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Rev Bras Anest

31: 2: 117 - 131, 1981


Artigos Educacionais

Anestesias Espinhais

Amador Varella Lorenzo, EA 11

Lorenzo A V ~ Anestesias Espinhais. Rev Bras Anest 31 : quianestesia nas quais a substância contaminante havia
2: 117 - 131, 1981 sido o lisol, empregado na desinfecção das seringas. Em-
bora este material tivesse sido cuidadosamente lavado
É abordada a fisiopatologia dos bloqueios subaracnóideo com água destilada antes de ser levado à autoclave, dois
e peridural. O autor chama a atenção para a farmacociné- pacientes apresentaram mal-estar geral e rigidez de nuca.
tica dos anestésicos locais depositados nos espaços suba- Em ambos, a c-ultura do líquor cefalorraquidiano foi ne-
racnóideo e peridural, bem como para as complicações gativa 49. Portanto, não somente devem ser extermina-
destes bloqueios e os cuidados para evitá-las. dos os germes patogênicos, mas também devem ser elimi-
nados todos os resquícios das substâncias usadas no pro-
Unitermos: ANESTESIA REGIONAL: subaracnóidea, cesso d e la vagem e limpeza das seringas e agulhas .
.......... peridural . É imprescindível, ainda, a manutenção de wn número
determinado de seringas e agulhas para o uso exclusívo
da raquianestesia e da anestesia peridural. Este material
deve ser lavado minuciosamente com sabão líquido e en-
xaguado profusamente em água corrente e, a seguir, com
água destilada.
I - RAQUIANESTESIA Devem ser evitados detergentes, germicidas e produ-

A SOLUÇÃO de um anestésico local introduzida n0


espaço subaracnôideo mistura-se com o líquor cefa•
tos químicos para ilissolver sangue coagulado. Se for ne·
cessário o emprego de um detergente, este deverá ser do
tipo neutro, facilmente dissolvido pela água.
lorraquidiano, banha as raízes nervosas contidas nesse es-
paço e bloqueia o influxo nervoso que as percorre. Disto Para a esterilização, o êmbolo e o corpo da seringa, as-
resulta um estado de analgesia parcial, denominado ra• sim como as agulhas e seus estiletes, são envoltos separa-
quianestesía, anestesia raquídea ou raquidiana. Os anes• damente em gaze e acondicionados num estojo metálico~
que também recebe pinça e gazes para a assepsia da pele.
tésicos também penetram na medula e intervêm na fun-
Os indicadores químicos que comprovam a eficiência
ção de suas estruturas 55. Em virtude da atividade essen-
cial destas substâncias e da supressão do desenvolvimen-
da esterilização, devem estar contidos em cápsulas her•
meticamente fechadas, para que não escapem gases noci-
to do potencial de ação das fibras nervosas, são elimina-
vos (cloro), capazes de provocar lesoes neurológicas. Mais
das todas as modalidades de influxo nervoso, na seguinte
eficientes são os indicadores biológicos, tubos contendo
ordem: autônomo, sensitivo, motor e proprioceptivo.
e-sporos, que são colocados em culturas, depois de retira-
Conseqüentemente, a raquianestesia compreende, em
dos das caixas de material que foi autoclavado.
grau variável, um conjunto de efeitos como analgesia, re-
laxamento muscular e alteraçoes cardiovasculares, respi- Além da autoclavagem, o material pode ser esteriliza-
ratórias e intestinais. do por meio do óxido de etileno, gás incolor, provido de
odor .etéreo, um tanto agradável. Inalado, apresenta uma
CUIDADOS COM O MATERIAL toxicidade aproximada à da amônia. Porém, o risco maior
O material empregado na realização da raquianestesia e é sua inflamabilidade, evitada se associado ao gás carbô-
da anestesia periduraJ merecem cuidados especiais. A con- nico 50. A mistura mais comum contém 90% de C02 e
taminação microbiana do material pode provocar menin- 10% de óxido de etileno (Carboxide ®), que é ativa tanto
gites sépticas, ao passo que a contaminação química po- contra os microorganismos, como contra esporos. O pro-
de produzir meningites assépticas ou químicas. Em 1954, cesso de esterilização deve processar-se a seco, porque o
Rendell relatou dois casos de meningite asséptica pós-ra- óxido de etileno reage com a água, formando o etileno-
glicol, que, por sua vez, pode transformar-se em ácido
fórmico.

11 Assistente Doutor pela Universidade de São Paulo. Membro


do Corpo Cltnico do CET-SBA do Hospital de Clínicas da AUTOCLA VAGEM DOS ANESTESICOS LOCAIS
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Vários métodos têm sido empregados para a esteriliza-
Co"espondência para Amador Varella Lorenzo ção de ampolas contendo anestésicos locais. A manuten ..
Rua Baltazar da Veiga:t 335 • apto 112 • Sao Paulo, SP ção de ampolas submersas em antissépticos de natureza
Recebido em 10 de Janeiro de 1981 diversa constituíram causa de seqüelas neurológicas, par . .
Aceito para pu blicaçao em 20 de Fevereiro de 1 981 ticularmente quando a substância era o álcool 38. A exis-
© 1981, Sociedade Bmsileira de Anestesiologia tên eia de trincas, às vezes microscópicas, no vidro das am-

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polas, permitia a entrada do antisséptico que, mistu- via desaparecido quando ainda permanecia no líquor con-
rando-se com a soluçao anestésica, transformava-a numa centração anestésica suficiente.
soluçao nociva à fibra nervosa. A adição de corantes à so- Ao reduzir a perfusão sangüínea no espaço subarac-
lução antisséptica, com o fito de surpreender a presença nóideo, as substâncias vasoconstritoras retardam a trans-
de substâncias neurolíticas na solução anestésica, não ferência líquor-sangue dos anestésicos locais, a qual se
oferecia a segurança necessária, e o método foi abando- processa a partir do quinto minuto da injeção, e, assim,
nado. prolongam o tempo de contato com as formações nervo-
A esterilização com gases, que parecia ideal, também sas.
não satisfaz, porque pode ocasionar penetraçao da mes- O prolongamento do tempo de anestesia está subordi-
ma maneira. nado à intensidade de penetração do anestésico nas subs-
A esterilização pelo calor e pressão previne este incon- tâncias nervosas, durante os primeiros minutos, e não em
veniente, porque, se houver algwna fenda durante ades- sua concentração liquórica, no fim previsto do bloqueio.
compressão esvazia-se o conteúdo da ampola. Os vasoconstritores são desnecessários nas pessoas idosas
O material destinado às anestesias regionais, contendo com arteriosclerose, porque a circulação sangüínea suba-
ampolas ou frascos de anestésicos locais, são rotineira- racnóidea encontra-se diminuída 18.
mente reesterilizando, quando permanece fora do uso. Anestésicos como as amidas não são destruídos no lí-
Autoclavagens múltiplas têm sido responsabilizadas por quor, mas no fígado;já as aminas, presentes imprescindi-
uma suposta inativação dos anestésicos e, conseqüente- velmente na circulação sangüínea, são destruídas no fíga-
mente, por falhas de bloqueios regionais. Em trabalho do e em outros tecidos, pela pseudocolinesterase. Esta
experimental, em 1964, Bridenbaugh e Moore 8 expuse- transferência líquor-sangue inicia-se cinco minutos após
ram soluçoes simples de vários anestésicos: procaína (No- a injeção da solução anestésica.
vocaína ®), piperocaína (Meticaína ®), dibucaína (Nu- Em função do deslocamento do anestésico no líquido
percaína ®), cloroprocaína (Nesacaína ®), mepivacaína cefalorraquidiano, estabelece-se um gradiente de concen-
(Carbocaína ®), lidocaína (Xilocaína ®), hexilcaína (Ci- tração a partir do centro da injeção. Onde a concentra-
claína ®) e cristais de tetracaína (Pontocaína) a tempera- çao é máxima, sobrevêm o bloqueio completo: autonô-
turas de 260 a 275.ºF (aproximadamente 125 a 135.ºC) mico, sensitivo, motor e proprioceptivo. Ã medida que a
e pressão de I 8 libras (aproximadamente 8 kg) durante concentração diminui, altera-se também a natureza do
30 minutos, pelo menos, seis vezes e nao constataram bloqueio, de modo que a menor concentração ativa in-
perda da potência anestésica em nenhuma das substân- terrompe apenas o influxo autonômico. Conseqüente-
cias investigadas. mente, a raquianestesia pode oferecer analgesia sem rela•
As soluções pesadas, destinadas à raquianestesia, não xamento muscular e hipotensão arterial, devido ao blo•
são esterilizadas mais do que duas vezes, em virtude da queio simpático.
tendência de tomarem-se escuras devido à caramelização Praticamente, todas as formações nervosas situadas no
da glicose. Sendo a adrenalina uma substância lábil, reco- estojo subaracnóideo podem ser consideradas vulneráveis
menda-se esterilizá-la apenas uma vez 45. Entretanto, a ao ataque dos anestésicos locais. Segundo Urban (1973)55,
resistência da adrenalina ao calor é maior do que se pen- na fase de instalação do bloqueio raquídeo, são atingidas
sa. A adrenalina contida em soluções de lidocaína, arma- as raízes e os gânglios espinhais. Na região torácica, o blo-
zenadas mais de seis meses e autoclavadas três vezes à queio destas formações produz analgesia cutânea corres-
temperatura de 121. o, apresenta perda insignificante da pondente à distribuição dos nervos intercostais. Se hou-
potência, até 5 % 23. vesse apenas este mecanismo de bloqueio, a regressão da
analgesia obedeceria à mesma disposição cutânea corres-
pondente à distribuição metamérica descrita por Head,
DESTINO E AÇÃO DOS ANESTÉSICOS LOCAIS com ondulações a partir da linha média em direção aos
NO ESPAÇO SUBARACNÓIDEO flancos. Entretanto, na regressão da analgesia, constitui-
No local da injeção no espaço subaracnóideo, a con- se um limite em forma de anel transversal regular. A úni-
centração do anestésico no líquido cefalorraquidiano so- ca explicação plausível para este fenômeno é o bloqueio
fre um decréscimo inicial rápido, ao qual se segue outro da própria medula. Estudos sobre o comportamento de
bastante lento 61. A redução inicial é ocasionada pelo anestésicos introduzidos nos espaços peridural (xilocaí-
deslocamento da solução dentro do espaço e pela pene- na) e subaracnóideo (xilocaína e procaína) revelaram a
tração do anestésico no tecido nervoso. A redução secun- presença destas substâncias no interior da medula 10, 14.
dária é provocada pela passagem da droga para a circula-
ção sangüínea. A passagem para a circulação linfática é
insignificante e, portanto, desprovida de importância. FALHAS E TAQUIFILAXIA
Realizando raquianestesias com soluções de Pontocaína A causa mais freqüente de falha da raquianestesia é a
em glicose com e sem adrenalina, Converse e col (I 954) 18 falta de contato entre o anestésico e as formações nervo-
verificaram que, depois de cinco minutos da injeção da sas vulneráveis ao bloqueio, devido à deficiência de técni-
solução anestésica com adrenalina, a concentração do ca.
anestésico no líquor era maior do que se fosse usada a As causas do bloqueio deficiente podem ser: a) inje-
solução simples. Verificaram, ainda que o bloqueio per- ção de volume ou concentração insuficiente do anestési-
sistia com a presença da adrenalina, mesmo quando a do- co; b) injeção de anestésico cuja potência se encontra
sagem do anestésico no líquido cefalorraquidiano revela- atenuada; c) posicionamento defeituoso do paciente na
va concentração inferior à necessária para o bloqueio, ao mesa operatória, depois da punção, prejundicando a dis-
passo que a anestesia realizada com a solução simples ha- persão correta da solução anestésica no líquor, e atingin-

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ANESTESIAS ESPINHAIS

do número insuficiente de metâmeros. tudo da interrupção do tônus simpático, que corre por
É de observação antiga, porém rara, que, mesmo com fibras que emergem da colWla entre T 2 e L 1 - L2,
o emprego de técnica rigorosa, a raquianestesia falha de O bloqueio pré-ganglionar das fibras vasoconstritoras
maneira surpreendente. As alterações da concentração acarreta dilatação arteriolar, venular e capilar, em grau
hidrogeniônica do líquido cefalorraquidiano ocultariam diferente qualitativa e quantitativamente nas diversas re-
o segredo destas falhas aparentemente inexplicáveis. Em giões do organismo. A vasodilatação na pele é mais acen-
1947, Cohen e Knight 15 relataram wn caso de falha to- tuada do que nos músculos esqueléticos, e é mínima ou
tal e outro de falha parcial da anestesia raquidiana com o ausente na região esplâncnica.
emprego de procaína na dose de 150 mg. Estes autores A dilatação arterial e arteriolar determina a redução
responsabilizaram o pH muito alto, 7,91 e 7.80 encon- da resistência periférica, tanto mais difusa quanto mais
trado no líquor dos pacientes. extenso o bloqueio. De acordo com a lei de Poisseuille, a
Os anestésicos locais sao substâncias sujeitas ao fenô- resistência ao escoamento de um líquido é inversamente
meno da taquifilaxia. É de observação corrente que, tan- proporcional à quarta potência do diâmetro do tubo. En-
to em raquianestesia como em anestesia peridural, a efi- tretanto, os fatores hemodinâmicos que presidem a resis-
ciência do bloqueio diminui à medida que, no método tência vascular periférica, são tão complexos que a perfu-
contínuo, repetem-se as injeçoes. É possível que esta ano- são sangüínea pode não ser proporcional à simples dilata-
malia funcional ocorra em áreas de escassa reserva tam- ção vascular. Embora a aplicação da lei de Poiseuille aos
pão, como sucede no espaço subaracnóideo. condutos biológicos não seja exata como nos sistemas
O pH do líquido cefalorraquidiano depende apenas da mecânicos, a avaliação do fluxo sangüíneo periférico ser-
tensão do gás carbônico e da concentraçao do bicarbona- ve de testemunho do estado da dilataçao vascular.
to. Nenhuma outra substância tampao, como as proteí- Uma vez que a dilataçao total das arteríolas somente
nas, é encontrada normalmente em quantidade significa-
acontece quando se estimulam as fibras dilatadoras sim-
tiva. As injeções repetidas de soluções ácidas esgotam o páticas, a paralisia destas fibras, como ocorre na raquianes-
bicarbonato do líquor, que não pode ser substituído fa- tesia, opor-se-ia à dilatação completa. Parece, porém, que
cilmente devido à sua incapacidade de deslocar-se para
elas desempenham papel insignificante. A persistência de
fora e para dentro do espaço subaracnóideo. certo grau de tonicidade arteriolar na anestesia raquidia-
Os anestésicos locais são bases fracas, pouco solúveis na depende mais de propriedades intrínsecas da muscula-
em água e não ionizáveis. Nas infiltrações, empregam-se tura lisa, o que explicaria por que pacientes submetidos à
os seus sais que são solúveis em água e ionizáveis. Asso- mesma técnica apresentam grau variável de alteração da
luçoes dos anestésicos locais apresentam reação ácida resistência periférica. Jovens robustos mantêm com mais
(pH 4 - 5), que se torna mais acentuada quando contém facilidade este tônus do que pessoas idosas ou portadores
adrenalina (pH 3 - 4 ), em virtude da presença do bisulfi- de moléstias graves.
to de sódio, um anti-oxidante. A inaptidao do líquor e Concomitantemente, as regiões do organismo não afe-
dos constituintes do espaço peridural para tamponar vo- tadas pelo bloqueio raquidiano podem exibir wna vaso-
lumes freqüentes de soluções ácidas provoca wna queda constrição compensatória reflexa, originada da hipoten-
acentuada do pH, o que restringe a formação do compo- são arterial, que age nos pressorreceptores do seio carotí-
nente lipossolúvel não ionizado do anestésico local, úni- deo e do arco aórtico e desencadeiam hiperatividade sim-
ca forma capaz de vencer as barreiras teciduais e de trans- pática. Como durante a raquianestesia baixa, não há blo-
por a membrana da fibra nervosa. Por outro lado, o pH queio simpáticotorácico, desenvolve-se vasoconstrição
excessivamente alcalino reduz o conteúdo do cátion, par- nos membros superiores, comprovada pela queda da tem-
te ativa do mecanismo da interrupção do influxo nervo- peratura cutânea e da perfusão sangüínea, verificada pela
so. pletismografia 27. A vasoconstrição extensa e eficiente
auxilia a manutenç[o da press[o arterial, e sua ausência,
EFEITOS DA RAQUIANESTESIA como ocorre nos pacientes debilitados, produz hipoten-
Geralmente depois do bloqueio raquidiano, o líquor são acentuada. Aminas simpatomiméticas como a efedri-
apresenta wn aumento do teor de proteínas e do número na, não agem nas regiões bloqueadas. Para combater a hi-
dos elementos figurados, com a duração de três ou qua- potensão, a efedrina necessita de uma área suficiente não
tro dias, normalizando-se dentro de wna semana. Menos atingida pelo bloqueio simpático, e de vasos que respon-
freqüente é o aumento do teor de glicose. dam à sua ação constritora.
As modificações fisiológicas acontecidas durante a
A circulação pós-arteriolar também é influenciada pe-
anestesia raquidiana correm por conta da interrupção de
lo bloqueio simpático, relaxando a musculatura da me-
diversas modalidades de influxo nervoso. A ordem do
tarteríola e do esfíncter pré-capilar e produzindo vasodi-
bloqueio está condicionada ao diâmetro da fibra nervosa.
latação. Como acontece com as arteríolas, esta vasodila-
Primeiramente são atingidas as fibras autonômicas, mieli-
tação não é total, o que pode ser verificado, quando à hi-
nizadas ou não, que possuem menor calibre e, portanto,
potonia da musculatura lisa arteriolar, metarteriolar e
maior superfície por unidade de volume. A seguir, em or-
pré-capilar se sobrepõe outras causas que completam e
dem crescente de diâmetro, sao comprometidas as fibras
intensificam a vasodilatação, produzindo hipotensão ar-
condutoras das sensações de calor, de dor e do tato. Se-
terial. Entre estas causas estão a hipercarbia, a anoxia, os
gue-se o bloqueio das fibras motoras e, fmalmente, o blo-
barbituratos, a morfina, a meperidina, os anestésicos ina-
queio das mais grossas, as proprioceptivas.
latórios, etc 33.
A - Bloqueio Autonômico - Pela repercussão na he- O relaxamento muscular da metarteríola e do esfínc-
modinâmica, reveste-se de grande interesse prático o es- ter pré-capilar proporciona maior afluxo de sangue ao lei-

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to capilar e faz aumentar a temperatura local até a máxi- C - Alterações da Função Miocárdica - O abrandamen-
ma de 1O graus. A lentidão circulatória propicia um con- to da resistência periférica, reduzindo o esforço do mio-
tato prolongado entre o sangue e os tecidos, aumentando cárdio durante a sístole, propicia a redução do trabalho
a diferença arteriovenosa de oxigênio. cardíaco e, conseqüentemente, a redução do conswno de
Para o lado das veias e vênulas, mais pobres do que as oxigênio. O reduzido retorno venoso da raquianestesia
arteríolas em musculatura lisa, a suspensão do impulso implica bradicardia e diminuição do volume sistólico que,
simpático produz dilatação completa com ampliação associados, denotam insuficiente enchimento ventricular
acentuada do leito venoso e estagnação sangüínea na pe- durante a diástole. Segundo Starling, um moderado volu-
riferia. me sangüíneo ventricular durante a diástole é acompanha-
Como a hipotonia da musculatura estriada também do pelo enfraquecimento da força de contração do mio-
concorre para a estagnação do sangue no grande leito for- cárdio. Outra causa de alterações da função miocárdica
mado pelas veias e vênulas dilatadas, o retomo venoso so- parece ser a limitação do teor de adrenalir.3 circulante,
mente pode contar com a ação da gravidade para com- originada da interrupção do influxo simpático às glându-
pletar-se. Desta maneira, reduz-se o afluxo de sangue à las supra-renais, privando o miocárdio da ação inotrópica
aurícula direita, cuja pressão cai. positiva dessa substância.
Com base no reflexo de Bainbridge, cujas vias aferen-
te e eferente caminham pelo vago, inatacável pelo blo- D - Circulação Coronariana - A perfusão coronariana
queio raquidiano, o awnento da tensão intra-atrial direi- está subordinada à pressão aórtica média. Além disso, as
ta gera taquicardia. Em contrapartida, a diminuiçao gera artérias coronárias são dotadas de um mecanismo regula-
bradicardia. Como se vê, o coração ajusta-se às variações dor de fluxo, graças a wn sistema de constriçao e dilata-
do volume sangüíneo recebido. Nas anestesias raquidia- ção, a fim de enfrentar as exigências metabólicas do mio-
nas altas, em que há bloqueio das fibras cardioascelera- cárdio. Quando o trabalho cardíaco, aumenta também o
doras simpáticas, a bradicardia de origem vagal junta-se a conswno de oxigênio e a perfusão coronariana, e vice-
outra, oriunda da redução do retorno venoso ao átrio di- versa.
reito. A queda do número de batimentos cardíacos pode Na raquianestesia acompanhada de hipotensão arterial,
chegar a níveis críticos, com acentuada hipotensão arte- o fluxo coronariano encontra-se reduzido. Entretanto, a
rial e com grave diminuição do rendimento cardíaco, cor- redução do trabalho cardíaco é maior (65%) do que are-
rigidas estas pela adrninistraçao de atropina e pela ado- dução da circulação coronariana (25%), restando ao mio-
ção de outras medidas que combatem a hipotensão. cárdio um fornecimento suficiente de oxigênio 25.
A redução da resistência periférica, do rendimento e Quando as artérias perdem a capacidade de auto-regu-
dos batimentos cardíacos desencadeia a hipotensão arte- lação, como acontece nos arterioscleróticos, a hipoten-
rial, tanto mais acentuada quanto mais extenso for o blo- são arterial, durante a anestesia raquidiana, pode impli-
queio simpático. car isquemia miocárdica com o risco de parada cardíaca.

E - Raquianestesia e Descompensação Cardíaca - O


B - Prevenção e Tratamento da Hipotensão Arterial - coração normal regula eficientemente as variações do vo-
A prevenção e o tratamento da hipotensao arterial consis- lwne sangüíneo que chega ao átrio direito. O mesmo não
te em manter o rendimento cardíaco, auxiliando o retor- acontece com o coração insuficiente. Se num cardíaco-
no venoso ao coração pelo posicionamento do paciente descompensado for executada uma raquianestesia, po-
em ligeiro proclive, compensando a vasodilatação perifé- dem ocorrer as seguintes alterações benéficas 7: a) queda
rica por intermédio de aminas simpatomiméticas dotadas da tensão na artéria pulmonar e diminuição da resistên-
de efeito a e /3, e administrando líquidos parenteralmen- cia na rede arterial dos pulmões, com melhoria da disp-
te. Às vezes, é necessário aliviar a compressão da veia ca- néia; b) uma vez atenuado o afluxo de sangue ao átrio
va, ocasionada por tumor abdominal, por ascite ou por direito, devido ao seu acúmulo na periferia, o ventrícu-
útero grávido, a fim de facilitar a volta do sangue venoso lo direito também recebe menor volwne de sangue,
ao coraçao. melhorando seu rendimento. Para isso, concorrem tam-
Para conter a vasodilataçao, dever-se-ia empregar wna bém o enfraquecimento da resistência periférica e a hipo-
droga que possuísse as ações combinadas da adrenalina e tensão arterial, quando moderada. Corno se vê, enquanto
da noradrenalina ( como sucede no organismo sao ), cuja o c9ração normal responde à restrição do afluxo sangüí-
liberação se encontra comprometida pela interrupção do neo para o átrio direito com wna baixa do rendimento
influxo sin1pático. A efedrina e a metanfetamina aproxi- cardíaco, o coração descompensado aumenta-o; c) em
mam-se mais destas exigências, se os vasos sangüíneos virtude do melhor desempenho do coração, a circulação
não tiverem sido expoliados por wn tratamento prolon- periférica torna-se mais eficiente, melhorando a oxigena-
gado pela reserpina. Outra droga de grande utilidade é o ção celular com uma redução da diferença arteriovenosa
metaraminol. de oxigênio que, se encontra muito alta no cardíaco des-
Para manter ou elevar a pressão arterial, preenche-se o compensado.
espaço deixado pela dilatação dos vasos sangüíneos, o Tendo-se em conta a experiência de quem a executa e
que é feito pela infusão venosa, prévia ou concomitante, a gravidade de cada caso, a raquianestesia pode ser reali-
de soluções de glicose a 5 %, de soluções glicofisiológicas zada no cardíaco descompensado.
de cloreto de sódio, de soluçao de Ringer ou Ringer lac-
tato, por expansores plasmáticos e mesmo por sangue, se
houver hemorragia. Naturalmente devem ser respeitadas F - Aparelho Respiratório - À medida que o compro-
as contra-indicações do uso da glicose. metimento das fibras motoras se encaminha em direção

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120 Vol 31, N.o 2, Março - Abril, 1981
ANESTESIAS ESPINHAIS

cefálica, são paralisados os músculos intercostais e, em de normalizar-se a pressão arterial. A excreção de alguns
seguida, o diafragma, se forem atingidos os ramos consti- eletrólitos, sódio e cloro, cai em função da morosidade
tuintes dos nervos frênicosemC3 - C4 -C 5. Normalmen- do fluxo urinário, que intensifica a absorção. Por conse-
te, mesmo com paralisia intercostal, não se verifica hipo- guinte, as alterações pós-raquianestesia da função renal
ventilação pulmonar, porque o diafragma age compensa- resultam mais da hipotensão arterial do que da ação dire-
toriamente, ampliando suas excursões. Esta compensa- ta do bloqueio simpático.
ção pode ser prejudicada pelos afastadores cirúrgicos, pe- Quanto aos ureteres, a interrupção do influxo simpá-
la posiçao de proclive muito acentuada, principalmente tico reforça o seu peristaltismo, ao mesmo tempo que di-
em obesos, e pela presença de tumores abdominais e do lata os meatos urinários, o que pode ser útil na expulsao
útero grávido. ou remoção de cálculos ureterais.
Na prática, a paralisia do diafragma é um incidente ra-
ro, porque o anestésico dificilmente atinge a coluna cer- I - SUPRA-RENAL~ Impulsos aferentes, provindos
vical em concentração suficiente 33. do campo operatório, estimulam o centro neurossecretor
A incidência mais freqüente de apnéia em raquianes- do hipotála_mo e provocam a liberaçao de hormônios
tesia resulta da falha dos centros respiratórios, devido à adrenocorticotróficos da glândula pituitária, do que resul-
isquemia bulhar ocasionada por uma reduçao drástica do ta um incremento dos 17-hidroxicorticosteróides circu-
débito cardíaco. Freqüentemente estas apnéias acom- lantes. Durante a cirurgia sob anestesia raquidiana, há pe-
panham hipotensão arterial acentuada ou, mesmo, hipos- quena alteraçao nos níveis dos corticosteróides plasmáti-
sistolia. No momento em que a pressão arterial se nor- cos, porém, sob anestesia geral, há um aumento conside-
maliza, recupera-se a funçao cardíaca, e os movimentos rável 46. Isto significa que a anestesia raquidiana protege
respiratórios voltam imediatamente, o que não acontece- o paciente contra o estresse cirúrgico. Todavia, quando
ria se a apnéia representasse o resultado do efeito parali- seu efeito desaparece, os níveis plasmáticos destes hormô-
sante dos anestésicos locais nos nervos frênicos ou, mais nios voltam aos mesmos valores que aparecem depois da
remotamente, nos centros respiratórios bulhares. anestesia geral. A conçentraçao mai~ alta dos 17-hidroxi-
corticosteróiJes é geralmente atingida entre 4 e 12 horas
G - Aparellio Gastro-lntestinal - Freqüentemente, du- de pós-operatório e normaliza-se entre o 1.0 e o 3.0 dia.
rante a cirurgia realizada sob raquianestesia ocorrem náu- A eosinopenia subseqüente ao ato cirúrgico sob anes-
seas e vômitos, que podem estar relacionados com traçoes tesia geral não acontece depois da raquianestesia. O de-
viscerais e facilitados pelo predomínio da açao vagal. A créscimo de 50 %, ou mais, dos eosinófilos circulantes é
hipoxia cerebral, resultante de deficiente fluxo sangüí- considerado indício da estimulação adrenopituitária, co-
neo provocado pela hipotensão arterial, pode também mo resposta à agressão cirúrgica.
ser responsabilizada pelos dois fenômenos acima citados. Durante a cirurgia sob anestesia pelo óxido nitroso,
Como conseqüência do predomínio vagal no intestino pelo oxigênio e pelo relaxante muscular, observa-se ele-
delgado e no cólon ascendente e transverso, a força pro- vação considerável da glicemia e concomitante redução
pulsara dos movimentos peristálticos toma-se mais forte, do glicogênio hepá_tico. Se a intervenção for realizada
sem aumento da freqüência das ondas. Todavia, no cólon com raquianestesia alta, estas alterações são insignifican-
descendente e no reto verifica-se relaxamento paralítico, tes, o mesmo acontecendo se for administrado o anesté-
porque tanto o sistema nervoso simpático como o paras- sico sem cirurgia 37. Presume-se que o bloqueio simpáti-
simpático sacral, que inervam estas formações, estão blo- co da raquianestesia evite a liberação de adrenalina, que
queados. é responsável pela glicogenólise e conseqüente hiperglice-

mia.
H - Aparelho Urinário - Os efeitos do bloqueio simpá- A hiperglicemia que ocorre durante a administração
tico, sem hipotensão arterial, na funçao renal ainda não de éter, que também depende da adrenalina, é suprimida
estão bem explicados. Há autores que acreditam que se pela extirpação das glândulas supra-renais e pela raquianes-
desenvolve aumento da filtraçao glomerular, da elimina- tesia alta 1.
ção de urina e de sódio. A observação mostra que a que-
da da pressão arterial média abaixo de lOkPa(SOmmHg)
reduz o fluxo sangüíneo renal 33, 42. Esta alteração é J - Bloqueio Raquidiano em Obstetrícia - Verifica-se
acompanhada de uma diminuiçao da filtração glomerular na prática diária que, nas parturientes, a anestesia raqui-
e da eliminação de urina. Talvez o fluxo sangüíneo renal diana revela uma tendência a subir demasiadamente, tor-
nao cesse completamente, a não ser que a pressão arterial nando-se, por vezes, bastante perigosa. Por este motivo,
média caia abaixo de 1,3 - 2 kPa (1 O - 15 mm Hg). nestes casos, recomendam-se doses menofes dos anestési-
cos, reduzindo a administração usual de procaína ou li-
Apesar de, durante a raquianestesia com hipotensão docaína de 100 mg para 50 ou 60 mg.
arterial moderada, permanecer inalterado o grau de filtra- São várias as explicações invocadas para o fenômeno:
ção glomerular, a redução da diurese é constante e pode a hiperlordose lombar das grávidas a termo, ahiperpressão
ser considerada característica da anestesia raquidiana. liquórica ocasionada pelas contrações uterinas e a dimi-
Ela aparece durante o período em que a pressão arterial nuição da capacidade do espaço subaracnóideo.
média é inferior a 13 kPa ( 100 mm Hg), normaliza-se A lordose lombar, bastante acentuada na gestante a
quando desaparecem os efeitos da anestesia, e não deixa termo, pode transformar-se a posição de decúbito hori-
elevação da uréia no período pós-operatório 33. zontal em verdadeiro proclive da coluna torácica.
A hipotensão grave e prolongada pode ser seguida de A elevação da pressão liquórica, desencadeada pelas
oligúria ou anúria, que podem estender-se mesmo depois contrações uterinas, não pode ser responsabilizada pela

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dispersão excessiva das soluções anestésicas no líquido nestesia resultam do achatamento da lordose lombar,
cefalorraquidiano, porque grávidas a termo que não estão proveniente do relaxamento muscular. A falta de prote-
em trabalho de parto apresentam o mesmo fenômeno. ção da musculatura leva ao estiramento das cápsulas arti-
A causa mais plausível desta dispersão é a redução da culares, dos ligamentos e de outras estruturas sensíveis.
capacidade do espaço subaracnóideo da gestante a termo As dores assim produzidas são, geralmente, atribuídas a
em conseqüência do ingurgitamento das veias dos espa- traumatismos e lesões decorrentes da punção 38
ços peridural e subaracnóideo, originado da compressão Contudo, punções exageradamente repetidas na tenta-
que o útero imprime à veia cava inferior, obrigando a um tiva de encontrar o forame interlaminar, por inexperiên-
desvio da corrente venosa pelas veias lombares e verte- cia ou alterações da coluna, podem lesar ligamentos ou o
brais 28. Portanto, também as soluções anestésicas intro- periósteo, com extravasamento de sangue. Estas lesões
duzidas no espaço peridural de gestantes a termo tendem podem resultar em dores na coluna com irradiação para a
a uma dispersão exagerada, tomando necessária a redu- região lombar e membros inferiores.
ção de 30% do volume das soluções usualmente injeta-
2 - Cefaléia - A cefaléia pode resultar de hipo ou de
das. Considera-se a diminuição da capacidade do esi,aço
hipertensao liquórica. A cefaléia por hipotensão liquóri-
subaracnóideo a causa mais importante, porque implica a
ca é a complicação mais comum do período pós-raquia-
mistura do volume normal do anestésico local com um
nestesia. Possui características que a distinguem das cefa-
volume reduzido de líquor.
Em relação a mulheres normotensas, com a mesma al- léias de outras origens. É fraca quando o enfermo repou-
tura da anestesia raquidiana, as gestantes a termo sofrem sa em decúbito horizontal, agravando-se na posição ereta
uma queda muito mais acentuada da pressão arterial. Nes- ou no simples levantar da cabeça. Localiza-se com maior
tas pacientes, o retomo do sangue ao coração está deve- freqüência nas regiões occipital, frontal e orbital, porém
ras comprometido pela estagnação venosa periférica, pe- pode manifestar-se em qualquer parte do crânio. Quando
lo sangue retido no útero (1/6 do volume circulante) e começa na região occipital, geralmente se irradia para a
pela compressão da veia cava. Como resultado, pode-se nuca e para os ombros, e pode ser acompanhada de rigi-
esperar um baixo rendimento cardíaco e acentuada hipo- dez da nuca. Torna-se mais intensa quando se compri-
tensão arterial. mem as veias jugulares, e mais branda, quando se compri-
A fim de prevenir a hipotensão arterial da raquianes- mem as carótidas. Raramente é associada a fenômenos
tesia na gestante e evitar a administração de aminas visuais e auditivos.
simpatomiméticas para combatê-la, Wollman e Marx Origem - Parece certo que a causa primordial do desen-
(1968) 60 propuseram a hidratação materna prévia, que cadeamento da cefaléia pós-raquianestesia consiste no es-
consiste na infusão venosa rápida (14 a 30 min) de um li- coamento de líquido cefalorraquidiano através do orifí-
tro da solução de Ringer lactato com 5 % de glicose- Em- cio deixado pela punção da dura-máter. Como mecanis-
bora a pressão venosa central caia ligeiramente, a tensão mo de dor, admite-se que a queda, às vezes intensa, da
arterial se mantém durante o bloqueio raquidiano, e as pressão liquórica proveniente do extravasamento abun-
dante de líquor para o espaço peridural desloca o encé-
crianças respiram mais precocemente do que as que nas-
falo em direçao caudal e provoca o estiramento de estru-
ceram de mães que apresentaram hipotensão arterial e
turas sensíveis, como a dos seios venosos, e dos vasos du-
venosa. O aumento da volemia não é proporcional ao vo-
rais e encefálicos 42. O decúbito dorsal horizontal alivia
lume líquido infundido, porque ele se distribui nos espa-
esta tensão e, conseqüentemente, melhora a cefaléia. A
ços extracelulares. Deve-se esperar um reforço da diurese
rigidez da nuca, freqüentemente acompanhada de dores
com enchimento anormal da bexiga, sem importância,
no pescoço e ombros, também deve provir do estiramen-
porque as parturientes são levadas à sala cirúrgica com
to da dura-máter e dos vasos sangüíneos da base do crâ-
sonda vesical. Obviamente este método é contra-indicado •
n10.
nas gestantes cardíacas devido ao risco de descompensa-
É lógico admitir que, à medida que a idade avança, a
ção.
perda da elasticidade das meninges e dos vasos sangüí-
Se, apesar deste procedimento, ocorrer hipotensão ar-
neos dificulta o seu estiramento e reduz a possibilidade
terial, deve-se empregar a efedrina, em virtude de sua res-
trita interferência na circulação útero-placentária. do surgimento da cefaléia. Além disso, a capacidade do
Depois de fixada a anestesia, a gestante é colocada em espaço peridural dos idosos, que se encontra limitada em
ligeiro proclive, com inclinação para a esquerda, a f1m de virtude do enrijecimento de seus componentes, aceita pe-
livrar a veia cava da compressão uterina, facilitar a volta queno volwne de líquido cefalorraquidiano. Conseqüen-
temente, a hipotensão liquórica pode ser insuficiente pa-
do sangue venoso ao coração, melhorar o rendimento
ra tracionar meninges e vasos, e desenvolver a cefalalgia.
cardíaco e elevar a pressão arterial.
A cefáleia da anestesia raquidiana é mais freqüente
Embora a raquianestesia não tenha confirmado a es-
depois de operações que permitem a mobilização preco-
perança de tomar-se um tratamento eficiente da eclâmp-
ce do doente. Isto se prende ao fato de que a flexão da
sia, ela pode ser empregada com segurança em pacientes
coluna proporciona um awnento da pressão negativa do
toxêmicas, tanto no período expulsivo do parto como
espaço peridural e amplia o orifício deixado pela agulha
em cesáreas, contanto que se leve em conta o risco de ca-
de punção na dura-máter. Assim, cria-se uma situação
da caso.
propícia à passagem de grandes volumes de líquido cefa-
lorraquidiano para o espaço peridural, que agrava a hipo-
COMPLICAÇÕES tensão liquórica.
1 - Dores Lombares - Certas dores lombares em pacien- Prevenção e tratamento: Várias medidas simples po-
tes que foram operados em decúbito dorsal sob raquia- dem ser utilizadas para manter a pressão do líquor e pre-

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ANESTESIAS ESPINHAIS

venir o desencadeamento da cefaléià. O cuidado mais im- Traumatismos das Raízes Nervosas e da Medula - Du-
portante é o uso de agulhas finas para a punção. Durante rante a execução da anestesia raquidiana, podem ser per-
12 ou 24 horas do período pós-operatório, o paciente furadas as raízes nervosas da cauda eqüina e a própria
deve permanecer em decúbito horizontal, sem travessei- medula, se a punção for efetuada acima de L2, A punção
ro, e abster-se de movimentos que produzam flexões da de uma raíz provoca dor intensa e sensação penosa de
coluna. Como medida geral, recomenda-se a ingestão choque, que se difunde para os membros inferiores. A in-
abundante de líquidos ou a infusão venosa de soluções jeção do anestésico no interior de uma raíz implicará aci-
de glicose a 5 % ou glicofisiológica de cloreto de sódio. A dente grave, com comprometimento da sensibilidade e
SOO ou 1000 ml de solução glicofisiológica pode-se acres- da motricidade, associado a distúrbios tróficos. Pode, ain-
centar 1 g de nicotinamida, na tentativa de provocar va- da, ocasionar paralisia da bexiga e do reto 42.
sodilatação nos plexos coróides e awnentar a produção Bem mais grave é a perfuração e a injeção do anestési-
do líquido cefalorraquidiano 40. co na medula. As conseqüências podem incluir colapso
As cefaléias leves cedem facilmente com repouso e circulatório instantâneo, inconsciência e morte imediata.
com a administraçao de analgésicos, como a aspirina, a Se o paciente sobreviver, permanecerá uma mielite trans-
metilmelubrina, o propoxifeno e a codeína. versa. Em virtude do adiantamento da técnica, estas com-
Nas cefalalgias rebeldes, tem sido tentada grande varie- plicações são extremamente raras 11.
dade de substâncias, cafeína, efedrina, anfetamina, pitres- Material lavado com detergente antes da autoclava-
sim, nicotinamida, ergotamina, galamina, água destilada gem e anestésicos cUjas ampolas foram mantidas em solu-
venosa e outras, o que comprova a dificuldade de trata- ções antissépticas causaram seqüelas neurológicas, algu-
mento 17. mas seguidas de óbito, em pacientes submetidos à raquia-
Melhores resultados têm sido obtidos com a introdu- nestesia.
ção de volumes variáveis de solução fisiológica nos espa-
ços peridural e subaracnóideo. Embora a cefalalgia melho- Trincas dificilmente perceptíveis nas paredes das am-
re quando se injetam 15 ml da soluçao no espaço suba- polas permitem a entrada e a mistura do antisséptico
racnóideo, deve-se preferir a injeção peridural de 20 a com o anestésico, do que resulta wna solução neurolíti-
40 ml, porque oferece bons resultados, não implica per- ca. A adição de corantes aos antissépticos, com a fmali-
furação da dura e pode ser repetida no dia seguinte, se dade de surpreende-los no interior das ampolas, não sur-
necessário. Nos casos graves, mantém-se um cateter no giu o efeito desejado. Para a desinfecção das ampolas, têm
espaço peridural e introduz-se a solução fisiológica, gota sido empregadas substâncias diversas, álcool et11ico, ál-
a gota, até o desaparecimento dos sintomas. cool isoprop11ico, formaldeído, lisol e os corantes azul
Em 1960, Gormley propôs o seguinte método: pun- de metileno e violeta de genciana, etc.
ciona-se a dura-máter e injeta-se solução fisiológica de Deste acidente podem resultar complicações como ra-
cloreto de sódio no espaço subaracnóideo. Obtida uma diculites, mielite ascendente, aracnoidite adesiva, menin-
melhora da cefaléia, retira-se a agulha até que sua extre- goencefalite, meningite química e outras 3.
midade chegue ao espaço peridural, e injetam-se 2 ml do
Síndrome da Cauda Eqiiina - A síndrome da cauda
sangue do próprio paciente. Este sangue injetado modifi-
ca-se, veda o orifício dural, detém a perda do líquido ce- eqüina apresenta-se com sintomatologia variada, abran-
falorraquidiano, normaliza a sua tensão e elimina a cefa- gendo territórios inervados pelas raízes que constituem a
léia 32. cauda eqüina. Segundo a gravidade das lesões, desenvol-
Entretanto, é mais vantajoso injetar o sangue no espa- vem-se paresias, parestesias, distúrbios esfinctéricos, pa-
ço peridural através do mesmo local de punção da raquia- ralisias dos membros inferiores e, mesmo, paraplegia. Sua
nestesia e, assim, evitar outra perfuração da dura-máter. incidência foi maior na época em que se empregavam anes-
Cefaléia por hipertensão liquórica - A cefaléia por hi- tésicos irritantes, como a estovaína, ou concentrações
pertensão liquórica provém do aumento da produçao do exageradas de procaína. A síndrome da cauda eqilina é
líquor ou da deficiência de sua absorção. Pode sobrevir mais freqüente na raquianestesia em sela, porque, sendo
quando há infecção e irritação das meninges. Têm sido a punção efetuada no paciente sentado, a solução hiper-
descritos casos de cefaléia por hipertensão liquóriça pro- bárica se acumula no fundo de saco durai, onde o volu-
veniente de hemorragia aracnóidea em portadores de dis- me de líquor é pequeno e possibilita maior concentração
crasias sangüíneas, ou em pacientes que se encontravam da substância irritante em contato com os elementos ner-
em tratamento por anticoagulantes na época em que fo- vosos. Como em outras seqüelas neurológicas, o seu de-
sencadeamento deve-se também à ação de substâncias
ram submetidos à anestesia raquidiana. A dor localiza-se
neurolíticas (álcool, antisséptico) empregadas na esterili-
mais freqüentemente na fronte, porém pode abranger to-
zação de ampolas, agulhas e seringas.
do o crânio, é constante e não se altera com a movimen-
Os sintomas relacionam-se com o grau de atrofia das
tação da cabeça. O tratamento visa à redução da pressão
raízes atingidas, As lesões encontradas na necrópsia in-
liquórica, administrando-se, por via venosa, soluções de
cluem congestão da pia-máter da medula lombar e sacra,
glicose hipertônica ou manitol.
vacuolização das fibras da cauda eqilina, espessamento e
3 - Complicações e Seqüelas Neurológicas - As estru- aderência da aracnóide às raízes da cauda eqilina, edema
turas nervosas do espaço subaracnóideo podem ser dire- e aderência das raízes nervosas.
tamente comprometidas pela agulha de punção, por in-
fecções, por substâncias químicas e pelo próprio anesté- Aracnoidite Adesiva - A aracnoidite adesiva inicia-se
sico. O comprometimento indireto é originado da retra- por congestão, que é seguida de espessamento da aracnói-
ção de aderências, ocasionada pela aracnoidite adesiva. de. Posteriormente, formam-se aderências entre a aracnói-

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de e a dura-máter. De acordo com a progressão do pro- Injeção de Soluções Erradas - Devido à semelhança da
cesso, os espaços subaracnóideos e subdural podem obli- embalagem, tem ocorrido, a injeção inadvertida de gala-
terar-se parcial ou completamente. A retração das ade- mina no espaço subaracnóideo.
rências compromete a função das raízes nervosas, o flu- Observados experimentalmente, relaxantes muscula-
xo do 1íquido cefalorraquidiano e o suprimento de san- res, injetados no sistema nervoso central provocam esti-
gue à medula. O desenvolvimento destas alterações é len- mulação com alteraçoes da consciência, tremores, hiper-
to. tonia muscular, hiperpirexia e convulsões tônico-clôni-
A aracnoidite adesiva pode ser a conseqüência tardia cas, que podem levar à morte por asfixia. Estes fenôme-
da injeção maciça da solução anestésica no espaço suba- nos não são observados com o uso venoso dos relaxantes
racnóideo após perfuração inadvertida da dura-má ter. em anestesia, por causa do obstáculo oferecido pela bar-
Como as concentrações anestésicas utilizadas em aneste- reira sangue-cérebro.
sia peridural não acarretam danos quando depositadas no Quando, porém, o relaxante é introduzido no espaço
espaço subaracnóideo, é lícito suspeitar que alguma dro- subaracnóideo, reproduz-se o quadro da estimulação cen-
ga estranha detergente, antisséptico, substância conserva- tral com agitação, alienação, confusão mental, sudorese,
dora fazia parte da soluçao. hiperreflexia, tremores e hipertermia 21.
Meningites As.5épticas - Meningites assépticas apresen- Se o engano for notado precocemente e for realizada
tam-se sob forma de irritação meningéia alguns dias de- a lavagem do espaço com solução fisiológica de cloreto
pois da anestesia raquidiana, e, usualmente, cedem no es- de sódio, que é o tratamento de escolha, os sintomas são
paço de uma semana, podendo evoluir para uma aracnoi- menos espetaculares e desaparecem mais facilmente. As-
dite adesiva. Manifestam-se por cefaléia, rigidez da nuca, sim, pode sobrevir apenas sudorese, agitação e tremores
fotofobia e Kernig positivo. Receberam esta denomina- dos membros inferiores. O tratamento geral inclui os
ção porque as culturas do líquido cefalorraquidiano sem- benrodiazepínicos, barbitúricos, corticóides e manitol,
pre foram negativas. Portanto, é de supor-se que sejam segundo a intensidade e a natureza dos sintomas 2.
de origem virótica ou química 38. Outras drogas como a prometazi.na têm sido injetadas
Meningites sépticas - Meningites sépticas são provoca- no espaço subaracnóideo por engano. Porém, em função
das por falta de assepsia na execução da raquianestesia, de sua inocuidade, sua incidência não foi publicada.
por material e anestésicos contaminados, e por germes
conduzidos pela agulha de punção através de zonas sépti- II - ANESTESIA PERIDURAL
cas.
A anestesia peridural é uma modalidade de analgesia
Além da cefaléia e da rigidez da nuca, aparecem con-
metamérica, obtida pela introdução de um anestésico lo-
fusão mental, afasia com hemiplegia e paralisias dos ner-
cal no espaço peridural.
vos cranianos. Podem deixar seqüelas, como a síndrome
O espaço peridural estende-se do forame occipital até
da cauda eqüina, cegueira, hidrocefalia, aracnoidite crô-
o hiato sacro. A parede anterior é constituída pelos cor-
nica, paralisias permanentes, etc.
pos vertebrais e pelos discos intervertebrais, recobertos
O líquor revela hipertensão, diminuição dos cloretos, pelo ligamento longitudinal posterior. Os arcos vertebrais,
ausência de glicose e aumento do teor de proteínas. O unidos pelo ligamento amarelo, formam a parede póste-
diagnóstico de certeza é dado pela identificação do agen- ro-lateral. Internamente, o espaço peridural limita-se
te patogênico, o que também serve de orientação no tra- com a dura-máter. As paredes anterior e póstero-lateral
tamento. Atualmente, os cuidados com a assepsia e com são rijas, ao passo que a parede medial é flexível.
a técnica reduziram consideravelmente a incidência desta O espaço peridural não é fechado. Apresenta orifícios,
complicação. os buracos de conjugação, por onde passam as raízes ner-
Paralisia do VI Par Craniano - Excetuando o I e X to- vosas em pertuitos, cujas dimensões se alteram com a
dos os pares cranianos podem ser comprometidos na idade e com determinadas doenças.
anestesia raquidiana, porém o VI é o mais vulnerável, em Representado por trabéculas conjuntivas, gordura, va-
virtude de seu longo percurso na base do crânio. Isto o sos e nervos, o conteúdo do espaço peridural, varia em
predispõe a um estiramento mais fácil, quando se instala consistência, quantidade e volume, conforme a idade e o
a hipotensão liquórica, após a raquianestesia e o conse- estado de higidez do indivíduo, condicionando diferen-
qüente deslocamento encefálico. ças de sua capacidade residual. Contudo, num mesmo in·
Entre três e dez dias após o bloqueio, o enfermo se divíduo, esta capacidade também pode depender de alte-
queixa de diplopia e visão turva, fenômenos que podem rações momentâneas, como as que decorrem da dilatação
ser precedidos de cefaléia. Em três quartos dos casos, a de seu extenso plexo venoso. A capacidade do canal sa•
lesão é unilateral, geralmente no lado direito. A recupe- era subordina-se à forma do fuodo de saco durai, o qual
ração se processa dentro de 30 dias em 50% dos casos, pode apresentar tamanho e forma variáveis.
nos outros 50% pode persistir durante meses ou tornar- Pressões do Espaço Peridural - A discussão sobre a ori-
se permanente. Para prevenir esta complicação, deve-se gem da pressão negativa encontrada no espaço peridural
combater energicamente a hipotensão liquórica, sempre iniciou-se com sua descoberta por Janzen, em 193611, e
que surge a cefaléia pós-raquianestésica. prolonga-se até nossos dias. Ao introduzi.r uma agulha
Radiculites e neurites - Dores, paresias, paralisias loca- munida de um manômetro no espaço subaracnóideo, pa•
lizadas e atrofias denunciam lesões de raízes nervosas ou ra medir a pressão liquórica, o citado autor notou o de-
nervos periféricos. Rarissimamente ocorrem o amoleci- senvolvimento de uma pressão negativa antes da perfura-
mento agudo da substância cinzenta, desmielinização da ção da dura. Notando que as agulhas de ponta rombuda
medula e meningomielopatias. forneciam pressões mais negativas e que esta negativida•

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ANESTESIAS ESPINHAIS

de variava com o progredir e retroceder da agulha, con- no transversal. Longitudinalmente, predomina o desloca-
clui que a pressao do espaço peridural é proveniente de mento em direção cefálica, tanto mais acentuado quanto
um artefato, a distensão da dura-máter impelida pela mais alta for a injeção. Inicialmente, a progressão é mais
agulha de punção. longitudinal, porque os buracos de conjugaçao oferecem
Heldt e Maloney (I 928) 35 redescobriram a pressão maior resistência à passagem líquida. Em seguida, a pres-
negativa do espaço peridural e alegaram que era consti- são criada pelo acúmulo da solução ultrapassa a resistên-
tuída de dois componentes, uma pressão negativa verda- cia dos buracos de conjugação e o líquido escoa-se. Em
deira à qual se superpunha outra, espúria, gerada pelo conseqüência da dispersão longitudinal, o anestésico atin-
abaulamento da dura-máter, produzido pela progressão ge número variável de metâmeros correspondentes à fai-
da agulha. xa de bloqueio, e, em conseqüência da dispersão trans-
Zorraquin (1936) li responsabilizou duas forças no versal, o anestésico transpõe os buracos de conjugação,
desenvolvimento da pressão negativa do espaço peridu- acompanha as raízes r1ervosas, bloqueando-as e dirigindo-
ral: wna, constante, a tração das vísceras efetuada pelo se para os espaços para vertebrais.
mesentério; outra, intermitente, transmitida pela pressão Este comportamento das soluçoes, entretanto, de-
negativa pleural durante a inspiração. pende de fatores individuais e da técnica empregada. Den-
Dogliotti (1935) 24 foi o primeiro a dar importância à tre os fatores individuais consideram-se a resistência
flexão da coluna vertebral como causa do aparecimento (complacência) e a capacidade do espaço peridural, como
da pressão negativa peridural, que se normaliza pelo aflu- também as características dos buracos de conjugação.
xo de sangue nas veias extradurais. Resistência e Capacidade do Espaço Peridural - Por in-
Odom (1936) li era de opiniao que a flexão da colu- termédio da contrastação radiológica ou da cintilografia,
na alongava o espaço peridural e, conseqüentemente, é possível avaliar o comportamento do espaço peridural
awnentava o seu volume, criando uma pressão negativa frente a diferentes volumes líquidos. Com o emprego de
em seu interior. substâncias radiopacas, Varella (1971)59 verificou, ra-
Tracanella e Silva Marques (1939)54 encontraram diologicamente, que volumes pequenos até aproximada-
pressao negativa tanto nos vivos como em cadáveres evis- mente 5 ml podem sofrer deslocamento exclusivamente
cerados, durante a flexão da coluna. Com isso refutaram longitudinal. Com volumes maiores, tais como os empre-
as teorias da traçao visceral e da pressão negativa pleural. gados comumente em anestesia peridural, o resultado fi-
Segundo Usubiaga e col (1967) 57, há dois componen- nal é uma distribuição ao longo e para fora do espaço pe-
tes na formação da pressão negativa peridural: um, basal ridural.
-0,2 a -0,7 kPa (-2 a -7 cm H2 O), quando a agu- Em 1963, Usubiaga e Wikinski 58 mediram a pressão
llia perfura a dura máter; o outro, um artefato - 3 kPa gerada no espaço peridural pela injeçao de 1O mi da solu-
(- 30 cm H 2 O), quando a agulha avança no espaço peri- çao anestésica e constataram um comportamento variá-
dural. Ainda de acordo com estes autores, a pressão ne- vel de acordo com a idade. Nos jovens, a pressão peridu-
gativa aumenta com a flexão e diminui com a extensão ral elevava-se e baixava mais rapidamente do que nas pes-
da coluna, chegando, mesmo, a tomar-se positiva. A pres- soas idosas. Nestas, a elevação era menor e a queda, mais
são negativa é mais acentuada na coluna torácica do que prolongada. Estes resultados significam que o espaço pe-
na lombar. A injeção de 1O ml da solução anestésica não ridural dos indivíduos jovens é mais elástico e, portanto,
modifica, a distância, a pressao negativa, porque esta não menos resistente, aceitando maior volume líquido. Nos
se propaga com facilidade através dos elementos sólidos idosos, a perda da elasticidade dificulta o acúmulo de lí-
do espaço peridural. Concluem que a causa da pressao quidos, obrigando-os a se infiltrarem pelos locais de me-
negativa peridural é a flexão da coluna, a qual age por in- nor resistência e a ocupar maior número de metâmeros.
termédio da expansão dos ligamentos amarelos, amplian- A arteriosclerose agrava este fato.
do o espaço peridural, e acrescentam que estes fatos ex- A dilatação da vasta rede venosa reduz a capacidade
plicam a ausência de pressão negativa no canal sacro. do espaço peridural. Para isso, concorrem alterações do
Baseado na experiência dos autores e em sua própria, retomo venoso no sistema cava, que obrigam o sangue a
Bromage (1978)11 emitiu o seguinte ponto de vista: a desviar-se para o plexo venoso vertebral, do qual faz par-
pressão negativa pleural transmite-se no espaço peridural te a rede venosa peridural 47.
através dos buracos de conjugação, o mesmo acontecen- O ingurgitamento das veias peridurais pode, assim, re-
do com a pressão positiva abdominal. Desta maneira, exis- sultar da compressão direta da veia cava pelo útero grávi-
tiria uma diferença de pressão ao longo da coluna verte- do, ou por tumores, ou, então, pelo aumento da pressão
bral, negativa na região torácica e positiva na região lom- intra-abdominal, ocasionado por ascite, por pneumoperi-
bar. Como os elementos sólidos do espaço peridural difi- tônio ou por obesidade. Nos portadores destes processos,
cultam o equil1brio tensional entre estas duas regiões, es- o bloqueio pode tomar-se muito extenso. Como preven-
tabelece-se uma zona de transição, que se estende por ção, é recomendável a redução da dose do anestésico.
dois ou três metâmeros. Quanto à pressão negativa verifi- Durante o trabalho de parto, agrava-se o ingurgitamen-
cada na coluna lombar durante a punção, tratar-se-ia do to das veias peridurais, porque as contrações uterinas
artefato criado pelo abaulamento da dura-máter. reforçam a compressão da veia cava. Por conseguinte, na
grávida a termo a dose anestésica deve ser reduzida de
DISPERSÃO DAS SOLUÇÕES ANESTÊSICAS NO 30% a 50% 13,
ESPAÇOPERIDURAL
As soluções de anestésicos introduzidas no espaço pe- Características dos Buracos de Conjugação - O espaço
ridural deslocam-se tanto no sentido longitudinal como peridural não é uma cavidade fechada, comunica-se com

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os espaços para vertebrais através dos buracos de conjuga- mo e do inotropismo cardíacos, quase sem interferência
ção. Qualquer líquido introduzido em volume superior à dos centros superiores. Os influxos nervosos que coman-
sua capacidade abandona-o em funçao da perviabilidade dam o inotropismo, o cronotropismo e a pressão arterial,
dos buracos de conjugaçao. Nos jovens sadios, estes orifí- caminham por vias diferentes. Dependendo da altura do
cios permitem o escoamento fácil da soluçao anestésica, bloqueio, podem sobrevir açoes diferentes no coração ou
ao passo que nos idosos a fibrose e, mesmo, a calcifica- na pressão arterial, até que ao atingir os neurônios mais
ção de seus elementos acarretam a restrição e, por vezes, altos (T 1 e T 2), mais potentes, os efeitos tornam-se ho-

o desaparecimento de sua perviabilidade, determinando mogeneos.
maior difusão anestésica no espaço peridural. B - Bradicardia - Nos bloqueios espinhais baixos, a
queda da freqüência cardíaca, determinada pela dificul-
dade da volta do sangue ao coração, é benéfica, porque
facilita o trabalho cardíaco. Porém nos bloqueios altos,
quando a esta bradicardia se acrescenta outra de origem
EFEITOS DO BLOQUEIO PERIDURAL
vagai, oriunda da interrupção do fluxo simpático dos
Embora na anestesia peridural ocorra o bloqueio dos nervos cardioaceleradores, pode agravar-se o comprometi-
mesmos elementos nervosos que ocorrem na raquianeste- mento do retomo venoso e reduzir o rendimento cardía-
sia, existem diferenças quanto à sua intensidade e exten- co a ponto de sobrevir a morte por isquemia do miocár-
são. O resultado é o desenvolvimento dos mesmo fenô- dio. Esta tem sido a causa de muitas mortes, particular-
menos, porém com características próprias 53. Além dis- mente nos casos de hipovolemiahemorrágicaoucompres-
so, a absorção do anestésico local, às vezes empregado são da veia cava.
em doses altas, implica ações gerais, o mesmo acontecen- Por conseguinte, a hipotensão grave, acompanhada de
do com a adrenalina associada às soluçoes de anestésicos bradicardia, exige correção imediata. Caso contrário, o
locais. volume minuto cardíaco e a perfusão coronariana caem
Como na anestesia peridural, o bloqueio nervoso é tanto que podem levar à isquemia miocárdica e à parada
metamérico e o comprometimento das diversas fibras ner- cardíaca.
vosas é desigual, as que fogem ao bloqueio continuam
funcionando normalmente, a não ser que o enfermo re-
ceba drogas depressoras durante a operação. C - Efeitos das Soluções Anestésicas Simples e Com
A - Bloqueio do Sistema Nervoso Simpático - Inclua- Adrenalina - Em doses normais, o anestésico absorvido
se aqui o que foi escrito no capítulo correspondente da pela circulação sangüínea nao implica ações cardiovascu-
raquianestesia. lares prejudiciais, a não ser em concomitância com anes-
O tônus vascular periférico é mediado diretamente pela tesia geral, hipovolemia, bloqueio simpático e acidose.
inervação dos receptores adrenérgicos a e {3 e, indireta- Embora os influxos autonômicos e sensitivos sejam inter-
mente, pelas catecolaminas, circulantes, liberadas pela rompidos com mais facilidade do que os motores, verifi-
porção medular das glândulas supra-renais. Os esfíncteres ca-se que a concentração anestésica usual, que em raquia-
pré-capilares regulam o leito capilar, são responsáveis pe- nestesia bloquearia todas as fibras, não o faz com a mes-
la regulação vasomotora e autôgena, e, provavelmente, ma eficiência em anestesia peridural, sobrando conjuntos
dependem da concentração de oxigênio. Uma vez que o de fibras que escapam ao bloqueio e continuam funcio-
bloqueio peridural se instala vagarosamente, é de supor- nando. Isto propicia o desenvolvimento da vasoconstri-
se que esta auto-regulação exerça alguma influência no ção vicariante, mais intensa nos jovens, que tende a equi-
resultado qualitativo da interrupçao do influxo simpáti- librar a pressão arterial. Os idosos podem ser beneficia-
co. dos pelo reforço simpatomimético da adrenalina. En-
O bloqueio simpático é acompanhado de dilatação ar- quanto em relação ao sistema nervoso simpático, o blo-
teriolar, diminuição da resistência pré-capilar e aumento queio parcial pode constituir vantagem, o mesmo não
do fluxo capilar. Concomitantemente, há relaxamento acontece para o lado das fibras sensitivas e motoras.
das veias, ampliando sua capacidade e reduzindo o retor- Para que o bloqueio peridural seja mais intenso e
no venoso. O resultado destas ações é a redução do ren- completo, lança-se mão de soluções anestésicas mais con-
dimento cardíaco, que se agrava, sobretudo se já existia centradas ou acrescidas de adrenalina. Assim, o bloqueio
uma obstrução venosa, como acontece nas parturientes motor é mais intenso quando se usa uma soluçao de lido-
em decúbito dorsal. No parto sem anestesia, apesar da caína a 1 % com adrenalina a 1/200.000 do que quando
compressão da veia cava e estagnação de sangue nos mem- se usa uma soluçao simples de lidocaína a 2% 9. A insta-
bros inferiores, o rendimento cardíaco não se encontra lação das anestesias praticadas na raque não é homogê-
perigosamente comprometido, porque o sangue venoso nea. As raízes mais grossas, que são as últimas lombares e
retoma ao coração pela veia áziga e pelo plexo vertebral. as primeiras sacrais, são invadidas mais tardiamente. Den-
Entretanto, se houver uma intensificaçao da estase veno- tre elas, a mais calibrosa, SI (face externa do pé), escapa
sa periférica devido ao bloqueio simpático da anestesia ao bloqueio em 20% dos pacientes, mesmo que se injete
peridural ou raquidiana, o afluxo de sangue ao coração uma solução anestésica com adrenalina 29. Mas a etido-
torna-se tão exíguo que pode provocar a morte da pacien- caína a 1,5 % produz sempre bloqueio completo.
te, se não for compensado em tempo. A adrenalina incluída nas soluções de anestésicos exer-
O rendimento cardíaco não depende exclusivamente ce ações locais e gerais. Nos tecidos, produz vasoconstri-
dos centros vasomotores bulhares. As fibras autonômicas ção, que retarda a absorção do anestésico, previne o de-
aferentes e eferentes dos primeiros quatro ou cinco seg- sencadeamento de reações tóxicas e prolonga a duração
mentos torácicos participam ativamente do cronotropis- do bloqueio.

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ANESTESIAS ESPINHAIS

A injeção no espaço peridural de 20 ml de adrenalina de uma excessiva insuflaçao dos pulmões pela respiração
a 1/200.000 em solução fisiológica de cloreto de sódio controlada num paciente submetido ao bloqueio peridu-
determina aceleração do pulso, aumento do rendimento ral torácico que, abolindo a resposta vasopressora, supri-
cardíaco (20%) e abrandamento da resistência periférica, me a vasoconstrição compensatória na extremidade arte-
sem modificações do fluxo sangüíneo nos membros infe- rial do leito capilar. Isto retarda ou mesmo interrompe a
riores e da pressão arterial média. perfusão sangüínea do tecido, se a tensão venosa se en-
A anestesia peridural alta com lidocaína ocasiona va- contrar aumentada 11. Como conseqüência, pode sobre-
sodilatação, cujas conseqüências são estagnaçao de san- vir isquemia cérebro-espinhal, mesmo se a pressão arte-
gue e queda da resistência periférica, do rendimento car- rial estiver dentro dos limites normais.
díaco e da pressão arterial média. Na anestesia peridural, a concomitância de hiperten-
A anestesia peridural efetuada com lidocaína ad.icio- são venosa no plexo vertebral proveniente da compressao
nada de adrenalina resulta melhora do rendimento car- da veia cava inferior pode dificultar a drenagem sangüí-
díaco (49%), reduçao da resistência periférica (37%) e na da medula e desencadear isquemia medular e, conse-
queda da pressão arterial média (10%)5. qüentemente, paraplegia 28.
Comparando-se os efeitos das soluções de lidocaína- G - Fígado - É muito difícil o estabelecimento da in-
adrenalina e adrenalina-soluçao fisiológica, verifica-se fluência da anestesia peridural sobre o fígado. A perfu-
que ambas apresentam os mesmos resultados no aparelho são hepática reduz-se quando a pressão sistólica cai abai-
cardiocirculatório. Entretanto, a solução lidocaína-adre- xo de 9 - 9,3 kPa (60 . 70 mm Hg). Neste momento., a
nalina provoca diminuiçao mais acentuada da resistência glândula se torna túrgida e escura, mas recupera-se, se a
periférica total e da pressão arterial média, assim como pressão arterial se normalizar sob a ação de wna catecola-
maior aumento da perfusão sangüínea dos membros infe- mina. Estas modificações foram atribuídas à liberação de
riores 5. substâncias vaso dilatadoras hepáticas, quando a perfu-
Por intermédio de seu efeito /3-estimulante, a adrena- sao se encontra reduzida.
lina contida na solução anestésica promove vasodilatação
e age sobre o coração com seu efeito inotrópico. Além H - Rins - A desnervação renal é seguida de elevação
disso, reforçando o bloqueio anestésico das raízes nervo- moderada da excreção de sódio e de água. Por outro la-
sas, a adrenalina concorre para que menor número de fi- do, a agressão cirúrgica produz retenção de cloreto de só-
bras simpáticas permaneça livre e funcione vicariantemen- dio e de água, mesmo se estes compostos foram satisfato-
te. As ações da adrenalina cessam der1tro de uma hora riamente administrados. O bloqueio peridural não modi-
aproximadamente, depois de que as manifestações car- fica a retenção de água, porém previne a retenção de só-
diocirculatórias da anestesia peridural correm por conta dio 4. Este fato indica que a retenção de sódio e a de água
da interrupção da atividade simpática. obedecem a mecanismos diferentes.
A anestesia peridural baixa, atingindo os nervos sacrais,
D - Circulação Coronariana - Quando os capilares dei-
influi no funcionamento da bexiga, com distensão e com
xam de fornecer um volume suficiente de sangue, o ór-
obstrução funcional. Por isso, nos bloqueios prolonga-
gao falha. O coração possui maior reserva de sangue, por-
dos, é imprescindível palpar externamente a bexiga e es-
que é o único órgão que supre as suas próprias necessida-
vasiá-la, se necessário.
des. O miocárdio normal tolera o abaixamento da pres-
I - Efeitos Metabólicos - O trauma cirúrgico e a dor
são sistólica até 5,3 - 6,7 kPa (40 ou 50 mm Hg) sem
causam um aumento das catecolaminas circulantes, do-
mostrar sofrimento. Tensões sistólicas de 10 - 11,3 kPa
brando o teor de adrenalina e noradrenalina. A anestesia
(75 a 85 mm Hg) quando existem alterações das artérias peridural evita esta liberação.
coronarianas ou hipertrofia miocárdica, podem mostrar O córtex supra-renal também reage ao ato cirúrgico,
sinais de isquemia. Apesar do menor consumo de oxigê- liberando hidrocortisona (cortisol) até dez vezes mais
nio que protege o miocárdio durante as anestesias raqui- que a excreção normal. Contudo, o bloqueio peridural
diana e peridural, deve-se evitar hipotensões acentuadas não previne esta liberação 46, o que faz supor que ela é
nos portadores de coronariopatias e esclerose miocárdica. mediada por um influxo nervoso que escapa ao bloqueio,
Veja raquianestesia. provavelmente o vago.
E - Perfusão do Neuroeixo - Para manter wna oxige- Ao contrário, a hiperglicemia res1tltante do trauma ci-
nação eficiente no eixo cérebro-espinhal de pacientes em rúrgico é completamente abolida pela anestesia peridural
bom estado geral, é necessário que a pressão arterial mé- alta I, 39. Nos diabéticos sob a açao do bloqueio peridu-
dia seja superior 6,7 kPa (50 mm Hg). Contudo, enfermos ral alto, o bloqueio esplâncnico intensifica a ação insulí-
idosos, arterioscleróticos, portadores de hipertensão ar- nica, de modo que a glicemia pode cair a níveis perigo-
terial grave, tOleram mal as quedas tensionais, às vezes sos, requerendo pronta administração endovenosa de gli-
pequenas. Estados hipotensivos moderados em grandes cose hipertônica.
hipertensos podem acarretar estados confusionais no pe- J - Reações Térmicas - Na prática da anestesia peridu-
ríodo pós-operatório, enquanto hipotensões acentuadas ral, observa-se, com grande freqüência, que os pacientes
constituem causa de lesões cerebrais isquêmicas graves. são atacados de tremores e calafrios dentro de cinco ou,
F - Hipertensão Venosa - Na vigência de hipotensão mais tardiamente, 60 ou 90 minutos depois da injeção
arterial, a hipertensão venosa pode impedir o fluxo capi- do anestésico. Os tremores imediatos talvez provenham
lar a ponto de desenvolver anoxia, mesmo que esta pres- da presença da solução anestésica fria no espaço peridu-
são arterial mais baixa seja suficiente para as exigências ral, agindo sobre sensores térmicos aí existentes, ou es-
metabólicas dos tecidos em condições normais. Isto pode friando o sangue venoso do plexo vertebral que, ao diri-
ocorrer durante o aumento da pressão venosa, originado gir-se aos seios venosos encefálicos, estimularia sensores

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térmicos centrais 11. Os tremores tardios são provocados ção de petidina, com uma recuperação de 13 ,5 % 36. Es-
pela perda de calor corporal devido à vasodilataçao peri- tes dados referem-se especialmente às operaçoes do tórax
férica, que resulta de wn amplo bloqueio do sistema ner- e do andar superior do abdome.
voso simpático. Simultâneamente, este bloqueio deprime
o trabalho da supra-renal, limita a liberação de adrenali- ANESTESIA PERIDURAL EM OBSTETRÍCIA
na, e, conseqüentemente, reduz o metabolismo e a pro- A dinâmica uterina depende mais de fatores humorais
dução de calor. Ainda, pela ausência do influxo adrenér- do que nervosos. O bloqueio peridural não influi nas
gico, desaparece a sudorese, que suprime a perda de calor, contrações uterinas e, portanto, não interfere na fase de
mas não consegue compensar os efeitos anteriores. dilataçao do parto. A paralisia da prensa abdominal e,
Tomando como base estas interpretações, os tremores particularmente, do assoalho pélvico podem prejudicar o
da anestesia peridural podem ser combatidos, aquecendo desenvolvimento do trabalho de parto no período expulsi-
as soluções anestésicas, agasalhando o doente, e adminis- vo 12, Por esse motivo, anestésicos dotados de forte poder
trando as soluções hídricas e o sangue previamente aque- de bloqueio nas raízes motoras, como a etidocaína (Du-
cidos. Farmacologicamente, os tremores e calafrios po- ranest) e a tetracaína (Pontocaína), devem ser evitados e
dem ser combatidos pela administraçao de derivados da substituídos pela bupivacaína (Marcaína), de ação mais
fenotiazina. branda. Também não se deve permitir o relaxamento pre-
No período intra e pós-operatório, devem ser levadas coce do períneo, pois admite-se que estímulos da dilata-
em conta outras causas de alterações térmicas do organis- çao da cérvix determinam a secreção de ocitocina, ou de-
mo, como incompatibilidade ao sangue transfundido, rea- sencadeiam reflexos que incitam as contraçoes uterinas 51.
ções pirogênicas causadas pelas soluções parenterais e per- Em contrapartida, às vezes, úteros que se contraem irregu-
da de calor através da ferida cirúrgica. larmente durante o trabalho de parto, passam a apresen-
A hipertermia malígna, cuja mortalidade varia entre tar contraçoes regulares depois de instalado o bloqueio
60 e 70%, apresenta-se com elevaçao rápida da tempera- peridural.
tura, intensa vasoconstrição periférica, aceleração exage- Absorção dos Anestésicos Locais - Nas doses habituais,
rada do metabolismo e, por vezes, rigidez muscular. Os o anestésico local absorvido pela circulação da gestante
agentes desencadeadores mais freqüentes têm sido a suc- não interfere na contratilidade uterina. Segundo Broma-
cinilcolina e o halotano, quando administrados juntos ou ge ( 1967) 13, as contra-indicações do uso de adrenalina
separados. Partindo da suspeita de que este acidente é ge- em obstetrícia foram baseadas em trabalhos de autores
rado por um mecanismo adrenérgico, surgiu a idéia de que injetaram doses altas. As soluções anestésicas po-
que os bloqueios peridural e subaracnóideo seriam os dem conter adrenalina na concentração de 1/200.000
métodos de escolha nos casos suspeitos e serviriam de (5,ug/ml), se o volume injetado não exceder 6 m) 11_
tratamento. De fato, pode-se admitir que os bloqueios Passagem do Anestésico para o Feto - Todos os anes-
espinhais evitem o desencadeamento da hiperpirexia ma- tésicos locais transpõem a barreira placentária e podem
lígna, porém nao há provas de que consigam curá-la. prejudicar o feto. Quanto maior o poder de fixação do
anestésico local nas proteínas do sangue matemo, menor
será a possibilidade de sua passagem através da placenta e
K - Aparelho Respiratório - Mesmo o bloqueio peridu-
menor será a sua concentração no sangue fetal. Na exe-
ral que atinge os nervos intercostais nao deprime a venti- cução da anestesia peridural em obstetrícia, reveste-se de
lação pulmonar, porque o comprometimento motor é especial importância a natureza da droga anestésica e a
parcial e o diafragma compensa a possível deficiência in-
dose injetada. A bupivacaína, com seu grande poder de
tercostal 43. Por este motivo, nao se têm encontrado al- fixaçao nas proteínas do sangue materno, é a que trans-
terações nos gases sangüíneos e equil1brio ácido-básico põe a placenta em menor massa 20. Ao contrário, a prilo-
durante a anestesia peridural 44. caína (Citanest ), cujo poder de fixaçao protéica é peque-
O comportamento respiratório depende, em larga es- no, atinge o feto facilmente. Esta droga deve ser evitada
cala, dos impulsos oriundos dos pulmões, do diafragma e em obstetrícia também pela facilidade com que produz
da caixa torácica. Em anestesia inalatória superficial, há metemoglobinemia 48. As maiores concentrações anesté-
um reforço da atividade muscular expiratória como res-
posta ao estímulo que os anestésicos voláteis imprimem sicas no sangue materno e fetal foram verificadas depois
aos pulmões. Se esta anestesia for associada a um bloqueio da injeção de grande volume como dose única ou repeti-
peridural alto, a respiração se torna suave e apenas uma da em caudal contínua. Alguns autores recomendam a
ligeira hiperventilação produz apnéia. Por conseguinte, adição de adrenalina à solução anestésica na concentra-
na associaçao de anestesia peridural com anestesia geral ção de 1 /200.000, porque constataram menor teor do
inalatória, pode-se, facilmente, manter respiração contro- anestésico tanto no sangue materno como no fetal, e
lada sem o auxilio de relaxantes musculares. Na insufi- porque acreditam que, nessa concentração, a adrenalina
ciência cardíaca congestiva, a redução do retomo venoso não interfere na evolução do parto 34.
referente à vasodilatação ocasionada pelo bloqueio sim- A relação entre a concentraçao anestésica na veia um-
pático da anestesia peridural facilita o desempenho car- bilical (VU) e no sangue materno (M) é de grande utilida-
díaco, diminui o edema pulmonar e aumenta a compla- de na escolha do anestésico local, e é representada pelo
cência dos pulmões. quociente VU/M.
A analgesia pós-operatória ideal é a que permite a vol- A capacidade dos anestésicos locais de atravessar a
ta da capacidade vital aos valores pré-operatórios. O mé- placenta é proporcionai ao valor do quociente VU/M20
todo mais eficiente é a anestesia peridural alta, com uma A substância mais ativa é a prilocaína (VU/M = 1,0 - 2,0),
recuperação de 74 %, e o menos eficiente é a administra- e as menos ativas são a etidocaína (VU/M = 0,35) e a bu-

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ANESTESIAS ESPINHAIS

pivacaína (VU/M = 0,2 - 0,4 ). Em situaçao intermediá- Embora este incidente seja desprovido de efeitos noci-
ria, estao a lidocaína e a mepivacaína com valores próxi- vos, o paciente deve ser avisado e tranqüilizado a propó-
mos (VU/M = 0,52 - 0,71). A preferência atual pela bu- sito de uma possível intolerância.
pivacaína (Marcaína) prende-se a um quociente VU/M S - Complicações e Seqüelas Neurológicas - Lesão Me-
baixo e a seu fraco poder de bloqueio das fibras motoras. dular - Todas as punções acima de L 1 devem ser feitas
- com extremo cuidado. A inclinação maior das apófises
COMPLICAÇOES DA ANESTESIA PERIDURAL espinhosas, a pequena espessura do espaço peridural to-
rácico e o longo curso da agulha implicam dificuldades
1 - Perfuração da Dura-Máter - A complicaçao mais técnicas e risco de lesão da medula. Nos casos relatados,
com\U11 na realização da anestesia peridural é a perfuração no momento em que a agulha lesou a medula, os enfer-
da dura-máter pela agulha de pW1ção e, muito raramente, mos referiram dores violentas nos flancos e membros in-
pelo cateter, quando se pretende o bloqueio contínuo. feriores, e apresentaram fenômenos neurológicos varia-
Como, usualmente, a agulha da anestesia peridural é mais dos, como anestesias e paralisias no abdome e nos mem-
calibrosa do que a agulha da raquianestesia, a perfuração bros inferiores 6. Alguns destes sintomas foram passagei-
involuntária da dura-máter permite um abundante escoa- ros, porém outros foram definitivos.
mento do líquido cefalorraquidiano, o que revela o enga- Hematoma Peridural e Compressão da Medula - A in-
no. Mas se a penetraçao da agulha no espaço peridural dicação da anestesia peridural torna-se problemática nos
for imperceptível e forem injetados os 20 mi habituais pacientes que sofrem de distúrbios da coagulação sangüí-
da solução anestésica no espaço subaracnóideo, ocorrerá nea, ou estão recebendo drogas anticoagulantes, porque
uma raquianestesia total, que abrangerá todos os metâ- está sempre presente a possibilidade da formação de um
meros e produzirá apnéia, queda brusca da pressão arte- hematoma peridural 19.
rial e, eventualmente, parada cardíaca. Para combateres- Embora, durante o tratamento anticoagulante, o he-
te acidente grave, inicia-se imediatamente respiraçao arti- matoma peridural possa desenvolver-se espontâneamen-
ficial e administram-se aminas simpatomiméticas. te, na maioria dos casos ele resulta do rompimento das
veias peridurais, às vezes dilatadas. Vários mecanismos
2 - Injeção Venosa do Anestésico Local - A presença podem ser responsabilizados pela destruiçao das paredes
de grande massa do anestésico local na circulação sangüí- venosas: repetição exagerada das punçoes peridurais ou
nea pode resultar da punção de uma veia pela agulha, ou subaracnóideas em casos difíceis41, estiramento das veias
pela introdução do cateter em sua luz, ou, ainda, pela pelo volume líquido injetado no espaço peridural, deslo-
absorção de maciça no espaço peridural. Assim se desenca- camento do cateter no espaço peridural 31, punçao suba-
deia a intoxicação aguda dos anestésicos locais com con- racnóidea diagnóstica.
vulsões e com depressão cardiocirculatória. Em casos graves, é possível encontrar sufusões sanguí-
3 - Injeção de Soluções Erradas no Espaço Peridural - neas no espaço peridural, no espaço subaracnóideo e em
O descuido tem facilitado a troca de soluçoes em aneste-
outros locais do sistema nervoso, dando a impressão de
sia peridural. Isto acontece mais freqüentemente no mé-
que o hematoma peridural faz parte apenas de wn pro-
todo contínuo, quando não se tem o cuidado de separar
cesso hemorrágico mais extenso 22.
e marcar as seringas. A ocorrência mais comum é a inje-
A expansão do hematoma extradural comprime a me-
çao de tionembutal no espaço peridural. Uma vez perce-
dula e produz paraplegia. O aparecimento de dores lom-
bido o engano, lava-se o espaço peridural com solução fi-
bares, paresias e paralisias dos membros inferiores em pa-
siológica de cloreto de sódio e injeta-se um corticóide pa-
cientes sob tratamento anticoagulante que foram subme-
ra prevenir e tratar o edema, que pode desenvolver-se a
tidos a uma anestesia peridural, exige a realização de
partir da irritação local. O único efeito descrito foi a so-
uma mielografia. Se for confirmado o comprometimento
nolência, motivada pela absorção do tionembutal 26.
da medula, deve ser efetuada uma laminectomia descom-
O erro com outras drogas não tem sido tão benigno.
pressiva precoce, a fim de evitar lesão permanente 31.
A injeção de uma solução de cloreto de potássio no espa-
ço peridural produziu bloqueio motor intenso e espas- Síndrome da Artéria Espinhal Anterior - A perfusão
mos musculares por despolarização, que cederam em qua- da medula está condicionada à pressão de entrada e à re-
tro horas e nao deixaram seqüelas 11. sistência de saída do sangue. Assim, pode ocorrer grave
4 - Ruptura do Cateter - Os cateteres podem romper- comprometimento da circulação capilar, quando há coin-
se, quando se força a sua retirada do espaço peridural, cidência de hipotensão arterial e ingurgitamento das veias
porque ficaram presos em anomalias da coluna ou foram com hipertensão venosa, como acontece durante a com-
introduzidos exageradamente. Pode) ainda, ocorrer rup- pressão da veia cava 11.
tura de cateteres que são deixados longo tempo no espa- A síndrome da artéria espinhal anterior é caracteriza-
ço peridural de pacientes com dores isquêmicas dos mem- da, principalmente, por wna debilidade motora dos mem-
bros inferiores. Uma vez instalada a analgesia, eles pas- bros inferiores, conseqüência da isquemia dos 2/3 infe-
sam a movimentar-se livremeI)te, e as flexões da coluna riores da medula. Durante uma perfusão deficiente, as
provocam o seu rompimento. Afortunadamente, nestes grandes células motoras, situadas profundamente nos
casos, a ruptura processa-se, com mais freqüência, em cornos anteriores da porção caudal da medula, são parti-
plano superficial, de modo que o desbridamento do sub- cularmente sujeitas a lesões isquêmicas. O comprometi-
cutâneo permite a descoberta de sua extremidade. Quan- mento da sensibilidade é pequeno e irregular, e resulta da
do parte do cateter permanece no espaço peridural, não necrose isquêmica das raízes posteriores, e não de lesões
se recomenda nenhuma intervenção que traga conseqüên- de elementos sensoriais situados no interior da medula.
cias mais graves do que a presença desse corpo estranho 11. A anestesia peridural tem sido acusa<la de coadjuvante

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Vol 31, N.º 2, Março - Abril, 1981 129
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no desencadeamento da síndrome da artéria espinha1 an- cas nem cirúrgicas também concorreriam para o desen-
terior, quando realizada con1 soll1çao anestésica adiciona- cadeamento desta complicação.
da de adrenalina e acompanhada de hipotensão arterial. Embora a isquemia medular tenha ocorrido em pacien-
No decorrer de uma hipotensão arterial acentuada, o efei- tes submetidos à anestesia geral 52, na maioria das vezes.
to constritor da adrenalina provocaria o colapso da arté- ela aconteceu após anestesia peridural em que houve in-
ria espinhal anterior e, subseqüentemente, isquemia. Po- tensa queda da pressão arterial e condições propícias pa-
rém, experiências em animais nao confirmaram esta hi- ra a elevaçao da pressão no plexo venoso vertebral 56.
pótese, restando a impressao de que causas nao anestési-

Lorenzo A V .. Spinal and Epidural Anesthesia. Rev Bras Anest 31: 2: 117 · 131, 1981

A review is presented about physiological effects and complications of spinal and epidural anesthesia. Factores that affect
pharmacokinetics of local anesthetics deposited in subarachnoid and epidural spaces, are emphasized.

Key · Words: REGIONAL BLOCK: spinal, epidural.

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Revista Brasileira de Anestesiologia


130 Vol 31, N. 0 2, Março· Abril, 1981
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Revista Brasileira de Anestesiologia


Yol 31, N. 0 2, Março - Abril, 1981 131
LORENZOAV

Resumo de Literatura

AVALIAÇÃO DOS MECANISMOS TERAPÊUTICOS DE AGENTES


FIBRINOLITÍCOS E EXPANSORES DO PLASMA APÔS PARADA CARDÍACA.
ESTUDO EXPERIMENTAL NO CÃO

Os autores estudaram o efeito de vários fluidos sobre o fluxo sangüíneo ce-


rebral (FSC), EEG, pressão arterial (PA, hematócrito e osmolaridade plasmática).
Utilizaram 59 animais mantidos vivos durante 5 horas, após episódio de pa-
rada cardíaca, e submetidos à ventilação artificial com equilíbrio óxido-básico normal.
Os animais foram divididos em 6 grupos, de acordo com o fluido adminis-
trado imediatamente após a recuperação da parada cardíaca.
Grupo 1 - Controle
Grupo 2 - Dextran 40
Grupo 3 - Dextran 40 + estreptoquinase
Grupo 4 - Manito/ + estreptoquinase
Grupo 5 - Manitol + estreptoquinase + plasma
Grupo 6 - Manitol + estreptoquinase + plasma + plasminogênio
A infusão foi mantida por 5 horas, tendo sido medicados, cada 30 minu-
tos, o FSC regional, o EEG, a PA, o hematócrito e a osmolaridade plasmática e cerebral.
Os resultados mostraram que no grupo 2 houve melhora do fluxo sangüí-
neo hipocampal e do traçado eletroencefalográfico após 5 horas. No grupo 3 ( dextran +
estreptoquinase), a melhora foi mais acentuada e precoce, aparecendo já após 3 horas, sen-
do intensificado o fluxo sangüíneo do hipocampo e do córtex. Nos grupos 4 e 5 o EEG
melhorou em relação ao grupo 1, controle, após 5 horas, porém sem modificação do FSC
No grupo 6, o EEG e o FS cortical e hipocampal melhoraram em comparação com o gru-
po 1, mas não tanto quanto nos grupos 2 e 3. A osmolaridade plasmática aumentou em
todos os grupos. No grupo 1 e 4 houve hemoconcentração. A infusão de plasma nos gru-
pos 5 e 6 detemzinou diminuição do hematócrito.
Os autores concluem que: 1) A encefalopatia pós-isquêmica é mais prova-
velmente devida a um efeito combinado de hemoconcentração, hiperviscosidade sangüi-
neas, edema microcirculatório e formação de microtrombos, que é passivei de tratamento.
2) A hemoconcentração é acompanhada de desvio do conteúdo plasmático para o extrace-
lu/ar o que provavelmente determina aumento da viscosidade sangüínea. 3) O tratamento
com dextran 40 e estreptoquinase resulta em melhora acentuada do EEG e do fluxo san-
güíneo regional (hipocampal e cortical). O segundo melhor tratamento é com manitol, es-
treptoquinase, plasma e plasminogênio.

(Eva/uation of therapeutic mechanisms of plasma expander and fibrinolytic agent follo-


wing cardiac arrest. An experimental study on the dog. Sr Lin, M J O 'Connor, A N King
& H W Fischer. Acta neuro/ scand. 60 (Suppl 72): 308 - 309, 1979).

COMENTÁRIO: A pesquisa é mais uma contribuiçao para o tratamento de


doentes que sofrer..._am um episódio de parada cardíaca. A validade do mesmo somente será
avaliada após utilização em clinica. (Cremonesi E).

Revista Brasileira de Anestesiologia


132 Vol 31, N. 0 2, Março - Abril, 1981

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