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Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região - 1º Grau

Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região - 1º Grau

O documento a seguir foi juntado aos autos do processo de número 0050000-87.2008.5.01.0222


em 01/02/2021 18:04:22 - 427cbb4 e assinado eletronicamente por:
- JOSE EDUARDO DE ALMEIDA CARRICO

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RUA DO MERCADO, Nº. 11, 6º ANDAR JOSÉ EDUARDO DE ALMEIDA CARRIÇO
CENTRO - RIO DE JANEIRO ANA LUISA VILELA DE SENA TORRES
CEP: 20010-120 RJ BRASIL CORINA SIMÕES UCCELLI GUEDES
TELS. (55 21) 2224 2323 / 2242 2997
ANDRÉ LUIZ GONÇALVES DE OLIVEIRA
TEL.FAX (55 21) 2224 2378
ALEXANDRE FERREIRA DE MELLO
LEILIANE GUIMARÃES DE SANT’ANA
RODRIGO MARTINS

Exmo. Sr. Dr. Juiz da MM. 02ª Vara do Trabalho de Nova Iguaçu

Processo: 0050000-87.2008.5.01.0222

TELEMAR NORTE LESTE S/A – EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL, nos autos do processo


em destaque, em que contende com JOSE CARLOS PEREIRA DOS SANTOS,
vem, por seu advogado, a V.Ex.ª, atendendo o r. despacho, apresentar sua
impugnação aos cálculos do autor, através das seguintes razões:

PRELIMINARMENTE

DA HOMOLOGAÇÃO DO PLANO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL

Conforme já noticiado pela grande mídia, a reclamada


ingressou com pedido de recuperação judicial, distribuído em 20.06.2016, ao
MM. Juízo da 7ª Vara Empresarial da Comarca da Capital do Estado do Rio de
Janeiro (processo CNJ nº 0203711-65.2016.8.19.0001)1.

1
http://www4.tjrj.jus.br/consultaProcessoWebV2/consultaMov.do?v=2&numProcesso=2016.001.176528-
1&acessoIP=internet&tipoUsuario=
Em 19/12/2017 foi instalada a Assembleia Geral de Credores para
a deliberação dos credores acerca do Plano de Recuperação Judicial
apresentado pelas Recuperandas na forma do artigo 53 da Lei nº 11.101/2005
(LRF).

Depois de intensa negociação e modificações favoráveis a


pedido dos credores ao longo do dia, o Plano foi aprovado por cerca de 95%
dos credores, sendo que a aprovação pelos credores da Classe I (créditos
trabalhistas) foi UNÂNIME, revelando que as novas condições de pagamento
foram aceitas por TODOS os credores trabalhistas presentes, inclusive pelos
Sindicatos representantes da categoria profissional.

O Plano foi homologado pelo d. Juízo Recuperacional da 7ª Vara


Empresarial do Rio de Janeiro em decisão publicada no dia 05/02/2018. Assim,
foi concedida a recuperação judicial desta Reclamada, conforme trecho da
decisão colacionado abaixo, in verbis:

“Ante todo o exposto, considerando a aprovação do plano pela


maioria expressiva dos credores das recuperandas, na AGC
realizada em 19/12/2017, que aguardam a homologação do PRJ
pelo Poder Judiciário, e uma vez examinados os aspectos de
legalidade do plano, resta ao Juízo Recuperacional ratificar por
homologação a decisão soberana dos credores.
A decisão de homologação deve ser imediata não apenas por
força da lei, mas porque milhares de credores terão seus créditos
satisfeitos mais rapidamente (...)”

No dia 08/09/2020, de forma virtual em razão da pandemia, foi


realizada a nova AGC do "Grupo OI", com vista à deliberação sobre os termos
do Aditivo ao PRJ antes homologado. O Aditivo ao PRJ teve expressiva
votação favorável com cerca de 95% dos credores, sendo que a aprovação
pelos credores da Classe I (créditos trabalhistas) foi de 99,86%.

Em 08/10/2020 foi publicada a decisão do Juízo Recuperacional


que homologou o Aditivo ao Plano de Recuperação Judicial, in verbis:

“Ex positis:
a) rejeito todas as alegações de nulidades procedimentais da
AGC, afasto a alegação de tratamento desigual entre os
credores, bem como rejeito os pedidos de nulidade do quórum
de votação e aprovação do Aditivo, por não conterem vícios em
sua formação e vontade.
b) ultrapassado o devido controle da legalidade, considero
presentes todos os pressupostos exigidos no artigo 104 do CC, e
considerando a obtenção do quórum de aprovação na forma
do artigo 45 da Lei 11.101/2005, HOMOLOGO, para que produza
os devidos efeitos legais, os TERMOS DO ADITIVO ao PLANO DE
RECUPERAÇÃO JUDICIAL ORIGINAL, apresentado às fls.
476.326/479.153, com as devidas ressalvas integrativas conferidas
na presente decisão.
c) Fixo o prazo de 12 meses para encerramento da R.J., a contar
da data da publicação desta decisão, podendo ser prorrogado,
caso haja necessidade de se ultimarem os atos relativos às
alienações dos referidos ativos.”

Em suma, as alterações trazidas no Aditivo ao Plano apenas


autorizaram que a Reclamada realizasse o adiantamento de até R$ 50.000,00
(cinquenta mil Reais) aos credores trabalhistas que já tivessem direito, na data
de realização da Nova Assembleia Geral de Credores (08/09/2020), ao
recebimento de Créditos Trabalhistas definitivos, desde que:

(i) já constassem na Relação de Credores do Administrador


Judicial; ou
(ii) fossem objeto de decisão transitada em julgado que
encerrou o respectivo Processo e homologou o valor devido
ao respectivo Credor Trabalhista, sem restar margem, na
esfera trabalhista, para impugnação pelo Grupo Oi.

Contudo, os Créditos Trabalhistas que não estejam incluídos


nestas hipóteses, ou seja, que ainda não sejam objeto de decisão transitada
em julgado na fase de execução, serão pagos, quando se tornarem
definitivos, na forma da atual Cláusula 4.1.4 do PRJ (antiga Cláusula 4.1.1 do
Plano original) mencionada no tópico seguinte.

DA FORMA DE PAGAMENTO DA
CLASSE I (CRÉDITO TRABALHISTA)

Quanto à Classe I (crédito trabalhista), os créditos devidos


indicados na Relação de Credores apresentada pelo Administrador Judicial
foram pagos em 5 (cinco) parcelas mensais, iguais e sucessivas, depois de
decorrido o prazo de carência de 180 dias corridos contados a partir de
05/02/2018 (data de publicação da decisão homologatória do Plano,
conforme previsto na Cláusula 4.1 do Plano de Recuperação Judicial
homologado:

4.1. Créditos Trabalhistas. Observado o disposto nas subcláusulas


abaixo, os Créditos Trabalhistas, conforme valores indicados na
Relação de Credores do Administrador Judicial, serão pagos em
moeda corrente nacional, após o decurso do prazo de carência
de 180 (cento e oitenta) dias corridos a contar da Homologação
Judicial do Plano, em 5 (cinco) parcelas mensais, iguais e
sucessivas, vencendo-se a primeira no primeiro Dia Útil após o
término do prazo de carência referido acima, e as demais no
mesmo dia dos meses subsequentes, mediante Depósito Judicial
nos autos do Processo em que seja parte o Credor Trabalhista ou
por meio de depósito a ser realizado em conta bancária a ser
previamente indicada pelo respectivo Credor Trabalhista,
conforme decidido pelo Grupo Oi e a seu exclusivo critério, ou,
ainda, caso o Credor Trabalhista não seja parte em Processo
judicial, observado o disposto na Cláusula 13.4.

Como dito, a regra acima se refere apenas aos credores cujos


créditos já constavam na Relação de Credores apresentada pelo
Administrador Judicial ao Juízo Recuperacional.

Contudo, quanto aos credores que só tiverem seus créditos


reconhecidos judicialmente depois da homologação do Plano, estes também
receberão os valores devidos em 5 (cinco) parcelas mensais, iguais e
sucessivas, mas a contagem do prazo de carência de 180 dias corridos
somente se iniciará a partir da data do trânsito em julgado da decisão de
homologação dos cálculos, sem restar margem para impugnação dos valores
envolvidos na execução. Observe-se o teor da atual Cláusula 4.1.4 do PRJ
(antiga Cláusula 4.1.1 do Plano original):

4.1.4. Os Créditos Trabalhistas e os Créditos Trabalhistas Honorários


de Sucumbência ainda não reconhecidos ou habilitados nas
datas previstas para realização dos respectivos pagamentos nos
termos das Cláusulas 4.1, 4.1.1, 4.1.2 e 4.1.3 acima, conforme
aplicáveis, serão pagos da seguinte forma, após serem
reconhecidos:
(a) se de titularidade de Credores Trabalhistas que não sejam da
categoria de Credor Trabalhista Depósito Judicial, seu
pagamento será efetuado, mediante Depósito Judicial nos autos
do respectivo Processo em que seja parte ou por meio de
depósito a ser realizado em conta bancária a ser previamente
indicada pelo respectivo Credor Trabalhista, conforme decidido
pelo Grupo Oi e a seu exclusivo critério, após o trânsito em
julgado da decisão que encerrar o Processo e homologar o valor
devido sem restar margem para impugnação pelo Grupo Oi, na
forma da Cláusula 4.1, iniciando-se o prazo de 180 (cento e
oitenta) dias corridos de carência na data em que a referida
decisão transitar em julgado, vencendo-se a primeira parcela no
primeiro Dia Útil após o término do prazo de carência referido
acima e as demais parcelas no mesmo dia dos meses
subsequentes; (...)

A Reclamada ressalta a este d. Juízo trabalhista que o Plano de


Recuperação Judicial prevê a exceção de que apenas os créditos
trabalhistas serão pagos, através da expedição de alvarás, nos respectivos
processos judiciais. Observe-se o teor da Cláusula 13.4 do Plano:

13.4. Meios de Pagamento. Exceto para os Credores Trabalhistas


partes em Processos, que sempre receberão mediante depósito
judicial nos autos dos respectivos Processos, salvo se houver
previsão diversa no Plano, os valores devidos aos Credores
Concursais serão pagos mediante (a) a transferência direta de
recursos à conta bancária do respectivo Credor Concursal, por
meio de documento de ordem de crédito (DOC), ou de
transferência eletrônica disponível (TED), (b) por Ordem de
Pagamento a ser sacada diretamente no caixa de instituição
financeira pelo respectivo Credor Concursal, conforme o caso,
servindo o comprovante da referida operação financeira como
prova de quitação do respectivo pagamento; ou, ainda, (c)
outros meios necessários para pagamento dos Créditos
Concursais Agências Reguladoras.

Por fim, a OI acredita que o Plano aprovado preserva o credor


trabalhista na medida em que seu crédito será satisfeito nos autos que tramitam na
Justiça Especializada, ou seja, que originaram o crédito, e em razão da não
incidência de deságio sobre o valor devido (o que ocorre nas 3 demais classes de
credores). Ou seja, não há qualquer prejuízo ao credor trabalhista.
DOS EFEITOS DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL SOBRE OS PROCESSOS RELATIVOS A
CRÉDITOS SUJEITOS À RECUPERAÇÃO

Esclarecidas as cláusulas referentes aos créditos trabalhistas, faz-


se necessário destacar a este d. Juízo trabalhista os efeitos que o Plano de
Recuperação Judicial provoca nos processos judiciais trabalhistas.

Para o adequado tratamento da questão relativa aos efeitos da


recuperação judicial sobre os processos em que são demandados créditos
sujeitos à recuperação judicial, é necessário, em primeiro lugar, identificar
quais são esses créditos. A matéria está regulada no art. 49 da LRF, que
estabelece:

Art. 49. Estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos


existentes na data do pedido, ainda que não vencidos.

No caso dos presentes autos, as verbas reclamadas são relativas


a período anterior a 20 de junho de 2016, data do ajuizamento da
recuperação judicial, e, portanto, o crédito está sujeito à recuperação judicial,
nos termos do art. 49 da LRF.

Assim, de acordo com os §§ 1º e 2º do art. 6º da LRF, é da Justiça


do Trabalho a competência para julgar as ações decorrentes da legislação
até a apuração do valor do crédito. Por outro lado, todas as obrigações,
inclusive as obrigações trabalhistas decorrentes de título executivo judicial
(portanto, líquido, certo e exigível) apurado e constituído perante a Justiça do
Trabalho, deverão ser satisfeitas na forma das disposições do Plano aprovado,
em virtude da competência absoluta e exclusiva do Juízo recuperacional.

Neste sentido, em consonância ao pacífico entendimento do STF


e do STJ, o egrégio TST já se posicionou no sentido de que o Juízo da
Recuperação Judicial detém competência universal, absoluta e exclusiva
para gerir o processo de Recuperação Judicial e estabelecer medidas de
proteção ao patrimônio das empresas em recuperação judicial que podem
interferir, inclusive, nos processos em tramitação nesta emérita Justiça do
Trabalho, sendo, portanto, vedado ao Juízo trabalhista prosseguir com a
execução de créditos sem a observância das regras e condições previstas no
Plano homologado. Observe-se a esclarecedora decisão proferida pela SDI-2:

RECURSO ORDINÁRIO EM AGRAVO REGIMENTAL. MANDADO DE


SEGURANÇA. EXECUÇÃO DE CRÉDITOS TRABALHISTAS. LEI Nº
11.101/2005. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. PROCESSAMENTO
DEFERIDO. SUSPENSÃO DA EXECUÇÃO TRABALHISTA. PRAZO.
PRORROGAÇÃO. COMPETÊNCIA PARA PROSSEGUIMENTO DA
EXECUÇÃO.
1. Deferido o processamento ou aprovado o plano de
recuperação judicial, não cabe o prosseguimento automático
das execuções individuais, mesmo após decorrido o prazo de
180 dias previsto no art. 6º, § 4º, da Lei nº 11.101/2005, de modo
que, ao juízo trabalhista, fica vedada a alienação ou
disponibilização de ativos da empresa executada.
2. As ações de natureza trabalhista, portanto, serão julgadas na
Justiça do Trabalho até a apuração do respectivo crédito, cujo
valor será determinado em sentença e, posteriormente, inscrito
no quadro-geral de credores, a fim de que se concentrem no
Juízo da Recuperação Judicial todas as decisões que afetem o
patrimônio da recuperanda, para viabilizar a operacionalização
do plano de recuperação.
3. Isso, porque o restabelecimento das execuções individuais,
com penhoras sobre faturamento e sobre bens móveis e imóveis
da empresa em recuperação, implicaria o não cumprimento do
plano, comprometendo o objetivo de manter a empresa em
funcionamento, com inevitável decretação da falência que,
uma vez operada, resultaria, novamente, na atração de todos os
créditos e na suspensão das execuções individuais, sem benefício
algum para qualquer parte envolvida.
4. A finalidade da lei, ao estabelecer a suspensão das execuções
em curso, pelo prazo de 180 dias, foi, portanto, definir juízo
universal para onde concorressem todos os credores, visando a
proporcionar tratamento isonômico aos titulares de créditos de
uma mesma classe e evitar a existência concomitante de
diversas execuções em juízos distintos, sem uma ordem
preferencial, o que inviabilizaria a recuperação empresarial.
5. A relativização, por parte do STJ, da regra inserta no art. 6º, §
4º, da Lei nº 11.101/2005, que diz respeito ao prazo de suspensão
das execuções, coaduna-se com interpretação sistêmica, à luz
do princípio da preservação da empresa (art. 47), objetivando
assegurar a igualdade dos credores, respeitados, evidentemente,
os privilégios e preferências dos créditos, sem, contudo, permitir
que o credor fique, indefinidamente, refém do plano de
recuperação, ante a permissão de se extrapolar o prazo de 180
dias.
6. Nesse sentido, os precedentes jurisprudenciais do Colendo STJ
e as orientações preconizadas no Provimento nº 1/CGJT.
7. Com a evidência de que a suspensão das ações e execuções
movidas contra a executada havia sido prorrogada pelo Juízo
Cível e de que a recuperanda vem atendendo aos comandos
judiciais e imposições legais, deve ser suspensa a execução do
processo matriz.
Recurso ordinário conhecido e provido.
(TST - Processo: RO - 80169-95.2016.5.07.0000 – Órgão Judicante:
Subseção II Especializada em Dissídios Individuais - Relator:
Ministro Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira – Data de
Publicação: 21/10/2016)

Em suma, é pacífico o entendimento pretoriano no sentido de


que a competência do Juízo da Recuperação Judicial é universal, absoluta e
exclusiva para promover o cumprimento das obrigações constantes no Plano
de Recuperação Judicial, inclusive as oriundas das relações de trabalho.
A concentração no Juízo da Recuperação Judicial da gestão
das medidas concernentes à execução do Plano se justifica em razão das
graves consequências do descumprimento pelo devedor em recuperação
judicial das obrigações previstas no Plano, que é a convolação da
recuperação judicial em falência, nos termos do art. 73, IV, da LRF, o que
certamente não é o objetivo da Lei nem é o desejo dos credores que
aprovaram, em ampla e quase absoluta maioria, o Plano proposto pela
Reclamada, confiando em seu soerguimento.

DA MATERIA JULGADA

É incontroverso que a sentença de primeiro grau deferiu o vínculo


com a executada e consequentemente os benefícios do acordo coletivo
porem o acordão regional de primeiro grau reformou a sentença expurgando
o vínculo:

“ACORDAM os desembargadores que compõem a 3ª Turma do


Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, por unanimidade,
conhecer do recurso e, no mérito, dar-lhe provimento parcial para
afastar a nulidade declarada do contrato de trabalho do
empregado com a primeira ré, julgando improcedente o pedido de
vínculo empregatício com a segunda reclamada, afastando
também os benefícios normativos, e condenar a Telemar de forma
subsidiária pelos créditos trabalhistas deferidos remanescentes, tudo
nos termos da fundamentação. Custas reduzidas para R$ 200,00,
calculadas sobre R$ 10.000,00, novo valor arbitrado à condenação.

Rio de Janeiro, 25 de fevereiro de 2019.”

Entretanto observa-se que o exequente não observou a matéria


julgada motivo pelo qual merecem retificações os cálculos neste aspecto.
DA ATUALIZAÇÃO DOS CRÉDITOS – DA NÃO INCIDÊNCIA DE JUROS E
CORREÇÃO NA RECUPERAÇÃO JUDICIAL

Como é cediço, a reclamada encontra-se em processo de


Recuperação Judicial desde 20/06/2016, conforme decisão proferida no
processo CNJ nº 0203711-65.2016.8.19.0001, em tramitação perante o MM.
Juízo da 7ª Vara Empresarial da Comarca da Capital do Estado do Rio de
Janeiro.

Em conformidade com o artigo 9º, II, da Lei 11.101/2005, lei


específica que regulamenta as empresas em Recuperação Judicial, os juros e
atualização deverão ser apurados até a data de ingresso do pedido de
Recuperação Judicial. Observe-se:

“Art. 9º. A habilitação de crédito realizada pelo credor nos


termos do art. 7º, parágrafo 1º, desta Lei deverá conter:
(...)
II – o valor do crédito, atualizado até a data da decretação da
falência ou do pedido de recuperação judicial, sua origem e
classificação.”

Neste sentido, colaciona-se decisão proferida pela 3ª Turma do


STJ sobre caso análogo que versava acerca da limitação da atualização e
correção monetária de créditos devidos por empresa em recuperação
judicial:

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. RECUPERAÇÃO JUDICIAL.


HABILITAÇÃO DE CRÉDITO. ATUALIZAÇÃO. TRATAMENTO
IGUALITÁRIO. NOVAÇÃO. JUROS E CORREÇÃO. DATA DO PEDIDO
DA RECUPERAÇÃO.
1. Ação de recuperação judicial da qual foi extraído o recurso
especial, interposto em 21/08/2014 e atribuído ao gabinete
em 25/08/2016. Julgamento: CPC/73.
2. O propósito recursal é decidir se há violação da coisa julgada
na decisão de habilitação de crédito que limita a incidência
de juros de mora e correção monetária, delineados em
sentença condenatória por reparação civil, até a data do
pedido de recuperação judicial.
3. Em habilitação de créditos, aceitar a incidência de juros de
mora e correção monetária em data posterior ao pedido da
recuperação judicial implica negativa de vigência ao art. 9º, II,
da LRF.
4. O plano de recuperação judicial implica novação dos
créditos anteriores ao pedido, e obriga o devedor e todos os
credores a ele sujeitos. Assim, todos os créditos devem ser
atualizados até a data do pedido de recuperação judicial, sem
que isso represente violação da coisa julgada, pois a execução
seguirá as condições pactuadas na novação e não na
obrigação extinta, sempre respeitando-se o tratamento
igualitário entre os credores.
5. Recurso especial não provido.
(STJ – Processo: REsp 1662793 / SP - RECURSO ESPECIAL
2016/0002672-0 - Relator(a): Ministra NANCY ANDRIGHI - Órgão
Julgador: TERCEIRA TURMA - Data da Publicação: DJe
14/08/2017)
Disponível em:
https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?co
mponente=ITA&sequencial=1622919&num_registro=201600026720
&data=20170814&formato=PDF

O voto da Ministra Nancy Andrighi, Relatora do referido acórdão,


destaca que “respeitada a respectiva classificação, eventual crédito oriundo
de sentença condenatória por reparação de danos deve seguir o mesmo
tratamento do crédito oriundo de sentença trabalhista quanto à data limite
de sua atualização (art. 49). Não se questiona dos índices de atualização
monetária e juros de mora previstos nos títulos, nem seus respectivos termos
iniciais, pois o tratamento igualitário impõe-se a todos os créditos em relação
ao termo final de sua atualização”.

Desse modo, o STJ, tribunal competente para dirimir quaisquer


divergências a respeito das questões relacionadas ao processo de
recuperação judicial, tem remansosa, pacífica e específica jurisprudência a
respeito do tema. Observe-se:

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


RECUPERAÇÃO JUDICIAL.
1. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. NÃO OCORRÊNCIA.
2. CORREÇÃO MONETÁRIA E JUROS MORATÓRIOS. AUSÊNCIA DE
PREVISÃO DO PLANO DE RECUPERAÇÃO. ATUALIZAÇÃO LIMITADA
À DATA DO PEDIDO DE RECUPERAÇÃO.
3. INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA.
FACULDADE DO MAGISTRADO. AUSÊNCIA DE DIVERGÊNCIA.
4. APLICAÇÃO DA MULTA DO ART. 538, PARÁGRAFO ÚNICO, DO
CPC/1973.
5. AGRAVO DESPROVIDO.
(...)
2. Conforme jurisprudência desta Corte Superior, as decisões da
assembleia de credores representam o veredicto final a respeito
dos destinos do plano de recuperação, cabendo ao Poder
Judiciário, sem adentrar a análise da viabilidade econômica,
somente controlar a legalidade dos atos do plano. Ademais, a
atualização do crédito, mediante incidência de juros de mora e
correção monetária, é limitada à data do pedido de
recuperação judicial. Precedentes.
(…)
(STJ – Processo: AgInt no AREsp 1073431 / SP, Rel. Ministro MARCO
AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em 08/05/2018, DJe
17/05/2018)
Disponível em:
https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?co
mponente=ITA&sequencial=1708689&num_registro=201700638941
&data=20180517&formato=PDF

Assim, considerando que cabe ao STJ definir a interpretação da


lei federal nesses casos, os juros e correção monetária devem ser limitados à
data do pedido de recuperação.

Corroborando nesse sentido, o Juízo Recuperacional, em decisão


publicada em 08/05/2018, expressamente determinou que os créditos
concursais devem ser atualizados até 20.06.2016 (data da distribuição do
processo com o pedido de Recuperação Judicial do Grupo OI2):

“2. Os processos que tiverem por objeto créditos concursais


devem prosseguir até a liquidação do valor do crédito, que deve
ser atualizado até 20.06.2016. Com o crédito líquido, e após o
trânsito em julgado de eventual impugnação ou embargos, o
Juízo de origem deverá emitir a respectiva certidão de crédito e
extinguir o processo para que o credor concursal possa se
habilitar nos autos da recuperação judicial e o crédito respectivo
ser pago na forma do Plano de Recuperação Judicial, restando
vedada, portanto, a prática de quaisquer atos de constrição
pelos Juízos de origem.” (destacou-se)

Esse também é o entendimento da 8ª Turma do TST proferido nos


valiosos precedentes colacionados abaixo:

“A) AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA


INTERPOSTO PELA EXECUTADA. EXECUÇÃO. RECUPERAÇÃO
JUDICIAL. ATUALIZAÇÃO DO CRÉDITO. JUROS E CORREÇÃO
MONETÁRIA.

http://www4.tjrj.jus.br/consultaProcessoWebV2/consultaMov.do?v=2&numProcesso=2016.001.176528-
1&acessoIP=internet&tipoUsuario=
Em face da possível violação do artigo 5º, II, da CF, dá-se
provimento ao agravo de instrumento para determinar o
processamento do recurso de revista. Agravo de instrumento
conhecido e provido.
B) RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO PELA EXECUTADA.
EXECUÇÃO. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. ATUALIZAÇÃO DO
CRÉDITO. JUROS E CORREÇÃO MONETÁRIA.
Nos termos do artigo 9º, II, da Lei nº 11.101/2005, o crédito é
atualizado até a data do pedido de recuperação judicial, ou
seja, os juros de mora e a correção monetária deverão incidir
apenas até a data do pedido de recuperação judicial. Recurso
de revista conhecido e provido.”
(TST – Processo: TST-RR-291-57.2013.5.09.0005 - Relator(a): Ministra
DORA MARIA DA COSTA - Órgão Julgador: OITAVA TURMA - Data
da Publicação: DJe 13/08/2020)
Disponível em:
http://aplicacao4.tst.jus.br/consultaProcessual/decisaoForm.do?n
umInt=154051&anoInt=2014&codOrgaoJudic=518&anoPauta=202
0&numPauta=19&tipSessao=O

I - AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA


INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DA LEI Nº 13.467/2017 – EXECUÇÃO –
RECUPERAÇÃO JUDICIAL - CORREÇÃO MONETÁRIA E JUROS
MORATÓRIOS
Por divisar violação ao artigo 5º, II, da Constituição da República,
dá-se provimento ao Agravo de Instrumento para mandar
processar o Recurso negado.
II - RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DA LEI Nº
13.467/2017 – EXECUÇÃO – RECUPERAÇÃO JUDICIAL –
CORREÇÃO MONETÁRIA E JUROS MORATÓRIOS
A atualização do crédito, mediante incidência de juros de mora
e correção monetária, é limitada à data do pedido de
recuperação judicial. Entendimento diverso implica negativa de
vigência ao art. 9°, II, da Lei n° 11.101/2005.
Recurso de Revista conhecido e provido.
(TST - Processo: RR - 2297-12.2012.5.03.0111 - Órgão Judicante: 8ª
Turma - Relatora: Ministra Maria Cristina Irigoyen Peduzzi – Data
de Publicação: 27/09/2019)
Disponível em:
http://aplicacao5.tst.jus.br/consultaDocumento/acordao.do?an
oProcInt=2015&numProcInt=179356&dtaPublicacaoStr=27/09/201
9%2007:00:00&nia=7394046

Assim, houve a negativa e o afastamento pela Justiça do


Trabalho da aplicação de lei federal plenamente válida (artigo 9º, II, da Lei nº
11.101/2005), restando ferido o princípio da legalidade e violado o artigo 5°, II,
da Constituição Federal, uma vez que não houve a observância da
literalidade da legislação federal vigente, nos termos da fundamentação das
referidas decisões do TST:
Com a flagrante violação ao inciso II do artigo 5º da Constituição
Federal, em razão do afastamento da eficácia de norma regularmente
vigente que regulamenta a Recuperação Judicial, a não observância da
limitação de atualização dos créditos prevista no artigo 9º, II, da Lei nº
11.101/2005 acarreta na ofensa ao princípio basilar que determina a garantia
de isonomia entre os credores, o “par conditio creditorum”.

Neste sentido, destacam-se os fundamentos do acórdão


proferido pela 1ª Turma do TRT da 5ª Região de relatoria do Exmo.
Desembargador Edilton Meireles:

“(...) Daí se tem que os créditos trabalhistas consolidados ao


tempo do ajuizamento da ação de recuperação judicial serão
novados (art. 59 da Lei n. 11.101/05) e, assim, passarão a se
submeter a regramento respectivo, inclusive em relação aos
eventuais juros e correção monetária supervenientes.
Logo, a se entender que, aos créditos não liquidados na data do
ajuizamento da ação de recuperação judicial (que, quando
liquidados, deverão ser "inscritos na forma do § 2º do quadro-
geral de credores pelo valor determinado em sentença", art. 6º
da Lei n. 11.101/05), incidem os juros e correção monetária
previstos na legislação trabalhista (ao menos até a habilitação
no Juízo da Recuperação) estar-se-á dando tratamento
privilegiado a esses credores.
Isso porque, ao credor trabalhista com título liquidado na data
do ajuizamento da ação de recuperação judicial somente
incidirão os juros e correção monetária até este momento (art. 9º,
II, da Lei n. 11.101/05). Já para credores trabalhistas sem título
liquidado até a data do ajuizamento da ação de recuperação,
incidirão juros e correção monetária até a data de sua posterior
liquidação.
Daí porque há equidade no Enunciado nº 73 da II Jornada de
Direito Comercial do CJF ao fixar:
‘Para que seja preservada a eficácia do disposto na parte final
do § 2º do artigo 6º da Lei n. 11.101/05, é necessário que, no juízo
do trabalho, o crédito trabalhista para fins de habilitação seja
calculado até a data do pedido da recuperação judicial ou da
decretação da falência, para não se ferir a par conditio
creditorum e observarem-se os arts. 49, caput, e 124 da Lei n.
11.101/2005’.
Por fim, pelas razões apresentadas, conclui-se que o estado de
recuperação judicial da empresa limita, à data do pedido de
recuperação judicial, a incidência de juros e correção monetária
dos seus débitos decorrentes de processos trabalhistas.”
(TRT-5 – Processo: AP 0000490-80.2010.5.05.0010 – Órgão Julgador:
1ª Turma - Relator: Desembargador Edilton Meireles – Data de
Publicação: 16/09/2020)

De igual modo, observem-se outros idênticos posicionamentos da


jurisprudência dos Tribunais Regionais desta Especializada:

1) MG RTSum 0011295-12.2017.5.03.0137:
“Ante o exposto, os créditos deferidos neste feito deverão se
sujeitar ao plano de recuperação judicial da 2ª reclamada.
Nos termos do artigo 9º, inciso II, da Lei 11.101/2005, os
créditos deverão ser atualizados até a data do pedido de
recuperação judicial. Assim, determino a remessa dos autos
ao SLJ, para atualização dos cálculos homologados até
20/06/2016, data do pedido de recuperação judicial da 2ª
reclamada.”

2) CE RTSum 0000140-74.2015.5.07.0006 :
“À Contadoria da Vara para atualização do crédito
exequendo, deduzindo o valor recebido pela parte
reclamante a título de depósito recursal, observando a
incidência de juros e correção monetária até a data do
ingresso com o pedido de Recuperação Judicial da
Reclamada, ora Recuperanda, qual seja 20/06/2016.”

3) MG RTOrd 0162900-70.2000.5.03.0114:
“Indefiro, ainda, o requerimento da reclamante de ids
9b006c6 e 4b18ad1, para atualização dos valores constantes
na certidão de id 921e29d, porquanto a atualização do
crédito deve se limitar à data do pedido de recuperação
judicial.”

4) AC RTOrd 0010158-75.2014.5.14.0401:
“Considerando que a execução se processa em face do
devedor subsidiário, e que este encontra-se em recuperação
judicial, conforme documentos juntados aos autos, por meio
da petição de Id's ddbdc7c e a476a40, determino a remessa
do feito aos cálculos para adequação das contas,
observando-se a data do pedido de recuperação judicial,
nos termos do art.9º, inciso II da Lei n.11.101/2005.

5) MG RTOrd 0015900-71.2002.5.03.0025:
“Vistos.
Diante da manifestação id. 6a2ec38 e considerando que o
Juízo Recuperacional definiu que os valores a serem liberados
nas ações trabalhistas devem ser atualizados até a data do
pedido de recuperação judicial, qual seja: 20.06.2016 (id.
6a2ec38 - Pág. 4), defiro o requerimento da Telemar e revejo
o despacho anterior (id. ed9ec93), para que a liberação dos
créditos do autor seja feita com JCM a partir de 31/03/2016
até 20/06/2016. (...)”

6) SC RTOrd-0000374-67.2014.5.12.0001:
“RECUPERAÇÃO JUDICIAL - DATA DE ATUALIZAÇÃO: o art. 9º,
II, da Lei nº 11.101/2005 assim determina a respeito da
habilitação de crédito pelo credor:
Art. 9º. A habilitação de crédito realizada pelo credor nos
termos do art. 7º, parágrafo 1º, desta Lei deverá conter: (...) II
- o valor do crédito, atualizado até a data da decretação
da falência ou do pedido de recuperação judicial, sua
origem e classificação. (grifei)
Aplica-se ao caso a Tese Jurídica Prevalecente nº 02 do TRT
da 12ª Região:
"EXECUÇÃO DE CRÉDITOS TRABALHISTAS. EMPRESA EM
RECUPERAÇÃO JUDICIAL. COMPETÊNCIA. Nos casos de
empresa em Recuperação Judicial, a competência desta
Justiça Especializada limita-se à apuração dos créditos,
sendo do Juízo Recuperando a competência para executar
os valores apurados, inclusive aqueles relativos às
contribuições previdenciárias e fiscais."
Desta forma, considerando que a execução deverá ser
efetuada no Juízo da Recuperação Judicial e que a
executada efetuou seu pedido de recuperação em
20.06.2016, os cálculos de liquidação devem ser limitados a
esta data.
Acolho a impugnação para determinar que os valores
devidos pela executada sejam atualizados até 20.06.2016.”

7) PR RTOrd 000078-65.2010.5.09.0002:
Considerando-se a existência de depósitos nos autos, revejo o
despacho de fl. 1567.
1. HOMOLOGO a readequação dos cálculos de liquidação
de sentença apresentada pelo calculista do Juízo às fls. 1517
a1549 para que surtam os seus jurídicos efeitos.
2.Atualize-se a conta geral dos autos de acordo com os
cálculos ora homologados, abatendo-se os depósitos
realizados nos autos (fl. 727 e 728).
3. Após, liberem-se os referidos depósitos aos credores,
observando-se que os juros e a atualização deverão ser
apurados até a data de ingresso do pedido de Recuperação
Judicial, qual seja, 20/06/2016, conforme requerido pela
executada OI S.A. à fl. 1561.4.5.
Havendo saldo remanescente, libere-se-o ao depositante”.

8) MG RTOrd 0155600-93.2000.5.03.0005:
(...) Com efeito, disciplina o art. 9º da Lei n.º 11.101/2005:
Art. 9o A habilitação de crédito realizada pelo credor nos
termos do art. 7o, § 1o, desta Lei deverá conter:
II - o valor do crédito, atualizado até a data da decretação
da falência ou do pedido de recuperação judicial, sua
origem e classificação;
Nota-se, portanto, que a Lei impõe um limite para a
atualização monetária. Isso com objetivo de permitir a
liquidação total das dívidas titularizadas pela empresa
recuperanda.
Portanto, no presente caso, para manutenção da teleologia
da legislação citada, a dívida exequenda não pode ter
alteração no valor inscrito no juízo universal, seja decorrente
da simples atualização monetária posterior, ou até mesmo
pela aplicação de índice diverso do que ali inscrito (por
aplicação, no caso, do IPCA-E).
Assim, julgo improcedentes as insurgências manifestadas pelo
autor, bem como pelo i. perito.

9) MG - RTOrd 0011439-91.2017.5.03.0005:
Vistos.
Apreciando a petição de Id 08aab06, indefiro o
requerimento de atualização do débito até o pagamento da
última parcela, uma vez que a forma de pagamento
proposta e aprovada no plano de recuperação da
reclamada estipula que o crédito será habilitado após o
trânsito em julgado da sentença de liquidação, pondo fim à
discussão quanto ao montante devido.
Além disso, conforme expressamente expõe a reclamada (Id
5c781da), o parcelamento importa em novação do crédito
do reclamante, não tendo que se falar em aplicação de
correção monetária e juros.
Por fim, não se pode alterar o modo de pagamento firmado
no plano, que é aplicado a todos os credores, sob pena de
favorecer um credor, frente aos demais.
Intimem-se as partes para ciência.
Após, aguarde-se o pagamento do valor.
BELO HORIZONTE, 7 de Março de 2019.

10) SC - RTOrd 06109-2009-022-12-00-9:


O autor alega que não foi intimado para se manifestar da
petição de fl. 1074-1076v, em que a ré requer a limitação da
incidência dos juros e da correção monetária até 20.06.2016,
pedido acolhido à fl. 1080.
Pondera que a matéria estaria preclusa e que violaria a coisa
julgada.
Todavia, o que se percebe é que a competência da Justiça
Trabalhista, na forma do art. 6º, § 2º da Lei 11.101/05 somente
alcança a apuração dos créditos e não a execução.
Isso porque o deferimento do processamento da
recuperação judicial atrai a competência do Juízo
Recuperacional para todas as dívidas líquidas.
Logo, a apuração dos créditos deve se limitar ao momento
em que a competência ainda é da Justiça do Trabalho.
Após esse momento, o crédito se submeterá ao regramento
próprio da LRF.
Ademais, as disposições que tratam da competência do
Juízo Recuperacional são de ordem pública, de forma que
falece competência ao Juízo Trabalhista para determinar a
incidência de juros e correção até data posterior à
determinada por aquele Juízo.
11) PR - RTOrd 0001560-54.2011.5.09.0021:
DOS JUROS DE MORA - RECUPERAÇÃO JUDICIAL - LIMITAÇÃO
Sustenta a embargante que os cálculos devem ser limitados
à data do ingresso do processo de recuperação judicial
(20/06/2016).
Nos termos da legislação que rege a recuperação judicial, os
créditos a serem habilitados devem ser corrigidos até o
pedido da recuperação, o que não foi observado pelo perito.
À correção, portanto.

12) SC - RTOrd 0396400-28.2009.5.12.0034:


ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA. EMPRESA EM RECUPERAÇÃO
JUDICIAL
Impugna a executada a conta liquidatória, aduzindo que o
crédito apurado deve ser atualizado somente até
20/06/2016, em observância ao que dispõe o art. 9º, da Lei
11.101/2005, tendo em vista encontrar-se ela em
recuperação judicial.
Tem razão.
Dispõe o art. 9º, II, da Lei 11.101/2005, in verbis:
"Art. 9º A habilitação de crédito realizada pelo credor nos
termos do art. 7º, § 1º, desta Lei deverá conter:
[...]
II - o valor do crédito, atualizado até a data da decretação
da falência ou do pedido de recuperação judicial, sua
origem e classificação;"
No caso, sendo incontroverso e de notório conhecimento
que a executada encontra-se em recuperação judicial, cujo
pedido foi apresentado em 20/06/2016, e diante das demais
ações que tramitam perante esse Juízo, a atualização do
crédito deve ficar limitada a esta data.
Assim, acolho a impugnação no particular para determinar
voltem os autos ao perito para retificação da conta,
devendo proceder à atualização do crédito até 20/06/2016.
13) SE - RTOrd 0001802-89.2010.5.20.0005:
1. Nos autos, redirecionada a execução à OI, que está em
recuperação judicial. Esta reclamada, então, informou que o
plano aprovado da recuperação contemplava a quitação
dos valores dos créditos trabalhistas nos próprios autos em
que constituídos, sendo o valor apurado nos termos Lei de
Recuperação Judicial, art. 9º, II (atualização até 20/06/2016)
em cinco parcelas.
2. A reclamada cumpriu com os termos do plano, sendo que
os valores já foram liberados ao reclamante. A reclamada
comprovou, também, a quitação da contribuição
previdenciária devida, conforme ID 13346fd. Portanto, não
há mais pendências no feito.
3. O reclamante, contudo, no ID f5b28cd, sustenta, em suma,
que não houve quitação integral do feito, já que atualizado
até 20/06/2016 e o pagamento só ocorreu ao final de 2018.
Pede que a reclamada seja intimada para realizar o
pagamento da atualização devida.
4. O pedido do reclamante, contudo, não pode prosperar.
Claro está que o presente crédito foi objeto da recuperação
judicial. Lá, com a participação dos credores, ficou decidida
a forma de pagamento do crédito objeto da recuperação.
Este só se deu nestes autos apenas por uma questão de
praticidade (inclusive os demais credores não tiveram tal
benefício) para o Juízo da Recuperação.
5. Contemplado, portanto, na recuperação judicial, o crédito
foi alvo de novação, na forma do art. 59, caput, da Lei
11.101/2005, bem como da cláusula 11.2 do Plano de
Recuperação. Quitado nos termos em que novado, não há
outra conclusão que não entender pela sua extinção.
6. Registro, ainda, que, caso entendesse de forma diferente,
este Juízo estaria invadindo competência absoluta do Juízo
da Recuperação que, após a liquidação do feito por este
Juízo Trabalhista, passa a ser responsável pelo crédito a ele
encaminhado e pela forma de sua extinção.
7. Dessa forma, declaro a extinção da presente execução.

14) BA – ATOrd 0001138-03.2010.5.05.0611:


DA LIMITAÇÃO DA INCIDÊNCIA DE JUROS E CORREÇÃO
MONETÁRIA.
O impugnante afirma que, nos termos do 9º, II, da Lei
11.101/2005, que regulamenta as empresas em recuperação
judicial, os juros e atualização deverão ser apurados até a
data de ingresso do pedido de recuperação judicial.
Em razão do exposto, o juízo que promove a recuperação
judicial do impugnante determinou expressamente, em
decisão publicada em 08/05/2018, que os créditos
concursais devem ser atualizados até 20.06.2016 (data de
ingresso do processo de Recuperação Judicial).
Sendo assim, os cálculos apresentados deverão observar os
parâmetros estabelecidos.

15) RJ RT 0077100-69.2009.5.01.0064:
“2.1. DO LIMITAÇÃO DOS CÁLCULOS.
Alega o embargante que os cálculos homologados não
observaram a data da recuperação judicial.
Com razão.
Estabelece a Lei 11.101/2005, especificamente no inciso II, do
Art. 9º, o que segue: "A habilitação de crédito realizada pelo
credor nos termos do art. 7º , § 1º , desta Lei deverá conter: II -
o valor do crédito, atualizado até a data da decretação da
falência ou do pedido de recuperação judicial, sua origem e
classificação".
Isto não foi observado no momento da homologação dos
cálculos, que devem ser alterados, portanto.
Acolho.”
16) RJ RT 0091900-70.2006.5.01.0044:
“Dos juros e da correção monetária
Com razão.
Os juros de mora e a correção monetária devem ser
limitados na forma do inciso II, do art. 9, da Lei 11.101/2005, à
data do pedido de recuperação judicial.
Art. 9o A habilitação de crédito realizada pelo credor nos
termos do art. 7o, § 1o, desta Lei deverá conter:
I – o nome, o endereço do credor e o endereço em que
receberá comunicação de qualquer ato do processo;
II – o valor do crédito, atualizado até a data da decretação
da falência ou do pedido de recuperação judicial, sua
origem e classificação;
Dou provimento.”

Desta forma, por existir expressa determinação do Juízo


Recuperacional no sentido de que os cálculos apurados judicialmente
devem ser atualizados apenas até a data do pedido da Recuperação
Judicial da Agravante, qual seja 20/06/2016, o que corrobora a expressa
disposição legal prevista no artigo 9º, II, da Lei 11.101/2005, deve ser
determinada a revisão dos cálculos, pois decisão em contrário, data
venia, viola os artigos 5º, II e LIII, e 114 da Constituição Federal, desde já,
prequestionados, tendo em vista que usurpa e extrapola a competência
absoluta e exclusiva do Juízo Empresarial para estabelecer e promover
os critérios e as premissas para o fiel cumprimento das obrigações
constantes no Plano de Recuperação Judicial.

Isso porque apenas compete ao Juiz recuperacional


tomar decisões e medidas referentes às empresas recuperandas, sendo
certo que não está entre as competências da Justiça do Trabalho
interferir, contrariar ou modificar as determinações proferidas em
processos de recuperação judicial, in verbis:

CONSTITUIÇÃO FEDERAL/88:
Art. 5º, LIII - ninguém será processado nem sentenciado
senão pela autoridade competente;

Art. 114 - Compete à Justiça do Trabalho processar e


julgar:
I - as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos
os entes de direito público externo e da administração
pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios;
II - as ações que envolvam exercício do direito de greve;
III - as ações sobre representação sindical, entre sindicatos,
entre sindicatos e trabalhadores, e entre sindicatos e
empregadores;
IV - os mandados de segurança, habeas corpus e habeas
data, quando o ato questionado envolver matéria sujeita
à sua jurisdição;
V - os conflitos de competência entre órgãos com
jurisdição trabalhista, ressalvado o disposto no art. 102, I, o;
VI - as ações de indenização por dano moral ou
patrimonial, decorrentes da relação de trabalho;
VII - as ações relativas às penalidades administrativas
impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização
das relações de trabalho;
VIII - a execução, de ofício, das contribuições sociais
previstas no art. 195, I, a , e II, e seus acréscimos legais,
decorrentes das sentenças que proferir;
IX - outras controvérsias decorrentes da relação de
trabalho, na forma da lei.

Como se pode observar, no rol de competências atribuídas à


Justiça do Trabalho não consta o processamento e o julgamento das ações
de Recuperação Judicial, sendo certo que, utilizando-se do critério residual, a
competência para processar e julgar as ações decorrentes de relações
empresariais de igual forma é exclusiva da Justiça Comum, por meio de suas
Varas Empresariais, como no caso das Recuperações Judiciais e da Falência.

Assim, a Justiça do Trabalho é totalmente incompetente para


proferir decisão que contrarie as determinações oriundas do Juízo
recuperacional e as regras estabelecidas no Plano de Recuperação Judicial
aprovado em Assembleia Geral de Credores, dentre elas a aplicação de juros
e correção monetária após o deferimento da recuperação judicial da
Recuperanda.

Por fim, ressalta-se que a discussão em tela também representa


inegável violação ao direito constitucionalmente protegido pelo inciso XXII do
artigo 5º da CRFB de propriedade da Reclamada, ora recuperanda, na
medida em que eventual determinação desta Justiça do Trabalho que
autorize a incidência de juros e de correção monetária em créditos
trabalhistas depois de 20/06/2016, além de ser ilegal e proferida por juízo
incompetente, causará inegável prejuízo financeiro ao patrimônio da
devedora, majorando de forma demasiada e desproporcional a condenação
que lhe foi judicialmente imposta.

Requer-se, portanto, sejam considerados os juros e atualização


somente até a data do ingresso com o pedido de Recuperação Judicial da
Reclamada, ora Recuperanda, qual seja 20/06/2016, sob pena de violação
aos artigos 5º, II, XXII e LIII, e 114 da Constituição Federal.
Diante do exposto, espera o executado pelo acolhimento das
razões supra, consubstanciadas através dos cálculos em anexo, em
cumprimento a determinação contida no art. 879, § 2º da CLT, parte integrante
desta manifestação, os quais requer-se sejam homologados, como medida de
mais salutar JUSTIÇA!

Termos em que,
Pede deferimento.

Rio de Janeiro, 02 de fevereiro de 2021.

Ana Luisa Vilela de Sena Torres


OAB/RJ 164.061

José Eduardo de Almeida Carriço


OAB/RJ 45.513

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