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ANÁLISE PRÁTICA E DOS ASPECTOS LEGAIS DAS PRINCIPAIS


PLANTAS DE REUSO POTÁVEL DE ÁGUA NO MUNDO

PRACTICAL ANALYSIS AND LEGAL ASPECTS OF THE MAIN PLANTS


OF DRINKING WATER REUSE IN THE WORLD

Maíra Araújo de Mendonça Lima b, Lauana Thaiara de Almeida Ramos c,


   

Bruna Magalhães Araújo d, Ana Silvia Pereira Santos a*  


Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil

Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil

Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil

Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil

RESUMO

Deve apresentar-se um resumo em português e um resumo em inglês, sendo que o primeiro


resumo deverá ser na língua da comunicação. Cada resumo deverá consistir num único
parágrafo até 1250 caracteres com espaços incluídos. As palavras “Resumo” e “Abstract”
deverão ser colocadas em maiúsculas antes do respetivo texto. Após o respetivo resumo
devem indicar-se um máximo de cinco palavras-chave, na fonte verdana, tamanho 9 pontos.
A 1.ª página deverá conter apenas os campos título, title, autor, filiação, resumo, abstract,
palavras chave e keywords. Esta página será publicada no livro de resumos do evento. As
comunicações a apresentar ao 18. o ENASB/SILUBESA serão disponibilizadas em formato
eletrónico, seguindo as instruções apresentadas no ficheiro do
“18ENASB_SILUBESA_Modelo_para comunicação.doc”. As atas impressas conterão apenas
os resumos em português e inglês. Ao submeterem a comunicação, assumimos que os
autores concedem os direitos de autor à APESB para a divulgação da comunicação e resumo
na forma acima indicada. Mais informações em www.18enasb-silubesa.apesb.org/.

Palavras Chave – Legislação; Reuso potável; Parâmetros;

ABSTRACT
Deve apresentar-se um resumo em português e um resumo em inglês, sendo que o primeiro
resumo deverá ser na língua da comunicação. Cada resumo deverá consistir num único
parágrafo até 1250 caracteres com espaços incluídos. As palavras “Resumo” e “Abstract”
deverão ser colocadas em maiúsculas antes do respetivo texto. Após o respetivo resumo
devem indicar-se um máximo de cinco palavras-chave, na fonte verdana, tamanho 8 pontos.
A 1.ª página deverá conter apenas os campos título, title, autor, filiação, resumo, abstract,
palavras chave e keywords. Esta página será publicada no livro de resumos do evento. As
comunicações a apresentar ao 18. o ENASB serão disponibilizadas em formato electrónico,
seguindo as instruções apresentadas no ficheiro do “18ENASB_SILUBESA_Modelo_para
comunicação.doc”. As atas impressas conterão apenas os resumos em português e inglês. Ao
submeterem a comunicação, assumimos que os autores concedem os direitos de autor à
APESB para a divulgação da comunicação e resumo na forma acima indicada. Mais
informações em www.18enasb-silubesa.apesb.org/.

Keywords – Legislation; Potable reuse; Parameters;

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* Autor para correspondência. Corresponding author.

E-Mail: ana.pereira@uerj.br (Professora Doutora Ana Silvia Santos)

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1 INTRODUÇÃO

Atualmente 2/3 de toda a população mundial já vive em regiões que sofrem com escassez de
água pelo menos em um mês do ano, e cerca de 500 milhões de pessoas vivem em áreas
onde o consumo de água já supera sua disponibilidade (WWAP, 2017). Ainda se espera um
aumento da demanda mundial, além da intensificação das mudanças climáticas e a elevação
do grau de contaminação dos recursos hídricos. Dessa forma se torna fundamental a
adequada gestão dos usos múltiplos da água de maneira a minimizar a sobrecarga em
relação às pressões por abastecimento doméstico, já que este é considerado o uso mais
nobre da água.

Atualmente muito se discute sobre o uso racional da água e a inclusão da água de reuso
como fonte alternativa na matriz hídrica de cada região. Assim, o reuso vem se tornando
realidade em vários países, em alguns casos esse reuso pode ser até para fins potáveis.

Como já é de amplo conhecimento, o reuso potável de água pode ser dividido em dois
aspectos: o Reuso Potável Direto também conhecido como Direct Potable Reuse (DPR) e
Reuso Potável Indireto ou Indirect Potable Reuse (IPR). O reuso potável direto pode ser
entendido como a introdução da água recuperada diretamente em uma estação de
tratamento para produção de água potável. Isso inclui o tratamento da água recuperada em
uma instalação avançada de tratamento de águas residuais para distribuição direta. Já o
reuso potável indireto é o aumento deliberado de uma fonte de água potável (água
superficial ou águas subterrâneas) com água recuperada tratada, sendo então diluída e
captada para tratamento e uso subsequente.

Assim, é indispensável a elaboração de normas que regulamentem e conduzam essa


atividade para tornar viável e seguro o reuso como uma política para preservação dos
recursos hídricos (GIACCHINI, 2011).

A Organização Mundial de saúde (OMS) produz guias internacionais sobre qualidade da água
e saúde humana sob a forma de diretrizes que são usadas como base para a regulamentação
e a configuração padrão em todo o mundo. Muitos países que já praticam o reuso não
possuem uma legislação específica e adotam as diretrizes estabelecidas pela OMS. Outros,
como Japão, Estados Unidos e alguns países da Europa apresentam aspectos legais mais
restritivos.

De acordo com a OMS (2017), o reuso de água potável pode representar uma fonte real em
muitas circunstâncias e regiões do planeta. Assim, a própria Organização Mundial de Saúde
entende a necessidade de definição de orientações para auxiliar os provedores de água
potável e os reguladores sobre como planejar, projetar e operar esquemas de reuso potável.
A necessidade de orientações baseia-se no crescente interesse e no desenvolvimento de
esquemas de reuso potável em resposta às pressões sobre os recursos hídricos.

As Diretrizes para a qualidade da água potável ou Guidelines for Drinking-water Quality


(GDWQ) possuem como objetivo principal a proteção da saúde pública, defendendo o
desenvolvimento de normas e regulamentos relevantes, como também ações preventivas de
gerenciamento de riscos, que abrangem a captação para o consumidor, e diligência para
garantir que essas diretrizes sejam eficazes e implementadas e que estejam de acordo com
as normas nacionais estabelecidas (WHO, 2017).

Diante desse cenário, o presente trabalho tem o objetivo de apresentar uma análise prática
do reuso potável de água no mundo (direto e indireto), de acordo com as características de
projeto, de governança e de atendimento às exigências legais para algumas das mais
importantes plantas de reuso potável de água no mundo. Assim, o estudo apresenta além
das orientações para produção de água de abastecimento segura da organização Mundial de
Saúde (lançadas em documento oficial no ano de 2017), importantes instrumentos de gestão
para países que ainda estão se adequando à nova realidade como é o caso do Brasil e
outros.

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2 METODOLOGIA

O estudo foi desenvolvido com base na definição das principais características operacionais e
de atendimento às exigências legais para algumas das mais importantes plantas de reuso de
água portável (direto ou indireto) no mundo, a saber: a) Goreangab Water Reclamation
Plant – Namíbia; b) Raw Water Production Facility: Big Spring Plant – Texas USA; c)
NEWater – Cingapura; d) Perth Craigie Plant – Austrália e; e) Orange County, Califórnia USA.

As principais plantas de reuso potável de água no mundo foram definidas para este trabalho,
a partir de intensa revisão bibliográfica sobre o tema. A partir daí, foram estudados os
seguintes aspectos relacionados à cada uma delas: i) Características operacionais e de
projeto das plantas; ii) aspectos legais envolvidos na geração desse tipo de água.

Para o estabelecimento dessas características, foram analisados documentos internacionais


oficiais e públicos, de órgãos governamentais e não governamentais de diversos países, além
de produção científica em geral.

Por fim, após amplo entendimento da prática de reuso potável da água no mundo, foi
analisada a situação do Brasil, tanto em relação ao grau de estresse hídrico atual do país
como em relação à possibilidade de inserção da água de reuso (potável e não potável) na
matriz hídrica nacional, como importante instrumento de governança

3 RESULTADOS

As características operacionais e de projeto estão apresentadas individualmente para cada


projeto objeto do estudo. Os principais parâmetros de qualidade de água para atendimentos
aos aspectos legais regionais estão apresentados de maneira consilidada ao final deste item.

a) Goreangab Water Reclamation Plant – Namíbia

A Namíbia é um país do continente africano, com precipitação média anual da ordem de 285
mm (FAO, 2014). Essa e outras características levam a Namíbia a se apresentar como um
dos países mais áridos do continente africano e, portanto, enfrentar sérios desafios em
relação ao seu suprimento de água.

No final da década de 1960, foi desenvolvida a primeira planta de reuso de água no mundo,
conhecida por Goreangab Water Reclamation Plant (GRP), na cidade de Windhoek, capital da
Namíbia. Segundo Menge (2003) a planta começou a operar em 1968 com uma capacidade
de 4.800 m3/d. Desde então, a planta passou por várias melhorias e em setembro de 2002,
a nova planta de reuso denominada New Goreangab Reclamation Plant (NGRP) foi colocada
em operação com capacidade para 21.000 m3/dia. Ressalta-se que a antiga planta não foi
desativada e atualmente opera com a produção de água de reuso a partir de efluente tratado
para irrigação de parques e quadras esportivas.

De acordo com Lahnsteiner e Lempert (2007) a planta pode ser alimentada com duas fontes
de água, sendo essas, efluente da Gammams Sewage Treatment Plant e água do
reservatório da barragem de Goreangab. Assim, o objetivo da GRP é usar maior quantidade
de esgoto tratado do que de água do reservatório.

No início da operação da planta, por volta do ano 1968, o país não dispunha de padrões de
qualidade para água potável produzida a partir de águas residuárias tratadas. Em 1973, na
ausência de diretrizes ou padrões para as águas de reuso, foram definidos requisitos para
garantia da segurança da água de reuso potável. Como em 1988 ainda não tinham sido
aprovadas orientações para água de reuso potável, a Cidade de Windhoek aplicou a
autorregulação, adotando padrões de normas internacionais de água potável para o projeto
da NGRP (WHO, 2017).

Durante a intensa seca de 1996 os órgãos governamentais da cidade de Windhoek


determinaram a reutilização da vazão total de efluente sanitário gerada. Assim, após as

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subsequentes atualizações da planta, foi adotado o seguinte processo de tratamento:


floculação, flotação por ar dissolvido, filtração rápida em areia, filtração granular de carvão
ativado e desinfecção com cloro. Este é o fluxograma definido para atendimento ao padrão
de qualidade estabelecido no país (LAHNSTEINER e LEMPERT, 2007).

b) Raw Water Production Facility: Big Spring Plant – Texas USA

A planta de reuso potável instalada no município de Big Spring, no estado do Texas/USA


adota efluente sanitário tratado para complementar as fontes de águas superficiais. Assim,
parte do efluente da estação de tratamento de esgotos do município passa por unidade
complementar de tratamento avançado e é entendido como uma fonte alternativa de água
bruta. Essa unidade de tratamento complementar, composta por microfiltração, osmose
inversa e oxidação avançada, é denominada Instalação de Produção de Água Bruta (Raw
Water Production Facillity - RWPF).

Dessa forma, o município, de maneira eficiente e estratégica inclui o efluente sanitário


tratado na matriz hídrica local, como fonte de água alternativa de abastecimento. Ressalta-
se ainda que para garantia da qualidade do efluente, a planta de tratamento é do tipo
avançada e produz uma água bruta com qualidade igual ou superior à qualidade da água
superficial natural.

Assim, o efluente da RWPF é misturado com a água superficial e a mistura é encaminhada


para convencionais Estações Tratamento de Água – ETAs, para posteriormente ser
distribuída à população. Desta forma, a unidade de tratamento avançado, que está em
operação desde 2013, pode fornecer até 50% da água total que será encaminhada para as
ETAs (WHO, 2017).
c) NEWater Cingapura

Cingapura é uma pequena ilha altamente urbanizada com cerca de 5,6 milhões de pessoas
em uma área de 719km² (WHO, 2017). Apesar de possuir um índice de chuva regular, o
espaço disponível para coleta e armazenamento de água é insuficiente para atender a
demanda do país, mantendo Cingapura dependente de fontes estrangeiras de água, como a
importação da Malásia. A questão espacial e de dependência é tamanha que em 2015 o
World Resource Institute (WRI) colocou Cingapura na lista dos países com maior estresse
hídrico (PUB, 2016).

Em 1974 os primeiros estudos sobre recuperação de águas residuais se iniciaram com a


construção de uma planta piloto para avaliar o custo benefício de diversas tecnologias de
reuso. Na época, apesar de nenhuma opção ter se mostrado viável, a Singapore’s National
Water Agency – PUB, responsável pela gestão de águas no país em conjunto com o
ministério do meio ambiente seguiram os estudos acompanhando inovações mundiais em
busca de um plano de reuso viável para o país. Ressalta-se que paralelamente ao estudo da
PUB e do ministério do meio ambiente foi montado um painel de especialistas locais e
estrangeiros para aconselhar e avaliar o reuso de água no país (WHO, 2017).

A iniciativa NEWater, como é conhecida a água de reuso em Cingapura, começou


efetivamente em 2002 após anos de intensa idealização, dois anos de estudo com uma
planta piloto de demonstração e um rígido programa de monitoramento da água produzida.
Destaca-se que além dos testes próprios a NEWater também obteve a aprovação do painel
de especialistas montado, que assegurou que o plano de reuso usado era seguro, viável e
poderia oferecer água para uso potável. Em 2003 a planta de reuso já estava em operação
fornecendo água de alta qualidade, seguindo um fluxograma de tratamento baseado em
tecnologias de microfiltração, osmose inversa e desinfecção ultravioleta (LIM; HUANG,
2017).

Ainda de acordo com Lim e Huang (2017), a NEWater, tem duas principais utilizações: a
direta não potável que fornece água principalmente para indústrias e edifícios públicos e
comerciais; e a indireta potável que consiste na água que é canalizada para recarregar
reservatórios de água bruta, sendo posteriormente tratada por uma ETA. Apesar do

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programa não apresentar uma demanda direta voltada para o uso doméstico, sua
implantação liberou uma quantidade significativa de água potável para esse setor.

Atualmente a NEWater compreende cinco usinas espalhadas estrategicamente por


Cingapura: Bedok, Kranji, Ulu Pandan, Semcorp e Changi com uma capacidade total de
fornecimento de 760.000 m³/dia. A qualidade da água está de acordo com diversos
parâmetros nacionais e internacionais como os da Agencia Nacional de Meio Ambiente de
Cingapura, da USEPA, as diretrizes de água potável da OMS e os limites internos da própria
PUB (WHO, 2017).

Sendo assim, NEWater é uma fonte alternativa segura de água, que proporcionou Cingapura
superar seus limites físicos, garantir segurança hídrica e diminuir a dependência de outros
países. Atualmente a NEWater é o pilar da água de Cingapura, atendendo cerca 40% da
demanda de água, principalmente no setor não doméstico. Estima-se que em 2060 ocorra
uma expansão do programa garantindo assim, que a NEWater continue a atender sua
demanda de forma satisfatória chegando a alcançar 55% da demanda futura total (PUB,
2016).

d) Perth Craigie Plant – Austrália

Sofrendo com um período de seca desde o início dos anos 90 e consequentemente com
diminuições graduais nos níveis dos seus reservatórios a cidade de Perth, na Austrália
investiu em alternativas de fornecimento de água. A Water Corporation of Western Australia,
principal distribuidora de água e fornecedora de serviços de esgoto e drenagem da Austrália
Ocidental, indicou a viabilidade da implantação de um projeto de IPR na região, consistindo
na injeção de água altamente purificada em aquíferos profundos visando o reabastecimento
dessas águas subterrâneas (LOZIER et al., 2017).
Os testes de viabilidade de IPR foram realizados entre os anos de 2010 e 2012 de acordo
com as Diretrizes Australianas para Reciclagem de água. A construção do projeto começou
em 2014 com o objetivo de tratar quase 50% das águas oriundas da estação de tratamento
de esgoto - ETE de Beenyup. Em 2016 a Perth Craigie Plant entrou em operação com
capacidade para 21.000 m3/dia, podendo atingir 42.000 m3/d (GISLETTE et al., 2017).

Visando alcançar as diretrizes de água potável, o efluente da ETE é submetido as seguintes


etapas: microfiltração, osmose inversa e desinfecção ultravioleta. Os múltiplos processos têm
papel fundamental para minimizar problemas com falhas ou baixo desempenho de um
processo anterior e promover a redução de organismos patogênicos exigida pelo
departamento de saúde. Respeitando os limites legais a água pode então ser injetada nos
aquíferos de Leederville e Yarragadee (WHO, 2017).

É importante ressaltar que em todo esse período de estudo, implantação e operação da usina
de Craigie a Water Corporation manteve um intenso canal de comunicação com as diversas
comunidades envolvidas: população, indústria, agricultores, governantes e outros,
esclarecendo sobre o tema reuso de água e conquistando gradualmente sua confiança,
obtendo uma aceitação estável de 70% a 76% de todas as esferas envolvidas. O projeto da
cidade de Perth é considerado um sucesso, podendo fornecer 20% de toda a água potável
consumida pela cidade até o ano de 2060 (WHO, 2017).

d) Orange County - Califórnia


Orange County está localizado ao sul da Califórnia e é considerada uma região semiárida que
recebe em média apenas 355 mm de chuva por ano, possuindo uma população de mais de 3
milhões de habitantes e com tendência ao crescimento. A Bacia de águas subterrâneas de
Orange County supre cerca de 70% das necessidades de água potável de 2,4 milhões de
habitantes no norte e no centro da região (GWRS, 2018).
O Orange County Water District (OCWD) começou seu primeiro sistema de reuso potável
indireto por volta de 1970, substituído em 2008 pelo Groundwater Replenishment System
(GWRS). Este é operado de maneira conjunta pelo OCWD e pelo Orange County Sanitation

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District (OCSD). Juntos eles produzem cerca de 380.000 m 3/d de água. Essa vazão é
responsável por atender aproximadamente 850.000 habitantes (WHO, 2017).
A licença operacional da GWRS é baseada nos padrões da United States Environmental
Protection Agency (USEPA) e do Estado da Califórnia. O projeto recebe águas residuais
domésticas e comerciais altamente tratadas como fonte de água. O processo de tratamento
consiste das seguintes etapas: Cloração, microfiltração, osmose reversa, processo avançado
de oxidação (ultravioleta / peróxido de hidrogênio) (WOOD et al., 2014).

Diante da apresentação das principais características de projeto e operacionais das mais


relevantes plantas de reuso potável direto em operação no mundo, é importante destacar os
principais parâmetros relacionados à contaminação, envolvidos nesses processos de
produção e distribuição de água de reuso para fins potáveis direito e/ou indireto. Esses
parâmetros podem ser observados no Quadro 1.

Quadro 1. Principais parâmetros microbiológicos relacionados às plantas de reuso potável de água:


NGRP – Namíbia, RWPF: Big Spring Plant – Texas USA, NEWater – Cingapura, Usina de Craigie em Perth
– Austrália, Orange County, Califórnia USA, além das diretrizes da OMS
Parâmetros NGRP1 RWPF2 NEWater Craigie O County OMS
Turbidez (uT) 0,1 - <5 <5 ≤0.2/≤0.5 -
Coliformes
Não
Totais (org/100 - 1,0 <1 2,2 Ausente
detectável
mL)
Redução
< 0 ou
Giárdia Redução de Redução ou
redução 6,8 x 10 -6
-
(cistos/100 mL) 10 log de 10 log inativação
de 6 log
de 4-log
Redução
Cryptosporidiu < 0 ou
Redução de Redução ou
m (oocistos/100 redução 3,0 x 10-5 -
10 log de 10 log inativação
mL) de 6 log
de 4-log
Redução
Vírus entéricos Redução ou
- 2,2 x 10-7 - < 1,0
(org/100 mL) de 12 log inativação
de 4-log
Observações: 1 – valores recomendados; 2 – valores imites
Fonte: LOZIER et al., 2017 (Austrália); USEPA, 2017 (Califórnia); WATER CORPORATION, 2013
(Austrália); PUB,2017 (Cingapura)

De acordo com o cenário apresentado para as principais plantas de reuso potável de água
destacadas neste estudo, observa-se que algumas ações foram iniciadas há muitos anos
atrás em função da indisponibilidade hídrica enfrentada por algumas regiões do planeta. No
caso da Namíbia, na África, os estudos para implantação do reuso potável se iniciaram há 50
anos e em Cingapura, há 44 anos. Atualmente, ambos os países, com reconhecida
experiência no tema e governança alinhada com as expectativas, encontram-se em situação
mais confortável em relação ao abastecimento de água. Por outro lado, países como o Brasil,
com disponibilidade hídrica abundante, enfrentam problemas de escassez em função da
ineficiente gestão e do despreparo para o enfrentamento de eventos severos de seca.
Ressalta-se ainda, que no Brasil, o reuso potável indireto é praticado de maneira não
planejada, já que efluentes brutos e tratados são lançados em corpos d’água que servem de
mananciais de abastecimento à jusante do lançamento. As plantas de produção de água de
reuso potável ainda apresentam essa função de estabelecer critérios de operação de forma a
garantir a qualidade final do efluente.

Para garantia de qualidade do efluente, demanda-se uma eficiente e uma adequada gestão
das plantas de reuso, com adoção de tecnologias de tratamento específicas para este fim.
Observa-se no cenário apresentado que em todas as plantas destacadas, fez-se o uso de
diferentes tipos de membranas e de desinfecção. Ainda, em todos os casos a desinfecção se
deu por radiação ultravioleta. O uso do cloro, muito comum ainda no Brasil, nem sequer foi
citado para garantia de índices extremamente baixos ou ausentes de organismos

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patogênicos nesses efluentes. Segundo Souza e Santos (2016), no Brasil a adição de cloro
na água de abastecimento é obrigatória mesmo quando se adota outro método de
desinfecção.

É possível ainda destacar o porte dos empreendimentos de reuso apresentados no presente


estudo, em função da capacidade instalada para geração de água de reuso em cada planta.
Observa-se, por exemplo, que o sistema NEWater de Cingapura, tem capacidade total
instalada em 5 plantas de 760 mil m 3/dia e a planta de reuso localizada em Orange County
na Califórnia tem metade dessa capacidade. Já nas instalações de menor porte, como na
Namíbia e na Austrália, essa capacidade é de 21 mil m 3/dia e de 42 mil m3/dia,
respectivamente.

Em relação aos parâmetros microbiológicos de atendimento citados no trabalho, observa-se


a elevada restrição, relacionada à contaminação. Nos casos dos estados do Texas e da
Califórnia nos Estados Unidos, os parâmetros são extremamente restritivos, com objetivo de
priorização da minimização do risco. Já no caso da OMS, que define guias a serem adotados
por países desenvolvidos e subdesenvolvidos, os parâmetros são restritivos, porém bem
menos do que aqueles estabelecidos nos Estados Unidos, principalmente para Giárdia,
Cryptosporidium e vírus entéricos. Souza e Santos (2016) afirmam que no Brasil, não é
obrigatório o monitoramento desses parâmetros. Nos casos de Giárdia e Cryptosporidium, a
análise periódica somente é determinada em se tratando de mananciais que apresentam
média geométrica anual para densidade de E.Coli igual ou superior a 1.000 NMP/100mL, nos
pontos de captação.

Por fim, observaram-se ainda na pesquisa aspectos específicos relacionados às plantas


estudadas. No caso da Namíbia, observa-se uma extremamente baixa precipitação média
anual. Somente como curiosidade, na Região Hidrográfica do Atlântico Sudeste, onde
encontra-se o estado do Rio de Janeiro, no Brasil, a precipitação média anual é de 1400 mm
(ANA, 2017) e no entanto, diversos municípios desse região sofreram racionamento de água
no período de 2014 a 2016. Algumas regiões destacadas no estudo adotam o reuso potável
como forma de gestão adequada de recursos hídricos, inserindo essa fonte na matriz hídrica
local. Assim direcionam essa água para outros usos, com o objetivo de disponibilizar maior
quantidade de água bruta para o abastecimento e a usam para este fim em casos de
necessidade.

4 CONCLUSÃO

Conclui-se com o presente estudo que a discussão sobre o reuso potável de água não é
recente, entretanto tem sido aplicada mais atualmente. Percebe-se claramente, que em
situação de escassez, o reuso potável pode ser a única fonte de abastecimento humano.
Entretanto em outras situações, incluir essa água como fonte alternativa na matriz hídrica
total apresenta uma importante ferramenta de gestão, dando mais flexibilidade à governança
em eventos mais severos de seca. É importante ressaltar que as mudanças climáticas devem
agravar essa situação e, portanto, os países devem se organizar e adotar sistemas similares
àqueles com resultados já consolidadas como estes aqui apresentados.

Por fim, a Organização Mundial de Saúde, com vistas à possibilidade de aumento do uso de
efluentes tratados para a geração de água de reuso para fins potáveis, implementou em
2017, orientações para produção de água de abastecimento segura com parâmetros
restritivos, entretanto alcançáveis até mesmo para países com mais baixo desenvolvimento
socioeconômico. Dessa forma, a OMS ainda sugere uma maior organização dos países para o
enfrentamento de eventos mais severos de secas que devem ocorrer nos próximos anos.

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REFERÊNCIAS

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