de um remanescente,


mas logo foi descartada, provavelmente foi apenas alguém vasculhando ruínas e encontrando
esses planos em ruínas gear.

Até o meio dia havia terminado todas as encomendas enquanto chegavam cada vez mais, o dia
foi se passando, seu expediente se findou, anunciou ao seu mestre que sairia e foi, rumando a
floresta com as tripas e das lebres que preparou na noite anterior em um balde de metal meio
enferrujado.

Chegando aos limites da cidade via a floresta, eram umas quatro da tarde, notou que havia
esquecido sua adaga mas, estava bem, sabia que era apenas um luxo e que poderia lidar com a
floresta sozinho.
Adentrou o ambiente seguindo até onde estavam suas armadilhas no pé de uma árvore, em
um ato de respeito ao ciclo enterrou os restos dos animais que havia jantado, e prestou
uma curta oração aos espíritos da floresta em agradecimento.

Evocava sua foice naquela forma astral, depois de meses de treino era algo quase instintivo,
porém não teria no que testá-la em um treino, logo em resposta a suas necessidades a floresta
o enviou um lobo.

Era grande, e surgia dentre as árvores, sua intenção não era assassina, mas estava disposto a
machucar, agradeceu o presente da floresta e começou a brincar com seu caçador desfazendo
sua arma astral.

Começou a correr, testava sua agilidade evitando os galhos baixos e passando por caminhos
estreitos dentre as árvores, ficaram alguns minutos assim até notar que seu predador havia o
alcançado mordendo seu calcanhar.

Em um giro Oliver se desvencilhou da aqueles dentes após efetuar um chute com a outra
perna, a ferida doía mas tinha que correr, seu pequeno rastro de sangue era guia para
seu caçador.

Então decidiu virar o jogo, estava ofegante, e usou disso para entrar em transe, coágulos
formando desenhos estranhos em sua mão esquerda faziam um tipo de esfera mágica ao redor
de seu punho.

A besta vinha frenética em sua direção, chegando perto o suficiente começou a rondar sua
presa, agora Oliver exploraria sua percepção, ver espíritos e intenções era algo tão sutil quanto
uma forte intuição.

Então deveria estar concentrado, fechava os olhos e focava no barulho dos passos do lobo ao
redor de si, tentava vê-lo em sua tela mental, quando o mesmo pulou contra as costas de
Oliver foi surpreendido por um giro e um soco no abdome.

Mesmo tentando causar o mínimo de dano, o impacto foi bem maior do que o esperado, tanto
que o animal foi projetado contra uma árvore, o mesmo se levanta novamente já tão cansado
quanto Oliver

Para finalizar evocou sua foice a sua frente, sua arma etérea se movia na velocidade do
pensamento e com a forca de sua vontade, em poucos e rápidos ataques o lobo caia exausto
após ter sua energia vital cortada pela arma.

Oliver se sentava ao lado do lobo ofegante e fazia carinho em seu pelo macio, o animal se
acomodava a ficaram assim até perto do anoitecer, o sangue da mordida estava coagulado, o
lobo estava descansado e seguia seu caminho assim como Oliver.

Chegava em casa anunciando sua chegada, subiu ao seu quarto e de seu baú tirava alguns
elixires e pomadas que por sinal estavam acabando e logo teria de fazer mais, tomava as
substâncias nojentas e passava a pomada a base de ervas na ferida.
Olhava para o demônio que estava em silêncio no triângulo, logo desceu para um banho, se
sentou na banheira e cheia e com uma esponja se esfregava, a pomada que havia formado
uma crosta esverdeada em cima da ferida dissolvia na água e de alguma forma parecia deixar
o banho mais refrescante.

Concluindo o banho foi a cozinha, colocou água na panela, um pouco de azeite, uma colher
de sal e a colocou para ferver, foi nos fundos pegou uma peneira e uma porção de grãos de
arroz, lavou os grãos na peneira e despejou na panela.

Forrou uma frigideira com banha de porco e colocou as carnes restantes que havia temperado
no dia anterior, em outra panela com água colocou feijões verdes, começou a cortar quiabo,
batata e cenoura, alem de outros temperos e despejou na panela do feijão.

Quando o arroz estava secando jogou na panela um dente de alho picado, as carnes já estava
fritas apesar de um pouco duras, tirou as mesmas da frigideira e as pôs em um prato, enquanto
o arroz secava e o feijão estava no fogo lavou a frigideira em uma bacia com água e sabão de
banha de porco.

Logo o jantar estava pronto, seu mestre desceu rápido após ser chamado, viu aquela mesa e
agradeceu a seu pupilo, ambos comeram bastante e com muita animação, como sempre a
comida estava deliciosa.

--- Seu desempenho foi impressionante hoje --- Dizia o mestre de boca cheia

--- Obrigado! Vou ficar ainda melhor --- Oliver estava animado, valia muito um elogio vindo
de seu mestre.

A conversa continuou até tarde da noite mesmo após terem terminado de comer, após isso
subiram cada um subiu para seu quarto, assim que Oliver entrou viu que seu demônio parecia
cansado, provavelmente esteve tentando sair do triângulo o dia inteiro.

--- Eu aceito, sua proposta, mundano --- o coelho falava, em tom de desistência.

--- Certo, então vamos ao contrato --- Oliver vai até o baú e pega alguns manuscritos, começa a
entoar um mantra para entrar em transe, o demônio repetia o mantra sincronizando com o
mundano.

--- Deverás me proteger e me servir até o fim de sua existência --- proclamava Oliver
estendendo a mão

--- Deverás me dar um receptáculo compatível com minha natureza e me libertará desse
triângulo --- proclamava o demônio, tocando sua pata na mão de Oliver.

Um contrato foi firmado, ambos estão ligados por um estigma na alma, aquele que não
cumprir com sua parte morrerá, ambos sabiam disso, o triângulo foi queimado, mas as chamas
apenas consumiam o sangue que formava o triângulo.

O coelho finalmente estava livre e tinha acesso á seus poderes, mas agora foi rebaixado a
servo de um magista, seu orgulho quebrado não o incomodava tanto, fez aquilo para
sobreviver afinal.

--- Vamos começar --- dizia Oliver --- vocês está dentro de uma fêmea, usaremos seu ventre
para sintetizar seu corpo

--- Certo, o que devo fazer? --- o demônio questionava.

--- apenas vá para o ventre, eu cuido do resto ---

Logo a lebre deixava de ter a influência demoníaca, Oliver catava os elixires que havia
preparado para essa situação, fazendo mais algumas misturas no momento, usando uma
seringa de metal, injetava os elixires no ventre da criatura recitando --- grande mãe, dai-me
corpo de te dou alma.

Algo começava a se contorcer lá dentro e a lebre parecia entrar em desespero, Oliver desceu
do quarto e voltou rapidamente, havia ido na dispensa pegar um saco bege, dentro haviam
alguns tubérculos silvestres que havia colhido durante os dias de preparação.

Jogou para a lebre o animal começou a roer quase que incessantemente, em algumas horas
havia consumido quase dois quilos de tudo que havia colhido durante dias, Oliver sabia que o
animal não conseguiria mais se deslocar bem graças ao efeito dos elixires então dormiu
tranquilo.

Acordou com a luz do sol batendo em seu rosto, o dia estava começando, olhou para o canto
de seu quarto onde jazia a lebre, só que o animal já não estava mais lá, o que havia era uma
monstruosidade

Uma grande bola de pele esticada cheia de hematomas, tomou um susto,era algo grotesco no
topo daquela bola de carne se contorcendo haviam os restos ainda reconhecíveis da lebre e
logo na base daquela monstruosidade uma boca comendo o tubérculos selvagens restantes.

Notou um desenho em seu corpo, era uma mancha viva, parecia um dragão tentando morder
a própria cauda, parecia faltar um pouco mais para que conseguisse, reconheceu o símbolo
como ouroboros, parecia indicar o progresso do corpo artificial.

Com certeza não teria como esconder aquilo de seu mestre, então se arrumou rápido e ficou
esperando deu mestre fora do quarto, e deu certo, novamente seria o responsável pela oficina.

Vinte e três encomendas, demorou bem mais que no dia anterior pois os modelos exigidos
tinham uma complexidade maior, só conseguindo concluir todo aquele trabalho umas duas da
tarde.

Apesar de trabalhoso conseguiu aprender alguns conceitos mecânicos novos e a trabalhar com
materiais e peças que nunca havia trabalhado antes, estava bem cansado mas algo o animava.

O dia passou rápido, seu trabalho foi bem efetuado e a ansiedade para o fim do expediente
estava cada vez mais forte, até que acabou, sentiu um alívio extremo, foi á cozinha e pegou um
pedaço de carne com osso e subiu para seu quarto.
A bola de carne ainda estava lá, Oliver soltou um sorriso orgulhoso, um homúnculo era a
realização de vida de um alquimista, mesmo que o seu não fosse um dos convencionais era
algo próximo que o dava orgulho.

A pele estava quase transparente mostrando a criatura lá dentro, era difícil ver detalhes mas
tinha pequenos espasmos, viu que as raízes estavam quase acabando então deu o pedaço de
carne para a besta.

Aquela boca modificada triturava a carne e engolia até os ossos, o dragão da mancha viva
estampada na esfera de pele esticada finalmente mordia o próprio rabo, estava pronto, algo
sairia de lá.

A marca brilhou, percebeu a boca grunhir o fluido dentro da bolsa borbulhar, até que
finalmente estourou, água fervente foi para todo lado, porém, antes de tocar qualquer coisa
evaporou.

O quarto estava escuro sendo iluminado apenas por uma lamparina e pelo sol alaranjado se
pondo por dentre as árvores no horizonte, do meio daquele vapor a criatura nascida parecia
devorar o que restou da própria mãe.

Quando a névoa se dissipou, não havia mais mãe ou sinal de que houve qualquer outro ser ali,
a não ser uma criatura bípede encoberta pela escuridão, Oliver pegou sua lamparina e
direcionou sua luz para aquela coisa.

Era como uma grande lebre bípede, de pelagem completamente negra e olhos brilhantes, a
criatura deu alguns passos á frente e se ajoelhou perante á Oliver, que pela proximidade pôde
notar mais detalhes.

A criatura media aproximadamente um metro, tinha asinhas semelhantes á de morcegos nas


costas, dois pequenos chifres na cabeça, tinha mãos quase humanas com dedos curtos seu
punho e a parte de traz de seus dedos eram revestidos por placas de algo amarelado.

--- Me diga seu nome --- Ordenou Oliver ao demônio

--- Daagoninatothep Se'irim o maldito --- Respondeu a criatura de cabeça baixa

--- Não! Agora em sua nova forma recebe um novo nome, como seu mestre magista te
renomeio Asmodeus, significa falso deus, tenha orgulho desse nome --- Oliver falava em um
tom onipotente, por algum motivo sua voz soava como um trovão.

Aquela criança tinha uma presença estrondosa, aquilo era a encarnação de algo grande com
toda certeza, mesmo sendo um fragmento do que um dia já foi e seu poder sendo
praticamente o mesmo de um aprendiz de mago prodígio.

Sua vontade era imparável e fazia a estrutura da realidade tremer, o ego do demônio
estava prestes a ser engolido por aquela vontade, se tornaria uma extensão dos desejos
daquilo até que Oliver cambaleou para traz ofegante.
Seu coração batia forte machucando o peito por dentro, sentiu um dos fragmentos que
estava faltando, conhecimento sobre evocar e controlar criaturas do abismo, porém nada,
além disso, essa epifania revelou sua presença até mesmo para a pedra mais morta.

Eles começariam a chegar logo e Óliver não estava pronto, o demônio sabia que aquele
mundano estava envolvido em coisas grandes, se aproximou e estendeu a mão ajudando seu
mestre á se levantar, quem sabe não conseguisse algo com isso.

O velho relojoeiro abria à porta do quarto, após sentir algo estrondoso e paralisante, as casas
na vizinhança se agitaram, nessa noite, estrelas brilhavam forte, a lua estava cheia, e o céu
mais bonito do que nunca.

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