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Direito de Empresa I – Curso de Direito – UFES

Disciplina: Direito Societário – artigo 966 e seguintes do Código Civil


Professora Doutora Dora Berger Resumo 1

1 Divisão das pessoas jurídicas


As pessoas jurídicas de direito público interno e externo, assim como de direito
privado estão relacionadas nos artigos 40 - 44 da Lei nº 10.406, de 10 de
janeiro de 2002, que institui o Código Civil. Com base na origem dos recursos
empregados para a constituição das mesmas, dividem-se em:

Pessoas Jurídicas de
Direito Público Externo. Santa Sé; ONU; UNESCO; OEA, etc.;
Realizam objetivos de ordem
pública. Regidas pelo Direito
Internacional Público:
Associação civil;
Fundação particular;
Pessoas jurídicas de Sociedade simples de natureza civil;
Direito Privado. Realizam
Objetivos de ordem par- Sociedade limitada unipessoal e plural;
ticular, regidas pelo Sociedade em nome coletivo;
Direito Privado: Sociedade em comandita simples;
Sociedade em comandita por ações;
Sociedade por ações (S.A ou Cia.);
Sociedade em conta de participação;
Empreendedor individual (EI).
2 Pessoas jurídicas de direito público interno da administração indireta
ou descentralizada

(i) Pessoas jurídicas de direito público interno da administração indireta –


o capital social é formado parcial ou totalmente com recursos do Estado. São
espécies do gênero estatais em razão da descentralização dos serviços
públicos da União, do Distrito Federal, dos Estados e dos Municípios (os
territórios foram extintos, por força do artigo 15 do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias). São elas: autarquia pública; fundação pública;
empresa pública; sociedade de economia mista. Passamos a expor sobre as
mesmas de forma separada:

(a)Autarquia pública – o inciso I do artigo 5º do Decreto-Lei nº 200, de 25 de


fevereiro de 1967, define a autarquia pública nos seguintes termos: “O serviço
autônomo, com personalidade jurídica, patrimônio e receita próprios, para
executar atividades típicas da administração Pública, que requeiram, para seu
melhor funcionamento, gestão administrativa e financeira descentralizada”.

A autarquia pública é criada por lei ordinária e específica de inciativa do Chefe


do Poder Executivo (Presidente, Governador ou Prefeito), presta serviço típico
ou próprio do Estado nas mais diferentes áreas; tem personalidade jurídica,
podendo exercer direitos e assumir obrigações em nome próprio; tem
legitimidade processual ativa e passiva para integrar ação judicial; tem
patrimônio próprio custeado pela unidade federativa que a criou (União, Distrito
Federal, Estado ou Município); tem autonomia administrativa em relação ao
ente federado que a constituiu, podendo elaborar suas próprias leis e
administrar seus próprios negócios, na esfera federal ligada a um Ministério e
no âmbito distrital, estadual e municipal vinculada a uma Secretaria.

Em síntese: O Poder Público (União, Distrito Federal, Estado ou Município)


transfere a execução de um serviço típico ou próprio do Estado para a
autarquia, que sempre é pessoa jurídica de direito público; possui natureza
administrativa e tem autonomia administrativa em relação à unidade federativa
a qual é ligada.
Exemplos de autarquias públicas: Universidade Federal do Espírito Santo
(Ufes), vinculada ao Ministério da Educação; Instituto Nacional do Seguro
Social (INSS), ligado ao Ministério da Economia; Instituto Nacional de
Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), vinculado ao Ministério da
Economia; Banco Central do Brasil (Bacen), ligado ao Ministério da Economia;
Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), ligado ao Ministério da
Justiça e Segurança Pública; Casa da Moeda do Brasil, vinculada ao Ministério
da Fazenda; Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi), ligado ao
Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais (Inpe), vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia,
Inovações e Comunicações; Departamento Nacional de Trânsito (Denatran),
ligado ao Ministério da Infraestrutura; Instituto de Previdência dos Servidores
do Estado do Espírito Santo (IPAJM), autarquia estadual; Junta Comercial do
Estado do Espírito Santo (Jucees), autarquia estadual que executa e
administra os serviços de Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades
Afins, vinculada à Secretaria de Estado da Fazenda (Sefaz-ES);

(b) Fundação pública – de acordo com o inciso IV do artigo 5º do Decreto-


Lei nº 200, de 25 de fevereiro de 1967, fundação pública é “a entidade dotada
de personalidade jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, criada em
virtude de autorização legislativa, para o desenvolvimento de atividades que
não exijam execução por órgãos ou entidades de direito público, com
autonomia administrativa, patrimônio próprio gerido pelos respectivos órgãos
de direção e funcionamento custeado por recursos da União e de outras
fontes”.

O instituidor da fundação pública pode ser a União, Distrito Federal, Estado ou


Município, que destina recursos orçamentários para a criação e manutenção da
entidade. Ela é criada por autorização do poder legislativo (União - Congresso
Nacional, que se compõe da Câmara dos Deputados e do Senado Federal;
Distrito Federal - Câmara Legislativa do Distrito Federal; Estados - Assembleia
Legislativa; Municípios - Câmara Municipal), bem como uma lei complementar
que define a área de atuação que deve ser uma atividade de interesse social.
Exemplos: na área de saúde, educação, assistência social, cultura, desporto,
ciência e tecnologia, meio-ambiente, previdência complementar do servidor
público.

A fundação pública tem patrimônio próprio custeado por recursos da unidade


federativa que a criou e de outras fontes; tem autonomia administrativa em
relação ao ente federado que a constituiu, podendo elaborar suas próprias leis
e administrar seus próprios negócios; tem personalidade jurídica, ou seja,
aptidão para exercer direitos e assumir obrigações em nome próprio; tem
legitimidade processual, podendo figurar no polo ativo e passivo de ação
judicial.

Toda pessoa jurídica de direito público ou privado que recebe recursos públicos
da União, Distrito Federal, Estados ou Municípios, submete-se, quanto à
aplicação dos recursos recebidos, ao controle do Tribunal de Contas da União
(TCU) se recebe recursos da União; ao controle do Tribunal de Contas do
Estado ou do Distrito Federal se recebe recursos públicos do Distrito Federal,
Estado ou Município, em conformidade com o inciso X do artigo 49; caput do
artigo 70 e seu parágrafo único; ainda, inciso II do artigo 71, todos da
Constituição da República Federativa do Brasil.

As fundações exercem atividades de interesse social, não podem ter fins


lucrativos. Em outras palavras, não podem ter como objetivo a obtenção de
lucros e distribuição de dividendos. Se houver produção de receita ou
rendimento financeiro decorrente da realização de suas atividades, chamado
de remanescente (não lucro), o capital obtido deverá ser revertido ou aplicado
na própria fundação para o cumprimento das suas finalidades.

A fundação pública exerce atividade atípica ou que não é exclusiva de


entidades de direito público, podendo ser realizada por pessoa jurídica de
direito privado. Portanto, existem dois tipos de fundações: uma regida pelo
direito público (fundação pública); outra regida por normas jurídicas de direito
privado (fundação privada), mais precisamente, pelos artigos 62-69 da Lei nº
10.406, de 10 de janeiro de 2002, que institui o Código Civil.

A fundação pública é semelhante à privada, ambas têm finalidade social e fins


não lucrativos. Todavia, diferenciam-se quando ao instituidor e origem dos
recursos, como na sequência exposto: (i) fundação pública - criada por
iniciativa do Poder Público (União, Distrito Federal, Estado ou Município), exige
autorização do Poder Legislativo (Congresso Nacional, Câmara Legislativa
(DF), Assembleia Legislativa ou Câmara Municipal) e Lei Complementar que
define a área de atuação social; (ii) fundação privada - criada por ato de
vontade de um particular, a partir de patrimônio privado, através de escritura
pública ou testamento, que é um ato mediante o qual a pessoa dispõe de seus
bens, no todo ou em parte, para depois de sua morte.

Os recursos alocados para as fundações visam beneficiar a sociedade humana


ou a coletividade, de modo que, para a proteção dos interesses e direitos dos
beneficiários, as fundações sujeitam-se ao controle do Estado, cabendo ao
representante do Ministério Público (Promotor de Justiça) velar ou acompanhá-
las.

Estabelece o caput do artigo 66 e seus parágrafos da Lei nº 10.406, de 10 de


janeiro de 2002, que institui o Código Civil, que velará pelas fundações o
representante do Ministério Público do local de funcionamento; se funcionarem
no Distrito Federal, caberá o encargo ao representante do Ministério Público
Federal (o Ministério Público do Distrito Federal é ramo do Ministério Público da
União); se funcionarem nos Estados ou Municípios a incumbência cabe ao
Ministério Público Estadual.

Velamento abrange, entre outros aspectos: verificação da suficiência de bens


para cumprimento da sua finalidade; se for o caso, promover judicialmente a
intervenção da fundação; examinar anualmente suas demonstrações
contábeis. No entanto, o representante do Ministério Público não realiza o
acompanhamento (velamento) contínuo das fundações, atua apenas
pontualmente, caso tome conhecimento de irregularidades de recursos
públicos ou na prestação de serviço público.

As fundações são regidas por estatutos; são isentas de todos os impostos


federais, distritais, estaduais e municipais, como fica claro do artigo 150, inciso
VI, alínea (c), da Constituição da República Federativa do Brasil.
Em resumo: O Estado faz a dotação patrimonial e destina recursos
orçamentários para a criação e manutenção da fundação pública, criando-a
para satisfazer alguma necessidade de interesse social; possui natureza social;
pode ser pessoa jurídica de direito público ou pessoa jurídica de direito privado;
exerce atividade atípica ou não exclusiva do Poder Público.

Exemplos de fundações públicas: Conselho Nacional de Desenvolvimento


Científico e Tecnológico (CNPq); Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), cuja finalidade é compreender e apoiar o desenvolvimento do País
através da coleta de informações estatísticas; Fundação Nacional da Saúde
(Funasa); Fundação Nacional do Índio (Funai), tem propósito de amparar as
populações indígenas; Fundacentro, instituição de pesquisa e estudos
atinentes à segurança, higiene e medicina do trabalho, vinculada ao Ministério
do Trabalho; Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), instituição nacional de
pesquisa e desenvolvimento em ciências biológicas, vinculada ao Ministério da
Saúde; Fundação Cultural Palmares, tem por objetivo a promoção e
preservação da arte e cultura afro-brasileira.

As principais diferenças entre autarquia e fundação pública podem ser assim


relacionadas:

(3) Estatais: sociedade de economia mista e empresa pública


O artigo 5º do Decreto-Lei nº 200, de 25 de fevereiro de 1967, prevê a empresa
pública e a sociedade de economia mista, chamadas de estatais, criadas
através de lei, integram a administração pública indireta, o capital é formado
total ou parcialmente com recursos da União, do Distrito Federal, dos Estados
ou dos Municípios.

A Lei nº 13.303, de 30 de junho de 2016, denominada “Lei das Estatais”,


dispõe sobre o estatuto jurídico que rege a empresa pública, a sociedade de
economia mista e suas subsidiárias no âmbito da União, do Distrito Federal,
dos Estados e dos Municípios.

Depois que o Estado constitui, por meio de lei, uma empresa pública ou
sociedade de economia mista (chamada de empresa primária ou de primeiro
grau), as estatais podem constituir subsidiárias (chamada de empresa de
segundo grau), desde que a lei que criou a empresa primária contenha
autorização para constituição de empresa de segundo grau. Empresa
subsidiária é aquela que possui a maioria de seu capital social pertencente a
uma empresa pública ou sociedade de economia mista primária ou de primeiro
grau. Exemplos: A Caixa Econômica Federal (empresa pública) tem como
subsidiária a CAIXA Loterias S.A; O Banco do Brasil S.A (sociedade de
economia mista) tem como subsidiárias o Banco BV, Brasilprev Seguros e
Previdência S.A; a Petrobrás S.A (sociedade de economia mista) tem como
subsidiárias a Transpetro, Gaspetro, Petrobrás Transporte S/A; a Empresa de
Correios e Telégrafos (empresa pública) tem como subsidiária Correios
Participações S/A.

As estatais ajudam o Estado a desenvolver atividades econômicas que são


executadas pelas pessoas jurídicas de direito privado ou da iniciativa privada,
cujo capital é totalmente privado. À vista disso, o regime jurídico a elas
aplicável é híbrido, a elas se aplicam regras do direito privado e de direito
público. Em função disso, são chamadas de pessoas jurídicas de direito público
com personalidade jurídica de direito privado.

De modo que, no que tange à estrutura e organização das estatais


prevalece o direito público. Exemplos: submetem-se, quanto à aplicação dos
recursos recebidos, ao controle do Tribunal de Contas da União (se foi a União
quem criou a estatal), ou ao controle do Tribunal de Contas do Distrito Federal
ou do Estado (se foi o Distrito Federal, Estado ou Município quem criou a
estatal); se sujeita às regras da licitação a fim de selecionar a proposta mais
benéfica para adquirir ou contratar bens ou serviços, vigorando o princípio da
isonomia ou da igualdade entre as pessoas que desejam contratar com a
administração pública, dando a todos oportunidade de participarem do certame;
o ingresso dos empregados públicos deve ser precedido de aprovação em
concurso público, nos termos do artigo 37, inciso II, da Constituição da
República Federativa do Brasil.

No caso da licitação pública, entre o vencedor do certame (contratado) e a


administração pública (contratante) é celebrado um contrato administrativo
com cláusulas exorbitantes, regido pelas normas jurídicas de direito
público, as quais não seriam admitidas ou lícitas em contratos privados
regidos pelo direito privado ou celebrados entre particulares, porque
concedem prerrogativas e colocam a administração pública em posição de
supremacia sobre o contratado, podendo a administração pública modificar e
rescindir os contratos administrativos unilateralmente, quando houver interesse
público relevante.

Sucede que, o Poder Público não pode impor o contrato administrativo nas
suas relações com terceiros, por isso, tratando-se de relações das estatais
com terceiros prevalece o direito privado. Nos contratos privados regidos
pelas normas do direito privado, o Estado situa-se no mesmo patamar de
igualdade que os particulares, submetendo-se ao mesmo sistema contratual e
obrigacional das pessoas jurídicas de direito privado, como é o caso do
contrato de locação de prédio em que o Estado figura como locatário ou
inquilino, a relação jurídica rege-se pela Lei nº 8.245, de 10 de outubro de
1991, igualmente aplicável à relação locatícia de direito privado ou entre
particulares.

A empresa pública e a sociedade de economia mista não poderão gozar de


privilégios fiscais (privilégios tributários) não extensivos às do setor privado.
Dito de outro modo, devem recolher tributos nos moldes de uma pessoa
jurídica de direito privado, consoante parágrafo 2º do artigo 173 da Constituição
da República Federativa do Brasil.
3.1 Criação
A criação e extinção da empresa pública e da sociedade de economia mista e
de suas subsidiárias requer lei específica (lei ordinária), editada pelo Chefe do
Poder Executivo (Presidente da República, Governador ou Prefeito). Os
objetivos da empresa pública e da sociedade de economia mista devem vir
declarados, com clareza e precisão, na lei que autoriza as suas criações, de
onde serão transpostos para os seus atos constitutivos (estatutos jurídicos),
que os mencionarão sem alterações quanto à sua extensão.

A empresa pública e a sociedade de economia não se aplica a Lei nº 11.101,


de 9 de fevereiro de 2005, que regula a falência e a recuperação de empresas;
inclusive, a exclusão está prevista no inciso I do artigo 2º da lei
supramencionada. Da mesma forma, às estatais não se aplica a doutrina da
desconsideração da personalidade jurídica, prevista no artigo 50 da Lei nº
10.406, de 10 de janeiro de 2002, que institui o Código Civil, em razão do
disposto no artigo 43 da mesma lei, nos seguintes termos: As pessoas de
direito público interno são civilmente responsáveis por atos dos seus agentes
que nessa qualidade causem danos a terceiros, ressalvado o direito regressivo
contra os causadores do dano, se houver, por partes destes, culpa ou dolo.

Compreende-se que, a pessoa jurídica de direito público da administração


direta (União, Distrito Federal, Estado ou Município), que criou a pessoa
jurídica de direito público da administração indireta (autarquia, fundação
pública, empresa pública ou sociedade de economia mista), responde pelos
danos impostos a terceiros, podendo lançar mão da ação de regresso em face
do causador do dano, desde que demonstrado que este agiu com culpa ou
dolo.

3.2 Forma de organização e natureza


A diferença básica entre a sociedade de economia mista e a empresa pública
está no seguinte aspecto: na empresa pública o capital é totalmente público
(100% público), poderá se revestir de qualquer das formas admitidas em lei.
Exemplos: sociedade limitada (abreviado, Ltda.), sociedade por ações
(abreviado, S/A ou Cia.), a teor do artigo 5º, inciso II, do Decreto-Lei nº 200, de
25 de fevereiro de 1967.

Por seu turno, na sociedade de economia mista o capital é misto, ou seja, o


Estado se reserva mais da metade das ações com direito a voto, as demais
ações são lançadas no mercado para subscrição (aquisição) pública. Da
mesma forma, tem que ser constituída na forma de sociedade por ações
(também denominada sociedade por ações ou companhia, abreviado: S.A ou
Cia.), nos termos do artigo 5º, inciso III, do Decreto-Lei nº 200, de 25 de
fevereiro de 1967.

Pontua-se que, a “sociedade por ações” também é denominada de “sociedade


anônima”. Sucede que não há ninguém anônimo, tanto a pessoa jurídica
quanto os acionistas são identificáveis através do registro da pessoa jurídica na
Junta Comercial e por intermédio do Livro de Registro de Ações Nominativas.
Optamos por chamá-la de sociedade por ações, assim como o legislador a
denomina na Lei que lhe é própria de nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976.

3.3 Atividades que realizam


A empresa pública e a sociedade de economia mista e suas subsidiárias
podem desempenhar dois tipos de atividades:
(i)Atividade econômica para a produção ou circulação de bens - a
princípio, a produção e a circulação de bens são reservadas às pessoas
jurídicas de direito privado ou da iniciativa privada, a atividade do Estado é
mais voltada ao interesse público. De modo que, será em caráter
complementar, pois, o Poder Público só poderá intervir no domínio econômico
quando houver relevante interesse coletivo ou imperativos da segurança
pública, em conformidade com o artigo 173 da Constituição da República
Federativa do Brasil;

(ii) Prestação de serviços públicos - classificados em: (a) serviço público


em sentido estrito ou limitado - é aquele privativo da administração pública,
ou seja, que somente poderá ser prestado pela administração pública, sendo
indelegável. ou intransferível. Exemplo: serviço de segurança nacional; (b)
serviço público de utilidade pública - é aquele cuja execução não é privativa
da administração pública, vale dizer, comporta execução pelo Estado e por
particulares, por conseguinte, pode ser delegado a terceiros. Exemplos: gás,
telefonia, energia elétrica, transporte de passageiros, telecomunicações.

As agências reguladoras, pessoas jurídicas de direito público interno,


geralmente constituídas sob a forma de autarquia, criadas pelas unidades
federativas através de lei, exercem a fiscalização e o controle sobre serviços
públicos delegados ou transferidos a terceiros. Exemplos de agências
reguladoras: Agencia Nacional de Telecomunicações (Anatel), regula o setor
de telecomunicações; Agencia Nacional de Energia Elétrica (Aneel), regula o
setor elétrico brasileiro; Agencia Nacional do Petróleo, Gás Natural e
Biocombustíveis, regula as atividades que integram as indústrias de petróleo e
gás natural e de biocombustíveis no Brasil, autarquia federal vinculada ao
Ministério das Minas e Energia..

3.4 Foro processual


Institui a Súmula nº 517 do Supremo Tribunal Federal (STF): “As sociedades
de economia mista só têm foro na Justiça Federal quando a União intervém
como assistente ou opoente”. Completa a Súmula nº 556 do Supremo Tribunal
Federal (STF): “É competente a Justiça comum para julgar as causas em que é
parte sociedade de economia mista”.

Depreende-se que, cabe à Justiça Estadual ou comum processar e julgar


ações nas quais as empresas públicas e sociedades de economia mista
figurem como parte, ocorrendo à competência da Justiça Federal unicamente
nas hipóteses em que a União faz parte ou intervém no feito.

A Justiça do Trabalho é competente para processar e julgar as causas que


envolvam os empregados públicos (também conhecidos como celetistas) da
empresa pública e da sociedade de economia mista, cujos contratos de
trabalho são regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), como
previsto no caput do artigo 114 e seu inciso I da Constituição da República
Federativa do Brasil: “Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho promover e
julgar: I - as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de
direito público externo e da administração pública direta e indireta da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios”.

3.5 Regime de pessoal


Em atendimento aos princípios da impessoalidade e da igualdade ou da
isonomia, o ingresso dos empregados públicos na empresa pública e na
sociedade de economia mista e suas subsidiárias deve ser precedido de
aprovação em concurso público, tal como previsto no artigo 37, inciso II, da
Constituição da República Federativa do Brasil.

Por serem sujeitos ao regime trabalhista comum, os empregados públicos das


empresas estatais não gozam de estabilidade no trabalho, como é o caso dos
servidores públicos os quais, depois de terminado o período probatório, só
podem ser demitidos mediante processo administrativo com contraditório e
ampla defesa. No entanto, a doutrina majoritária e a jurisprudência têm
assegurado aos empregados públicos concursados das estatais o direito de
exigir motivação ou que sejam expostos os motivos que ensejam a dispensa
dos mesmos, em atenção aos princípios constitucionais da impessoalidade e
da igualdade ou da isonomia, que visam impedir atuações que gerem
benefícios, descriminações, privilégios a determinados grupos em detrimento
de outros, previstos no caput do artigo 37 da Constituição da Republica
Federativa do Brasil. Inconformado com a motivação, o empregado público
pode recorrer ao Poder Judiciário, visto que, “a lei não excluirá da apreciação
do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”, nos termos do artigo 5º, inciso
XXXV, da Constituição da República Federativa do Brasil.

São exemplos de empresas públicas federais: Empresa Brasileira de Correios


e Telégrafos (EBCT), vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia,
Inovações e Comunicações; Caixa Econômica Federal (CEF), ligada ao
Ministério da Economia; Casa da Moeda do Brasil (CMB), vinculada ao
Ministério da Fazenda; Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES), ligado ao Ministério da Economia; Empresa Brasileira de
Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), vinculada ao Ministério da
Infraestrutura.
Exemplos de sociedades de economia mista federais: Banco do Brasil S.A.
(BB), ligado ao Ministério da Economia; Petróleo Brasileiro S.A. (Petrobrás),
vinculada ao Ministério de Minas e Energia.

São exemplos de sociedades de economia mista estaduais: Banco Nacional de


Desenvolvimento do Estado do Espírito Santo S/A (Bandes), ligado a
Secretaria de Estado da Fazenda do Espírito Santo (Sefaz-ES); Banco do
Estado do Espírito Santo S.A. (Banestes), vinculado a Secretaria de Estado da
Fazenda do Espírito Santo (Sefaz-ES); Companhia Espírito Santense de
Saneamento S.A. (Cesan), vinculada a Secretaria de Estado de Saneamento,
Habitação e Desenvolvimento Urbano (Sedurb), todas têm como acionista
majoritário o governo do Estado do Espírito Santo.

4 Associação civil, fundação particular, organizações religiosas e


Confederação Brasileira de Futebol (CBF), OAB
Antes de expormos acerca de empreendedor individual e sociedades
empresárias da iniciativa privada, convém elucidar os conceitos de associação
civil, fundação particular, organizações religiosas, Confederação Brasileira de
Futebol (CBF), Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), todos integram o direito
privado:

4.1 Associação civil – o artigo 53 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002,


que institui o Código Civil, define as associações como um agrupamento de
pessoas que se organizam para realizar atividade de natureza religiosa,
filantrópica (significa voluntários que prestam assistência social a crianças,
idosos, pessoas carentes, etc.), cultural, desportiva e social (associação
organizada por pessoas ligadas ao meio artístico, têm objetivo educacional e
de promoção de temas relacionados às artes e questões polêmicas da
sociedade, desse grupo fazem parte os clubes esportivos e sociais), científica,
educacional, entre outros, sem fins econômicos, ou seja, sem interesse de
dividir futuros lucros entre os associados.

A associação pode exercer atividade econômica, mas não pode ter fins
econômicos ou finalidade de distribuição dos resultados ou lucros aos
associados, dirigentes ou instituidores. Toda a renda proveniente de suas
atividades deve ser revertida para o cumprimento dos seus objetivos previstos
no seu ato constitutivo que é um estatuto social.

O artigo 46 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002, que institui o Código


Civil, aponta as informações que obrigatoriamente devem constar no estatuto
social, que deve ser registrado no Cartório de Registro Civil das Pessoas
Jurídicas do local da sede. Da mesma forma, as atividades econômicas
desenvolvidas pelas associações devem estar previstas expressamente em
seus estatutos, assim como a intenção de reverter a receita gerada para o
cumprimento dos seus objetivos sociais.

Nesta hipótese estão incluídas as entidades ou estabelecimentos de ensino


sem fins econômicos ou lucrativos. O fato dos resultados não serem
distribuídos não significa que a associação não possa cobrar mensalidades de
seus alunos para custear salários de Professores, manutenção de salas de
aula, aquisição de livros para a biblioteca e todas outras despesas inerentes à
atividade;

4.2 Fundação Privada - rege-se pelo artigo 62 e seguintes da Lei nº 10.406,


de 10 de janeiro de 2002, que institui o Código Civil, portanto, pelo direito
privado, criada mediante escritura pública ou testamento feito em vida por uma
pessoa para produzir efeitos após a morte.

É constituída mediante um patrimônio de bens livres (dinheiro, créditos,


propriedades), doado por uma pessoa natural ou jurídica para realizar uma
atividade de interesse social. Ao instituir a fundação, também se pode declarar
a maneira como o patrimônio deverá ser administrado, de acordo com o caput
do artigo 62 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002, que institui o Código
Civil. Consoante o parágrafo único do artigo 62 da mesma lei, a fundação
somente poderá ser constituída para fins de: (i) assistência social; (ii) cultura,
defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico; (iii) educação; (iv)
saúde; (v) segurança alimentar e nutricional; (vi) defesa, preservação e
conservação do meio ambiente e promoção do desenvolvimento sustentável;
(vii) pesquisa científica, desenvolvimento de tecnologias alternativas,
modernização de sistemas de gestão, produção e divulgação de informações e
conhecimentos técnicos e científicos; (viii) promoção da ética, da cidadania, da
democracia e dos direitos humanos; (ix) atividades religiosas.

O ato constitutivo da fundação privada, ou seja, o estatuto social deve ser


registrado no Cartório de Registro Civil das Pessoas Jurídicas, o que lhe
concede personalidade jurídica, capacidade processual, existência e patrimônio
distinto das pessoas que possam nela intervir. Deverá ser administrada em
conformidade com o seu estatuto social, que vincula o acervo de bens à
realização da finalidade social específica indicada pelo instituidor da pessoa
jurídica.

A fundação pode exercer atividade econômica, mas não pode ter fins
econômicos, ou seja, não pode ter como objetivo a obtenção de lucros e
distribuição de dividendos. Se houver produção de rendimentos financeiros
decorrente da realização de suas atividades, o capital obtido, chamado de
remanescente (não lucro), deverá ser revertido ou aplicado na própria fundação
para o cumprimento das suas finalidades de interesse social, podendo,
inclusive, ser utilizado para remunerar seus diretores ou administradores pelos
serviços prestados, respeitados como limites máximos os valores praticados
pelo mercado na região correspondente à sua área de atuação.

Se as fundações privadas recebem recursos da União (governo federal), suas


contas se sujeitam à fiscalização do Tribunal de Contas da União (TCU); se
recebem recursos do Distrito Federal, dos Estados ou Municípios, se sujeitam à
fiscalização do Tribunal de Contas do Distrito Federal ou do Estado, em cuja
base territorial tem suas sedes, em conformidade com o inciso X do artigo 49;
caput do artigo 70 e seu parágrafo único; ainda, inciso II do artigo 71, todos da
Constituição da República Federativa do Brasil.

Na circunstância em que as fundações privadas funcionam no estado ou


município, são veladas ou acompanhadas pelo representante do Ministério
Público Estadual; se funcionam no Distrito Federal são veladas ou
acompanhadas pelo representante do Ministério Público Federal, consoante
artigo 66 e seus parágrafos da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002, que
institui o Código Civil.
As fundações são isentas de todos os impostos federais, distritais, estaduais e
municipais, como fica claro do artigo 150, inciso VI, alínea (c), da Constituição
da República Federativa do Brasil.

As principais diferenças entre fundação e associação civil estão nos seguintes


aspectos: (i) na fundação o acervo é fornecido pelo instituidor, ao passo que
na associação ele é formado pelos seus associados; (ii) as associações podem
ser constituídas para finalidade de auxílio mútuo entre os associados. Exemplo:
a Associação Vitallys Brasil tem como objetivo conferir auxílio mútuo aos
automóveis dos associados, através de rateio dos danos materiais
eventualmente sofridos e amparados pelo programa de auxílio mútuo,
enquanto que as fundações sempre deverão ter sua finalidade orientada ao
atendimento de finalidades de interesse social.

Exemplos de fundações privadas: Fundação Xuxa Meneghel; Fundação Ayrton


Senna; Fundação Roberto Marinho; Fundação Butantan que é uma entidade de
natureza privada, responsável por oferecer apoio às atividades do Instituto
Butantan, instituição pública ligada à Secretaria de Estado da Saúde de São
Paulo, centro de pesquisa biológica, localizado no bairro do Butantã, São
Paulo;

4.3 Organizações religiosas - as organizações religiosas são pessoas


jurídicas de direito privado, conforme inciso IV do artigo 44 da Lei nº 10.406, de
10 de janeiro de 2002, que institui o Código Civil. Desde a Constituição da
República Federativa do Brasil de 1988, a União, o Distrito Federal, os Estados
e os Municípios são proibidos de instituir impostos sobre “templos de qualquer
culto”. Esta expressão ampla abrange não só as igrejas, também lojas
maçônicas, conventos e casas paroquiais.

No entanto, as organizações religiosas têm diversas obrigações: devem


registrar seu ato constitutivo (estatuto social) no Cartório de Registro Civil das
Pessoas Jurídicas; fazer inscrição da igreja matriz e suas filiais no Cadastro
Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) da Receita Federal do Ministério da
Fazenda; possuir Livro Caixa contendo a escrituração de todas as receitas e
despesas e as contas patrimoniais; além disso, Livro de Ata, devidamente
registrados em Cartório, com Termos de Abertura e Encerramento; apresentar
a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) ao Ministério do Trabalho; até
o mês de junho de cada ano devem entregar a Receita Federal a Declaração
de Isenção do Imposto de Renda de Pessoa jurídica; após o registro do
estatuto e da inscrição no CNPJ, precisam providenciar suas matrículas no
Instituto Nacional do Seguro Social (INSS); devem possuir Ata de Eleição da
Diretoria e registrá-la em Cartório, assim como, contabilidade para prestação
de contas aos membros e para fins de isenção do Imposto de Renda;

4.4 Confederação Brasileira de Futebol (CBF) - a Confederação Brasileira


de Futebol (CBF) é uma pessoa jurídica de direito privado, mais precisamente,
uma associação, ainda que denominada de confederação, tem suas
competências definidas no seu ato constitutivo que é um estatuto social,
conforme Lei nº 9.615, de 24 de março de 1998, que institui normas gerais
sobre desporto e dá outras providências. Portanto, a Confederação Brasileira
de Futebol (CBF) é privada, de âmbito nacional, administra o futebol
profissional, compete-lhe apenas a coordenação, organização e supervisão
das competições, o que faz zelando pela observância das regras e da
regularidade dos campeonatos, ela é quem administra a seleção de futebol
brasileira que representa o país mundo afora, em consequência, a seleção
também é, a rigor, privada. A CBF não faz parte de nenhuma instituição
brasileira, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) é uma Corte
privada, mantida com recursos privados; suas decisões têm força apenas
dentro de um determinado acordo como, por exemplo, entre clubes de futebol
que disputaram um campeonato. Caso alguém fique insatisfeito com uma
decisão, poderá recorrer à Justiça Estadual. A CBF recolhe tributos nos moldes
das pessoas jurídicas da iniciativa privada;

4.5 Ordem dos Advogados do Brasil - a Ordem dos Advogados do Brasil


(OAB) NÃO integra a Administração Pública Indireta na qualidade de autarquia,
nos moldes dos demais Conselhos de Classe que fiscalizam profissões
regulamentadas em lei. Exemplos: Conselho Regional de Medicina (CRM),
Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (CREA), Conselho Regional de
Contabilidade.
A Ordem dos Advogados do Brasil é uma entidade autônoma, um serviço
público independente, tem natureza privada, conforme ficou decidido na Ação
Direta de Inconstitucionalidade: ADIN 3026-4/DF. Consequentemente, a OAB
não se sujeita a controle da Administração Pública, ou seja, do Tribunal de
Contas da União (TCU), embora haja divergência quanto a este aspecto, pois,
a OAB entende que não precisa submeter suas contas a controle do TCU,
porque não é uma autarquia, todavia, este afirma que a OAB não é imune a
controle.

Aos empregados da OAB aplica-se a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT)


e não há concurso público para seleção e admissão ao seu quadro de pessoal.
Compete a Justiça Federal processar e julgar ações em que a OAB figure
como parte.

Embora a OAB não faça parte da Administração Pública Indireta ela goza de
imunidade tributária total em relação a seus bens, serviços e rendas. As Caixas
de Assistência dos Advogados vinculadas às seccionais da OAB também
usufruem de imunidade tributária, porque com o Estado o advogado presta
serviço público e exerce função social, de acordo com o parágrafo 1º do artigo
2º da Lei nº 8.906, de 4 de julho de 1994, que dispõe sobre o Estatuto da
Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil; além disso, artigo 150, inciso
VI, alínea (a), da Constituição da República Federativa do Brasil.

4.6 Parceria público-privada (PPP)


A Lei nº 11.079, de 30 de dezembro de 2004, institui normas gerais para
licitação e contratação de parceria público-privada (PPP) no âmbito da
administração pública (união, distrito federal, estados, municípios), configura
um meio que o setor público encontra para trabalhar de forma conjunta com a
iniciativa privada para levar um serviço para a coletividade humana e,
simultaneamente, economizar custos com o projeto oferecido. Exemplo: O
governo do Espírito Santo assinou o contrato de parceria público-privada (PPP)
com a empresa Aegea Saneamento para universalização do serviço de
esgotamento sanitário do município de Cariacica (ES).
5 Pessoas jurídicas de direito privado
O capital das pessoas jurídicas de direito privado é exclusivamente privado.
Abrange as pessoas jurídicas revestidas em diferentes tipos: sociedade
simples de natureza civil; empreendedor individual (EI); limitada unipessoal,
com apenas uma pessoa (abreviado, Ltda.); sociedade limitada plural, com
mais de uma pessoa, chamadas de sócios (abreviado, Ltda.); sociedade por
ações ou companhia (abreviado, S/A ou Cia.); sociedade em conta de
participação; sociedade em nome coletivo; sociedade em comandita simples;
sociedade em comandita por ações.

No caso das pessoas jurídicas de direito privado, o Estado apenas edita leis
que devem ser observadas e cria órgãos de controle, como as agências
reguladoras concebidas para fiscalizar a prestação de serviços públicos
delegados e executados pela iniciativa privada.

A sociedade em nome coletivo, sociedade em comandita simples e sociedade


em comandita por ações caíam em desuso. Há muitos anos não se constata
registro de nenhum destes três tipos societários na Junta Comercial do Espírito
Santo (abreviado, Jucees). Caíram em desuso em razão da existência da
responsabilidade subsidiária e ilimitada de seus sócios ou acionistas pelas
obrigações sociais ou pelas dívidas decorrentes de suas atividades
econômicas.

No Direito de Empresa existe a responsabilidade societária, diferente da


responsabilidade Civil dos artigos 186 e 927 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro
de 2002, que institui o Código Civil. Nos três tipos de sociedades empresárias
supracitadas, assim que registrado o ato constitutivo (contrato social) na Junta
Comercial do local da sede, a pessoa jurídica adquire personalidade jurídica,
vale dizer, aptidão para exercer direitos e assumir obrigações em nome próprio;
dela decorrente autonomia patrimonial, responde sempre em primeiro lugar
pelas obrigações assumidas em seu nome empresarial (artigo 1.024 da Lei nº
10.406, de 10 de janeiro de 2002, que institui o Código Civil). Exaurido ou
terminado o capital e o patrimônio social respondem os titulares, sócios ou
acionistas subsidiária e ilimitadamente, ou seja, com benefício de ordem em
relação à pessoa jurídica, pelo saldo devedor remanescente, com todo o
patrimônio pessoal penhorável, exceto bem de família que não poderá ser
penhorado para cumprimento de obrigações (de forma subsidiaria ou com
benefício de ordem pode ser entendido como: primeiro você pessoa jurídica e
depois eu).

Toda atividade econômica envolve risco, porque sujeita a fatores externos ou


acontecimentos inesperados que podem causar perdas, por mais competentes
e zelosos que sejam os que estão à frente dos negócios. Suficiente citar a
imprevista e inesperada pandemia COVID-19 que levou ao fechamento de
diversos estabelecimentos. De modo que, compreensível que cada um procure
proteger seu patrimônio pessoal.

6 Definição de sociedade e início da existência legal da pessoa jurídica


O artigo 981 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002, que institui o Código
Civil, define a palavra “sociedade” nos seguintes termos: “Celebram contrato de
sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens
ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos
resultados”.

Compreende-se que, sociedade é a união voluntária de duas ou mais pessoas


que contribuem com dinheiro, bens móveis, imóveis, semoventes ou prestação
de serviços para a execução de uma atividade econômica organizada, objeto
social ou um ramo de negócio e a divisão dos lucros entre si.

Os sócios celebram um contrato entre si, cujas cláusulas fixam os direitos e


obrigações recíprocas, o qual deve ser registrado no órgão público competente,
porque a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado começa com
a inscrição do ato constitutivo no Cartório de Registro Civil das Pessoas
Jurídicas ou na Junta Comercial do local da sede ou domicílio jurídico, que
deve ser indicado no ato constitutivo, por expressa disposição do caput do
artigo 45 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002, que institui o Código Civil.

Preceitua o artigo 119 da Lei nº 6.015, de 31 de dezembro de 1973, que dispõe


sobre registros públicos, refletido no o artigo 45 do Código Civil: “A existência
legal das pessoas jurídicas só começa com o registro de seus atos
constitutivos”.

O registro do ato constitutivo no Cartório de Registro Civil das Pessoas


Jurídicas ou na Junta Comercial representa a certidão de nascimento da
pessoa jurídica, concede-lhe existência legal; mediante o registro do contrato
ou estatuto social, a pessoa jurídica torna-se personificada ou adquire
personalidade jurídica e dela decorrente autonomia patrimonial, ou seja, a
pessoa jurídica fica apta a postular direitos e contrair obrigações em nome
próprio, torna-se uma pessoa distinta de seu titular, sócio ou acionista com
patrimônio e capital próprios, respondendo em primeiro lugar pelas obrigações
assumidas em seu nome empresarial, fazendo-se presente em todos os atos
através do seu administrador ou diretor (pessoa natural), porque é um ente
econômico desprovido de manifestação de vontade.

Não havendo inscrição do ato constitutivo, independentemente do tipo da


pessoa jurídica, são aplicáveis as normas jurídicas da sociedade em comum
não personificada ou sem personalidade jurídica, irregular na sua constituição,
uma vez que o ato constitutivo não foi inscrito no órgão público competente,
mas, não ilegal, porque prevista nos artigos 986-990 da Lei nº 10.406, de 10 de
janeiro de 2002, que institui o Código Civil.

7 Ato constitutivo
As pessoas jurídicas estão arroladas nos artigos 40-44 da Lei nº 10.406, de 10
de janeiro de 2002, que institui o Código Civil, mas elas devem ser
formalizadas. Ato constitutivo é um documento que formaliza uma pessoa
jurídica, contem cláusulas que regem o funcionamento, a administração e as
relações entre os sócios ou acionistas, em conformidade com o artigo 997 da
Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002, que institui o Código Civil. Este
dispositivo legal enumera cláusulas essenciais que devem constar no ato
constitutivo, ou seja, no contrato ou estatuto social, de outra forma a Junta
Comercial exige que o interessado complete as informações no prazo de 30
(trinta) dias contado da ciência. Na eventualidade do cidadão não atender a
exigência no prazo indicado, o pedido de inscrição do ato constitutivo é
arquivado, devendo o interessado pagar novamente as taxas na ocasião do
novo pedido, em conformidade com o artigo 40 da Lei nº 8.934, de 18 de
novembro de 1994, que dispõe sobre o Registro Público de Empresas
Mercantis.

O estatuto social é utilizado pelas sociedades empresárias que tem o capital


social dividido em ações, são duas: sociedade por ações ou companhia
(abreviado, S/A ou Cia.) e sociedade em comandita por ações, ambas
reguladas pela Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976. No mais, o estatuto
social é utilizado pelas cooperativas que prestam serviços aos seus
associados, regidas pela Lei própria de nº 5.764, de 16 de dezembro de 1971,
assim como entidades sem fins econômicos ou lucrativos, exemplos,
fundações e associações. Por sua vez, o contrato social é utilizado pelas
demais sociedades.

A diferença entre contrato social e estatuto social pode ser assim exposta:
(i)Contrato social – deve conter todas as cláusulas essenciais alinhadas no
artigo 997 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002, que institui o Código
Civil. Todavia, os sócios podem acrescentar cláusulas não essenciais ou
facultativas. Exemplo: no caso de falecimento de um sócio, o cônjuge
sobrevivente ou herdeiro poderá ingressar na sociedade. O contrato social
permite aos sócios negociarem direitos e obrigações recíprocas. A sociedade
que tem como ato constitutivo um contrato social é denominada de sociedade
contratual; as pessoas naturais ou jurídicas que participam do seu capital
social, dividido em quotas, são denominadas de sócios. São elas: sociedade
simples de natureza civil; sociedade em nome coletivo; sociedade em
comandita simples; sociedade limitada plural, com mais de um sócio
(abreviado, Ltda.).

Como matéria negociável no contrato social podemos mencionar que, em


regra, a distribuição dos lucros é proporcional à contribuição de cada sócio ao
capital social, com base no artigo 1.007 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de
2002, que institui o Código Civil.
Exemplificando: capital social = R$ 30 mil reais; a sociedade tem dois sócios:
(1) o sócio majoritário (A) subscreveu ou adquiriu 80% das quotas sociais =
depositou na conta bancária da pessoa jurídica R$ 24 mil reais (80% x R$ 30
mil reais); (2) o sócio minoritário (B) subscreveu ou adquiriu 20% das quotas
sociais = depositou na conta bancária da pessoa jurídica R$ 6 mil reais (20% x
R$ 30 mil reais). Supondo que, no ano de 2022, os lucros líquidos alcancem a
cifra de R$ 100 mil reais. Com base na regra geral, caberia ao sócio majoritário
(A) R$ 80 mil reais (80% - participação no capital social - x R$ 100 mil reais -
lucros líquidos); ao sócio minoritário (B) caberia R$ 20 mil reais (20% -
participação no capital social - X R$ 100 mil reais - lucros líquidos).

De acordo com o inciso VII do artigo 997 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de


2002, que institui o Código Civil, no contrato social deve constar
expressamente como se dará a distribuição dos lucros entre os sócios. No
entanto, os sócios podem alterar esta regra de proporcionalidade no contrato
social, estabelecendo parcelas diversas para cada sócio, de forma distinta em
relação à contribuição de cada um ao capital social. É viável, por exemplo, que
se preveja que nenhum sócio poderá receber mais do que certa porcentagem
dos lucros da sociedade, ainda que algum sócio detenha participação no
capital superior a isto, por exemplo, 5% (cinco por cento). Todavia, o contrato
social não pode excluir ou privar nenhum sócio do direito de receber
participação nos lucros, por determinação expressa do artigo 1.008 da Lei nº
10.406, de 10 de janeiro de 2002, que institui o Código Civil;

(ii) Estatuto social – também deve conter as cláusulas essenciais do artigo


997 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002, que institui o Código Civil. No
entanto, a Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976, que dispõe sobre as
sociedades por ações ou companhia (S.A ou Cia.) e sobre a sociedade em
comandita por ações, cujo capital social é dividido em ações, prevê
praticamente todos os direitos e obrigações das pessoas naturais ou jurídicas
que participam do capital social, chamadas de acionistas. De modo que, a Lei
nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976, não deixa margem para que acionistas
majoritários e minoritários negociem direitos e obrigações recíprocas. O
estatuto social, ou seja, a Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976, se aplica
em pé de igualdade a todos os acionistas alcançados pela sua abrangência.

Percebe-se que, no contrato social os sócios que contribuem ao capital social


têm margem de negociação de direitos e obrigações recíprocas. Já, o estatuto
social não deixa margem para negociação de direitos e obrigações recíprocas;
o estatuto, ou seja, a lei se aplica em pé de igualdade aos acionistas
majoritários e minoritários que contribuem ao capital social.

Outros exemplos de estatuto social são as leis que estabelecem normas e


princípios a serem seguidos por todos os advogados inscritos na Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB, Lei nº 8.906, de 4 de julho de 1994); pelos
contadores inscritos no Conselho Regional de Contabilidade (CRC); pelos
médicos inscritos no Conselho Regional de Medicina (CRM); além disso, o
estatuto dos servidores públicos que é a Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de
1990, se aplica a todos os servidores públicos em pé de igualdade ou sem
distinção.

Ressalta-se que, o ato constitutivo do empreendedor individual (EI), da limitada


unipessoal (Ltda., com apenas uma pessoa) é uma declaração de existência da
pessoa jurídica, contendo cláusulas essenciais do artigo 997 da Lei nº 10.406,
de 10 de janeiro de 2002, que institui o Código Civil, no que couber (formulários
padrões disponibilizados pela Junta Comercial). As pessoas jurídicas aludidas
são constituídas por uma única pessoa. Consequentemente, não se pode falar
de contrato ou estatuto social, visto que, contrato na forma escrita ou oral exige
manifestação de vontade de pelo menos duas pessoas, quais sejam: do
proponente, o qual propõe contratar uma sociedade; do aceitante, o qual aceita
a proposta.

8 Capital e patrimônio social


O capital integra ou faz parte do patrimônio social, mas as expressões têm
conceitos diferentes. O capital é a contribuição inicial dos sócios para viabilizar
o início e o desenvolvimento da atividade econômica organizada. Ele não pode
sofrer alteração, o aumento ou redução depende de deliberação ou aprovação
dos sócios ou acionistas em reunião ou assembleia, dado que, deve ser
preservado e utilizado apenas em favor da própria pessoa jurídica. À vista
disso, o artigo 1.059 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002, que institui o
Código Civil, proíbe que sejam retiradas quantias ou lucros do capital, a
qualquer título, sob pena dos sócios serem obrigados a repor o que retiraram.
Vigora o princípio da intangibilidade, quer dizer, os bens e valores
ingressados a título de capital apenas poderão ser devolvidos aos titulares,
sócios ou acionistas na hipótese de dissolução total ou extinção da pessoa
jurídica segundo o procedimento previsto em lei. Referido princípio deixa bem
clara a separação existente entre o patrimônio dos titulares, sócios ou
acionistas e o da pessoa jurídica.

Por sua vez, o patrimônio é tudo que a pessoa jurídica adquire durante a sua
existência, pode sofrer várias alterações, de acordo com o desenvolvimento da
atividade econômica organizada.

Percebe-se que, enquanto o capital social é um valor que não se altera


constantemente, o patrimônio se sujeita a alterações constantes, porque
condicionado ao sucesso ou insucesso da atividade econômica, crescendo na
medida de rendimentos positivos e reduzindo-se com os prejuízos.

9 Teoria da empresa
O artigo 966 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002, que institui o Código
Civil, contempla a teoria da empresa: “Considera-se empresário quem exerce
profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a
circulação de bens ou de serviços”. Em outras palavras:

(a)Empresa – é a atividade econômica organizada, objeto social ou ramo de


negócio que motivou a criação da pessoa jurídica. A palavra “organizada”
significa que a pessoa jurídica, a qual se faz presente em todos os atos por
intermédio do seu administrador ou diretor, executa atividade empresarial de
forma profissional, repetida e com finalidade de lucro direto e indireto. Em
consequência, ato isolado, como eventual compra e venda de um veículo, não
caracteriza atividade econômica organizada. Lucro direto se obtém de pronto,
por exemplo, no ato de compra e venda de mercadoria. Por sua vez, lucro
indireto é perseguido, por exemplo, através de amostra grátis de um produto
com propósito de que a pessoa experimente, goste e se torne potencial
compradora do mesmo;

(b) Empresário – é a própria pessoa jurídica que se faz presente em todos os


atos por meio do seu administrador ou diretor, porque é um ente econômico
desprovido de manifestação de vontade. A atividade econômica organizada é
executada em nome da pessoa jurídica. Exemplificando: contratos de compra e
venda de mercadorias para revenda, bem como contratos de trabalho e de
empréstimo bancário são celebrados em nome da pessoa jurídica e assinados
pelo seu administrador ou diretor;

(c) Atividade econômica organizada para a produção de bens – significa


aperfeiçoar ou transformar matéria prima em bens. Exemplos: transformar
couro em bolsas e sapatos; ouro em joias; madeira em celulose; frutas naturais
em geleias e sucos; ervas em remédios; legumes e verduras naturais em
extratos ou conservas;

(d) Atividade econômica organizada para a circulação de bens – significa ir


buscar no produtor para revenda. Exemplos: supermercados adquirem
produtos no produtor para revenda; farmácias adquirem remédios nas
indústrias para revenda; lojas adquirem calçados nas indústrias para revenda;

(e) Atividade econômica organizada para a prestação de serviços – revela


que a pessoa jurídica, através de seus sócios ou empregados, mediante
pagamento do preço, presta serviços a todos que deles necessitam. Exemplos:
serviços de jardinagem, segurança, limpeza de imóveis, conserto de veículos,
transporte de pessoas (exemplos: Transcol e Gol), transporte de cargas
(exemplos: Continental e Águia Branca), serviços de fornecimento de energia
elétrica (Escelsa), de internet (Vivo e Claro). Entre o vendedor e o comprador
dos serviços é celebrado um contrato de prestação de serviços na forma
escrita ou oral.
O empresário deve efetivamente executar pelo menos uma das atividades
previstas no caput do artigo 966 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002,
que institui o Código Civil, de maneira repetida, profissional e com finalidade de
lucro: (i) produção de bens; (ii) circulação de bens; ou (iii) prestação de
serviços. Atividade diferente das relacionadas no dispositivo legal consignado
não se encaixa na definição de empresário, tira da pessoa jurídica a qualidade
de empresário. Consequentemente, não podem ser aplicadas as normas
jurídicas reservadas ao Direito de Empresa, algumas contempladas no artigo
966 e seguintes da lei supradita.

A pessoa jurídica somente é considerada empresária se efetivamente explorar


de forma profissional a atividade empresarial, tal como definido no caput do
artigo 966 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002, que institui o Código
Civil. A inscrição do ato constitutivo da pessoa jurídica na Junta Comercial do
local da sede ou domicílio jurídico, não é condição para qualificá-la como
empresária, essa qualidade só se adquire pelo efetivo exercício profissional da
atividade empresarial, voltada à produção ou a circulação de bens ou de
serviços para o mercado. Enquanto inativa (existe somente no papel) não
ostenta a condição de empresária ou não está submetida às regras do Direito
de Empresa. A inscrição do ato constitutivo na Junta Comercial tem natureza
declaratória, dito de outra forma, declara apenas a existência legal da pessoa
jurídica, conferindo-lhe personalidade jurídica; não tem natureza constitutiva,
ou seja, não concede a qualidade de empresário, que exige o efetivo exercício
da atividade empresária.

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