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COVID-19: a doença dos espaços de fluxos

GEOgraphia
Niterói, Universidade Federal Fluminense
ISSN 15177793 (eletrônico)
GEOgraphia, vol: 22, n. 48, 2020

ARTIGOS

COVID-19: A DOENÇA DOS ESPAÇOS DE FLUXOS

Sonia Aguiar*
Universidade Federal de Sergipe

Resumo: O objetivo deste ensaio é chamar a atenção para as possíveis rotas da propagação do novo coronavírus, desde a sua chegada ao Brasil (em um momento incerto por um portador não

identificado) até o seu crescente e muito desigual espraiamento pelo território nacional, dos bairros nobres para as periferias das cidades e das capitais para o interior. Identificar a difusão de doenças

no tempo e no espaço é uma das vertentes das pesquisas da geografia no campo da saúde, assim como informar o público sobre as ocorrências territorialmente diferenciadas dessa difusão é uma

das tarefas das geografias da comunicação. O texto arrisca um diálogo entre essas duas vertentes de estudos interdisciplinares, visando uma perspectiva espacial às diversas interpretações ora em

disputa sobre a pandemia da COVID-19.

Palavras chave: pandemia; geografia da saúde; geografia da circulação; geografias da comunicação; espaços de fluxos.

COVID-19: A DISEASE OF SPACES OF FLOW

Abstract: This essay aims at draw attention to the possible routes for the spread of the new coronavirus, from its arrival in Brazil (at an uncertain time by an unidentified carrier) to its growing and

very uneven spread across the national territory, from the noble neighborhoods to the peripheries of the cities and from the state capitals to the hinterlands. Identifying the spread of diseases in time

and space is one of the aspects of geography research in the health field, as well as informing the public about the territorially differentiated occurrences of this diffusion is one of the tasks of the

geographies of communication. This paper risks a dialogue between these two strands of interdisciplinary studies, seeking a spatial perspective to the different interpretations now in dispute about

the pandemic of COVID-19.

Keywords: pandemic; health geography; circulation geography; communication geographies; flow spaces.

COVID-!9: UNA ENFERMEDAD DE ESPACIOS DE FLUJOS

Resumen: El propósito de este ensayo es llamar la atención sobre las posibles rutas para la propagación del nuevo coronavirus, desde su llegada a Brasil (en un momento incierto por un transportista

no identificado) hasta su propagación creciente y muy desigual en todo el territorio nacional, desde los barrios nobles hasta las periferias de las ciudades y desde las capitales de provincia hasta

el interior. Identificar la propagación de enfermedades en el tiempo y el espacio es uno de los aspectos de la investigación geográfica en el campo de la salud, así como informar al público sobre

los sucesos territorialmente diferentes de esta propagación es una de las tareas de las geografías de la comunicación. Este texto se arriesga a un diálogo entre estas dos líneas de estudios

interdisciplinarios, apuntando desde una perspectiva espacial a las diferentes interpretaciones ahora en disputa sobre la pandemia de COVID-19.

Palabras-clave: pandemia; geografía de la salud; geografía de circulación; geografías de comunicación; espacios de flujo.

Jornalista graduada pela UFF, com Mestrado e Doutorado em Comunicação (ECO-UFRJ) e pós-doutorado em Geografia Regional pelo PosGeo-UFF. Profª do Curso de
*

Jornalismo e do Mestrado em Comunicação da Universidade Federal de Sergipe (UFS). ORCID: < https://orcid.org/0000-0001-9041-268X. E-mail: saguiar@ufs.br

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Premissas contaminação. E desses, aviões são certamente aqueles numerosos situados em diversos países e continentes” regiões do mundo na lista de territórios com pessoas
capazes de transportar o vírus mais rapidamente (Santos, 2014, p.153), como as recomendações da OMS contaminadas.
Desde meados do século passado, quando a para locais diversos e bem longe da sua origem. – Organização Mundial da Saúde sobre isolamento Nesse dia, os casos confirmados ultrapassaram a
Geografia Física perdeu a primazia para outras Neste contexto, aeroportos são objetos geográficos social, uso de máscaras, testagem massiva etc. casa dos 200 mil, o que indicava que o ritmo com que
abordagens acerca do espaço, como a Humana, a não só porque ocupam lugares e exercem funções Um evento de escala planetária como esta pandemia a doença estava se espalhando acelerou: enquanto
Social, a Cultural, a Econômica, a aproximação entre estratégicas nesses lugares, como também porque são está sujeito a superposições de amplitude e duração o vírus havia levado três meses para contaminar 100
geógrafos e outras disciplinas das Ciências Sociais, bem estruturas fixas que desencadeiam fluxos de pessoas diversas, em seus diferentes recortes geográficos, ao mil pessoas, a segunda centena de milhares de casos
como de pesquisadores destas com a Geografia, tem e mercadorias sobre diversos espaços, em direção a mesmo tempo em que pode ter sua existência encurtada foi alcançada em apenas 12 dias. Onze dias depois,
resultado em áreas de investigação interdisciplinares outros lugares. É dessa “dialética entre a frequência e ou prolongada mediante dado recurso organizacional oito capitais brasileiras já haviam ultrapassado 100
inovadoras, como a Geografia da Saúde e as Geografias a espessura dos movimentos” (Santos e Silveira, 2008, (isolamento vertical ou horizontal, flexibilização ou casos confirmados em cada (ver Tabela 1). À exceção
da Comunicação. Este ensaio arrisca um diálogo entre p.167) que nascem os conflitos entre os fluxos (das lockdown, testagem seletiva ou em massa). Essas de Manaus, essas capitais fazem parte da lista dos
essas duas vertentes, visando a uma perspectiva espacial pessoas contaminadas por diversos territórios) e os superposições abrangem também a ação de eventos 11 aeroportos brasileiros que movimentaram o maior
às diversas interpretações em disputa sobre a pandemia fixos desta pandemia (centros de triagem, hospitais com consecutivos ou simultâneos e seus impactos número de passageiros em 2019, segundo dados da
da Síndrome Respiratória Aguda Grave, tecnicamente leitos, UTIs e respiradores disponíveis, cemitérios, covas sobre as estruturas fixas disponíveis: contaminação ANAC – Agência Nacional de Aviação Civil (Tabela 2).
nomeada Sars-Cov-2 ou COVID-19. e crematórios para todos os corpos). assintomática ou com sintomas; contaminação Essa aceleração da curva de contaminação no
Mas a leitura espacial aqui proposta não é a de importada ou transmissão comunitária; atendimento mundo e no Brasil deveria ter sido suficiente para
meros pontos fixos em um mapa, que assinalam casos de casos leves ou internação em estado grave; mortes acender a luz amarela nas autoridades de saúde em
suspeitos, casos confirmados, mortes registradas e Livre trânsito para contaminados sem sintomas identificadas ou indefinidas; e o ciclo desses eventos que relação aos fluxos de pessoas chegando da Europa e
doentes recuperados, e sim a de um olhar da “geografia se reinicia continuamente. dos EUA. Contudo, mesmo com tanta gente circulando,
do movimento”, como diria Milton Santos. Ou da Para um vírus poderoso como os da família corona, É o que demonstram as evoluções da pandemia as primeiras medidas de atenção à pandemia que se
“geografia da circulação”, tradicionalmente responsável a circulação é a alma do negócio e a velocidade, o seu em diferentes unidades da federação (UFs) brasileira, avizinhava não passaram de alertas genéricos sobre os
pelos “estudos sobre o movimento de mercadorias, modus operandi. Portanto, a questão não está apenas exaustivamente divulgadas pelos meios de comunicação sintomas da doença e cuidados de higiene. Nenhum tipo
pessoas, ideias e informações” (Silva Junior, 2012). O na aglomeração em espaços fixos, como shoppings, a partir de março de 2020, quando os números de barreira sanitária ou monitoramento dos históricos de
objetivo é chamar a atenção para as possíveis rotas da restaurantes e supermercados, mas sobretudo no rastro começaram a assustar. No início de abril, São Paulo, Rio viagem foi adotado nos três principais entroncamentos
propagação do vírus, desde a sua chegada ao Brasil (em de contaminação (geralmente invisível) que as pessoas de Janeiro, Ceará, Distrito Federal e Amazonas foram aéreos do país – Guarulhos (SP), Galeão (RJ) e Brasília
um momento incerto por um portador não identificado) vão deixando em seus fluxos pelos espaços. Assim, considerados pelo Ministério da Saúde como “a turma (DF) –, como revelam diversos relatos divulgados por
até o seu crescente e muito desigual espraiamento pelo considerando que o “novo coronavírus” não é nativo mais preocupante em todo o território nacional”1, porque passageiros recém-chegados.
território nacional. do Brasil, suas principais portas de entrada só podem a disseminação corria o risco de entrar em um processo
Sem entrar no mérito das subnotificações, que são ter sido os aeroportos situados em capitais de estado acelerado, de difícil controle. Naquele momento, essas
graves e até impeditivas para certas avaliações, os dados com rotas de/para outros países. Ou seja, fluxos de cinco UFs concentravam 70% dos casos confirmados Fluxos de pessoas formam as redes de contágio
disponíveis em fontes públicas (de sites governamentais passageiros vindos de todas as partes do mundo que e quase 80% do total das mortes ocorridas no país por
a portais de notícias) são suficientes para a observação em seguida transitaram entre as cidades do país (em COVID-19. Mas os sinais dessa aceleração já vinham Em busca dessa relação entre voos e a pandemia, um
desses movimentos e suas consequências para alguns casos, com conexão em aeroportos regionais) desde meados de março, quando SP, RJ e DF apareciam grupo de pesquisadores em Ecologia da Universidade de
os diversos “desenhos” de propagação do vírus, e, ao se constatarem contaminados, desencadearam na dianteira de casos confirmados da doença, com São Paulo (USP), liderados pelo biólogo Paulo Roberto
evidenciados pelos variados mapas de dados temáticos movimentos em busca de unidades de saúde para seu média entre 70% e 75% do total do país, nas contas das Guimarães Jr, realizou um experimento com base nas
disponíveis online. atendimento em diferentes condições da doença. respectivas secretarias estaduais de saúde2. O Ceará teorias das redes de interação entre espécies e na
Toma-se como premissa a própria dinâmica Trata-se, assim, de uma doença dos espaços de tinha, então, cinco notificações confirmadas (atrás de “centralidade de Katz”3.
infecciosa dos vírus em relação a outros contaminantes, fluxos, sujeita a variáveis de duração, extensão, escala outros seis estados) e o Amazonas, apenas uma.
Epidemias têm duas dinâmicas de propagação bem
como as bactérias, por exemplo. Estas são micro- e superposições (Santos, 2014, pp. 148-149). A duração Em 18 de março, quando o Brasil ainda registrava distintas. Em uma localidade, o contato entre pessoas
organismos que contaminam pessoas localmente, diz respeito ao “lapso de tempo em que um dado 350 casos no painel da Universidade Johns Hopkins determina como uma doença se espalha em uma
cidade. Porém, entre cidades, a dinâmica depende
por meio de contato com uma superfície infectada ou evento, guardando suas características constitucionais, (eram 534 no painel do G1) e a China somava 81.102, também do movimento de pessoas por grandes
ingestão de alimento contaminado, mas a infecção tem presença eficaz” (a curva epidemiológica, por a Itália já havia notificado 35.713 casos, contra 13.910 distâncias. Nada permite o movimento de grandes
quantidades de pessoas por grandes distâncias tanto
dessa pessoa não será transmitida para outra com quem exemplo). A extensão refere-se à amplitude do evento da Espanha, 7.661 da França e 7.323 dos EUA, para quanto os aviões. Logo, o fluxo de pessoas em aviões
dentro de determinada escala geográfica. Mas, como citar apenas alguns dos destinos mais frequentes dos por diferentes aeroportos pode determinar como
tiver contato. Já os vírus necessitam, obrigatoriamente, uma epidemia se propagada entre países e dentro de
de um hospedeiro, preferencialmente humano, e são adverte Milton Santos (2014, p.149), “os eventos não passageiros brasileiros no exterior. No dia seguinte, a países com dimensões continentais, como o Brasil
transmitidos tanto por contágio direto quanto por meio se dão isoladamente, mas em conjuntos sistêmicos OMS divulgou um boletim informativo (Situation Report (GIACOBELLI e GUIMARÃES JR, 2020).

de um vetor (como o mosquito que transmite a dengue, (...) que são cada vez mais objetos de organização na 59), no qual relatava a entrada de sete países de quatro
sua instalação, no seu funcionamento e no respectivo Centralidade é um referencial de medida utilizado na teoria dos grafos, uma das
3

a zica e a chicungunha), cada qual formando um elo na 1


Frase do então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, em entrevista coletiva bases para as metodologias de análise de redes sociais. Grosso modo, diz respeito
cadeia de propagação. controle de regulação”. Logo, “há ações capazes de em 04/04/2020. à influência que um “nó” da rede exerce sobre os demais (da rede toda ou dentro de
um cluster). Os quatro tipos de centralidade mais utilizados nessas análises são: o
Logo, considerando que pessoas passam boa parte ter efeitos de abrangência mundial, no sentido de que, 2
Todos os números de casos registrados/confirmados no Brasil citados neste de intermediação, o de proximidade, o de vetor e o de grau – que mede o número
artigo foram consultados no painel de “Casos de coronavírus no Brasil e no de vizinhos diretos de cada nó. A centralidade Katz é uma generalização desta
das suas vidas em movimento, os meios de transporte num dado momento, sua eficácia se faz sentir além dos mundo”, atualizado diariamente pelo portal G1 desde 21/03/20, com dados das última, porque mede a quantidade de todos os nós que podem ser conectados
são um ambiente inevitável para a dinâmica da rede de níveis local, regional ou nacional, interessando pontos secretarias estaduais de saúde. Os dados de outros países foram consultados no ao longo de um caminho (fluxo), relativizando a contribuição do nó mais distante.
Coronavirus Resource Center da Johns Hopkins University and Medicine. Para determiná-la são utilizados cálculos matemáticos.

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Figura 1: Dinâmica da propagação por fluxos aéreos no Brasil com 12,6 milhões. Os aeroportos da Região Norte foram categorização tem resistido a inúmeras variáveis de
os que menos processaram passageiros em 2018, com fixos e fluxos que se apliquem ao território nacional
um pouco mais de 5 milhões do total (5,4%). (indústria, comércio, meios de comunicação, transportes,
A grandeza e a distribuição regional desses números educação, saúde, bens culturais, equipamentos urbanos
(ainda que defasados) têm correspondência nas etc.), e persistiu nos dados iniciais sobre a pandemia
diferenciações do território brasileiro, entre o que Milton de COVID-19. Porém, a partir da segunda quinzena de
Santos identificava como a “região concentrada”, formada março de 2020, os registros de contaminação no Ceará
pelas áreas com maior densidade de “meio técnico- e no Amazonas indicavam que os fluxos se impuseram
científico-informacional” e fluidez de comunicações aos fixos e criaram novos desenhos regionais na rede
(materiais e imateriais), e o “resto” do país. Esta nacional de propagação do novo coronavírus.

Tabela 1: Capitais brasileiras com maior número de casos confirmados (2020)

Total de casos Total de casos Variação


Capital (UF)
em 29/03/20 em 07/04/20 (9 dias)
São Paulo (SP) 899 3.754 x 4,17
Rio de Janeiro (RJ) 517 1.110 x 2,14
Fortaleza (CE) 339 990 x 2,92
Brasília (DF) 298 485 x 1,62
Belo Horizonte (MG) 143 275 x 1,92
Porto Alegre (RS) 143 260 x 1,81
Manaus (AM) 131 560 x 4,27
Salvador (BA) 103 264 x 2,56
Total: 2.573 7.698 x 2,99
Brasil 4.336 14.076 x 3,24
Guimarães Lab/ Observatório Covid-19 (Acesso em: 22/03/20)
Fonte: Elaboração própria com base no Painel Coronavírus do G1/ Bem Estar. Em 07/04/2020, Manaus passou à frente de
Brasília, com um aumento exponencial, e Salvador e Porto Alegre trocaram de posições (para 7ª e 8ª, respectivamente).

Para o experimento, os pesquisadores compilaram Histórico de viagem: uma variável relevante para o
os dados da quantidade de voos diretos entre monitoramento local e regional
aeroportos brasileiros, fornecidos pela ANAC para 2019, A Tabela 1 mostra como as propagações ocorreram o topo da lista da pandemia desde os primeiros casos
e agruparam os fluxos aéreos por estados. Criaram, Segundo o Anuário Estatístico da ANAC 2018 (o em velocidades diferentes no mesmo período, nas notificados no país. Na sequência vinham Brasília (que
assim, a representação gráfica de uma rede (grafo), “na mais recente disponível em abril de 2020), no mercado capitais com maior concentração de casos confirmados, durante semanas alternou com Fortaleza o terceiro e o
qual pontos representam estados brasileiros e as setas doméstico, os terminais aeroviários com maior com crescimento exponencial em Manaus, a um ritmo quarto lugares nessa lista), Belo Horizonte, Porto Alegre
indicam a intensidade de voos saindo de um estado e movimentação de voos em 2018 foram os de Guarulhos maior que o da capital paulista – as duas únicas acima e Salvador.
chegando em outro (ponta da seta)”. Com o auxílio de (12,2%  do total do país), Congonhas (10,8%), Brasília da média nacional. Mostra também que essas oito
um software específico, os pesquisadores produziram (8%), Confins (5,8%) e Campinas (5,8%). Logo, os três capitais concentravam mais da metade dos casos do
um grafo para cada dia dessa movimentação (de 4 a principais aeroportos comerciais do estado de SP foram país até o início de abril. Já a Tabela 2 mostra o ranking
22 de março) e os superpuseram para montar uma responsáveis por quase 29% de todo o tráfego aéreo dos aeroportos brasileiros com maior volume diário de
representação animada (Figura 1), que permite simular a brasileiro em 2018. Ao todo foram transportados 93,6 passageiros em 2018, cujas sedes coincidem, em boa
dinâmica de propagação da pandemia entre os estados. milhões de passageiros em 816 mil voos (conforme parte, com as cidades com maior número de casos de
Contudo, essa simulação restringe-se à circulação o Painel de Indicadores do Transporte Aéreo 2018). COVID-19 confirmados até a finalização deste artigo.
do vírus no território nacional e não explica como ele Já na distribuição regional de passageiros pagos Os dois estados que sediam os cinco aeroportos mais
chegou ao Brasil e se disseminou de forma tão rápida, transportados no mercado doméstico em 2018, a região movimentados do país são justamente os que ocuparam
mas concentrada em determinados estados. Sudeste ficou com 49,3% do total, com mais de 46
milhões de passageiros, seguida pela Região Nordeste,
com 17 milhões  (18,8%), e pelo  Centro-Oeste  (13,5%),

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Tabela 2: Ranking dos aeroportos com maior volume diário de passageiros (2019) Tabela 3: Ranking aéreo x ranking de casos de COVID-19

Passageiros Casos em Casos em Variação


Aeroporto Cidade (UF) Cidade (UF) Rk aéreo Rk Covid
pagos 07/04 19/04 12 dias
Aeroporto Internacional de São Paulo- Guarulhos (SP) 1 15º 74 305 x 4,12
42248207 Guarulhos (SP) São Paulo (SP) - Congonhas 2 1º 3.754 9.428 x 2,51
Guarulhos
Aeroporto de São Paulo-Congonhas 22281896 São Paulo (SP) Brasília (DF) 3 8º 485 754 x 1,55
Aeroporto Internacional Presidente Juscelino Rio de Janeiro (RJ) – GIG +
16569442 Brasília (DF) 4/ 7 2º 1.110 3.126 x 2,81
Kubitschek SDU
Aeroporto Internacional Tom Jobim-Rio Belo Horizonte (MG) 5 10º 275 420 x 1,52
13518783 Rio de Janeiro (RJ) Campinas (SP) 6 30º 28 184 x 6,67
Galeão
Aeroporto Internacional de Tancredo Neves 10734359 Confins/ Belo Horizonte (MG) Recife (PE) 8 5º 153 1.408 x 9,20
Aeroporto Internacional de Viracopos 10199171 Campinas (SP) Porto Alegre (RS) 9 11º 260 374 x 1,43
Aeroporto Santos Dumont 8933777 Rio de Janeiro (RJ) Salvador (BA) 10 7º 264 761 x 2,88
Aeroporto Internacional Gilberto Freyre 8638608 Recife-Guararapes (PE) Fortaleza (CE) 11 3º 990 2.688 x 2,71
Aeroporto Internacional Salgado Filho 8106869 Porto Alegre (RS) Manaus 17 4º 560 1.664 x 2,97
Aeroporto Internacional Dep. Luís Eduardo
7351020 Salvador (BA)
Magalhães Fonte: Elaboração própria com base no Painel Coronavírus do G1/ Bem Estar em 19/04/20
Aeroporto Internacional Pinto Martins 7087627 Fortaleza (CE)
TOTAL: 155.669.759

Fonte: Elaboração própria com base no relatório Dados Estatísticos da ANAC (Consultado em 21 de março de 2020).
Mas se nem todos os números batem, o que os pela Secretaria estadual de Saúde, na primeira quinzena
fluxos de passageiros têm a ver com a disseminação de março, foram de residentes da capital, Aracaju, com
do novo corona vírus no Brasil? A resposta é que nem histórico de viagem: um casal vindo da Espanha, com
aeroportos, com mais de 8 milhões de passageiros, tudo se explica apenas por variáveis quantitativas. Os conexão em Guarulhos; um homem com passagem
Os pontos fora da curva nessa comparação (em
teve uma explosão de casos confirmados, em parte em mapas das rotas nacionais e, sobretudo, internacionais recente por Brasília; uma mulher que veio dos EUA e teve
07/04) eram: Campinas, que desde o início da pandemia
função de uma política mais agressiva de testagens, dos aeroportos situados nas oito capitais com maior contato lá com caso confirmado, e um homem que esteve
manteve números baixos de casos notificados, se
subindo para logo atrás de Manaus. Já Salvador, que incidência da COVID-19 no início de abril, apresentados com paciente da Covid-19 em São Paulo. Todos entraram
comparados com a sua população, estimada em 1.200
é 10ª no ranking aéreo, subiu uma posição no número adiante, incitam a questionar, mais uma vez, a ausência imediatamente em isolamento domiciliar e passaram
mil pessoas para 2019, e aos mais de 10 milhões de
de casos, enquanto Porto Alegre, que é 9ª, caiu da 8ª do histórico de viagens no monitoramento dos percursos a ser monitorados pela Vigilância Sanitária Estadual,
passageiros transportados a partir do aeroporto de
para a 11ª posição em casos da COVID-19, em função e dos ritmos da pandemia no Brasil, cujas variáveis locais juntamente com os demais passageiros dos respectivos
Viracopos; Fortaleza, que contrasta o 11º lugar no
da situação das demais. Das oito capitais selecionadas e regionais também têm sido pouco consideradas pelo voos. Foi graças a esse procedimento que um sexto caso
ranking dos aeroportos com o 3º lugar nas listas mais
para este ensaio, com base naquele alerta do Ministério Ministério da Saúde (na contramão de governadores e foi localizado na cidade de Propriá, a 101 km da capital.
recentes da COVID-19; e Manaus, que apesar de ser o
da Saúde, São Paulo, Rio de Janeiro, Manaus e Salvador prefeitos). A partir do primeiro caso, o governo estadual passou
17º no ranking em passageiros aéreos transportados,
conseguiram reduzir a velocidade da contaminação na O painel Rio Covid19, produzido pelo DataRio, o a informar o histórico de viagens quando divulgava
superou Brasília e alcançou o indesejado 4º lugar na lista
primeira quinzena de abril, enquanto Fortaleza, Brasília, portal de dados do órgão de planejamento urbano da casos confirmados, mas abandonou a prática a partir da
da COVID, com 560 casos em 7 de abril e 1.664 doze dias
Belo Horizonte e Porto Alegre tiveram o ritmo acelerado. Prefeitura carioca4, chegou a incluir um gráfico pizza constatação do início da “contaminação comunitária”.
depois.
com os percentuais do “histórico de deslocamento
Apesar do aumento significativo de casos nessas três
internacional” de pessoas suspeitas ou confirmadas de
cidades, essas posições relativas se mantiveram até o
contaminação, associado a um mapa com a localização Rotas do “novo coronavírus”: do mundo para o Brasil
fechamento deste artigo, em 19/04. Mas três capitais
dos casos notificados na cidade. A representação
tiveram suas posições bastante alteradas (conforme
cartográfica indicava a dominância de casos nos bairros Quando se olha para os mapas das malhas de
Tabela 3). Recife, que ocupa o 8º lugar no ranking dos
da Zona Sul, majoritariamente habitados pelas classes A chegadas e partidas dos aeroportos com maior fluxo
e média alta (perfil de viajantes internacionais, a passeio de passageiros do país, tendo em mãos os números de
ou a trabalho) e por onde também circulam muitos casos confirmados da COVID-19 nas respectivas capitais
estrangeiros, devido à concentração da rede hoteleira. e regiões metropolitanas, a rede de propagação parece
Posteriormente, contudo, esse dado foi excluído do se movimentar sobre as representações cartográficas.
painel, talvez devido ao alto percentual “sem informação” Todas as rotas5 deixam clara a centralidade do aeroporto
(26,3%), o que gerava imprecisão no acompanhamento de Guarulhos (SP) como hub (entroncamento) dos voos
da dinâmica local da epidemia. nacionais, seguido do Galeão (RJ) e de Brasília (DF), e
Em Sergipe, os primeiros cinco casos confirmados
5
Algumas rotas foram extraídas do site de busca de viagens Kayak, pertencente
à Booking Holdings, por isso os mapas estampam os preços das passagens
4
Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos (IPP) - http://www.data.rio/ correspondentes aos percursos na data da captura.

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a dominância dos voos internacionais para o “Velho cidades de Guarulhos e Campinas se multiplicaram, com fluminense, que se tornaria a primeira pessoa no Estado suspeitos ainda eram testados com maior frequência,
Continente” (Portugal, Espanha, Itália, França e Alemanha) mostrado na Tabela 3. a contrair a COVID-19, oficialmente, em 5 de março. sobretudo quando havia histórico de viagem ao exterior,
e para a Costa Leste dos Estados Unidos, especialmente Segundo reportagem da época (SATRIANO, 05/03/2020), mas os resultados demoravam pelo menos uma semana.
Miami e Nova York. Ou seja, justamente os países que, à a) São Paulo, o epicentro de todos os fluxos no Brasil a mulher esteve em Milão, na Lombardia (uma das áreas Um mês depois dessa primeira confirmação o RJ já tinha
exceção de Portugal, alcançaram o topo do “ranking” da Situado em uma das 39 cidades que compõem onde a pandemia foi mais severa), com o marido, que 1.394 casos notificados em 42 cidades, das quais 14 na
pandemia no mundo em março, desbancando a China no a Região Metropolitana da capital paulista, o não apresentou sintomas. Ambos e mais as pessoas Região Metropolitana, que somavam 1.277 doentes da
início de abril. Aeroporto Internacional de São Paulo/Guarulhos é o próximas a eles no avião seriam monitoradas pelos COVID-19 (1.069 só na capital), o que representava 91%
Mas o levantamento dos primeiros casos confirmados maior entroncamento aeroviário do Brasil e “o mais órgãos estaduais de saúde. Naquele momento, casos de todo o Estado.
em cada estado ratifica a tendência apontada acima movimentado da América do Sul, com uma média de 40
e nos faz lembrar que os fluxos dos aeroportos não milhões de usuários por ano” e capacidade instalada para Figura 3: Rotas do aeroporto internacional do Galeão/ Tom Jobim (RJ)
dizem respeito apenas aos passageiros dos voos e 52 movimentos de aeronaves por hora (entre pousos e
tripulantes das aeronaves. Envolvem também os amigos decolagens), segundo a GRU Airport, que administra o
e familiares que participam das chegadas e despedidas, empreendimento desde 2012. As mais de 35 companhias
bem como os trabalhadores fixos e prestadores de aéreas que ali atuam operam 92 destinos, no Brasil e no
serviços eventuais que transitam pelos terminais. Tanto exterior, abrangendo todos os continentes (Figura 2). Na
que, a partir do início de abril, os casos confirmados nas malha nacional, este aeroporto é conexão obrigatória

Figura 2: Rotas do aeroporto internacional de Guarulhos (SP)

Fonte: Aeroporto RioGaleão (Acesso em 08/04/20)

c) Fortaleza e Manaus, dois pontos fora da curva estrangeiros interessados em turismo ecológico e de
A súbita aceleração da trajetória da pandemia em aventura nas duas regiões, além de negócios com a Zona
Fortaleza e Manaus surpreendeu as autoridades de saúde Franca de Manaus, cujo comércio exterior envolve mais
brasileiras, o que obriga a investigar as particularidades de 20 países, dos quais metade da região Pan-amazônica,
regionais de cada uma dessas capitais e suas respectivas além da China e África do Sul, entre outros. Por outro
Fonte: Aeroporto Guarulhos-São Paulo (Acesso em: 09/04/20) regiões metropolitanas e áreas de influência. Em comum, lado, Manaus diferencia-se da capital cearense por ser
há o fato de que ambas são hubs aéreos recentes para também um entroncamento hidroviário tradicional para
viajantes das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste boa parte da região Amazônica, com conexões em mais
de/para quase todos os estados do Nordeste e os do b) Rio de Janeiro: primeiro caso veio de Milão
alcançarem a Costa Leste dos EUA e países europeus, de dez cidades, da fronteira com a Colômbia até Macapá,
Sul, além de Brasília e alguns estados do Norte e Centro Segundo mais movimentado do Brasil, o Aeroporto
sem precisar de conexão em Guarulhos ou Galeão passando por Santarém, no Noroeste do Pará.
Oeste. Internacional Tom Jobim – rebatizado para RIOgaleão
(Figura 4). Ao mesmo tempo, as novas rotas atraem
Toda essa movimentação pelos três terminais do após a privatização – opera voos para 26 destinos
GRU permaneceu a pleno vapor entre 26 de fevereiro, nacionais (todos os estados do Nordeste, Sudeste e Figura 4 - Rotas dos aeroportos de Fortaleza e Manaus
quando o Ministério da Saúde confirmou o primeiro caso Sul, mais Amazonas) e 25 internacionais, a maior parte
do novo coronavírus no Brasil, em São Paulo, e 17 de para Europa e América Latina, além dos EUA, Índia e
março, quando a GOL iniciou a suspensão progressiva dois países africanos (Figura 3). Segundo a empresa
de seus voos internacionais, seguindo decisão tomada que o administra, tem capacidade para receber 37
dois dias antes nos EUA pela American Airlines. Quando milhões de passageiros por ano, mas os dados oficiais
os primeiros voos começaram a ser suspensos, o estado da movimentação aeroportuária mostram que pouco
de SP tinha 164 doentes notificados em nove cidades, mais de 13.500 mil efetivamente embarcaram ou
todas na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), desembarcaram neste aeroporto no período de janeiro a
sendo 156 (95%) na capital. A cidade de Guarulhos dezembro de 20196. Em fevereiro de 2020, quando o Rio
registrara, então, apenas um caso. Passados 23 dias de Janeiro ainda não tinha nenhum caso confirmado de
(08/04), já eram 6.708 casos em 132 cidades paulistas, Covid-19, foram pouco mais de 1 milhão de passageiros,
das quais 32 da RMSP, incluindo a capital, concentravam dos quais 37% em voos internacionais.
76% dos casos registrados em todo o estado. A essa Num desses voos estava uma mulher de 27
altura, Guarulhos tinha 74, número que pulou para 305 anos, moradora do município de Barra Mansa, no Sul Cabo Verde é porta de entrada do Brasil para países da África a partir de As setas mais escuras correspondem às rotas da Airfrance (110
Fortaleza. destinos).
onze dias depois.
7 Dados disponíveis em: < https://www.riogaleao.com/corporativo/page/sobre-o- Fonte: https://www.kayak.com.br/ (rotas disponíveis em março/2020, acrescidas dos destinos da Airfrance).
riogaleao (Acesso em: 8 abr. 2020)

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Desde que a capital cearense se tornou o destino (e no Estado) foram confirmados no dia 15 de março: Figura 6 – Trajetos norte e sul da Hidrovia Solimões-Amazonas
turístico mais procurado da Região Nordeste e o quinto dois homens e uma mulher da cidade que haviam
do País, o Aeroporto Internacional de Fortaleza assumiu voltado de viagem ao exterior. Cinco dias depois o Ceará
também a quinta posição em número de visitantes já aparecia em 4º lugar nas estatísticas da epidemia
estrangeiros, 2,26% do total, logo atrás de Brasília (2,6%) no Brasil, com 68 doentes identificados (63 na capital)
e Campinas (3,1%), mas bem distante de Rio de Janeiro e a Secretaria estadual de Saúde anunciava a primeira
(19,4%) e São Paulo (59,7%), segundo dados da ANAC transmissão comunitária. Na véspera, o Boletim
(2019, apud BARBOSA, 2020). De acordo com a Fraport Epidemiológico da SES já havia divulgado que 39,1% dos
AG, empresa alemã que administra este aeroporto desde casos confirmados eram de pessoas que estiveram em
2017, a localização geográfica estratégica da cidade outro país ou estado, ou que tinham tido contato com
contribuiu para torná-la porta de entrada da Europa e elas. Em 7 de abril, o Ministério da Saúde informou que
América do Norte para o Brasil. Atualmente o aeroporto Fortaleza já apresentava a maior incidência de casos de
é hub aéreo da Air France-KLM/GOL e opera oito destinos Covid-19 proporcionalmente à população, 34,7 a cada
internacionais: Madri, Paris, Amsterdã, Lisboa, Ilha do Sal 100 mil habitantes. Doze dias depois, os 3.212 casos
(Cabo Verde), Miami, Buenos Aires e Caiena. confirmados espalhavam-se por 102 cidades de todas as
Os três primeiros casos de COVID-19 em Fortaleza sub-regiões cearenses, dos quais quase 84% na capital.

Figura 5: As conexões aéreas regionais da Amazônia a partir de Manaus

Fonte: DNIT - Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (2015), com destaque de algumas cidades identificadas na Tabela 4.

controvérsia foi entre um decreto estadual que proibia d) Os fluxos domésticos do Distrito Federal e de Minas
“os serviços de transporte fluvial de passageiros, Gerais
operados por embarcações de pequeno, médio ou Apesar de possuírem algumas rotas para o exterior,
grande porte, de qualquer natureza, dentro dos limites o forte dos aeroportos de Brasília e Belo Horizonte são
territoriais do Estado do Amazonas”, e a Advocacia Geral as conexões nacionais para todas as regiões do país.
da União (AGU), segundo a qual “a vedação ao transporte Em janeiro de 2020, mais de 1.500 mil passageiros
de pessoas (...), além de flagrantemente inconstitucional, transitaram pelos voos nacionais do Aeroporto de Brasília,
Fonte: rotas aéreas da MAP disponível em: https://voemap.com.br/destinos/ trará prejuízos à população mais carente do interior, que o maior hub aéreo doméstico, segundo a Inframerica,
ficará isolada e desabastecida” (BOSELLI, 2020). que administra o negócio desde a privatização, em
Os dados comparativos compilados na Tabela 4 2012. Em fevereiro, já sob o impacto das notícias sobre
indicam que o governo estadual estava certo, pelo o coronavírus na China e na Europa, foram cerca de 300
Apesar de ser o 17º no ranking dos aeroportos a capital e mais três grandes cidades (Cantão, Xangai
menos em relação aos riscos de contaminação. Em 7 de mil passageiros a menos nos voos domésticos, mas
brasileiros em número de passageiros pagos (dados de e Hong-Kong); e no Brasil, os três principais hubs dos
abril, o Amazonas tinha 636 casos em 13 cidades. Doze ainda na casa de um milhão. Desses, os passageiros
2019), o Aeroporto Internacional Eduardo Gomes, em voos internacionais (BSB, GRU e GIG). Ou seja, por essas
dias depois já eram 2.044 casos no dobro de cidades, de voos internacionais oscilaram entre de 69 mil e 56
Manaus, está interligado ao país e ao exterior por meio rotas da aérea francesa, Manaus está mais conectado
das quais Manacapuru, a mais próxima da capital (Figura mil nos primeiros dois meses do ano. Já o Aeroporto
de 134 voos operados por oito companhias aéreas, cinco com o mundo do que Guarulhos e Galeão, o que ajuda a
6), passou de 42 para 201 casos confirmados (quase Internacional de Belo Horizonte teve um fluxo de pouco
delas com rotas internacionais. Azul e GOL dividem as explicar que 81% dos casos confirmados da COVID-19 no
cinco vezes mais), seguida de longe por Itacoatiara, mais de um milhão de passageiros domésticos, contra
rotas nacionais e regionais, e MAP, somente as regionais, Amazonas, até 19/04/2020, tenham ocorrido na capital,
com 29. Chama a atenção o fato de que, das sete cerca de 50 mil em rotas internacionais em janeiro,
alcançando 11 cidades da Amazônia Legal (Figura 5)7. contra 19% em outros 24 municípios.
cidades do Estado conectadas a Manaus por tráfego números que em fevereiro caíram para as casas de 825
A Air France apresenta uma lista de 110 cidades “de Contudo, o transporte fluvial ainda é predominante
aéreo, apenas duas não tinham casos confirmados mil e 31 mil, respectivamente, segundo o Consórcio BH
chegada” a partir de Manaus, que abrangem 54 países nos fluxos de pessoas e cargas na Amazônia, envolvendo
até 19 de abril: Eirunepé, próxima à fronteira do Acre; e Airport/ Infraero.
(incluindo todos os europeus) e cinco territórios; dos rotas que atravessam as bacias de nove grandes rios da
São Gabriel da Cachoeira, na fronteira com a Colômbia, Uma mulher residente em Brasília e recém-chegada
EUA, são sete cidades das costas Leste e Oeste; da China, região8, cujo principal entreposto é Manaus (Figura 6).
próximo a Roraima. Já entre as oito principais cidades de uma viagem ao Reino Unido foi o primeiro caso da
Por isso, essa modalidade foi alvo de uma guerra judicial
amazonenses interligadas à capital por rotas fluviais, COVID-19 no Distrito Federal (DF), confirmado pela
envolvendo medidas de contenção do coronavírus. A
7
Além das cidades assinaladas no mapa da Figura 5, fazem parte da malha aérea apenas Barcelos não tinha registro do vírus até então, Secretaria de Saúde local em 5 de março. Nessa
regional: Rio Branco e Cruzeiro do Sul, no Acre, Macapá, no Amapá, Porto Velho,
em Rondônia, Boa Vista, em Roraima, além de Tabatinga, na fronteira com a 8
Segundo o DNIT - Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, a enquanto das quatro cidades paraenses com ligações mesma semana, quando a comitiva presidencial voltou
Colômbia, alcançada apenas pela Azul. Informações disponíveis nos sites das “hidrovia do Amazonas” é uma via de 1.646 km de extensão que atravessa as
empresas: https://www.voegol.com.br/pt/informacoes/mapa-de-rotas; https:// bacias dos rios Amazonas, Jatapu, Madeira, Negro, Paru, Tapajós, Trombetas e aéreas e fluviais a Manaus, apenas Oriximiná ainda não de uma viagem oficial aos Estados Unidos, os casos
www.voeazul.com.br/conheca-a-azul/mapa-rotas e https://voemap.com.br/ Xingu, e “encontra continuidade na hidrovia do Solimões” (Disponível em: http://
destinos/. www.dnit.gov.br/modais-2/aquaviario/hidrovia-do-amazonas).
havia sido contaminada. confirmados começaram a subir progressivamente,

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afetando ministros, secretários e outros funcionários ritmo da contaminação9, atestada na Tabela 3. O último Figura 8 - Distribuição geográfica dos primeiros casos confirmados em MG
do governo federal, além de senadores e deputados. Em boletim epidemiológico da Secretaria de Saúde do DF
16 de março eram 14 casos confirmados; quinze dias emitido antes do fechamento deste ensaio (19/04)
depois já eram 312.  apresentava um mapa da distribuição geográfica da
O impacto dessa aceleração exponencial motivou incidência de casos de COVID-19 por 100 mil habitantes,
a população do DF a obter o segundo melhor índice de na qual a Região Administrativa do Lago Sul aparece
adesão ao isolamento social entre as capitais brasileiras como a de maior incidência (Figura 7). É nessa área que
(62%), no início de abril, apesar dos esforços em contrário vive parte da classe alta brasiliense e também onde fica
do presidente da República. O resultado foi a redução do o Aeroporto de Brasília.

Figura 7 - Distribuição geográfica de incidência de casos no DF

Fonte: Boletim Informativo Coronavírus da SES de MG (14/03/2020).

Essa distribuição espacial inicial da contaminação mês, em média)11, os aeroportos de Salvador e Recife
em Minas Gerais influenciou na forma como a doença causaram impactos diferentes na propagação da
se disseminou, acumulando-se na metade meridional do pandemia em seus respectivos estados. Na Bahia,
território estadual. Com isso, Belo Horizonte concentrou os aeroportos regionais de Feira de Santana, Ilhéus e
um percentual de casos bem menor que o das demais Porto Seguro tiveram papel coadjuvante na entrada de
capitais, oscilando entre 49% e 39% do total, até 19 de pessoas contaminadas, vindas do exterior e de outros
abril. No restante do Estado, os focos de contaminação estados com ocorrências locais. Já em Pernambuco,
seguiram rotas variadas, conforme os fluxos domésticos. a entrada pelo aeroporto da capital (incluindo voos
Juiz de Fora, com o maior número de casos fora da de Fernando de Noronha) e um navio cargueiro com
capital (93), pode ter sido afetado pela proximidade com tripulantes infectados contribuíram para a concentração
Fonte: Boletim Epidemiológico do GDF de 19/04/2020.
o Rio de Janeiro (185 km). Uberlândia (67) tem aeroporto de casos na Região Metropolitana de Recife.
próprio, com voos regulares de quatro empresas. E Na Bahia, o vírus fez um percurso inicial semelhante
Nova Lima, área de alto poder aquisitivo, registrava a ao de Minas Gerais: começou pelo interior, alastrou-se
maior contaminação da Região Metropolitana de BH (45 pelo Sul da Bahia e depois se disseminou pela faixa
casos), seguida de Divinópolis (36) e do polo industrial leste do território baiano, afetando 92 cidades até 19
Em Minas Gerais, ao contrário do que ocorreu na de Contagem (34). de abril. O primeiro caso confirmado no Estado foi
maioria dos estados brasileiros, os quatro primeiros também o primeiro do Nordeste: o de uma mulher de
casos confirmados do novo coronavírus, na primeira Feira de Santana (a 109 km de Salvador) que esteve em
quinzena de março, não ocorreram na capital e sim e) Acidentes de percurso nas rotas de Salvador e Recife Milão e Roma e manifestou os sintomas da infecção
em cidades do interior, bem distantes umas das outras Apesar de possuírem rotas aéreas domésticas após retornar ao Brasil, em 25 de fevereiro. O caso só
(Figura 8) e com históricos de viagem variados. Uma e internacionais semelhantes10 e movimentação de foi oficializado no dia 6 de março, quando o Brasil tinha
mulher de Divinópolis (155 km a oeste de Belo Horizonte), passageiros equiparável (entre 700 e 800 mil por apenas nove casos em outros cinco estados.
que esteve na Itália; uma residente de Ipatinga (212 km a
leste de BH) que visitou Israel; uma pessoa de Patrocínio
(no Sudoeste de Minas, a 426 km da capital) que também
esteve na Itália; e um morador de Juiz de Fora (a 262 km Até março de 2020, o aeroporto de Salvador possuía rotas para todas as capitais
10

entre Fortaleza e Rio de Janeiro, além de Campinas, Guarulhos, Belo Horizonte


a sudeste de BH) que voltou dos EUA. e Brasília, e de Feira de Santana e Porto Seguro; o de Recife cobria todas essas
mais Fernando de Noronha, Macapá, Belém, São Luiz, Teresina, Palmas e Cuiabá.
9
Conforme rastreamento das informações de GPS de 60 milhões de celulares de Para o exterior, ambos tinham voos para Flórida, Panamá, Cabo Verde, Lisboa, Cálculo baseado nos dados fornecidos pelas empresas que administram os dois
11

residentes no país realizado pela empresa InLoco e publicado pela Revista Exame Madri e Buenos Aires (conforme mapas disponíveis em <https://www.kayak.com. aeroportos, a francesa VINCI Airports, que controla o de Salvador desde 2018, e a
(STEFANO, 2020). br/routes/>. espanhola Aena, que assumiu o de Recife-Guararapes em março de 2020.

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Figura 9 – Distribuição espacial da Covid-19 na Bahia Figura 10 – Casos confirmados em Pernambuco (até 19/04/19)

Fonte: Monitoramento COVID-19 do Instituto para Redução de Riscos e Desastres (IRRD-PE), Informe Epidemiológico Pernambuco nº27
(19/04/2020).

Embora divulgados tardiamente, em 12 de março, f) Fluxos regionais no Paraná e no Rio Grande do Sul
os dois primeiros casos de COVID-19 confirmados Enquanto Porto Alegre mantém fluxos aéreos
pela Secretaria de Saúde de Pernambuco – um casal internacionais e domésticos semelhantes aos de Salvador
de idosos que voltou de Roma em 29 de fevereiro e foi e Recife, o Aeroporto de Curitiba, apesar de também
internado cinco dias depois – é semelhante a outros que ostentar o “internacional” no nome, opera principalmente
Fonte: Elaboração própria sobre mapa do Boletim Epidemiológico Covid-19 BA nº 12 (07/04/2020). abriram as estatísticas estaduais da epidemia no Brasil. rotas domésticas, interligando dez cidades do próprio
Ao divulgá-los, o governo pernambucano informou Estado e as outras duas capitais da Região Sul, além de
que estava acompanhando notificações suspeitas de conexões com Campinas, Guarulhos e Brasília, e de três
O monitoramento diário da pandemia pela 7 de abril, dos quais 18 em Ilhéus e 12 em Itabuna. Mas o pessoas com histórico de passagem por países como capitais do Mercosul. Em comum, os dois estados têm
Coordenação de Informação e Investigação Estratégica corona não afetou Itacaré, onde aconteceu um badalado Espanha, Portugal, Estados Unidos (em voos diretos para a operação de aeroportos regionais situados em pontos
de Vigilância em Saúde (Cievs) permitiu identificar quatro casamento de celebridades, no qual pelo menos Recife), França, Inglaterra, Alemanha, Suíça, Holanda, estratégicos dos respectivos territórios, marcados
polos de transmissão local na Bahia (Figura 9)12. Salvador quatro dos 500 convidados apresentavam sintomas da Emirados Árabes, Israel e China – todos com transmissão por divisões geográficas fortemente influenciadas por
mais sete dos 12 municípios da Região Metropolitana, COVID-19, entre os quais um jovem paulistano que admitiu local do novo coronavírus. Também seria acompanhada fluxos migratórios em seus processos de ocupação,
que acumularam 66% dos 462 casos confirmados no ter contraído o vírus nos Estados Unidos. O quarto pólo é a empregada doméstica do casal de idosos, de 47 anos, colonização e desenvolvimento. Como diferencial
Estado até 07/04, com destaque para Lauro de Freitas o Sul da Bahia, liderado por Porto Seguro, com 13 casos que teve contato direto com os dois. Um caso semelhante importante há o fato de que o Paraná possui sete outras
(30) e Camaçari (22), na área industrial petroquímica. (dos quais pelo menos dois oriundos do casamento de ao que acabou vitimando outra trabalhadora doméstica, regiões metropolitanas (RMs) além da capital, enquanto
Feira de Santana, que é município-sede da segunda Itacaré), e mais seis municípios próximos, que somam no Rio de Janeiro. o RS se restringe à de Porto Alegre.
Região Metropolitana da Bahia, no centro-norte baiano, e 14. Porto Seguro também foi alvo de controvérsia A primeira ocorrência de transmissão comunitária Quando a Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul
forte entreposto comercial, teve 59 casos diagnosticados envolvendo um empresário paulista que organizou uma em Pernambuco foi anunciada uma semana depois dos anunciou a confirmação laboratorial do primeiro caso da
até essa data, dos quais cinco de pessoas que residem festa em Trancoso após receber diagnóstico positivo de dois primeiros casos importados. Era uma mulher de 63 COVID-19 do estado, em 10 de março, o Brasil já tinha 34
em outros estados.Na região geográfica imediata de COVID-19, e que pode ter sido responsável por alguns anos, moradora da capital, que se somou a outros 18 contaminados pelo novo coronavírus, dos quais 19 em
Ilhéus-Itabuna, cinco municípios somaram 37 casos até desses 27 casos da região13. já confirmados. Diferentemente da Bahia e de Minas, São Paulo, oito no Rio de Janeiro e dois na Bahia. Tratava-
a trajetória da disseminação do coronavírus no Estado se de um homem de 60 anos, residente em Campo Bom
permaneceu 88% concentrada em Recife (146 casos) e (na RM de Porto Alegre), que havia retornado de Milão
sua Região Metropolitana (mais 51 em sete municípios) em 23 de fevereiro e manifestou os sintomas seis dias
até o 223º caso, em 6 de abril. Os demais ocorreram depois. Menos de um mês depois, em 7 de abril, o Rio
em outros nove municípios (quatro do Agreste, dois do Grande do Sul acumulava 554 casos em 71 municípios,
Sertão), além do Arquipélago de Fernando de Noronha, dos quais 63% concentrados na capital (271) e cidades
segundo o Boletim Covid19 da Secretaria de Saúde. Mas da Região Metropolitana (78) como Nova Hamburgo,
nessa conta não entraram os passageiros contaminados Gravataí, Canoas, São Leopoldo, Viamão, entre outras.
em um navio cargueiro que aportou em Recife em 12 Como mostra a Figura 11, o rastro de contaminação subiu
de março. Até 19 de abril, mais da metade do território a Região da Serra (de imigração italiana), notadamente
pernambucano ainda não havia sido alcançada pelo Caxias do Sul e Bento Gonçalves, seguindo em direção
novo coronavírus (Figura 10). a Passo Fundo e Erexim, ao norte. Casos isolados se

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espalharam pelas demais regiões gaúchas, exceto Bajé, semestre de 2019, em comparação ao mesmo período Outro indicador dessa mobilidade do vírus é que 12 Onde tudo começou: de Wuhan para o mundo, via Itália
no extremo Sul, que em 19 de abril já tinha 29 casos de 2018. O início das operações da rota Caxias do Sul- dos casos diagnosticados até então eram de pessoas
diagnosticados. Guarulhos (SP), em 2018, é apontado como o principal residentes em outros estados. Tal movimentação pode Embora a origem exata desta versão mais recente da
À semelhança da Bahia, no Rio Grande do Sul há certa fator que impulsionou a movimentação local (RS ter sido muito facilitada pela malha aeroviária regional família de coronavírus ainda seja controversa, ninguém
correspondência entre cidades que sediam aeroportos GOV, 2019), facilitando o trânsito internacional dos do Paraná, que tem experimentado tráfego intenso. contesta que o marco zero da pandemia é a cidade
regionais com voos regulares e o maior número descendentes de italianos, por exemplo. Já o Aeroporto Todas as cidades que tinham mais de seis casos de chinesa de Wuhan, situada a 1.152 km ao sul da capital,
de contaminados locais. Segundo o Departamento Internacional Comandante Gustavo Kraemer, de Bagé, coronavírus na primeira quinzena de abril são dotadas Pequim, e a 839 km a oeste de Xangai, a maior cidade
Aeroportuário do governo gaúcho, terminais públicos administrado pela Infraero, opera com aeronaves de aeroportos com voos regulares. Em outubro de 2019, da China e centro financeiro e comercial global. Mas
como Caxias do Sul e Passo Fundo apresentaram particulares, táxis aéreos e jatos executivos, usados o governo paranaense lançou o programa Voe Paraná, como se explica que o vírus possa ter se espalhado
aumento de 20% no número de passageiros no primeiro principalmente por empresários do agronegócio. com a meta de interligar aeroportos regionais de 12 tão rapidamente, não só pela cidade, mas por todos
municípios ao Afonso Pena, que iriam se somar a outros os cantos do mundo? A resposta pode estar no perfil
sete já contemplados com voos regulares a partir do socioeconômico e na configuração geográfica de Wuhan,
terminal de São José dos Pinhais, na RM de Curitiba. a sétima maior cidade chinesa e a nona mais populosa,
Figura 11 – Rastros da contaminação a partir de Curitiba e Porto Alegre com estimados 11 milhões de habitantes, dotada de
Destes, seis municípios já tinham os maiores índices
de contaminação pela COVID-19 na primeira semana de polos universitário e econômico pelos quais transitam
abril: Arapongas, Campo Mourão, Cascavel, Cianorte, Foz muitos estrangeiros (BBC/G1, 23/01/20).
do Iguaçu, Londrina e Maringá.

Figura 12 – Os fluxos de hospedeiros do vírus a partir de Wuhan

Fonte: Elaboração própria sobre mapa do Painel da COVID19 do portal G1.

Com um processo de testagem mais lento, a Secretaria quais 11 em São José dos Pinhais, onde fica o aeroporto
de Saúde do Paraná anunciou os seis primeiros casos de da capital, e 36 em outros quatro municípios), número
COVID-19 de uma vez, no dia 12 de março, dos quais uma equivalente a 55,5% do total de registros da doença no
mulher residente em Cianorte, na Região Noroeste, que Estado; a de Londrina, com 61 na cidade-sede, mais oito
esteve nos Emirados Árabes, e os demais de Curitiba, em Arapongas; a de Maringá, com 27 casos na própria
com históricos de passagens recentes por Espanha, cidade; e Campo Mourão, com 16 (G1 PR, 09/04/2020).
Portugal, Holanda e Itália (Informe COVID-19 SES-PR, Naquele momento, duas outras cidades paranaenses
17/03/2020). Cinco dias depois, outros seis casos não situadas em RMs chamavam a atenção pela
importados foram registrados em quatro cidades além concentração de casos: Foz do Iguaçu, área de intenso
da capital – Cianorte (mais um), Campo Largo, Pinhais fluxo transfronteira, com 27; e Cianorte, município de pouco
e Londrina –, num movimento de dispersão territorial mais de 82 mil habitantes que viu seus dois primeiros
de contaminação diferenciado das demais unidades da casos importados gerarem mais 11 de transmissão
federação. local. Contudo, quase 87% das cidades paranaenses
No 7º dia de abril o Paraná já acumulava 511 afetadas pelo coronavírus até a primeira semana de
diagnósticos positivos da doença, distribuídos por 68 abril tinham entre um e seis casos confirmados, o que
municípios de praticamente todas as suas regiões pode indicar tanto a variedade de portas de entrada do
geográficas, porém com maior concentração em cinco vírus importado, quanto fluxos no território de pessoas
regiões metropolitanas: a de Curitiba, com 284 casos (dos contaminadas (geralmente assintomáticas).
Fonte: Arte/BBC publicada na reportagem BBC/G1.

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Wuhan é também um entroncamento ferroviário para tornar cada vez mais famosas as marcas de Figura 13 – Evolução das notificações de casos da Covid-19 no Brasil
(Figura 12) para cinco regiões da China, com terminais roupas e acessórios “Made in Italy”. Acusações nesse
em Pequim, Xangai, Hong-Kong, entre outros menos sentido se intensificaram no mês de março, à medida
conhecidos, e um hub de viagens internacionais, que mais pessoas adoeciam no país, e geraram um
com voos diretos para várias partes do mundo, como novo tipo de xenofobia, como revelaram reportagens do
Londres, Paris, Dubai e Nova York. Sua geografia também The American Spectator (20/04/20) e do The Guardian
favorece a circulação de pessoas por vias fluviais, como (25/04/20), entre outros. Segundo The Guardian, estima-
explica reportagem da BBC/G1: “Construída no curso se que haja mais de 300 mil chineses residentes na Itália
intermediário do rio Yang Tsé – que, com quase 6,4 mil atualmente, formando a terceira maior comunidade de
quilômetros, é o maior rio da Ásia e o terceiro do mundo estrangeiros no país. A maioria trabalha de modo ilegal
– também tem um importante porto, com navios que se e em condições precárias, e foi levada para a Itália por
conectam a Xangai, no Leste, ou a Chongqing, no Oeste.” empreendedores chineses que investiram em segmentos
E Wuhan ainda “serve como porta de entrada para as da luxuosa indústria da moda italiana. Mais da metade Legenda: a cor cinza indica ausência de casos; azul (no primeiro mapa), casos suspeitos; vermelho, casos confirmados; os demais tons
seguem escala de quantidade de casos confirmados.
Três Gargantas, uma região turística e sede da enorme deles vive em cidades do Norte, como Milão, justamente
Fonte: Elaboração própria com mapas da Wikimedia Commons - COVID-19 Outbreak Cases in Brazil.
hidrelétrica homônima”. (...) “Em resumo: o vírus se onde a COVID-19 mais se expandiu, em função de uma
espalhou assim porque muitas pessoas entram e saem decisão equivocada do governo da Lombardia acerca do
de Wuhan, carregando o vírus”, concluiu a reportagem. isolamento social.
Em 30 de janeiro, as autoridades de saúde italianas não foi diferente (...). Aqui passam pessoas de oito ainda não havia sido afetada pelo vírus até 19 de abril e
O que a matéria não questiona é como um país tão
reportaram dois casos positivos da COVID-19 em turistas municípios do entorno da nossa cidade. Circula muita apenas cinco municípios do Sertão e do São Francisco
longe da China como a Itália tornou-se rapidamente o
chineses, e em 53 dias o país já somava o maior número gente, o que leva o vírus mais para dentro” (MADEIRO, Pernambucano já tinham casos registrados. Destes, três
novo epicentro da epidemia, superando quase todos os
de infectados e de mortos pelo novo coronavírus fora da 22/04/2020). Como a cidade possuía então apenas três possuem aeroportos: o de Petrolina, com voos regulares
seus vizinhos asiáticos? Trata-se de questão importante
Ásia. Em seguida, muitos países começaram a notificar ventiladores mecânicos, que só serviam para estabilizar de duas empresas aéreas nacionais, e os de Salgueiro
para o Brasil, já que os supostos “pacientes zero” de
“casos importados” de viajantes procedentes da Itália, pacientes em estado grave durante um processo de e Serra Talhada para atendimento a demandas privadas
vários estados passaram por Milão ou Roma antes
ou que tiveram contato com italianos durante viagem à transferência para um hospital com UTI, os portadores locais e regionais.
de retornarem ao país. A Itália tornou-se um aliado
estratégico da China ao se tornar o primeiro país do G-7 Europa (DUDDU, 2020), incluindo o Brasil, como atestam da COVID-19 de Manacapuru acabavam contribuindo
a aderir à Belt and Road Initiative (BRI), uma proposta os primeiros casos registrados em diferentes estados. para pressionar ainda mais o já saturado sistema de
saúde de Manaus. Em São Paulo, doença de rico, morte de pobre
de negócios multilaterais e transterritoriais lançada ao
mundo pela China em 2013 (FALLON, 2020). Em Pernambuco, desde que começaram a monitorar
Vírus chega de avião e pega a estrada os casos confirmados de COVID-19 por locais de Os mapas de casos confirmados e de óbitos
No início de janeiro deste ano, quando o novo
residência, pesquisadores do Instituto para Redução de registrados por bairros da cidade de São Paulo (Figura
coronavírus já estava circulando, a Itália assinou
Depois de atingir os centros capitalistas do Hemisfério Riscos e Desastres (IRRD-PE) observaram o aumento 14) espelham bem as desigualdades sociais que a
um memorando de entendimentos com a China,
Norte, o novo coronavírus partiu para as periferias do do número de casos nos municípios da Zona da Mata pandemia está desnudando. Nove dos dez bairros com
comprometendo-se a ampliar suas rotas aéreas para
mundo, dos países e das cidades, como indicam os e do Agreste Pernambucano, principalmente aqueles mais de 150 casos confirmados, situados entre as zonas
expandir o fluxo de turismo entre os dois países. No
mapas que vêm sendo produzidos por diversas fontes, que são atravessados pela BR-232 ou têm acesso a ela. Oeste e Sul da cidade (as de maior poder aquisitivo),
mesmo mês a quantidade de voos entre ambos triplicou,
desde fevereiro deste ano. No caso do Brasil, em 27 de Em reportagem publicada pela BBC Brasil (MACHADO, estão entre os que registram as menores quantidades de
tornando a Itália o país europeu com mais conexões
fevereiro, apenas o estado de São Paulo (em vermelho 18/04/20), o pesquisador Jones Albuquerque afirmou óbitos (abaixo de 21). Por outro lado, os com mais mortes
aéreas com a China. Para Praveen Duddu, da revista
na Figura 13) tinha um caso confirmado. Doze estados que a rota do coronavírus pelo interior pernambucano (acima de 25) fazem parte das zonas Norte e Leste, que
Pharmaceutical Technology (online), o alto número de
(em azul) tinham somente registros de casos suspeitos segue uma lógica econômica, social e logística. concentram a população de mais baixa renda da cidade.
casos de COVID-19 na Itália pode ser explicado por essa
e outros dez ainda não haviam recebido notificações do “As primeiras infecções surgiram no Recife, no De um lado, potenciais viajantes internacionais, do outro,
rápida expansão do tráfego aéreo entre os dois países,
novo coronavírus. Os mapas seguintes mostram como início de março, em bairros de classe média alta, como os que atravessam a cidade para trabalhar. Dois fluxos
que coincidiu com o período de emergência do novo
a epidemia foi se expandindo do litoral para o interior, à Boa Viagem e Jaqueira”, que persistem como os mais complementares para a disseminação da COVID-19.
coronavírus em Wuhan e outras localidades chinesas.
exceção do Amazonas, devido à convergência de fluxos afetados em números absolutos. “Depois, o vírus se Um exemplo marcante desse contraste geossocial
Mas outros analistas consideram mais factível que
aéreos e fluviais de/para Manaus, como já visto, que espalhou para áreas mais pobres e municípios da região foi relatado pelo G1 São Paulo (RODRIGUES et al,
a contaminação tenha sido iniciada entre os milhares
rapidamente fez o estado alcançar a mesma faixa de metropolitana”, provavelmente por meio de pessoas que 18/04/2020). O bairro do Morumbi, na Zona Sul, é o que
de trabalhadores “informais” chineses que contribuem
contaminação dos estados com maior conexão com o trabalham em bairros ricos e moram na periferia. E em concentrava o maior número de casos confirmados da
exterior. seguida pegou a estrada rumo às pequenas e médias doença, 297, dos quais sete pessoas morreram, de acordo
De Manaus, o SARS-Cov-2 alastrou-se rapidamente cidades do Agreste Pernambucano, como Arcoverde e com o boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria
pelos outros municípios da região metropolitana, mas Caruaru. Municipal de Saúde na véspera. Já Brasilândia, na Zona
causando maior estrago em Manacapuru, por onde A rodovia federal que dá acesso a essa região tem Norte, era o bairro paulistano com o maior número de
transita uma grande população flutuante, como explicou 552 quilômetros de extensão e vai da capital à cidade de mortes confirmadas ou suspeitas por coronavírus, 54,
ao UOL o secretário municipal de Saúde, Rodrigo Fábio Parnamirim, no Sertão. Contudo, como mostra o mapa o que representava 60% dos 89 casos confirmados da
Balbi: “Esse vírus veio do centro para a periferia, e aqui da Figura 10, mais da metade do território estadual doença na localidade até essa data.

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Tabela 4 - Cidade de São Paulo: casos confirmados x óbitos por local de residência que estão espalhadas por todas as zonas da cidade. locais e regionais. Este ensaio, baseado estritamente
Vidigal e Rocinha, por exemplo, integram a mesma AP em dados públicos e informações divulgadas por
Cidades nas rotas Cidades nas rotas de Saúde que os demais bairros da Zona Sul (onde diversos tipos de mídia, no Brasil e pelo mundo, procurou
Casos em 19/04 Casos em 19/04
aéreas fluviais residem pessoas das classes média e alta), enquanto indicar que o monitoramento dos fluxos de pessoas é
Manaus 1.664 Barcelos 00 os Complexos do Alemão e da Maré estão junto com os fundamental para o conhecimento do modus operandi
S. Gabriel da Cachoeira 00 Manacapuru 201 bairros da Leopoldina e Ilha do Governador (classe média do vírus SARS-Cov-2 e para a contenção da doença que
Eirunepé 00 Itacoatiara 29 baixa). Nessa lógica, Paraisópolis, por exemplo, seria um ele provoca.
Coari 02 Coari 02 bairro vizinho ao Morumbi e não um enclave de pobreza Nesse contexto, tanto as secretarias estaduais de
Tefé 05 Tefé 05 na Zona Sul, como acontece em São Paulo. saúde, com seus boletins epidemiológicos diários,
Carauari 01 São Paulo de Olivença 11
Com isso, o Rio tem diversos fluxos simultâneos quanto a mídia regional, com seu olhar endógeno sobre
Lábrea 02 Santo Antonio do Iça* 11
entres suas periferias e o “centro”, representado pelos 17 fatos e personagens da pandemia, foram fundamentais
Parintins 15 Parintins 15
bairros da Zona Sul mais a Barra da Tijuca, a parte “nobre” para se chegar a detalhes que os meios ditos nacionais
Santarém (PA) 17 Santarém (PA) 17
da Zona Oeste, onde foram registrados os primeiros raramente alcançam. Por outro lado, portais de notícias
Altamira (PA) 03 Oriximiná (PA) 00
casos do novo coronavírus importados do exterior. Dos nacionalmente capilarizados como o UOL (do Grupo
Itaituba (PA) 05 Itaituba (PA) 05
mais de 3.500 casos confirmados em 19 de abril no Rio, Folha) e o G1 (da Rede Globo) – este usufruindo das
cerca de 35% estavam internados em hospitais públicos, informações geradas pelas emissoras afiliadas –
Fonte: elaboração própria a partir de dados do Painel Coronavírus do G1/ Bem Estar (07/04/20).
dos quais um terço na rede municipal e o restante na têm exercido papel importante como agregadores de
rede do SUS. Mas não havia dados sobre hospitalizações dados e histórias relacionadas às vivências e formas
Uma semana antes, o bairro havia registrado 33 à medida que o número de casos ultrapassa a casa na rede privada, o que permitiria inferir o percentual de de enfrentamento do vírus em todo o País. Veículos
mortes, o que significa um aumento de 63%. Este contraste dos milhares, torna-se fundamental para os gestores casos em isolamento doméstico. internacionais (inclusive alguns especializados) também
se reproduz também na densidade populacional: 4.119 públicos identificar mais precisamente os lugares de ajudaram a rastrear as cadeias de contágio pelo mundo
habitantes por km2 no Morumbi (incluindo a comunidade maior concentração de casos, justamente para poder e a entender suas particularidades, como as ligações da
de Paraisópolis) contra 12.615 habitantes/km2 em dimensionar as demandas por atendimento, que são Considerações finais para seguir adiante Itália com a China.
Brasilândia. Mas a proporção de leitos hospitalares locais. Daí o surgimento, sobretudo a partir de abril de No Brasil, algumas iniciativas de monitoramento de
disponíveis para cada cem mil habitantes é inversa: são 2020, de mapas municipais sobre o estado local da A ideia de produzir este ensaio surgiu em um dados locais sobre a COVID-19 estão em andamento,
14,54 no Morumbi e 0,011 em Brasilândia, segundo o pandemia. momento do mês de março de 2020 em que a divulgação envolvendo pesquisadores e instituições que podem
Mapa da Desigualdade em São Paulo14. A dialética entre Pioneiro na divulgação de dados municipais sobre a diária de novos casos suspeitos, confirmados e fatais subsidiar gestores da pandemia nos processos decisórios
fixos e fluxos. propagação do novo coronavírus no Brasil, o DataRio vem da COVID-19, aliada à falta de informação sobre os sobre as melhores formas de contenção da disseminação
agregando novas variáveis sobre os casos confirmados modos de contaminação pelo vírus, deixava as pessoas do vírus, conforme a sua densidade e fluidez em cada
na cidade do Rio de Janeiro, de modo a permitir uma perplexas, especialmente jornalistas, atônitos com território – das pequenas cidades às densas áreas
Para que servem os mapas de dados? avaliação abrangente da complexidade desta pandemia. a velocidade das “novidades”, e pesquisadores da metropolitanas, passando pelos recortes sub-regionais
Na última versão consultada para este ensaio, além dos área de saúde, instados a dar respostas rápidas a um dos estados. A circulação dessas informações, se
Identificar a difusão de doenças no tempo e no dados do dia, o Painel Rio COVID-19 incluía uma linha fenômeno desconhecido e traiçoeiro. Naquele mar de revela algumas coincidências nada casuais em termos
espaço é uma das vertentes das pesquisas da geografia do tempo com a evolução de casos confirmados e números e dramas, uma pergunta inquietava: como falar de precariedade dos sistemas e comportamentos das
no campo da saúde, assim como informar o público recuperados, hospitalizações, óbitos e projeção de casos. em “reduzir a curva” da epidemia “no Brasil” quando os populações periféricas, aponta também diferenciações
sobre as ocorrências territorialmente diferenciadas Além disso, passou a apresentar duas versões do mapa próprios números indicavam uma disparidade enorme espaciais que merecem aprofundamento.
dessa difusão é uma das tarefas das geografias da da cidade: uma assinalando a distribuição dos casos entre algumas cidades e o restante de seus próprios O conhecimento e o controle dos fluxos são
comunicação. Como observou Guimarães (2006, p.253), pelo território municipal, visivelmente concentrados estados, e entre estes e os demais recortes do território fundamentais também para a boa governança dos
“as técnicas cartográficas utilizadas pela geografia nos bairros da Zona Sul e na Barra da Tijuca; outra brasileiro? E qual a pertinência de comparar os dados fixos – no caso, as estruturas de saúde e todo o seu
médica permitem mapear os padrões de distribuição discriminando a quantidade desses casos pelas Áreas nacionais com os de países como a Itália, que é pouco conteúdo técnico-científico-informacional (profissionais
espacial das doenças, bem como a localização dos de Planejamento em Saúde (APs) da Prefeitura. menor que o Maranhão, ou com a Espanha, que cabe de saúde, instalações, aparelhagem, insumos, sistemas
equipamentos médicos e os fluxos e deslocamentos Mas, diferente de São Paulo, não foi possível dentro de Minas e da Bahia, estes pouco menores que de informação e comunicação interna e externa) – que
espaciais resultantes da busca pela saúde”. estabelecer contrastes geossociais entre os números a França? também são desigualmente distribuídos pelos territórios,
Nesse sentido, os mapas mais complexos sobre de casos confirmados e de mortes. Primeiro porque Desde que me interessei pela aplicação do pensamento tanto em termos quantitativos quanto qualitativos. E
a pandemia de COVID-19 disponíveis online vêm enquanto em São Paulo alguns bairros tinham mais geográfico aos fenômenos e sistemas da comunicação não apenas no Brasil, como esta pandemia revelou ao
progressivamente incorporando outras variáveis de de 50 mortes e vários ultrapassavam a casa dos 30, e da informação, tenho me dedicado a fazer exercícios desnudar o estado precário em que se encontram os
dados além do número de casos e de mortes, como a no Rio apenas seis bairros estavam no topo da lista de sobre as diferenciações dos recortes regionais a partir sistemas de saúde pública mundo afora.
taxa de incidência por 100 mil habitantes, índice de óbitos, com entre 10 e 18 (neste último caso, somente de diferentes variáveis, tendo como principal referência o
mortalidade por casos confirmados, taxas de testagem Copacabana, que tem a maior população idosa do legado de Milton Santos. Neste último, aqui apresentado,
e de hospitalização, entre outras possibilidades. Mas município). Segundo, porque o Rio passou, há alguns foi possível constatar como um fenômeno global como
anos, por uma reforma urbana que atribuiu status de a pandemia de COVID-19 ganha novos sentidos quando
Disponível em: https://www.nossasaopaulo.org.br/tag/mapa-da-desigualdade/.
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bairro a comunidades antes consideradas favelas e
Acesso em: 15 abr. 2020 observado a partir das suas manifestações e narrativas

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