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RESUMO
ABSTRACT
Deve apresentar-se um resumo em português e um resumo em inglês, sendo que o primeiro
resumo deverá ser na língua da comunicação. Cada resumo deverá consistir num único
parágrafo até 1250 caracteres com espaços incluídos. As palavras “Resumo” e “Abstract”
deverão ser colocadas em maiúsculas antes do respetivo texto. Após o respetivo resumo
devem indicar-se um máximo de cinco palavras-chave, na fonte verdana, tamanho 8 pontos.
A 1.ª página deverá conter apenas os campos título, title, autor, filiação, resumo, abstract,
palavras chave e keywords. Esta página será publicada no livro de resumos do evento. As
comunicações a apresentar ao 18. o ENASB serão disponibilizadas em formato electrónico,
seguindo as instruções apresentadas no ficheiro do “18ENASB_SILUBESA_Modelo_para
comunicação.doc”. As atas impressas conterão apenas os resumos em português e inglês. Ao
submeterem a comunicação, assumimos que os autores concedem os direitos de autor à
APESB para a divulgação da comunicação e resumo na forma acima indicada. Mais
informações em www.18enasb-silubesa.apesb.org/.
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1 INTRODUÇÃO
Atualmente 2/3 de toda a população mundial já vive em regiões que sofrem com escassez de
água pelo menos em um mês do ano, e cerca de 500 milhões de pessoas vivem em áreas
onde o consumo de água já supera sua disponibilidade (WWAP, 2017). Ainda se espera um
aumento da demanda mundial, além da intensificação das mudanças climáticas e a elevação
do grau de contaminação dos recursos hídricos. Dessa forma se torna fundamental a
adequada gestão dos usos múltiplos da água de maneira a minimizar a sobrecarga em
relação às pressões por abastecimento doméstico, já que este é considerado o uso mais
nobre da água.
Atualmente muito se discute sobre o uso racional da água e a inclusão da água de reuso
como fonte alternativa na matriz hídrica de cada região. Assim, o reuso vem se tornando
realidade em vários países, em alguns casos esse reuso pode ser até para fins potáveis.
Como já é de amplo conhecimento, o reuso potável de água pode ser dividido em dois
aspectos: o Reuso Potável Direto também conhecido como Direct Potable Reuse (DPR) e
Reuso Potável Indireto ou Indirect Potable Reuse (IPR). O reuso potável direto pode ser
entendido como a introdução da água recuperada diretamente em uma estação de
tratamento para produção de água potável. Isso inclui o tratamento da água recuperada em
uma instalação avançada de tratamento de águas residuais para distribuição direta. Já o
reuso potável indireto é o aumento deliberado de uma fonte de água potável (água
superficial ou águas subterrâneas) com água recuperada tratada, sendo então diluída e
captada para tratamento e uso subsequente.
A Organização Mundial de saúde (OMS) produz guias internacionais sobre qualidade da água
e saúde humana sob a forma de diretrizes que são usadas como base para a regulamentação
e a configuração padrão em todo o mundo. Muitos países que já praticam o reuso não
possuem uma legislação específica e adotam as diretrizes estabelecidas pela OMS. Outros,
como Japão, Estados Unidos e alguns países da Europa apresentam aspectos legais mais
restritivos.
De acordo com a OMS (2017), o reuso de água potável pode representar uma fonte real em
muitas circunstâncias e regiões do planeta. Assim, a própria Organização Mundial de Saúde
entende a necessidade de definição de orientações para auxiliar os provedores de água
potável e os reguladores sobre como planejar, projetar e operar esquemas de reuso potável.
A necessidade de orientações baseia-se no crescente interesse e no desenvolvimento de
esquemas de reuso potável em resposta às pressões sobre os recursos hídricos.
Diante desse cenário, o presente trabalho tem o objetivo de apresentar uma análise prática
do reuso potável de água no mundo (direto e indireto), de acordo com as características de
projeto, de governança e de atendimento às exigências legais para algumas das mais
importantes plantas de reuso potável de água no mundo. Assim, o estudo apresenta além
das orientações para produção de água de abastecimento segura da organização Mundial de
Saúde (lançadas em documento oficial no ano de 2017), importantes instrumentos de gestão
para países que ainda estão se adequando à nova realidade como é o caso do Brasil e
outros.
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2 METODOLOGIA
O estudo foi desenvolvido com base na definição das principais características operacionais e
de atendimento às exigências legais para algumas das mais importantes plantas de reuso de
água portável (direto ou indireto) no mundo, a saber: a) Goreangab Water Reclamation
Plant – Namíbia; b) Raw Water Production Facility: Big Spring Plant – Texas USA; c)
NEWater – Cingapura; d) Perth Craigie Plant – Austrália e; e) Orange County, Califórnia USA.
As principais plantas de reuso potável de água no mundo foram definidas para este trabalho,
a partir de intensa revisão bibliográfica sobre o tema. A partir daí, foram estudados os
seguintes aspectos relacionados à cada uma delas: i) Características operacionais e de
projeto das plantas; ii) aspectos legais envolvidos na geração desse tipo de água.
Por fim, após amplo entendimento da prática de reuso potável da água no mundo, foi
analisada a situação do Brasil, tanto em relação ao grau de estresse hídrico atual do país
como em relação à possibilidade de inserção da água de reuso (potável e não potável) na
matriz hídrica nacional, como importante instrumento de governança
3 RESULTADOS
A Namíbia é um país do continente africano, com precipitação média anual da ordem de 285
mm (FAO, 2014). Essa e outras características levam a Namíbia a se apresentar como um
dos países mais áridos do continente africano e, portanto, enfrentar sérios desafios em
relação ao seu suprimento de água.
No final da década de 1960, foi desenvolvida a primeira planta de reuso de água no mundo,
conhecida por Goreangab Water Reclamation Plant (GRP), na cidade de Windhoek, capital da
Namíbia. Segundo Menge (2003) a planta começou a operar em 1968 com uma capacidade
de 4.800 m3/d. Desde então, a planta passou por várias melhorias e em setembro de 2002,
a nova planta de reuso denominada New Goreangab Reclamation Plant (NGRP) foi colocada
em operação com capacidade para 21.000 m3/dia. Ressalta-se que a antiga planta não foi
desativada e atualmente opera com a produção de água de reuso a partir de efluente tratado
para irrigação de parques e quadras esportivas.
De acordo com Lahnsteiner e Lempert (2007) a planta pode ser alimentada com duas fontes
de água, sendo essas, efluente da Gammams Sewage Treatment Plant e água do
reservatório da barragem de Goreangab. Assim, o objetivo da GRP é usar maior quantidade
de esgoto tratado do que de água do reservatório.
No início da operação da planta, por volta do ano 1968, o país não dispunha de padrões de
qualidade para água potável produzida a partir de águas residuárias tratadas. Em 1973, na
ausência de diretrizes ou padrões para as águas de reuso, foram definidos requisitos para
garantia da segurança da água de reuso potável. Como em 1988 ainda não tinham sido
aprovadas orientações para água de reuso potável, a Cidade de Windhoek aplicou a
autorregulação, adotando padrões de normas internacionais de água potável para o projeto
da NGRP (WHO, 2017).
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Cingapura é uma pequena ilha altamente urbanizada com cerca de 5,6 milhões de pessoas
em uma área de 719km² (WHO, 2017). Apesar de possuir um índice de chuva regular, o
espaço disponível para coleta e armazenamento de água é insuficiente para atender a
demanda do país, mantendo Cingapura dependente de fontes estrangeiras de água, como a
importação da Malásia. A questão espacial e de dependência é tamanha que em 2015 o
World Resource Institute (WRI) colocou Cingapura na lista dos países com maior estresse
hídrico (PUB, 2016).
Ainda de acordo com Lim e Huang (2017), a NEWater, tem duas principais utilizações: a
direta não potável que fornece água principalmente para indústrias e edifícios públicos e
comerciais; e a indireta potável que consiste na água que é canalizada para recarregar
reservatórios de água bruta, sendo posteriormente tratada por uma ETA. Apesar do
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programa não apresentar uma demanda direta voltada para o uso doméstico, sua
implantação liberou uma quantidade significativa de água potável para esse setor.
Sendo assim, NEWater é uma fonte alternativa segura de água, que proporcionou Cingapura
superar seus limites físicos, garantir segurança hídrica e diminuir a dependência de outros
países. Atualmente a NEWater é o pilar da água de Cingapura, atendendo cerca 40% da
demanda de água, principalmente no setor não doméstico. Estima-se que em 2060 ocorra
uma expansão do programa garantindo assim, que a NEWater continue a atender sua
demanda de forma satisfatória chegando a alcançar 55% da demanda futura total (PUB,
2016).
Sofrendo com um período de seca desde o início dos anos 90 e consequentemente com
diminuições graduais nos níveis dos seus reservatórios a cidade de Perth, na Austrália
investiu em alternativas de fornecimento de água. A Water Corporation of Western Australia,
principal distribuidora de água e fornecedora de serviços de esgoto e drenagem da Austrália
Ocidental, indicou a viabilidade da implantação de um projeto de IPR na região, consistindo
na injeção de água altamente purificada em aquíferos profundos visando o reabastecimento
dessas águas subterrâneas (LOZIER et al., 2017).
Os testes de viabilidade de IPR foram realizados entre os anos de 2010 e 2012 de acordo
com as Diretrizes Australianas para Reciclagem de água. A construção do projeto começou
em 2014 com o objetivo de tratar quase 50% das águas oriundas da estação de tratamento
de esgoto - ETE de Beenyup. Em 2016 a Perth Craigie Plant entrou em operação com
capacidade para 21.000 m3/dia, podendo atingir 42.000 m3/d (GISLETTE et al., 2017).
É importante ressaltar que em todo esse período de estudo, implantação e operação da usina
de Craigie a Water Corporation manteve um intenso canal de comunicação com as diversas
comunidades envolvidas: população, indústria, agricultores, governantes e outros,
esclarecendo sobre o tema reuso de água e conquistando gradualmente sua confiança,
obtendo uma aceitação estável de 70% a 76% de todas as esferas envolvidas. O projeto da
cidade de Perth é considerado um sucesso, podendo fornecer 20% de toda a água potável
consumida pela cidade até o ano de 2060 (WHO, 2017).
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District (OCSD). Juntos eles produzem cerca de 380.000 m 3/d de água. Essa vazão é
responsável por atender aproximadamente 850.000 habitantes (WHO, 2017).
A licença operacional da GWRS é baseada nos padrões da United States Environmental
Protection Agency (USEPA) e do Estado da Califórnia. O projeto recebe águas residuais
domésticas e comerciais altamente tratadas como fonte de água. O processo de tratamento
consiste das seguintes etapas: Cloração, microfiltração, osmose reversa, processo avançado
de oxidação (ultravioleta / peróxido de hidrogênio) (WOOD et al., 2014).
De acordo com o cenário apresentado para as principais plantas de reuso potável de água
destacadas neste estudo, observa-se que algumas ações foram iniciadas há muitos anos
atrás em função da indisponibilidade hídrica enfrentada por algumas regiões do planeta. No
caso da Namíbia, na África, os estudos para implantação do reuso potável se iniciaram há 50
anos e em Cingapura, há 44 anos. Atualmente, ambos os países, com reconhecida
experiência no tema e governança alinhada com as expectativas, encontram-se em situação
mais confortável em relação ao abastecimento de água. Por outro lado, países como o Brasil,
com disponibilidade hídrica abundante, enfrentam problemas de escassez em função da
ineficiente gestão e do despreparo para o enfrentamento de eventos severos de seca.
Ressalta-se ainda, que no Brasil, o reuso potável indireto é praticado de maneira não
planejada, já que efluentes brutos e tratados são lançados em corpos d’água que servem de
mananciais de abastecimento à jusante do lançamento. As plantas de produção de água de
reuso potável ainda apresentam essa função de estabelecer critérios de operação de forma a
garantir a qualidade final do efluente.
Para garantia de qualidade do efluente, demanda-se uma eficiente e uma adequada gestão
das plantas de reuso, com adoção de tecnologias de tratamento específicas para este fim.
Observa-se no cenário apresentado que em todas as plantas destacadas, fez-se o uso de
diferentes tipos de membranas e de desinfecção. Ainda, em todos os casos a desinfecção se
deu por radiação ultravioleta. O uso do cloro, muito comum ainda no Brasil, nem sequer foi
citado para garantia de índices extremamente baixos ou ausentes de organismos
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patogênicos nesses efluentes. Segundo Souza e Santos (2016), no Brasil a adição de cloro
na água de abastecimento é obrigatória mesmo quando se adota outro método de
desinfecção.
4 CONCLUSÃO
Conclui-se com o presente estudo que a discussão sobre o reuso potável de água não é
recente, entretanto tem sido aplicada mais atualmente. Percebe-se claramente, que em
situação de escassez, o reuso potável pode ser a única fonte de abastecimento humano.
Entretanto em outras situações, incluir essa água como fonte alternativa na matriz hídrica
total apresenta uma importante ferramenta de gestão, dando mais flexibilidade à governança
em eventos mais severos de seca. É importante ressaltar que as mudanças climáticas devem
agravar essa situação e, portanto, os países devem se organizar e adotar sistemas similares
àqueles com resultados já consolidadas como estes aqui apresentados.
Por fim, a Organização Mundial de Saúde, com vistas à possibilidade de aumento do uso de
efluentes tratados para a geração de água de reuso para fins potáveis, implementou em
2017, orientações para produção de água de abastecimento segura com parâmetros
restritivos, entretanto alcançáveis até mesmo para países com mais baixo desenvolvimento
socioeconômico. Dessa forma, a OMS ainda sugere uma maior organização dos países para o
enfrentamento de eventos mais severos de secas que devem ocorrer nos próximos anos.
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REFERÊNCIAS
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