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Jul/Ago/Setembro - 2006

Fatores Metabólicos na Fadiga


Mark Hargreaves, Ph.D., FACSM
Departamento de Fisiologia
Universidade de Melbourne
Victoria, Austrália

INTRODUÇÃO

PONTOS PRINCIPAIS A adenosina trifosfato (ATP) é a fonte imediata de energia química para a contração
A manutenção da força muscular durante muscular. Como os depósitos intramusculares de ATP são pequenos, a regeneração con-
o exercício depende da geração de energia tínua de ATP é fundamental para a manutenção da produção de força muscular durante o
química (ATP) por meio de metabolismo desempenho sustentável no exercício. Em condições de produção de muita energia (como
não oxidativo (anaeróbico) e oxidativo aquelas observadas durante o exercício de sprint de alta intensidade), isso é obtido por meio
(aeróbico). da produção não oxidativa de ATP (anaeróbica) seguido de uma quebra de creatinafosfato
(PCr) ou da degradação do glicogênio muscular em lactato. Quando há uma baixa produção
A fadiga se desenvolve quando os com- de energia para desempenho prolongado de endurance, o metabolismo oxidativo ou aeróbico
postos necessários para produzir o ATP dos carboidratos (glicogênio muscular e glicose presente no sangue) e de lipídios (ácidos
terminam ou quando os subprodutos do graxos derivados de depósitos de triglicérides, nos músculos ou no tecido adiposo) oferece
metabolismo se acumulam no músculo. praticamente todo ATP necessário para processos celulares que dependem de energia dentro
do músculo esquelético. Esses processos metabólicos e sua importância durante o exercício
Essas alterações metabólicas podem já foram bem descritos (Covle, 2000; Sahlin et al., 1998). Atenção considerável foi dada aos
causar fadiga por meio da ação nos pro- mecanismos potenciais de fadiga responsáveis pelo declínio da força e/ou da produção de
cessos neurais que ativam os músculos e energia pelo músculo esquelético durante o exercício e o papel que os fatores metabólicos
isso pode comprometer tanto o sistema desempenham nessas alterações. Esses fatores metabólicos podem ser categorizados de forma
nervoso central como o periférico. abrangente como a depleção de substratos de energia (ATP e outros compostos bioquímicos
utilizados na produção de ATP) e acúmulo de derivados metabólicos (Tabela 1).
As reduções dos níveis musculares de
ATP, creatinafosfato e glicogênio, além Tabela 1.
da baixa disponibilidade de glicose no Derivados Metabólicos
Depleção de Substrato
sangue podem comprometer o desem-
penho dos músculos esqueléticos. A ATP Íons de magnésio (Mg 2+)
glicemia baixa também pode afetar as Creatinafosfato Adenosina Difosfato (ADP)
funções desempenhadas pelo sistema Glicogênio muscular Fosfato inorgânico (Pi)
nervoso central. Glicose presente no sangue Íons lactato
Íons de hidrogênio (H+)
Os aumentos nos níveis intramusculares Amônia
de magnésio, ADP, fosfato inorgânico, Espécies reativas de Oxigênio
Calor
íon de hidrogênio, e espécies reativas de
oxigênio podem comprometer a função
muscular. O aumento da amônia e a hi-
pertermia também podem contribuir para REVISÃO DA LITERATURA
a fadiga, provavelmente em conseqüência Potenciais locais de fadiga
de efeitos no sistema nervoso central. A fadiga é um processo multifatorial que reduz o desempenho no exercício e no esporte.
Pode ser definido, de forma mais ampla, como a incapacidade de manter a força e energia
Programas adequados de treinamento necessárias ou esperadas ou como uma redução na capacidade de gerar força ou energia.
e intervenções nutricionais acentuam Embora a fadiga possa envolver muitos sistemas orgânicos, os músculos esqueléticos e sua
a resistência à fadiga e ao desempenho capacidade de gerar força têm sido o foco de atenção. Dessa forma, na busca de potenciais
de exercícios por meio da melhoria da locais de fadiga, é necessário considerar as etapas envolvidas na ativação do músculo esque-
capacidade de músculos manterem a lético. Essas etapas estão resumidas na Figura 1 e representam potenciais locais de fadiga
produção de ATP. ou processos que podem ser comprometidos pela depleção do substrato e/ou pelo acúmulo
de derivados metabólicos.
1
Potenciais Locais de Fadiga durante a atividade muscular (PCr + ADP <=> Cr + ATP). Os níveis
de PCr no músculo podem ser quase totalmente depletados totalmente
Cérebro após o exercício máximo (Bogdanis et al., 1995; Casey et al., 1996), e
A B essa depleção contribui para o rápido declínio na produção de energia
observada durante o referido exercício (Sahlin et al., 1998). A recupe-
ração da capacidade de geração de energia após o exercício máximo
está intimamente ligado à ressíntese de PCr (Bogdanis et al., 1995). A
maior disponibilidade de PCr no músculo é uma possível explicação
do melhor desempenho durante os exercícios de alta intensidade como
observado algumas vezes após a suplementação dietética de creatina
F (Casey & Greenhaff, 2000). Os níveis de PCr podem também estar
E
H diminuídos em grande parte das fibras musculares no ponto de fadiga
durante os exercícios sub-máximos prolongados coincidindo com a
depleção de glicogênio muscular, talvez refletindo uma incapacidade de
manter uma taxa suficiente de ressíntese de ATP (Sahlin et al., 1998). No
C entanto, outros estudos não observaram essas alterações em fosfatos de
G
alta energia com exercícios prolongados (Baldwin et al., 2003).
D
Glicogênio muscular. A associação entre a fadiga e as reduções
nos depósitos de glicogênio muscular durante exercícios prolongados
Fibra Muscular e extenuantes foi observada de forma consistente por praticamente
Medula Espinhal 40 anos (Hermansen et al., 1967). Estudos anteriores realizados na
Escandinávia relatavam a prática de técnica de supersaturação de
Figura 1 – Potenciais locais de fadiga muscular. A: input de excitação para glicogênio (glycogen loading) que podem melhorar o desempenho
o córtex motor; B: impulso excitatório para motoneurônios na região mais dos exercícios de endurance em eventos que duram menos que 90
inferior; C: excitabilidade dos motoneurônios na região mais inferior; D: min (Hawley et al., 1997). A disponibilidade de glicogênio muscular
transmissão neuromuscular; E: excitabilidade do sarcolema; F: Acoplamento também pode ser importante para a manutenção de exercícios de alta
excitação-contração; G: mecanismo contrátil; H: oferta de energia metabólica. intensidade e intermitentes (Balsom et al., 1999). Apresentou-se a
(Modificado de Bigland-Ritchie). hipótese de a ligação entre a depleção de glicogênio muscular e a
fadiga muscular represente uma incapacidade de manter uma taxa
suficiente de ressíntese de ATP, secundária à disponibilidade reduzida
Os cientistas que investigam o exercício costumam considerar de piruvato e dos principais intermediários metabólicos (Sahlin et al.
tanto os mecanismos centrais como os periféricos na etiologia da 1990). Por outro lado, um outro estudo observou pouca alteração dos
fadiga e, na verdade, os dois níveis contribuem para uma redução do níveis musculares de ATP, PCr, ou intermediários metabólicos após o
desempenho dos músculos esqueléticos durante o exercício. Informa- exercício até causar fadiga com diferentes disponibilidades de glicogê-
ções mais detalhadas sobre os aspectos da fadiga central e periférica nio no músculo antes do exercício (Baldwin et al., 2003). Não se pode
podem ser encontradas em duas abrangentes revisões (Fitts, 1994; excluir a possibilidade de que ocorra depleção de glicogênio em pontos
Gandevia, 2001). principais dentro do músculo, algo impossível de ser determinado
em uma amostra de biópsia muscular. Por outro lado, é possível que
Depleção do Substrato a depleção de glicogênio cause fadiga por outros mecanismos além
A disponibilidade reduzida dos principais agentes bioquímicos en- do metabolismo energético do músculo comprometido. Por exemplo,
volvidos na produção de energia podem limitar a oferta de ATP durante observou-se que a depleção de glicogênio muscular pode comprometer
o exercício e comprometer os músculos esqueléticos e a função do o acoplamento contração-excitação (Chin & Allen, 1997; Stephenson
sistema nervoso central. Esses substratos incluem PCr, o glicogênio et al., 1999). Independentemente do(s) mecanismo(s) subjacente(s),
muscular e a glicose sanguínea. existe uma forte associação entre a depleção de glicogênio muscular
e a fadiga durante os exercícios prolongados e extenuantes.
ATP. Vários estudos demonstram que a concentração de ATP em
amostras de fibras musculares mistas é relativamente bem protegida Glicemia. Na ausência da suplementação de glicose (por exemplo,
durante o exercício intenso, com uma queda de 30-40%. No entanto, por meio de ingestão de carboidratos), os níveis de glicemia declinam
nas análises de fibras musculares individuais, os níveis de ATP podem progressivamente durante exercícios prolongados, assim como há de-
cair significativamente nas fibras tipo II, após exercícios intensos e pleção dos níveis de glicogênio hepático. A disponibilidade reduzida
limitar a capacidade dessas fibras em contribuir para o desenvolvi- de glicose no sangue está associada às taxas reduzidas de oxidação
mento de energia (Casey et al., 1996). Além disso, pode haver uma de carboidratos e fadiga, e o aumento dos níveis de glicose por meio
redução temporal e espacial na disponibilidade de ATP dentro do de ingestão de carboidratos aumenta a oxidação desses nutrientes e
micro-ambiente local de algumas das principais enzimas dependentes melhora do desempenho no endurance (Coyle et al., 1983, 1986).
de ATP (miosina ATPase, Na+/K+ ATPase, Ca2+ ATPase do retículo Parte disso pode ocorrer devido a uma maior captação de glicose no
sarcoplasmático) e dentro dos canais de liberação de Ca2+ do retículo músculo (McConell et al., 1994) e ao aumento do equilíbrio energé-
sarcoplasmático. Essa diminuição de ATP pode contribuir para a fadiga tico muscular (Spencer et al., 1991), mas não parece estar ligado à
conforme demonstrado em ratos por Dutka e Lamb (2004). Nesse atenuação da utilização do glicogênio muscular (Coyle et al., 1986).
experimento, uma redução na concentração de ATP afetou o acopla- Como a glicose é o principal substrato para o cérebro, a glicemia baixa
mento excitação-contração e a produção de força em fibras musculares (hipoglicemia) também pode reduzir a captação de glicose no cérebro
esqueléticas desprovidas de membrana. Em seres humanos, durante e assim contribuir à fadiga central (Nybo & Secher, 2004). Dessa
os exercícios de alta intensidade e de curta duração, e nos últimos es- forma, o benefício ergogênico da ingestão de carboidratos durante
tágios de exercícios prolongados mais extenuantes, grandes aumentos os exercícios prolongados extenuantes pode ser decorrente de um
nos subprodutos gerados pela quebra do ATP implicam que as taxas melhor balanço energético cerebral e da manutenção do papel do
de utilização de ATP podem ser maiores que as taxas de ressíntese de sistema nervoso central (Nybo & Secher, 2004). Estudos recentes
ATP (Sahlin et al., 1998). também observaram melhoria na função física e mental com a
ingestão de carboidratos durante exercícios intermitentes como
PCr. Um outro fosfato de alta energia, a creatina-fosfato -- PCr, aqueles que se aplicam em esportes coletivos (Welsh et al., 2002;
desempenha um papel fundamental como auxiliar na reposição de ATP Winnick et al., 2005).
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de cadeia ramificada (BCAA; leucina, isoleucina e valina), a captação
Acúmulo de Derivados Metabólicos de triptofano cerebral e os níveis de serotonina no cérebro. O triptofano
A ativação das vias metabólicas que produzem ATP também resulta é um precursor da serotonina e a captação de triptofano no cérebro está
em aumento dos níveis musculares e plasmáticos de vários derivados relacionada tanto à concentração de triptofano livre no plasma quanto
metabólicos que contribuem potencialmente para a fadiga durante o à razão das concentrações plasmáticas de triptofano livre e BCAA.
exercício. Entre eles estão magnésio (Mg2+), ADP, fosfato inorgânico Durante o exercício, uma queda nos níveis plasmáticos de BCAA e um
(Pi), lactato e íon de hidrogênio (H+), amônia (NH3), espécies reativas aumento de triptofano no plasma pode causar um aumento nos níveis
de oxigênio e calor. de serotonina no cérebro e a fadiga central (Nybo & Secher, 2004).
Sugeriu-se a ingestão de BCAA como uma estratégia para manter os
Mg2+, ADP, Pi. Durante a quebra rápida da ATP e PCr, há um níveis de BCAA no plasma e a reduzir a captação de triptofano no
aumento nos níveis de Mg2+, APD e Pi dentro do músculo esqueléti- cérebro, mas isso não parece ser eficaz (Van Hall et al., 1995). Uma
co. O aumento de Mg2+ pode inibir a liberação de Ca2+ do retículo estratégia melhor é a ingestão carboidratos, que prejudica o aumento
sarcoplásmico e comprometer a produção da força, principalmente em de ácidos graxos livres no plasma induzido pelos exercícios. Como os
combinação com níveis reduzidos de ATP no músculo (Dutka & Lamb, ácidos graxos livres e o triptofano competem pelos pontos de ligação da
2004). Concentrações elevadas de ADP no músculo podem reduzir a albumina no plasma, o nível reduzido de ácidos graxos livres durante
força e retardar o relaxamento muscular prejudicando os miofilamentos o exercício com a ingestão de carboidratos atenua o aumento da razão
contráteis e a captação de Ca2+ captação no retículo sarcoplasmático entre triptofano livre e BCAA (Davis et al., 1992).
(MacDonald & Stephenson, 2004). Um aumento em Pi também reduz
a força contrátil e a liberação de Ca2+ daquela estrutura. Esse último Espécies reativas de oxigênio. Durante o exercício, espécies
efeito parece ser devido à precipitação de fosfato de cálcio dentro do reativas de oxigênio como peróxido de hidrogênio e ânions superó-
retículo sarcoplasmático (Allen & Westerblad, 2001). Os aumentos xidos podem ser produzidos pelo metabolismo oxidativo e outras
de ADP como de Pi também reduzem a liberação de energia durante reações celulares (Reid, 2001). Em níveis baixos, Esses metabólitos
a quebra de ATP (Sahlin et al., 1998). podem desempenhar um papel importante na regulação da função dos
músculos esqueléticos, mas seu acúmulo em níveis mais altos está as-
Lactato, H+. A rápida quebra de glicogênio e glicose no músculo sociado à fadiga (Barclay & Hansel, 1991; Moopanar & Allen, 2005).
durante o exercício intenso causa um grande aumento na produção Há vários antioxidantes enzimáticos (dismutase superóxido, catalase,
do ácido lático. De forma geral, o íon lactato não parece ter qualquer glutiona peroxidase) dentro do músculo esquelético que degradam
efeito negativo significativo na capacidade de geração de força pelo as espécies reativas de oxigênio e há antioxidantes não-enzimáticos
músculo esquelético, embora existam dados conflitantes na literatura. como a glutationa reduzida, β-caroteno e vitaminas E e C que podem
Uma conseqüência mais importante é o aumento na concentração intra- neutralizar as espécies reativas de oxigênio (Reid, 2001). A adminis-
muscular de H+ (pH reduzido e acidose) que está associado a uma alta taxa tração do composto N-acetilcisteína pode aumentar os antioxidantes
de quebra de ATP, a produção não-oxidativa de ATP e os movimentos de não-enzimáticos no músculo esquelético. Esse efeito está associado à
íons fortes (por exemplo, K+) através da membrana celular do músculo. redução da fadiga durante a estimulação muscular (Reid et al., 1994)
Há uma ampla crença de que o aumento de H+ pode interferir no acopla- e ao aumento do desempenho de endurance no ciclismo em indiví-
mento excitação-contração e na produção de força nos miofilamentos. No duos treinados (Medved et al., 2004). Estudos com a suplementação
entanto, em muitas das preparações de músculos isolados estudados em de vitaminas E e C são contraditórias, mas os níveis de antioxidantes
temperaturas fisiológicas, a acidose não parece exercer efeito negativo enzimáticos endógenos aumentam com o treinamento.
significativo. Compatíveis com essas descobertas são as observações de
que a força isométrica máxima (Sahlin & Ren, 1989) e a energia dinâmica Calor. Somente 20% do consumo de oxigênio durante o exercício
(Bogdanis et al., 1995) se recuperam com relativa rapidez após exercício é convertido em trabalho mecânico, enquanto aproximadamente 80%
intenso, apesar de um pH muscular constantemente baixo. Em contraste, resulta em calor, o principal derivado metabólico de exercícios extenu-
a capacidade de manter a força isométrica e a produção de energia em antes. Apesar de a maior parte desse calor ser dissipado, em exercício
seres humanos é comprometida pela acidose, sendo que uma possível de alta intensidade e quando a temperatura e/ou umidade ambientais
explicação seria o turnover reduzido de ATP (Sahlin & Ren, 1989). encontram-se aumentadas, pode haver um aumento significativo da
Deve-se notar que no músculo esquelético humano, a acidose pode inibir temperatura central do corpo (hipertermia) que pode causar a fadiga
a quebra de glicogênio (Spriet et al., 1989) e a produção oxidativa de e, em casos extremos, a morte. A hipertermia pode comprometer tanto
ATP (Jubrias et al., 2003). Além disso, a ingestão de bicarbonato de sódio, os processos centrais quanto os periféricos envolvidos na produção de
um agente alcalinizante, retarda o tempo necessário para o surgimento força muscular e da energia (Nybo & Secher, 2004; Todd et al., 2005)
da fadiga durante os exercícios de alta intensidade após sprints repetidos e comprometer o desempenho de exercícios de sprint (Drust et al.,
(Costill et al., 1984), embora seja difícil separar os vários mecanismos 2005) e de endurance (Gonzalez-Alonso et al., 1999). As estratégias
que contribuem para a fadiga nessas condições. Observa-se também que para minimizar o impacto negativo da temperatura central e muscular
uma adaptação fundamental ao treinamento de sprint (Sharp et al., 1986) elevada no desempenho de exercícios incluem a aclimatização ao
e ao treinamento de alta–intensidade com intervalos (Weston et al., 1997) calor, o pré-resfriamento (Gonzalez-Alonso et al., 1999) e a ingestão
reflete-se no aumento na capacidade tampão do músculo esquelético. de líquidos (Hamilton et al., 1991).

Amônia (NH3). A Amônia pode ser produzida pelo músculo esque- RESUMO
lético como um derivado da quebra de ATP ou de aminoácidos. Durante A produção aumentada de ATP por meio das vias metabólicas
o exercício, existe um aumento da liberação de NH3 pela contração oxidativa e não-oxidativa no músculos esquelético é essencial para
dos músculos esqueléticos para dentro do sangue e um aumento cor- manutenção da força e energia durante o exercício. No entanto, a
respondente nos níveis plasmáticos de NH3. Como a NH3 pode cruzar depleção de substrato e o acúmulo de derivados metabólicos são
a barreira hematoencefálica, o aumento de NH3 plasmático aumenta a as potenciais causas de fadiga. A disponibilidade reduzida de PCr
captação cerebral de NH3, e isso pode influenciar os neurotransmissores pode limitar a produção de energia durante os exercícios de sprint,
cerebrais e causar a fadiga central (Nybo & Secher, 2004). É necessário enquanto a depleção de carboidratos é a principal limitação ao
mais estudos para examinar o papel da NH3 na etiologia da fadiga. No desempenho no endurance. Durante o sprint, quantias aumentadas
entanto, a ingestão de carboidrato atenua o acúmulo de NH3 plasmático de Pi e H+ podem contribuir para a fadiga e durante os exercícios
(Snow et al., 2000) e a captação de NH3 no cérebro (Nybo & Secher, prolongados extenuantes, o acúmulo de NH3, espécies reativas
2004) durante exercícios prolongados, e esse é um potencial mecanismo de oxigênio e calor podem limitar o desempenho. Programas de
subjacente ao efeito ergogênico da ingestão de carboidratos. treinamento adequados e intervenções nutricionais são possíveis
Um outro aspecto da fadiga central durante exercícios prolongados estratégias para aumentar a resistência à fadiga e melhorar o desem-
envolve as potenciais interações entre o metabolismo dos aminoácidos penho nos exercícios.
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Jul/Ago/Setembro - 2006

Controlando a Fadiga nos Esportes

Estratégias para aumentar a aproximadamente 90 minutos. A ingestão de


resistência à fadiga carboidratos durante os exercícios também
melhorar o desempenho por agir tanto no
Treinamento. Talvez a melhor estratégia cérebro quanto nos músculos para manter a
para aumentar a resistência à fadiga seja função física e mental. Outras práticas nu-
participar de treinamentos específicos para tricionais que também podem modificar os
cada esporte que promovam adaptações que fatores metabólicos associados com a fadiga
melhoram o desempenho. Essas adaptações incluem suplementação dietética de creatina,
a vários tipos de treinamento incluem, entre ingestão de bicarbonato e suplementação de
outros, o aumento da massa muscular e da anti-oxidantes. No entanto, a literatura de
capacidade tampão do músculo e maior de- pesquisas é menos conclusiva sobre essas
pósito de fontes de energia nos músculos, o intervenções, pelo menos no que se refere à
aumento da síntese de proteínas que transpor- suplementação de carboidratos.
tam compostos energéticos pelas membranas As estratégias para minimizar o desenvol-
celulares, aumento da capacidade da mito- vimento de hipertermia durante exercícios
A fadiga é um processo multifatorial. A côndria nos músculos para produzir energia extenuantes no calor e, consequentemente,
depleção de fontes energéticas, incluindo a de forma oxidativa e maior capacidade de melhorar o desempenho, incluem a aclimata-
adenosina trifosfato (ATP), a creatinafosfato utilizar carboidratos em exercícios de alta ção, o resfriamento pré-exercício e a ingestão
(PCr), além de carboidratos (CHO) como o intensidade, e maior capacidade de oxidação adequada de líquidos durante o exercício.
glicogênio muscular e a glicose do sangue, de gordura com uma redução concomitante
pode contribuir para a fadiga. A fadiga na utilização de carboidratos na mesma pro-
também pode ser causada pelo acúmulo de dução de energia. OUTRAS REFERÊNCIAS SUGERIDAS
derivados metabólicos, incluindo o fosfato Hawley, J.A., E.J. Schabort, T.D. Noakes, and S.C.
Dennis (1997). Carbohydrate-loading and exercise
inorgânico (Pi), íons de hidrogênio (H+), Nutrição. As estratégias nutricionais tam- performance. Sports Med. 24: 73-81.
principalmente ácido lático, amônia (NH3), bém são eficazes para melhorar o desempenho Kubukeli, Z.N., T.D. Noakes, and S.C. Dennis
peróxido de hidrogênio e outras espécies rea- nos exercícios. O consumo de refeições ricas (2002). Training techniques to improve endurance
tivas de oxigênio (ROS) e calor. A tabela S1 em carboidratos para carregar os músculos exercise performance. Sports Med. 32: 489-509.
Terrados, N., and R.J. Maughan (1995). Exercise in
resume os potenciais fatores metabólicos na com glicogênio melhora o desempenho nos the heat: strategies to minimize the adverse effects on
fadiga durante alguns eventos esportivos. eventos de endurance que duram mais de performance. J. Sports Sci. 13: S55-S62.

Tabela
Evento Depleção de fontes de energia Acúmulo de derivados metabólicos
ATP PCr CHO P1 H* NH3 ROS CALOR
Corrida de 100m ** ** * ** ** * * *
Corrida de 400m ** *** * *** *** ** * *
Corrida de 1500m * ** * ** ** ** * **
Natação - 1500m * ** * ** ** * * **
Maratonas, Tour de France e * * *** * * ** *** ***
provas de etapas
Esportes do tipo Stop & Go * ** *** * ** ** ** ***
(futebol, tênis e basquetebol)
* Improvável **Possível *** Muito Provável

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* Este material foi traduzido e adaptado do
original em inglês SSE 98.
volume 18 (2006), número 3.

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