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D I S C I P L I N A Astronomia

O Sol

Autores

Auta Stella Medeiros Germano

Joel Câmara de Carvalho Filho

aula

12
Governo Federal Revisoras de Língua Portuguesa
Presidente da República Janaina Tomaz Capistrano
Luiz Inácio Lula da Silva Sandra Cristinne Xavier da Câmara
Ministro da Educação
Fernando Haddad Revisores Técnicos
Leonardo Chagas da Silva
Secretário de Educação a Distância – SEED
Carlos Eduardo Bielschowsky Revisora Tipográfica
Nouraide Queiroz
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Ilustradora
Reitor Carolina Costa
José Ivonildo do Rêgo
Editoração de Imagens
Vice-Reitora
Ângela Maria Paiva Cruz Adauto Harley
Carolina Costa
Secretária de Educação a Distância
Vera Lúcia do Amaral Diagramadores
Secretaria de Educação a Distância- SEDIS Bruno de Souza Melo
Dimetrius de Carvalho Ferreira
Coordenadora da Produção dos Materiais Ivana Lima
Marta Maria Castanho Almeida Pernambuco Johann Jean Evangelista de Melo
Coordenador de Edição Adaptação para Módulo Matemático
Ary Sergio Braga Olinisky André Quintiliano Bezerra da Silva
Projeto Gráfico Kalinne Rayana Cavalcanti Pereira
Ivana Lima Thaísa Maria Simplício Lemos
Imagens Utilizadas
Revisores de Estrutura e Linguagem Banco de Imagens Sedis - UFRN
Eugenio Tavares Borges Fotografias - Adauto Harley
Jânio Gustavo Barbosa Stock.XCHG - www.sxc.hu
Thalyta Mabel Nobre Barbosa

Revisora das Normas da ABNT


Verônica Pinheiro da Silva

Divisão de Serviços Técnicos


Catalogação da publicação na Fonte. UFRN/Biblioteca Central “Zila Mamede”

Carvalho Filho, Joel Câmara de.


   Astronomia: Interdisciplinar  /  Joel Câmara de Carvalho Filho, Auta Stella de Medeiros Germano. – Natal,
RN: EDUFRN, 2007.
   300 p. : il.

1. Astronomia.  2. Sistema Solar.  3. Fenômenos astronômicos.  4. Astrofísica.  5. Cosmologia. 


I. Germano, Auta Stella de Medeiros.

ISBN  978-85-7273-376-2
CDD 520
RN/UF/BCZM 2007/54 CDU 52

Copyright © 2007  Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização expressa da
UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Apresentação

N
esta aula, apresentaremos uma descrição das mais importantes características do
Sol e estudaremos a evolução do conhecimento científico sobre como a energia
emitida por ele é gerada no seu interior. Faremos uma descrição do interior e da
atmosfera solar, dos principais fenômenos que ali ocorrem e como podem influenciar a
vida na Terra.

Objetivos
Entender as principais características físicas do Sol.
1
Identificar os processos físicos responsáveis pela
2 geração de energia no interior do Sol.

Compreender a importância do Sol para a vida na Terra.


3

Aula 12  Astronomia 


Não podemos viver sem o Sol

T
ente imaginar que um dia você acorda e lá fora está tudo escuro. Você pensa que
ainda é noite, olha para o relógio e vê que na verdade já é de manhã. Então, você se
pergunta: onde está o Sol? Percebe que faz um frio tremendo, um frio como nunca
viu igual na sua cidade. Você sai à rua e vê seus vizinhos todos conversando e olhando para o
céu procurando o Sol que não apareceu naquela manhã. Todos começam a falar alto, correr
de um lado para outro e se desesperar. Quase ninguém vai para o trabalho e, à medida que o
tempo passa, o frio aumenta. Chega a noite, ou melhor, a hora em que o Sol deveria estar se
pondo, e você, juntamente com toda a população, fica na expectativa de que o Sol volte no
dia seguinte. Mas, ele não aparece e tudo vira um caos. À medida que os dias vão passando,
o frio se torna insuportável, começa a faltar alimentos, o fornecimento de energia elétrica
é descontinuado, as comunicações são interrompidas. Não mais choverá, as plantas não
crescerão, toda a água ficará congelada. É certo que, depois de algum tempo, a vida sobre a
Terra chegará ao fim.

Com isso, você pode perceber a importância do Sol para nós e entender que não
podemos viver sem ele (Figura 1).

FONTE: <www.espada.eti.br/Images/Sun_God_Male.jpg>  Acesso em: 06 jul. 2007

Figura 1 - Representação do Sol e sua relação com o homem numa gravura antiga

 Aula 12  Astronomia


O Sol e a vida sobre a Terra

A
energia gerada pelo Sol irradia-se por todo o espaço, aquece e ilumina a Terra. Toda vida
no nosso planeta depende dessa fonte de energia (Figura 2). Sem a presença do Sol, não
haveria vida na Terra; pois quase todos os fenômenos atmosféricos são uma conseqüência
do aquecimento produzido por ele. A água do mar e do solo é evaporada e condensa-se sob a
forma de nuvens que depois a despejam de volta à Terra quando chove. A chuva vai irrigar o solo,
realimentar os rios que despejam a água no mar e, então, recomeça o ciclo.

FONTE: <http://www.ruinas_aladas.blogger.com.br/1947_
Sun%20and%20Life2.JPG>  Acesso em: 06 jul. 2007.
Figura 2 - Sol e Vida

A luz emitida pelo Sol é absorvida pelas plantas, as quais convertem o gás carbônico
em oxigênio e, através do processo de fotossíntese, crescem, desenvolvem-se e geram
alimento para todos os animais, inclusive o Homem. Esse processo acontece tanto em terra
como em toda a extensão dos oceanos. Assim, o Sol fornece toda a energia necessária para
manter a vida na Terra.

O Sol emite não apenas radiação luminosa (luz visível), mas também raios infravermelhos
e raios ultravioletas. O calor aquece o meio ambiente, os animais e a nós mesmos, permitindo
assim a preservação da vida. Já os raios ultravioletas em altas doses são prejudiciais à saúde,
podendo causar queimaduras e, a longo prazo, câncer de pele. Felizmente, a atmosfera da
Terra nos protege filtrando a maior parte dessa radiação.

Pare um instante e pense um pouco sobre isto: as plantas produzem alimentos


a partir da luz solar, os animais comem as plantas e nós comemos os animais
(ou as plantas). Ou seja, sem a luz do Sol, as plantas não produziriam alimentos
e então morreríamos de fome. Além disso, as plantas transformam o gás
carbônico em oxigênio, o qual nós e os outros animais respiramos. O Sol
aquece o nosso planeta e sem ele morreríamos congelados. Os ventos são
uma conseqüência da ação do Sol que também produz as nuvens, a chuva e
todo o clima da Terra.

Aula 12  Astronomia 


Características gerais do Sol

C
omo já vimos na aula 11 (O Sistema Solar), o Sol é a estrela que está no centro
do nosso sistema planetário: o Sistema Solar. Vimos também que a Terra, assim
como os outros planetas, asteróides e cometas, giram em torno do Sol em órbitas de
tamanhos variados. A Terra, por exemplo, encontra-se a uma distância média de 150 milhões
de quilômetros; e o Sol reina absoluto no centro do Sistema Solar, concentrando mais de
98% da sua massa.

Na Grécia Antiga era chamado de “Hélios”. Segundo a mitologia grega, Hélios


era o deus do sol, um deus que via e ouvia todas as coisas. Todos os dias, ele conduzia
pelo céu sua carruagem de fogo puxada por quatro cavalos (Figura 3), partindo do leste
(nascente) e chegando ao anoitecer no oeste (poente). O elemento químico Hélio foi
descoberto primeiramente no Sol e por isso recebeu esse nome; posteriormente, foi
encontrado na Terra.

FONTE: <http://www.theoi.com/Gallery/T17.1.html>  Acesso


em: 06 jul. 2007.
Figura 3 - O deus grego do sol, Hélios, conduzindo sua carruagem de fogo

Podemos dizer que, comparado com outras estrelas conhecidas, o Sol é uma estrela
típica, ou seja, não é muito maior nem muito menor do que a maioria. Em geral, as estrelas
possuem massas no intervalo que vai de 1/3 a 3 vezes a massa do Sol. São muito poucas as
estrelas que possuem massa maior que, por exemplo, 10 vezes a massa do nosso Sol. Na
verdade, o Sol faz parte de um sistema maior de estrelas, o qual denominamos de galáxia.
Nossa galáxia é chamada Via Láctea e possui mais de 100 bilhões de estrelas.

O Sol é uma enorme esfera de gás com um raio de aproximadamente 700 mil
quilômetros, o que é 109 vezes maior que o raio da Terra. Se fosse oco, no seu interior
caberia mais de 1 milhão de planetas Terra; porém, sua massa é 330 mil vezes maior que
a da Terra. O Sol também gira em torno do seu próprio eixo e completa uma rotação em
aproximadamente 28 dias.

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Como você viu na aula 10 (Leis de Kepler e a gravitação universal), a órbita da Terra,
assim como a dos outros planetas, não é perfeitamente circular, possui a forma de uma
elipse que parece com um círculo ligeiramente ovalado. O Sol encontra-se num dos focos da
elipse e existe uma época do ano, por volta de 2 de janeiro, em que a Terra fica mais próxima
do Sol, a aproximadamente 147 milhões de quilômetros, ponto que é chamado de periélio.
O ponto mais afastado da órbita é chamado de afélio, pelo qual a Terra passa em 2 de julho,
ficando a 152 milhões de quilômetros do Sol. Mas, atenção, essa não é a explicação para a
ocorrência das estações do ano, estas se devem a outro fenômeno que é uma conseqüência
da inclinação do eixo da Terra com relação a sua órbita em torno do Sol.

ATENÇÃO!
Nunca olhe diretamente para o Sol com o
olho nu, com um binóculo ou telescópio.
Isso é extremamente perigoso, pois pode
danificar a sua retina, causar catarata ou
mesmo a cegueira. Existem filtros especiais
para a observação solar e você deve
consultar um especialista antes de fazer
qualquer tentativa nesse sentido.

A fonte de energia do Sol

O
Sol parece uma imensa bola de fogo amarelada. Porém, não devemos pensar que ele
está “pegando fogo”, pois o que ocorre é que a sua superfície é tão quente que chega
a emitir luz. Imagine o que acontece com um pedaço de ferro quando o aquecemos:
inicialmente, ele se torna avermelhado e, se sua temperatura continuar subindo, ele começa a
emitir uma luz amarelada muito intensa. A temperatura da superfície do Sol é extremamente
elevada, chegando a 6000 graus centígrados, a qual você pode comparar com a temperatura
necessária para fundir o ferro, de aproximadamente 1500 graus. Um outro exemplo é a
temperatura do filamento incandescente de uma lâmpada, que pode atingir 2000 graus.

Como você pode ver, nenhum elemento ou composto existente na Terra poderia resistir
às temperaturas tão altas da superfície solar. Até mesmo os materiais mais refratários
(resistentes) ao calor seriam fundidos e evaporariam. Assim, tudo o que encontramos no
Sol se encontra num estado gasoso.

Agora, você pode se perguntar: se o Sol não está queimando, o que mantém a sua
superfície tão quente?

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Atividade 1
Faça uma entrevista com alunos do Ensino Médio e Fundamental,
1 focalizando a seguinte pergunta: “Em sua opinião, o que mantém o
Sol aquecido?” Em seguida, faça um resumo das respostas obtidas.

Agora, apresente a sua opinião sobre a questão focalizada nas


2 entrevistas.

1.
sua resposta

2.

A Astronomia tem uma resposta para tal pergunta. Na verdade, o Sol possui uma
“fornalha nuclear” no seu núcleo. E o que vem a ser isso? A seguir, vamos tentar responder
contando como os cientistas foram aperfeiçoando seus conhecimentos em vários campos
da Ciência, desde o século XVIII até chegar a uma resposta satisfatória em meados
do século XX.

 Aula 12  Astronomia


Através do estudo detalhado de modelos matemáticos para a evolução das estrelas, os
astrônomos concluem que a idade do Sol é de aproximadamente 4,5 bilhões de anos. Eles
descobriram que se o Sol queimasse como o carvão queima numa fornalha, não duraria
mais que alguns mil anos. Vejamos por que: o Sol emite energia numa taxa
∆E
L= = 3, 8 × 1026 J/s ,
∆t
em que ∆E é a energia emitida no intervalo de tempo ∆t . Isso é o que denominamos
luminosidade solar (energia por unidade de tempo). Lembre-se de que 1 Joule/s = 1 W att
é uma unidade de potência. Essa quantidade de energia liberada pelo Sol, a cada
segundo, é enorme.

Compare a quantidade de energia que o Sol libera a cada segundo com o que
você gasta de energia elétrica na sua casa em um mês. Suponha que a sua
conta de luz mensal seja de 500 kilowatt-hora (kW h) . Isso significa que em
um mês a energia que você gastou foi 500.000 W × 3.600 s = 1, 8 × 109 J .
Se você dividir essa quantidade de energia pelo número de segundos que existe
em 30 dias, terá a potência elétrica dissipada em sua casa, ou seja, 694 J/s , o
que é apenas uma fração ínfima da potência solar 3, 8 × 1026 J/s .

Energia química da combustão

E
m meados do século XVIII, durante a Revolução Industrial, o combustível mais
utilizado era o carvão. Pensava-se então que o Sol poderia ser mantido “aceso” como
o carvão queimando numa fornalha. Porém, se fizermos um cálculo simples, veremos
que isso é impossível. A energia liberada na queima do carvão é de aproximadamente
6150 kW h/tonelada , o que corresponde a 2, 2 × 107 J/kg , ou seja, cada quilograma de
carvão queimado fornece uma energia de 22 milhões de Joules. Se o Sol queimasse como
uma fornalha de carvão, para calcular a energia por ele liberada, precisamos multiplicar esse
número pela massa do Sol, que é igual a 2 × 1030 kg . Assim, teríamos a energia disponível
no Sol:

∆E = 2, 2 × 107 J/kg × 2 × 1030 kg = 4, 4 × 1037 J .


∆E
Voltemos à definição de luminosidade L = . Disso, podemos concluir que, se
∆t
tivermos uma energia disponível ∆E , com o Sol emitindo radiação numa taxa L, tal energia
se esgotaria num tempo igual a
∆E
∆t =
L

Aula 12  Astronomia 


Se o combustível do Sol fosse o carvão, sua massa disponibilizaria uma energia
∆E = 4, 4 × 1037 J . Como ele queima a uma taxa L = 3, 8 × 1026 W , o seu tempo
de vida seria

4, 4 × 1037 J
∆t = = 1, 2 × 1011 s = 3.800 anos .
3, 8 × 1026 W

Esse tipo de cálculo é válido para outros tipos de transformação química. Alguns
milhares de anos é um tempo muito curto, menor até mesmo que a civilização do Egito
Antigo. Hoje, o Sol estaria reduzido a cinzas. Além disso, os geólogos, no início do século
XIX, já tinham calculado que a Terra deveria ter mais de 10 ou 100 milhões de anos. Assim,
como podia ser a Terra mais velha que o Sol? Outra explicação se fez necessária.

Energia gravitacional

P
or volta de 1850, o físico alemão Hermann von Helmholtz (1821-1894) lançou uma
hipótese bem mais plausível para a origem da fonte de energia do Sol. Ele imaginou
que no início o Sol era uma esfera de gás extremamente grande, a qual, sob a ação
da gravidade própria, começou a se contrair até atingir seu raio atual.

Uma propriedade bem conhecida dos gases nos diz que, quando comprimido, o gás se
aquece e, quando expandido, se resfria. No processo de compressão, o gás que constitui o
Sol se aquece e vai liberando enorme quantidade de energia sob a forma de radiação térmica e
luminosa. Como a compressão da esfera de gás ocorre devida à força da gravidade, a energia
liberada pelo Sol seria de origem puramente gravitacional. O que acontece é que a energia
potencial gravitacional é transformada, através da contração da estrela, em energia térmica.

Podemos calcular a energia gravitacional de uma esfera auto-gravitante de massa M e


raio R. Ela é igual a

3 GM 2 ,
U =−
5 R
sendo G = 6, 67 × 10−11 N.m2 /kg 2 a constante da gravitação. Convenciona-se que tal
energia, também chamada de energia potencial gravitacional, é uma quantidade negativa.
Existe um teorema na Física (Teorema do Virial) que afirma ser a energia térmica ou energia
interna igual a –U/2. Sendo assim, a energia disponível para ser irradiada será
3 GM 2
∆E = .
10 R
Se substituirmos o valor da massa do Sol M = 2 × 1030 kg e o seu raio R = 7 × 108 m,
obtemos

∆E = 1, 1 × 1041 J .

 Aula 12  Astronomia


Compare, agora, esse resultado com a energia devido à combustão, que calculamos
anteriormente ∆E = 4, 4 × 1037 J . Voltando à equação que nos dá o tempo durante o qual
o Sol irradiaria essa energia, teremos
∆E 1, 1 × 1041 J
∆t = = ≈ 1 × 107 anos.
L 3, 8 × 1026 J/s
Esse valor de 10 milhões de anos é bem maior que o anterior e mais próximo do
valor atribuído à idade da Terra, na época. Contudo, ao final do século XIX, os geólogos já
estimavam uma idade para a Terra que ultrapassava 2 bilhões de anos.

A energia termonuclear

O
valor adotado hoje para a idade do Sistema Solar, o Sol e os planetas é 4,5 bilhões
de anos. Por meio da datação radioativa, nós sabemos que existem rochas que
se solidificaram há aproximadamente 4 bilhões de anos. Alguns microrganismos
existiram há 3,5 bilhões de anos. Concluímos que a gravitação não pode ser a explicação
para a fonte de energia do Sol.

No final do século XIX e início do século XX, novas descobertas científicas nos levaram
a encontrar uma solução definitiva para esse problema. Em 1896, Röntgen (1845-1923)
e Becquerel (1852-1908) descobriram a radioatividade e, em 1905, Einstein (1879-1955)
demonstrou a equivalência entre massa e energia na sua famosa equação:

E = mc2 .

Em 1911, foi descoberto o núcleo atômico e, nos anos 1920, iniciou-se o estudo das
reações nucleares.

O astrônomo Arthur Eddington (1882-1944) sugeriu que, durante uma reação nuclear,
quatro prótons (núcleo do átomo de hidrogênio) podem se fundir para formar um núcleo
de hélio, composto por dois prótons mais dois nêutrons (2p + 2n). Entretanto, a soma das
massas dos quatro prótons é 0,7% maior que a massa do núcleo de hélio. Esse excesso
de massa é completamente transformado em energia durante a reação nuclear segundo
a fórmula de Einstein. Tal reação de fusão acontece em três estágios e é chamada “cadeia
próton-próton” ou “ciclo próton-próton”. A reação do ciclo p-p pode ser resumida da seguinte
forma:

41 H → 4 He + energia .

Podemos calcular a energia liberada durante a reação de fusão do hidrogênio em hélio


da seguinte maneira: cada 1 quilograma de hidrogênio se funde e dá 0,993 quilogramas de

Aula 12  Astronomia 


hélio. A energia liberada será a diferença de massa (0,007 kg) multiplicada pela velocidade
da luz ao quadrado:
2
E = mc2 = 0, 007kg × (3 × 108 m/s) = 6, 3 × 1014 J .

∆E
Agora, você pode voltar à fórmula da luminosidade do Sol, L = , e calcular por
∆t
quanto tempo ele brilhará convertendo hidrogênio em hélio através da fusão nuclear. Vamos
supor que ele converta apenas 10% da sua massa de 2 × 1030 kg em energia. Como você
viu anteriormente, temos um fornecimento de 6, 3 × 1014 J/quilograma . Portanto, 10% da
massa total forneceriam

∆E = 0, 1 × 2 × 1030 kg × 6, 3 × 1014 J/kg = 1, 3 × 1044 J .

Com essa energia disponível e irradiando a uma taxa de 3, 8 × 1026 J/s , o Sol brilharia
durante
∆E 1.3 × 1044 J
∆t = = ≈ 10 × 109 anos ,
L 3, 8 × 1026 J/s

ou seja, 10 bilhões de anos. Agora sim, esse é um valor satisfatório, pois hoje os
astrônomos sabem que o Sol se formou há 4,5 bilhões de anos e poderá então nos
fornecer energia por, pelo menos, mais 5,5 bilhões de anos.

Atividade 2

Com base no texto que estudamos nesta seção, responda às


questões seguintes.

Quais foram os três processos propostos pelos cientistas para a


1 geração da energia no Sol?

Por quanto tempo o Sol “queimaria” em cada um deles?


2
Qual o processo de geração de energia aceito hoje pelos
3 astrônomos?

10 Aula 12  Astronomia


1.

sua resposta
2.

3.

A estrutura do Sol

P
odemos dividir o Sol em duas partes básicas: o interior do Sol, que é uma região
esférica, opaca à luz visível e de densidade relativamente alta; e, em volta dessa
região, encontramos a outra parte, a atmosfera, que é transparente à luz visível e
de baixa densidade. Entre essas duas regiões, está a superfície do Sol, que é, em outras
palavras, o limite entre o interior e a atmosfera. É essa superfície que nós “vemos” quando
olhamos para o Sol.
FONTE: <http://stardate.org/images/ssg/sun.jpg>  Acesso em:

3
2

1
06 jul. 2007.

Figura 4 - Estrutura esquemática do interior solar

Aula 12  Astronomia 11


O interior do Sol
Examine a Figura 4 e observe que o interior solar é dividido em três regiões: (1) o núcleo,
(2) a zona radiativa e (3) a zona convectiva. A seguir, fazemos uma breve descrição destas.

1) O núcleo
O Sol possui uma composição química semelhante à de muitas outras estrelas: 74%
de hidrogênio, 25% de hélio e 1% de outros elementos. Como você viu na seção anterior,
através da reação nuclear de fusão, ele vai transformando o hidrogênio em hélio e irradiando
a energia produzida nesse processo. Tal reação somente pode ocorrer no núcleo do Sol
porque, para que os prótons vençam a força de repulsão elétrica entre eles e se fundam
para formar um núcleo de hélio, é necessário que o material seja submetido a altíssimas
pressões e temperaturas. Quando a imensa esfera de gás sofreu o colapso e se contraiu sob
a ação da força da própria gravidade, a pressão e a temperatura na região central cresceram
imensamente. Para que a reação de fusão tenha início, é preciso temperaturas de milhões de
graus. Por essa razão, a temperatura no centro do Sol é de 15 milhões de graus e a pressão
é da ordem de bilhões de atmosferas.

12 Aula 12  Astronomia


FONTE: <http://www.astronomy.ohio-state.edu/~pogge/Ast162/
Gravidade

Unit2/structure.html>  Acesso em: 06 jul. 2007.


Pressão
dos gases

Figura 5 - Equilíbrio hidrostático do Sol

A energia produzida no núcleo solar precisa ser agora transportada para o seu exterior.
Isso pode ocorrer de três formas: por condução, irradiação e convecção. O processo
de condução é eficiente nos sólidos, não importando no interior do Sol; os outros dois
acontecem em regiões distintas, como veremos a seguir.

2) A zona radiativa
Observe na Figura 6 que a zona radiativa ocupa 50% do interior do Sol. Ela começa a uma
distância do centro igual a 0,2 R e estende-se até 0,7 R, sendo R o raio do Sol. Aqui, a energia
gerada pela fusão nuclear é transportada através de ondas eletromagnéticas (fótons), ou
seja, radiação. Disso decorre o nome zona radiativa. Os fótons não se propagam livremente;
eles vão esbarrando nos átomos. Em cada um desses encontros, eles são absorvidos e, em
seguida, reemitidos. É assim que a radiação vai se difundindo, passando de átomo a átomo,
até atingir o topo da região. Os fótons viajam à velocidade da luz, mas não seguem uma linha
reta. Entre uma colisão e outra eles percorrem uma pequena distância de menos de 1 mm.
O mais impressionante é que, fazendo esse zigue-zague, os fótons levam um tempo muito
grande para chegar ao fim de sua jornada, que pode durar entre 100.000 e 200.000 anos! A
temperatura, que na base da zona radiativa, próximo ao núcleo, era de 15 milhões de graus
cai para 1 milhão na sua parte superior.
FONTE: <http://web.njit.edu/~dgary/321/Lecture9.html>

1.0 R
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Z

0.7 R
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Acesso em: 06 jul. 2007.


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0.2 R
Zo

Núcleo
termonuclear

Figura 6 - Esquema das diferentes zonas no interior do Sol

Aula 12  Astronomia 13


3) A zona convectiva
Na região do interior do Sol, acima da zona radiativa, o gás agita-se num movimento
circular de subida e descida indo até regiões mais profundas e voltando para próximo da
superfície (Figura 6). Isso acontece porque o gás mais quente próximo ao topo da zona
radiativa é menos denso e tende a subir. Ao atingir as regiões mais externas onde a temperatura
é menor, ele resfria, torna-se mais denso e tende a descer. Você pode observar esse tipo
de movimento numa panela colocada no fogo com água fervente. Isto é denominado de
convecção e, em uma estrela, a região onde ela ocorre chama-se zona convectiva, a qual
compreende os últimos 30% do interior do Sol. É dessa forma que a energia é carregada
nessa zona, do topo da zona radiativa para a superfície do Sol.

Atividade 3
Baseado no que você estudou nas seções anteriores:

a) liste as regiões existentes no interior do Sol.

b) descreva brevemente o que ocorre em cada uma delas.

a.
sua resposta

b.

14 Aula 12  Astronomia


A atmosfera do Sol
A atmosfera do Sol é formada por três regiões: a fotosfera, a cromosfera e a coroa, as
quais são mostradas esquematicamente na Figura 7.

1) Fotosfera
A fotosfera é a região que constitui a base da atmosfera do Sol, sendo a única parte
do Sol que podemos de fato ver a partir da Terra. Sua espessura é de aproximadamente
350 km e possui uma temperatura média de 6.000 graus. Quando observada através de
um telescópio, pode-se perceber uma certa granulação, com aspecto borbulhante, como
a superfície da água fervendo numa panela. Tais bolhas ou grânulos são, de fato, a parte
superior das células de convecção e podem ter cerca de 1000 km de profundidade.

Coroa
Cromosfera

Mancha solar
Fotosfera

Figura 7 - Representação esquemática das regiões externas do Sol

2) Cromosfera
A cromosfera é uma camada de gás localizada acima da fotosfera cuja espessura é de
aproximadamente 2.000 km. Normalmente, ela não é visível, pois é ofuscada pelo brilho
da fotosfera. Uma coisa estranha acontece na cromosfera: em vez de ser mais fria do que
a fotosfera, sua temperatura cresce com a altura, indo de 4.500 graus a aproximadamente
10.000 graus. Os astrônomos acreditam que se trata de um processo de aquecimento através
de um movimento ondulatório que envolve o gás e um campo magnético.

Nas bordas da cromosfera, encontramos filamentos de gás que sobem como labaredas
e são chamadas “espículas”. Esses jatos elevam-se a até dezenas de milhares de quilometros
acima da borda da cromosfera e duram alguns minutos.

Aula 12  Astronomia 15


3) Coroa
A coroa é a camada final do Sol e estende-se por vários milhões de quilômetros além da
fotosfera. Devido ao brilho intenso da fotosfera, ela só pode ser vista durante um eclipse solar
quando a Lua encobre o disco do Sol, como mostrado na Figura 8. Também pode ser observada
com um instrumento chamado coronógrafo, que produz um eclipse artificial bloqueando a
luz da fotosfera. A coroa é bastante rarefeita, mas possui uma elevada temperatura que chega
a ultrapassar 2 milhões de graus. Acredita-se que o processo de aquecimento da coroa seja
idêntico ao da cromosfera, ou seja, seria causado pelo magnetismo do Sol.

Em algumas ocasiões, o campo magnético emerge das regiões mais baixas da


atmosfera e forma arcos. Essas estruturas magnéticas podem estender-se até a coroa, e
partículas carregadas seguem as linhas de campo. Os arcos podem então ser observados
pelos telescópios e são chamados de proeminências solares.

É na coroa que acontece o fenômeno dos ventos solares, o qual se constitui num fluxo
contínuo de partículas emitidas pela coroa. Tais partículas, principalmente elétrons e prótons,
viajam a 400 km/s e, quando atingem a Terra, são capturadas pelo campo magnético no
Cinturão de Van Allen, na região chamada magnetosfera terrestre.

FONTE: <http://www.astronomynotes.com/starsun/s2.htm>
Acesso em: 06 jul. 2007.
Figura 8 - A coroa solar observada durante o eclipse de 1973

Manchas e erupções solares

V
ocê aprendeu nas seções anteriores que na região mais externa do interior do Sol
o gás se agita num movimento de subida e descida carregando energia para a
superfície. Uma das conseqüências desse movimento convectivo é a geração de um
campo magnético intenso. Quando vistas de fora, tais células convectivas parecem manchas
escuras e são chamadas de “manchas solares”. Na Figura 9, podemos observar, na imagem
da esquerda, um grande número de manchas solares com tamanhos variados. As manchas
normalmente aparecem em grupos de duas, nos quais uma tem um campo magnético com
polaridade norte e a outra um campo com polaridade sul. Elas têm uma temperatura mais
baixa que a dos arredores e parecem mais escuras em relação ao entorno mais claro.

16 Aula 12  Astronomia


FONTE: <http://www.windows.ucar.edu/tour/link=/
sun/images/sunspots_max_min_big_jpg_image.
html&edu=high>  Acesso em: 06 jul. 2007.
Figura 9 - O Sol durante um máximo e um mínimo de atividade

Algumas vezes, dessas manchas são expelidos jatos gigantescos de gás, conhecidos
como “erupções solares”, que podem atingir centenas de milhares de quilômetros de altura.
Durante essas erupções, também chamadas de tempestades solares, são emitidas grandes
quantidades de partículas carregadas que viajam através do espaço e podem atingir a Terra
(Figura 10). Quando isso acontece, pode haver graves conseqüências para os sistemas de
comunicação via rádio, sistemas de navegação, exploração de recursos minerais, sistema
de fornecimento e linhas de transmissão de energia elétrica, oleodutos, sistemas biológicos,
satélites artificiais em órbita da Terra. A intensa radiação ionizante procedente do Sol pode
atingir as naves espaciais e sua tripulação, colocando em risco a vida dos astronautas.

FONTE: <http://www.esa.int/techresources/ESTEC-Article-imm_print_
friendly_1069167508358.html>  Acesso em: 06 jul. 2007.

Figura 10 - Erupções solares e sua influência sobre a Terra

Aula 12  Astronomia 17


A atividade periódica do Sol
Existem épocas nas quais as manchas solares aparecem em maior número.
Isso se repete periodicamente com um intervalo de 11 anos, o chamado Ciclo de
Onze Anos. A Figura 11 mostra um gráfico do número de manchas solares em
função do tempo. Quando o número de manchas e erupções aumenta, dizemos
que o Sol está mais ativo e temos assim um “máximo solar”. Essa atividade
periódica afeta diretamente a Terra: a temperatura média sobe levemente,
aumentam os casos de interferências nas comunicações etc. Os últimos dez
períodos de máximo da atividade solar aconteceram de 1902 a 1913; de 1913
a 1923; de 1923 a 1933; de 1933 a 1944; de 1944 a 1954; de 1954 a 1964;
de 1964 a 1976; de 1976 a 1986; de 1986 a 1996 e de 1996 a 2007. Alguns
estudos sugerem que pode haver uma correlação entre a atividade do Sol e as
secas periódicas na região Nordeste do Brasil.

FONTE: <http://www.windows.ucar.edu/tour/link=/sun/images/sunspot_
cycle_graph_big_gif_image.html&edu=high>  Acesso em: 06 jul. 2007.

Figura 11 - Variação do número de manchas do Sol durante os últimos dez ciclos solares

18 Aula 12  Astronomia


Atividade 4

1 Em quantas partes se divide a atmosfera solar?

Quais os fenômenos mais importantes que ocorrem na fotosfera?


2
O que é o ciclo de 11 anos do Sol?
3

1.

sua resposta
2.

3.

Aula 12  Astronomia 19


Vemos assim que o Sol, apesar de ser considerado uma estrela que está em equilíbrio,
possui uma intensa atividade periódica na sua atmosfera que pode afetar fortemente a vida
na Terra. Contudo, mudanças muito mais extremas ainda estão por acontecer com o nosso
Sol, num futuro bem distante. Esse será assunto de uma aula posterior, na qual trataremos
do nascimento, vida e morte das estrelas.

Resumo
Nesta aula, estudamos as características mais importantes do Sol: como a energia
é gerada no seu interior, a sua estrutura interna e a atmosfera solar. Aprendemos
que o Sol fornece a energia necessária para manter a vida na Terra. Vimos
também que quase todos os fenômenos atmosféricos são uma conseqüência do
aquecimento produzido pelo Sol e ainda como a atividade solar pode afetar a vida
na Terra. Você pode agora avaliar a importância do Sol para nós.

Auto-avaliação
Faça um resumo da importância do Sol para a vida na Terra.
1
Quais as características gerais do Sol?
2
Faça uma descrição detalhada das três principais hipóteses a respeito da geração
3 de energia no interior do Sol.

Descreva as três regiões que compõem a estrutura do interior solar.


4
Faça uma breve descrição da atmosfera do Sol.
5
O que são as manchas solares?
6

20 Aula 12  Astronomia


Referências
CENTRO DE DIVULGAÇÃO DA ASTRONOMIA. Setor de Astronomia. Observatório. Disponível
em: <http://www.cdcc.usp.br/cda/index.html>. Acesso em: 25 jul. 2007.

GLEISER, M. A dança do universo. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

INTRODUÇÃO a astronomia. Disponível em: <http://www.astro.iag.usp.br/~picazzio/


aga210/>. Acesso em: 22 jul. 2007.

OLIVEIRA FILHO, Kepler de Souza; SARAIVA, Maria de Fátima Oliveira. Astronomia e


astrofísica. Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, 2000. Disponível em: <http://astro.
if.ufrgs.br/index.htm>. Acesso em: 26 jul. 2007.

OLIVEIRA FILHO, Kepler de Souza; SARAIVA, Maria de Fátima Oliveira. Movimento dos
planetas. Disponível em: <http://astro.if.ufrgs.br/p1/p1.htm>. Acesso em: 10 jul. 2007.

O SOL. Disponível em: <http://www.astro.iag.usp.br/~jane/aga215/aula06/cap6a.htm>.


Acesso em: 10 jul. 2007.

______. Disponível em: <http://www.if.ufrgs.br/ast/solar/portug/sun.htm>. Acesso


em: 12 jul. 2007.

Anotações

Aula 12  Astronomia 21


Anotações

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Anotações

Aula 12  Astronomia 23


Anotações

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