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Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde – ICBS

Fisioterapia

Ingrid Marcelli Ferreira

Paula Sampaio D’ávila

Ajustes e adaptações do organismo em resposta ao exercício


físico em atletas do futebol

Belo Horizonte
2022
Introdução

Em todo lugar se escuta que a prática de exercícios físicos regularmente faz bem
para saúde, mas não é explicado o porquê faz bem aderir essa prática. Muito além
de manter uma estética padrão como a famosa “barriga tanquinho”, os exercícios
proporcionam mudanças em diversos sistemas do corpo humano. O objetivo deste
estudo é descrever sobre alguns ajustes e adaptações que ocorrem no organismo
ao realizar atividades esportivas, neste caso, o futebol, o esporte mais famoso do
mundo.

A ideia geral do jogo se trata de passar uma bola pela baliza da equipe adversária,
sem usar as mãos (com exceção do goleiro) em uma partida que se divide em dois
tempos de 45 minutos, com um intervalo de 15 minutos entre elas, ou seja, exige
esforço para correr e chutar a bola pelo campo durante quase 1 hora ininterrupta.

“O futebol moderno requer muitas qualidades físicas que parecem ser


independentes da posição do futebolista. Capacidade de aceleração rápida,
alta velocidade de corrida, boa habilidade para saltar, força explosiva dos
músculos de membros inferiores, resistência de velocidade são exigidas
constantemente dos atletas.”

Tais esforços dependem de uma série de mudanças fisiológicas que serão descritas
a seguir:

Manutenção da homeostasia, ajuste homeostático

Inicialmente, deve-se lembrar que o exercício é uma "perturbação" ao equilíbrio


homeostático, que “obriga” as células a trabalharem em busca de readaptar o corpo.
Uma variedade de sistemas de retroalimentação, os conhecidos mecanismos de
feedback, acontecem para regular a função
fisiológica no repouso, durante o exercício e na recuperação. Sua manutenção é
interligada aos sistemas neural e endócrino; Como exemplo, a resposta de
termorregulação que acontece quando a alça de retroalimentação negativa é
ativada, gerando uma transpiração induzida pelo exercício (sudorese), esse
mecanismo de proteção se inicia devido a produção de calor vinda da atividade
muscular prolongada.
Para evitar que o corpo superaqueça, o hipotálamo que é um termorregulador do
corpo detecta o aumento de temperatura e irá ativar sua área anterior,
desencadeando a vasodilatação e sudorese.
Outro exemplo de controle de homeostasia, ligado ao sistema endócrino, pode se
citar o equilíbrio na produção dos hormônios insulina e glucagon para manter os
níveis adequados de glicemia.

Os jogadores de futebol precisam desse mecanismo funcionando perfeitamente no


corpo deles, além da ingestão hídrica, esses ajustes internos e externos são
importantes para que seu corpo não superaqueça e eles fiquem desidratados. A
desidratação causa estresse cardiovascular e termo regulatório que pode reduzir a
performance no exercício e até levar à morte.

Adaptações do limiar do lactato ao exercício


A principal adaptação ao treinamento no limiar do lactato é o aumento da
intensidade relativa de exercício (porcentagem de consumo de oxigênio máximo) em
que ocorre elevação do nível de lactato sanguíneo.
O limiar do lactato elevado significa que o indivíduo treinado é capaz de realizar um
exercício em intensidade mais alta, usando de maneira predominante a
produção de ATP aeróbia, mantendo, desse modo, o ritmo ou a intensidade mais
alta do exercício por um período mais longo.
A elevação do limiar do lactato ocasionada pelo treinamento é fundamentada em
várias adaptações fisiológicas, inclusive no aumento da capacidade de metabolizar
lipídio, na elevação das enzimas do ciclo de Krebs e na CTE e aumento do número
e da densidade dos capilares. Todos esses fatores fazem subir a carga de trabalho
na qual o ATP necessário é principalmente produzido pelo metabolismo aeróbio,
aumentando a intensidade ou o ritmo que pode ser mantido antes de precisar
depender do metabolismo aeróbio.

A importância do condicionamento aeróbico no futebol profissional é destacada pelo


fato de que jogadores de elite percorrem 10-12 km durante uma partida competitiva
com uma intensidade média em torno de 75% do seu consumo máximo de oxigênio
(Vo2max) e que o sistema aeróbico contribui com aproximadamente 90% do custo
total de energia do jogo.

O limiar do lactato elevado significa que o indivíduo treinado é capaz de realizar um


exercício em intensidade mais alta, usando de maneira predominante a produção de
ATP aeróbia, mantendo, desse modo, o ritmo ou a intensidade mais alta do exercício
por um período mais longo.

A principal adaptação ao treinamento no limiar do lactato é o aumento da


intensidade relativa de exercício (porcentagem de consumo de oxigênio máximo) em
que ocorre elevação do nível de lactato sanguíneo.
A elevação do limiar do lactato ocasionada pelo treinamento é fundamentada em
várias adaptações fisiológicas, inclusive no aumento da capacidade de metabolizar
lipídio, na elevação das enzimas do ciclo de Krebs e na CTE e aumento do número
e da densidade dos capilares. Todos esses fatores fazem subir a carga de trabalho
na qual o ATP necessário é principalmente produzido pelo metabolismo aeróbio,
aumentando a intensidade ou o ritmo que pode ser mantido
antes de precisar depender do metabolismo aeróbio.

Ajustes fisiológicos para mudanças na disponibilidade de


oxigênio

Quando se inicia uma atividade, há um aumento na ventilação, o corpo é desafiado


no que se refere à capacidade de assimilar oxigênio no nível necessário para manter
a geração de ATP durante o exercício. A difusão de gás e os sistemas de
detecção intracelulares precisam ser ativadas a fim de fazer ajustes para atender às
demandas metabólicas do exercício. Os sistemas fisiológicos do corpo
ocupam-se de parte desses desafios, compreendendo a influência do O2 no estado
redox da célula, bem como as concentrações de monóxido de carbono, sulfureto de
hidrogênio e óxido nítrico.
A situação de um exercício aeróbico, em que há um aumento na frequência cardíaca
em busca de levar mais O2 e nutrientes aos tecidos, tem uma interdependência com
o sistema respiratório, na qual se faz necessário um aumento na frequência
respiratória para captar mais O2 e remover o CO2. A hipóxia se trata de uma
condição em que está ocorrendo algum problema nas vias respiratórias e/ou
circulatórias e não está chegando esse oxigênio as células como deveria, como a
hipóxia desempenha um papel típico nesse processo, também é vital em tais
alterações, levando a maior tolerância da hipóxia.
Vários tipos de mudanças regulatórias são necessários na modificação e no
processo envolvidos com o transporte mitocondrial de elétrons, na supressão
metabólica, nas mudanças das vias metabólicas e no envolvimento de vias de
sobrevivência celulares que ajudam a impedir a quebra do potencial da membrana e
a apoptose nuclear. O futebol desafia vários tipos de mudanças necessárias na
sensibilidade de O2 da taxa metabólica, na cinética de O2 no exercício e na
disponibilidade de O2 para regulação da glicólise e produção de lactato.

“A capacidade do corpo de sustentar um exercício por um tempo prolongado


denomina-se resistência cardiorrespiratória. O treinamento aeróbio faz com que o
indivíduo se ajuste com mais rapidez às demandas exigidas pelo início do trabalho.”
(WEINECK, 2005; WILMORE; COSTILL, 2010).
Adaptação das fibras musculares

O futebol é um esporte que utiliza bastante de velocidade, seja uma corrida de


“explosão” ou um trote. Os jogadores se mantêm em movimento a maior parte do
jogo (varia de acordo com sua posição no jogo), contudo eles precisam de fibras
tanto para resistência quanto para velocidade. Falando de atletas profissionais, eles
desenvolvem alta performance, obtendo muita ativação da unidade motora, que
inclui a força muscular.
Como já dito anteriormente, os atletas do futebol correm aproximadamente 10km por
partida, necessitando de um bom treinamento para estimulo das fibras IA e IIB, de
contração lenta e de contração rápida, respectivamente. As fibras I ( tem menor
força e menor velocidade de contração mas são mais resistentes a fadiga)
respondem ao treinamento melhorando a sua capacidade de captação de oxigênio
pelo aumento no número e tamanho de mitocôndrias na célula. Já as fibras IIB (tem
maior força, velocidade de ‘explosão” mas pouca duração, são mais fadigáveis)
possibilitam a melhora nos incrementos de força, potência e a ocorrência da tão
buscada hipertrofia muscular.
O tipo básico de fibras provavelmente não se “modifica” em nenhum grau
significativo, em vez disso, todas as fibras aprimoram seu potencial aeróbico já
existente.
Além de correr pelo campo, o esporte exige uma força física para aprimorar o
alcance dos chutes; A hipertrofia seletiva ocorre nos diferentes tipos de fibras
musculares pelo treinamento com sobrecarga específica. Os atletas de endurece
altamente treinados possuem fibras de contração lenta (tipo I) maiores que as fibras
de contração rápida (tipo II) existentes no mesmo músculo. As fibras de tipo II são
menos utilizadas durante o treinamento aeróbico do que as de tipo I, motivo pelo
qual a sua capacidade aeróbica não sofre mudanças notáveis nesse tipo de
atividade. Com o treinamento aeróbico, algumas fibras de tipo II podem passar por
uma transição, de modo a exibir maiores tendências aeróbicas. Esse exemplo de
“plasticidade” muscular ocorre provavelmente em nível subcelular.

A aplicação de um treinamento físico de baixa intensidade e longa duração pode induzir uma
conversão de fibras rápidas em fibras lentas, por outro lado, um treinamento de alta
intensidade e curta duração pode causar um resultado oposto, isto é, conversão de fibras
lentas para rápidas (CAIOZZO et al., 2000; CAMPOS et al., 2002).

Ajustes cardiovasculares

Pelo aumento da atividade nervosa simpática e pela redução da parassimpática, que


ocorrem principalmente por causa da ativação do comando central e de
mecanorreceptores musculares e articulares, essas alterações neurais resultam no
aumento da frequência cardíaca, do volume sistólico e, consequentemente do débito
cardíaco, e ainda, durante a prática de exercício aeróbio ocorre vasodilatação na
musculatura ativa provocada, principalmente pela liberação de óxido nítrico, o que
promove queda da resistência vascular periférica, dessa forma, durante o exercício
aeróbio observa-se aumento da pressão arterial sistólica e manutenção ou queda da
pressão arterial diastólica.
Todos esses ajustes permitem dizer que o exercício aeróbio se caracteriza por ser
um exercício que promove sobrecarga volumétrica no sistema cardiovascular, ou
seja, promove, sobretudo, aumento no fluxo sanguíneo, que resulta no aumento da
cavidade da câmara ventricular esquerda, promovendo assim hipertrofia ventricular
esquerda excêntrica.

“Durante o exercício extenuante, por exemplo, observa-se aumento de 30 a 40


vezes do fluxo sanguíneo e do consumo de oxigênio intramuscular. De forma similar,
a atividade do ciclo do ácido cítrico aumenta em 70 a 100 vezes nas mesmas
condições.” (PHABLO; JOSÉ; VÂNIA, 2017)

Adaptações cardiovasculares
Os jogadores profissionais, a longo prazo em possuem um aumento da massa e do
volume do coração, obtendo maiores volumes diastólicos terminais no ventrículo
esquerdo durante o repouso e a atividade física. A hipertrofia cardíaca moderada
secundária ao crescimento longitudinal das células miocárdicas reflete uma
adaptação ao treinamento fundamental e normal do músculo para uma carga de
trabalho aumentada.
Esse aumento de volume caracteriza-se pelo aumento de tamanho da cavidade
ventricular esquerda (hipertrofia excêntrica) e pelo espessamento moderado de suas
paredes (hipertrofia concêntrica).
O treinamento regular altera as propriedades contráteis das fibras do músculo
cardíaco que incluem maior sensibilidade à ativação pelo Ca2+, mudanças na
relação força-comprimento e maior produção de potência.
A sobrecarga do miocárdio estimula maior síntese de proteína celular, com reduções
concomitantes na degradação proteica. Um maior conteúdo de RNA no músculo
treinado acelera a síntese das proteínas. As miofibrilas individuais sofrem
espessamento, enquanto o número desses filamentos contráteis aumenta.
Os atletas de enderance possuem, em média, um volume cardíaco 25% maior que
os congêneres sedentários. Os pesquisadores ainda procuram saber se os maiores
volumes do coração de atletas de endurance refletem padrões genéticos,
adaptações ao treinamento ou um efeito combinado.
A duração do treinamento afeta o tamanho e a estrutura do coração. Vários estudos
não relataram modificações nas dimensões cardíacas com o treinamento a curto
prazo, apesar de aprimoramentos no O2máx e na resposta da frequência
cardíaca ao exercício submáximo.
Referências

Powers, S.K.; Howley, E.T. Fisiologia do Exercício - Teoria e Aplicação ao


Condicionamento e ao Desempenho - 8ª Ed. 2014.

Foss, M.L.; Keteyian, S.J. Fox - Bases Fisiológicas do Exercício e do Esporte. 6a ed.
Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 2000.

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