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XXXII EXAME DA ORDEM

2ª FASE DIREITO CIVIL

RECURSO EMENTA COMENTÁRIOS


1. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE A questão consiste no julgamento da Ação Direita de Inconstitucionalidade nº 4.275/DF, pelo
ADIN 4.275 4.275 DISTRITO FEDERAL DE RELATOR: MIN. Supremo Tribunal Federal, ajuizada pelo Procurador Geral da República com fim de conceder
DISTRITO MARCO AURÉLIO REDATOR: MIN. EDSON interpretação conforme a Constituição ao artigo 58 da Lei 6.015/73 para reconhecer aos transexuais
FEDERAL FACHINDO ACÓRDÃO EMENTA: DIREITO o direito de alteração do prenome e gênero sem a necessidade da cirurgia de transgenitalização. Por
CONSTITUCIONAL E REGISTRAL. seis votos a cinco, ficou estabelecida a possibilidade de alteração do prenome e gênero sem
PESSOATRANSGÊNERO. ALTERAÇÃO DO necessidade da realização da cirurgia respectiva, e também, independente de autorização judicial. Os
PRENOME E DO SEXO NOREGISTRO CIVIL. requisitos consistem em: requerimento ao registrador, o interessado maior de 18 anos, que esteja
POSSIBILIDADE. DIREITO AO NOME, convicto, há pelo menos 3 anos, de que sua identidade de gênero é oposta a biológica e,
AORECONHECIMENTO DA PERSONALIDADE consequentemente, possui uma baixa probabilidade de nova alteração da identidade de gênero,
JURÍDICA, ÀLIBERDADE PESSOAL, À HONRA E À conforme avaliação de equipe multidisciplinar. O Ministro Marco Aurélio foi vencido, e os ministros
DIGNIDADE. INEXIGIBILIDADE DE CIRURGIA DE Alexandre de Moraes, Ricardo Lewandoski, e Gilmar Mendes, em menor extensão. Esta posição da
TRANSGENITALIZAÇÃO OUDA REALIZAÇÃO DE mais alta Corte demonstra o avanço que o tema obteve na doutrina e jurisprudência. Não se trata de
TRATAMENTOS HORMONAIS OU esgotamento do princípio da imutabilidade, mas tão somente mais uma hipótese de possibilidade de
PATOLOGIZANTES. 1. O direito à igualdade sem alteração, em respeito ao princípio da dignidade da pessoa humana e, obviamente, desde que
discriminações abrange a identidade ou permeie segurança jurídica, não implicando em prejuízos a terceiros. O procurador aduz que há duas
expressão de gênero.2. A identidade de gênero é abordagens de transexualidades: a biomédica (distúrbio de identidade de gênero) e a social (direito à
manifestação da própria personalidade da autodeterminação da pessoa). Assim, manter o prenome em dissonância a sua identidade atenta
pessoa humana e, como tal, cabe ao Estado contra a dignidade da pessoa humana. Para tanto, o próprio Procurador é quem estabelece os
apenas o papel de reconhecê-la, nunca de requisitos. CF: arts. 1º inciso III (dignidade da pessoa humana), art. 5º caput (igualdade e liberdade),
constituí-la. 3. A pessoa transgênero que art. 3º, inciso IV (vedação de discriminações odiosas), e art. 5º, inciso X (privacidade). ART. 58 da Lei
comprove sua identidade de gênero dissonante 6.015 Art. 58. O prenome será definitivo, admitindo-se, todavia, a sua substituição por apelidos
daquela que lhe foi designada ao nascer por auto públicos notórios. Resolução nº 1.955, de 3 de setembro de 2010, do Conselho Federal de Medicina.
identificação firmada em declaração escrita [...] Art. 3º Que a definição de transexualismo obedecerá, no mínimo, aos critérios abaixo
desta sua vontade dispõe do direito enumerados:
fundamental subjetivo à alteração do prenome e 1) Desconforto com o sexo anatômico natural; 2) Desejo expresso de eliminar os genitais, perder as
da classificação de gênero no registro civil pela características primárias e secundárias do próprio sexo e ganhar as do sexo oposto; 3) Permanência
via administrativa ou judicial, desses distúrbios de forma contínua e consistente por, no mínimo, dois anos; 4) Ausência de transtornos
independentemente de procedimento cirúrgico mentais. Art. 4º Que a seleção dos pacientes para cirurgia de transgenitalismo obedecerá a avaliação de
e laudos de terceiros, por se tratar de tema equipe multidisciplinar constituída por médico psiquiatra, cirurgião, endocrinologista, psicólogo e
relativo ao direito fundamental ao livre assistente social, obedecendo os critérios a seguir definidos, após, no mínimo, dois anos de

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desenvolvimento da personalidade.4. Ação acompanhamento conjunto: 1) Diagnóstico médico de transgenitalismo; 2) Maior de 21 (vinte e um)
direta julgada procedente anos; 3) Ausência de características físicas inapropriadas para a cirurgia.

AgInt nos EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM O Direito sucessório se dará mediante disposição de última vontade por meio do testamento, ou na
EMBARGOS DE AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 1.248.601 - forma da lei, se não houver disposição testamentária feita pelo autor da herança. A discussão trazida a
DIVERGÊNCIA EM MG (2018/0034602-5) Relator: Ministro Raul julgamento que gerou o presente entendimento do STJ é se o cônjuge sobrevivente casado sobre o
AGRAVO EM Araújo EMENTA EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. regime de separação obrigatória (artigo 1.641, cc.) poderá ser considerado herdeiro necessário em caso
RECURSO CIVIL. SUCESSÃO. CASAMENTO. REGIME DE de não haver concorrentes. O cônjuge, independente do regime do casamento, sempre será herdeiro
ESPECIAL SEPARAÇÃO OBRIGATÓRIA. CÔNJUGE necessário, mas antes de entrar nessa discussão é mister entender a disposição do artigo 1.829, cc. sobre
1.248.601 – MG SOBREVIVENTE. AUSÊNCIA DE DESCENDENTES a ordem da sucessão legítima. Essa ordem testamentária de que trata o artigo 1.829, cc. trás, a princípio,
OU ASCENDENTES. RECONHECIMENTO DA uma falsa impressão de que, dependendo do regime de bens escolhido pelos cônjuges, na hora da
CONDIÇÃO DE HERDEIRO NECESSÁRIO. sucessão o sobrevivente será prejudicado, mas não é assim. A vedação de o cônjuge concorrer com os
SIMILITUDE FÁTICA. AUSÊNCIA. ACÓRDÃO EM ascendentes é para que haja isonomia na distribuição dos bens do falecido, ou a proteção de seu
SINTONIA COM A ORIENTAÇÃO DA patrimônio deixado, veja, no regime da comunhão universal o sobrevivente é meeiro, portanto,
JURISPRUDÊNCIA DA CORTE. SÚMULA 168/STJ. automaticamente metade do patrimônio já o pertence, logo se fosse dividir a outra metade, os
1. O conhecimento dos embargos de divergência ascendentes teriam apenas 25% da herança; e na separação obrigatória a lei impõe esse regime
pressupõe a similitude das circunstâncias fáticas exatamente para que haja um proteção patrimonial, já que casaram-se de alguma forma sob uma
e jurídicas entre os acórdãos confrontados, condição especial trazida pelo artigo da separação obrigatória de bens. Superada esse texto de difícil
situação não ocorrente no caso. 2. O acórdão compreensão do artigo 1.829, l, cc. podemos entender melhor como ficou decidido pelo STJ o impasse
embargado analisa a possibilidade de o cônjuge trazido a julgamento: se o cônjuge casado sob regime de separação obrigatória poderá ser considerado
sobrevivente, casado sob o regime de separação único herdeiro. O Superior Tribunal de Justiça entendeu pela interpretação literária do texto legal, no
legal de bens, ser considerado o único herdeiro, sentido de que o artigo 1.829 é uma escada a ser decida na constatação da existência de herdeiros
na hipótese em que não há ascendentes necessários, logo, conforme o inciso III do dispositivo, o cônjuge, independente do regime de casamento,
e descendentes do autor da herança (CC, art. sempre será a pessoa que herdará a totalidade dos bens do de cujus quando não houver concorrência
1.829, III), situação fática diversa daquela de herdeiros necessários.
presente no acórdão paradigma, no qual o
cônjuge sobrevivente, casado sob regime de
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separação convencional de bens, concorre com


descendentes do autor da herança (CC, art.
1.829, I). 3. O Código Civil prescreve em seu art.
1.845 que "são herdeiros necessários os
descendentes, os ascendentes e o cônjuge" e
estabelece no art. 1.829 a seguinte ordem de
vocação hereditária: descendentes em
concorrência com o cônjuge sobrevivente (inciso
I); ascendentes, em concorrência com o cônjuge
do falecido (inciso II); cônjuge sobrevivente
(inciso III) e colaterais (inciso IV). 4. A lei
substantiva civil expressamente estipula que o
cônjuge sobrevivente é herdeiro necessário,
definindo no inciso I do art. 1.829 do Código Civil
as situações em que o herdeiro necessário
cônjuge concorre com o herdeiro necessário
descendente, pois prevê que, a depender do
regime de bens adotado, tais herdeiros
necessários concorrem ou não entre si aos bens
da herança. 5. O aresto embargado, na esteira de
precedentes desta Corte, acertadamente
preconiza que ao cônjuge viúvo, inexistindo
descendentes e ascendentes do falecido, cabe a
totalidade da herança, independentemente do
regime de bens adotado no casamento (CC, art.
1.829, III). Incidência da Súmula 168/STJ.
6. Ademais, a própria tese adotada no aresto
paradigma encontra-se superada pelo
entendimento consolidado da eg. Segunda
Seção, preconizando que o cônjuge
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sobrevivente, qualquer que seja o regime de


bens adotado pelo casal, é herdeiro necessário,
alertando, outrossim, que o Código Civil veda sua
concorrência com descendentes, entre outras
hipóteses, nos casos de casamento contraído
sob o regime de separação legal de bens,
permitindo, ao revés, a concorrência nos casos
de separação convencional de bens (REsp
1.382.170/SP, Rel. p/ acórdão Ministro JOÃO
OTÁVIO DE NORONHA, DJe de 26/05/2015). 7.
Agravo interno não provido.

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2. RECURSO 2. RECURSO ESPECIAL Nº 1.483.930 - DF O direito obrigacional, ao contrário dos direitos da personalidade, não é eterno, em todas as suas formas
ESPECIAL Nº (2014/0240989-3)RELATOR: MINISTRO LUIS FELIPE eles têm um termo inicial e findam-se com a sua consumação ou pela extinção após determinado
1.483.930 - DF SALOMÃO RECORRENTE: JOSÉ AILTON SANTANA decurso temporal, lapso de tempo esse denominado juridicamente como prescrição. A discussão
(2014/0240989- RECORRIDO: CONDOMÍNIO VALE DAS apreciada pelo STJ nessa ação que gerou o atual entendimento sobre a prescrição da pretensão de
3) ACÁCIASINTERES.: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS cobrança de dívidas oriundas de taxa condominial e quando se dá o início da contagem do prazo. O
ADMINISTRADORAS DE IMÓVEIS- ABADI - "AMICUS instituto da prescrição comporta dois tipos regras para a ocorrência desse fenômeno: A regra geral,
CURIAE"INTERES.: INSTITUTO BRASILEIRO DE prevista no artigo 206, cc. que traz a previsão no sentido residual, ou seja, de acordo com o referido
DIREITO CIVIL- IBDCIVIL - "AMICUS CURIAE" artigo, se a lei não estipular prazo menor, a prescrição ocorrerá em 10 anos; E a regras especiais, as quais
INTERES.: ASSOCIACAO DOS CONDOMINIOS a lei vai determinar qual é o prazo prescricional para o exercício de determinado direito. O presente
GARANTIDOS DO BRASIL - AMICUS CURIAE": acórdão definiu qual é o prazo e qual é o termo inicial da prescrição em face da pretensão de cobrança
RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE das obrigações relativas a taxas condominiais, que terminou da seguinte forma: Embora não se tenha
CONTROVÉRSIA. DIREITO CIVIL. COBRANÇA DE um artigo que literalmente disponha sobre o prazo específico para esse tipo de
TAXAS CONDOMINIAIS. DÍVIDAS LÍQUIDAS, cobrança, o STJ fixou o prazo prescricional em 5 anos, sendo o fundamento o artigo 206, § 5º, inciso I,
PREVIAMENTE ESTABELECIDAS EM DELIBERAÇÕES cc. que dispõe sobre as dívidas líquidas constantes em instrumento público ou particular, no caso do
DE ASSEMBLEIAS GERAIS, CONSTANTES DAS condomínio, independe se a taxa é ordinária ou extraordinária, compreendem-se como instrumento de
RESPECTIVAS ATAS. PRAZO PRESCRICIONAL. O ART. dívida líquida, sendo o termo inicial da contagem do prazo o dia seguinte ao de vencimento.
206, § 5º, I, DO CÓDIGO CIVIL DE 2002, AO DISPOR
QUE PRESCREVE EM 5 (CINCO) ANOS A PRETENSÃO
DE COBRANÇA DE DÍVIDAS LÍQUIDAS CONSTANTES
DE INSTRUMENTO PÚBLICO OU PARTICULAR, É O
QUE DEVE SER APLICADO AO CASO. 1. A tese a ser
firmada, para efeito do art. 1.036 do CPC/2015 (art.
543-C do CPC/1973), é a seguinte: Na vigência do
Código Civil de 2002, é quinquenal o prazo
prescricionalpara que o Condomínio geral ou
edilício (vertical ou horizontal) exercite apretensão
de cobrança de taxa condominial ordinária ou
extraordinária,constante em instrumento público
ou particular, a contar do dia seguinteao
vencimento da prestação. 2. No caso concreto,
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recurso especial provido” (Recurso Especial N˚


1.483.930 - DF, julgado em 23/11/2016, Rel.
Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO).

RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL.AÇÃO DE O direito das obrigações nasce a partir de um determinado negócio jurídico celebrado dentro dos planos
OBRIGAÇÃO DE FAZER. PRETENSÃO DE RECURSO de Existência, Validade e Eficácia, que dará vida à obrigação de dar, fazer ou a de não fazer, conforme
RECURSO ESPECIAL Nº 1.528.133 - PR (2015/0095018-2): artigos 233 a 251 do código civil. Na maioria dos negócios jurídicos existem ao menos duas partes, as
ESPECIAL Nº RELATOR: MINISTRO PAULO DE TARSO quais contraem direitos e deveres oriundos da relação obrigacional e, simultaneamente passam a ser
1.528.133 - PR SANSEVERINO: RECORRENTE: TRANSGAS credores e devedores entre si. A controvérsia estabelecida na ação que gerou o presente entendimento
(2015/0095018- TRANSPORTES E COMÉRCIO DE GÁS LTDA- está na escolha da ação para se materialize o direito obrigacional inadimplido. No caso ora apreciado,
2) PR043538- RECORRIDO: RODOLATINA LOGISTICA trata-se de um contrato de compra e venda de automóveis, no qual o comprador é credor dos carros e
LTDA devedor da quantia estabelecida como preço e o vendedor é devedor dos carros e
1. Controvérsia em torno do cabimento de ação credor do valor. Os vendedores ao virem a obrigação de pagar descumprida, propuseram a ação de
para cumprimento deobrigação de fazer para obrigação de fazer, refutada pelos réus por falta de cabimento da ação, sobrevindo o questionamento
compelir o comprador de diversos sobre qual ação deveria ser proposta, já que o código civil não prevê uma ação específica para a cobrança
veículosfinanciados perante terceiros a proceder à de quantia em dinheiro. ATENÇÃO para não confundir com a execução por quantia certa prevista no
cessão dosfinanciamentos,ou, periodicamente, artigo 824, CPC, que poderá ser proposta quando se possui um título executivo extrajudicial. Importante
efetuar o adimplemento das parcelas entender que no caso concreto que gerou o presente RESP, não se tem um título executivo pois trata-
dofinanciamento, tendo sido ambas as obrigações se de cessão de financiamento, portanto o atual comprador paga as prestações sucessivas dos
inadimplidas. 2. O perfeito enquadramento das financiamentos em nome do atual vendedor. Nesse caso a finalidade da ação é no sentido de se obter
obrigações nas modalidades doutrinariamente uma sentença condenatória que compila o réu a fazer, no caso em tela, o pagamento das parcelas
previstas nem sempre é possível e, por vezes, inadimplidas. Dessa forma, o STJ entendeu que a ação a ser proposta para que o credor veja adimplida
provocatormento àquele que vê o seu direito a obrigação será a Ação de Obrigação de Fazer, com fundamento nos artigos 247 e seguintes do código
afrontado, mas não consegueidentificar a ação civil, em que o juiz condenará a parte ré a efetuar o adimplemento da obrigação contraída por meio do
adequada para cessação do ilícito. 3. Sendo a negócio jurídico celebrado.
obrigação de fazer a determinação de uma
conduta, na espécie, conforme o contrato
celebrado, a consubstancia o comportamento
atribuído ao comprador de proceder à cessão dos
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financiamentos dos veículos adquiridos, o que não


dependia apenas de sua vontade, ou de,
periodicamente, proceder ao adimplemento do
financiamento na forma contratada junto a
terceiros. 4. Possível categorizar como obrigação
de fazer aquela em que odevedor se obriga a saldar
mensalmente junto a terceiro ofinanciamento dos
bens por ele adquiridos, mas que se encontra
aindaem nome do vendedor. 5. Na perspectiva de
sobrelevo do direito material e da adaptação
dosmeios processuais existentes para a repressão
do ilícito, razoável a utilização da ação de obrigação
de fazer na espécie, notadamente, em face do
eficaz meio de concitação ao cumprimento
consubstanciado naaplicação de multa diária. 6.
Decretada a extinção de ofício do processo em
sede de agravo de instrumento interposto contra a
decisão que concedera a tutela antecipada, deve
ser reformada a decisão extintiva, determinando-
se o prosseguimento da ação, retornando os autos
ao Tribunal de origem para que se analise o pedido
de reforma da tutela antecipada concedida. 7.
RECURSO ESPECIAL PROVIDO” (Recurso Especial N˚
1.528.133 - PR, julgado em 12/06/2018, Rel.
Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO).

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RECURSO ESPECIAL Nº 980.860 - SP O presente caso discorre acerca de uma discussão bastante pertinente: a responsabilidade do
(2007⁄0197831-1) RELATORA:MINISTRANANCY fornecedor x a responsabilidade do produtor. A Recorrente, que no caso era a produtora, forneceu o
Recurso Especial ANDRIGHI RECORRENTE :UNILEVER BESTFOODS produto ao comerciante que não observou o prazo de validade. Conforme brilhantemente destaca a
n° 980.860 – SP BRASIL LTDARECORRID SAMANTHA CLAUDINO ilustríssima Ministra Nancy Andrighi, o produtor tem a responsabilidade de além de fornecer o produto,
(2007/0197831- LIMA E OUTRO EMENTA Direito do consumidor. fiscalizar se ele tem condições de atender à expectativa do consumidor, remetendo-se ao vício de a
1) Recurso especial. Ação de indenização por danos segurança mencionado em linhas pretéritas, ou seja, pois, ao ingerir o produto vencido, as gêmeas foram
morais e materiais. Consumo de produto colocado lesadas enquanto consumidoras. O artigo 12, do CDC é claro ao dispor que o fabricante responde
em circulação quando seu prazo de validade já independentemente da existência de culpa, pela reparação de danos causados aos consumidores por
havia transcorrido. "Arrozina Tradicional" vencida defeitos decorrentes de apresentação ou acondicionamento de seus produtos, como acontece no
que foi consumida por bebês que tinham apenas presente caso. Nas relações de consumo, é de praxe partirmos do pressuposto que o consumidor é
três meses de vida, causando-lhes gastroenterite hipossuficiente na relação havida entre as partes e a quebra da expectativa no consumo do produto, é
aguda. Vício de segurança. Responsabilidade do de responsabilidade da cadeia de produção, ou seja: fabricante e comerciante. No caso, não se pode
fabricante. Possibilidade. Comerciante que não imputar ao comerciante a culpa exclusiva por ter exposto produto fora da validade. Isto também
pode ser tido como terceiro estranho à relação de demonstra que o produtor foi relapso ao deixar que seu produto foi exposto sem a observância dos
consumo. Não configuração de culpa exclusiva de devidos cuidados de conservação/manutenção. No caso, a falta de fiscalização, de responsabilidade do
terceiro. - Produto alimentício destinado fornecedor, afasta claramente a culpa de terceiro. Desta forma, correta é a decisão proferida, pois a
especificamente para bebês exposto em gôndola responsabilidade é igualmente do fabricante do produto que ao negligenciar a supervisão de sua
de supermercado, com o prazo de validade mercadoria, colocou em risco a saúde/vida dos consumidores.
vencido, que coloca em risco a saúde de bebês com Artigo 2°, CDC - Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço
apenas três meses de vida, causando-lhe como destinatário final. Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que
gastroenterite aguda, enseja a responsabilização indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo. Artigo 3º, CDC - Fornecedor é toda
por fato do produto, ante a existência de vício de pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes
segurança previsto no art. 12 do CDC. - O despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção,
comerciante e o fabricante estão inseridos no transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de
âmbito da cadeia de produção e distribuição, razão serviços. Artigo 12, CDC - O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador
pela qual não podem ser tidos como terceiros respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos
estranhos à relação de consumo. - A eventual consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas,
configuração da culpa do comerciante que coloca à manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações
venda produto com prazo de validade vencido não insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos. § 3° O fabricante, o construtor, o produtor ou
tem o condão de afastar o direito de o consumidor
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propor ação de reparação pelos danos resultantes importador só não será responsabilizado quando provar: III - a culpa exclusiva do consumidor ou de
da ingestão da mercadoria estragada em face do terceiro.
fabricante. Recurso especial não provido.

RECURSO ESPECIAL Nº 1.747.307 - SP O presente caso diz respeito ao cumprimento do dever de informação no que tange à cláusula que
(2018/0144216-2)RELATOR: MINISTRO PAULO DE transfere ao consumidor a obrigação de pagar a comissão de corretagem, de acordo com o Tema
TARSO SANSEVERINORECORRENTE: 938/STJ. A tese consolidada pelo STJ, no julgamento do Tema 938, é clara ao expor que a validade da
Recurso Especial CONSTRUTORA LORENZINI LTDA RECORRENTE: DEL cláusula que transfere a obrigação de pagar a comissão de corretagem, está diretamente condicionada
n° 1.747.307 – SP FORTE EMPREENDIMENTOS IMOBILIARIOS LTDA à prévia informação do preço total do imóvel, destacando-se a valor expresso da comissão de
(2018/0144216- EMENTA RECURSOS ESPECIAIS. DIREITO CIVIL. corretagem. Isto quer dizer que deve estar explícito no contrato que o comprador está ciente de que
2) INCORPORAÇÃO IMOBILIÁRIA. COMISSÃO DE está arcando, também com o montante relativo à taxa de corretagem, naquela oportunidade.
CORRETAGEM. DEVER DE INFORMAÇÃO. TEMA Acontece que, em que pese o comprador alegue que desconhecia o pagamento da taxa, os documentos
938/STJ. ACEITAÇÃO DA PROPOSTA E colacionados nos autos do processo demonstram o contrário. Ademais, torna-se irrelevante o fato da
FORMALIZAÇÃO DO CONTRATO NO MESMO DIA. proposta ter sido aceita no mesmo dia da celebração do contrato, uma vez que o que determina se é
POSSIBILIDADE, EM TESE. DISTINÇÃO COM O TEMA válido ou não o pagamento da corretagem, é a ciência do comprador. Desta forma, como
938/STJ. DESCABIMENTO. CASO CONCRETO. brilhantemente pontuado no acórdão analisado, não houve abusividade da transferência da obrigação
PREVISÃO EXPRESSA DO PREÇO TOTAL. DESTAQUE de pagar a comissão de corretagem ao consumidor, pois os requisitos necessários para que a
DO VALOR DA COMISSÃO DE CORRETAGEM. abusividade fosse declarada, foram todos afastados. Artigo 487, inciso II, do CPC – Haverá resolução de
CUMPRIMENTO DO DEVER DE INFORMAÇÃO.1. mérito quando o juiz decidir, de ofício ou a requerimento, sobre a ocorrência de decadência ou
Controvérsia acerca do cumprimento do dever de prescrição. Artigo 489, § 1º, VI, do CPC – São elementos essenciais da sentença deixar de seguir
informação no que tange à transferência para o enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência
consumidor da obrigação de pagar a comissão de de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento. Artigo 927, III, do CPC – Os juízes
corretagem, na hipótese em que a aceitação da e os tribunais observarão os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de resolução de

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proposta e a formalização do contrato se efetivam demandas repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e especial repetitivos. Artigo 932, IV,
no mesmo dia.2. "Validade da cláusula contratual do CPC – Incumbe ao relator negar provimento a recurso que for contrário a entendimento firmado em
que transfere ao promitente-comprador a incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência. Artigo 932, V, do CPC
obrigação de pagar a comissão de corretagem nos – Incumbe ao relator negar provimento depois de facultada a apresentação de contrarrazões, dar
contratos de promessa de compra e venda de provimento ao recurso se a decisão recorrida for contrária a entendimento firmado em incidente de
unidade autônoma em regime de incorporação resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência.
imobiliária, desde que previamente informado o Artigo 1.040, III, do CPC – Publicado o acórdão paradigma os processos suspensos em primeiro e segundo
preço total da aquisição da unidade autônoma, graus de jurisdição retomarão o curso para julgamento e aplicação da tese firmada pelo tribunal
com o destaque do valor da comissão de superior. Artigo 422, do CC – Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato,
corretagem" (Tema 938/STJ). 3. Inexistência de como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé. Artigo 722, do CC – Pelo contrato de
vedação à celebração do contrato no mesmo dia corretagem, uma pessoa, não ligada a outra em virtude de mandato, de prestação de serviços ou por
em que aceita a proposta.4. Caso concreto em que qualquer relação de dependência, obriga-se a obter para a segunda um ou mais negócios, conforme as
o Tribunal de origem, fazendo uma distinção com o instruções recebidas. Artigo 724, do CC – A remuneração do corretor, se não estiver fixada em lei, nem
Tema 938/STJ, entendeu que o dever de ajustada entre as partes, será arbitrada segundo a natureza do negócio e os usos locais. Artigo 725, do
informação não é cumprido quando o consumidor CC – A remuneração é devida ao corretor uma vez que tenha conseguido o resultado previsto no
celebra o contrato no mesmo dia em que aceita a contrato de mediação, ou ainda que este não se efetive em virtude de arrependimento das partes.
proposta. Descabimento dessa distinção.5. Súmula 568/STJ – O relator, monocraticamente e no Superior Tribunal de Justiça, poderá dar ou negar
Cumprimento do dever de informação no caso dos provimento ao recurso quando houver entendimento dominante acerca do tema. (Súmula 568, CORTE
autos, em que a proposta informa o preço total da ESPECIAL, julgado em 16/03/2016, DJe 17/03/2016). Tema 938/STJ – Validade da cláusula contratual
unidade imobiliária, com o destaque do valor da que transfere ao promitente-comprador a obrigação de pagar a comissão de corretagem nos contratos
comissão de corretagem.6. RECURSOS ESPECIAIS de promessa de compra e venda de unidade autônoma em regime de incorporação imobiliária, desde
PROVIDOS. que previamente informado o preço total da aquisição da unidade autônoma, com o destaque do valor
da comissão de corretagem. (Resp. 1.599.511/SP).

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RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. A controvérsia do presente recurso consiste em definir se há vício do serviço na emissão de
COMPROVANTE DE OPERAÇÕES FINANCEIRAS. comprovantes de operações bancárias em papel termossensível, isto é, um papel com baixa
RECURSO EMISSÃO EM PAPEL TERMOSSENSÍVEL. BAIXA durabilidade que não atendem as exigências e as necessidades do consumidor, vulnerando o princípio
ESPECIAL Nº DURABILIDADE. PRESTAÇÃO DE SERVIÇO da confiança. O voto do Relator Ministro Luis Felipe Salomão é no sentido de caracterizar a
1.414.774 - RJ DEFICIENTE. OBRIGAÇÃO DE EMISSÃO responsabilidade do Banco por vícios de qualidade no serviço, em função do artigo 20 do Código de
GRATUITA DE SEGUNDA VIA DO Defesa do Consumidor. Em seu voto o relator ressaltou as vantagens da impressão no papel
COMPROVANTE. 1. O Código de Defesa do termossensível que é uma opção mais rápida e de baixo custo, e a desvantagem de que a impressão
Consumidor, para além da responsabilidade se apaga com o tempo.
decorrente dos acidentes de consumo (arts. 12 a Dessa forma, ao passo que a instituição financeira opta pela impressão das operações neste papel,
17), cuja preocupação primordial é a segurança ela atrai para si a responsabilidade pelo vício de qualidade do produto. Isso porque, é da natureza do
física e patrimonial do consumidor, serviço emitir documentos de longa vida útil, permitindo que o consumidor acesse as informações da
regulamentou também a responsabilidade pelo operação quando lhe for exigido.
vício do produto ou do serviço (arts. 18 a 25), em Assim, constata-se um desequilíbrio na relação de consumo, uma vez que o consumidor será
que a atenção se voltou à análise da efetiva vulnerável e hipossuficiente frente a instituição financeira por não possuir os documentos necessários
adequação à finalidade a que se destina. Previu, para comprovar seu direito.
assim, que o fornecedor responderá pelos As instituições financeiras não podem oferecer um comprovante condicionado a regras de
vícios de qualidade que tornem os serviços durabilidade e armazenamento, pois não compatível com a segurança e qualidade exigida na
impróprios ao consumo ou lhes diminuam o prestação de serviços.
valor ou, ainda, pelos decorrentes da Por fim, negou provimento ao recurso especial, mantendo a sentença da origem, apenas a abstenção
disparidade com as indicações constantes da da cobrança pela emissão de 2ª via do comprovante, em papel que não seja termossensível (sob pena
oferta ou da mensagem publicitária (art. 20). 2. de renovar o problema do desbotamento de informações), como suficiente para assegurar o
A noção de vício passou a ser objetivada, tendo cumprimento dos direitos do consumidor e dos preceitos da Lei n° 8.078/90 até que eventual
a norma trazido parâmetros a serem normativo disponha de forma diversa.
observados, independentemente do que fora Os Srs. Ministros Raul Araújo, Maria Isabel Gallotti (voto-vista), Antonio Carlos Ferreira (Presidente) e
disposto no contrato, além de ter estabelecido Marco Buzzi votaram com o Sr. Ministro Relator.
um novo dever jurídico ao fornecedor: o dever
de qualidade e funcionalidade, a ser analisado de
acordo com as circunstâncias do caso concreto,
devendo-se ter em conta ainda a efetiva
adequação à finalidade a que se destina e às
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XXXII EXAME DA ORDEM

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expectativas legítimas do consumidor com


aquele serviço, bem como se se trata de
obrigação de meio ou de resultado. 3. A
instituição financeira, ao emitir comprovantes
de suas operações por meio de papel
termossensível, acabou atraindo para si a
responsabilidade pelo vício de qualidade do
produto. Isso porque, por sua própria escolha,
em troca do aumento dos lucros - já que a
impressão no papel térmico é mais rápida e bem
mais em conta -, passou a ofertar o serviço de
forma inadequada, emitindo comprovantes cuja
durabilidade não atendem as exigências e as
necessidades do consumidor, vulnerando o
princípio da confiança. 4. É da natureza
específica do tipo de serviço prestado emitir
documentos de longa vida útil, a permitir que os
consumidores possam, quando lhes Documento:
1784887 - Inteiro Teor do Acórdão - Site
certificado - DJe: 05/06/2019 Página 1 de 6
Superior Tribunal de Justiça for exigido,
comprovar as operações realizadas. Em verdade,
a "fragilidade" dos documentos emitidos em
papel termossensível acaba por ampliar o
desequilíbrio na relação de consumo, em vista da
dificuldade que o consumidor terá em
comprovar o seu direito pelo desbotamento das
informações no comprovante. 5. Condicionar a
durabilidade de um comprovante às suas
condições de armazenamento, além de
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2ª FASE DIREITO CIVIL

incompatível com a segurança e a qualidade que


se exigem da prestação de serviços, torna a
relação excessivamente onerosa para o
consumidor, que, além dos custos de emitir um
novo recibo em outra forma de impressão
(fotocópia), teria o ônus de arcar, em caso de
perda, com uma nova tarifa pela emissão da 2ª
via do
recibo, o que se mostra abusivo e
desproporcional. 6. O reconhecimento da falha
do serviço não pode importar, por outro lado,
em repasse pelo aumento de tarifa ao
consumidor nem em prejuízos ao meio
ambiente. 7. Na hipótese, o serviço
disponibilizado foi inadequado e ineficiente,
porquanto incidente na frustração da legítima
expectativa de qualidade e funcionalidade do
consumidor-médio em relação ao
esmaecimento prematuro das impressões em
papel térmico, concretizando-se o nexo de
imputação na frustração da confiança a que fora
induzido o cliente. 8. Recurso especial não
provido.

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HOMOFOBIA E TRANSFOBIA:
AÇÃO DIRETADE INCONSTITUCIONALIDADE POR Compreende-se como homofobia, toda aversão irreprimível, discriminação, repugnância, medo, ódio,
ADO/26/DF OMISSÃO 26 DISTRITO FEDERAL preconceito, violência, atitudes e sentimentos negativos em relação a pessoas homossexuais e
RELATOR:MIN. CELSODE MELLO bissexuais.
ADO 26 / DF AM. CURIAE.:ASSOCIAÇÃO Do mesmo modo, compreende-se como transfobia, a repulsa, medo, discriminação violência, raiva,
NACIONALDE TRAVESTISETRANSSEXUAIS - aversão, e toda gama de sentimentos e atitudes negativas quanto aos transexuais, transgêneros ou em
ANTRAADV.(A/S):IGOR LUIS PEREIRAE SILVAE direção a transexualidade. Diferente da homofobia, que se refere à orientação sexual, este termo diz
OUTRO(A/S)AM. CURIAE.:DEFENSORIA PUBLICADO respeito à identificação de gênero.
DISTRITO FEDERALPROC.(A/S)(ES):DEFENSOR ARTIGOS RELACIONADOS:
PÚBLICO-GERALDO DISTRITO FEDERAL
• Art. 1º da Constituição Federal: A República Federativa do Brasil, formada pela união
Decisão: O Tribunal, por unanimidade, conheceu
indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado democrático de direito
parcialmente da ação direta de
e tem como fundamentos:
inconstitucionalidade por omissão. Por maioria e
nessa extensão, julgou-a procedente, com eficácia
III - a dignidade da pessoa humana;
geral e efeito vinculante, para: a) reconhecer o
• Art. 3º da Constituição Federal: Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do
estado de mora inconstitucional do Congresso
Brasil:
Nacional na implementação da prestação
legislativa destinada a cumprir o mandado de
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
incriminação a que se referem os incisos XLI e XLII
do art. 5º da Constituição, para efeito de proteção
penal aos integrantes do grupo LGBT; b) declarar, • Art. 5º da Constituição Federal: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
em consequência, a existência de omissão natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito
normativa inconstitucional do Poder Legislativo da à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes.
União; c) cientificar o Congresso Nacional, para os
fins e efeitos a que se refere o art. 103, § 2º, da XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais
Constituição c/c o art. 12-H, caput, da Lei nº XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos
9.868/99; d) dar interpretação conforme à termos da lei;
Constituição, em face dos mandados RESUMO DA DECISÃO:
constitucionais de incriminação inscritos nos Trata-se de Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão, que foi conhecida parcialmente e julgada
incisos XLI e XLII do art. 5º da Carta Política, para procedente, por unanimidade, com eficácia geral e efeito vinculante, pelo Supremo Tribunal Federal,
para efeito de proteção penal aos integrantes do grupo LGBTI+, para enquadrar homofobia e a
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enquadrar a homofobia e a transfobia, qualquer transfobia, qualquer que seja a forma de sua manifestação, nos diversos tipos penais definidos pela Lei
que seja a forma de sua nº 7.716/89, até que sobrevenha legislação autônoma, destinada a implementar os mandados de
criminalização definidos nos incisos XLI e XLII do art. 5º da Constituição Federal.
Nos termos do voto, as práticas transfóbicas e homofóbicas, qualificam-se como espécies do gênero
racismo, na dimensão de racismo social, na medida em que tais atos de segregação inferiorizam de
forma odiosa os membros integrantes do grupo LGBTI+, em razão de sua orientação sexual ou de sua
identidade de gênero, e também por tal comportamento de homotransfobia, ajustar-se ao conceito de
atos de discriminação e ofensa aos direitos e liberdades fundamentais daqueles que compõe o grupo
vulnerável em questão.
O racismo social, consagrado pelo STF, conceitua-se como aquele que está além de aspectos
estritamente biológicos ou fenotípicos, pois é motivado pelo objetivo de justificar a desigualdade e
destinada ao controle ideológico, à dominação política, à subjugação social, e a negação de alteridade
da dignidade e da humanidade, daqueles que, em uma dada estrutura social por não pertencerem ao
estamento, e integrarem um grupo que não detém hegemonia, são considerados estranhos ou
diferentes, sofrendo perversa estigmatização, expostos a uma situação de exclusão e consequente, à
margem do ordenamento jurídico quanto à proteção dos direitos.
De acordo com a tese fixada, a repressão penal à prática da homotransfobia, não alcança nem restringe
ou limita o exercício de liberdade religiosa. Dessa forma, é assegurado o direito de pregar, ensinar, e
divulgar livremente, pela palavra, imagem ou qualquer outro meio, seus pensamentos e convicções, de
acordo com o que se contiver em seus livros, códigos sagrados e orientação doutrinário-teológica,
podendo praticar os atos de culto e respectiva liturgia, independentemente do espaço público ou
privado, desde que tais manifestações não configurem discurso de ódio, compreendidas como aquelas
exteriorizações de incitem a discriminação, hostilidade ou violência contra pessoas, em razão de sua
orientação sexual ou identidade de gênero.

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RECURSO ESPECIAL Nº 1.707.405 - SP Síntese do processado:


(2017/0285776-3)RELATOR: MINISTRO RICARDO A presente demanda foi proposta por um locador de um imóvel comercial em face dos três locatários.
VILLAS BÔAS CUEVAR.P/ACÓRDÃO: MINISTRO O locador, ajuizou ação de execução de contrato de locação, tendo em vista que os locadores deixaram
RECURSO MOURA RIBEIRORECORRENTE: PAULO BRAGANTI de pagar 6 (seis) meses de aluguel.
ESPECIAL N° CAMILO RECORRENTE: DEONILDA RORATO A alegação dos locatários para a rescisão do contrato, foi o fato de que um incêndio impossibilitou o uso
1.707.405 – SP CAMILO RECORRENTE: PAULA RORATO CAMILO do imóvel, e assim, acreditaram que naquele momento, havia cessado a obrigação de pagar os aluguéis,
(2017/0285776- SARTORI ADVOGADOS: MAURO BASTOS VALBAO - bem como demais encargos, em virtude do perecimento.
3) SP049532 MARLY TEREZINHA MENDES MOREIRA A sentença de 1ª instância foi proferida, dando provimento aos embargos à execução opostos pelos
Matéria: Contrato COLOMBO - SP134403 RECORRIDO : WANDERLEI locatários, e determinou o arquivamento da execução.
de Locação GONCALVES REZENDE ADVOGADO: RICARDO O locador interpôs apelação, que foi provida, sob o argumento de que “tratando-se de aferir da
Comercial – PACHECO SIQUEIRA - SP188187 EMENTADIREITO obrigação de honrar o pagamento de alugueres e encargos, nenhuma dúvida de que a locatária e
Perecimento do CIVIL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. CONTRATO DE respectivos fiadores respondem pela dívida até a efetiva devolução do imóvel, com a entrega de chaves
bem em incêndio. LOCAÇÃO COMERCIAL. PERECIMENTO DO BEM EM disciplina a observar, à luz do contrato, também porque em sintonia com a natureza do vínculo.
DIREITO CIVIL INCÊNDIO. IRRESIGNAÇÃO SUBMETIDA AO NCPC. Danificado ou não, o certo é que o imóvel havia que restituir ao locador, desde logo, até mesmo para
ENTREGA DAS CHAVES EM MOMENTO POSTERIOR. que pudesse encaminhar providências, acautelatórias, depois corretivas, já na perspectiva de oportuna
IMPOSSIBILIDADE DE COBRANÇA DE ALUGUÉIS NO restauração e consequente reaproveitamento econômico.”
PERÍODO CORRESPONDENTE. RECURSO ESPECIAL Foram opostos embargos de declaração, porém, rejeitados.
PROVIDO.1. Aplicabilidade do NCPC a este recurso Os locadores opuseram Recurso Especial, alegando violação nos artigos 393 e 567, do CC e 26, da Lei n°
ante os termos do Enunciado Administrativo nº 3, 8.245/1991, que foi provido, com base no argumento de que não são exigíveis aluguéis no período
aprovado pelo Plenário do STJ na sessão de compreendido entre o incêndio que destruiu o imóvel objeto de locação comercial e a efetiva entrega
9/3/2016: Aos recursos interpostos com das chaves pelo locatário.
fundamento no CPC/2015 (relativos a decisões Artigos relacionados:
publicadas a partir de 18 de março de 2016) serão Artigo 393, do CC: O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior,
exigidos os requisitos de admissibilidade recursal se expressamente não se houver por eles responsabilizado.
na Artigo 567, do CC: Se, durante a locação, se deteriorar a coisa alugada, sem culpa do locatário, a este
forma do novo CPC. 2. Discute-se nos autos a caberá pedir redução proporcional do aluguel, ou resolver o contrato, caso já não sirva a coisa para o
exigibilidade dos aluguéis no período fim a que se destinava.
compreendido entre o incêndio que destruiu o Artigo 1.275, IV, do CC: Além das causas consideradas neste Código, perde-se a propriedade: IV - por
imóvel locado e a efetiva entrega das chaves pelo perecimento da coisa.
locatário.3. A locação consiste na cessão do uso ou
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gozo da coisa em troca de uma retribuição Artigo 2.036, do CC: A locação de prédio urbano, que esteja sujeita à lei especial, por esta continua a ser
pecuniária, isto é, tem por objeto poderes ou regida.
faculdades inerentes à propriedade. Assim, extinta Artigo 85, §11, CPC: A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do vencedor. §
a propriedade pelo perecimento do bem, também 11. O tribunal, ao julgar recurso, majorará os honorários fixados anteriormente levando em conta o
se extingue, a partir desse momento, a trabalho adicional realizado em grau recursal, observando, conforme o caso, o disposto nos §§ 2º a 6º,
possibilidade de usar, fruir e gozar desse mesmo sendo vedado ao tribunal, no cômputo geral da fixação de honorários devidos ao advogado do vencedor,
bem, o que inviabiliza, por conseguinte, a ultrapassar os respectivos limites estabelecidos nos §§ 2º e 3º para a fase de conhecimento.
manutenção do contrato de locação.4. O Artigo 5°, da Lei n° 8.245/1991: Seja qual for o fundamento do término da locação, a ação do locador
mutualismo que está na base dessa relação jurídica para reaver o imóvel é a de despejo.
pressupõe, necessariamente, a existência de Artigo 7°, da Lei n° 8.245/1991: Nos casos de extinção de usufruto ou de fideicomisso, a locação
prestações e contraprestações recíprocas, sendo celebrada pelo usufrutuário ou fiduciário poderá ser denunciada, com o prazo de trinta dias para a
certo que a quebra desse sinalagma pode desocupação, salvo se tiver havido aquiescência escrita do nuproprietário ou do fideicomissário, ou se
configurar enriquecimento sem causa vedado pelo a propriedade estiver consolidada em mãos do usufrutuário ou do fiduciário.
ordenamento pátrio.5. Recurso especial provido. Artigo 9°, da Lei n° 8.245/1991: A locação também poderá ser desfeita:
I - por mútuo acordo;
II - em decorrência da prática de infração legal ou contratual;
III - em decorrência da falta de pagamento do aluguel e demais encargos;
IV - para a realização de reparações urgentes determinadas pelo Poder Público, que não possam ser
normalmente executadas com a permanência do locatário no imóvel ou, podendo, ele se recuse a
consenti -las.
Artigo 22, III, da Lei n° 8.245/1991: O locador é obrigado a: III - manter, durante a locação, a forma e o
destino do imóvel.
Artigo 23, III, da Lei n° 8.245/1991: O locatário é obrigado a: III - restituir o imóvel, finda a locação, no
estado em que o recebeu, salvo as deteriorações decorrentes do seu uso normal.
Artigo 23, IV, da Lei n° 8.245/1991: O locador é obrigado a: IV - levar imediatamente ao conhecimento
do locador o surgimento de qualquer dano ou defeito cuja reparação a este incumba, bem como as
eventuais turbações de terceiros.
Artigo 26, da Lei n° 8.245/1991: Necessitando o imóvel de reparos urgentes, cuja realização incumba ao
locador, o locatário é obrigado a consenti-los.

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Artigo 39, da Lei n° 8.245/1991: Salvo disposição contratual em contrário, qualquer das garantias da
locação se estende até a efetiva devolução do imóvel, ainda que prorrogada a locação por prazo
indeterminado, por força desta Lei.
Artigo 79, da Lei n° 8.245/1991: No que for omissa esta lei aplicam-se as normas do Código Civil e do
Código de Processo Civil.
Artigo 4°, da LINDB: Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes
e os princípios gerais de direito.
Comentários:
O caso tratado examina a possibilidade do pagamento de aluguéis no período compreendido entre o
incêndio que destruiu o imóvel locado e a efetiva entrega das chaves pelo proprietário.
O locador alegou que o incêndio foi causado pela locatária, que o imóvel não foi completamente
destruído, e que não havia perdido o objeto, como afirmado pelos locatários.
Em contrapartida, a locatária, em sede de Recurso Especial, afirmou que as chaves sempre estiveram à
disposição do locador e pelo fato de que o incêndio foi provocado por caso fortuito, extinguiu-se
automaticamente o contrato, impossibilitando qualquer imputação de culpa aos locatários.
O principal questionamento levantado pelo Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, foi o fato de que os
locatários deixaram de comunicar ao locador, que tinham intensão em por fim ao contrato de locação e
com isso, o negócio deveria ter sido extinto somente na data da entrega das chaves, negando
provimento ao Recurso.
O voto do Ministro foi vencido, em virtude do fato de que em suma, a análise deveria ter sido feita, não
com base na comunicação ou não – esta que ensejaria em eventual ação de perdas e danos pelo locador,
e não de execução de contrato.
O voto vencedor, foi proferido pelo Ministro Moura Ribeiro, que brilhantemente destacou que o caso
em tela, refere-se ao perecimento do imóvel, e não da deterioração, ou seja, o perecimento diz respeito
à impossibilidade do uso, e não simplesmente um dano ou defeito causado no imóvel.
Desta forma, entendeu o Ministro que pelo fato do imóvel ter perdido a utilidade, automaticamente
extinguiu-se o contrato de locação e consequente impedia a cobrança dos aluguéis.
Destaca, ainda, que caso o locador pleiteasse algum tipo de indenização, estas deveriam ser relativas à
perdas e danos, e não a efetiva execução do contrato que cobrava os aluguéis.
Por fim, o Recurso Especial, foi provido por maioria dos votos.
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Síntese do processado:
O presente caso trata-se uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI), proposta pela Procuradoria
ADI – 4439 - STF Geral da República, que teve como objeto o caput e os §§ 1° e2°, do artigo 33, da Lei n° 9.394/96 (Lei de
Autoriza ensino Diretrizes e Bases da Educação Nacional – “LDB”) e o artigo 11, § 1°, do “Acordo entre o Governo da
religioso República Federativa do Brasil e a Santa Sé Relativo ao Estatuto Jurídico da Igreja Católica no Brasil.
confessional nas Ação buscava, sobretudo, conferir interpretação conforme a Constituição Federal, para determinar que
escolas públicas o ensino religioso em escolas públicas, somente poderia ter caráter não confessional, vedando-se a
admissão de professores que fossem representantes das confissões religiosas ou que, subsidiariamente
O Tribunal, por maioria, julgou improcedente a a declaração de inconstitucionalidade do trecho “católico e de outras confissões religiosas”, dispostas
ação direta de inconstitucionalidade, vencidos os no artigo 11, § 1°, do Acordo Brasil-Santa Sé.
Ministros Roberto Barroso (Relator), Rosa Weber, A Procuradoria defendia que a única forma de compatibilizar o caráter laico do Estado brasileiro com
Luiz Fux, Marco Aurélio e Celso de Mello. Ausente, ensino religioso nas escolas públicas consistia na adoção do modelo não-confessional, ou seja, a
justificadamente, o Ministro Dias Toffoli, que disciplina deveria ter como conteúdo programático a exposição das doutrinas, práticas, história e
proferiu voto em assentada anterior. Redator para dimensões sociais das diferentes religiões, incluindo posições não-religiosas, “sem qualquer tomada de
o acórdão o Ministro Alexandre de Moraes. partido por parte dos educadores”, e deveria ser ministrada por professores regulares da rede pública
Presidiu o julgamento a Ministra Cármen Lúcia. de ensino, e não por “pessoas vinculadas às igrejas ou confissões religiosas. Ainda a faculdade da
Plenário, 27.9.2017. matrícula já demonstrava que não havia proselitismo.
A Presidência da República manifestou-se no sentido de que não havia qualquer descompasso entre as
normas impugnadas e a Constituição Federal, tendo em vista que a laicidade do Estado não indica que
a única modalidade de ensino religioso que pode ser ministrada nas escolas públicas seja aquela de
caráter não-confessional, permitindo, em verdade, qualquer um dos três modelos. Por fim, alegou que
o pedido relativo à proibição de admissão de professores na qualidade de representantes de confissões
religiosas era incabível, tendo em vista que as condições de admissão e habilitação de professores em
escolas públicas devem servir ao melhor interesse da educação dos alunos. Em relação ao Acordo Brasil-
Santa Sé, sustenta que a expressão “católico e de outras religiões” não comprometia a
constitucionalidade do texto, mas apenas corroborava com os princípios constitucionais da liberdade
religiosa, da laicidade do Estado e do respeito à diversidade religiosa do país, representando um esforço

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para que a orientação religiosa da proponente do Acordo não significasse a discriminação das diferentes
confissões.
A Câmara dos Deputados limitou-se a afirmar que o Decreto Legislativo foi processado dentro dos mais
estritos trâmites constitucionais e regimentais e a Advocacia Geral da União também se manifestou pela
improcedência do pedido, evidenciando que: “o ensino religioso a ser ministrado nas escolas públicas
não tem cunho aconfessional, pois, se possuísse essa natureza, não haveria razão para que fosse de
matrícula facultativa aos alunos”.
Foi realizada uma audiência pública e dos 31 participantes, 23 defenderam a procedência da ação e
outros 8, defenderam a improcedência.
O julgamento teve quatro sessões, e por 6 votos a 5, o STF decidiu que o ensino religioso ministrado em
escolas públicas pode ser confessional, ou seja, pode promover crenças específicas, julgando a ação
improcedente.
Artigos relacionados:
Artigo 33, § 1° e § 2°, da Lei n° 9.394/96: O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante
da formação básica do cidadão e constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino
fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas
de proselitismo.
§ 1º Os sistemas de ensino regulamentarão os procedimentos para a definição dos conteúdos do ensino
religioso e estabelecerão as normas para a habilitação e admissão dos professores.
§ 2º Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituída pelas diferentes denominações religiosas,
para a definição dos conteúdos do ensino religioso.
Artigo 11, § 1°, do “Acordo entre o Governo da República Federativa do Brasil e a Santa Sé Relativo ao
Estatuto Jurídico da Igreja Católica no Brasil: O ensino religioso, católico e de outras confissões religiosas,
de matrícula facultativa, constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino
fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, em conformidade com a
Constituição e as outras leis vigentes, sem qualquer forma de discriminação.
Artigo 19, I, da CF: É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I - estabelecer
cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou
seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de
interesse público;
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Artigo 210, § 1°, da CF: Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de maneira a
assegurar formação básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais. §
1º O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais das escolas
públicas de ensino fundamental.
Comentários:
O tema discutido é bastante polêmico e extenso. Apesar da decisão, muitos pontos e questões
foram levantados durante a trajetória da discussão.
A Constituição Federal prevê o ensino religioso nas escolas públicas, mas é clara ao estabelecer que
se trata de uma faculdade do aluno ou dos pais, sem qualquer prejuízo de notas ou faltas, não sendo
um requisito determinante para a aprovação no ano letivo.
A PGR propunha que os professorem não pudessem ser representantes religiosos, para que as aulas
se limitassem a exposições do modelo não-confessional.
Acontece que a Corte entendeu que o fato do Estado ser laico, não significa que ele deve atuar
contra as religiões, inclusive na espera pública, até pelo fato de que se tratando de uma faculdade,
ninguém é obrigado a se matricular na disciplina.
Assim, ficou permitido o ensino confessional, e, também, o interconfessional, com aulas baseadas
em valores e práticas religiosas comuns a todas as religiões.
A Ministra Cármen Lúcia também destacou o caráter facultativo da disciplina. “Não fosse com
conteúdo específico de alguma religião ou de várias religiões, não vejo por que seria facultativa essa
disciplina. Se fosse história das religiões ou filosofia, isso se tem como matéria que pode
perfeitamente e é oferecida no ensino público”.
Os ministros que votaram contra, defenderam, sobretudo, que o Estado é laico e por isso não deve
haver qualquer tipo de doutrina religiosa nas escolas públicas.
Além disso, acreditam que nas escolas particulares, os pais podem optar pela escolha da religião
dos filhos, e na escola pública, não, destacando, principalmente que deveria haver uma
neutralidade na educação que não pudesse influenciar diretamente o aluno, no que diz respeito à
religião.
Por fim, a maioria dos Ministros entendeu que os educadores podem ter a liberdade de promover
as suas crenças em sala de aula, pois o aluno continuaria tendo a possibilidade de decidir se queria
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2ª FASE DIREITO CIVIL

ou não ter a aula de ensino religioso, sem qualquer prejuízo, e que tal fato, em nada afetaria o
Estado ser laico.

O Tribunal, apreciando o tema 500 da


repercussão geral, deu parcial provimento ao
RECURSO recurso extraordinário, nos termos do voto do
EXTRAORDINARIO Ministro Roberto Barroso, Redator para o
657718 acórdão, vencidos os Ministros Marco Aurélio
(Relator) e Dias Toffoli (Presidente). Em
seguida, por maioria, fixou-se a seguinte tese:
“1. O Estado não pode ser obrigado a fornecer
medicamentos experimentais. 2. A ausência
de registro na ANVISA impede, como regra
geral, o fornecimento de medicamento por
decisão judicial. 3. É possível,
excepcionalmente, a concessão judicial de
medicamento sem registro sanitário, em caso
de mora irrazoável da ANVISA em apreciar o
pedido (prazo superior ao previsto na Lei nº
13.411/2016), quando preenchidos três
requisitos: (i) a existência de pedido de
registro do medicamento no Brasil (salvo no

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2ª FASE DIREITO CIVIL

caso de medicamentos órfãos para doenças


raras e ultrarraras);(ii) a existência de registro
do medicamento em renomadas agências de
regulação no exterior; e (iii) a inexistência de
substituto terapêutico com registro no Brasil.
4. As ações que demandem fornecimento de
medicamentos sem registro na ANVISA
deverão necessariamente ser propostas em
face da União”, vencido o Ministro Marco
Aurélio. Ausente, justificadamente, o
Ministro Celso de Mello. Plenário,
22.05.2019.

PROPOSTA DE AFETAÇÃO. RECURSO ESPECIAL • Primeiro devemos observar que a questão referente aos prazos alternativos de tolerância para
CONTRA ACÓRDÃO PROFERIDO EM INCIDENTE DE a entrega do imóvel foi dirimida pela Corte de origem(TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO) em
ProAfR no RECURSO RESOLUÇÃO DE DEMANDAS REPETITIVAS - IRDR. relação aos contratos do Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV) que continham a seguinte
ESPECIAL Nº ART. 256-H DO RISTJ C/C O ART. 1.037 DO cláusula “o promitente comprador declara ter conhecimento de que a data de entrega das chaves retro
1.729.593 - SP CPC/2015. PROCESSAMENTO SOB O RITO DOS mencionada é estimativa e que poderá variar de acordo com a data de assinatura do contrato de
(2018/0057203-9) RECURSOS ESPECIAIS REPETITIVOS. COMPRA E financiamento junto à Caixa Econômica Federal. Prevalecerá como data de entrega das chaves, para
VENDA DE IMÓVEL NA PLANTA. CONTROVÉRSIAS quaisquer fins de direito, 24 (vinte e quatro) meses após a assinatura do referido contrato junto ao
ENVOLVENDO OS EFEITOS DO ATRASO NA agente financeiro” (e-STJ, fl. 1.244), sendo essa a situação fática específica na qual surgiu a
ENTREGA DO BEM. controvérsia. O debate em relação ao tema decorreu da definição da aplicabilidade ou não do art. 34
1.) As questões controvertidas consistem em da Lei 4.591/64 e da incidência dos princípios protetivos do consumidor inscritos no CDC, e esteve
definir se: centrada na possibilidade de fixação de prazos alternativos e estimativos para a entrega das chaves –
1.1) na aquisição de unidades autônomas futuras, subordinados à obtenção do financiamento – e na abusividade de referida cláusula. Prevaleceu, no
financiadas na forma associativa, o contrato acórdão recorrido, a tese de que o CDC impõe que o prazo para a entrega das chaves seja: a) certo e
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2ª FASE DIREITO CIVIL

deverá estabelecer de forma expressa, clara e b) estabelecido de forma clara, expressa e inteligível no contrato. A questão submetida ao exame desta
inteligível, o prazo certo para a formação do grupo Corte por meio dos recursos especiais refere-se unicamente à necessidade de que o prazo para a
de adquirentes e para a entrega do imóvel. formação do grupo de adquirentes e para a entrega das chaves seja certo, defendendo os recorrentes
1.2) o atraso da entrega do imóvel objeto de que pode ser fixado como mera estimativa. Assim, com a mais respeitosa vênia do e. Min. Relator,
compromisso de compra e venda gera, para o proponho a alteração da delimitação do tema a ser enfrentado por esta 2ª Seção, para que passe a ser
promitente vendedor, a obrigação de indenizar o assim redigido: definir se, nas promessas de compra e venda de imóveis (unidades autônomas)
adquirente pela privação injusta do uso do bem, na financiadas de forma associativa (Programa Minha Casa Minha Vida), os prazos para a formação do
forma de valor locatício, que pode ser calculado grupo de adquirentes e de entrega das chaves são, para cada adquirente, meramente estimativos ou
em percentual sobre o valor atualizado do certos, determinados e peremptórios.
contrato ou de mercado, correspondente ao que • Já no que tange ao atraso na entrega entrega das chaves, objeto de compromisso de compra
este deixou de receber, ou teve de pagar para fazer e venda, sendo essa a situação fática específica na qual surgiu a controvérsia. O debate realizado na
uso de imóvel semelhante, com termo final na Corte de origem cingiu-se à definição da natureza jurídica dos danos suportados pelo adquirente pela
data da disponibilização da posse direta da privação do uso do imóvel e do critério a ser utilizado para o cálculo do valor da indenização.
unidade autônoma já regularizada. Prevaleceu no Tribunal de origem a tese de que os danos teriam a natureza de lucros cessantes, que
1.3) é lícito o repasse dos "juros de obra", ou “juros seria presumido o prejuízo do promissário comprador e que a indenização obedeceria ao valor
de evolução da obra”, ou “taxa de evolução da locatício – calculado pela média de mercado do aluguel de um imóvel pronto e de preço compatível
obra”, ou outros encargos equivalentes, após o com o do total do contrato – que teria ilegitimamente deixado de receber o comprador ou que teria
prazo ajustado no contrato para entrega das sido forçado a despender em virtude da privação injusta do uso do bem. A questão submetida ao
chaves da unidade autônoma, incluído o período exame desta Corte por meio dos recursos especiais refere-se à necessidade de prova de prejuízo, a
de tolerância. cargo do promissário comprador, para a condenação à indenização de lucros cessantes, sob pena de
1.4) o descumprimento do prazo de entrega de se configurar dano hipotético, a definir se a indenização deve corresponder ao montante já investido
imóvel objeto de compromisso de venda e no financiamento ou ao valor total do imóvel e a estipular se o valor locatício pode ser aplicado aos
compra, computado o período de tolerância, faz contratos firmados no Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV). Assim, com a mais respeitosa
cessar a incidência de correção monetária sobre o vênia do e. Min. Relator, proponho a alteração da delimitação do tema a ser enfrentado por esta 2ª
saldo devedor com base em indexador setorial, Seção, para que passe a ser assim redigido: definir se, em virtude do atraso na entrega das chaves do
que reflete o custo da construção civil, o qual imóvel, é necessária a prova de prejuízo pelo promissário comprador para que o promitente vendedor
deverá ser substituído por indexador geral, salvo – construtora, incorporadora ou ambas – seja condenado a reparar os danos decorrentes da privação
quando este último for mais gravoso ao injusta do uso do bem; qual a base de cálculo desse prejuízo – se o valor investido ou o total do
consumidor. contrato –; se pode ser calculado na forma de valor locatício e se referido entendimento se aplica aos
contratos firmados no Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV).
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2. RECURSO ESPECIAL AFETADO AO RITO DO ART. • No que tange aos “juros de obra”, “juros de evolução da obra” ou “taxa de evolução da obra”
1.036 CPC/2015. foi examinado nos contratos submetidos ao Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV) em que
ocorreu a mora na conclusão da obra e entrega das chaves ao adquirente, sendo essa a situação fática
ACÓRDÃO: específica na qual surgiu a controvérsia. Prevaleceu no Tribunal de origem a tese de que, ao atrasar a
entrega das chaves, o promitente vendedor impede que o promissário comprador inicie a amortização
A Segunda Seção, por unanimidade, afetou o do principal do valor do financiamento, razão pela qual o repasse dos citados “juros de obra”, “juros
processo ao rito dos recursos repetitivos (RISTJ, de evolução da obra” ou “taxa de evolução da obra” ao consumidor seria ilegítima. A questão
art. 257-C) e, por unanimidade, não suspendeu a submetida ao exame desta Corte por meio dos recursos especiais refere-se à limitação parcial da tese
tramitação de processos pendentes, nos termos da firmada no IRDR, que possibilitaria a ocorrência de enriquecimento sem causa do promissário
comprador, pois os “juros de obra”, “juros de evolução da obra” ou “taxa de evolução da obra” seriam
proposta e do aditamento feito pelo Sr. Ministro
encargos devidos independentemente do atraso na entrega das chaves. Defende-se, assim, que o
Relator, para uniformizar o entendimento da ressarcimento de referidas taxas ou juros deveria limitar-se aos fatos geradores posteriores ao prazo
Seção sobre os seguintes temas: 1.1) na aquisição para a entrega das chaves. Assim, com a mais respeitosa vênia do e. Min. Relator, proponho a alteração
de unidades autônomas futuras, financiadas na da delimitação do tema a ser enfrentado por esta 2ª Seção, para que passe a ser assim redigido: definir
forma associativa, o contrato deverá estabelecer se, nos contratos submetidos ao Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV), em virtude do atraso na
de forma expressa, clara e inteligível, o prazo certo entrega das chaves do imóvel, o promitente vendedor é obrigado a indenizar o promissário comprador
para a formação do grupo de adquirentes e para a pelos “juros de obra”, “juros de evolução da obra” ou “taxa de evolução da obra” que teve de arcar
juntoà instituição financiadora, e quais os limites dessa eventual indenização.
entrega do imóvel. 1.2) o atraso da entrega do
• Em se tratando do congelamento do saldo devedor e suspensão do pagamento das parcelas
imóvel objeto de compromisso de compra e venda do financiamento enquanto a unidade autônoma não for entregue aos adquirentes, foi examinado à
gera, para o promitente vendedor, a obrigação de luz do atraso da construtora/incorporadora na entrega das chaves, sendo essa a situação fática
indenizar o adquirente pela privação injusta do uso específica na qual surgiu a controvérsia. Prevaleceu no Tribunal de origem a tese de que, em respeito
do bem, na forma de valor locatício, que pode ser à exceção de contrato não cumprido (art. 477 do CC/02), o adquirente pode suspender o pagamento
calculado em percentual sobre o valor atualizado das parcelas do preço que se vencerem no mesmo prazo e em datas posteriores à mora da
do contrato ou de mercado, correspondente ao construtora/incorporadora. Segundo o acórdão recorrido, a suspensão do pagamento impede a
incidência de juros, mas não paralisa a correção monetária do saldo devedor, por se tratar de modo
que este deixou de receber, ou teve de pagar para
de preservação do valor real da moeda. Após o prazo para a entrega da obra, no entanto, deixaria de
fazer uso de imóvel semelhante, com termo final ser aplicável o INCC, devendo ser aplicáveis outros indexadores gerais, salvo se mais gravosos ao
na data da disponibilização da posse direta da consumidor. A questão submetida ao exame desta Corte por meio dos recursos especiais refere-se à
unidade autônoma já regularizada. 1.3) é lícito o limitação parcial da tese firmada no IRDR, para que não seja admitida a substituição do INCC pelos
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repasse dos "juros de obra", ou “juros de evolução índices gerais de correção monetária, até o momento da efetiva entrega das chaves. Assim, com a mais
da obra”, ou “taxa de evolução da obra”, ou outros respeitosa vênia do e. Min. Relator, proponho a alteração da delimitação do tema a ser enfrentado por
encargos equivalentes, após o prazo ajustado no esta 2ª Seção, para que passe a ser assim redigido: definir se, a partir da configuração do atraso na
entrega das chaves do imóvel, o adquirente deve arcar com a correção monetária do saldo devedor
contrato para entrega das chaves da unidade
do financiamento segundo o INCC ou segundo índice geral de correção e se deve prevalecer o índice
autônoma, incluído o período de tolerância. 1.4) o que lhe for mais benéfico.
descumprimento do prazo de entrega de imóvel
objeto de compromisso de venda e compra,
computado o período de tolerância, faz cessar a
incidência de correção monetária sobre o saldo
devedor com base em indexador setorial, que
reflete o custo da construção civil, o qual deverá
ser substituído por indexador geral, salvo quando
este último for mais gravoso ao consumidor.

RECURSO Ementa: DIREITO CONSTITUCIONAL E CIVIL. O Supremo Tribunal Federal finalizou, no dia 10 de maio de 2017, o julgamento sobre a
EXTRAORDINARIO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO inconstitucionalidade do art. 1.790 do Código Civil, através do julgamento do recurso extraordinário
646.721 GERAL. APLICAÇÃO DO ARTIGO 1.790 DO CÓDIGO nº 878.694/MG, que teve como relator o ministro Luís Roberto Barroso.
(Vide Recurso CIVIL À SUCESSÃO EM UNIÃO ESTÁVEL
Extraordinário nº HOMOAFETIVA. INCONSTITUCIONALIDADE DA No caso que deu ensejo ao mencionado recurso extraordinário, a decisão do magistrado de primeiro
878.694) DISTINÇÃO DE REGIME SUCESSÓRIO ENTRE grau reconheceu ser a companheira de um homem falecido a herdeira universal dos bens do casal, vez
CÔNJUGES E COMPANHEIROS. 1. A Constituição que o falecido não tinha descendentes e nem ascendentes vivos, aplicando ao caso o inciso III do 1829
brasileira contempla diferentes formas de família CC/02, portanto, dando tratamento igual ao instituto da união estável em relação ao casamento.
legítima, além da que resulta do casamento. Nesse
rol incluem-se as famílias formadas mediante No referido caso, o falecido possuía irmãos vivos (colaterais de 2º grau), que se aplicado o art. 1790
união estável, hetero ou homoafetivas. O STF já CC/02, de acordo com o inciso III, estes concorreriam à herança junto com a companheira, ficando esta
reconheceu a “inexistência de hierarquia ou apenas com um terço da massa patrimonial do falecido.
diferença de qualidade jurídica entre as duas
formas de constituição de um novo e

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autonomizado núcleo doméstico”, aplicando-se a A decisão do STF igualou cônjuges e companheiros para fins de recebimento de herança ou legado
união estável entre pessoas do mesmo sexo as (fins sucessórios), sendo aplicadas aos companheiros as mesmas regras aplicadas aos cônjuges, ou
mesmas regras e mesas consequências da união seja, tanto para a união estável, quanto para o casamento, no tocante à divisão de herança, serão
estável heteroafetiva (ADI 4277 e ADPF 132, Rel. aplicadas as regras do art. 1829 CC/02, devido ao reconhecimento da inconstitucionalidade do art.
Min. Ayres Britto, j. 05.05.2011) 2. Não é legítimo 1970 CC/02, que regia o efeito sucessório entre os companheiros.
desequiparar, para fins sucessórios, os cônjuges e
os companheiros, isto é, a família formada pelo A aludida decisão tem como ponto principal resolver a grande instabilidade jurídica sucessória
casamento e a formada por união estável. Tal verificada no Brasil desde a vigência do Código Civil de 2002, colocando fim a debates sobre a
hierarquização entre entidades familiares é inconstitucionalidade ou não do art. 1.790 do Código Civil.
incompatível com a Constituição de 1988. Assim
sendo, o art. 1790 do Código Civil, ao revogar as Dessa forma, tendo prevalecido essa forma de julgar, além da retirada do sistema do art. 1.790 do
Leis nº 8.971/1994 e nº 9.278/1996 e discriminar a Código Civil, o companheiro passa a figurar ao lado do cônjuge na ordem de sucessão legítima (art.
companheira (ou o companheiro), dando-lhe 1.829). Na falta de descendentes e de ascendentes, o companheiro recebe a herança sozinho, como
direitos sucessórios bem inferiores aos conferidos ocorre com o cônjuge, excluindo os colaterais até o quarto grau (irmãos, tios, sobrinhos, primos, tios
à esposa (ou ao marido), entra em contraste com avôs e sobrinhos-netos).
os princípios da igualdade, da dignidade humana,
da proporcionalidade como vedação à proteção No recurso em tela, o julgamento repercutido do RE nº878.694 foi utilizado não só para apontar a
deficiente e da vedação do retrocesso. 3. Com a impossibilidade de distinção sucessória entre companheiros e cônjuges, como ainda acentua a
finalidade de preservar a segurança jurídica, o inconstitucionalidade de não se reconhecer como válidas e eficazes as relações homossexuais.
entendimento ora firmado é aplicável apenas aos
inventários judiciais em que não tenha havido Daí porque, uma vez já reconhecido pelo STF a “inexistência de hierarquia ou diferença de qualidade
trânsito em julgado da sentença de partilha e às jurídica entre as duas formas de constituição de um novo e autonomizado núcleo doméstico”, seja
partilhas extrajudiciais em que ainda não haja quanto a homo ou heteroafetividade ou ainda as relações advindas do casamento ou união estável, a
escritura pública. 4. Provimento do recurso discussão sucessória deve ser igualitária, sendo inconstitucional – pois fere princípios e premissas
extraordinário. Afirmação, em repercussão geral, basilares do direito brasileiro – a distinção feita pelo artigo 1.790 do CC.
da seguinte tese: “No sistema constitucional
vigente, é inconstitucional a distinção de regimes Importa salientar todavia, que ainda há controvérsias quanto ao companheiro ser ou não herdeiro
sucessórios entre cônjuges e companheiros, necessário, tal como foi o cônjuge eleito no artigo 1.845 do Código Civil.
devendo ser aplicado, em ambos os casos, o
regime estabelecido no art. 1.829 do CC/2002”.
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A corrente majoritária da jurisprudência e doutrina entendem que não seria possível através do
julgamento de inconstitucionalidade do artigo 1790 do Código Civil, que fazia diferenciação na herança
legitima entre cônjuge e companheiro, ter este atingido também o conteúdo do artigo 1845 que
estabelece quem é herdeiro necessário.

É que, em se tratando o artigo 1845 do rol dos herdeiros necessários, de rol taxativo não se pode dar
interpretação que amplie a norma restritiva.

Com efeito, no julgamento do RE o STF não fez essa inclusão, muito pelo contrário, tal como se
depreende do voto do ministro Edson Fachin: “Na sucessão, a liberdade patrimonial dos conviventes
já e assegurada com o não reconhecimento do companheiro como herdeiro necessário, podendo-se
afastar os efeitos sucessórios por testamento. Prestigiar a maior liberdade na conjugalidade informal
não é atribuir, a priori, menos direitos ou direitos diferentes do casamento, mas, sim, oferecer a
possibilidade de, voluntariamente, excluir os efeitos sucessórios”.

Em suma, a equiparação feita pelo STF limitou-se às regras relativas à concorrência sucessória e cálculo
dos quinhões hereditários facultativos para que os companheiros não fiquem em desvantagem aos
colaterais, sendo certo que o artigo 1845 é nítida norma restritiva de direitos, de forma que não se
pode dar interpretação ampliativa à norma restritiva.

Dessa forma, conclui-se que os companheiros não são herdeiros necessários. Tal interpretação apenas
ocorrerá em caso de alteração da legislação, ou então, com nova interpretação do STF nesse sentido.

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Arguição de Síntese do processado: Principais artigos relacionados:


Descumprimento de
Preceito Na presente ação, o STF julgou procedente a Art. 5°, da Constituição Federal:
Fundamental 130 Arguição de Descumprimento de Preceito IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;
Fundamental – ADPF nº 130/DF, ajuizada pelo Partido V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano
Democrático Trabalhista – PDT em face da Lei nº 5.250, material, moral ou à imagem;
de 9 de fevereiro de 1967, que regula a liberdade de IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação,
pensamento e de manifestação, declarando que a independentemente de censura ou licença;
referida lei, também conhecida como Lei de Imprensa X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito
não havia sido recepcionada pela Carta Magna sob a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;
argumento de ferir os princípios da nova Constituição XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem de autorização,
Federal. sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento;
XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário
O principal fundamento dizia respeito à ao exercício profissional;
“declaração, com eficácia geral e efeito vinculante, de
que determinados dispositivos da Lei de Imprensa (a) Art. 222, da Constituição Federal: A propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão sonora e
não foram recepcionados pela Constituição Federal de de sons e imagens é privativa de brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos, ou de pessoas jurídicas
1988 e (b) outros carecem de interpretação conforme constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sede no País. (Redação dada pela Emenda Constitucional n° 36,
com ela compatível (...)”, e tinha como principal de 2002)
objetivo evitar que a antiguidade de normas legais, não § 1° Em qualquer caso, pelo menos setenta por cento do capital total e do capital votante das
viessem a distorcer os direitos protegidos empresas jornalísticas e de radiodifusão sonora e de sons e imagens deverá pertencer, direta ou indiretamente,
constitucionalmente pela nova ordem. a brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos, que exercerão obrigatoriamente a gestão das
atividades e estabelecerão o conteúdo da programação. (Redação dada pela Emenda Constitucional n° 36, de
O Ministro Relator Ayres Britto, considerou 2002);
essencial às atividades relacionadas à imprensa, seja § 2° A responsabilidade editorial e as atividades de seleção e direção da programação veiculada são
como uma instituição-ideia ou uma instituição- privativas de brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos, em qualquer meio de comunicação
entidade, considerando a imprensa como um social. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 36, de 2002);
patrimônio imaterial que representa a evolução § 3° Os meios de comunicação social eletrônica, independentemente da tecnologia utilizada para a
político-cultural de um povo. prestação do serviço, deverão observar os princípios enunciados no art. 221, na forma de lei específica, que
também garantirá a prioridade de profissionais brasileiros na execução de produções nacionais. (Incluído pela
Diante das argumentações, o STF tratou a Emenda Constitucional nº 36, de 2002);
imprensa como um conjunto de “atividades” que § 4° Lei disciplinará a participação de capital estrangeiro nas empresas de que trata o § 1°. (Incluído
possui a dimensão de instituição-ideia, e que a pela Emenda Constitucional nº 36, de 2002);

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Constituição trata como equivalentes a liberdade de § 5° As alterações de controle societário das empresas de que trata o § 1° serão comunicadas ao
informação com a liberdade de imprensa, que é, Congresso Nacional. (Incluído pela Emenda Constitucional n° 36, de 2002).
segundo o Supremo, radicalizado com o tratamento
conferido pelo Capítulo V do Título VIII da Constituição, Art. 220, da Constituição Federal: A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a
que põe a salvo de qualquer restrição à liberdade de informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto
pensamento, criação, expressão e informação. De fato, nesta Constituição.
o STF considerou que os direitos referentes à liberdade § 5º Os meios de comunicação social não podem, direta ou indiretamente, ser objeto de monopólio
de expressão são, na realidade, “sobredireitos”. ou oligopólio.
Na mesma linha, outro assunto tratado na Art. 223. Compete ao Poder Executivo outorgar e renovar concessão, permissão e autorização para o
decisão do STF, diz respeito à possibilidade de serviço de radiodifusão sonora e de sons e imagens, observado o princípio da complementaridade dos sistemas
autorregulação do setor de comunicação. O acórdão privado, público e estatal.
proferido, é favorável ao mecanismo utilizado como
forma de ajustar os limites da liberdade de imprensa Comentários:
ao sentimento da sociedade civil, apesar da questão
não ter sido sequer abordada pelo arguente nos autos O caso tratado examinou a liberdade de imprensa que foi considerada um sobredireito.
da ação.
O fato que mais se destaca é quanto ao principal argumento do STF, que subsistiu, sobretudo na
Os votos proferidos pelos Ministros, foram qualidade do direito fundamental envolvido, qual seja, a liberdade de imprensa propriamente dita.
amplamente abordadas às possibilidades de se
preservar partes da Lei nº 5.250/67, principalmente no Observamos que não é clara a visão do tribunal constitucional, do que deve ser entendido por
que tange à regulamentação do direito de resposta, sobredireito, mas na aplicação desse conceito pode-se entender melhor sua natureza, que nada mais é do que
com prazos, requisitos procedimentos especiais que um direito que, por meios racionais, o jurista compreende como racionalmente superior aos demais, inclusive
estavam previstos na Lei de Imprensa. Ocorre que o com uma prevalência lógico-temporal em sua aplicação.
STF já declarou a impossibilidade que qualquer
legislação que disponha de maneira orgânica sobre a Os ministros Eros Grau, Menezes Direito, Cármen Lúcia, Ricardo Lewandowski, Cezar Peluso e Celso
imprensa, por ofensa ao mandamento constitucional de Mello, além do relator, ministro Carlos Ayres Britto, votaram pela total procedência da ADPF 130, e os
que impõe a “plena liberdade” de expressão, ministros Joaquim Barbosa, Ellen Gracie e Gilmar Mendes se pronunciaram pela parcial procedência da ação e
manifestação e pensamento. o ministro Marco Aurélio, pela improcedência.

Assim, devido à incompatibilidade da O entendimento do Ministro Ayres Britto foi que a Lei de Imprensa não poderia permanecer no
legislação com a plena liberdade, não era possível ordenamento jurídico brasileiro, por ser incompatível com a Constituição Federal de 1988. O ministro Eros Grau
legislar com relação ao sobredireito traduzido na adiantou seu voto, acompanhando o relator sendo acompanhados, também pelo Ministro Menezes Direito, que
liberdade de imprensa, e o STF declarou que a Lei nº destacou que a imprensa é a única instituição "dotada de flexibilidade para publicar as mazelas do Executivo",

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5.250/67, não foi recepcionada pela Constituição sendo reservada a outras instituições a tarefa de tomar atitudes a partir dessas descobertas. Segundo ele, a
Federal. imprensa apresentava uma missão democrática, pois o cidadão depende dela para obter informações e relatos
com as avaliações políticas em andamento e as práticas do governo. Por isso, essa instituição precisa ter
autonomia em relação ao Estado.

A Ministra Cármen Lúcia, destacou que o fundamento da Constituição Federal é o da democracia e


que não há qualquer contraposição entre a liberdade de expressão e de imprensa com o valor da dignidade da
pessoa humana, invocando o segundo princípio é reforçado diante de uma sociedade com imprensa livre.

Diferentemente dos Ministros supracitados, o Ministro Joaquim Barbosa, acompanhado pelos


Ministros Gilmar Mendes e Ellen Gracie votou pela parcial procedência do pedido, ressalvando os artigos 20, 21
e 22, da Lei de Imprensa. De acordo com ele, esses artigos que versam sobre figuras penais ao definir os tipos
de calúnia, injúria e difamação no âmbito da comunicação pública e social são compatíveis com a Constituição
Federal. "O tratamento em separado dessas figuras penais quando praticadas através da imprensa se justifica
em razão da maior intensidade do dano causado à imagem da pessoa ofendida".

O único voto contrário, do Ministro Marco Aurélio, entendeu que: "Deixemos à carga de nossos
representantes, dos representantes do povo brasileiro, a edição de uma lei que substitua essa, sem ter-se
enquanto isso o vácuo que só leva à babel, à bagunça, à insegurança jurídica, sem uma normativa explícita da
matéria", que em diversas ocasiões, questionou qual preceito fundamental estaria sendo violado pela Lei de
Imprensa.

Por fim, após longo julgamento, 7 dos 11 ministros da Corte concluíram que a Lei de 1967, era
incompatível com a atual Constituição, que é repleta de garantias à liberdade de expressão, e a partir da decisão,
os juízes passaram a se basear na Constituição Federal nos Códigos Penal e Civil, para julgar ações contra
jornalistas.

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Ação Direta de
Inconstitucionalidade Principais artigos relacionados:
Síntese do processado:
4815
Art. 20, do Código Civil: Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à
A presente ação levanta a polêmica acerca
manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição
da necessidade ou não, de autorização prévia para
ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da
publicações de biografias.
indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins
comerciais.
A questão aqui, é levantada pela Associação
Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas para requerer essa
Nacional dos Editores de Livros (Anel), que acreditam
proteção o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes.
ter seus direitos censurados, ferindo o exercício do
direito à liberdade previsto na Carta Magna, uma vez
Art. 21, do Código Civil: A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do
que precisavam de autorização prévia para publicarem
interessado, adotará as providências necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a esta norma.
biografias e consequente recolhimento das obras que
não haviam sido autorizadas.
Art. 5°, da Constituição Federal:
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;
A principal questão, diz respeito à
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano
interpretação dos arts. 20 e 21, do Código Civil
material, moral ou à imagem;
Brasileiro, que claramente demonstravam conflitos
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação,
havidos entre princípios constitucionais, tais quais, a
independentemente de censura ou licença;
liberdade de expressão, a liberdade de informação
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito
artística e cultural, independente de censura ou de
a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;
autorização prévia.
XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem de autorização,
sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento;
Assim, foi ajuizada a ADI n° 4815, que foi
XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário
julgada procedente, para declarar inexigível a
ao exercício profissional;
autorização da pessoa biografada, sendo, também,
desnecessária a autorização de pessoas retratadas na
Art. 206, da Constituição Federal: O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
obra.
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber.

Art. 13, da Convenção Interamericana de Direitos Humanos

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2ª FASE DIREITO CIVIL

1. Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento e de expressão. Esse direito compreende a
liberdade de buscar, receber e difundir informações e idéias de toda natureza, sem consideração de fronteiras,
verbalmente ou por escrito, ou em forma impressa ou artística, ou por qualquer outro processo de sua escolha.
2. O exercício do direito previsto no inciso precedente não pode estar sujeito a censura prévia, mas
a responsabilidades ulteriores, que devem ser expressamente fixadas pela lei e ser necessárias para assegurar:
a. o respeito aos direitos ou à reputação das demais pessoas; ou
b. a proteção da segurança nacional, da ordem pública, ou da saúde ou da moral públicas.

Art. 220, da Constituição Federal: A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a


informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto
nesta Constituição.
§ 1º Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação
jornalística em qualquer veículo de comunicação social, observado o disposto no art. 5º, IV, V, X, XIII e XIV.
§ 2º É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística.

Art. 10° Convenção Europeia de Direitos Humanos: Liberdade de expressão:


1. Qualquer pessoa tem direito à liberdade de expressão. Este direito compreende a liberdade de
opinião e a liberdade de receber ou de transmitir informações ou ideias sem que possa haver ingerência de
quaisquer autoridades públicas e sem considerações de fronteiras. O presente artigo não impede que os Estados
submetam as empresas de radiodifusão, de cinematografia ou de televisão a um regime de autorização prévia.
2. O exercício destas liberdades, porquanto implica deveres e responsabilidades, pode ser submetido
a certas formalidades, condições, restrições ou sanções, previstas pela lei, que constituam providências
necessárias, numa sociedade democrática, para a segurança nacional, a integridade territorial ou a segurança
pública, a defesa da ordem e a prevenção do crime, a proteção da saúde ou da moral, a proteção da honra ou
dos direitos de outrem, para impedir a divulgação de informações confidenciais, ou para garantir.

Comentários:

O caso tratado examina a interpretação dos artigos 20 e 21, do Código Civil, conforme preceituado
acerca do livre direito de expressão, bem como o direito de expressão, garantindo a liberdade e o dever de
informar e ser informado.

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2ª FASE DIREITO CIVIL

A Ministra Carmen Lúcia, Relatora da ADI, defendeu seu voto, sustentando que é previsto na
Constituição Federal, o direito de ingressar com ações indenizatórias nos casos de violação aos direitos de
personalidade, como o direito à honra, à imagem, à privacidade, etc., não sendo permitido qualquer tipo de
censura, seja de cunho artístico, político ou cultural.

Sustentou ainda, que: “Não é proibindo, recolhendo obras ou impedindo sua circulação, calando-se
a palavra e amordaçando a história que se consegue cumprir a Constituição”.

O Ministro Luís Roberto Barroso, entendeu que havia dilema entre a liberdade de expressão e o
direito de informação, tendo o último, preferência em relação ao direito à privacidade, dentro do âmbito da
Constituição.

O Ministro ainda, ressaltou o que foi defendido pela Relatora, destacando que os direitos do
biografado não ficarão desprotegidos, uma vez que qualquer violação aos seus direitos referentes à privacidade,
terão preferência em uma ação de indenização postulada a posteriori, podendo até desencadear uma
responsabilização penal.

Em seu voto, a Ministra Rosa Weber, entendeu que controlar as publicações biográficas, é como
tentar acabar com uma parte da história, sendo desnecessária a autorização prévia por configurar clara censura,
incompatível com o Estado Democrático de Direito.

Os Ministros Gilmar Mendes, Luiz Fux e Marco Aurélio, seguiram a mesma linha da de entendimento
da Relatora, sob alegações de que o direito à informação e à liberdade de expressão é um direito fundamental,
mas em âmbito coletivo.

Por fim, os Ministros Ricardo Lewandowski e Celso de Mello também acompanharam a Relatora e o
demais Ministros, defendendo a liberdade de expressão, desde que essa não afetasse outros direitos
constitucionais do biografado.

A decisão final foi unânime, julgando procedente o pedido formulado na ação direta para dar
interpretação conforme à Constituição aos artigos 20 e 21 do Código Civil, sem redução de texto, para, em
consonância com os direitos fundamentais à liberdade de pensamento e de sua expressão, de criação artística,
produção científica, declarar inexigível o consentimento de pessoa biografada relativamente a obras biográficas

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2ª FASE DIREITO CIVIL

literárias ou audiovisuais, sendo por igual desnecessária autorização de pessoas retratadas como coadjuvantes
(ou de seus familiares, em caso de pessoas falecidas).

Na era atual, muitas questões acerca da liberdade e de seus limites ainda serão levantadas, cabendo
aos operadores do direito, interpretarem da forma mais justa e adequada possível.

Juntamente com as mudanças, surgem as necessidades de adequação e aos poucos precisamos nos
reorganizar de acordo com o a situação atual em que vivemos, como aconteceu no caso tratado, que se a ação
fosse ajuizada em um passado não muito distante, talvez a decisão não teria sido a mesma.

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